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Copyright © 2020 Amelia Hutchins Copyright © 2022 Editora Cabana Vermelha Título original: Flames Of Chaos Diretora Editorial: Elaine Cardoso Editora: Mari Vieira Tradução: Elaine Lima Preparação: Elaine Cardoso Revisão: Letícia Campopiano Capa: Eerilyfair Design Adaptação De Capa: Elaine Cardoso Diagramação Digital: Kaique Martins Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação da autora ou são usados ficticiamente. Qualquer semelhança com pessoas reais vivas ou mortas, estabelecimentos comerciais, eventos ou locais é mera coincidência. Este livro em sua totalidade e trechos é uma propriedade exclusiva de Amelia Hutchins. Todos os direitos reservados, incluindo o direito de reproduzir este livro, ou partes dele, sob qualquer forma. Nenhuma parte deste livro deve ser reproduzida em nenhuma escrita, eletrônica, gravada, ou fotocopiada sem a permissão da autora. A digitalização, transferência e distribuição deste livro sem permissão da editora é ilegal e punível por lei. Por favor, adquira somente edições autorizadas e não participe ou encoraja a pirataria de materiais protegidos por direitos autorais. Esta obra é licenciada somente para seu divertimento pessoal. Este livro não pode ser revendido ou doado a outras pessoas. Se você gostaria de compartilhar este livro com alguém, por favor, compre um exemplar adicional para cada destinatário. Caso esteja lendo este livro e não o comprou, ou ele não foi comprado somente para seu uso, então, por favor, volte ao local de compra e compre seu próprio exemplar. Agradecemos por respeitar o trabalho árduo desta autora. A reprodução ou distribuição não autorizada deste trabalho protegido por direitos autorais é ilegal. Este crime é punido com pena de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. Sumário Dedicatória Aviso CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5 CAPÍTULO 6 CAPÍTULO 7 CAPÍTULO 8 CAPÍTULO 9 CAPÍTULO 10 CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 14 CAPÍTULO 15 CAPÍTULO 16 CAPÍTULO 17 CAPÍTULO 18 CAPÍTULO 19 CAPÍTULO 20 CAPÍTULO 21 CAPÍTULO 22 CAPÍTULO 23 CAPÍTULO 24 CAPÍTULO 25 CAPÍTULO 26 CAPÍTULO 27 CAPÍTULO 28 CAPÍTULO 29 CAPÍTULO 30 CAPÍTULO 31 CAPÍTULO 32 CAPÍTULO 33 CAPÍTULO 34 CAPÍTULO 35 CAPÍTULO 36 CAPÍTULO 37 CAPÍTULO 38 CAPÍTULO 39 CAPÍTULO 40 CAPÍTULO 41 CAPÍTULO 42 CAPÍTULO 43 CAPÍTULO 44 CAPÍTULO 45 CAPÍTULO 46 CAPÍTULO 47 CAPÍTULO 48 CAPÍTULO 49 CAPÍTULO 50 CAPÍTULO 51 CAPÍTULO 52 CAPÍTULO 53 CAPÍTULO 54 CAPÍTULO 55 CAPÍTULO 56 CAPÍTULO 57 CAPÍTULO 58 CAPÍTULO 59 CAPÍTULO 60 GUIA DOS NOVES REINOS SOBRE A AUTORA Sinopse Aria e suas irmãs retornam ao Reino Humano de Haven Falls para encontrar uma delas, que desapareceu. Logo descobrem que as coisas mudaram no Reino Humano e que nada é o que parece, incluindo Knox, o homem egoísta, egocêntrico e frustrantemente lindo que se declarou rei durante sua ausência. Faíscas voam quando os dois entram em uma ardente batalha de vontades quando Aria descobre que ela é mais do que apenas uma bruxa na linhagem de Hécate; ela é muito, muito mais. Aria abraçará seu lado selvagem para encontrar sua irmã e salvar sua família? Ou queimará nas cinzas dos beijos aquecidos e abraço ardente de Knox? Knox tem segundas intenções para estar em Haven Falls e nunca esperou que a pequena bruxa aparecesse e desafiasse descaradamente seu reinado. Era para ser fácil; entrar e sair. Colocar as peças no lugar e preparar o palco para a guerra que ele planeja há mais de quinhentos anos. Aria é sua inimiga declarada, mas algo dentro dela o chama, e ele se odeia por desejar os beijos ardentes que reacenderam seu coração frio e morto. Só um gostinho, e ele pensou que poderia tirá- la de seu sistema. Ele estava errado. Knox deixará de lado as memórias do passado, impulsionando sua necessidade de vingança que destruirá a linda bruxinha que ele deseja? Ou ultrapassará os limites para lutar e reivindicar o que é seu por direito? De qualquer forma, a guerra é inevitável. E nada o impedirá de alcançar o que é dele. Fantasia épica, situações pesadas de amor e ódio com cenas adultas. Dedicatória Para todos que estão tentando encontrar seu lugar ao sol, você consegue. Seu caos brilha intensamente, não o apague por ninguém. Deixe suas chamas queimarem selvagens, e abale o mundo com sua besta interior. Ponha o mundo em chamas e erga-se das cinzas sorrindo. Você é brutalmente deslumbrante do seu jeito. Aviso Pare!!! Leia o aviso antes de comprar este livro. Contém gatilhos!!! Aviso: este livro é sombrio. É sexy, quente e intenso. A autora é humana, assim como você. O livro é perfeito? É tão perfeito quanto eu poderia fazê-lo. Existem erros? Provavelmente sim, por outro lado, até mesmo os mais vendidos do New York Times têm erros mínimos, já que, assim como eu, eles têm editores humanos. Há palavras neste livro que não serão encontradas no dicionário padrão, pois foram criadas para definir o cenário de um mundo de fantasia paranormal-urbano. As palavras deste romance são comuns em livros de paranormais e dão melhores descrições da ação na história do que as que podem ser encontradas nos dicionários padrões. Elas são intencionais, e não erros. Sobre o herói: é possível que você não se apaixone logo de cara por ele, isso é porque não escrevo homens que você ama instantaneamente; você se apaixonará por ele aos poucos. Não acredito no amor instantâneo. Escrevo homens defeituosos, crus, tipo homens das cavernas, que mais cedo ou mais tarde deixam que você veja suas qualidades redentoras. Eles são agressivos, cretinos, apenas um nível acima de um troglodita quando os encontramos. Você pode até não gostar dele quando terminar este livro, mas prometo que vai amá-lo até o final desta série. Sobre a heroína: há uma chance de você pensar que ela é um pouco ingênua ou fraca, mas, se parar para refletir, quem já começa incrível em algo? Mulheres fodonas ficam assim depois de trabalharem duro, e eu vou fazê-la passar por um inferno, e você poderá vê-la lutando e se reerguendo todas as vezes que eu a lançar de bunda no chão. É assim que faço as coisas. Como ela reage ao conjunto de circunstâncias pelas quais é submetida pode não ser como você, que está lendo, ou eu, a autora, reagiria a essa mesma situação. Todos reagem de maneiras diferentes a cada circunstância, e como Aria Hécate responde aos seus desafios é como eu a vejo como personagem e como pessoa. Eu não escrevo histórias de amor: escrevo livros frenéticos, que te deixam com a bunda no chão, que te fazem sentar na beira da cadeira pensando no que vai acontecer a seguir. Se você está procurando um romance fofinho, esta história não é para você. Se acha que não aguenta o passeio, solte o cinto de segurança e saia do carrinho da montanha-russa agora. Caso contrário, o aviso foi dado. Se você não se incomodar com nada do que foi dito acima, vá em frente e aproveite o passeio! CAPÍTULO 1 Exalando um suspiro longo e trêmulo, olhei fixamente para as luzes da cidade logo abaixo do penhasco em que estava. Haven Falls, uma cidade de seres imortais que sequer pertenciam ao Reino Humano. Um lugar que assombrava meus sonhos e vivia em todos os pesadelos que já tive. A cidade ficava aninhada entre vales tortuosos, escondida dentro deles para mantê-la em segredo dos mortais, em cujo reino vivíamos. Fiquei naquele mesmo local tempo suficiente para o dia se tornar noite. A cidade se transformou de um centro de aglomeração movimentado a uma paisagem onírica iluminada. Eu tinha 12 anos quando a minha tia Aurora nos levou para longe de Haven Falls, para longe da brutalidade cruel dos reinos imortais dos quais tínhamos vindo. Este lugar não possuía apelo, nem boas recordações para mim. Era o centro de tudo o que eu odiava, tudo o que desejava queimar, e sentir as cinzas dos destroços entre os meus dedos dos pés. Havia sonhado uma vez que o tinha queimado, reduzindo a cinzas aqueles que ficaram de lado e só observaram enquanto eu era torturada, brutalizada e aterrorizadapela minha mãe. As minhas irmãs não compartilhavam da minha visão sobre este lugar, nem tinham suportado o que a minha mãe me fez passar nas vezes que tentou acabar com a minha vida. Elas gostavam de estar de volta em casa, revendo os velhos amigos enquanto me ajudavam a procurar minha gêmea, que estava desaparecida há vários meses sem uma única pista. Os meus olhos se ergueram para as galáxias acima e depois baixaram para a mais velha das minhas irmãs, enquanto ela se movia para onde eu estava. Sabine era muito gentil e maternal conosco, tanto por ser a mais velha e estar presente nos nascimentos de cada par de gêmeas, quanto por nossa mãe ser uma cadela sem coração. Tivemos que aprender rápido a depender umas das outras a fim de sobreviver. Parando ao meu lado, ela olhou para as estrelas antes de falar. — Assim que entrarmos na cidade, saberão que estamos de volta — murmurou ela num tom abafado, empurrando seus cachos dourados para longe do rosto enquanto o vento soprava, espelhando a luta interna que suas palavras criaram dentro de mim. — Já sabem que estamos aqui — respondi, percebendo os olhares que nos observavam enquanto parávamos para contemplar a cidade no fresco ar noturno. — Estamos sendo vigiadas desde que saímos dos carros. — Eles podem nos vigiar o quanto quiserem. Alguém aqui sabe o que aconteceu com Amara, e não vamos embora até a encontrarmos. Franzindo os olhos, considerei suas palavras. Amara tinha sido retirada de mim há algum tempo, e eu não tinha certeza de que ela queria ser encontrada. Não era incomum para ela desaparecer por um período longo, mas isto era diferente. Algo parecia errado, e tudo dentro de mim dizia para encontrá-la antes que fosse tarde demais para salvá-la. Ao me virar, recebi os olhares das minhas irmãs, que tinham se juntado a mim para procurar Amara. Cada uma delas se recusou a ficar para trás, e eu as amava ainda mais por isso. Éramos da família original das bruxas, nascidas do mesmo sangue que corria através de Hécate, a