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LIVRO	DOIS
LOUISE
UM	NOVO	COMEÇO
	
AUTORA	DE	BEST-SELLERS	INTERNACIONAIS
DIANA	NIXON
	
Copyright©2018	byDianaNixon
Todos	os	direitos	reservados
	
Nenhuma	 parte	 deste	 livro	 pode	 ser	 usada	 ou	 reproduzida	 de	 nenhuma
forma,	 por	 meios	 eletrônicos	 ou	 mecânicos	 incluindo	 cópias,	 gravação	 ou
qualquer	sistema	de	recuperação	ou	armazenamento	sem	a	permissão	por	escrito
da	autora,	exceto	nos	casos	permitidos	pela	lei.
	
As	 personagens	 e	 os	 fatos	 descritos	 neste	 livro	 são	 fictícios.	 Qualquer
semelhança	 com	 pessoas	 reais,	 vivas	 ou	 mortas,	 é	 mera	 coincidência	 sem	 a
intenção	do	autor.
	
	
Capa:	Jennifer	Munswami,	Amina	Black
	
Traduzido	por:	Adriana	Fazzi	Caldas
	
	
	
	
	
Louise:
Um	novo	começo
(Sinopse)
Nem	sempre	a	vida	é	fácil.	Principalmente	quando	você	está	apaixonada
por	um	homem	cuja	vida	é	muito	diferente	da	sua.	Poder,	dinheiro,	respeito	–	são
coisas	que	uma	garota	que	cresceu	num	orfanato	apenas	sonha.	Mas,	às	vezes,	o
amor	é	a	única	força	de	que	se	precisa	para	conseguir	o	que	quiser...
Louise	sempre	foi	lutadora.	Desde	a	infância	ela	aprendeu	que	tudo	tem
um	preço.	Mas	a	liberdade	era	algo	que	ela	nunca	poderia	ter.
Vivendo	 num	mundo	 de	mentiras	 e	 traições,	 será	 que	 ela	 sacrificará	 o
amor	para,	finalmente,	ser	livre?
Ou	ela	deixará	que	o	coração	vença?
Uma	 nova	 jornada	 cheia	 de	 paixão	 e	 sonhos	 proibidos;	 é	 uma	 nova
dança;	uma	nova	vida.
–	Começaremos	do	início,	do	primeiro	beijo...
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
Prólogo
	
Nova	Iorque	–	2005
William
	
Eu	 estava	muito	 atrasado	 para	 uma	 reunião	 com	meu	 pai.	Verifiquei	 o
relógio	 e	 apertei	 o	 passo,	 contornando	 a	 multidão	 que	 inundava	 a	 estação	 de
trem.
Hoje	era	o	dia	mais	 esperado,	 esperado	por	 anos.	Era	o	dia	que	o	meu
maior	sonho	se	 realizaria.	O	dia	em	que	eu	me	 tornaria	oficialmente	o	vice	do
meu	pai.	Finalmente.
Desde	quando	eu	conseguia	 lembrar,	eu	queria	ser	como	meu	pai	–	um
homem	 poderoso	 e	 bem-sucedido	 cujas	 palavras	 eram	 ordens.	 Quando	 eu	 era
criança,	eu	costumava	pensar	que	todo	homem	que	usava	terno	e	gravata	era	“a
palavra	da	lei	ambulante”.	Eu	sorri	comigo	mesmo	pela	roupa	que	vestia	–	meu
primeiro	terno,	feito	sob	medida,	mas	que	de	alguma	forma	parecia	emprestado.
Eu	não	era	eu	mesmo,	era	um	estranho	que	era	muito	mais	sábio	e	infinitamente
mais	inteligente	do	que	o	William	Blair	de	verdade.	Eu	não	me	sentia	a	palavra
da	 lei	 ambulante,	 ainda	 não.	 Eu	 ainda	 me	 sentia	 como	 um	 garotinho,	 sem	 a
certeza	de	que	estava	pronto	para	 fazer	o	que	minha	 família	esperava	de	mim.
Não	parecia	o	dia,	eu	ainda	sonhava	com	meus	grandes	sonhos	e	tinha	esperança
de	que	se	tornassem	reais	algum	dia.
O	engraçado	nisso	 tudo	era	que	até	aquele	momento,	eu	nunca	pensara
sobre	 a	 força	 dos	 sonhos,	 uma	 das	 coisas	 mais	 misteriosas	 e	 excitantes	 do
mundo.	 Sonhos	 são	 como	 histórias	 curtas	 que	 nosso	 coração	 e	 nossa	 alma
escrevem	para	nós.	Com	eles,	as	pessoas	fazem	maravilhas.	Eles	nos	motivam,
nos	fazem	ver	o	que	nem	sabíamos	que	existia,	em	suma,	eles	nos	mudam.
Eles	me	mudaram...
A	primeira	vez	que	eu	fui	ao	escritório	do	meu	pai,	eu	tinha	somente	dez
anos.	O	escritório	ficava	no	Empire	State	Building,	um	dos	mais	altos	arranha-
céus.	Eu	fiquei	na	antessala	com	os	olhos	arregalados.	Era	um	mundo	totalmente
novo	 para	mim.	Ninguém	 prestava	 atenção	 no	menino	 passeando	 sozinho,	 até
que	um	dos	seguranças	veio	até	mim,	dizendo:
–	 É	 um	 ótimo	 dia	 para	 uma	 excursão,	 não	 é	 rapazinho?	 –	 Ele	 vestia
uniforme	azul	escuro	com	um	emblema	pequeno	no	bolso	da	camisa.	Conforme
o	crachá,	o	nome	dele	era	Milton.	Ele	devia	ter	20	anos,	talvez	um	pouco	mais.
–	Não	 sei,	 senhor	–	disse	 eu,	olhando	para	 ele.	 –	As	pessoas	vêm	aqui
fazer	excursão?
–	Sempre.
–	Eu	vim	a	negócios	–	falei	dirigindo	a	câmera	que	eu	segurava	para	um
dos	 enormes	 vitrais.	 Eu	 adorava	 fotografia	 e	 sempre	 levava	 minha	 câmera
comigo.	 Ela	 era	 um	 presente	 do	 meu	 pai,	 era	 meu	 “brinquedo”	 precioso,	 o
melhor	 presente	 que	 eu	 já	 recebera.	 Naquela	 época	 eu	 estava	 certo	 de	 que
fotografia	 seria	 minha	 vida,	 mas	 a	 vida	 é	 conhecida	 por	 ter	 seus	 próprios
planos...
–	Ah,	 é?	 –	O	 rapaz	 sorriu	 para	mim,	 como	 se	 pensasse	 que	 eu	 estava
brincando.	–	Você	tem	reunião	aqui?
–	Sim,	senhor.	Estou	aqui	para	falar	com	o	meu	pai.	–	Olhei	para	a	foto
na	tela	da	câmera,	assenti	em	aprovação	e	então	desliguei	a	câmera.
–	E	quem	é	seu	pai?
–	Randal	Blair	–	respondi	orgulhoso.
O	rapaz	arregalou	os	olhos	–	Ah,	sim...
Obviamente	o	nome	era	familiar.
–	Você	veio	aqui	sozinho,	ou	está	com	sua	mãe?
–	Nosso	motorista,	Christopher,	me	 trouxe.	Ele	me	disse	para	 ir	 ao	53º
andar	e	pedir	à	secretária	para	me	acompanhar	até	o	escritório	do	meu	pai.
–	Certo,	posso	acompanhar	você?	Para	ter	certeza	de	que	você	não	vai	se
perder.	–	Ele	sorriu	de	novo,	um	sorriso	mais	largo	desta	vez.	Aposto	que	eu	era
a	primeira	criança	que	Milton	se	lembrava	de	ir	lá	sozinho	e	dizendo	que	estava
lá	a	negócios.
Dei	 de	 ombros	 com	 indiferença.	 Eu	 tinha	 certeza	 de	 que	 era	 grande	 o
suficiente	 para	 encontrar	 o	 escritório	 do	 meu	 pai	 sozinho,	 mas	 não	 quis	 ser
grosseiro	 com	o	Milton,	 então	 concordei.	Afinal,	 era	 o	 trabalho	dele	manter	 o
prédio	e	as	pessoas	em	segurança.
–	Câmera	 legal	 –	 disse	 ele,	 esperando	 o	 elevador	 chegar	 ao	 andar	 que
queríamos.	–	Você	gosta	de	fotografia?
Assenti	sorrindo.	–	Eu	adoro.
–	Eu	pensei	que	você	substituiria	seu	pai	quando	ele	se	aposentasse,	você
irá	substituí-lo?
Franzi	 a	 testa	 sem	saber	direito	o	que	 responder.	 –	Ele	nunca	me	disse
que	eu	deveria	seguir	os	passos	dele.
–	Mas	tenho	certeza	de	que	é	isso	que	ele	quer.	Espere	até	você	crescer,
você	também	vai	querer.
Ah,	se	o	Milton	soubesse	que	o	pressentimento	dele	aconteceria	um	dia...
–	Aqui	estamos,	senhor	–	disse	ele,	conforme	o	elevador	parou	e	a	porta
abriu	para	um	saguão	espaçoso.
–	Kate!	–	ele	chamou	por	uma	moça	de	cabelo	vermelho	sentada	a	uma
mesa	em	forma	de	curva.
–	O	filho	do	Sr.	Blair	está	aqui	para	vê-lo.
Ela	assentiu,	 levantou-se	e	veio	em	nossa	direção	sorrindo	para	Milton.
Eles	provavelmente	 tinham	a	mesma	idade,	e	dava	para	perceber	que	o	Milton
estava	feliz	em	ver	Kate.	Presumi	que	ela	era	a	razão	dele	ter	me	acompanhado.
–	William,	 certo?	–	perguntou	Kate	 dirigindo-se	 a	mim.	–	Seu	pai	 está
esperando	por	você.	Venha	comigo.
Mas	antes	de	fazer	o	que	ela	dissera,	voltei-me	para	Milton	e	desejei	a	ele
um	bom	dia.
–	Espero	que	goste	daqui,	senhor	–	disse	ele.
E	 eu	 gostei,	 tanto	 que	 não	 parei	 de	 falar	 no	 assunto	 nas	 semanas
seguintes.	Eu	sentava	e	esperava	meu	pai	voltar	para	casa	no	final	do	dia	só	para
perguntar	tudo	o	que	eu	podia	sobre	a	empresa	e	como	ela	funcionava.	Depois	de
algum	tempo	eu	percebi	que	Milton	estava	certo,	meu	pai	queria	que	eu	seguisse
os	 passos	 dele	 e,	 mesmo	 eu	 ainda	 sendo	 louco	 por	 fotografia,	 eu	 podia
facilmente	me	imaginar	sentando	na	enorme	cadeira	de	couro	dele	um	dia...
E	 hoje,	 eu	 estava	 prestes	 a	 dar	 um	 passo	 para	 que	 o	 grande	 sonho	 se
realizasse.	Eu	nunca	dissera	abertamente	que	era	meu	sonho	desde	os	dez	anos.
Formei-me,	 fiz	 aulas	de	 fotografia	 em	Paris,	 o	que	eu	gostei	muito,	mas	 lá	no
fundo	tudo	o	que	eu	queria	era	ser	ele	–	o	homem	do	qual	eu	tinha	tanto	orgulho
de	chamar	de	pai.	Eu	ainda	sinto	a	empolgação	que	eu	senti	no	dia	que	entrei	no
escritório	do	meu	pai	pela	primeira	vez,	quase	dez	anos	antes.	Só	que	hoje	eu	ia
com	medo,	medo	de	não	conseguir	atender	às	expectativas	dele,	medo	de	falhar.
	Ninguém	 percebia	 como	 eu	 estava	 nervoso.	A	multidão	 ao	meu	 redor
estava	muito	ocupada	com	os	próprios	problemas.	Eu	não	os	culpei.	Eu	era	um
deles,	 com	 minha	 própria	 vida	 para	 cuidar.	 De	 repente,	 algo	 chamou	 minha
atenção.	Olhei	mais	de	perto	e	vi	a	pequena	 luz	vermelha	piscando	no	chão,	a
poucos	metros	de	mim.	Diminui	o	passo	na	esperança	de	que	não	fosse	o	que	eu
pensava	que	era.	Entãoeu	me	aproximei	e	parei	de	repente.
Impossível,	 pensei	 comigo.	Olhei	 ao	 redor	 com	 cuidado,	mas	 ninguém
parecia	 se	 importar	 com	 a	 garotinha	 sentada	 num	 pedaço	 de	 papelão	 com
tornozeleiras	de	ferro.	Ali	eu	vi	a	luz	vermelha,	a	luz	que	dizia	tudo,	a	garota	era
de	Paradise,	o	pior	lugar	no	mundo	ou	melhor,	o	inferno	na	terra	para	as	crianças
ou	qualquer	um	que	passasse	perto.
	Praguejei	em	voz	baixa	comigo	mesmo.	Eu	sabia	muito	sobre	Paradise
para	acreditar	que	a	maldita	tornozeleira,	também	conhecida	como	rastreador,	no
tornozelo	da	menina	era	somente	uma	joia	reluzente.	Era	a	maldição	dela,	a	dura
realidade	que	ela	não	podia	mudar...
Lembro-me	do	dia	em	que	meu	pai	me	falou	sobre	Paradise.	Ele	me	disse
que	era	um	orfanato	e	que	ele	crescera	lá.	Ele	disse	que	não	era	como	os	outros
orfanatos	 onde	 os	 pais	 deixavam	 as	 crianças	 porque	 não	 as	 queriam.	 Era	 um
lugar	onde	se	devia	guardar	segredos,	e	por	segredos	entenda-se	filhos	ilegítimos
de	pessoas	poderosas	e	famosas	cuja	vida	seria	atrapalhada	pela	existência	de	tal
criança,	e	que	a	crianças	nunca	deveria	ter	nascido.	Em	Paradise	eles	rastreavam
cada	 passo	 das	 crianças	 e	 quando	 elas	 tinham	 idade	 suficiente	 para	 sair	 de	 lá,
eles	permitiam	que	elas	saíssem	e	então	poderiam	viver	como	quisessem.	Mas,
na	verdade,	somente	alguns	conseguiam	sobreviver	a	crueldade	do	mundo	fora
de	 Paradise.	 Somente	 alguns	 conseguiam	 ser	 o	 que	 queriam.	 E	 eles	 nunca
podiam	saber	quem	eram	os	pais	biológicos.	A	maioria	delas	pensava	que	os	pais
estavam	mortos.
A	menina	na	estação	de	trem	tinha	por	volta	de	dez	anos,	doze	talvez.	Ela
vestia	 um	 casaco	 escuro	 todo	 rasgado	 e	 sujo.	 Ela	 estava	 tremendo	 de	 frio,
enfiando	 as	 mãos	 fundo	 nos	 bolsos.	 Não	 tenho	 dúvidas	 de	 que	 estava
congelando.	Meu	 primeiro	 pensamento	 foi	 levá-la	 embora,	 oferecer	 comida	 e
comprar	roupas	novas.	Mas	então,	lembrei-me	que	meu	pai	me	contara	sobre	as
regras	 de	 Paradise	 e	 mudei	 de	 ideia.	 Não	 era	 permitido	 que	 ela	 falasse	 com
estranhos,	e	eu	não	podia	ajudá-la.	Ela	estaria	encrencada	por	minha	causa.
Mas	havia	algo	no	olhar	dela	que	não	me	deixou	ir	embora,	era	profundo
e	 ingênuo,	mas	 cheio	 de	 esperança.	Ela	 olhou	para	 o	 chapéu	vazio	 que	 estava
perto	das	pernas	dela	e	suspirou.	Ninguém	pararia	para	lhe	dar	uma	moeda.	Eu
precisava	 fazer	 algo	 para	 ajudá-la,	 mas	 não	 sabia	 como	 ajudar	 sem	 causar
problemas	 para	 ela.	 Segui	 em	 frente	 olhando	 com	 cuidado.	 Eu	 não	 queria
assustá-la	e,	mesmo	estando	com	pressa	eu	não	podia	 simplesmente	 ir	 embora
sem	falar	com	ela	antes.
Peguei	a	carteira	no	bolso	do	casaco,	abri	e	tirei	uma	nota	de	100	dólares
na	 esperança	 de	 alegrar	 a	 menina.	 Coloquei	 a	 nota	 no	 chapéu	 e	 esperei.	 A
princípio	pensei	que	ela	não	me	vira,	então	ela	voltou	a	cabeça	para	o	chapéu	no
chão	e	suspirou.	Eu	sorri.	Aposto	que	eu	era	uma	das	poucas	pessoas,	se	não	a
única,	a	dar-lhe	tanto	dinheiro.
–	 Obrigada	 –	 disse	 ela	 olhando	 para	 mim.	 Havia	 tanta	 luz	 nos	 olhos
verdes	dela,	como	se	fossem	iluminados	de	dentro.
Eu	sorri	para	ela.	–	Qual	seu	nome?	–	perguntei.
–	Louise	–	respondeu	ela	depois	de	curta	pausa.	Eu	e	ela	sabíamos	que
ela	não	poderia	falar	comigo,	e,	de	repente,	eu	estava	tão	orgulhoso	da	pequena
tentativa	dela	de	demonstrar	como	era	corajosa.
	 Pequena	 lutadora,	 pensei	 comigo	 mesmo.	 Não	 sei	 porque,	 mas	 de
alguma	forma	eu	sabia	que	ela	não	era	como	as	outras	crianças	de	Paradise.	A
grande	empolgação	que	pude	ver	no	olhar	dela	revelava	muito	mais	do	que	ela
imaginava.	Pura	alegria	transparecia	pelos	traços	delicados	dela.	Sem	dúvida,	ela
ainda	tinha	esperança	de	que	teria	uma	vida	melhor,	diferente,	cheia	de	alegria	e
de	coisas	que	eram	apenas	sonho	para	as	crianças	do	orfanato.
Meu	coração	apertou	ao	pensar	em	deixá-la	na	estação.	Ela	parecia	 tão
pequena,	tão	frágil.	Nem	mesmo	o	casaco	dela	de	tamanho	maior	podia	protegê-
la	e	aquecê-la.
–	Louise	–	repeti	devagar.	–	Que	nome	lindo.
Ela	ficou	corada.	–	Obrigada	–	murmurou	ela,	baixando	os	olhos	para	as
mãos.	As	luvas	dela	estavam	cheias	de	buracos	e	parecia	que	ela	as	usava	há	cem
anos	ou	mais,	mesmo	sendo	impossível	considerando	a	pouca	idade	dela.
–	Aqui,	fique	com	minhas	luvas	–	disse	eu.	–	As	suas	não	estão	boas.
Ela	hesitou,	olhando	para	os	lados	com	cuidado,	obviamente	com	receio
de	que	alguém	de	Paradise	pudesse	vê-la	conversando	comigo	e	aceitando	meu
presente.
–	Fique	com	elas,	você	precisa	mais	do	que	eu.
Ela	assentiu	e	pegou	as	luvas.
–	Você	não	vai	gastar	os	cem	que	lhe	dei	em	doces	e	sorvetes,	vai?	–	Eu
sabia	que	ela	poderia	nunca	fazer	aquilo,	mesmo	que	os	tutores	dela	permitissem
que	ela	ficasse	com	o	dinheiro.
–	Vou	comprar	um	novo	cachecol	–	disse	 a	menina,	 surpreendendo-me
com	as	palavras.	Ela	escondeu	o	dinheiro	bem	fundo	no	bolso	olhando	em	volta
de	novo.	Mas	havia	pessoas	demais	ao	nosso	redor,	e	ninguém	ligava	para	o	que
ela	estava	fazendo.
–	Você	tem	o	suficiente	para	comprar	uma	jaqueta	nova	também	–	disse
eu.
–	Seguirei	seu	conselho,	senhor.
Assenti	e	olhei	de	novo	para	o	 relógio.	–	Preciso	 ir	agora.	Me	promete
uma	coisa?
–	 Qualquer	 coisa	 –	 disse	 ela	 novamente	 me	 surpreendendo	 com	 sua
bravura.
–	Não	deixe	ninguém	machucar	você.
–	Prometo.
–	Ótimo.	Tenha	um	ótimo	dia,	Louise.
–	O	senhor	também.
Comecei	 a	 caminhar	 para	 longe	 dela	 então	 parei	 e	 olhei	 para	 ela	 uma
última	vez.	Encontrarei	você,	Louise,	disse	a	mim	mesmo.	Prometo.
	
***
Eu	não	consegui	para	de	pensar	na	menina	que	eu	encontrara	na	estação.
Ela	disse	que	se	chamava	Louise,	e,	para	mim,	pareceu	o	nome	mais	diferente	do
mundo	 ou	 talvez,	 era	 só	 porque	 era	 o	 nome	 dela.	 Ela	 era	 especial	 de	 alguma
forma,	diferente	de	qualquer	um	que	eu	já	tenha	encontrado	na	vida.	Um	anjinho
vivendo	no	inferno,	mas	com	esperança	de	ganhar	asas	um	dia	e	voar	para	longe,
para	onde	nada	nem	ninguém	possa	feri-la.
A	primeira	 coisa	que	 fiz	 ao	 encontrar	meu	pai	 aquele	dia	 foi	 perguntar
sobre	Paradise.
–	Existe	alguma	possibilidade	de	tirá-la	de	lá?
–	Acredito	que	não,	filho.	Não	podemos	ajudá-la.	Mesmo	que	tenha	sido
mandada	para	 lá	por	engano,	quero	dizer,	mesmo	que	os	pais	dela	não	estejam
pagando	para	mantê-la	lá,	Paradise	nunca	permite	que	suas	crianças	saiam	de	lá
antes	de	completar	18	anos.	Está	é	uma	regra	que	não	pode	ser	quebrada.
–	O	senhor	acha	que	me	deixariam	vê-la	de	novo?	Eu	gostaria	de	fazer
algo	por	ela,	talvez	comprar	roupas	novas.
–	Bem,	você	pode	tentar	falar	com	a	diretora.	Mas	duvido	que	mudará	a
situação.	 As	 crianças	 de	 Paradise	 somente	 podem	 viver	 a	 vida	 que	 o	 lugar
oferece	a	elas,	nada	além	disso.
Acho	que	nunca	me	sentira	tão	bravo	e	perdido.	Mas	eu	decidira	tentar	a
sorte.	 Fui	 a	 Paradise	 e	 pedi	 para	 conversar	 com	 a	 Diretora.	Marlena	 foi	 uma
cadela.	Assim	que	 eu	disse	 que	gostaria	 de	 ajudar	 uma	das	meninas,	 ela	 disse
que	 era	 impossível	 considerando	 que	 todas	 as	 crianças	 deveriam	 viver	 nas
mesmas	condições,	sem	exceções.
–	Posso	ao	menos	enviar	alguns	presentinhos	para	ela?	–	perguntei	para
Marlena.
–	Pode.	Mas	lembre-se	de	que	você	não	pode	mandar	nada	de	alto	valor.
E	 eu	 recomendo	 que	 seja	 algo	 que	 ela	 possa	 compartilhar	 com	 os	 outros.
Crianças	detestam	quando	um	tem	mais	do	que	os	outros.
–	Assenti	em	resposta.	–	Vou	me	lembrar	disso.
Aquele	 dia	 comecei	 a	 mandar	 diferentes	 presentes	 para	 a	 Louise	 na
esperança	de	que	eles	fizessem	a	vida	dela	ao	menos	um	pouco	mais	suportável
enquanto	 ela	 tinha	 que	 ficar	 naquele	 lugar	 abandonado	 por	 Deus.	 Eu	 não
imaginava	como	era	viver	uma	vida	como	a	dela,	mas	considerando	o	que	eu	vi	e
o	 que	 meu	 pai	 me	 falou	 sobre	 a	 infância	 dele,	 não	 estava	 nem	 perto	 de	 ser
mamão	com	açúcar.	Eu	também	mandei	cartas	para	ela.	Elas	eram	para	fazê-la
sorrir,	nada	além	disso.	De	alguma	forma,	era	importante	para	mim	saber	que	ela
sorria	 muito,	 eu	 só	 queria	 que	 ela	 fosse	 feliz,	 mesmo	 que	 sob	 as	 terríveiscircunstâncias	 isso	 não	 fosse	 frequente.	 Infelizmente	 a	 maior	 parte	 dos
problemas	 que	 temos	 quando	 adultos	 estão	 diretamente	 ligados	 ao	 que
suportamos	na	infância.	E	eu	não	queria	que	o	futuro	da	Louise	fosse	arruinado
pelas	memórias	da	infância	dela.	Eu	sabia	que	nem	meus	presentes	nem	minhas
cartas	mudariam	 tudo,	mas	 eu	 esperava	 que	 ela	 tivesse	 algo	 bom,	mesmo	que
pequeno,	para	se	lembrar	da	sua	vida	em	Paradise.
Eu	 nunca	 deixei	 de	me	 preocupar	 com	 ela.	Ano	 a	 ano	 eu	 a	 vi	 crescer.
Depois	da	morte	do	meu	pai,	minha	vida	mudou.	Eu	viajava	com	frequência	e
não	ficava	muito	tempo	em	Nova	Iorque,	mas	mesmo	quando	eu	não	estava	lá	eu
pedia	a	Christopher	garantir	que	ela	estivesse	bem.
Ele	 tirava	 fotos	 dela	 e	 as	 enviava	 para	mim.	 Ele	me	 contou	 sobre	 ela
quebrar	a	lei	do	toque	de	recolher	e	sair	às	escondidas	para	ir	a	uma	confeitaria
comprar	doces.	Ele	me	disse	que	uma	vez	a	viu	dançando	na	estação	de	 trem.
Ele	estava	sem	a	câmera,	mas	disse	que	ela	estava	muito	feliz	enquanto	dançava,
as	pessoas	paravam	para	vê-la	e	dar	dinheiro.	Ela	sempre	sorria	e	agradecia	pela
gentileza.	Christopher	também	disse	que	toda	noite	ao	voltar	para	o	orfanato	ela
pegava	 o	 par	 de	 luvas	 em	 couro	 preto	 no	 bolso	 e	 as	 colocava	 um	 pouco.	 Ela
fechava	os	olhos	e	sorria.	Depois	as	 tirava	e	escondia	na	mochila	ou	no	bolso.
Ele	disse	que	ela	fazia	isso	mesmo	quando	estava	calor.
Eu	sorria	ao	ouvir	o	que	ele	dizia,	mas	não	falava	para	ele	que	as	luvas
deviam	ser	as	que	eu	dera	a	ela	no	dia	que	a	vi	pela	primeira	vez.	Eu	ficava	feliz
só	 em	 saber	 que	 ela	 se	 lembrava	de	mim,	 isso	me	 fazia	 acreditar	 que	um	dia,
quando	ela	pudesse	sair	de	Paradise,	eu	poderia	vê-la	de	novo,	e,	talvez,	pudesse
ajudá-la	com	os	sonhos	para	o	futuro,	ou	até	falar	com	ela.
Eu	sempre	 tive	uma	sensação	estranha	que	me	dizia	que	minha	história
com	 ela	 ainda	 não	 acabara,	 que	 haveria	 um	 dia	 quando	 nós	 poderíamos	 nos
encontrar	 num	 lugar	 diferente,	 num	mundo	 diferente	 em	 que	 tudo	 fosse	 mais
fácil.	Ou,	talvez,	fosse	apenas	brincadeira	da	minha	mente,	eu	não	sabia.	Mas	era
sedutora	a	ideia	de	ver	Louise	começar	uma	vida	melhor.	Eu	queria	ajudá-la,	eu
precisava	saber	que	ela	conseguira	tudo	o	que	não	tivera	quando	criança.	Sempre
que	eu	pensava	nela	eu	me	 lembrava	do	meu	pai,	e	eu	acho	que	esta	era	outra
razão	para	eu	querer	fazer	algo	bom	por	ela.	Ele	não	estava	mais	comigo,	mas	a
lembrança	 dele	 era	 tão	 viva.	 Eu	me	 lembrava	 de	 cada	 palavra	 que	 ele	 dissera
sobre	Paradise	e	eu	prometera	a	ele	que	cuidaria	da	Louise.
Eu	não	podia	ajudar	a	todos	em	Paradise,	até	pensei	que	tivesse	dinheiro
suficiente	para	comprar	o	maldito	lugar,	com	a	vadia	da	Marlena	junto,	mas	eu
não	sabia	nada	sobre	as	outras	crianças	“presas”	lá	ou	sobre	os	pais	delas.	Mas
havia	 ao	menos	 uma	 criança	 que	 eu	 podia	 fazer	 feliz.	 Louise	merecia,	 e	 eu	 a
apoiaria	quando	ela,	finalmente,	estivesse	livre...
	
Capítulo	1
	
Dias	atuais
	
Às	 vezes	 passamos	 toda	 a	 vida	 procurando	 por	 alguém	 capaz	 de	 fazer
nosso	 coração	 bater	 mais	 rápido.	 Vamos	 a	 lugares	 diferentes,	 encontramos
pessoas	diferentes	e	arriscamos.	Perdemos	e	ganhamos.	Mas,	às	vezes,	um	olhar
é	suficiente	para	saber	tudo,	para	ver	nosso	futuro	olhando	de	volta	para	nós.	E
quando	 acontece,	 tudo	 muda,	 nosso	 passado,	 nosso	 presente	 e	 nosso	 futuro.
Mesmo	as	melhores	lembranças	parecem	desaparecer	quando	comparadas	às	que
se	deseja	 criar	 com	a	pessoa	por	 quem	nos	 apaixonamos,	 é	 tão	difícil	 que	dói
desviar	o	olhar	por	uma	fração	de	segundo	que	seja.	Porque	no	fundo	já	sabemos
que	ao	começar	o	momento	especial,	nada	mais	será	como	antes...
Era	assim	com	a	Louise	e	eu...
Eu	nunca	teria	imaginado	que	o	dia	em	que	nos	encontrássemos	de	novo,
quase	dez	anos	depois,	eu	ainda	estaria	tão	fascinado	por	ela.	Claro	que	ela	não
era	mais	criança,	mas	uma	mulher	cheia	de	graça	e	beleza	ofuscante	e	que	ainda
acreditava	que	o	mundo	poderia	ser	modificado	com	um	simples	sorriso.	Aquela
parte	 dela,	 a	 alma	 frágil	 com	 grandes	 sonhos	 ainda	 vivia	 dentro	 dela.	 Nem
mesmo	os	anos	passados	em	Paradise	puderam	mudar	isso.	E	a	única	coisa	que
não	consegui	mudar	era	me	manter	longe	dela.
Eu	 dei	 minha	 palavra,	 prometi	 a	 ela	 que	 não	 tentaria	 controlar	 a	 vida
dela.	Eu	disse	que	esperaria	por	quando	tempo	ela	precisasse	para	entender	o	que
ela	queria	para	o	futuro,	e	se	ela	me	queria	nele...	eu	esperava,	sinceramente,	que
sim.
Eu	 não	 tinha	 o	 direito	 de	mantê-la	 ao	meu	 lado	 sabendo	 o	 quanto	 ela
precisava	se	sentir	livre	pela	primeira	vez	na	vida.	Ela	nunca	tivera	o	direito	de
decidir	nada.	Agora	era	a	vez	dela	de	fazer	escolhas.	E	eu	a	amava	demais	para
tirar	 isso	 dela,	 mesmo	 doendo	 demais	 deixá-la	 ir	 embora	 depois	 daqueles
momentos	maravilhosos	que	passamos	juntos.
Eu	ainda	me	lembro	do	dia	que	meu	mundo	mudou	completamente.	Era
tarde	da	noite	em	Paris	quando	apareceu	o	aviso	de	um	novo	e-mail	na	tela	do
computador.	Era	 do	Christopher,	 ele	 sempre	 enviava	 e-mails	 com	notícias	 dos
EUA.	 O	 coroa	 era	 tão	 viciado	 em	 tecnologia,	 ele	 dizia	 que	 gostava	 mais	 da
internet	do	que	fazer	chamadas,	o	que	não	era	comum	para	alguém	da	idade	dele,
alguém	que	passara	a	melhor	parte	da	juventude	sem	um	celular	no	bolso.
Eu	não	voltara	aos	EUA	por	meses	e	eu	realmente	tinha	saudade	do	meu
velho	 amigo	 que	 estava	 comigo	 desde	 que	 eu	 nascera.	 Ele	 era	 mais	 do	 que
motorista	ou	mordomo,	depois	da	 trágica	morte	do	meu	pai	ele	 se	 tornou	meu
segundo	 pai,	 meu	 verdadeiro	 amigo	 com	 quem	 eu	 podia	 conversar	 sobre
qualquer	assunto	e	a	única	pessoa	no	mundo	em	quem	eu	confiava	mais	do	que
em	mim	mesmo.
Havia	arquivos	anexados	ao	e-mail.
–	Ela	se	tornou	uma	jovem	deslumbrante	–	leio	na	única	linha	escrita	no
e-mail	e	abri	o	primeiro	arquivo.
Era	uma	 foto	da	Louise.	Christopher	nem	precisou	mencionar	de	quem
ele	estava	falando,	eu	sabia	que	era	a	garota	que	eu	encontrara	anos	atrás	numa
das	muitas	estações	de	trem	de	Nova	Iorque.
Olhei	as	fotos	e	sorri.	Ela	mudou...
Eu	não	recebia	nenhuma	foto	dela	há	algum	tempo.	Christopher	dissera
que	ela	está	bem,	mas	naquela	noite	foi	a	primeira	vez	em	muito	tempo	que	ele
me	permitiu	vê-la	de	novo.
Ela	 parecia	 tão	 feliz.	 Quem	 pensaria	 que	 uma	moça	 criada	 num	 lugar
como	 Paradise	 pudesse	 ser	 tão	 feliz.	 Ela	 sorria	 aquele	 sorriso	 familiar	 que	 eu
ainda	lembrava	de	ter	visto	no	rosto	dela	anos	antes.	A	memória	era	tão	viva	em
minha	mente,	como	se	tivesse	sido	no	dia	anterior.
–	Bonita	mesmo	–	sussurrei	olhando	as	fotos	de	novo.
Eu	não	conseguia	parar	de	olhar	para	a	nova	Louise,	a	estranha	familiar
que	 eu	 mal	 podia	 esperar	 para	 conhecer	 melhor.	 Como	 no	 dia	 em	 que	 nos
encontramos	 pela	 primeira	 vez,	 havia	 algo	 nela,	 algo	 especial...	 sobre	 o	modo
como	 o	 rosto	 dela	 se	 iluminava	 com	 os	 pensamentos	 secretos	 passando	 pela
cabeça	dela,	sobre	a	forma	como	ela	olhava	para	a	entrada	de	Paradise	segurando
uma	 mala	 pequena.	 Ela	 estava	 feliz	 em	 sair	 daquele	 lugar	 repugnante,	 sem
dúvida.	Ela	finalmente	podia	começar	vida	nova.
Peguei	meu	telefone	e	liguei	para	Christopher.
–	 Acredito	 que	 tenha	 recebido	 meu	 e-mail	 –	 disse	 ele	 em	 vez	 de	 me
saudar.
–	Sim,	e	oi	para	você	também	–	respondi.	–	Ela	saiu	de	Paradise,	não	é?
–	Hoje	de	manhã.
–	Você	sabe	para	onde	ela	foi?
–	Não.	Mas	eu	sei	que	foi	enviada	para	trabalhar	num	clube	para	homens.
–	Faça	uma	lista	de	todos	os	clubes	da	cidade,	eu	preciso	encontrá-la.
–	Você	está	planejando	vir	para	cá	para	vê-la?
–	Estou.
Houve	uma	breve	pausa	no	outro	lado	da	linha	e	então	Christopher	disse:
Eu	 sabia...	 eu	 sabia	 que	 você	 voltaria	 para	Nova	 Iorque	 no	momento	 em	 que
enviei	as	fotos	da	garota...
Eu	ri.	Meus	olhos	viajaram	para	uma	das	fotos	na	tela	do	computador.	–
Você	me	 faz	 sentir	 como	 se	 eu	 fosse	 um	 caçador.	Mas	 tudo	 que	 quero	 é...	 ter
certeza	de	que	ela	está	bem.
–	 Certo...	 bem,de	 qualquer	 forma,	 senhor,	 não	 sabemos	 onde	 ela	 está
agora,	então	eu	vou	ter	que	procurar	e	aviso	quando	tiver	mais	informações.
Eu	 ri	 ainda	mais.	Christopher	 raramente	me	chamava	de	senhor.	Ele	 só
fazia	isso	quando	não	aprovava	minhas	atitudes	e,	claramente,	esta	era	a	razão	da
ironia	escancarada.
–	Por	que	você	não	acredita	que	minhas	intenções	são	puras?
–	Eu	sei	de	sua	obsessão	em	protegê-la	e	ajudá-la.	Você	tem	sido	assim
todos	 esses	 anos,	mesmo	 antes	 de	 saber	 que	 ela	 cresceu	 e	 se	 tornou	uma	bela
moça.	E	eu	não	disse	que	suas	intenções	não	possam	ser	puras...
–	Certo,	então	me	avise	quando	encontrá-la,	está	bem?
–	Claro,	senhor.
Dá	 vez	 seguinte	 que	 recebi	 outra	 ligação	 dele	 as	 notícias	 não	 estavam
nem	perto	de	serem	boas.
–	O	que	você	conseguiu	descobrir?	–	perguntei	na	esperança	de	que	ele
tivesse	o	endereço	de	onde	eu	poderia	encontrá-la.
–	Ainda	não	sei	onde	ela	está.	Não	é	fácil	procurar	em	todos	os	clubes	de
Nova	Iorque,	você	entende	isso,	certo?
–	Mas	você	tem	alguma	notícia,	não	tem?
Ele	 jamais	me	 telefonaria	 sabendo	que	 era	madrugada	 em	Paris	 se	 não
houvesse	um	bom	motivo	para	me	acordar.
–	Tenho.	Mas,	receio	de	que	você	possa	não	gostar...
–	Desembucha,	Christopher.	Você	sabe	que	detesto	esperar.
–	Certo,	então...	–	Ele	hesitou	antes	de	continuar	com	cuidado.	–	Há	um
clube,	O	Beijo	do	Dragão,	onde	viram	uma	garota	 com	a	mesma	descrição	da
Louise.
–	Essa	é	uma	ótima	notícia,	não	é?	–	falei	empolgado.
–	Na	 verdade	 não...	O	 ponto	 é	 que	 o	 clube	 é	 conhecido	 por	 vender	 as
garotas	como	escravas	sexuais...
–	O	quê?	–	Meu	coração	parou	com	o	simples	pensamento	de	Louise	ser
vendida	pelo	maior	lance	para	outra	vida	de	puro	inferno	e	tortura.	–	Precisamos
ter	certeza	de	que	ela	não	está	lá.
–	Entendo,	William.	E	prometo	que	descobrirei	o	mais	rápido	possível.
–	 Por	 que	 você	 está	 demorando	 tanto?	 Você	 sempre	 foi	 ótimo	 em
encontrar	pessoas!
–	Sim,	mas	este	caso	é	diferente.	Quase	 todas	as	garotas	que	 trabalham
nesses	clubes	mudam	de	nome,	o	que	torna	tudo	mais	complicado.
–	 Bem,	 não	 quero	 saber,	 Christopher.	 Preciso	 encontrá-la,	 está	 me
ouvindo?
–	Estou,	Will.	E	logo	vamos	encontrá-la.
–	Amanhã.	Preciso	do	endereço	dela	amanhã	e	vou	pegar	o	próximo	voo
para	Nova	Iorque.
Naquela	época	eu	não	podia	 imaginar	o	que	 se	 tornaria	meu	 tour	pelos
clubes	para	homens	de	Nova	Iorque.	Foi	um	pesadelo,	meu	próprio	 inferno	do
qual	eu	achei	que	nunca	sairia.
Vasculhei	os	clubes,	um	por	um.	Havia	 tantas	pessoas	 lá,	 tantos	 rostos,
eles	 começaram	 a	 ficar	 embaçados,	mas	 nenhum	deles	 era	Louise.	 Felizmente
não	a	encontramos	no	Beijo	do	Dragão,	o	que	foi	um	alívio.	Mas	lá	havia	mais
notícias	ruins	que	Christopher	me	contaria.
–	 Lembra-se	 do	 dia	 que	 me	 pediu	 para	 descobrir	 quem	 eram	 os	 pais
biológicos	dela?	–	perguntou	ele	quando	estávamos	a	caminho	de	outro	clube	da
nossa	lista	sem	fim.
–	Lembro,	você	conseguiu	encontrá-los?
–	Em	parte.	Tenho	somente	o	nome	do	pai.
–	Quem	é	ele?
–	Você	não	vai	acreditar...	Fletcher	Montgomery.
–	 Não	 acredito...	 o	 Fletcher	 Montgomery	 candidato	 Democrata	 à
Presidência	dos	Estados	Unidos	da	América?
–	O	próprio.
Naquele	momento	eu	entendi	porque	a	Louise	fora	criada	em	Paradise	e
entendi	também	tudo	o	que	precisaria	fazer	para	protege-la	do	que	quer	que	o	pai
tivesse	 preparado	 para	 ela.	 Eu	 tinha	 certeza	 de	 que	 um	 homem	 como	 o	 Sr.
Montgomery	nunca	deixaria	uma	filha	ilegítima	arruinar	a	preciosa	carreira	dele.
–	 Pode	 ser	 perigoso	 –	 disse	 Christopher	 como	 se	 lesse	 meus
pensamentos.
–	Não	me	importa.	Prometi	ao	meu	pai	que	cuidaria	da	Louise	e	não	vou
quebrar	a	promessa.	E	não	estou	nem	aí	para	quem	é	o	pai	dela	ou	com	qualquer
outra	pessoa,	só	me	preocupo	com	ela.
–	E	se	ela	não	quiser	sua	ajuda?
Eu	não	pensara	nessa	hipótese.	Eu	estava	tão	preocupado	em	encontrá-la
que	 não	 pensara	 no	 que	 aconteceria	 se	 nos	 encontrássemos	 de	 novo.	 Eu	 nem
pensara	na	reação	dela	ao	me	ver	depois	de	dez	anos.	Naquele	momento	eu	não
sabia	 que	 cobriria	meu	 rosto	para	 que	 ela	 não	 soubesse	quem	eu	 era.	Esta	 era
apenas	uma	parte	do	jogo	que	eu	aceitara	jogar	para	o	bem	dela,	o	jogo	que	se
tornaria	algo	muito	maior	do	que	uma	forma	de	manter	a	promessa	a	meu	pai.
Eu	 consegui	 encontrá-la,	 certifiquei-me	de	 que	 ela	 estivesse	 bem.	Eu	 a
tirei	de	Le	Papillon,	o	clube	para	onde	ela	fora	enviada	para	trabalhar	para	Drew,
que	 era	 o	 tio	 dela.	 E,	 de	 alguma	 forma,	 apaixonei-me	 por	 ela	 no	 meio	 do
caminho...	Desde	a	primeira	vez	que	ela	dançou	para	mim	eu	soube	que	sentia
atração	por	ela.	Eu	era	mais	velho	que	ela,	eu	deveria	ter	ficado	longe	dela	e	da
vida	dela,	mas	não	consegui.
Eu	só	pensava	em	vê-la	de	novo,	em	jogar	o	joguinho	do	“Sr.	Segredos”
com	ela.	Nós	dois	gostávamos,	 nos	dois	 curtíamos	 jogá-lo.	E	de	 jeito	nenhum
que	eu	queria	deixá-la.	Mas	então,	ela	me	deixou,	com	nada	além	de	esperança
de	que	eu	estaria	com	ela	de	novo	um	dia.
Uma	 batida	 na	 porta	 me	 trouxe	 de	 volta	 ao	 aqui	 e	 agora,	 a	 minha
realidade.	Olhei	distraído	para	a	porta	do	escritório	e	disse:
–	Pode	entrar.
–	 Bom	 dia,	 senhor	 –	 disse	 Christopher	 caminhando	 até	 minha	 mesa	 e
colocando	nela	uma	bandeja	com	uma	xícara	de	café	fumegante.
–	A	 que	 devo	 seu	 irônico	 uso	 da	 palavra	 bom,	 desta	 vez?	 –	 perguntei
pegando	a	xícara.	–	Fiz	algo	errado?
–	Ainda	não,	mas	fará.	–	Christopher	me	olhou	pensativo	e	continuou.	–
O	senhor	não	acha	que	ela	merece	saber	a	verdade?
Meu	maxilar	ficou	tenso	ao	ouvir	as	palavras	dele.	Eu	sabia	exatamente	o
que	ele	queria	dizer.	–	É	muito	cedo,	ela	não	está	pronta.
–	Ela	está	pronta,	William,	diferente	de	você.
Suspirei,	me	levantei	e	fui	em	direção	à	janela	para	tomar	um	pouco	de
ar.	Havia	algo	que	eu	não	tive	coragem	de	falar	para	Louise.	Não	nos	víamos	há
quase	cinco	meses...	me	deixava	 louco,	mas	eu	não	podia	 fazer	 absolutamente
nada	para	mudar	 isso.	Ela	sabia	que	eu	estava	preocupado	com	ela,	bem	como
sabia	que	eu	mal	podia	esperar	para	vê-la	de	novo.	Mas	ela	nunca	telefonou	nem
mandou	e-mail.	Christopher	era	minha	única	fonte	de	informação.	Ele	continuou
cuidando	 dela.	 Ela	 não	 falava	 comigo,	 mas	 nunca	 se	 recusou	 em	 atender	 as
ligações	dele.	Eles	até	se	encontraram	algumas	vezes	quando	Louise	precisou	de
ajuda	 com	 a	mudança	 para	 o	 novo	 apartamento	 e	 para	 enviar	 candidaturas	 às
faculdades.	Claro	que	ela	se	recusou	a	aceitar	minha	ajuda.	Teimosa.
–	Você	falou	com	ela	sobre	mudar-se	para	minha	casa?	–	perguntei	para
Christopher.
Por	 semanas	 eu	 tentava	 fazê-lo	 falar	 com	 ela.	A	 corrida	 para	 a	 eleição
que	o	pai	dela	estava	prestes	a	começar,	e	eu	não	tinha	dúvida	de	que	ele	faria
todo	o	possível	para	garantir	que	a	filha	secreta	não	se	tornasse	uma	ameaça	para
o	caminho	de	sucesso.
–	Você	 sabe	 que	 ela	 não	 concordaria	 em	morar	 com	você,	 pelo	menos
não	até	ela	querer.
–	Então	 faça-a	querer!	–	Virei-me	para	olhar	para	o	Christopher.	–	Nós
dois	sabemos	o	que	vai	acontecer	se	ele	ganhar	a	eleição.
–	Você	acha	que	ele	tentaria	algo	contra	ela?	Por	quê?	E	por	que	agora?
Ele	 teve	dezoito	anos	para	cuidar	deste	“problema”,	mas	deixou-a	viver.	Claro
que	 enviar	 a	 pobrezinha	 para	 Paradise	 só	 pode	 ser	 chamado	 de	 inferno,	 mas
tecnicamente	ela	ainda	está	viva	e	respirando...
–	Você	não	entende...	Se	ele	descobrir	que	ela	encontrou	a	mãe	ele	não
vai	 descansar	 até	 dar	 um	 jeito	 nelas,	 para	 manter	 intacta	 a	 reputação	 dele.
Separadas	elas	são	inofensivas,	mas	juntas...	juntas	elas	têm	o	poder	de	arruinar
a	vida	dele,	de	arruiná-lo.
–	 E	 é	 exatamente	 por	 isso	 que	 eu	 acho	 que	 você	 deveria	 dizer	 toda	 a
verdade	a	Louise...	Ela	tem	o	direito	de	saber	que	Sabine	é	a	mão	dela.
Sabine	Cormac	era	uma	dançarina	 famosa,	 a	dona	da	melhor	escola	de
dança	da	cidade,	e	a	mãe	da	criança	que	ela	nem	sabia	que	existia.
Há	 alguns	 meses	 Louise	 foi	 até	 a	 escola	 dela,	 fez	 uma	 audição	 e	 foi
inscrita	como	nova	estudantena	Escola	de	Artes	Balero.	Ninguém	sabia	que	ela
e	 a	 Sra.	 Cormac	 eram	 parentes.	 Isso	 até	 um	mês	 atrás	 quando	 eu	 finalmente
consegui	o	nome	da	mãe	biológica	da	Louise.	E	aconteceu	de	ser	a	ilustre	Sabine
Cormac.
–	Você	já	pensou	em	como	Sabine	reagiria	se	descobrisse	que	a	Louise	é
a	 filha	 dela,	 aquela	 que	 não	 sobrevivera?	 –	 perguntei	 ao	 Christopher.	 –	 Por
dezoito	anos	ela	acreditou	que	a	filha	estava	morta.
–	Eu	sei.	E	esta	é	outra	razão	para	contar	a	verdade	a	ambas.
–	Gostaria	de	ter	a	sua	certeza...	Louise	provavelmente	vai	me	odiar	por
esconder	isso	dela.
–	Ela	não	vai	odiar	você,	Will.	Ela	ainda	o	ama.
Dei	 um	 sorrisinho.	 –	 Espero	 que	 sim,	 sinto	 tanta	 falta	 dela...	 às	 vezes
acho	que	vou	enlouquecer	de	saudade.	Por	que	ela	não	me	deixa	vê-la,	uma	vez
pelo	menos?
–	Porque	 ela	 sabe	que	vê-la	 nunca	 será	 suficiente	 para	 você.	Ela	 ainda
está	tentando	se	acostumar	à	nova	vida,	à	liberdade.	Ela	quer	aproveitar	isso	sem
você	 seguindo	 cada	 passo	 dela,	 vigiando-a	 e	 tentando	 resolver	 todo	 problema
para	ela.
–	Mas	não	é	isso	que	um	homem	apaixonado	faz	pela	mulher	que	ama?
–	É,	mas	nós	dois	 sabemos	 como	você	 é	 superprotetor.	E,	 acredite-me,
outro	cão	de	guarda	é	a	última	coisa	de	que	ela	precisa	agora.
–	Os	cães	de	guarda	do	Montgomery	ainda	a	seguem?
–	O	tempo	todo.
–	Ela	sabe?
–	Acredito	que	não.	Eles	estão	se	saindo	bem	me	manter-se	fora	do	radar
dela.
–	Mas	você	ainda	os	vê	em	todo	lugar.
Christopher	sorriu	satisfeito.	–	Eu	apenas	sei	o	que	procurar.
Assenti	olhando	pela	janela	de	novo.	A	casa	tem	estado	tão	solitária	sem
a	 Louise.	 Ela	 não	 tivera	 muito	 tempo	 para	 ficar	 aqui,	 mas	 toda	 vez	 que	 eu
entrava	no	meu	quarto	e	ela	não	estava	lá,	eu	só	queria	correr	para	ela,	prendê-la
em	meus	braços	e	beijá-la	do	jeito	que	tenho	sonhado	por	meses	e	nunca	deixá-la
ir	embora	de	novo...
–	E	se	ela	nunca	voltar?	–	Aquela	era	a	pergunta	que	eu	não	parara	de	me
fazer	 desde	 a	manhã	 em	 que	 Louise	 deixara	minha	 cama,	 ainda	 envolvida	 no
perfume	dela,	e	com	lembranças	da	noite	que	passáramos	juntos.
–	Ela	vai	voltar,	apenas	dê	a	ela	algum	tempo.
Amaldiçoei	 mentalmente.	 Tempo...	 ele	 tinha	 se	 tornado	 meu	 pior
inimigo.	Cada	segundo	sem	Louise	parecia	uma	eternidade.	Uma	eternidade	de
pensamentos	 desordenados	 e	 preocupações	 sem	 fim	 com	 ela.	 Eu	 nunca	 me
perdoaria	se	algo	ruim	acontecesse	a	ela.	Os	dias	sem	ela	eram	tão	solitários.	O
que	me	fazia	seguir	em	frente	eram	as	notícias	que	Christopher	me	trazia.	Ele	me
contou	do	sucesso	dela	com	a	dança.	Ela	até	conseguiu	dançar	o	papel	principal
nas	apresentações	que	a	escola	dela	fez.	Ela	visitou	Le	Papillon	algumas	vezes,
ela	tinha	amigos	lá,	e	participou	dos	ensaios.	Ela	não	fazia	mais	parte	do	time	e
não	participava	dos	shows,	ela	fora	lá	para	aperfeiçoar	suas	habilidades	de	dança
e	 compartilhar	 experiências	 com	 as	 meninas	 que	 sempre	 admiraram	 as
apresentações	dela.	E	admiravam	a	paixão	dela	pela	vida,	seu	incrível	desejo	de
provar	a	todos	que	ela	podia	realizar	os	sonhos	dela	sem	a	ajuda	de	ninguém.	Eu
só	 esperava	 que	 ela	 ainda	me	quisesse	 na	 vida	 dela	 quando	os	 sonhos	 dela	 se
realizassem,	e	quando	não	houvesse	mais	nada	para	provar.
O	 telefone	 do	 Christopher	 tocou	 e	 eu,	 instintivamente,	 virei-me	 para
descobrir	quem	estava	ligando.	Quando	ele	não	conseguia	cuidar	da	Louise,	ele
sempre	designava	alguém	para	fazê-lo	por	ele.
–	Caleb?	 –	 disse	Christopher	 atendendo	 ao	 telefone.	 –	 Está	 tudo	 bem?
Ah...	entendo.	Obrigado	por	ligar.
–	 O	 que	 foi?	 –	 perguntei,	 observando	 a	 expressão	 de	 preocupação	 de
Christopher.	Havia	algum	problema.
–	Diga-me.	É	a	Louise?
Ele	hesitou	em	responder.
Eu	engoli	seco,	com	medo	de	fazer	mais	perguntas.	–	Ela	está	bem?
–	O	carro	do	Montgomery	acabou	de	parar	no	estacionamento	do	prédio
dela.
	
Capítulo	2
	
Louise
	
Cinco	meses...	fazia	cinco	meses	desde	a	última	vez	que	eu	vira	e	falara
com	Will,	 e	 parecia	muito	mais	 tempo.	E	 quanto	mais	 o	 tempo	 passava,	mais
difícil	era	para	mim	continuar	afastando-o,	e	para	quê?	Tudo	para	que	eu	pudesse
ser	livre,	verdadeiramente	livre,	pela	primeira	vez	em	toda	minha	vida...	às	vezes
ser	livre	não	parecia	valer	a	tortura	que	eu	submetia	nos	dois,	mas	eu	precisava
fazê-lo,	não	por	ele,	por	mim.
Deus	sabe	que	eu	nunca	quis	deixar	o	Will,	mas	eu	não	tinha	escolha.	Eu
não	queria	fazê-lo	sofrer	por	causa	da	minha	inabilidade	de	deixar	meu	passado
para	trás.	Havia	coisas	que	eu	precisava	cuidar	antes	de,	finalmente,	me	permitir
ser	feliz	e	confiar	no	Will	sem	ficar	olhando	para	trás,	para	minha	vida	antes	dele
e	 sentindo	 pena	 de	 mim	 mesma.	 Eu	 precisava	 aprender	 a	 ser	 adulta	 e
independente.	E	mesmo	que	eu	soubesse	que	eu	poderia	ligar	para	ele	a	qualquer
momento,	 e	 que	 ele	 estaria	 aqui	 assim	 que	 o	 telefone	 tocasse,	 eu	 não	 liguei...
nem	mesmo	 uma	 vez,	 nem	mesmo	 para	 ouvir	 a	 voz	 dele	 que	 eu	 ainda	 podia
ouvir	sempre	que	fechava	os	olhos	e	deixava	minhas	lembranças	me	levarem	até
ele.
A	 saudade	 que	 eu	 sentia	 dele	 não	 dava	 para	 ser	 expressa	 em	 palavras.
Não	 havia	 um	 dia	 em	 que	 eu	 não	 lutava	 com	 a	 vontade	 de	 vê-lo.	 Às	 vezes,
quando	a	vontade	de	estar	com	ele	chegava	ao	limite	e	eu	telefonaria	para	ele,	de
alguma	 forma,	 eu	 conseguia	 força	 para	 não	 fazê-lo	 e,	 em	vez	 disso,	 eu	 ligava
para	 o	 Christopher	 pedindo	 a	 ele	 para	 tomar	 café	 comigo.	 Nossas	 conversar
sempre	 me	 faziam	 sentir	 melhor.	 Eu	 perguntava	 do	 Will	 e	 ele	 me	 contava
histórias	engraçadas	da	infância	dele,	ou	do	que	ele	estava	fazendo	agora.
Eu	queria	que	Will	fosse	parte	da	minha	vida	de	novo.	Eu	queria	contar
para	ele	 sobre	a	escola	em	que	eu	entrei,	meu	primeiro	solo,	mas	mais	do	que
tudo,	eu	queria	que	ele	me	visse	dançar	de	novo.	Eu	aprendi	tantos	passos	novos
desde	a	última	vez	que	ele	me	viu	dançar,	eu	queria	mostrá-los	para	a	pessoa	que
eu	 amava	 mais	 que	 a	 vida.	 Foi	 assim	 que	 nossa	 história	 começou,	 com	 uma
dança.	E	eu	queria	dançar	para	ele	de	novo,	iniciar	o	fogo	nos	olhos	dele	que	eu
sentia	 tanta	 falta,	 saber	 que	 ele	 queria	 estar	 comigo	de	novo,	 lábio	 com	 lábio,
pele	com	pele...
Eu	até	cheguei	a	pensar	em	mandar	para	o	 inferno	meu	orgulho	e	 ligar
para	 ele,	 implorar	 para	 ele	 vir	 ao	meu	 apartamento	 e...	 ficar	 comigo.	Mas	 aí,
volto	a	realidade	e	minhas	fantasias	desaparecem	como	a	lua	com	o	raiar	do	dia.
Percebi	 que	 não	 estou	 pronta	 para	 vê-lo.	 Eu	 sabia	 que	 assim	 que	 ele	 me
prendesse	num	abraço	eu	ficaria	lá	para	sempre.	E,	talvez,	este	seja	o	lugar	onde
eu	queira	passar	o	resto	da	minha	vida,	mas	por	enquanto,	era	cedo	para	ir	para
lá.
A	campainha	tocou	quebrando	meus	pensamentos.	Verifiquei	o	relógio	na
parede	e	 franzi	a	 testa,	era	8h30	da	manhã.	Quem	viria	me	ver	assim	 tão	cedo
sem	 avisar?	Christopher	 nunca	 apareceu	 à	minha	 porta	 sem	 ligar	 antes,	 e	 não
havia	 mais	 ninguém	 que	 eu	 esperasse	 ver	 à	 porta	 do	 meu	 apartamento	 num
domingo	de	manhã.	As	meninas	de	Le	Papillon	sempre	tinham	shows	até	tarde
aos	sábados,	então	elas	nunca	acordavam	tão	cedo.
Vesti	um	robe	sobre	a	camiseta	–	uma	do	Will	que	eu	pegara	da	casa	dele
para	ter	algo	para	me	lembrar	dele	–	e	fui	atender	a	porta.
Quando	a	abri,	era	um	homem	que	eu	nunca	vira	antes.	Tinha	por	volta
dos	40	anos	e,	mesmo	sabendo	que	nunca	o	vira,	ele	me	olhou	como	se	 já	me
conhecesse	 e	 soubesse	 tudo	 sobre	 mim.	 Havia	 dois	 outros	 homens	 vestindo
ternos	pretos	atrás	dele,	pareciam	guarda-costas.
–	Precisamos	conversar	–	disse	o	homem	entrando.	Ele	nem	parou	para
ver	se	eu	o	queria	dentro	da	minha	casa,	o	que	devo	dizer,	foi	meio	assustador
considerando	 que	 ele	 era	 um	 completo	 estranho.	 Ele	 tinha	 três	 vezes	 minha
altura	e	provavelmente,	dez	vezes	mais	força	que	eu.	Os	dois	homens	esperaram
do	lado	de	fora	enquanto	ele	entrou	na	minha	sala,	eles	não	me	deixaram	fechar
a	porta.	A	primeira	coisa	que	pensei	foi	sair	correndo.	Mas	aí	eu	olhei	para	acara
impassível	 dos	 guarda-costas	 bloqueando	 a	 saída	 e	 percebi	 que	 correr	 não	 era
uma	opção.
Voltei	os	olhos	para	o	 inesperado	convidado.	Meu	coração	disparou,	eu
estava	apavorada,	e	meu	coração	sabia	tudo	sobre	ele.	Ele	parou	no	meio	da	sala
e	olhou	em	volta,	mas	não	disse	nada.	Parecia	que	ele	esperava	que	eu	pedisse
para	sentar	ou	oferecesse	uma	xícara	de	chá.	Meu	apartamento	não	era	grande,
mas	 era	 limpo	 e	 aconchegante.	 E	 eu	 podia	 pagar	 por	 ele,	 o	 que	 era	 a	 maior
vantagem	do	lugar.	Além	disso,	ficava	a	apenas	alguns	quarteirões	da	escola,	o
que	me	gerava	economia	de	tempo	e	estresse	evitando	o	trânsito	maravilhoso	de
Nova	Iorque,	e	eu	não	me	incomodava	em	caminhar.
Meu	visitante	era	alto,	cabelos	louro-escuro	cuidadosamente	penteado,	e
olhos	verdes	profundos	que,	de	alguma	forma,	me	parecia	familiar.
–	 Só	 pode	 ser	 brincadeira...	 –	 sussurrei	 cobrindo	 a	 boca	 com	 a	 mão.
Fiquei	desorientada	quando	me	ocorreu	quem	aquele	homem	devia	ser.	
–	A	que	devo	a	honra	de	vê-lo	logo	cedo,	papai?
	Ele	deu	um	risinho	forçado,	obviamente	surpreso	que	eu	tenha	notado	as
semelhanças	entre	nós.
–	Pensei	que	era	a	hora	de	nos	conhecermos	melhor,	Louise.	Afinal,	você
é	minha	filha.
Não	me	diga!	Eu	sorri	o	mais	educadamente	que	pude.
–		Que...	–	Parei	tentando	pensar	numa	palavra	apropriada	para	a	atitude
e	então	escolhi	a	menos	ofensiva	–	atitude	de	paizão.
–	Eu	não	preciso	da	sua	ironia,	mocinha.	Nós	dois	sabemos	a	verdadeira
razão	da	minha	visita	repentina.
–	Ah,	é?	Ajude-me	a	lembrar,	qual	é	a	razão?	–	Não	gostei	dele	desde	o
momento	 que	 coloquei	 os	 olhos	 nele.	 Ele	 se	 comportou	 exatamente	 como	 eu
sempre	imaginei	que	se	comportaria.	Apesar	de	que	eu	nunca	imaginei	que	ele
viria	me	 ver,	 eu	 estava	 feliz	 em	 saber	 que	minha	 existência	 o	 incomodava	 e,
talvez,	 o	 assustava.	 Claro	 que	 eu	 nunca	 acreditei	 que	 ele	 estava	 lá	 pelo	 puro
amor	de	pai.
–	Por	que	você	decidiu	sair	de	Le	Papillon?	Você	não	gostava	de	viver
lá?
–	Quase	tanto	quanto	adorava	morar	em	Paradise	–	retruquei.
–	 Não	 estou	 aqui	 para	 discutir	 com	 você,	 Louise.	 Escondi	 a	 verdade
sobre	sua	existência	por	muito	tempo	e	eu	gostaria	que	continuasse	segredo.
Sorrindo,	cruzei	os	braços.
–	Diga-me	algo	que	eu	não	saiba.	–	O	idiota	realmente	acredita	que	eu	ia
querer	chamá-lo	de	pai?	Se	sim,	ele	era	mais	idiota	do	que	aparentava.
–	 Não	me	 entenda	mal,	 mas	 você	 já	 é	 adulta	 e	 sabe	meu	 nome.	 Você
poderia	usar	o	que	sabe	contra	mim,	e	esta	é	a	última	coisa	que	eu	quero	ter	que
lidar	antes	das	eleições.
–	Não	se	preocupe,	Sr.	Montgomery,	já	entendi,	o	senhor	nunca	quis	que
eu	nascesse.	E	para	sua	informação,	eu	também	nunca	quis	vê-lo.	É	mais	do	que
suficiente	 saber	 que,	 graças	 ao	 senhor,	 eu	 passei	 dezoito	 anos	 da	 minha	 vida
naquele	inferno	chamado	Paradise1.	Que	nome	maravilhoso	para	um	lugar	como
aquele,	certo?	Você	foi	um	dos	que	o	escolheu?	Não	me	surpreenderia	se	fosse.
–	 Paradise	 foi	 fundado	 muito	 antes	 de	 você	 nascer.	 E	 não	 é	 tão	 ruim
quanto	você	acha.
–	Ah,	é?	Você	experimentou	morar	lá?	Ah,	claro	que	não.	Você	teve	uma
vida	mais	confortável,	não	é?	Por	muitas	vezes	eu	tentei	imaginar	esta	conversa.
Muitas	vezes	eu	imaginei	as	palavras	que	eu	diria	ao	homem	que	arruinou	minha
infância,	o	homem	que	tirou	tudo	de	mim,	até	mesmo	o	direito	de	viver	a	vida
que	 eu	 merecia.	 Mas	 agora...	 agora	 palavras	 não	 parecem	 suficiente	 para
demonstrar	o	quanto	eu	o	odeio.	Eu	o	desprezo	por	tudo	que	eu	tive	que	passar
por	sua	causa	e	de	sua	maldita	reputação.
–	Eu	só	queria	pedir	um	pequeno	favor	–	disse	ele	de	repente.
Eu	 cai	 na	 risada.	 Um	 favor?	 Sério?	 Eu	 pensei	 que	 o	 idiota	 somente
soubesse	dar	ordens,	não	pedir	favores.
Os	dois	guarda-costas	se	olharam	perturbados,	obviamente	pensando	que
eu	estava	maluca.	Ah,	qual	é,	eu	não	ia	matar	meu	caríssimo	papai	com	uma	faca
de	cozinha	ou	algo	assim.	Eu	adorava	demais	minha	vida	para	passar	o	resto	dela
em	outra	prisão,	e,	definitivamente,	não	por	causa	do	filho	da	mãe	que	por	acaso
é	a	razão	do	meu	nascimento.
–	Como	eu	já	disse,	Sr.	Montgomery,	eu	não	quero	ver	o	senhor,	nunca
mais.	Então,	faça-me	o	favor	de	sair	da	minha	casa,	por	favor.
Aparentemente	ele	não	esperava	que	eu	fosse	grossa	com	ele.	Acho	que
ele	 esperava	 que	 eu	 me	 curvasse	 e	 fizesse	 qualquer	 coisa	 para.	 Isto,
provavelmente,	é	o	que	as	outras	pessoas	faziam	quando	ele	pedia	favores,	mas
eu	não.	Ninguém	tivera	a	vida	que	eu	tive,	tudo	por	causa	dele.
Ele	respirou	fundo	e	caminhou	em	direção	à	porta,	sem	dizer	nada.	Mas
havia	 uma	 coisa	 que	 eu	 queria	 perguntar	 antes	 dele	 desaparecer	 pelo	 resto	 da
vida.
–	Quem	é	ela?	–	perguntei,	na	esperança	de	que	ele	ao	menos	tivesse	a
decência	de	responder	uma	simples	pergunta.
Ele	parou,	ainda	de	costas	para	mim.	Sem	dúvida	ele	sabia	que	eu	estava
perguntando	sobre	minha	mãe.	Agora	que	eu	sabia	quem	era	meu	pai,	eu	tinha
certeza	 de	 que	minha	mãe	 era	 apenas	 outra	 vítima	 da	 crueldade	 dele.	 Ela	 não
podia	ser	tão	sem	coração	como	ele,	podia?
	
NT:	1	Paradise	é	Paraíso	em	português.
	
