Prévia do material em texto
LIVRO DOIS LOUISE UM NOVO COMEÇO AUTORA DE BEST-SELLERS INTERNACIONAIS DIANA NIXON Copyright©2018 byDianaNixon Todos os direitos reservados Nenhuma parte deste livro pode ser usada ou reproduzida de nenhuma forma, por meios eletrônicos ou mecânicos incluindo cópias, gravação ou qualquer sistema de recuperação ou armazenamento sem a permissão por escrito da autora, exceto nos casos permitidos pela lei. As personagens e os fatos descritos neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência sem a intenção do autor. Capa: Jennifer Munswami, Amina Black Traduzido por: Adriana Fazzi Caldas Louise: Um novo começo (Sinopse) Nem sempre a vida é fácil. Principalmente quando você está apaixonada por um homem cuja vida é muito diferente da sua. Poder, dinheiro, respeito – são coisas que uma garota que cresceu num orfanato apenas sonha. Mas, às vezes, o amor é a única força de que se precisa para conseguir o que quiser... Louise sempre foi lutadora. Desde a infância ela aprendeu que tudo tem um preço. Mas a liberdade era algo que ela nunca poderia ter. Vivendo num mundo de mentiras e traições, será que ela sacrificará o amor para, finalmente, ser livre? Ou ela deixará que o coração vença? Uma nova jornada cheia de paixão e sonhos proibidos; é uma nova dança; uma nova vida. – Começaremos do início, do primeiro beijo... Prólogo Nova Iorque – 2005 William Eu estava muito atrasado para uma reunião com meu pai. Verifiquei o relógio e apertei o passo, contornando a multidão que inundava a estação de trem. Hoje era o dia mais esperado, esperado por anos. Era o dia que o meu maior sonho se realizaria. O dia em que eu me tornaria oficialmente o vice do meu pai. Finalmente. Desde quando eu conseguia lembrar, eu queria ser como meu pai – um homem poderoso e bem-sucedido cujas palavras eram ordens. Quando eu era criança, eu costumava pensar que todo homem que usava terno e gravata era “a palavra da lei ambulante”. Eu sorri comigo mesmo pela roupa que vestia – meu primeiro terno, feito sob medida, mas que de alguma forma parecia emprestado. Eu não era eu mesmo, era um estranho que era muito mais sábio e infinitamente mais inteligente do que o William Blair de verdade. Eu não me sentia a palavra da lei ambulante, ainda não. Eu ainda me sentia como um garotinho, sem a certeza de que estava pronto para fazer o que minha família esperava de mim. Não parecia o dia, eu ainda sonhava com meus grandes sonhos e tinha esperança de que se tornassem reais algum dia. O engraçado nisso tudo era que até aquele momento, eu nunca pensara sobre a força dos sonhos, uma das coisas mais misteriosas e excitantes do mundo. Sonhos são como histórias curtas que nosso coração e nossa alma escrevem para nós. Com eles, as pessoas fazem maravilhas. Eles nos motivam, nos fazem ver o que nem sabíamos que existia, em suma, eles nos mudam. Eles me mudaram... A primeira vez que eu fui ao escritório do meu pai, eu tinha somente dez anos. O escritório ficava no Empire State Building, um dos mais altos arranha- céus. Eu fiquei na antessala com os olhos arregalados. Era um mundo totalmente novo para mim. Ninguém prestava atenção no menino passeando sozinho, até que um dos seguranças veio até mim, dizendo: – É um ótimo dia para uma excursão, não é rapazinho? – Ele vestia uniforme azul escuro com um emblema pequeno no bolso da camisa. Conforme o crachá, o nome dele era Milton. Ele devia ter 20 anos, talvez um pouco mais. – Não sei, senhor – disse eu, olhando para ele. – As pessoas vêm aqui fazer excursão? – Sempre. – Eu vim a negócios – falei dirigindo a câmera que eu segurava para um dos enormes vitrais. Eu adorava fotografia e sempre levava minha câmera comigo. Ela era um presente do meu pai, era meu “brinquedo” precioso, o melhor presente que eu já recebera. Naquela época eu estava certo de que fotografia seria minha vida, mas a vida é conhecida por ter seus próprios planos... – Ah, é? – O rapaz sorriu para mim, como se pensasse que eu estava brincando. – Você tem reunião aqui? – Sim, senhor. Estou aqui para falar com o meu pai. – Olhei para a foto na tela da câmera, assenti em aprovação e então desliguei a câmera. – E quem é seu pai? – Randal Blair – respondi orgulhoso. O rapaz arregalou os olhos – Ah, sim... Obviamente o nome era familiar. – Você veio aqui sozinho, ou está com sua mãe? – Nosso motorista, Christopher, me trouxe. Ele me disse para ir ao 53º andar e pedir à secretária para me acompanhar até o escritório do meu pai. – Certo, posso acompanhar você? Para ter certeza de que você não vai se perder. – Ele sorriu de novo, um sorriso mais largo desta vez. Aposto que eu era a primeira criança que Milton se lembrava de ir lá sozinho e dizendo que estava lá a negócios. Dei de ombros com indiferença. Eu tinha certeza de que era grande o suficiente para encontrar o escritório do meu pai sozinho, mas não quis ser grosseiro com o Milton, então concordei. Afinal, era o trabalho dele manter o prédio e as pessoas em segurança. – Câmera legal – disse ele, esperando o elevador chegar ao andar que queríamos. – Você gosta de fotografia? Assenti sorrindo. – Eu adoro. – Eu pensei que você substituiria seu pai quando ele se aposentasse, você irá substituí-lo? Franzi a testa sem saber direito o que responder. – Ele nunca me disse que eu deveria seguir os passos dele. – Mas tenho certeza de que é isso que ele quer. Espere até você crescer, você também vai querer. Ah, se o Milton soubesse que o pressentimento dele aconteceria um dia... – Aqui estamos, senhor – disse ele, conforme o elevador parou e a porta abriu para um saguão espaçoso. – Kate! – ele chamou por uma moça de cabelo vermelho sentada a uma mesa em forma de curva. – O filho do Sr. Blair está aqui para vê-lo. Ela assentiu, levantou-se e veio em nossa direção sorrindo para Milton. Eles provavelmente tinham a mesma idade, e dava para perceber que o Milton estava feliz em ver Kate. Presumi que ela era a razão dele ter me acompanhado. – William, certo? – perguntou Kate dirigindo-se a mim. – Seu pai está esperando por você. Venha comigo. Mas antes de fazer o que ela dissera, voltei-me para Milton e desejei a ele um bom dia. – Espero que goste daqui, senhor – disse ele. E eu gostei, tanto que não parei de falar no assunto nas semanas seguintes. Eu sentava e esperava meu pai voltar para casa no final do dia só para perguntar tudo o que eu podia sobre a empresa e como ela funcionava. Depois de algum tempo eu percebi que Milton estava certo, meu pai queria que eu seguisse os passos dele e, mesmo eu ainda sendo louco por fotografia, eu podia facilmente me imaginar sentando na enorme cadeira de couro dele um dia... E hoje, eu estava prestes a dar um passo para que o grande sonho se realizasse. Eu nunca dissera abertamente que era meu sonho desde os dez anos. Formei-me, fiz aulas de fotografia em Paris, o que eu gostei muito, mas lá no fundo tudo o que eu queria era ser ele – o homem do qual eu tinha tanto orgulho de chamar de pai. Eu ainda sinto a empolgação que eu senti no dia que entrei no escritório do meu pai pela primeira vez, quase dez anos antes. Só que hoje eu ia com medo, medo de não conseguir atender às expectativas dele, medo de falhar. Ninguém percebia como eu estava nervoso. A multidão ao meu redor estava muito ocupada com os próprios problemas. Eu não os culpei. Eu era um deles, com minha própria vida para cuidar. De repente, algo chamou minha atenção. Olhei mais de perto e vi a pequena luz vermelha piscando no chão, a poucos metros de mim. Diminui o passo na esperança de que não fosse o que eu pensava que era. Entãoeu me aproximei e parei de repente. Impossível, pensei comigo. Olhei ao redor com cuidado, mas ninguém parecia se importar com a garotinha sentada num pedaço de papelão com tornozeleiras de ferro. Ali eu vi a luz vermelha, a luz que dizia tudo, a garota era de Paradise, o pior lugar no mundo ou melhor, o inferno na terra para as crianças ou qualquer um que passasse perto. Praguejei em voz baixa comigo mesmo. Eu sabia muito sobre Paradise para acreditar que a maldita tornozeleira, também conhecida como rastreador, no tornozelo da menina era somente uma joia reluzente. Era a maldição dela, a dura realidade que ela não podia mudar... Lembro-me do dia em que meu pai me falou sobre Paradise. Ele me disse que era um orfanato e que ele crescera lá. Ele disse que não era como os outros orfanatos onde os pais deixavam as crianças porque não as queriam. Era um lugar onde se devia guardar segredos, e por segredos entenda-se filhos ilegítimos de pessoas poderosas e famosas cuja vida seria atrapalhada pela existência de tal criança, e que a crianças nunca deveria ter nascido. Em Paradise eles rastreavam cada passo das crianças e quando elas tinham idade suficiente para sair de lá, eles permitiam que elas saíssem e então poderiam viver como quisessem. Mas, na verdade, somente alguns conseguiam sobreviver a crueldade do mundo fora de Paradise. Somente alguns conseguiam ser o que queriam. E eles nunca podiam saber quem eram os pais biológicos. A maioria delas pensava que os pais estavam mortos. A menina na estação de trem tinha por volta de dez anos, doze talvez. Ela vestia um casaco escuro todo rasgado e sujo. Ela estava tremendo de frio, enfiando as mãos fundo nos bolsos. Não tenho dúvidas de que estava congelando. Meu primeiro pensamento foi levá-la embora, oferecer comida e comprar roupas novas. Mas então, lembrei-me que meu pai me contara sobre as regras de Paradise e mudei de ideia. Não era permitido que ela falasse com estranhos, e eu não podia ajudá-la. Ela estaria encrencada por minha causa. Mas havia algo no olhar dela que não me deixou ir embora, era profundo e ingênuo, mas cheio de esperança. Ela olhou para o chapéu vazio que estava perto das pernas dela e suspirou. Ninguém pararia para lhe dar uma moeda. Eu precisava fazer algo para ajudá-la, mas não sabia como ajudar sem causar problemas para ela. Segui em frente olhando com cuidado. Eu não queria assustá-la e, mesmo estando com pressa eu não podia simplesmente ir embora sem falar com ela antes. Peguei a carteira no bolso do casaco, abri e tirei uma nota de 100 dólares na esperança de alegrar a menina. Coloquei a nota no chapéu e esperei. A princípio pensei que ela não me vira, então ela voltou a cabeça para o chapéu no chão e suspirou. Eu sorri. Aposto que eu era uma das poucas pessoas, se não a única, a dar-lhe tanto dinheiro. – Obrigada – disse ela olhando para mim. Havia tanta luz nos olhos verdes dela, como se fossem iluminados de dentro. Eu sorri para ela. – Qual seu nome? – perguntei. – Louise – respondeu ela depois de curta pausa. Eu e ela sabíamos que ela não poderia falar comigo, e, de repente, eu estava tão orgulhoso da pequena tentativa dela de demonstrar como era corajosa. Pequena lutadora, pensei comigo mesmo. Não sei porque, mas de alguma forma eu sabia que ela não era como as outras crianças de Paradise. A grande empolgação que pude ver no olhar dela revelava muito mais do que ela imaginava. Pura alegria transparecia pelos traços delicados dela. Sem dúvida, ela ainda tinha esperança de que teria uma vida melhor, diferente, cheia de alegria e de coisas que eram apenas sonho para as crianças do orfanato. Meu coração apertou ao pensar em deixá-la na estação. Ela parecia tão pequena, tão frágil. Nem mesmo o casaco dela de tamanho maior podia protegê- la e aquecê-la. – Louise – repeti devagar. – Que nome lindo. Ela ficou corada. – Obrigada – murmurou ela, baixando os olhos para as mãos. As luvas dela estavam cheias de buracos e parecia que ela as usava há cem anos ou mais, mesmo sendo impossível considerando a pouca idade dela. – Aqui, fique com minhas luvas – disse eu. – As suas não estão boas. Ela hesitou, olhando para os lados com cuidado, obviamente com receio de que alguém de Paradise pudesse vê-la conversando comigo e aceitando meu presente. – Fique com elas, você precisa mais do que eu. Ela assentiu e pegou as luvas. – Você não vai gastar os cem que lhe dei em doces e sorvetes, vai? – Eu sabia que ela poderia nunca fazer aquilo, mesmo que os tutores dela permitissem que ela ficasse com o dinheiro. – Vou comprar um novo cachecol – disse a menina, surpreendendo-me com as palavras. Ela escondeu o dinheiro bem fundo no bolso olhando em volta de novo. Mas havia pessoas demais ao nosso redor, e ninguém ligava para o que ela estava fazendo. – Você tem o suficiente para comprar uma jaqueta nova também – disse eu. – Seguirei seu conselho, senhor. Assenti e olhei de novo para o relógio. – Preciso ir agora. Me promete uma coisa? – Qualquer coisa – disse ela novamente me surpreendendo com sua bravura. – Não deixe ninguém machucar você. – Prometo. – Ótimo. Tenha um ótimo dia, Louise. – O senhor também. Comecei a caminhar para longe dela então parei e olhei para ela uma última vez. Encontrarei você, Louise, disse a mim mesmo. Prometo. *** Eu não consegui para de pensar na menina que eu encontrara na estação. Ela disse que se chamava Louise, e, para mim, pareceu o nome mais diferente do mundo ou talvez, era só porque era o nome dela. Ela era especial de alguma forma, diferente de qualquer um que eu já tenha encontrado na vida. Um anjinho vivendo no inferno, mas com esperança de ganhar asas um dia e voar para longe, para onde nada nem ninguém possa feri-la. A primeira coisa que fiz ao encontrar meu pai aquele dia foi perguntar sobre Paradise. – Existe alguma possibilidade de tirá-la de lá? – Acredito que não, filho. Não podemos ajudá-la. Mesmo que tenha sido mandada para lá por engano, quero dizer, mesmo que os pais dela não estejam pagando para mantê-la lá, Paradise nunca permite que suas crianças saiam de lá antes de completar 18 anos. Está é uma regra que não pode ser quebrada. – O senhor acha que me deixariam vê-la de novo? Eu gostaria de fazer algo por ela, talvez comprar roupas novas. – Bem, você pode tentar falar com a diretora. Mas duvido que mudará a situação. As crianças de Paradise somente podem viver a vida que o lugar oferece a elas, nada além disso. Acho que nunca me sentira tão bravo e perdido. Mas eu decidira tentar a sorte. Fui a Paradise e pedi para conversar com a Diretora. Marlena foi uma cadela. Assim que eu disse que gostaria de ajudar uma das meninas, ela disse que era impossível considerando que todas as crianças deveriam viver nas mesmas condições, sem exceções. – Posso ao menos enviar alguns presentinhos para ela? – perguntei para Marlena. – Pode. Mas lembre-se de que você não pode mandar nada de alto valor. E eu recomendo que seja algo que ela possa compartilhar com os outros. Crianças detestam quando um tem mais do que os outros. – Assenti em resposta. – Vou me lembrar disso. Aquele dia comecei a mandar diferentes presentes para a Louise na esperança de que eles fizessem a vida dela ao menos um pouco mais suportável enquanto ela tinha que ficar naquele lugar abandonado por Deus. Eu não imaginava como era viver uma vida como a dela, mas considerando o que eu vi e o que meu pai me falou sobre a infância dele, não estava nem perto de ser mamão com açúcar. Eu também mandei cartas para ela. Elas eram para fazê-la sorrir, nada além disso. De alguma forma, era importante para mim saber que ela sorria muito, eu só queria que ela fosse feliz, mesmo que sob as terríveiscircunstâncias isso não fosse frequente. Infelizmente a maior parte dos problemas que temos quando adultos estão diretamente ligados ao que suportamos na infância. E eu não queria que o futuro da Louise fosse arruinado pelas memórias da infância dela. Eu sabia que nem meus presentes nem minhas cartas mudariam tudo, mas eu esperava que ela tivesse algo bom, mesmo que pequeno, para se lembrar da sua vida em Paradise. Eu nunca deixei de me preocupar com ela. Ano a ano eu a vi crescer. Depois da morte do meu pai, minha vida mudou. Eu viajava com frequência e não ficava muito tempo em Nova Iorque, mas mesmo quando eu não estava lá eu pedia a Christopher garantir que ela estivesse bem. Ele tirava fotos dela e as enviava para mim. Ele me contou sobre ela quebrar a lei do toque de recolher e sair às escondidas para ir a uma confeitaria comprar doces. Ele me disse que uma vez a viu dançando na estação de trem. Ele estava sem a câmera, mas disse que ela estava muito feliz enquanto dançava, as pessoas paravam para vê-la e dar dinheiro. Ela sempre sorria e agradecia pela gentileza. Christopher também disse que toda noite ao voltar para o orfanato ela pegava o par de luvas em couro preto no bolso e as colocava um pouco. Ela fechava os olhos e sorria. Depois as tirava e escondia na mochila ou no bolso. Ele disse que ela fazia isso mesmo quando estava calor. Eu sorria ao ouvir o que ele dizia, mas não falava para ele que as luvas deviam ser as que eu dera a ela no dia que a vi pela primeira vez. Eu ficava feliz só em saber que ela se lembrava de mim, isso me fazia acreditar que um dia, quando ela pudesse sair de Paradise, eu poderia vê-la de novo, e, talvez, pudesse ajudá-la com os sonhos para o futuro, ou até falar com ela. Eu sempre tive uma sensação estranha que me dizia que minha história com ela ainda não acabara, que haveria um dia quando nós poderíamos nos encontrar num lugar diferente, num mundo diferente em que tudo fosse mais fácil. Ou, talvez, fosse apenas brincadeira da minha mente, eu não sabia. Mas era sedutora a ideia de ver Louise começar uma vida melhor. Eu queria ajudá-la, eu precisava saber que ela conseguira tudo o que não tivera quando criança. Sempre que eu pensava nela eu me lembrava do meu pai, e eu acho que esta era outra razão para eu querer fazer algo bom por ela. Ele não estava mais comigo, mas a lembrança dele era tão viva. Eu me lembrava de cada palavra que ele dissera sobre Paradise e eu prometera a ele que cuidaria da Louise. Eu não podia ajudar a todos em Paradise, até pensei que tivesse dinheiro suficiente para comprar o maldito lugar, com a vadia da Marlena junto, mas eu não sabia nada sobre as outras crianças “presas” lá ou sobre os pais delas. Mas havia ao menos uma criança que eu podia fazer feliz. Louise merecia, e eu a apoiaria quando ela, finalmente, estivesse livre... Capítulo 1 Dias atuais Às vezes passamos toda a vida procurando por alguém capaz de fazer nosso coração bater mais rápido. Vamos a lugares diferentes, encontramos pessoas diferentes e arriscamos. Perdemos e ganhamos. Mas, às vezes, um olhar é suficiente para saber tudo, para ver nosso futuro olhando de volta para nós. E quando acontece, tudo muda, nosso passado, nosso presente e nosso futuro. Mesmo as melhores lembranças parecem desaparecer quando comparadas às que se deseja criar com a pessoa por quem nos apaixonamos, é tão difícil que dói desviar o olhar por uma fração de segundo que seja. Porque no fundo já sabemos que ao começar o momento especial, nada mais será como antes... Era assim com a Louise e eu... Eu nunca teria imaginado que o dia em que nos encontrássemos de novo, quase dez anos depois, eu ainda estaria tão fascinado por ela. Claro que ela não era mais criança, mas uma mulher cheia de graça e beleza ofuscante e que ainda acreditava que o mundo poderia ser modificado com um simples sorriso. Aquela parte dela, a alma frágil com grandes sonhos ainda vivia dentro dela. Nem mesmo os anos passados em Paradise puderam mudar isso. E a única coisa que não consegui mudar era me manter longe dela. Eu dei minha palavra, prometi a ela que não tentaria controlar a vida dela. Eu disse que esperaria por quando tempo ela precisasse para entender o que ela queria para o futuro, e se ela me queria nele... eu esperava, sinceramente, que sim. Eu não tinha o direito de mantê-la ao meu lado sabendo o quanto ela precisava se sentir livre pela primeira vez na vida. Ela nunca tivera o direito de decidir nada. Agora era a vez dela de fazer escolhas. E eu a amava demais para tirar isso dela, mesmo doendo demais deixá-la ir embora depois daqueles momentos maravilhosos que passamos juntos. Eu ainda me lembro do dia que meu mundo mudou completamente. Era tarde da noite em Paris quando apareceu o aviso de um novo e-mail na tela do computador. Era do Christopher, ele sempre enviava e-mails com notícias dos EUA. O coroa era tão viciado em tecnologia, ele dizia que gostava mais da internet do que fazer chamadas, o que não era comum para alguém da idade dele, alguém que passara a melhor parte da juventude sem um celular no bolso. Eu não voltara aos EUA por meses e eu realmente tinha saudade do meu velho amigo que estava comigo desde que eu nascera. Ele era mais do que motorista ou mordomo, depois da trágica morte do meu pai ele se tornou meu segundo pai, meu verdadeiro amigo com quem eu podia conversar sobre qualquer assunto e a única pessoa no mundo em quem eu confiava mais do que em mim mesmo. Havia arquivos anexados ao e-mail. – Ela se tornou uma jovem deslumbrante – leio na única linha escrita no e-mail e abri o primeiro arquivo. Era uma foto da Louise. Christopher nem precisou mencionar de quem ele estava falando, eu sabia que era a garota que eu encontrara anos atrás numa das muitas estações de trem de Nova Iorque. Olhei as fotos e sorri. Ela mudou... Eu não recebia nenhuma foto dela há algum tempo. Christopher dissera que ela está bem, mas naquela noite foi a primeira vez em muito tempo que ele me permitiu vê-la de novo. Ela parecia tão feliz. Quem pensaria que uma moça criada num lugar como Paradise pudesse ser tão feliz. Ela sorria aquele sorriso familiar que eu ainda lembrava de ter visto no rosto dela anos antes. A memória era tão viva em minha mente, como se tivesse sido no dia anterior. – Bonita mesmo – sussurrei olhando as fotos de novo. Eu não conseguia parar de olhar para a nova Louise, a estranha familiar que eu mal podia esperar para conhecer melhor. Como no dia em que nos encontramos pela primeira vez, havia algo nela, algo especial... sobre o modo como o rosto dela se iluminava com os pensamentos secretos passando pela cabeça dela, sobre a forma como ela olhava para a entrada de Paradise segurando uma mala pequena. Ela estava feliz em sair daquele lugar repugnante, sem dúvida. Ela finalmente podia começar vida nova. Peguei meu telefone e liguei para Christopher. – Acredito que tenha recebido meu e-mail – disse ele em vez de me saudar. – Sim, e oi para você também – respondi. – Ela saiu de Paradise, não é? – Hoje de manhã. – Você sabe para onde ela foi? – Não. Mas eu sei que foi enviada para trabalhar num clube para homens. – Faça uma lista de todos os clubes da cidade, eu preciso encontrá-la. – Você está planejando vir para cá para vê-la? – Estou. Houve uma breve pausa no outro lado da linha e então Christopher disse: Eu sabia... eu sabia que você voltaria para Nova Iorque no momento em que enviei as fotos da garota... Eu ri. Meus olhos viajaram para uma das fotos na tela do computador. – Você me faz sentir como se eu fosse um caçador. Mas tudo que quero é... ter certeza de que ela está bem. – Certo... bem,de qualquer forma, senhor, não sabemos onde ela está agora, então eu vou ter que procurar e aviso quando tiver mais informações. Eu ri ainda mais. Christopher raramente me chamava de senhor. Ele só fazia isso quando não aprovava minhas atitudes e, claramente, esta era a razão da ironia escancarada. – Por que você não acredita que minhas intenções são puras? – Eu sei de sua obsessão em protegê-la e ajudá-la. Você tem sido assim todos esses anos, mesmo antes de saber que ela cresceu e se tornou uma bela moça. E eu não disse que suas intenções não possam ser puras... – Certo, então me avise quando encontrá-la, está bem? – Claro, senhor. Dá vez seguinte que recebi outra ligação dele as notícias não estavam nem perto de serem boas. – O que você conseguiu descobrir? – perguntei na esperança de que ele tivesse o endereço de onde eu poderia encontrá-la. – Ainda não sei onde ela está. Não é fácil procurar em todos os clubes de Nova Iorque, você entende isso, certo? – Mas você tem alguma notícia, não tem? Ele jamais me telefonaria sabendo que era madrugada em Paris se não houvesse um bom motivo para me acordar. – Tenho. Mas, receio de que você possa não gostar... – Desembucha, Christopher. Você sabe que detesto esperar. – Certo, então... – Ele hesitou antes de continuar com cuidado. – Há um clube, O Beijo do Dragão, onde viram uma garota com a mesma descrição da Louise. – Essa é uma ótima notícia, não é? – falei empolgado. – Na verdade não... O ponto é que o clube é conhecido por vender as garotas como escravas sexuais... – O quê? – Meu coração parou com o simples pensamento de Louise ser vendida pelo maior lance para outra vida de puro inferno e tortura. – Precisamos ter certeza de que ela não está lá. – Entendo, William. E prometo que descobrirei o mais rápido possível. – Por que você está demorando tanto? Você sempre foi ótimo em encontrar pessoas! – Sim, mas este caso é diferente. Quase todas as garotas que trabalham nesses clubes mudam de nome, o que torna tudo mais complicado. – Bem, não quero saber, Christopher. Preciso encontrá-la, está me ouvindo? – Estou, Will. E logo vamos encontrá-la. – Amanhã. Preciso do endereço dela amanhã e vou pegar o próximo voo para Nova Iorque. Naquela época eu não podia imaginar o que se tornaria meu tour pelos clubes para homens de Nova Iorque. Foi