Deusa das Bruxas. Ela era minha avó e, por causa dela, nós possuíamos um dever para com esta cidade, um dever do qual havíamos fugido até agora. Deixamos a nossa mãe, Freya, aqui para lidar com a crise, mas ela era desleixada e tinha a má reputação de se esquivar dos seus deveres. Freya desapareceu logo depois de partimos. Chocante, não é? Amara, minha irmã, com quem tinha uma relação de amor e ódio nos últimos anos, havia retornado a Haven Falls para assegurar o lugar da nossa família no conselho dentro dos Nove Reinos assim que recebemos a notícia de que Freya tinha desaparecido sem dizer uma palavra. Teria sido preocupante se fosse algo novo, mas não era. Freya amava os homens, e pouco se preocupava com a própria reputação quando os tomava como amantes. Além de detestar fazer parte do conselho que supervisionava a entrada dos imortais no Reino Humano dos Nove Reinos. Apenas aqueles com a mais pura das linhagens de sangue poderiam ter um assento no conselho dos Nove Reinos. Juntos, decidiam se os imortais eram seguros o suficiente para entrar no Reino Humano e se eram capazes de manter os nossos segredos. No centro da cidade ficava o portal entre este reino e a entrada para os Nove Reinos. Aqueles que passavam tinham que se apresentar ao conselho, recebendo os documentos que legalizavam sua estadia aqui. Amara voltou para Haven Falls por conta própria, oferecendo- se para ocupar o lugar no conselho. Implorei para que reconsiderasse, mas ela recusou. Ela tinha me lembrado que nenhum imortal passando pelo portal poderia ganhar entrada a menos que uma bruxa da linhagem de Hécate votasse com os outros. Mesmo assim, poderia ter sido qualquer outra pessoa. Era para ela retornar pouco depois disso, mas, na maior parte das vezes, faltava às reuniões. Afastou-se de tudo e de todos, o que agitou esta cidade. Amara tinha se afastado da magia, relutante em fazer feitiços que chamavam pelo Coven, alegando que estava drenada ou doente nos dias em que precisavam deles. Quando regressou ao Reino Humano, Amara dava notícias semanalmente, informando-nos de que tudo estava bem. Depois, as semanas se transformaram em meses, e então nada. Foi como se ela simplesmente tivesse desaparecido. Tínhamos ligado para o celular dela, deixado mensagens de voz e texto, em vão. Depois chegou o dia em que sua linha foi desconectada. As ligações para as famílias originais nos deram pouca ou nenhuma esperança. Ninguém a havia visto em semanas e, pior ainda, a loja que cuidávamos estava fechada. O vínculo que compartilhava com Amara tinha sido rompido, como se ela tivesse deixado de existir. Para mim, era debilitante ser incapaz de alcançar e sentir a presença da minha gêmea. Parecia que faltava uma parte de mim e, por mais que eu tentasse, não conseguia alcançá-la. — Alguém nesta cidade tem que saber o que aconteceu a ela — disse minha irmã Luna, deslizando sua mão na minha e apertando-a de maneira reconfortante. — Vão se arrepender se tocarem em uma das nossas. Há muitas de nós até mesmo para travar uma guerra se ferirem sequer um fio de cabelo da sua linda cabeça. Muitas de nós. Minha família era composta só por mulheres, oito pares de gêmeas. Hécate tinha amaldiçoado sua linhagem para que tivessem múltiplos nascimentos, todas mulheres. Com isso, tinha garantido que nunca estaríamos sozinhas, mas veio a um preço elevado. Qualquer mulher que tivesse um filho homem descobriria rapidamente o custo disso. Minha mãe era filha de Hécate, a mais pura de sangue e, no entanto, deu à luz filhas gêmeas sem se preocupar com o que aconteceria depois de nos separarmos do seu ventre. As suas irmãs, Hysteria e Aurora, tinham sido as únicas a lidar com as repercussões de sua libido excessivamente ativa. Freya queria um exército de bruxas, mas não queria a responsabilidade que vinha com o nascimento desse exército. Em vez disso, deixou-nos com as suas irmãs, que nos amavam como suas próprias filhas, Aurora, mais do que Hysteria. Hysteria tinha entrado no portal e nunca mais se ouviu falar dela desde então. A própria Hécate deu à luz a dois pares de gêmeas: Freya e Aurora, e Hysteria e Kamara. Kamara tinha se perdido há séculos ou sido deixada por conta própria. Ninguém sabia o que havia acontecido, somente que ela havia desaparecido e nunca mais fora vista ou se tivera notícias desde então. — Talvez tenhamos que considerar que Amara tenha ido com a nossa mãe — declarou Kinvara, encolhendo os ombros enquanto eu a olhava fixamente, com uma sobrancelha arqueada em questionamento. — Já pensei nisso, mas Amara não é assim tão estúpida. — Franzi as sobrancelhas, sabendo que era uma explicação viável, mas isso não significava que Amara estava segura. — Acho que ela não seria estúpida o suficiente para confiar na nossa mãe assassina. — Não creio que a nossa mãe tentaria assassinar Amara — declarou Sabine. — Ela com certeza tem sangue frio, mas não é uma assassina. Talvez quisesse Amara com ela para atrair homens para sua cama, mas assassinato? Não creio que fizesse algo assim à sua própria filha. — Sério? — zombei. — Aquela cadela tentou me matar várias vezes. Inferno, ela tentou abortar Amara e eu. Se Aurora não tivesse interferido todas as vezes que ela tentou tirar minha vida, estaria morta. Eu era uma criança. Sabine franziu as sobrancelhas, assentindo para a raiva e o ódio que escorria das minhas palavras. — Ela ficou louca depois que voltou. Algo estava errado, Aria. Não sei por que ela fez o que fez, mas seja qual for a razão, saiba que ela não era a mesma quando regressou dos Nove Reinos, com a gravidez sua e de Amara já avançada. — Isso não justifica as ações dela, Sabine. Ela tentou me matar. — Sim, e Aurora te salvou. Ela nunca tentou assassinar Amara diretamente. Freya só mirava Amara quando vocês estavam juntas no ventre dela, por isso não se pode presumir que iria atrás de Amara agora. É isso que estamos dizendo e, desde que saímos desta cidade, ela não tem conseguido nos encontrar. Aurora se certificou de que seríamos indetectáveis. Anossa mãe, Deus a ame, não foi seletiva em relação às criaturas que tomava entre as pernas. Freya também nunca manteve um controle sobre quem poderiam ser nossos pais, tornando impossível saber o que éramos até que a mudança começasse dentro de nós. Depois, tínhamos que lidar com isso sozinhas. Aine e Luna tinham olhos azuis brilhantes, marcando-as como lobos alfa, alertando-nos para a sua linhagem. Sabine e Callista eram ninfas ou sereias, mas era difícil dizer, uma vez que não havia muita diferença entre as duas espécies. Tínhamos decidido chamá-las de piranhas porque isso as fazia rir todas as vezes. Kinvara e Valeria eram súcubos, o resultado da nossa mãe ter se envolvido com uma horda de demônios íncubos em uma de suas viagens pelos Nove Reinos. Ela tinha criado a sua própria versão distorcida da arca de Noé, mas com filhas. O sangue do nosso pai só determinava metade do que éramos, e a nossa mãe, a outra. Ao contrário das minhas irmãs, que tinham percebido o que eram no seu décimo sexto aniversário, eu não fazia ideia do que era. Enquanto elas dependiam da natureza para lançar magia ou feitiços, eu a tomava de algum outro local. Era empolgante quando eu usava magia, mas havia um apelo a algo mais sombrio no meu interior que se envaidecia com orgulho quando acontecia. Como se algo letal adormecesse dentro de mim e ainda não tivesse despertado completamente. — Há carros vindo do Leste — avisou Luna, olhando naquela direção. Ela inclinou a cabeça, ouvindo, enquanto todas nós seguimos o seu olhar. — Amigo ou inimigo, Luna? — perguntou Sabine, baixinho, como se temesse que eles a ouvissem. — Irmã tola. — Sorri de forma sombria. — Eles são todos inimigos. — Observei a estrada escura atrás de nós e depois estreitei o olhar enquanto os faróis finalmente se aproximavam. Luna farejou o ar e abriu um sorriso generoso. — Cheira a homens, e cheira bem. Lobos alfa ou outra coisa semelhante à composição genética. Sinto o cheiro de poder bruto e violência no ar, que grita perigo. Oito homens aproximadamente — disse ela, farejando mais uma vez antes de assentir. — Acho que são inimigos... — Mas nós gostamos de homens — interveio Aine, enquanto erguia o próprio nariz, inalando profundamente. — Especialmente aqueles que cheiram como estas criaturas. Miau, garotas, preparem-se. Preparem-se para ação. — Ela afofou o cabelo e ajeitou os seios antes de voltar a falar. — Sem dúvida são inimigos, mas bem que estou precisando foder com ódio neste momento. — Como sabe que são inimigos? — quis saber Sabine, preocupada, mordendo os lábios enquanto esperava pela resposta. — Fácil, Aria acabou de dizer que todos são inimigos — zombou Luna, revirando os olhos enquanto ajustava os seios e comparava os dela com os de sua gêmea, Aine. Ela retirou um tubo de brilho labial, passando nos lábios enquanto todas nós observávamos a sua preparação para o sexo. — Vocês às vezes são perturbadoras — murmurei. Estendi a mão, prendendo os meus cabelos prateados atrás das orelhas, não que isso ajudasse em meio a ventania. Não precisava de um espelho para saber que os meus olhos estavam mais azuis do que verdes com a falta de sono que tive nas últimas vinte e quatro horas. Tive pesadelos e desisti de tentar dormir só de pensar em retornar a este lugar. O carro estava encostando, os faróis apontando diretamente em nossa direção, forçando aquelas que eram sensíveis à luz a tapar os olhos enquanto brilhavam sobre nós. Inspecionei silenciosamente os homens que desciam do SUV, movendo-se em nossa direção de uma forma tão sombria e letal que não dava para não perceber, independentemente da máscara de civilidade que eles usaram para entrar neste reino. Meus olhos se fixaram no macho mais alto, inspecionando-o enquanto os músculos saltavam contra a camisa que ele usava. Ele era uma cabeça mais alto do que os outros. O poder exalava dele, empurrando contra a minha pele enquanto erguia a mão e afastava o cabelo castanho claro do seu rosto. Olhos da cor do oceano deslizaram sobre todas