–	Por	quê?	–	perguntou	ele	virando-se	devagar.	–	Você	quer	encontrá-la?
–	Eu	tenho	o	direito	de	saber	quem	é	ela.
–	Tem	sim,	mas	e	se	ela	também	não	quiser	você?
Ai!	Golpe	baixo.	Mas	eu	consegui	sorrir,	como	eu	fizera	a	maior	parte	do
tempo	em	que	vivi	em	Paradise,	e	disse:
–	Com	um	filho	da	mãe,	egoísta	como	você,	nenhuma	mulher	sensata	ia
querer	 ter	 filho.	 Então	 imagino	 que	 a	 gravidez	 foi	 um	 acidente,	 como	 o
relacionamento	dela	com	você.	E	o	que	eu	penso	dela	não	é	da	sua	conta.	Eu	só
preciso	saber	o	nome	dela.	É	justo	depois	da	vida	de	merda	que	eu	tive	por	sua
causa,	não	acha?
Ele	deu	de	ombros,	indiferente.
–	Ela	morreu,	há	muitos	anos.
Eu	 senti	 como	 se	 tivesse	 levado	 uma	 facada	 nas	 contas	 e	 que	 me
atravessou	direto	para	o	coração.
–	 Você	 está	 mentindo	 –	 disse	 eu	 com	 a	 voz	 trêmula.	 Eu	 não	 estava
chorando,	e	estava	muito	brava	e	incrédula.	Eu	ainda	esperava	que	tivesse	algo
de	bom	nele.	Obviamente	eu	estava	errada.	E	eu	estava	prestes	a	mudar	de	ideia
e	pegar	a	faca	na	cozinha,	esse	cretino	não	merecia	viver.
–	Pense	o	que	quiser	–	disse	ele	com	toda	a	repulsa	que	tinha	pelo	lugar	e
pela	 filha,	 também	conhecida	 como	 eu.	 –	Estou	 atrasado	para	 uma	 reunião	 de
negócios,	não	tenho	tempo	para	ouvir	suas	lamentações.
–	 Não	 desejo	 sucesso	 ao	 senhor.	 Espero	 que	 um	 dia	 você	 queime	 no
inferno.	Porque	 se	você	vencer	a	 eleição	este	país	vai	para	o	 inferno,	 antes	de
você.
–	Como	ousa	falar	com...
–	Sr.	Montgomery	–	disse	uma	voz	familiar	por	trás	dos	guardas.	–	Acho
que	 já	está	na	hora	de	o	 senhor	voltar	para	 seus	deveres	no	Congresso.	–	Will
avançou	ignorando	as	tentativas	dos	guarda-costas	em	pará-lo.
–	Sr.	Blair...	que	bela	surpresa...
–	Will...
–	Louise	–	disse	ele	com	voz	severa,	atravessando	meu	pai	com	um	olhar
assassino.	–	Você	está	bem?
–	Estou.	O	senador	já	está	de	saída.	–	Eu	estava	tão	chocada	em	vê-lo	que
quase	esqueci	da	presença	do	meu	pai.
–	 Tenha	 um	 bom	 dia	 –	 disse	 papai	 com	 os	 dentes	 serrados	 e	 com	 os
guarda-costas	logo	atrás	dele.
Will	 e	 eu	 ficamos	nos	 encarando.	Havia	 tanto	que	 eu	queria	dizer	para
ele,	 mas	 nenhuma	 palavra	 saia.	 Eu	 só	 fiquei	 olhando,	 olhando	 e	 olhando	 um
pouco	mais.
Meu	Deus,	 eu	me	 esquecera	 como	o	Will	 parece	 poderoso.	De	 repente
meu	 apartamento	 ficou	 menor	 do	 que	 já	 era.	 Ele	 estava	 lindo	 como	 sempre,
vestindo	jeans	azul	escuro	e	camisa	combinando,	e	jaqueta	em	couro	preta	que,
de	alguma	forma,	o	fez	parecer	um	tanto	descuidado.	Olhei	nos	olhos	dele	e	meu
corpo	todo	tremeu,	desamparado	diante	da	beleza	dele	e	dos	meus	sentimentos
por	 ele.	 Ele	 se	 tornara	 o	 ar	 que	 respiro	 e	 cada	 batida	 do	meu	 coração.	 Eu	 só
pensava	em	me	derreter	no	abraço	dele.	Senti	o	cheiro	da	colônia	dele	e	respirei
fundo,	 deixando	 que	 a	mistura	 de	madeira	 e	 picante	me	 envolvesse.	Como	na
primeira	vez	que	eleme	tocou	numa	das	salas	de	dança	de	Le	Papillon,	agora	eu
podia	 sentir	 os	 toques	 invisíveis	 onde	 quer	 que	 os	 olhos	 deles	 parassem,
saboreando	cada	pedacinho	do	meu	corpo.
–	Temi	que	fosse	tarde	demais	quando	cheguei	aqui	–	disse	ele	dando	um
pequeno	passo	a	frente.	–	Ele	não	tentou	machucar	você,	tentou?	–	Will	 tentou
parecer	calmo,	mas	eu	pude	notar	a	perturbação	na	voz	dele.
Balancei	a	cabeça	ainda	incapaz	de	falar.
Os	 olhos	 dele	 percorreram	minha	 roupa,	 e	 eu	 amaldiçoei	mentalmente
desejando	 que	 estivesse	 vestindo	 algo	 mais	 apropriado	 para	 encontrar	 com	 o
amor	que	eu	não	via	há	meses.
O	tempo	não	 importava	mais.	Era	como	se	os	 longos	dias	e	noites	sem
ele	não	existissem	mais.	Era	como	se	estivéssemos	de	volta	à	casa	dele,	trocando
mensagens	silenciosas	que	podiam	dizer	mais	do	que	palavras.	Era	como	se	ele
ainda	 fosse	meu,	 e	 eu	 dele...	 incondicionalmente.	 Por	 um	momento	pensei	 em
tirar	o	robe	e	ficar	só	com	a	camiseta	dele	cobrindo	meu	corpo,	mas	mudei	de
ideia	por	saber	que	tirar	uma	peça	de	roupa	terminaria	numa	conversa	que	não
envolveria	palavras,	e	nenhum	de	nós	estava	pronto	para	este	tipo	de	conversa,	e
é	exatamente	por	isso	que	eu	precisava	pensar	em	outra	coisa.
Reprimi	meu	desejo	de	correr	e	abraçá-lo	e	perguntei:
–	Quer	café?
Ele	 respirou	 aliviado	 como	 se	 temesse	 que	 eu	 lhe	mostraria	 a	 porta,	 e
disse:
–	Sim,	por	 favor.	Trocamos	outro	olhar	 silencioso,	 então	me	virei	 e	 fui
para	a	cozinha,	esperando	não	tropeçar	e	cair	no	meio	do	caminho.	Aí	seria	outro
momento	perfeito	na	minha	manhã	ferrada.	Minhas	pernas	pareciam	gelatina.	Eu
não	sentia	nada	além	da	batida	do	meu	coração	ecoando	na	minha	cabeça	como
uma	bateria.
Cheguei	à	cozinha,	encontrei	a	xícara	e	coloquei	café	nela.	Então	abri	o
açucareiro	e...
–	Boa,	sem	açúcar	na	casa.
Eu	 ouvi	 a	 risada	 do	Will	 atrás	 de	 mim.	 –	 Não	 se	 preocupe.	 Ver	 você
agora	é	a	coisa	mais	doce	que	poderia	ter	me	acontecido	esta	manhã.
Senti	o	pulso	acelerando.	Com	mãos	trêmulas,	peguei	a	xícara,	virei-me	e
a	entreguei	a	ele.
–	Sempre	quis	vê-la	fazer	café	para	mim	pela	manhã	–	disse	ele	pegando
a	xícara.	E	os	olhos	dele...	Meu	Deus,	aqueles	eram	olhos	que	nenhuma	mulher
sã	ignoraria	ao	olharem	com	tanta	adoração	e	desejo	não	disfarçado.
Entrei	em	pânico.
Muito	perto,	muito	cedo,	muito	bom	para	ser	verdade...
O	silêncio	dele	disse	muito	mais	do	que	palavras	poderiam	explicar.
Balancei	a	cabeça	e	dei	um	passo	para	trás.
–	Por	 favor,	 não.	 –	Senti	minhas	 defesas	 diminuindo	 a	 cada	 respiração
perto	dele,	mas	eu	não	podia	perder	o	controle.	Não	hoje.
–	 Desculpe	 –	 disse	 ele	 baixando	 os	 olhos	 para	 a	 xícara.	 –	 Esqueci	 as
regras.
Não	 definimos	 nenhuma	 regra.	 Ele	 concordou	 que	 eu	 precisava	 de
tempo.	A	parte	não	dita	do	acordo	era	sobre	não	telefonar,	não	enviar	e-mails	ou
o	que	quer	que	fosse	que	tivesse	potencial	de	nos	aproximar.
–	Você	 acabou	 de	 quebrar	 a	mais	 importante	 ao	 aparecer	 aqui,	 então...
pouco	 importa	 o	 resto.	 –	 Forcei	 um	 sorriso	 na	 esperança	 dele	 não	 interpretar
errado	minhas	palavras	e	pensar	que	não	era	bem-vindo.	Ele	era	bem-vindo	para
aparecer	e	me	ver,	só	não	hoje,	ou	qualquer	outro	dia.	Isto	é,	até	que	eu	estivesse
pronta	para	estar	perto	dele	de	novo.
Will	 tomou	 uns	 poucos	 goles	 do	 café	 e	 colocou	 a	 xícara	 na	 mesa	 da
cozinha,	atrás	dele.
–	 Você	 precisa	 de	 alguma	 coisa,	 Louise?	 Algo	 em	 que	 eu	 possa...	 é...
ajudar?
–	Como	açúcar?
Ele	sorriu	aquele	sorriso	familiar	que	eu	via	em	meus	sonhos	toda	noite,
desde	o	dia	que	nos	encontramos	pela	última	vez.
–	E	isso	também	–	disse	ele	me	olhando	de	novo	com	desejo.	Deus,	havia
tanta	dor	nos	lindos	olhos	dele,	como	se	implorassem	para	que	eu	não	o	evitasse.
Isso	quase	me	fez	desistir,	quase.
–	Estou	bem,	Will,	 de	verdade.	Você	não	precisa	 se	preocupar	 comigo.
Sou	grandinha,	posso	cuidar	de	mim.
–	 Tenho	 certeza	 de	 que	 pode.	 É	 que...	 estou	 tentando	 encontrar	 uma
desculpa	para	ficar	aqui,	com	você,	pelo	menos	um	pouco	mais.
Ah,	se	ele	soubesse	o	quanto	eu	queria	que	ele	ficasse	para	sempre.
–	Christopher	me	contou	 sobre	 suas	apresentações	na	escola.	Você	está
gostando	das	aulas?
Assenti	valorizando	a	pergunta.	Pelo	menos	me	deu	a	chance	de	mudar
meus	pensamentos	para	algo	mais	real	do	que	estar	com	ele	de	novo.
–	Estou,	muito.	Talvez	até	mais	do	que	poderia	imaginar.
–	Como	vão	as	coisas	em	Le	Papillon?	Drew	tem	se	comportado?
–	Ah,	 sim.	 Tem	 sim.	Você	 deve	 tê-lo	 deixado	 apavorado.	 Ele	 permitiu
que	 eu	 tenha	meu	 quarto	 lá	 e	 ele	 sempre	 pergunta	 se	 quero	 almoçar	 com	 ele
quando	vou	visitar	as	meninas.
–	Parece	que	minhas	palavras	foram	mágicas.
–	O	que	você	disse	para	ele?	Eu	nunca	o	vi	ser	tão	educado	e	gentil	com
ninguém	como	é	comigo.
–	Eu	 só	 disse	 que	 se	 ele	 deixasse	 acontecer	 algo	 com	um	único	 fio	 de
cabelo	seu,	que	ele	se	arrependeria	muito.
Eu	ri.	–	Isso	é	sua	cara,	e	para	ser	honesta...uma	parte	de	mim	sente	falta
da	 sua	 supervisão	 constante.	 Eu	 sei	 que	Christopher	 deve	 estar	 contando	 para
você	 tudo	 o	 que	 acontece	 na	 minha	 vida,	 e	 eu	 gosto	 de	 tê-lo	 por	 perto	 e	 de
conversar	 com	ele.	Quase	me	 faz	 esquecer	 a	 falta	 que	 sinto	de	 conversar	 com
você...
–	E	eu	sinto	falta	de	tudo	com	você,	Louise...
Aquelas	 eram	as	palavras	 exatas	que	eu	não	ousei	dizer	 sobre	ele,	mas
Will	sempre	fora	honesto	comigo,	mesmo	quando	não	me	deixava	ver	seu	rosto,
os	 toques	 e	os	beijos	diziam	 tudo	por	 ele.	E,	 sim,	mais	do	que	 tudo	eu	queria
sentir	aqueles	lábios	perfeitos	cobrindo	os	meus	agora.
Ele	 deu	 um	passo	 a	 frente	 e	 tomou	minhas	mãos	 nas	 dele	 beijando-as,
uma	por	uma.	Era	para	ser	um	toque	inocente,	mas	a	sensação	dos	lábios	dele	na
minha	pele	era	familiar	demais	para	eu	ignorar.
–	 Eu	 não	 quero	 apressar	 as	 coisas,	 Louise,	 nem	 forçar	 você	 a	 ficar
comigo.	Eu	só	quero	ter	certeza	de	que	você	ainda	me	quer	na	sua	vida...
–	 Claro	 que	 eu	 quero.	 –	 Resmunguei,	 mal	 conseguindo	 falar.	 Senti
lágrimas	embaçando	minha	visão.	Estávamos	tão	próximos	agora,	com	as	mãos
se	tocando,	com	o	calor	dele	passando	para	mim	e	a	ternura	dele	me	arrebatando
como	 uma	 nuvem	 invisível.	 	 Até	 esse	 momento	 eu	 não	 percebera	 como	 eu
precisava	 estar	 com	 ele,	 como	 era	 insuportável	 pensar	 em	 deixa-lo	 ir	 embora.
Até	 esse	 exato	 momento	 eu	 não	 percebera	 o	 quanto	 o	 amava,	 mais	 do	 que
pensara	que	fosse	capaz	de	amar	alguém.
Inclinei-me	para	frente	e	fechei	os	olhos,	sentindo	o	alento	dele	na	minha
testa.	 Eu	 estava	 morrendo	 de	 vontade	 de	 sentir	 os	 lábios	 dele	 nos	 meus,
vigorosos	e	intensos,	como	sempre.	Eu	daria	tudo	para	simplesmente	mergulhar
nos	mais	doces	 sonhos	que	ele	 sempre	 sabia	criar	par	mim.	Eu	 teria	 ficado	 lá,
sem	 arrependimentos	 ou	 preocupações	 sobre	 meu	 futuro.	 Eu	 teria	 deixado	 o
amor	 dele	 me	 levar...	 era	 tão	 fácil	 imaginar	 as	 mãos	 e	 os	 lábios	 experientes
fazendo	o	melhor	para	me	provocar.	Mas	nós	dois	sabíamos	que	não	era	possível
no	momento.
–	Você	está	me	matando,	Louise...
–	Lamento	–	sussurrei	ainda	de	olhos	fechados.	Precisou	de	muita	força
para	agir	de	forma	controlada,	ou	ao	menos	fingir	que	estava	controlada.
–	Ainda	estou	esperando	por	você.	–	Ele	colocou	um	dedo	embaixo	do
meu	 queixo	me	 fazendo	 olhar	 para	 ele.	 –	Eu	 ainda	 estou	 esperando	 por	 você,
esperando	você	voltar.
–	Eu	sei.
–	E	não	me	importa	se	leve	uma	eternidade,	eu	esperarei...
Capítulo	3
	
Se	eu	pensava	que	minha	vida	não	poderia	 ficar	pior,	 eu	estava	errada.
Por	cinco	meses	eu	dissera	a	mim	mesma	que	eu	podia	ficar	longe	do	Will	e	não
me	 sentir	 completamente	 sozinha.	 Mas	 depois	 de	 nosso	 encontro	 inesperado,
percebi	que	era	somente	mais	uma	mentira	que	eu	precisava	acreditar.	Eu	não	era
nada	 sem	 ele...	 Passei	 todos	 os	 dias	 estudando,	 ensaiando	 e	 dando	 aulas
particulares	 de	 dança	 para	 crianças	 na	 Balero.	 Mas	 eu	 nunca	 pensei	 que	 me
sentiria	 tão	para	baixo	e	deprimidadepois	de	ver	Will	e	 ter	que	dizer	adeus	de
novo.	Só	Deus	sabia	quando	tempo	levaria	para	eu	estar	com	ele	outra	vez.
Ele	foi	 tão	cuidadoso	para	não	dizer	nada	que	poderia	me	amedrontar	e
afastar	para	sempre.	Mesmo	quando	me	perguntou	sobre	morar	na	casa	dele	ele
tentou	não	como	uma	ordem,	mas	uma	simples	pergunta.	Eu	sabia	que	ele	nunca
deixaria	de	se	preocupar	comigo,	então	no	momento	em	que	eu	disse	a	ele	que
tinha	um	compromisso,	o	que	era	a	mentira	que	eu	escolhi	em	vez	da	presença
tentadora	do	Will.	Ele	disse	que	tudo	bem	e	dirigiu-se	à	porta	da	frente	como	se
fosse	um	dia	qualquer	em	que	nos	despediríamos	por	um	breve	tempo,	e	não	por
quanto	 tempo	precisássemos.	 	Por	um	momento,	 a	decepção	me	dominou.	Ela
vai	embora	mesmo?	Sem	um	abraço	ou	um	beijo	de	amigo	no	rosto?
Mas	 então,	 ele	 se	 virou	 e	 voltou	 para	 onde	 eu	 estava.	 O	 que	 eu	 mais
queria	dizer	era	que	ele	podia	ficar	e	fazer	o	que	quisesse.
–	Louise...	–	Meu	nome	dito	com	voz	suave	acariciou	meus	 lábios.	Ele
colocou	as	mãos	no	meu	rosto	e	puxou	mais	para	perto	me	envolvendo	com	um
dos	 braços.	 –	 Sei	 que	 não	 deveria	 fazer	 isso,	 mas,	 danem-se	 as	 regras.	 No
segundo	 seguinte	 os	 lábios	 dele	 estavam	 nos	 meus,	 ousados	 e	 provocativos.
Apesar	de	ter	passado	o	tempo	a	química	entre	nós	não	diminuíra.	Ainda	estava
lá,	 pulsando	 entre	 nós,	 o	 tique-taque	 de	 uma	 bomba	 que	 podia	 explodir	 a
qualquer	momento,
Meus	pensamentos	aceleraram.	Todos	os	medos	que	eu	estivera	tentando
sufocar	sem	ele,	sumiram	num	piscar	de	olhos	como	se	nunca	tivessem	existido.
Aqui	é	onde	eu	sempre	quis	estar,	ao	lado	dele,	nos	braços	dele.
Pela	primeira	vez	em	meses,	me	derreti	nos	braços	dele,	deixando	rolar...
Meu	corpo	começou	a	 tremer	um	pouco.	O	beijo	era	demais.	Tão	perfeito,	 tão
familiar,	e	tão	tentador	para	pará-lo.	Quente,	doce	e	apaixonado	o	suficiente	para
saber	que	quando	acabasse	eu	ia	querer	mais,	muito	mais	do	que	um	beijo.
–	Pelo	amor	de	Deus,	Louise...	venha	comigo,	mão	me	deixe	ir	embora,
por	favor...
–	É	melhor	assim...	–	Meu	coração	estava	disparado	pressionado	contra	o
do	Will.	Eu	estava	perdendo	a	batalha	e	ele	sabia.	Ele	me	conhecia	bem	e	sabia
que	se	pressionasse	um	pouco	mais	eu	diria	sim	ao	que	quer	que	ele	tivesse	na
cabeça.	 Mas	 ele	 não	 pressionou.	 Ele	 me	 soltou	 e	 deu	 um	 passo	 para	 trás,
mantendo	o	contato	visual	que	era,	provavelmente,	mais	difícil	de	ignorar	do	que
os	lábios	dele	me	beijando	com	tanto	desejo.
–	Que	 tal	voltarmos	a	 essa...	conversa	mais	 tarde?	–	Ele	 sorriu	com	os
cantos	da	boca,	triste	e	misterioso	como	se	soubesse	algo	que	eu	não	sabia.
–	Tudo	bem.
Ele	sorriu	de	novo,	mais	largo	desta	vez.	–	Bom.	–	Então	aproximou-se	e
deu	um	beijo	 suave	na	minha	bochecha,	pertinho	da	boca,	de	propósito,	 claro,
como	se	o	beijo	de	antes	não	fosse	suficiente	para	eu	me	arrepender	da	minha
decisão	de	nos	manter	distantes.
–	Nos	vemos	em	breve?
–	Talvez.
–	Quando?
–	Pensei	que	você	não	queria	me	apressar.
–	E	eu	pensei	que	você	não	queria	que	eu	a	tocasse	ou	beijasse...
Agora	foi	injusto.
Um	para	Senhor	Segredos,	zero	para	Louise,	como	sempre.
–	Eu	nunca	disse	isso	–	falei	um	pouco	ofendida.
–	Eu	amo	você,	Louise,	sempre	amei	e	sempre	amarei.
As	palavras	foram	ditas	com	tanta	facilidade,	pareceram	tão	naturais,	tão
reais.	Ninguém	me	ensinara	sobre	amor	antes	do	Will.	Ele	foi	a	primeira	pessoa
a	me	amar	e	a	me	fazer	acreditar	que	o	amor	era	bonito,	excitante	e	poderoso.
Saber	que	ele	ainda	me	amava	me	deu	muita	força.	E	isso	não	tinha	preço.
–	Também	amo	você,	bonitão.	Você	sabe	disso,	não	sabe?
Os	lábios	dele	se	retorceram	num	sorriso	muito	sexy.
–	Nunca	duvidei.
Como	 sempre,	 ele	 foi	 embora	 sem	 se	 despedir.	 Ele	 não	 gostava	 de	 se
despedir	 de	 mim.	 E,	 como	 sempre,	 comecei	 a	 sentir	 saudade	 assim	 que	 ele
fechou	a	porta...
	
***
–	Oi,	Terra	chamando	Louise	–	disse	Kate.	Parece	que	não	era	a	primeira
vez	que	ela	me	chamava	porque	ela	também	estalou	os	dedos	em	frente	a	meus
olhos.	–	Você	está	me	ouvindo?	–	Eu	estava	tão	longe	pensando	no	Will	que	não
ouvi	uma	palavra	do	que	ela	dizia.
–	 Desculpe,	 eu	 ainda	 estou	 passada	 com	 tudo	 que	 aconteceu	 hoje	 de
manhã	para	pensar	em	qualquer	coisa.	–	Forcei	um	sorriso	e	 tomei	um	gole	de
chá	sentindo	o	calor	da	mistura	de	limão	e	folhas	descendo	pela	minha	garganta,
acalmando	 um	 pouco	 minha	 mente.	 Café	 era	 minha	 bebida	 preferida,	 mas
quando	era	para	relaxar	o	corpo	e	a	mente,	chá	de	limão	tem	efeito	rápido.
–	Qual	parte	do	que	aconteceu	pela	manhã	a	surpreendeu	mais,	encontrar
seu	querido	papai	babaca	ou	o	beijo	do	Will?	–	perguntou	Kate.
Eu	não	planejara	visitar	Le	Papillon	hoje,	mas	depois	de	todo	o	drama	da
manhã,	 eu	 precisava	 desabafar	 com	 alguém.	 Em	 qualquer	 outro	 dia	 eu	 teria
ligado	para	Christopher,	mas	considerando	que	um	dos	assuntos	era	ter	beijado
Will	eu	decidi	que	Chrissy,	era	assim	que	eu	o	chamava	quando	ele	não	podia	me
ouvir,	 não	 era	 uma	 boa	 escolha.	 Por	 isso	 liguei	 para	 Kate.	 Desde	 o	 primeiro
momento	 em	 que	 a	 encontrei	 no	 clube	 eu	 soube	 que	 ela	 era	 uma	 das	 poucas
pessoas	no	mundo	em	quem	eu	poderia	confiar.
–	 Honestamente,	 não	 sei.	 Não	 tenho	 ideia.	 –	 falei,	 olhando	 para	 ela.
Estávamos	 sentadas	 no	 café	 do	 clube	 e	 todas	 as	 outras	 garotas	 estavam
ensaiando,	 então	 era	 um	 dos	 raros	momentos	 em	 que	 podíamos	 conversar	 em
particular,	sem	bisbilhoteiros	por	perto	para	fofocar	sobre	os	detalhes	depois.
O	que	o	Will	acha	da	candidatura	do	seu	pai?		Drew	disse	que	o	babaca
ficou	 furioso	 quando	 soube	 que	 você	 saíra	 do	 clube.	 Ele	 assumiu	 que	 você
ficaria	aqui,	sem	fazer	perguntas,	por	pelo	menos	mais	dois	anos.	O	que	ele	não
esperava	era	que	você	encontrasse	um	estranho	bonitão	e	percebesse	que	podia
pensar	por	si	mesma,	que	não	precisava	de	ninguém	para	fazê-lo	por	você.	Isso
foi	que	o	que	mais	o	irritou,	na	minha	opinião.
		Will	disse	que	eu	devia	ter	cuidado.	Montgomery	não	estava	brincando
quando	disse	que	não	queria	que	ninguém	descobrisse	sobre	mim.	Will	também
me	pediu	para	mudar	para	a	casa	dele...
–	O	que,	eu	acho,	que	é	a	pior	coisa	que	ele	poderia	pedir	a	você,	não	é?
Eu	 sorri	 com	 tristeza.	 –	 Bem,	 como	 você	 disse,	 eu	 não	 preciso	 de
ninguém	 pensando	 por	 mim,	 e	 ainda	 estou	 aprendendo	 como	 ser	 a	 pessoa
independente	 que	 eu	quero	 ser.	Então,	 sim,	 você	pode	dizer	 que	 a	 oferta	 foi	 a
pior	entre	as	piores.
–	 	 Ele	 ama	 você,	 menina,	 e	 é	 natural	 que	 ele	 se	 preocupe	 com	 sua
segurança.
–	Eu	 sei,	mas	morar	 com	ele,	 a	 esta	 altura,	 seria	 um	grande	 erro	 e	 um
que,	eu	sei,	me	arrependeria.	Estou	começando	a	aprender	como	cuidar	de	mim
mesma,	sozinha.	Sabe	o	quanto	estou	cansada	de	ter	pessoas	cuidando	de	mim	o
tempo	 todo?	 Primeiro	 foi	 a	 Marlena	 com	 os	 malditos	 rastreadores.	 Depois	 o
Drew,	o	Will,	e	agora	os	capangas	do	meu	pai.	Eu	não	quero	ninguém	seguindo
cada	passo	que	dou.	Eu	quero	ser	livre,	Kate.	Verdadeiramente	livre,	e	não	posso
ser	 livre	 enquanto	 todos	 estão	 cuidando	 para	 que	 eu	 não	 me	 machuque	 ou
arruíne	 sua	 reputação.	 Gostaria	 que	 eles	 me	 dessem	 um	 tempo,	 um	 dia	 pelo
menos.	O	que	parece	ser	pedir	muito.
–	 As	 pessoas	 só	 podem	 ser	 livres	 enquanto	 estão	 sozinhas.	 Porque
mesmo	que	você	decida,	digamos,	ter	um	cachorro,	você	já	não	será	mais	livre.
Você	terá	obrigações,	precisará	dedicar	seu	tempo	ao	bendito	cachorro.	E	quando
você	 se	 apaixona,	Louise,	 você	 nunca	 será	 livre,	 não	 importa	 a	 distância	 ou	o
tempo	 que	 fique	 longe	 da	 pessoa	 amada.	 Seu	 coração	 estará	 sempre	 onde	 ele
está.	É	inevitável.
–	E	você	acha	que	que	não	sei	disso?
–	Então	por	que	você	continua	afastando	o	Will?	É	só	por	que	tem	medo
de	 ser	 controlada	 de	 novo?	 Ou	 é	 outro	 motivo?	 Diga-me,	 Lu,	 você	 pode	 me
contar	tudo,	sabe	disso.
Eu	nunca	contara	a	ninguém	sobre	o	outro	medo	que	parece	que	eu	não
conseguia	acessar.	Estava	nas	profundezas	do	meu	ser,	eu	 temia	pensar	nele,	o
que	dirá,falar	sobre	ele	com	alguém.
–	 Eu	 nunca	 tive	 uma	 família,	 Kate...	 não	 tenho	 certeza	 de	 que	 saberei
fazer	parte	de	uma.
–	O	quê?	Você	está	maluca,	menina?	Família	não	é	uma	habilidade	que
você	tem	ou	não!	Você	não	precisa	aprender	a	amar	alguém	ou	ser	amada.	Isto
vem	 com	 a	 vida.	 E	 você	 tem	 toda	 a	 eternidade	 para	 viver	 e	 aproveitar	 cada
segundo	 da	 sua	 vida.	Você	 quer	 desperdiçá-la	 pensando	 sobre	 um	medo	 bobo
que	sua	infância	deixou	em	você?
–	 	Não,	 claro	 que	 não.	Mas	 eu	 sei	 que	 o	Will	 não	 quer	 apenas	 que	 eu
more	com	ele.	Ele	quer	uma	família,	ele	quer	filhos.	E	eu	não	tenho	certeza	de
que	poderei	ser	boa	mãe.	Eu	nunca	tive	mãe	para	me	mostrar	como	ser	uma	ou
como	amar	como	uma.	Eu	não	sei	o	que	significa	ter	pessoas	cuidando	de	mim
ou	ter	aqueles	a	quem	eu	deva	cuidar.
Kate	sorriu	segurando	minhas	mãos.	–	Você	sabe	isso,	Louise.	Você	tem
a	nós	e	talvez	não	sejamos	uma	família	perfeita,	mas	isto	–	ela	indicou	o	clube
com	 a	 mão,	 e	 continuou	 –	 é	 sua	 casa.	 Aqui	 tem	 pessoas	 que	 amam	 você	 e,
acredite,	querida,	até	o	Drew	ama	você.	Ele	talvez	nunca	diga	em	voz	alta,	mas
ele	tem	orgulho	de	você,	da	sua	coragem,	da	sua	força	de	vontade.	Além	disso,
você	tem	o	William.	E	tenho	certeza	de	que	o	gostosão	ama	muito	você,	as	bolas
dele	explodem	quando	você	está	por	perto.	E	tudo	isso	define	o	que	é	família	e	o
que	é	amar	incondicionalmente,	uns	cuidando	dos	outros.	É	tudo	isso	ao	mesmo
tempo.	Sério,	Lu,	pare	de	pensar	bobagens.	Olhe	para	mim,	passei	muitos	anos
esperando	que	o	homem	que	eu	amo	me	amasse	 também,	mas	ele	não	ama.	E
você	tem	o	homem	dos	seus	sonhos	comendo	na	sua	mão.	Ele	é	louco	por	você,
e	você	o	afasta	só	porque	acha	que	não	é	boa	o	suficiente	para	ele.	O	que,	aliás,	é
a	maior	besteira,	você	é	boa	o	suficiente	para	ele	sim,	e	eu	diria	mais,	que	você	é
boa	 até	 demais	 para	 ele.	Mas	 isso	 pouco	 importa	 quando	 há	 amor	 envolvido.
Então,	de	pé,	tome	coragem	e	entenda	que	mesmo	que	você	não	possa	mudar	seu
passado	ou	fingir	que	sua	 infância	foi	perfeita,	você	pode	assumir	o	controle	e
fazer	 que	 seu	 futuro	 seja	 o	melhor	 possível.	Você	 pode	 ser	 uma	mulher	 livre,
independente	 e	 solitária	 ou	pode	 realizar	 seus	 sonhos	 agarrando	o	Sr.	Traseiro
Sexy	Blair,	acordar	toda	manhã	ao	lado	dele	pelo	resto	da	sua	vida	e	fazer	o	que
quiser	com	ele,	em	vez	de	estar	por	sua	conta	até	se	 tornar	uma	solteirona	que
percebe	 que	 deveria	 ter	 aceitado	 o	 conselho	maravilhoso	 quando	 o	 recebeu.	E
agora,	não	ficar	com	o	cara	ainda	parece	um	plano	fantástico?
–		Principalmente	a	parte	de	fazer	o	que	quiser	com	ele.
–		Exatamente!
–	 	 	Ah,	Kate...	 não	 sei.	Realmente,	 estou	 tão	confusa.	Por	um	 lado,	 sei
que	 você	 tem	 razão	 que	 eu	 deveria	mandar	meus	medos	 para	 o	 inferno	 e	 ser
feliz,	mas,	por	outro	 lado,	eu	sei	que	nunca	poderei	aceitar	o	amor	do	Will	até
aprender	como	me	amar	e	amar	minha	vida...	sem	ele.	Como	posso	aprender	a
amá-lo	como	ele	merece	quando	eu	nem	sei	me	amar	como	mereço?	Acredite,	eu
quero	ser	 feliz	com	ele,	mais	do	que	 tudo	na	vida,	mas,	para	 isso,	ele	 terá	que
esperar	eu	vencer	a	batalha	com	demônios	que	ainda	sinto	dentro	de	mim.
–	 	 Só	 não	 o	 faça	 esperar	 demais,	 querida.	 Ele	 pode	 amar	 você	 e	 estar
pronto	para	 fazer	qualquer	 coisa	por	você,	mas	ele	 tem	sentimentos	 também	e
pode	começar	a	duvidar	dos	seus	sentimentos	por	ele.	E	eu	tenho	certeza	de	que
perder	Will	não	fará	maravilhas	por	sua	autoestima.
Comecei	a	falar,	mas	ela	ergueu	a	mão	para	me	parar	antes	mesmo	de	eu
dizer	uma	única	palavra.
–		Pense	no	assunto,	ok?	Você	não	precisa	decidir	mudanças	na	vida	hoje,
mas	precisa	ao	menos	se	dar	algum	tempo	de	reflexão	antes	de	dispensar	a	ideia.
–		Vou	pensar,	prometo...	Vou	pensar	em	tudo	que	você	disse.
–	 	Que	bom.	Agora	acho	que	seu	tio	gostaria	de	vê-la,	e	eu	preciso	dar
uma	 olhada	 nas	meninas	 antes	 que	 elas	 transformem	 o	 ensaio	 numa	 conversa
fiada.	Nos	vemos	na	próxima	semana?
–		Claro.	Virei	para	o	ensaio	do	sábado.
–			Ótimo.	Ela	sorriu,	me	deu	um	beijo	e	foi	embora	dando	uma	piscada
para	 o	 atendente.	 O	 rapaz	 ficou	 corado,	 o	 que	 foi	 bonitinho	 e	 engraçado
considerando	 que	 ele	 trabalhava	 num	 clube	 onde	 as	 dançarinas	 sempre
paqueravam	 os	 clientes	 e	 colegas	 de	 trabalho.	 Eu	 nunca	 o	 vira	 antes,
provavelmente	era	novato,	o	que	explicaria	a	vergonha.
	
Meus	 pensamentos	 voltaram	 para	 o	 que	 Kate	 dissera.	 E	 se	 ela	 estiver
certa?	 E	 se	 tudo	 o	 que	 eu	 estava	 fazendo	 estivesse	 errado?	 E	 se	 o	 Will	 não
quisesse	 esperar	 por	mim?	Não	 havia	 como	 saber	 quanto	 tempo	 eu	 precisaria
ficar	 sozinha	 antes	 de	 estar	 pronta	 para	 voltar	 para	 ele.	 E	 se	 eu	 nunca
conseguisse	deixar	para	 trás	meus	medos?	Então	 tudo	que	eu	fiz	seria	em	vão.
Apenas	faria	Will	sofrer	e	me	mataria	saber	que	falhei	em	amá-lo	e	em	fazê-lo
feliz.	 Ele	 era	 um	homem	maravilhoso,	meigo	 e	 atencioso.	 Ele	 era	 um	homem
raro,	o	tipo	que	não	existe	mais.	Ele	merecia	ser	feliz.
–			Louise,	minha	menina!	É	um	prazer	receber	você	aqui	hoje.	–			Drew
me	 deu	 um	 abraço.	 –	 	 	 Eu	 não	 sabia	 que	 você	 viria,	 ninguém	me	 avisou.	 E
quando	a	Kate	me	disse	que	você	estava	aqui,	fiquei	preocupado.	Está	tudo	bem?
Espero	que	seu	pai	não	tenha	feito	nada	que	possa	me	fazer	querer	matá-lo.	Ele
fez	algo?
–			Não,	mas	veio	me	ver	hoje	de	manhã.
Meu	relacionamento	com	Drew	não	podia	ser	chamado	de	familiar,	mas
ao	menos	 eu	 sabia	 que	 podia	 confiar	 nele.	 Ele,	 junto	 com	 a	Kate,	 fazia	 parte
daquela	pequena	lista	de	pessoas	na	quais	eu	podia	confiar.	Ele	sempre	foi	bom
para	mim,	mesmo	antes	de	eu	saber	que	ele	era	meu	tio.
–		Não	acredito	que	ele	teve	coragem	de	procurar	você.	Conte-me	tudo.	–
			Drew	se	jogou	na	cadeira	perto	de	mim,	agindo	como	uma	colegial	esperando
ouvir	 uma	 fofoca	 interessante,	 no	 entanto,	 diferente	 de	 uma	 colegial,	 ele	 não
contaria	nada	do	que	ouvisse	a	ninguém.	Ele	acenou	ao	atendente	do	bar	pedindo
uísque	a	espera	que	eu	contasse	cada	detalhe	do	meu	encontro	paternal,	ou	nem
tanto	paternal.
–		Não	é	um	pouco	cedo	para	tomar	uísque?	–	perguntei	verificando	meu
relógio.	Era	meio-dia,	hora	de	almoçar	não	de	tomar	uísque.
–	Quando	 se	 trata	 de	 informações	 sobre	meu	 irmão,	 só	 o	 uísque	 pode
fazer	qualquer	ação	dele	parecer	menos	ruim.	Então,	ele	foi	ameaçar	você?
–	Ameaçou	com	muita	classe,	eu	diria.
–	Ela	não	muda.
–	Dificilmente	as	pessoas	mudam,	Drew.	E	meu	pai,	definitivamente,	não
é	 uma	 exceção	 à	 essa	 regra.	 Mas,	 a	 boa	 notícia,	 Will	 apareceu	 a	 tempo	 de
impedir	a	briga	entre	pai	e	filha.
–	Seu	pai	viu	o	Blair	lá?
–	 Viu,	 por	 quê?	 Ele	 sempre	 soube	 da	 investigação	 do	Will	 sobre	meu
passado.	Bem	como,	sabia	que	foi	ele	quem	fez	com	que	você	me	deixasse	sair
do	clube.
–	Mas	 ele	 não	 sabia	 que	 o	 Sr.	 Blair	 continuava	 cuidando	 de	 você.	 Há
alguns	dias	ele	veio	aqui	e	me	perguntou	sobre	o	relacionamento	entre	você	e	o
Blair.	Mas	como	não	sei	quase	nada,	falei	para	ele	que	vocês	não	estavam	mais
juntos.	O	que	parece	não	ser	bem	verdade...
–	 E	 não	 é	 bem	 mentira	 também.	 Will	 e	 eu...	 bem,	 digamos	 que	 é
complicado.
–	Entendo.	O	que	ele	fez	quando	o	William	apareceu?
–	Não	fez	nada.	Foi	embora	sem	dizer	nada.	Por	quê?
–	Ele	não	quer	que	vocês	fiquem	juntos.
–	 Por	 quê?	 Eu	 não	 preciso	 da	 aprovação	 dele.	 A	 última	 vez	 que
verifiquei,	quando	você	deixa	uma	criança	num	orfanato	você	perde	o	direito	de
aprovar	ou	desaprovar	as	decisões	dela.	Então,	qual	é	o	problema?
–	 Sua	 mãe...	 Fletcher	 sabe	 que	 o	 Blair	 tentou	 encontrá-la.	 E	 a	 última
coisa	que	ele	quer	que	aconteça	é	que	ela	seja	encontrada.
–	 Não	 entendo.	 Quem	 que	 seja	 minha	 mãe,	 tenho	 certeza	 de	 que	 ela
nunca	faria	nada	contra	ele.	Ela	nunca	tentou	me	tirar	de	Paradise.
O	silêncio	do	Drew	me	deixou	preocupada.
–	Você	 sabe	 de	 algo	 que	 eu	 não	 sei?	 –	 perguntei.	 –	Você	 sabe	 quem	 é
minha	mãe?
Ele	sacudiu	a	cabeça.	–	Não,	eu	não	sei,	mas	ese	ela	não	souber	que	você
existe?
–	Como	assim?	Eu	nasci	dela,	não	é	algo	que	se	possa	esquecer,	é?
–	E	se	falaram	para	ela	que	você	não	sobreviveu?
Lembro-me	do	Will	me	dizer	a	mesma	coisa.	Quando	tentou	encontrar	o
nome	 dela	 ele	 descobriu	 uma	 enfermeira	 que	 trabalhava	 no	 hospital	 onde	 eu
nasci	e	ela	disse	exatamente	o	que	o	Drew	estava	tentando	me	dizer	agora.
Ele	 continuou.	 –	 Uma	 vez	 ouvi	 o	 Fletcher	 falando	 ao	 telefone	 com
alguém	 que,	 obviamente,	 tinha	 algo	 a	 ver	 com	 sua	 “viagem”	 ao	 Paraíso.	 Ele
perguntou	 sobre	 sua	mãe	 também,	 e,	 pelo	 que	 sei,	 ela	 nunca	 soube	 que	 você
vivera	depois	do	parto.
–	Isso	é	loucura.	Como	ele	pode	dizer	a	uma	mulher	que	ele	já	amou,	ou
que,	ao	menos,	tenha	tido	algum	sentimento,	que	o	bebê	dela	morrera?
–	 Você	 não	 o	 conhece,	 Louise.	 Seu	 pai	 é	 capaz	 de	 muitas	 coisas,	 e
compaixão	não	e	uma	delas.
–	Então	por	que	você	permite	que	ele	concorra	à	presidência?	Você	sabe
tantas	coisas	terríveis	sobre	ele,	mas	não	o	impediu.	E	se	ele	ganhar?
Drew	 engoliu	 o	 resto	 da	 bebida	 e	 colocou	 o	 copo	 vazio	 sobre	 a	mesa
dizendo:
–	Porque	como	todas	aquelas	pessoas	que	ele	calou,	eu	temo	pela	minha
vida.	Eu	não	quero	terminar	num	monte	de	lixo,	num	dos	becos	de	Nova	Iorque.
Prefiro	ficar	de	boca	fechada	a	estar	morto.
As	 palavras	 do	 Drew	 me	 lembraram	 de	 algo	 que	 eu	 achei	 que	 nunca
pensaria	de	novo.	Olhei	para	ele	desconfiada.
–	Por	que	você	disse	num	monte	de	 lixo?	Você	 sabe	algo	 sobre	 aquela
garota,	 Isabel,	 que	 trabalhou	 aqui.	 Você	 sabe,	 aquela	 que	 foi	 assassinada	 e
encontrada	num	monte	de	lixo.
Pude	perceber	que	as	mãos	dele	começaram	a	tremer.
–	Não,	não	sei.	Estava	falando	no	sentido	figurado.	Não	quis	dizer	nada
em	particular.
Drew	era	uma	daquelas	pessoas	que	tinham	estampado	na	cara	tudo	que
pensavam	 e	 sentiam.	 Se	 estivesse	 bravo,	 ele	 fritaria	 você	 vivo,	 sem	 aviso,	 se
estivesse	nervoso	nunca	conseguiria	esconder.	Por	isso	ele	não	gostava	de	poker,
ele	não	conseguia	manter	a	 fisionomia	natural.	Seria	possível	que	ele	soubesse
algo	sobre	a	morte	da	Isabel?	O	algo	que	ninguém	mais	no	clube	sabia?
	
Capítulo	4
	
Depois	da	minha	conversa	para	lá	de	suspeita	com	o	Drew,	decidi	ir	falar
com	 a	 Tess,	 também	 conhecida	 como	 Valery.	 Ela	 mudara	 o	 nome	 quando
começou	a	trabalhar	no	Le	Papillon.	Ela	era	obcecada	por	encontrar	o	assassino
da	Isabel,	então	pensei	que	ela	poderia	esclarecer	algumas	coisas.
–	Pode	entrar!	–	respondeu	ela	quando	bati	à	porta	do	quarto.
Eu	abri	a	porta	e	entrei.
–	Oi,	tem	um	minuto?
Ela	 estava	 de	 pé	 em	 frente	 a	 um	 espelho	 enorme,	 experimentando
diferentes	roupas	para	o	show	à	noite.
–	O	que	 você	 quer?	 –	 perguntou	 ela	 jogando	um	 short	 em	 couro	 preto
numa	pilha	de	roupas	que	estavam	na	cama.	Como	sempre,	o	quarto	estava	um
caos	 e	 a	 dona	 dele	 não	 parecia	 feliz	 em	 me	 ver.	 Nossa	 última	 conversa	 não
acabara	bem,	então	eu	não	podia	culpá-la.
–	Eu	queria	perguntar	uma	coisa	sobre	a	Isabel	–	falei.
Tess	virou-se	e	me	olhou	desconfiada.	–	O	que	você	quer	saber	sobre	ela?
Ela	 e	 a	 Isabel	 eram	 bem	 próximas	 e	 eu	 tinha	 certeza	 de	 que	 ela	 sabia
mais	do	que	contara	a	qualquer	um	sobre	a	noite	que	a	pobre	moça	morreu.
–	Eu	sei	que	você	começou	a	andar	com	o	Rodger,	o	dono	do	Beijo	do
Dragão,	 na	 esperança	 de	 que	 ele	 usasse	 os	 contatos	 com	a	 polícia	 para	 ajudar
você	a	conseguir	informação	sobre	a	morte	da	Isabel.
–	E?
–	Uma	vez	você	me	disse	que	não	acreditava	que	o	homem	que	foi	preso
fosse	 mesmo	 o	 assassino,	 por	 quê?	 O	 que	 você	 sabe,	 Tess?	 –	 Recusei-me	 a
chamá-la	de	Valery,	mas,	surpreendentemente,	ela	nunca	me	corrigiu.
–	Por	que	você	quer	saber?	–	perguntou	ela	me	sondando	com	o	olhar.		–
Não	podemos	ajudá-la	mesmo.
–	Mas	podemos	garantir	que	a	justiça	seja	feita.
Ela	respirou	fundo	e	foi	para	o	barzinho,	pegou	uma	garrafa	e	se	serviu
de	uma	taça	de	vinho.
–	Tenho	 razões	 para	 acreditar	 que	Vincent,	 o	 homem	que	 era	 cliente	 e
amante	dela,	não	a	matou.	–	Tess	tomou	alguns	goles	e	continuou.	–	Na	noite	em
que	 ela	morreu,	 Isabel	 e	 eu	 saímos	 para	 beber.	 Era	 nosso	 dia	 de	 folga,	 então
ninguém	 se	 preocupou	 por	 sairmos	 do	 clube.	 Fomos	 a	 um	 dos	 nossos	 bares
favoritos,	mas	depois	de	meia	hora	ela	recebeu	uma	ligação	de	um	homem	que
eu	não	 conhecia.	Ele	 disse	 que	 queria	 vê-la,	 então	 ela	 foi.	Cerca	 de	 uma	hora
depois	 ela	 me	 enviou	 uma	 mensagem	 dizendo	 que	 não	 voltaria	 para	 o	 clube
aquela	noite	e	que	eu	precisava	inventar	alguma	desculpa.	Quando	eu	perguntei
se	 ela	 ia	 ficar	 com	 o	 Vincent	 ela	 disse	 que	 estava	 num	 encontro	 com	 outra
pessoa.	Ela	não	me	disse	o	nome	da	pessoa	com	quem	ela	estava.	A	polícia	disse
que	era	um	amigo	do	Vincent	e	que	fora	por	isso	que	ele	a	matara,	por	ciúmes.
Mas	eu	o	vi	aquela	noite.	Ele	conhecia	o	bar	onde	eu	e	ela	gostávamos	de	ir.	Eu
já	 estava	 de	 saída	 quando	 o	 vi	 entrar	 no	 bar.	 Ele	 não	 me	 viu,	 mas	 parecia
preocupado.	Ele	foi	até	o	atendente	e	perguntou	pela	Isabel.	Parecia	que	ele	não
conseguia	 encontrá-la	 e	 isso	me	 fez	 acreditar	 que	 ele	 não	 a	 vira	 aquela	 noite.	
Pelo	relatório	da	polícia	ela	foi	morta	por	volta	do	horário	que	eu	o	vi	no	bar.
–	Então	por	que	ele	foi	preso?	Que	provas	havia	contra	ele?
–	Eles	disseram	que	as	digitais	dele	estavam	na	faca	que	foi	encontrada
perto	do	corpo.	Era	uma	arma,	então,	naturalmente,	eles	pensaram	que	o	Vincent
havia	matado	Isabel.
–	Você	contou	para	alguém	que	o	viu	aquela	noite?
–	Falei,	mas	eles	não	acreditaram	em	mim	por	causa	das	câmeras	na	rua
onde	o	corpo	foi	encontrado	mostrando	o	carro	dele	deixando	a	cena	do	crime.	E
mesmo	 que	 não	 tenham	 visto	 quem	 dirigia	 o	 carro	 decidiram	 que	 ele	 era	 o
principal	suspeito,	e	o	resto	você	já	sabe.
–	E	o	rapaz	com	quem	ele	falou	sobre	a	Isabel?
–	O	atendente?
–	É.
–	Engraçado,	o	dono	do	bar	disse	que	o	rapaz	nunca	mais	apareceu	para	o
trabalho	depois	daquela	noite.
–	Hum...	estranha	coincidência,	não	acha?
–	 Esqueça,	 Louise.	 Ninguém	 vai	 reabrir	 a	 investigação,	 mesmo	 que
encontremos	dezenas	de	estranhas	coincidências	na	história.
–	Por	que	não?
Tess	 fez	 um	gesto	 de	 desamparo	 e	 sentou-se	 numa	 das	 cadeiras.	 –	 Por
que	alguém	deve	ter	pagado	uma	porrada	de	dinheiro	para	que	fechassem	o	caso.
E,	quem	quer	que	seja,	é	o	verdadeiro	assassino.
–	Você	tem	ideia	de	quem	possa	ser?
–	Pensei	que	soubesse,	mas	eu	estava	errada.	Um	dos	amigos	do	Rodger
é	 policial,	 ele	 também	 era	 um	 dos	 investigadores	 do	 assassinato	 da	 Isabel.
Oficialmente	eu	o	vi	apenas	uma	vez,	mas	posso	jurar	que	não	foi	a	primeira	vez
que	o	vi.	E	quando	o	vi,	ele	ficou	nervoso,	como	se	também	me	reconhecesse.
Mas	depois	daquele	dia,	eu	nunca	mais	o	vi.	Rodger	disse	que	ele	foi	transferido
para	Washington.
–	Você	acha	que	ele	é	o	assassino?
–	Não	sei,	mas	a	reação	dele	me	fez	acreditar	que	ele	poderia	ser.	Uma
pena,	nunca	consegui	me	 lembrar	 se	 já	o	vira	mesmo	antes.	Por	que	você	está
perguntando?
–	 Algo	 me	 fez	 lembrar	 da	 tragédia	 e	 pensei	 que	 talvez	 você	 tivesse
descoberto	a	verdade.
–	Infelizmente,	não.
Não	 havia	 mais	 nada	 que	 eu	 quisesse	 conversar	 com	 o	 Tess,	 então	 a
conversa	acabara.	Eu	já	ia	saindo	quando	outra	pergunta	me	veio	a	mente.
–	O	Drew	gostava	da	Isabel?
Tess	deu	um	sorriso	falso	com	o	copo	na	boca.
–	 Drew	 não	 gosta	 de	 ninguém,	 e	 ela	 era	 só	 mais	 uma	 garota	 que
trabalhava	para	ele.	Eu	teria	sabido	se	houvesse	algo	mais	entre	eles.
–	Ok.
–	Louise?
–	Sim?
–	Você	está	feliz?	–	perguntou	Tess	de	repente.
–	Por	quê?	E	não	venha	me	dizer	que	você	se	preocupa	comigo.
Ignorando	minha	ironia,	ela	perguntou:
–	Valeu	a	pena	sair	do	clube?
Não	 importa	o	quanto	ela,	 às	vezes,	 fosse	uma	vaca,	 eu	 sabia	que	Tess
queria	mais.	Talvez	não	mais	roupas	e	sapatos,	mas	algo	mais.	O	algo	a	mais	que
nenhuma	de	nós	duas	nunca	tivera,	uma	família	de	verdade.	E	nós	duas	sabíamos
que	 não	 seria	 encontrado	 em	 Le	 Papillon.Apesar	 de	 tudo	 que	 a	 Kate	 falara,
amigos	 nunca	 poderiam	 substituir	 pequenos	 detalhes	 que	 encontrávamos	 na
família,	pessoas	com	o	mesmo	sangue	que	a	gente.
–	Eu	acho	que	as	pessoas	conseguem	o	que	merecem	–	eu	disse.	–	O	que
eu	 tenho	 hoje	 vale	 cada	 lágrima	 que	 derramei	 enquanto	 era	 prisioneira	 em
Paradise.	Espero	que,	um	dia,	você	encontre	o	que	procura,	Tess.
–	 Isso	 quer	 dizer	 que	 você	 está	 feliz	 vivendo	 sozinha,	 trabalhando	 e
estudando	sem	ninguém	para	conversar	quando	precisa?
Ah,	ela	sempre	soube	tocar	nos	meus	pontos	fracos.
–	Tenho	tudo	de	que	preciso.
–	Que	 sorte	–	disse	Tess	com	desdém.	Ela	não	acreditara	 em	mim.	Ela
parecia	 certa	 de	 que	 minha	 vida	 era	 tão	 miserável	 agora	 quanto	 era	 quando
vivíamos	no	orfanato.	Eu	não	queria	dizer	que	ela	estava	errada,	mas	ela	estava.
Minha	vida	era	completamente	diferente	agora,	era	melhor	e	mais	feliz...	mesmo
que	eu	não	pudesse	 ficar	mais	 tempo	com	o	homem	que	era	a	 razão	da	minha
felicidade.
	
***
Segunda-feira	sempre	fora	meu	dia	favorito	da	semana.	A	maioria	odiava
segundas,	eu	não.	Para	mim,	segunda-feira	sempre	fora	associado	a	algo	novo:
novos	 planos,	 novas	 esperanças,	 novas	 conquistas.	 Além	 disso,	 eu	 tinha
esperança	de	que	cada	dia	que	eu	passava	sem	o	Will	me	aproximava	mais	de
estar	com	ele,	sem	dizer	a	empolgação	que	eu	sentia	sempre	que	pensava	em	vê-
lo.
Havia	outra	parte	da	minha	vida	que	eu	amava	–	Bolero.	As	aulas	lá	eram
a	realização	de	um	sonho.	E	não	importava	que	eu	tinha	que	me	esforçar	muito
para	 ser	 metade	 do	 que	 eram	 as	 outras	 estudantes,	 algumas,	 se	 não	 todas,
dançavam	a	vida	 toda	 antes	 de	 serem	aceitas	 na	 escola.	Eu	nunca	 tivera	 aulas
formais,	 só	 os	 “shows”	 enquanto	 eu	 estava	 em	Paradise	 e	 os	 em	Le	 Papillon.
Tudo	o	que	eu	sabia	sobre	dança	vinha	da	leitura	de	livros	e	de	programas	de	TV,
mas	minhas	notas	eram	muito	boas,	e	minha	dança	melhorava	a	cada	dia.
Eu	não	poderia	viver	sem	dançar.	Me	ajudava	a	manter	os	pés	no	chão,
aliviava	 o	 estresse	 e	 me	 afastava	 dos	 meus	 problemas.	 Quando	 eu	 estava
dançando	todos	os	meus	pensamentos	iam	embora	e	quando	a	música	acabava	eu
me	sentia	muito	melhor,	era	pura	felicidade	em	meio	ao	caos	que	era	minha	vida.
Além	 das	 minhas	 aulas,	 eu	 também	 estava	 ocupada	 dando	 aulas	 na
Balero	para	alunos	que	queriam	aulas	extras	para	 treinar.	Eu	não	esperava	que
minha	professora,	Sr.	Crumple,	me	oferecesse	a	oportunidade,	mas	ela	disse	que
eu	estava	mais	do	que	qualificada	para	tal.	Foi	uma	surpresa	porque	eu	não	me
sentia	 apta	 a	 dar	 aulas	 a	 ninguém.	Muitos	 alunos	da	Balero	 trabalhavam	meio
período	como	instrutores	de	dança.	A	escola	era	uma	das	melhores	na	cidade	e
eu	me	sentia	honrada	em	ser	aluna.
Tomei	 um	 banho	 rápido,	 me	 vesti	 e	 fui	 para	 a	 escola.	 Era	 começo	 de
dezembro,	uma	camada	fina	de	neve	cobria	o	chão.	Meus	pensamentos	voltaram
para	o	 tempo	em	que	eu	vivia	no	orfanato.	O	 inverno	era	a	pior	época	do	ano
para	nós,	moradores	de	Paradise.	Nós	não	tínhamos	roupas	quentes	o	suficiente	e
as	 que	 tínhamos	 mal	 podiam	 ser	 chamadas	 de	 roupas,	 era	 quase	 como	 sair
seminua.	Detestamos	o	frio,	mas	não	tínhamos	escolha	a	não	ser	viver	a	vida	que
Paradise	nos	oferecia.	Por	isso	que	cada	novo	dia	da	minha	liberdade	era	como
uma	benção,	a	maior	vantagem	dela	era	que	eu	não	tinha	mais	que	mendigar.
Conforme	 me	 aproximei	 da	 entrada	 da	 escola,	 eu	 sorri.	 Voltei	 o	 rosto
para	o	estacionamento	e	percebi	que,	como	sempre,	o	Christopher	estava	com	o
carro	parado	na	vaga	mais	perto	das	portas.	E,	como	sempre,	ele	estava	dentro
do	carro	lendo	o	jornal	matinal	e	bebendo	um	cappuccino	da	cafeteria	perto	da
escola,	onde	todos	os	estudantes	iam.	O	engraçado	é	que	a	presença	dele	nunca
me	incomodou.	Eu	sabia	que	ele	estava	lá	porque	Will	não	queria	me	perder	de
vista,	mas	 ele	 também	 sabia	 que	 eu	 ficaria	 furiosa	 se	 visse	Will	me	 seguindo.
Com	o	Christopher	era	diferente.	Ele	sabia	que	eu	detestava	ser	seguida	então	ele
sempre	 ficava	 “nas	 sombras”.	Mas	hoje,	 decidi	 quebrar	o	meu	“nem	notei	 seu
esconderijo”	e	fui	dizer	oi.
Fui	até	onde	o	carro	estava	e	bati	na	janela	do	passageiro.
–	Bom	dia,	Louise	–	disse	Christopher	 saindo	do	carro.	–	O	que	eu	 fiz
para	você	perceber	que	eu	estava	aqui?
Eu	ri.	–	É	sério?	Você	realmente	acredita	que	esta	é	a	primeira	vez	que
percebo	você	aqui?
Ele	sorriu.	–	Mas	você	nunca	disse	que	me	vira.
–	 Eu	 não	 queria	 que	 você	 pensasse	 que	 eu	 não	 o	 queria	 por	 perto	 e
estragar	o	seu	plano	de	me	proteger.
–	E	eu	continuei	fingindo	que	não	sabia	que	você	sabia	que	eu	a	estava
espionando.
Eu	ri.	–	É	a	cara	do	Sr.	Blair	colocar	você	para	me	vigiar,	principalmente
desde	que	eu	não	permiti	que	ele	o	fizesse.
–	Will	não	sabe	que	estou	aqui.
–	Ah...	ele	não	sabe,	então	você	ficou	malandro?
–	Ele	me	disse	para	deixar	você	mais	livre,	mas	eu	me	recusei	a	seguir	a
ordem	dele.	Então,	sim,	suponho	que	fiquei	malandro.
Suspirei.	–	É	por	causa	do	meu	pai?	Você	acha	que	ele	pode	tentar	algo
contra	mim?
–	Eu	acredito	nos	meus	instintos,	Louise,	e	eles	me	dizem	que	em	relação
ao	seu	pai,	tudo	é	possível.	Então	é	melhor	eu	voltar	para	meu	jornal	e	meu	café,
se	não	se	importa.	Ah,	e	não	diga	ao	meu	chefe	que	me	viu	aqui.
–	Não	vou	falar.
Ele	sorriu	de	novo	e	virou-se	para	voltar	ao	carro,	mas	eu	decidi	que	não
o	deixaria	ir	antes	de	perguntar	algo.
–	Christopher	–	eu	chamei.
–	Sim?
–	Ele	está	bem?	–	Eu	sempre	perguntava	para	ele	se	o	Will	estava	bem,
mas	com	tudo	o	que	acontecera	no	domingo	de	manhã,	a	pergunta	parecia	mais
sincera	do	que	o	normal.
–	Um	pouco	 distraído,	 eu	 diria.	Você	 sabe	 o	 porquê	 daquela	 expressão
sonhadora	que	ele	tem	demonstrado	nas	últimas	24	horas?
Eu	ri.	–	Honestamente,	não	faço	ideia.
–	Ah...	 e	 eu	 aqui	 pensando	 que	 era	 porque	 vocês	 dois	 se	 encontraram
ontem.	Devo	ter	me	enganado.
Claro,	ele	sabia	que	nos	encontráramos,	ele	sabia	tudo	a	respeito	de	nós
dois.
–	Não	posso	dizer	ao	certo,	porque	não	falei	com	ele	desde	ontem	pela
manhã.
Christopher	não	comentou,	mas	eu	tinha	certeza	de	que	ele	sabia	tudo	o
que	 eu	 estava	 pensando	 naquele	 momento.	 Ele	 era	 naturalmente	 muito
perceptivo.
	
***
Assim	que	entrei	na	sala	de	aula,	vi	um	envelope	na	minha	mesa.
–	Alguém	sabe	o	que	é	 isso,	ou	de	onde	veio?	–	perguntei	para	minhas
alunas	 mirins.	 Balero	 também	 era	 conhecido	 por	 ter	 aulas	 de	 dança	 para
crianças.
Evangeline,	uma	menina	de	cinco	anos	com	grandes	olhos	azuis,	veio	até
mim	e	disse:
–	Eu	não	sei	o	que	é,	mas	foi	deixada	por	um	estranho.
–	 Um	 estranho?	 –	 perguntei,	 surpresa.	 Por	 um	 momento	 pensei	 que
tivesse	sido	Will,	tentando	me	lembrar	que	ele	ainda	estava	vivo	e	me	esperando.
Então	fui	corrigida.
–	Uma	mulher	 veio	 aqui	 há	 alguns	minutos	 e	 deixou	 isso	 para	 você	 –
disse	Roberto,	outro	dos	meus	alunos.	Ele	era	hispano-americano	e	eu	adorava
conversar	com	ele,	o	sotaque	dele	era	tão	bonitinho.
–	 Uma	 mulher?	 –	 Eu	 repeti	 as	 palavras	 dele,	 ainda	 mais	 surpresa.	 –
Algum	de	vocês	a	conhecia?
–	Eu	conheço	–	disse	Pauline,	correndo	até	mim.	Ela	era	uma	das	minhas
dançarinas	 favoritas,	muito	 talentosa	 e	 esforçada,	 apesar	 de	 ser	 novinha.	 –	Ela
sempre	vem	procurar	você,	mas	não	sei	porque.	E	ela	me	dá	medo,	parece	uma
bruxa	de	um	conto	de	fadas	a	que	o	papai	e	eu	assistimos	ontem	à	noite.
–	Ah,	é?	Bem,	tenho	certeza	de	que	quem	quer	que	ela	seja,	ela	não	é	tão
má	quanto	a	bruxa.	Ela,	alguma	vez,	falou	o	que	quer	comigo?
–	Não,	uma	vez	ela	perguntou	se	esta	era	sua	sala,	e	hoje	ela	trouxe	esse
envelope	 para	 você.	 –	 Pauline	 apontou	 para	 minha	 mesa.	 –	 Viu,	 tem	 até	 seu
nome	nele.
Olhei	 para	 o	 envelope	 preocupada.	 –	 Obrigada,	 pessoal.	 Preparem-se
começaremos	em	um	minuto.	–	Fui	até	minha	mesa,	peguei	o	envelope	e	o	abri.
Puxei	um	bilhete	e	o	li.
Saia	dessa	escola,	o	quanto	antes,	melhor.
Mas	que	diabos?	Por	que	eu	precisaria	sair	da	escola?	Quem	era	a	mulher
que	deixou	o	bilhete?	E	por	queela	sempre	vinha	quando	eu	não	estava?
–	 Pauline?	 –	 chamei.	 –	 Venha	 aqui,	 por	 favor.	 Você	 consegue	 me
descrever	a	mulher	que	deixou	isso	para	mim?
–	Hum...	ela	era	velha,	muita	velha,	igual	minha	vó,	mas	de	cabeio	cinza.
E	ela	tava	braba.	A	cara	dela	tava	amassada.
–	Como	assim,	a	cara	dela	estava	amassada,	por	que	ela	parecia	brava?
–	Acho	que	ela	não	queria	 estar	 aqui	 e	 ela	 ficava	olhando	para	 a	porta
para	ver	se	vinha	alguém.
Muito	estranho.
–	 Obrigada	 –	 eu	 disse	 enfiando	 o	 bilhete	 na	 minha	 bolsa.	 Era	 melhor
escondê-lo	antes	que	alguém	o	encontrasse	e	lesse.
Meu	primeiro	pensamento	foi	mostrar	para	o	Christopher,	mas	mudei	de
ideia.	 Quem	 quer	 que	 fosse	 a	 mulher	 misteriosa,	 ela	 se	 certificou	 de	 que	 a
mensagem	era	somente	para	mim.
Nem	 precisa	 dizer	 que	 eu	 não	 consegui	 parar	 de	 pensar	 no	 maldito
bilhete	 pelo	 resto	 do	 dia.	 Eu	 tinha	 três	 aulas	 para	 participar,	 mas	 no	 final	 da
segunda	algo	aconteceu.	Recebi	outro	bilhete,	este	estava	grudado	no	armário	do
vestiário.
Tenha	cuidado,	eles	estão	perto	 –	dizia	o	bilhete.	Estava	escrito	 com	a
mesma	 letra	 do	 primeiro	 bilhete,	 o	 que	 me	 apavorou.	 Porque	 quem	 quer	 que
tivesse	enviado	significava	problema.	Ela	me	queria	fora	imediatamente...
Mais	tarde	no	mesmo	dia	minha	suspeita	se	confirmou	assim	que	abri	a
porta	do	meu	apartamento.	No	chão	estava	outro	envelope.	Engoli	seco	sentindo
o	 coração	 disparado.	 Fechei	 a	 porta	 depressa	 e	 peguei	 o	 maldito	 envelope
rasgando-o	para	abrir.
Você	 está	 perto	 demais	 do	 que	 precisa	 ser	 mantido	 em	 segredo...	 a
qualquer	custo.
O	quê?	O	que	diabos	ela	quer	dizer	com	isso?	Do	que	eu	cheguei	perto
demais?	Nos	últimos	cinco	meses	eu	só	trabalhei	e	treinei!
Droga,	preciso	falar	com	o	Will.	Mas	eu	não	tinha	certeza	se	queria,	pois
eu	sabia	que	ele	ia	querer	me	trancar	na	segurança	da	casa	dele	antes	mesmo	de
eu	ter	a	chance	de	contar	toda	a	história.	O	bilhete	era	prova	suficiente	de	que	eu
não	estava	segura	sozinha.	Além	disso,	se	eu	contar	para	ele	sobre	os	bilhetes,
será	que	ele	também	estaria	em	perigo?	Eu	não	podia	contar,	eu	não	o	colocaria
em	riso	por	causa	de	alguns	pedaços	de	papel.	Pelo	menos	não	até	eu	saber	mais
sobre	os	bilhetes	e	quem	os	enviou.
Eu	 decidi	 ver	 o	 que	 acontecia.	 Eu	 queria	 ver	 se	 a	 mulher	 tentaria	 me
contatar	 de	 novo	 e	 se	 sim,	 eu	 teria	 que	 descobrir	 o	 resto	 dos	 detalhes	 depois.
Caso	não,	não	teria	problema	em	não	contar	ao	Will.
Capítulo	5
	