um pesadelo, meu próprio inferno do qual eu achei que nunca sairia. Vasculhei os clubes, um por um. Havia tantas pessoas lá, tantos rostos, eles começaram a ficar embaçados, mas nenhum deles era Louise. Felizmente não a encontramos no Beijo do Dragão, o que foi um alívio. Mas lá havia mais notícias ruins que Christopher me contaria. – Lembra-se do dia que me pediu para descobrir quem eram os pais biológicos dela? – perguntou ele quando estávamos a caminho de outro clube da nossa lista sem fim. – Lembro, você conseguiu encontrá-los? – Em parte. Tenho somente o nome do pai. – Quem é ele? – Você não vai acreditar... Fletcher Montgomery. – Não acredito... o Fletcher Montgomery candidato Democrata à Presidência dos Estados Unidos da América? – O próprio. Naquele momento eu entendi porque a Louise fora criada em Paradise e entendi também tudo o que precisaria fazer para protege-la do que quer que o pai tivesse preparado para ela. Eu tinha certeza de que um homem como o Sr. Montgomery nunca deixaria uma filha ilegítima arruinar a preciosa carreira dele. – Pode ser perigoso – disse Christopher como se lesse meus pensamentos. – Não me importa. Prometi ao meu pai que cuidaria da Louise e não vou quebrar a promessa. E não estou nem aí para quem é o pai dela ou com qualquer outra pessoa, só me preocupo com ela. – E se ela não quiser sua ajuda? Eu não pensara nessa hipótese. Eu estava tão preocupado em encontrá-la que não pensara no que aconteceria se nos encontrássemos de novo. Eu nem pensara na reação dela ao me ver depois de dez anos. Naquele momento eu não sabia que cobriria meu rosto para que ela não soubesse quem eu era. Esta era apenas uma parte do jogo que eu aceitara jogar para o bem dela, o jogo que se tornaria algo muito maior do que uma forma de manter a promessa a meu pai. Eu consegui encontrá-la, certifiquei-me de que ela estivesse bem. Eu a tirei de Le Papillon, o clube para onde ela fora enviada para trabalhar para Drew, que era o tio dela. E, de alguma forma, apaixonei-me por ela no meio do caminho... Desde a primeira vez que ela dançou para mim eu soube que sentia atração por ela. Eu era mais velho que ela, eu deveria ter ficado longe dela e da vida dela, mas não consegui. Eu só pensava em vê-la de novo, em jogar o joguinho do “Sr. Segredos” com ela. Nós dois gostávamos, nos dois curtíamos jogá-lo. E de jeito nenhum que eu queria deixá-la. Mas então, ela me deixou, com nada além de esperança de que eu estaria com ela de novo um dia. Uma batida na porta me trouxe de volta ao aqui e agora, a minha realidade. Olhei distraído para a porta do escritório e disse: – Pode entrar. – Bom dia, senhor – disse Christopher caminhando até minha mesa e colocando nela uma bandeja com uma xícara de café fumegante. – A que devo seu irônico uso da palavra bom, desta vez? – perguntei pegando a xícara. – Fiz algo errado? – Ainda não, mas fará. – Christopher me olhou pensativo e continuou. – O senhor não acha que ela merece saber a verdade? Meu maxilar ficou tenso ao ouvir as palavras dele. Eu sabia exatamente o que ele queria dizer. – É muito cedo, ela não está pronta. – Ela está pronta, William, diferente de você. Suspirei, me levantei e fui em direção à janela para tomar um pouco de ar. Havia algo que eu não tive coragem de falar para Louise. Não nos víamos há quase cinco meses... me deixava louco, mas eu não podia fazer absolutamente nada para mudar isso. Ela sabia que eu estava preocupado com ela, bem como sabia que eu mal podia esperar para vê-la de novo. Mas ela nunca telefonou nem mandou e-mail. Christopher era minha única fonte de informação. Ele continuou cuidando dela. Ela não falava comigo, mas nunca se recusou em atender as ligações dele. Eles até se encontraram algumas vezes quando Louise precisou de ajuda com a mudança para o novo apartamento e para enviar candidaturas às faculdades. Claro que ela se recusou a aceitar minha ajuda. Teimosa. – Você falou com ela sobre mudar-se para minha casa? – perguntei para Christopher. Por semanas eu tentava fazê-lo falar com ela. A corrida para a eleição que o pai dela estava prestes a começar, e eu não tinha dúvida de que ele faria todo o possível para garantir que a filha secreta não se tornasse uma ameaça para o caminho de sucesso. – Você sabe que ela não concordaria em morar com você, pelo menos não até ela querer. – Então faça-a querer! – Virei-me para olhar para o Christopher. – Nós dois sabemos o que vai acontecer se ele ganhar a eleição. – Você acha que ele tentaria algo contra ela? Por quê? E por que agora? Ele teve dezoito anos para cuidar deste “problema”, mas deixou-a viver. Claro que enviar a pobrezinha para Paradise só pode ser chamado de inferno, mas tecnicamente ela ainda está viva e respirando... – Você não entende... Se ele descobrir que ela encontrou a mãe ele não vai descansar até dar um jeito nelas, para manter intacta a reputação dele. Separadas elas são inofensivas, mas juntas... juntas elas têm o poder de arruinar a vida dele, de arruiná-lo. – E é exatamente por isso que eu acho que você deveria dizer toda a verdade a Louise... Ela tem o direito de saber que Sabine é a mão dela. Sabine Cormac era uma dançarina famosa, a dona da melhor escola de dança da cidade, e a mãe da criança que ela nem sabia que existia. Há alguns meses Louise foi até a escola dela, fez uma audição e foi inscrita como nova estudantena Escola de Artes Balero. Ninguém sabia que ela e a Sra. Cormac eram parentes. Isso até um mês atrás quando eu finalmente consegui o nome da mãe biológica da Louise. E aconteceu de ser a ilustre Sabine Cormac. – Você já pensou em como Sabine reagiria se descobrisse que a Louise é a filha dela, aquela que não sobrevivera? – perguntei ao Christopher. – Por dezoito anos ela acreditou que a filha estava morta. – Eu sei. E esta é outra razão para contar a verdade a ambas. – Gostaria de ter a sua certeza... Louise provavelmente vai me odiar por esconder isso dela. – Ela não vai odiar você, Will. Ela ainda o ama. Dei um sorrisinho. – Espero que sim, sinto tanta falta dela... às vezes acho que vou enlouquecer de saudade. Por que ela não me deixa vê-la, uma vez pelo menos? – Porque ela sabe que vê-la nunca será suficiente para você. Ela ainda está tentando se acostumar à nova vida, à liberdade. Ela quer aproveitar isso sem você seguindo cada passo dela, vigiando-a e tentando resolver todo problema para ela. – Mas não é isso que um homem apaixonado faz pela mulher que ama? – É, mas nós dois sabemos como você é superprotetor. E, acredite-me, outro cão de guarda é a última coisa de que ela precisa agora. – Os cães de guarda do Montgomery ainda a seguem? – O tempo todo. – Ela sabe? – Acredito que não. Eles estão se saindo bem me manter-se fora do radar dela. – Mas você ainda os vê em todo lugar. Christopher sorriu satisfeito. – Eu apenas sei o que procurar. Assenti olhando pela janela de novo. A casa tem estado tão solitária sem a Louise. Ela não tivera muito tempo para ficar aqui, mas toda vez que eu entrava no meu quarto e ela não estava lá, eu só queria correr para ela, prendê-la em meus braços e beijá-la do jeito que tenho sonhado por meses e nunca deixá-la ir embora de novo... – E se ela nunca voltar? – Aquela era a pergunta que eu não parara de me fazer desde a manhã em que Louise deixara minha cama, ainda envolvida no perfume dela, e com lembranças da noite que passáramos juntos. – Ela vai voltar, apenas dê a ela algum tempo. Amaldiçoei mentalmente. Tempo... ele tinha se tornado meu pior inimigo. Cada segundo sem Louise parecia uma eternidade. Uma eternidade de pensamentos desordenados e preocupações sem fim com ela. Eu nunca me perdoaria se algo ruim acontecesse a ela. Os dias sem ela eram tão solitários. O que me fazia seguir em frente eram as notícias que Christopher me trazia. Ele me contou do sucesso dela com a dança. Ela até conseguiu dançar o papel principal nas apresentações que a escola dela fez. Ela visitou Le Papillon algumas vezes, ela tinha amigos lá, e participou dos ensaios. Ela não fazia mais parte do time e não participava dos shows, ela fora lá para aperfeiçoar suas habilidades de dança e compartilhar experiências com as meninas que sempre admiraram as apresentações dela. E admiravam a paixão dela pela vida, seu incrível desejo de provar a todos que ela podia realizar os sonhos dela sem a ajuda de ninguém. Eu só esperava que ela ainda me quisesse na vida dela quando os sonhos dela se realizassem, e quando não houvesse mais nada para provar. O telefone do Christopher tocou e eu, instintivamente, virei-me para descobrir quem estava ligando. Quando ele não conseguia cuidar da Louise, ele sempre designava alguém para fazê-lo por ele. – Caleb? – disse Christopher atendendo ao telefone. – Está tudo bem? Ah... entendo. Obrigado por ligar. – O que foi? – perguntei, observando a expressão de preocupação de Christopher. Havia algum problema. – Diga-me. É a Louise? Ele hesitou em responder. Eu engoli seco, com medo de fazer mais perguntas. – Ela está bem? – O carro do Montgomery acabou de parar no estacionamento do prédio dela. Capítulo 2 Louise Cinco meses... fazia cinco meses desde a última vez que eu vira e falara com Will, e parecia muito mais tempo. E quanto mais o tempo passava, mais difícil era para mim continuar afastando-o, e para quê? Tudo para que eu pudesse ser livre, verdadeiramente livre, pela primeira vez em toda minha vida... às vezes ser livre não parecia valer a tortura que eu submetia nos dois, mas eu precisava fazê-lo, não por ele, por mim. Deus sabe que eu nunca quis deixar o Will, mas eu não tinha escolha. Eu não queria fazê-lo sofrer por causa da minha inabilidade de deixar meu passado para trás. Havia coisas que eu precisava cuidar antes de, finalmente, me permitir ser feliz e confiar no Will sem ficar olhando para trás, para minha vida antes dele e sentindo pena de mim mesma. Eu precisava aprender a ser adulta e independente. E mesmo que eu soubesse que eu poderia ligar para ele a qualquer momento, e que ele estaria aqui assim que o telefone tocasse, eu não liguei... nem mesmo uma vez, nem mesmo para ouvir a voz dele que eu ainda podia ouvir sempre que fechava os olhos e deixava minhas lembranças me levarem até ele. A saudade que eu sentia dele não dava para ser expressa em palavras. Não havia um dia em que eu não lutava com a vontade de vê-lo. Às vezes, quando a vontade de estar com ele chegava ao limite e eu telefonaria para ele, de alguma forma, eu conseguia força para não fazê-lo e, em vez disso, eu ligava para o Christopher pedindo a ele para tomar café comigo. Nossas conversar sempre me faziam sentir melhor. Eu perguntava do Will e ele me contava histórias engraçadas da infância dele, ou do que ele estava fazendo agora. Eu queria que Will fosse parte da minha vida de novo. Eu queria contar para ele sobre a escola em que eu entrei, meu primeiro solo, mas mais do que tudo, eu queria que ele me visse dançar de novo. Eu aprendi tantos passos novos desde a última vez que ele me viu dançar, eu queria mostrá-los para a pessoa que eu amava mais que a vida. Foi assim que nossa história começou, com uma dança. E eu queria dançar para ele de novo, iniciar o fogo nos olhos dele que eu sentia tanta falta, saber que ele queria estar comigo de novo, lábio com lábio, pele com pele... Eu até cheguei a pensar em mandar para o inferno meu orgulho e ligar para ele, implorar para ele vir ao meu apartamento e... ficar comigo. Mas aí, volto a realidade e minhas fantasias desaparecem como a lua com o raiar do dia. Percebi que não estou pronta para vê-lo. Eu sabia que assim que ele me prendesse num abraço eu ficaria lá para sempre. E, talvez, este seja o lugar onde eu queira passar o resto da minha vida, mas por enquanto, era cedo para ir para lá. A campainha tocou quebrando meus pensamentos. Verifiquei o relógio na parede e franzi a testa, era 8h30 da manhã. Quem viria me ver assim tão cedo sem avisar? Christopher nunca apareceu à minha porta sem ligar antes, e não havia mais ninguém que eu esperasse ver à porta do meu apartamento num domingo de manhã. As meninas de Le Papillon sempre tinham shows até tarde aos sábados, então elas nunca acordavam tão cedo. Vesti um robe sobre a camiseta – uma do Will que eu pegara da casa dele para ter algo para me lembrar dele – e fui atender a porta. Quando a abri, era um homem que eu nunca vira antes. Tinha por volta dos 40 anos e, mesmo sabendo que nunca o vira, ele me olhou como se já me conhecesse e soubesse tudo sobre mim. Havia dois outros homens vestindo ternos pretos atrás dele, pareciam guarda-costas. – Precisamos conversar – disse o homem entrando. Ele nem parou para ver se eu o queria dentro da minha casa, o que devo dizer, foi meio assustador considerando que ele era um completo estranho. Ele tinha três vezes minha altura e provavelmente, dez vezes mais força que eu. Os dois homens esperaram do lado de fora enquanto ele entrou na minha sala, eles não me deixaram fechar a porta. A primeira coisa que pensei foi sair correndo. Mas aí eu olhei para acara impassível dos guarda-costas bloqueando a saída e percebi que correr não era uma opção. Voltei os olhos para o inesperado convidado. Meu coração disparou, eu estava apavorada, e meu coração sabia tudo sobre ele. Ele parou no meio da sala e olhou em volta, mas não disse nada. Parecia que ele esperava que eu pedisse para sentar ou oferecesse uma xícara de chá. Meu apartamento não era grande, mas era limpo e aconchegante. E eu podia pagar por ele, o que era a maior vantagem do lugar. Além disso, ficava a apenas alguns quarteirões da escola, o que me gerava economia de tempo e estresse evitando o trânsito maravilhoso de Nova Iorque, e eu não me incomodava em caminhar. Meu visitante era alto, cabelos louro-escuro cuidadosamente penteado, e olhos verdes profundos que, de alguma forma, me parecia familiar. – Só pode ser brincadeira... – sussurrei cobrindo a boca com a mão. Fiquei desorientada quando me ocorreu quem aquele homem devia ser. – A que devo a honra de vê-lo logo cedo, papai? Ele deu um risinho forçado, obviamente surpreso que eu tenha notado as semelhanças entre nós. – Pensei que era a hora de nos conhecermos melhor, Louise. Afinal, você é minha filha. Não me diga! Eu sorri o mais educadamente que pude. – Que... – Parei tentando pensar numa palavra apropriada para a atitude e então escolhi a menos ofensiva – atitude de paizão. – Eu não preciso da sua ironia, mocinha. Nós dois sabemos a verdadeira razão da minha visita repentina. – Ah, é? Ajude-me a lembrar, qual é a razão? – Não gostei dele desde o momento que coloquei os olhos nele. Ele se comportou exatamente como eu sempre imaginei que se comportaria. Apesar de que eu nunca imaginei que ele viria me ver, eu estava feliz em saber que minha existência o incomodava e, talvez, o assustava. Claro que eu nunca acreditei que ele estava lá pelo puro amor de pai. – Por que você decidiu sair de Le Papillon? Você não gostava de viver lá? – Quase tanto quanto adorava morar em Paradise – retruquei. – Não estou aqui para discutir com você, Louise. Escondi a verdade sobre sua existência por muito tempo e eu gostaria que continuasse segredo. Sorrindo, cruzei os braços. – Diga-me algo que eu não saiba. – O idiota realmente acredita que eu ia querer chamá-lo de pai? Se sim, ele era mais idiota do que aparentava. – Não me entenda mal, mas você já é adulta e sabe meu nome. Você poderia usar o que sabe contra mim, e esta é a última coisa que eu quero ter que lidar antes das eleições. – Não se preocupe, Sr. Montgomery, já entendi, o senhor nunca quis que eu nascesse. E para sua informação, eu também nunca quis vê-lo. É mais do que suficiente saber que, graças ao senhor, eu passei dezoito anos da minha vida naquele inferno chamado Paradise1. Que nome maravilhoso para um lugar como aquele, certo? Você foi um dos que o escolheu? Não me surpreenderia se fosse. – Paradise foi fundado muito antes de você nascer. E não é tão ruim quanto você acha. – Ah, é? Você experimentou morar lá? Ah, claro que não. Você teve uma vida mais confortável, não é? Por muitas vezes eu tentei imaginar esta conversa. Muitas vezes eu imaginei as palavras que eu diria ao homem que arruinou minha infância, o homem que tirou tudo de mim, até mesmo o direito de viver a vida que eu merecia. Mas agora... agora palavras não parecem suficiente para demonstrar o quanto eu o odeio. Eu o desprezo por tudo que eu tive que passar por sua causa e de sua maldita reputação. – Eu só queria pedir um pequeno favor – disse ele de repente. Eu cai na risada. Um favor? Sério? Eu pensei que o idiota somente soubesse dar ordens, não pedir favores. Os dois guarda-costas se olharam perturbados, obviamente pensando que eu estava maluca. Ah, qual é, eu não ia matar meu caríssimo papai com uma faca de cozinha ou algo assim. Eu adorava demais minha vida para passar o resto dela em outra prisão, e, definitivamente, não por causa do filho da mãe que por acaso é a razão do meu nascimento. – Como eu já disse, Sr. Montgomery, eu não quero ver o senhor, nunca mais. Então, faça-me o favor de sair da minha casa, por favor. Aparentemente ele não esperava que eu fosse grossa com ele. Acho que ele esperava que eu me curvasse e fizesse qualquer coisa para. Isto, provavelmente, é o que as outras pessoas faziam quando ele pedia favores, mas eu não. Ninguém tivera a vida que eu tive, tudo por causa dele. Ele respirou fundo e caminhou em direção à porta, sem dizer nada. Mas havia uma coisa que eu queria perguntar antes dele desaparecer pelo resto da vida. – Quem é ela? – perguntei, na esperança de que ele ao menos tivesse a decência de responder uma simples pergunta. Ele parou, ainda de costas para mim. Sem dúvida ele sabia que eu estava perguntando sobre minha mãe. Agora que eu sabia quem era meu pai, eu tinha certeza de que minha mãe era apenas outra vítima da crueldade dele. Ela não podia ser tão sem coração como ele, podia? NT: 1 Paradise é Paraíso em português. – Por quê? – perguntou ele virando-se devagar. – Você quer encontrá-la? – Eu tenho o direito de saber quem é ela. – Tem sim, mas e se ela também não quiser você? Ai! Golpe baixo. Mas eu consegui sorrir, como eu fizera a maior parte do tempo em que vivi em Paradise, e disse: – Com um filho da mãe, egoísta como você, nenhuma mulher sensata ia querer ter filho. Então imagino que a gravidez foi um acidente, como o relacionamento dela com você. E o que eu penso dela não é da sua conta. Eu só preciso saber o nome dela. É justo depois da vida de merda que eu tive por sua causa, não acha? Ele deu de ombros, indiferente. – Ela morreu, há muitos anos. Eu senti como se tivesse levado uma facada nas contas e que me atravessou direto para o coração. – Você está mentindo – disse eu com a voz trêmula. Eu não estava chorando, e estava muito brava e incrédula. Eu ainda esperava que tivesse algo de bom nele. Obviamente eu estava errada. E eu estava prestes a mudar de ideia e pegar a faca na cozinha, esse cretino não merecia viver. – Pense o que quiser – disse ele com toda a repulsa que tinha pelo lugar e pela filha, também conhecida como eu. – Estou atrasado para uma reunião de negócios, não tenho tempo para ouvir suas lamentações. – Não desejo sucesso ao senhor. Espero que um dia você queime no inferno. Porque se você vencer a eleição este país vai para o inferno, antes de você. – Como ousa falar com... – Sr. Montgomery – disse uma voz familiar por trás dos guardas. – Acho que já está na hora de o senhor voltar para seus deveres no Congresso. – Will avançou ignorando as tentativas dos guarda-costas em pará-lo. – Sr. Blair... que bela surpresa... – Will... – Louise – disse ele com voz severa, atravessando meu pai com um olhar assassino. – Você está bem? – Estou. O senador já está de saída. – Eu estava tão chocada em vê-lo que quase esqueci da presença do meu pai. – Tenha um bom dia – disse papai com os dentes serrados e com os guarda-costas logo atrás dele. Will e eu ficamos nos encarando. Havia tanto que eu queria dizer para ele, mas nenhuma palavra saia. Eu só fiquei olhando, olhando e olhando um pouco mais. Meu Deus, eu me esquecera como o Will parece poderoso. De repente meu apartamento ficou menor do que já era. Ele estava lindo como sempre, vestindo jeans azul escuro e camisa combinando, e jaqueta em couro preta que, de alguma forma, o fez parecer um tanto descuidado. Olhei nos olhos dele e meu corpo todo tremeu, desamparado diante da beleza dele e dos meus sentimentos por ele. Ele se tornara o ar que respiro e cada batida do meu coração. Eu só pensava em me derreter no abraço dele. Senti o cheiro da colônia dele e respirei fundo, deixando que a mistura de madeira e picante me envolvesse. Como na primeira vez que eleme tocou numa das salas de dança de Le Papillon, agora eu podia sentir os toques invisíveis onde quer que os olhos deles parassem, saboreando cada pedacinho do meu corpo. – Temi que fosse tarde demais quando cheguei aqui – disse ele dando um pequeno passo a frente. – Ele não tentou machucar você, tentou? – Will tentou parecer calmo, mas eu pude notar a perturbação na voz dele. Balancei a cabeça ainda incapaz de falar. Os olhos dele percorreram minha roupa, e eu amaldiçoei mentalmente desejando que estivesse vestindo algo mais apropriado para encontrar com o amor que eu não via há meses. O tempo não importava mais. Era como se os longos dias e noites sem ele não existissem mais. Era como se estivéssemos de volta à casa dele, trocando mensagens silenciosas que podiam dizer mais do que palavras. Era como se ele ainda fosse meu, e eu dele... incondicionalmente. Por um momento pensei em tirar o robe e ficar só com a camiseta dele cobrindo meu corpo, mas mudei de ideia por saber que tirar uma peça de roupa terminaria numa conversa que não envolveria palavras, e nenhum de nós estava pronto para este tipo de conversa, e é exatamente por isso que eu precisava pensar em outra coisa. Reprimi meu desejo de correr e abraçá-lo e perguntei: – Quer café? Ele respirou aliviado como se temesse que eu lhe mostraria a porta, e disse: – Sim, por favor. Trocamos outro olhar silencioso, então me virei e fui para a cozinha, esperando não tropeçar e cair no meio do caminho. Aí seria outro momento perfeito na minha manhã ferrada. Minhas pernas pareciam gelatina. Eu não sentia nada além da batida do meu coração ecoando na minha cabeça como uma bateria. Cheguei à cozinha, encontrei a xícara e coloquei café nela. Então abri o açucareiro e... – Boa, sem açúcar na casa. Eu ouvi a risada do Will atrás de mim. – Não se preocupe. Ver você agora é a coisa mais doce que poderia ter me acontecido esta manhã. Senti o pulso acelerando. Com mãos trêmulas, peguei a xícara, virei-me e a entreguei a ele. – Sempre quis vê-la fazer café para mim pela manhã – disse ele pegando a xícara. E os olhos dele... Meu Deus, aqueles eram olhos que nenhuma mulher sã ignoraria ao olharem com tanta adoração e desejo não disfarçado. Entrei em pânico. Muito perto, muito cedo, muito bom para ser verdade... O silêncio dele disse muito mais do que palavras poderiam explicar. Balancei a cabeça e dei um passo para trás. – Por favor, não. – Senti minhas defesas diminuindo a cada respiração perto dele, mas eu não podia perder o controle. Não hoje. – Desculpe – disse ele baixando os olhos para a xícara. – Esqueci as regras. Não definimos nenhuma regra. Ele concordou que eu precisava de tempo. A parte não dita do acordo era sobre não telefonar, não enviar e-mails ou o que quer que fosse que tivesse potencial de nos aproximar. – Você acabou de quebrar a mais importante ao aparecer aqui, então... pouco importa o resto. – Forcei um sorriso na esperança dele não interpretar errado minhas palavras e pensar que não era bem-vindo. Ele era bem-vindo para aparecer e me ver, só não hoje, ou qualquer outro dia. Isto é, até que eu estivesse pronta para estar perto dele de novo. Will tomou uns poucos goles do café e colocou a xícara na mesa da cozinha, atrás dele. – Você precisa de alguma coisa, Louise? Algo em que eu possa... é... ajudar? – Como açúcar? Ele sorriu aquele sorriso familiar que eu via em meus sonhos toda noite, desde o dia que nos encontramos pela última vez. – E isso também – disse ele me olhando de novo com desejo. Deus, havia tanta dor nos lindos olhos dele, como se implorassem para que eu não o evitasse. Isso quase me fez desistir, quase. – Estou bem, Will, de verdade. Você não precisa se preocupar comigo. Sou grandinha, posso cuidar de mim. – Tenho certeza de que pode. É que... estou tentando encontrar uma desculpa para ficar aqui, com você, pelo menos um pouco mais. Ah, se ele soubesse o quanto eu queria que ele ficasse para sempre. – Christopher me contou sobre suas apresentações na escola. Você está gostando das aulas? Assenti valorizando a pergunta. Pelo menos me deu a chance de mudar meus pensamentos para algo mais real do que estar com ele de novo. – Estou, muito. Talvez até mais do que poderia imaginar. – Como vão as coisas em Le Papillon? Drew tem se comportado? – Ah, sim. Tem sim. Você deve tê-lo deixado apavorado. Ele permitiu que eu tenha meu quarto lá e ele sempre pergunta se quero almoçar com ele quando vou visitar as meninas. – Parece que minhas palavras foram mágicas. – O que você disse para ele? Eu