nós antes de voltarem para mim, e ele ergueu o nariz e inalou os nossos cheiros. — Vocês não são bem-vindas aqui. Saiam e poderão viver. Fiquem e morrerão — anunciou ele com um sotaque que eu não conseguia identificar. Ele era sexo na sua forma mais pura, e nem sequer eu conseguia tirar os olhos de cima dele, ou não conseguia até Kinvara fungar. — É assim que dá as boas-vindas às mulheres da cidade? — indagou ela, seus feromônios enchendo o ar para provocá-lo. Piranha. — Não vou pedir de novo, senhoras. — Você não tem autoridade para nos pedir para ir embora — afirmei, atraindo o seu olhar letal de volta para mim e para longe da minha irmã. Cruzei os braços sobre o meu peito, desafiando-o a dizer que estava errada. Quando ficava furiosa, cravava os meus saltos altos fundo no chão e não dava um centímetro de espaço para que ninguém me intimidasse. CAPÍTULO 2 Ele sorriu friamente e estudou meu rosto enquanto eu fazia o mesmo com ele. Seu poder me envolvia de forma ameaçadora. Era um poder debilitante, que apertava em volta da minha garganta, fazendo com que os cabelos na minha nuca se arrepiassem em alerta. O sorriso em sua boca pecaminosa me indicou que o tinha feito de propósito, sabendo que não era algo que poderia ser ignorado. Aquele olhar intenso me engolia inteira, afogando-me lentamente enquanto me atraía para suas águas profundas, com ondas de cristas brancas que prometiam me consumir. — Ah, mas eu tenho, garotinha. — Ele soltou um riso tenebroso. — Eu sou o rei aqui. Isso significa que tenho todo poder sobre qualquer um que entra em Haven Falls e em minha jurisdição — zombou ele, aproximando-se de onde eu estava, enquanto eu o avaliava em silêncio. Ele parou a poucos centímetros de mim e farejou o ar. Inalei o seu cheiro, mal conseguindo conter o arrepio que correu pela minha espinha. Era uma mistura de sândalo e uma pitada de uísque. A camisa de botões que ele usava fazia pouco para esconder os contornos do seu corpo, que estudei distraidamente. Não era excessivamente musculoso, porém, mais forte do que o corpo de um nadador. Os braços eram tatuados, com escrita em línguas antigas, se não me engano. Usava calças jeans, que abraçavam pernas poderosas, terminando em botas militares. Afastei meu olhar do seu corpo e o pousei no rosto, observando a linha afiada do maxilar, que estava levemente salpicada com uma sombra de barba. Os lábios eram cheios, sensuais e repuxados com firmeza para revelar um sorriso que era só dentes. — Já acabou de me comer com os olhos? — perguntou ele de forma sombria, a voz fazendo um calafrio correr por minha espinha. — Talvez — respondi, antes de me dar uma chacoalhada mental. — Desde quando Haven Falls precisa de um rei? Os olhos dele fizeram uma lenta avaliação do meu corpo, parando brevemente sobre a parte de cima do vestido que eu usava, que se cruzava sobre o meu peito, expondo a minha barriga e cintura, deixando um decote maior do que me sentia à vontade de expor diante de seu olhar quente. A saia tinha aberturas laterais, revelando ambas as coxas antes de parar nos meus quadris. As botas que usava combinavam com as dele, mas eram mais para conforto do que para chutar bundas. Lentamente, os olhos dele voltaram a se erguer para os meus seios antes de parar no meu rosto. — Desde que assumi o controle — rosnou ele. O som da sua voz deslizou sobre a minha pele, enrolando-se em volta da minha garganta até o ar não conseguir entrar na minha via respiratória. — Quem diabos é você, garotinha? — Aria Hécate, filha de Freya Hécate, nascida de Hécate. — Abri um sorriso malicioso, vendo como os seus olhos se estreitaram e sua mandíbula se contraiu com a menção do meu sobrenome. — Estas são as minhas irmãs, e garanto que, mesmo como rei, você não tem autoridade para nos retirar daqui. Ele deu uma risada sedutora, diminuindo a distância até invadir meu espaço pessoal, respirando meu ar até não haver o suficiente para nós dois. A respiração dele acariciou minha pele e sua proximidade me obrigou a levantaro rosto para sustentar o seu olhar. Ele ergueu a mão e passou um único dedo sobre a minha face, enquanto me olhava fixamente. — Hécate — sibilou ele, como se o nome fosse algo vil colado à ponta da sua língua. — Bruxas de merda. — Rindo, olhou no fundo dos meus olhos como se fosse ficar mais feliz se colocasse suas grandes mãos em volta da minha garganta. — Bem, não tenho certeza sobre a parte da merda, mas somos definitivamente bruxas. — E qual é a sua outra metade, Aria Hécate? Sua mãe era uma puta, uma que dormia com qualquer criatura corajosa o suficiente para se arrastar entre as coxas dela. — Eu? Quem sabe? Como tão delicadamente apontou, minha mãe é uma puta — mencionei, estudando a forma como seus olhos se estreitaram sobre mim enquanto ele erguia o nariz, inalando profundamente. — Quer cheirar o meu rabo também? — Presumi que ele era um lobo alfa, mas o poder que irradiava dele não era nada que eu já tivesse sentido antes. — Deveria partir antes que seja tarde demais, bruxa. — Os seus homens riram atrás dele e eu estreitei os olhos, deixando-os deslizar pelo seu corpo antes de erguê-los e franzir o rosto como se ele não fosse nada demais. — Sua espécie não é mais do que a porra de um problema. — Você não me conhece, por isso sugiro que pare de me estereotipar. Não vou embora porque um idiota me diz para ir. Sei muito bem que, neste momento, não há uma bruxa Hécate sentada no conselho, o que significa que existe uma fila para entrar neste reino, que está parada. Por acaso estou errada, oh, Grande Rei de Haven Falls? — Ele me encarou com frieza, o que fez com que um gelo atravessasse as minhas veias. — Sem uma bruxa Hécate no conselho, o Pacto não pode conceder a cidadania a imortais que desejam entrar neste reino. Eles precisam da nossa linhagem presente para aprovar essas candidaturas, e o processo exige um voto de cada linhagem original, ou será que isso mudou quando você se proclamou rei? — Esperei que ele dissesse algo para se contrariar, mas ele apenas continuou me encarando, até eu engolir com força, minha confiança vacilando enquanto ele continuava a me observar. — Hum, pelo visto, não. Nem mesmo um rei autoproclamado tem autoridade para derrubar o Pacto. — Aria — experimentou ele, provando o meu nome em sua língua enquanto eu sorria. Esperava que ele argumentasse, não que se aproximasse e levantasse o meu queixo. O seu toque me fez sentir um frio no estômago. — Não me interessa quem raios você é, ou qual sobrenome usa por aí. Sou dono desta merda de cidade. Vou comê-la como café da manhã, garotinha, e gosto de comer coisas bonitas. — Espero que isso não seja uma metáfora para comer uma boceta! Aria é virgem, e alguém tem que estourar essa cereja madurinha! — gritou Kinvara, e eu me virei para olhar para ela. Todos na clareira ficaram em silêncio depois daquelas palavras. Corei enquanto o macho me estudava, notando minhas bochechas avermelhadas. Ele sorriu alegremente, o que fez com que meus olhos baixassem até a sua boca sensual. Afastei o meu rosto do seu toque, lançando um olhar mortal a Kinvara enquanto ela encolhia os ombros, fingindo inocência. — Ei, sou completamente a favor de que comam essa cereja. Os deuses sabem que você precisa dar uma antes que exploda — ofereceu ela, dando de ombros. — Fique calada, Kinvara, não está ajudando em nada — reclamou Sabine. Ele me inspecionou, deixando-me irritada com a intensidade do seu olhar. Um raio caiu acima de nós e olhei para cima, para o céu coberto de nuvens densas. Outro raio voltou a cair, agora ao nosso lado, fazendo com que meus olhos se estreitassem à medida que minhas irmãs saltavam. O macho ainda não tinha desviado o olhar de mim e, quando voltei a olhar em seus olhos, havia algo de tenebroso dentro deles. O vento aumentou, uivando de forma sinistra, fazendo meu cabelo chicotear contra o rosto. Virei, olhando para onde o relâmpago continuava a cair sem parar. Comecei a caminhar para trás sem prestar atenção, incapaz de ignorar a sensação de que algo estava no bosque, observando-nos. Esbarrei em algo duro e imóvel. Olhei por cima do ombro e vi olhos tempestuosos que se estreitaram sobre mim, enquanto ele inalava mais uma vez. O calor do seu corpo deslizou sobre minha pele exposta, mas o poder que ele exalava era pior do que o calor. Desgrudando meu olhar do seu, vi uma sombra escura se mover na floresta. — O que diabos é isso? — sussurrei, tão baixo que era quase impossível ser ouvida por cima do barulho do relâmpago quando este atingiu o chão. — Diga-me você, Aria — exigiu ele, tocando minha cintura, fazendo com que minha pele se arrepiasse com um único toque de seus dedos. — Minha — sibilou a coisa como se fosse o Gollum, a pequena criatura feia de O Senhor dos Anéis. — Aria Hécate é minha! — guinchou ele, fazendo-me inclinar a cabeça. — Dispenso — murmurei. — Isso não é nem um pouco sinistro. — Venha até mim, Aria. Deixe-me provar tua doçura, pequenina — continuou a coisa. Eu não precisava de um convite. Explodi em ação, correndo em direção à criatura enquanto o poder irrompia à minha volta. A coisa sorriu, acenando com sua mão, chamando-me para mais perto. Parei onde ela tinha estado, dando uma volta completa apenas para não encontrar um único vestígio da criatura que me chamava. Minhas mãos se ergueram, arrancando as raízes das árvores de onde se prendiam ao chão, mantendo-as suspensas no ar enquanto eu observava à minha volta, não encontrando nenhum sinal da criatura. Lenta e metodicamente, voltei a colocar as árvores no chão onde estavam. Um raio caiu ao meu lado e me virei, inalando o cheiro de ozônio queimado antes de correr para onde estavam as minhas irmãs e esbarrando com força em um peitoral com um cheiro divino de macho. Olhei para cima, franzindo as sobrancelhas com desconfiança. As mãos dele capturaram minha cintura, puxando-me contra seu corpo enquanto ele olhava para baixo. — Me solta — ordenei friamente. — Bruxa, hein? — sibilou ele. — Bruxas não controlam os elementos, nem têm poder suficiente