	 Na	 terça-feira	 pela	 manhã	 acordei	 com	 meu	 telefone	 tocando.	 A
chamada	 era	 de	 um	 número	 que	 eu	 não	 conhecia.	 Poderia	 ser	 o	Will,	mas	 eu
ainda	não	estava	pronta	para	falar	com	ele.	Ele	perceberia	de	imediato	que	havia
algo	errado	comigo,	então	ignorei	a	ligação.	Assim	que	pressionei	ignorar,	recebi
uma	mensagem	de	texto.	Era	do	mesmo	número	da	ligação.
Li	a	mensagem:	tenha	cuidado	quando	estiver	com	William	Blair...
Agora	 a	 vaca	 fora	 longe	 demais.	 Mesmo	 que	 eu	 tivesse	 acabado	 de
descobrir	que	ela	estivera	na	escola	perguntando	sobre	mim	para	meus	alunos,	eu
estava	cheia	do	jogo	que	ela	estava	tentando	jogar.
–	Fique	fora	da	minha	vida!	–	gritei	zangada	para	o	telefone	olhando	para
a	maldita	mensagem.	Não	que	ela	pudesse	me	ouvir,	mas	me	fez	sentir	melhor.
De	 alguma	 forma,	 eu	 sabia	 que	 era	 a	 mesma	 mulher	 que	 deixara	 os	 bilhetes
misteriosos	para	mim.
Era	a	hora	de	descobrir	quem	era	ela	e	o	que	queria	de	mim.	Liguei	para
o	número	da	chamada	que	eu	 ignorara,	coloquei	o	 telefone	na	orelha	e	esperei
que	ela	atendesse.	Para	minha	decepção,	ninguém	atendeu.	Então	decidi	enviar
uma	mensagem...
Para	de	me	seguir	e	de	me	procurar	ou	chamarei	a	polícia!
Como	esperado,	não	veio	nenhuma	resposta.	Eu	tinha	esperança	de	que	a
pessoa	por	trás	dos	bilhetes,	da	ligação	e	da	mensagem	de	texto	entenderia	e	se
afastaria.
Eu	 não	 sabia	 nada	 sobre	 a	 anônima	 que	 me	 perseguia...	 e	 para	 ser
honesta,	nem	queria	saber.	Eu	só	a	queria	longe	de	mim.
Eu	 tive	 que	 admitir	 que	 sair	 de	 casa	 aquela	 manhã	 foi	 apavorante.
Normalmente	 eu	 teria	 ido	 para	 a	 escola	 a	 pé,	 mas	 peguei	 um	 táxi.	 Eu	 ficava
olhando	pela	 janela	 toda	 hora	 para	 ver	 se	 não	 estava	 sendo	 seguida,	mas	 com
todo	o	trânsito	na	cidade,	era	difícil	dizer.	
Menos	 de	 dez	 minutos	 depois	 o	 táxi	 estacionou	 na	 frente	 da	 escola.
Paguei	o	 taxista	e	sai	do	carro	devagar.	Quando	o	 táxi	 foi	embora	olhei	para	o
estacionamento	procurando	pelo	Christopher.	Fiquei	ainda	pior	quando	não	vi	o
carro	dele	no	lugar	de	sempre.	Estranho,	considerando	que	ele	nunca	me	perdia
de	vista.	Comecei	 a	me	preocupar	mais	 ainda.	Diferentes	medos	começaram	a
borbulhar	 na	minha	mente	me	 impossibilitando	 de	 pensar	 direito.	 Eu	 estava	 à
beira	de	um	ataque	de	pânico.	Eu	precisava	me	acalmar	de	alguma	maneira.
–	Louise,	você	está	bem?
Me	encolhi	 ao	 ouvir	 a	 voz	do	Professor	Norbert	 atrás	 de	mim.	Ela	 era
meu	professor	de	História	da	Dança.
–	Desculpe,	senhor.	Não	está	sendo	um	bom	dia.
–	Lamento,	mas	posso	animá-la.	Tenho	ótimas	notícias	para	você.
–	Ah,	é?	–	perguntei	sem	nenhum	entusiasmo	na	voz.	Olhei	em	volta	com
cuidado,	ainda	com	medo	de	que	alguém	pulasse	de	 trás	dos	arbustos	para	me
sequestrar	ou	algo	assim.
–	A	Diretora,	Sra.	Cormac,	está	voltando	de	viagem	à	Europa	e	ela	pediu
para	falar	com	você	quando	ela	chegasse.
Sabine	Cormac	era	um	dos	meus	ídolos,	uma	profissional	de	verdade	no
mundo	da	dança.	Ela	era	uma	das	razões	de	eu	ter	me	inscrito	na	Balero.	Eu	já	a
conhecia	bem	antes	da	minha	audição.	Eu	sempre	quis	encontrá-la	pessoalmente.
–	Verdade?	–	perguntei	empolgada.	Há	poucos	momentos	eu	pensara	que
nada	melhoraria	meu	 péssimo	 humor	 hoje,	mas	 agora	 parece	 que	 todo	 o	 caos
desaparecera.	 Parece	 que	 tudo	 fora	 um	pesadelo	 e	 agora	 eu	 estava	 acordada	 e
tudo	estava	bem	de	novo.	Conhecer	a	Sabine	pessoalmente	era	a	 realização	de
um	sonho,	e	eu	não	permitiria	que	o	drama	arruinasse	minha	alegria.
–	Ela	estará	aqui	por	volta	das	14h	amanhã.	Você	ainda	estará	por	aqui
esse	horário?
–	Sim,	tenho	aula	até	as	13h30.
–	Ótimo.	Assim	que	acabar	a	aula	vá	ao	escritório	dela	e	diga	a	secretária
que	eu	a	enviei	para	conversar	com	a	Diretora.
Eu	 assenti,	 mal	 podendo	 acreditar	 que	 eu,	 finalmente,	 teria	 a
oportunidade	de	conhecer	um	dos	maiores	ícones	da	dança.
Ele	virou-se	para	ir	embora,	mas	eu	o	chamei:	–	Sr.	Norbert?
–	Sim?
–	Como	ela	soube	sobre	mim?
–	Ah,	eu	enviei	a	ela	um	vídeo	com	uma	das	suas	apresentações	solo.	Ela
ficou	impressionada	com	você,	e	disse	que	gostaria	de	conhecê-la	pessoalmente.
É	uma	grande	honra,	Louise.	Sabine	tem	bom	olhar	para	reconhecer	talentos.	Se
ela	 quer	 conhecer	 você	 significa	 que	 muitas	 mudanças	 estão	 vindo	 em	 seu
caminho.
–	Espero	não	desapontar	a	Sr.	Cormac.
–	Ah,	não	se	preocupe	com	isso.	Tenho	certeza	de	que	tudo	vai	ficar	bem.
Agora,	se	me	dá	licença,	está	na	hora	de	começar	a	aula.
–	Claro,	obrigada,	senhor.
Eu	 senti	 como	 se	 tivesse	 ganhado	 asas	 e	 pudesse	 voar	 com	 toda	 a
empolgação	que	me	dominava.	Eu	não	conseguia	lembrar	da	última	vez	que	me
sentira	 tão	feliz.	Encontrar	com	o	Will	não	contava.	Eu	sempre	ficava	feliz	em
vê-lo.	Mas	hoje	eu	tinha	outra	razão	para	acreditar	que	minha	vida	ficaria	bem
melhor	daqui	para	frente.
Fui	para	a	aula	sorrindo	abertamente.	Eu	não	conseguia	evitar,	eu	estava
feliz	de	verdade.	Mas	minha	felicidade	não	duraria	muito.	No	momento	em	que
entrei	na	sala	de	aula	eu	vi	outro	envelope	sobre	a	mesa.
–	Há	outra	carta,	professora.	–	disse	Pauline.
–	Já	estava	aqui	quando	vocês	chegaram?
–	Não,	a	velha	má	a	trouxe	e	a	deixou	aí	há	um	minuto.
Larguei	a	bolsa	e	corri	para	o	hall	esperando	alcançar	minha	mensageira
secreta,	mas	o	hall	estava	vazio.	Corri	para	as	escadas	que	 levam	ao	átrio	e	vi
uma	 figura	 feminina	 dirigindo-se	 para	 a	 saída.	 Corri	 atrás	 dela	 e	 quando	 a
mulher	estava	prestes	a	desaparecer	eu	a	segurei	pela	mão.
–	Não	tão	rápido,	senhora.
Ela	se	viroue	olhou	para	mim	com	os	olhos	cheios	de	 terror.	Eu	soube
imediatamente	que	ela	era	a	mulher	que	eu	estava	procurando.
–	Me	solta	–	disse	ela	tentando	se	livrar	de	mim.
Ela	 tinha	 por	 volta	 de	 60	 anos,	 talvez	mais	 velha,	 com	 longos	 cabelos
cinza	presos	num	rabo	de	cavalo	bagunçado.	Os	olhos	negros	me	olhavam	com
raiva.
–	Não	até	responder	algumas	perguntas	–	agarrei-a	e,	literalmente,	puxei-
a	até	um	sofá	que	estava	perto.	Forcei-a	a	sentar.
–	Nossa.	–	Ela	fez	uma	careta	esfregando	a	mão	onde	eu	segurara.
–	Quem	é	você?	O	que	você	quer	de	mim?
Ela	não	respondeu.
–	Responda	ou	juro	que	chamarei	a	polícia	e	contarei	que	você	tem	me
seguido.	–	Peguei	o	telefone	do	bolso	para	ficar	bem	claro	o	que	eu	dizia.
–	Não	precisa	–	ela	sibilou.
–	Ótimo.	Voltemos	a	minha	primeira	pergunta.	Que	é	você?
–	Não	importa.	O	que	importa	é	quem	você	é	Louise	Woods.	–	Ela	falou
com	 forte	 sotaque,	 espanhol	 talvez,	mas	 estava	 claro	 que	 ela	 não	 era	 de	Nova
Iorque.
–	Como	você	sabe	meu	nome?
–	Sei	muito	sobre	você,	Louise.	Inclusive	seu	caso	com	William	Blair.
–	 Não	 estamos	 tendo	 um	 caso.	 E	 o	 que	 ele	 tem	 a	 ver	 com	 você	 me
perseguir?
–	 Ele	 não	 devia	 tê-la	 encontrado,	 não	 devia	 tê-la	 ajudado.	 Você	 não
entende...	por	causa	dos	sentimentos	dele	por	você,	acabou	colocando	a	ambos
em	perigo.
–	Como	assim?
–	Não	posso	falar.	Tenho	tanto	medo	quanto	você.
–	Por	quê?	Alguém	mandou	você	me	enviar	os	bilhetes.
–	Não.	Eu	fiz	isso	para	ajudar	você.
–	Por	que	você	me	disse	para	sair	da	escola?
A	 mulher	 olhou	 em	 volta	 com	 cuidado,	 mas	 estávamos	 sozinhas,
ninguém	podia	nos	ouvir.
–		Porque	aqui	não	é	seguro	para	você.	Este	é	o	último	lugar	no	mundo
para	você	estar.
–	Por	quê?	O	que	tem	de	tão	perigoso	aqui?
–	A	resposta	para	todas	as	suas	perguntas	é	seu	pai.
–	Fletcher	Montgomery?
–	Sim.	 	Você	 já	 sabe	que	ele	nunca	quis	que	você	 tivesse	nascido,	mas
agora	 que	 você	 não	 está	mais	 vivendo	 em	Paradise,	 e	 ninguém	 controla	 você,
você	é	um	perigo	real	para	a	carreira	política	dele,	sem	dizer	para	a	vida	pessoal.
Você	nem	imagina	como	a	esposa	dele	é	má.	Se	não	fosse	pelo	apoio	financeiro
da	família	dela,	Montgomery	nunca	teria	se	tornado	quem	ele	é.	Então,	ele	nunca
vai	perdoá-la	se	você	arruinar	a	vida	dele.	E	acredite,	Louise,	seu	relacionamento
com	o	Sr.	Blair	não	ajuda.
–	O	que	meu	pai	tem	contra	o	Will?
–	Seu	querido	Will	gosta	de	cavoucar	lixo	que	não	deveria	ser	tocado.
–	Você	pode	ser	mais	específica,	por	favor?	–	Eu	estava	me	cansando	de
conversar	com	ela.	Ela	se	recusava	a	responder	minhas	perguntas	e	só	me	dava
mais	motivo	para	me	preocupar	comigo	e	com	o	Will.
–	Pergunte	ao	William	sobre	a	morte	do	pai	dele.
Lembro-me	de	falar	com	Christopher	sobre	a	tragédia	que	aconteceu	ao
pai	de	William.	O	barco	dele	afundou	no	mar.
–	Will	não	acredita	que	foi	um	acidente...	o	que	você	sabe	a	respeito?
–	Ele	está	certo.	O	pai	dele	foi	assassinado.
–	Por	quem?
–	Eu	não	sei,	mas	desconfio...
Tentei	 organizar	 o	 que	 a	 mulher	 falou	 e	 cheguei	 a	 uma	 estranha
conclusão.
–	Você	acha	que	foi	obra	do	meu	pai?	–	perguntei	incrédula.
Ela	não	respondeu.
–	Fale!	Ele	matou	o	pai	do	Will?
Ela	 levantou,	 abriu	 a	 bolsa	 e	 pegou	 um	 pedaço	 de	 papel	 pequeno,
dobrado.	 –	 Eu	 ia	 dar	 isso	 a	 você	mais	 depois...	 mas	 se	 você	 quer	 saber	mais
encontre	essa	pessoa.
Eu	peguei	o	papel,	desdobrei	e	li	o	nome	escrito:	Debora	Griffin.
–	Quem	é	ela?
–	Ela	é	a	mulher	que	 sabe	a	verdadeira	 razão	da	morte	do	Sr.	Blair.	E,
desculpe-me,	 Louise,	mas	 isto	 é	 tudo	 que	 posso	 falar	 a	 você.	Mas	me	 escute,
pare	de	vir	aqui.	Não	vai	dar	certo.
–	 Mas	 eu	 não	 posso	 simplesmente	 abandonar	 Balero.	 Eu	 adoro	 este
lugar!	É	a	minha	vida.	Por	que	preciso	sair	daqui?
A	mulher	balançou	a	cabeça.
–	Chega	de	perguntas.	Eu	 já	 falei	 demais.	Ela	 se	virou	para	 ir	 embora,
mas	eu	a	segurei.
–	Por	que	você	quer	me	ajudar?
Ela	ficou	parada	recusando-se	a	olhar	para	mim.
–	Por	favor,	responda.
Os	 olhos	 dela	 encontraram	 os	 meus	 e	 pela	 primeira	 vez,	 desde	 que	 a
encontrei,	 ela	 não	 pareceu	 zangada.	 A	 feição	 dela	 suavizou,	 os	 lábios	 dela	 se
retorceram	num	sorriso	triste	que	mal	se	via.
–	Por	que	eu	 sei	 como	sua	vida	 tem	sido	 injusta	 e,	 acredite,	quando	se
pensa	em	vida	sendo	injusta	eu	sei	tudo.	–	Então	ela	caminhou	para	a	porta,	e	eu
não	tentei	detê-la	desta	vez.
	 Eu	 fiquei	 parada	 no	 átrio	 segurando	 o	 papel	 com	 o	 nome	 de	 outra
desconhecida,	 sem	 a	menor	 ideia	 do	 que	 fazer.	 Claro,	 eu	 poderia	 ligar	 para	 o
Will	 e	 perguntar	 para	 ele	 sobre	 Debora	 Griffin,	 mas	 então	 me	 lembrei	 das
palavras	 da	mulher	 sobre	 ele	 meter	 o	 nariz	 nos	 segredos	 que	 não	 deviam	 ser
revelados	e	mudei	de	 ideia.	Eu	não	queria	envolvê-lo	em	outro	problema,	mas
havia	uma	pessoa	que	poderia	me	ajudar	a	encontrar	Debora.
Peguei	o	telefone	no	bolso	de	novo	e	liguei	para	o	Drew.	–	Preciso	de	um
favor	–	falei.	–	Se	eu	enviar	um	nome	para	você,	você	me	consegue	o	endereço
da	pessoa?
–	Posso	tentar.
–	Legal,	vou	mandar	para	você.
–	Ok.
–	 Enviei	 a	 mensagem	 e	 voltei	 para	 a	 sala	 onde	 as	 crianças	 me
aguardavam.
	Mais	tarde	naquele	dia,	quando	voltei	para	casa	entrei	na	internet	e	tentei
encontrar	alguma	informação	sobre	Debora	Griffin.	Não	encontrei	nada	além	de
alguns	perfis	no	Facebook	com	o	mesmo	nome	e	que	não	ajudaram	nada.	Então,
abri	 o	 site	 da	 campanha	 do	 meu	 pai	 e	 verifiquei	 as	 fotos.	 Eu	 nunca	 fizera
nenhuma	pesquisa	sobre	ele.	Eu	nunca	tentara	encontrar	mais	informação	sobre	a
família	dele	e	outros	filhos,	mas	agora,	de	repente,	eu	queria	conhecer	tudo	sobre
a	vida	dele.	Não	por	que	eu	estivesse	com	ciúme	do	que	os	outros	filhos	tinham,
mas	porque	eu	estava	curiosa	se	as	palavras	da	senhora	sobre	a	relação	dele		com
a	morte	do	pai	do	Will	eram	verdadeiras.
Em	 Paradise	 eu	 vi	 como	 o	 ciúme	 arruinou	 a	 amizade,	 como	 matou	 a
confiança	 e	 fez	 pessoas	 se	 odiarem.	É	 por	 isso	 que	 nunca	 tive	 ciúme	 de	 nada
nem	de	ninguém	porque	eu	percebi	que	algumas	pessoas	podem	não	ter	o	que	eu
tive,	mesmo	que	não	tenha	sido	muito.
Havia	 muitas	 fotos	 do	 meu	 pai	 e	 da	 esposa	 no	 site.	 O	 nome	 dela	 era
Stacy.	Numa	das	fotos	havia	duas	garotas,	uma	de	cada	lado	deles.	Conforme	o
artigo	escrito	logo	abaixo	da	foto,	elas	eram	minhas	irmãs,	Audrey	e	Emerald.	O
Will	 tinha	 razão,	elas	 tinham	mais	ou	menos	a	minha	 idade.	Por	um	momento
pensei	se	poderia	encontrá-las	pessoalmente.	O	que	elas	pensariam	sobre	mim?
Será	 que	me	 odiariam?	Ah,	 sim,	 provavelmente.	Afinal,	 eu	 era	 apenas	 a	 filha
ilegítima	do	amado	pai	delas.
Brava,	fechei	o	notebook.	Não	havia	sentido	em	ficar	me	torturando	com
pensamentos	de	algo	poderia	nunca	acontecer.	Meu	pai	nunca	deixaria	as	outras
filhas	 saberem	 sobre	 mim,	 e	 eu	 nunca	 teria	 coragem	 suficiente	 para	 tomar	 a
iniciativa.
Será	que	eu	preciso	conhecê-las?	Não,	eu	não	precisava.	Não	 tínhamos
nada	 em	 comum	 além	 de	 algumas	 gotas	 de	 sangue,	 graças	 a	 nosso	 pai.	 Mas
aquilo	 pouco	 importava	 considerando	 que	 vivíamos	 em	 mundos	 totalmente
diferentes,	tão	distantes.
Eu	ia	para	a	cozinha	pegar	café	quando	ouvi	uma	batida	forte	na	minha
porta.	 E,	 quem	 quer	 que	 fosse	 estava,	 claramente,	 bravo.	 Ele	 ou	 ela	 nem
considerou	 usar	 a	 campainha,	 preferindo	 bater	 o	 máximo	 possível	 na	 minha
porta.
Fui	atender	às	batidas	na	porta	e	assim	que	abri	a	porta,	Will	entrou	no
apartamento	gritando:
–	O	que	você	está	pensando,	Louise?
Eu	olhei	para	ele,	surpresa	e	preocupada.	Ei	não	me	lembrava	de	ter	feito
nada	que	ele	pudesse	não	aprovar	ou	ficar	bravo.
–	Bem,	oi	para	você	também,	e	não	tenho	ideia	do	que	você	está	falando.
Poderia	explicar?
–	 Ah,	 sim,	 claro	 que	 vou	 explicar...	 Por	 que	 você	 não	 contou	 para
ninguém	que	estava	sendo	seguida?
–	Por	quem,	exatamente?	Christopher?	Os	capangas	do	meu	pai,	que	eu
tenho	certeza,	nunca	se	cansam	de	ficar	à	espreita	e	contar	para	ele	cada	passo
que	 eu	 dou,	 o	 que	 tomeino	 café	 da	manhã,	 e	 até	 quais	 banheiros	 eu	 usei	 na
escola...	Você	se	refere	a	eles,	certo?
–	 Não,	 estou	 falando	 da	 Rea	 Garcia	 –	 disse	 Will	 com	 as	 mãos	 nos
quadris.	–	A	mulher	que	a	visitou	hoje	na	escola.
–	Mas,	como	você...
–	 Como	 eu	 soube?	 Bem,	 Christopher	 a	 viu	 saindo	 da	 escola	 hoje	 de
manhã.	Ele	não	estava	lá	quando	ela	entrou,	mas	ele	chegou	quando	ela	estava
saindo.	Ele	a	seguiu	e	descobriu	que	ela	fora	avisar	você	de	algo.	Ele	não	falou
muito.	É	verdade	isso?
–	Sim.	Ela	disse	que	estudar	na	Balero	não	era	seguro	e	que	eu	deveria
parar	de	ir	lá.
–	O	que	mais	ela	disse?
–	Mais	nada,	por	quê?
Will	 esfregou	 a	 ponta	 do	 nariz	 e	 respirou	 fundo	 algumas	 vezes,
aparentemente	tentando	se	acalmar.
–	Ela	se	apresentou?
–	Não,	mas	você	sabe	o	nome	dela.	Como	você	sabe	o	nome	dela?
–	Rea	é	 a	 infermeira	da	qual	 falei	 para	você.	Ela	 trabalhou	no	hospital
onde	você	nasceu.
–	Ah,	meu	Deus...	pelo	menos	agora	eu	sei	porque	ela	me	conhecia.
–	 Ela	 sabe	 mais	 do	 que	 você	 imagina,	 Louise.	 E	 é	 melhor	 você	 não
encontrar	com	ela	nunca	mais.
–	Por	que	meu	pai	pode	descobrir	que	ela	veio	falar	comigo?
–	 Exatamente.	 No	 dia	 em	 que	 você	 nasceu	 ela	 prometeu	 que	 nunca
contaria	a	ninguém	sobre	você.	Então,	eu	fui	fazer	perguntas,	e	seu	pai	descobriu
que	ela	era	a	pessoa	que	sabia	o	que	acontecera	no	hospital	na	noite	em	que	você
nasceu.	Então,	se	ele	descobrir	que	ela	foi	falar	com	você,	ele	vai	fazer	com	que
ela	nunca	mais	fale	com	ninguém.
–	Eu	não	pensei	nisso...	achei	que	ela	era	alguma	cúmplice	do	meu	pai.
Nunca	imaginaria	que	ela	fosse	a	enfermeira	que	ele	subornara.
–	 Nossa,	 Louise,	 como	 você	 não	 percebeu...	 quando	 Christopher	 me
falou	que	ela	procurara	você...	–	Will	se	aproximou,	colocou	as	mãos	em	volta
de	mim	me	puxando	para	perto	de	seu	peito.
Era	 tão	 bom	 estar	 envolvida	 no	 abraço	 dele	 de	 novo,	 principalmente
depois	do	dia	infernal	que	eu	tivera.
–	Eu	estou	bem,	não	aconteceu	nada	–	falei.
–	Ainda	não	sabemos.
–	Como	assim?	–	Movi-me	um	pouco	para	poder	ver	o	rosto	dele.
–	O	pessoal	do	Montgomery	está	em	todo	lugar.	Se	viram	Rea	entrar	na
escola,	talvez	não	a	vejamos	mais.
–	Ah,	não...	você	sabe	onde	ela	mora?	Poderíamos	ir	lá	e	levá-la	para	um
lugar	seguro.
–	E	isso	funcionou	muito	bem	com	você,	certo?	Tenho	tentado	levar	você
para	morar	comigo	onde	estaria	segura,	mas	você	quer	ser	livre...	Você	acha	que
com	ela	seria	diferente?
Revirei	os	olhos,	eu	sabia	que	ele	estava	certo.
–	 Além	 disso,	 eu	 não	 sei	 onde	 ela	 está	 morando	 agora.	 Christopher	 a
encontrou	num	bar	perto	da	escola.	Ele	não	pensou	em	segui-la,	então	não	tenho
ideia	de	onde	poderíamos	encontrá-la.	O	lugar	onde	ela	morava	foi	vendido	e	os
novos	donos	não	sabem	nada	sobre	ela.
–	O	que	fazemos	então?
–	Nós	 não	 faremos	 nada,	mas	 eu	 vou	 tentar	 descobrir	 se	 o	 pessoal	 do
Montgomery	sabe	sobre	seu	encontro	com	ela.	Além	do	mais,	acho	que	é	hora	de
você	deixar	de	 ser	 teimosa	e	 ir	morar	comigo,	ou,	 se	preferir,	 eu	venho	morar
com	você.	Você	escolhe,	mas	não	pode	ficar	sozinha.
Balancei	 a	 cabeça	 e	me	 afastei.	 Quando	 eu	 estava	 nos	 braços	 dele	 era
muito	difícil	dizer	não	para	qualquer	coisa	que	ele	pedisse.
–	Não	posso.	Você	sabe	disso.
–	Desculpe,	Louise.	Mas	depois	do	que	aconteceu	hoje,	de	jeito	nenhum
que	 eu	 a	 deixarei	 sozinha	 de	 novo.	 Então	 nem	 tente	me	 impedir	 de	 cuidar	 de
você.
–	 Bem,	 tecnicamente,	 você	 nunca	 parou	 de	 cuidar	 de	 mim,	 nós	 dois
sabemos	isso.	Então	o	que	muda?
–	Não	dá	mais,	Louise!	Talvez	você	não	veja,	mas	estou	enlouquecendo
tentando	 ficar	de	olho	 em	você	 e	viver	minha	vida,	 sem	você.	O	que,	 admito,
mal	pode	ser	chamada	vida.	É	como	acordar	e	cair	no	sono	de	novo,	viver	meu
inferno	pessoal	repetidamente,	sabendo	que	não	posso	fazer	nada	para	mudar.
–	Já	discutimos	isso.
–	Sim,	mas	 é	 hora	 de	 você	parar	 de	 inventar	 desculpas	 para	me	 evitar.
Você	 sabe,	 eu	 sei	 tudo	 que	 acontece	 em	 sua	 vida,	 então	 qual	 o	 problema	 de
estarmos	no	mesmo	lugar	em	vez	de	a	quilômetros	de	distância.	Ou	você	acha
que	tenho	alguma	má	intenção	em	pedir	para	você	morar	na	minha	casa?
Aquilo	me	fez	sorrir.	–	Nós	dois	sabemos	que	você	tem.
Ele	não	sorriu.	–	Isso	é	ridículo,	Louise.	Não	importa	o	quanto	eu	sinta
falta	de	estar	com	você,	abraçar	e	fazer	amor	com	você,	mas	não	é	por	isso	que
quero	tê-la	ao	meu	lado.
–	Will,	por	favor,	não	me	force	a	fazer	isso.
Ele	 se	 aproximou	 e	 envolveu	 meu	 rosto	 com	 as	 mãos,	 dizendo
suavemente:
–	Eu	nunca	forçaria	você	a	fazer	o	que	não	quisesse.	E,	se	você	quiser,	eu
vou	para	um	hotel	para	dar	mais	espaço	para	você,	mas	não	posso	deixá-la	aqui.
Não	posso	deixar	nada	de	mal	acontecer	com	você	e	eu	sei	que	se	eu	deixar	você
sozinha,	alguém	pode	usar	isso	contra	você,	contra	nós.
–	Você	pode,	pelo	menos,	me	dar	algum	tempo	para	pensar?
–	Dez	minutos	 é	 suficiente?	 –	Ele	 deu	 um	 sorrisinho,	 acariciando	meu
rosto	com	as	costas	da	mão.	Deus,	era	simplesmente	impossível	estar	 tão	perto
dele	 e	 ficar	 fingindo	 que	 eu	 não	 precisava	 dele	 para	 me	 sentir	 feliz,	 segura,
completa,	 entre	 outras	 coisas.	 Ele	 era	 tudo	 de	 que	 eu	 precisava,	 tudo	 que	 eu
sempre	quis.
–	Se	eu	concordar	em	ir,	você	me	promete	uma	coisa?
–	Qualquer	coisa.	–	respondeu	ele	sem	hesitar.	–	Mesmo	que	eu	não	goste
do	que	quer	que	você	queira	que	eu	prometa.
–	 Bem,	 para	 começar,	 eu	 ficarei	 no	 quarto	 de	 hóspede...	 e	 você	 não
precisa	ficar	num	hotel,	aquela	é	sua	casa	e	eu	nunca	faria	você	sair	de	lá.
–	 Quarto	 de	 hóspede?	 –	 Ele	 pensou	 um	 pouco.	 –	 Tudo	 bem,	 posso
conviver	com	isso.	Algo	mais?
–	Sim...	você	vai	confiar	em	mim?
–	Mas	eu	já	confio,	Louise.	Sem	precisar	prometer.
–	Eu	sei,	mas	prometa	que	confiará,	não	importa	o	que	eu	faça.
Ele	franziu	a	testa	me	olhando	com	atenção.	–	Só	se	você	prometer	que
me	deixará	estar	com	você,	não	importa	o	que	você	queira	fazer	ou	onde	queira
ir.
–	Fechado.
–	Isso	significa	que	vamos	para	casa?
Assenti.	–	Você	venceu,	Sr.	Blair.
Ele	sorriu,	satisfeito.	–	Vamos	arrumar	suas	coisas,	então.
Capítulo	6
	
Eu	nunca	acreditei	que	viver	com	o	Will	seria	fácil,	considerando	que	ele
ainda	 não	 podia	 se	 aproximar	 do	meu	 quarto	 e	 eu	 prometi	 a	mim	mesma	 que
mudar	para	a	casa	dele	não	mudaria	minhas	intenções	de	construir	minha	nova
vida	sem	a	interferência	dele.
Nem	precisa	dizer	que	fui	totalmente	ingênua...
Menos	 de	 duas	 horas	 depois	 de	 chegarmos	 senti	 que	 estava	 prestes	 a
enlouquecer.	Tudo	no	bendito	lugar	era	familiar.	Trouxe	tantas	lembranças.	Tudo
que	Will	e	eu	fizéramos	lá	era	vívido	em	minha	mente.	Fui	me	sentindo	sem	ar,
eu	estava	sufocando	com	o	desejo	de	sentir	os	lábios	dele	nos	meus	de	novo,	as
mãos	 experientes	me	 tocando	onde	 eu	mais	 queria	me	 levando	 a	 loucura	 e	 eu
esqueceria	 meu	 nome,	 derretendo	 em	 ondas	 de	 prazer	 que	 só	 ele	 sabia	 me
proporcionar.
Meu	corpo	inteiro	pegava	fogo,	e	nem	o	frescor	da	noite	podia	me	ajudar
a	refrescar.	Eu	estava	sentada	numa	cadeira	de	balanço	no	terraço	esperando	que
o	ar	fresco	me	faria	dormir	mais	rápido.		Will	estava	em	algum	lugar	obviamente
tentando	manter	a	promessa	de	me	dar	espaço.	Amaldiçoei	em	voz	alta.	Como
seria	possível	querer	espaço	e,	ao	mesmo	tempo,	não	querer	espaço	entre	nós?
Amaldiçoei	mais	vezes.	Eu	precisava	para	de	sonhar	com	o	Will	e	focar
no	 que	 era	 mais	 importante	 no	 momento,	 encontrar	 Debora	 Griffin	 e	 tentar
descobrir	os	segredos	que	ela	também	escondia.
Levantei	e	entrei	na	casa.	Meu	quarto	ficava	no	andar	de	cima,	mas	antes
de	ir	para	lá,	pensei	em	fazer	uma	xícara	de	chá.	Não	que	eu	acreditasse	que	me
ajudaria	 com	meu	 problema	 para	 dormir.	 Ao	menos	 eu	me	manteria	 ocupada
com	algo	que	não	fosse	pensar	em	acordar	o	Will	e	implorar	para	que	realizasse
minhas	 fantasias.	O	Sr.	Bonitão	 bem	 sabia	 como	 se	 tornar	 cada	 pensamento	 e
desejo	meu.
Entrei	na	cozinha	e	parei	no	meio	do	caminho.	Will	estava	 lá,	vestindo
nada	além	de	umatoalha	branca	enrolada	na	cintura.	Ele	estava	de	costas	para
mim	e	não	me	ouvira	entrar,	então	aproveitei	o	momento	para	me	deliciar	com	a
vista	dos	ombros	largos	e	das	costas	dele	com	pequenas	gotas	de	água	do	banho
que	ele	devia	ter	tomado	antes	de	descer.
Meu	 corpo	 se	 contraiu	 com	 a	 lembrança	 de	 nossos	 banhos	 em	 Paris.
Foram	 dias	maravilhosos	 quando	 só	 importava	 nós	 dois,	 nosso	 amor.	Naquele
momento	 eu	 não	 sabia	 quem	 ele	 era,	 mas	 eu	 amava	 cada	 segundo	 com	 ele,
sentindo	o	calor	dele	na	minha	pele	e	observando	o	fogo	nos	lindos	olhos	dele,
os	quais	era	só	o	que	eu	via	do	rosto	dele	quando	ele	usava	a	máscara.	Eu	até
sentia	 falta	 daquela	 parte	 do	 nosso	 joguinho,	 bem	 como	 do	 mistério	 que
acompanhava	cada	palavra	sussurrada	no	meu	ouvido	quando	estávamos	juntos.
Mesmo	antes	de	saber	que	ele	era	o	estranho	do	meu	passado,	eu	nunca	duvidei
que	podia	confiar	nele.
–	Pare	de	olhar	e	venha	tomar	chá	comigo.
–	Droga...
Ele	riu.	–	Você	pensou	que	eu	não	ouvira	você	entrar	na	cozinha?	–	Ele
se	virou	segurando	uma	xícara.	–	Eu	sabia	que	você	ainda	não	estava	dormindo
–	Você	também	não	está	–	respondi,	indo	para	onde	ele	estava	para	fazer
chá	para	mim.	Eu	estava	me	esforçando	muito	para	não	olhara	para	a	toalha	na
cintura	dele,	parecia	que	estava	prestes	a	cair,	o	que	não	ajudava	nada.
–	Estou	 com	dificuldade	 em	dormir	 esta	 noite	 –	 comentou	 ele	 atrás	 de
mim.
–	Ah...	é	por	isso	que	você	tomou	banho	no	meio	da	noite?
Eu	não	podia	ver	o	rosto	dele,	mas	podia	jurar	que	ele	sabia	exatamente
onde	eu	queria	chegar.	Eu,	provavelmente,	precisava	de	um	banho	frio	também.
–	Nunca	é	fácil	dormir,	Louise,	sabendo	que	você	não	está	aqui	comigo...
mas	agora	que	sei	que	você	está	no	quarto	de	hóspedes,	ficou	pior.
Virei-me	sorrindo.	–	Você	deveria	lamentar	ter	me	feito	vir	morar	aqui.
Ele	se	inclinou	apoiando	na	mesa	da	cozinha	me	observando.
–	Acredite,	estou	gostando	da	tortura.
–	Ah,	é?	–	Tentei	esconder	o	sorriso	com	a	xícara	que	eu	levara	a	boca,
mas	acho	que	Will	pode	perceber	a	ironia	na	minha	voz.
–	É	sim,	porque	eu	sei	que	não	vai	durar	para	sempre	–	disse	ele	antes	de
tomar	um	gole	de	chá.	–	Cedo	ou	tarde	quebrarei	este	muro	entre	nós	e,	acredite,
Louise,	quando	acontecer,	você	não	terá	para	onde	correr.
Ai,	Jesus,	eu	adorei	aquele	aviso	sexy	que	pude	entender	nas	entrelinhas.
Will	 sempre	 foi	 bom	 para	 caramba	 em	 me	 provocar,	 me	 excitando	 em
simplesmente	olhar	para	aqueles	olhos	cheios	de	desejo.	Agora	não	era	exceção.
E	 para	 piorar,	 ele	 estava	 sexy	 de	 enlouquecer.	 Com	 prazer	 eu	 teria	 dado	 uma
olhada	mais	de	perto	no	que	a	toalha	mal	escondia.
	–	Acho	que	é	melhor	voltarmos	para	nossos	quartos	e	tentarmos	dormir
–	falei,	com	medo	de	pensar	muito	no	que	ele	dissera	e	no	que	eu	sentira.	Nós
dois	sabíamos	que	ele	estava	certo.	Não	havia	como	eu	dizer	não	uma	vez	que	a
porta	do	quarto	dele	fosse	fechada	depois	de	eu	entrar.	Eu	era	fraca	para	resistir
ao	poder	inexplicável	que	ele	tinha	sobre	mim.
–	Boa	noite,	Sr.	Blair	–	falei	indo	em	direção	à	porta.
–	Lindos	sonhos,	Srta.	Woods...	espero	que	goste	deles.	–	Agora	era	a	vez
dele	de	rir	de	mim.
–	Touché.
Eu	sabia,	naquele	momento,	que	eu	não	ia	pregar	os	olhos	aquela	noite.
Então	sorri	e	pensei,	olhando	na	direção	dele.	Você	também	não	vai...	Bem	feito!
Vai	ter	o	que	merece	por	me	fazer	vir	morar	aqui	com	você.
–	Espero	que	goste	dos	seus	também	–	falei	antes	de	sair.
–	Eu	vou,	com	certeza	–	ouvi	Will	dizendo	baixinho.
	
***
William
	
Mãos	quentes	deslizaram	no	meu	peito	nu,	gerando	arrepios	de	prazer	na
minha	 espinha.	Abri	 os	 olhos	 e	 vi	 os	 olhos	 verdes	 da	 Louise	me	 fitando.	 Ela
estava	 no	meu	 quarto,	 na	minha	 cama,	 flutuando	 sobre	mim	 vestindo	 só	 uma
camisola	preta	curta,	a	transparência	não	deixava	muito	para	eu	imaginar.
Sem	lingerie...	Deus	me	ajude!
–	Quem	pensaria	que	você	mudaria	de	ideia	sobre	dividir	a	cama	comigo
tão	rápido?	–	comentei	ainda	observando-a.
Ela	não	se	mexeu	nem	disse	nada,	mas	o	olhar	dizia	tudo.
–	Venha	aqui.	–	Eu	a	puxei	para	que	deitasse	sobre	mim.	Envolvi-a	com
um	dos	braços	para	que	ficasse	quieta.
–	Não	tem	para	onde	correr,	lembra?
–	Eu	não	ia	a	lugar	nenhum	–	sussurrou	ela	sobre	meus	lábios,	varrendo-
os	com	as	doces	palavras	dela.
Ela	 estava	 de	 joelhos	 sobre	 meus	 quadris	 quando	 pressionou	 a	 parte
inferior	do	corpo	contra	o	meu	mostrando	como	estava	molhada.	A	nudez	dela
tocou	a	minha	da	forma	mais	sensual,	me	provocando	e	me	implorando.
–	Tenho	esperado	por	você	há	tanto	tempo,	Louise...
Cada	parte	 do	meu	 corpo	 tremia	 ao	pensar	 no	que	 estávamos	prestes	 a
fazer,	 afinal	 esse	 era	 nosso	 jogo	 favorito	 e	 resistir	 não	 era	 mais	 opção	 para
nenhum	de	nós.
Envolvi	 a	 nuca	 dela	 com	 os	 dedos	 e	 a	 puxei	 mais	 para	 perto	 do	 meu
rosto,	afastando	um	suspiro	que	mal	se	ouvia	quando	nossos	lábios	se	tocaram.
Quando	 ela	 abriu	 a	 boca	 quente	 e	molhada	minha	 língua	 deslizou	 para	 dentro
voraz.	 Movimentei	 a	 mão	 para	 cima	 no	 pescoço	 dela	 e	 na	 parte	 de	 trás	 da
cabeça,	meus	dedos	se	enroscando	no	cabelo	dela,	puxando	com	gentileza.
Deus,	ela	é	sempre	demais...
Ela	 era	 a	minha	 fraqueza	 e	 a	minha	 força,	 o	melhor	 e	 o	 pior	 de	mim,
aprisionando-me	e	me	libertando.	Como	uma	chama	num	dia	quente,	meu	corpo
pegava	fogo	com	o	toque	dela,	ela	queimava	até	as	cinzas	cada	parte	de	mim.
Estremecendo	com	o	desejo	de	estar	dentro	dela,	envolvi	a	cintura	dela
com	as	mãos	e	a	deslizei	para	baixo	de	mim.	Tirei	 a	 camisola	puxando-a	pela
cabeça.	 Ela	 estava	 nua	 embaixo	 de	 mim,	 exposta	 a	 meus	 olhos	 famintos	 que
nunca	se	cansavam	de	olhá-la.	Ela	era	sexy	e	inocente.	Meu	vulcão	entreva	em
erupção	só	de	olhar	para	ela.	A	pele	branca	fazia	o	contraste	perfeito	com	meus
lençóis	 de	 seda	 pretos,	 e	 a	 luz	 do	 luar	 entrando	 pela	 janela	 a	 fazia	 brilhar,
tornando	 a	 visão	 ainda	 mais	 surreal.	 Os	 cabelos	 loiros	 espalhados	 no	 meu
travesseiro	como	uma	auréola	sobre	a	cabeça	de	um	anjo.	Ela	soltou	um	gemido
alto	 quando	 deslizei	 a	 mão	 até	 o	 clitóris	 dela	 e	 acaricie	 com	 suavidade.	 Ela
arqueou	 com	 meu	 toque,	 tão	 sensível...	 eu	 quase	 esquecera	 como	 era	 fácil
espalhar	o	desejo	no	corpo	dela.
–	Caramba,	Louise...	você	nem	imagina	como	senti	falta	de	vê-la	assim.
Excitada,	pronta,	querendo	mais.
–	Sim,	eu	quero	mais	–	gemeu	ela	me	olhando.	–	Maaaaiiiisss...
–	Diga-me	o	que	você	quer	que	eu	faça.
–	Beije-me...	lá.	–	Os	olhos	dela	foram	para	meus	dedos	brincando	com	o
clitóris	dela,	os	meus	acompanharam.
–	 Como	 quiser	 –	 respondi	 sorrindo.	 Curvei-me	 e	 dei	 um	 beijo	 nela,
depois	fiz	um	caminho	com	a	língua	até	onde	ela	me	queria.	Ele	fez	mais	sons
doces,	quebrando	o	silêncio	do	quarto.
Parei	 com	a	 língua	no	clitóris	dela,	 circulando-o	e	depois	 escorregando
entre	 os	 lábios	 até	 parar	 na	 entrada	 molhada	 que	 se	 apertou	 esperando	 meu
próximo	movimento.
Minha	 cabeça	 começou	 a	 girar.	 Foder	Louise	 com	 a	 língua	 era	 a	 coisa
mais	excitante	que	já	fizéramos	juntos.	De	alguma	forma	era	mais	sensual,	mais
erótico,	mais	intoxicante	e	extraordinário.
A	doce	excitação	dela	preencheu	minha	boca	 fazendo	meu	pênis	pulsar
querendo	mergulhar	para	dentro	dela.	Todo	meu	corpo	ficou	tenso	ao	pensar	em
entrar	fundo	na	vagina	molhada,	empurrando	para	dentro	e	para	fora	fazendo-a
implorar	por	mais.	 	Diferente	de	qualquer	outra	coisa,	eu	nunca	me	cansava	de
fazer	amor	com	a	Louise.	Era	como	experimentar	a	melhor	das	drogas	quando
uma	 pequena	 amostra	 já	 vicia,	 sempre	 ansiando	 pela	 próxima	 dose	 e
enlouquecendo	quando	não	tem.
Minhas	 mãos	 percorreram	 as	 laterais	 do	 corpo	 dela,	 procurando	 os
mamilos	com	os	dedos.
–	Ai	meu	Deus	–	ela	sussurrou	esmorecendo.
Deixando	de	 lado	minhas	 reservas,	 eu	 a	 suguei	 e	depois	me	movi	para
cima	 cobrindo	 o	 corpo	 dela	 com	 o	 meu,	 pressionado	 meus	 lábios	 nos	 dela	 e
permitindo	que	ela	provasse	da	própria	excitação	nos	meus	lábios.
–	Por	favor	–	falou	ela	sem	ar,interrompendo	o	beijo.
–	Por	favor,	o	quê?
–	Quero	você,	Will,	agora.
–	Ainda	não,	linda.	–	Eu	sorri	para	ela	antes	de	cobrir	os	lábios	delas	com
os	meus	uma	vez	mais.	Deslizei	um	dedo	para	dentro	dela	aproveitando	a	forma
como	as	secreções	encharcavam	minha	mão	em	questão	de	segundos.	Ela	estava
para	lá	de	pronta,	mas	eu	queria	torturá-la	um	pouco	mais.
Ela	 ergueu	 os	 quadris	 avidamente	 encontrando	 meus	 movimentos
rápidos.
–	Não	foi	suficiente	–avisou	ela.
–	Mais?	–	perguntei	olhando	para	ela.
–	Sim.
Coloquei	outro	dedo	dentro	dela,	sentindo	que	eu	estava	prestes	a	gozar
antes	 mesmo	 de	 chegar	 a	 parte	 mais	 interessante.	 Era	 uma	 tortura	 para	 mim
também,	mas	 eu	 curti	 cada	 segundo,	morrendo	para	dar	 e	 receber	mais,	muito
mais.
Tive	que	usar	 todo	meu	 autocontrole	 para	 não	 fazê-la	 gozar	 com	meus
dedos.	 Eu	 sempre	 adorava	 observá-la	 gozar	 com	 meu	 toque.	 Ela	 parecia	 tão
desorientada	em	momentos	assim.	Era	só	mais	uma	lembrança	dela	que	eu	nunca
conseguiria	apagar	da	minha	mente.
–	Calma,	querida	–	falei	desacelerando.	Pude	sentir	que	ela	estava	quase
lá,	mas	eu	não	queria	que	acabasse	tão	rápido.	–	Quero	me	juntar	a	você	no	seu
clímax.	 –	Movimentei	 os	 quadris,	 deslizando	para	 cima	 e	 para	 baixo	 na	 vulva
quente	e	úmida,	sem	penetrar.
Os	olhos	dela	colados	nos	meus.	Eu	não	conseguia	mais	provocar,	eu	a
queria	demais	para	adiar	o	momento	que	ambos	esperávamos,	por	meses.
Um	gemido	de	puro	prazer	preencheu	o	quarto	assim	que	nossos	corpos
se	uniram	num	só.	Não	havia	começo	nem	fim,	só	o	momento	de	pura	alegria,
despedaçador	e,	ao	mesmo	tempo,	que	completava.	Não	dava	para	expressar	em
palavras.	 Não	 podíamos	 viver	 longe	 um	 do	 outro,	 não	 existíamos	 um	 sem	 o
outro,	e	agora	eu	podia	ver	melhor	do	que	nunca,	ela	 fora	 feita	para	mim	e	eu
não	queria	pertencer	a	outra	que	não	fosse	aquela	com	quem	eu	compartilhava
essa	paixão	incontrolável.	Eu	queria	 levá-la	às	alturas	onde	nada	 importava,	só
nós	 dois,	 onde	 poderíamos	 ficar	 juntos	 sem	 promessas,	 arrependimentos	 ou
medos...	onde	podíamos	ser	completos	pelo	simples	fato	de	estarmos	juntos.
Uma	onda	de	adrenalina	percorreu	meu	corpo.	Cada	estocada	ficava	mais
profunda,	mais	rápida.	Eu	perdi	o	controle	sobre	o	que	acontecia	entre	nós	dois.
Era	forte	demais,	poderoso	e	maravilhoso.	Eu	estava	me	perdendo	nela.
A	respiração	dela	acelerou,	e	a	minha	também.	Gotas	de	suor	brilhavam
na	pele	dela.	Ela	estava	corada,	quente	e	pronta	para	gozar,	e	eu	também.
Eu	a	penetrei	mais	fundo	sentindo	seu	retesamento	me	abraçar.
–	Agora?	–	perguntei	respirando	contra	seus	lábios	inchados.
–	Sim,	por	favor.
Meus	 quadris	 batiam	 com	 força	 contra	 os	 dela	 e	 ela	 gritou	 chamando
meu	nome	repetidas	vezes,	como	uma	oração.
O	orgasmo	explodiu	preenchendo	nosso	corpo	e	nossa	mente	com	alegria
inebriante,	 espirrando	 em	 nós	 como	 uma	 cachoeira	 que	 fez	 com	 que	 nos
rendêssemos	à	sua	força	esmagadora,	quebrando-nos	em	milhões	de	pedacinhos
e	depois	juntando	tudo	de	novo.
Meu	 pênis	 cresceu	 lá	 no	 fundo,	 preenchendo	 Louise	 com	meu	 amor	 e
satisfação,	tão	forte,	eu	nunca	sentira	aquilo	com	ninguém	além	dela.
Senti	meu	corpo	estremecer	em	êxtase.
–	 Amo	 você,	 Louise	 –	 sussurrei,	 sem	 ar,	 sentindo	 alívio	 absoluto	 me
engolindo.
Ela	beijou	suavemente	meus	lábios,	como	se	bebesse	as	últimas	gotas	da
bebida	mais	deliciosa.
–	Eu	também	–	ela	falou	sorrindo	para	mim.
E	 eu,	 provavelmente	 nunca	 conseguiria	 acordar	 daquela	 minha	 bela
fantasia	se	não	fosse	pelo	maldito	despertador...
	
Um	sonho...	foi	só	um	bendito	sonho!
	
Eu	gemi	em	desespero,	sentindo	o	desejo	doloroso	pulsando	sob	minha
pele.	Aquilo	já	era	demais.	Louise	pagaria	pela	noite	infernal	que	eu	acabara	de
vivenciar.
Joguei	o	cobertor	longe	e	pulei	da	cama	muito	bravo.	Eu	nem	pensei	em
me	vestir,	vestia	somente	a	cueca	boxer.	Abri	a	porta,	cruzei	o	corredor	e	entrei
no	quarto	dela	sem	bater	à	porta.
Ela	estava	sentada	numa	cadeira	lendo	um	livro.	Ainda	vestia	pijama,	e	o
cabelo	caia	nos	ombros.
	–	Will?	–	Ela	 ficou	me	olhando	com	uma	pergunta	não	dita	nos	olhos
encantadores.	Ah,	aqueles	olhos.
Entrei	no	quarto	e	parei	perto	da	cadeira,	dizendo:
–	Você	vai	me	pagar	por	toda	a	maldita	tortura	que	eu	tive	que	suportar
por	sua	causa.
–	Do	que	você	está	falando?	–	perguntou	ela	colocando	o	livro	na	mesa
ao	lado	dela.
–	Disso	–	respondi,	puxando-a	da	cadeira	e	abraçando-a.
Meus	 lábios	 apertaram	os	dela	 sem	aviso	prévio.	Eu	 estava	 ferrado,	 eu
sabia	 que,	 provavelmente,	 não	 teria	 o	 que	 queria	 naquele	momento,	mas	 pelo
menos	um	beijo	eu	tinha	a	intenção	de	conseguir.
Com	a	língua	separei	os	lábios	dela	escorregando-a	para	dentro	da	doce
boca	dela	num	pedido	silencioso.	Ela	não	poderia	me	afastar,	não	de	novo,	não
agora,	quando	eu	 sentia	 como	se	 fosse	perder	o	 controle	 a	qualquer	momento.
Era	 difícil	 demais	 ficar	 longe	 dela	 e	 continuar	 fingindo	 que	 estava	 tudo	 bem.
Não	estava,	e	talvez	fosse	muito	cedo	para	pedir	a	ela	algo	mais	que	um	beijo,
mas	eu	queria	que	ele	soubesse	o	quanto	eu	precisava	dela.	Eu	estava	cheio	de
sentir	a	falta	dela.
Capítulo	7
	
Louise
	
Assim	que	nossos	lábios	se	encontraram	eu	não	pude	evitar	um	gemido
de	deleite	e,	talvez,	até	de	alívio.	Fazia	tanto	tempo	desde	a	última	vez	que	Will
me	 beijara	 daquela	 forma.	 Eu	 quase	 esquecera	 como	 era	 sentir	 os	 lábios
desejosos	dele	nos	meus.	Ele	deslizou	a	 língua	voraz	contra	 a	minha,	 sugando
com	luxúria.	Doce	tortura,	era	simplesmente	impossível	ignorar	o	desejo	ardente
que	eu	sentia	claramente	se	formando	por	dentro.	Não	importava	quanto	tempo	o
Will	 e	eu	 ficássemos	 longe	um	do	outro,	nossos	 sentimentos	não	acabavam.	E
agora	que	estávamos	 tão	próximos	de	novo,	esses	sentimentos	ganharam	ainda
mais	 força	 transpassando	 o	 muro	 da	 minha	 resistência	 com	 cada	 suave
movimento	que	os	lábios	dele	faziam	nos	meus.
Will	colocou	a	mão	no	meu	cabelo	deslizando	os	dedos	por	ele.	Com	a
outra	mão,	 que	 estava	 na	 parte	 inferior	 das	minhas	 costas,	 ele	me	 pressionou
com	força	contra	o	corpo	dele	mostrando	como	ele	estava	excitado.	Puta	merda,
eu	daria	quase	tudo	para	sentir	as	estocadas	do	membro	dele	dentro	de	mim.	E	eu
estava	prestes	a	falar	isso	para	ele,	mas	Will	tinha	outros	planos...
Ele	se	afastou,	dizendo:
–	 Da	 próxima	 vez	 que	 decidir	 invadir	 meus	 sonhos	 esteja	 pronta	 para
repeti-lo	na	vida	real.	–	Pela	cor	dos	olhos,	ele	não	parecia	estar	brincando.	Na
verdade,	ele	estava	meio	bravo,	e	acho	que	eu	sabia	porquê.
–	Não	tenho	controle	sobre	seus	sonhos	–	falei	sentando	na	cadeira	atrás
de	mim.
–	Ah,	 tem	 sim.	 –	 Ele	 se	 aproximou,	 curvou-se	 e	 colocou	 as	mãos	 nos
braços	da	cadeira,	pairando	sobre	mim.
–	 Em	 qualquer	 outra	 situação,	 você	 estaria	 deitada,	 ansiando	 por	mim
antes	mesmo	de	 ter	 a	 chance	de	entender	o	que	estava	acontecendo.	E,	 talvez,
não	tenha	sido	uma	boa	ideia	viver	sob	o	mesmo	teto,	mas	eu	pretendo	ser	bem
recompensado	 por	 cada	 maldito	 segundo	 que	 tive	 que	 manter	 meus	 lábios	 e
minhas	mãos	longe	de	você,	Louise.	Está	claro?
Eu	quase	ri.	–	Claríssimo.
–	Ótimo.	Agora	se	me	dá	licença,	eu	preciso	tomar	um	banho.	–	Ele	se
virou	para	sair	do	quarto,	mas	meu	maldito	demônio	interior	não	poderia	deixá-
lo	ir	sem	dizer	algo...
–	Deixa	bem	gelado	para	você	se	acalmar	–	brinquei.	Peguei	meu	livro	e
fingi	ler,	mesmo	que	eu	não	visse	uma	única	palavra	escrita	nele.
–	 Você	 está	 brincando	 com	 fogo,	 Louise.	 Você	 não	 tem	 medo	 de
incêndio?
Eu	não	olhei	para	ele,	de	propósito,	claro.	–	Eu	não	tenho	medo	de	nada,
Sr.	Blair.	Eu	pensei	 que	você	 já	 tivesse	passado	 tempo	 suficiente	 comigo	para
saber	isso.
–	Este	é	o	problema,	Srta.	Woods,	nunca	fico	tempo	suficiente	com	você.
Então	ele	saiu	do	quarto	e	fechou	a	porta.	Por	um	momento,	pensei	que
as	 paredes	 do	 quarto	 fossem	 desabar	 com	 o	 barulhão	 da	 porta	 quando	 foi
fechada.
Interessante...	como	é	que	iríamos	morar	na	mesma	casa	quando	nenhum
de	nós	estava	pronto	paratal?
Quando	desci	para	tomar	café,	cerca	de	meia	hora	depois,	Will	já	estava
lá,	sentado	a	mesa,	pronto	para	começar	o	dia.
–	Café?	–	perguntou	Christopher	entrando	no	 recinto	com	uma	bandeja
de	prata	nas	mãos.
–	Sim,	por	favor.	–	Sentei	na	cadeira	do	lado	aposto	ao	de	Will,	o	que	fez
Christopher	sorrir.
–	Problemas	no	paraíso?	–	perguntou	baixinho	enquanto	colocava	café	na
minha	xícara.
A	expressão	do	Will	era	triste	como	sempre,	o	que	o	deixava	ainda	mais
lindo.	 Ele	 vestia	 terno	 azul-escuro	 com	 gravata	 combinando	 e	 camisa	 branca.
Altivo	como	sempre.
–	Acho	que	o	Sr.	Blair	 teve	dificuldades	para	dormir	 a	noite	passada	–
respondi.
–	Estou	bem	aqui,	sabiam?	–	bravejou	ele.	–	Posso	ouvir	tudo	o	que	estão
dizendo.
–		Sabemos	disse,	senhor	–	disse	Christopher	tentando	esconder	o	sorriso.
Eu	sorri.	–	Tem	sorvete	na	casa?
–	Sim,	por	quê?
–	Está	ficando	quente	aqui...
Will	me	olhou	como	que	avisando,	mas	eu	ignorei.
–	Devo	 ligar	o	ar	condicionado?	–	perguntou	Christopher,	 fingindo	que
não	sabia	o	que	era	aquele	clima	de	“guerra”.
–	Agora	não.	Vou	para	a	escola.
–	Quantas	aulas	você	 terá	hoje?	–	perguntou	Will	 indiferente,	com	cara
de	paisagem.
–	Três.	E	tenho	reunião	com	a	diretora	da	escola	à	tarde.
Will	e	Christopher	trocaram	um	olhar.	Eles	devem	ter	achado	que	eu	não
perceberia,	mas	percebi.
–	Está	tudo	bem?	–	perguntei	olhando	para	um	e	para	outro.
–	O	Christopher	leva	e	trás	você	da	escola	–	disse	Will	ignorando	minha
pergunta.	–	Não	quero	ninguém	seguindo	você	de	novo.	–	Então	ele	limpou	os
lábios	com	o	guardanapo,	colocou-o	na	mesa	e	levantou-se.
–	Will?	–	chamei.
Ele	parou	na	porta.	–	Sim?
–	Obrigada.
–	Pelo	quê?
–	Pela	paciência.	–	Eu	não	estava	zombando	dele,	mas	ele,	 claramente,
entendeu	mal	minhas	palavras.
–	Não	é	infinita	–	respondeu	ele	saindo	rapidamente.
Eu	suspirei.	–	Você	acha	que	ele	me	odeia?
Christopher	serviu-se	de	café	e	sentou-se	a	minha	direita,	dizendo:
–	Tenho	certeza	de	que	ele	se	odeia	mais.
–	Eu	não	queria	vir	para	cá	e	atrapalhar	a	vida	dele.
–	Eu	sei.	Sua	chegada	não	atrapalhou	nada.	É	que	ele	a	ama	demais	para
ficar	fora	da	sua	vida	e	fingir	que	não	liga.
Eu	nem	soube	o	que	dizer.	Então,	perguntei	outra	coisa.
–	Você	acha	que	temos	chance	de	encontrar	Rea?
–	Por	que	você	quer	encontrá-la?
–	Bem,	primeiro	para	ter	certeza	de	que	ela	está	bem.	Segundo...	porque
ela	pode	me	ajudar	a	encontrar	minha	mãe.
–	 Se	 aceita	 minha	 opinião,	 Louise,	 eu	 acho	 que	 você	 deveria	 esperar
passar	a	eleição.	Pessoalmente,	não	acho	que	ele	será	o	próximo	presidente,	mas
caso	ele	seja	eleito,	você	deverá	ter	ainda	mais	cuidado	com	qualquer	coisa	que
possa	 afetar	 a	 reputação	 dele,	 incluindo	 encontrar	 sua	 mãe	 e	 contar	 a	 ela	 a
verdade.
–	Você	acha	que	ela	pode	querer	contar	para	todos	o	que	ele	fez	quando
me	tirou	dela?
–	Não	sabemos	como	ela	reagirá	à	notícia	de	que	a	filha	está	viva.
–	Às	vezes	fico	pensando	se	ela	teve	outros	filhos...
–	Você	gostaria	de	ter	irmãos?
–	Tecnicamente	 eu	 já	 tenho	duas	 irmãs,	mesmo	que	 elas,	 talvez,	 nunca
saibam	que	eu	existo.
–	Mas	tenho	certeza	de	que	sua	mãe,	seja	ela	quem	for,	ficará	muito	feliz
em	conhecer	você.	Quando	devemos	sair?
–	Estarei	pronta	em	dez	minutos	–	respondi	checando	o	relógio.
–	Ok,	aguardo	você	lá	fora.
Christopher	colocou	a	louça	na	bandeja	e	saiu.
Eu	 fiquei	 sentada	 a	mesa	 pensando	 em	 todos	 os	 segredos	 que	 existiam
em	 na	minha	 vida.	 Drew	 não	me	 ligou	 de	 volta,	 aparentemente	 ele	 não	 tinha
informação	 para	 me	 dar,	 mas	 eu	 ainda	 tinha	 esperança	 de	 que	 conseguiria
descobrir	mais	sobre	a	misteriosa	Debora	Griffin.
Levantei,	 peguei	 uma	maçã	 da	 fruteira	 e	 fui	 me	 trocar.	 Eu	 não	 queria
chegar	 atrasada	 à	 aula.	Além	 disso,	 eu	 precisava	 pegar	 algumas	 coisas	 caso	 a
Sra.	Cormac	quisesse	ver	uma	das	minhas	danças.	Para	hoje,	a	reunião	com	ela
era	o	mais	importante	para	eu	me	concentrar.
	
***
–	Louise,	pode	me	ajudar	com	esses	trajes?	–	perguntou	Leslie,	umas	das
minhas	 colegas	 de	 classe	 tentando	 puxar	 para	 dentro	 da	 sala	 um	 cabideiro
enorme	com	figurinos.
–	Para	que	são	esses	figurinos?	–	perguntei	me	apressando	para	ajudá-la.
–	Precisamos	escolher	os	figurinos	para	a	competição	de	dança	de	salão
na	sexta.	Você	tem	o	que	vestir?
–	Caramba,	esqueci	completamente	da	competição.	–	Com	toda	a	loucura
que	me	cerca,	não	era	surpresa	que	eu	não	tivesse	lembrado.
–	Posso	pegar	um	desses	emprestado?
–	Pode,	mas	não	esqueça	de	devolver.	A	Sra.	Henderson	ficara	brava	se
um	único	precioso	vestido	desaparecer.
Olhei	 os	 vestidos	 e	 encontrei	 um	 que	me	 lembrou	 de	 um	 show	 no	 Le
Papillon.	Era	vermelho	brilhante	com	pequenos	cristais	decorando	as	mangas	e	a
saia.	E	havia	uma	máscara	que	combinava	com	o	vestido.
–	Em	qual	parte	da	competição	você	vai	participar?	–	perguntou	Leslie
olhando	o	vestido	que	eu	escolhera.
–	Tango.	–	Era	uma	das	minhas	danças	favoritas,	sexy,	cheia	de	paixão.
–	Mas	você	não	pode	dançar	sozinha,	você	sabe	disso?
–	Espero	que	um	dos	 rapazes	concorde	em	dançar	comigo.	–	Diferente
dos	 ensaios,	 nas	 competições	 sempre	 precisávamos	 de	 um	 par	 para	 dançar	 e,
felizmente,	havia	alguns	rapazes	no	nosso	grupo	que	eram	muito	bons	em	dança
de	salão.
–	Peça	ao	Gale	para	ajudar	você.	Ele	adora	o	programa	latino-americano.
–	Vou	considerá-lo.	–	Agradeci	a	Leslie	pelo	vestido	e	fui	para	a	sala	da
diretora.	 Era	 quase	 duas	 horas,	 ou	 seja,	 quase	 a	 hora	 de	 conhecer	 a	 famosa
Sabine	Cormac.
	
–	Louise	Woods,	certo?	–	perguntou	a	secretária.
Fiz	que	sim	com	a	cabeça.	Eu	estava	um	tanto	nervosa,	não	sabia	ao	certo
como	agir	na	presença	dela.	Seria	o	pior	momento	fanática	de	todos.
–	Siga-me,	por	favor.	A	Sra.	Cormac	a	aguarda.
Sem	 falar	 nada	 eu	 segui	 a	 secretária	 até	 a	 sala	 espaçosa,	 decorada	 em
tons	de	marfim	e	azul.	Uma	das	paredes	era	coberta	de	espelhos	que	 refletiam
tudo	na	sala.	Eu	não	esperaria	menos	de	uma	dançarina	mundialmente	famosa.
Caminhei	até	uma	das	cadeiras	perto	da	mesa	da	diretora	e	me	sentei.
Pouco	 tempo	depois,	eu	vi	abrir	uma	porta	à	direita,	que	eu	não	notara
antes.	Sabine	entrou	na	sala,	sorrindo	para	mim	e	dizendo:
–	Olá,	Louise	Woods.	Finalmente	tenho	a	oportunidade	de	conhecer	uma
das	minhas	melhores	alunas.	–	Ela	era	exatamente	como	naquelas	fotos	que	eu
poderia	 ficar	 olhando	 por	 horas,	 imaginando	 a	 mim	 mesma	 sendo	 uma
profissional	como	ela	um	dia.	Ela	tinha	por	volta	de	40	anos,	cabelos	curtos	cor
de	areia	e	grandes	olhos	azuis	que	eu	poderia	jurar	que	viam	através	de	mim.	Ela
vestia	um	vestido	verde-escuro	na	altura	dos	joelhos	com	um	cintinho	dourado
marcado	a	cintura	 fina.	Ela	estava	em	forma.	Sem	dúvida	ela	passava	bastante
tempo	treinando	e	dançando.
Eu	estava	tão	sem	jeito	pelas	palavras	dela	que	mal	consegui	dizer	algo
em	resposta.
–	É	uma	honra	estar	aqui	e	conhecê-la	pessoalmente,	Sra.	Cormac.
–	Ah,	 o	 prazer	 é	 todo	meu,	 Louise.	Ouvi	maravilhas	 sobre	 você.	 Seus
professores	estão	muito	satisfeitos	em	ver	que	mesmo	uma	estudante	do	primeiro
ano,	como	você,	pode	ser	tão	bem	treinada	e	talentosa.
–	Há	estudantes	que	dançam	muito	melhor	que	eu	–	 respondi,	 sentindo
meu	rosto	corar.
Sabine	sentou-se	em	sua	cadeira	em	couro	e	sorriu	para	mim.
–	Eu	vi	 um	vídeo	de	 uma	de	 suas	 apresentações.	 Impressionante,	 devo
dizer.	Foi	ideia	sua	combinar	dança	de	cabaré	com	balé	numa	mesma	dança?
–	 Foi.	 Eu	 trabalhei	 num	 cabaré.	 Aprendi	 muito	 lá.	 –	 Eu	 não	 tinha
vergonha	 de	 contar	 para	 ela	 onde	 eu	 trabalhava	 antes.	 Não	 era	 como	 se	 eu
dançasse	por	dinheiro	ou	dormisse	com	os	homens	que	assistiam	a	meus	shows.
Além	 disso,	 eu	 era	 muito	 grata	 a	 Kate	 por	 tudo	 que	 ela	 me	 ensinara	 para
menosprezar	as	lições	dela.
–	 Eu	 adorei	 sua	 dança.	 Deveríamos	 inclui-la	 no	 programa	 para	 nosso
show	de	primavera	ano	que	vem.
–	Ah,	meu	Deus!	Nem	sei	o	que	dizer...	Obrigada!
–	 Não	 me	 agradeça,	 agradeça	 a	 seus	 pais	 por	 criarem	 uma	 filha	 tão
talentosa.	Eu	apenas	ajudo	os	talentos	a	brilharem.Sorri	com	tristeza.	–	Adoraria	poder	fazer	isso,	mas	não	tenho	pais.
A	fisionomia	dela	entristeceu.	–	Ah,	desculpe,	Louise.	Eu	não	sabia.
–	Tudo	bem.	Eu	nunca	tive	uma	família,	cresci	num	orfanato.
–	Deve	ter	sido	difícil	para	você.
–	 Tento	 não	 pensar	 nisso.	 Ainda	 sou	 jovem,	 e	 tenho	 a	 vida	 toda	 para
viver	e	criar	novas	lembranças.
–	Fico	feliz	em	saber	que	você	não	fica	olhando	para	o	passado,	Louise.
Às	vezes	é	melhor	focar	no	futuro	do	que	deixar	o	passado	desanimar	você.	Mais
tristeza	surgiu	no	rosto	dela.	Fiquei	pensando	se	havia	algo	no	passado	dela	que
ela	desejasse	mudar.
–	 Concordo	 totalmente,	 Sra.	 Cormac.	 Aposto	 que	 seus	 filhos	 adoram
dançar	mais	que	tudo.
Ela	balançou	a	cabeça	baixando	os	olhos.
–	Bem	que	eu	gostaria...	mas	meu	marido	e	eu	não	temos	filhos.
–	Desculpe,	eu	não	sabia.
–	Tudo	bem.	Todos	temos	algo	do	qual	preferimos	não	falar,	não	é?
Assenti,	 sentindo-me	 tola.	 Eu	 deveria	 ter	 pensado	 duas	 vezes	 antes	 de
falar	sobre	a	família	dela.	Afinal,	eu	nunca	lera	nada	sobre	a	vida	pessoal	dela,	a
maioria	dos	artigos	falavam	da	carreira	e	dos	sacrifícios	para	ser	uma	dançarina
profissional.
–	Por	que	não	falamos	de	algo	mais	alegre?	–	perguntou	Sabine.	–	Você
gosta	de	dar	aulas	para	as	crianças?
–	Gosto	muito.
–	Espero	que	eles	não	a	façam	se	arrepender	de	ser	dançarina.	–	Ela	riu.
–	Não,	de	forma	alguma.	Muito	pelo	contrário,	olho	para	eles	e	lembro	de
mim	na	idade	deles.	Eu	sempre	amei	dançar,	não	sei	porque.	Talvez	algum	dos
meus	pais	inexistentes	era	dançarino,	quem	sabe?
–	Tudo	é	possível.	Pessoalmente	acredito	que	os	genes	do	talento	passam
de	 uma	 geração	 para	 outra.	 É	 que,	 às	 vezes,	 nos	 interessamos	 por	 coisas
diferentes	 do	 que	 nossos	 pais	 e	 avós	 se	 interessaram.	 Então,	 diga-me,	 Louise,
quais	 são	 seus	 planos	 para	 o	 futuro?	 Vai	 continuar	 dançando	 depois	 que	 se
formar?
–	Espero	que	sim.	Espero	poder	viajar	e	aprender	mais	sobre	as	danças	de
outros	países.	E,	claro,	quero	que	a	dança	seja	meu	futuro.
–	Você	 gostaria	 de	 ficar	 aqui,	 quero	 dizer,	 depois	 da	 formatura	 e	 fazer
parte	do	corpo	de	baile?
–	A	senhora	está	falando	sério?	Fazer	parte	do	corpo	de	baile	da	Balero
é...	meu	Deus!	É	como	a	melhor	coisa	que	já	me	aconteceu!
–	Eles	viajam	muito	e	sempre	aprendem	algo	novo.	Tenho	certeza	de	que
você	vai	adorar	fazer	parte	do	grupo.
–	Mas...	a	senhora	acha	que	eu	vou	ficar	tão	boa	quanto	eles	são?
Sabine	sorriu.	–	Tenho	olhos	para	identificar	talentos,	Louise.	Nunca	erro
quando	se	trata	de	reconhecer	os	verdadeiros.
–	Então,	sim,	eu	ficaria	muito	feliz	de	fazer	parte	do	corpo	de	baile	um
dia.
–	Ótimo.	Isso	significa	que	teremos	mais	uma	pessoa	talentosa	no	time.
Três	anos...	eu	só	tinha	que	esperar	mais	três	anos	para	viver	o	sonho	que
eu	nunca	poderia	imaginar	que	se	realizaria.
–	Claro	que	você	vai	trabalhar	muito	–	disse	Sabine.
–	Isso	não	é	problema.
Ela	riu.	–	Sabe	de	uma	coisa?	Olho	para	você,	Louise,	e	me	vejo	20	anos
atrás,	quando	eu	estava	bem	no	início	da	carreira	de	dançarina.	Eu	não	via	nada
nem	ninguém	 ao	meu	 redor,	 estava	 focada	 em	novas	 ideias	 para	meus	 shows,
mal	tinha	tempo	de	respirar.
Ah,	se	ela	soubesse	como	entendia	o	que	ela	estava	falando.	Passei	cinco
meses	treinando	feito	louca.	E,	claro,	se	não	fosse	pelo	Will	e	meu	desejo	louco
de	 vê-lo	 de	 novo,	 eu,	 provavelmente,	 daria	 um	 tempo	 e	me	 divertiria	 fora	 da
escola.	Mas	eu	precisava	de	algo	para	não	pensar	no	Will	e	a	dança	pareceu	o
motivo	perfeito.
Eu	nunca	parei	de	pensar	nele.	Cada	nova	dança	que	eu	criava,	era	para
ele.	E	sempre	que	eu	estava	dançando	eu	o	 imaginava	me	assistindo,	como	na
primeira	noite	que	nos	encontramos	em	Le	Papillon.
–	Espero	que	tenhamos	outras	oportunidades	de	conversar,	Louise.	Estou
planejando	 ficar	 nos	 Estados	 Unidos	 pelos	 próximos	 dois	 meses,	 então,	 vejo
você	num	dos	seus	ensaios.
–	Claro	–	falei	me	levantando.	–	E,	de	novo,	obrigada	pela	proposta,	Sra.
Cormac.
–	Tenha	um	bom	dia,	Louise.
	
Capítulo	8
	
Palavras	não	eram	suficientes	para	descrever	como	eu	estava	feliz	depois
da	 reunião	 com	 Sabine	 Cormac.	 Sem	 contar	 a	 empolgação	 só	 de	 pensar	 em
dançar	com	os	melhores	da	Balero.	Era	melhor	do	que	a	 realização	do	melhor
sonho	 meu.	 Para	 uma	 criança	 de	 Paradise,	 como	 eu,	 era	 algo	 além	 do
entendimento,	bom	demais	para	ser	verdade,	mas	tão	real	ao	mesmo	tempo.	E	eu
não	deixaria	aquela	realidade	se	perder	ou	mesmo	desistiria	dela.
–	 Parece	 que	 você	 não	 consegue	 parar	 de	 sorrir,	 Louise	 –	 disse
Christopher	me	observando	pelo	espelho	retrovisor.	–	O	que	foi?	–	Estávamos	a
caminho	de	casa,	mas	eu	estava	tão	perdida	nos	pensamentos	sobre	o	dia	que	não
percebi	de	imediato	que	ele	falava	comigo.
Depois	de	um	tempo,	eu	disse:
–	Lembra	que	comentei	 sobre	a	 reunião	hoje	com	a	diretora	da	escola?
Então,	foi	melhor	do	que	eu	poderia	imaginar.	Sabine	é	uma	pessoa	maravilhosa.
E	uma	linda	mulher,	entre	outras	coisas.	–	Que	pena	que	ela	não	tinha	filhos	para
deixar	seu	legado	ou	mesmo	passar	a	beleza	e	o	talento.
–	Então	você	gostou	dela?
–	Ah,	sim,	gostei.	Na	verdade,	nunca	pensei	que	seria	tão	fácil	conversar
com	 alguém	 famoso.	 Em	 nenhum	momento	 ela	me	 fez	 sentir	 que,	 de	 alguma
maneira,	eu	era	menos	estudada	ou	menos	experiente	do	que	ela.	Ela	conversou
comigo	como	se	fossemos	iguais,	como	amigas	mesmo.
–	Bem,	isso	é	ótimo,	não	é?
–	Acho	 que	 sim.	 Bem,	 não	 é	 como	 se,	 de	 repente,	 fossemos	melhores
amigas,	mas	algo	me	diz	que	posso	confiar	nela.	Sabe,	não	tenho	muitas	pessoas
em	quem	confiar.
–	Tenho	certeza	de	que	você	pode	confiar	nela.	Eu	pesquisei	sobre	ela...
mesmo	antes	de	você	receber	a	carta	oficial	dizendo	que	fora	aceita	na	escola.
Franzi	a	testa.	–	Sabe,	Christopher,	é	desagradável	saber	que	você	sempre
está	um	passo	à	frente.	Como	você	faz	isso?
–	Gosto	de	confiar	nas	pessoas	que	tenho	por	perto.	Assim	como	aquelas
pessoas	de	quem	gosto.
As	palavras	dele	me	fizeram	lembrar	de	algo.
–	 Acho	 que	 esta	 é	 uma	 das	 coisas	 que	 você	 e	 o	 pai	 do	Will	 tem	 em
comum	 –	 comentei.	 Eu	 sabia	 que	 ele	 entenderia	 de	 imediato	 se	 eu	 tentasse
descobrir	 algo	 sobre	 o	 acidente	 que	 acontecera	 anos	 antes,	mas	 eu	 poderia	 ao
menos	tentar	fazer	com	que	minhas	perguntas	parecem	simples	curiosidade.
Christopher	 suspirou.	 –	 Eu	 e	 ele	 tínhamos	 muito	 em	 comum.	 Ele
confiava	 em	mim,	 e	 eu	 sabia	 que	 sempre	 poderia	 contar	 com	 ele.	 Ele	 era	 um
homem	 de	 palavra,	 honesto	 e	 muito	 responsável.	 Ele	 nunca	 demitiu	 ninguém
sem	uma	boa	razão.	E,	mesmo	que	demitisse,	ela	se	certificava	de	que	a	pessoa
tivesse	outro	trabalho	em	vista	antes.
–	Will	 não	me	 contou	muito	 sobre	 a	 família	 dele.	 Por	 que	 a	mãe	 dele
decidiu	mudar	para	a	Europa?
–	Quando	William	 era	 criança,	 o	 pai	 dele	 não	 tinha	muito	 tempo	 para
ficar	 com	 a	 família.	 Ele	 os	 amava,	 mas	 o	 trabalho	 e	 as	 obrigações	 como
presidente	da	empresa	demandavam	toda	a	atenção	dele,	então	Will	e	a	Sra.	Blair
não	tinham	escolha	a	não	ser	se	acostumarem	a	viver	sem	ele.	Algumas	poucas
horas	por	semana	não	podiam	ser	chamadas	de	vida	normal	em	família.	Eu	sei
que	Angela	 não	 gostava	 da	 situação,	mas	 ela	 amava	 o	marido	 e	 percebeu	 que
tudo	que	ele	fazia	era	por	ela	e	pelo	filho	deles.	Mas	depois	da	tragédia	ela	não
suportou	a	ideia	de	continuar	morando	nos	Estados	Unidos.	Ela	estava	desolada.
Ela	detestava	a	casa	e	tudo	que	a	fazia	lembrar	do	amor	da	vida	que,	de	uma	hora
para	 outra,	 se	 fora	 para	 sempre.	 Ela	 decidiu	 ir	 para	 onde	 as	 lembranças	 não
seriam	 tão	dolorosas.	Ela	morou	na	 Itália	por	 alguns	 anos,	 depois	mudou	para
Paris	e	agora	mora	em	Barcelona.	Ela	não	gosta	de	ficar	no	mesmo	lugar	muito
tempo.
Eu	nunca	pensara	no	assunto,	mas	outra	dúvida	surgiu	em	minha	mente.
–	Você	acha	que	ela	aprovará	que	o	filho	esteja	com	alguém	como	eu?	–
perguntei,	com	receio	de	ouvir	a	resposta.	Eu	sabia	tão	pouco	sobre	a	mulher	que
criara	Will,	mas	como	qualquer	outra	mãe,	 eu	 tinhacerteza	de	que	ela	 tinha	a
imagem	da	esposa	ideal	para	o	filho.
–	 Com	 alguém	 como	 você?	 –	 Christopher	 repetiu	 minhas	 palavras,
estacionando	o	carro	na	casa.	–	Você	é	uma	pessoa	maravilhosa,	Louise.	E	você
faz	Will	feliz,	o	que	é	o	que	importa	para	Angela.	Ela	sempre	disse	que	os	pais
falham	se	os	filhos	não	são	felizes.
–	Mas	nem	sempre	cabe	aos	pais	garantir	que	seus	filhos	sejam	felizes,
principalmente	quando	já	são	adultos	e	já	saíram	de	casa.
–	Verdade,	mas	o	que	 se	vive	quando	criança	 forma	o	 adulto	que	você
será.	Felizmente,	sua	personalidade	não	foi	afetada	pela	vida	que	você	teve	em
Paradise.	Tenho	certeza	de	que	Angela	verá	isso	também.
–	Espero.	Eu	não	gostaria	que	ela	e	Will	brigassem	por	minha	causa.	–
Algo	me	dizia	que	Will	não	quebraria	o	vínculo	comigo	de	bom	grado.	 	Eu	só
não	 sabia	 se	 essa	 era	 boa	 ou	má	 notícia.	Nossa	 vida	 era	 tão	 complicada	 e,	 às
vezes,	eu	achava	que	era	eu	quem	complicava...
Christopher	 desligou	 o	motor,	 saiu	 do	 carro	 e	 deu	 a	 volta	 para	 abrir	 a
porta	para	mim,	dizendo:
–	A	único	assunto	pelo	qual	Will	e	a	mãe	discutiram	era	a	dedicação	dele
aos	 negócios	 do	 pai.	Angela	 não	 quer	 que	 o	 único	 filho	 passe	 o	 resto	 da	 vida
perseguindo	algo	que	não	pode	fazer	uma	pessoa	feliz.	Ela	acredita	que	dinheiro
e	poder	arruínam	tudo.	Por	isso	eu	tenho	certeza	de	que	ela	vai	gostar	de	você.
Sobretudo,	depois	de	ver	o	modo	como	o	filho	olha	para	você.
Suspirei	ao	lembrar	daqueles	momentos	em	que	flagrei	Will	me	olhando.
Sempre	havia	 tanto	 amor	no	olhar	 dele,	 tanta	 adoração,	 até	 certa	 dependência.
Às	vezes	me	assustava.	Eu	ainda	não	sabia	como	nossa	história	acabaria.	Quanto
mais	passava	o	tempo	desde	nosso	primeiro	dia	de	“vida	independente”,	menos
eu	tinha	certeza	se	estava	pronta	para	ficar	com	William.	Ele,	sem	dúvida,	era	o
homem	dos	sonhos	de	qualquer	mulher,	inclusive	dos	meus.	Só	que	eu	não	sabia
viver	aquele	sonho	sem	me	perder	no	meio	do	caminho.	Isso	eu	não	podia	deixar
acontecer,	não	depois	dos	anos	que	passei	no	orfanato	onde	personalidade	não
valia	nada.	Lá,	todos	eram	iguais,	ninguém	tinha	o	direito	de	ser	diferente,	de	ser
melhor	que	os	outros.
Havia	algo	mais	em	que	eu	sempre	pensava.	Eu	nunca	perguntara	a	Will
sobre	as	ex-namoradas	dele.	Eu	não	sabia	que	 tipo	de	mulher	ele	gostava.	Por
um	 lado,	 eu	 estava	muito	 empolgada	 de	 saber	 que	 ele	 preferia	 a	mim	 a	 quem
quer	que	tivesse	namorado	antes.	Mas,	por	outro	lado,	eu	não	tinha	muita	certeza
de	que	eu	era	a	garota	certa	para	ele.	E	“garota”	era	a	palavra	chave.	Mesmo	que
nunca	tenhamos	falado	sobre	nossa	diferença	de	idade,	em	momentos	como	o	de
agora,	eu	sentia	como	se	fosse	uma	barreira	enorme	no	caminho	para	nosso	final
feliz.
–	Will	 está	 em	casa?	 –	 perguntei	 para	 o	Christopher.	Não	havia	 luz	 na
casa.
–	Acredito	que	sim,	olha	o	carro	dele.	–	Ele	apontou	para	a	garagem.
Preciso	 ver	 o	Will.	 Talvez	 ele	 esteja	 bravo	 comigo	 pelo	 que	 aconteceu
pela	manhã,	mas	eu	quero	falar	com	ele.	Quero	perguntar	como	foi	o	dia	dele	e
aproveitar	 para	 ficar	 alguns	minutos	 na	 companhia	 convidativa	 dele.	 Era	 bem
difícil	resistir	a	ele,	especialmente	agora	que	eu	sabia	que	havia	pouca	distância
entre	nós.
Entrei	na	casa	e	ouvi	música	vindo	do	escritório	do	Will.	Aproximei-me
e	ouvi	 a	música.	Era	 a	 que	 tocara	 quando	 eu	dancei	 para	 ele	 em	nossa	 última
noite	juntos.	A	música	trouxe	muitas	lembranças	excitantes	a	minha	mente.	Cada
toque	 e	 cada	 beijo	 que	 recebi	 dele	 aquela	 noite	 queimava	 na	minha	memória,
torturando-me,	fazendo	meu	coração	sangrar	quando	ele	não	estava	comigo.
Desnecessário	 dizer	 que,	 eu	 ainda	 o	 desejava	 ardentemente,	 talvez	 até
mais	do	que	quando	nos	 encontramos	pela	primeira	vez	meses	 atrás.	E	pensar
que	ele	seguira	os	acontecimentos	da	minha	vida	por	anos	e	garantindo	que	nada
de	 ruim	me	 acontecesse	 só	 fez	meus	 sentimentos	 por	 ele	 aumentarem.	 Talvez
fosse	só	porque	eu	nunca	tivera	alguém	que	se	preocupasse	comigo,	de	verdade,
sem	intenções	secretas	ou	planos	para	meu	futuro.	Ele	fez	tudo	por	generosidade
que,	 de	 alguma	 forma,	 transformou-se	 em	 amor	 incondicional.	 Eu	 nunca
imaginei	 que	 o	 amor	 de	 um	 homem	 por	 uma	 mulher	 pudesse	 ser	 tão	 puro	 e
infinito.
Quando	a	música	acabou,	eu	bati	à	porta	que	estava	entreaberta.
–	Oi,	 posso	 entrar?	 –	 perguntei,	 vendo	Will	 sentando	 no	 sofá	 com	 um
copo	de	uísque	na	mão.	Ele	ainda	vestia	a	mesma	camisa	da	manhã.	O	paletó	e	a
gravata	estavam	pendurados	no	encosto	do	sofá.
Ele	 parecia	 cansado,	 bem	 cansado.	Ou,	 talvez,	 ele	 só	 estivesse	 triste,	 e
acho	que	eu	sabia	a	razão,	ou	melhor,	quem	era	a	razão.
–	Venha	 aqui	 –	 disse	 ele,	 esticando	 uma	mão	 para	mim.	 –	Quer	 beber
algo?
–	Não,	obrigada.	Eu	só	queria	ver	você.
Sentei-me	ao	lado	dele,	ele	colocou	o	braço	no	meu	ombro	e	me	puxou
para	perto,	beijando	minha	cabeça.
–	Como	 foi	 seu	dia?	–	Ele	perguntou	baixinho.	Outra	música	 começou
preenchendo	o	espaço.	Era	uma	música	lenta	e	bonita,	fez-me	lembrar	do	conto
de	fada	com	um	príncipe	e	uma	princesa	caminhando	no	campo	num	dia	de	sol,
de	mãos	dadas	e	cantando.
–	Foi	bom,	ótimo,	na	verdade.	–	 Inclinei-me	um	pouco	mais	para	perto
dele,	passando	um	braço	pela	cintura	e	 repousando	a	cabeça	no	peito	dele.	Eu
podia	ouvir	cada	batida	do	coração	dele.
–	O	que	houve	de	ótimo?	–	perguntou	ele	passando	a	mão	para	cima	e
para	baixo	nas	minhas	costas.
	Foi	um	momento	 tão	 tranquilo.	Tão	diferente	do	humor	 tempestuoso	e
dos	beijos	enlouquecidos	que	tivéramos	pela	manhã.
–	 Finalmente	 conheci	 Sabine	 Cormac,	 e	 foi...	 um	 dos	 melhores
momentos	de	toda	minha	vida.
O	peito	do	Will	subiu	e	desceu	embaixo	da	minha	bochecha.
–	 Você	 gostou	 dela?	 –	 ele	 perguntou.	 Talvez	 eu	 estivesse	 imaginando
coisas,	mas	posso	jurar	que	senti	preocupação	nas	palavras	dele.
–	Gostei	muito	 –	 eu	 disse,	 curtindo	 o	 cheiro	 do	 perfume	 dele.	 –	 Ela	 é
maravilhosa,	e	muito	gentil.	Ela	não	tem	filhos,	acredita?
O	corpo	do	Will	ficou	tenso	com	minhas	palavras.	Olhei	para	ele,	mas	o
semblante	não	dizia	nada.
–	O	que	foi?	–	perguntei,	confusa.
Ele	forçou	um	sorriso.	Eu	sempre	sabia	quando	era	forçado.	–	Nada,	só
não	tive	o	melhor	dos	dias.	–	Então	ele	me	beijou	de	novo,	na	testa	desta	vez	e
me	puxou	para	um	abraço.
–	Foi	ruim	por	minha	causa?	–	ousei	perguntar.	Eu	sabia	que	não	era	fácil
para	 ele	 estar	 me	 vendo	 agora.	 Eu	 sabia	 que	 ele	 estava	 prestes	 a	 perder	 a
paciência	 comigo.	Eu	podia	 sentir,	 na	 verdade,	 principalmente	depois	 do	beijo
que	ele	me	dera	pela	manhã.
–	Não,	você	torna	meus	dias	melhores.
Eu	tinha	duvidas	se	ele	estava	sendo	honesto	comigo.
–	Posso	ir	embora	se	você	quiser	–	falei.
–	Não,	Louise.	Você	 fica	 aqui.	Mesmo	que	 eu	 precise	 ficar	 sozinho	 eu
prefiro	 ir	 para	 um	 hotel	 a	 permitir	 que	 alguém	 fique	 seguindo	 você,	 ou	 pior,
machuque	 você.	Além	disso,	 como	 eu	 já	 disse,	 você	 não	 tem	nada	 a	 ver	 com
meu	mau	humor.
–	Problemas	no	trabalho?
–	Não	exatamente...	–	Ele	suspirou	de	novo.	–	Há	dezoito	anos	eu	entrava
pela	 primeira	 vez	 no	 escritório	 do	 meu	 pai.	 	 Aquele	 dia	 mudou	 minha	 vida.
Mudou	tudo	para	mim,	mudou	a	mim.
–	Você	sente	falta	dele?
–	O	tempo	todo...
Eu	gostaria	de	dizer	o	mesmo	pelo	menos	sobre	um	dos	meus	pais.	Mas
eu	nunca	soube	o	que	era	ter	pais.	Eu	não	conhecia	nada	sobre	o	amor	que	outras
crianças	 recebiam	 dos	 pais.	 Eu	 nem	 imaginava	 o	 que	 era	 sentir	 falta	 de	 um
familiar.
–	 Sabe,	 aconteceu	 algo	 estranho	 hoje,	 durante	 minha	 conversa	 com	 a
Sabine.	–	Movimentei-me	para	poder	ver	o	rosto	dele	e	continuei.	–	Houve	um
momento	 em	 que	 eu	 estava	 olhando	 para	 ela	 me	 peguei	 pensando	 em	minha
mãe,	 sobre	 as	 coisas	 que	 poderíamos	 fazer	 juntas,	 como:	 cozinhar,	 decorar	 a
árvore	 de	 Natal	 ou	 simplesmente	 conversar	 tomando	 uma	 xícara	 de	 chá.
Estranho,	 não	 é?	Eu	 não	 sei	 por	 que,	mas,	 de	 repente,	 comecei	 a	 pensar	 nela.
Talvez	porque	eu	imaginei	alguém	comoSabine	sendo	minha	mãe,	linda,	meiga
e	atenciosa.	Alguém	que	me	amaria	pelo	que	eu	sou,	e	não	pelo	que	posso	ser
quando	danço.
–	Ah,	Louise,	querida...	você	sabe	que	eu	amo	você,	certo?
Eu	sorri	para	ele.	–	Claro	que	sei.
–	Eu	a	amo	por	quem	você	é,	por	 tudo	que	você	 significa	para	mim,	e
isso	nunca	vai	mudar.	–	Ele	desenhou	uma	linha	com	o	dedo	no	meu	queixo,	e
todo	meu	corpo	tremeu.
–	Beije-me	–	eu	disse	de	repente,	minhas	palavras	surpreendendo	a	nós
dois.	–	Beije-me	como	você	fez	na	noite	que	eu	dancei	para	você	aqui	nesta	casa,
no	seu	quarto.
Ele	fechou	os	olhos	balançando	a	cabeça.	–	Não	posso,	não	posso	porque
não	vou	conseguir	parar	 só	no	beijo,	Louise.	Não	depois	de	 saborear	a	doçura
dos	seus	lábios	de	novo.	Aquele	beijo	hoje	de	manhã...	você	nem	imagina	como
eu	estava	perto	de	perder	o	controle.	Ficar	longe	de	você,	sonhar	com	você	e	não
poder	nem	beijar	você,	é	tortura.	Você	não	entende...
–	Eu	entendo	–	eu	disse,	 tocando	o	rosto	dele	com	a	mão.	–	Deus	sabe
que	você	não	é	o	único	sendo	torturado	aqui.
–	Então	por	que	ainda	estamos	vestidos?
Eu	ri.	–	Conversando?
–	Não?	Sério,	Srta.	Óbvio?	De	verdade,	Louise,	 qual	 é	 o	 problema	 em
fazer	amor	comigo?
–	Aí	é	que	está,	Will,	não	há	problema	algum.	O	problema	mesmo	vem
depois,	quando	eu	acordo	no	seu	quarto,	na	sua	cama,	com	você	ao	meu	lado...
eu	não	conseguiria	ir	embora.
–	Ir	embora?	É	isso	que	você	vai	fazer,	de	novo?
–	Não,	mas...	é	complicado.	Abaixei	a	mão	e	me	afastei	dele.	Que	pena,
não	havia	meio	de	me	esconder	do	olhar	penetrante	dele.	Eu	podia	sentir	a	força
sem	nem	ao	menos	olhar	para	ele.	–	Você	sabe	que	não	existe	nada	melhor	para
mim	do	que	 ficar	para	 sempre	 com	você,	deixar	você	me	 fazer	 feliz,	 esquecer
meu	passado	e	 seguir	 em	 frente	para	o	novo	mundo	em	que	 eu	não	precisaria
fugir	ou	pedir	que	você	fique	longe	de	mim.
–	Então	deixa	para	lá,	Louise,	deixe	tudo	para	lá	e	fica	comigo.	–	Ele	se
aproximou	e	tomou	minhas	mãos	nas	dele,	dizendo:
–	Não	consigo	 imaginar	minha	vida	 sem	você,	 não	depois	de	 tudo	que
vivemos	juntos.
Não	sei	o	que	me	 levou	a	agir,	mas	os	olhos	do	Will	 imploravam,	meu
coração	ficou	apertado.	Peguei	o	rosto	dele	e	puxei	para	perto	até	nossos	lábios
se	encontrarem.	Eu	não	o	faria	sofrer	de	novo	e	eu	sabia	que	um	beijo	não	seria
suficiente,	mas	eu	queria	confortá-lo,	confortar	a	mim	mesma,	fazê-lo	sentir	meu
amor.
Devagar	movi	os	lábios	sobre	os	dele.	Era	tão	diferente	do	beijo	que	ele
me	dera	pela	manhã.	Aquele	beijo	era	cheio	de	raiva,	e	paixão,	e	desejo	que	ele
não	tinha	certeza	de	que	poderia	acalmar.	Desta	vez	ele	não	apressou	nada.	Ele
me	 permitiu	 dizer	 a	 ele	 o	 que	 eu	 quisesse	 com	 aquele	 beijo,	 e	 eu	 garanti	 que
minha	mensagem	fosse	clara	antes	de	me	afastar.
Eu	amo	você,	tenha	paciência	comigo,	por	favor.
Então,	quando	interrompi	o	beijo	ele	não	tentou	me	beijar	de	novo	nem
fez	movimentos	para	os	quais	eu	não	estava	pronta.
Ele	 sorriu.	De	 novo,	 um	 sorriso	 triste	 que	 eu	 já	 vira	muitas	 vezes	 nos
últimos	dez	minutos.	–	Por	que	isso?	–	ele	perguntou	roçando	meu	queixo	com	a
ponta	dos	dedos.
–	Por	estar	comigo	agora.
–Se	eu	receber	um	beijo	por	cada	momento	que	eu	passei	com	você,	me
recuso	a	passar	um	segundo	se	quer	sem	você.
Em	 vez	 de	 comentar,	 inclinei-me	 para	 frente	 e	 dei	 outro	 beijinho	 nos
lábios	dele.
–	Conte-me	mais	sobre	seu	pai.	Sei	tão	pouco	sobre	sua	família.
Ele	respirou	fundo	e	assentiu.	–	Mudou	de	assunto.	Certo.
Eu	ri.	–	Me	pegou,	mas	é	melhor	assim.
–	Conversar	com	você	é	melhor	do	que	nem	ver	você.	Têm	sido	meses
infernais,	Louise.	Eu	não	quero	que	continue	assim	para	sempre.	Você	está	me
ouvindo?	Não	posso	continuar	assim,	está	me	matando.
–	Verei	o	que	posso	fazer	a	respeito	–	eu	disse	ainda	sorrindo.
–	Estou	falando	sério.	Nem	ouse	desaparecer	da	minha	vida	de	novo.	Eu
vou	encontrar	você,	então	não	desperdice	seu	tempo	fugindo.
–	Você	tem	fotos	do	seu	pai?	Nunca	o	vi.
–	Ok,	tudo	bem.	Mudando	de	assunto,	por	enquanto,	mas	a	conversa	não
terminou.	Continuaremos	quando	você	 estiver	pronta.	Quanto	 às	 fotos	do	meu
pai,	sim,	 tenho	algumas.	Milhares	na	verdade.	Adoro	fotografia,	 lembra?	–	Ele
se	 levantou	 e	 foi	 até	 uma	 estante	 e	 pegou	 uma	 caixa	 com,	 presumi,	 fotos	 da
família.
–	Acredite,	é	difícil	esquecer	sua	paixão	por	fotografia.	–	Eu	ainda	tinha
as	 fotos	 que	 ele	 tirara	 de	mim	 em	 Paris.	 Eu	 adorava	 olhá-las,	 em	 especial	 as
tiradas	na	nossa	primeira	noite	juntos.
Ele	deu	um	sorrisinho	maroto.	Ele	lembrava	daquela	noite	também.
–	Deveríamos	repetir	um	dia	desses	–	ele	disse	sentando-se	perto	de	mim.
–	Você	acha?
–	Se	 não	me	 falhe	 a	memória,	 você	 gostou	 das	 fotos	 que	 tirei	 de	 você
tanto	quanto	eu	gostei	de	tirar	fotos	suas.
–	Tenho	que	concordar.
–	 Bom	 saber.	 Tem	 ao	 menos	 uma	 coisa	 que	 você	 tem	 que	 concordar
comigo.
Eu	 soquei	 o	 ombro	dele	 de	 leve.	 –	Na	verdade	não	 é	 uma	 coisa...	mas
falaremos	do	resto	depois.
–	Quando?	–	Ele	ergueu	as	sobrancelhas	questionador,	observando-me.
–	Para.
–	Parar	o	quê?
–	Você	sabe	o	quê.	Quando	você	me	olha	assim,	eu	não	consigo	pensar
direito.
–	Tudo	culpa	minha	–	disse	Will	abrindo	a	caixa.	–	Olhar	para	você	é	das
poucas	opções	que	tenho	no	momento.
–	Pare	de	reclamar.	Pelo	menos	agora	que	eu	moro	aqui,	você	tem	muitas
oportunidades	de	me	ver.
–	Se	você	acha	que	isso	me	faz	sentir	melhor,	você	está	errada.
–	Puxa,	é	tão	difícil	agradá-lo,	Sr.	Blair!	Vamos	ver	as	fotos	que	você	tem
na	caixa.
–	Na	verdade,	não	é	tão	difícil	me	agradar.	E	você,	entre	todas	as	pessoas,
deveria	saber	disso.	–	Ele	parecia	um	garotinho	reclamando	que	alguém	levara
seu	brinquedo	favorito.	Sorri	mentalmente	comigo	mesma.
–	Pare	de	ficar	pensando	em	me	arrastar	para	o	seu	quarto	e	me	fale	mais
sobre	sua	família.
–	Falar	é	fácil	–	resmungou	ele	em	resposta.
Peguei	 uma	 das	 fotos	 na	 caixa	 que	 estava	 nas	 mãos	 dele,	 fora	 tirada
naquela	casa	mesmo.
–	Foi	 tirada	uns	dias	antes	dele	morrer	–	disse	Will.	 	–	Eu	sempre	olho
essa	foto	pensando	se	havia	uma	forma	de	evitar	a	tragédia...
–	 De	 qualquer	 forma,	 você	 não	 teria	 como	 evitar.	 Você	 não	 estava
presente	quando	aconteceu	o	acidente.
–	Não,	não	estava,	mas	toda	vez	que	penso	sobre	aquele	dia,	lembro-me
de	 falar	 com	meu	 pai	 apenas	 algumas	 horas	 antes	 de	 perdê-lo	 para	 sempre	 e
parece	 que	 eu	 estava	 lá	 quando	 ele	 morreu.	 Só	 que	 eu	 não	 vi	 como	 tudo
aconteceu.
–	Ah,	Will...	–	Coloquei	a	mão	nas	costas	dele	e	esfreguei	devagar.	–	Não
foi	 culpa	 sua.	 Há	 coisas	 que	 não	 podem	 ser	 mudadas.	 Acredite,	 eu	 sei
exatamente	 como	é.	Eu	não	posso	mudar	 nada	no	meu	passado,	mas	 eu	 ainda
tenho	futuro.	E	você	também.
–	Eu	 sei,	 Louise,	 e	 é	 exatamente	 por	 isso	 que	 não	 quero	 perdê-lo	 com
bobagens.	Eu	quero	você	no	meu	futuro.
Eu	 não	 sabia	 o	 que	 dizer,	 então	 olhei	 para	 uma	 foto	 que	 eu	 ainda
segurava	e	disse:
–	Você	conhece	todas	essas	pessoas	em	volta	dele?
–	Sim,	 são	 funcionários	da	empresa.	Alguns	ainda	 trabalham	 lá.	–	Will
apontou	 para	 um	 homem	 alto	 de	 cabelo	 escuro,	 na	 casa	 dos	 50	 anos.	 –	Era	 o
sócio	 do	 meu	 pai.	 Ele	 iniciou	 o	 próprio	 negócio	 alguns	 anos	 atrás	 e	 saiu	 da
empresa.	E	esta	–	Will	apontou	para	uma	mulher	do	lado	esquerdo	do	pai	dele	–
é	Debora	Griffin.	Ela	era	assistente	do	meu	pai.
Meu	coração	gelou.	–	Debora	trabalhava	com	seu	pai?
–Sim,	por	quê?	Você	a	conhece?
–	Não,	é	que	o	nome	parece	familiar.
E	o	rosto	dela	também.	Só	não	conseguia	lembra	onde	eu	a	vira	antes.
–	Ela	deveria	estar	no	barco	no	dia	do	acidente.	Meu	pai	e	Debora	estava
negociando	 a	 abertura	 de	 outra	 filial	 da	 empresa	 na	 costa	 oeste.	 Mas	 a
negociação	foi	encerrada	assim	que	o	outro	lado	soube	do	acidente.
–	Sério?	Eles	cancelaram	um	acordo?
–	 Sim.	 O	 valor	 das	 ações	 despencou	 e	 ele	 pensaram	 que	 seria	melhor
esperar	até	tudo	se	ajeitar	para	fazer	nova	oferta.	Mas	nunca	fizeram	nova	oferta.
Isso	 era	 interessante.	 Então	 por	 causa	 da	morte	 do	 pai	 de	Will	 alguémeconomizou	toneladas	de	dinheiro.	Seria	essa	a	razão	da	morte	dele?
E,	claro,	a	ausência	da	Debora	no	barco	parecia	muito	suspeita.
–	Você	sabe	por	que	a	Debora	não	foi	com	seu	pai	aquele	dia?
–	 Ela	 quebrou	 a	 perna	 um	 dia	 antes	 da	 viagem,	 então	 não	 poderia	 ir,
mesmo	que	quisesse.
–	 Ah...	 –	 Talvez	 minha	 desconfiança	 fosse	 infundada.	 Contudo,	 eu
precisava	encontrar	Debora	Griffin.	Rea	não	teria	me	dado	o	nome	dele	sem	uma
razão.	Ela	sabia	algo	sobre	a	morte	do	Sr.	Blair,	e	eu	precisava	saber	o	que	era.
Capítulo	9
	