nunca o vi ser tão educado e gentil com ninguém como é comigo. – Eu só disse que se ele deixasse acontecer algo com um único fio de cabelo seu, que ele se arrependeria muito. Eu ri. – Isso é sua cara, e para ser honesta...uma parte de mim sente falta da sua supervisão constante. Eu sei que Christopher deve estar contando para você tudo o que acontece na minha vida, e eu gosto de tê-lo por perto e de conversar com ele. Quase me faz esquecer a falta que sinto de conversar com você... – E eu sinto falta de tudo com você, Louise... Aquelas eram as palavras exatas que eu não ousei dizer sobre ele, mas Will sempre fora honesto comigo, mesmo quando não me deixava ver seu rosto, os toques e os beijos diziam tudo por ele. E, sim, mais do que tudo eu queria sentir aqueles lábios perfeitos cobrindo os meus agora. Ele deu um passo a frente e tomou minhas mãos nas dele beijando-as, uma por uma. Era para ser um toque inocente, mas a sensação dos lábios dele na minha pele era familiar demais para eu ignorar. – Eu não quero apressar as coisas, Louise, nem forçar você a ficar comigo. Eu só quero ter certeza de que você ainda me quer na sua vida... – Claro que eu quero. – Resmunguei, mal conseguindo falar. Senti lágrimas embaçando minha visão. Estávamos tão próximos agora, com as mãos se tocando, com o calor dele passando para mim e a ternura dele me arrebatando como uma nuvem invisível. Até esse momento eu não percebera como eu precisava estar com ele, como era insuportável pensar em deixa-lo ir embora. Até esse exato momento eu não percebera o quanto o amava, mais do que pensara que fosse capaz de amar alguém. Inclinei-me para frente e fechei os olhos, sentindo o alento dele na minha testa. Eu estava morrendo de vontade de sentir os lábios dele nos meus, vigorosos e intensos, como sempre. Eu daria tudo para simplesmente mergulhar nos mais doces sonhos que ele sempre sabia criar par mim. Eu teria ficado lá, sem arrependimentos ou preocupações sobre meu futuro. Eu teria deixado o amor dele me levar... era tão fácil imaginar as mãos e os lábios experientes fazendo o melhor para me provocar. Mas nós dois sabíamos que não era possível no momento. – Você está me matando, Louise... – Lamento – sussurrei ainda de olhos fechados. Precisou de muita força para agir de forma controlada, ou ao menos fingir que estava controlada. – Ainda estou esperando por você. – Ele colocou um dedo embaixo do meu queixo me fazendo olhar para ele. – Eu ainda estou esperando por você, esperando você voltar. – Eu sei. – E não me importa se leve uma eternidade, eu esperarei... Capítulo 3 Se eu pensava que minha vida não poderia ficar pior, eu estava errada. Por cinco meses eu dissera a mim mesma que eu podia ficar longe do Will e não me sentir completamente sozinha. Mas depois de nosso encontro inesperado, percebi que era somente mais uma mentira que eu precisava acreditar. Eu não era nada sem ele... Passei todos os dias estudando, ensaiando e dando aulas particulares de dança para crianças na Balero. Mas eu nunca pensei que me sentiria tão para baixo e deprimidadepois de ver Will e ter que dizer adeus de novo. Só Deus sabia quando tempo levaria para eu estar com ele outra vez. Ele foi tão cuidadoso para não dizer nada que poderia me amedrontar e afastar para sempre. Mesmo quando me perguntou sobre morar na casa dele ele tentou não como uma ordem, mas uma simples pergunta. Eu sabia que ele nunca deixaria de se preocupar comigo, então no momento em que eu disse a ele que tinha um compromisso, o que era a mentira que eu escolhi em vez da presença tentadora do Will. Ele disse que tudo bem e dirigiu-se à porta da frente como se fosse um dia qualquer em que nos despediríamos por um breve tempo, e não por quanto tempo precisássemos. Por um momento, a decepção me dominou. Ela vai embora mesmo? Sem um abraço ou um beijo de amigo no rosto? Mas então, ele se virou e voltou para onde eu estava. O que eu mais queria dizer era que ele podia ficar e fazer o que quisesse. – Louise... – Meu nome dito com voz suave acariciou meus lábios. Ele colocou as mãos no meu rosto e puxou mais para perto me envolvendo com um dos braços. – Sei que não deveria fazer isso, mas, danem-se as regras. No segundo seguinte os lábios dele estavam nos meus, ousados e provocativos. Apesar de ter passado o tempo a química entre nós não diminuíra. Ainda estava lá, pulsando entre nós, o tique-taque de uma bomba que podia explodir a qualquer momento, Meus pensamentos aceleraram. Todos os medos que eu estivera tentando sufocar sem ele, sumiram num piscar de olhos como se nunca tivessem existido. Aqui é onde eu sempre quis estar, ao lado dele, nos braços dele. Pela primeira vez em meses, me derreti nos braços dele, deixando rolar... Meu corpo começou a tremer um pouco. O beijo era demais. Tão perfeito, tão familiar, e tão tentador para pará-lo. Quente, doce e apaixonado o suficiente para saber que quando acabasse eu ia querer mais, muito mais do que um beijo. – Pelo amor de Deus, Louise... venha comigo, mão me deixe ir embora, por favor... – É melhor assim... – Meu coração estava disparado pressionado contra o do Will. Eu estava perdendo a batalha e ele sabia. Ele me conhecia bem e sabia que se pressionasse um pouco mais eu diria sim ao que quer que ele tivesse na cabeça. Mas ele não pressionou. Ele me soltou e deu um passo para trás, mantendo o contato visual que era, provavelmente, mais difícil de ignorar do que os lábios dele me beijando com tanto desejo. – Que tal voltarmos a essa... conversa mais tarde? – Ele sorriu com os cantos da boca, triste e misterioso como se soubesse algo que eu não sabia. – Tudo bem. Ele sorriu de novo, mais largo desta vez. – Bom. – Então aproximou-se e deu um beijo suave na minha bochecha, pertinho da boca, de propósito, claro, como se o beijo de antes não fosse suficiente para eu me arrepender da minha decisão de nos manter distantes. – Nos vemos em breve? – Talvez. – Quando? – Pensei que você não queria me apressar. – E eu pensei que você não queria que eu a tocasse ou beijasse... Agora foi injusto. Um para Senhor Segredos, zero para Louise, como sempre. – Eu nunca disse isso – falei um pouco ofendida. – Eu amo você, Louise, sempre amei e sempre amarei. As palavras foram ditas com tanta facilidade, pareceram tão naturais, tão reais. Ninguém me ensinara sobre amor antes do Will. Ele foi a primeira pessoa a me amar e a me fazer acreditar que o amor era bonito, excitante e poderoso. Saber que ele ainda me amava me deu muita força. E isso não tinha preço. – Também amo você, bonitão. Você sabe disso, não sabe? Os lábios dele se retorceram num sorriso muito sexy. – Nunca duvidei. Como sempre, ele foi embora sem se despedir. Ele não gostava de se despedir de mim. E, como sempre, comecei a sentir saudade assim que ele fechou a porta... *** – Oi, Terra chamando Louise – disse Kate. Parece que não era a primeira vez que ela me chamava porque ela também estalou os dedos em frente a meus olhos. – Você está me ouvindo? – Eu estava tão longe pensando no Will que não ouvi uma palavra do que ela dizia. – Desculpe, eu ainda estou passada com tudo que aconteceu hoje de manhã para pensar em qualquer coisa. – Forcei um sorriso e tomei um gole de chá sentindo o calor da mistura de limão e folhas descendo pela minha garganta, acalmando um pouco minha mente. Café era minha bebida preferida, mas quando era para relaxar o corpo e a mente, chá de limão tem efeito rápido. – Qual parte do que aconteceu pela manhã a surpreendeu mais, encontrar seu querido papai babaca ou o beijo do Will? – perguntou Kate. Eu não planejara visitar Le Papillon hoje, mas depois de todo o drama da manhã, eu precisava desabafar com alguém. Em qualquer outro dia eu teria ligado para Christopher, mas considerando que um dos assuntos era ter beijado Will eu decidi que Chrissy, era assim que eu o chamava quando ele não podia me ouvir, não era uma boa escolha. Por isso liguei para Kate. Desde o primeiro momento em que a encontrei no clube eu soube que ela era uma das poucas pessoas no mundo em quem eu poderia confiar. – Honestamente, não sei. Não tenho ideia. – falei, olhando para ela. Estávamos sentadas no café do clube e todas as outras garotas estavam ensaiando, então era um dos raros momentos em que podíamos conversar em particular, sem bisbilhoteiros por perto para fofocar sobre os detalhes depois. O que o Will acha da candidatura do seu pai? Drew disse que o babaca ficou furioso quando soube que você saíra do clube. Ele assumiu que você ficaria aqui, sem fazer perguntas, por pelo menos mais dois anos. O que ele não esperava era que você encontrasse um estranho bonitão e percebesse que podia pensar por si mesma, que não precisava de ninguém para fazê-lo por você. Isso foi que o que mais o irritou, na minha opinião. Will disse que eu devia ter cuidado. Montgomery não estava brincando quando disse que não queria que ninguém descobrisse sobre mim. Will também me pediu para mudar para a casa dele... – O que, eu acho, que é a pior coisa que ele poderia pedir a você, não é? Eu sorri com tristeza. – Bem, como você disse, eu não preciso de ninguém pensando por mim, e ainda estou aprendendo como ser a pessoa independente que eu quero ser. Então, sim, você pode dizer que a oferta foi a pior entre as piores. – Ele ama você, menina, e é natural que ele se preocupe com sua segurança. – Eu sei, mas morar com ele, a esta altura, seria um grande erro e um que, eu sei, me arrependeria. Estou começando a aprender como cuidar de mim mesma, sozinha. Sabe o quanto estou cansada de ter pessoas cuidando de mim o tempo todo? Primeiro foi a Marlena com os malditos rastreadores. Depois o Drew, o Will, e agora os capangas do meu pai. Eu não quero ninguém seguindo cada passo que dou. Eu quero ser livre, Kate. Verdadeiramente livre, e não posso ser livre enquanto todos estão cuidando para que eu não me machuque ou arruíne sua reputação. Gostaria que eles me dessem um tempo, um dia pelo menos. O que parece ser pedir muito. – As pessoas só podem ser livres enquanto estão sozinhas. Porque mesmo que você decida, digamos, ter um cachorro, você já não será mais livre. Você terá obrigações, precisará dedicar seu tempo ao bendito cachorro. E quando você se apaixona, Louise, você nunca será livre, não importa a distância ou o tempo que fique longe da pessoa amada. Seu coração estará sempre onde ele está. É inevitável. – E você acha que que não sei disso? – Então por que você continua afastando o Will? É só por que tem medo de ser controlada de novo? Ou é outro motivo? Diga-me, Lu, você pode me contar tudo, sabe disso. Eu nunca contara a ninguém sobre o outro medo que parece que eu não conseguia acessar. Estava nas profundezas do meu ser, eu temia pensar nele, o que dirá,falar sobre ele com alguém. – Eu nunca tive uma família, Kate... não tenho certeza de que saberei fazer parte de uma. – O quê? Você está maluca, menina? Família não é uma habilidade que você tem ou não! Você não precisa aprender a amar alguém ou ser amada. Isto vem com a vida. E você tem toda a eternidade para viver e aproveitar cada segundo da sua vida. Você quer desperdiçá-la pensando sobre um medo bobo que sua infância deixou em você? – Não, claro que não. Mas eu sei que o Will não quer apenas que eu more com ele. Ele quer uma família, ele quer filhos. E eu não tenho certeza de que poderei ser boa mãe. Eu nunca tive mãe para me mostrar como ser uma ou como amar como uma. Eu não sei o que significa ter pessoas cuidando de mim ou ter aqueles a quem eu deva cuidar. Kate sorriu segurando minhas mãos. – Você sabe isso, Louise. Você tem a nós e talvez não sejamos uma família perfeita, mas isto – ela indicou o clube com a mão, e continuou – é sua casa. Aqui tem pessoas que amam você e, acredite, querida, até o Drew ama você. Ele talvez nunca diga em voz alta, mas ele tem orgulho de você, da sua coragem, da sua força de vontade. Além disso, você tem o William. E tenho certeza de que o gostosão ama muito você, as bolas dele explodem quando você está por perto. E tudo isso define o que é família e o que é amar incondicionalmente, uns cuidando dos outros. É tudo isso ao mesmo tempo. Sério, Lu, pare de pensar bobagens. Olhe para mim, passei muitos anos esperando que o homem que eu amo me amasse também, mas ele não ama. E você tem o homem dos seus sonhos comendo na sua mão. Ele é louco por você, e você o afasta só porque acha que não é boa o suficiente para ele. O que, aliás, é a maior besteira, você é boa o suficiente para ele sim, e eu diria mais, que você é boa até demais para ele. Mas isso pouco importa quando há amor envolvido. Então, de pé, tome coragem e entenda que mesmo que você não possa mudar seu passado ou fingir que sua infância foi perfeita, você pode assumir o controle e fazer que seu futuro seja o melhor possível. Você pode ser uma mulher livre, independente e solitária ou pode realizar seus sonhos agarrando o Sr. Traseiro Sexy Blair, acordar toda manhã ao lado dele pelo resto da sua vida e fazer o que quiser com ele, em vez de estar por sua conta até se tornar uma solteirona que percebe que deveria ter aceitado o conselho maravilhoso quando o recebeu. E agora, não ficar com o cara ainda parece um plano fantástico? – Principalmente a parte de fazer o que quiser com ele. – Exatamente! – Ah, Kate... não sei. Realmente, estou tão confusa. Por um lado, sei que você tem razão que eu deveria mandar meus medos para o inferno e ser feliz, mas, por outro lado, eu sei que nunca poderei aceitar o amor do Will até aprender como me amar e amar minha vida... sem ele. Como posso aprender a amá-lo como ele merece quando eu nem sei me amar como mereço? Acredite, eu quero ser feliz com ele, mais do que tudo na vida, mas, para isso, ele terá que esperar eu vencer a batalha com demônios que ainda sinto dentro de mim. – Só não o faça esperar demais, querida. Ele pode amar você e estar pronto para fazer qualquer coisa por você, mas ele tem sentimentos também e pode começar a duvidar dos seus sentimentos por ele. E eu tenho certeza de que perder Will não fará maravilhas por sua autoestima. Comecei a falar, mas ela ergueu a mão para me parar antes mesmo de eu dizer uma única palavra. – Pense no assunto, ok? Você não precisa decidir mudanças na vida hoje, mas precisa ao menos se dar algum tempo de reflexão antes de dispensar a ideia. – Vou pensar, prometo... Vou pensar em tudo que você disse. – Que bom. Agora acho que seu tio gostaria de vê-la, e eu preciso dar uma olhada nas meninas antes que elas transformem o ensaio numa conversa fiada. Nos vemos na próxima semana? – Claro. Virei para o ensaio do sábado. – Ótimo. Ela sorriu, me deu um beijo e foi embora dando uma piscada para o atendente. O rapaz ficou corado, o que foi bonitinho e engraçado considerando que ele trabalhava num clube onde as dançarinas sempre paqueravam os clientes e colegas de trabalho. Eu nunca o vira antes, provavelmente era novato, o que explicaria a vergonha. Meus pensamentos voltaram para o que Kate dissera. E se ela estiver certa? E se tudo o que eu estava fazendo estivesse errado? E se o Will não quisesse esperar por mim? Não havia como saber quanto tempo eu precisaria ficar sozinha antes de estar pronta para voltar para ele. E se eu nunca conseguisse deixar para trás meus medos? Então tudo que eu fiz seria em vão. Apenas faria Will sofrer e me mataria saber que falhei em amá-lo e em fazê-lo feliz. Ele era um homem maravilhoso, meigo e atencioso. Ele era um homem raro, o tipo que não existe mais. Ele merecia ser feliz. – Louise, minha menina! É um prazer receber você aqui hoje. – Drew me deu um abraço. – Eu não sabia que você viria, ninguém me avisou. E quando a Kate me disse que você estava aqui, fiquei preocupado. Está tudo bem? Espero que seu pai não tenha feito nada que possa me fazer querer matá-lo. Ele fez algo? – Não, mas veio me ver hoje de manhã. Meu relacionamento com Drew não podia ser chamado de familiar, mas ao menos eu sabia que podia confiar nele. Ele, junto com a Kate, fazia parte daquela pequena lista de pessoas na quais eu podia confiar. Ele sempre foi bom para mim, mesmo antes de eu saber que ele era meu tio. – Não acredito que ele teve coragem de procurar você. Conte-me tudo. – Drew se jogou na cadeira perto de mim, agindo como uma colegial esperando ouvir uma fofoca interessante, no entanto, diferente de uma colegial, ele não contaria nada do que ouvisse a ninguém. Ele acenou ao atendente do bar pedindo uísque a espera que eu contasse cada detalhe do meu encontro paternal, ou nem tanto paternal. – Não é um pouco cedo para tomar uísque? – perguntei verificando meu relógio. Era meio-dia, hora de almoçar não de tomar uísque. – Quando se trata de informações sobre meu irmão, só o uísque pode fazer qualquer ação dele parecer menos ruim. Então, ele foi ameaçar você? – Ameaçou com muita classe, eu diria. – Ela não muda. – Dificilmente as pessoas mudam, Drew. E meu pai, definitivamente, não é uma exceção à essa regra. Mas, a boa notícia, Will apareceu a tempo de impedir a briga entre pai e filha. – Seu pai viu o Blair lá? – Viu, por quê? Ele sempre soube da investigação do Will sobre meu passado. Bem como, sabia que foi ele quem fez com que você me deixasse sair do clube. – Mas ele não sabia que o Sr. Blair continuava cuidando de você. Há alguns dias ele veio aqui e me perguntou sobre o relacionamento entre você e o Blair. Mas como não sei quase nada, falei para ele que vocês não estavam mais juntos. O que parece não ser bem verdade... – E não é bem mentira também. Will e eu... bem, digamos que é complicado. – Entendo. O que ele fez quando o William apareceu? – Não fez nada. Foi embora sem dizer nada. Por quê? – Ele não quer que vocês fiquem juntos. – Por quê? Eu não preciso da aprovação dele. A última vez que verifiquei, quando você deixa uma criança num orfanato você perde o direito de aprovar ou desaprovar as decisões dela. Então, qual é o problema? – Sua mãe... Fletcher sabe que o Blair tentou encontrá-la. E a última coisa que ele quer que aconteça é que ela seja encontrada. – Não entendo. Quem que seja minha mãe, tenho certeza de que ela nunca faria nada contra ele. Ela nunca tentou me tirar de Paradise. O silêncio do Drew me deixou preocupada. – Você sabe de algo que eu não sei? – perguntei. – Você sabe quem é minha mãe? Ele sacudiu a cabeça. – Não, eu não sei, mas ese ela não souber que você existe? – Como assim? Eu nasci dela, não é algo que se possa esquecer, é? – E se falaram para ela que você não sobreviveu? Lembro-me do Will me dizer a mesma coisa. Quando tentou encontrar o nome dela ele descobriu uma enfermeira que trabalhava no hospital onde eu nasci e ela disse exatamente o que o Drew estava tentando me dizer agora. Ele continuou. – Uma vez ouvi o Fletcher falando ao telefone com alguém que, obviamente, tinha algo a ver com sua “viagem” ao Paraíso. Ele perguntou sobre sua mãe também, e, pelo que sei, ela nunca soube que você vivera depois do parto. – Isso é loucura. Como ele pode dizer a uma mulher que ele já amou, ou que, ao menos, tenha tido algum sentimento, que o bebê dela morrera? – Você não o conhece, Louise. Seu pai é capaz de muitas coisas, e compaixão não e uma delas. – Então por que você permite que ele concorra à presidência? Você sabe tantas coisas terríveis sobre ele, mas não o impediu. E se ele ganhar? Drew engoliu o resto da bebida e colocou o copo vazio sobre a mesa dizendo: – Porque como todas aquelas pessoas que ele calou, eu temo pela minha vida. Eu não quero terminar num monte de lixo, num dos becos de Nova Iorque. Prefiro ficar de boca fechada a estar morto. As palavras do Drew me lembraram de algo que eu achei que nunca pensaria de novo. Olhei para ele desconfiada. – Por que você disse num monte de lixo? Você sabe algo sobre aquela garota, Isabel, que trabalhou aqui. Você sabe, aquela que foi assassinada e encontrada num monte de lixo. Pude perceber que as mãos dele começaram a tremer. – Não, não sei. Estava falando no sentido figurado. Não quis dizer nada em particular. Drew era uma daquelas pessoas que tinham estampado na cara tudo que pensavam e sentiam. Se estivesse bravo, ele fritaria você vivo, sem aviso, se estivesse nervoso nunca conseguiria esconder. Por isso ele não gostava de poker, ele não conseguia manter a fisionomia natural. Seria possível que ele soubesse algo sobre a morte da Isabel? O algo que ninguém mais no clube sabia? Capítulo 4 Depois da minha conversa para lá de suspeita com o Drew, decidi ir falar com a Tess, também conhecida como Valery. Ela mudara o nome quando começou a trabalhar no Le Papillon. Ela era obcecada por encontrar o assassino da Isabel, então pensei que ela poderia esclarecer algumas coisas. – Pode entrar! – respondeu ela quando bati à porta do quarto. Eu abri a porta e entrei. – Oi, tem um minuto? Ela estava de pé em frente a um espelho enorme, experimentando diferentes roupas para o show à noite. – O que você quer? – perguntou ela jogando um short em couro preto numa pilha de roupas que estavam na cama. Como sempre, o quarto estava um caos e a dona dele não parecia feliz em me ver. Nossa última conversa não acabara bem, então eu não podia culpá-la. – Eu queria perguntar uma coisa sobre a Isabel – falei. Tess virou-se e me olhou desconfiada. – O que você quer saber sobre ela? Ela e a Isabel eram bem próximas e eu tinha certeza de que ela sabia mais do que contara a qualquer um sobre a noite que a pobre moça morreu. – Eu sei que você começou a andar com o Rodger, o dono do Beijo do Dragão, na esperança de que ele usasse os contatos com a polícia para ajudar você a conseguir informação sobre a morte da Isabel. – E? – Uma vez você me disse que não acreditava que o homem que foi preso fosse mesmo o assassino, por quê? O que você sabe, Tess? – Recusei-me a chamá-la de Valery, mas, surpreendentemente, ela nunca me corrigiu. – Por que você quer saber? – perguntou ela me sondando com o olhar. – Não podemos ajudá-la mesmo. – Mas podemos garantir que a justiça seja feita. Ela respirou fundo e foi para o barzinho, pegou uma garrafa e se serviu de uma taça de vinho. – Tenho razões para acreditar que Vincent, o homem que era cliente e amante dela, não a matou. – Tess tomou alguns goles e continuou. – Na noite em que ela morreu, Isabel e eu saímos para beber. Era nosso dia de folga, então ninguém se preocupou por sairmos do clube. Fomos a um dos nossos bares favoritos, mas depois de meia hora ela recebeu uma ligação de um homem que eu não conhecia. Ele disse que queria vê-la, então ela foi. Cerca de uma hora depois ela me enviou uma mensagem dizendo que não voltaria para o clube aquela noite e que eu precisava inventar alguma desculpa. Quando eu perguntei se ela ia ficar com o Vincent ela disse que estava num encontro com outra pessoa. Ela não me disse o nome da pessoa com quem ela estava. A polícia disse que era um amigo do Vincent e que fora por isso que ele a matara, por ciúmes. Mas eu o vi aquela noite. Ele conhecia o bar onde eu e ela gostávamos de ir. Eu já estava de saída quando o vi entrar no bar. Ele não me viu, mas parecia preocupado. Ele foi até o atendente e perguntou pela Isabel. Parecia que ele não conseguia encontrá-la e isso me fez acreditar que ele não a vira aquela noite. Pelo relatório da polícia ela foi morta por volta do horário que eu o vi no bar. – Então por que ele foi preso? Que provas havia contra ele? – Eles disseram que as digitais dele estavam na faca que foi encontrada perto do corpo. Era uma arma, então, naturalmente, eles pensaram que o Vincent havia matado Isabel. – Você contou para alguém que o viu aquela noite? – Falei, mas eles não acreditaram em mim por causa das câmeras na rua onde o corpo foi encontrado mostrando o carro dele deixando a cena do crime. E mesmo que não tenham visto quem dirigia o carro decidiram que ele era o principal suspeito, e o resto você já sabe. – E o rapaz com quem ele falou sobre a Isabel? – O atendente? – É. – Engraçado, o dono do bar disse que o rapaz nunca mais apareceu para o trabalho depois daquela noite. – Hum... estranha coincidência, não acha? – Esqueça, Louise. Ninguém vai reabrir a investigação, mesmo que encontremos dezenas de estranhas coincidências na história. – Por que não? Tess fez um gesto de desamparo e sentou-se numa das cadeiras. – Por que alguém deve ter pagado uma porrada de dinheiro para que fechassem o caso. E, quem quer que seja, é o verdadeiro assassino. – Você tem ideia de quem possa ser? – Pensei que soubesse, mas eu estava errada. Um dos amigos do Rodger é policial, ele também era um dos investigadores do assassinato da Isabel. Oficialmente eu o vi apenas uma vez, mas posso jurar que não foi a primeira vez que o vi. E quando o vi, ele ficou nervoso, como se também me reconhecesse. Mas depois daquele dia, eu nunca mais o vi. Rodger disse que ele foi transferido para Washington. – Você acha que ele é o assassino? – Não sei, mas a reação dele me fez acreditar que ele poderia ser. Uma pena, nunca consegui me lembrar se já o vira mesmo antes. Por que você está perguntando? – Algo me fez lembrar da tragédia e pensei que talvez você tivesse descoberto a verdade. – Infelizmente, não. Não havia mais nada que eu quisesse conversar com o Tess, então a conversa acabara. Eu já ia saindo quando outra pergunta