para arrancar centenas de árvores, muito menos para plantá-las de novo no chão. — Você não tem direito de me tocar ou me fazer perguntas. Nem sequer sei seu nome. — Finquei os pés no chão, estudando-o, enquanto seu toque enviava um pulso de eletricidade através de mim. — É Knox. Mas que merda é você, Aria? — Hum, o que diabos é você? Não é um lobo alfa, seus olhos não são azuis o suficiente. Não é um íncubo, porque não está exalando sexo o bastante para me fazer querer jogar minha roupa no chão e implorar que me toque. Não é um demônio, porque não carrega o cheiro deles. A escrita em seus braços sugere que não é daqui, então, quem é você, Knox? E por que está na minha cidade? — Perguntei primeiro. — Você não ia gostar de saber — sussurrei, lambendo meus lábios enquanto ele observava. — Me deixe ir, idiota. Já posso até ver que não vou gostar de você. Portanto, a menos que planeje dar uma dentro, saia de perto de mim. Não estou a fim de jogar essa sinuca de bico. — Medo de brincar com o taco, ou simplesmente não é boa em jogar com bolas? — São as bolas. Sempre as faço explodir do nada. Ninguém parece gostar quando suas bolas explodem antes da hora. — Depende de dentro de quem elas explodem. Gaguejei, tentando pensar em uma réplica, e então fechei a boca, piscando atordoada com sua declaração. Aquela tinha saído pela culatra. — Mantenha suas bolas longe de mim. — Com medo de gostar do meu pau? — questionou ele, levantando a mão para afastar uma mecha do meu cabelo que tinha se soltado. — Seja uma boa menina e posso até deixar você chupá- lo. — Vocês dois vão transar, ou querem mais uns minutos a sós? — Luna quis saber, observando-nos. Eu a ignorei, puxando meu braço do aperto de Knox antes de desviar para o seu lado, observando enquanto ele me estudava. — Não chuparia seu pau nem se ele possuísse a última molécula de ar em todo o universo, querido. De qualquer forma, você não é macho suficiente para lidar comigo. Provavelmente é como qualquer outro macho neste planeta quepensa que as mulheres devem se curvar e adorar a coisinha minúscula entre suas pernas. Eu não me curvo a ninguém. E com certeza não me curvo a um “egoísta, egocêntrico e autoproclamado rei” de uma cidade que deveria ser queimada e destruída, imbecil — murmurei enquanto me virava, marchando de volta para onde estavam minhas irmãs, ouvindo tudo o que dissemos. — Vamos, antes que algo mais venha nos dar as boas-vindas ou tente nos matar. — Sugiro que estejam na reunião do conselho amanhã e aprendam as novas leis de Haven Falls. Se me sacanear, garotinha, eu lhe sacaneio de volta. Não tenho misericórdia quando fodo meus inimigos. Se não gosta das novas leis, pode sair da minha cidade. — Quem disse que preciso da sua misericórdia? — zombei enquanto girava, erguendo uma sobrancelha em questionamento. — Você não me assusta, Knox. Nem sequer entra na lista das coisas que temo. — Certo, que tal testarmos essa sua teoria, hein? — perguntou ele. Um barulho estrondoso explodiu e o mundo desapareceu ao meu redor. CAPÍTULO 3 Eu me agarrei a Knox enquanto o mundo parava de girar e enterrei meu rosto contra seu peito. Sabia que ele nos moveu de uma maneira que só certos imortais conseguiam, um presente dos deuses para a mais forte e mais poderosa das criaturas. Minha respiração se intensificou, ficando mais rápida enquanto lutava para acalmar minha reação por estar muito acima do chão. O ar estava rarefeito, o que significava que estávamos no alto da cidade, no pico mais alto da montanha mais alta, oscilando sobre algo que eu não conseguia ver. Meus pés não conseguiam encontrar nada em que se apoiarem e, quando olhei para cima, olhos azul-marinho me examinavam com interesse. — Assustada agora? — questionou ele com a voz rouca. — O que diabos você é? — sussurrei, olhando para a altura precária da queda enquanto meu coração acelerava. Knox ergueu a mão para tocar minha bochecha e me agarrei com mais força nele quando pedras deslizaram do penhasco sobre o qual ele me segurava. — O que diabos é você, Aria? — retrucou ele com curiosidade, estudando-me enquanto passava o polegar sobre minha bochecha. — Eu não sei — respondi através de lábios trêmulos, meu corpo reagindo com medo e prazer de ser mantida na beira de um precipício, e ao mesmo tempo não estar. Knox me segurava lá, meus pés nem por um momento tocando o chão, mas não tive medo de cair com ele me segurando. — Minha mãe nunca me disse, só dizia que eu era má... — Você está com medo de mim? — indagou ele, baixando a boca para roçar seus lábios sobre os meus, enviando uma prazerosa onda de calor através de mim. — Porque você deveria ter pavor de mim. — Ele deu um risinho sombrio enquanto seu peito fazia o barulho de um chocalho, como de uma cascavel, o som ecoando através das montanhas. — Você não tem ideia do que é assustador. Se fosse esperta, Aria, fugiria agora. Se entra na minha cidade, joga pelas minhas regras. Sou dono de tudo e de todos. Você não vai gostar de mim ou das mudanças que fiz. — Já adivinhei isso. Não quero estar aqui, mas merdas acontecem, e aqui estamos nós. Você pode ser dono de tudo, mas não é dono de todos. Você não é dono de mim, Knox. Ou devo chamá-lo de Vossa Majestade? — zombei, enquanto ele me olhava de relance. — Não espere que me curve, Knox. Não fico de joelhos por ninguém. — Hmmm, você ficaria muito melhor de joelhos e com algo nessa sua boquinha esperta. Uma pena que você é uma bruxa. — O que diabos as bruxas fizeram com você? — disparei, irritada com seus insultos. Nem todas as bruxas eram iguais e nos generalizar era uma atitude de merda. — Tudo, odeio tudo em você e sua espécie — rosnou ele, expondo uma emoção crua que fez meu coração se apertar em aviso. — Vocês são a epítome do mal, destruindo vidas só porque têm o poder para fazer isso. Vocês assassinam inocentes e destroem vidas com toda facilidade porque nunca ficam tempo o suficiente para ver o resultado. — Não ligue para mim, diga tudo o que pensa — zombei, sorrindo para ele. — Vocês são todas putas inúteis que destroem tudo o que tocam. Sem mencionar que transam com qualquer coisa e qualquer um disposto a reproduzir em seus ventres venenosos. — Nunca matei ninguém na vida. Também não senti desejo de ter um homem, nem de destruir sua vida para que ficasse comigo à força. Nenhum homem já me tocou, Knox, nem vou me rebaixar a recorrer ao assassinato para ter uma transa. Não me estereotipe. Não sou como as outras bruxas, disso pode ter certeza. Porém, deixo a destruição no meu rastro quando alguém fere um dos meus. Que tal fazermos um acordo aqui e agora? Você fica bem longe de mim, e eu fico longe de você. — Esta cidade não é grande o suficiente para que isso aconteça, Aria. — Você ficaria surpreso com o que posso fazer em espaços pequenos. — Você fede a uma necessidade de ser curvada e fodida. — Então cubra o nariz, porque não vai ser você que vai me foder — disparei, odiando que meus mamilos endureceram por causa da eletricidade que fluía entre nós. Senti um frio na barriga e algo estava acontecendo com meu cérebro. Eu era mais esperta do que isso. Geralmente, não flertava com a morte. Este homem era um predador, não tinha certeza de qual tipo, mas havia partes afiadas nele que deixavam isso evidente. A maneira como observava qualquer mínima reação minha ficou atravessada na minha garganta, e então tinha o modo como eu regia perto dele. Não era de ficar reparando em homens, nunca me importei e, mesmo assim, já sabia que seus olhos tinham manchas de safira em suas profundezas oceânicas. O cabelo de Knox não era marrom, era um loiro arenoso, parecendo mais escuro sob as sombras da luz pálida da lua. Seu corpo foi feito para ser veloz, não para a força. Ele era forte e não precisava da força física para atingir seus objetivos, pois era inteligente. — Ou me beija ou me coloca de volta no chão. Tenho coisas para fazer esta noite, Knox. Ele sorriu, baixando os olhos para observar minha boca antes de mais uma vez nos mover para o chão, mas fez mais do que isso; ele congelou o tempo e o espaço. Senti seus lábios tocando os meus de leve, mesmo não podendo vê-lo, então expirei enquanto observava o SUV se afastar de nós. Ele tinha me levado de volta e congelado o tempo. Ele tinha me congelado! Ninguém jamais havia sido capaz de usar magia em mim, o que intrigava a todos, não tínhamos ideia de quem era o pai que havia gerado Amara e a mim. Engoli o medo e me virei, olhando fixo para minhas irmãs, que me observavam de volta. — Ele me congelou — admiti através de lábios trêmulos. — Isso não é bom. — Não, isso não é nada bom. — Olhei para os faróis traseiros do carro dele, perguntando-me quem diabos ele realmente era. Mas não iria embora até descobrir o que aconteceu com minha irmã. Eu me recusava a ser expulsa da cidade por um idiota que ficava excitado sendo o valentão. — A presença dele aqui é preocupante — anunciou Sabine, fazendo com que todas nos virássemos para ela. — Você sabe o quanto precisamos entrar nos Nove Reinos e mostrar nossa presença? A Casa das Bruxas pode ter sido para onde Amara foi. Já ouvi falar de um plano antes, que dizia que, se uma de nós ficasse nos Nove Reinos, ou aparecesse quando não fosse a hora, um assassino seria enviado para nos caçar. E se ele estiver aqui procurando por Amara e ela estiver se escondendo? Mordi o lábio, distraída, perguntando-me se o que ela disse era verdade. Não era impossível. Quer dizer, deveríamos enviar outra bruxa Hécate para a Casa das Bruxas logo. Era uma demonstração de força, lembrando ao povo o porquê elas mantinham o castelo, e para mostrar nossa aprovação quanto ao rei e à rainha que tínhamos escolhido para governar em nosso lugar. Também reforçava a magia da corte, algo que só nossa linhagem podia fazer, já que fomos nós que criamos o reino. Sem nosso retorno uma vez ao ano, a magia deixaria de existir nos Nove Reinos. Cada linhagem de sangue original tinha o dever de retornar aos Nove Reinos uma vez por ano. Isso assegurava seu poder sobre o território enquanto