–	 Existe	 alguma	 chance	 de	 você	 me	 dar	 um	 beijo	 de	 boa	 noite?	 –
perguntou	 Will	 ao	 subir	 as	 escadas	 comigo.	 Passamos	 boa	 parte	 da	 noite
conversando,	 ele	 me	 contou	 sobre	 o	 passado	 dele	 e	 eu	 falei	 mais	 do	 meu.
Embora	não	tivesse	muito	o	que	contar.	Ele	sabia	praticamente	tudo	sobre	mim.
Talvez	até	mais	do	que	eu	mesma.
Parei	à	porta	do	meu	quarto	e	me	virei	para	olhar	para	ele.	–	Talvez	só
um	 beijinho	 –	 falei,	 em	 dúvida	 se	 poderia	 dizer	 não	 para	 ele,	 principalmente
depois	do	beijo	que	eu	dera	nele	mais	cedo.
–	Que	tal	um	beijão	em	vez	de	um	beijinho?
–	Um	médio?
Ele	 riu	 se	 aproximando.	 –	Algo	 assim.	 –	Então	 ele	 se	 curvou	 e	 cobriu
minha	boca	com	a	dele,	suavemente	como	se	tivesse	medo	de	que	eu	o	afastasse
ou	dissesse	para	não	me	beijar,	nunca	mais.
Mas	 eu	 não	 o	 faria.	 Bem,	 talvez,	 se	 eu	 não	 estivesse	 perdidamente
apaixonada	pelo	homem	que	me	abraçava.	Em	vez	disso,	estiquei	uma	das	mãos
e	abri	a	porta	do	meu	quarto.
–	Isto	é	um	convite?	–	perguntou	Will	interrompendo	o	beijo.
–	É,	mas	não	do	tipo	que	você	está	pensando.
–	Ah...	–	ele	franziu	a	testa	me	olhando.	–	Então	o	que	é?
–	Você	ficaria	comigo?
Ele	pensou	por	um	momento.	–	É	pernoite?
Eu	 assenti,	 empolgada	 e	 com	 medo	 que	 ele	 dissesse	 não.	 Nós	 dois
sabíamos	que	não	seria	fácil,	mas	eu	não	queria	passar	a	noite	sozinha.
–	 Acho	 que	 nunca	 fiz	 isso	 antes...	 –	 comentou	 ele	 me	 observando
atentamente.	–	Mas	podemos	tentar.
Meu	coração	apertou.	Claro,	ele	nunca	passara	a	noite	na	cama	de	uma
mulher	simplesmente	porque	ela	queria	tê-lo	por	perto,	e	não	para	ter	um	caso.
Deus,	eu	era	uma	idiota,	deveria	ter	pensado	duas	vezes	antes	de	pedir	que	ele
ficasse	comigo.
–	 Talvez	 não	 seja	 uma	 boa	 ideia...	 eu	 não	 queria	 parecer	 irritada,	mas
acho	que	não	consegui	dominar	nada	além	de	um	tipo	de	comentário	malvado.
Will	 riu,	 segurou	minhas	 mãos	 e	 me	 empurrou	 para	 dentro	 do	 quarto,
fechando	a	porta.
–	 Qual	 a	 graça?	 –	 perguntei,	 tentando	 entender	 o	 que	 se	 passava	 na
cabeça	dele.
–	Você.
Ergui	as	sobrancelhas	como	uma	pergunta	silenciosa.
–	 Você	 é	 tão	 fofa	 quando	 fica	 ciumenta	 –	 disse	 ele	 ainda	 sorrindo.	 –
Mesmo	que	não	 tenha	o	menor	motivo	para	 sentir	 ciúmes.	 Já	 falei,	Louise,	 eu
nunca	 amei	 ninguém	 como	 amo	 você.	 –	 Ele	 desenhou	 uma	 linha	 descendo	 a
ponta	do	dedo	pela	minha	bochecha	e	parou	no	meu	 lábio	 inferior	acariciando
com	suavidade,	e	disse:
–	 Eu	 nunca	 amei	 outra	 mulher.	 Antes	 de	 você,	 eu	 não	 sabia	 o	 que
significava	amar.
–	 Quanto	 tempo	 durou	 seu	 relacionamento	mais	 longo?	 –	 Obviamente
minha	curiosidade	não	me	deixou	calar	a	boca	naquele	ponto.	Will	estava	certo,
eu	 estava	 com	 ciúmes.	Mulheres	 raramente	 precisam	 de	 um	motivo	 real	 para
sentir	 ciúmes,	 na	 maioria	 dos	 casos,	 no	 meu	 inclusive,	 isso	 faz	 parte	 de	 ser
mulher.
Will	 suspirou,	 sentando-se	 na	 beira	 da	 minha	 cama	 ainda	 segurando
minhas	mãos.	–	Esta	á	a	primeira	e	a	última	vez	que	falaremos	das	minhas	ex-
namoradas,	combinado?
Eu	assenti,	esperando	pela	resposta.
–	 As	 mulheres	 que	 eu	 namorei	 não	 eram...	 digamos,	 não	 eram
exatamente	 meu	 tipo.	 Eu	 gostava	 da	 companhia	 delas,	 mas	 não	 tanto	 quanto
gosto	 da	 sua.	 Elas	 eram	 bonitas,	 claro,	mas	 a	 beleza	 exterior	 não	 era	 a	 única
coisa	que	eu	queria	delas,	isso	seria	apenas	um	bônus	se	elas	tivessem	as	outras
qualidades	que	eu	procurava.	Eu	sempre	quis	mais.	Então,	quando	conheci	você,
eu	consegui,	finalmente,	encontrar	o	que	procurava.		Um	mundo	infinito	dentro
de	um	lindo	corpo	que	eu	nunca	vou	me	cansar	de	admirar.	E	o	relacionamento
mais	 longo	 durou	 oito	 meses.	 Embora	 eu	 mal	 possa	 chamar	 aquilo	 de
relacionamento.	 Vivíamos	 em	 cidades	 diferentes	 e	 só	 nos	 encontrávamos	 aos
finais	de	semana.
–	Por	que	você	terminou?
–	Um	 dia,	 percebi	 que	 não	 era	 o	 que	 eu	 queria	 para	mim.	 E	 como	 já
disse,	não	era	o	suficiente.
Não	posso	dizer	que	eu	estava	gostando	da	conversa,	obviamente,	mas	eu
queria	terminar	o	assunto	de	uma	vez	por	todas.
–	Algumas	vez	ela	tentou	reatar?	–	fiz	minha	última	pergunta.
–	Não.	Amy	e	eu	sabíamos	que	nosso	romance	não	tinha	futuro.	Então,
quando	terminamos	nosso	caso,	ela	concordou	sem	hesitar.
Era	difícil	de	acreditar.	Na	minha	opinião,	nenhuma	mulher	sã	iria	querer
deixar	um	homem	como	William.	Eu	não	contava,	eu	tinha	uma	razão	para	ficar
longe	dele,	ou	pelo	menos	eu	pensava	assim.
–	Acabaram	as	perguntas?	–	Will	 deu	um	 sorrisinho	 amarelo	 com	meu
silêncio.
–	Não.
–	Ótimo.	Agora,	que	tal	tirarmos	a	roupa?
–	Para	quê?
–	Bem,	não	vamos	dormir	com	essas	 roupas,	vamos?	Ou	foi	assim	que
você	imaginou	que	iríamos	para	a	cama	para	a	pernoite?
Revirei	os	olhos.	–	Não,	claro	que	não.
–	Graças	a	Deus,	murmurou	ele.	–	Pelo	menos	poderei	abraçá-la	por	mais
de	 dois	minutos...	 o	 que,	 por	 sinal,	 foi	 o	máximo	 que	 consegui	 abraçá-la	 nos
últimos	dias.
–	Dois	minutos?	Como	você	sabe	isso?
–	Você	acreditaria	se	eu	dissesse	que	estive	contando	os	segundos?
Eu	ri.	–	Não.
–	Bem,	que	pena,	por	que	é	exatamente	isso	que	tenho	feito	toda	vez	que
consigo	abraçá-la.	E	o	maior	 tempo	que	você	esteve	nos	meus	braços	 foi	dois
minutos...	cento	e	vinte	segundos	no	total.	Aí	você	me	afastava.
Inclinei-me	planejando	dar	 um	beijo	 brincalhão	nele,	mas	 no	momento
que	 minha	 boca	 cobriu	 a	 dele	 ele	 me	 puxou	 mais	 para	 perto	 até	 acabarmos
deitando	na	cama,	eu	sobre	ele.
Olhei	 para	 ele,	 assustada	 e	 excitada	 por	 nossos	 corpos	 se	 tocarem	 em
tantos	pontos.
–	 Senti	 falta	 de	 tê-la	 assim	 –	 ele	 falou	 com	 suavidade.	 As	 mãos
passeando	 para	 cima	 e	 para	 baixo	 nas	 minhas	 costas	 e,	 como	 por	 acidente,
escorregaram	para	baixo	da	minha	blusa	bem	em	cima	do	cós	da	minha	calça.	A
sensação	 da	 pele	 dele	 tocando	 a	minha	 de	 forma	 provocativa	 era,	 devo	 dizer,
intoxicante.
–	Se	incomoda	se	eu	a	ajudar	com	as	roupas?	–	perguntou	ele,	ainda	me
observando.
Eu	mal	podia	falar.	Só	consegui	mover	a	cabeça	como	resposta.
As	mãos	dele	deslizaram	mais	para	cima	por	baixo	da	minha	camiseta,
acariciando	as	laterais	do	meu	corpo.	Sentei-me	levantando	os	braços	para	ajudá-
lo	a	puxar	a	camiseta	pela	minha	cabeça.	Não	havia	mais	nada	além	de	um	fino
sutiã	creme	cobrindo	meus	seios.
Os	 olhos	 dele	 viajaram	 descendo	 pelo	 meu	 colo,	 depois	 meu	 peito	 e
voltaram	para	o	rosto	até	encontrar	meus	olhos.
–	Tão	linda	–	disse	ele	baixinho.	Eu	mal	podia	ouvir	porque	ele	as	falou
para	dentro,	e	mesmo	que	não	tivesse	falado	assim,	o	sangue	pulsava	nos	meus
ouvidos.	Eu	estava	nervosa	e	excitada	ao	mesmo	tempo.
Sem	dizer	nada,	toquei	os	botões	da	camisa	dele	e	os	abri,	um	a	um.
Meu	 coração	 estava	 disparado	 no	 peito,	minhas	mãos	 tremiam.	Mas	 o
que	 estávamos	 fazendo?	 Será	 que	 conseguiríamos	 parar	 depois	 de	 tirarmos	 a
roupa?	 Será	 que	 conseguiríamos	 evitar	 de	 queimar	meus	 lençóis	 quando	meu
corpo	nu	tocasse	o	dele?
–	Isso	é	loucura...	–	disse	Will	como	se	lesse	minha	mente.
–	Eu	sei.	–	Engoli,	deixando	minhas	mãos	repousarem	no	peito	dele.	Eu
não	 tinha	certeza	de	como	 lidar	com	a	 situação,	e	podia	dizer	que	ele	 também
não	sabia.	Estava	saindo	do	controle	rápido	demais.
E,	claro,	eu	 tinha	que	piorar	 tudo.	 Inclinei-me	e	pressionei	os	 lábios	no
pescoço	dele	e	depois	cobri	o	peito	dele	com	beijinhos.
–	Louise!	–	resmungou	ele,	 tirando	o	cabelo	do	meu	rosto.	Ele	segurou
minha	nucae	puxou	meu	rosto	em	direção	ao	dele	e	sugou	meu	lábio	inferior.
Gemi	sem	querer.
–	Você,	Dona	Provocadora,	o	que	diria	se	eu	a	provocasse	também?
–	Não	–	murmurei,	mal	respirando.
–	Tarde	demais.
Caramba,	ele	era	rápido,	bem	rápido.
Num	 piscar	 de	 olhos	 eu	 estava	 deitada	 de	 costas,	Will	 pairando	 sobre
mim,	 fogo	 intenso	 nos	 olhos.	 Eu	 sabia	 que	 ele	 podia	 acabar	 comigo	 em
segundos.
Ele	 deslizou	 as	mãos	 pelos	meus	 braços	 e	 enlaçou	 os	 dedos	 nos	meus
levantando	minhas	mãos	até	estarem	presos	ao	lençol	acima	da	minha	cabeça.
–	Você	pode	me	parar	quando	quiser	–	falou,	me	beijando	suavemente	de
novo,	 com	 a	 língua	 deslizando	 brincalhona	 contra	 a	 minha,	 me	 seduzindo	 e
pedindo	 mais.	 Depois	 ele	 moveu	 a	 boca	 para	 baixo,	 sobre	 meu	 queixo,
mordiscando	minha	pele,	 sempre	devagar,	 até	parar	os	 lábios	bem	embaixo	da
minha	orelha,	 e	 acariciar	 o	 lóbulo	 com	a	 língua,	 depois	 ele	 o	 chupou.	A	parte
debaixo	do	corpo	pressionado	contra	a	minha.
Soltando	minhas	mãos,	ele	deslizou	as	mãos	pela	 lateral	do	meu	corpo,
arrepiando	 meus	 seios	 com	 beijinhos	 quentes.	 Ele	 não	 tirou	 meu	 sutiã	 e	 eu
agradeci.	Era	melhor	saber	que	havia,	pelo	menos,	algum	tecido,	 independente
de	 ser	 fino,	 evitando	 que	 ele	 tocasse	 a	 pele	 de	 um	 dos	 meus	 pontos	 mais
sensíveis...	foi	um	alívio.
Era	quase	impossível	estar	ali	com	ele	e	não	pensar	em	fazer	amor.	Estar
pele	com	pele	e	 ter	nosso	coração	batendo	alto	no	peito.	Permitir	que	ele	vá	a
terrenos	perigosos	significa	me	render,	e	eu	não	estava	pronta	para	perder	esse
nosso	jogo.	Eu	até	que	estava	gostando.	Era	como	se	o	Will	e	eu	estivéssemos	de
volta	a	sala	de	dança	nove	onde	só	era	permitido	beijar	e	tocar,	mas	morrendo	de
vontade	de	conseguir	mais	da	sedução.
Ele	parou	a	 língua	no	meu	umbigo	circundando-0	e	me	olhou	sorrindo.
Não	havia	como	esconder	como	eu	o	desejava	naquele	momento.	E	ele	conhecia
a	mim	e	a	meu	corpo	bem	demais	para	acreditar	que	o	que	ele	estava	 fazendo
não	me	afetava.
–	 O	 carma	 é	 uma	merda,	 não	 é?	 –	 Falou,	 sentando-se	 e	 alcançando	 o
zíper	da	minha	calça.
–	Você,	mais	do	que	ninguém,	sabe	disso.
–	Tudo	graças	a	você,	minha	doce	Louise.	Você	me	deixou,	lembra?	Por
cinco	malditos	meses...	 você	 acha	 que	 foi	 fácil	 não	 pensar	 em	você	 todo	 esse
tempo?	–	Ele	 abriu	o	 zíper,	 depois	 olhou	para	o	pedaço	de	 tecido	por	baixo	 e
sorriu,	dizendo:
–	Você	vestiu	essa	para	mim?
Eu	 esquecera	 que	 estava	 usando	 calcinha	 que	 era	 da	 cor	 preferida	 do
Will,	azul-escuro.
–	Não,	Sr.	autoconfiante	Blair.	Eu	adoro	esta	cor	também,	sabia?
–	 Certo...	 –	 respondeu,	 e	 então	 puxou	 com	 força	 minha	 calça	 pelas
minhas	pernas	e	a	jogou	para	uma	cadeira	no	canto	do	quarto.
–	Que	rápido.	–	falei	sorrindo.
–	Estou	 perdendo	 cada	 vez	mais	 a	 paciência	 em	 cada	maldito	 segundo
que	passo	ao	seu	lado.
–	Você	que	dizer	sobre	mim?
–	Sobre	você,	embaixo,	ao	seu	lado...	qualquer	lugar	que	eu	possa	estar
com	você	e	deixar	a	excitação	entre	nós	fazer	o	melhor	que	puder.
Era	tão	fácil	me	perder	nos	olhos	dele,	em	tudo	que	ele	fazia	comigo,	no
jeito	 que	 ele	 falava	 meu	 nome,	 e,	 em	 especial,	 em	 todos	 aquelas	 coisas
tentadoras	 que	 ele	 fazia	 com	 os	 lábios	 no	 meu	 corpo.	 Seria	 bem	 fácil
simplesmente	me	entregar	e	deixar	que	ele	fizesse	o	que	quisesse.	Eu	sabia	que
seria	maravilhoso	 e	 inesquecível...	mas	 eu	 também	 sabia	 que	me	 arrependeria
quando	o	momento	acabasse.
–	Você	já	terminou	de	revidar	por	eu	ter	ficado	longe	por	cinco	meses?	–
perguntei.
Ele	sorriu,	os	olhos	brilhando	perigosamente.
–	Não	está	nem	perto,	mas	vou	deixar	você	 fantasiar	 sobre	o	 fim	deste
jogo	já	que	eu	prometi	ser	bonzinho	e	não	avançar	o	sinal.	Ele	rolou	deitando	de
costas	perto	de	mim,	mantendo	boa	distância	entre	nosso	corpo	para	não	permitir
que	roçassem.
–	Bom	–	falei	aliviada	e	desapontada.	Eu	precisava	admitir,	eu	esperava
que	ele	forçasse	os	limites	um	pouco	mais.	Mas,	talvez,	seja	melhor.	Eu	estava
quase	perdendo	o	jogo	que	ele	estava	jogando.
–	Espero	que	você	não	precise	de	ajuda	para	tirar	a	roupa...
–	Com	prazer	eu	deixaria	suas	mãozinhas	levadas	fazerem	mágica,	mas
já	que	você	quer	isso	mais	do	que	eu,	farei	eu	mesmo.	Obrigado	por	se	oferecer.
Você	é	corajoso,	Sr.	Sexy.
Eu	já	ia	desejar	boa	noite	para	ele	quando	meu	celular	tocou	em	cima	do
criado-mudo.
–	O	que	você	acha	que	o	Drew	quer	com	você	a	essa	hora?	–	disse	Will
pegando	o	telefone.
Meu	 querido	 tio	 não	 poderia	 ter	 escolhido	 pior	 hora	 para	 ligar.	 Engoli
seco,	nervosa.
–	Não	sei.	–	Peguei	o	telefone	das	mãos	dele	e	atendi.
–	Alô?
–	Olá,	 querida.	 Tenho	 ótimas	 notícias	 para	 você.	 Consegui	 o	 endereço
que	você	precisa.
–	Ok.
Will	ainda	me	observava,	então	eu	tentei	não	parecer	muito	empolgada.
–	Vou	mandar	para	você.
–	Obrigada.	Vejo	você	no	domingo.
–	Até	lá!
–	O	que	ele	queria?	–	perguntou	Will	seco.	Ele	não	confiava	no	Drew,	e
mesmo	 que	 eu	 tenha	 dito	 várias	 vezes	 que	 o	 homem	 nunca	 faria	 nada	 contra
mim,	ele	ainda	acreditava	que	era	melhor	não	ficar	muito	perto	do	meu	tio.
O	que	faço	agora?	Pensei	agitada.	Não	posso	contar	a	verdade.
–	Eu	pedi	um	favor	a	ele.	–	 respondi,	escolhendo	cuidadosamente	cada
palavra.	 Eu	 sabia	 que	 a	 minha	 resposta	 era	 ruim	 e	 que	 ele	 não	 estava
acreditando.
–	 Que	 tipo	 de	 favor?	 –	 perguntou	 ele,	 me	 fuzilando	 com	 o	 olhar.	 Ele
estava	ficando	preocupado.
–	Louise?	–	falou	em	tom	mais	alto.
–	 Você	 prometeu	 que	 não	 esconderia	 nada	 de	 mim.	 Nós	 combinamos,
lembra?
Eu	suspirei.	–	Tudo	bem.	Eu	tenho	escondido	algo	de	você...
Ele	respirou	fundo.	–	Louise...
–	Eu	sei,	eu	sei...	desculpe,	Will...	pensei	que	era	melhor	assim.
Ele	 sacudiu	 a	 cabeça	 me	 puxando	 para	 mais	 perto	 de	 onde	 ele	 estava
sentado,	ele	ainda	vestia	a	camisa	e	a	calça.
–	O	que	exatamente	você	tem	escondido	de	mim?
Engoli	seco	de	novo.	Eu	estava	ferrada,	não	tinha	jeito.	Eu	sabia	que	Will
ficaria	bravo	quando	descobrisse	que	eu	estava	investigando	Debora	Griffin.
–	 Eu	 não	 contei	 a	 você	 toda	 minha	 conversa	 com	 Rea	 –	 falei,
observando-o	com	cuidado.	–	Ela	me	falou	sobre	algo	muito	importante,	mas	eu
decidi	que	deveria	ter	certeza	de	que	ela	falava	a	verdade	antes	de	mais	nada.
–	O	que	ela	disse?	–	perguntou	ele	impaciente.
–	Ela	me	deu	o	nome	da	assistente	do	seu	pai,	Debora	Griffin,	dizendo
que	ela	sabia	o	que	aconteceu	de	verdade	no	dia	em	que	ele	morreu...	a	razão	da
morte	dele.
A	expressão	do	Will	mudou	de	surpresa	para	transtornada.
–	Que	diabos	aquela	mulher	tem	a	ver	com	a	morte	do	meu	pai?
–	Era	isto	que	eu	estava	tentando	entender.
–	Sozinha,	de	novo?
–	Desculpe,	Will...	eu	não	queria	perturbar	você	com	algo	que	pode	nem
ser	verdade.
–	E	como	o	Drew	poderia	ajudar	você?
–	Eu	pedi	o	endereço	da	Debora.
–	Então,	imagino	que	ele	tenha	conseguido.
–	Conseguiu.
–	Boa.	Iremos	juntos	vê-la.
–	Eu	não	acho	que	seja	boa	ideia...
–	 Fechado,	 e	 não	 vamos	 discutir	 mais	 sobre	 isso,	 Louise.	 Ou	 vamos
juntos,	ou	eu	vou	sozinho.
–	De	jeito	nenhum!	Eu	vou	com	você.	Eu	também	quero	saber	a	verdade.
–	 Por	 quê?	 Você	 não	 tem	 nada	 a	 ver	 com	 a	 morte	 do	 meu	 pai	 –	 ele
pareceu	um	estranho,	frio	e	distante.
Eu	não	respondi.
–	Ou	teria	algo	mais	que	você	não	está	me	contando?	–	perguntou	ele,	de
novo	sabendo	que	eu	tentava	enganá-lo	com	meu	silêncio.
A	 culpa	me	 consumia.	 Não	 havia	 sentido	 em	 continuar	 escondendo	 as
coisas	dele.	Só	faria	nosso	relacionamento	ainda	mais	complicado.
–	Rea	acredita	que	a	morte	do	seu	pai	possa	ter	sido	planejada...	pelo	meu
pai,	ou	alguém	próximo	dele.
–	O	quê?	–	ele	 levantou	e	começou	a	caminhar	pelo	quarto,	 respirando
pesado,	como	um	leão	prestes	a	despedaçar	a	presa.
–	 Isso	 não	 é	 possível...	 nossos	 pais	 nunca	 se	 encontraram.	 Por	 que
Montgomery	ia	querer	a	morte	do	meu	pai?
Levantei-me	também	e	fui	até	onde	ele	estava.
–	Eu	não	sei,	Will,	mas	e	se	a	Rea	estiver	certa?	Você	disse	que	ela	sabe
muito	mais	 do	 que	 diz.	 Então,	 e	 se	 elatem	 uma	 boa	 razão	 para	 acreditar	 que
nossos	pais	estavam	conectados	de	alguma	forma?
–	 Isto	é	 loucura...	meu	pai	nunca	me	 falou	sobre	Montgomery.	Por	que
ele	teria	algo	a	ver	com	a	morte	do	meu	pai?	Que	problemas	eles	poderiam	ter
que	eu	não	soubesse?
Segurei	as	mãos	do	Will,	olhando	nos	olhos	dele,	e	disse:
–	Vamos	descobrir,	ok?	E	faremos	isso	juntos.
–	Ah,	Louise,	por	que	você	não	me	contou	sobre	a	suspeita	da	Rea?	Você
realmente	 acredita	 que	 alguém	como	 seu	pai,	 ou	mesmo	Debora,	 se	 realmente
ela	tem	algo	a	ver	com	o	acidente,	permitiria	que	você	descobrisse	a	verdade	que
está	escondida	há	tempos?
Eu	sorri.	–	Na	verdade,	eu	achei	que	sim.
Ele	 também	sorriu,	 triste	 e	 desapontado.	 –	Você	 é	 tão	 ingênua,	Louise.
Ele	passou	os	braços	em	volta	de	mim	e	me	prendeu	num	abraço	apertado.
–	Nunca	mais	esconda	algo	assim	de	mim.	Promete?
–	Não	vou	esconder,	eu	prometo.
Agora	que	Will	sabia	a	verdade	eu	me	sentia	muito	melhor.	Era	um	alívio
saber	que	eu	não	estava	sozinha	na	situação	que	eu	não	tinha	ideia	de	como	sair.
	–	Quando	você	que	ir	procurar	a	Debora?	–	perguntei.
–	Que	tal	esse	fim	de	semana?	Preciso	de	alguns	dias	para	me	preparar
para	esse	encontro.	Eu	nem	sei	o	que	dizer	para	ela	ou	como	perguntar	sobre	ao
acidente.	Eu	não	a	vejo	há	muito	tempo.
–	Você	sabe	para	que	empresa	ela	foi	depois	de	sair	da	sua?
–	Não.	Na	verdade,	eu	nunca	conversei	com	ela	depois	dela	sair.	Ela	saiu
logo	 depois	 do	 acidente...	 Você	 acha	 mesmo	 que	 ela	 tem	 algo	 a	 ver	 com	 o
acidente?
–	Tudo	é	possível.	Ela	trabalhou	muito	tempo	com	seu	pai,	não	é?
Will	assentiu	em	resposta.
–	 Ela	 sabia	 tudo	 sobre	 os	 negócios	 da	 empresa.	 Ela	 pode	 ter	 sido
corrompida	por	alguém	que	não	queria	que	o	acordo	que	seu	pai	estava	prestes	a
fazer	acontecesse.
–	Eu	não	 sei	o	que	pensar...	A	Debora	 era	uma	das	poucas	pessoas	 em
quem	meu	pai	confiava.	E	você	tem	razão,	ela	sabia	demais.
–	 Eu	 acho	 que	 você	 deveria	 tentar	 descobrir	 mais	 sobre	 a	 vida	 dela
depois	que	ela	saiu	da	empresa.	Onde	ela	trabalha	agora,	para	quem	ela	trabalha,
etc.
–	Essa	é	a	primeira	coisa	que	farei	amanhã.
Eu	 sorri	 para	 ele.	 –	E	 eu	 aqui	pensando	que	me	beijar	 seria	 a	primeira
coisa	que	você	faria	pela	manhã.
Ele	também	sorriu,	abraçando-me	mais	apertado.
–	Você	está	certa,	a	Debora	pode	esperar.	Você	é	a	parte	mais	importante
da	minha	vida.	E	isso	nunca	vai	mudar.
–	Podemos	voltar	para	a	cama	agora?
–	Tem	alguma	coisa	em	particular	que	você	gostaria	de	fazer	lá?
–	Sim.	Dormir.
Ele	suspirou.	–	Está	bem.	É	melhor	do	que	ficar	sonhando	com	você	pelo
resto	da	maldita	noite,	deitado	na	minha	cama,	 totalmente	acordado	e	duro	por
sua	causa...
Eu	ri.	–	Você	mesmo	disse,	isto	não	vai	durar	para	sempre,	lembra?
Ele	tirou	a	camisa	e	a	calça,	deixando	as	roupas	no	chão,	perto	da	cama.
–	Você	está	me	matando,	Louise.	Mas	quando	eu	penso	nos	meses	que
tive	que	ficar	sozinho	na	minha	cama,	eu	começo	a	acreditar	que	o	que	eu	tenho
agora	não	é	o	pior	dos	cenários.
–	É	o	que	estou	dizendo.	–	Eu	entrei	embaixo	do	cobertor	e	fui	mais	para
perto	dele,	deixando	que	ele	me	abraçasse.	Com	minhas	costas	pressionadas	no
peito	 dele,	 pude	 sentir	 cada	 respiração	 dele.	 Senti-me	 tão	 bem.	 Eu	 esquecera
como	era	dormir	ao	lado	dele.	E	sim,	eu	senti	falta	de	senti-lo	perto	de	mim.	Não
havia	 porque	 negar	 isso.	 Estar	 com	 ele	 sempre	 fora	 a	 mais	 preciosa	 das
lembranças.	Eu	não	queria	pensar	em	ficar	sem	ele,	era	muito	doloroso	imaginar
perdê-lo	de	novo.
Capítulo	10
	
William
	
Três	 dias	 depois,	 ainda	 parecia	 surreal	 acordar	 ao	 lado	 da	 Louise.
Durante	 a	 noite,	 nós	 apenas	 dormíamos	 na	 mesma	 cama,	 às	 vezes	 nos
beijávamos	 e	 abraçávamos,	mas	 nada	 além	 disso.	 Ela	 se	 recusou	 a	 dormir	 na
minha	 cama,	 dizendo	que	 isso	me	daria	mais	 poder	 sobre	 ela.	Ela	dissera	 isso
com	um	 sorriso,	 embora	 nós	 dois	 soubéssemos	 que	 era	 exatamente	 isso	 que	 a
assustava.	Tecnicamente	todas	as	camas	da	casa	eram	minhas,	mas	ter	o	próprio
quarto	 ajudava	Louise	 a	 sentir-se	mais	 independente.	Ela	 ainda	 tinha	medo	de
perder	a	liberdade	que	ela	acabara	de	conquistar.	Eu	não	me	importava	com	tal
independência.	Afinal,	ela	estava	comigo	agora,	e	era	isso	que	importava.
Passamos	bastante	 tempo	juntos,	caminhando,	conversando,	cozinhando
ou	simplesmente	sentados	um	ao	lado	do	outro,	ouvindo	música	e	conversando
sobre	o	que	nos	incomodava.	Eu	aproveitei	cada	segundo	com	ela.
Eu	sempre	acordava	antes	dela.	Eu	não	sabia	por	que,	eu	simplesmente
acordava.	Eu	ficava	acordado	até	tarde,	observando-a	dormir	nos	meus	braços	e
então	não	conseguia	parar	de	pensar	sobre	meu	futuro	que,	mais	do	que	tudo,	eu
queria	 passar	 com	 ela.	 Era	 fácil	 imaginar	 chamá-la	 Sra.	 Blair,	 a	 minha	 Sra.
Blair...
Nós	não	 conversamos	 sobre	o	 futuro.	Nenhum	de	nós	queria	 ir	 para	 lá
com	medo	de	que	não	seria	tão	perfeito	como	gostaríamos.	Eu	podia	ver	como
ela	adorava	as	aulas.	Ela	nunca	vinha	para	casa	dizendo	que	tivera	um	dia	ruim
na	escola.	Embora	houve	algumas	vezes	que	ela	mencionava	que	a	diretora,	Sra.
Cormac,	viera	assistir	o	ensaio	dela.	Ela	contou	que	Sabine	não	conversara	com
ela	depois	do	primeiro	encontro	alguns	dias	antes,	mas	ela	sempre	sorria	quando
a	assistia	treinar.	Fico	me	perguntando	se	ela	viu	a	semelhança	entre	elas.	Louise
parecia	muito	com	o	pai,	mas	ela	também	tinha	algo	da	mãe.	E	eu	não	quero	nem
pensar	 no	 momento	 em	 que	 ambas	 percebam	 a	 verdade	 sobre	 o	 parentesco
delas...
–	Uma	moeda	por	seus	pensamentos	–	disse	Louise	me	trazendo	de	volta
a	realidade.
Eu	sorri,	beijando	a	cabeça	dela.
–	Eu	 estava	 pensando	 em	você	 –	 falei.	 –	Eu	 nunca	 paro	 de	 pensar	 em
você.	 –	 Era	 verdade.	 Minha	 vida	 inteira	 girava	 em	 torno	 dela.	 Eu	 só	 me
preocupava	em	tê-la	de	volta	e	fazê-la	ficar	comigo,	de	verdade,	para	sempre.
–	Uma	coisa	não	mudou	no	Will	que	eu	conheci	em	Le	Papillon	meses
atrás.	Você	ainda	é	um	mistério	para	mim,	Sr.	Blair.
–	Sério?	E	eu	aqui	pensando	que	você	sabia	tudo	sobre	mim.
–	Não	mesmo.	Aposto	que	o	que	você	fala	é	10	por	cento	do	que	você
pensa.	Eu	não	ficaria	surpresa	em	saber	que	seu	cérebro	não	desliga	nem	quando
você	dorme.
Eu	ri	baixinho.	–		Você	sabe	que	pode	me	perguntar	qualquer	coisa.
–	Sei,	mas	eu	ainda	sinto	que	tem	algo	que	você	não	está	me	contando...
ou,	 talvez,	 eu	 apenas	 esteja	 paranoica.	Com	 todos	 os	 segredos	 que	 as	 pessoas
têm	escondido	de	mim	por	anos,	é	difícil	confiar	nas	pessoas.
–	Mas	você	confia	em	mim?
Ela	suspirou.
–	E	parece	que	eu	tenho	escolha?
Eu	sorri	tocando	o	rosto	dela.
–	Na	maior	parte	dos	casos,	sim,	você	tem.
–	Dificilmente.	–	Ela	fez	uma	careta.	–	Não	foi	você	que	me	fez	mudar
para	cá?	–	Ela	ergueu	a	mão	mostrando	o	quarto.
–	Bem,	esta	foi	uma	exceção.	Eu	não	podia	deixar	você	sozinha	de	novo,
e	você	sabe	porquê.
–	Certo.
–	Bem,	quais	são	seus	planos	para	hoje?
–	Tenho	uma	competição	de	dança	hoje.	Eu	não	contei	para	você?
–	Não,	não	contou.	Está	nervosa?
–	Na	verdade,	não.	Não	que	vá	afetar	minhas	notas,	nem	nada,	é	que	é
outra	 chance	 de	mostrar	 minhas	 habilidades	 e	 ver	 o	 que	 os	 outros	 estudantes
podem	fazer.
–	Nunca	duvidei	das	suas	habilidades,	em	dançar	ou	no	que	seja.	Devo
admitir,	aquelas	suas	outras	habilidades	são	bem	impressionantes	também.
Ela	deu	uma	risadinha	socando	minhas	costelas	de	brincadeira.
–	Menino	levado,	para	de	me	provocar.
–	Disse	a	garota	que	me	seduziu	com	um	strip-tease	e	dança	no	colo...
–	Ei,	eu	não	seduzi	você.	E	não	foi	strip-tease	ou	dança	no	colo.	Foi...	só
uma	dança.	Eu	nem	tentei	seduzir	você.	Eu	só	estava	fazendo	meu	trabalho.
–	 E	 devo	 dizer,	 você	 o	 fez	 muitíssimo	 bem.	 –	 Eu	 sorri	 e	 beijei
suavemente	os	lábios	dela.	–	Sabe,	sinto	falta	de	ver	você	dançar...
–	 E	 eu	 tenho	 saudade	 de	 dançar	 para	 você.	 –	 Ela	 sorriu	 encabulada
olhando	para	mim.	–	Tenho	uma	confissão	para	fazer...
–	 Sobre	 o	 quê?	 –	 perguntei,	 sentindo-me	um	pouco	 preocupado	 com	o
que	ela	poderia	confessar.	Eu	esperava	que	nãofosse	outra	situação	ruim	que	ela
tenha	 se	 metido	 por	 causa	 da	 vontade	 de	 provar	 para	 todos,	 para	 mim	 em
particular,	como	ela	era	adulta	e	independente.
	 –	 Sempre	 que	 estou	 trabalhando	 numa	 nova	 dança,	 eu	 me	 imagino
dançando	para	você,	como	se	você	estivesse	 lá	me	assistindo,	e	 talvez,	 tirando
fotos	de	cada	passo	que	eu	faço.	Dedico	todas	as	minhas	danças	para	você,	Will.
Mesmo	que	você	não	possa	ver.
–	Mas	verei	um	dia,	não	é?
–	Sim,	prometo,	vou	dançar	para	você	de	novo.
–	Tipo	no	meu	quarto?
Ela	riu,	sentando-se.	–	Onde	você	quiser	me	ver	dançar.
–	Então	tem	que	ser	no	meu	quarto.
Ela	sacudiu	a	cabeça,	ainda	sorrindo,	e	levantou	da	cama.	–	Espere	aqui,
quero	mostra	algo	a	você.
Ela	 foi	 para	 o	 banheiro	 e	 voltou	 pouco	 depois	 vestindo	 um	 vestido
vermelho	escuro	com	longas	 luvas,	decorado	com	pequenos	cristais	brilhantes.
Era	mais	curto	na	frente	e	mais	longo	atrás,	e	balançava	conforme	ela	andava.
–	O	que	você	acha?	–	perguntou,	virando	para	me	mostrar	a	parte	de	trás
aberta.
–	É...	deslumbrante.	–	O	vestido	era	mesmo	maravilhoso,	mas	o	que	eu
mais	gostava	era	dela,	com	o	cabelo	dourado	longo,	ainda	meio	bagunçado	por
dormir.	E	o	corpo	dela	no	vestido	que	cobria	e	mostrava	o	suficiente	para	fazer
minhas	fantasias	saírem	do	controle.
Ela	foi	até	o	espelho	e	colocou	uma	máscara	com	plumas	que	combinava
perfeitamente	com	o	vestido.
–	Uau,	 para	 que	 é	 esta	 roupa?	 –	 perguntei	 esperando	 que	 fosse	 para	 a
dança	que	ela	prometera	para	mim.
–	É	para	a	competição.	Tenho	que	devolver,	mas	pelo	resto	do	dia,	será
meu.
Eu	 fiquei	 um	pouco	 desapontado.	 –	 Pensei	 que	 teria	 a	 chance	 de	 vê-la
dançar	vestida	assim	–	falei.
Ela	 virou	 de	 frente	 para	 o	 espelho	 de	 novo	 para	 se	 olhar	 nele.	 Então,
virou-se,	olhou	para	mim	e	disse:
–	 Me	 fez	 lembrar	 de	 Le	 Papillon,	 e	 Paris,	 e	 você...	 Assim	 que	 vi	 o
vestido,	eu	sabia	que	deveria	usá-lo	na	competição.
No	 momento	 que	 vi	 o	 vestido,	 eu	 sabia	 que	 queria	 explorar	 cada
pedacinho	 do	 corpo	 dela	 escondido	 embaixo	 dele.	Meu	 desejo	 de	 fazer	 amor
com	ela	chegou	ao	limite.
Ela	girou	sobre	uma	perna	com	a	outra	dobrada,	o	vestido	se	enrolando
nela	como	se	ela	estivesse	dançando	no	oceano	com	ondas	segurando	o	 tecido
vermelho,	fazendo-o	se	mover	em	câmera	lenta.
Eu	senti	como	se	estivesse	sem	ar,	ela	estava	linda	demais	para	eu	ficar
tranquilo.	 Ela	 continuou	 se	 movendo	 pelo	 quarto,	 cada	 movimento	 dela	 era
fluido	e	gracioso	e	eu	não	conseguia	parar	de	pensar	sobre	tudo	o	que	sentia	por
ela.	 Era	 como	 se	 apaixonar	 repetidas	 vezes,	 mais	 profundamente	 a	 cada
respiração	minha.
Talvez	 ela	 não	 percebesse	 o	 que	 fazia,	 ela	 parecia	 tão	 perdida	 no
momento.	Lembrei-me	 da	 noite	 em	Le	Papillon	 quando	 nos	 encontramos	 pela
primeira	 vez	 depois	 de	 quase	 dez	 anos	 separados.	 Ela	 não	 falou	 comigo	 nem
olhou	 para	 mim,	 ela	 estava	 simplesmente	 dançando,	 voando	 no	 ar	 e	 então
pisando	o	chão,	como	uma	borboleta,	linda	e	graciosa	e,	talvez,	surreal.
Eu	era	fascinado	por	ela.	Tudo	nela	era	demais	para	mim.	Às	vezes,	eu
sentia	que	não	a	merecia.	Num	primeiro	momento	eu	sentia	como	se	 soubesse
tudo	 sobre	 ela,	 depois,	 no	 momento	 seguinte,	 eu	 sentia	 tudo	 completamente
diferente	como	se	ela	fosse	uma	desconhecida,	mais	como	uma	foto	que	eu	podia
apreciar,	mas	 nunca	 podia	 tocar	 ou	 amar	 de	 verdade.	 E	 sempre	 que	 os	 lábios
macios	dela	pousavam	nos	meus,	eu	queria	mais,	muito	mais	do	que	um	beijo	ou
um	toque	rápido.	Eu	a	queria	para	mim	de	forma	incondicional,	da	mesma	forma
que	eu	sempre	fora	dela...
Ela	parou	na	beirada	da	cama	e	sorriu	para	mim.	A	máscara	cobria	boa
parte	do	rosto	dela.	Os	olhos,	os	lábios	e	o	queixo	era	tudo	que	eu	conseguia	ver.
–	Agora	eu	sei	como	você	se	sentia	quando	eu	usava	a	máscara	–	falei.	–
Quero	que	a	tire,	que	tire	tudo.	–	Apontei	para	o	vestido.
Ela	 riu	 girando	 de	 novo.	 –	Tudo	 a	 seu	 tempo...	 então	 é	melhor	 ter	 um
pouco	mais	de	paciência,	Sr.	Blair.
–	Mais	paciência?	É	sério?	É	possível	ter	mais	paciência	do	que	tive	com
você?
–	Não	 sei,	mas	 teremos	 que	 terminar	 essa	 conversa	 depois,	 ou	 vou	me
atrasar	para	a	aula.
–	Se	dependesse	de	mim,	você	perderia	todas	elas	hoje.
Ela	riu	de	novo	e	me	deu	um	beijo	rápido,	mas	eu	tive	ideia	melhor.
Puxei	para	mim	e	caímos	na	cama.
–	O	que	você	está	fazendo?	–	ela	riu	deitando-se	perto	de	mim.	–	Você
vai	estragar	o	vestido!	Preciso	devolvê-lo	hoje	à	noite.
–	Um	amassadinho	não	vai	estragá-lo	–	falei,	inclinando-me	para	cobrir
os	deliciosos	lábios	dela	com	os	meus.
Deslizei	a	mão	por	baixo	do	vestido	e	subi	pela	coxa	onde	eu	podia	sentir
a	 calcinha	 rendada.	 Devagar	 pressionei	 o	 polegar	 no	 clitóris,	 friccionando-o
delicadamente	sobre	o	tecido.
Ela	gemeu	com	meu	toque.	Mal	deu	para	ouvir,	mas	soou	como	música
para	meus	ouvidos.
Eu	 não	 a	 tocava	 daquela	 forma	 há	 tempos,	 e	 acho	 que	 nós	 dois	 nos
surpreendemos	com	a	sensação	que	causou	em	nosso	corpo.
–	Você	vai	me	matar,	Louise...	–	falei	entre	beijos.
–	Se	você	continuar	me	tocando	assim,	eu	morro	primeiro.	–	As	palavras
dela	fizeram	cócegas	nos	meus	 lábios	de	maneira	 tentadora.	Será	que	ela	sabia
quanto	poder	tinha	sobre	mim?	Ela	achava	que	eu	mandava	no	nosso	mundo.	Ela
pensava	que	eu	mandava	nela...	mas	era	ela	quem	mandava	em	cada	respiração
minha,	cada	pensamento	e	cada	desejo	secreto.	Ela	era	tudo	para	mim.
Deslizei	a	mão	um	pouco	mais	para	cima,	para	o	cós	da	calcinha.	Deus,
eu	estava	perto	de	rasgá-la	e	possuir	Louise	ali	mesmo.
–	Você	 pode	 perguntar	 para	 quem	 você	 tem	 que	 devolver	 o	 vestido	 se
pode	ficar	com	ele	um	pouco	mais?
–	Para	quê?
–	Eu	gostaria	de	olhá-lo	mais	detidamente.
Ela	pensou	um	pouco.	–	Vou	ver	o	que	posso	fazer.	–	Beijei-a	de	novo,
com	mais	 intensidade	 desta	 vez	 e	 quando	 senti	 que	 estava	 chegando	 ao	 ponto
que	eu	sabia	que	não	teria	volta,	eu	recuei	e	tirei	a	mão	de	onde	a	estava	tocando
enquanto	nos	beijávamos.
–	 Traga	 o	 vestido	 para	 casa	 –	 falei,	 levantando.	 –	 Que	 horas	 será	 a
competição?
–	Meio-dia,	por	quê?
–	Por	nada.	Só	queria	dizer:	“quebre	uma	perna”.
Olhei-a	de	novo	dos	pés	à	cabeça	e	 fui	em	direção	da	porta	 já	sabendo
que	 não	 perderia	 a	 competição	 por	 nada	 no	 mundo.	 Eu	 não	 queria	 que	 ela
soubesse	que	eu	iria	assisti-la.	Eu	queria	fazer	surpresa.
Mas	como	se	viu	depois,	a	surpresa	esperava	por	mim...
No	momento	 que	 entrei	 no	 auditório	 da	 Balero	 eu	 soube	 que	 fora	 má
ideia	ir	até	lá.	Eu	tivera	algumas	reuniões	pela	manhã,	então	não	deu	tempo	de	ir
para	casa	e	me	trocar.	Vestindo	terno	e	gravata	eu	parecia	mais	um	professor	do
que	 namorado	 de	 uma	 das	 alunas.	 Algumas	 garotas	 me	 olharam	 como	 se
perguntassem	“quem	é	esse	cara?”,	conversaram	um	pouco	sobre	mim	ou	minha
aparência,	não	tenho	certeza,	e	riram.
Na	hora	eu	quis	 ir	embora,	mas	aí,	eu	vi	a	Louise.	Ela	conversava	com
um	 rapaz	 louro	 e	 alto	 que	 vestia	 camisa	 vermelho-escura	 e	 calça	 preta	 que,
aposto,	era	para	combinar	com	o	vestido	dela.	Ela	não	dissera	que	dançaria	com
alguém.	Ou	ela	pensou	que	não	era	 importante	mencionar	ou	 ela	 sabia	que	 eu
ficaria	com	ciúmes.	O	que,	nem	precisa	falar,	foi	exatamente	o	que	senti.
O	 rapaz	 riu	 de	 algo	 que	 ela	 disse	 e	 colocou	 o	 braço	 na	 cintura	 dela
possessivamente	 e	 foram	 juntos	 para	 um	 lado	 do	 palco	 onde	 estavam	 outros
casais	se	preparando	para	as	apresentações.
–	Com	licença,	senhor	–	alguém	disse	para	mim.	Virei-me	e	olhei	quem
era	e	xinguei	mentalmente.	Era	a	Sabine	Cormac	parada	bem	atrás	de	mim.	Ela
sorriu	educadamente	e	me	disse:
–	Se	o	senhor	está	aqui	para	assistir	à	competição,	por	que	não	se	senta?
Já	vai	começar.
–	Claro,	obrigado.
Ela	meneou	 a	 cabeça	 e,	 sem	perguntar	 nada,	me	 puxou	 na	 direção	 das
poltronas	no	meio	do	auditório.
–	 Normalmente	 não	 é	 permitido	 assistir	 competições	 como	 esta,	 são
abertas	apenas	para	alunos	e	professores.	Mas	posso	ver	que	está	aqui	para	darapoio	à	Louise,	estou	certa?
Fiquei	olhando	para	ela	realmente	surpreso.
–	Como	a	senhora	sabe	disso?
–	Eu	o	vi	olhando	para	ela	e	sou	boa	em	ler	pessoas.	Você	nem	prestou
atenção	às	garotas	comendo	você	com	os	olhos,	porque	não	conseguia	 tirar	os
olhos	da	Louise.	Vocês	são	namorados?
Uau,	a	mulher	não	tinha	nenhum	problema	em	discutir	a	vida	pessoal	de
uma	aluna	com	um	completo	desconhecido.
–	 Bem,	 é	 complicado	 –	 falei,	 sem	 saber	 direito	 como	 responder	 à
pergunta.
–	Não	me	entenda	mal...	desculpe,	qual	é	mesmo	seu	nome?
–	É	William,	William	Blair.
–	Então,	Sr.	Blair,	não	me	entenda	mal,	eu	normalmente	não	fofoco	sobre
meus	 alunos	 pelas	 costas,	mas	 Louise	 é	 uma	menina	 especial.	 Tenho	 grandes
planos	para	ela.
Agora	estava	ficando	interessante.
–	Ah,	é?
–	Ela	não	contou	sobre	minha	proposta	para	que	ela	faça	parte	do	corpo
de	baile	da	Balero	quando	se	formar?
–	O	quê?	Quer	dizer,	ela	esqueceu	de	contar.	Dirigi	os	olhos	a	Louise	de
novo.	 O	 par	 dela	 não	 estava	 por	 perto,	 mas	 ela	 estava	 ocupada	 demais
conversando	com	um	grupo	de	meninas	para	notar	minha	presença.
–	Ela	é	muito	talentosa,	Sr.	Blair.	Seria	uma	pena	se	ela	decidisse	parar
de	dançar...
Será	que	eu	estava	 imaginando	coisas	ou	as	palavras	dela	pareciam	um
recado	para	mim?	Pensei	um	pouco.
–	Ah,	a	senhora	acha	que	ela	vai	desistir	de	dançar	por	minha	causa?
Ela	se	encolheu.	–	Sabe	como	é	quando	uma	mulher	está	apaixonada,	ela
mal	consegue	pensar	em	qualquer	coisa,	inclusive	na	carreira.
–	 A	 senhora	 não	 a	 conhece,	 ela	 é	 diferente.	 Dançar	 é	 a	 vida	 dela,	 e
mesmo	que	eu	quisesse	que	ela	desse	mais	atenção	a	mim	do	que	à	carreira,	eu
nunca	a	afastaria	dos	sonhos	dela.
–	Você	a	ama,	não	ama?
Era	 meio	 esquisito	 conversar	 sobre	 meus	 sentimentos	 em	 relação	 a
Louise	com	a	mãe	dela,	embora	só	eu	soubesse	que	ela	era	a	mãe.	Mas	eu	não
tinha	motivos	para	mentir.	Afinal,	eu	esperava	que	um	dia	ela	me	aceitasse	como
namorado	da	filha,	ou	talvez,	se	eu	tivesse	sorte,	como	marido.
–	Sim.	Eu	a	amo	mais	que	tudo	no	mundo.
Ela	sorriu.	–	Foi	o	que	pensei.
–	 Eu	 pareço	 um	 namorado	 completamente	 apaixonado	 e	 ciumento	 que
veio	bisbilhotar	a	namorada?
Ela	riu.	–	Com	a	única	exceção	de	que	você	não	esperava	ver	outro	rapaz
paquerando-a...
Aí	foi	minha	vez	de	rir.	–	A	senhora	não	estava	exagerando.	A	senhora	é
mesmo	muito	boa	em	ler	pessoas.
–	Ah,	mas	que	boba	eu	sou,	esqueci	de	me	apresentar,	mas	a	boa	notícia	é
que	você	já	sabe	meu	nome.	Então,	por	favor,	pode	me	chamar	de	Sabine.
–	Ok,	Sabine...	–	Cedo	ou	tarde	eu	teria	que	conversar	com	ela	e	contar	a
verdade	sobre	a	Louise.	Então,	talvez,	nosso	encontro	inesperado	tenha	sido	uma
boa.	Pelo	menos	agora	ela	sabia	quem	eu	era	e	o	que	eu	sentia	pela	Louise.
–	Sabe,	William...	posso	chamá-lo	de	William?
Meneei	a	cabeça	em	resposta.
–	Eu	sempre	 tive	bom	olho	para	 talentos.	O	dia	que	assisti	ao	vídeo	da
apresentação	 da	 Louise,	 eu	 não	 pude	 acreditar	 na	 minha	 sorte.	 Por	 anos	 eu
tentava	encontrar	alguém	como	ela,	dançarina	capaz	de	dançar	não	somente	com
o	corpo,	mas	com	a	alma	 também.	Aí	eu	vi	a	dança	dela	e	 fiquei	 tão	 feliz	em
saber	 que	 ela	 era	 nossa	 aluna,	 uma	 trabalhadora	 incansável,	 linda	 e
inacreditavelmente	talentosa.	Com	tanta	graça	em	cada	movimento,	tanta	paixão
nos	olhos...	é	maravilhoso.	Você	já	teve	o	prazer	de	vê-la	dançando?
–	Sim,	já	tive.	E	concordo	totalmente.	Quando	ela	dança,	ela	não	vê	nada
nem	ninguém.	Para	ela,	dançar	é	como	respirar,	ela	não	vive	sem.
–	E	é	exatamente	por	isso	que	a	quero	no	corpo	de	baile	da	Balero.	Ela
será	nossa	joia	rara.
Ela	será	nossa	joia	rara...
As	palavras	ficaram	martelando	na	minha	cabeça	e	eu	não	consegui	parar
de	pensar	na	conversa	com	a	Sabine	pelo	resto	da	competição.	Ela	estava	certa,
Louise	merecia	alcançar	o	melhor	como	dançarina.
De	 novo,	 pensei	 em	 tudo	 que	 eu	 e	 ela	 passáramos.	 Talvez	 fosse	 o
momento	de	recuar	e	deixar	que	ela	se	tornasse,	de	verdade,	dona	da	vida	dela...
Dançar	 é	 a	 vida	 dela,	mas	 o	 que	 ela	 fará	 se	 tiver	 que	 escolher	 entre	 a
dança	e	eu?	E	o	que	eu	gostaria	que	ela	escolhesse?	Se	ela	escolher	a	dança	e	me
deixar	em	segundo	plano,	conseguirei	conviver	com	isso?	Claro	que	conseguirei.
Simplesmente	por	que	não	consigo	imaginar	minha	vida	sem	ela.	Mas	se	ela	me
escolher	em	vez	dos	sonhos	dela,	eu	nunca	vou	me	perdoar	por	afastá-la	deles.
Claro	 que	 ela	 vai	 dizer	 que	 não	 importa,	mas	 ela	 nunca	 será	 verdadeiramente
feliz	 sem	 a	 dança.	 E	 pelo	 resto	 da	minha	 vida	me	 culparei	 por	 torturá-la,	 por
fazê-la	 escolher	 errado.	 E	 não	 é	 isso	 que	 eu	 quero	 para	 ela.	 Eu	 nunca	 a	 farei
sofrer,	nunca.
Capítulo	11
	