me veio a mente. – O Drew gostava da Isabel? Tess deu um sorriso falso com o copo na boca. – Drew não gosta de ninguém, e ela era só mais uma garota que trabalhava para ele. Eu teria sabido se houvesse algo mais entre eles. – Ok. – Louise? – Sim? – Você está feliz? – perguntou Tess de repente. – Por quê? E não venha me dizer que você se preocupa comigo. Ignorando minha ironia, ela perguntou: – Valeu a pena sair do clube? Não importa o quanto ela, às vezes, fosse uma vaca, eu sabia que Tess queria mais. Talvez não mais roupas e sapatos, mas algo mais. O algo a mais que nenhuma de nós duas nunca tivera, uma família de verdade. E nós duas sabíamos que não seria encontrado em Le Papillon.Apesar de tudo que a Kate falara, amigos nunca poderiam substituir pequenos detalhes que encontrávamos na família, pessoas com o mesmo sangue que a gente. – Eu acho que as pessoas conseguem o que merecem – eu disse. – O que eu tenho hoje vale cada lágrima que derramei enquanto era prisioneira em Paradise. Espero que, um dia, você encontre o que procura, Tess. – Isso quer dizer que você está feliz vivendo sozinha, trabalhando e estudando sem ninguém para conversar quando precisa? Ah, ela sempre soube tocar nos meus pontos fracos. – Tenho tudo de que preciso. – Que sorte – disse Tess com desdém. Ela não acreditara em mim. Ela parecia certa de que minha vida era tão miserável agora quanto era quando vivíamos no orfanato. Eu não queria dizer que ela estava errada, mas ela estava. Minha vida era completamente diferente agora, era melhor e mais feliz... mesmo que eu não pudesse ficar mais tempo com o homem que era a razão da minha felicidade. *** Segunda-feira sempre fora meu dia favorito da semana. A maioria odiava segundas, eu não. Para mim, segunda-feira sempre fora associado a algo novo: novos planos, novas esperanças, novas conquistas. Além disso, eu tinha esperança de que cada dia que eu passava sem o Will me aproximava mais de estar com ele, sem dizer a empolgação que eu sentia sempre que pensava em vê- lo. Havia outra parte da minha vida que eu amava – Bolero. As aulas lá eram a realização de um sonho. E não importava que eu tinha que me esforçar muito para ser metade do que eram as outras estudantes, algumas, se não todas, dançavam a vida toda antes de serem aceitas na escola. Eu nunca tivera aulas formais, só os “shows” enquanto eu estava em Paradise e os em Le Papillon. Tudo o que eu sabia sobre dança vinha da leitura de livros e de programas de TV, mas minhas notas eram muito boas, e minha dança melhorava a cada dia. Eu não poderia viver sem dançar. Me ajudava a manter os pés no chão, aliviava o estresse e me afastava dos meus problemas. Quando eu estava dançando todos os meus pensamentos iam embora e quando a música acabava eu me sentia muito melhor, era pura felicidade em meio ao caos que era minha vida. Além das minhas aulas, eu também estava ocupada dando aulas na Balero para alunos que queriam aulas extras para treinar. Eu não esperava que minha professora, Sr. Crumple, me oferecesse a oportunidade, mas ela disse que eu estava mais do que qualificada para tal. Foi uma surpresa porque eu não me sentia apta a dar aulas a ninguém. Muitos alunos da Balero trabalhavam meio período como instrutores de dança. A escola era uma das melhores na cidade e eu me sentia honrada em ser aluna. Tomei um banho rápido, me vesti e fui para a escola. Era começo de dezembro, uma camada fina de neve cobria o chão. Meus pensamentos voltaram para o tempo em que eu vivia no orfanato. O inverno era a pior época do ano para nós, moradores de Paradise. Nós não tínhamos roupas quentes o suficiente e as que tínhamos mal podiam ser chamadas de roupas, era quase como sair seminua. Detestamos o frio, mas não tínhamos escolha a não ser viver a vida que Paradise nos oferecia. Por isso que cada novo dia da minha liberdade era como uma benção, a maior vantagem dela era que eu não tinha mais que mendigar. Conforme me aproximei da entrada da escola, eu sorri. Voltei o rosto para o estacionamento e percebi que, como sempre, o Christopher estava com o carro parado na vaga mais perto das portas. E, como sempre, ele estava dentro do carro lendo o jornal matinal e bebendo um cappuccino da cafeteria perto da escola, onde todos os estudantes iam. O engraçado é que a presença dele nunca me incomodou. Eu sabia que ele estava lá porque Will não queria me perder de vista, mas ele também sabia que eu ficaria furiosa se visse Will me seguindo. Com o Christopher era diferente. Ele sabia que eu detestava ser seguida então ele sempre ficava “nas sombras”. Mas hoje, decidi quebrar o meu “nem notei seu esconderijo” e fui dizer oi. Fui até onde o carro estava e bati na janela do passageiro. – Bom dia, Louise – disse Christopher saindo do carro. – O que eu fiz para você perceber que eu estava aqui? Eu ri. – É sério? Você realmente acredita que esta é a primeira vez que percebo você aqui? Ele sorriu. – Mas você nunca disse que me vira. – Eu não queria que você pensasse que eu não o queria por perto e estragar o seu plano de me proteger. – E eu continuei fingindo que não sabia que você sabia que eu a estava espionando. Eu ri. – É a cara do Sr. Blair colocar você para me vigiar, principalmente desde que eu não permiti que ele o fizesse. – Will não sabe que estou aqui. – Ah... ele não sabe, então você ficou malandro? – Ele me disse para deixar você mais livre, mas eu me recusei a seguir a ordem dele. Então, sim, suponho que fiquei malandro. Suspirei. – É por causa do meu pai? Você acha que ele pode tentar algo contra mim? – Eu acredito nos meus instintos, Louise, e eles me dizem que em relação ao seu pai, tudo é possível. Então é melhor eu voltar para meu jornal e meu café, se não se importa. Ah, e não diga ao meu chefe que me viu aqui. – Não vou falar. Ele sorriu de novo e virou-se para voltar ao carro, mas eu decidi que não o deixaria ir antes de perguntar algo. – Christopher – eu chamei. – Sim? – Ele está bem? – Eu sempre perguntava para ele se o Will estava bem, mas com tudo o que acontecera no domingo de manhã, a pergunta parecia mais sincera do que o normal. – Um pouco distraído, eu diria. Você sabe o porquê daquela expressão sonhadora que ele tem demonstrado nas últimas 24 horas? Eu ri. – Honestamente, não faço ideia. – Ah... e eu aqui pensando que era porque vocês dois se encontraram ontem. Devo ter me enganado. Claro, ele sabia que nos encontráramos, ele sabia tudo a respeito de nós dois. – Não posso dizer ao certo, porque não falei com ele desde ontem pela manhã. Christopher não comentou, mas eu tinha certeza de que ele sabia tudo o que eu estava pensando naquele momento. Ele era naturalmente muito perceptivo. *** Assim que entrei na sala de aula, vi um envelope na minha mesa. – Alguém sabe o que é isso, ou de onde veio? – perguntei para minhas alunas mirins. Balero também era conhecido por ter aulas de dança para crianças. Evangeline, uma menina de cinco anos com grandes olhos azuis, veio até mim e disse: – Eu não sei o que é, mas foi deixada por um estranho. – Um estranho? – perguntei, surpresa. Por um momento pensei que tivesse sido Will, tentando me lembrar que ele ainda estava vivo e me esperando. Então fui corrigida. – Uma mulher veio aqui há alguns minutos e deixou isso para você – disse Roberto, outro dos meus alunos. Ele era hispano-americano e eu adorava conversar com ele, o sotaque dele era tão bonitinho. – Uma mulher? – Eu repeti as palavras dele, ainda mais surpresa. – Algum de vocês a conhecia? – Eu conheço – disse Pauline, correndo até mim. Ela era uma das minhas dançarinas favoritas, muito talentosa e esforçada, apesar de ser novinha. – Ela sempre vem procurar você, mas não sei porque. E ela me dá medo, parece uma bruxa de um conto de fadas a que o papai e eu assistimos ontem à noite. – Ah, é? Bem, tenho certeza de que quem quer que ela seja, ela não é tão má quanto a bruxa. Ela, alguma vez, falou o que quer comigo? – Não, uma vez ela perguntou se esta era sua sala, e hoje ela trouxe esse envelope para você. – Pauline apontou para minha mesa. – Viu, tem até seu nome nele. Olhei para o envelope preocupada. – Obrigada, pessoal. Preparem-se começaremos em um minuto. – Fui até minha mesa, peguei o envelope e o abri. Puxei um bilhete e o li. Saia dessa escola, o quanto antes, melhor. Mas que diabos? Por que eu precisaria sair da escola? Quem era a mulher que deixou o bilhete? E por queela sempre vinha quando eu não estava? – Pauline? – chamei. – Venha aqui, por favor. Você consegue me descrever a mulher que deixou isso para mim? – Hum... ela era velha, muita velha, igual minha vó, mas de cabeio cinza. E ela tava braba. A cara dela tava amassada. – Como assim, a cara dela estava amassada, por que ela parecia brava? – Acho que ela não queria estar aqui e ela ficava olhando para a porta para ver se vinha alguém. Muito estranho. – Obrigada – eu disse enfiando o bilhete na minha bolsa. Era melhor escondê-lo antes que alguém o encontrasse e lesse. Meu primeiro pensamento foi mostrar para o Christopher, mas mudei de ideia. Quem quer que fosse a mulher misteriosa, ela se certificou de que a mensagem era somente para mim. Nem precisa dizer que eu não consegui parar de pensar no maldito bilhete pelo resto do dia. Eu tinha três aulas para participar, mas no final da segunda algo aconteceu. Recebi outro bilhete, este estava grudado no armário do vestiário. Tenha cuidado, eles estão perto – dizia o bilhete. Estava escrito com a mesma letra do primeiro bilhete, o que me apavorou. Porque quem quer que tivesse enviado significava problema. Ela me queria fora imediatamente... Mais tarde no mesmo dia minha suspeita se confirmou assim que abri a porta do meu apartamento. No chão estava outro envelope. Engoli seco sentindo o coração disparado. Fechei a porta depressa e peguei o maldito envelope rasgando-o para abrir. Você está perto demais do que precisa ser mantido em segredo... a qualquer custo. O quê? O que diabos ela quer dizer com isso? Do que eu cheguei perto demais? Nos últimos cinco meses eu só trabalhei e treinei! Droga, preciso falar com o Will. Mas eu não tinha certeza se queria, pois eu sabia que ele ia querer me trancar na segurança da casa dele antes mesmo de eu ter a chance de contar toda a história. O bilhete era prova suficiente de que eu não estava segura sozinha. Além disso, se eu contar para ele sobre os bilhetes, será que ele também estaria em perigo? Eu não podia contar, eu não o colocaria em riso por causa de alguns pedaços de papel. Pelo menos não até eu saber mais sobre os bilhetes e quem os enviou. Eu decidi ver o que acontecia. Eu queria ver se a mulher tentaria me contatar de novo e se sim, eu teria que descobrir o resto dos detalhes depois. Caso não, não teria problema em não contar ao Will. Capítulo 5 Na terça-feira pela manhã acordei com meu telefone tocando. A chamada era de um número que eu não conhecia. Poderia ser o Will, mas eu ainda não estava pronta para falar com ele. Ele perceberia de imediato que havia algo errado comigo, então ignorei a ligação. Assim que pressionei ignorar, recebi uma mensagem de texto. Era do mesmo número da ligação. Li a mensagem: tenha cuidado quando estiver com William Blair... Agora a vaca fora longe demais. Mesmo que eu tivesse acabado de descobrir que ela estivera na escola perguntando sobre mim para meus alunos, eu estava cheia do jogo que ela estava tentando jogar. – Fique fora da minha vida! – gritei zangada para o telefone olhando para a maldita mensagem. Não que ela pudesse me ouvir, mas me fez sentir melhor. De alguma forma, eu sabia que era a mesma mulher que deixara os bilhetes misteriosos para mim. Era a hora de descobrir quem era ela e o que queria de mim. Liguei para o número da chamada que eu ignorara, coloquei o telefone na orelha e esperei que ela atendesse. Para minha decepção, ninguém atendeu. Então decidi enviar uma mensagem... Para de me seguir e de me procurar ou chamarei a polícia! Como esperado, não veio nenhuma resposta. Eu tinha esperança de que a pessoa por trás dos bilhetes, da ligação e da mensagem de texto entenderia e se afastaria. Eu não sabia nada sobre a anônima que me perseguia... e para ser honesta, nem queria saber. Eu só a queria longe de mim. Eu tive que admitir que sair de casa aquela manhã foi apavorante. Normalmente eu teria ido para a escola a pé, mas peguei um táxi. Eu ficava olhando pela janela toda hora para ver se não estava sendo seguida, mas com todo o trânsito na cidade, era difícil dizer. Menos de dez minutos depois o táxi estacionou na frente da escola. Paguei o taxista e sai do carro devagar. Quando o táxi foi embora olhei para o estacionamento procurando pelo Christopher. Fiquei ainda pior quando não vi o carro dele no lugar de sempre. Estranho, considerando que ele nunca me perdia de vista. Comecei a me preocupar mais ainda. Diferentes medos começaram a borbulhar na minha mente me impossibilitando de pensar direito. Eu estava à beira de um ataque de pânico. Eu precisava me acalmar de alguma maneira. – Louise, você está bem? Me encolhi ao ouvir a voz do Professor Norbert atrás de mim. Ela era meu professor de História da Dança. – Desculpe, senhor. Não está sendo um bom dia. – Lamento, mas posso animá-la. Tenho ótimas notícias para você. – Ah, é? – perguntei sem nenhum entusiasmo na voz. Olhei em volta com cuidado, ainda com medo de que alguém pulasse de trás dos arbustos para me sequestrar ou algo assim. – A Diretora, Sra. Cormac, está voltando de viagem à Europa e ela pediu para falar com você quando ela chegasse. Sabine Cormac era um dos meus ídolos, uma profissional de verdade no mundo da dança. Ela era uma das razões de eu ter me inscrito na Balero. Eu já a conhecia bem antes da minha audição. Eu sempre quis encontrá-la pessoalmente. – Verdade? – perguntei empolgada. Há poucos momentos eu pensara que nada melhoraria meu péssimo humor hoje, mas agora parece que todo o caos desaparecera. Parece que tudo fora um pesadelo e agora eu estava acordada e tudo estava bem de novo. Conhecer a Sabine pessoalmente era a realização de um sonho, e eu não permitiria que o drama arruinasse minha alegria. – Ela estará aqui por volta das 14h amanhã. Você ainda estará por aqui esse horário? – Sim, tenho aula até as 13h30. – Ótimo. Assim que acabar a aula vá ao escritório dela e diga a secretária que eu a enviei para conversar com a Diretora. Eu assenti, mal podendo acreditar que eu, finalmente, teria a oportunidade de conhecer um dos maiores ícones da dança. Ele virou-se para ir embora, mas eu o chamei: – Sr. Norbert? – Sim? – Como ela soube sobre mim? – Ah, eu enviei a ela um vídeo com uma das suas apresentações solo. Ela ficou impressionada com você, e disse que gostaria de conhecê-la pessoalmente. É uma grande honra, Louise. Sabine tem bom olhar para reconhecer talentos. Se ela quer conhecer você significa que muitas mudanças estão vindo em seu caminho. – Espero não desapontar a Sr. Cormac. – Ah, não se preocupe com isso. Tenho certeza de que tudo vai ficar bem. Agora, se me dá licença, está na hora de começar a aula. – Claro, obrigada, senhor. Eu senti como se tivesse ganhado asas e pudesse voar com toda a empolgação que me dominava. Eu não conseguia lembrar da última vez que me sentira tão feliz. Encontrar com o Will não contava. Eu sempre ficava feliz em vê-lo. Mas hoje eu tinha outra razão para acreditar que minha vida ficaria bem melhor daqui para frente. Fui para a aula sorrindo abertamente. Eu não conseguia evitar, eu estava feliz de verdade. Mas minha felicidade não duraria muito. No momento em que entrei na sala de aula eu vi outro envelope sobre a mesa. – Há outra carta, professora. – disse Pauline. – Já estava aqui quando vocês chegaram? – Não, a velha má a trouxe e a deixou aí há um minuto. Larguei a bolsa e corri para o hall esperando alcançar minha mensageira secreta, mas o hall estava vazio. Corri para as escadas que levam ao átrio e vi uma figura feminina dirigindo-se para a saída. Corri atrás dela e quando a mulher estava prestes a desaparecer eu a segurei pela mão. – Não tão rápido, senhora. Ela se viroue olhou para mim com os olhos cheios de terror. Eu soube imediatamente que ela era a mulher que eu estava procurando. – Me solta – disse ela tentando se livrar de mim. Ela tinha por volta de 60 anos, talvez mais velha, com longos cabelos cinza presos num rabo de cavalo bagunçado. Os olhos negros me olhavam com raiva. – Não até responder algumas perguntas – agarrei-a e, literalmente, puxei- a até um sofá que estava perto. Forcei-a a sentar. – Nossa. – Ela fez uma careta esfregando a mão onde eu segurara. – Quem é você? O que você quer de mim? Ela não respondeu. – Responda ou juro que chamarei a polícia e contarei que você tem me seguido. – Peguei o telefone do bolso para ficar bem claro o que eu dizia. – Não precisa – ela sibilou. – Ótimo. Voltemos a minha primeira pergunta. Que é você? – Não importa. O que importa é quem você é Louise Woods. – Ela falou com forte sotaque, espanhol talvez, mas estava claro que ela não era de Nova Iorque. – Como você sabe meu nome? – Sei muito sobre você, Louise. Inclusive seu caso com William Blair. – Não estamos tendo um caso. E o que ele tem a ver com você me perseguir? – Ele não devia tê-la encontrado, não devia tê-la ajudado. Você não entende... por causa dos sentimentos dele por você, acabou colocando a ambos em perigo. – Como assim? – Não posso falar. Tenho tanto medo quanto você. – Por quê? Alguém mandou você me enviar os bilhetes. – Não. Eu fiz isso para ajudar você. – Por que você me disse para sair da escola? A mulher olhou em volta com cuidado, mas estávamos sozinhas, ninguém podia nos ouvir. – Porque aqui não é seguro para você. Este é o último lugar no mundo para você estar. – Por quê? O que tem de tão perigoso aqui? – A resposta para todas as suas perguntas é seu pai. – Fletcher Montgomery? – Sim. Você já sabe que ele nunca quis que você tivesse nascido, mas agora que você não está mais vivendo em Paradise, e ninguém controla você, você é um perigo real para a carreira política dele, sem dizer para a vida pessoal. Você nem imagina como a esposa dele é má. Se não fosse pelo apoio financeiro da família dela, Montgomery nunca teria se tornado quem ele é. Então, ele nunca vai perdoá-la se você arruinar a vida dele. E acredite, Louise, seu relacionamento com o Sr. Blair não ajuda. – O que meu pai tem contra o Will? – Seu querido Will gosta de cavoucar lixo que não deveria ser tocado. – Você pode ser mais específica, por favor? – Eu estava me cansando de conversar com ela. Ela se recusava a responder minhas perguntas e só me dava mais motivo para me preocupar comigo e com o Will. – Pergunte ao William sobre a morte do pai dele. Lembro-me de falar com Christopher sobre a tragédia que aconteceu ao pai de William. O barco dele afundou no mar. – Will não acredita que foi um acidente... o que você sabe a respeito? – Ele está certo. O pai dele foi assassinado. – Por quem? – Eu não sei, mas desconfio... Tentei organizar o que a mulher falou e cheguei a uma estranha conclusão. – Você acha que foi obra do meu pai? – perguntei incrédula. Ela não respondeu. – Fale! Ele matou o pai do Will? Ela levantou, abriu a bolsa e pegou um pedaço de papel pequeno, dobrado. – Eu ia dar isso a você mais depois... mas se você quer saber mais encontre essa pessoa. Eu peguei o papel, desdobrei e li o nome escrito: Debora Griffin. – Quem é ela? – Ela é a mulher que sabe a verdadeira razão da morte do Sr. Blair. E, desculpe-me, Louise, mas isto é tudo que posso falar a você. Mas me escute, pare de vir aqui. Não vai dar certo. – Mas eu não posso simplesmente abandonar Balero. Eu adoro este lugar! É a minha vida. Por que preciso sair daqui? A mulher balançou a cabeça. – Chega de perguntas. Eu já falei demais. Ela se virou para ir embora, mas eu a segurei. – Por que você quer me ajudar? Ela ficou parada recusando-se a olhar para mim. – Por favor, responda. Os olhos dela encontraram os meus e pela primeira vez, desde que a encontrei, ela não pareceu zangada. A feição dela suavizou, os lábios dela se retorceram num sorriso triste que mal se via. – Por que eu sei como sua vida tem sido injusta e, acredite, quando se pensa em vida sendo injusta eu sei tudo. – Então ela caminhou para a porta, e eu não tentei detê-la desta vez. Eu fiquei parada no átrio segurando o papel com o nome de outra desconhecida, sem a menor ideia do que fazer. Claro, eu poderia ligar para o Will e perguntar para ele sobre Debora Griffin, mas então me lembrei das palavras da mulher sobre ele meter o nariz nos segredos que não deviam ser revelados e mudei de ideia. Eu não queria envolvê-lo em outro problema, mas havia uma pessoa que poderia me ajudar a encontrar Debora. Peguei o telefone no bolso de novo e liguei para o Drew. – Preciso de um favor – falei. – Se eu enviar um nome para você, você me consegue o endereço da pessoa? – Posso tentar. – Legal, vou mandar para você. – Ok. – Enviei a mensagem e voltei para a sala onde as crianças me aguardavam. Mais tarde naquele dia, quando voltei para casa entrei na internet e tentei encontrar alguma informação sobre Debora Griffin. Não encontrei nada além de alguns perfis no Facebook com o mesmo nome e que não ajudaram nada. Então, abri o site da campanha do meu pai e verifiquei as fotos. Eu nunca fizera nenhuma pesquisa sobre ele. Eu nunca tentara encontrar mais informação sobre a família dele e outros filhos, mas agora, de repente, eu queria conhecer tudo sobre a vida dele. Não por que eu estivesse com ciúme do que os outros filhos tinham, mas porque eu estava curiosa se as palavras da senhora sobre a relação dele com a morte do pai do Will eram verdadeiras. Em Paradise eu vi como o ciúme arruinou a amizade, como matou a confiança e fez pessoas se odiarem. É por isso que nunca tive ciúme de nada nem de ninguém porque eu percebi que algumas pessoas podem não ter o que eu tive, mesmo que não tenha sido muito. Havia muitas fotos do meu pai e da esposa no site. O nome dela era Stacy. Numa das fotos havia duas garotas, uma de cada lado deles. Conforme o artigo escrito logo abaixo da foto, elas eram minhas irmãs, Audrey e Emerald. O Will tinha razão, elas tinham mais ou menos a minha idade. Por um momento pensei se poderia encontrá-las pessoalmente. O que elas pensariam sobre mim? Será que me odiariam? Ah, sim, provavelmente. Afinal, eu era apenas a filha ilegítima do amado pai delas. Brava, fechei o notebook. Não havia sentido em ficar me torturando com pensamentos de algo poderia nunca acontecer. Meu pai nunca deixaria as outras filhas saberem sobre mim, e eu nunca teria coragem suficiente para tomar a iniciativa. Será que eu preciso conhecê-las? Não, eu não precisava. Não tínhamos nada em comum além de algumas gotas de sangue, graças a nosso pai. Mas aquilo pouco importava considerando que vivíamos em mundos totalmente diferentes, tão distantes. Eu ia para a cozinha pegar café quando ouvi uma batida forte na minha porta. E, quem quer que fosse estava, claramente, bravo. Ele ou ela nem considerou usar a campainha, preferindo bater o máximo possível na minha porta. Fui atender às batidas na porta e assim que abri a porta, Will entrou no apartamento gritando: – O que você está pensando, Louise? Eu olhei para ele, surpresa e preocupada. Ei não me lembrava de ter feito nada que ele pudesse não aprovar ou ficar bravo. – Bem, oi para você também, e não tenho ideia do que você está falando. Poderia explicar? – Ah, sim, claro que vou explicar... Por que você não contou para ninguém que estava sendo seguida? – Por quem, exatamente? Christopher? Os capangas do meu pai, que eu tenho certeza, nunca se cansam de ficar à espreita e contar para ele cada passo que eu dou, o que tomeino café da manhã, e até quais banheiros eu usei na escola... Você se refere a eles, certo? – Não, estou falando da Rea Garcia – disse Will com as mãos nos quadris. – A mulher que a visitou hoje na escola. – Mas, como você... – Como eu soube? Bem, Christopher a viu saindo da escola hoje de manhã. Ele não estava lá quando ela entrou, mas ele chegou quando ela estava saindo. Ele a seguiu e descobriu que ela fora avisar você de algo. Ele não falou muito. É verdade isso? – Sim. Ela disse que estudar na Balero não era seguro e que eu deveria parar de ir lá. – O que mais ela disse? – Mais nada, por quê? Will esfregou a ponta do nariz e respirou fundo algumas vezes, aparentemente tentando se acalmar. – Ela se apresentou? – Não, mas você sabe o nome dela. Como você sabe o nome dela? – Rea é a infermeira da qual falei para você. Ela trabalhou no hospital onde você nasceu. – Ah, meu Deus... pelo menos agora eu sei porque ela me conhecia. – Ela sabe mais do que você imagina, Louise. E é melhor você não encontrar com ela nunca mais. – Por que meu pai pode descobrir que ela veio falar comigo? – Exatamente. No dia em que você nasceu ela prometeu que nunca contaria a ninguém sobre você. Então, eu fui fazer perguntas, e seu pai descobriu que ela era a pessoa que sabia o que acontecera no hospital na noite em que você nasceu. Então, se ele descobrir que ela foi falar com você, ele vai fazer com que ela nunca mais fale com ninguém. – Eu não pensei nisso... achei que ela era alguma cúmplice do meu pai. Nunca imaginaria que ela