demostravaa força por trás das regras, assegurando ao povo que os reis e rainhas de nossa escolha poderiam liderar em nosso lugar. O que reforçava a lei ao mesmo tempo em que reabastecia a magia. — Acha que ela voltou mais cedo? — Não fui capaz de me livrar do medo que escorria pela minha espinha. — Ela estava sempre ansiosa para ir, Aria. É uma possibilidade. Faz mais sentido do que ela estar com Freya. — Sabine, é contra o Pacto entrar nos Nove Reinos sem ganhar um passe, e já sabemos que ela não obteve um. Há guardas a postos em todos os lugares. Como ela conseguiria entrar? — perguntei, um milhão de cenários passando pela minha cabeça. — Também não acho que Knox seja um assassino. Os assassinos não anunciam sua presença, apenas te matam. Knox é... letal, mas não está exatamente escondendo isso ou o seu poder. Ele simplesmente me congelou no tempo e depois me levou ao topo de um penhasco, me pendurando na beira de um precipício. Knox é um rei, sabe-se lá de qual reino. Não estou dizendo que ele não é um suspeito, mas algo nele chama por mim, e isso me aterroriza. — Chama por você como? — perguntou Sabine, estreitando os olhos para mim. — Eu não sei, quase como se ele sentisse o que quer que esteja dentro de mim, e seja o que for, também o sinto. O barulho que ele fez, eu senti a parte de trás da minha garganta começando a se mover como se fosse ecoar aquele som. Nunca senti uma necessidade intensa de fazer nada além de magia, mas o que quer que ele tenha feito, alterou algo dentro de mim. Quase como se ele o sentisse e o despertasse de um sono. — Você tem quase vinte e cinco anos, então se ele está despertando o que quer que seja sua outra metade, deixe-o. Vamos precisar de toda ajuda que pudermos para encontrar Amara. — Sabine me examinou cuidadosamente e depois se dirigiu para o carro. — Vamos para casa, senhoras. Observei minhas irmãs entrando nos carros e expirei lentamente. Knox era diferente, e não de uma boa maneira. Eu tinha reagido ao seu toque, e nunca reagi ao toque de nenhum homem. Meu corpo ficou agitado com excitação e medo. Estava em chamas, como se brasas tivessem acendido e queimassem dentro de mim. Isso seria um problema, um que teria que encarar com passos delicados. Eu não estava disposta a acabar morta enquanto procurava por Amara, não se ela escolheu nos deixar. Odiava que isso fosse uma possibilidade, ou que ela tivesse desaparecido sem deixar rastros. As pessoas não desapareciam assim, sem deixar rastros. Ela havia deixado pistas; eu só tinha que encontrá-las e descobrir o que havia acontecido com minha irmã gêmea. Ela podia estar lá fora agora mesmo, desejando que eu tivesse vindo mais cedo para salvá-la. — Você vem ou não? — indagou Sabine, e eu assenti, entrando no carro. CAPÍTULO 4 Nós paramos em uma antiga mansão, a Casa da Magia, por volta de uma da manhã. Os enormes salgueiros, sob os quais eu havia passado verões intermináveis, pareciam acenar um “olá” amigável enquanto eu saltava do SUV e olhava para a casa. As proteções cantarolaram em nossa presença; as runas dançaram num balançar erótico enquanto se instalavam para abrir a casa para nós. Todas esperaram, prendendo a respiração enquanto eu passava pelas proteções e entrava no pátio da frente. Nós controlávamos a casa com magia viva, o que significava que ela poderia aceitar ou rejeitar alguém. Às vezes, sentia que não éramos bruxas por completo e nos trancava do lado de fora. Eu me virei para dizer a todas que era seguro quando uma casa grande chamou minha atenção. Era enorme e ficava na esquina do quarteirão, com a propriedade fazendo divisão com a nossa. Não existia na última vez em que estivemos aqui, porque eu teria me lembrado de algo tão bonito. Quase parecia fora de lugar, colocando as outras casas do enorme quarteirão no chinelo. O portão se espalhava ao redor casa, adornado com o símbolo de um “K” cercado por corvos em voo imitando um círculo. Quem diabos havia construído uma casa dessa magnitude em nosso quarteirão sem ter pedido autorização para essa monstruosidade? As outras casas ficavam posicionadas na frente de suas propriedades, que se estendiam por quilômetros e quilômetros no fundo do verdadeiro quarteirão. Elas tinham sido construídas para imitar casas humanas, caso a barreira que protegia Haven Falls fosse quebrada ou falhasse. Era possível caminhar por um pátio básico antes de chegar na frente de uma das mansões, mas o que se espalhava por trás de cada uma era um oásis de terras. — Então, as barreiras ainda estão no lugar. A casa não foi perturbada. O carro de Amara não está aqui, o que pode significar que ela partiu por vontade própria — apontou Luna. — Não sinto cheiro de carne humana apodrecendo, mas há alguma fruta estragada lá dentro e algo mais que não consigo identificar daqui de fora. Olhei para Luna antes de me acalmar. Estaria mentindo se dissesse que não estava preparada para o pior. No entanto, Amara não era descuidada. Ela sempre fez de tudo para defender nossa família — ou fazia, até recentemente. Ela era minha irmã, aquela que havia compartilhado um ventre comigo. Ela não partiria sem me dizer, e com certeza não nos faria ficar preocupadas com ela assim, sem motivo. Andando em direção à casa, sussurrei o feitiço para destrancar a porta e acender a luz da varanda, mas ela não acendeu. Lá dentro, sussurrei o feitiço para acender as velas, e nada aconteceu. Engolindo em seco, cocei meu rosto. — Não tem energia. — Tateei ao longo da parede antes de esbarrar o dedo do pé em algo duro. — Merda — grunhi. Eu me aproximei do interruptor e tentei ligá-lo, mas nada aconteceu de novo. — Não tem energia ou velas. — É a Casa da Magia. O que diabos você quer dizer com “não tem velas”? — perguntou Sabine com convicção. — As outras casas têm energia, como nós não temos? — quis saber Kinvara, de pé ao meu lado, o que, naquela escuridão, me fez pular de susto. — Jesus! Não faça isso! — Arfei, colocando a mão contra meu coração. — Vou tentar o disjuntor, mas talvez tenhamos que esperar até de manhã e chamar alguém para que o substitua. Alguém deveria correr até a loja para pegar velas e comida. Estou morrendo de fome. — E cerveja, ou vinho, talvez os dois — completou Luna. — Não consigo ver merda nenhuma aqui. — São as magias da barreira, estão bloqueando tudo, menos sua magia. Só a magia da linhagem Hécate funciona dentro dos limites da propriedade. — Sabine já tinha pouco mais de vinte anos quando saímos daqui. Isso a tornava a mais velha, ou pelo menos a mais velha que nós conhecíamos. — Preciso que alguma de vocês venha comigo para a loja e veremos o que podemos encontrar. — Vou tentar o quadro de energia — murmurei. — Também vou com você! — gritou Kinvara. Luna e as outras também seguiram Sabine, deixando-me sozinha na escuridão. — Obrigada, imbecis. — Segui a parede com base em minha memória e abri a porta do porão. Aos poucos desci as escadas, sentindo os degraus antes de ter confiança o suficiente para colocar os dois pés sobre eles. Em terreno plano, sussurrei o feitiço para acender as chamas dentro das velas mais uma vez, mas o porão permaneceu escuro. O altar, que praticamente era feito de velas, ficava ali embaixo, o que significava que ou alguém tinha estado dentro da mansão, ou ninguém vinha aqui há algum tempo. Minha mão deslizou sobre a parede, encontrando a caixa de metal e tentando abrir o painel quando minha unha quebrou ao puxar com força. — Filho da puta — gemi, cheirando o sangue da unha quebrada, que havia se partido além da cutícula. Nada aconteceu quando ativei o gerador do porão. Tentei então o interruptor do disjuntor principal, que começou a disparar faíscas no quadro, causando ruídos estranhos do lado de fora da casa. Gemendo mais alto, comecei a subir as escadas, fazendo o mesmo caminho até chegar ao topo dos degraus e entrar na cozinha. Poder percorreu minha pele enquanto procurava na escuridão, não encontrando nada fora do comum. Fechando a porta do andar de baixo, espreitei pela janela dos fundos, observando que agora todasas casas estavam no escuro. — Merda — murmurei, esfregando minhas têmporas em frustração. Pousei minhas mãos no balcão brevemente antes de me virar, sentindo mais uma vez o distúrbio de energia. Balancei os punhos cegamente, com a intenção de bater em qualquer coisa ou quem quer que estivesse na minha frente, e escorreguei em algo molhado no chão. Escorreguei de novo, caindo de joelhos, bufando e me agarrando a qualquer coisa que pudesse enquanto ia para o chão. Prendi meus dedos em algo sólido, e a coisa não cedeu. Expirando, levantei-me puxando o tecido, apenas para perceber que estava preso a algo duro. Também cheirava a sensualidade e masculinidade. E, se eu me soltasse, cairia no chão, aos malditos pés de Knox. CAPÍTULO 5 A casa inteira estava banhada pelas sombras. Eu ainda me segurava ao corpo que tinha agarrado enquanto caía. Fechando os olhos, esforcei-me para reunir qualquer força para ficar de pé sem cair de novo em cima do meu traseiro. O calor queimou minhas bochechas e abri meus olhos, encarando-o com a esperança de que sua visão fosse tão ruim quanto a minha no escuro. — Você mentiu, Aria. — Uma voz rica e profunda soou diante de mim. — O que... o que você está fazendo aqui? — perguntei, irritada. — Você está de joelhos e é um visual que fica muito bem em você. — Por que está na minha casa? — Você desligou a energia da minha casa e de todas as outras — rosnou ele. — Não é possível, só permitem que as famílias originais vivam neste quarteirão, Knox. Você não é um original — murmurei. — Acenda a porra de uma vela, bruxa. — Não há uma vela em toda a casa, idiota. — Endireitei a parte de cima do vestido, aliviada por ele não ter visto parte dos meus seios que ficaram expostos na minha queda. A saia estava torta, mas não revelava nada indecente, então a ignorei. Um isqueiro se acendeu, e a chama de uma vela ganhou vida em sua mão. Ele a fixou no balcão antes de instruir um homem, que eu nem tinha notado que estava lá, para pegar mais velas em sua casa. Franzindo