Louise
	
–	Você	tem	compromisso	hoje	à	noite?
Eu	 não	 estava	 prestando	 atenção	 em	Gale	 quando	 ele	 falou.	 Eu	 estava
tentando	 entender	 por	 que	 o	Will	 não	 retornava	 minhas	 ligações.	 Christopher
também	não	atendia	e	eu	comecei	a	ficar	preocupada.
–	Desculpe,	o	que	você	disse?
–	Perguntei	se	você	tem	compromisso	hoje	à	noite.	Gostaria	de	ir	a	algum
lugar	e	comemorar	o	sucesso	da	nossa	apresentação?
Gale	e	eu	fomos	os	melhores	no	programa	Latino-americano,	então	sim,
tínhamos	bom	motivo	para	comemorar.
–	Desculpe,	 não	 posso.	 Tenho	 planos	 para	 hoje.	 –	Dei	 um	 sorriso	 que
pedia	desculpas	esperando	que	seria	o	suficiente	para	não	magoá-lo.	Embora,	a
julgar	para	expressão	triste	dele,	ele	esperava	ouvir	resposta	diferente.
–	Tudo	bem,	fica	para	a	próxima	–	disse	ele	antes	de	ir	embora.
–	Claro.
Liguei	 para	 o	 Christopher	 de	 novo	 e	 desta	 vez	 ele	 atendeu	 o	 maldito
telefone,	graças	a	Deus.
–	Estou	do	lado	de	fora	–	falou	secamente,	em	vez	de	me	cumprimentar.
Eu	não	gostei	daquilo.	Christopher	sempre	era	cavalheiro.	Ele	nunca	fora
grosso	comigo.	Claramente	algo	estava	errado.
Saí	 e	 vi	 o	 carro.	 Como	 sempre,	 Christopher	 saiu	 do	 carro	 para	 abrir	 a
porta	traseira	para	mim.
Sem	dizer	nada,	entrei	no	carro	e	esperei	ele	sentar-se	ao	volante.	Depois
de	dez	minutos	de	silêncio	eu	ousei	perguntar:
–	Está	tudo	bem?
–	Está	–	respondeu	ele,	de	olhos	grudados	na	rua.
–	 Tem	 certeza?	 Porque	 eu	 tenho	 uma	 sensação	 estranha	 de	 que	 algo
aconteceu,	mas	você	não	me	fala.
Inclinei-me	para	frente	aguardando	a	resposta	dele,	mas	tudo	o	que	recebi
de	 volta	 foi	 uma	 sacudida	 de	 cabeça	 indicando	 que	 eu	 estava	 errada.	 A
expressão,	impassível.
–	Tudo	bem.	–	Olhei	para	ele	de	novo	com	olhar	curioso	e	encostei	no
banco.
Tentei	ligar	para	o	Will	de	novo,	mas	indicava	que	estava	fora	de	área	de
cobertura.
–	Você	 sabe	 onde	 o	Will	 está?	 –	 perguntei	 esperando	 resposta	 para	 ao
menos	uma	pergunta.
–	Não	sei.
Bem,	isso	era	inesperado.
–	Mas	 você	 sempre	 sabe	 onde	 ele	 está	 –	 falei,	 esperando	 que	 ele	 me
explicasse	o	que	estava	acontecendo.	Porque	eu	tinha	certeza	de	que	algo	estava
acontecendo,	eu	só	não	sabia	o	que	era.
–	Hoje	eu	não	sei	–	disse	Christopher	pegando	a	rua	que	levava	à	casa	do
Will.
–	Entendo...	por	que	você	não	me	conta	o	que	aconteceu?	–	falei,	ficando
um	tanto	nervosa.	–	É	sobre	meu	pai	de	novo?	O	que	ele	fez	dessa	vez?
–	Nada.	 Não	 tem	 nada	 a	 ver	 com	 seu	 pai,	 Louise.	 E,	 na	 verdade...	 eu
espero	que	você	possa	me	falar	o	que	aconteceu.
Ele	estacionou	em	frente	a	casa	e	virou-se	para	olhar	para	mim.
–	Como	posso	saber?	–	perguntei	surpresa.	–	Eu	não	vejo	o	Will	desde
hoje	cedo.
–	Ah,	não	viu?	Eu	tinha	certeza	de	que	haviam	se	encontrado	depois	da
competição.
–	 Não...	 ele	 foi	 assistir	 à	 competição?	 –	 Aquilo	 era	 surpresa	 pra	 mim
também.	Ele	não	mencionara	sobre	a	intenção	de	ir	à	escola.	Será	que	ele	foi	ver
a	minha	dança?
–	Pelo	menos	foi	isso	que	ele	me	disse	que	faria	–	comentou	Christopher.
–	Depois	ele	voltou	para	casa,	fez	as	malas	e	foi	embora	dizendo	que	precisava
de	algum	tempo	longe	daqui.	Então,	naturalmente,	eu	pensei	que	tinha	algo	a	ver
com	você.	Pensei	que	vocês	tivessem	brigado.
Franzi	a	 testa,	 tentando	entender	o	que	 faria	Will	 sair	de	casa,	masnão
me	lembrei	de	ter	feito	nada	que	o	deixasse	bravo	ou	o	fizesse	acreditar	que	eu
não	queria	vê-lo	em	casa.
Olhei	para	o	telefone	nas	minhas	mãos.	Por	que	ele	não	atendia	minhas
ligações?
–	Você	sabe	de	outra	forma	de	contatá-lo?	O	telefone	está	desligado.
	–	Há	uma	outra	forma	de	encontrá-lo,	venha	comigo.
Saímos	do	carro,	entramos	na	casa	e	fomos	até	o	escritório	dele.
–	Eu	tenho	um	programa	que	rastreia	o	carro	dele,	o	 telefone	e	o	avião
particular.
Christopher	 ligou	 o	 computador	 e	 digitou	 a	 senha	 para	 acessar	 o
programa	que	ele	mencionara.
–	Will	sabe	que	você	pode	rastreá-lo?
Ele	 sorriu	 meneando	 a	 cabeça.	 –	 Foi	 ideia	 do	 pai	 dele.	 Eu	 também
rastreava	 Randal.	 Foi	 assim	 que	 soubemos	 do	 acidente	 com	 o	 barco,	 quando
perdemos	o	sinal.
–	Entendo.	 –	Olhei	 para	 a	 tela	 e	 vi	 uma	 luzinha	vermelha	piscando	no
centro	do	mapa.	–	É	aqui	que	ele	está	agora?	–	perguntei	apontando	para	a	 luz
vermelha	na	tela.
–	É.	E	de	acordo	com	o	mapa	ele	está	fora	da	cidade.
–	Você	pode	me	dar	o	endereço	exato?
–	Claro.	–	Ele	apertou	alguns	botões	e	disse:
–	Aqui	está.	É	um	hotelzinho	a	oeste	de	Nova	Iorque.	Conheço	o	lugar,
Will	vai	lá	com	frequência.
–	Por	quê?
–	É	calmo	e	isolado.	Lugar	perfeito	para	arrumar	a	bagunça	que	está	na
cabeça	dele	agora.	Ele	ia	muito	para	lá	depois	da	morte	do	pai.
–	Por	favor,	pode	me	levar	lá?
Christopher	hesitou.	–	Se	ele	não	está	aqui,	mas	ainda	está	no	país,	isso
significa	que	ele	precisa	de	algum	tempo	longe	daqui,	Louise.
–	Longe	daqui	ou	longe	de	mim?
–	Acredito	que	os	dois.
–	Não	me	importa,	preciso	falar	com	ele.
Will	 nunca	 desaparecera	 daquele	 jeito.	 Ele	 nunca	 desligara	 o	 telefone.
Talvez	houvesse	algo	que	ele	não	quisesse	me	dizer	e	eu	precisava	saber	por	que
ele	foi	embora	sem	falar	para	aonde	ia	e	por	que	estava	indo.
–	 Por	 que	 não	 esperamos	 até	 amanhã?	 –	 disse	 Christopher.	 –	 Eu	 o
conheço,	Louise.	Ele	não	faria	isso	sem	uma	razão.	Se	ele	foi	para	lá,	significa
que	quer	ficar	sozinho.
Eu	suspirei.	–	Detesto	ser	chata,	mas	preciso	vê-lo,	agora.
Christopher	desligou	o	computador	e	assentiu,	dizendo:
–	Tudo	bem,	vou	levar	você	até	ele,	mas	não	diga	que	não	avisei.	Você
pode	não	gostar	do	Will	que	verá	quando	chegarmos	lá.
Eu	não	entendi	o	que	ele	quis	dizer	com	aquilo,	mas	não	fiz	perguntas	até
pararmos	em	frente	ao	Hotel	Baía,	pequeno	e	perto	de	um	lindo	lago.
–	Você	 tem	 razão	 –	 falei	 ao	Christopher,	 saindo	 do	 carro.	 –	 É	 o	 lugar
perfeito	para	pensar.	Como	saberemos	se	ele	está	aqui	ou	não?
–	Você	pode	perguntar	para	a	recepcionista.	Espero	aqui,	ok?
Assenti	 e	 olhei	 em	 volta	 de	 novo.	 O	 lugar	 era	 maravilhoso,	 com
carvalhos,	píceas	espalhadas	de	ambos	os	lados	da	estrada	que	levava	até	o	lago.
Arbustos	 em	 madeira	 e	 placas	 de	 cada	 lado	 dos	 bancos	 que	 tinham	 escritos
diferentes.
Fui	até	o	banco	mais	próximo	e	li	o	que	estava	escrito:
Não	procure	a	perfeição,	seja	a	perfeição.
Eu	ri.	Fácil	falar	e	difícil	fazer,	pensei.	Eu	nunca	acreditei	na	perfeição.
Para	mim,	é	algo	que	nunca	existiu	e	difícil	de	alcançar,	caso	existisse.	Eu	nunca
esperei	que	ninguém	fosse	perfeito,	eu	nunca	quis	ser	perfeita.	As	pessoas,	por
natureza,	são	cheias	de	imperfeições.	Mas	quando	se	refere	a	minha	vida,	e	meu
futuro,	em	particular,	eu	queria	que	fosse	perfeito,	 tanto	quanto	eu	conseguisse
fazer	perfeito...
–	Louise!	 –	 chamou	Christopher	 saindo	 do	 hotel.	 –	Will	 está	 aqui.	Ele
está	no	quarto	23.	Você	ainda	acha	que	é	boa	ideia	ir	vê-lo?
–	Acho.
–	Devo	esperar?
Pensei	um	pouco.	–Não,	vou	ficar	bem.	–	Eu	não	sabia	quanto	tempo	eu
ficaria	com	Will,	então	não	fazia	sentido	fazer	Christopher	esperar.	–	Eu	chamo
um	táxi	se	precisar.
–	Mantenha	o	celular	ligado,	ok?	Uma	pessoa	desaparecida	é	mais	do	que
suficiente	para	uma	noite.
Eu	sorri.	–	Não	se	preocupe,	manterei	contato.
Ele	assentiu	e	foi	para	o	carro.	Eu	fui	para	a	entrada	do	hotel.
Para	ser	sincera,	eu	estava	um	pouco	nervosa	sobre	aparecer	à	porta	do
Will	quando	ele	queria	ficar	sozinho.	No	fundo	eu	sabia	que	deveria	ter	ouvido
Christopher	e	deixado	Will	quieto,	pelo	menos	por	uma	noite.	Mas	algo	me	dizia
que	ele	precisava	de	mim.	E	eu	não	poderia	ignorar	aquela	sensação.	Ele	vinha
sofrendo	por	minha	causa	há	muito	tempo.	Eu	não	queria	dar	outro	motivo	para
ele	se	arrepender	do	dia	que	nos	encontramos	pela	primeira	vez,	dez	anos	antes.
E	eu	queria	que	ele	me	odiasse	menos,	o	que	eu	pensei	que	estivesse	perto	do
que	ele	deveria	estar	sentindo	por	mim	no	momento.
Fui	até	o	segundo	andar	do	hotel	e	parei	em	frente	ao	quarto	23.	Bati	à
porta	e	esperei.
Em	menos	de	um	minuto	ele	abriu	a	porta.
–	O	quê?	–	Ele	perdeu	a	cabeça	olhando	para	mim,	bravo.	Levou	algum
tempo	para	ele	entender	que	eu	não	era	uma	funcionária	do	hotel	verificando	se
ele	precisava	de	algo.	–	Louise?	–	falou	depois	de	curta	pausa.
Eu	engoli	 seco,	olhando	para	 ele.	A	camisa	 estava	parcialmente	 aberta,
com	as	mangas	enroladas	até	os	cotovelos.	O	cabelo	estava	bagunçado	e	pude
jurar	que	o	quarto	e	ele	cheiravam	a	álcool.
	–	É	assim	que	você	relaxa	quando	não	suporta	mais	ficar	perto	de	mim?
–	Eu	não	queria	parecer	a	esposa	megera	que	vai	ver	se	o	marido	a	está	traindo
com	outra	mulher,	mas	não	pude	conter	a	raiva	que,	de	repente,	explodiu	dentro
de	mim.
–	O	que	você	está	fazendo	aqui?	–	perguntou	ele	com	voz	seca.
Entrei	no	quarto	sem	pedir	permissão	antes,	e	olhei	em	volta,	dizendo:
–	Eu	pensei	que	você	só	precisasse	de	algum	espaço,	mas	agora	posso	ver
que	estava	errada.	Indiquei	com	a	cabeça	para	uma	garrafa	de	uísque	vazia	que
estava	na	mesa	perto	da	janela	que	dava	para	o	terraço.	–	O	que	significa	isso?
Você	não	podia	beber	em	casa?	Eu	não	incomodaria	você,	era	só	me	dizer	que
queria	ficar	sozinho.
–	Você	não	entende...	–	Ele	foi	até	o	minibar	instalado	num	dos	armários,
abriu-o,	 pegou	 uma	garrafa	 de	 champanhe,	 abriu-a	 e	 bebeu	 golinhos	 direto	 da
garrafa.
–	Está	melhor	 agora?	–	perguntei	 com	o	 tanto	de	veneno	que	 consegui
colocar	na	pergunta.
–	Nem	perto	–	grunhiu	ele,	me	olhando	de	novo	com	raiva.
–	O	que	está	acontecendo,	Will?	–	perguntei,	mais	 suave	desta	vez.	Eu
nunca	o	vira	daquele	jeito.	Christopher	estava	certo,	era	como	ver	outro	lado	do
Will,	um	lado	que	eu	não	conhecia.
Ele	 riu,	 passando	 uma	 das	 mãos	 pelo	 cabelo.	 –	 Não	 é	 óbvio?	 Estou
tentando	afogar	as	mágoas.
–	E?	–	Ele	realmente	acreditava	que	o	álcool	o	faria	sentir-se	melhor?
Ele	parou	de	rir	e	colocou	a	garrafa	na	mesa	perto	da	que	já	estava	vazia.
–	Não	está	funcionando.
–	Imagino...	por	que	você	não	toma	banho?	Você	precisa	se	refrescar.	Eu
espero.
Os	 olhos	 dele	 encontraram	 os	 meus.	 –	 Por	 que	 você	 veio	 aqui?	 –
perguntou.
–	Eu	queria	conversar	com	você.
Ele	riu.	–	Conversar...	claro.	Conversar	é	a	única	coisa	que	posso	esperar
de	você,	não	é,	Louise?
Por	 que	 havia	 tanta	 raiva	 nas	 palavras	 dele?	 Ele	 nunca	 falara	 comigo
daquela	 forma.	 Como	 se	 eu	 não	 fosse	 boa	 o	 suficiente	 nem	 para	 pensar	 em
atrapalhar	Sua	majestade	da	bebedeira,	William	Blair.	De	repente,	senti	vontade
de	sair	correndo	e	nunca	mais	voltar.	Uma	parte	minha	sabia	porque	ele	estava
bêbado,	era	tudo	culpa	minha,	eu	podia	sentir.	E	isso	não	me	fazia	sentir	melhor.
Eu	só	queria	ir	para	casa	e	esperar	que	ele	voltasse	ao	normal.	O	Will	que	eu	via
agora	 me	 dava	 medo.	 Eu	 não	 sabia	 como	 reagir	 às	 palavras	 ou	 ao
comportamento	dele.
–	Você	 não	 está	 raciocinando	 direito	 –	 eu	 disse	 por	 fim.	 –	Christopher
estava	certo,	foi	má	ideia	seguir	você	até	aqui.	–	Caminhei	até	a	porta,	mas	Will
não	me	deixaria	nem	chegar	perto	dela.
Ele	me	pegou	pela	mão,	virou-me	e	grosseiramente	me	puxou	para	perto
de	si,	colocando	os	dois	braços	em	volta	de	mim.	–	Por	que	você	não	o	ouviu?	–
sibilou	ele	me	olhando.	Deus,	havia	tanto	ódio	nas	palavras	e	no	olhar	dele.	Ele
nunca	me	olhara	daquele	jeito.
–	Não	consigo	respirar	–	falei,	sentindo	o	abraço	ficar	mais	apertado.
Ele	afrouxou	os	braços	e	repetiu	a	pergunta.	–	Por	que	você	não	o	ouviu?
Oque	você	esperava	ver	aqui,	Louise?	Outra	mulher?
Eu	 não	 respondi.	 Será	 que	 ele	 tinha	 razão?	 Seria	 a	 ideia	 de	 vê-lo	 com
outra	mulher	 a	 verdadeira	 razão	 para	minha	 vontade	 de	 vê-lo?	 Bem...	 eu	 não
sabia	a	 resposta.	Ou,	 talvez,	eu	soubesse,	mas	eu	não	queria	deixá-la	entrar	na
minha	mente.
–	Você	 acha	mesmo	 que	 eu	 dormiria	 com	 outra	mulher	 só	 porque	 não
posso	transar	com	você?	–	disse	ele	com	nojo	na	voz.
–	 Não,	 não	 acho	 –	 respondi	 sentindo	 meu	 coração	 acelerar.	 Eu	 ainda
estava	com	um	pouco	de	medo	dele,	mas	fora	isso,	eu	estava	muito	excitada	em
estar	nos	braços	dele	para	pensar	nas	regras	que	eu	estabelecera.
Eu	pude	ver	o	desejo	borbulhando	nos	olhos	dele,	além	da	raiva	que	era
outra	coisa	que	eu	conseguia	ver	claramente	nos	olhos	dele.	Se,	a	princípio,	eu
pensara	que	o	ódio	ofuscava	tudo	o	que	ele	sentia	por	mim,	eu	estava	errada.	Ele
não	 me	 odiava,	 ele	 odiava	 a	 si	 mesmo	 por	 ainda	 me	 querer,	 por	 me	 desejar
ardentemente,	 pela	 fraqueza	 dele	 em	 não	 conseguir	 resistir	 ao	 que	 sentia	 por
mim.	E	assim	era	para	nós	dois.
Talvez	 se	 eu	 não	 o	 amasse	 tanto,	minha	 vida	 seria	mais	 fácil.	Eu	 seria
livre...
Mas	 a	 Kate	 tinha	 razão,	 eu	 não	 poderia	 ser	 livre	 amando	William.	 E,
neste	momento,	eu	o	odiei	por	isso,	por	ser	tão	bom	para	mim,	por	me	amar	mais
do	que	a	vida,	por	tentar	ser	a	resposta	para	todas	as	minhas	perguntas,	por	ser
minha	única	chance	de	ser	verdadeiramente	feliz.
–	O	que	você	quer?	–	perguntei	já	sabendo	a	resposta.
–	Você	–	disse	ele.	–	Eu	nunca	deixei	de	querer	você.
Por	 alguns	 instantes,	 nenhum	 de	 nós	 disse	 nada.	 Ficamos	 nos	 olhando
como	se	tentássemos	fazer	o	outro	desistir	e	recuar.
–	 Então,	 o	 que	 você	 está	 esperando?	 –	 falei	 por	 fim,	 desafiando-o.	 –
Possua-me,	 como	 você	 tem	 sonhado	 em	 fazer	 todo	 o	 tempo	 que	 estivemos
separados.
Ele	contraiu	a	mandíbula,	os	lábios	viraram	uma	linha	fina.
–	Não	é	assim	que	deve	ser.	Eu	nunca	quis	apenas...	transar	com	você,	e
você	sabe	disso.
–	Não,	eu	não	sei.	Eu	não	quero	pensar	sobre	isso	agora.	Deixe	que	seja
errado,	pelo	menos	uma	vez.
Ele	ficou	me	olhando,	claramente	chocado	para	falar.
–	Vamos	fingir	que	você	nunca	conheceu	meu	eu	verdadeiro	–	falei.	–	Eu
sentia	como	se	estivesse	deixando	passar	algo	importante	sobre	o	que	acontecia
no	 recinto,	mas	 eu	 não	me	 importava.	 –	Vamos	 fingir	 que	 você	 nunca	 tirou	 a
venda	dos	meus	olhos.	Vamos	fingir	que	eu	nunca	conheci	o	verdadeiro	Will...
Ele	engoliu	seco.	–	E	se	for	verdade,	Louise?	E	se	você	nunca	conheceu
meu	verdadeiro	eu?	E	se	o	Will	que	você	vê	agora	é	quem	eu	sou	de	verdade?
Indiferente,	monstro	desalmado,	muito	egoísta	para	deixar	você.
Pude	 sentir	 lágrimas	 ardendo	 nos	 meus	 olhos.	 Eu	 não	 sei	 por	 que,	 de
repente,	 eu	 senti	 vontade	 do	 chorar.	 	 Eu	 estava	 perdendo	 o	 controle.	 Minha
mente	se	recusava	a	desligar	dos	sentimentos	que	meu	coração	tentava	reprimir
há	tanto	tempo.
	
Estávamos	muito	ferrados...	nós	dois	sabíamos	que	aquela	conversa	não
terminaria	 bem,	mas	nenhum	de	nós	 se	 importava.	Fomos	 longe	demais	 e	 nos
deixamos	cegar	por	nossos	desejos.	Ele	não	era	o	único	egoísta	no	 recinto.	Eu
não	 era	muito	diferente	 dele.	Eu	 coloquei	meus	 sonhos	primeiro	 e	 deixei	Will
ficar	em	algum	lugar	atrás	das	belas	cortinas	que	se	abriam	para	a	sala	cheia	de
cuecas	 e	 olhos	 de	 admiração	 me	 observando	 dançar	 para	 eles.	 Eu	 nunca	 o
coloquei	em	primeiro	lugar.	Nunca	tentei	me	colocar	no	lugar	dele,	sentir	o	que
ele	deve	ter	sentido	todo	o	tempo	que	eu	o	afastei.
Eu	 pensei	 que	 sabia	 como	 ele	 se	 sentia,	mas	 eu	 estava	 errada.	 Eu	 não
tinha	a	menor	ideia	do	que	acontecia	na	cabeça	e	no	coração	dele.	Eu	pensei	que
o	 amor	 dele	 era	 forte	 o	 suficiente	 para	 ajudá-lo	 a	 superar	 tudo.	 Eu	 só	 nunca
pensei	que	 se	não	 fosse	por	mim,	ele,	provavelmente,	 estaria	mais	 feliz	 agora,
talvez	até	casado	e	com	os	filhos	que	ele	sempre	quis	ter.
–	 Pare	 de	 pensar	 –	 disse	 ele,	 como	 se	 pudesse	 ler	meus	 pensamentos.	
Ah,	se	ele	soubesse	como	eu	queria	parar	de	pensar...
–	Só	se	você	fizer	o	mesmo	–	retruquei,	novamente,	fazendo	parecer	um
desafio.	Porque,	como	eu,	ele	nunca	parava	de	pensar,	nunca	parava	de	dar	muita
importância	a	pequenos	problemas.	Ele	não	sabia	como	levar	as	situações	numa
boa.	Ele	não	sabia	não	se	importar,	mesmo	que	neste	momento	ele	achasse	que
não	estava	nem	aí.
–	Vamos	nos	arrepender	disso,	Louise...
–	Não	dou	a	mínima.
Fiquei	 na	 ponta	 dos	 pés,	 passei	 os	 braços	 em	 volta	 do	 pescoço	 dele	 e
colei	 os	 lábios	nos	dele,	 espantando	 cada	pequena	dúvida	que	mente	 anuviada
dele	ainda	fosse	capaz	de	pensar.
Ele	 logo	 interrompeu	o	beijo	e	me	virou	então	eu	 fiquei	 com	as	costas
pressionadas	no	peito	dele.
Ele	 sussurrou	 no	 meu	 ouvido.	 –	 Quero	 fazer	 amor	 com	 você,	 Louise.
Posso?
As	palavras	foram	suaves,	mas	firmes.	Ele	não	me	deixaria	sair	do	quarto
até	ter	o	que	queria.
–	Pode	–	respondi	com	a	respiração	pesada.	Eu	não	queria	pensar,	deixei
meus	sentimentos	bons	e	ruins	assumirem.
Pela	 primeira	 vez,	 no	 que	 parecia	 uma	 eternidade,	 eu	 simplesmente
deixei	rolar...
Capítulo	12
	
William
	
Era	errado...	O	que	estávamos	prestes	a	fazer	era	tão	errado,	de	diversas
formas.	Mas	 nenhum	de	 nós	 dava	 importância.	 Estávamos	muito	 embriagados
para	ponderar	as	consequências	e	fartos	da	merda	que	tínhamos	que	lidar	para,
simplesmente,	transar.	Eu	estava	embriago	com	o	álcool,	e	a	Louise	com	o	peso
de	 tudo	que	 ela	pensara	 ser	 forte	para	 lidar	 sozinha.	Era	o	pior	momento	para
estarmos	 juntos,	 mas	 não	 éramos	 capazes	 de	 fingir	 que	 não	 nos	 desejávamos
mais.
Depois	 da	 competição,	 eu	 saí	 antes	 que	 a	 Louise	 percebesse	 que	 eu
decidira	 ir	 assistir	 a	 dança	 dela.	 Ela	 parecia	 tão	 feliz	 no	 palco...me	 senti
invadindo	 o	mundo	 de	 juventude	 e	 liberdade	 dela,	 um	mundo	 que	 ela	 deveria
desfrutar	 sem	 estresse	 sobre	 nenhum	 aspecto	 de	 nossa	 vida.	 Ela	 pertencia	 ao
palco	e	enquanto	ela	estava	nele,	ele	era	dela	e	a	 fazia	 feliz.	E	eu	não	poderia
tirar	essa	felicidade	dela.	Apesar	de	que	enquanto	eu	estava	lá,	deliciei-me	com
cada	segundo	da	dança	dela,	eu	não	conseguia	 tirar	os	olhos...	 eu	podia	ver	as
emoções	e	os	pensamentos	dela	enquanto	executava	os	passos.	Falavam	comigo,
o	corpo	dela	falava	comigo,	mas	eu	não	poderia	arruinar	tudo,	eu	tinha	que	sair
de	lá	e	foi	o	que	fiz.
Enquanto	eu	assistia	ao	amor	da	minha	vida	se	mover	tão	graciosa	quanto
as	ondas	do	mar,	 fiquei	pensando	como	a	situação	era	 impossível	para	mim.	E
não	era	porque	eu	quisesse	destruir	a	felicidade	dela,	era	porque	ela	não	poderia
se	permitir	ser	feliz	comigo	até	ter	certeza	de	que	podia	ser	feliz	sozinha.	É	como
diz	 o	 ditado:	 você	 precisa	 se	 amar	 antes	 de	 amar	 alguém.	 E	 hoje,	 eu	 percebi
como	a	vida	dela	ficou	complicada	com	a	minha	presença.	Invadir	o	mundo	dela
foi	 um	 erro	 desde	 o	 começo,	 e	 isso	 estava	 além	de	 assisti-la	 no	 palco.	Louise
ficaria	bem	mesmo	sem	que	eu	assistisse	cada	movimento	dela.	Ela	era	forte	e
corajosa,	era	uma	guerreira	que	não	precisava	de	um	exército	para	conquistar	o
mundo	ou	vencer	batalhas...	O	 fato	é	que	ela	não	precisava	mais	de	mim	para
lutar	por	ela,	ela	podia	lutar	sozinha.	Tudo	que	eu	fiz	foi	complicar	a	vida	dela.
Levantei-me	e	me	despedi	da	Sabine,	fui	embora	sem	pensar	duas	vezes
que,	na	verdade,	eu	estava	indo	embora	da	vida	da	Louise.
Eu	estava	fugindo...	dela,	de	mim,	de	todos	os	sentimentos	que	eu	tinha
por	ela.
Eu	 só	 queria	 morrer,	 ali	 mesmo,	 e	 nunca	 mais	 olhar	 nos	 olhos	 dela.
Aqueles	olhos	lindos,	olhos	que	me	viam	por	dentro,	que	viam	as	profundezas	da
minha	alma.	E	assim,	faziam	meu	coração	acelerar	e	meu	corpo	tremer,	e	quando
eu	olhava	de	volta	naqueles	olhos	que	eram	como	uma	armadilha,	eu	mergulhava
nas	 profundezas	 sem	 fim.	 Como	 eu	 disse,	 os	 olhos	 dela	 eram	 como	 uma
armadilha	feita	só	para	mim	e	é	por	isso	que	eu	precisava	ir	emboraantes	que	ela
me	visse.
Saí	do	prédio	praticamente	correndo...	Eu	precisava	me	distanciar	dela,
entrei	no	carro	e	acelerei.	Eu	não	olhei	para	 trás,	nem	mesmo	olhei	de	 relance
pelo	retrovisor.	Pensei	que	assim	era	melhor.	Por	um	momento,	imaginei	deixá-
la	para	sempre,	fugir	e	nunca	me	permitir	nem	falar	o	nome	dela	de	novo.
Acelerei	 em	direção	ao	hotel	onde	costumava	 ficar	quando	queria	 ficar
sozinho	e	 estacionei	o	 carro	com	pressa.	Fiz	o	 registro	e	 fui	para	o	quarto	me
sentindo	 ao	 mesmo	 tempo	 derrotado	 e	 vitorioso	 por	 cair	 fora.	 Quando	 eu
afogava	as	mágoas	com	as	bebidas	do	minibar,	decidi	que	poderia	precisar	fugir
para	mais	longe	dela	assim	eu	não	me	entregaria	e	voltaria	correndo	para	ela.
Toc,	 toc,	 toc...	 Bateram	 à	 porta.	 A	 porcaria	 do	 funcionário	 do	 hotel
precisa	me	deixar...	eu	abri	a	porta	e	comecei	a	gritar	ante	de	notar	que	era	ela
quem	estava	à	porta	do	meu	quarto,	linda	e	desejável	como	sempre.	Eu	grunhi,
Eu	estava	perdido	de	novo.	Perdido	para	caramba	de	 tudo,	menos	dela.
Não	me	 lembro	de	 ter	me	odiado	mais	 do	 que	 naquele	momento.	Eu	 a	 queria
para	satisfazer	a	ânsia	que	eu	não	conseguia	conter.	 	Quando	ela	fez	a	oferta,	a
tampa	da	garrafa	explodiu,	meus	sentimentos	e	pensamentos	combinados	a	um
desejo	inexplicável	que	eu	não	sabia	como	conter	e	eu	apenas	deixei	o	desejo	me
levar...
–	 Relaxa	 –sussurrei,	 dando	 um	 beijinho	 no	 pescoço	 dela.
Intencionalmente	eu	a	afastei	de	mim.	Aparentemente	um	pedacinho	da	minha
consciência	ainda	estava	presente	e	me	dizia	que	eu	jamais	me	perdoaria	se	fosse
rude	com	ela.	No	entanto,	eu	passei	uma	maldita	eternidade	sem	ela	e	empurrei
minhas	 preocupações	 para	 o	 fundo	da	mente	 onde	 eu	não	veria	 os	 olhos	 dela.
Convenci-me	 que	 seria	 melhor	 se	 eu	 não	 conseguisse...	 eu	 a	 queria...	 eu
precisava	dela...	agora.
Eu	 podia	 sentir	 o	 peito	 dela	 subindo	 e	 descendo	 sob	 minhas	 mãos
exploradoras	tocando	a	barra	da	camiseta	azul	clara.	Depois	de	algum	silêncio	eu
a	 tirei.	 Eu	 passei	 as	mãos	 nas	 costas	 dela	 e	 fui	 até	 o	 fecho	 do	 sutiã	 vermelho
escuro	abrindo-o	num	movimento	suave,	baixando	as	alças	pelos	braços	dela.
–	Vou	amarrar	suas	mãos	–	avisei,	pegando	minha	gravata	que	estava	no
encosto	de	uma	cadeira.
Ela	não	protestou	quando	eu	puxei	 as	mãos	dela	para	 trás	 e	 as	 amarrei
com	o	pedaço	de	tecido.
Puxei-a	para	perto	de	novo,	usando	as	mãos	para	massagear	o	corpo	dela,
para	cima	e	para	baixo	nas	laterais,	passando	a	mão	pela	barriga	e	parando	nos
peitos	perfeitos	para	beliscar	de	leve	os	mamilos	rosados.
–	 Por	 que,	 exatamente,	 você	 veio	 aqui,	 Louise?	 –	 perguntei	 pela
centésima	vez	na	última	meia	hora.
Ela	sabia	que	eu	precisava	ouvir	a	resposta.
–	Para	agradar	você	–	respondeu	ela	entrando,	naquele	exato	momento,
no	jogo	velado	que,	de	alguma	forma,	parecia	ser	a	única	saída	para	a	bagunça
em	que	nos	colocáramos.
–	Resposta	certa	–	falei	ainda	bêbado	para	pensar	direito...	ou	talvez	eu
estivesse	 apenas	 apreciando	 demais	 a	 total	 perda	 de	 controle	 para	 tentar	 ser
sensato	de	novo.
Nenhuma	 bebida	 poderia	me	 deixar	mais	 embriagado	 que	 o	 corpo	 e	 o
cheiro	 singular	dela...	 Eu	 sabia	 que	 sempre	 lembraria	 do	 cheiro	 da	 pele	 dela
mesmo	quando	ela	não	estivesse	por	perto.	Era	o	suficiente	para	me	fazer	fechar
os	olhos	e	ser	banhado	pelo	cheiro	dela	que	preenche	cada	célula	do	meu	corpo.
O	 jeans	apertado	que	ela	vestia	não	deixava	muita	margem	para	minha
imaginação...	quer	dizer,	no	que	diz	respeito	as	curvas	do	corpo	dela.	Pelo	jeans
via-se	 todas	 as	 curvas	 sexys	 dela	 e	 eu	mal	 podia	 esperar	 para	 explorar	 todo	 o
corpo	dela,	por	dentro	e	por	fora.	Abri	o	zíper	da	calça	dela	a	puxei	pelas	pernas,
quando	estavam	perto	dos	tornozelos	ela	levantou	um	pé	e	depois	o	outro	tirando
a	calça	e	depois	chutou-a	para	o	lado.
Ela	ainda	estava	parada	de	costas	para	mim.	Os	cachos	 louros	desciam
em	cascata	por	um	ombro	me	deixando	a	vista	maravilhosa	das	costas	perfeitas,
da	 bunda	 maravilhosa	 e	 das	 pernas	 longas.	 Corri	 as	 mãos	 pela	 coluna	 dela,
apalpando	levemente	a	bunda	dela.	A	tanga	vermelha-escura	que	ela	vestia	não
cobria	muito,	o	que	era	uma	enorme	vantagem	no	momento.
Apertei	 um	pouco	mais	 a	 bunda	dela	 e	 deslizei	 uma	das	mãos	 entre	 as
pernas	 trazendo-a	mais	para	perto	de	mim.	Perdi	o	ar	no	momento	que	a	 senti
molhada,	através	do	tecido	da	tanga.	Deus,	ela	estava	pronta	para	mim.	Eu	não
conseguia	acreditar	que	ela	me	desejava	apesar	de	eu	estar	sendo	um	completo
babaca	com	ela	hoje.	Eu	estava	indisposto,	muito	indisposto,	mas	eu	mal	podia
esperar	pelo	momento	em	que	estaríamos	perdidos	no	prazer	de	nossos	corpos	se
tornando	um	só,	pele	com	pele,	quadril	com	quadril,	boca	com	boca.
Passaram	 alguns	minutos	 enquanto	 estivemos	 ali,	muito	 arrasados	 para
nos	 separarmos	 um	 do	 outro.	 Debilitado	 demais	 para	 respirar	 e	 com	 medo
demais	até	mesmo	para	pensar.	Era	como	se	estivéssemos	prestes	a	desistir	um
do	outro,	mas	não	podíamos	fazê-lo	sem	magoar	e	machucar	ainda	mais	nosso
coração,	 não	 importando	 quanto	 isso	 fosse	 impossível,	 considerando	 que	 já
estavam	partidos	ao	ponto	que	nenhum	de	nós	sabia	como	curar	os	ferimentos.
Eu	estava	devastado	por	 causa	dela	 e	 somente	ela	poderia	dar	um	 jeito
nisso...	 e	 por	 isso	 eu	 queria	 puni-la,	 mesmo	 que	 eu	 percebesse	 que	 não	 era
exatamente	 culpa	 dela,	 era	 a	 minha	 própria	 estupidez.	 Eu	 que	 me	 aproximei
demais,	e	a	culpa	por	isso	era	toda	minha...	e	a	este	ponto,	não	havia	nada	que	eu
pudesse	fazer.
Eu	a	empurrei	para	o	sofá	e	a	debrucei	no	encosto.	Pus	as	mãos	na	bunda
dela	de	novo,	depois	as	deslizei	pelas	laterais	do	corpo	dela	pegando	as	beiradas
da	 tanga	 e	 deixando-a	 cair	 pelas	 pernas,	 quando	 chegou	 no	 chão	 ela,
gentilmente,	tirou-a	pelos	pés	e	a	chutou	longe	e	roçou	a	perna	no	meu	pênis.
Meu	pênis	ficou	mais	duro.	Eu	nunca	a	vira	agir	daquela	forma,	quieta,
prestativa	e	inocente...	e	ela	parecia	estar	uma	pouco	obcecada	pela	ideia	de	ser
possuída	de	 forma	mais	 rude.	Eu	nem	precisava	ver	o	 rosto	dela	para	saber.	O
corpo	falava	por	ela.	Cada	pensamento	passando	pela	mente	dela	estava	refletido
na	forma	como	ela	respirava,	jogava	a	cabeça	para	trás	com	os	olhos	fechados	e
o	movimento	dos	lábios,	sem	sentir	vergonha.	Acho	que	ela	nunca	foi	mais	sexy
do	que	nesse	momento.
Ajoelhei-me	no	 chão	 e	 lambi	 entre	os	 lábios	delicados.	Ela	gemeu	alto
em	 resposta.	 Ela	 arqueou	 com	meu	 toque	 e	 o	 corpo	 todo	 tremeu	 sob	minhas
mãos.	Depois	me	levantei	e	peguei	a	garrafa	de	champanhe	que	estava	na	mesa,
onde	 eu	 a	 colocara	 antes.	Eu	 a	 virei	 deixando	que	o	 líquido	dourado	descesse
pelas	 costas	 dela,	 pela	 bunda	 e	 pela	 perna.	 Curvei-me	 e	 comecei	 a	 lamber	 as
pequenas	 gotas	 brilhantes	 na	 pele	 dela,	 correndo	 a	 língua	 pelas	 curvas
maravilhosas	e	a	acariciei	com	as	mãos	de	forma	sensual.
–	Também	quero	–	disse	ela	de	repente,	virando	um	pouco	a	cabeça	para
me	ver	melhor.
Inclinei-me	para	perto	do	 rosto	dela	movendo	o	cabelo	dela	para	 trás	e
fazendo-a	 inclinar-se	 para	 mim.	 Depois	 cobri	 os	 lábios	 dela	 com	 os	 meus,
deslizando	a	língua	para	dentro	da	boca	dela	e	deixando-a	saborear	a	champanhe
dos	meus	lábios.
–	 Você	 é	 minha	 pior	 distração,	 Louise...	 Minha	 maldição.	 Minha
imperfeição	perfeita.	Você	é	minha	melhor	metade	e	meu	desejo	mais	sombrio.
Minha	maior	vitória	e	minha	mais	 triste	derrota.	Você	é	 tudo	para	mim...	Tudo
que	eu	quero	esquecer	e	tudo	que	eu	nunca	quero	deixar	para	lá...	O	que	eu	faço
agora?	Como	vou	viver?
–	Nada	 de	 ficar	 pensando	 hoje,	 lembra?	 –	 ela	mordeu	 o	 lábio	 inferior
apoiando	a	cabeça	no	meu	ombro,	os	olhos	fechados	de	novo.
Eu	alcancei	seu	clitóris	desenhando	círculos	invisíveis	em	volta	dele.	Ela
gemeu	satisfeita	encostando	na	minha	mão.	Deus,	eu	a	queria,	agora	mais	do	que
nunca.
Tremendo	dos	pés	à	cabeça,	tirei	a	roupa	e	fui	ficar	atrás	dela	de	novo.
–	Por	favor	–	sussurrou	ela.	–	Faça-me	sua,	Will.	Eu	quero	ser	todasua...
O	 que	 eu	 estava	 esperando?	 Por	 um	 momento	 senti	 vontade	 de	 parar
antes	que	 fosse	 tarde	demais,	mas	 aí	 ela	pressionou	a	bunda	contra	meu	pênis
latejante	e	minha	mente	calou	a	boca.	Agarrei	a	bunda	dela	e	a	penetrei	forte	e
profundamente.
Ela	 soltou	 gemidos	 de	 prazer.	 A	 umidade	 dela	 me	 acolheu	 me
envolvendo	com	seu	calor,	fluindo	pelo	meu	pênis	e	facilitando	cada	estocada.
Arrepios	 percorreram	 minha	 espinha,	 como	 lâminas	 frias	 iniciando	 o
fogo	 perigoso	 que	 queimava	 dentro	 de	 mim.	 Ela	 estremecia	 a	 cada	 estocada,
minhas	mãos	e	meus	lábios	em	todos	os	pontos	que	eu	conseguia	tocá-la,	nosso
corpo	batendo	um	contra	o	outro.
Os	 sons	 de	 nós	 dois	 fazendo	 amor	 preenchia	 o	 quarto.	 Eu	 estabeleci	 o
ritmo	 e	 ela	 se	 ajustou	 a	 ele	 perfeitamente.	 Eu	 nunca	 duvidei	 de	 que	 ela	 me
entendia	bem,	ela	sabia	exatamente	o	que	fazer	e	como	se	movimentar	para	me
satisfazer.
Minhas	estocadas	ficaram	mais	rápidas	e	fortes.
–	Desamarre-me	–	disse	ela,	ofegante.
–	Para	quê?
–	Só	me	desamarre.
E	eu	obedeci.
Ela	se	virou	e	colocou	as	mãos	em	volta	do	meu	pescoço.
–	Levante-me	–	sussurrou	ela	perto	da	minha	boca.
E	eu	obedeci	de	novo.
Ela	me	enlaçou	com	as	pernas,	depois	se	abaixou	um	pouco	e	me	deu	um
beijo	profundo.
Eu	 penetrava	 com	 vigor	 a	 vagina	 encharcada,	 fazendo-a	 soltar	 alguns
gemidos.	 Estes	 vibravam	 nos	 meus	 lábios,	 pois	 ela	 continuava	 me	 beijando,
sugando	 e	mordendo	meu	 lábio	 inferior	 e	 depois	 lambendo-o	 com	 a	 ponta	 da
língua	bem	devagar.
Comecei	a	penetrá-la	mais	rápido,	os	gemidos	dela	ficaram	mais	altos,	a
respiração	acelerada.	Gotas	de	suor	começarem	a	escorrer	nas	minhas	costas.
Porra,	 eu	 estava	 tão	 perto,	 tão	 perto	 e	 não	 podia	 esperar	 para	 senti-la
gozar	junto	comigo.
Ela	 revirou	 os	 olhos,	 e	 eu	 senti	 a	 vagina	 contraindo	me	 levando	 ainda
mais	para	o	limite.
Onda	após	onda,	o	clímax	nos	dominou.	Eu	sentia	que	não	podia	contê-
lo,	mas	eu	queria	mais.
–	Vire-se	–	mandei.
Com	um	sorriso	nos	olhos	encantadores	ela	 fez	o	que	eu	mandei.	Eu	a
inclinei	sobre	o	sofá	de	novo	e	comecei	a	possuí-la	por	trás.
	 Era	 enlouquecedor...	 eu	 não	 podia	 segurar	 mais.	 Com	 uma	 estocada
final,	eu	gozei	dentro	dela	sentindo	um	alívio	há	muito	esperado,	lavando-me	da
tensão,	da	dor,	da	raiva.
Tão	perfeito...	sempre	tão	perfeito.
–	Você	é	um	cretino	egoísta,	William	Blair	–	disse	ela,	tentando	recuperar
o	fôlego.
–	Ah,	eu	ainda	não	terminei	com	você,	Louise.	Ainda	não...
Eu	não	poderia	deixá-la	ir	depois	do	que	acabara	de	acontecer	entre	nós.
–	Eu	quero	que	você	fique	dolorida	–	sussurrei,	agarrando	o	cabelo	dela
de	 novo.	 –	 Você	 não	 deveria	 estar	 aqui	 hoje,	 mas	 você	 está.	 E,	 já	 que	 você,
gentilmente,	apareceu	à	minha	porta,	de	jeito	nenhum	que	vou	deixá-la	sair	desse
hotel	 antes	 de	 conseguir	 exatamente	 o	 que	 quero	 de	 você...	 e	 é	 você	 que	 eu
quero,	você	inteira...
	
***
Acordei	 com	 uma	 luz	 forte	 entrando	 pela	 janela.	 Esfregando	 os	 olhos,
sentei-me	na	cama	e	tentei	lembrar	onde	eu	estava.
No	 quarto	 do	 hotel?	 Mas	 que...	 ah,	 merda!	 A	 noite	 passada...	 Ah,
merda!!!
–	Louise?	–	 chamei	devagar,	 virando-me	para	 a	direita	 esperando	vê-la
dormindo,	mas	a	cama	ao	meu	lado	estava	vazia.	–	Louise?	–	chamei	de	novo,
mas	ninguém	respondeu.
Verifiquei	o	terraço	e	o	banheiro,	mas	ela	não	estava.
Ela	foi	embora...	Entrei	em	pânico	e	fiquei	desesperado	sabendo	que	eu
poderia	ter	ferrado	com	a	melhor	parte	da	minha	vida.
Claro,	 depois	 do	 que	 fizéramos	 na	 noite	 anterior,	 eu	 nunca	 deveria	 ter
esperado	que	ela	ficasse.
Deus,	eu	estava	sendo	um	porco	egoísta.	Ela	deve	me	odiar	ainda	mais
agora.	Bem	feito	para	mim...	mereço	o	ódio	dela,	mereço	coisa	pior.
Olhei	a	cama	bagunçada	e	minhas	roupas	no	chão	e	então	as	lembranças
da	noite	anterior	preencheram	minha	mente.
Ela	 fora	 maravilhosa,	 tão	 receptiva,	 tão	 linda.	 Ela	 me	 deixou	 realizar
todas	as	fantasias	que	eu	tinha	com	ela.	Em	nenhum	momento	tentou	me	parar.
Se	não	a	conhecesse	bem	eu	diria	que	ela	gostou	tanto	quanto	eu,	mas	eu	tinha
certeza	de	que	ela	fizera	mais	por	mim	do	que	por	ela	mesma.	Será	que	foi	um
sacrifício	que	ela	fez	para	me	agradar?	Para	me	fazer	acreditar	que	eu	significava
muito	para	ela?	Ou	era	um	último	adeus	que	ela	viera	aqui	dizer	antes	de	partir
para	sempre?
Seja	 lá	o	que	 for,	 eu	precisava	vê-la	 e	perguntar	 tudo	 isso	para	 ela.	Eu
não	queria	mais	nenhuma	incerteza	entre	nós.
Tomei	um	banho	rápido,	vesti-me	e	liguei	para	o	Christopher.
–	Você	sabe	onde	a	Louise	está?	–	perguntei.
–	 Bom	 dia	 para	 o	 senhor	 também	 –	 respondeu	 ele	 com	 a	 ironia
costumeira.	–	E,	sim,	eu	sei	onde	ela	está,	está	na	escola.
–	Ela	foi	para	a	minha	casa	antes?
–	Sim.
–	Ela	levou	as	coisas	dela?
–	Depende	de	 que	 coisas	 o	 senhor	 se	 refere.	Ela	 pegou	 alguns	 livros	 e
alguns	vestidos.	Por	quê?
Então	ela	não	estava	planejando	se	mudar	hoje,	ou	pelo	menos	ela	ainda
não	mudara.	Aquilo	deveria	ser	bom	sinal,	não	é?	Respirei	aliviado.
–	 Esqueça.	 Você	 conseguiu	 a	 informação	 que	 eu	 pedi?	 –	 perguntei	 ao
Christopher.
Era	 sábado	 de	 manhã,	 Louise	 e	 eu	 deveríamos	 visitar	 Debora	 Griffin.
Apesar	 que	 depois	 da	 noite	 anterior	 eu	 não	 tinha	 certeza	 de	 que	 ela	 ainda
quisesse	ir	comigo	ou	mesmo	me	ver	de	novo.
–	Consegui.	Os	 arquivos	 estão	no	 seu	 iPad.	Está	 embaixo	do	banco	do
passageiro	do	seu	carro.
Como	sempre,	ele	cuidara	de	tudo.
–	Obrigado,	Christopher.	Vou	lê-los	assim	que	vir...	Louise.
–	Espero	que	encontre	mesmo	tempo	para	lê-los.
–	E	por	que	eu	não	leria?
	–	Bem,	imagino	que	depois	da	noite	passada	você	não	terá	muito	tempo
para	ler.
–	E	por	que	exatamente	você	pensa	assim?
–	Ah,	nada	em	particular.	Somente	a	atmosfera	da	casa...
O	que	ele	estava	tentando	dizer?
–	O	que	a	Louise	disse	a	você	sobre	ontem	à	noite?	–	perguntei.
–	 Ah,	 acredite,	 eu	 não	 quero	 saber	 os	 detalhes.	 Mas	 ela	 não	 precisou
dizer	nada...	a	cara	dela	dizia	tudo.
–	 Pelo	 amor	 de	 Deus,	 Christopher,	 dá	 para	 parar	 com	 mistérios?	 Não
estou	com	humor	para	charadas	hoje.
–	Faço	ideia...
Ai,	o	velho	realmente	curtia	me	deixar	irritado.	Mesmo	sem	dizer	muito	a
escolha	de	palavras	dele	dizia	tudo	o	que	ele	não	verbalizava.
–	Eu	ligo	para	você	mais	tarde	–	falei,	desligando	o	telefone.	Às	vezes,
quando	estou	falando	com	o	Christopher	parece	que	tenho	cinco	anos	de	novo,
com	medo	de	ser	punido	por	mal	comportamento.	Só	que	eu	não	sou	mais	um
menino	e	meu	mal	comportamento	não	tem	nada	a	ver	com	meus	brinquedos	ou
brigas	com	outros	meninos.	Agora,	tudo	de	ruim	que	eu	fiz,	eu	fiz	só	para	uma
pessoa...
Parei	no	estacionamento	da	Balero	e	chequei	meu	relógio,	era	meio-dia.
Eu	 não	 sabia	 quantas	 aulas	Louise	 teria,	 então	 pensei	 que	 poderia	 enviar	 uma
mensagem	antes	de	entrar	e	sair	caçando-a.
Estou	aqui	fora.	Você	pode	vir	aqui	um	pouco?
Ela	respondeu	em	menos	de	dez	segundos.
Você	tem	certeza	de	que	“um	pouco”	será	suficiente?
Eu	 não	 sabia	 bem	 como	 reagir	 às	 palavras	 dela.	 Ou	 ela	 estava	 me
provocando	ou	dizendo	que	estava	brava	comigo.	Vai	entender.
Ok...	respirei	fundo	e	digitei:
Depende	como	você	vai	usar	esse	um	pouco...
Enviar.
Não	saia	daí	–	dizia	a	resposta	dela.
Poucos	minutos	depois,	 eu	a	vi	 saindo	da	escola,	 com	ela	veio	o	 rapaz
loiro	com	quem	ela	dançara	na	competição	no	dia	anterior.
Eles	pararam	na	escada,	ele	a	beijou	no	rosto	e	foi	embora.
Que	porra	é	essa?	Pensei	comigo.	Quem	ele	pensa	que	é?	Eles	sempre	se
beijam	para	se	despedir?
Ah,	espera	aí,	cara,	não	há	nada	de	errado	com	um	beijo	no	rosto	entre
amigos,	disse	minha	voz	interna.	Além	disso,	menos	de	24	horas	antes	eu	pensei
em	 dar	 um	 tempo,	 deixando-a	 ter	 mais	 liberdade	 e	 parar	 de	 agir	 com	 um
namorado	paranoico	se	esgueirando	por	aí	para	garantir	que	nenhum	cara	flerte
com	ela	ou	a	beije	no	rosto.	Eu	até	pensei	em	deixá-la	para	sempre,	ir	embora...
Bem,	isso	foi	antes	do	que	aconteceu	na	noite	anterior.
Louise	olhou	para	o	estacionamento,identificou	meu	carro	e	foi	até	onde
eu	a	esperava.	Respirei	fundo,	desejando	boa	sorte	a	mim	mesmo	e	saí	do	carro.
–	Bom	dia	–	falei	quando	ela	se	aproximou.
–	Bom	dia	–	respondeu	ela.	Ela	não	parecia	brava,	na	verdade,	ela	parecia
se	conter	para	não	rir	de	mim.	Muito	bom.
–	Já	terminou	suas	aulas	para	hoje?	–	perguntei.
–	Já.	–	Ela	tentou	disfarçar	o	sorriso,	mas	eu	vi	os	traços	de	um	brilhando
no	rosto	dela.
–	Legal,	entra	no	carro.
–	Mandão...	você	adora	ser	mandão,	não	é,	Sr.	Blair?
Ugh,	 eu	queria	que	 ela	parasse	 e	 só	me	dissesse	o	que	 está	pensando.
Havia	muita	ironia	nos	olhos	dela,	o	sorriso	dela	completava	o	quadro.
–	Acho	que	você	já	passou	tempo	suficiente	comigo	para	saber	isso,	Srta.
Woods.		Na	verdade,	eu	adoro	sim.
Ela	revirou	os	olhos,	deu	a	volta	no	carro,	abriu	a	porta	e	sentou	no	banco
do	passageiro	sem	dizer	mais	nada.	Tomei	o	volante	e	liguei	o	carro.
–	Aonde	nós	vamos?	–	perguntou	ela	depois	de	uma	pausa.
–	 Tínhamos	 planos	 para	 hoje,	 esqueceu?	Vamos	 até	 a	 casa	 da	Débora,
mas	antes,	precisamos	conversar...
Capítulo	13
	
Louise
	
Paramos	num	pequeno	parque,	Will	desligou	o	carro	e	disse:
–	Desculpe-me	por	ontem	à	noite...	–	ele	não	olhou	para	mim.	As	mãos
ainda	estavam	na	direção,	os	olhos	voltados	para	o	emblema	no	volante.
–	 Pelo	 que,	 exatamente?	 –	 perguntei	 um	 tanto	 irritada.	 Até	 aquele
momento	 eu	 acreditava	 que	 nós	 dois	 gostáramos	 do	 que	 acontecera	 na	 noite
anterior,	sem	importar	que,	no	começo,	tenha	parecido	errado.
–	Eu	estava	mal	ontem,	Louise.	Eu	estava	com	raiva,	bêbado	e...	nunca
vai	se	repetir,	prometo.
–	Nunquinha?
Ele	 se	 virou	 para	 olhar	 para	 mim,	 e	 nos	 olhos,	 uma	 interrogação.
Aproveitei	 o	 momento	 para	 observá-lo.	 Ele	 ainda	 vestia	 a	 mesma	 roupa.
Aparentemente	não	parara	em	casa	para	se	trocar.	A	sombra	da	barba	já	cobria	o
rosto	dele.	Ele	parecia	cansado,	o	que	não	era	surpresa,	considerando	que	caímos
no	sono	por	volta	das	cinco	da	manhã.	E,	até	então,	estávamos	ocupados	demais
fazendo	 amor,	 tentando	 recuperar	 todos	 os	meses	 que	 ficamos	 separados,	 não
tivemos	 tempo	de	pensar	no	 resto.	E,	honestamente,	eu	ainda	 tinha	vontade	de
voltar	ao	Hotel	Baía	e	fazer	tudo	de	novo.	Só	que	parecia	que	o	Will	não	estava
animado	com	a	ideia	de	ter	aquele	tipo	de	aventura	de	novo.	Será	que	ele	pensa
que	o	que	fizemos	foi	errado?	Porque	eu	me	diverti,	nunca	me	diverti	tanto...
–	Louise...	sobre	o	que	aconteceu	ontem...	não	foi	certo.
Ah,	sim,	aí	está.	Não	foi	certo...
–	 Você	 está	 falando	 sério?	 –	 perguntei	 falando	 alto.	 –	 Por	 que	 você
sempre	quer	que	tudo	seja	sempre	perfeito?	Ugh!
–	Você	também	não	quer	que	seja	perfeito?	Você	não	está	tentando	viver
a	vida	perfeita	sem	nada	errado	ou	ruim,	eu	inclusive?
–	Will,	por	favor...	eu	sei	que	tenho	afastado	você	por	tempo	demais,	mas
eu	achei	que	estava	fazendo	o	melhor	para	nós	dois.	Eu	pensei...	Deus,	agora	eu
sei	que	fui	tola,	mas	precisamos	mesmo	conversar	sobre	isso	de	novo?
–	Claro	que	precisamos!	Porque	eu	não	entendo	você,	Louise.	Pensei	que
conhecesse	 você,	mas	 não	 a	 conheço.	Diga-me,	 por	 que	 você	 permitiu	 que	 eu
fizesse	tudo	o	que	fiz	com	você	ontem	à	noite?
–	Porque	eu	também	queria!	–	respondi	inflamada.	–	Eu	não	deixei	você
fazer	nada	que	eu	também	não	quisesse.	Como	você	não	vê	isso!	Eu	não	estou
brava	com	você,	não	o	culpo	por	nada...	eu	amo	você,	Will.	E	não	quero	mudar
nada.	Eu	só	quero	estar	com	você.	Estou	cansada	de	 fugir,	estou	mesmo.	E	na
noite	passada...	me	entreguei	a	você	porque	era	isso	o	que	eu	queria,	eu	queria
ser	 sua,	 inteira,	 incondicionalmente.	 E	 eu	 não	me	 arrependo	 de	 nada,	 de	 estar
com	você,	de	ser	sua	de	novo.
Will	balançou	a	cabeça	suspirando.
–	Não	deveríamos	ter	sido	tão...
–	Apaixonados?
–	Deveríamos	ter	esperado...	eu	deveria	ter	esperado.	Eu	deveria	ter	dado
mais	tempo	a	você...
–	Pare,	Will,	pare!	Você	não	fez	nada	contra	minha	vontade.	 	Você	está
me	 entendendo?	 Eu	 queria	 você	 tanto	 quanto	 você	 me	 queria!	 Se	 você	 se
arrepende,	 então	 não	 faz	 sentido	 ficarmos	mais	 juntos.	 Porque	 o	 que	 eu	 senti
ontem	à	noite	foi	amor.	E	se	você	sentiu	algo	diferente,	fale,	e	eu	vou	embora.
–	Louise,	por	favor...	–	ele	envolveu	meu	rosto	com	as	mãos.	–	Não	é	isso
que	estou	dizendo	–	falou	suavemente.
–	Então	eu	não	estou	entendendo...	o	que	você	está	tentando	me	dizer?	–
Senti	 que	 iria	 chorar	 se	 ele	 dissesse	 que	 não	 queria	 mais	 ficar	 comigo.	 Eu
provavelmente	morreria	ali	mesmo.
–	Eu	amo	você,	Louise,	demais.	Ele	se	aproximou	dando	um	beijinho	na
minha	 boca.	 –	 E	 eu	 não	me	 arrependo	 de	 nem	 um	 segundo	 da	 noite	 passada.
Como	 eu	 poderia	 me	 arrepender?	 Foi	 maravilhoso,	 você	 foi	 maravilhosa.	 Eu
ainda	não	acredito	que	ficamos	a	noite	toda	fazendo	amor,	várias	vezes,	como	se
nunca	 fosse	 o	 suficiente.	 Mas,	 eu	 ainda	 acho	 que	 preciso	 me	 desculpar	 pela
minha	grosseria.	Não	foi	de	propósito.	É	que	eu	estava	cansado	de	esperar	por
você.	 E	 sim,	 eu	 estava	 a	 um	 passo	 de	 desistir	 de	 você,	 de	 nós.	 Se	 você	 não
tivesse	 ido	ao	hotel,	 eu,	provavelmente,	 estaria	num	voo	para	Paris	 agora,	não
sei...	quando	você	apareceu,	eu	estava	pensando	em	como	eu	iria	embora...	para
sempre.
Eu	 não	 consegui	 conter	 as	 lágrimas,	 elas	 escorreram	 pelo	 meu	 rosto
como	 rios	 de	 dor	 que	 eu	 não	 conseguia	 esconder.	As	 palavras	 dele	 pareceram
como	 lâminas	 na	 minha	 carne,	 deixando	 arranhões	 sangrando	 por	 todo	 meu
corpo.
–	E	você	vai	ficar	aqui?	–	perguntei	com	voz	trêmula.
Ele	 sorriu	 e	 dissipou	 minhas	 lágrimas,	 uma	 a	 uma.	 –	 Vou	 ficar.	 Não
consigo	imaginar	minha	vida	sem	você,	Louise.
–	Desculpa	–	falei,	sentindo	que	era	minha	vez	de	pedir	desculpas.
–	Pelo	quê?	–	perguntou	ele,	ainda	segurando	meu	rosto.
–	Por	fazer	você	sofrer	tanto,	por	deixar	você,	por	tudo...	eu	sei	que	você
tem	o	direito	de	ir	embora	e	nunca	mais	olhar	para	mim,	mas,	Will,	por	favor...
não	 faça	 isso.	 Não	 me	 deixe.	 Eu	 prometo,	 vou	 mudar.	 Por	 você,	 e	 por	 mim
mesma.
–	Mas	eu	não	quero	que	você	mude,	Louise.	Eu	só	quero	que	você	me
permita	 amar	 você,	me	 permita	 ser	 o	 homem	com	o	 qual	 você	 pode	 contar,	 o
homem	que	você	confia	e	quer	a	seu	lado.
–	 Eu	 nunca	 deixei	 de	 confiar	 em	 você.	 Nunca	 duvidei	 de	 seus
sentimentos	por	mim.	E	ontem	à	noite,	quando	eu	vi	as	consequências	de	tudo	o
que	fiz	a	você,	percebi	que	não	era	o	que	eu	queria,	não	era	o	que	eu	esperava
ver.	Eu	vi	você	e	você	estava	despedaçado	e	perdido.	Eu	não	consegui	deixar	de
me	culpar	por	aquilo,	porque	era	tudo	culpa	minha.
–	 Não	 vou	 negar,	 eu	 me	 sentia	 como	 lixo	 ontem,	 e	 sabe	 por	 quê?	 –
perguntou	ele.
–	Por	quê?	–	perguntei	baixinho.
–	Porque	eu	fui	ver	você	dançar	e	a	vi	de	uma	perspectiva	diferente.	Eu
vi	uma	Louise	que	eu	não	conhecia.	Eu	vi	sua	vida	fora	do	nosso	mundinho.	E
então,	eu	acreditei	que	aquilo	era	tudo	de	que	você	precisava.	E	pensei	que	não
havia	 lugar	 para	 mim	 na	 sua	 vida.	 Fiquei	 até	 o	 fim	 da	 competição,	 vi	 você
ganhar	 e	 aí	 fui	 embora,	 sem	 dizer	 nada,	 porque	 não	 consegui	 ficar...	 eu	 não
queria	 ver	 você	 desistir	 do	 que	 você	 merece	 por	 minha	 causa.	 Eu	 nunca	 me
perdoaria	por	estragar	seus	sonhos.	E,	droga,	eu	ainda	sinto	que	não	 tem	lugar
para	mim	na	sua	vida,	Louise.	Eu	ainda	acho	que	me	retirar	da	sua	vida	seria	o
melhor	 que	 posso	 fazer	 por	 você,	mas	 não	 consigo...	 não	 consigo	 sair	 da	 sua
vida.	Mesmo	sabendo	que	sua	vida	seria	muito	mais	fácil	sem	mim.
–	O	que	é	que	você	está	 falando?	Mais	 fácil?	Sem	você?	Você	acredita
mesmo	que	eu	seria	capaz	de	aproveitar	minha	vida	sem	você	comigo?
–	Eu	não	sei...
–	Ah,	Will,	você	está	completamente	errado.	Tudo	o	que	quero	e	preciso
é	você.
–	E	a	dança?	E	a	proposta	da	Sabine?	Não	é	tudo	que	você	sempre	quis?
–	Como	você	soube	da	proposta	dela?
Ele	 soltou	meu	 rosto,	 recostando-se	no	banco,	os	olhos	 ainda	em	mim.
Pegou	uma	das	minhas	mãos	e	beijou-a	suavemente.	–	Ela	me	disse.	E	eu	acho
que	vocêdeveria	aceitar	a	proposta.
Acredito	que	aquele	era	um	dos	assuntos	que	eu	não	sabia	como	contar
para	ele.	E,	sim,	eu	temia	que	ele	não	aprovasse.
–	Você	acha	mesmo	que	eu	deveria	aceitar?	Tudo	bem	para	você	se	eu
aceitar?
–	Bem,	vou	morrer	de	 ciúmes	de	vez	 em	quando,	mas,	no	geral...	 sim,
acho	que	consigo	viver	com	isso.
–	Você	está	bravo	comigo	por	eu	não	ter	contado?
–	Honestamente?	Não	 estou.	 Estou	 um	 pouco	 desapontado,	mas	 bravo
não.	Por	que	você	não	me	contou	a	proposta	dela?	Você	 temia	que	eu	pedisse
para	você	não	aceitar?
–	Não...	eu	só	pensei	que	você	talvez	não	gostasse.	Mas	nunca	pensei	que
você	me	pediria	para	não	aceitar.	Sei	do	seu	amor	por	mim	e	que	quer	que	eu
seja	feliz.	E	você	sabe	como	sou	feliz	dançando.
–	 Eu	 sei.	 Eu	 vi	 de	 novo	 ontem	 na	 competição.	 E,	 sim,	 eu	 estava	 com
ciúmes	do	 jeito	que	seu	par	 tocava	em	você...	–	Will	baixou	os	olhos	como	se
estivesse	com	vergonha	de	me	falar	sobre	ciúmes.
Eu	sorri.	–	Você	não	deveria	sentir	ciúmes.	Era	somente	uma	dança,	uma
apresentação.		Mas	quando	danço	para	você	é	totalmente	diferente.
–	Eu	sei,	eu	sinto.
–	Trégua?
Ele	riu.	–	Eu	não	sabia	que	estávamos	em	guerra.
–	 Bem,	 pareceu	 um	 pouco	 ontem	 à	 noite...	Mas	 se	 você	 quiser	 brigar
comigo	de	novo,	faça	como	ontem.
Ele	fechou	os	olhos	por	um	segundo,	depois	me	olhou,	dizendo:
–	Pare	de	me	tentar,	você	sabe	que	não	sou	nada	bom	em	resistir	a	você.
Inclinei-me	para	frente	e	o	beijei.
Alguns	segundos	depois	ele	disse:
–	Talvez	devemos	pensar	sobre	o	que	vamos	falar	com	a	Debora?
–	Sim,	é	melhor	pensarmos.
Ele	me	olhou	de	novo	com	desejo	e	apontou	para	meu	banco,	dizendo:
Meu	 iPad	 está	 embaixo	 do	 seu	 banco,	 pegue-o	 e	 abra	 o	 arquivo	 com
nome	 “Debora”.	 Christopher	 encontrou	 alguma	 informação	 sobre	 ela,	 mas	 eu
não	tive	tempo	de	ver	os	arquivos.
–	Você	não	acha	melhor	voltarmos	para	casa	primeiro	para	você	trocar	de
roupa?
Ele	olhou	para	a	camisa	e	a	calça	amassadas.	–	Verdade,	eu	não	pensei
nisso.
Eu	ri	e	peguei	o	iPad	embaixo	do	banco.	Liguei-o	e	comecei	a	procurar	a
pasta.
–	O	que	você	pediu	para	o	Christopher	investigar	sobre	ela?
–	Eu	não	sei	o	que	ela	tem	feito	desde	que	deixou	a	empresa,	então	pedi	a
ele	para	descobrir	mais	sobre	o	novo	 trabalho	dela	e	as	pessoas	para	quem	ela
está	trabalhando.
Encontrei	 a	 pasta	 com	 o	 nome	 da	 Debora,	 abri	 o	 primeiro	 arquivo	 e
gritei.	–	Eu	sabia!
–	O	quê?
–	Eu	sabia	que	já	a	vira	antes	de	você	me	mostrar	as	fotos	do	seu	pai,	mas
eu	não	conseguia	 lembrar	onde.	Agora	eu	sei.	 	–	Virei	o	 iPad	para	ele	poder	a
foto	da	qual	eu	falava.
–	É	seu	pai	junto	com	ela?
–	É.	Eu	vi	essa	foto	no	site	dele	também.
–	Você	acha	que	ela	trabalha	para	ele	agora	–	perguntou	Will.
–	Deixe-me	ver...	–	Eu	abri	outro	arquivo	que	tinha	uma	breve	biografia
dela	e...	–	Só	pode	ser	brincadeira	–	murmurei,	lendo	a	lista	de	lugares	onde	ela
costumava	trabalhar.	Dizer	que	era	curta	era	o	eufemismo	do	século.	–	Ela	estava
com	o	Montgomery	todo	esse	tempo	–	falei.
–	O	quê?
–	Ela	começou	a	 trabalhar	para	ele	há	quase	dez	anos,	 logo	depois	que
saiu	da	empresa	do	seu	pai.
–	Mas...	como	eles	se	conhecerem?	Será	que	a	Rea	tinha	razão	e	meu	pai
conhecera	o	seu,	anos	atrás?
–	Espera,	 tem	algo	mais	aqui.	De	acordo	com	os	arquivos	ela	conhecia
Montgomery	bem	antes	do	acidente,	e	seu	pai	também...
–	 Impossível.	 –	 Will	 parou	 o	 carro	 no	 acostamento,	 pegou	 o	 iPad	 da
minha	mão	 e	 olhou	 os	 arquivos.	 –	 Eles	 se	 conhecem	 por	 pelo	 menos...	 vinte
anos?	Por	que	eu	nunca	ouvi	meu	pai	mencionar	o	nome	do	Montgomery?
–	Talvez	porque	ele	não	quisesse	dizer	a	ninguém	que	se	conheciam.
–	Mas	por	quê?	Por	que	o	segredo?
–	Será	que	sua	mãe	sabe	algo?
–	Acredito	que	não.	Meu	pai	nunca	contava	para	ela	o	que	acontecia	na
empresa.	 Ele	 acreditava	 que	 as	 mulheres	 não	 precisavam	 saber	 assuntos	 de
trabalho,	a	menos	que	fossem	parte	dele.
–	 E	 o	 Christopher?	 Como	 é	 possível	 que	 ele	 não	 conhecesse
Montgomery?
–	Estranho,	não	é?
Dei	de	ombros.	–	Talvez	houvesse	assuntos	que	seu	pai	preferia	manter
para	si	mesmo.
–	Espera...	o	que	é	isso?
–	O	que,	Will?
–	 Aqui	 diz	 que	 a	 empresa	 com	 a	 qual	 meu	 pai	 estava	 prestes	 a	 fazer
negócios	 no	 dia	 que	 ele	 morreu	 era	 do	 Montgomery.	 Levi	 Donald	 era	 o
presidente,	mas	a	empresa	fora	fundada	por	seu	pai.	Levi	era	o	testa	de	ferro	do
seu	pai.
Eu	engoli	seco,	meu	coração	acelerou.
–	Você	está	pensando	o	mesmo	que	eu?	–	perguntou	Will,	ainda	olhando
fixo	para	o	iPad	que	tinha	nas	mãos.
–	Na	verdade,	eu	nem	sei	o	que	pensar.
–	Isto	é	o	que	a	Rea	estava	tentando	falar	para	você...	quando	Fletcher	foi
eleito	 Senador,	 ele	 teve	 que	 deixar	 os	 negócios.	 Ele	 falsificou	 o	 acordo	 e	 fez
todos	acreditarem	que	ele	vendera	a	empresa,	mas,	na	verdade,	sempre	fora	dele.
E	 os	 arquivos	 dizem	 que	 Debora	 liderou	 a	 empresa	 logo	 depois	 que	 saiu	 da
empresa	do	meu	pai.
–	Precisamos	falar	com	ela	–	falei.	–	Agora	mesmo.
–	É	exatamente	isso	que	faremos.	Eu	não	acredito	que	ela	vá	se	importar
com	minha	camisa	amarrotada.	Preciso	 fazer	algumas	perguntas	a	ela	antes	de
pensar	em	qualquer	outra	coisa.
Will	 ligou	e	carro	de	novo	e	acelerou	pela	estrada,	para	o	endereço	nos
arquivos,	o	mesmo	que	o	Drew	disse	que	é	onde	a	Debora	mora	agora.
Ficamos	 muito	 desapontados	 quando	 chegamos	 à	 casa	 dela,	 ela	 não
estava	 lá.	 Na	 verdade,	 o	 lugar	 parecia	 estar	 fechado	 há	 anos,	 sem	 ninguém
morando	lá.
–	Tem	certeza	que	é	aqui?	–	perguntei.
–	Tenho.	Verifiquei	várias	vezes.
Fui	até	uma	das	 janelas	e	olhei	para	dentro,	 tentando	ver	pelas	cortinas
entreabertas.
–	Não	há	mobília	–	informei.
–	Quem	são	vocês?	–	disse	alguém	atrás	de	nós	quase	nos	matando	de
susto.
Nos	viramos	e	vimos	um	senhor	com	uma	arma	apontada	direto	para	nós.
–	Procuramos	por	Debora	Griffin	–	disse	Will	 calmamente,	 escudando-
me	com	o	corpo.
–	Não	conheço	ninguém	com	esse	nome	–	vociferou	o	homem.	Eu	diria
que	ele	tinha	por	volta	de	70	anos,	talvez	mais,	com	longa	barba	cinza	e	usando
um	chapéu	engraçado	que	me	 lembrou	um	elfo	que	eu	vira	 em	um	 filme	uma
vez.	A	calça	preta	e	a	camisa	estavam	sujas	e,	mesmo	à	distância,	pude	sentir	o
mal	cheiro	dele.	Será	que	ele	não	conhecia	o	sabonete	para	evitar	fedor?
–	O	 senhor	 conhece	os	proprietários	desta	 casa?	–	Perguntei	dando	um
passo	a	frente.	Will	segurou	minha	mão	e	me	puxou	para	trás.
–	Cuidado	–	falou	baixo	para	que	só	eu	o	ouvisse.
–	Claro	que	conheço!	A	casa	é	minha	–	respondeu	o	senhor.
–	 Desculpe,	 não	 queríamos	 incomodar	 o	 senhor	 –	 falei.	 –	 Estamos
procurando	por	uma	velha	amiga	nossa.	–	Virei-me	para	o	Will,	dizendo:	–	Dê-
me	o	iPad.
Ele	me	passou	o	iPad	sem	dizer	nada.
–	 Posso	mostrar	 a	 foto	 da	mulher	 que	 procuramos?	 –	 perguntei	 para	 o
homem	com	a	arma,	que	ainda	estava	apontada	para	nós.
O	homem	olhou	para	os	lados,	abaixou	a	arma	e	assentiu.
Dei	um	passo	a	frente,	deixando	alguns	de	distância	entre	nós	e	mostrei	a
ele	a	foto	da	Debora.
–	O	senhor	já	viu	essa	mulher?	–	perguntei.
O	homem	me	olhou,	depois	moveu	os	olhos	para	Will	que	estava	ao	meu
lado.
–	Conheço	–	respondeu	ele	finalmente.	–	Ela	é	minha	filha,	mas	o	nome
dela	não	é	Debora,	é	Christine	Montgomery.
	