fosse a enfermeira que ele subornara. – Nossa, Louise, como você não percebeu... quando Christopher me falou que ela procurara você... – Will se aproximou, colocou as mãos em volta de mim me puxando para perto de seu peito. Era tão bom estar envolvida no abraço dele de novo, principalmente depois do dia infernal que eu tivera. – Eu estou bem, não aconteceu nada – falei. – Ainda não sabemos. – Como assim? – Movi-me um pouco para poder ver o rosto dele. – O pessoal do Montgomery está em todo lugar. Se viram Rea entrar na escola, talvez não a vejamos mais. – Ah, não... você sabe onde ela mora? Poderíamos ir lá e levá-la para um lugar seguro. – E isso funcionou muito bem com você, certo? Tenho tentado levar você para morar comigo onde estaria segura, mas você quer ser livre... Você acha que com ela seria diferente? Revirei os olhos, eu sabia que ele estava certo. – Além disso, eu não sei onde ela está morando agora. Christopher a encontrou num bar perto da escola. Ele não pensou em segui-la, então não tenho ideia de onde poderíamos encontrá-la. O lugar onde ela morava foi vendido e os novos donos não sabem nada sobre ela. – O que fazemos então? – Nós não faremos nada, mas eu vou tentar descobrir se o pessoal do Montgomery sabe sobre seu encontro com ela. Além do mais, acho que é hora de você deixar de ser teimosa e ir morar comigo, ou, se preferir, eu venho morar com você. Você escolhe, mas não pode ficar sozinha. Balancei a cabeça e me afastei. Quando eu estava nos braços dele era muito difícil dizer não para qualquer coisa que ele pedisse. – Não posso. Você sabe disso. – Desculpe, Louise. Mas depois do que aconteceu hoje, de jeito nenhum que eu a deixarei sozinha de novo. Então nem tente me impedir de cuidar de você. – Bem, tecnicamente, você nunca parou de cuidar de mim, nós dois sabemos isso. Então o que muda? – Não dá mais, Louise! Talvez você não veja, mas estou enlouquecendo tentando ficar de olho em você e viver minha vida, sem você. O que, admito, mal pode ser chamada vida. É como acordar e cair no sono de novo, viver meu inferno pessoal repetidamente, sabendo que não posso fazer nada para mudar. – Já discutimos isso. – Sim, mas é hora de você parar de inventar desculpas para me evitar. Você sabe, eu sei tudo que acontece em sua vida, então qual o problema de estarmos no mesmo lugar em vez de a quilômetros de distância. Ou você acha que tenho alguma má intenção em pedir para você morar na minha casa? Aquilo me fez sorrir. – Nós dois sabemos que você tem. Ele não sorriu. – Isso é ridículo, Louise. Não importa o quanto eu sinta falta de estar com você, abraçar e fazer amor com você, mas não é por isso que quero tê-la ao meu lado. – Will, por favor, não me force a fazer isso. Ele se aproximou e envolveu meu rosto com as mãos, dizendo suavemente: – Eu nunca forçaria você a fazer o que não quisesse. E, se você quiser, eu vou para um hotel para dar mais espaço para você, mas não posso deixá-la aqui. Não posso deixar nada de mal acontecer com você e eu sei que se eu deixar você sozinha, alguém pode usar isso contra você, contra nós. – Você pode, pelo menos, me dar algum tempo para pensar? – Dez minutos é suficiente? – Ele deu um sorrisinho, acariciando meu rosto com as costas da mão. Deus, era simplesmente impossível estar tão perto dele e ficar fingindo que eu não precisava dele para me sentir feliz, segura, completa, entre outras coisas. Ele era tudo de que eu precisava, tudo que eu sempre quis. – Se eu concordar em ir, você me promete uma coisa? – Qualquer coisa. – respondeu ele sem hesitar. – Mesmo que eu não goste do que quer que você queira que eu prometa. – Bem, para começar, eu ficarei no quarto de hóspede... e você não precisa ficar num hotel, aquela é sua casa e eu nunca faria você sair de lá. – Quarto de hóspede? – Ele pensou um pouco. – Tudo bem, posso conviver com isso. Algo mais? – Sim... você vai confiar em mim? – Mas eu já confio, Louise. Sem precisar prometer. – Eu sei, mas prometa que confiará, não importa o que eu faça. Ele franziu a testa me olhando com atenção. – Só se você prometer que me deixará estar com você, não importa o que você queira fazer ou onde queira ir. – Fechado. – Isso significa que vamos para casa? Assenti. – Você venceu, Sr. Blair. Ele sorriu, satisfeito. – Vamos arrumar suas coisas, então. Capítulo 6 Eu nunca acreditei que viver com o Will seria fácil, considerando que ele ainda não podia se aproximar do meu quarto e eu prometi a mim mesma que mudar para a casa dele não mudaria minhas intenções de construir minha nova vida sem a interferência dele. Nem precisa dizer que fui totalmente ingênua... Menos de duas horas depois de chegarmos senti que estava prestes a enlouquecer. Tudo no bendito lugar era familiar. Trouxe tantas lembranças. Tudo que Will e eu fizéramos lá era vívido em minha mente. Fui me sentindo sem ar, eu estava sufocando com o desejo de sentir os lábios dele nos meus de novo, as mãos experientes me tocando onde eu mais queria me levando a loucura e eu esqueceria meu nome, derretendo em ondas de prazer que só ele sabia me proporcionar. Meu corpo inteiro pegava fogo, e nem o frescor da noite podia me ajudar a refrescar. Eu estava sentada numa cadeira de balanço no terraço esperando que o ar fresco me faria dormir mais rápido. Will estava em algum lugar obviamente tentando manter a promessa de me dar espaço. Amaldiçoei em voz alta. Como seria possível querer espaço e, ao mesmo tempo, não querer espaço entre nós? Amaldiçoei mais vezes. Eu precisava para de sonhar com o Will e focar no que era mais importante no momento, encontrar Debora Griffin e tentar descobrir os segredos que ela também escondia. Levantei e entrei na casa. Meu quarto ficava no andar de cima, mas antes de ir para lá, pensei em fazer uma xícara de chá. Não que eu acreditasse que me ajudaria com meu problema para dormir. Ao menos eu me manteria ocupada com algo que não fosse pensar em acordar o Will e implorar para que realizasse minhas fantasias. O Sr. Bonitão bem sabia como se tornar cada pensamento e desejo meu. Entrei na cozinha e parei no meio do caminho. Will estava lá, vestindo nada além de umatoalha branca enrolada na cintura. Ele estava de costas para mim e não me ouvira entrar, então aproveitei o momento para me deliciar com a vista dos ombros largos e das costas dele com pequenas gotas de água do banho que ele devia ter tomado antes de descer. Meu corpo se contraiu com a lembrança de nossos banhos em Paris. Foram dias maravilhosos quando só importava nós dois, nosso amor. Naquele momento eu não sabia quem ele era, mas eu amava cada segundo com ele, sentindo o calor dele na minha pele e observando o fogo nos lindos olhos dele, os quais era só o que eu via do rosto dele quando ele usava a máscara. Eu até sentia falta daquela parte do nosso joguinho, bem como do mistério que acompanhava cada palavra sussurrada no meu ouvido quando estávamos juntos. Mesmo antes de saber que ele era o estranho do meu passado, eu nunca duvidei que podia confiar nele. – Pare de olhar e venha tomar chá comigo. – Droga... Ele riu. – Você pensou que eu não ouvira você entrar na cozinha? – Ele se virou segurando uma xícara. – Eu sabia que você ainda não estava dormindo – Você também não está – respondi, indo para onde ele estava para fazer chá para mim. Eu estava me esforçando muito para não olhara para a toalha na cintura dele, parecia que estava prestes a cair, o que não ajudava nada. – Estou com dificuldade em dormir esta noite – comentou ele atrás de mim. – Ah... é por isso que você tomou banho no meio da noite? Eu não podia ver o rosto dele, mas podia jurar que ele sabia exatamente onde eu queria chegar. Eu, provavelmente, precisava de um banho frio também. – Nunca é fácil dormir, Louise, sabendo que você não está aqui comigo... mas agora que sei que você está no quarto de hóspedes, ficou pior. Virei-me sorrindo. – Você deveria lamentar ter me feito vir morar aqui. Ele se inclinou apoiando na mesa da cozinha me observando. – Acredite, estou gostando da tortura. – Ah, é? – Tentei esconder o sorriso com a xícara que eu levara a boca, mas acho que Will pode perceber a ironia na minha voz. – É sim, porque eu sei que não vai durar para sempre – disse ele antes de tomar um gole de chá. – Cedo ou tarde quebrarei este muro entre nós e, acredite, Louise, quando acontecer, você não terá para onde correr. Ai, Jesus, eu adorei aquele aviso sexy que pude entender nas entrelinhas. Will sempre foi bom para caramba em me provocar, me excitando em simplesmente olhar para aqueles olhos cheios de desejo. Agora não era exceção. E para piorar, ele estava sexy de enlouquecer. Com prazer eu teria dado uma olhada mais de perto no que a toalha mal escondia. – Acho que é melhor voltarmos para nossos quartos e tentarmos dormir – falei, com medo de pensar muito no que ele dissera e no que eu sentira. Nós dois sabíamos que ele estava certo. Não havia como eu dizer não uma vez que a porta do quarto dele fosse fechada depois de eu entrar. Eu era fraca para resistir ao poder inexplicável que ele tinha sobre mim. – Boa noite, Sr. Blair – falei indo em direção à porta. – Lindos sonhos, Srta. Woods... espero que goste deles. – Agora era a vez dele de rir de mim. – Touché. Eu sabia, naquele momento, que eu não ia pregar os olhos aquela noite. Então sorri e pensei, olhando na direção dele. Você também não vai... Bem feito! Vai ter o que merece por me fazer vir morar aqui com você. – Espero que goste dos seus também – falei antes de sair. – Eu vou, com certeza – ouvi Will dizendo baixinho. *** William Mãos quentes deslizaram no meu peito nu, gerando arrepios de prazer na minha espinha. Abri os olhos e vi os olhos verdes da Louise me fitando. Ela estava no meu quarto, na minha cama, flutuando sobre mim vestindo só uma camisola preta curta, a transparência não deixava muito para eu imaginar. Sem lingerie... Deus me ajude! – Quem pensaria que você mudaria de ideia sobre dividir a cama comigo tão rápido? – comentei ainda observando-a. Ela não se mexeu nem disse nada, mas o olhar dizia tudo. – Venha aqui. – Eu a puxei para que deitasse sobre mim. Envolvi-a com um dos braços para que ficasse quieta. – Não tem para onde correr, lembra? – Eu não ia a lugar nenhum – sussurrou ela sobre meus lábios, varrendo- os com as doces palavras dela. Ela estava de joelhos sobre meus quadris quando pressionou a parte inferior do corpo contra o meu mostrando como estava molhada. A nudez dela tocou a minha da forma mais sensual, me provocando e me implorando. – Tenho esperado por você há tanto tempo, Louise... Cada parte do meu corpo tremia ao pensar no que estávamos prestes a fazer, afinal esse era nosso jogo favorito e resistir não era mais opção para nenhum de nós. Envolvi a nuca dela com os dedos e a puxei mais para perto do meu rosto, afastando um suspiro que mal se ouvia quando nossos lábios se tocaram. Quando ela abriu a boca quente e molhada minha língua deslizou para dentro voraz. Movimentei a mão para cima no pescoço dela e na parte de trás da cabeça, meus dedos se enroscando no cabelo dela, puxando com gentileza. Deus, ela é sempre demais... Ela era a minha fraqueza e a minha força, o melhor e o pior de mim, aprisionando-me e me libertando. Como uma chama num dia quente, meu corpo pegava fogo com o toque dela, ela queimava até as cinzas cada parte de mim. Estremecendo com o desejo de estar dentro dela, envolvi a cintura dela com as mãos e a deslizei para baixo de mim. Tirei a camisola puxando-a pela cabeça. Ela estava nua embaixo de mim, exposta a meus olhos famintos que nunca se cansavam de olhá-la. Ela era sexy e inocente. Meu vulcão entreva em erupção só de olhar para ela. A pele branca fazia o contraste perfeito com meus lençóis de seda pretos, e a luz do luar entrando pela janela a fazia brilhar, tornando a visão ainda mais surreal. Os cabelos loiros espalhados no meu travesseiro como uma auréola sobre a cabeça de um anjo. Ela soltou um gemido alto quando deslizei a mão até o clitóris dela e acaricie com suavidade. Ela arqueou com meu toque, tão sensível... eu quase esquecera como era fácil espalhar o desejo no corpo dela. – Caramba, Louise... você nem imagina como senti falta de vê-la assim. Excitada, pronta, querendo mais. – Sim, eu quero mais – gemeu ela me olhando. – Maaaaiiiisss... – Diga-me o que você quer que eu faça. – Beije-me... lá. – Os olhos dela foram para meus dedos brincando com o clitóris dela, os meus acompanharam. – Como quiser – respondi sorrindo. Curvei-me e dei um beijo nela, depois fiz um caminho com a língua até onde ela me queria. Ele fez mais sons doces, quebrando o silêncio do quarto. Parei com a língua no clitóris dela, circulando-o e depois escorregando entre os lábios até parar na entrada molhada que se apertou esperando meu próximo movimento. Minha cabeça começou a girar. Foder Louise com a língua era a coisa mais excitante que já fizéramos juntos. De alguma forma era mais sensual, mais erótico, mais intoxicante e extraordinário. A doce excitação dela preencheu minha boca fazendo meu pênis pulsar querendo mergulhar para dentro dela. Todo meu corpo ficou tenso ao pensar em entrar fundo na vagina molhada, empurrando para dentro e para fora fazendo-a implorar por mais. Diferente de qualquer outra coisa, eu nunca me cansava de fazer amor com a Louise. Era como experimentar a melhor das drogas quando uma pequena amostra já vicia, sempre ansiando pela próxima dose e enlouquecendo quando não tem. Minhas mãos percorreram as laterais do corpo dela, procurando os mamilos com os dedos. – Ai meu Deus – ela sussurrou esmorecendo. Deixando de lado minhas reservas, eu a suguei e depois me movi para cima cobrindo o corpo dela com o meu, pressionado meus lábios nos dela e permitindo que ela provasse da própria excitação nos meus lábios. – Por favor – falou ela sem ar,interrompendo o beijo. – Por favor, o quê? – Quero você, Will, agora. – Ainda não, linda. – Eu sorri para ela antes de cobrir os lábios delas com os meus uma vez mais. Deslizei um dedo para dentro dela aproveitando a forma como as secreções encharcavam minha mão em questão de segundos. Ela estava para lá de pronta, mas eu queria torturá-la um pouco mais. Ela ergueu os quadris avidamente encontrando meus movimentos rápidos. – Não foi suficiente –avisou ela. – Mais? – perguntei olhando para ela. – Sim. Coloquei outro dedo dentro dela, sentindo que eu estava prestes a gozar antes mesmo de chegar a parte mais interessante. Era uma tortura para mim também, mas eu curti cada segundo, morrendo para dar e receber mais, muito mais. Tive que usar todo meu autocontrole para não fazê-la gozar com meus dedos. Eu sempre adorava observá-la gozar com meu toque. Ela parecia tão desorientada em momentos assim. Era só mais uma lembrança dela que eu nunca conseguiria apagar da minha mente. – Calma, querida – falei desacelerando. Pude sentir que ela estava quase lá, mas eu não queria que acabasse tão rápido. – Quero me juntar a você no seu clímax. – Movimentei os quadris, deslizando para cima e para baixo na vulva quente e úmida, sem penetrar. Os olhos dela colados nos meus. Eu não conseguia mais provocar, eu a queria demais para adiar o momento que ambos esperávamos, por meses. Um gemido de puro prazer preencheu o quarto assim que nossos corpos se uniram num só. Não havia começo nem fim, só o momento de pura alegria, despedaçador e, ao mesmo tempo, que completava. Não dava para expressar em palavras. Não podíamos viver longe um do outro, não existíamos um sem o outro, e agora eu podia ver melhor do que nunca, ela fora feita para mim e eu não queria pertencer a outra que não fosse aquela com quem eu compartilhava essa paixão incontrolável. Eu queria levá-la às alturas onde nada importava, só nós dois, onde poderíamos ficar juntos sem promessas, arrependimentos ou medos... onde podíamos ser completos pelo simples fato de estarmos juntos. Uma onda de adrenalina percorreu meu corpo. Cada estocada ficava mais profunda, mais rápida. Eu perdi o controle sobre o que acontecia entre nós dois. Era forte demais, poderoso e maravilhoso. Eu estava me perdendo nela. A respiração dela acelerou, e a minha também. Gotas de suor brilhavam na pele dela. Ela estava corada, quente e pronta para gozar, e eu também. Eu a penetrei mais fundo sentindo seu retesamento me abraçar. – Agora? – perguntei respirando contra seus lábios inchados. – Sim, por favor. Meus quadris batiam com força contra os dela e ela gritou chamando meu nome repetidas vezes, como uma oração. O orgasmo explodiu preenchendo nosso corpo e nossa mente com alegria inebriante, espirrando em nós como uma cachoeira que fez com que nos rendêssemos à sua força esmagadora, quebrando-nos em milhões de pedacinhos e depois juntando tudo de novo. Meu pênis cresceu lá no fundo, preenchendo Louise com meu amor e satisfação, tão forte, eu nunca sentira aquilo com ninguém além dela. Senti meu corpo estremecer em êxtase. – Amo você, Louise – sussurrei, sem ar, sentindo alívio absoluto me engolindo. Ela beijou suavemente meus lábios, como se bebesse as últimas gotas da bebida mais deliciosa. – Eu também – ela falou sorrindo para mim. E eu, provavelmente nunca conseguiria acordar daquela minha bela fantasia se não fosse pelo maldito despertador... Um sonho... foi só um bendito sonho! Eu gemi em desespero, sentindo o desejo doloroso pulsando sob minha pele. Aquilo já era demais. Louise pagaria pela noite infernal que eu acabara de vivenciar. Joguei o cobertor longe e pulei da cama muito bravo. Eu nem pensei em me vestir, vestia somente a cueca boxer. Abri a porta, cruzei o corredor e entrei no quarto dela sem bater à porta. Ela estava sentada numa cadeira lendo um livro. Ainda vestia pijama, e o cabelo caia nos ombros. – Will? – Ela ficou me olhando com uma pergunta não dita nos olhos encantadores. Ah, aqueles olhos. Entrei no quarto e parei perto da cadeira, dizendo: – Você vai me pagar por toda a maldita tortura que eu tive que suportar por sua causa. – Do que você está falando? – perguntou ela colocando o livro na mesa ao lado dela. – Disso – respondi, puxando-a da cadeira e abraçando-a. Meus lábios apertaram os dela sem aviso prévio. Eu estava ferrado, eu sabia que, provavelmente, não teria o que queria naquele momento, mas pelo menos um beijo eu tinha a intenção de conseguir. Com a língua separei os lábios dela escorregando-a para dentro da doce boca dela num pedido silencioso. Ela não poderia me afastar, não de novo, não agora, quando eu sentia como se fosse perder o controle a qualquer momento. Era difícil demais ficar longe dela e continuar fingindo que estava tudo bem. Não estava, e talvez fosse muito cedo para pedir a ela algo mais que um beijo, mas eu queria que ele soubesse o quanto eu precisava dela. Eu estava cheio de sentir a falta dela. Capítulo 7 Louise Assim que nossos lábios se encontraram eu não pude evitar um gemido de deleite e, talvez, até de alívio. Fazia tanto tempo desde a última vez que Will me beijara daquela forma. Eu quase esquecera como era sentir os lábios desejosos dele nos meus. Ele deslizou a língua voraz contra a minha, sugando com luxúria. Doce tortura, era simplesmente impossível ignorar o desejo ardente que eu sentia claramente se formando por dentro. Não importava quanto tempo o Will e eu ficássemos longe um do outro, nossos sentimentos não acabavam. E agora que estávamos tão próximos de novo, esses sentimentos ganharam ainda mais força transpassando o muro da minha resistência com cada suave movimento que os lábios dele faziam nos meus. Will colocou a mão no meu cabelo deslizando os dedos por ele. Com a outra mão, que estava na parte inferior das minhas costas, ele me pressionou com força contra o corpo dele mostrando como ele estava excitado. Puta merda, eu daria quase tudo para sentir as estocadas do membro dele dentro de mim. E eu estava prestes a falar isso para ele, mas Will tinha outros planos... Ele se afastou, dizendo: – Da próxima vez que decidir invadir meus sonhos esteja pronta para repeti-lo na vida real. – Pela cor dos olhos, ele não parecia estar brincando. Na verdade, ele estava meio bravo, e acho que eu sabia porquê. – Não tenho controle sobre seus sonhos – falei sentando na cadeira atrás de mim. – Ah, tem sim. – Ele se aproximou, curvou-se e colocou as mãos nos braços da cadeira, pairando sobre mim. – Em qualquer outra situação, você estaria deitada, ansiando por mim antes mesmo de ter a chance de entender o que estava acontecendo. E, talvez, não tenha sido uma boa ideia viver sob o mesmo teto, mas eu pretendo ser bem recompensado por cada maldito segundo que tive que manter meus lábios e minhas mãos longe de você, Louise. Está claro? Eu quase ri. – Claríssimo. – Ótimo. Agora se me dá licença, eu preciso tomar um banho. – Ele se virou para sair do quarto, mas meu maldito demônio interior não poderia deixá- lo ir sem dizer algo... – Deixa bem gelado para você se acalmar – brinquei. Peguei meu livro e fingi ler, mesmo que eu não visse uma única palavra escrita nele. – Você está brincando com fogo, Louise. Você não tem medo de incêndio? Eu não olhei para ele, de propósito, claro. – Eu não tenho medo de nada, Sr. Blair. Eu pensei que você já tivesse passado tempo suficiente comigo para saber isso. – Este é o problema, Srta. Woods, nunca fico tempo suficiente com você. Então ele saiu do quarto e fechou a porta. Por um momento, pensei que as paredes do quarto fossem desabar com o barulhão da porta quando foi fechada. Interessante... como é que iríamos morar na mesma casa quando nenhum de nós estava pronto paratal? Quando desci para tomar café, cerca de meia hora depois, Will já estava lá, sentado a mesa, pronto para começar o dia. – Café? – perguntou Christopher entrando no recinto com uma bandeja de prata nas mãos. – Sim, por favor. – Sentei na cadeira do lado aposto ao de Will, o que fez Christopher sorrir. – Problemas no paraíso? – perguntou baixinho enquanto colocava café na minha xícara. A expressão do Will era triste como sempre, o que o deixava ainda mais lindo. Ele vestia terno azul-escuro com gravata combinando e camisa branca. Altivo como sempre. – Acho que o Sr. Blair teve dificuldades para dormir a noite passada – respondi. – Estou bem aqui, sabiam? – bravejou ele. – Posso ouvir tudo o que estão dizendo. – Sabemos disse, senhor – disse Christopher tentando esconder o sorriso. Eu sorri. – Tem sorvete na casa? – Sim, por quê? – Está ficando quente aqui... Will me olhou como que avisando, mas eu ignorei. – Devo ligar o ar condicionado? – perguntou Christopher, fingindo que não sabia o que era aquele clima de “guerra”. – Agora não. Vou para a escola. – Quantas aulas você terá hoje? – perguntou Will indiferente, com cara de paisagem. – Três. E tenho reunião com a diretora da escola à tarde. Will e Christopher trocaram um olhar. Eles devem ter achado que eu não perceberia, mas percebi. – Está tudo bem? – perguntei olhando para um e para outro. – O Christopher leva e trás você da escola – disse Will ignorando minha pergunta. – Não quero ninguém seguindo você de novo. – Então ele limpou os lábios com o guardanapo, colocou-o na mesa e levantou-se. – Will? – chamei. Ele parou na porta. – Sim? – Obrigada. – Pelo quê? – Pela paciência. – Eu não estava zombando dele, mas ele, claramente, entendeu mal minhas palavras. – Não é infinita – respondeu ele saindo rapidamente. Eu suspirei. – Você acha que ele me odeia? Christopher serviu-se de café e sentou-se a minha direita, dizendo: – Tenho certeza de que ele se odeia mais. – Eu não queria vir para cá e atrapalhar a vida dele. – Eu sei. Sua chegada não atrapalhou nada. É que ele a ama demais para ficar fora da sua vida e fingir que não liga. Eu nem soube o que dizer. Então, perguntei outra coisa. – Você acha que temos chance de encontrar Rea? – Por que você quer encontrá-la? – Bem, primeiro para ter certeza de que ela está bem. Segundo... porque ela pode me ajudar a encontrar minha mãe. – Se aceita minha opinião, Louise, eu acho que você deveria esperar passar a eleição. Pessoalmente, não acho que ele será o próximo presidente, mas caso ele seja eleito, você deverá ter ainda mais cuidado com qualquer coisa que possa afetar a reputação dele, incluindo encontrar sua mãe e contar a ela a verdade. – Você acha que ela pode querer contar para todos o que ele fez quando me tirou dela? – Não sabemos como ela reagirá à notícia de que a filha está viva. – Às vezes fico pensando se ela teve outros filhos... – Você gostaria de ter irmãos? – Tecnicamente eu já tenho duas irmãs, mesmo que elas, talvez, nunca saibam que eu existo. – Mas tenho certeza de que sua mãe, seja ela quem for, ficará muito feliz em conhecer você. Quando devemos sair? – Estarei pronta em dez minutos – respondi checando o relógio. – Ok, aguardo você lá fora. Christopher colocou a louça na bandeja e saiu. Eu fiquei sentada a mesa pensando em todos os segredos que existiam em na minha vida. Drew não me ligou de volta, aparentemente ele não tinha informação para me dar, mas eu ainda tinha esperança de que conseguiria descobrir mais sobre a misteriosa Debora Griffin. Levantei, peguei uma maçã da fruteira e fui me trocar. Eu não queria chegar atrasada à aula. Além disso, eu precisava pegar algumas coisas caso a Sra. Cormac quisesse ver uma das minhas