o cenho, estava prestes a dizer que não precisávamos da caridade deles quando sua sobrancelha arqueou, como se tivesse lido meu pensamento, ou soubesse da minha intenção. Minha boca se fechou e meus ombros caíram, em derrota. Ele pegou a vela e a segurou na frente do rosto, e meu queixo caiu diante da visão. Na beira da estrada, sob a luz fluorescente da lua, ele tinha sido decente de se olhar. No brilho suave da luz das velas? Ele era sexo encarnado, primitivo, predador, tudo envolto em um pacote perigoso. Era assustador estar sozinha na presença de Knox. Ele era o tipo de criatura pela qual as virgens sacrificavam suas vidas pela mera promessa de sexo quando chegassem às terras prometidas. Seu cabelo escuro estava desgrenhado e ele estava sem camisa, como se eu tivesse interrompido o tal sacrifício virginal. Meus olhos deslizaram sobre seu abdômen esculpido, pausando sobre os corvos tatuados em modo de voo em seu quadril. O homem havia sido desenhado a partir do pincel de um artista hábil, encharcado de masculinidade. Então foi enviado ao mundo com o único propósito de fazer calcinhas caírem ou derretê- las. Meu olhar subiu, parando no dele quando um rubor de vergonha fez com que minhas bochechas aquecessem. — O quadro de energia? — perguntou ele com uma sobrancelha erguida, como se eu o estivesse entediando com minha olhada interminável. Eu me virei com a intenção de mostrar-lhe o caminho e escorreguei no chão, apenas para que ele pegasse meu braço e depois me puxasse na direção dele até que nossas peles se tocassem, esquentando a minha com um calor como se ele estivesse me incendiando. — Você pode tentar não quebrar seu belo pescoço até eu ir embora? — reclamou ele. Cheguei ao meu limite, xingando-me mentalmente por ter agido como uma idiota na frente dele. Ele se ajoelhou, expondo as linhas poderosas das costas e os corvos que trilhavam do quadril até seu ombro. Eu me inclinei sobre ele, olhando para a substância vermelha no chão, e estreitei meu olhar enquanto ele passava um dedo no líquido e o levava até seu nariz. — Há sangue cobrindo todo o piso — disse ele. — O quê? — perguntei, olhando para minha roupa, que estava coberta de sangue, e que agora estava visível à luz das velas. Olhei para as palmas das minhas mãos e resmunguei alto. — Isso não está certo. As proteções estavam ativas. Só as perturbei quando entrei no pátio — refleti, pensando em voz alta. O sangue estava frio, mas fresco o suficiente para ainda estar molhado. Puxei meu cabelo, que tinha escapado do rabo de cavalo, e o arrumei, ignorando o fato de que estava manchando os fios prateados de carmesim. Mexer no cabelo era algo que fazia quando ficava nervosa ou preocupada. — Ninguém estava dentro da casa. Fui a primeira a entrar. — Balancei a cabeça, perdida em pensamentos, olhando de volta para o sangue. — Talvez você queira parar de se tocar. Está começando a parecer uma vítima de assassinato. Isto está me dando tesão... — Merda — grunhi, limpando as mãos no meu vestido arruinado. — O quadro é por aqui. — Repeti as palavras dele em minha mente enquanto me curvava para tirar minhas botas e não espalhar o sangue pela casa. As solas de plástico eram uma merda em superfícies escorregadias, e eu era desastrada o suficiente por conta própria. Quando coloquei as botas no balcão, caminhei nas pontas dos pés ao redor do rastro de sangue e depois fiz uma pausa enquanto meu olhar seguia a mancha até a porta do porão. — Isso é impossível. Eu estava lá embaixo e não escorreguei em sangue. — Estou surpreso que você não tenha quebrado a porra do pescoço — murmurou ele, agarrando minha mão enquanto se dirigia para a porta. — Pare de lutar comigo. — Ele me puxou para mais perto dele, sem se importar que eu estivesse tentando tirar minha mão da dele. — Claro! Porque eu o conheço tão bem, não é? Estou prestes a entrar em um porão escuro com você e, pelo que sei, você poderia ser um assassino em série. — Não era sangue humano, Aria. E, se eu quisesse te matar, já teria matado, porra. Não te arrastaria para o porão e te mataria lá. Faria aqui mesmo para deixar bem claro a todos... — Isso é exatamente o que um assassino diria. Você sabe que é sempre a loira que morre primeiro, né? — Seu cabelo é prateado, não loiro. — Sim, bem, talvez dar as mãos com você perturbe minhas sensibilidades femininas. — Você está com medo de ficar sozinha comigo no escuro, garotinha? — Sem dúvida — respondi, assentindo enquanto um sorriso se espalhava por meu rosto. — Você sabe que não sou tão pequena assim, não é? Tenho um e cinquenta e três, o que é apenas um pouco abaixo da média das mulheres. — Ele se virou e me encarou, travando seus olhos nos meus, fazendo-me sentir minúscula e insignificante. — Você é sempre tão irritante assim? — Não sou irritante. Estou nervosa. Não gosto de estar sozinha com você. Não gosto do escuro. A escuridão não me incomoda, mas lugares escuros me deixam nervosa. — Bruxas não têm medo do escuro — sussurrou ele. — Sim, bruxas normais não têm mães que as trancam em celas escuras, dizendo que o mal pertence às sombras. Que o que nasce das trevas deve ser devolvido à escuridão de onde veio. Mas eu tive. — Mordi meu lábio, relutante em encontrar seu olhar, enquanto minha mente se enchia com o grito da criança que eu tinha sido, aterrorizada com a escuridão. Amara tinha me encontrado, libertando-me, provocando a ira de Freya. Ela sempre me encontrava, e mesmo assim eu não conseguia senti-la para ajudá-la agora. — Essa é uma história triste, bruxinha — resmungou ele distraído. — É a vida — respondi. — Vamos. — Com pressa para ficar sozinha comigo agora? — indagou ele, levantando uma de suas sobrancelhas escuras. Sua pele era bronzeada, provavelmente por causa de longas férias nos trópicos, tomando bebidas decoradas com guarda- chuvinhas. Ao contrário de minha pele pálida, que mal se bronzeava. As últimas férias que tive foram na piscina infantil que tínhamos comprado, montando cadeiras de jardim ao redor, tomandosol enquanto bebíamos margaritas, fingindo que estávamos nas Bahamas. Knox se virou, descendo as escadas lentamente enquanto eu seguia de perto atrás dele. Ele ainda não havia soltado minha mão, e eu tinha certeza de que ele a segurava porque isso me incomodava. Quando chegamos ao final, o vento soprou e apagou a vela. Rapidamente sussurrei o feitiço para acender a chama e observei enquanto ela reacendia. Ele se moveu para o quadro, abrindo-o antes de segurar a vela e expor os fios. Ratos. Não os figurativos, mas os literais. A fiação tinha sido roída, expondo fios que tinham se tocado e causado um curto-circuito por causa disso. Expulsei o ar de meus pulmões e depois gritei quando algo passou por cima do meu pé descalço. Girei, recuando até ficar contra o corpo de Knox. — A bruxinha tem medo de ratos também? — ronronou ele contra a minha orelha. — Eles são roedores e carregam a peste. Lábios rasparam em minha orelha, enviando uma onda de calor que percorreu todo meu corpo até que cada nervo explodiu para a vida dentro de mim. — Você está certa, você não é normal. Aria, a bruxa, que tem medo do escuro e de ratos — murmurou ele antes de eu sentir seu nariz tocando meu cabelo, inalando-o. — Você tem cheiro de sangue e rosas. — Pensei que você não gostasse de bruxas. — Virei minha cabeça e olhei para ele. — Não gosto, mas você não tem cheiro de bruxa. Não age como uma bruxa ou empunha magia como deveria. Você é um enigma, e gosto de resolver enigmas. — Você descobriu tudo isso no pouco tempo que passou comigo? Você não me conhece. Não sabe nada a meu respeito. — Você não gosta do escuro se há paredes ao seu redor, prendendo você. Seu xampu tem cheiro de rosas e você adiciona sua própria mistura a ele para realçar o cheiro. Você não puxa da natureza para empunhar magia, apenas a usa sem pensar. Seus olhos são turquesa, mas, quando está excitada, são mais azuis que verdes. Quando está com raiva, eles são mais verdes do que azuis. Eu odiaria olhar para dentro deles quando você chora, porque são o tipo de olhos que expõem a alma e tudo dentro dela quando está machucada. Você tem quase um metro e sessenta, quase a média nacional das mulheres, mas um pouco mais baixa. E você tem lindos seios com pequenos mamilos rosados que ficam duros ao som da minha voz quando falo baixo. Você também é virgem. Sei disso não por sua irmã ter dito, mas porque você fede a uma necessidade de ser curvada e transformada em mulher. — De jeito nenhum! — disparei, cruzando meus braços sobre o peito. — E eu também não cheiro assim. — Prove que não estão duros agora. — Sua voz escapou da garganta com uma mistura de luxúria e violência que deixaram meus mamilos tão duros a ponto de cortarem vidro. — A maior parte dessas coisas eu mesma contei — eu disse, mudando de assunto à medida que seus olhos desciam e um sorriso se abria em seus lábios. — Mesmo assim eu sei, e é a verdade — respondeu, encolhendo os ombros largos. Ele olhou ao redor do porão e fez uma pausa enquanto notava os restos de um esqueleto no altar antigo. — Família? — O companheiro de Hécate — admiti em voz baixa, já que era amplamente conhecido que ele estava aqui. Ou nós assumimos que eram os restos dele que ficavam no porão alimentando a casa. Supostamente, era o pai da minha mãe e de Aurora. — A lenda diz que ele sacrificou sua vida para proteger sua linhagem. Alguns dizem que ele era o próprio Merlin, mas eu não acreditava nisso. Hécate era a razão pela qual as bruxas abandonavam suas inibições e entravam no cio como animais selvagens, nunca se apegando a um único macho por muito tempo. Ela queria garantir que sua linhagem nunca morresse, então enfeitiçou seus descendentes para que trepassem como coelhos. — E você? —perguntou ele. — Eu não me atiro aos homens. — Eu não sabia por que estava me explicando para ele. — Sou uma anomalia, segundo minhas irmãs. Pode ser devido ao que quer que seja a linhagem do meu pai, mas não tenho ideia do que ou quem ele era. — Porque você ainda é virgem — riu ele de forma sombria. — Isso