Capítulo	14
	
William
	
Acho	que	nunca	fiquei	tão	pasmo	em	toda	minha	vida.
–	Como	o	 senhor	 a	 chamou?	–	perguntei.	 –	Christine	Montgomery?	E,
ela	é	sua...	filha?	Isso	significa	que	o	senhor	é	parente	de	Fletcher	Montgomery,
é	isso?
–	Sim,	ele	é	meu	sobrinho.	–	Respondeu	ele	com	um	sorriso	amarelo.	–
Embora	eu	ache	que	ele	nem	saiba	que	estou	vivo.	Não	nos	vemos	há	quase	40
anos.	Meu	irmão	e	eu	nunca	fomos	próximos.	Eu	nunca	o	vi,	ou	qualquer	um	da
família	 dele,	 depois	 que	 eles	 saíram	 dessa	 casa...	 o	 que	 aconteceu	 há	 muitos
anos...
–	E	sua	filha?	Onde	ela	está	agora?	–	perguntei.
–	Não	a	vejo	há	meses.
Louise	e	eu	nos	olhamos	surpresos.
–	O	senhor	sabe	onde	encontrá-la?	–	perguntou	Louise.
–	Não,	não	sei.	Ela	não	vem	muito	aqui,	 talvez	uma	ou	duas	vezes	por
ano.Mas	ela	costumava	me	telefonar	quase	toda	semana.	Aí,	alguns	meses	atrás,
ela	parou	de	ligar.	E	ela	não	veio	mais	aqui,	não	sei	o	que	aconteceu	–	falou	ele
parecendo	preocupado.	Por	um	segundo,	 tive	a	 impressão	de	 ter	visto	 lágrimas
brilhando	nos	olhos	dele.
–	 Obrigado	 pela	 ajuda,	 senhor!	 –	 falei.	 –	 De	 novo,	 desculpe-nos	 por
incomodá-lo.	 Não	 sabíamos	 que	 a	 Debora,	 quer	 dizer,	 não	 sabíamos	 que	 a
Christine	não	morava	mais	aqui.
–	 Por	 que	 precisam	 encontrá-la?	 Ela,	 o	 meu	 sobrinho,	 fizeram	 algo
errado?
–	Por	que	o	senhor	diz	isso?	–	perguntei,	aproximando-me	dele.
–	 Mesmo	 quando	 eram	 crianças,	 Fletcher	 sempre	 a	 colocava	 em
encrenca...
–	 Então	 eles	 mantiveram	 contato	 mesmo	 depois	 de	 seu	 irmão	 mudar
daqui?	–	perguntou	Louise.
–	 Sim.	 Fletcher	 continuou	 a	 enviar	 cartas	 e	 cartões	 de	 aniversário.
Quando	 ela	 se	 formou,	 ela	 ligou	 para	 ele	 e	 ele	 a	 convidou	 para	 ir	 para	 Los
Angeles	onde	ele	vivia	com	a	família	à	época.	Implorei	para	ela	não	ir.	Sabe,	a
mãe	dela	morreu	quando	ela	tinha	cinco	anos	e	eu	a	criei	sozinho.	Eu	não	queira
que	ela	fosse,	ela	era	minha	garotinha,	mesmo	crescida,	ela	ainda	era	meu	bebê...
–	O	Homem	olhou	pensativo	para	a	casa	atrás	de	mim.	–	Mas	quando	ela	voltou
com	 um	 diploma	 nas	mãos,	 eu	 fiquei	 tão	 orgulhoso.	 Ela	 disse	 que	 Fletcher	 a
ajudara	 a	 entrar	 na	 faculdade	 e	 quando	 ela	 se	 formou	 ele	 queria	 que	 ela
trabalhasse	para	ele.
Aposto	que	Louise	e	eu	estava	pensando	a	mesma	coisa.
–	Obrigado	de	novo	por	sua	ajuda,	senhor	–	falei.	–	Estendi	a	mão	direita
e	o	homem	a	apertou,	assentindo.
–	A	seu	dispor	–	disse	ele.	–	Posso	pedir	um	favor?
–	Claro	–	respondi.
–	Vocês	me	avisam	se	descobrirem	onde	minha	filha	está?
Louise	falou:	–	Avisaremos	sim,	senhor.
Havia	algo	que	eu	não	conseguia	parar	de	pensar.	Olhei	de	novo	para	a
casa	e	para	o	homem	e	disse:
–	Por	 que	 sua	 filha	não	o	 ajudou	 a	 cuidar	 da	 casa?	Desculpe,	mas	não
parece	boa.	–	E	nem	o	senhor,	pensei	sobre	o	homem.
Se	 eu	 não	 soubesse,	 pensaria	 que	 era	 morador	 de	 rua.	 Ele	 parecei
morador	 de	 rua,	 e	 eu	 me	 perguntava	 como	 aquilo	 acontecera	 a	 ele.	 Eu	 tinha
certeza	de	que	a	 filha	 tinha	bastante	dinheiro	para	que	ele	 tivesse	 tudo	de	que
precisava.
–	Eu	não	quero	ajuda	dela	–	respondeu	o	homem.	–Eu	costumava	fazer
tudo	 sozinho,	 mesmo	 depois	 de	 me	 aposentar,	 e	 quebrei	 as	 duas	 pernas	 num
acidente	 de	 carro.	 Eu	 não	 queria	 ajuda	 dela.	 Ela	mandou	 dinheiro	 para	 pagar
pelo	médico,	comida,	roupas,	mas	eu	não	aceitaria	nada	dela.	Mesmo	o	dinheiro
que	ela	mandava,	eu	dava	a	maior	parte	para	ajudar	um	dos	hospitais	locais	para
veteranos	 de	 guerra.	 E,	 sim,	 talvez	 eu	 pareça	 um	 velho	 chato	 e	 louco,	mas	 é
quem	 eu	 sou.	 Estou	 bem	 com	 o	 que	 tenho.	 Tudo	 que	 quero	 agora	 e	 saber	 se
minha	menina	está	bem.
–	Nos	avisaremos	ao	senhor	caso	descubramos	algo	–	falei.	–	Vamos?	–
perguntei	para	Louise.
Ela	meneou	a	cabeça	e	me	seguiu	até	o	carro.
–	Esta	 foi	 a	 conversa	mais	 esquisita	 que	 eu	 já	 tive	 na	 vida	 –	 disse	 ela
quando	acelerei	nos	afastando	da	casa	dos	Montgomery.	–	Você	não	acha	que	é
estranho	que	nem	o	Drew	nem	o	Christopher	conseguiram	encontrar	a	endereço
certo	 da	 Debora,	 também	 conhecida	 como	 Christine	Montgomery?	 E	 o	 nome
dela?	Por	que	ela	mudou?
–	Acho	que	sei	o	que	aconteceu	com	o	nome	verdadeiro	da	Christine	e
porque	ela	teve	que	trocar	de	nome.
–	Sabe?	–	perguntou	ela	surpresa.
–	 Aposto	 que	 seu	 pai	 a	 fez	 mudar	 de	 nome	 para	 esconder	 que	 eram
parentes.	E,	se	eu	estiver	certo,	foi	feito	para	enganar	meu	pai.
–	Você	acha	que	ela	era	espiã	o	tempo	todo	que	trabalhou	para	seu	pai?
–	 Tenho	 certeza.	A	 única	 coisa	 que	 não	 entendo	 é	 o	 que	 seu	 pai	 tinha
contra	o	meu.	Por	que	queria	destruí-lo?
–	Você	acha	que	tinha	algo	a	ver	com	as	respectivas	empresas?
	 –	 Quem	 sabe?	 Tudo	 é	 possível.	 Preciso	 pedir	 ao	 Christopher	 para
vasculhar	o	passado	do	meu	pai	 e	 a	vida	da	Debora.	Por	 fim,	 sabemos	menos
sobre	ela	do	que	pensávamos.
–	 Por	 que	 será	 que	 o	 Drew	 nunca	 me	 falou	 que	 conhecia	 Debora,	 ou
Christine	ou,	seja	lá	quem	ela	for?	Eles	cresceram	juntos.	Como	ele	poderia	não
conhecê-la?
–	Talvez	ele	não	soubesse	que	o	irmão	mantinha	contato	com	ela.	Além
disso,	ele	a	conhecia	como	Christine.
–	 Sim,	 mas	 como	 ele	 não	 reconheceu	 o	 endereço	 que	 ele	 mesmo	 me
passou?	Ele	morou	lá,	ele	deveria	ter	perguntado	por	que,	de	repente,	eu	queria
visitar	 a	 casa	onde	ele	crescera.	E	você	acredita	mesmo	que	ele	não	 sabia	que
Debora	e	Christine	eram	a	mesma	pessoa?
–	Por	que	não	vamos	pessoalmente	perguntar	tudo	isso	a	ele?
Mas	a	sorte	não	estava	ao	nosso	lado	aquele	dia.	Quando	chegamos	a	Le
Papillon,	Kate	disse	que	Drew	não	estava	lá.
–	Você	sabe	quando	ele	volta?	–	perguntei.
–	Não	sei.	Ele	só	disse	que	não	demoraria.	Vocês	tentaram	ligar	para	ele?
–	Tentamos	–	disse	Louise.	–	Pelo	menos	umas	dez	vezes	e	nada.	Ele	não
atendeu	o	maldito	telefone.
–	Bem,	então,	que	tal	uma	xícara	de	chá?	Ou	uísque,	talvez.
–	Uma	xícara	de	uísque?	Eu	 fiz	 careta	para	a	 forma	como	ela	 falara.	–
Obrigado,	hoje	não.	–	Passei	mal	só	de	pensar	em	beber	de	novo.
Louise	riu.	–	Nada	de	uísque.	Mas	chá	seria	ótimo.
Fomos	para	o	bar	que	estava	cheio	de	mulheres	de	vestido,	preparando-se
para	o	show	da	noite.	Algumas	gritaram	quando	viram	Louise.
–	 Ah,	 vejam	 só	 quem	 está	 aqui!	 –	 disse	 uma	 das	 garotas	 indo
cumprimentar	Louise.	Pelo	que	me	lembro,	o	nome	dela	é	Natasha.
–	Esperávamos	ver	você	só	amanhã	–	disse	outra	garota.	–	Você	virá	para
o	 ensaio	 amanhã?	 Valery	 e	 eu	 estamos	 trabalhando	 numa	 nova	 dança	 e
gostaríamos	de	saber	sua	opinião.
–	A	Valery	quer	saber	minha	opinião?	–	disse	Louise	surpresa.	–	Duvido.
–	Na	verdade	quero	 sim	–	disse	Valery,	 também	conhecida	 como	Tess.
Ela	me	cumprimentou	com	um	movimento	de	cabeça	e	depois	disse	para	Louise:
–	Posso	falar	com	você,	em	particular?
Louise	olhou	para	mim	pronta	para	falar	algo,	mas	Kate	falou	primeiro:	–
Não	se	preocupe,	eu	cuido	dele.	Vá	conversar	com	a	Val.
Louise	sorriu	para	mim	se	desculpando,	e	as	duas	foram	embora.
–	 Você	 tem	 certeza	 de	 que	 não	 quer	 uísque?	 –	 perguntou	 Kate	 se
sentando	em	frente	a	mim.
–	Tenho	–	respondi.
–	Como	quiser.	–	Ben!	–	Ela	chamou	o	atendente.	–	Duas	xícaras	de	chá,
por	favor.
–	Como	anda	tudo	por	aqui?	–	perguntei,	aguardando	meu	chá.
–	Até	que	bem.	As	novas	garotas	que	a	Marlena	enviou	para	cá	são	muito
boas.	Ocorre	que	elas	são	grandes	fãs	da	Lu.	Elas	a	viram	dançando	na	época	do
orfanato.
–	Então	a	Marlena	continua	mandando	garotas	para	cá?
–	Continua.	Ela	e	Drew	fizeram	um	acordo.	Ele	dá	às	garotas	 trabalho,
comida	 e	 um	 teto	 e	 elas	 trabalham	 para	 ele.	Nem	 todas	 dançam,	 algumas	 são
garçonetes.	 E	 uma	 das	meninas	 é	minha	 assistente	 agora.	 Tenho	muito	 o	 que
fazer,	duas	mãos	não	são	suficientes	para	fazer	tudo.
Ben	trouxe	nosso	chá.	A	Kate	pegou	a	xícara	dela	da	bandeja	e	disse:	–	O
que	vocês	querem	com	o	Drew?	Eu	sei	que	você,	mais	do	que	ninguém,	nunca
foi	grande	fã	dele.
Eu	sorri.	–	Verdade,	mas	preciso	fazer	algumas	perguntas	sobre	a	família
dele.	Você	sabe	algo	sobre	a	família	dele?
–	 Tudo	 o	 que	 sei	 é	 que	 ele	 é	 irmão	 do	 cretino	 do	 Montgomery.	 Eu
detestava	 quando	 ele	 vinha	 aqui.	 Ele	 era	 sempre	 muito	 mal-educado	 com	 as
meninas.
–	Fletcher	costumava	ser	um	dos	frequentadores	do	clube?
–	Ainda	é.	Ele	vem	de	vez	em	quando.	Não	com	 tanta	 frequência,	mas
esporadicamente.
–	Ele	já	trouxe	algum	amigo?
Kate	pensou	um	pouco.	–	Não,	não	que	eu	me	lembre.	Ele	sempre	vem
sozinho,	fica	numa	das	mesas	mais	afastadas,	assiste	ao	show,	depois	pede	uma
dança	particular	de	uma	das	garotas.	Mas	nunca	o	vi	com	ninguém.
–	Entendo.
–	 Você	 está	 pensando	 em	 alguém	 em	 particular?	 –	 perguntou	 Kate,
observando-me	com	suspeita.	–	O	que	está	acontecendo,	William?	E	não	me	diga
que	não	é	nada,	porque	eu	vi	 como	você	e	a	Lu	pareciam	perturbadosquando
entraram	aqui.
	–	Bem...	–	olhei	em	volta.	As	meninas	estavam	saindo	do	bar,	então	eu
esperei	até	que	estivéssemos	a	sós	e	disse:	–	Desconfiamos	que	Fletcher	 tenha
algo	a	ver	com	a	morte	do	meu	pai.
Kate	arfou.	–	Você	só	pode	estar	brincando...	por	que	vocês	acham	isso?
–	É	que	uma	prima	do	Fletcher	e	do	Drew,	que	trabalhou	para	meu	pai,
depois	foi	trabalhar	para	o	pai	da	Louise.	E	uma	pessoa	nos	disse	que	ela	pode
saber	a	verdade	sobre	a	morte	do	meu	pai.	Por	isso	pensamos	em	falar	com	ela
pessoalmente,	 mas	 quando	 chegamos	 a	 casa	 onde	 ela	 deveria	 morar,	 ela	 não
estava.	E	nem	mesmo	o	pai	dela,	que	vive	na	casa,	sabe	onde	encontrá-la.
–	Ah,	entendo...	é	por	isso	que	vocês	precisam	falar	com	o	Drew?	Vocês
acham	que	ele	sabe	onde	encontrar	a	prima?
–	Sim,	ou,	pelo	menos,	esperamos	que	ele	possa	nos	falar	mais	sobre	ela.
Ela	 trocou	 de	 nome	 há	 um	 tempo	 e,	 pessoalmente,	 eu	 acredito	 que	Drew	 não
sabia	disso.	Mas	eu	ainda	quero	fazer	algumas	perguntas	a	ele.
–	Drew	nunca	 comentou	 que	 tinha	 uma	 prima.	Na	 verdade,	 eu	 sempre
achei	que	o	irmão	fosse	o	único	parente	vivo.
Louise	voltou	para	o	bar	sem	cor.
–	O	que	aconteceu?	–	perguntei	preocupado.	A	Tess	não	estava	mais	com
ela.	–	O	que	ela	falou?
Louise	olhou	cuidadosa	para	a	Kate	antes	de	dizer:
–	Você	sabia	que	o	detetive	que	investigava	a	morte	da	Isabel	costumava
vir	aqui	com	meu	pai?
–	O	quê?	–	perguntou	ela	surpresa.	–	A	Valery	falou	isso?
–	 Sim.	 Ela	 disse	 que	 não	 conseguia	 lembrar	 onde	 vira	 o	 cara,	mas	 aí,
alguns	dias	atrás,	ela	viu	Drew	conversando	com	meu	pai	e	se	lembrou	de	vê-los
juntos	 aqui.	 Ela	 parou	 por	 uma	 fração	 de	 segundo	 recuperando	 o	 fôlego	 e
continuou:	–	Ela	até	dançou	para	eles...
Levantei	a	mão	processando	cada	palavra	dela.
–	 Espera	 –	 falei,	 interrompendo	 Louise.	 –	 Isabel	 é	 a	 garota	 que	 você
comentou,	que	trabalhava	aqui	e	que	foi	assassinada?
–	Isso	–	Kate	respondeu	pela	Louise.	–	Mas	não	entendo	por	que	a	Valery
falaria	isso	para	você.	–	Ela	olhou	para	Louise.
–	Porque	da	última	vez	que	estive	aqui,	falei	com	o	Drew	sobre	meu	pai,
e	ele	disse	algo	que	me	fez	acreditar	que	ele	sabia	mais	sobre	a	morte	da	Isabel
do	que	ele	queria	que	as	pessoas	soubessem.	Eu	perguntei	diretamente	 se	meu
pai	tivera	algo	com	a	morte,	mas	ele	disse	que	não.		Aí	eu	fui	falar	com	a	Valery
e	 perguntei	 sobre	 a	 noite	 que	 a	 pobre	 moça	 foi	 morta.	 Ela	 me	 falou	 sobre	 o
investigador	do	caso.	Pelo	que	ela	disse,	logo	depois	do	caso	ter	sido	fechado	ele
foi	enviado	para	trabalhar	em	outro	lugar.	Ela	tinha	certeza	de	que	o	conhecia,	só
não	lembrava	de	onde.	E	agora	que	sabemos	que	ele	era	amigo	do	meu	pai,	e	se
juntarmos	o	comportamento	estranho	do	Drew	quando	 falei	 com	ele,	podemos
chegar	a	uma	conclusão	muito	ruim...
–	Não	–	Kate	sacudiu	a	cabeça.	–	Drew	jamais	mentiria	para	a	polícia	se
soubesse	algo	sobre	a	morte	da	Isabel.
–	Tem	certeza?	–	perguntei.
Ela	e	Louise	se	olharam.
–	Eu	conheço	bem	o	Drew	–	disse	Kate.	–	Ele	nunca	daria	cobertura	para
o	irmão	se	ele	estivesse	envolvido	com	assassinato,	sobretudo	se	fosse	uma	das
garotas	do	clube.	Seria	muito	perigoso	para	ele.
–	Acho	que	devemos	esperar	o	Drew	e	perguntar	sobre	a	Isabel,	de	novo.
–	Sugeri.
–	O	que	você	quer	saber	sobre	ela?	–	Soou	a	voz	zangada	do	Drew	atrás
de	nós.
Louise,	 Kate	 e	 eu	 nos	 viramos	 para	 onde	 vinha	 o	 som	 da	 voz.	 Como
sempre,	ele	não	aparentava	estar	feliz	em	me	ver.	Ele	sabia	que	eu	não	viria	ao
clube	se	não	tivesse	uma	boa	razão,	e	agora	que	a	Louise	não	era	mais	uma	das
dançarinas,	tenho	certeza	de	que	o	homem	podia	pressentir	problemas.
–	 Precisamos	 conversar	 –	 disse	 Louise.	 –	 Podemos	 ir	 para	 o	 seu
escritório?
Drew	me	olhou	desconfiado	de	novo	e	disse:	–	Venham	comigo.
Nós	quatro	saímos	do	bar	e	o	seguimos	até	o	escritório.
Assim	que	entramos	no	escritório,	ele	 fechou	a	porta	e	 foi	para	a	mesa
dele,	 apertou	 algumas	 teclas	 no	 teclado	 do	 computador	 fazendo	 as	 cortinas
pesadas	cobrirem	todas	as	janelas	da	sala.
–	Você	não	devia	ter	vindo	aqui	–	disse	ele	olhando	para	mim.	–	O	que
você	sabe	sobre	a	morte	da	Isabel?
–	 Primeiro,	 queremos	 que	 você	 nos	 fale	 sobre	 a	 Debora	 Griffin	 ou
Christine	Montgomery,	 como	preferir	–	disse	Louise.	–	Você	 sabe	quem	é	ela,
não	sabe?
Ele	xingou	em	voz	alta	antes	de	dizer:
–	Eu	sei,	embora	preferisse	não	saber.
–	Você	sabe	onde	ela	está?	–	perguntei.
–	Sei,	mas	você	não	vai	gostar	da	resposta.
–	Fale,	precisamos	conversar	com	ela	–	disse	Louise.
–	 Acho	 que	 esta	 não	 é	 uma	 possibilidade...	 Ela	 foi	 enviada	 para	 um
hospício,	e	acho	que	não	é	permitido	visitantes.
–	O	quê?	–	Olhei	para	ele	chocado.	–	Você	está	dizendo	que	ela	está...
louca?
Drew	 assentiu	 indo	 até	 um	 pequeno	 bar	 no	 canto	 da	 sala.	 –	 Sim,
literalmente.	–	Ele	se	serviu	de	um	copo	de	uísque	e	bebeu	tudo	num	só	gole.
–	Foi	por	causa	disso	que	você	saiu	hoje?	–	perguntou	Kate.
–	 Foi.	 –	 Ele	 olhou	 para	 a	 Louise.	 –	 No	 dia	 que	 você	 me	 pediu	 para
descobrir	 o	 endereço	 da	Debora	 eu	 não	 sabia	 que	 descobriria	 tanta	merda	 que
meu	 irmão	 mantinha	 escondida	 por	 anos.	 Eu	 não	 sabia	 que	 a	 Debora	 e	 a
Christine	 eram	 a	 mesma	 pessoa.	 Eu	 não	 via	 a	 Christine	 desde	 que	 éramos
crianças	e	não	sabia	que	meu	irmão	mantinha	contato	com	ela	depois	de	irmos
para	Los	Angeles	e	também	não	sabia	que	ele	a	chamara	para	trabalhar	com	ele.
–	 Como	 ela	 adoeceu?	 –	 perguntou	 Louise.	 –	 Pelo	 que	 conseguimos
descobrir	sobre	ela,	ela	 liderava	uma	das	empresas	do	Montgomery	por	muitos
anos.
–	Acho	que	ela	não	tinha	muita	escolha...	Tenho	certeza	de	que	o	cretino
a	fez	perder	a	sanidade.
Louise	me	olhou	em	choque.	–	Como	isso	é	possível?
Pessoalmente	 o	 relato	 do	Drew	 não	me	 surpreendeu.	 Eu	 sempre	 soube
que	Fletcher	era	capaz	de	qualquer	coisa,	inclusive	enlouquecer	pessoas,	ou,	ao
menos,	 fazer	 com	 que	 elas	 parecessem	 doentes.	 Droga,	 aposto	 que	 ele	 podia
fazê-las	desaparecer	sem	que	ninguém	nem	imaginasse	que	ele	estava	envolvido.
Ele	é	um	desgraçado	ardiloso.
–	Eu	tenho	uma	teoria	sobre	o	atual	estado	da	Christine	–	disse	Drew.	–	A
pobre	mulher	está	pagando	pelo	que	meu	querido	irmão	fez	a	você,	Louise.	Tudo
começou	 com	 você.	 Primeiro,	 você	 conheceu	 William	 Blair,	 o	 filho	 do	 pior
inimigo	 dele.	 Então	 o	 William	 começou	 a	 investigar	 seu	 passado	 tentando
descobrir	o	nome	dos	seus	pais	biológicos.	Ele	encontrou	Rea,	a	enfermeira	do
hospital	onde	você	nasceu.	Ela	contou	para	ele	que	você	era	 filha	do	Fletcher.
Então	William	contou	a	você	a	verdade	sobre	seu	pai.	E	eu	tenho	certeza	de	que
Fletcher	não	esperava	que	isso	acontecesse.	Mas	quando	ele	percebeu	que	você	e
William	 estavam	 juntos,	 ele	 entendeu	 como	 uma	 bomba	 relógio	 que	 ele	 não
sabia	 como	 controlar.	 Então	 ele	 pensou	 que	 poderia	 eliminar	 a	 única	 possível
testemunha	de	todos	os	crimes	dele.		E	essa	testemunha	é	a	Debora.	Porque	ela
estava	com	ele	desde	o	começo	e	sabe	tudo	sobre	ele.	Ou,	pelo	menos,	sabia	tudo
até	“perder	a	sanidade”.
–	Você	sabia	que	seu	irmão	odiava	a	mim	e	a	minha	família?	–	perguntei.
–	 Honestamente,	 descobri	 isso	 há	 poucos	 dias,	 quando	 juntei	 o	 que	 a
Louise	falou	sobre	você	e	sobre	a	Debora.	Mas,	sim,	há	algo	que	suponho	seja	a
razão	de	tudo	que	meu	irmão	fez	contra	você	e	seu	pai.
–	E	o	 que	 é?	 –	 perguntei,	 cruzando	os	 braços.	Eu	 ainda	não	 conseguia
acreditar	 que	meu	pai	 nunca	me	 contou	que	 conhecia	Fletcher	Montgomery,	 e
pior,	que	eles	eram	inimigos.
–	 Quando	 Fletcher	 tinha	 18	 anos	 ele	 conheceu	 uma	 garota	 chamada
Angela.	Ele	se	apaixonou	por	ela	tão	desesperadamente	que	queria	se	casar	com
ela,	mas	o	problema	é	que	ela	já	gostava	de	outra	pessoa...
–	Meu	pai...	–	finalizei	a	frase	do	Drew.
–	Exatamente.	Assentiu	ele,	sentando-se	na	enorme	cadeira	em	couro.	–
Fletcher	não	perdoou	seu	pai	por	 tirar	Angela	dele.	Eu	acredito	que	bem	lá	no
fundo	ele	ainda	odeia	Randal,	mesmo	que	ele	já	esteja	morto	há	algum	tempo.
–Isso	é	ridículo	–	disse	Louise.	–	Você	acha	mesmo	que	ele	mataria	o	pai
do	Will	por	causa	de	ciúmes?
–	Ciúme	é	algo	muito	perigoso,	Louise.	Leva	as	pessoas	a	fazerem	coisas
terríveis.
Ela	balançou	a	cabeça,	provavelmente	ainda	incapaz	de	aceitar	o	fato	de
que	o	pai	dela	pudesse	ser	tão	monstruoso.
–	E	a	Isabel?	–	perguntou	Kate.	–	O	que	o	Montgomery	tem	a	ver	com	a
morte	dela?
Drew	falou	de	novo.	–	Como	eu	já	disse,	ciúme	leva	as	pessoas	a	fazerem
coisas	terríveis...
Capítulo	15
	
Louise
	
O	 sangue	congelou	nas	minhas	veias,	 senti	 como	 se	 estivesse	prestes	 a
desmaiar,	eu	não	conseguia	pensar	direito.
–	Você	está	falando	sério?	–	falei	praticamente	caindo	numa	cadeira	que
estava	perto,	chocada	com	as	palavras	do	Drew.
	Drew	 não	 parecia	 estar	 brincando,	mas	 eu	 tinha	 esperança	 de	 que	 ele
diria	que	estava.	Mesmo	sendo	uma	brincadeira	horrível,	ainda	seria	melhor	do
que	tudo	ser	verdade.
–	Desculpe,	 querida,	mas	 estou	 falando	 sério	 –	 respondeu	 ele.	 –	Claro
que	eu	não	posso	afirmar	com	100%	de	segurança	que	foi	meu	irmão	que	matou
Isabel,	mas	eu	acredito	que	tenha	sido	ele	por	causa	do	que	ele	sentia	por	ela.
Will	riu	com	sarcasmo	e	disse:	–	Não	me	diga	que	ele	estava	apaixonado
por	ela	também...
–	Eu	não	acredito	que	possa	ser	considerado	amor	de	verdade,	era	mais
como	uma	obsessão	o	que	ele	sentia	por	ela.
–	Mas	a	Tess	me	disse	que	a	Isabel	estava	envolvida	com	o	homem	que
foi	preso	acusado	de	matá-la.	Ela	tem	razão?
	Drew	suspirou.	–	O	que	sei	é	que	havia	algo	entre	eles.	Mas	não	acredito
que	 fosse	 algo	 sério.	 Antes	 da	 Isabel	 ser	 assassinada	 eu	 não	 proibia	 nossas
meninas	de	sair	com	clientes.	Elas	não	eram	minhas	prisioneiras	e	eu	nunca	quis
que	fosse	assim.	Eu	lhes	dava	a	liberdade	de	que	precisavam	e	que	mereciam...
em	outras	 palavras,	 elas	 tinham	o	 direito	 de	 ter	 vida	 fora	 de	Le	Papillon	 com
quem	quisessem.
–	Até	que	uma	delas	foi	morta...	–	conclui.
–	Exato	–	respondeu	Drew	olhando	para	o	chão	envergonhado,	como	se
ele	fosse	responsável	pelas	decisões	da	Isabel	e	pela	morte	dela.
–	Bem,	isso	significa	que	precisam	reabrir	a	investigação	–	disse	Will.	–
As	duas	investigações	na	verdade.
–	Não!	–	Levantei-me	e	fui	até	ele.	–	Você	não	entende	como	meu	pai	é
perigoso?	Ele	é	louco,	isso	está	claro.	E	eu	não	quero	que	você	se	machuque	por
causa	dele.	–	Eu	não	disse	que	também	tinha	medo	de	que	ele	acabasse	como	o
pai,	 morto	 num	 “acidente”.	 Mas,	 aparentemente,	 Will	 me	 conhecia	 bem	 o
suficiente	para	saber	exatamente	por	que	eu	me	preocupava	com	ele	fuçando	por
aí	para	encontrar	informações	sobre	meu	pai.
Ele	me	envolveu	com	os	braços,	dizendo:	–	Sei	que	está	com	medo,	mas
não	 podemos	 permitir	 que	 ele	 machuque	 mais	 alguém,	 Louise.	 Primeiro	 ele
matou	meu	pai	fazendo	parecer	acidente.	Depois	matou	Isabel	e	deu	um	jeito	de
que	outra	pessoa	fosse	presa	no	lugar	dele.	E	agora	a	Christine	está	num	hospício
em	algum	lugar,	louca,	talvez,	e	se	não	for,	todos	pensam	que	é...	Você	não	acha
que	tudo	isso	é	mais	do	que	suficiente	para	que	ele	pague?	E	a	nós?
Eu	olhei	para	ele,	tentando	encontrar	as	palavras	certas	para	fazê-lo	parar
de	 cavoucar	 mais,	 mas	 falhei.	 Porque	 no	meu	 íntimo	 eu	 sabia	 que	 ele	 estava
certo,	e	que	meu	pai	tinha	que	pagar	pelos	atos	dele.
–	Eu	acho	que	devemos	procurar	mais	informações	sobre	os	dois	casos	–
disse	Drew.	–	Kate,	você	precisar	conversar	com	as	meninas	sobre	a	Isabel.	Elas
precisam	contar	tudo	o	que	sabem,	principalmente	a	Valery.
–Vou	conversar	com	elas	–	respondeu	Kate.
–	 Ótimo.	 Louise	 e	 William,	 vocês	 precisam	 descobrir	 mais	 sobre	 o
trabalho	da	Debora	na	empresa	do	Randal.	E	também,	vejam	se	conseguem	mais
informação	 sobre	 a	 negociação	 que	 eles	 estavam	 fazendo	 quando	 o	Randal	 se
envolveu	num	“acidente”	de	barco,	acabando	com	a	vida	dele	e	 tornando	a	 tal
negociação	 sem	 efeito.	 E	 eu...	 –	 Drew	 fez	 uma	 pausa	 suspirando.	 –	 Eu	 vou
cuidar	 para	 que	 o	 imbecil	 do	meu	 irmão	 não	 descubra	 o	 que	 estamos	 fazendo
pelas	costas	dele.
–	Tenha	cuida...	–	Drew	ergueu	a	mão	para	me	parar,	mas	eu	o	interrompi
antes	 dele	 protestar	 –	 Não,	 estou	 falando	 sério.	 Tenha	 cuidado.	 Nós	 não
queremos	nos	envolver	em	um	“acidente”,	queremos?
Will	me	soltou,	e	pegou	o	telefone	no	bolso	da	calça,	dizendo:	–	Talvez
precisemos	de	ajuda	da	polícia.	Vou	ligar	para	um	amigo	meu	na	Delegacia	de
Nova	Iorque	e	perguntar	se	pode	nos	ajudar	ou,	pelo	menos,	nos	dar	cobertura	se
precisarmos.
	 –	 Psicopata	 como	 o	 Fletcher	 é,	 eu	 acredito	 que	 ele	 seja	 esperto	 o
suficiente	para	limpar	as	cenas	de	crime	antes	de	sair	delas,	então	eu	duvido	que
ele	 deixe	 quaisquer	 provas.	 Será	 como	 encontrar	 uma	 agulha	 num	 palheiro
acharmos	 algo	 para	 que	 a	 polícia	 possa	 prendê-lo.	 Além	 disso,	 quando
encontrarmos	uma	prova,	precisaremos	do	meu	amigo	para	nos	ajudar	a	coletá-la
para	que	não	seja	considerada,	falsificada	ou	violada.	Se	a	prova	for	classificada
como	falsa	ou	alterada,	não	a	usarão.
–	 Nós	 temos	 que	 trabalhar	 duro	 para	 garantir	 que	 teremos	 provas
concretas	 o	 suficiente	 para	 provar	 o	 que	 ele	 fez	 sem	 que	 ele	 ou	 a	 polícia	 se
voltem	 contra	 nós	 –	 explicou	Drew.	 –	 Eu	 não	 duvido	 que	 ele	 descubra	 o	 que
estamos	fazendo	e	arme	para	nós	 já	que	estaremos	perto	de	conseguir	 todas	as
provas	 do	 que	 ele	 tem	 feito.	 Se	 o	 Fletcher	 é,	 de	 verdade,	 responsável	 pelos
assassinatos	e	pela	insanidade	da	Christine,	será	um	grande	escândalo.	Fletcher	é
político,	e	 se	o	povo	descobrir	o	que	ele	 fez,	ou	mesmo	descobrir	que	ele	está
sendo	investigado	por	aqueles	crimes,	a	votação	entre	os	eleitores	dele	deve	cair.
–	Eu	não	quero	nem	saber	–	disse	Will.	–	Se	ele	matou	meu	pai,	e	se	eu
encontrar	 provas	 suficientes	 para	 provar,	 eu	 juro,	 vou	 fazer	 tudo	 para	 que	 o
cretino	passe	o	resto	da	vida	na	cadeira	ou	o	que	seja	que	ele	tenha	que	encarar
pelos	 crimes	 que	 cometeu.	 Eu	me	 recuso	 a	 deixá-lo	 livre.	Não	me	 importa	 se
levar	o	resto	da	minha	vida	para	provar	que	ele	é	culpado,	de	alguma	forma	eu
vou	garantir	que	a	justiça	seja	feita...
Eu	 olhava	 fixo	 para	 o	 chão	 pensando	 no	 quanto	 Montgomery	 ficaria
furioso	se	fosse	preso	e	responsabilizado	por	tudo	de	terrível	que	fez,	quando,	de
repente,	ouvi	Drew	falar	meu	nome.
–	Louise	–	O	que	me	 levou	a	prestar	 atenção	de	novo	na	conversa.	Eu
ouvira	tudo,	só	estava	pensando	também.	–	Está	nos	ouvindo?	–	perguntou	ele.
–	Claro	que	estou.	Montgomery	nunca	foi	pai	para	mim.	Então	não	acho
que	 ficará	 ofendido	 quando	 souber	 minha	 participação	 em	 destruir	 a	 carreira
dele.	 Além	 disso,	 ele	merece	minha	 traição.	 É	 o	mínimo	 que	 posso	 fazer	 em
retribuição	por	ele	ter	estragado	minha	infância.
Drew	assentiu.	–	Temos	um	acordo	então.	Vamos	começar	a	investigar.
	
***
Mais	tarde,	quando	chegamos	em	casa,	Will	decidiu	telefonar	para	a	mãe
e	ver	se	ela	nos	dava	mais	 informação.	Afinal,	ela	não	deveria	 ter	esquecido	o
homem	loucamente	apaixonado	por	ela.
–	Por	 que	 você	 nunca	me	 disse	 que	 conhecia	Fletcher	Montgomery?	 –
Will	 perguntou	 assim	 que	 a	 mãe	 atendeu	 ao	 telefone,	 sem	 nem	 mesmo
cumprimentá-la.	 	 A	 ligação	 estava	 em	 viva	 voz,	 então	 eu	 ouvia	 tudo	 que	 ela
dizia.	 Falei	 para	 o	Will	 que	 não	 precisava,	 e	 que	 ele	 poderia	 me	 contar	 tudo
depois,	 mas	 ele	 disse	 que	 não	 queria	 manter	 mais	 segredos	 de	 mim.
Independente	do	que	ela	dissesse,	ele	queria	que	eu	ouvisse.
–	Fletcher	e	eu...	é	complicado,	William...	sempre	foi	complicado,	desde
que	 nos	 conhecemos...	 Estávamos	 no	 ensino	 médio	 quando	 nos	 conhecemos.
Éramos	jovens	e	inconsequentes	e,	embora	ele	fosse	só	um	rapaz	negligenciado,
eu	podia	dizer	que	ele	não	era	como	os	outros	da	idade	dele.	Ele	costumava	ficar
nervoso	quando	gostava	de	algo	e	não	conseguia	ter.	Conheci	seu	pai	enquanto
ainda	 estávamos	 juntos	 e,	 já	 conhecendo	 o	 temperamento	 esquentado	 do
Fletcher,	seu	pai	era	uma	brisa	fresca.	Terminei	com	Fletcher.	Eu	nãoconseguia
ficar	com	alguém	como	ele	e	assim,	tornei-me	uma	das	coisas	que	ele	não	podia
ter...	 No	 dia	 que	 eu	 e	 seu	 pai	 nos	 casamos,	 ele	 foi	 a	 casa	 dos	 meus	 pais
esbravejando	que	seu	pai	não	era	bom	o	suficiente	para	mim,	dizendo-lhes	que
eu	merecia	mais	do	que	o	Randal	poderia	me	dar	e	como	eles	não	deveriam,	de
jeito	nenhum,		ter	permitido	que	eu	me	casasse	com	ele.	Meus	pais	pensaram	que
ele	 estava	 apenas	 com	 ciúme	 e	 o	mandaram	 embora.	 E,	 claro,	 não	 o	 ouviram
permitindo	que	eu	me	casasse	com	seu	pai...	como	eu	disse	antes,	é	complicado.
–	 Mãe,	 você	 o	 amava?	 –	 perguntou	Will,	 olhando-me.	 Provavelmente
estávamos	 pensando	 a	 mesma	 coisa.	 Como	 nossa	 vida	 teria	 sido	 diferente	 se
nossos	 pais	 tivessem	 feito	 outras	 escolhas...	 bem,	 e	 se	 meu	 pai	 não	 fosse	 o
monstro	sem	coração	que,	aparentemente,	ele	sempre	fora.
Se	 tudo	 tivesse	 sido	 diferente	 entre	 nossos	 pais	 ou,	 se	 o	Montgomery
tivesse	deixado	a	mãe	do	Will	para	lá,	talvez	não	nos	conhecêssemos.	Will	talvez
não	estivesse	na	estação	indo	para	o	escritório	do	pai.	Ele	provavelmente	estaria
por	aí	se	divertindo	como	faziam	os	rapazes	da	idade	dele...
Eu	nem	conseguia	 imaginar	minha	vida	 sem	Will.	Minha	vida	era	uma
bagunça,	 e	 era	 ele	 que	me	mantinha	 em	 pé	 e,	 definitivamente,	 era	 a	 parte	 da
minha	 vida	 que	 mesmo	 tentando,	 eu	 não	 consegui	 ficar	 sem.	 Por	 fim,	 nada
importava,	contanto	que	estivéssemos	juntos...	eu	já	estava	pensando	demais.	As
coisas	são	como	são,	nos	conhecemos	e	é	por	isso	que	estamos	aqui	hoje.
Angela	falou:	
–	Nunca	amei	ninguém	como	amei	seu	pai.	Ele	é	o	amor	da	minha	vida	e
isso	nunca	mudará...	Você	tem	algo	para	me	dizer?	Você	parece	preocupado.	Eu
conheço	você,	então,	fala,	o	que	está	acontecendo?
Will	 não	 tinha	 certeza	 se	 era	 melhor	 contar	 a	 mãe	 sobre	 o	 possível
envolvimento	do	Montgomery	na	morte	do	pai.	Ele	não	achava	que	ela	estivesse
pronta	para	ouvir	aquilo.	Então	pensamos	que	seria	melhor	confirmar	a	suspeita
antes.	No	momento,	nós	não	tínhamos	provas	concretas	para	confirmar	ou	não	a
culpa	dele	então,	era	melhor	manter	nossas	desconfianças	somente	para	nós	para
não	culpar	quem	não	tem	culpa,	caso	Montgomery	fosse	inocente.	Como	se	diz:
Todos	são	inocentes	até	que	se	prove	o	contrário.
–	Está	 tudo	bem,	mãe.	Verdade.	Eu	 só	 fiquei	 surpreso	quando	descobri
que	 você	 e	 Fletcher	 Montgomery	 se	 conheciam	 e	 que	 eu	 não	 sabia.	 Eu	 não
imaginava	que	vocês	tivessem	uma	história	juntos.
–	 Isto	 é	 por	 causa	 daquela	 garota...	 Louise?	 –	 perguntou	 ela	 em	 tom
arrogante.	Claramente	ela	acreditava	que	ela	e	o	filho	estavam	acima	de	pessoas
como	eu.
Olhei	para	Will	com	ar	interrogador.	Angela	sabia	sobre	mim?	Como?
Will	 sorriu	para	mim	me	puxando	para	seu	abraço.	–	Você	sabe	que	eu
gosto	dela.	Na	verdade,	eu	sempre	gostei.
–	Ah,	entendo...	vocês	estão	namorando?
Eu	sorri,	olhando	para	ele.	Estamos	namorando?
–	Mais	ou	menos	–	respondeu	Will,	depois	beijou	minha	testa,	correndo	a
mão	para	cima	e	para	baixo	nas	minhas	costas.
Era	muito	difícil	classificar	nosso	relacionamento.	Para	mim,	era	mais	do
que	 namorar,	 era	mais	 profundo	do	 que	 palavras	 podiam	expressar.	E	 eu	 acho
que	 Will	 se	 sentia	 assim	 também.	 Por	 isso	 nunca	 dissemos,	 claramente,	 que
estávamos	 namorando.	 E	 também	 tem	 o	 fato	 de	 que	 ficamos	 vários	 meses
separados	sem	nos	encontrar.	Durante	aqueles	meses	nosso	relacionamento	seria
melhor	 definido	 com	 “um	 tempo”	 em	 vez	 de	 namoro.	 Agora	 que	 voltamos,
namoro	poderia	descrever	o	vínculo	que	temos.
–	Com	tantas	meninas	no	mundo	você	tinha	que	se	apaixonar	justo	pela
filha	do	Fletcher...	bem,	isso	é	irônico,	não	é?
Não	 parecia	 que	 ela	 estava	 brava	 com	 a	 escolha	 do	 filho,	 mas	 se
divertindo	com	ela.	E	eu	não	a	culpo.	Afinal,	era	difícil	acompanhar	os	fatos	que
nos	 uniram.	 Fiquei	 feliz	 em	 perceber	 que	meus	 pensamentos	 de	 pouco	 antes,
sobre	ela	achar	que	ela	e	Will	eram	melhores	do	que	eu,	eram	infundados.	Fiquei
aliviada.
–	Ela	é	maravilhosa,	mãe.	Sei	que	você	vai	gostar	dela	também	quando	a
conhecer.
–	 Se	 ela	 conseguiu	 conquistar	 seu	 coração,	 tenho	 certeza	 de	 que	 é
especial.	Não	é	qualquer	uma	que	consegue	isso.	Estou	certa	de	que	gostarei	dela
também.
Will	 sorriu,	 meneando	 a	 cabeça	 em	 aprovação	 ao	 comentário	 dela,
despediu-se,	desligou	o	telefone,	me	abraçou	e	beijou	minha	cabeça.
Depois	de	um	momento	de	pura	 alegria	 era	hora	de	voltar	 ao	 trabalho.
Retomamos	nossa	investigação.
–	Então	é	verdade...	–	disse	ele,	colocando	o	telefone	na	mesa.	–	Meu	pai
roubou	minha	mãe	do	Montgomery.	Esta	é,	com	certeza,	uma	boa	razão	para	o
ele	odiar	meu	pai	a	vida	toda,	não	é?	Se	uma	pessoa	tirasse	você	de	mim,	eu	a
descartaria	 –	 falou,	 apertando	 o	 abraço.	 –	 Acho	 até	 que	 eu	 a	 mataria...	 –
completou	devagar.
Ah,	 sei	 exatamente	 o	 que	 ele	 estava	 falando.	 Eu	 senti	 o	 mesmo	 em
relação	 a	 ele.	 Sei	 que	 fui	 uma	 chata	 nos	 últimos	meses,	mas	 eu	 abominava	 a
ideia	de	vê-lo	 com	outra	mulher.	Eu,	provavelmente,	morreria	 em	saber	que	o
coração	 dele	 não	me	 pertencia	 mais.	 Nenhuma	 força	 seria	 suficiente	 para	 me
livrar	da	dor	que	eu	sentiria	por	perdê-lo	para	outra	mulher.	Seria	muito	pior	do
que	me	manter	 longe	dele	 e	 tentar	 tirá-lo	da	minha	vida.	Talvez	eu	 tenha	 sido
egoísta,	mas	era	verdade.	Eu	nem	podia	pensar	nele	estar	com	alguém	que	não
fosse	 eu.	 Meus	 sentimentos	 por	 ele	 eram	 mais	 fortes	 do	 que	 eu.	 Eu,
provavelmente	não	deveria	ter	ficado	pensando	tanto	sobre	isso.	Amá-lo	e	estar
com	ele	era	muito	mais	fácil	do	que	ficar	me	preocupando	em	ele	me	deixar.
–	Que	tal	comermos	algo?	–	perguntou	ele.	–	Estou	morrendo	de	fome.
Eu	 ri.	 –	 Isso	 não	 é	 surpresa,	 considerando	 que	 a	 única	 coisa	 que	 você
ingeriu	desde	ontem	à	noite	foi	álcool.
–	Isso	não	é	verdade,	você	foi	a	sobremesa.
–	Verdade,	como	eu	pude	me	esquecer	da	sobremesa?
–	 Você	 se	 importa	 em	 ser	 minha	 doce	 sobremesa	 de	 novo?	 Daqui	 a
pouco?	–	Ele	se	curvou	tocando	meus	lábios	com	os	dele.	–	Minha	necessidade
por	você	não	pode	ser	comparada	a	nada.
–	A	minha	também	–	falei	entre	beijos.
–	Isso	quer	dizer	que	você	vai	ficar	comigo	esta	noite?
–	Talvez...
–	Por	que	não	mudamos	você	oficialmente	para	meu	quarto?	Sinto	falta
de	você	na	minha	cama.
–	Que	interesseiro,	Sr.	Blair.	Brincar	de	casinha	é	bom,	não	é?
–	Isso	mesmo.
Eu	ri	abraçando-o	pelo	pescoço.	–	Eu	amo	você	–	falei.
–	E	eu	amo	mais	–	respondeu	ele	curvando-se	e	me	beijando	de	novo.
Ele	 estava	 tentando	manter	 o	 clima	 leve	 e	 me	 provocando	 com	 o	 que
aconteceria	 à	 noite,	 mas	 eu	 sabia	 que	 ele	 estava	 chateado	 com	 tudo	 o	 que
descobrimos	sobre	o	passado	e	a	morte	do	pai.	E	eu	sabia	que	ficaria	ainda	pior
se	confirmássemos	nossas	suspeitas	sobre	o	acidente.	Mas	nossa	única	opção	era
continuar	tentando	descobrir	a	verdade,	nenhum	de	nós	saberia	viver	sem	ela.
Fazia	 tanto	 tempo	desde	a	última	vez	que	Will	e	eu	dormimos	na	cama
dele	 e	 foi	 maravilhoso.	 Foi	 como	 se	 eu	 finalmente	 tivesse	 voltado	 para	 casa
depois	de	uma	longa	jornada	que	parecia	sem	fim	e	solitária.
Olhei	 para	 o	 homem	 dormindo	 tranquilamente	 ao	 meu	 lado	 e	 sorri,
desenhei	 uma	 linha	 pelo	 rosto	 e	 queixo	 dele	 com	 a	 ponta	 dos	 dedos.	 Não
fizéramos	nada	além	de	conversar	o	resto	da	noite.	Eu	sabia	que	Will	precisava
de	 mim	 tanto	 quanto	 eu	 precisava	 dele.	 Ele	 não	 tinha	 vergonha	 de	 contar	 os
medos	dele	e	ele	sabia	todos	os	meus.
Nem	 percebemos	 quando	 caímos	 no	 sono	 abraçados	 e	 foi	 tão	 bom,
natural,	tranquilo...
E	agora,	observando	Will	dormir,	eu	não	conseguia	parar	de	pensar	sobre
o	que	eu	ainda	precisava	fazer.	Will	estava	certo,	meu	pai	tinha	que	pagar	por	ser
uma	 pessoa	 horrível,	 mas	 eu	 não	 podia	 deixá-lo	 machucar	 o	 Will.	 Eu	 tinha
certeza	de	que	o	Will	seria	a	primeira	pessoa	que	ele	culparia	por	ter	arruinado	o
sonho	de	ser	o	próximo	presidente	dos	Estados	Unidos	da	América.	Mas	todos
sabemque	quanto	mais	alto	sobe	maior	é	o	 tombo.	Meu	pai	 talvez	não	 tivesse
entendido,	 mas	 ele	 merecia	 todo	 o	 ódio	 que	 eu	 tinha	 por	 ele.	 Ele	 não	 podia
continuar	destruindo	a	tudo	e	a	todos	no	caminho	para	a	tão	esperada	ascensão.
Alguém	tinha	que	pará-lo,	e	esse	alguém	seria	eu...	eu	preferia	que	ele	culpasse	a
mim	 do	 que	 vingar-se	 do	 Will.	 Talvez	 eu	 estivesse	 sento	 tola,	 mas	 eu	 tinha
esperança	 de	 que	Montgomery	 não	machucaria	 a	 própria	 filha,	 não	 importa	 o
quanto	a	vida	dele	possa	ser	arruinada	pela	vingança	dela.
Amanheceu	 antes	 do	 que	 eu	 esperava.	 Abri	 os	 olhos	 e	 para	 minha
tristeza,	Will	não	estava	ao	meu	lado.	A	parte	dele	da	cama	estava	vazia	exceto
por	 uma	 folha	 de	 papel	 em	 cima	 do	 travesseiro	 dele	 com	meu	 nome	 escrito.
Peguei	o	bilhete	e	li:
	
Minha	querida	Louise,
	
Acordar	 ao	 seu	 lado	 é	 sempre	 algo	 que	 não	 se	 pode	 expressar	 com
palavras...	nem	mesmo	o	tempo	mudou	isso.	Uma	parte	da	minha	mente	ainda
acha	que	estou	vivendo	um	sonho	porque	você	está	finalmente	comigo	de	novo.
E	o	resto	não	consegue	parar	de	aproveitar	cada	segundo	disso...
Parece	que	nunca	estamos	no	lugar	certo,	na	hora	certa	para	eu	poder
dizer	o	quanto	você	significa	para	mim.	Eu	amo	você	mais	do	que	eu	poderia
imaginar	 amar	 alguém:	 demais	 para	 descrever,	 demais	 para	 deixar	 para	 lá,
demais	para	deixar	de	amar	você...
E	conforme	pensamentos	sobre	você	invadem	minha	mente,	meu	coração
dispara.	Ele	bate	por	você,	porque	cada	respiração	sua,	cada	sorriso	que	vejo
brilhar	no	seu	lindo	rosto,	cada	beijo	que	roubo	de	você...	Sempre	que	não	posso
vê-la,	sinto	que	estou	me	afogando	nas	profundezas	dos	meus	medos	de	perder
você	de	novo.	Eu	perco	a	cabeça	por	você...	tão	jovem	e	selvagem,	você	invadiu
meu	mundo	e	como	um	furacão,	e	em	segundos,	conquistou	meu	coração	e	meus
pensamentos.
Nada	faz	sentido	sem	você...	Sou	 indefeso	contra	o	poder	que	você	 tem
sobre	mim.	Não	sei	ser	eu	mesmo	sem	você.	E,	toda	vez	que	estou	com	você,	me
delicio	 em	 cada	 momento	 de	 proximidade	 como	 se	 não	 houvesse	 o	 amanhã,
como	se	não	houvesse	nada	além	de	nós	dois,	escondidos	dos	olhos	de	todos	no
nosso	mundo.
Quando	 estou	 longe	 de	 você,	 segundos	 parecem	 horas,	 dias	 parecem
meses.	Não	tenho	futuro	sem	você.	Eu	vivo	com	as	lembranças	do	meu	passado
que,	às	vezes,	parece	não	existir	porque	você	estava	sempre	nele...
E	agora,	 tudo	o	que	quero	é	 ficar	 com	você	para	 sempre.	Beijar	 você,
amar	você,	respirar	você.	Estou	cansado	de	estar	incompleto.	Estou	cansado	de
estar	quebrado	em	pedaços	que	só	você	sabe	como	 juntar.	Eu	quero	me	sentir
completo	de	novo,	o	que	é	impossível	sem	você...
Não	 é	 possível	medir	 o	 poder	 do	meu	 amor	 por	 você,	mas	 espero	 que
possa	sentí-lo	com	seu	coração...
Nos	vemos	em	breve,	meu	amor.
	
Seu	para	sempre.
W.
	
Ah,	 como	 senti	 falta	 das	 cartas	 dele.	 Sempre	 tão	 lindas,	 profundas	 e
cheias	 de	 significado.	 Will	 sempre	 foi	 um	 homem	 cheio	 de	 segredos,	 mas
quando	 ele	 me	 escrevia,	 ele	 não	 escondia	 nem	 um	 simples	 pensamento	 ou
emoção.	 Nas	 cartas,	 ele	 sempre	 foi	 honesto	 comigo,	 talvez	 até	 mais	 do	 que
poderia	se	permitir	ser	pessoalmente.
Christopher	bateu	à	porta	dizendo:
–	O	café	da	manhã	está	pronto!
–	Já	vou!	–	gritei,	enfiando	na	gaveta	do	criado-mudo	a	carta	do	Will.
Tomei	um	banho	rápido,	vesti-me	e	desci	para	tomar	café.
–	 Onde	 está	 o	 Will?	 –	 perguntei	 para	 Christopher,	 chateada	 por	 não
encontra	com	ele	para	o	café	da	manhã.
–	Ele	foi	trabalhar.
–	 Num	 domingo?	 –	 Aquilo	 pareceu	 estranho,	 especialmente
considerando	que	ele	não	me	dissera	que	tinha	planos	de	trabalhar	no	domingo.
–	Não	precisa	se	preocupar,	foi	uma	emergência	no	trabalho,	mas	tenho
certeza	de	que	nada	sério.	A	propósito,	ele	me	pediu	para	levar	você	ao	escritório
quando	terminasse	o	ensaio	em	Le	Papillon.
–	Para	quê?	–	perguntei	tomando	um	gole	do	meu	café	pelando.
–	Não	sei.	Você	já	esteve	lá?
–	Não.
–	Quanto	tempo	vai	durar	o	ensaio?
–	Duas	ou	três	horas.	Eu	ligo	quando	acabar,	pode	ser?
–	Pode.	Agora	tome	café	que	eu	leve	você	até	o	clube.
Como	 sempre,	 o	 ensaio	de	domingo	em	Le	Papillon	 foi	 um	caos.	Kate
estava	furiosa	e	eu	não	sabia	se	era	porque	as	meninas	não	conseguiam	fazer	os
movimentos	que	ela	 tentava	ensinar	ou	se	era	porque	estava	em	choque	com	a
conversa	do	dia	anterior.
–	 Pelo	 amor	 de	 Deus,	meninas!	 Como	 é	 que	 vocês	 vão	 dançar	 hoje	 à
noite	se	estão	se	movendo	como	tartarugas	no	gelo?
Eu	ri	e	disse:
–	Calma,	Kate,	elas	estão	indo	bem.	–	Eu	já	estava	assistindo	ao	ensaio
há	meia	hora.	Eu	não	ia	dançar,	mas	queria	ver	a	dança	nova	da	Tess.
–	Indo	bem	não	é	o	que	quero	delas,	Lu,	quero	perfeição!	Mas	olhe	para
elas,	mal	 conseguem	 ficar	 em	 pé	 sem	 tropeçar	 a	 cada	 dois	minutos.	Deus,	 eu
devo	ter	feito	algo	muito	errado	para	ter	que	aturar	dançarinas	assim...	o	carma	é
uma	porcaria...
As	meninas	se	olharam.	Quando	a	Kate	estava	brava,	ela	detestava	tudo	o
que	acontecia	no	palco	não	importava	se	fosse	muito	bom	ou	muito	ruim.
–	Por	que	não	paramos	um	pouco?	–	perguntei.
–	Kate	me	olhou	com	cara	de	“você	só	pode	estar	brincado”.
–	 Rapidinho,	 dois	 minutos	 de	 descanso,	 ok?	 –	 Refiz	 minha	 pergunta
sorrindo	para	ela.
Ela	 xingou	 em	 voz	 alta,	 depois	 disse:	 –	 Tudo	 bem,	 dois	 minutos,
meninas.	Depois	voltem	ao	trabalho!
Apontei	a	saída	com	a	cabeça	na	esperança	de	que	pudéssemos	conversar
em	particular.
–	O	que	está	acontecendo?	–	perguntei	quando	entramos	na	sala	do	Drew.
–	O	Drew	sumiu.
–	O	quê?
–	Quer	dizer,	eu	sei	que	ele	está	com	seu	pai,	mas	ainda	estou	preocupada
com	ele.
–	Ele	está	com	meu	pai?
–	Acho	 que	 sim.	Montgomery	 veio	 aqui	 ontem	 à	 noite	 para	 assistir	 ao
show.	Depois	ele	e	o	Drew	vieram	para	o	escritório	e	conversaram	por	cerca	de
duas	horas.
–	Sobre	o	quê?
–	Bem	que	eu	queria	 saber...	depois	o	Montgomery	 foi	embora	e	Drew
saiu	logo	em	seguida.	Não	o	vejo	ou	recebo	notícias	desde	ontem	à	noite.
–	Você	ligou	para	ele?
–	Não.
–	Por	quê?	–	perguntei	pegando	meu	telefone	no	bolso.
–	Estou	com	medo	–	disse	Kate,	colocando	os	braços	em	torno	do	próprio
corpo.
–	Não	seja	ridícula.	Vamos	ligar	para	ele.
Teclei	o	número	dele	e	esperei.	Ele	atendeu	depois	de	uns	poucos	toques.
–	Sim	–	grunhiu	ele.	Ele	parecia	ter	acabado	de	acordar.
–	Onde	é	que	você	está?	Estamos	preocupadas	com	você!
Ele	pigarreou	e	disse:
–	 Desculpe,	 Lu,	 eu	 não	 achei	 que	 você	 precisasse	 assinar	 minha
permissão	para	sair	à	noite.
Revirei	os	olhos.	–	Não	seja	 idiota.	–	Claramente	meu	 tio	estava	muito
bem,	vivo,	respirando	e,	provavelmente,	abraçado	a	uma	mulher	cheia	de	curvas.
–	Você	podia	ao	menos	ter	ligado	para	a	Kate	para	dizer	que	você	estava
bem.
–	Também	não	preciso	da	permissão	dela	–	respondeu	ele	com	a	mesma
voz	de	sono.
–	Ai,	tudo	bem	–	vociferei.	–	Da	próxima	vez	poderia	fazer	a	gentileza	de
nos	avisar	que	vai	dormir	fora?	Vai	nos	poupar	do	estresse.	–	Brava,	desliguei	o
telefone.
–	Ele	está	com	uma	mulher,	não	é?	–	Perguntou	Kate	seca.
Suspirei.	Eu	não	podia	mentir	para	ela,	ela	o	conhecia	melhor	que	eu.	–
Pelo	menos	sabemos	que	ele	está	bem.
–	Filho	da	puta...	claro	que	está	bem.	–	Sorriu	ela.	–	Como	eu	posso	ser
não	 burra?	 Pensei	 que	 ele	 tivesse	 se	metido	 em	 alguma	 encrenca,	 quando,	 na
verdade,	tudo	o	que	ele	fez,	foi	se	meter	em	outra	vagina.	–	Ela	xingou	em	voz
alta	e	saiu	do	escritório	batendo	a	porta	ao	sair.
Lamentei	pela	Kate.	Ela	ainda	gostava	do	Drew	e,	algo	me	dizia	que	ele
também	a	amava,	mas	por	uma	razão	desconhecida	ele	não	queria	aquele	amor
na	vida	dele.	Ou,	 talvez,	 ele	 só	 tivesse	medo	de	 ficar	 emocionalmente	preso	 a
outra	pessoa.	Ele	sempre	fora	sozinho,	sem	esposa,	sem	filhos,	só	com	trabalho.
Ele	gostava	assim,	estava	bem	assim,	e	não	queria	mudar.	A	Kate	sabia	disso...
mas,	como	qualquer	mulher,	ela	tinha	esperança	de	que	um	dia	Drew	visse	nela	a
mulher	de	verdade,	não	só	a	stripper	com	quem	ele	podia	passar	uma	noite.	Que
visse	 a	 mulher	 amorosa	 e	 capazde	 arrumar	 o	 que	 estava	 errado	 na	 vida
bagunçada	dele.	E	eu,	esperava	sinceramente	que	o	sonho	da	Kate	se	realizasse.
Ele	merecia	ser	feliz.
Capítulo	16
	
William
	
Eu	já	estava	esperando	pela	Louise	por	cerca	de	duas	horas.	Christopher
me	ligou	assim	que	saíram	de	Le	Papillon,	e	eu	mal	podia	esperar	para	ver	meu
amor.	Havia	uma	surpresa	esperando	por	ela	no	meu	escritório.
Ela	nunca	estivera	aqui	antes,	mas	eu	queria	mostrar	tudo	a	ela,	deixá-la
conhecer	meu	mundo	do	meu	ponto	de	vista.	Depois	da	morte	do	meu	pai,	levei
quase	um	ano	para	me	acostumar	a	ser	o	novo	líder	da	empresa.		Eu	ainda	não
conseguia	acreditar	que	ele	se	 fora...	e	eu	 também	não	conseguia	acreditar	que
toda	a	responsabilidade	pelo	futuro	da	empresa	dele	estava	nas	minhas	mãos.	Eu
era	muito	novo,	sabia	tão	pouco	sobre	ser	o	chefão.	Eu	não	queria	ser	o	chefe,	eu
só	queria	meu	pai	de	volta.
Passei	 duas	 semanas	 em	 West	 Coast	 na	 esperança	 de	 que	 a	 guarda
costeira	conseguiria	encontrar	meu	pai	onde	encontraram	os	restos	do	barco.	Eu
acreditava	que	se	fosse	paciente,	eles	me	ligariam	dizendo	que	ele	estava	são	e
salvo,	mas	isso	nunca	aconteceu.	Meu	mundo	desabou	no	dia	que	encontraram	o
corpo	dele.
Voltei	para	Nova	Iorque	arrasado,	perdido.	Eu	não	sabia	o	que	fazer,	eu
não	sabia	como	viver	sabendo	que	meu	pai	nunca	mais	voltaria.
Nem	 sei	 como,	 por	 fim,	 consegui	 ser	 o	 homem	 da	 casa	 e	 do	 trabalho.
Minha	mãe	pensou	que	seria	melhor	ela	 ir	para	a	Europa.	Basicamente	porque
ela	estava	tão	arrasada	quanto	eu	e	não	podia	imaginar	a	vida	sem	meu	pai.	Ela
assumiu	que	 seria	 o	melhor	 para	 nós	dois.	Pensou	que	 se	 eu	 tivesse	que	vê-la
triste	dia	após	dia,	me	faria	sentir	pior.
Isso	era	verdade,	em	parte.	Eu	me	culpava	por	falhar	em	achar	o	corpo	do
meu	pai	na	água	fria	do	oceano.	Eu	sei	que	não	foi	minha	culpa,	eu	não	poderia
ter	feito	nada	para	salvá-lo...
E	então	minha	mãe	foi	embora,	dizendo	que	eu	era	forte	o	suficiente	para
assumir	o	lugar	do	meu	pai	nos	negócios.	Ela	acreditava	em	mim,	e	Christopher
também.	Ele	não	me	deixou	nem	por	um	segundo.	Ele	acompanhara	meu	pai	por
anos,	sabia	muito	sobre	os	negócios	e	parceiros	da	empresa	e	com	a	ajuda	dele
consegui	me	tornar	o	homem	que	sou	hoje.
Havia	algo	mais	que	me	ajudara	a	seguir	em	frente.	Louise...	embora	não
saiba,	ela	foi	minha	maior	motivação.	Se	eu	deixasse	a	empresa	ir	para	o	buraco,
eu	 não	 conseguiria	 tomar	 conta	 dela,	 e	 se	 eu	 não	 tomasse	 conta	 dela	 nosso
relacionamento	também	iria	para	o	buraco.
Não	 sei	 por	 que,	 mas	 eu	 nunca	 deixei	 de	 acreditar	 que	 nos
encontraríamos	de	novo.	E	quando	este	dia	chegou,	tudo	na	minha	vida	passou	a
fazer	 sentido.	 Pela	 primeira	 vez	 em	 anos,	 senti	 que	 tinha	 pelo	 que	 lutar.	 Pela
primeira	vez	em	muito	tempo,	senti-me	feliz,	muito	feliz,	como	se	ela	tivesse	me
enfeitiçado.	Eu	não	conseguia	me	livrar	da	vontade	de	estar	com	ela.
Num	piscar	de	olhos,	Louise	tornou-se	a	minha	vida.	E	mesmo	partindo
meu	coração	às	vezes,	eu	ainda	estava	feliz	em	saber	que	ela	estava	comigo	de
novo.	Eu	não	poderia	perdê-la,	não	agora	que	sabíamos	que	nossa	vida	sempre
fora	ligada.	Era	como	se	sempre	tivéssemos	caminhado	lado	a	lado,	mas	sem	que
nossos	 caminhos	 se	 cruzassem,	 até	 o	 dia	 que	 nos	 encontramos	 na	 estação	 de
trem.
Uma	batida	suave	à	porta	me	trouxe	de	volta	à	realidade.	Fui	abrir	a	porta
e	sorri	ao	ver	Louise.
–	Por	que	tanto	segredo?	–	perguntou	ela,	entrando	no	escritório.
Beijei-a	na	boca	e	disse:
–	Pensei	 que	 você	 tivesse	 dito	 que	 tinha	 saudades	 do	Sr.	 Segredos.	Eu
queria	ajudar	você	a	se	lembrar	dele	e	do	tempo	que	passou	com	ele.
Ela	sorriu.	–	Senti	mesmo	falta	dele.	Muita.	Mas	por	que	estamos	aqui?	–
Ela	olhou	em	volta	curiosa.
–	 Porque	 eu	 queria	 mostrar	 meu	 mundo	 a	 você.	 Este	 lugar	 é	 muito
especial	para	mim.
–	Certo...	e	o	que	faremos	aqui?
–	Você	tem	alguma	sugestão?
Ela	balançou	a	cabeça	ainda	sorrindo.
–	Então	por	que	não	começamos	com	uma	pequena	excursão?
Ela	 deixou	 a	 bolsa	 no	 sofá	 do	 meu	 escritório	 e	 fomos	 ver	 as	 outras
dependências	da	sede	da	empresa.
–	Aqui	é	a	sala	de	conferências	–	expliquei,	abrindo	a	porta	para	ela.	–
Lembro-me	da	primeira	vez	que	tive	que	falar	aqui,	foi	terrível.	Todo	o	comitê
estava	aqui	e	eu	estava	bem	nervoso.
Ela	riu.	–	Por	quê?
–	Fora	algumas	aulas	na	faculdade,	eu	nunca	falara	para	um	grupo	grande
de	pessoas.	E	não	eram	quaisquer	pessoas,	eu	sabia	que	precisava	impressioná-
las.	 A	 parte	 boa	 é	 que	 eles	 entendiam	 pelo	 que	 eu	 estava	 passando	 à	 época
porque	 fingiram	 que	 minha	 fala	 fora	 perfeita	 embora	 eu	 não	 tenha	 tirado	 os
olhos	do	papel	onde	estava	escrito	o	que	eu	deveria	dizer	e,	quando	tirei,	eu	não
lembrava	absolutamente	nada	do	que	deveria	dizer.
–	Não	pode	ter	sido	tão	ruim	assim.
–	Acredite,	você	teria	rido	se	tivesse	me	visto.	Acho	que	nunca	me	senti
tão	 pequeno	 em	 toda	 minha	 vida.	 Havia	 pessoas	 que	 tinham,	 pelo	 menos,	 o
dobro	da	minha	 idade.	Eles	 tinham	muito	mais	 experiência	 do	que	 eu	 e	 eram,
com	certeza,	mais	inteligentes.	Mas	o	mais	surpreendente	foi	quando	terminei	de
falar,	 eles	 começaram	 a	 me	 aplaudir	 como	 se	 nunca	 tivessem	 ouvido	 nada
melhor.	O	apoio	deles	significou	muito	para	mim.	De	repente	me	senti	como	se
tivesse	passado	do	menino	de	dois	anos	que	 tinha	medo	até	da	própria	sombra
para	um	homem	cheio	de	confiança	e	determinação.
–	 Nunca	 duvidei	 do	 seu	 talento	 –	 disse	 Louise.	 –	 Administrando	 a
empresa	ou	no	quer	for...
Eu	ri.		–	No	que	for?
–Você	sabe...	como	fazer	café,	ajudar-me	a	sair	de	outra	confusão	que	eu
tenha	me	metido	só	para	emoção	de	estar	nela...
Olhei	para	ela,	sorrindo.	–	Só	isso?	Não	tenho	nenhum	outro	talento	de
que	você	possa	gostar?
–	Bem...	 tem	algumas	coisas	que	eu	não	me	 importaria	 se	você	 fizesse
comigo...	só	para	me	certificar	de	que	você	é	bom	nelas	também.
Puxei-a	para	perto	de	mim	e	a	beijei.
Sempre	que	 ela	 estava	 por	 perto	 eu	 queria	 tocá-la,	 beijá-la,	 abraçá-la	 e
nunca	soltar.	Provavelmente	porque	eu	ainda	tinha	medo	de	perdê-la.
Por	isso	que	eu	deixei	a	carta	para	ela	antes	de	sair.	Havia	coisas	que	eu
não	tinha	coragem	de	dizer	em	voz	alta,	mas	eu	queria	que	ela	soubesse	como	eu
me	sentia	sobre	o	que	acontecia	em	nossa	vida.
–Há	um	outro	lugar	que	eu	gostaria	de	mostrar	a	você	–	falei.
Andamos	pelo	corredor	e	paramos	em	frente	a	uma	porta	que	levava	até
um	pequeno	cinema.
–	O	que	tem	aí?	–	perguntou	ela.
–	Sua	vida	antes	de	me	conhecer,	sua	vida	comigo	nela...
Depois	do	que	aconteceu	no	hotel	eu	sabia	que	precisava	dar	explicações
de	tudo	o	que	eu	tinha	na	cabeça	naquele	momento.
–	Vamos,	Will,	 abra	a	porta!	–	disse	ela	 impaciente.	–	Você	me	deixou
curiosa.
Eu	abri	a	porta	e	entramos	na	sala	escura.
–	Podemos	acender	as	luzes?	–	perguntou	Louise.
Eu	 não	 respondi.	 Peguei	 um	 controle	 remoto	 pequeno	 no	meu	 bolso	 e
apertei	o	botão	ligar.
A	 tela	à	nossa	 frente	 ligou,	brilhando	na	 sala	escura.	Apertei	o	play	no
controle	remoto	e	fotos	da	Louise	começaram	a	aparecer	na	tela.
–	 O	 que	 é	 isso?	 –	 Ela	 se	 aproximou	 da	 tela	 e	 sentou-se	 numa	 das
cadeiras.	Sentei-me	perto	dela.
–	Continue	assistindo	–	falei.
	Pude	ver	lágrimas	brilhando	nos	olhos	dela.	Ela	não	tirava	os	olhos	da
tela.
Havia	 fotos	 dela	 quando	 criança,	 a	 menina	 de	 dez	 anos	 que	 eu	 me
lembrava	de	encontrar	na	estação	de	 trem.	Depois	havia	fotos	dela	mais	velha,
dançando,	 andando	 pelas	 ruas	 de	 Nova	 Iorque,	 ou	 conversando	 com	 a	 Tess,
tomando	 sorvete.	 Havia	 fotos	 dela	 e	 da	 Tess	 rindo	 e	 brincando.	A	 Tess	 ainda
morava	em	Paradise.	Havia	fotos	da	Louise	quando	ela	finalmente	pode	sair	do
orfanato.	Fotos	dela	passeando	por	Paris,	de	nossa	viagem	juntos.	Havia	fotos	da
primeira	noite	que	passáramos	juntos...
Eu	 não	 falei	 nada,	 só	 a	 observei	 enquanto	 ela	 via	 as	 fotos.	Ela	 parecia
perdida	nas	lembranças	e	eu	não	queria	atrapalhar	com	perguntas	desnecessárias.
Depois	de	alguns	minutos	de	silêncio	ela	falou:
–	Lembro-medaquele	dia.	–	Ela	apontou	para	a	foto	que	piscava	na	tela.
–	 Foi	 o	 dia	 que	 a	 Tess	 saiu	 do	 orfanato.	 –	A	 foto	mostrava	Louise	 parada	 no
portão	 do	 orfanato.	 Ela	 tinha	 olhar	 tão	 triste	 na	 foto.	 Parecia	 a	 garotinha	 que
acabara	de	perder	 a	melhor	 amiga,	 e	 era	 exatamente	 isso	que	a	 foto	mostrava.
Ela	estava	perdendo	a	amiga.
–	Eu	não	queria	que	 ela	 fosse	 embora	–	disse	 ela.	Uma	 lágrima	correu
pelo	 rosto	 dela.	 –	 Uma	 parte	 de	 mim	 estava	 feliz	 por	 ela.	 Ele	 estava	 livre,
finalmente.	Ela	poderia	fazer	o	que	quisesse,	e	eu	tinha	que	esperar	por	mais	dois
anos	antes	de	poder	sair	de	Paradise.	Mas	era	difícil	saber	que	teria	que	passar	os
dois	anos	sem	ela.	Naquela	época	eu	não	sabia	se	nos	encontraríamos	de	novo	ou
não.	 Eu	 sempre	 tive	 esperança	 de	 que	 a	 Tess	 voltaria	 para	me	 buscar	 quando
chegasse	meu	dia	de	sair,	mas	ela	não	veio.	E	eu	não	tinha	ideia	de	que	Marlena
a	enviara	para	Le	Papillon.	Então,	quando	cheguei	ao	clube	eu	vi	a	nova	Tess,
uma	 estranha.	 Ela	 era	 fria,	 estar	 perto	 dela	 era	 como	 se	 o	 inferno	 estivesse
congelando	 pela	 frieza	 que	 ele	 demonstrava.	 Ela	 mudara	 demais...	 eu	 não	 a
reconheci.	Eu	estava	tão	feliz	em	vê-la	e	ela	me	disse	que	na	verdade	nunca	me
vira	 como	 amiga.	 Ela	 disse	 que	 em	 Paradise	 não	 era	 possível	 ser	 amigo	 de
ninguém,	porque	todos	tinham	que	defender	os	próprios	interesses,	e	ela	sempre
defendera	os	dela...	disse	que	me	usou.	Isso	me	magoou	muito.
–	Você	se	lembra	daquele	dia?	–	perguntei,	apontando	para	tela	com	uma
foto	diferente.	Era	a	foto	de	Louise	que	Christopher	me	enviara	quando	eu	estava
me	Paris,	quase	seis	meses	atrás.
Ela	sorriu,	assentindo.	–	Era	o	dia	que	eu	deveria	passar	a	ser	livre.	Pelo
menos	 eu	 pensei	 que	 seria	 livre...	 Mas	 tarde	 naquele	 mesmo	 dia,	 fui	 a	 Le
Papillon	e	percebi,	quando	cheguei	 lá,	que	 liberdade	era	a	última	coisa	que	eu
encontraria.
–	Mas	nos	encontramos	de	novo.	–	Peguei	a	mão	dela	e	ela	se	inclinou	e
colocou	a	cabeça	no	meu	ombro,	vendo	as	fotos	na	grande	tela	a	nossa	frente.
–	 É,	 aí	 eu	 encontrei	 você	 de	 novo...	 e	 isso	mudou	 tudo...	 você	mudou
tudo.
Eu	a	beijei	na	cabeça,	dizendo:
–	Você...	já	lamentou	ter	me	encontrado	de	novo?
Ela	respondeu	de	imediato:
–	 Sim,	 em	 especial	 no	 dia	 que	 tive	 que	 deixar	 você.	 Mas	 eu	 nunca
lamentei	todos	os	momentos	maravilhosos	que	tivemos	juntos.	–	Ela	me	olhou,	e
os	 olhos	 cheios	 de	 sentimentos.	 –	 Nunca	 lamentei	 me	 apaixonar	 por	 você,
William	Blair.	Mesmo,	às	vezes,	parecendo	errado.	Acho	que	me	apaixonei	por
você	na	primeira	vez	que	nos	encontramos,	na	estação.
Eu	sorri.	–	Isso	quer	dizer	que	você	me	amou	por	anos.
Ela	também	sorriu.	–	Foi	uma	das	coisas	que	tornou	melhor	todos	os	dias
vividos	em	Paradise,	que	era	um	inferno,	devo	dizer.	Embora,	naquela	época,	eu
não	sabia	que	era	amor.	Eu	vivi	das	lembranças	do	nosso	primeiro	encontro,	da
lembrança	de	você	me	dar	as	 luvas	e	da	minha	promessa	a	você	de	que	nunca
deixaria	 ninguém	 me	 machucar.	 Eu	 ficava	 relembrando	 nossa	 conversa,
repetindo-a	 diversas	 vezes	 na	minha	 cabeça.	 Ela	 me	 dava	 força.	 Às	 vezes	 eu
sentia	que	podia	 fazer	 tudo	o	que	quisesse,	 sentia	que	conseguiria	 tudo	de	que
precisasse.	Tudo	graças	a	você...	Você	me	inspirou,	você	me	fez	acreditar	que	a
vida,	não	necessariamente,	 tinha	que	ser	 triste.	Você	me	ajudou	a	acreditar	em
mim	 mesma.	 Eu	 sempre	 serei	 grata	 a	 você	 por	 isso,	 porque	 sem	 você	 eu,
provavelmente,	nunca	teria	conseguido	lutar	pelos	meus	sonhos	como	lutei.
–	Não	tem	que	ser	ruim,	Louise.	Você	sabe	disso,	não	sabe?
Ela	assentiu,	dizendo:
–	Eu	sei.	Eu	sei	que	você	nunca	vai	me	deixar	na	mão.	E	eu	acho	que	sei
porque	você	quis	me	mostrar	 todas	essas	 fotos	hoje.	A	maioria	delas	 foi	 tirada
pelo	Christopher,	não	foi?
–	Foi.	Eu	disse	que	nunca	deixei	 de	 cuidar	 de	você,	 e	Christopher	 tem
sido	meu	parceiro	nesse	pequeno	crime.	Ela	sempre	podia	estar	onde	eu	queria
estar	e	não	podia.
–	Antes	de	entrarmos	nesta	sala	você	disse	que	eu	veria	minha	vida	antes
de	depois	de	você...	e	agora,	eu	consigo	ver	a	diferença	entre	o	antes	e	o	depois.
–	Eu	 não	 quis	 ofendê-la	mostrando	 estas	 fotos,	 de	 jeito	 nenhum.	Tudo
que	eu	queria	era	mostrar	a	você	que	o	seu	passado	nem	sempre	determina	que
você	não	possa	ter	o	futuro	que	deseja	para	si.	Não	significa	que	você	não	possa
seguir	em	frente,	deixando	tudo	para	trás	e	começar	vida	nova,	diferente	de	tudo
o	que	você	costumava	ter	antes.	Eu	quero	que	você	deixe	seu	passado	para	trás.
Deus	sabe	que	não	há	nada	mais	importante	para	mim	do	que	fazer	você	feliz.
–	Eu	sei.	Nunca	duvidei	disso,	Will.	Eu	sei	que	tudo	o	que	você	faz,	faz
por	mim.	E	isso	não	tem	preço.
–	 Então,	 que	 tal	 deixarmos	 todas	 aquelas	 lembranças	 do	 seu	 passado
nesta	sala	e	começar	algo	novo	juntos?
Ela	veio	mais	para	perto	de	mim,	envolveu	meu	rosto	com	as	mãos	e	me
beijou.	Havia	muita	ternura	e	amor	no	beijo	dela.	Era	como	se	ela	quisesse	dizer
com	aquele	beijo	tudo	que	não	conseguia	expressar.
–	Eu	topo	–	disse	ela,	interrompendo	o	beijo.
–	Ótimo.	–	Aproximei	as	mãos	dela	dos	lábios	e	beijei-as,	uma	de	cada
vez.	–	Você	já	comeu	alguma	coisa	hoje?	Além	do	café	da	manhã?
Ela	fez	uma	careta.	–	Não,	e	estou	morrendo	de	fome.
–	Vou	ligar	para	o	Christopher	e	pedir	a	ele	para	preparar	algo	especial
para	nós.	Ou	você	prefere	comer	em	outro	lugar?
–	Eu	preferia	ir	para	casa	mesmo.
Então	 saímos	 da	 sala	 de	 cinema,	 voltamos	 para	 o	 escritório,	 Louise
pegou	a	bolsa	dela	no	sofá	e	fomos	para	casa.
Senti-me	 um	 pouco	melhor	 depois	 de	 assistir	 à	 apresentação	 das	 fotos
com	 ela.	 Algo	 me	 dizia	 que	 ela	 se	 sentira	 melhor	 também.	 Sinceramente,	 eu
esperava	que	ela	estivesse	se	sentido	melhor,	porque,	às	vezes,	parecia	que	ela
ainda	 não	 tinha	 certeza	 do	 que	 fazer	 para	 o	 futuro.	 Ao	menos	 agora	 eu	 tinha
esperança	de	que	ela	conseguisse	ver	como	poderia	ser	bom	se	ela	me	permitisse
construir	um	mundo	novo	para	ela,	para	nós.
	