danças. Para hoje, a reunião com ela era o mais importante para eu me concentrar. *** – Louise, pode me ajudar com esses trajes? – perguntou Leslie, umas das minhas colegas de classe tentando puxar para dentro da sala um cabideiro enorme com figurinos. – Para que são esses figurinos? – perguntei me apressando para ajudá-la. – Precisamos escolher os figurinos para a competição de dança de salão na sexta. Você tem o que vestir? – Caramba, esqueci completamente da competição. – Com toda a loucura que me cerca, não era surpresa que eu não tivesse lembrado. – Posso pegar um desses emprestado? – Pode, mas não esqueça de devolver. A Sra. Henderson ficara brava se um único precioso vestido desaparecer. Olhei os vestidos e encontrei um que me lembrou de um show no Le Papillon. Era vermelho brilhante com pequenos cristais decorando as mangas e a saia. E havia uma máscara que combinava com o vestido. – Em qual parte da competição você vai participar? – perguntou Leslie olhando o vestido que eu escolhera. – Tango. – Era uma das minhas danças favoritas, sexy, cheia de paixão. – Mas você não pode dançar sozinha, você sabe disso? – Espero que um dos rapazes concorde em dançar comigo. – Diferente dos ensaios, nas competições sempre precisávamos de um par para dançar e, felizmente, havia alguns rapazes no nosso grupo que eram muito bons em dança de salão. – Peça ao Gale para ajudar você. Ele adora o programa latino-americano. – Vou considerá-lo. – Agradeci a Leslie pelo vestido e fui para a sala da diretora. Era quase duas horas, ou seja, quase a hora de conhecer a famosa Sabine Cormac. – Louise Woods, certo? – perguntou a secretária. Fiz que sim com a cabeça. Eu estava um tanto nervosa, não sabia ao certo como agir na presença dela. Seria o pior momento fanática de todos. – Siga-me, por favor. A Sra. Cormac a aguarda. Sem falar nada eu segui a secretária até a sala espaçosa, decorada em tons de marfim e azul. Uma das paredes era coberta de espelhos que refletiam tudo na sala. Eu não esperaria menos de uma dançarina mundialmente famosa. Caminhei até uma das cadeiras perto da mesa da diretora e me sentei. Pouco tempo depois, eu vi abrir uma porta à direita, que eu não notara antes. Sabine entrou na sala, sorrindo para mim e dizendo: – Olá, Louise Woods. Finalmente tenho a oportunidade de conhecer uma das minhas melhores alunas. – Ela era exatamente como naquelas fotos que eu poderia ficar olhando por horas, imaginando a mim mesma sendo uma profissional como ela um dia. Ela tinha por volta de 40 anos, cabelos curtos cor de areia e grandes olhos azuis que eu poderia jurar que viam através de mim. Ela vestia um vestido verde-escuro na altura dos joelhos com um cintinho dourado marcado a cintura fina. Ela estava em forma. Sem dúvida ela passava bastante tempo treinando e dançando. Eu estava tão sem jeito pelas palavras dela que mal consegui dizer algo em resposta. – É uma honra estar aqui e conhecê-la pessoalmente, Sra. Cormac. – Ah, o prazer é todo meu, Louise. Ouvi maravilhas sobre você. Seus professores estão muito satisfeitos em ver que mesmo uma estudante do primeiro ano, como você, pode ser tão bem treinada e talentosa. – Há estudantes que dançam muito melhor que eu – respondi, sentindo meu rosto corar. Sabine sentou-se em sua cadeira em couro e sorriu para mim. – Eu vi um vídeo de uma de suas apresentações. Impressionante, devo dizer. Foi ideia sua combinar dança de cabaré com balé numa mesma dança? – Foi. Eu trabalhei num cabaré. Aprendi muito lá. – Eu não tinha vergonha de contar para ela onde eu trabalhava antes. Não era como se eu dançasse por dinheiro ou dormisse com os homens que assistiam a meus shows. Além disso, eu era muito grata a Kate por tudo que ela me ensinara para menosprezar as lições dela. – Eu adorei sua dança. Deveríamos inclui-la no programa para nosso show de primavera ano que vem. – Ah, meu Deus! Nem sei o que dizer... Obrigada! – Não me agradeça, agradeça a seus pais por criarem uma filha tão talentosa. Eu apenas ajudo os talentos a brilharem.Sorri com tristeza. – Adoraria poder fazer isso, mas não tenho pais. A fisionomia dela entristeceu. – Ah, desculpe, Louise. Eu não sabia. – Tudo bem. Eu nunca tive uma família, cresci num orfanato. – Deve ter sido difícil para você. – Tento não pensar nisso. Ainda sou jovem, e tenho a vida toda para viver e criar novas lembranças. – Fico feliz em saber que você não fica olhando para o passado, Louise. Às vezes é melhor focar no futuro do que deixar o passado desanimar você. Mais tristeza surgiu no rosto dela. Fiquei pensando se havia algo no passado dela que ela desejasse mudar. – Concordo totalmente, Sra. Cormac. Aposto que seus filhos adoram dançar mais que tudo. Ela balançou a cabeça baixando os olhos. – Bem que eu gostaria... mas meu marido e eu não temos filhos. – Desculpe, eu não sabia. – Tudo bem. Todos temos algo do qual preferimos não falar, não é? Assenti, sentindo-me tola. Eu deveria ter pensado duas vezes antes de falar sobre a família dela. Afinal, eu nunca lera nada sobre a vida pessoal dela, a maioria dos artigos falavam da carreira e dos sacrifícios para ser uma dançarina profissional. – Por que não falamos de algo mais alegre? – perguntou Sabine. – Você gosta de dar aulas para as crianças? – Gosto muito. – Espero que eles não a façam se arrepender de ser dançarina. – Ela riu. – Não, de forma alguma. Muito pelo contrário, olho para eles e lembro de mim na idade deles. Eu sempre amei dançar, não sei porque. Talvez algum dos meus pais inexistentes era dançarino, quem sabe? – Tudo é possível. Pessoalmente acredito que os genes do talento passam de uma geração para outra. É que, às vezes, nos interessamos por coisas diferentes do que nossos pais e avós se interessaram. Então, diga-me, Louise, quais são seus planos para o futuro? Vai continuar dançando depois que se formar? – Espero que sim. Espero poder viajar e aprender mais sobre as danças de outros países. E, claro, quero que a dança seja meu futuro. – Você gostaria de ficar aqui, quero dizer, depois da formatura e fazer parte do corpo de baile? – A senhora está falando sério? Fazer parte do corpo de baile da Balero é... meu Deus! É como a melhor coisa que já me aconteceu! – Eles viajam muito e sempre aprendem algo novo. Tenho certeza de que você vai adorar fazer parte do grupo. – Mas... a senhora acha que eu vou ficar tão boa quanto eles são? Sabine sorriu. – Tenho olhos para identificar talentos, Louise. Nunca erro quando se trata de reconhecer os verdadeiros. – Então, sim, eu ficaria muito feliz de fazer parte do corpo de baile um dia. – Ótimo. Isso significa que teremos mais uma pessoa talentosa no time. Três anos... eu só tinha que esperar mais três anos para viver o sonho que eu nunca poderia imaginar que se realizaria. – Claro que você vai trabalhar muito – disse Sabine. – Isso não é problema. Ela riu. – Sabe de uma coisa? Olho para você, Louise, e me vejo 20 anos atrás, quando eu estava bem no início da carreira de dançarina. Eu não via nada nem ninguém ao meu redor, estava focada em novas ideias para meus shows, mal tinha tempo de respirar. Ah, se ela soubesse como entendia o que ela estava falando. Passei cinco meses treinando feito louca. E, claro, se não fosse pelo Will e meu desejo louco de vê-lo de novo, eu, provavelmente, daria um tempo e me divertiria fora da escola. Mas eu precisava de algo para não pensar no Will e a dança pareceu o motivo perfeito. Eu nunca parei de pensar nele. Cada nova dança que eu criava, era para ele. E sempre que eu estava dançando eu o imaginava me assistindo, como na primeira noite que nos encontramos em Le Papillon. – Espero que tenhamos outras oportunidades de conversar, Louise. Estou planejando ficar nos Estados Unidos pelos próximos dois meses, então, vejo você num dos seus ensaios. – Claro – falei me levantando. – E, de novo, obrigada pela proposta, Sra. Cormac. – Tenha um bom dia, Louise. Capítulo 8 Palavras não eram suficientes para descrever como eu estava feliz depois da reunião com Sabine Cormac. Sem contar a empolgação só de pensar em dançar com os melhores da Balero. Era melhor do que a realização do melhor sonho meu. Para uma criança de Paradise, como eu, era algo além do entendimento, bom demais para ser verdade, mas tão real ao mesmo tempo. E eu não deixaria aquela realidade se perder ou mesmo desistiria dela. – Parece que você não consegue parar de sorrir, Louise – disse Christopher me observando pelo espelho retrovisor. – O que foi? – Estávamos a caminho de casa, mas eu estava tão perdida nos pensamentos sobre o dia que não percebi de imediato que ele falava comigo. Depois de um tempo, eu disse: – Lembra que comentei sobre a reunião hoje com a diretora da escola? Então, foi melhor do que eu poderia imaginar. Sabine é uma pessoa maravilhosa. E uma linda mulher, entre outras coisas. – Que pena que ela não tinha filhos para deixar seu legado ou mesmo passar a beleza e o talento. – Então você gostou dela? – Ah, sim, gostei. Na verdade, nunca pensei que seria tão fácil conversar com alguém famoso. Em nenhum momento ela me fez sentir que, de alguma maneira, eu era menos estudada ou menos experiente do que ela. Ela conversou comigo como se fossemos iguais, como amigas mesmo. – Bem, isso é ótimo, não é? – Acho que sim. Bem, não é como se, de repente, fossemos melhores amigas, mas algo me diz que posso confiar nela. Sabe, não tenho muitas pessoas em quem confiar. – Tenho certeza de que você pode confiar nela. Eu pesquisei sobre ela... mesmo antes de você receber a carta oficial dizendo que fora aceita na escola. Franzi a testa. – Sabe, Christopher, é desagradável saber que você sempre está um passo à frente. Como você faz isso? – Gosto de confiar nas pessoas que tenho por perto. Assim como aquelas pessoas de quem gosto. As palavras dele me fizeram lembrar de algo. – Acho que esta é uma das coisas que você e o pai do Will tem em comum – comentei. Eu sabia que ele entenderia de imediato se eu tentasse descobrir algo sobre o acidente que acontecera anos antes, mas eu poderia ao menos tentar fazer com que minhas perguntas parecem simples curiosidade. Christopher suspirou. – Eu e ele tínhamos muito em comum. Ele confiava em mim, e eu sabia que sempre poderia contar com ele. Ele era um homem de palavra, honesto e muito responsável. Ele nunca demitiu ninguém sem uma boa razão. E, mesmo que demitisse, ela se certificava de que a pessoa tivesse outro trabalho em vista antes. – Will não me contou muito sobre a família dele. Por que a mãe dele decidiu mudar para a Europa? – Quando William era criança, o pai dele não tinha muito tempo para ficar com a família. Ele os amava, mas o trabalho e as obrigações como presidente da empresa demandavam toda a atenção dele, então Will e a Sra. Blair não tinham escolha a não ser se acostumarem a viver sem ele. Algumas poucas horas por semana não podiam ser chamadas de vida normal em família. Eu sei que Angela não gostava da situação, mas ela amava o marido e percebeu que tudo que ele fazia era por ela e pelo filho deles. Mas depois da tragédia ela não suportou a ideia de continuar morando nos Estados Unidos. Ela estava desolada. Ela detestava a casa e tudo que a fazia lembrar do amor da vida que, de uma hora para outra, se fora para sempre. Ela decidiu ir para onde as lembranças não seriam tão dolorosas. Ela morou na Itália por alguns anos, depois mudou para Paris e agora mora em Barcelona. Ela não gosta de ficar no mesmo lugar muito tempo. Eu nunca pensara no assunto, mas outra dúvida surgiu em minha mente. – Você acha que ela aprovará que o filho esteja com alguém como eu? – perguntei, com receio de ouvir a resposta. Eu sabia tão pouco sobre a mulher que criara Will, mas como qualquer outra mãe, eu tinhacerteza de que ela tinha a imagem da esposa ideal para o filho. – Com alguém como você? – Christopher repetiu minhas palavras, estacionando o carro na casa. – Você é uma pessoa maravilhosa, Louise. E você faz Will feliz, o que é o que importa para Angela. Ela sempre disse que os pais falham se os filhos não são felizes. – Mas nem sempre cabe aos pais garantir que seus filhos sejam felizes, principalmente quando já são adultos e já saíram de casa. – Verdade, mas o que se vive quando criança forma o adulto que você será. Felizmente, sua personalidade não foi afetada pela vida que você teve em Paradise. Tenho certeza de que Angela verá isso também. – Espero. Eu não gostaria que ela e Will brigassem por minha causa. – Algo me dizia que Will não quebraria o vínculo comigo de bom grado. Eu só não sabia se essa era boa ou má notícia. Nossa vida era tão complicada e, às vezes, eu achava que era eu quem complicava... Christopher desligou o motor, saiu do carro e deu a volta para abrir a porta para mim, dizendo: – A único assunto pelo qual Will e a mãe discutiram era a dedicação dele aos negócios do pai. Angela não quer que o único filho passe o resto da vida perseguindo algo que não pode fazer uma pessoa feliz. Ela acredita que dinheiro e poder arruínam tudo. Por isso eu tenho certeza de que ela vai gostar de você. Sobretudo, depois de ver o modo como o filho olha para você. Suspirei ao lembrar daqueles momentos em que flagrei Will me olhando. Sempre havia tanto amor no olhar dele, tanta adoração, até certa dependência. Às vezes me assustava. Eu ainda não sabia como nossa história acabaria. Quanto mais passava o tempo desde nosso primeiro dia de “vida independente”, menos eu tinha certeza se estava pronta para ficar com William. Ele, sem dúvida, era o homem dos sonhos de qualquer mulher, inclusive dos meus. Só que eu não sabia viver aquele sonho sem me perder no meio do caminho. Isso eu não podia deixar acontecer, não depois dos anos que passei no orfanato onde personalidade não valia nada. Lá, todos eram iguais, ninguém tinha o direito de ser diferente, de ser melhor que os outros. Havia algo mais em que eu sempre pensava. Eu nunca perguntara a Will sobre as ex-namoradas dele. Eu não sabia que tipo de mulher ele gostava. Por um lado, eu estava muito empolgada de saber que ele preferia a mim a quem quer que tivesse namorado antes. Mas, por outro lado, eu não tinha muita certeza de que eu era a garota certa para ele. E “garota” era a palavra chave. Mesmo que nunca tenhamos falado sobre nossa diferença de idade, em momentos como o de agora, eu sentia como se fosse uma barreira enorme no caminho para nosso final feliz. – Will está em casa? – perguntei para o Christopher. Não havia luz na casa. – Acredito que sim, olha o carro dele. – Ele apontou para a garagem. Preciso ver o Will. Talvez ele esteja bravo comigo pelo que aconteceu pela manhã, mas eu quero falar com ele. Quero perguntar como foi o dia dele e aproveitar para ficar alguns minutos na companhia convidativa dele. Era bem difícil resistir a ele, especialmente agora que eu sabia que havia pouca distância entre nós. Entrei na casa e ouvi música vindo do escritório do Will. Aproximei-me e ouvi a música. Era a que tocara quando eu dancei para ele em nossa última noite juntos. A música trouxe muitas lembranças excitantes a minha mente. Cada toque e cada beijo que recebi dele aquela noite queimava na minha memória, torturando-me, fazendo meu coração sangrar quando ele não estava comigo. Desnecessário dizer que, eu ainda o desejava ardentemente, talvez até mais do que quando nos encontramos pela primeira vez meses atrás. E pensar que ele seguira os acontecimentos da minha vida por anos e garantindo que nada de ruim me acontecesse só fez meus sentimentos por ele aumentarem. Talvez fosse só porque eu nunca tivera alguém que se preocupasse comigo, de verdade, sem intenções secretas ou planos para meu futuro. Ele fez tudo por generosidade que, de alguma forma, transformou-se em amor incondicional. Eu nunca imaginei que o amor de um homem por uma mulher pudesse ser tão puro e infinito. Quando a música acabou, eu bati à porta que estava entreaberta. – Oi, posso entrar? – perguntei, vendo Will sentando no sofá com um copo de uísque na mão. Ele ainda vestia a mesma camisa da manhã. O paletó e a gravata estavam pendurados no encosto do sofá. Ele parecia cansado, bem cansado. Ou, talvez, ele só estivesse triste, e acho que eu sabia a razão, ou melhor, quem era a razão. – Venha aqui – disse ele, esticando uma mão para mim. – Quer beber algo? – Não, obrigada. Eu só queria ver você. Sentei-me ao lado dele, ele colocou o braço no meu ombro e me puxou para perto, beijando minha cabeça. – Como foi seu dia? – Ele perguntou baixinho. Outra música começou preenchendo o espaço. Era uma música lenta e bonita, fez-me lembrar do conto de fada com um príncipe e uma princesa caminhando no campo num dia de sol, de mãos dadas e cantando. – Foi bom, ótimo, na verdade. – Inclinei-me um pouco mais para perto dele, passando um braço pela cintura e repousando a cabeça no peito dele. Eu podia ouvir cada batida do coração dele. – O que houve de ótimo? – perguntou ele passando a mão para cima e para baixo nas minhas costas. Foi um momento tão tranquilo. Tão diferente do humor tempestuoso e dos beijos enlouquecidos que tivéramos pela manhã. – Finalmente conheci Sabine Cormac, e foi... um dos melhores momentos de toda minha vida. O peito do Will subiu e desceu embaixo da minha bochecha. – Você gostou dela? – ele perguntou. Talvez eu estivesse imaginando coisas, mas posso jurar que senti preocupação nas palavras dele. – Gostei muito – eu disse, curtindo o cheiro do perfume dele. – Ela é maravilhosa, e muito gentil. Ela não tem filhos, acredita? O corpo do Will ficou tenso com minhas palavras. Olhei para ele, mas o semblante não dizia nada. – O que foi? – perguntei, confusa. Ele forçou um sorriso. Eu sempre sabia quando era forçado. – Nada, só não tive o melhor dos dias. – Então ele me beijou de novo, na testa desta vez e me puxou para um abraço. – Foi ruim por minha causa? – ousei perguntar. Eu sabia que não era fácil para ele estar me vendo agora. Eu sabia que ele estava prestes a perder a paciência comigo. Eu podia sentir, na verdade, principalmente depois do beijo que ele me dera pela manhã. – Não, você torna meus dias melhores. Eu tinha duvidas se ele estava sendo honesto comigo. – Posso ir embora se você quiser – falei. – Não, Louise. Você fica aqui. Mesmo que eu precise ficar sozinho eu prefiro ir para um hotel a permitir que alguém fique seguindo você, ou pior, machuque você. Além disso, como eu já disse, você não tem nada a ver com meu mau humor. – Problemas no trabalho? – Não exatamente... – Ele suspirou de novo. – Há dezoito anos eu entrava pela primeira vez no escritório do meu pai. Aquele dia mudou minha vida. Mudou tudo para mim, mudou a mim. – Você sente falta dele? – O tempo todo... Eu gostaria de dizer o mesmo pelo menos sobre um dos meus pais. Mas eu nunca soube o que era ter pais. Eu não conhecia nada sobre o amor que outras crianças recebiam dos pais. Eu nem imaginava o que era sentir falta de um familiar. – Sabe, aconteceu algo estranho hoje, durante minha conversa com a Sabine. – Movimentei-me para poder ver o rosto dele e continuei. – Houve um momento em que eu estava olhando para ela me peguei pensando em minha mãe, sobre as coisas que poderíamos fazer juntas, como: cozinhar, decorar a árvore de Natal ou simplesmente conversar tomando uma xícara de chá. Estranho, não é? Eu não sei por que, mas, de repente, comecei a pensar nela. Talvez porque eu imaginei alguém comoSabine sendo minha mãe, linda, meiga e atenciosa. Alguém que me amaria pelo que eu sou, e não pelo que posso ser quando danço. – Ah, Louise, querida... você sabe que eu amo você, certo? Eu sorri para ele. – Claro que sei. – Eu a amo por quem você é, por tudo que você significa para mim, e isso nunca vai mudar. – Ele desenhou uma linha com o dedo no meu queixo, e todo meu corpo tremeu. – Beije-me – eu disse de repente, minhas palavras surpreendendo a nós dois. – Beije-me como você fez na noite que eu dancei para você aqui nesta casa, no seu quarto. Ele fechou os olhos balançando a cabeça. – Não posso, não posso porque não vou conseguir parar só no beijo, Louise. Não depois de saborear a doçura dos seus lábios de novo. Aquele beijo hoje de manhã... você nem imagina como eu estava perto de perder o controle. Ficar longe de você, sonhar com você e não poder nem beijar você, é tortura. Você não entende... – Eu entendo – eu disse, tocando o rosto dele com a mão. – Deus sabe que você não é o único sendo torturado aqui. – Então por que ainda estamos vestidos? Eu ri. – Conversando? – Não? Sério, Srta. Óbvio? De verdade, Louise, qual é o problema em fazer amor comigo? – Aí é que está, Will, não há problema algum. O problema mesmo vem depois, quando eu acordo no seu quarto, na sua cama, com você ao meu lado... eu não conseguiria ir embora. – Ir embora? É isso que você vai fazer, de novo? – Não, mas... é complicado. Abaixei a mão e me afastei dele. Que pena, não havia meio de me esconder do olhar penetrante dele. Eu podia sentir a força sem nem ao menos olhar para ele. – Você sabe que não existe nada melhor para mim do que ficar para sempre com você, deixar você me fazer feliz, esquecer meu passado e seguir em frente para o novo mundo em que eu não precisaria fugir ou pedir que você fique longe de mim. – Então deixa para lá, Louise, deixe tudo para lá e fica comigo. – Ele se aproximou e tomou minhas mãos nas dele, dizendo: – Não consigo imaginar minha vida sem você, não depois de tudo que vivemos juntos. Não sei o que me levou a agir, mas os olhos do Will imploravam, meu coração ficou apertado. Peguei o rosto dele e puxei para perto até nossos lábios se encontrarem. Eu não o faria sofrer de novo e eu sabia que um beijo não seria suficiente, mas eu queria confortá-lo, confortar a mim mesma, fazê-lo sentir meu amor. Devagar movi os lábios sobre os dele. Era tão diferente do beijo que ele me dera pela manhã. Aquele beijo era cheio de raiva, e paixão, e desejo que ele não tinha certeza de que poderia acalmar. Desta vez ele não apressou nada. Ele me permitiu dizer a ele o que eu quisesse com aquele beijo, e eu garanti que minha mensagem fosse clara antes de me afastar. Eu amo você, tenha paciência comigo, por favor. Então, quando interrompi o beijo ele não tentou me beijar de novo nem fez movimentos para os quais eu não estava pronta. Ele sorriu. De novo, um sorriso triste que eu já vira muitas vezes nos últimos dez minutos. – Por que isso? – ele perguntou roçando meu queixo com a ponta dos dedos. – Por estar comigo agora. –Se eu receber um beijo por cada momento que eu passei com você, me recuso a passar um segundo se quer sem você. Em vez de comentar, inclinei-me para frente e dei outro beijinho nos lábios dele. – Conte-me mais sobre seu pai. Sei tão pouco sobre sua família. Ele respirou fundo e assentiu. – Mudou de assunto. Certo. Eu ri. – Me pegou, mas é melhor assim. – Conversar com você é melhor do que nem ver você. Têm sido meses infernais, Louise. Eu não quero que continue assim para sempre. Você está me ouvindo? Não posso continuar assim, está me matando. – Verei o que posso fazer a respeito – eu disse ainda sorrindo. – Estou falando sério. Nem ouse desaparecer da minha vida de novo. Eu vou encontrar você, então não desperdice seu tempo fugindo. – Você tem fotos do seu pai? Nunca o vi. – Ok, tudo bem. Mudando de assunto, por enquanto, mas a conversa não terminou. Continuaremos quando você estiver pronta. Quanto às fotos do meu pai, sim, tenho algumas. Milhares na verdade. Adoro fotografia, lembra? – Ele se levantou e foi até uma estante e pegou uma caixa com, presumi, fotos da família. – Acredite, é difícil esquecer sua paixão por fotografia. – Eu ainda tinha as fotos que ele tirara de mim em Paris. Eu adorava olhá-las, em especial as tiradas na nossa primeira noite juntos. Ele deu um sorrisinho maroto. Ele lembrava daquela noite também. – Deveríamos repetir um dia desses – ele disse sentando-se perto de mim. – Você acha? – Se não me falhe a memória, você gostou das fotos que tirei de você tanto quanto eu gostei de tirar fotos suas. – Tenho que concordar. – Bom saber. Tem ao menos uma coisa que você tem que concordar comigo. Eu soquei o ombro dele de leve. – Na verdade não é uma coisa... mas falaremos do resto depois. – Quando? – Ele ergueu as sobrancelhas questionador, observando-me. – Para. – Parar o quê? – Você sabe o quê. Quando você me olha assim, eu não consigo pensar direito. – Tudo culpa minha – disse Will abrindo a caixa. – Olhar para você é das poucas opções que tenho no momento. – Pare de reclamar. Pelo menos agora que eu moro aqui, você tem muitas oportunidades de me ver. – Se você acha que isso me faz sentir melhor, você está errada. – Puxa, é tão difícil agradá-lo, Sr. Blair! Vamos ver as fotos que você tem na caixa. – Na verdade, não é tão difícil me agradar. E você, entre todas as pessoas, deveria saber disso. – Ele parecia um garotinho reclamando que alguém levara seu brinquedo favorito. Sorri mentalmente comigo mesma. – Pare de ficar pensando em me arrastar para o seu quarto e me fale mais sobre sua família. – Falar é fácil – resmungou ele em resposta. Peguei uma das fotos na caixa que estava nas mãos dele, fora tirada naquela casa mesmo. – Foi tirada uns dias antes dele morrer – disse Will. – Eu sempre olho essa foto pensando se havia uma forma de