realmente não é da sua conta, e só porque minha irmã disse que eu era, não significa que sou. — Você é definitivamente virgem, Aria. Posso sentir o cheiro em você. Sua pureza, o cheiro de uma mulher intocada, é bem raro. Você fede a isso. Esta cidade vai te comer viva, como um cordeiro para o abate. — Eles tentarão — concordei com sua opinião sobre a cidade de um jeito distraído, antes de fixar meu olhar no dele. — E morrerão. Não sou um cordeiro. Tenho o sangue de uma deusa correndo por minhas veias. O que quer que meu pai tenha acrescentado aos meus genes, é poderoso. Tente deixar o estado da minha vagina fora de sua língua, e de sua boca. Tenha isso em mente quando estiver me observando, Knox. — Por que você e suas irmãs realmente voltaram para Haven Falls? — questionou ele, pegando-me desprevenida. — Não foi por escolha. Este é o último lugar que iria querer estar. Minhas irmãs estão aqui, então também estou. Já acabou de me interrogar? Porque minhas irmãs estão em casa. — Logo que eu falei isso, o som dos risos e da tagarelice soou no andar acima. — Da próxima vez traga uísque se pretende fingir que é alguém útil só para me interrogar, Knox. Você é o rei, deve saber que para conseguir que uma donzela baixe a guarda e exponha seus segredos requer mais do que estar sem camisa e desarmá-la com um sorriso. Se quiser que te conte meus segredos, então se esforce para isso. — Ei, nós trouxemos cerveja e velas! Acho que também não impressionamos as outras famílias. A maioria está do lado de fora e olhando para nós — gritou Valeria, descendo as escadas. — Eca, tem sangue por toda parte. — Sangue de roedores — revelou Luna num tom entediado. — Muito sangue! — Elas parecem divertidas. — Knox não desviou o olhar de mim, apesar de eu ter acabado de desarmá-lo. — Elas são a alma da festa — murmurei, observando-o de perto. — São mesmo? Alguém poderia pensar que você seria, com sua incapacidade de se manter em pé mesmo sóbria. — Olhos azuis brilhantes me observavam enquanto meu olhar se estreitava, e um sorriso sutil se espalhou pelos meus lábios. Eu não era estúpida; podia vê-lo usando o celular para tirar fotos no porão escuro. — Você pode guardar seu celular agora. A casa não vai permitir que tire fotos do altar. Ela se protege de intrusos e guarda seus segredos. Boa noite, Knox. — Virei, subindo as escadas sem olhar para trás enquanto ele me seguia. Aceitei uma cerveja de Luna enquanto Knox saía pela porta, fazendo com que todas as conversas na casa cessassem instantaneamente. Todos os olhos foram de seu peito nu para onde me sentei com minha garrafa de Corona encostada em meus lábios. Ele acenou com a cabeça para elas, voltando-se para mim. — Não há eletricistas em Haven Falls. O mais próximo fica a duas cidades, mas seu pequeno altarzinho pode ser um problema, já que ele é humano. Brander, meu irmão, é bom com a fiação. Vou mandá-lo pela manhã, assim você para de desligar a energia da porra do bloco inteiro. Boa noite, Aria. — Boa noite, Knox — respondi, olhando fixamente para os músculos que se ondulavam em suas costas a cada passo que ele dava em direção à porta. Quando ele desapareceu de vista, Luna suspirou e me deu um tapinha nas costas. — Garota, é melhor deixá-lo colher essa cereja. Não se vê homens assim hoje em dia. Se você não for transar com ele, nos avise. Ele é delicioso. — Pode ficar com ele — afirmei. — Vou para a cama. CAPÍTULO 6 Brander chegou antes mesmo que o sol raiasse. Abri a porta, olhando para ele enquanto afastava o sono dos meus olhos. Nós tínhamos passado a noite inteira na sala da frente, ficando bêbadas. Não porque tínhamos medo do escuro, mas porque passávamos a maioria das noites bebendo juntas para ignorar nossos problemas pessoais. Era só a solução mais fácil. A verdade sobre as bruxas era que adorávamos festejar. Gostávamos de ser barulhentas e desinibidas. Era só mais fácil ignorar a intensa tensão que a magia tinha sobre nós do que lidar com ela. Compartimentávamosa magia, guardando-a até que se tornasse muito difícil contê-la, e acabávamos a deixando sair no pior momento possível. Isso podia ser perigoso, considerando que deveríamos manter nossa existência em segredo dos humanos. Era um resíduo de como fomos criadas, resultando nos feitiços mais perfeitos que este reino já tinha visto, ou jamais veria. A própria Hécate era uma deusa movida por festas. Ela apreciava viver a vida sem limites ou consequências, e se conteve muito pouco nos reinos em que viveu. — Você deve ser Brander? — Sonolenta, cobri minha boca para protegê-lo do meu bafo matinal enquanto bocejava. — Sou. Ouvi dizer que seus fios elétricos foram roídos e que precisa de assistência? — Eu havia trocado de roupa na noite anterior, sem querer dormir no vestido que havia comprado para o meu retorno para casa. Em retrospectiva, essa havia sido uma péssima ideia, porque o olhar admirado de Brander deslizou pelo meu corpo antes de olhar por cima do ombro para a sala da frente, onde todas estavam embaraçadas em uma bagunça de corpos, dando um pigarro baixo em sua garganta. — Pela misericórdia, quantas de vocês são? — Dezesseis, oito conjuntos de gêmeas. — Cruzando os braços sobre minha blusa preta que dizia Em boca fechada não entra mosca, eu o estudei. Brander não se parecia nada com Knox, a não ser pela mesma altura descomunal. Onde o cabelo de Knox parecia absorver a luz e tornar-se mais claro ou mais escuro com base nela, o de Brander era preto e brilhava com um tom azulado que fazia com que seus olhos azuis se destacassem mais, se é que isso fosse possível. A pele de Brander era mais clara, como se não passasse muito tempo no sol e, em vez disso, preferisse ficar em áreas cobertas. Ele tinha tatuagens semelhantes em seus braços, mas cada uma tinha sido feita em uma cor de tinta diferente. A camisa que ele usava era azul escura, escondendo praticamente nada dos músculos elegantes que se formavam por baixo do tecido. Eu me afastei, indicando que ele deveria entrar. — O quadro de energia é por aqui. — Ele estreitou seus olhos azuis para mim, e notei que suas mãos estavam vazias. — Você trouxe ferramentas? — Preciso olhar a bagunça primeiro. Ver o que vou precisar para fazer o trabalho. Assenti, percebendo que fazia sentido que ele olhasse qual era o problema antes de arrastar suas ferramentas por aí. Na cozinha, olhei para o sangue seco e observei enquanto Brander passava por ele sem piscar, apesar de haver uma quantidade razoável. Ainda não fazia sentido o motivo de haver sangue fresco de roedor na casa quando chegamos. Eu também não conseguia explicar a criatura que havia desaparecido sem deixar um rastro mágico ou uma impressão no ar quando chegamos na casa. Eu não tinha conseguido sentir nada, a não ser o cheiro de canela, que era tão sutil que não estava certa se realmente esteve lá. Ao descer a escada, dei um passo para o lado, observando que os olhos dele estudavam o altar bem iluminado que estava sendo preparado para esta noite. A volta para casa significava aumentar o poder do altar, reforçando a conexão dele com a casa, que em troca nos protegeria, se surgisse a necessidade. A figura esquelética tinha sido ajeitada, espanada e banhada em água fresca e limpa. Pedras de quartzo e ametista agora cercavam o piso circular, com velas colocadas no pentagrama para fortalecer o feitiço usando a estrela de cinco pontas. No altar, ao lado do esqueleto, havia fragmentos de Pedras da Lua para proteção e cristais de obsidiana para a magia de aterramento e adição de poder, bem como proteção para a energia. Pedras menores e polidas em uma impressionante variedade de cores foram modeladas em símbolos, e um único pergaminho repousava nas mãos do esqueleto. Inclinando sua cabeça para o lado, Brander olhou para o altar antes de virar para trás para olhar para mim. — Que caralho vocês estão fazendo? — Isso fortalece a casa. — Coloquei fogo na sálvia que estava em pequenas tigelas de quartzo rosa. — Desculpe, isso pode cheirar um pouco mal. Seus sentidos são mais aguçados? Posso apagar o fogo se forem. — Estava jogando verde, procurando por qualquer pista que me ajudasse a descobrir o que Knox era. — Não me importo com um pouco de sálvia de vez em quando, bruxinha. — Dando de ombros, ele se aproximou do quadro para estudar a fiação. — Não tem como um rato ter feito esse tipo de dano. — De pé atrás dele, eu olhava para os danos causados aos fios. Os fios não foram expostos, foram roídos até se partirem e amarrados para desligar a casa inteira quando alguém ligasse o disjuntor. De alguma forma eu havia escapado por pouco de ter sido eletrocutada na noite anterior. Certo, talvez estivesse sendo um pouco dramática já que estava usando botas com solas de borracha, mas alguém tinha derramado sangue da cozinha até o painel elétrico. Pela aparência e danos causados ao painel, tinham drenado um roedor gigante bem na frente dele, criando uma poça de sangue para algum sortudo idiota pisar bem em cima dela enquanto ligava o disjuntor. — Não, um rato não poderia ter feito isso. Isto foi feito por um humano. Vê como os fios foram trançados? Tinham a intenção de derrubar a energia da casa, mas suponho que algo os parou antes que conseguissem fazer isso. A poça de sangue nojenta, bem ali? Teria fritado o pobre coitado que virasse o interruptor, já que a energia não está desligada no disjuntor principal, foi apenas redirecionada. Não vai ser fácil de consertar. Vê aqui? — Brander apontou para um dos fios atrás do quadro de energia. — Eles desviaram a energia para algum lugar, provavelmente uma sala. Você precisará de uma troca de fiação séria, considerando a idade deste quadro. — Quanto que isso irá nos custar? — perguntei, mordendo meu lábio, distraída. — Knox disse para consertá-lo. — Passando o polegar sobre os lábios, ele calculou o custo do material na cabeça. — Provavelmente cerca de três e pouco, mais ou menos. — Trezentos dólares? — Isso não era tão ruim quanto eu tinha pensado. Rindo, ele balançou a cabeça. — Não, vai custar cerca de três