Estávamos	 sentados	na	 sala	 de	 jantar,	 saboreando	o	 frango	 assado	 com
cogumelos	ao	molho	de	vinho	branco	que	o	Christopher	preparado	para	nós.
–	 Como	 é	 possível	 para	 um	 homem	 saber	 sobre	 culinária,	 negócios	 e
segurança?	–	perguntou	Louise.
–	Honestamente,	 não	 faço	 ideia	 –	 respondi.	 –	 Talvez	 ele	 seja	 o	 Super-
homem.	Embora	eu	ache	que	ele	não	poderia	ser	o	Super-homem	porque	nunca	o
vi	 voar,	 a	menos	 que	 ele	 seja	muito	 bom	 em	 esconder	 os	 superpoderes.	 Ele	 é
mais	controlado	do	que	qualquer	um	que	eu	conheci...
Ou	 talvez	 ele	 seja	 um	mago.	 Se	 ele	 for	 um	mago,	 ele	 pode	 preparar	 a
refeição	rapidamente	com	o	movimento	de	varinha	mágica	e	também	pode	lidar
com	negócios	 e	 segurança	 tudo	 com	um	único	movimento...	Tudo	 sem	 jamais
chamar	atenção.	Você	já	o	viu	carregando	uma	varinha?	–	riu	Louise.
–	Eu	ri	algo.	–	Não,	mas	tudo	é	possível.
–	Você	gostou	de	ontem	à	noite?	–	perguntou	ela	de	repente.
–	 Você	 está	 falando	 de	 você	 estar	 na	 minha	 cama...	 a	 noite	 inteira?
Gostei.	Mesmo	que	a	noite	tenha	sido	tranquila	demais.	Por	quê?
–	 Tenho	 uma	 ideia...	 você	 pode	 pegar	 aquela	 garrafa	 de	 vinho	 –	 Ela
apontou	 para	 o	 vinho	 que	 estava	 sobre	 a	 mesa.	 –	 Subir	 e	 me	 esperar	 no	 seu
quarto?
Olhei	para	ela	curioso.	–	Espera	aí,	você	está	me	mandando	para	o	meu
quarto?	Eu	me	 lembro	de	 ser	mandado	para	meu	quarto	quando	era	 criança,	 e
lembro	que	não	era	divertido...	mas	eu	também	não	levava	bebida.	Então,	o	que
a	senhorita	Louise	está	aprontando?
–	Exato,	estou	mandando	você	para	o	quarto,	mas	ao	menos	você	jantou
antes	 e	 você	 sabe	 que	 irei	 logo	 em	 seguida...	 Então,	 você	 confia	 em	mim?	 –
perguntou	ela	brincando	e	levantando	da	mesa.
–	Confio...	a	menos	que	você	esteja	prestes	a	fazer	algo	que	eu	não	possa
controlar.	Ai,	não,	não	confio	nada	em	você.
Ela	riu.	–	Só	o	que	posso	prometer	é	que	você	vai	gostar	do	que	tenho	em
mente	para	você.
Estreitei	os	olhos	olhando	para	ela	esorri.	–	Tudo	bem,	acredito	em	você
por	enquanto.	Vou	subir	e	esperar	por	você	no	meu	quarto	–	falei,	garantindo	que
ela	soubesse	que	mesmo	acreditando	nela,	e	confiando,	eu	sabia	que	ela	ia	fazer
confusão.
Eu	tinha	certeza	de	que	ela	iria	me	impressionar	e	eu	nem	sabia	o	que	ela
ia	 fazer.	Ela	 sempre	conseguia	me	deixar	de	boca	aberta,	e	eu	sempre	adorava
tudo	 o	 que	 ela	 fazia.	Então,	 fui	 para	meu	 quarto	 para,	 pacientemente,	 ou	 nem
tanto,	esperar	por	ela...
Capítulo	17
	
Louise
	
Subi	as	escadas	correndo,	entrei	no	meu	quarto	e	abri	o	guarda-roupa.	Eu
planejava	 fazer	 uma	 pequena	 apresentação	 para	 o	Will	 e	 encontrei	 o	 conjunto
perfeito	para	usar.	Sorrindo,	peguei	a	roupa	no	guarda-roupa	e	fechei	as	portas
dele.	Eu	sabia	que	ele	amaria	meu	show.	Fui	me	trocar	no	banheiro,	quando	sai,
peguei	os	 sapatos	e	 sentei-me	na	cama	para	calçá-los	pensando	em	como	faria
para	que	Will	se	lembrasse	para	sempre	desta	noite.
Quando	 entrei	 no	 quarto	 dele,	 dez	 minutos	 depois,	 ele	 estava	 sentado
numa	cadeira	perto	da	janela	aberta.
–	Você	não	tem	medo	de	ficar	resfriado?	–	perguntei,	me	aproximando,
mas	não	muito.
Ele	me	olhou	de	cima	a	baixo	bem	devagar.	Começou	estudando	meus
sapatos	e	as	meias	pretas.	Subiu	o	olhar	para	a	tanga	rendada	preta	e	o	sutiã	que
combinava.	Quando	ele,	 finalmente,	olhou	no	meu	 rosto	ele	viu	que	eu	estava
usando	uma	máscara	que	era	branca	como	a	neve.	Eu	sei	que	o	choque	do	branco
era	o	contraste	perfeito	com	o	conjunto	preto,	completava	a	imagem	em	frente	a
ele.
–	 Sinto	 como	 se	meu	 corpo	 estivesse	 pegando	 fogo	 –	 falou	 depois	 de
algum	tempo,	finalmente	me	olhando	nos	olhos.	–	Não	tenho	nem	um	pouco	de
medo	de	pegar	um	resfriado,	pelo	menos	não	quando	você	está	vestida	assim...	É
quente.	Essa	é	a	máscara	que	você	estava	usando	na	noite	do	seu	primeiro	solo
em	Le	Papillon?
–	Sim,	você	se	lembrou...
–	Claro	que	lembrei.	Como	não	lembrar?	Tudo	o	que	eu	queria	enquanto
assistia	 sua	 dança	 era	 tirar	 a	máscara	 do	 seu	 rosto.	Você	 vai	 dançar	 para	mim
hoje?
–	Sim...	respondi	misteriosa.
Ele	engoliu	seco	olhando	de	novo	para	mim	dos	pés	à	cabeça.	–	Você	está
tentando	me	matar,	Louise?	Porque	sinto	que	posso	morrer	a	qualquer	momento.
É	 sério,	 não	 é	 ilegal	 aparecer	 no	 quarto	 de	 um	 homem	 vestida	 sexy	 assim?
Espero	que	você	não	esteja	pensando	que	eu	consiga	manter	minhas	mãos	longe
de	você...
–	Eu	nunca	disse	que	você	deveria	conter	suas	mãos...	pelo	menos	hoje
não...
–	Ai,	você	vai	acabar	comigo	antes	mesmo	de	eu	 ter	a	chance	de	vê-la
dançar.	E,	julgando	pelos	seus	sapatos,	a	dança	vai	ser	maravilhosa.	Ah,	e	já	que
estamos	 falando	 dos	 seus	 sapatos,	 tenho	 que	 dizer,	mal	 posso	 esperar	 para	 ter
suas	pernas	em	volta	de	mim	com	esses	saltos	afundando	na	minha	bunda.
–	Planejei	que	você	 fosse	mais	ativo	na	apresentação	desta	vez...	quero
que	você	dance	comigo.
–	Então	você	me	quer	morto	mesmo?	Sim,	 agora	 tenho	 certeza	de	que
quer.
Eu	ri	internamente,	ignorando	as	palavras	dele	e	disse:
–	Você	pode	ligar	a	música,	por	favor?	–	Soltei	o	cabelo,	deixando-o	cair
nos	meus	ombros	e	nas	minhas	costas.
Will	levantou-se,	pegou	o	controle	remoto	no	criado-mudo	e	ligou	o	som.
A	música	preencheu	o	quarto.
Depois	aproximou-se	de	mim,	disse:
–	Se	você	é	um	sonho,	eu	não	quero	acordar	nunca.
Dito	 isso,	 nossos	 lábios	 finalmente	 se	 encontraram.	 Não	 fazia	 muito
tempo	 desde	 que	 nos	 beijáramos	 e	 fizéramos	 amor,	 mas	 desta	 vez	 estávamos
sóbrios	e	prontos	para	uma	noite	para	proporcionar	prazer	um	para	o	outro.
Nossas	 línguas	 dançavam	 sozinhas,	 escorregando	 uma	 na	 outra	 numa
exploração	apaixonada.	Will	agarrava	minha	nuca	garantindo	que	eu	não	 iria	a
lugar	 algum.	 Nunca	 interrompendo	 o	 beijo,	 ele	 desceu	 as	 mãos	 pelas	 minhas
costas	parando	na	minha	cintura	e	acariciando-a.	Havia	tão	pouca	distância	entre
nossos	 corpos	 que	 seria	muito	 fácil	 render-me	 ao	 desejo	 que	 eu	 sentia	 e	 fazer
amor	com	ele	naquela	hora,	mas,	independente	da	ânsia,	de	jeito	nenhum	que	eu
ia	desistir	sem	dançar	como	eu	havia	planejado.	Eu	precisava	da	dança	quase	do
mesmo	jeito	que	precisava	dele	dentro	de	mim.	Era	outra	forma	de	mostrar	a	ele
o	quanto	o	amava.
–	 Você	 já	 ouviu	 falar	 de	 casais	 que	 fazem	 amor	 na	 pista	 de	 dança?	 –
Movi-me	para	frente	colocando	os	braços	em	volta	do	pescoço	dele.
–	Não,	mas	agora	que	você	falou,	estou	louco	para	tentar	–	respondeu	ele
sem	ar.
Nossos	 olhares	 se	 encontraram	 e	 eu	 pude	 sentir	 a	 intensidade	 dos
sentimentos	 dele	 por	 mim.	 Era	 assustador	 e	 excitante	 ao	mesmo	 tempo,	 mas,
acima	de	tudo,	era	tentador	demais	para	recuar	e	sair	do	abraço	dele.	Ondas	de
poderosa	excitação	correram	pelo	meu	corpo.	Sempre	fora	tão	maravilhosamente
inacreditável	estar	 tão	perto	dele,	 entregando-me	por	 inteiro	e	 recebendo-o	por
inteiro.
Ele	 aproximou	 os	 lábios	 dos	 meus	 me	 beijando	 delicadamente.	 Deus,
aqueles	lábios...	nunca	me	canso	de	devorá-los.
Will	me	abraçou	apertado	e	me	puxou	mais	para	perto	do	que	eu	pensaria
ser	 possível,	 apertando-me	 contra	 o	 peito.	 O	 beijo	 começou	 devagar	 e	 depois
intensificou	 com	 cada	 batida	 de	 nosso	 coração.	 Em	 segundos	 meu	 mundo
tornou-se	 embaçado,	 era	 só	 ele	 e	 eu,	 e	 nosso	 corpo	 se	movendo	 no	 ritmo	 da
música,	 nossa	 língua	 deslizando	 e	 se	 enrolando	 uma	 na	 outra	 num	 jogo	 de
sedução.
Senti	meu	sutiã	roçar	na	camisa	do	Will	e,	em	seguida,	notei	as	mãos	dele
deslizando	rápido	nas	minhas	costas	para	abrir	o	fecho	do	pedaço	de	tecido	que
cobria	meus	seios.
Porém,	ele	parou	um	pouco	antes	de	 liberá-los,	 sussurrando	entre	meus
lábios	entreabertos:
–	Quero	tirá-lo...
Afastei-me	um	pouco	só	para	poder	olhá-lo	nos	olhos	e	disse:
–	 Isso	 –	 beijei	 os	 lábios	 dele	 –	 deve	 fazer	 minha	 dança	 demorar	 um
pouco	mais...	–	falei,	permitindo	que	ele	tirasse	o	sutiã,	e	o	beijei	de	novo.
–	O	que	mais	eu	poderia	querer?	–	comentou	ele	sorrindo.
Ele	 abriu	 meu	 sutiã	 e	 escorregou	 as	 alças	 pelos	 meus	 ombros,	 depois
tirou-o	e	jogou-o	na	cama.
–	Você	 é	 a	 inspiração	 para	muitas	 das	minhas	 fantasias,	Louise.	Tenho
vivido	com	as	maravilhosas	imagens	que	você	deixou	na	minha	memória...	mas
nenhuma	fantasia	se	compara	ao	que	sinto	quando	estou	com	você.
Em	 momentos	 assim,	 não	 precisamos	 de	 palavras.	 Podemos	 sentir	 o
alívio	por	estarmos	 juntos	de	novo	depois	de	 tantos	dias	e	noites	solitárias	que
cada	um	de	nós	viveu	enquanto	estávamos	separados.	Mas	Will	tinha	razão,	ter
lembranças	 dele	 ainda	 era	 melhor	 do	 que	 jamais	 tê-lo	 conhecido.	 Agora	 eu
entendia	melhor	do	que	antes.	Eu	nunca	sentira	nada	assim.	Quando	estávamos
juntos	eu	sentia	como	se	tocasse	a	alma	dele,	não	só	a	pele,	era	lindo.	E	eu	tinha
certeza	de	que	ele	sentia	o	mesmo	por	mim...	como	se	ao	me	tocar	ele	alcançasse
minha	 alma	 e	mostrasse	 a	 ela	 todo	 o	 amor	 que	 eu	 não	 tivera	 a	 vida	 toda.	Ele
abriu	o	coração	para	mim	e	me	deixou	entrar	sem	hesitação,	e	eu	fiz	o	mesmo
por	ele.	Naquele	momento,	jurei	que	nunca	mais	me	fecharia	para	ele,	eu	nunca
mais	o	deixaria	sozinho,	e	eu,	nunca	mais	o	magoaria	de	novo.
Will	 era	 o	mundo	 para	mim,	 ele	 era	 o	 coração	 que	 batia	 forte	 no	meu
peito.	E	era	como	se	este	contasse	cada	segundo	que	eu	passava	com	ele,	uma
batida	por	segundo.
Ele	 espantava	 todos	 os	medos	 e	 as	 dúvidas	 de	 dentro	 de	mim.	Era	 tão
fácil	estar	com	ele.	Eu	não	precisava	fingir	ser	algo	que	eu	não	era,	eu	podia	ser
eu	mesma,	simplesmente	amando-o	e	sentindo	o	amor	dele	me	doando	sua	força
e	beleza.	O	único	problema	que	eu	tinha	era	nos	momentos	que	ele	não	estava
por	 perto,	 quando	 eu	 não	 podia	 desfrutar	 da	 presença	 dele	 e	 de	 todos	 os
benefícios	desta	presença	em	minha	vida.
Meu	 coração	 crescia	 a	 cada	 beijo	 dele.	 Era	 impossível	 não	 sentir	 o
quanto	eu	o	amava,	e	eu	o	amava,	de	verdade...	infinitamente.	Ele	era	o	amor	da
minha	vida	e	eu	não	deixaria	esse	amor	desaparecer.
Os	sentimentos	naquele	momento	eram	tão	fortes,parecia	que	havia	uma
droga	no	ar	e	que	a	estávamos	inalando,	preenchendo	cada	centímetro	do	nosso
corpo	 e	 nossa	 mente,	 derretendo-nos	 no	 coração	 um	 do	 outro.	 E	 quando
estivéssemos	 totalmente	 derretidos,	 explodiríamos	 e	 depois	 voltaríamos	 com
nova	 e	 inimaginável	 força	 transformando	 nosso	 mundo	 numa	 realidade	 não
existente	que	era	tão	perfeita	que	nós	nunca	iriamos	querer	sair	dessa	realidade
de	amor	e	voltar	para	o	mundo	real.
Interrompi	o	beijo	e,	ainda	perto	do	Will,	virei-me	balançando	no	ritmo
da	música	 tocando	 ao	 fundo.	Eu	podia	 sentir	 a	 respiração	quente	dele	no	meu
pescoço	quando	ele	beijava	numa	linha	que	descia	pela	minha	nuca	e	depois	por
meus	 ombros.	Ele	 deslizou	 as	mãos	 pelas	 laterais	 do	meu	 corpo	 e	 pela	minha
barriga	 aproximando	 mais	 nossos	 corpos.	 Pude	 sentir	 a	 excitação	 dele
pressionada	contra	minhas	costas.
Com	 uma	 mão	 ainda	 na	 minha	 barriga	 ele	 colocou	 a	 outra	 dentro	 da
minha	tanga,	por	baixo	do	tecido	macio,	acariciando	meu	clitóris.
Ergui	uma	das	mãos	e	a	coloquei	em	volta	do	pescoço	dele,	 soltando	a
cabeça	para	trás	e	descansando	no	ombro	dele.
Ele	deu	um	beijinho	no	meu	lóbulo,	depois	sussurrou:
–	Se	não	for	assim	que	 toda	noite	vai	começar,	então	eu	não	quero	que
chegue	um	novo	dia.
Eu	 sorri,	 fechei	 os	 olhos	 e	 desfrutei	 da	 sensação	 que	 o	 toque	 dele
despertava	em	mim.
–	 Se	 você	 gosta	 tanto	 assim	 que	 eu	 dance	 para	 você,	 então	 não	 me
oponho	a	fazer	isso	toda	noite...
–	 Hummm...	 –	 resmungou	 ele	 no	meu	 ouvido.	 –	 Parece	 um	 excelente
plano,	e	amanhã	à	noite	vai	sacudir	também.
Eu	ri	e	disse:
–	 E	 todas	 as	 noites	 depois	 de	 amanhã,	 mas	 você	 tem	 certeza	 de	 que
aguenta	dançar	tanto?
Ele	riu	baixinho.	O	som	da	risada	vibrou	no	meu	ombro.
–	Ah,	sim,	minha	doce	Louise,	tenho	certeza	de	que	aguento.
A	sensação	de	rendição	total	tomou	conta	de	mim.	Era	claro	que	o	amor
dele	 por	 mim	 era	 tão	 grande	 quanto	 o	 meu	 por	 ele,	 e	 era	 simplesmente
impossível	resistir	a	ele	ou	ao	que	ele	sentia	por	mim.
Assistir	 à	 apresentação	 das	 fotos	 com	 ele	 no	 escritório	 pareceu	 ter
modificado	 nosso	 relacionamento.	 Acredito	 que	 eu	 precisava	 que	 alguém	 me
mostrasse	 a	 diferença	 entre	 meu	 passado	 e	 meu	 presente.	 E,	 talvez,	 eu	 me
recusasse	a	ver,	mas	Will	sabia	que	seria	uma	lição	que	eu	precisava	aprender.
Não	fazia	sentido	em	fugir	da	pessoa	que	conseguia	me	fazer	verdadeiramente
feliz.	Nenhuma	realização	profissional	se	comparava	a	estar	com	ele,	que,	sem
nenhum	 esforço,	 era	 um	 sonho	 meu	 realizado.	 Porque,	 no	 fundo,	 eu	 sempre
soube	que	estava	fazendo	tudo	por	ele.	As	palavras	que	ele	me	disse	anos	atrás
me	 inspiraram	 a	 viver	 cada	 droga	 de	 dia	 que	 passei	 em	 Paradise	 e	 nas	 ruas
pedindo	dinheiro	para	 poder	 ficar	 no	orfanato.	A	presença	dele	 na	minha	vida
agora	inspirava	tudo	que	eu	fazia	na	escola,	cada	dança	e	cada	pequena	vitória,
tudo	era	por	ele.	Saber	que	ele	me	ama	como	eu	sou	é	maravilhoso.		Apesar	das
minhas	lutas	mentais	e	imperfeições	ele	ainda	queria	que	ficássemos	juntos...
Quando	me	virei	para	olhar	para	ele,	ele	pegou	a	fita	na	parte	de	trás	da
minha	cabeça	e	desamarrou	deixando	a	máscara	cair	do	meu	rosto.
–	 Mesmo	 adorando	 vê-la	 usando	 isso,	 eu	 quero	 ver	 você	 inteira,	 sem
nada	cobrindo	seu	rosto,	escondendo	sua	beleza	de	mim.
Quando	a	música	estava	quase	acabando,	ele	deslizou	as	mãos	até	meus
quadris,	me	levantou	e	colocou	minhas	pernas	ao	redor	dele.	Ainda	me	beijando,
ele	 foi	 até	 a	 cama	 e	me	 deitou	 nela	 gentilmente.	 Ajoelhou-se	 sobre	mim,	 um
joelho	 de	 cada	 lado	 do	 meu	 corpo.	 Ele	 se	 curvou	 e	 beijou	 minha	 barriga.	 A
sensação	dos	 lábios	quentes	na	minha	pele	 foi	divina.	Depois	ele	pegou	minha
tanga	e	a	tirou	pelas	minhas	pernas	expondo	meu	corpo	para	os	olhos	famintos.
–	Você	é	alucinantemente	linda	–	sussurrou	ele,	movendo	os	olhos	cheios
de	desejo	pelo	meu	corpo	nu.	–	Sempre	demais,	mas	nunca	suficiente.
Ele	me	olhou	nos	olhos	com	carinho.	O	olhar	dizia	todos	os	pensamentos
passando	pela	cabeça	dele.	Eu	não	sabia	se	era	possível,	mas,	naquele	momento,
senti	 como	 se	 estivéssemos	 ficando	mais	 próximos,	 conectados	de	 forma	mais
profunda	 do	 que	 antes.	 Como	 se	 cada	 toque,	 cada	 beijo	 e	 cada	 olhar	 nos
conectasse	mais.
Ainda	nos	olhávamos	quando	ele	colocou	a	mão	entre	minhas	pernas	e	as
afastou.	 Ele	 deslizou	 a	 mão	 até	 meu	 peito	 e	 acariciou	 um	 dos	 meus	 seios,
brincando	com	meu	mamilo	endurecido.	Ele	 sabia	exatamente	o	que	eu	queria
que	ele	fizesse	e	ele	não	me	fazia	esperar	muito	para	continuar	brincando	com
meu	corpo.	Ainda	acariciando	meu	seio	com	uma	mão,	ele	deslizou	para	baixo
posicionando-se	 entre	 minhas	 pernas	 abertas,	 e	 com	 a	 outra	 mão	 tirou	 o	 que
cobria	meu	clitóris	e,	finalmente,	abaixou	a	cabeça	sugando-o.	Então	ele	lambeu
formando	uma	linha	entre	os	lábios	molhados	e	ansiosos	por	serem	explorados.
Eu	 ansiava	 desesperadamente	 cada	 toque	 dele,	 cada	 beijo.	 As
preliminares	eram	tortura,	mas,	ao	mesmo	tempo,	eu	não	queria	que	acabassem.
Eu	estava	pronta	para	recebê-lo	dentro	de	mim,	mas	eu	estava	adorando	que	ele
estivesse	explorando	cada	pedaço	do	meu	corpo,	cuidando	e	amando	meu	corpo
do	jeito	que	ele	acreditava	que	eu	merecia.
Will	afastou-se	para	me	olhar	nos	olhos,	e	quando	eu	senti	os	dedos	dele
mergulhando	 dentro	 de	 mim,	 minha	 respiração	 acelerou.	 Elevei	 os	 quadris,
precisava	senti-lo	mais	profundamente	dentro	de	mim.	Inclinando-se,	ele	beijou
minha	 barriga,	 desenhando	 pequenos	 círculos	 com	 a	 língua	 em	 volta	 do	 meu
umbigo,	enquanto	os	dedos	continuaram	entrando	e	saindo	de	mim.	Ele	moveu
os	 lábios	até	meu	peito	e	sugou	avidamente	meus	delicados	mamilos,	 fazendo-
me	gemer	de	prazer.
	 	Ele	 falou	baixinho	que	meu	corpo	o	 fazia	 sentir-se	muito	bem.	Disse
que	estava	desesperado	e	fraco	contra	os	convites	silenciosos	dele.
Eu	sabia	que	se	ele	continuasse,	ele	me	faria	gozar	antes	mesmo	de	ter	a
chance	de	compartilhar	com	ele	o	prazer	que	eu	sentia.	Ele	me	dava	prazer,	mas
eu	queria	satisfazê-lo	também.
–	 Você	 não	 está	 jogando	 limpo	 –	 falei	 enquanto	 colocava	 minha	 mão
sobre	 a	dele,	 impedindo-o	de	me	 levar	 ao	orgasmo	antes	de	 eu	 estar	 pronta.	 –
Você	 ainda	 está	 totalmente	 vestido,	 e	 eu	 aqui,	 deitada	 na	 cama,	 usando	 nada
além	de	meias	e	sapatos.
Ele	 riu	 diabolicamente.	 –	 Eu	 não	 jogo	 limpo,	 eu	 jogo	 para	 ganhar...	 e
parece	que	estou	ganhando...
Olhei	para	ele	emburrada,	dizendo:	–	Bem,	Sr.	Trapaceiro,	se	você	quer
que	seu	jogo	continue,	vai	ter	que	jogar	limpo	em	algum	momento...
Ele	sorriu	compadecido.	–	Ah,	está	bem.	Você	vence	desta	vez,	mas	só
porque	eu	não	quero	que	isto	acabe	–	disse	ele	desabotoando	a	camisa	e	jogando-
a	em	uma	cadeira.	Quando	a	camisa	caiu	certinho	na	cadeira	ele	tirou	a	calça	e	a
cueca	 jogando-as	 também.	Agora	 ele	 estava	 em	 ordem,	 completamente	 nu	 na
minha	frente.
Sorri	ofegante	olhando	para	o	belo	corpo	dele.	–	Bem	melhor	–	disse	eu
aprovando.	Pegando-o	pela	mão	e	puxando-o	para	que	deitasse	sobre	mim.
Ele	 riu	 pairando	 sobre	 mim.	 Ficamos	 nos	 olhando,	 era	 como	 se
estivéssemos	 tentando	 ver	 quem	 piscaria	 ou	 desviaria	 o	 olhar	 primeiro,	 ou
melhor,	 quem	cairia	 na	 tentação	primeiro.	Nosso	 corpo	mal	 se	 tocava,	mas	 eu
podia	sentir	o	calor	que	irradiava	da	pele	dele.	Eu	não	conseguia	mais	segurar,
finalmente	cedi	a	tentação	de	tocá-lo.
Procurei	entre	nosso	corpo,	envolvendo	o	pênis	dele	gentilmente	com	os
dedos,	 acariciando-o	 com	movimentos	 para	 cima	 e	 para	 baixo.	 Ele	 estava	 tão
duro	 e	 pronto	 para	mim,	 a	 firmeza	me	deixou	 excitada...	 eu	 precisava	 senti-lo
dentro	de	mim,	me	preenchendo.
Ergui	a	pélvis,	encostando	meus	lábios	molhados	na	ponta	do	pênis	dele,
enquanto	ainda	o	friccionava	com	a	mão.	–	Este	é	o	retorno	por	tentar	me	fazer
gozar	antes	mesmo	de	você	tirar	a	camisa...
Ele	resmungou,	fechando	os	olhos.	–	Você	é	tão	provocadora...
	–	De	nada.	–	Eu	ri,movendo	meus	quadris	para	cima	e	para	baixo	contra
o	pênis	dele.	Cada	músculo	do	corpo	dele	enrijeceu.
Ele	agarrou	minha	mão	que	envolvia	o	pênis	dele,	empurrou	para	cima
da	minha	cabeça	e	prendeu-a	na	cama.	Depois	deitou-se	sobre	mim.
Ele,	 finalmente,	 deslizou	 a	 ponta	 do	 pênis	 para	 dentro	 de	 mim,
observando	me	 cheio	 de	 desejo.	 Eu	 expirei	 quando	 ele	 penetrou	mais	 fundo...
mas	ele	ainda	não	estava	suficientemente	profundo,	ele	ainda	não	estava	inteiro
dentro	 de	mim.	 Ele	 estava	 duro	 como	 aço,	 e,	 naturalmente,	 eu	me	 senti	 tonta
com	a	sensação	do	músculo	de	amor	dele	dentro	de	mim,	mesmo	que	não	fosse
por	inteiro.
Ele	me	penetrou	totalmente,	e	o	fez	com	força.	Ele	sempre	parecia	saber
exatamente	o	que	eu	queria,	e,	neste	momento,	ele	sabia	que	eu	queria	que	ele
fosse	 violento.	 Por	 um	 segundo,	 achei	 que	 fosse	 desmaiar	 pela	 intensidade	 de
nossa	 relação	 sexual.	 Eu	 tinha	 tantos	 pensamentos	 e	 emoções	 diferentes
passando	pela	minha	cabeça,	era	arrebatador.
Finalmente	éramos	um	só...	 estávamos	conectados	de	corpo	e	alma.	Eu
não	tinha	palavras	para	descrever	como	era	maravilhoso	estar	com	ele	de	novo.
Will	continuou	se	movendo	para	dentro	e	para	fora	de	mim,	penetrando-
me	profundamente.	Beijando-me	como	só	ele	sabia,	e	me	tocando	de	formas	que
eu	nunca	fora	 tocada	por	outro	homem.	A	experiência	era	 intensa,	era	além	do
qualquer	sentimento	que	eu	já	tivera.	Mesmo	quando	estivemos	juntos	antes,	não
era	assim.	Nos	últimos	dias	 tínhamos	 trabalhado	vários	problemas	entre	nós	e,
agora,	 podíamos	 somente	 estar	 juntos,	 nos	 amar	 de	 uma	 forma	que	 nunca	 nos
permitíramos	antes.
O	 tempo	e	a	 realidade	não	mais	existiam	para	nós.	Estávamos	perdidos
no	momento...	 Eu	 sabia	 que	 ele	 estava	 perdido	 em	mim	 como	 eu	 estava	 nele.
Fazíamos	 tudo	sincronizado,	até	mesmo	o	que	era	 involuntário.	Nosso	coração
batia	 no	 mesmo	 ritmo,	 respirávamos	 ao	 mesmo	 tempo,	 nosso	 corpo	 se
movimentava	no	mesmo	ritmo.	Eu	erguia	o	quadril	para	me	aproximar	do	dele	e
ele	 baixava	 o	 quadril	 para	 se	 aproximar	 do	 meu.	 Até	 mesmo	 nossos	 lábios
estavam	 em	 sintonia,	 constantemente	 se	 encontrando	 para	 compartilhar	 beijos
sensuais.	 Era	 uma	 sensação	 de	 satisfação.	 Era	 amor,	 puro	 e	 verdadeiro.	 Era
poderoso,	poderia	destruir	o	universo.
	–	Eu	amo	você,	Louise	–	disse	Will,	cobrindo	meu	rosto	e	meu	pescoço
de	beijinhos	quentes.	–	Quero	ficar	com	você	para	sempre.
–	É	isso?	Então	para	sempre	é	o	que	você	terá	–	respondi,	olhando-o	nos
olhos.
Ele	 começou	 a	 respirar	mais	 pesado	 e	 a	me	 penetrar	mais	 rápido,	 com
mais	 força.	 Seguíamos	 rápido	 para	 o	 clímax,	 ambos	 perdidos	 no	 desejo	 pelo
alívio	tão	esperado.	Eu	senti	como	se	meu	coração	fosse	sair	do	peito,	ele	estava
feliz	demais	para	bater	no	ritmo	normal.
Cravei	as	unhas	gentilmente	nas	costas	dele	para	demonstrar	o	prazer	que
ele	me	proporcionava	e	senti	os	músculos	enrijecerem	ao	meu	toque.
–	Deus,	Louise...	–	Os	quadris	dele	batiam	contra	os	meus,	 levando-me
ao	 limite.	 As	 paredes	 da	 minha	 vagina	 o	 apertaram	 dando	 as	 boas	 vindas	 ao
orgasmo	que	descia	pela	minha	espinha	e	explodia	bem	onde	eu	conseguia	sentir
que	o	pênis	dele	pulsava	com	o	próprio	êxtase.	Ele	gemeu	alto,	superando	o	som
da	música	que	ainda	tocava	ao	fundo.
–	Eu	não	quero	parar	de	fazer	amor	com	você	nunca	–	falou	na	curva	do
meu	pescoço.
Devagar	ele	 saiu	de	dentro	de	mim	e	 rolou	para	deitar-se	ao	meu	 lado.
Pegou	minha	mão	e	a	beijou	com	os	lábios	macios.
Eu	 sorri.	 –	Então	 somos	dois	 –	 concordei,	 virando	 a	 cabeça	 para	 olhar
para	ele.
–	Você	está	bem?	Eu	machuquei	você?
–	Estou	ótima.	Apesar	de	que	na	última	vez	que	fizemos	amor	você	não
parecia	se	importar	em	como	eu	me	sentiria	pela	manhã.
Eu	 não	 queria,	 de	 forma	 alguma,	 fazê-lo	 se	 sentir	 culpado	 pelo	 que
acontecera	no	hotel.	Foi	uma	das	melhores	noites	que	passamos	juntos.
Ele	falou	em	voz	alta.	–	Eu	já	disse	que	estava	mal	aquela	noite.
–	 Sim,	 claro...	 como	 se	 eu	 já	 não	 soubesse	 quão	 perdido	 no	momento
você	fica	às	vezes.
–	Ugh,	você	me	faz	sentir	um	perfeito	cretino	que	só	se	 importa	com	a
satisfação	sexual.
Rolei	para	meu	lado	esquerdo	e	coloquei	a	mão	no	peito	dele.	–	Não	seja
ridículo.	Eu	adorei	cada	segundo	daquela	noite.
–	Sério?
–	Você	fala	como	se	não	soubesse	isso.
–	Bem,	eu	ainda	me	sinto	um	merda	pelo	jeito	que	a	tratei.
–	Como	se	eu	fosse	propriedade	sua?
Ele	falou	alto	de	novo.	–	Você	não	está	ajudando.
–	Então	peça	para	sua	consciência	calar	a	boca.	Você	não	acha	que	é	um
tanto	tarde	para	sentir	culpa?	Como	eu	já	disse,	eu	não	me	arrependo	de	ter	ido
ao	hotel,	eu	não	me	arrependo	de	me	oferecer,	e	não	me	arrependo	das	atitudes.
E,	se	você	se	lembrar,	fui	eu	que	me	ofereci	primeiro.
Ele	 colocou	 o	 dedo	 no	meu	 queixo	me	 fazendo	 olhar	 para	 ele.	 –	Mas
você	me	diria	se	não	gostasse	de	algo	ou	não	quisesse	fazer	algo,	não	é?
–	Claro	que	eu	diria.
–	Que	bom.	–	Ele	beijou	meus	lábios.	–	Agora	é	melhor	dormirmos	um
pouco	–	disse	ele	pegando	o	controle	remoto	e	desligando	a	música.
Eu	mordi	meu	lábio	inferior	pensando	no	que	poderíamos	fazer	em	vez
de	dormir.
–	O	quê?	–	perguntou	ele,	rindo	pelo	meu	silêncio.	–	Não	precisa	dormir
hoje,	mocinha?
–	Bem,	talvez	um	pouco	mais	tarde,	mas	definitivamente	agora	não...
	
***
Não	dormimos	muito.	Na	verdade,	 eu	 só	 consegui	 dormir	 por	 cerca	de
uma	hora,	 quando	o	despertador	 tocou	 indicando	que	era	hora	de	 levantar	 e	 ir
para	a	escola.
–	Mmm...	não	vai	embora.	–	Will	me	puxou	pela	mão	me	fazendo	cair	de
volta	na	cama.
Eu	 ri.	 –	 Preciso	 ir	 ou	 vou	 chegar	 atrasada	 à	 aula.	 Você	 não	 precisa
levantar	e	se	preparar	para	o	trabalho?
–	Que	dia	é	hoje?	–	Perguntou	ele	grogue,	me	abraçando.
–	Segunda-feira.
–	Ah,	 então	 acho	 que	 preciso	 levantar	 e	me	 preparar	 para	 o	 trabalho...
mas	não	antes	de	receber	um	beijo	de	bom	dia	do	meu	amor.
Ele	me	puxou	em	direção	aos	lábios	e	me	beijou	com	calor.
Não	 sei	 quanto	 tempo	duraria	 nosso	beijo	 se	 o	Christopher	 não	 tivesse
batido	à	porta	do	quarto,	dizendo:	–	Louise,	a	Sra.	Cormac	quer	falar	com	você!
O	quê?	O	que	ela	pode	querer	comigo	a	esta	hora	da	manhã?
–	Só	um	segundo!	–	Gritei,	pulando	da	cama.	Vesti	a	camisa	do	Will	e	fui
abrir	a	porta.
–	Bom	dia	–	disse	Christopher	me	entregando	o	telefone.
–	Obrigada	–falei	baixinho.	Fechei	a	porta	e	disse	ao	telefone:
–	Alô?
–	 Bom	 dia,	 Louise.	 Desculpe	 por	 incomodar	 você,	 mas	 eu	 queria
perguntar	uma	coisa...
–	Sim,	o	que	é,	Sra.	Cormac?
Vi	o	olhar	perturbado	do	Will.
–	 Você	 gostaria	 de	 jantar	 comigo?	 Regina,	 uma	 amiga	 minha,	 me
convidou	 para	 a	 inauguração	 do	 novo	 bistrô	 dela	 e	 me	 disse	 para	 levar	 uma
amiga	comigo.	Eu	gostaria	que	você	 fosse	comigo.	Regina	era	dançarina,	e	eu
gostaria	que	você	a	conhecesse.	O	que	você	acha?
–	Eu...	nem	sei	o	que	dizer...	seria	uma	honra.	Muito	obrigada!
–	Maravilha!	–	disse	Sabine.	–	Vejo	você	mais	tarde,	então.	Vou	pedir	ao
meu	motorista	para	pegar	você	e	levar	até	o	bistrô.	Não	é	muito	longe	da	minha
casa,	então	nos	encontraremos	lá.
–	Tudo	bem	e,	obrigada	de	novo.
	–	Não	precisa	agradecer.	Tchau.
–	O	que	ela	queria?	–	perguntou	Will	assim	que	desliguei	o	telefone.	Não
gostei	do	tom	em	que	ele	falou.
–	Por	que	você	age	assim	em	relação	a	ela?
Ele	deu	de	ombros,	 sentando	na	 cama.	–	Nada.	Eu	 só	queria	 saber	 por
que	ela	ligou	para	você	tão	cedo	numa	segunda-feira.	Está	tudo	bem?
–	Está,	 ela	 só	queria	me	convidar	para	a	 inauguração	do	bistrô	de	uma
amiga	dela.	Ela	disse	que	a	amiga	era	dançarina	e	ela	quer	que	nos	conheçamos.
–	Entendo.
Will	olhou	perturbado	de	novo,	então	saiu	da	cama	e	foi	para	o	banheiro
sem	dizer	mais	nada.	O	bom	humor	sumira...
O	que	há	com	ele?
Acho	que	ele	não	confia	na	Sabine...
Mas	por	quê?	Duvido	que	haja	boa	razão	para	a	desconfiança	dele...
Capítulo	18
	
William
	
–	Por	que	hoje?	–	perguntou	Christopher	me	servindo	café.
Meu	 cérebro	 estava	 prestes	 a	 explodir.	 Depois	 da	 conversa	 da	 Louisecom	a	mãe,	eu	via	confusão	à	frente.
–	 Porque	 ela	 pediu	 a	 Louise	 para	 ir	 jantar	 com	 ela.	 O	 pessoal	 do
Montgomery	as	verá	juntas,	e	aí,	quem	sabe	o	que	vai	acontecer?	Sabine	precisa
saber	a	verdade.	Ela	precisa	se	preparar	para	o	que	possa	acontecer	se	o	pessoal
dele	as	vir	juntas.
Você	não	quer	esperar	mais	um	pouco	antes	de	contar	a	ela	que	a	Louise
é	filha	dela?
–	 Bem,	 agora	 não	 podemos	 mais	 esperar.	 É	 agora	 ou	 nunca.	 Se	 elas
saírem	 juntas,	a	vida	das	duas	estará	em	perigo.	Eu	sei	que	não	vou	conseguir
convencer	 a	Louise	 a	 não	 ir,	 então	 preciso	 conversar	 com	a	Sabine	 e	 contar	 a
verdade	antes	dela	encontrar	com	a	Louise.
–	Você	quer	que	eu	vá	junto?
Eu	ri.	–	Já	sou	grandinho,	Christopher.	Acho	que	consigo	conversar	com
a	Sabine	Cormac.
–	Mas	você	nunca	disse	a	uma	mulher	que	a	filha	dela,	que	ela	pensava
ter	morrido	 ao	nascer,	 não	 está	morta.	Esta	 conversa	 pode	 ser	 um	pouco	mais
difícil	do	que	você	imagina.	Só	estou	falando...
–	Obrigado	pela	preocupação,	vou	ficar	bem.	–	Tomei	o	último	gole	do
meu	café,	peguei	o	telefone,	liguei	para	minha	secretária	e	disse	que	chegaria	um
pouco	mais	tarde	hoje.	A	conversa	com	Sabine	era	a	primeira	coisa	a	fazer	pela
manhã.
–	Muito	bem,	já	vou	–	falei	ao	Christopher.
–	Boa	sorte.	E,	por	favor,	tenha	paciência	com	a	Sabine.	Prepare-a	para	a
notícia	antes	de	despejar	tudo.	Algo	me	diz	que	ela	vai	ficar	chocada	e	descrente.
Respirei	fundo	e	assenti,	dizendo:
–	Farei	o	melhor	possível.
Eu	não	me	 lembrava	de	 estar	 tão	 nervoso	quanto	 estava	 agora.	Parecia
que	eu	estava	prestes	a	contar	a	minha	própria	mãe	que	ela	tinha	uma	filha	viva,
e	não	 à	mãe	da	Louise.	Ela	vai	 ficar	 furiosa	 e	 chocada.	Ela	deverá	 ficar	 triste
pelos	anos	perdidos	e	brava	quando	perceber	onde	a	Louise	passou	a	infância,	e
grata	por	tê-la	de	volta.	Como	eu	não	era	mãe,	eu	não	podia	realmente	imaginar
tudo	o	que	uma	mãe	sentiria	ao	descobrir,	quase	vinte	anos	depois,	que	a	filha
sempre	estivera	viva.
Fui	para	a	escola	da	Louise,	certifiquei-me	de	que	ela	estava	na	aula	e	fui
até	a	sala	da	diretora.	Liguei	para	a	secretária	no	caminho	para	a	escola	e	pedi
para	 que	 agendasse	 um	 horário	 para	 mim.	 Não	 que	 isso	 fosse	 surpreendê-la
menos	ao	me	ver	no	escritório	dela.
–	William...	que	surpresa	–	disse	ela,	confirmando	meus	pensamentos.	–
O	que	o	trás	aqui	hoje?	Espero	que	Louise	esteja	bem.
–	Ela	está	bem.	Está	em	aula	agora,	mas	eu	tenho	algo	muito	importante
para	contar	a	senhora...
–	Por	favor,	sente-se.	–	Ela	indicou	a	cadeira	com	a	cabeça.	–	Gostaria	de
uma	xícara	de	café?
–	Não,	obrigado.	 Já	 tomei	bastante	 café	por	hoje.	 –	Eu	 sentia	que	meu
coração	 estava	 prestes	 a	 pular	 do	 meu	 peito.	 Eu	 não	 sabia	 dizer	 se	 era	 pela
cafeína	ou	pelo	nervosismo.
–	Ok,	o	que	você	gostaria	de	me	contar?
Hesitei.	Eu	não	sabia	como	começar	a	conversa.
–	O	que	a	senhora	sabe	sobre	a	Louise?	–	perguntei.
–	 Bem,	 não	 muito.	 Sei	 que	 ela	 cresceu	 num	 orfanato	 e	 que	 é	 uma
dançarina	muito	talentosa.	–	Ela	sorriu	com	as	próprias	palavras.
–	O	que	tenho	para	contar	a	senhora	tem	a	ver	com	o	passado	da	Louise,
com	a	infância	dela	para	ser	mais	específico...
–	Você	está	muito	sério,	William.	Estou	ficando	nervosa.
Então	somos	dois,	pensei	comigo.	Senti	suor	na	minha	testa.
Acredito	 que	 a	 senhora	 não	 sabe	 que	 eu	 e	 Louise	 nos	 conhecemos	 há
muitos	 anos,	 quando	 ele	 ainda	 era	 uma	 menina	 pedindo	 esmola	 numa	 das
estações	de	trem.
Sabine	arfou.	–	Ela	tinha	que	pedir	esmolas	para	viver?
–	 Não	 exatamente.	 O	 orfanato	 onde	 ela	 cresceu	 fazia	 as	 crianças
“trabalharem”.
–	Meu	Deus,	isto	é	terrível.
–	Quando	a	vi	pela	primeira	vez,	eu	tinha	quase	20	anos.	E	ela	era	apenas
uma	menina	que	eu	queria,	desesperadamente,	ajudar.	Isso	porque	eu	sabia	tudo
sobre	 aquele	 orfanato.	Meu	 pai	 cresceu	 lá	 também.	 E	 as	 histórias	 que	 ele	me
contou	 sobre	 Paradise	 eram	 terríveis.	 Por	 isso	 eu	 queria	 fazer	 algo	 bom	 pela
Louise.	Eu	a	vi	crescer,	eu	sabia	tudo	o	que	acontecia	na	vida	dela,	até	que	ela
completou	 18	 anos	 e	 pode,	 finalmente,	 sair	 do	 orfanato.	 Ela	 foi	 enviada	 para
trabalhar	num	clube.
–	O	clube	para	homens,	certo?	Ela	me	falou.
–	Sim.	Mas	a	presença	da	Louise	 lá	não	era	acidente.	Ela	 foi	mandada
para	lá	de	propósito...	o	dono	é	tio	dela.
–	Verdade?	Mas	isto	é	uma	boa	notícia,	não?
–	Bem,	depende...	Antes	de	eu	encontrar	Louise	trabalhando	no	clube,	eu
pesquisei	 um	 pouco	 sobre	 o	 passado	 dela.	 Eu	 queria	 ajudá-la	 a	 encontrar	 a
família,	os	pais	biológicos...	mas	os	resultados	me	deixaram	chocado,	porque	eu
conhecia	o	homem	que	é	o	pai	dela.
–	Ele	era	seu	amigo?	–perguntou	ela.
–	Não	exatamente.	Mas	meu	pai	o	conhecia	há	alguns	anos.
–	É	alguém	importante?	Como	ele	se	chama?
Hesitei	de	novo.
Agora	ou	nunca,	pensei	comigo.
–	Fletcher	Montgomery	–	falei.
Ela	ficou	pálida.	Olhou	para	mim	de	boca	aberta,	em	choque.
–	O	Fletcher	Montgomery?	–	perguntou	ela	depois	de	pequena	pausa.
–	Sim,	o	senador...
Ela	engoliu	seco	e	pegou	um	jarro	com	água	que	estava	na	mesa	dela.	Ela
colocou	um	pouco	de	água	num	copo	e	bebeu.
Sem	 dizer	 nada,	 ela	 se	 levantou	 e	 foi	 até	 a	 janela	 que	 dava	 para	 um
pequeno	parque.
–	Acredito	que	não	seja	por	coincidência	que	você	veio	me	falar	do	laço
familiar	entre	Fletcher	e	Louise.	Você	sabe	que	ele	e	eu...	ficamos	juntos?	–	Ela
se	virou	e	olhou	para	mim	esperando	minha	resposta.
–	Sim,	eu	sei.
–	Quanto	você	sabe?
–	Sei	que	a	senhora	deveria	ter	tido	um	bebê.
Ela	assentiu,	voltando-se	para	a	janela.
–	Infelizmente	foi	um	natimorto.
–	A	 senhora	 tem	certeza?	–	perguntei,	 levantando-me	e	 indo	para	onde
ela	estava.
Ela	me	olhou	franzindo	a	testa.	–	O	que	você	está	querendo	dizer?
–	A	senhora	tem	certeza	de	que	o	bebê	nasceu	morto?
Ela	 franziu	 ainda	 mais	 a	 testa.	 –	 Não	 sei	 por	 que	 você	 começou	 essa
conversa,	William,	mas...
–	Sabine,	por	 favor,	 responda	a	minha	pergunta.	É	muito	 importante.	O
que	você	se	lembra	daquele	dia	no	hospital?
Ela	piscou	algumas	vezes,	respirou	fundo	e	disse:
–	Não	muito.	Eu	estava	sedada,	mal	conseguia	pensar	direito.
–	Eles	deixaram	a	senhora	ver	o	bebê	depois	do	nascimento?
–	 Não,	 eu	 não	 vi	 o	 bebê.	 O	 trabalho	 de	 parto	 começou	 muito	 antes.
Minha	mãe	 ligou	para	 a	 ambulância	 e	os	médicos	disseram	que	o	bebê	 estava
com	 falta	 de	 oxigênio	 e	 disseram	 que	 precisavam	 fazer	 o	 parto	 o	mais	 rápido
possível.	 Eles	 fizeram	 uma	 cesárea.	 Fiquei	 inconsciente	 por	 algumas	 horas	 e
quando	acordei	eles	me	disseram...		que	bebê	não	conseguira.
Os	olhos	dela	se	encheram	de	lágrimas.	Ela	tentou	esconder,	mas	eu	pude
ver	como	era	doloroso	para	ela	falar	sobre	a	perda	do	bebê.
–	Disseram	que	era	um	menino.
–	Um	menino?	–	perguntei	confuso.
–	Sim,	por	que	isso	é	surpreende	você?
–	Porque...
–	 Espera,	 você	 disse	 que	 Fletcher	 é	 pai	 da	 Louise?	 Então	 por	 que	 ela
cresceu	num	orfanato?	Ele	e	a	esposa	não	queriam	o	bebê?
–	A	mulher	dele	nem	sabe	que	ela	existe...	porque	ela	não	é	a	mãe.
–	Ah,	entendo.	Mas	por	que	você	está	me	contando	isso?
–	Acho	que	é	melhor	a	senhora	se	sentar?	–	falei.	Eu	sabia	que	a	cabeça
dela	estava	caótica,	e	aposto	que	no	fundo	ela	já	sabia	a	resposta	para	a	pergunta
que	fazia	a	si	mesma.
–	 Os	 médicos	 mentiram	 para	 você.	 Seu	 bebê	 não	 morreu,	 e	 não	 era
menino,	era	menina...
As	lágrimas	que	ela	se	esforçava	para	conter	rolaram	pelo	rosto	dela.	Ela
não	disse	nada,	só	ficou	me	olhando,	esperando	que	eu	dissesse	as	palavras.	Que
eu	dissesse	que	a	Louise	era	o	bebê	que	ela	pensava	ter	perdido	anos	atrás.
Eu	 continuei.	 –	 Você	 não	 sabia	 que	 estava	 grávida	 quando	 você	 e	 o
Fletcher	terminaram	o	relacionamento,	sabia?
Ela	balançou	a	cabeça	devagar.
–	O	que	ele	disse	quando	você	contou?
–	Eu	nunca	disse	que	estava	grávida	dele	–	ela	respondeu.	–	Uma	amiga
em	 comum	 contou.	 Então	 Fletcher	 me	 procurou	 e	 disse	 que	 eu	 precisava	me
livrar	do	bebê,	mas	já	era	muito	 tarde	para	um	aborto,	e	eu	jamais	concordariaem	matar	meu	bebê	mesmo	que	ainda	não	fosse	 tarde.	Então	eu	disse	para	ele
sair	da	minha	casa	e	nunca	mais	voltar.	E	assim	ele	fez.	Eu	nunca	mais	o	vi,	até	o
dia	 em	 que	 vi	 aqueles	 banners	 promocionais	 horrorosos	 para	 a	 campanha
eleitoral.
–	O	que	quer	dizer	que	você	não	sabia	que	ele	estava	no	hospital	na	noite
em	que	o	bebê	nasceu.
–	Não,	eu	não	sabia...	–	As	mãos	dela	 tremiam,	então	peguei	a	 jarra	de
água	e	coloquei	mais	um	pouco	no	copo.
–	Obrigada	–	disse	ela,	pegando	o	copo	e	tomando	a	água	devagar.
Puxei	 uma	 das	 cadeiras	 perto	 dela	 e	 me	 sentei	 em	 frente	 a	 ela.	 Sorri,
dizendo:
–	Você	deu	à	luz	uma	linda	menina,	Sabine.
Mais	lágrimas	escorreram	pelo	rosto	dela.
–	Mas	Montgomery	garantiu	que	você	nunca	soubesse	dela...	ou	melhor,
ele	tentou.	Ele	só	na	esperava	que	alguém	fosse	procurar	por	ela.	Ela	a	mandou
para	o	pior	lugar	do	mundo,	acreditando	que	seu	segredo	estaria	seguro.	E	aquele
lugar	é	chamado	Paradise...
Sabine	sacudiu	a	cabeça	sussurrando:
–	Não,	não,	não,	não...
–	 Ele	 nunca	 esperava	 que	 eu,	 ou	 quem	 quer	 que	 fosse,	 descobrisse	 a
verdade	sobre	o	que	ele	fez	a	você	e	a	Louise.
–	 Ela	 escondeu	 o	 rosto	 nas	 mãos	 e	 soluçou,	 os	 ombros	 sacudiam.	 Eu
esperei.	Dei	a	ela	alguns	minutos	para	digerir	o	que	eu	dizia.
Finalmente	ela	enxugou	as	lágrimas	na	manga	longa	e	disse:
–	Ela	sabe?
–	Não.	Ela	só	sabe	quem	é	o	pai	dela.
–	Eles	já	se	encontraram?
–	Já,	mas	não	posso	dizer	que	foi	um	bom	encontro.	Louise	o	odeia,	e	eu
não	a	culpo.
–	Nem	 eu...	 –	murmurou	 Sabine,	 olhando	 para	 o	 nada.	 Então	 os	 olhos
dela	encontraram	os	meus	e	ela	falou:
–	Eu	não	posso	ter	filhos...	depois	daquele	dia	infernal,	18	anos	atrás,	os
médicos	me	disseram	que	eu	nunca	mais	poderia	ter	filhos.	E	eles	não	estavam
errados.	–	Ela	pegou	um	lenço	no	bolso	e	enxugou	as	lágrimas.	–	Meu	marido	e
eu	temos	tentado	conceber	há	anos,	e	nada...
–	Mas	 agora	 a	 senhora	 sabe	 a	 verdade.	A	 senhora	 teve	 um	bebê	 há	 18
anos.	Mesmo	não	tendo	criado	a	criança,	eu	sei	que	ela	ia	querer	saber	que	é	sua
filha,	que	a	senhora	é	a	mãe	dela.
–	O	que	eu	faço	agora?
–	 Seja	 feliz	 –	 falei.	 Eu	 tinha	 certeza	 de	 que,	 um	 dia,	 Louise	 e	 Sabine
poderiam	 falar	 uma	para	 a	outra	 tudo	o	que	não	permitiram	que	 elas	 falassem
antes.
–	E	a	Louise?	Devo	contar	a	verdade	a	ela?	Deus,	eu	ainda	não	acredito
que	ela	está	viva...	e	não	acredito	que	ela	está	aqui,	frequentando	a	escola	onde
eu	trabalho.	Todo	esse	tempo	ela	estava	tão	perto...	E	se	ela	não	me	perdoar	por
tê-la	deixado	sozinha	naquele	lugar	terrível?
–	Ela	sabe	que	a	senhora	não	tem	culpa.	E	ela	quer	muito	encontrá-la.
–	Por	que	você	não	contou	a	ela	sobre	mim?
–	Porque	eu	não	queria	complicar	mais	a	vida	dela.
–	É	por	causa	daquele	filho	da	puta	do	Montgomery,	não	é?	Desculpe	os
termos,	mas	você	nem	imagina	como	estou	com	raiva	dele	agora.
–	 Não	 se	 preocupe,	 eu	 entendo.	 E	 sim,	 é	 por	 causa	 dele.	 Ele	 ficaria
furioso	em	saber	que	a	senhora	encontrou	a	Louise,	e	que	eu	ajudei.
–	Você	disse	 que	 sei	 pai	 o	 conhecia.	Ele	 sabe	que	você	 e	Louise	 estão
juntos?
–	Sabe,	e	é	isso	que	me	apavora.
Então	eu	contei	para	ela	o	resto	da	história	sobre	Fletcher,	seu	passado	e
presente,	e	sobre	o	que	ele	fizera	a	meu	pai	e	a	toda	minha	família.
–	 Inacreditável	 –	 disse	 ela	 atordoada.	 –	 Ele	 ousou	 dizer	 a	 Louise	 para
ficar	longe	da	vida	dele?	Ah,	ele	vai	pagar	por	isso...
–	 Por	 favor,	 não	 faça	 nada	 impensado.	 Como	 eu	 já	 disse,	 ele	 tem	 que
pagar	por	muitas	coisas,	e	não	podemos	arriscar	que	ele	descubra	o	que	estamos
tentando	fazer.	Precisamos	esperar	e	descobrir	mais	provas	dos	crimes	dele,	e	aí,
deixaremos	a	bomba	explodir.
–	Eu	sei,	eu	sei,	William.	É	que	não	consigo	sentar	aqui	e	não	fazer	nada.
Eu	 sorri.	 –	Você	pode	 aproveitar	 o	 tempo	com	sua	 filha.	É	 só	 isso	que
importa	agora.
Ela	também	sorriu.	–	Você	está	certo.	Embora	agora	eu	não	tenha	ideia	de
como	me	comportar	na	frente	dela,	porque	tudo	o	que	eu	quero	é	correr	para	a
sala	dela	 e	 abraçá-la	 e	dizer	o	quanto	 eu...	 a	 amo.	E	como	eu	 lamento	não	 ter
descoberto	antes.
–	Eu	sei.	Acredite.	Sei	exatamente	como	é	ficar	longe	dela.
–	Ah...	–	ela	se	curvou	para	a	frente	e	me	abraçou	apertado.	–	Estou	tão
feliz	que	minha	menina	tenha	se	apaixonado	por	um	homem	tão	maravilhoso.	E
a	história	de	amor	de	vocês	é	tão	linda.	Gostaria	de	ter	estado	ao	lado	dela.
–	Mas,	provavelmente,	eu	e	ela	não	teríamos	nos	conhecido.
Ela	bateu	de	leve	na	minha	mão.	–	Você	está	certo.	Ela	tem	sorte	em	ter
você.	E	eu	espero	ter	 tempo	suficiente	com	ela	para	conhecê-la	e	amá-la	como
ela	merece	ser	amada	pela	mãe.
	–	Vai	ficar	tudo	bem,	tenho	certeza.
Ela	suspirou.	–	Vamos	 torcer	pelo	melhor.	Agora,	você	se	 incomoda	de
me	acompanhar	 até	 a	 sala	da	Louise?	Não	consigo	 resistir	 à	vontade	de	vê-la.
Mesmo	que	eu	não	possa	contar	a	verdade,	pelo	menos,	ainda	não.
–	Eu	não	queria	que	ela	me	visse	com	a	senhora,	então	é	melhor	eu	ir.
–	Ah,	certo.	Mas	obrigada	por	vir	aqui	e	me	contar	tudo.	Acho	que	nunca
conseguirei	agradecer	por	você	ter	me	encontrado,	por	cuidar	da	minha	filha,	por
estar	ao	lado	dela.
–	É	um	prazer	fazer	parte	da	vida	dela.	Eu	a	amo,	Sabine,	mais	do	que
tudo	nesse	mundo.
–	 Eu	 sei.	 Posso	 ver.	 Eu	 percebi	 na	 primeira	 vez	 que	 o	 vi	 assistindo	 a
dança	dela.	E	tenho	certeza	de	que	ela	é	feliz	com	você.	
–	Espero	que	sim.
–	Venha	comigo,	vou	mostrar	outra	saída.	Se	não	queremos	que	ela	nos
veja	juntos,	é	melhor	ficar	longe	da	entrada	principal.
Ela	foi	até	a	porta	e	acenou	para	mim	para	que	eu	a	seguisse.
–	 Quanto	 ao	 jantar...	 –	 falei	 enquanto	 caminhávamos	 pelo	 corredor.	 –
Espero	que	não	se	importe	do	meu	pessoal	cuidar	da	senhora.
–	Não	me	 importo.	Embora	eu	não	 tenha	medo	do	Montgomery.	Posso
lidar	com	ele.	E	não	tenho	medo	de	aparecer	em	público	com	a	Louise	ao	meu
lado.	É	melhor	ele	se	acostumar	a	nos	ver	juntas.
Descemos	as	escadas	e	Sabine	destrancou	a	porta	para	eu	sair.
–	Vejo	você	em	breve,	William
–	Bom	jantar,	Sabine.
Sorrimos	um	para	o	outro	e	eu	fui	embora.
Que	alívio	saber	que	a	Sabine	conhecia	a	verdade.	Pelo	menos	agora	eu
não	precisava	me	preocupar	com	a	Louise	quando	ela	estivesse	na	escola.	A	mãe
dela	prometera	garantir	que	ela	estaria	segura	lá.
Cheguei	ao	escritório	perto	da	hora	do	almoço,	Christopher	me	encontrou
na	sala	de	espera.
–	Como	foi	–	perguntou.
–	Foi	bem.	Melhor	do	que	eu	esperava.	O	que	você	está	 fazendo	aqui?
Você	 não	 deveria	 estar	 trabalhando	 na	 busca	 de	 mais	 informações	 sobre	 o
passado	do	Montgomery?
–	 É	 exatamente	 por	 isso	 que	 decidi	 vir	 até	 aqui	 e	 contar	 tudo	 o	 que
descobri.
–	Algo	útil?
–	Ah,	muito	útil.
Fomos	para	meu	escritório	e	Christopher	me	deu	a	pasta	que	ele	estava
segurando.	–	Leia	–	pediu,	sentando-se.
–	O	que	é	isso?	–	Eu	abri	a	pasta,	li	algumas	linhas	do	primeiro	papel	que
encontrei	e	olhei	para	ele	em	choque.	–	Você	só	pode	estar	brincando...	Todas	as
propriedades	do	Montgomery	pertencem	a	Christine?
–	Ah,	é	por	isso	que	ela	ainda	está	viva.
–	Então	por	que	ele	a	colocou	num	hospício.
–	Boa	pergunta,	e	eu	tenho	a	resposta.	Algumas	semanas	antes	de	ela	ser
enviada	 para	 lá,	 um	 dos	 vizinhos	 do	 Montgomery	 os	 ouviu	 brigando.	 Ela
ameaçou	 contar	 aos	 jornalistas	 tudo	 o	 que	 ele	 fizera.	 Então,	 aos	 poucos	 ela
começou	a	desligar	mentalmente	e,	por	fim,	um	dia	ele	a	internou	num	hospício.
–	 Ele	 tinha	 medo	 de	 que	 ela	 o	 deixasse	 sem	 um	 centavo	 e	 que	 o
mandasse	para	a	prisão.	Mas	como	ela	se	recusou	a	devolver	as	propriedades	ele
a	internou.
–	Exatamente.
–	Aposto	que	a	esposinha	não	faz	a	menor	ideia	de	que	o	precioso	marido
deixou	a	prima	mandar	em	tudo	que	eles	têm.
–	E	mais,	eles	assinaram	um	acordo	pré-nupcial...	que	diz	que	se	eles	se
separarem,	 ele	 só	 fica	 com	o	 carro,	 porque	 a	maior	 parte	 das	 propriedades	 da
família	dele	pertencem	ao	sogro.	Mas	agora	nós	sabemos	que,	de	alguma	forma,
ele	 fez	da	Christine	a	única	dona	de	 tudo	que	ele	e	a	esposapossuíam.	Parece
que	ela	também	vai	sair	sem	nem	um	centavo.
Eu	ri.	–	Pobre	dela.	Será	que	ela	sabe	que	casou	com	um	idiota?
–	 Duvido.	 Pelas	 inúmeras	 fotos	 e	 vídeos	 da	 família,	 ela	 sempre	 fora
profundamente	apaixonada	por	ele.	Por	isso	não	era	difícil	enganá-la.	O	acordo
pré-nupcial	 que	 eles	 assinaram	 fora	 somente	 uma	 tentativa	 do	 pai	 dela	 de
proteger	 suas	 propriedades	 e	 o	 futuro	 da	 filha.	 Mas	 depois	 da	 morte	 dele,
Montgomery	 garantiu	 que	 todos	 os	 investimentos	 e	 outras	 propriedades	 da
família	fossem	dele,	ou	melhor,	da	Christine.
–	Não	acredito	que	ele	confiava	tanto	assim	nela.
–	Nem	eu.	Mas	foi	o	que	aconteceu	e	o	Montgomery	chegou	bem	perto
de	perder	 tudo.	Se	a	Christine	não	conseguir	sair	do	hospício,	 tudo	passa	a	ser
propriedade	dos	Estados	Unidos	da	América.
–	Ah,	o	cara	está	ferrado.
–	Mas	caiu	tudo	na	nossa	mão.
–	Isso,	velho	amigo.	Estamos	a	um	passo	de	destruir	o	famoso	Fletcher
Montgomery.
Capítulo	19
	