evitar a tragédia... – De qualquer forma, você não teria como evitar. Você não estava presente quando aconteceu o acidente. – Não, não estava, mas toda vez que penso sobre aquele dia, lembro-me de falar com meu pai apenas algumas horas antes de perdê-lo para sempre e parece que eu estava lá quando ele morreu. Só que eu não vi como tudo aconteceu. – Ah, Will... – Coloquei a mão nas costas dele e esfreguei devagar. – Não foi culpa sua. Há coisas que não podem ser mudadas. Acredite, eu sei exatamente como é. Eu não posso mudar nada no meu passado, mas eu ainda tenho futuro. E você também. – Eu sei, Louise, e é exatamente por isso que não quero perdê-lo com bobagens. Eu quero você no meu futuro. Eu não sabia o que dizer, então olhei para uma foto que eu ainda segurava e disse: – Você conhece todas essas pessoas em volta dele? – Sim, são funcionários da empresa. Alguns ainda trabalham lá. – Will apontou para um homem alto de cabelo escuro, na casa dos 50 anos. – Era o sócio do meu pai. Ele iniciou o próprio negócio alguns anos atrás e saiu da empresa. E esta – Will apontou para uma mulher do lado esquerdo do pai dele – é Debora Griffin. Ela era assistente do meu pai. Meu coração gelou. – Debora trabalhava com seu pai? –Sim, por quê? Você a conhece? – Não, é que o nome parece familiar. E o rosto dela também. Só não conseguia lembra onde eu a vira antes. – Ela deveria estar no barco no dia do acidente. Meu pai e Debora estava negociando a abertura de outra filial da empresa na costa oeste. Mas a negociação foi encerrada assim que o outro lado soube do acidente. – Sério? Eles cancelaram um acordo? – Sim. O valor das ações despencou e ele pensaram que seria melhor esperar até tudo se ajeitar para fazer nova oferta. Mas nunca fizeram nova oferta. Isso era interessante. Então por causa da morte do pai de Will alguémeconomizou toneladas de dinheiro. Seria essa a razão da morte dele? E, claro, a ausência da Debora no barco parecia muito suspeita. – Você sabe por que a Debora não foi com seu pai aquele dia? – Ela quebrou a perna um dia antes da viagem, então não poderia ir, mesmo que quisesse. – Ah... – Talvez minha desconfiança fosse infundada. Contudo, eu precisava encontrar Debora Griffin. Rea não teria me dado o nome dele sem uma razão. Ela sabia algo sobre a morte do Sr. Blair, e eu precisava saber o que era. Capítulo 9 – Existe alguma chance de você me dar um beijo de boa noite? – perguntou Will ao subir as escadas comigo. Passamos boa parte da noite conversando, ele me contou sobre o passado dele e eu falei mais do meu. Embora não tivesse muito o que contar. Ele sabia praticamente tudo sobre mim. Talvez até mais do que eu mesma. Parei à porta do meu quarto e me virei para olhar para ele. – Talvez só um beijinho – falei, em dúvida se poderia dizer não para ele, principalmente depois do beijo que eu dera nele mais cedo. – Que tal um beijão em vez de um beijinho? – Um médio? Ele riu se aproximando. – Algo assim. – Então ele se curvou e cobriu minha boca com a dele, suavemente como se tivesse medo de que eu o afastasse ou dissesse para não me beijar, nunca mais. Mas eu não o faria. Bem, talvez, se eu não estivesse perdidamente apaixonada pelo homem que me abraçava. Em vez disso, estiquei uma das mãos e abri a porta do meu quarto. – Isto é um convite? – perguntou Will interrompendo o beijo. – É, mas não do tipo que você está pensando. – Ah... – ele franziu a testa me olhando. – Então o que é? – Você ficaria comigo? Ele pensou por um momento. – É pernoite? Eu assenti, empolgada e com medo que ele dissesse não. Nós dois sabíamos que não seria fácil, mas eu não queria passar a noite sozinha. – Acho que nunca fiz isso antes... – comentou ele me observando atentamente. – Mas podemos tentar. Meu coração apertou. Claro, ele nunca passara a noite na cama de uma mulher simplesmente porque ela queria tê-lo por perto, e não para ter um caso. Deus, eu era uma idiota, deveria ter pensado duas vezes antes de pedir que ele ficasse comigo. – Talvez não seja uma boa ideia... eu não queria parecer irritada, mas acho que não consegui dominar nada além de um tipo de comentário malvado. Will riu, segurou minhas mãos e me empurrou para dentro do quarto, fechando a porta. – Qual a graça? – perguntei, tentando entender o que se passava na cabeça dele. – Você. Ergui as sobrancelhas como uma pergunta silenciosa. – Você é tão fofa quando fica ciumenta – disse ele ainda sorrindo. – Mesmo que não tenha o menor motivo para sentir ciúmes. Já falei, Louise, eu nunca amei ninguém como amo você. – Ele desenhou uma linha descendo a ponta do dedo pela minha bochecha e parou no meu lábio inferior acariciando com suavidade, e disse: – Eu nunca amei outra mulher. Antes de você, eu não sabia o que significava amar. – Quanto tempo durou seu relacionamento mais longo? – Obviamente minha curiosidade não me deixou calar a boca naquele ponto. Will estava certo, eu estava com ciúmes. Mulheres raramente precisam de um motivo real para sentir ciúmes, na maioria dos casos, no meu inclusive, isso faz parte de ser mulher. Will suspirou, sentando-se na beira da minha cama ainda segurando minhas mãos. – Esta á a primeira e a última vez que falaremos das minhas ex- namoradas, combinado? Eu assenti, esperando pela resposta. – As mulheres que eu namorei não eram... digamos, não eram exatamente meu tipo. Eu gostava da companhia delas, mas não tanto quanto gosto da sua. Elas eram bonitas, claro, mas a beleza exterior não era a única coisa que eu queria delas, isso seria apenas um bônus se elas tivessem as outras qualidades que eu procurava. Eu sempre quis mais. Então, quando conheci você, eu consegui, finalmente, encontrar o que procurava. Um mundo infinito dentro de um lindo corpo que eu nunca vou me cansar de admirar. E o relacionamento mais longo durou oito meses. Embora eu mal possa chamar aquilo de relacionamento. Vivíamos em cidades diferentes e só nos encontrávamos aos finais de semana. – Por que você terminou? – Um dia, percebi que não era o que eu queria para mim. E como já disse, não era o suficiente. Não posso dizer que eu estava gostando da conversa, obviamente, mas eu queria terminar o assunto de uma vez por todas. – Algumas vez ela tentou reatar? – fiz minha última pergunta. – Não. Amy e eu sabíamos que nosso romance não tinha futuro. Então, quando terminamos nosso caso, ela concordou sem hesitar. Era difícil de acreditar. Na minha opinião, nenhuma mulher sã iria querer deixar um homem como William. Eu não contava, eu tinha uma razão para ficar longe dele, ou pelo menos eu pensava assim. – Acabaram as perguntas? – Will deu um sorrisinho amarelo com meu silêncio. – Não. – Ótimo. Agora, que tal tirarmos a roupa? – Para quê? – Bem, não vamos dormir com essas roupas, vamos? Ou foi assim que você imaginou que iríamos para a cama para a pernoite? Revirei os olhos. – Não, claro que não. – Graças a Deus, murmurou ele. – Pelo menos poderei abraçá-la por mais de dois minutos... o que, por sinal, foi o máximo que consegui abraçá-la nos últimos dias. – Dois minutos? Como você sabe isso? – Você acreditaria se eu dissesse que estive contando os segundos? Eu ri. – Não. – Bem, que pena, por que é exatamente isso que tenho feito toda vez que consigo abraçá-la. E o maior tempo que você esteve nos meus braços foi dois minutos... cento e vinte segundos no total. Aí você me afastava. Inclinei-me planejando dar um beijo brincalhão nele, mas no momento que minha boca cobriu a dele ele me puxou mais para perto até acabarmos deitando na cama, eu sobre ele. Olhei para ele, assustada e excitada por nossos corpos se tocarem em tantos pontos. – Senti falta de tê-la assim – ele falou com suavidade. As mãos passeando para cima e para baixo nas minhas costas e, como por acidente, escorregaram para baixo da minha blusa bem em cima do cós da minha calça. A sensação da pele dele tocando a minha de forma provocativa era, devo dizer, intoxicante. – Se incomoda se eu a ajudar com as roupas? – perguntou ele, ainda me observando. Eu mal podia falar. Só consegui mover a cabeça como resposta. As mãos dele deslizaram mais para cima por baixo da minha camiseta, acariciando as laterais do meu corpo. Sentei-me levantando os braços para ajudá- lo a puxar a camiseta pela minha cabeça. Não havia mais nada além de um fino sutiã creme cobrindo meus seios. Os olhos dele viajaram descendo pelo meu colo, depois meu peito e voltaram para o rosto até encontrar meus olhos. – Tão linda – disse ele baixinho. Eu mal podia ouvir porque ele as falou para dentro, e mesmo que não tivesse falado assim, o sangue pulsava nos meus ouvidos. Eu estava nervosa e excitada ao mesmo tempo. Sem dizer nada, toquei os botões da camisa dele e os abri, um a um. Meu coração estava disparado no peito, minhas mãos tremiam. Mas o que estávamos fazendo? Será que conseguiríamos parar depois de tirarmos a roupa? Será que conseguiríamos evitar de queimar meus lençóis quando meu corpo nu tocasse o dele? – Isso é loucura... – disse Will como se lesse minha mente. – Eu sei. – Engoli, deixando minhas mãos repousarem no peito dele. Eu não tinha certeza de como lidar com a situação, e podia dizer que ele também não sabia. Estava saindo do controle rápido demais. E, claro, eu tinha que piorar tudo. Inclinei-me e pressionei os lábios no pescoço dele e depois cobri o peito dele com beijinhos. – Louise! – resmungou ele, tirando o cabelo do meu rosto. Ele segurou minha nucae puxou meu rosto em direção ao dele e sugou meu lábio inferior. Gemi sem querer. – Você, Dona Provocadora, o que diria se eu a provocasse também? – Não – murmurei, mal respirando. – Tarde demais. Caramba, ele era rápido, bem rápido. Num piscar de olhos eu estava deitada de costas, Will pairando sobre mim, fogo intenso nos olhos. Eu sabia que ele podia acabar comigo em segundos. Ele deslizou as mãos pelos meus braços e enlaçou os dedos nos meus levantando minhas mãos até estarem presos ao lençol acima da minha cabeça. – Você pode me parar quando quiser – falou, me beijando suavemente de novo, com a língua deslizando brincalhona contra a minha, me seduzindo e pedindo mais. Depois ele moveu a boca para baixo, sobre meu queixo, mordiscando minha pele, sempre devagar, até parar os lábios bem embaixo da minha orelha, e acariciar o lóbulo com a língua, depois ele o chupou. A parte debaixo do corpo pressionado contra a minha. Soltando minhas mãos, ele deslizou as mãos pela lateral do meu corpo, arrepiando meus seios com beijinhos quentes. Ele não tirou meu sutiã e eu agradeci. Era melhor saber que havia, pelo menos, algum tecido, independente de ser fino, evitando que ele tocasse a pele de um dos meus pontos mais sensíveis... foi um alívio. Era quase impossível estar ali com ele e não pensar em fazer amor. Estar pele com pele e ter nosso coração batendo alto no peito. Permitir que ele vá a terrenos perigosos significa me render, e eu não estava pronta para perder esse nosso jogo. Eu até que estava gostando. Era como se o Will e eu estivéssemos de volta a sala de dança nove onde só era permitido beijar e tocar, mas morrendo de vontade de conseguir mais da sedução. Ele parou a língua no meu umbigo circundando-0 e me olhou sorrindo. Não havia como esconder como eu o desejava naquele momento. E ele conhecia a mim e a meu corpo bem demais para acreditar que o que ele estava fazendo não me afetava. – O carma é uma merda, não é? – Falou, sentando-se e alcançando o zíper da minha calça. – Você, mais do que ninguém, sabe disso. – Tudo graças a você, minha doce Louise. Você me deixou, lembra? Por cinco malditos meses... você acha que foi fácil não pensar em você todo esse tempo? – Ele abriu o zíper, depois olhou para o pedaço de tecido por baixo e sorriu, dizendo: – Você vestiu essa para mim? Eu esquecera que estava usando calcinha que era da cor preferida do Will, azul-escuro. – Não, Sr. autoconfiante Blair. Eu adoro esta cor também, sabia? – Certo... – respondeu, e então puxou com força minha calça pelas minhas pernas e a jogou para uma cadeira no canto do quarto. – Que rápido. – falei sorrindo. – Estou perdendo cada vez mais a paciência em cada maldito segundo que passo ao seu lado. – Você que dizer sobre mim? – Sobre você, embaixo, ao seu lado... qualquer lugar que eu possa estar com você e deixar a excitação entre nós fazer o melhor que puder. Era tão fácil me perder nos olhos dele, em tudo que ele fazia comigo, no jeito que ele falava meu nome, e, em especial, em todos aquelas coisas tentadoras que ele fazia com os lábios no meu corpo. Seria bem fácil simplesmente me entregar e deixar que ele fizesse o que quisesse. Eu sabia que seria maravilhoso e inesquecível... mas eu também sabia que me arrependeria quando o momento acabasse. – Você já terminou de revidar por eu ter ficado longe por cinco meses? – perguntei. Ele sorriu, os olhos brilhando perigosamente. – Não está nem perto, mas vou deixar você fantasiar sobre o fim deste jogo já que eu prometi ser bonzinho e não avançar o sinal. Ele rolou deitando de costas perto de mim, mantendo boa distância entre nosso corpo para não permitir que roçassem. – Bom – falei aliviada e desapontada. Eu precisava admitir, eu esperava que ele forçasse os limites um pouco mais. Mas, talvez, seja melhor. Eu estava quase perdendo o jogo que ele estava jogando. – Espero que você não precise de ajuda para tirar a roupa... – Com prazer eu deixaria suas mãozinhas levadas fazerem mágica, mas já que você quer isso mais do que eu, farei eu mesmo. Obrigado por se oferecer. Você é corajoso, Sr. Sexy. Eu já ia desejar boa noite para ele quando meu celular tocou em cima do criado-mudo. – O que você acha que o Drew quer com você a essa hora? – disse Will pegando o telefone. Meu querido tio não poderia ter escolhido pior hora para ligar. Engoli seco, nervosa. – Não sei. – Peguei o telefone das mãos dele e atendi. – Alô? – Olá, querida. Tenho ótimas notícias para você. Consegui o endereço que você precisa. – Ok. Will ainda me observava, então eu tentei não parecer muito empolgada. – Vou mandar para você. – Obrigada. Vejo você no domingo. – Até lá! – O que ele queria? – perguntou Will seco. Ele não confiava no Drew, e mesmo que eu tenha dito várias vezes que o homem nunca faria nada contra mim, ele ainda acreditava que era melhor não ficar muito perto do meu tio. O que faço agora? Pensei agitada. Não posso contar a verdade. – Eu pedi um favor a ele. – respondi, escolhendo cuidadosamente cada palavra. Eu sabia que a minha resposta era ruim e que ele não estava acreditando. – Que tipo de favor? – perguntou ele, me fuzilando com o olhar. Ele estava ficando preocupado. – Louise? – falou em tom mais alto. – Você prometeu que não esconderia nada de mim. Nós combinamos, lembra? Eu suspirei. – Tudo bem. Eu tenho escondido algo de você... Ele respirou fundo. – Louise... – Eu sei, eu sei... desculpe, Will... pensei que era melhor assim. Ele sacudiu a cabeça me puxando para mais perto de onde ele estava sentado, ele ainda vestia a camisa e a calça. – O que exatamente você tem escondido de mim? Engoli seco de novo. Eu estava ferrada, não tinha jeito. Eu sabia que Will ficaria bravo quando descobrisse que eu estava investigando Debora Griffin. – Eu não contei a você toda minha conversa com Rea – falei, observando-o com cuidado. – Ela me falou sobre algo muito importante, mas eu decidi que deveria ter certeza de que ela falava a verdade antes de mais nada. – O que ela disse? – perguntou ele impaciente. – Ela me deu o nome da assistente do seu pai, Debora Griffin, dizendo que ela sabia o que aconteceu de verdade no dia em que ele morreu... a razão da morte dele. A expressão do Will mudou de surpresa para transtornada. – Que diabos aquela mulher tem a ver com a morte do meu pai? – Era isto que eu estava tentando entender. – Sozinha, de novo? – Desculpe, Will... eu não queria perturbar você com algo que pode nem ser verdade. – E como o Drew poderia ajudar você? – Eu pedi o endereço da Debora. – Então, imagino que ele tenha conseguido. – Conseguiu. – Boa. Iremos juntos vê-la. – Eu não acho que seja boa ideia... – Fechado, e não vamos discutir mais sobre isso, Louise. Ou vamos juntos, ou eu vou sozinho. – De jeito nenhum! Eu vou com você. Eu também quero saber a verdade. – Por quê? Você não tem nada a ver com a morte do meu pai – ele pareceu um estranho, frio e distante. Eu não respondi. – Ou teria algo mais que você não está me contando? – perguntou ele, de novo sabendo que eu tentava enganá-lo com meu silêncio. A culpa me consumia. Não havia sentido em continuar escondendo as coisas dele. Só faria nosso relacionamento ainda mais complicado. – Rea acredita que a morte do seu pai possa ter sido planejada... pelo meu pai, ou alguém próximo dele. – O quê? – ele levantou e começou a caminhar pelo quarto, respirando pesado, como um leão prestes a despedaçar a presa. – Isso não é possível... nossos pais nunca se encontraram. Por que Montgomery ia querer a morte do meu pai? Levantei-me também e fui até onde ele estava. – Eu não sei, Will, mas e se a Rea estiver certa? Você disse que ela sabe muito mais do que diz. Então, e se elatem uma boa razão para acreditar que nossos pais estavam conectados de alguma forma? – Isto é loucura... meu pai nunca me falou sobre Montgomery. Por que ele teria algo a ver com a morte do meu pai? Que problemas eles poderiam ter que eu não soubesse? Segurei as mãos do Will, olhando nos olhos dele, e disse: – Vamos descobrir, ok? E faremos isso juntos. – Ah, Louise, por que você não me contou sobre a suspeita da Rea? Você realmente acredita que alguém como seu pai, ou mesmo Debora, se realmente ela tem algo a ver com o acidente, permitiria que você descobrisse a verdade que está escondida há tempos? Eu sorri. – Na verdade, eu achei que sim. Ele também sorriu, triste e desapontado. – Você é tão ingênua, Louise. Ele passou os braços em volta de mim e me prendeu num abraço apertado. – Nunca mais esconda algo assim de mim. Promete? – Não vou esconder, eu prometo. Agora que Will sabia a verdade eu me sentia muito melhor. Era um alívio saber que eu não estava sozinha na situação que eu não tinha ideia de como sair. – Quando você que ir procurar a Debora? – perguntei. – Que tal esse fim de semana? Preciso de alguns dias para me preparar para esse encontro. Eu nem sei o que dizer para ela ou como perguntar sobre ao acidente. Eu não a vejo há muito tempo. – Você sabe para que empresa ela foi depois de sair da sua? – Não. Na verdade, eu nunca conversei com ela depois dela sair. Ela saiu logo depois do acidente... Você acha mesmo que ela tem algo a ver com o acidente? – Tudo é possível. Ela trabalhou muito tempo com seu pai, não é? Will assentiu em resposta. – Ela sabia tudo sobre os negócios da empresa. Ela pode ter sido corrompida por alguém que não queria que o acordo que seu pai estava prestes a fazer acontecesse. – Eu não sei o que pensar... A Debora era uma das poucas pessoas em quem meu pai confiava. E você tem razão, ela sabia demais. – Eu acho que você deveria tentar descobrir mais sobre a vida dela depois que ela saiu da empresa. Onde ela trabalha agora, para quem ela trabalha, etc. – Essa é a primeira coisa que farei amanhã. Eu sorri para ele. – E eu aqui pensando que me beijar seria a primeira coisa que você faria pela manhã. Ele também sorriu, abraçando-me mais apertado. – Você está certa, a Debora pode esperar. Você é a parte mais importante da minha vida. E isso nunca vai mudar. – Podemos voltar para a cama agora? – Tem alguma coisa em particular que você gostaria de fazer lá? – Sim. Dormir. Ele suspirou. – Está bem. É melhor do que ficar sonhando com você pelo resto da maldita noite, deitado na minha cama, totalmente acordado e duro por sua causa... Eu ri. – Você mesmo disse, isto não vai durar para sempre, lembra? Ele tirou a camisa e a calça, deixando as roupas no chão, perto da cama. – Você está me matando, Louise. Mas quando eu penso nos meses que tive que ficar sozinho na minha cama, eu começo a acreditar que o que eu tenho agora não é o pior dos cenários. – É o que estou dizendo. – Eu entrei embaixo do cobertor e fui mais para perto dele, deixando que ele me abraçasse. Com minhas costas pressionadas no peito dele, pude sentir cada respiração dele. Senti-me tão bem. Eu esquecera como era dormir ao lado dele. E sim, eu senti falta de senti-lo perto de mim. Não havia porque negar isso. Estar com ele sempre fora a mais preciosa das lembranças. Eu não queria pensar em ficar sem ele, era muito doloroso imaginar perdê-lo de novo. Capítulo 10 William Três dias depois, ainda parecia surreal acordar ao lado da Louise. Durante a noite, nós apenas dormíamos na mesma cama, às vezes nos beijávamos e abraçávamos, mas nada além disso. Ela se recusou a dormir na minha cama, dizendo que isso me daria mais poder sobre ela. Ela dissera isso com um sorriso, embora nós dois soubéssemos que era exatamente isso que a assustava. Tecnicamente todas as camas da casa eram minhas, mas ter o próprio quarto ajudava Louise a sentir-se mais independente. Ela ainda tinha medo de perder a liberdade que ela acabara de conquistar. Eu não me importava com tal independência. Afinal, ela estava comigo agora, e era isso que importava. Passamos bastante tempo juntos, caminhando, conversando, cozinhando ou simplesmente sentados um ao lado do outro, ouvindo música e conversando sobre o que nos incomodava. Eu aproveitei cada segundo com ela. Eu sempre acordava antes dela. Eu não sabia por que, eu simplesmente acordava. Eu ficava acordado até tarde, observando-a dormir nos meus braços e então não conseguia parar de pensar sobre meu futuro que, mais do que tudo, eu queria passar com ela. Era fácil imaginar chamá-la Sra. Blair, a minha Sra. Blair... Nós não conversamos sobre o futuro. Nenhum de nós queria ir para lá com medo de que não seria tão perfeito como gostaríamos. Eu podia ver como ela adorava as aulas. Ela nunca vinha para casa dizendo que tivera um dia ruim na escola. Embora houve algumas vezes que ela mencionava que a diretora, Sra. Cormac, viera assistir o ensaio dela. Ela contou que Sabine não conversara com ela depois do primeiro encontro alguns dias antes, mas ela sempre sorria quando a assistia treinar. Fico me perguntando se ela viu a semelhança entre elas. Louise parecia muito com o pai, mas ela também tinha algo da mãe. E eu não quero nem pensar no momento em que ambas percebam a verdade sobre o parentesco delas... – Uma moeda por seus pensamentos – disse Louise me trazendo de volta a realidade. Eu sorri, beijando a cabeça dela. – Eu estava pensando em você – falei. – Eu nunca paro de pensar em você. – Era verdade. Minha vida inteira girava em torno dela. Eu só me preocupava em tê-la de volta e fazê-la ficar comigo, de verdade, para sempre. – Uma coisa não mudou no Will que eu conheci em Le Papillon meses atrás. Você ainda é um mistério para mim, Sr. Blair. – Sério? E eu aqui pensando que você sabia tudo sobre mim. – Não mesmo. Aposto que o que você fala é 10 por cento do que você pensa. Eu não ficaria surpresa em saber que seu cérebro não desliga nem quando você dorme. Eu ri baixinho. – Você sabe que pode me perguntar qualquer coisa. – Sei, mas eu ainda sinto que tem algo que você não está me contando... ou, talvez, eu apenas esteja paranoica. Com todos os segredos que as pessoas têm escondido de mim por anos, é difícil confiar nas pessoas. – Mas você confia em mim? Ela suspirou. – E parece que eu tenho escolha? Eu sorri tocando o rosto dela. – Na maior parte dos casos, sim, você tem. – Dificilmente. – Ela fez uma careta. – Não foi você que me fez mudar para cá? – Ela ergueu a mão mostrando o quarto. – Bem, esta foi uma exceção. Eu não podia deixar você sozinha de novo, e você sabe porquê. – Certo. – Bem, quais são seus planos para hoje? – Tenho uma competição de dança hoje. Eu não contei para você? – Não, não contou. Está nervosa? – Na verdade, não. Não que vá afetar minhas notas, nem nada, é que é outra chance de mostrar minhas habilidades e ver o que os outros estudantes podem fazer. – Nunca duvidei das suas habilidades, em dançar ou no que seja. Devo admitir, aquelas suas outras habilidades são bem impressionantes também. Ela deu uma risadinha socando minhas costelas de brincadeira. – Menino levado, para de me provocar. – Disse a garota que me seduziu com um strip-tease e dança no colo... – Ei, eu não seduzi você. E não foi strip-tease ou dança no colo. Foi... só uma dança. Eu nem tentei seduzir você. Eu só estava fazendo meu trabalho. – E devo dizer, você o fez muitíssimo bem. – Eu sorri e beijei suavemente os lábios dela. – Sabe, sinto falta de ver você dançar... – E eu tenho saudade de dançar para você. – Ela sorriu encabulada olhando para mim. – Tenho uma confissão para fazer... – Sobre o quê? – perguntei, sentindo-me um pouco preocupado com o que ela poderia confessar. Eu esperava que nãofosse outra situação ruim que ela tenha se metido por causa da vontade de provar para todos, para mim em particular, como ela era adulta e independente. – Sempre que estou trabalhando numa nova dança, eu me imagino dançando para você, como se você estivesse lá me assistindo, e talvez, tirando fotos de cada passo que eu faço. Dedico todas as minhas danças para você, Will. Mesmo que você não possa ver. – Mas verei um dia, não é? – Sim, prometo, vou