mil ou mais. Não muito, considerando a quantidade de danos. — Não, não é muito caro. — Engoli com força, odiando a maneira como meu estômago se revirou com a ideia de achar tanto dinheiro sem tocar na conta de Hécate que nossa mãe usava. Se usássemos essa conta, ela saberia exatamente onde estávamos. Eu poderia retirar de uma conta diferente, mas não tinha ideia de onde obteria o dinheiro para devolver. A loja não tinha feito dinheiro desde que Amara desapareceu, e nenhum depósito foi feito desde que ela tinha chegado aqui. Era outro motivo pelo qual voltamos — Vou conseguir o dinheiro. — Os lábios de Brander se curvaram em um sorriso sinistro com minhas palavras. Dando mais uma olhada para o esqueleto, ele começou a subir as escadas. — Voltarei amanhã para pegar o dinheiro. — Obrigada. — Olhando mais uma vez para o quadro de energia, comecei a subir as escadas depois dele. Chegando à cozinha, olhei para Brander antes de falar. — Knox está em casa? — Sim, ele é o cretino que me acordou a essa maldita hora e me mandou vir ajudá-las. — Obrigada, Brander...? — Fiz uma pausa antes de inclinar minha cabeça inocentemente. — Não sei seu sobrenome. — Eu não falei. — Ele encolheu os ombros, sorrindo, e saiu de casa antes que eu pudesse questioná-lo mais. Ótimo, mais coisas para lidar por ter voltado a este inferno de lugar. Como se não tivéssemos problemas suficientes em ter voltado para casa. CAPÍTULO 7 Expliquei a situação às outras e, em vez de ouvir todas reclamarem da falta de energia no meio do verão, fui para meu quarto, onde me lavei em um balde de água fria do riacho dos fundos para me refrescar, já que aparentemente também não havia água na casa. Duas horas depois, olhei para o espelho, impressionada por parecer até um pouco viva. Nenhum café tinha sido preparado, nenhum desjejum tinha sido cozinhado, e a pouca água que busquei do riacho estava gelada demais a essa altura da manhã. Como se este retorno para casa não tivessesido uma foda mental de proporções terríveis, também tinha sido o evento mais inconveniente e azedo dos últimos doze anos da minha vida. Pegando meu celular, encarei a bateria vermelha que piscava no canto da tela e o coloquei de volta. Na cômoda estava uma garrafa de uísque de trezentos anos de idade que estava sendo desperdiçada na adega. Era a garrafa que eu vinha guardando para uma comemoração, mas, considerando a confusão em que estávamos, duvidava que isso aconteceria tão cedo. Eu não podia mudar a situação, mas podia estar grata pelo idiota que estava prestando uma ajuda, mesmo que ele tivesse segundas intenções. Knox tinha razão, não podíamos chamar um eletricista de verdade, pois o altar não podia ser movido, não importava o que acontecesse com a casa. Nós tínhamos construído a mansão ao redor do altar. Reforma após reforma, até que Freya e Aurora estivessem felizes com o resultado, o que para uma pessoa sã o resultado era uma bagunça. O altar tinha sido a fonte central de energia da casa antes que colocassem eletricidade. Em vez de instalarem o quadro elétrico longe do altar, quase o puseram em cima dele. Os andares eram labirintos de portas e corredores. Tentar encontrar o próprio quarto bêbada? Quase impossível de se conseguir. Não era incomum acabar no chão do quarto de alguma irmã porque acabou perdida naquele labirinto. Calcei minhas sandálias pretas macias e dei uma última olhada no vestido preto plissado que usava, checando meu reflexo antes de pegar a garrafa de uísque envelhecido e descer as escadas. Após quinze minutos de ziguezague pelas portas e corredores, fiz uma pausa na sala da frente. Ninguém havia se movido ainda, nem mesmo Aine, que tinha o pé de Luna no rosto. Saindo de casa, fiz uma breve pausa para olhar as pessoas que estavam me observavam enquanto permaneciam sentadas em suas varandas. Boas-vindas à Esquisitolândia: população desconhecida. Fechei a porta da frente atrás de mim, sussurrando um feitiço para selá-la contra o mal, antes de começar a ir em direção à maior casa do quarteirão. Bem, não sei se poderia considerá-la a mais impressionante, já que o portão estava fechado. Mas parecia ser maior que o quarteirão inteiro, o que era algo, já que todas as casas ali eram mansões enormes. Fora construída mais nos fundos do terreno, escondida atrás de portões e arbustos, ao contrário das outras. No portão, apertei o botão do interfone e esperei, olhando para o portão se abrindo sem um único ruído. Subi o caminho da entrada, observando o belo paisagismo e as fontes que compunham seu quintal. Estacionado em frente à casa estava o SUV preto que ele tinha usado na noite anterior, e ao lado dele estava uma Bugatti Chiron Sport, que custava mais do que já recebi em toda a minha vida. Não foi chocante ver que o carro era de um belo azul-marinho, ou que dissesse King One na placa. Agarrei o metal da aldrava e bati três vezes antes de dar um passo para trás. Um homem com um paletó preto e gravata borboleta abriu a porta antes mesmo de eu terminar de dar o passo para trás. Ele tinha olhos cinzentos aguçados e seus cabelos pretos e grisalhos estavam puxados para trás em um rabo de cavalo, longe do seu rosto. — Você não é esperada — disse ele, irritado com a minha presença. — Passei para pedir desculpas a Knox por ontem à noite e agradecer a ajuda dele. — informei, tentando explicar minha presença sem aviso prévio. — Quem é, Greer? — perguntou uma voz feminina elegante. — Uma convidada para o mestre — respondeu ele, claramente irritado. Ele deu um passo para trás, empurrando a porta para que ela pudesse me ver. — Estou vendo — respondeu ela. A mulher tinha os cabelos pretos como a meia-noite que caiam em ondas suaves até a bunda. Seus olhos estavam delineados de preto, e seus lábios vermelhos rubi estavam franzidos com algo mais do que desdém enquanto me observava. Sua roupa, se é que pudesse ser chamada assim, era uma camisola transparente que deixava pouco à imaginação. Olhos verdes esmeralda me estudaram, antes de olharem para a garrafa de uísque e depois se desviarem à medida que energia inundava a sala. — Quem é? — indagou Knox, descendo as escadas em calças de pijama que provavelmente custavam mais do que todo o meu guarda-roupa. — O lixo veio te visitar, querido — devolveu ela com uma voz nauseante de tão doce. — Leve-o para fora, por favor. Cheira mal. Eu mordi a língua enquanto forçava um sorriso no rosto para evitar que a insultasse de volta. Eu estava em uma missão de manutenção da paz, e xingá-la não ajudaria a atingir esse objetivo. Knox se encostou na parede da grande e opulenta escadaria e me estudou antes do seu olhar pousar na garrafa de uísque. — Que porra você quer? — Vim para pedir desculpas por ontem à noite. Acho que começamos com o pé esquerdo. — Notei a maneira como o olhar dele pousou na mulher antes de se fixar lentamente em mim. — Trouxe uma oferta de paz. Knox me observou cuidadosamente. — Duvido que você tenha um pé direito para ficar de pé. — Obviamente, isto foi um erro. — Eu me virei para sair apenas para encontrar a porta fechada antes que eu pudesse passar por ela. — Partindo tão cedo, Aria? — Knox questionou, com a voz rouca. A magia explodiu através de mim, fazendo-me sacudir quando me atingiu. Era magia sombria, deslizando através de todo o meu corpo, ao mesmo tempo em que a bruxa me observava com um olhar triunfante brilhando em seus olhos, enquanto meu corpo inteiro tremia com a força turbulenta. Tossi, agarrando minha garganta enquanto girava no calcanhar, encarando a mulher que sorria, ela me analisava enquanto eu começava a engasgar com algo que subia pela minha garganta. Tossi novamente, deixando cair a garrafa de uísque que estilhaçou pelo chão enquanto levava a mão para a minha boca, puxando uma cobra viscosa e nojenta da minha garganta antes de jogá-la no chão de mármore. Eu me aproximei e a esmaguei até que o sangue explodiu, sujando o chão de mármore branco, que antes estava imaculado. — Lacey, o que te disse sobre cobras em minha casa? — quis saber Knox em um tom suave e terno. — Abra a porra da porta! — explodi para Greer. — Não, a menos que o mestre diga que está na hora. — Seu mestre e a bruxa dele podem se foder. Abra a porta, a menos que seu mestre esteja disposto a quebrar o Pacto das linhagens de sangue originais. Abra a porra da porta. — Deixe-a ir, Greer. — Knox abriu um sorriso malicioso. — Antes que ela chore. A porta se abriu com magia e homens começaram a aparecer na sala. Um parou na minha frente enquanto os outros passaram como se eu nem existisse. — Jasper? — perguntei em um sussurro, recuperando-me do inchaço na minha garganta. — Pelos sinos do inferno, Aria Hécate? Você cresceu. — Depois de olhar para algum ponto sobre meu ombro, ele voltou a olhar para mim. — Você cresceu muito bem, linda. — Onde está sua mãe? — perguntei, a mãe dele era uma das poucas pessoas daquele local que eram decentes. — Morta. — Ele deu de ombros como se isso não o incomodasse. — Ela não conseguiu manter a cabeça erguida, acho que se pode dizer assim. Olhei para ele enquanto os outros se aglomeravam ao meu redor. Dando a volta, olhei para um homem cujos olhos tinham um brilho âmbar. Ele tinha cabelos platinados e um pulso de poder que me incomodou. — Não é que você tem um cheiro delicioso, garotinha? Você cheira... bem — disse ele, e eu me afastei, sentindo um puxão da sua magia. — Venha até mim. Quero provar sua boceta. — Será que isso alguma vez funcionou? Você diz: “venha aqui, garota, tire as calcinhas que vou lamber bem essa boceta”, e ela diz: “oh, docinho, me fode”? Porque eu não prevejo que isso aconteça, e você? Você e seu mestre pervertido podem se foder sem mim. Vocês são uns imbecis. — Contornei alguns dos homens que haviam bloqueado meu caminho e me dirigi para o portão para escapar da casa dos horrores. — Aonde você vai, garotinha? O papai está com fome! — gritou ele, enquanto os outros riam. — Para terreno neutro, cretino. Venha brincar comigo lá — respondi por cima
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