Louise
	
Eu	estava	a	 caminho	do	bistrô	onde	a	Sabine	e	eu	combinamos	de	nos
encontrar,	quando	recebi	uma	mensagem	do	Will.
Amo	você,	daqui	até	a	Lua	–	dizia	mensagem.
Eu	sorri,	e	respondi:
Eu	também.
O	comportamento	estranho	do	Will	hoje	de	manhã	ainda	me	incomodava.
Não	era	a	primeira	fez	que	a	menção	ao	nome	da	Sabine	o	deixava	preocupado.
Christopher	 disse	 que	 eu	 podia	 confiar	 nela,	 então	 qual	 o	 problema	 do	Will?
Duvido	que	ela	possa	fazer	algo	contra	mim,	ou	a	quem	quer	que	seja.	Ela	era
tão	bondosa.
O	motorista	da	Sabine,	Paul,	falou	ao	parar	no	estacionamento	do	bistrô,
cujo	nome	era	Bon	Appétit:
–	A	senhora	Cormac	disse	que	esperaria	por	você	lá	dentro.
–	Obrigada	pela	carona	–	falei,	saindo	do	carro.	Um	choro	alto	chamou
minha	 atenção.	 Virei	 para	 a	 direita	 e	 vi	 uma	menininha,	 ajoelhada,	 chorando.
Aparentemente	ela	tropeçara	e	caíra.	A	mãe	a	ajudara	a	se	levantar,	enxugando
as	lágrimas	dela	e	beijando	o	rosto,	sussurrando	no	ouvido	dela.
Ver	o	laco	entre	mãe	e	filha	despedaçou	meu	coração	em	mil	pedacinhos.
Foi	comovente.	Eu	nunca	tivera	a	chance	de	viver	o	que	a	menina	vivia.	Sempre
desejei,	quando	era	menina,	que	minha	mãe	viria	me	beijar	e	dissipar	minha	dor,
acalmando-me	com	palavras,	mas	isso	não	era	possível	para	mim,	já	que	eu	não
tinha	mãe.	E	 não	 havia	 ninguém	na	minha	 vida	 que	 pudesse	 substituí-la,	 nem
mesmo	o	Will	podia	ocupar	esse	lugar.	E	eu	nunca	tive	a	figura	materna	na	vida,
então,	como	eu	disse	antes,	não	era	possível	para	mim.
A	menininha	 começou	 a	 sorrir,	meneou	 a	 cabeça	 para	 a	mãe,	 e	 elas	 se
afastaram.	Eu	costumava	pensar	que	depois	de	tantos	anos	sozinha	que	eu	estava
acostumada	a	não	ter	uma	família	de	verdade.	Mas	depois	de	ver	as	duas,	percebi
que	devo	estar	errada	sobre	isso.
Quando	eu	estava	prestes	a	entrar	no	 local,	virei-me	e	percebi	um	Jeep
preto	estacionado	não	muito	longe	de	onde	eu	estava.	Não	era	a	primeira	vez	que
eu	 o	 via.	 Mais	 cedo,	 quando	 eu	 estava	 saindo	 da	 escola,	 notei	 que	 estava
estacionado	em	frente	a	entrada.	Talvez	eu	nunca	tivesse	prestado	atenção	a	ele
se	não	fosse	pela	música	tocando	lá	dentro,	era	uma	da	minhas	preferidas.
A	mesma	música	 estava	 tocando	 no	 Jeep	 que	 eu	 via	 agora.	 Os	 vidros
eram	 bem	 escuros	 para	 ver	 quem	 estava	 lá	 dentro,	mas	 quando	 olhei	mais	 de
perto,	 o	 carro	 começou	 a	 andar	 e	 passou	 por	 mim	 bem	 devagar.	 Talvez	 eu
estivesse	imaginando	coisas,	mas	eu	tive	uma	sensação	estranha	de	que	não	era
coincidência.	 Será	 que	 o	 carro	 era	 dos	 espiões	 do	 meu	 pai?	 Não	 me
surpreenderia	 se	 fosse.	 Por	 um	 momento,	 entrei	 em	 pânico.	 Eu	 sabia	 que	 o
Christopher	 estava	por	perto,	 ele	prometeu	me	 seguir	 até	o	bistrô	 e	depois	me
levar	de	volta	para	casa.	Mas	eu	não	conseguia	parar	de	me	preocupar.
Respirei	fundo,	dizendo	a	mim	mesma	para	ficar	calma	e	caminhei	até	a
entrada.	O	porteiro	abriu	a	porta	para	mim	e	eu	vi	um	casal	elegante	e	sorridente,
por	 volta	 de	 50	 anos,	 saindo.	 Estavam	 vestidos	 a	 rigor:	 ela	 usava	 um	 longo
vestido	vermelho,	e	ele	smoking	com	uma	gravara	que	combinava	perfeitamente
com	a	roupa	dela.	Olhei	para	meu	jeans	azul-escuro,	camiseta	branca	e	jaqueta
em	couro	preto.
Mentalmente	amaldiçoei	minha	escolha.	Eu	devia	 ter	me	 trocada	antes
de	vir	para	cá,	pensei.
–	Louise!	 –	Sabine	 saiu	 do	 restaurante	 para	me	 cumprimentar.	 –	Estou
muito	 feliz	 que	 tenha	 conseguido	 vir.	 –	 Ela	 me	 abraçou,	 o	 que	 foi	 surpresa,
considerando	 que	 eu	 era	 só	 uma	 estudante	 da	 escola	 dela,	 e	 mal	 nos
conhecíamos.
–	Ah,	eu	 também	–	falei.	–	Embora	pareça	que	eu	não	estou	vestida	de
acordo.
–	Ah,	sua	roupa	está	perfeita!	Espere	até	você	conhecer	a	Regina.	Você
não	vai	acreditar	que	ela	é	a	dona	desse	lugar.
–	Por	quê?
–	Bem,	porque	minha	querida	amiga	é	um	pouco...	excêntrica.	De	forma
boa,	claro.
–	Há	quanto	tempo	vocês	se	conhecem?
–	 Ah,	 querida,	 muito	 tempo,	 nem	 lembro	 quando	 nos	 conhecemos.	 –
Sabine	riu.	–	Acho	que	há	uns	20	anos.	Nós	dançávamos	numa	trupe	de	balé	em
Los	Angeles.	Depois	 eu	mudei	 para	Nova	 Iorque	 e	 ela	 se	 casou	 e	 começou	 a
escrever	 livros	 de	 culinária	 até	 alguns	 meses	 atrás,	 quando	 ela	 decidiu	 que
abriria	um	bistrô.	Tudo	no	menu	veio	da	avó	dela	que	passou	as	receitas	para	a
Regina	e	são	o	orgulho	e	alegria	dela.
–	Ah,	então	deve	ser	muito	especial.
–	Ah,	 sim.	Todos	 os	 pratos	 são	 deliciosos.	 Eu	 ainda	 nem	 experimentei
todos,	mas	sei	que	são.	Regina	sempre	foi	ótima	cozinheira.	Agora	vamos	entrar.
Mal	 posso	 esperar	 para	 você	 conhecer	 a	Regina.	Ela	 também	está	 ansiosa	 por
conhecer	você.
–	Ela	sabe	sobre	mim?	–	perguntei,	sinceramente	surpresa.
–	Sabe,	sabe	sim.	–	Sabine	me	conduziu	até	a	chapelaria.	Tirei	a	jaqueta	e
a	entreguei	ao	atendente.	Ele	me	deu	um	cartãozinho	com	o	número	para	pegar
minha	jaqueta	no	fim	da	noite.
–	Não	ria	quando	você	vir	a	Regina.
–	Por	que	eu	riria?
Ela	 nem	 teve	 a	 chance	 de	 responder.	Uma	mulher	 da	mesma	 idade	 da
Sabine,	vestida	com	um	casacão	vermelho-escuro	com	babado	em	renda	branca
e	preta	ao	redor	do	pescoço,	veio	até	nós	e	me	abraçou	apertado.	Senti	como	se
todo	o	ar	fosse	tirado	de	mim.
–	Minha	nossa...	veja	só	essa	garota!	Tão	crescida	e	linda...	–	Ela	deu	um
passo	para	trás	e	me	olhou	de	cima	a	baixo	com	os	grandes	olhos	azuis.	–	Sou
Regina	André.
–	A	senhora	é	francesa?	–	perguntei	curiosa.
Ela	riu.	–	Tecnicamente,	não.	Meu	sexto	marido	era	francês,	e	eu	adorava
tanto	o	sobrenome	dele	que	mesmo	depois	de	nos	separarmos	quis	mantê-lo.
–	Ah...	–	seis	maridos?	Será	que	é	verdade?
Sabine	 riu	 vendo	 minha	 expressão	 chocada.	 –	 Não	 assuste	 a	 garota,
Regie.	Que	tal	nos	mostrar	o	local?
–	Com	todo	prazer.	Senhoras,	 sigam-me.	–	Ela	se	virou.	Assim	que	ela
ficou	 de	 costa	 para	 nós,	 percebi	 que	 o	 cabelo	 louro	 e	 cacheado,	 na	 altura	 dos
ombros,	 tinha	 as	 pontas	 vermelhas.	 Se	 não	 a	 conhecesse,	 diria	 que	 ela	 fora
deixada	 para	 trás	 por	 algum	 circo	 que	 estivera	 na	 cidade.	 Sabine	 tinha	 razão,
Regina	era	excêntrica.
Sabine	se	inclinou	e	sussurrou	no	meu	ouvido:
–	Ela	gosta	que	as	pessoas	fiquem	surpresas	ao	vê-la.	Um	dia	ela	parece
uma	roqueira,	e	no	dia	seguinte	parece	gótica.	–	Ela	parou	um	pouco,	como	se
pudesse	ler	meus	pensamentos.		–	Mas	independente	de	como	ela	esteja	vestida,
ela	 é	 minha	 amiga.	 Ela	 é	 uma	 das	 poucas	 pessoas	 com	 quem	 sempre	 posso
contar.
–	Entendo	o	que	quer	dizer...	–	Eu	podia	contar	numa	mão	as	pessoas	nas
quais	podia	confiar.
Entramos	numa	sala	espaçosa	cheia	de	convidados.	Eles	conversavam	e
riam	saboreando	a	refeição.		A	sala	era	decorada	com	papel	de	parede	floral.	As
toalhas	combinavam	com	o	papel	de	parede,	e	as	mesas	eram	ovais	e	redondas.
Cada	mesa	tinha	uma	estatueta	diferente	no	centro	com	lâmpadas	no	formato	da
Torre	Eiffel	formando	centros	de	mesa	interessantes.
–	 Parece	 que	 a	 senhora	 gosta	 de	 tudo	 da	 França	 –	 falei	 sorrindo	 para
Regina.
Ela	assentiu.	–	Você	 tem	toda	razão,	Louise.	Às	vezes	sinto	saudadede
estar	 casada	 com	 Claud.	 Não	 importa	 o	 quanto	 ele	 fosse	 mulherengo,	 nosso
casamento	foi	o	melhor	de	todos	os	que	tive.
Estive	 em	 Paris	 no	 verão	 passado.	 Foi	 por	 poucos	 dias,	 mas	 adorei	 a
cidade	–	falei,	relembrando	aqueles	dias	inesquecíveis	que	passei	lá	com	Will.
–	Ah,	é?	–	Sabine	olhou	para	mim	um	pouco	surpresa.
–	Fui	para	lá	com	o	Will	–	expliquei.	Eu	sabia	que	ela	e	Will	haviam	se
encontrado	durante	a	minha	competição.
–	Ah,	ele	ama	muito	você,	não	é?	–	perguntou	Regina.	Sabine	olhou	para
ela	 de	 um	 jeito	 que	 não	 consegui	 entender,	 parecia	 uma	 advertência.	 O	 que
pareceu	estranho.	Parecia	que	a	Regina	sabia	muito	mais	sobre	mim	do	que	eu
sabia	sobre	ela.
Lembrei-me	da	minha	primeira	conversa	com	a	Sabine.	Ela	disse	que	não
tinha	filhos,	e	agora	me	pergunto	se	a	atenção	que	ela	me	dava	tinha	a	ver	com	o
desejo	 dela	 de	 ter	 filhos.	 Talvez	 ela	 só	 sentisse	 como	 se	 fosse	 a	 filha	 que	 ela
nunca	teve...	quem	sabe?
–	Aquela	é	a	nossa	mesa,	 senhoras	–	disse	Regina	apontando	para	uma
mesa	 a	 minha	 direita.	 –	 Quero	 que	 provem	 meu	 frango	 assado	 ao	 molho	 de
cogumelos.	 É	 maravilhoso!	 –	 Ela	 acenou	 para	 que	 a	 garçonete	 trouxesse	 a
comida	e	as	bebidas,	enquanto	nos	sentávamos.
–	Então,	Louise,	o	que	acha	das	aulas	na	Balero?	–	perguntou	Regina.
–	 Eu	 adoro.	 Adoro	 tudo	 lá	 na	 verdade.	 Sempre	 sonhei	 em	 frequentar
escola	de	dança.
–	Sim,	 é	 um	ótimo	 lugar	 para	 dançarinos	 talentosos	 como	você.	Quem
ensinou	você	a	dançar?
–	Ninguém.	Aprendi	tudo	o	que	sei	de	assistir	a	televisão	e	ler	livros.
–	 Você	 tem	 talento	 natural,	 então	 –	 disse	 Regina	 me	 observando
pensativa.	 –	 	 Dançar,	 como	 outros	 talentos,	 é	 algo	 que	 não	 se	 aprende
adequadamente	 se	 não	 tiver	 o	 dom	 já	 dentro	 de	 você.	 Eu	 costumava	 dançar
muito...	 até	 o	 dia	 que	 percebi	 que	 gostava	 mais	 de	 cozinhar	 do	 que	 das
coreografias	exaustivas.	Vamos	brindar	a	vocês,	senhoras,	à	paixão	que	têm	pela
dança	e	pela	beleza	que	criam	no	palco!
–	Saúde!	–	dissemos	Sabine	e	eu	juntas.
Eu	 só	 podia	 beber	 bebidas	 sem	 álcool.	 Então,	 quando	 vi	 que	 eram	 22
horas	 percebi	 que	 era	 hora	 de	 ir	 embora	 para	 casa.	O	 que	 era	 para	 ser	 só	 um
jantar	de	negócios	 se	 transformou	num	 jantar	divertido.	Eu	me	diverti.	Regina
me	 apresentou	 a	 muitas	 pessoas,	 eu	 nem	 conseguia	 lembrar	 o	 nome	 delas.
Algumas	eram	da	época	que	ela	era	dançarina,	outras	eram	colegas	de	trabalho	e
algumas	era	amigas	que	ela	achou	que	eu	gostaria	de	conhecer	pessoalmente.
Quanto	 a	 Sabine,	 ela	 parecia	 distraída.	Não	 falou	muito,	 e	 eu	 a	 peguei
mais	 de	 uma	 vez	 me	 olhando	 com	 um	 sorrisinho	 no	 rosto.	 Fiquei	 me
perguntando	no	que	ela	estaria	pensando.
–	Acho	que	já	é	hora	de	eu	ir	para	casa	–	falei	para	Sabine.	–	Você	sabe
onde	a	Regina	está?	–	perguntei	olhando	em	volta.	–	Gostaria	de	agradecer	pela
noite	maravilhosa.	Me	 diverti	muito	 e	 ela	 foi	maravilhosa,	 e	 todos	 os	 amigos
dela	foram	muito	gentis.
–	 Não	 se	 preocupe,	 Louise.	 Eu	 falo	 para	 ele	 que	 você	 gostou.	 Você
precisa	de	carona	para	casa?
–	Christopher,	o	motorista	do	Will,	está	me	esperando.
–	Ah,	ok	–	disse	ela	um	pouco	desapontada.
–	Você	está	bem,	Sabine?	Parece	longe.
Ela	me	olhou	pensativa	de	novo	e	disse:
–	 Estou	 muito	 bem,	 Louise.	 Acho	 que	 nunca	 estive	 tão	 feliz	 em	 toda
minha	vida.
–	Então	não	preciso	me	preocupar	em	deixá-la	aqui	sozinha?	–	Eu	sorri
me	levantando.
Ela	levantou	e	disse:
–	Vou	ficar	bem.	Eu	acompanho	você.
Saímos	do	restaurante	e	a	primeira	coisa	que	notei	foi	o	Jeep	preto	que	eu
vira	antes.	Meu	coração	disparou.
Olhei	em	volta	nervosa,	procurando	o	carro	do	Christopher	como	louca.
Respirei	aliviada	quando	ele	estacionou	na	porta.
–	Você	está	bem,	Louise?	–	perguntou	Sabine	notando	minha	expressão
preocupada.
–	 Estou	 bem	 sim.	 Obrigada	 pelo	 convite.	 Acho	 que	 nunca	 me	 diverti
tanto	rodeada	por	pessoas	que	não	conheço.
–	 Fico	 feliz	 que	 tenha	 gostado	 –	 falou	 ela,	 abraçando-me	 para	 se
despedir.	–	Ficarei	fora	por	alguns	dias,	a	irmã	do	meu	marido	vai	se	casar	e	não
podemos	 faltar	 ao	 casamento.	 Mas	 estarei	 de	 volta	 para	 sua	 próxima
apresentação	 na	 terça-feira.	 Eu	 soube	 que	 você	 fará	 um	 solo	 na	 apresentação
especial	de	Natal.
–	Sim,	e	você	nem	imagina	como	estou	nervosa.	Meus	joelhos	tremem	só
de	pensar	em	dançar	com	tantos	professores	e	alunos	assistindo.
–	Mas	não	será	seu	primeiro	solo,	por	que	está	preocupada?
–	 Nunca	 dancei	 com	 tantos	 profissionais	 assistindo.	 Minhas
apresentações	em	Le	Papillom	eram	mais	como	os	ensaios	na	Balero.	Não	eram
importantes.	Embora,	não	vou	mentir,	eu	ficava	nervosa	antes	de	toda	dança	lá.
–	Não	se	preocupe,	sei	que	será	perfeito.
Gostei	 das	 palavras	 dela.	 Era	 bom	demais	 saber	 que	 ela	 acreditava	 em
mim,	deu-me	mais	confiança	e	coragem.
–	Espero	que	você	e	o	Will	pretendam	ir	à	festa	que	haverá	depois.	É	uma
tradição,	vocês	não	podem	faltar.
–	Festa?	Eu	nem	sabia	que	haveria	uma	festa.	Mas	tenho	certeza	de	que	o
Will	ficará	feliz	em	ir	comigo.
–	Ótimo.	Boa	semana	para	você.
–	Divirta-se	no	casamento.
–	Vou	sim.
Nos	 despedimos	 e	 eu	 entrei	 no	 carro	 do	 Christopher,	 acenando	 para	 a
Sabine	pela	janela.
–	 Parece	 que	 vocês	 se	 divertiram	 juntas	 –	 disse	 ele,	 olhando-me	 pelo
retrovisor.
–	 Sim,	 nos	 divertimos	 –	 respondi.	 –	 Quem	 diria	 que	 eu	 e	 ela	 nos
daríamos	tão	bem	juntas?
Um	movimento	do	meu	lado	esquerdo	chamou	minha	atenção.	Virei-me
para	olhar	pela	janela	e	vi	o	Jeep	andando	do	nosso	lado.
–	Eles	estão	me	seguindo	o	dia	inteiro	–	falei	para	o	Christopher.
Ele	assentiu.	–	Eu	sei.	Eu	os	vi	seguindo	você	até	o	restaurante	e	depois
notei	que	estavam	esperando	você	sair.
–	É	o	pessoal	do	Montgomery?
–	Sim,	verifiquei	a	placa.	O	carro	pertence	a	uma	das	empresas	que	era
do	seu	pai.
–	Era?
–	Acredito	que	ele	não	conseguiu	conciliar	ser	senador	e	administrar	uma
empresa	 ao	 mesmo	 tempo.	 Conforme	 os	 documentos	 as	 empresas	 foram
vendidas	quando	ele	foi	eleito,	mas	sabemos	que	ele	ainda	manda	nelas.
–	Eu	nunca	vi	o	pessoal	dele	me	 seguindo	 tão	de	perto.	Quer	dizer,	 eu
sempre	soube	que	eles	estavam	por	perto,	mas	hoje	senti	como	se	quisessem	que
eu	os	visse	me	observando.
Christopher	não	respondeu.
–	O	que	você	acha?	–	perguntei.
–	Tudo	é	possível	–	respondeu	ele,	seco.
–	Você	contou	para	o	Will	que	eles	estavam	me	seguindo	hoje?
–	Não.	 Ele	 estava	 ocupado	 conversando	 sobre	 os	 segredos	 do	 pai	 dele
com	Drew.	Não	tivemos	oportunidade	de	conversar.
–	Conversando	com	o	Drew?	–	perguntei	 surpresa.	–	O	Drew	detesta	o
Will.
–	Mesmo	assim	ele	 ligou	para	o	Will	hoje	cedo	dizendo	que	 tinha	algo
importante	para	conversar	com	ele.	Will	pediu	que	ele	fosse	ao	escritório,	mas	eu
não	sei	 sobre	o	que	eles	conversaram.	Will	disse	que	me	contaria	quando	eu	e
você	chegássemos	em	casa.
–	Você	acha	que	meu	pai	sabe	o	que	estamos	tramando	contra	ele?
–	Acredito	que	não.	Mas	ele	gosta	de	 ter	 tudo	sobre	controle.	Então	eu
não	tenho	dúvidas	de	que	ele	vai	continuar	espionando	você.	Eu	acho	que	ele	a
considera	seu	pior	inimigo.
–	Isso	é	ridículo	–	falei	cruzando	os	braços.	–	Eu	não	conseguiria	fazer
nada	sem	você,	o	Will	e	o	Drew.
–	Ele	não	pensa	assim.
–	Idiota.	Ele	está	obcecado	em	ser	eleito	Presidente.	Será	que	ele	nunca
pensou	que	seria	melhor	ficar	nas	sombras,	ganhando	o	dinheiro	sujo	e	evitando
atrair	atenção	para	si	mesmo,	principalmente	considerando	toda	a	merda	que	ele
fez	no	passado?
–	É	por	isso	que	você	é	o	inimigo	mais	perigoso	dele.	A	merda	feita	no
passado,	 como	 você	 diz,	 começou	 a	 aparecer	 no	 dia	 que	 você	 e	 Will	 se
encontraram	e	ele	começou	a	investigar	seus	pais.
Resmunguei	desesperada.
Se	 eu	 pudesse	 voltar	 no	 tempo...	 talvez	 eu	 não	 tivesse	 pedido	 ao	Will
para	me	ajudar	a	descobrir	o	nome	dos	meus	pais,	talvez	houvesse	uma	forma	de
evitar	o	ataque	que	estamos	lidando	agora.
–	 Não	 é	 culpa	 sua,	 Louise	 –	 afirmou	 Christopher.–	 Cedo	 ou	 tarde	 a
verdade	viria	à	tona.
–	 Eu	 não	 me	 importaria	 se	 acontecesse	 sem	 nosso	 envolvimento	 na
bagunça.
–	Bem,	não	podemos	mudar	nada	agora.	Não,	melhor	dizendo,	podemos
mudar	muitas	coisas,	e	mudaremos.
–	Precisamos	tomar	muito	cuidado.	Eu	não	quero	que	você,	ou	Will,	ou
quem	seja,	se	machuque.
–	Vai	ficar	tudo	bem,	Louise.	Acredite,	eu	nunca	menti	para	você,	menti?
–	Ele	sorriu	estacionando	no	caminho	da	casa.
Eu	sorri.	–	Tudo	bem,	acredito	em	você.
Quando	 entramos	 em	 casa	 ela	 estava	 cheia	 de	 pessoas	 que	 eu	 não
conhecia.
–	O	que	está	acontecendo?	–	perguntei	para	o	Christopher.	–	Quem	são
essas	pessoas?
–	Não	faço	ideia	–	respondeu	ele,	franzindo	a	testa.
Aí	eu	vi	o	Will	vindo	em	nossa	direção.
–	Oi	–	falou	ele	me	dando	um	beijo	rápido	na	boca.	–	Temos	convidados.
–	Estou	vendo	–	falei.	–	Pode	explicar	o	que	está	acontecendo	aqui?
Então	vi	o	Drew	conversando	com	um	homem	de	terno	escuro.
–	Estas	são	as	pessoas	que	vão	testemunhar	sobre	as	atividades	ilegais	do
seu	pai	–	explicou	Will.
–	Como	você	as	encontrou?	–	perguntou	Christopher.
–	Não	fui	eu,	foi	o	Drew.	Ele	teve	que	garantir	a	segurança	de	todos	eles
em	troca	da	informação	que	precisamos	para	colocar	o	cretino	atrás	das	grades
pelo	resto	da	maldita	vida	dele.
–	Então	eles	vão	nos	dar	respaldo	no	tribunal	se	conseguirmos	levar	meu
pai	para	lá?	–	perguntei.
–	Sim,	vão.	E,	até	lá,	precisamos	garantir	que	seu	pai	não	saiba	que	eles
concordaram	em	jogar	no	nosso	time.
–	O	que	você	vai	fazer?	–	perguntou	Christopher.
–	Vamos	para	o	 escritório	 e	 contarei	 a	 vocês	o	plano	que	 eu	 e	o	Drew
elaboramos.	E	temo	que	tenha	péssimas	notícias	para	contar...
–	Sobre	o	quê?
–	 Agora	 tenho	 certeza	 de	 que	 a	 morte	 do	 meu	 pai	 foi	 obra	 do
Montgomery.	 Drew	 encontrou	 um	 gerente	 que	 costumava	 trabalhar	 no	 porto
onde	 o	 barco	 do	 meu	 pai	 ficava.	 Ele	 disse	 que	 o	Montgomery	 o	 pagou	 para
mexer	no	motor	do	barco.
–	Mas	ele	ainda	será	preso	como	cúmplice	–	falei.	–	Ele	já	se	deu	conta
disso?
Will	sorriu,	cheio	de	humor.	–	Drew	tentou	fazê-lo	entender	exatamente	o
que	significaria	admitir	tais	coisas,	mas	ele	se	sentiu	mal	por	receber	dinheiro	e
matar	um	homem.	Ele	foi	um	assassino	de	aluguel...
–	O	que	mais	você	quer	nos	contar?	–	perguntou	Christopher.
Will	me	olhou	com	cautela	antes	de	dizer:
–	É	sobre	a	Isabel...
Balancei	 a	 cabeça	me	 recusando	 a	 acreditar	 no	que	 eu	 já	 sabia	que	 ele
diria.
–	 Desculpe,	 Louise,	 mas	 seu	 pai	 foi	 o	 homem	 com	 quem	 ela	 passou
aquela	trágica	noite.	E	ele	foi	a	última	pessoa	a	vê-la	viva...
	
Capítulo	20
	
Aquela	seria	a	semana	mais	longa	da	minha	vida.	Por	nosso	plano,	Will
convocaria	 uma	 coletiva	 de	 imprensa	 na	 qual	 eu	 e	 ele	 informaríamos	 aos
eleitores	tudo	o	que	o	Sr.	Montgomery	tentava	esconder	por	tanto	tempo.	Seria
uma	 fala	 dos	 infernos.	Honestamente	 eu	 não	 sabia	 como	 eu	 ia	 conseguir	 falar
quando	estivesse	lá,	mas	eu	precisava	tentar.	Sim,	eu	queria	que	ele	pagasse	por
tudo	 que	 fizera,	 mas	 nem	 mesmo	 a	 presença	 do	 Will	 diminuía	 minha
preocupação.	Parecia	que	algo	terrível	aconteceria.
	
Hoje	 é	 terça-feira,	 dia	 da	 Mostra	 de	 Natal	 da	 Balero.	 Eu	 estava	 bem
nervosa.	 Mal	 conseguia	 pensar	 direito,	 preocupada	 tanto	 com	 a	 minha
apresentação	 à	 noite	 quanto	 com	 a	 coletiva	 na	 sexta-feira.	 Eu	 não	 sabia	 se	 a
Sabine	já	voltara	da	viagem,	mas	eu	precisava	falar	com	ela.	Precisava	ouvir	as
palavras	de	encorajamento	dela.	Era	importante	para	mim.
–	Nervosa?	–	perguntou	Will	me	beijando	no	ombro.	Eu	estava	de	frente
para	o	espelho	e	ele	parado	atrás	de	mim.	Eu	tinha	esperança	de	que	meu	reflexo
me	diria	que	tudo	ficaria	bem,	e	que	seria	maravilhoso,	mas	a	garota	no	espelho
não	tinha	nada	a	dizer.
–	Nervosa	é	pouco	para	descrever	–	respondi	me	apoiando	nele.	Ele	me
abraçou	 sorrindo	 pelo	 espelho.	 –	Quer	me	mostrar	 sua	 dança	 para	 eu	 dizer	 se
está	boa	ou	não?
Dei	um	soco	de	leve	no	queixo	dele.	–	Pensei	que	você	não	duvidasse	do
meu	talento.
–	 Não	 duvido.	 Eu	 estava	 tentando	 inventar	 uma	 desculpa	 para	 você
dançar	para	mim	de	novo.
Virei-me	e	coloquei	os	braços	em	volta	do	pescoço	dele,	dizendo:
–	Você	verá	a	dança	mais	tarde.	E	você	sabe	que	dançarei	para	você	não
importa	quantas	pessoas	estejam	assistindo.
–	Vou	ter	que	levar	a	câmera.	Quero	tirar	algumas	fotos	suas	dançando.
Sinto	falta	de	fotografar	você.
–	Você	 tirou	 fotos	de	mim	ontem	à	noite,	 isso	não	conta?	–	Em	minha
mente	relembrei	a	noite	que	tivéramos.	Ele	tirou	fotos	de	mim,	eu	tirei	dele,	e	de
nós	 fazendo	 amor.	 Dançamos,	 conversamos.	 Não	 consigo	 imaginar	 forma
melhor	de	passar	a	noite	do	que	estando	com	ele,	um	homem	com	o	qual	sonhei
por	anos.	Primeiro	como	amigo,	depois	como	amante.	Mas	sempre	que	eu	via	o
rosto	dele	nos	meus	sonhos,	sentia-me	a	garota	mais	feliz	do	mundo,	e	isso	era
algo	que	não	mudara	com	o	tempo.
–	Não	 importa	quantas	 fotos	eu	 tire	de	você,	nunca	é	suficiente	–	disse
ele	beijando	meus	lábios.	–	É	como	fazer	amor	com	você,	só	que	no	papel.
Eu	sorri.	–	Então	não	me	importo	que	você	me	ame	para	sempre.
–	Isso	é	o	melhor	que	eu	podia	ouvir	de	você	hoje.	–	Beijou-me	de	novo,
mais	demorado	desta	vez,	e	disse:
–	Tenho	alguns	assuntos	para	tratar	no	escritório,	então	é	melhor	eu	me
vestir	antes	que	eu	mande	o	trabalho	para	o	inferno	e	fique	aqui	com	você.
–	Também	preciso	me	trocar,	Christopher	deve	estar	esperando	por	mim.
–	Você	acha	que	ele	percebeu	que	não	tomamos	café	da	manhã?
–	Eu	acho	que	ele	percebe	tudo	o	que	fazemos	ou,	nesse	caso,	o	que	não
fazemos.	Às	vezes	me	 sinto	 constrangida	na	presença	dele.	Sinto	que	 ele	 sabe
tudo	o	que	passa	pela	minha	cabeça.
–	 Deus	 me	 livre!	 Eu	 não	 quero	 ninguém	 além	 de	 mim	 sabendo	 dos
pensamentos	maliciosos	que	passam	pela	sua	cabeça	pecadora.
–	Minha	mente	pecadora?	É	mesmo?
Will	sorriu.	–	Bem,	até	os	santos	têm	pensamentos	de	pecado,	certo?
–	Não	sei.	Nunca	fui	santa	o	suficiente	para	confirmar.
–	 Hum...	 pare	 de	me	 seduzir,	 minha	 diabinha.	 Eu	 realmente	 preciso	 ir
para	o	trabalho.
–	Vá,	 não	 estou	 segurando	 você	 –	 falei,	 dando	 um	 beijinho	 no	 queixo
dele	depois	subindo	para	a	boca.
–	Ah,	 você	 está	 sim...	 –	Ele	me	 abraçou	mais	 apertado.	 –	Você	 é	meu
vício,	Louise.	Forte	e	incurável.
–	E	você	é	o	meu	–	sussurrei	perto	dos	lábios	dele.
Que	pena,	 poderíamos	voltar	para	o	quarto	 e	nos	 trancar	 lá	distante	do
resto	do	mundo,	pelo	menos	por	mais	algum	tempo.
–	Que	roupa	você	vai	usar	hoje	à	noite?
–	 É	 surpresa.	 –	 Will	 já	 me	 vira	 usando	 o	 vestido,	 mas	 como	 a
apresentação	 era	 importante	 para	 mim,	 eu	 queria	 que	 tudo	 fosse	 especial,
inclusive	o	vestido.
	
***
Eu	senti	como	se	a	escola	estivesse	em	chamas.	Os	alunos	corriam	pelos
corredores	puxando	araras	enormes	com	diferentes	figurinos.	Alguns	ensaiavam
vários	passos	bem	no	meio	do	corredor,	porque	 todas	as	salas	de	aula	estavam
ocupadas.
Eu	 era	 uma	 das	 poucas	 alunas	 que	 não	 tiveram	 vontade	 de	 treinar	 a
coreografia.	Eu	estava	nervosa	demais	para	dar	um	passo	com	medo	de	cair.	O
que	dirá	dançar	sem	cair	de	cara.
–	Louise!	–	Sabine	chamou	do	outro	lado	do	corredor.	–	Venha	aqui,	por
favor!	–	Ela	acenou	para	que	que	fosse	até	o	escritório	dela.	Fiquei	feliz	que	ela
já	voltara.	Eu	temia	que	ela	não	conseguisse	 ir	à	apresentação,	e	eu	queria	que
ela	estivesse	lá	e	me	visse	dançar.
–	O	que	foi?	–	perguntei	entrando	na	sala	e	fechando	a	porta.
–	Você	tem	figurino	para	sua	apresentação?
–	Tenho,	por	quê?
–	Qual	a	cor?
–	Preto	e	branco.
–	Perfeito.	Pegue	qual	quiser	–	falou	abrindo	uma	caixa	com	mais	de	uma
dúzia	 de	 pares	 de	 luvas.	 Eram	de	 cores	 e	 comprimentos	 diferentes,	mas	 todas
lindíssimas.
–	Uau...	nunca	vi	nada	assim	–	falei	pegando	um	par	de	luvas	pretas	que
iam	até	o	cotovelo.	Eram	de	seda,	 rendadas	e	decoradas	com	pequenos	cristais
brilhantes.
–	Todas	foram	feitas	pela	minha	costureira	italiana	favorita.	Ela	é	minha
amiga	 e	 nunca	 perde	 a	 chance	 de	me	 surpreendercom	um	novo	par	 de	 luvas.
Todas	são	obras	de	arte.
–	São	mesmo	–	falei	experimentando	as	luvas.	–	Mas	por	que...
–	 Não	 faça	 perguntas,	 apenas	 aceite-as.	 É	 um	 presente	 em	 sinal	 de
agradecimento	por	você	ter	ido	ao	restaurante	da	Regina	comigo.
–	Mas	foi	um	prazer	acompanhar	você.
–	 Por	 favor,	 Louise,	 fique	 com	 as	 luvas.	 Elas	 trarão	 sorte.	 Sei	 por
experiência	própria.
Eu	hesitei.
–	Não	vou	aceitá-las	de	volta	–	disse	ela.
Desisto.	–	Tudo	bem,	ficarei	com	elas.	Obrigada,	são	lindas.
–	Ótimo,	e	espero	assistir	a	uma	dança	inesquecível	hoje.
–	Agora	estou	realmente	preocupada.	–	Eu	ri	nervosa.
–	Não	fique.	William	virá	hoje?
–	Sim,	ele	prometeu	que	estaria	aqui	às	seis	horas.
–	Muito	bom.	Agora	vá	se	aprontar.
Ela	me	desejou	boa	sorte	e	eu	saí.
	
***
Estar	no	palco	sempre	parecia	surreal.	Para	mim	só	existia	a	luz	brilhante
do	 palco,	 era	 como	 se	 houvesse	 um	 elo	 invisível	 entre	 a	magia	 iluminando	 o
palco	e	eu.	Não	havia	nada	 igual.	A	onda	de	energia	correndo	pelo	meu	corpo
enquanto	 eu	 esperava	 pelos	 primeiros	 acordes	 da	 música	 que	 eu	 dançaria.	 O
calor	 que	 eu	 sentia	 a	 cada	 passo,	 a	 cada	 movimento,	 o	 ar	 saindo	 dos	 meus
pulmões	 a	 cada	 salto,	 era	 um	mundo	muito	 especial	 e	 sagrado,	 eu	 não	 queria
nunca	sair	dele.	Porque	quando	eu	saía,	sempre	havia	algo	terrível	esperando	por
mim...	isto,	até	hoje.
Hoje	 tudo	 parecia	 diferente.	 Eu	 me	 sentia	 diferente.	 Mais	 experiente,
mais	 corajosa	 e	 forte	do	que	nunca.	Talvez	porque	o	Will	 estivesse	 assistindo,
lembrando	 da	 última	 vez	 que	 eu	 usara	 aquele	 vestido	 e	 dançara	 para	 ele	 no
quarto	dele.	Eu	sabia	que	ele	estava	lembrando	do	sentira,	porque	eu	também	me
lembrava.	Ou	talvez	fosse	diferente	por	causa	das	luvas...	Outro	par	de	luvas	me
inspirara	 uma	 vez,	 fazendo-me	 acreditar	 que	 eu	 podia	 fazer	 o	 que	 quisesse,
qualquer	coisa...
Eu	 não	 podia	 me	 assistir,	 mas	 eu	 sabia	 que	 o	 vestido	 branco	 e	 preto
voava	 lindamente	 quando	 eu	 girava,	 balançava	 no	 ar	 e	 depois	 pousava
suavemente	 sobre	meus	 pés.	 Eu	 conseguia	 ouvir	 o	 barulho	 do	 vestido	mesmo
com	a	música	preenchendo	a	sala.	Quando	as	luzes	focavam	em	mim,	outra	onda
de	entusiasmo	corria	por	mim.	Era	como	se	eu	estivesse	conectada	a	um	espírito
mágico	que	era	derramado	no	palco,	fluindo	com	o	momento	e	eu	sendo	tomada
por	ele.
Eu	 não	 via	 ninguém	 que	 me	 assistia,	 exceto	 um	 par	 de	 olhos	 em
particular	 que	 seguiam	 cada	 passo	 meu,	 me	 consumindo,	 tornando-se	 uno
comigo	 e	 minha	 dança.	 Os	 olhos	 que	 eu	 amava	 mais	 do	 que	 poderia	 ter
imaginado.	Somente	um	sentimento	podia	se	comparar	ao	que	eu	sentia	quando
estava	no	palco...fazer	amor	com	Will,	saber	que	nada	além	do	momento	que	me
consumia	 poderia	 me	 levar	 às	 alturas,	 fazer-me	 sentir	 como	 se	 estivesse	 em
transe,	perdida	para	tudo	menos	para	os	sentimentos	que	me	levavam	ao	limite	e
para	algo	lindo.
Não	havia	começo	nem	fim.	Eu	me	tornara	a	música,	a	dança	e	o	público
que	me	assistia.	Tornei-me	a	alegria,	poderosa	e	sem	fronteira.	Eu	poderia	fazer
o	céu	cair	e	o	sentimento	era	 impagável...	Era	bom	demais	para	ser	verdade,	e
verdadeiro	demais	para	não	vive-lo.
Mas	a	melhor	hora	foi	quando	a	música	acabou	e	eu	abri	os	olhos	e	vi	o
público.	 Por	 alguns	 segundos,	 ninguém	 se	 moveu	 ou	 falou	 algo,	 estavam
encantados	 com	minha	dança.	Era	 como	 tê-los	 todos	na	palma	da	minha	mão,
sentindo	cada	batida	do	coração	deles.	E	eles	me	pertenciam...
Começaram	a	aplaudir,	o	que	me	trouxe	novas	emoções:	orgulho,	alívio	e
amor	por	tudo	que	eu	passara	para	estar	ali	naquela	noite.	Eu	me	senti	poderosa.
E	aí,	encontrei	os	olhos	da	pessoa	que	eu	amava.	Mesmo	do	outro	lado	da
sala,	eu	podia	sentir	o	amor	 indescritível	 irradiando	da	alma	dele.	E	 isso	era	o
que	 eu	mais	 precisava.	A	 admiração	 de	 ninguém	 importaria	 se	 eu	 não	 tivesse
visto	 aqueles	 olhos	 amados,	 se	 eu	 não	 tivesse	 sentido	 a	 admiração	 que	 vinha
deles.	Era	divino...
Um	simples	aceno	de	cabeça	em	aprovação	que	mudara	 tudo.	Antes	da
dança,	durante	a	dança	e	depois	da	dança.
Meneie	a	cabeça	em	resposta,	sorrindo	e	desci	do	palco	mais	feliz	do	que
nunca.	 E	 só	 quando	 acabou	 o	 som	 dos	 aplausos	 que	 eu	 respirei	 e	 notei	 que
estivera	prendendo	a	respiração.	Revivi,	sentia-me	mais	viva	do	que	nunca...
–	 Louise	 que	 dança	 maravilhosa!	 –	 disse	 Kate	 correndo	 em	 minha
direção.	Ela	 disse	 que	 não	 perderia	minha	 apresentação	 por	 nada.	E,	 claro,	 eu
estava	feliz	em	vê-la.	Diferente	do	Will,	ela	ficou	atrás	das	cortinas	dizendo	que
era	onde	ela	se	sentia	mais	confortável.
–	 Obrigada	 –	 falei,	 abraçando-a.	 –	 Usei	 alguns	 passos	 das	 suas	 aulas,
percebeu?
–	 Lógico	 que	 percebi!	 Como	 eu	 não	 perceberia?	 –	 ela	 riu.	 –	 Minha
menina...	estou	muito	orgulhosa	de	você.
–	Isso	significa	muito	para	mim,	você	sabe,	não	é?
Ela	assentiu	e	eu	notei	algumas	lágrimas	escorrendo	pelo	rosto	dela.
–	O	que	foi?
Ela	sorriu	em	meio	as	 lágrimas.	–	É	que...	por	um	momento	desejei	ser
você	no	palco.	Livre	e	feliz...
–	Mas	você	é	livre.	Nunca	é	tarde	para	começar	algo	novo.	Nunca	é	tarde
para	sair	de	Le	Papillon...
–	Para	mim	não...	meu	lugar	é	lá.
–	Ah,	Kate...	você	é	maravilhosa	em	todos	os	sentidos	da	palavra.	Nunca
duvide	disso.
–	Esse	é	o	ponto,	eu	nunca	duvidei.
Nós	duas	rimos.
–	Chega	de	lágrimas	por	hoje,	certo?	–	Enxuguei	os	brilhos	no	rosto	dela
e	disse:
–	Você	me	ajuda	a	me	trocar	para	ir	à	festa?
Ela	assentiu.	–	Claro.
–	Espero	que	fique	para	a	festa,	você	vai	ficar?
–	Não	posso,	querida.	Preciso	voltar	para	o	clube.	Com	o	Drew	ficando
fora	com	frequência	para	resolver,	os	problemas	você	sabe	de	quem,	alguém	tem
que	estar	lá	para	garantir	que	tudo	está	bem	e	sob	controle.
Ah,	 entendo...	 que	 pena	 que	 você	 não	 pode	 ficar.	 Eu	 queria	 apresentar
você	a	Sabine	Cormac.	Vocês	vão	gostar	uma	da	outra.
–	Fica	para	a	próxima,	ok?
–	Tudo	bem.
	
***
–	Que	apresentação	magnífica,	Louise.	–	Will	se	aproximou	e	me	beijou
docemente.	–	Adorei	cada	segundo.
–	E	o	vestido?
–	Ah,	 quase	me	matou.	Você	deveria	 ter	me	 avisado!	Eu	mal	 consegui
deixar	de	pensar	na	primeira	vez	que	a	vi	vestindo-o.	Você	usou	de	propósito,
não	foi?
–	Talvez...
Ele	me	envolveu	com	os	braços	e	me	beijou	de	novo.	–	Você	estava	linda
e	 graciosa	 no	 palco.	 Agora	 sei	 porque	 a	 Balero	 aceitou	 você.	 Acho	 que	 você
nunca	dançou	tão	belamente	quanto	hoje.	Não	consegui	tirar	os	olhos	de	você.
–	 Fico	 feliz	 que	 tenha	 gostado.	 Você	 viu	 a	 Sabine?	 Eu	 queria	 saber	 a
opinião	dela	também.
–	 Não	 tenho	 palavras	 para	 descrever	 como	 adorei	 o	 que	 você	 fez	 no
palco,	Louise	–	disse	ela	atrás	de	mim.
Virei-me	e	sorri	feliz	para	ela.	–	Suas	luvas	me	deram	sorte.
–	Não	foram	as	luvas,	e	nós	duas	sabemos	disso.	–	Ela	olhou	para	o	Will
e	depois	de	novo	para	mim.	–	O	amor	faz	maravilhas.
–	Concordo	totalmente	–	disse	Will.
–	 Que	 tal	 uma	 taça	 de	 ponche?	 –	 perguntou	 Sabine.	 Ela	 chamou	 a
garçonete	 e	 a	 moça	 veio	 até	 nós	 carregando	 uma	 bandeja	 com	 bebidas.	 –
Gostaria	 de	 brindar	 a	 você,	 Louise.	 A	 tudo	 que	 você	 conseguir	 aprender	 e
alcançar	 em	 18	 anos.	 Você	 é	 tão	 jovem,	mas	 tão	 sábia	 e	 talentosa.	 Estou	 tão
orgulhosa	de	ter	você	aqui,	conosco...
Bem	 quando	 eu	 levei	meu	 copo	 para	 perto	 do	 da	 Sabine,	 o	 copo	 dele
trincou,	 despedaçando-se	 em	 pequenos	 pedaços	 que	 caiam	 no	 chão	 se
espalhando	e	tilintando	contra	o	piso	de	mármore.
–	 Mas	 o	 que...	 –	 Levei	 algum	 tempo	 para	 perceber	 o	 que	 estava
acontecendo.
–	Sabine!	–	gritou	Will	amparando-a.
Olhei	para	o	rosto	dela	e	vi	puro	horror	estampado	nele.	Então	desci	os
olhos	para	o	vestido	creme	até	parar	num	enorme	ponto	vermelho,	bem	no	centro
do	peito.	Era	sangue...
–	 Chamem	 uma	 ambulância!	 –	 disse	 Will,	 deitando-a	 no	 chão	 com
cuidado.
Minhas	mãos	tremiam.
Meu	 telefone...	 preciso	 do	meu	 telefone!	Onde	 está	meu	 telefone?	Não
está	comigo...
–	Alguém	chame	a	ambulância!–	gritei	me	ajoelhando	próximo	dela.
–	Louise...	–	disse	ela	com	voz	que	mal	se	ouvia.
–	 Chi...	 está	 tudo	 bem,	 tudo	 vai	 ficar	 bem.	 Os	 médicos	 chegarão	 em
alguns	minutos.	Fique	acordada	e	continue	respirando.	–	Olhei	para	o	Will.	–	O
que	foi	isso?
–	Louise...	–	Sabine	chamou	meu	nome	de	novo.
–	Por	favor,	não	fale.	–	Eu	senti	lágrimas	escorrendo	pelo	meu	rosto.	Eu
não	sei	porque	parecia	que	eu	estava	perdendo	alguém	muito	próximo,	como	se
perdesse	uma	parte	de	mim.
–	Alguém	atirou	nela	–	disse	Will.	Ele	estava	tão	pálido	quanto	a	Sabine.
Ele	se	levantou,	pegou	o	telefone	e	ligou	para	a	emergência.	Depois	ligou	para	o
Christopher	dizendo:
–	Entre	aqui,	agora!	–	ele	se	curvou	sobre	o	pulso	dela	e	verificou.	–	Está
ficando	fraco.
–	Ah,	meu	Deus...	 –	 eu	não	conseguia	descrever	 todos	os	pensamentos
correndo	 pela	 minha	 mente.	 Eu	 estava	 chocada	 demais	 para	 pensar	 direito.	 –
Precisamos	levá-la	para	outro	lugar.
–	Não	–	protestou	Will	–	não	sabemos	se	a	bala	atingiu	algum	órgão	vital
e	movê-la	pode	ser	perigoso.	–	Ele	tirou	o	casaco,	puxou	a	camisa	de	dentro	da
calça	e	rasgou	um	pedaço	dela.	–	Pressione	 isso	contra	o	ferimento	–	disse	ele
colocando	o	pedaço	de	pano	sobre	o	peito	dela.
–	Onde	você	vai?	–	perguntei	aterrorizada	vendo-o	sair.
–	Precisamos	pegar	quem	atirou	nela.
Olhei	para	minhas	mãos	pressionando	o	pedaço	de	tecido	branco.	Ficou
vermelho	assim	que	o	pressionei,	fazendo-me	chorar	ainda	mais.
Algumas	pessoas	se	reuniam	ao	nosso	lado,	mas	eu	não	ligava.
–	 Louise	 –	 ela	 falou	 de	 novo.	 –	 Preciso	 dizer	 algo	muito	 –	 ela	 tossiu,
sangue	saía	da	boca	dela	e	ela	tentou	continuar	–	importante.
–	Conversamos	depois,	ok?	–	Tentei	forçar	um	sorriso,	mas	acho	que	não
consegui.	–	Por	favor,	não	se	canse	falando.
Onde	estão	os	paramédicos?
–	 Me	 escute,	 Louise...	 –	 Sabine	 tentou	 tocar	 minha	 mão,	 mas	 não
conseguiu.	Ela	estava	fraca	demais	para	se	mexer.	–	Sou	sua...
–	Onde	está	a	vítima?	–	Alguém	gritou.
Vi	 três	homens	de	uniforme	azul-escuro	 tentando	abrir	caminho	entre	a
multidão.
–	Aqui!	–	acenei	para	eles.
–	Eles	a	levarão	para	o	hospital.	Você	vai	ficar	bem	–	falei	para	Sabine.
–	Louise...
–	Moça,	por	favor	se	afaste	–	disse	um	dos	paramédicos.	Ele	verificou	o
pulso	dela,	depois	abriu	a	mala	e	pegou	um	item	com	um	reservatório	prata,	com
um	tubo	e	uma	máscara	fixada	a	ele.	Era	um	respirador	para	ajudá-la	a	respirar.
–	Pronto?	–	perguntou	outro	paramédico.
O	primeiro	assentiu.
–	Um,	dois,	três.	–	Os	dois	a	colocaram	numa	maca	e	saíram	rapidamente
com	ela.
Eu	corri	atrás	deles.	Meu	vestido	era	muito	comprido,	os	saltos	do	sapato
muito	altos,	claramente	não	eram	feitos	para	correr,	mas	eu	corri	mesmo	assim.
–	Ela	vai	sobreviver?	–	perguntei	aos	paramédicos.
–	Não	sabemos.	Precisamos	levá-la	ao	hospital	para	ser	examinada	pelos
médicos.
Meu	corpo	todo	tremeu.	–	Posso	ir	junto?
–	Você	é	parente	dela?
–	Não,	mas...
–	Então	é	melhor	você	ficar	aqui	e	avisar	a	família	dela.
Eles	 começaram	a	 empurrar	 a	maca	para	dentro	da	 ambulância	quando
um	dos	paramédicos	disse:
–	 Ela	 está	 tentando	 dizer	 alguma	 coisa.	 –	 Ele	 se	 curvou	 e	 removeu	 a
bomba.
–	Louise	–	Eu	a	ouvi	dizer.
–	Você	é	Louise?	–	perguntou	o	homem.
–	Sou.
–	Venha	até	aqui.
Aproximei-me	e	segurei	uma	das	mãos	dela.	As	lágrimas	não	paravam	de
escorrer	pelo	meu	rosto.
–	Preciso	dizer	uma	coisa...
–	Ah,	por	favor,	Sabine,	deixe	que	eles	a	levem	para	o	hospital	primeiro.
–	Você	é...	minha	filha...
Ela	 fechou	 os	 olhos	 e	 os	 paramédicos	 me	 afastaram	 dela	 fechando	 as
portas	 rápido.	 Depois,	 ouvi	 sirenes	 tocando	 alto,	 e	 o	 carro	 branco	 se	 afastava
depressa,	 com	minha	mãe	 lá	dentro,	 com	um	buraco	de	bala	no	peito...	minha
mãe?
Capítulo	21
	
Fiquei	ali,	paralisada.	Acredito	que	o	choque	fora	forte	demais	para	que
conseguir	pensar.	Pessoas,	carros,	prédios	a	minha	volta,	 tudo	misturado	como
uma	pintura	borrada,	como	se	alguém	tivesse	pegado	o	paintbrush	e	misturado
todos	os	tons	de	tudo	que	eu	via,	transformando	num	caos.
Engoli	seco	olhando	envolta.	Eu	não	sabia	o	que	fazer,	para	onde	ir,	para
quem	 ligar.	Eu	 estava	muito	 perdida.	Não	me	 lembrava	 de	 ter	 entrado	 no	 hall
cheio	de	pessoas	aterrorizadas	conversando	sobre	o	que	acontecera.
Procurei	 pelo	Will,	mas	 ele	 não	 estava	 ao	 alcance	 da	minha	 vista.	 Fui
para	o	vestiário	onde	estava	minha	bolsa,	peguei	o	celular	e	liguei	para	ele.
Ele	atendeu	no	segundo	toque.
–	Onde	você	está?	–	perguntei	com	a	voz	trêmula.
–	Do	lado	de	fora	–	respondeu.	–	Estou	falando	com	a	polícia.	Onde	você
está?
–	No	vestiário.
–	Não	saia	daí.	Estarei	aí	em	um	minuto.
–	Tudo	bem.	–	Finalizei	a	ligação	e	sentei	num	banco,	sentia	os	joelhos	e
as	mãos	tremendo.	Lágrimas	que	eu	não	percebera	que	continha,	desceram	pelo
meu	rosto.	Eu	estava	em	choque	e	preocupada	com	a	Sabine,	mas,	mais	do	que
tudo,	eu	estava	assustada...
Tão	 assustada	 que	 toda	 vez	 que	 eu	 fechava	 os	 olhos,	 via	 o	 copo
quebrando	na	mão	dela	e	depois	a	enorme	mancha	de	sangue	no	vestido	ficando
maior	a	cada	respiração	da	Sabine.	Meu	Deus,	poderia	ser	eu	sendo	levada	para
o	hospital,	ou	o	Will	ou	qualquer	um	na	festa.
Mas	o	que	é	que	está	acontecendo?	Alguém	tentou	matar	a	Sabine?	Por
quê?
Nada	do	que	acontecera	fazia	sentido	para	mim.	Eu	nem	ouvira	o	tiro.	O
atirador	 devia	 estar	 usando	 silenciador	 na	 arma.	Quando	me	 dei	 conta	 do	 que
acontecia,	 já	era	tarde	demais.	Embora	eu	não	ache	que	eu	poderia	ter	mudado
alguma	coisa.	Ninguém	viu	acontecer,	 foi	 tão	 rápido.	Num	segundo	estávamos
conversando	 e	 rindo,	 no	 segundo	 seguinte	 o	 copo	 dela	 quebrou	 e	 tudo	 virou
caos.	Só	um	pouco	depois,	quando	vimos	a	Sabine	deitada	no	chão	com	sangue
no	vestido,	que	percebemos	que	algo	terrível	acontecera.
As	pessoas	começaram	a	gritar	e	se	aglomerar	a	nossa	volta,	mas	eu	não
vi	o	rosto	delas.
Eu	só	via	ela...	Olhando	para	mim	com	tanto	medo	nos	olhos.	Nunca	vou
esquecer	 aquele	 olhar.	 Ela	 ficava	 repetindo	meu	 nome	 como	 se	 fosse	 a	 única
coisa	que	ele	conseguia	falar.	Ela	queria	me	dizer	algo.
E	ela	disse...
O	 que	 ela	 dissera	 pouco	 antes	 de	 ser	 levada	 na	 ambulância	me	 deixou
sem	palavras.	Será	que	ela	falava	a	verdade?
Não,	não,	não...	não	era	possível.	Ela	não	podia	ser	minha	mãe.	Ela	devia
estar	em	choque	por	causa	do	tiro.	Sim,	ela	me	tratava	diferente	dos	outros,	mas
eu	 tinha	 certeza	 de	 que	 era	 por	 que	 não	 tivera	 filhos.	 E	 ela	 disse	 que	 eu	 a
lembrava	dela	quando	era	jovem.	Sim,	esta	deve	ser	a	razão	para	o	que	ela	disse.
Ela	não	estava	pensando	direito.
–	Louise?	–	ouvi	Will	chamando	meu	nome.
–	Estou	aqui!	–	respondi	enxugando	as	lágrimas	com	as	costas	das	mãos.
–	Ah,	Louise...	Ele	entrou	na	sala	e	sentou	do	meu	lado	me	envolvendo
com	 os	 dois	 braços.	 –	 Como	 você	 está?	 –	 perguntou	 ele	 acariciando	 minhas
costas.
–	 Não	 sei...	 foi	 horrível.	 Estou	 tão	 assustada,	 Will.	 Eu	 o	 abracei
procurando	por	conforto.
–	Fique	tranquila,	está	tudo	bem	agora.	Encontraram	o	homem	que	atirou
nela.
–	Ah,	meu	Deus!	É	mesmo?
–	 É.	 Acontece	 que	 um	 dos	 seguranças	 da	 Balero	 viu	 um	 homem	 no
telhado	do	prédio	da	frente.	Que	pena	que	ele	chegou	lá	tarde	demais	e	Sabine
foi	 ferida.	 Mas	 felizmente	 ele	 conseguiu	 capturar	 o	 atirador	 que	 está	 sendo
interrogado	pela	polícia	agora.
–	Você	sabe	quem	é	ele?
–	 Não	 sei.	 Ele	 não	 falou	 nada	 sobre	 quem	 o	 contratou	 ou	 quem
exatamente	ele	deveria	matar.	Ele	 só	 falou	que	queria	um	advogado	e	que	não
falaria	sem	um.
–	 Quem	 você	 acha	 que	 poderia	 querer	 matar	 a	 Sabine?	 Ela	 é	 tão	 boa
pessoa.	Ela	nunca	faria	mal	a	ninguém.
–	Queria	 saber	 a	 resposta,	 Louise.	 –	 Ele	 beijou	minha	 testa	 depois	me
abraçou	de	novo.	–	Precisamos	ir	para	casa.
–	Não,	eu	quero	ir	para	o	hospital.
–	Louise...
–	Não	posso	 ir	para	casa	agora.	Preciso	 saber	 se	ela	vai	 ficar	bem.	Por
favor,	Will,	me	leve	primeiro	para	o	hospital.
Ele	hesitou,	mas	depois	assentiu	e	disse:
–	Tudo	bem,	levo	você	lá.
Troquei	de	roupa	vestindojeans	e	camiseta,	removi	a	maquiagem	borrada
e	o	sangue	da	Sabine.	Então,	fomos	para	o	hospital	onde	ela	estava.
	
***
–	Louise?
Virei-me	ao	ouvir	alguém	dizer	meu	nome.
–	Regina!	–	Eu	vi	a	amiga	da	Sabine	se	aproximando	de	mim.
–	 Menina,	 que	 bom	 ver	 você	 –	 ela	 falou	 me	 abraçando.	 –	 O	 que
aconteceu?	O	motorista	 dela	me	 ligou	 dizendo	 que	 ela	 fora	 baleada	 durante	 a
festa,	mas	ele	não	sabia	detalhes.
–	Na	verdade	 também	não	sabemos.	Foi	 tudo	muito	 rápido.	Não	vimos
quem	atirou,	mas	o	cretino	já	está	com	a	polícia.	Ele	foi	pego	logo	após	atirar.
–	 Que	 fatalidade.	 –	 gritou	 Regina.	 –	 Quem	 poderia	 querer	 machucar
nossa	querida	Sabine?
–	Tenho	me	feito	a	mesma	pergunta.	Deus,	ela	estava	 tão	pálida...	você
conversou	com	os	médicos?	O	que	eles	disseram?
–	Nada	promissor...	Eles	a	levaram	para	o	Centro	Cirúrgico	dizendo	que
ela	perdera	muito	sangue	e	que	precisavam	remover	a	bala.	Então,	acredito	que
teremos	mais	notícias	quando	terminarem	a	cirurgia.
–	Pena	que	não	podemos	fazer	nada	para	ajudá-la.
–	Podemos	rezar	–	disse	Regina,	sorrindo.	–	Sempre	ajuda.
Ouvi	 Will	 conversando	 com	 alguém,	 mas	 o	 homem	 não	 parecia	 ser
médico.
–	Quem	é	ele?	–	perguntei	para	Regina.
–	Aquele	é	o	Nigel,	marido	da	Sabine.	Você	ainda	não	o	conheceu?
–	É	a	primeira	vez	que	o	vejo.	–	O	Sr.	Cormac	parecia	mais	velho	que
Sabine,	talvez	10	ou	15	anos.	Ele	era	alto	e	estava	muito	bem	fisicamente	para	a
idade,	ele	tinha	o	grisalho	perfeito	que	os	homens	mais	velhos	têm.		Os	óculos
pequenos	e	o	bigode	o	deixaram	parecido	com	os	professores	da	Balero.
–	O	que	ele	faz?	–	perguntei	curiosa.
–	 Ele	 é	 químico,	 trabalha	 em	 laboratórios	 fazendo	 experimentos	 com
recursos	 minerais,	 testando	 a	 natureza	 deles.	 Sabine	 o	 conheceu	 quando	 ela
ainda	era	estudante.	Ele	é	14	anos	mais	velho	que	ela,	 então,	naturalmente,	os
pais	dela	não	 ficaram	empolgados	com	a	 ideia	da	 filha	casar	com	um	“velho”.
Mas	depois	de	algum	tempo,	eles	viram	como	ela	era	feliz	com	ele	e	abençoaram
o	casamento.	Nigel	é	um	homem	maravilhoso.	Ele	ajudou	Sabine	a	lidar	com	a
perda,	e	aí...
–	Que	perda?	–	perguntei.
Pude	 ver	 que	 Regina	 ficou	 nervosa.	 –	 Não	 é	 nada,	 esqueça.	 É	 algo
pessoal,	não	tenho	direito	de	fofocar	pelas	costas	dela,	sobretudo	agora	que	ela
está	passando	por	uma	cirurgia.
–	Tem	algo	 a	 ver	 com	ela	 não	poder	 ter	 filhos?	–	Nem	 sei	 por	 que	 fiz
aquela	pergunta.	Saiu	da	minha	boca	antes	que	eu	pensasse	duas	vezes	no	que	ia
dizer.
A	 expressão	 da	 Regina	 ficou	 sombria.	 –	 Não	 devíamos	 falar	 disso,
Louise.	Sabine	dirá	tudo	quando	ela	estiver	pronta.
–	Dizer	o	quê?	–	Tive	um	mal	pressentimento	sobre	minha	conversa	com
a	Regina.	Ela	 estava,	 claramente,	 escondendo	 algo	 de	mim,	 e	 eu	 não	 entendia
porque.	 	–	O	que	está	 acontecendo?	–	perguntei,	olhando	nervosa	para	o	Will,
que	ainda	conversava	com	o	Sr.	Cormac.
De	repente,	lembrei-me	das	palavras	da	Sabine.
–	Ela	perdeu	um	bebê?	–	perguntei	cuidadosa.	Somar	dois	mais	dois	não
era	 difícil	 para	 mim.	 Pelo	 menos	 minhas	 suposições	 explicariam	 o
comportamento	 estranho	 dela.	 Eu	 ouvira	 sobre	 pessoas	 que	 passaram	 por
grandes	perdas	imaginarem	que	outra	pessoa	fosse	aquela	quem	elas	perderam.
Talvez	fosse	esse	o	caso	da	Sabine	em	relação	a	mim.	Talvez	ela	tenha	visto	em
mim	o	filho	que	perdera.	Não	era	a	primeira	vez	que	eu	pensava	isso.
–	Por	quê?	–	perguntou	Regina	me	observando	com	cuidado.
–	Pouco	antes	de	ser	 levada	para	o	hospital	ela	me	disse	algo...	mas	eu
acredito	que	ela	estivesse	delirando.
–	O	que	 ela	 falou?	–	Regina	olhou	para	Will	 e	 o	Sr.	Cormac,	 e	 depois
olhou	de	volta	para	mim.
Balancei	a	cabeça	sorrindo.	–	Ela	disse	que	sou	filha	dela.
Regina	ficou	branca	como	a	neve.	Deu	um	passo	para	trás	e	sentou	numa
cadeira	atrás	dela.
–	O	que	foi?	–	perguntei	preocupada.	–	Está	tudo	bem?	Quer	um	copo	de
água?
–Não,	estou	bem.	Obrigada.
–	Por	que	ficou	chocada	com	o	que	eu	disse?	–	perguntei,	sentando	perto
dela.	 –	 Estou	 certa	 sobre	 Sabine	 ter	 perdido	 um	 bebê?	 Ela	 teve	 um	 filho...	 e
perdeu?
Regina	engoliu	seco	e	assentiu.	–	Foi	um	momento	terrível	para	ela.
–	Nigel	era	o	pai?
–	Não.	Ela	engravidou	de	outro	homem,	mas	ele	 era	casado	e	eles	não
podiam	ficar	juntos.	Mas	ela	queria	o	bebê.	–	A	voz	dela	tremeu.	–	Ela	estava	tão
feliz,	comprando	aquelas	roupinhas	lindas	para	o	futuro	bebê.	Perdê-lo	quase	a
matou.	Eu	acho	que	nunca	a	vi	tão	perdida,	tão	devastada.	Ela	não	queria	mais
viver.	Os	pais	dela	e	eu	 tememos	que	ela	atentasse	contra	a	própria	vida.	Mas
então,	ela	conheceu	Nigel.	Ele	a	ajudou	a	superar.	Ele	a	ajudou	a	acreditar	que
poderia	viver,	dançar	e	ser	feliz	de	novo.	Não	importava	quanto	doesse	o	coração
dela.	Ela	a	ensinou	que	a	dor	melhoraria	o	jeito	dela	dançar.	Ele	mostrou	a	ela
como	colocar	toda	aquela	agonia	nos	movimentos,	e	a	dança	dela	floresceu	para
o	que	é	hoje.
–	Não	admira	ela	ter	aberto	uma	escola	de	dança.	Ela	ama	cada	um	dos
alunos.
–	Sim,	 ela	 sempre	quis	 ter	 filhos...	 uma	pena,	depois	do	que	aconteceu
anos	 atrás,	 ela	 nunca	 mais	 engravidou.	 O	 destino	 decidiu	 não	 lhe	 dar	 outra
chance.	Só	quando	ela	descobriu	sobre	você...	e	ela	parou	de	repente.
–	Descobriu	sobre	mim?	–	perguntei.	–	Você	fala	do	dia	que	ela	assistiu	à
gravação	da	minha	dança?
–	Louise,	está	tudo	bem?	–	Will	veio	até	nos	com	o	Sr.	Cormac	junto.	–
Queria	apresentar	você	ao	marido	da	Sabine.	Este	é	Nigel	Cormac.
–	Muito	prazer.
–	 Ele	 sorriu	 para	mim.	 –	 Igualmente,	 Louise.	 Sabine	me	 contou	 sobre
você	–	falou	enquanto	rolava	uma	lágrima	no	rosto	dele.
Olhei	para	Regina	de	novo.	Eu	não	conseguiria	ir	sem	antes	ter	a	resposta
para	minha	pergunta.
–	 O	 que	 você	 quis	 dizer	 com	 quando	 ela	 descobriu	 sobre	 mim?	 –
perguntei	de	novo.
Will	 tencionou	 a	 mandíbula.	 O	 Sr.	 Cormac	 ficou	 tenso.	 Regina	 olhou
para	Will	de	uma	forma	que	eu	não	gostei.
–	Mas	o	que	é	que	está	acontecendo	aqui?	–	perguntei	me	levantando.
–	Louise,	não	é	a	hora	nem	o	lugar	para	falar	disso	–	disse	Will.
–	Falar	do	que?
–	Por	que	não	esperamos	a	Sabine	melhorar?	–	falou	Regina.
O	Sr.	Cormac	falou:
–	Acho	que	a	Rê	está	certa.	Precisamos	pensar	na	saúde	da	Sabine	agora.
Acho	 que	 eu	 já	 sabia	 o	 que	 nenhum	 deles	 tinha	 coragem	 de	me	 falar.
Lembrei-me	do	que	William	falara	sobre	minha	mãe.	Sobre	a	gravidez	e	sobre
meu	pai	não	poder	ficar	com	ela	por	já	ser	casado.	Então	comecei	a	pensar	sobre
tudo	o	que	a	Regina	me	falou	sobre	a	perda	da	Sabine,	e	como	ela	se	sentira.	Aí
a	imagem	da	Sabine	me	observando	na	inauguração	do	bistrô	da	Regina	voltou	a
minha	mente	e	eu	acho	que	aquele	foi	o	momento	que	tudo	ficou	claro	para	mim.
Começando	pelo	dia	em	que	meu	pai	me	mandou	para	Paradise	até	o	momento
em	que	Sabine	disse	que	eu	era	filha	dela.
–	Ela	não	estava	delirando,	estava?	–	perguntei	com	voz	trêmula.
–	Sobre	o	que	você	está	falando?	–	perguntou	Will.	Eu	não	contara	a	ele
o	que	Sabine	me	dissera.
Dirigi	um	olhar	penetrante	a	Regina.	–	Ela	é	minha	mãe,	não	é?	–	Senti-
me	tão	fraca	naquele	momento.	Eu	não	sentia	meu	corpo,	era	como	se	ele	não
me	pertencesse	e	eu	fosse	somente	um	espírito	que	o	possuía	temporariamente.
Eu	 não	 conseguia	 pensar	 mais.	 –	 Fale,	 é	 isso?	 –	 Ergui	 a	 voz	 incapaz	 de	 me
controlar.
–	Louise,	acalme-se,	por	favor	–	disse	Will.
Eu	nem	o	ouvi.	Regina	e	Sabine	eram	amigas	há	décadas,	só	ela	sabia	a
verdade,	só	ela	poderia	confirmar	ou	desmentir.	Então	me	dirigi	a	ela	de	novo,
com	mais	calma	desta	vez:
–	Por	favor,	preciso	saber.	–	Eu	estava	prestes	a	desabar,	e	não	percebia.
Ela	falou	para	o	Will:
–	Não	posso	mais.	Sabine	está	tão	mal	agora...	e	se...
–	Não	diga	isso	–	disse	o	Sr.	Cormac,	colocando	o	braço	sobre	os	ombros
dela.	–	Precisamos	ser	fortes,	por	ela.
Regina	olhou	para	mim	e	disse:
–	 Não	 sou	 a	 pessoa	 mais	 indicada	 para	 falar	 para	 você,	 Louise,	 mas
acredito	 que	 dadas	 as	 circunstâncias	 e	 seus	 questionamentos,	 seria	 inútil
continuar	mentindo...	Sim,	você	é	filha	da	Sabine.
–	 Meu	 Deus–	 falei	 com	 voz	 entrecortada.	 Meu	 coração	 disparou	 no
peito.	 Ele	 batia	 tão	 rápido	 que	 eu	 mal	 conseguia	 respirar,	 parecia	 que	 cada
respiração	seria	a	última.
Sentei-me,	o	choque	era	grande	demais	para	falar,	pensar	ou	me	mover.
–	 Tragam	 água	 para	 ela,	 por	 favor	 –	 disse	 Will,	 abaixando-se.
Gentilmente	 ele	 tirou	 o	 cabelo	 do	meu	 rosto,	mas	 não	 disse	 nada	 sobre	 o	 que
acabara	de	acontecer.
E	 então,	 me	 dei	 conta.	 Olhei	 nos	 olhos	 dele	 e	 vi	 a	 resposta	 para	 a
pergunta	que	eu	nem	fizera.
–	Você	sabia...	–	falei	baixinho.
Ele	não	respondeu.
–	Há	quanto	tempo?	–	perguntei.
Ele	engoliu	seco	passando	a	mão	pelo	cabelo.	–	Não	importa.
–	Há	quanto	tempo?	–	Repeti	a	pergunta.
–	Descobri	recentemente.	Eu	não	sabia	que	a	Sabine	era	sua	mãe	até	você
se	inscrever	na	Balero.
–	O	que	quer	dizer	que	você	sabia	há	pelo	menos	seis	meses...	e	não	me
contou...	por	quê?
–	Louise,	eu	não	podia.
–	Por	quê?	–	Perguntei	mais	alto	desta	vez.
Eu	 ri	 nervosamente.	 –	 Não	me	 diga	 que	 foi	 por	 causa	 do	meu	 pai	 de
novo.	Deus,	se	você	soubesse	quanto	eu	odeio	meu	pai...
–	 Isso,	 eu	 não	 podia	 contar	 nada,	 porque	 se	 eu	 contasse,	Montgomery
faria	tudo	para	separar	vocês	duas.	E	eu	não	podia	deixar	isso	acontecer,	de	novo
não.
–	E	ela?	Quando	ela	soube	a	verdade?
–	Há	 alguns	dias,	 antes	de	vocês	duas	 irem	à	 inauguração	do	bistrô	da
Regina.
Agora	 entendo	 porque	 o	 comportamento	 dela	me	 pareceu	 tão	 estranho
aquele	dia.	Ela	sabia	que	eu	era	a	filha	que	ela	pensava	ter	perdido	para	sempre...
–	 Ah,	 meu	 Deus...	 –	 Coloquei	 as	 mãos	 no	 rosto	 e	 deixei	 as	 lágrimas
caírem.
Finalmente	eu	encontrara	minha	mãe	e	agora	ela	estava	morrendo	e	eu,
provavelmente,	nunca	teria	a	chance	de	falar	com	ela	de	novo.	–	Isso	não	pode
estar	acontecendo...	não	agora	que	eu	a	encontrei...
–	Calma...	–	Will	me	abraçou	tentando	me	confortar,	mas	nem	a	presença
dele	poderia	me	livrar	da	tristeza.
–	Preciso	vê-la	–	falei.	–	Eu	quero	falar	com	ela,	eu	quero...
–	Louise,	você	não	pode	entrar	lá	agora.	Olhe	para	mim	–	disse	Will	com
voz	firme.	Ele	sabia	que	eu	não	estava	me	sentindo	bem.	–	Ela	está	sob	efeito	de
forte	 medicação,	 está	 dormindo.	 Precisamos	 esperar	 que	 a	 cirurgia	 termine.
Então	eu	a	 levarei	até	ela,	 tudo	bem?	Ela	vai	 ficar	bem,	só	precisamos	esperar
um	pouco	mais.	Você	está	me	ouvindo?	Ela	vai	ficar	bem.
Assenti,	tentando	seguir	o	racional	dele.	Ele	estava	certo.	Os	médicos	não
me	deixariam	chegar	perto	dela.	Eu	precisava	esperar.
–	Vou	esperar	–	falei.
–	Ele	assentiu,	suspirando.	–	Quer	sair	um	pouco,	tomar	ar?
–	Não.	Eu	quero	ficar	aqui.
–	Aqui,	tome	um	pouco	de	água	–	disse	Regina	me	entregando	o	copo	de
plástico.
Tomei	alguns	goles	e	coloquei	o	copo	numa	cadeira	ao	meu	lado.
–	Ela	 estava	 feliz	 em	 saber	 a	 verdade?	–	 perguntei.	Eu	nem	 sabia	 para
quem	perguntar.
O	Sr.	Cormac	foi	o	primeiro	a	responder.
–	Você	nem	 imagina.	Ela	 chorou	 a	noite	 inteira,	mas	 eram	 lágrimas	de
felicidade.	Ela	disse	que	estava	muito	feliz	em	saber	que	você	estava	viva.	Mas,
mais	do	que	tudo,	ela	estava	feliz	em	saber	que	você	é	muito	parecida	com	ela,
com	sua	paixão	pela	dança	e	o	desejo	de	ser	a	melhor.	Ela	disse	que	tinha	muito
orgulho	de	ser	sua	mãe,	Louise.
Mais	lágrimas	encheram	meus	olhos.	Eu	também	estava	orgulhosa	de	ser
filha	da	melhor	mulher	que	eu	poderia	imagina	chamar	de	mãe.
Uma	das	portas	do	corredor	fora	aberta	e	um	médico,	perto	dos	50	anos,
veio	em	nossa	direção.	Pulei	da	cadeira	correndo	em	direção	a	ele.
–	Como	 ela	 está?	 –	 perguntei	 sem	 ar.	 –	 Por	 favor	me	 diga	 que	 ela	 vai
viver.
Will,	Regina	e	Nigel	se	aproximaram	de	nós.
O	médico	disse:
–	Infelizmente	não	posso	prometer	nada	agora.	Foi	tudo	bem	na	cirurgia
e	 conseguimos	 remover	 a	 bala.	 Mas	 ela	 despedaçou	 uma	 das	 costelas,	 logo
acima	 do	 coração,	 e	 tivemos	 que	 remover	 todos	 os	 pedaços	 que	 encontramos.
Fizemos	o	melhor	que	pudemos	para	remover	todos	e	garantir	que	o	coração	e	os
vasos	 sanguíneos	 não	 fossem	 danificados	 durante	 o	 processo.	 Agora	 o	 que
precisamos	fazer	é	esperar	que	a	cicatrização	faça	o	trabalho	dela.
–	Podemos	vê-la?	–	perguntei.
–	 Infelizmente	 agora	 não	 é	 possível.	 Ela	 precisará	 ficar	 na	 terapia
intensiva	pelas	próximas	24	horas.	Ela	está	dormindo.
–	Mas	ela	vai	acordar,	não	é?	–	disse	Nigel.
–	Precisamos	esperar	pelo	melhor	–	respondeu	o	médico.
Senti	 como	 se	 eu	 estivesse	morrendo,	 deitada	na	mesa	de	 cirurgia	 com
uma	costela	quebrada	e	o	coração	que	mal	batia.
–	 Conseguiremos	 dar	 um	 prognóstico	 melhor	 se	 ela	 sobreviver	 a	 esta
noite.
–	Se?	–	perguntei	num	sussurro.
–	Como	eu	disse,	agora	não	posso	prometer	nada.
Capítulo	22
	
Acho	que	o	tempo	nunca	passou	tão	devagar	quando	naquela	noite.	Toda
vez	que	eu	verificava	as	horas,	não	passara	mais	de	um	minuto	desde	a	última
olhada	no	maldito	relógio.
–	Louise,	você	precisa	 comer	–	disse	Kate,	 empurrando	para	mim	uma
bandeja	com	comida.
Só	de	pensar	em	comer	enquanto	Sabine,	minha	mãe,	estava	no	hospital,
talvez	morrendo,	eu	passava	mal.
–	Não	consigo	–	falei.
–	 Mas	 vai	 comer!	 –	 afirmou	 ela	 em	 tom	 severo,	 pegando	 o	 garfo	 e
esperando	num	pedaço	de	rosbife.	–	Você	não	dormiu	nem	comeu	por	quase	30
horas...	 detesto	dizer,	mas	o	café	não	conta.	Você	precisa	 comer,	Louise.	Você
não	 vai	 ajudar	 sua	mãe	 passando	 fome	 ou	 exaurindo	 suas	 forças	 até	 a	morte.
Coma!	–	falou,	forçando	o	garfo	na	minha	direção.
Olhei	 para	 o	 pedaço	de	 carne	 e	 assenti,	 desistindo.	 –	Ok,	 vou	 comer	 –
falei	pegando	o	garfo.
Ela	sorriu	aprovando.	–	Essa	é	a	minha	garota.
Ela	 e	 eu	 estávamos	 em	 Le	 Papillon	 no	 meu	 antigo	 quarto.	 Depois	 de
falarmos	 com	o	médico	 sobre	 a	 Sabine,	 eu	 liguei	 para	 ela.	Ela	 foi	 ao	 hospital
imediatamente	após	saber	do	acidente.	Ficamos	lá	o	resto	daquela	noite,	e	todo	o
dia	seguinte,	mas	aí	ela	insistiu	em	me	levar	para	casa.	Eu	não	queria	ir	para	a
casa	 do	Will,	 então	 fomos	 para	 o	 clube.	Não	 havia	 show,	 então	 a	maioria	 das
meninas	estava	fora	cuidando	dos	assuntos	delas.	O	silêncio	no	clube	era	atípico.
Meu	telefone	vibrou	de	novo	no	criado	mudo.	Olhei	para	a	tela	e	cancelei
a	chamada.
–	É	o	Will	de	novo?	–	perguntou	Kate.
Assenti,	mastigando	um	pedaço	de	carne.
–	Por	que	você	não	atendeu?
Dei	de	ombros.	Eu	não	sabia	como	responder	à	pergunta	dela.	Eu	só	não
queria	 falar	 com	 ele	 agora.	 Talvez	 eu	 estivesse	 sendo	 egoísta,	 mas	 depois	 de
descobrir	que	a	Sabine	é	minha	mãe	e	que	ela	está	tão	perto	da	morte,	eu	fiquei
brava	com	ele.
Ele	sabia	a	verdade...	o	tempo	inteiro...	e	não	me	contou.	E,	no	momento,
eu	não	me	importava	se	era	por	causa	do	meu	pai	ou	quem	fosse,	porque	era	alta
a	probabilidade	de	eu	não	poder	chamá-la	de	mãe	e	dizer	o	quanto	eu	precisava
dela.	Eu	poderia	ter	feito	tudo	isso	por	seis	meses,	seis	meses	em	segurança,	já
que	 o	 desgraçado	 do	 Fletcher	 Montgomery	 nunca	 apareceu	 na	 escola	 para
assassinar	nenhuma	de	nós	até	o	dia	da	Mostra.	Eu	poderia	saber	a	verdade	há
meio	ano,	e	Will	me	deixou	na	ignorância,	e	sem	mãe,	quando	na	verdade,	eu	a
tinha	o	tempo	todo!
–	Você	está	zangada	com	ele?	–	perguntou	Kate,	sentando-se	na	beira	da
cama.
–	Estou	zangada	com	o	mundo	inteiro	–	falei.
–	Mas	ele	não	tinha	escolha...
Olhei	para	ela	como	quem	diz:		Ah,	não?	–	Sempre	temos	escolha.
–	Não,	nem	sempre.	E	você,	mais	do	que	ninguém,	já	deveria	saber	disso.
Kate	 estava	 certa.	Eu	nunca	 tive	 escolha,	 tinha	que	viver	 sob	 as	 regras
impostas	por	outros.	E	agora	que	eu	finalmente	estava	livre,	minha	vida	parecia
estar	 ficando	 cada	 vez	melhor	 a	 cada	 dia,	 pelo	menos	 até	 a	 terça-feira	 à	 noite
quando	tudo	ficou	ainda	mais	bagunçado	do	que	costumava	ser.	De	novo,	eu	não
tinha	escolha,	só	podia	sentar	e	ficar	esperando	por	boas	notícias.	Eu	torcia	para
que	 fossem	boas	notícias	porque	eu	nem	podia	 imaginar	perder	minha	mãe	de
novo,	uma	vez	na	vida	já	era	suficiente.
–	Não	posso	perdê-la,	Kate	–	 falei,	empurrando	o	prato.	–	Obrigada,

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