dançar para você de novo. – Tipo no meu quarto? Ela riu, sentando-se. – Onde você quiser me ver dançar. – Então tem que ser no meu quarto. Ela sacudiu a cabeça, ainda sorrindo, e levantou da cama. – Espere aqui, quero mostra algo a você. Ela foi para o banheiro e voltou pouco depois vestindo um vestido vermelho escuro com longas luvas, decorado com pequenos cristais brilhantes. Era mais curto na frente e mais longo atrás, e balançava conforme ela andava. – O que você acha? – perguntou, virando para me mostrar a parte de trás aberta. – É... deslumbrante. – O vestido era mesmo maravilhoso, mas o que eu mais gostava era dela, com o cabelo dourado longo, ainda meio bagunçado por dormir. E o corpo dela no vestido que cobria e mostrava o suficiente para fazer minhas fantasias saírem do controle. Ela foi até o espelho e colocou uma máscara com plumas que combinava perfeitamente com o vestido. – Uau, para que é esta roupa? – perguntei esperando que fosse para a dança que ela prometera para mim. – É para a competição. Tenho que devolver, mas pelo resto do dia, será meu. Eu fiquei um pouco desapontado. – Pensei que teria a chance de vê-la dançar vestida assim – falei. Ela virou de frente para o espelho de novo para se olhar nele. Então, virou-se, olhou para mim e disse: – Me fez lembrar de Le Papillon, e Paris, e você... Assim que vi o vestido, eu sabia que deveria usá-lo na competição. No momento que vi o vestido, eu sabia que queria explorar cada pedacinho do corpo dela escondido embaixo dele. Meu desejo de fazer amor com ela chegou ao limite. Ela girou sobre uma perna com a outra dobrada, o vestido se enrolando nela como se ela estivesse dançando no oceano com ondas segurando o tecido vermelho, fazendo-o se mover em câmera lenta. Eu senti como se estivesse sem ar, ela estava linda demais para eu ficar tranquilo. Ela continuou se movendo pelo quarto, cada movimento dela era fluido e gracioso e eu não conseguia parar de pensar sobre tudo o que sentia por ela. Era como se apaixonar repetidas vezes, mais profundamente a cada respiração minha. Talvez ela não percebesse o que fazia, ela parecia tão perdida no momento. Lembrei-me da noite em Le Papillon quando nos encontramos pela primeira vez depois de quase dez anos separados. Ela não falou comigo nem olhou para mim, ela estava simplesmente dançando, voando no ar e então pisando o chão, como uma borboleta, linda e graciosa e, talvez, surreal. Eu era fascinado por ela. Tudo nela era demais para mim. Às vezes, eu sentia que não a merecia. Num primeiro momento eu sentia como se soubesse tudo sobre ela, depois, no momento seguinte, eu sentia tudo completamente diferente como se ela fosse uma desconhecida, mais como uma foto que eu podia apreciar, mas nunca podia tocar ou amar de verdade. E sempre que os lábios macios dela pousavam nos meus, eu queria mais, muito mais do que um beijo ou um toque rápido. Eu a queria para mim de forma incondicional, da mesma forma que eu sempre fora dela... Ela parou na beirada da cama e sorriu para mim. A máscara cobria boa parte do rosto dela. Os olhos, os lábios e o queixo era tudo que eu conseguia ver. – Agora eu sei como você se sentia quando eu usava a máscara – falei. – Quero que a tire, que tire tudo. – Apontei para o vestido. Ela riu girando de novo. – Tudo a seu tempo... então é melhor ter um pouco mais de paciência, Sr. Blair. – Mais paciência? É sério? É possível ter mais paciência do que tive com você? – Não sei, mas teremos que terminar essa conversa depois, ou vou me atrasar para a aula. – Se dependesse de mim, você perderia todas elas hoje. Ela riu de novo e me deu um beijo rápido, mas eu tive ideia melhor. Puxei para mim e caímos na cama. – O que você está fazendo? – ela riu deitando-se perto de mim. – Você vai estragar o vestido! Preciso devolvê-lo hoje à noite. – Um amassadinho não vai estragá-lo – falei, inclinando-me para cobrir os deliciosos lábios dela com os meus. Deslizei a mão por baixo do vestido e subi pela coxa onde eu podia sentir a calcinha rendada. Devagar pressionei o polegar no clitóris, friccionando-o delicadamente sobre o tecido. Ela gemeu com meu toque. Mal deu para ouvir, mas soou como música para meus ouvidos. Eu não a tocava daquela forma há tempos, e acho que nós dois nos surpreendemos com a sensação que causou em nosso corpo. – Você vai me matar, Louise... – falei entre beijos. – Se você continuar me tocando assim, eu morro primeiro. – As palavras dela fizeram cócegas nos meus lábios de maneira tentadora. Será que ela sabia quanto poder tinha sobre mim? Ela achava que eu mandava no nosso mundo. Ela pensava que eu mandava nela... mas era ela quem mandava em cada respiração minha, cada pensamento e cada desejo secreto. Ela era tudo para mim. Deslizei a mão um pouco mais para cima, para o cós da calcinha. Deus, eu estava perto de rasgá-la e possuir Louise ali mesmo. – Você pode perguntar para quem você tem que devolver o vestido se pode ficar com ele um pouco mais? – Para quê? – Eu gostaria de olhá-lo mais detidamente. Ela pensou um pouco. – Vou ver o que posso fazer. – Beijei-a de novo, com mais intensidade desta vez e quando senti que estava chegando ao ponto que eu sabia que não teria volta, eu recuei e tirei a mão de onde a estava tocando enquanto nos beijávamos. – Traga o vestido para casa – falei, levantando. – Que horas será a competição? – Meio-dia, por quê? – Por nada. Só queria dizer: “quebre uma perna”. Olhei-a de novo dos pés à cabeça e fui em direção da porta já sabendo que não perderia a competição por nada no mundo. Eu não queria que ela soubesse que eu iria assisti-la. Eu queria fazer surpresa. Mas como se viu depois, a surpresa esperava por mim... No momento que entrei no auditório da Balero eu soube que fora má ideia ir até lá. Eu tivera algumas reuniões pela manhã, então não deu tempo de ir para casa e me trocar. Vestindo terno e gravata eu parecia mais um professor do que namorado de uma das alunas. Algumas garotas me olharam como se perguntassem “quem é esse cara?”, conversaram um pouco sobre mim ou minha aparência, não tenho certeza, e riram. Na hora eu quis ir embora, mas aí, eu vi a Louise. Ela conversava com um rapaz louro e alto que vestia camisa vermelho-escura e calça preta que, aposto, era para combinar com o vestido dela. Ela não dissera que dançaria com alguém. Ou ela pensou que não era importante mencionar ou ela sabia que eu ficaria com ciúmes. O que, nem precisa falar, foi exatamente o que senti. O rapaz riu de algo que ela disse e colocou o braço na cintura dela possessivamente e foram juntos para um lado do palco onde estavam outros casais se preparando para as apresentações. – Com licença, senhor – alguém disse para mim. Virei-me e olhei quem era e xinguei mentalmente. Era a Sabine Cormac parada bem atrás de mim. Ela sorriu educadamente e me disse: – Se o senhor está aqui para assistir à competição, por que não se senta? Já vai começar. – Claro, obrigado. Ela meneou a cabeça e, sem perguntar nada, me puxou na direção das poltronas no meio do auditório. – Normalmente não é permitido assistir competições como esta, são abertas apenas para alunos e professores. Mas posso ver que está aqui para darapoio à Louise, estou certa? Fiquei olhando para ela realmente surpreso. – Como a senhora sabe disso? – Eu o vi olhando para ela e sou boa em ler pessoas. Você nem prestou atenção às garotas comendo você com os olhos, porque não conseguia tirar os olhos da Louise. Vocês são namorados? Uau, a mulher não tinha nenhum problema em discutir a vida pessoal de uma aluna com um completo desconhecido. – Bem, é complicado – falei, sem saber direito como responder à pergunta. – Não me entenda mal... desculpe, qual é mesmo seu nome? – É William, William Blair. – Então, Sr. Blair, não me entenda mal, eu normalmente não fofoco sobre meus alunos pelas costas, mas Louise é uma menina especial. Tenho grandes planos para ela. Agora estava ficando interessante. – Ah, é? – Ela não contou sobre minha proposta para que ela faça parte do corpo de baile da Balero quando se formar? – O quê? Quer dizer, ela esqueceu de contar. Dirigi os olhos a Louise de novo. O par dela não estava por perto, mas ela estava ocupada demais conversando com um grupo de meninas para notar minha presença. – Ela é muito talentosa, Sr. Blair. Seria uma pena se ela decidisse parar de dançar... Será que eu estava imaginando coisas ou as palavras dela pareciam um recado para mim? Pensei um pouco. – Ah, a senhora acha que ela vai desistir de dançar por minha causa? Ela se encolheu. – Sabe como é quando uma mulher está apaixonada, ela mal consegue pensar em qualquer coisa, inclusive na carreira. – A senhora não a conhece, ela é diferente. Dançar é a vida dela, e mesmo que eu quisesse que ela desse mais atenção a mim do que à carreira, eu nunca a afastaria dos sonhos dela. – Você a ama, não ama? Era meio esquisito conversar sobre meus sentimentos em relação a Louise com a mãe dela, embora só eu soubesse que ela era a mãe. Mas eu não tinha motivos para mentir. Afinal, eu esperava que um dia ela me aceitasse como namorado da filha, ou talvez, se eu tivesse sorte, como marido. – Sim. Eu a amo mais que tudo no mundo. Ela sorriu. – Foi o que pensei. – Eu pareço um namorado completamente apaixonado e ciumento que veio bisbilhotar a namorada? Ela riu. – Com a única exceção de que você não esperava ver outro rapaz paquerando-a... Aí foi minha vez de rir. – A senhora não estava exagerando. A senhora é mesmo muito boa em ler pessoas. – Ah, mas que boba eu sou, esqueci de me apresentar, mas a boa notícia é que você já sabe meu nome. Então, por favor, pode me chamar de Sabine. – Ok, Sabine... – Cedo ou tarde eu teria que conversar com ela e contar a verdade sobre a Louise. Então, talvez, nosso encontro inesperado tenha sido uma boa. Pelo menos agora ela sabia quem eu era e o que eu sentia pela Louise. – Sabe, William... posso chamá-lo de William? Meneei a cabeça em resposta. – Eu sempre tive bom olho para talentos. O dia que assisti ao vídeo da apresentação da Louise, eu não pude acreditar na minha sorte. Por anos eu tentava encontrar alguém como ela, dançarina capaz de dançar não somente com o corpo, mas com a alma também. Aí eu vi a dança dela e fiquei tão feliz em saber que ela era nossa aluna, uma trabalhadora incansável, linda e inacreditavelmente talentosa. Com tanta graça em cada movimento, tanta paixão nos olhos... é maravilhoso. Você já teve o prazer de vê-la dançando? – Sim, já tive. E concordo totalmente. Quando ela dança, ela não vê nada nem ninguém. Para ela, dançar é como respirar, ela não vive sem. – E é exatamente por isso que a quero no corpo de baile da Balero. Ela será nossa joia rara. Ela será nossa joia rara... As palavras ficaram martelando na minha cabeça e eu não consegui parar de pensar na conversa com a Sabine pelo resto da competição. Ela estava certa, Louise merecia alcançar o melhor como dançarina. De novo, pensei em tudo que eu e ela passáramos. Talvez fosse o momento de recuar e deixar que ela se tornasse, de verdade, dona da vida dela... Dançar é a vida dela, mas o que ela fará se tiver que escolher entre a dança e eu? E o que eu gostaria que ela escolhesse? Se ela escolher a dança e me deixar em segundo plano, conseguirei conviver com isso? Claro que conseguirei. Simplesmente por que não consigo imaginar minha vida sem ela. Mas se ela me escolher em vez dos sonhos dela, eu nunca vou me perdoar por afastá-la deles. Claro que ela vai dizer que não importa, mas ela nunca será verdadeiramente feliz sem a dança. E pelo resto da minha vida me culparei por torturá-la, por fazê-la escolher errado. E não é isso que eu quero para ela. Eu nunca a farei sofrer, nunca. Capítulo 11 Louise – Você tem compromisso hoje à noite? Eu não estava prestando atenção em Gale quando ele falou. Eu estava tentando entender por que o Will não retornava minhas ligações. Christopher também não atendia e eu comecei a ficar preocupada. – Desculpe, o que você disse? – Perguntei se você tem compromisso hoje à noite. Gostaria de ir a algum lugar e comemorar o sucesso da nossa apresentação? Gale e eu fomos os melhores no programa Latino-americano, então sim, tínhamos bom motivo para comemorar. – Desculpe, não posso. Tenho planos para hoje. – Dei um sorriso que pedia desculpas esperando que seria o suficiente para não magoá-lo. Embora, a julgar para expressão triste dele, ele esperava ouvir resposta diferente. – Tudo bem, fica para a próxima – disse ele antes de ir embora. – Claro. Liguei para o Christopher de novo e desta vez ele atendeu o maldito telefone, graças a Deus. – Estou do lado de fora – falou secamente, em vez de me cumprimentar. Eu não gostei daquilo. Christopher sempre era cavalheiro. Ele nunca fora grosso comigo. Claramente algo estava errado. Saí e vi o carro. Como sempre, Christopher saiu do carro para abrir a porta traseira para mim. Sem dizer nada, entrei no carro e esperei ele sentar-se ao volante. Depois de dez minutos de silêncio eu ousei perguntar: – Está tudo bem? – Está – respondeu ele, de olhos grudados na rua. – Tem certeza? Porque eu tenho uma sensação estranha de que algo aconteceu, mas você não me fala. Inclinei-me para frente aguardando a resposta dele, mas tudo o que recebi de volta foi uma sacudida de cabeça indicando que eu estava errada. A expressão, impassível. – Tudo bem. – Olhei para ele de novo com olhar curioso e encostei no banco. Tentei ligar para o Will de novo, mas indicava que estava fora de área de cobertura. – Você sabe onde o Will está? – perguntei esperando resposta para ao menos uma pergunta. – Não sei. Bem, isso era inesperado. – Mas você sempre sabe onde ele está – falei, esperando que ele me explicasse o que estava acontecendo. Porque eu tinha certeza de que algo estava acontecendo, eu só não sabia o que era. – Hoje eu não sei – disse Christopher pegando a rua que levava à casa do Will. – Entendo... por que você não me conta o que aconteceu? – falei, ficando um tanto nervosa. – É sobre meu pai de novo? O que ele fez dessa vez? – Nada. Não tem nada a ver com seu pai, Louise. E, na verdade... eu espero que você possa me falar o que aconteceu. Ele estacionou em frente a casa e virou-se para olhar para mim. – Como posso saber? – perguntei surpresa. – Eu não vejo o Will desde hoje cedo. – Ah, não viu? Eu tinha certeza de que haviam se encontrado depois da competição. – Não... ele foi assistir à competição? – Aquilo era surpresa pra mim também. Ele não mencionara sobre a intenção de ir à escola. Será que ele foi ver a minha dança? – Pelo menos foi isso que ele me disse que faria – comentou Christopher. – Depois ele voltou para casa, fez as malas e foi embora dizendo que precisava de algum tempo longe daqui. Então, naturalmente, eu pensei que tinha algo a ver com você. Pensei que vocês tivessem brigado. Franzi a testa, tentando entender o que faria Will sair de casa, masnão me lembrei de ter feito nada que o deixasse bravo ou o fizesse acreditar que eu não queria vê-lo em casa. Olhei para o telefone nas minhas mãos. Por que ele não atendia minhas ligações? – Você sabe de outra forma de contatá-lo? O telefone está desligado. – Há uma outra forma de encontrá-lo, venha comigo. Saímos do carro, entramos na casa e fomos até o escritório dele. – Eu tenho um programa que rastreia o carro dele, o telefone e o avião particular. Christopher ligou o computador e digitou a senha para acessar o programa que ele mencionara. – Will sabe que você pode rastreá-lo? Ele sorriu meneando a cabeça. – Foi ideia do pai dele. Eu também rastreava Randal. Foi assim que soubemos do acidente com o barco, quando perdemos o sinal. – Entendo. – Olhei para a tela e vi uma luzinha vermelha piscando no centro do mapa. – É aqui que ele está agora? – perguntei apontando para a luz vermelha na tela. – É. E de acordo com o mapa ele está fora da cidade. – Você pode me dar o endereço exato? – Claro. – Ele apertou alguns botões e disse: – Aqui está. É um hotelzinho a oeste de Nova Iorque. Conheço o lugar, Will vai lá com frequência. – Por quê? – É calmo e isolado. Lugar perfeito para arrumar a bagunça que está na cabeça dele agora. Ele ia muito para lá depois da morte do pai. – Por favor, pode me levar lá? Christopher hesitou. – Se ele não está aqui, mas ainda está no país, isso significa que ele precisa de algum tempo longe daqui, Louise. – Longe daqui ou longe de mim? – Acredito que os dois. – Não me importa, preciso falar com ele. Will nunca desaparecera daquele jeito. Ele nunca desligara o telefone. Talvez houvesse algo que ele não quisesse me dizer e eu precisava saber por que ele foi embora sem falar para aonde ia e por que estava indo. – Por que não esperamos até amanhã? – disse Christopher. – Eu o conheço, Louise. Ele não faria isso sem uma razão. Se ele foi para lá, significa que quer ficar sozinho. Eu suspirei. – Detesto ser chata, mas preciso vê-lo, agora. Christopher desligou o computador e assentiu, dizendo: – Tudo bem, vou levar você até ele, mas não diga que não avisei. Você pode não gostar do Will que verá quando chegarmos lá. Eu não entendi o que ele quis dizer com aquilo, mas não fiz perguntas até pararmos em frente ao Hotel Baía, pequeno e perto de um lindo lago. – Você tem razão – falei ao Christopher, saindo do carro. – É o lugar perfeito para pensar. Como saberemos se ele está aqui ou não? – Você pode perguntar para a recepcionista. Espero aqui, ok? Assenti e olhei em volta de novo. O lugar era maravilhoso, com carvalhos, píceas espalhadas de ambos os lados da estrada que levava até o lago. Arbustos em madeira e placas de cada lado dos bancos que tinham escritos diferentes. Fui até o banco mais próximo e li o que estava escrito: Não procure a perfeição, seja a perfeição. Eu ri. Fácil falar e difícil fazer, pensei. Eu nunca acreditei na perfeição. Para mim, é algo que nunca existiu e difícil de alcançar, caso existisse. Eu nunca esperei que ninguém fosse perfeito, eu nunca quis ser perfeita. As pessoas, por natureza, são cheias de imperfeições. Mas quando se refere a minha vida, e meu futuro, em particular, eu queria que fosse perfeito, tanto quanto eu conseguisse fazer perfeito... – Louise! – chamou Christopher saindo do hotel. – Will está aqui. Ele está no quarto 23. Você ainda acha que é boa ideia ir vê-lo? – Acho. – Devo esperar? Pensei um pouco. –Não, vou ficar bem. – Eu não sabia quanto tempo eu ficaria com Will, então não fazia sentido fazer Christopher esperar. – Eu chamo um táxi se precisar. – Mantenha o celular ligado, ok? Uma pessoa desaparecida é mais do que suficiente para uma noite. Eu sorri. – Não se preocupe, manterei contato. Ele assentiu e foi para o carro. Eu fui para a entrada do hotel. Para ser sincera, eu estava um pouco nervosa sobre aparecer à porta do Will quando ele queria ficar sozinho. No fundo eu sabia que deveria ter ouvido Christopher e deixado Will quieto, pelo menos por uma noite. Mas algo me dizia que ele precisava de mim. E eu não poderia ignorar aquela sensação. Ele vinha sofrendo por minha causa há muito tempo. Eu não queria dar outro motivo para ele se arrepender do dia que nos encontramos pela primeira vez, dez anos antes. E eu queria que ele me odiasse menos, o que eu pensei que estivesse perto do que ele deveria estar sentindo por mim no momento. Fui até o segundo andar do hotel e parei em frente ao quarto 23. Bati à porta e esperei. Em menos de um minuto ele abriu a porta. – O quê? – Ele perdeu a cabeça olhando para mim, bravo. Levou algum tempo para ele entender que eu não era uma funcionária do hotel verificando se ele precisava de algo. – Louise? – falou depois de curta pausa. Eu engoli seco, olhando para ele. A camisa estava parcialmente aberta, com as mangas enroladas até os cotovelos. O cabelo estava bagunçado e pude jurar que o quarto e ele cheiravam a álcool. – É assim que você relaxa quando não suporta mais ficar perto de mim? – Eu não queria parecer a esposa megera que vai ver se o marido a está traindo com outra mulher, mas não pude conter a raiva que, de repente, explodiu dentro de mim. – O que você está fazendo aqui? – perguntou ele com voz seca. Entrei no quarto sem pedir permissão antes, e olhei em volta, dizendo: – Eu pensei que você só precisasse de algum espaço, mas agora posso ver que estava errada. Indiquei com a cabeça para uma garrafa de uísque vazia que estava na mesa perto da janela que dava para o terraço. – O que significa isso? Você não podia beber em casa? Eu não incomodaria você, era só me dizer que queria ficar sozinho. – Você não entende... – Ele foi até o minibar instalado num dos armários, abriu-o, pegou uma garrafa de champanhe, abriu-a e bebeu golinhos direto da garrafa. – Está melhor agora? – perguntei com o tanto de veneno que consegui colocar na pergunta. – Nem perto – grunhiu ele, me olhando de novo com raiva. – O que está acontecendo, Will? – perguntei, mais suave desta vez. Eu nunca o vira daquele jeito. Christopher estava certo, era como ver outro lado do Will, um lado que eu não conhecia. Ele riu, passando uma das mãos pelo cabelo. – Não é óbvio? Estou tentando afogar as mágoas. – E? – Ele realmente acreditava que o álcool o faria sentir-se melhor? Ele parou de rir e colocou a garrafa na mesa perto da que já estava vazia. – Não está funcionando. – Imagino... por que você não toma banho? Você precisa se refrescar. Eu espero. Os olhos dele encontraram os meus. – Por que você veio aqui? – perguntou. – Eu queria conversar com você. Ele riu. – Conversar... claro. Conversar é a única coisa que posso esperar de você, não é, Louise? Por que havia tanta raiva nas palavras dele? Ele nunca falara comigo daquela forma. Como se eu não fosse boa o suficiente nem para pensar em atrapalhar Sua majestade da bebedeira, William Blair. De repente, senti vontade de sair correndo e nunca mais voltar. Uma parte minha sabia porque ele estava bêbado, era tudo culpa minha, eu podia sentir. E isso não me fazia sentir melhor. Eu só queria ir para casa e esperar que ele voltasse ao normal. O Will que eu via agora me dava medo. Eu não sabia como reagir às palavras ou ao comportamento dele. – Você não está raciocinando direito – eu disse por fim. – Christopher estava certo, foi má ideia seguir você até aqui. – Caminhei até a porta, mas Will não me deixaria nem chegar perto dela. Ele me pegou pela mão, virou-me e grosseiramente me puxou para perto de si, colocando os dois braços em volta de mim. – Por que você não o ouviu? – sibilou ele me olhando. Deus, havia tanto ódio nas palavras e no olhar dele. Ele nunca me olhara daquele jeito. – Não consigo respirar – falei, sentindo o abraço ficar mais apertado. Ele afrouxou os braços e repetiu a pergunta. – Por que você não o ouviu? Oque você esperava ver aqui, Louise? Outra mulher? Eu não respondi. Será que ele tinha razão? Seria a ideia de vê-lo com outra mulher a verdadeira razão para minha vontade de vê-lo? Bem... eu não sabia a resposta. Ou, talvez, eu soubesse, mas eu não queria deixá-la entrar na minha mente. – Você acha mesmo que eu dormiria com outra mulher só porque não posso transar com você? – disse ele com nojo na voz. – Não, não acho – respondi sentindo meu coração acelerar. Eu ainda estava com um pouco de medo dele, mas fora isso, eu estava muito excitada em estar nos braços dele para pensar nas regras que eu estabelecera. Eu pude ver o desejo borbulhando nos olhos dele, além da raiva que era outra coisa que eu conseguia ver claramente nos olhos dele. Se, a princípio, eu pensara que o ódio ofuscava tudo o que ele sentia por mim, eu estava errada. Ele não me odiava, ele odiava a si mesmo por ainda me querer, por me desejar ardentemente, pela fraqueza dele em não conseguir resistir ao que sentia por mim. E assim era para nós dois. Talvez se eu não o amasse tanto, minha vida seria mais fácil. Eu seria livre... Mas a Kate tinha razão, eu não poderia ser livre amando William. E, neste momento, eu o odiei por isso, por ser tão bom para mim, por me amar mais do que a vida, por tentar ser a resposta para todas as minhas perguntas, por ser minha única chance de ser verdadeiramente feliz. – O que você quer? – perguntei já sabendo a resposta. – Você – disse ele. – Eu nunca deixei de querer você. Por alguns instantes, nenhum de nós disse nada. Ficamos nos olhando como se tentássemos fazer o outro desistir e recuar. – Então, o que você está esperando? – falei por fim, desafiando-o. – Possua-me, como você tem sonhado em fazer todo o tempo que estivemos separados. Ele contraiu a mandíbula, os lábios viraram uma linha fina. – Não é assim que deve ser. Eu nunca quis apenas... transar com você, e você sabe disso. – Não, eu não sei. Eu não quero pensar sobre isso agora. Deixe que seja errado, pelo menos uma vez. Ele ficou me olhando, claramente chocado para falar. – Vamos fingir que você nunca conheceu meu eu verdadeiro – falei. – Eu sentia como se estivesse deixando passar algo importante sobre o que acontecia no recinto, mas eu não me importava. – Vamos fingir que você nunca tirou a venda dos meus olhos. Vamos fingir que eu nunca conheci o verdadeiro Will... Ele engoliu seco. – E se for verdade, Louise? E se você nunca conheceu meu verdadeiro eu? E se o Will que você vê agora é quem eu sou de verdade? Indiferente, monstro desalmado, muito egoísta para deixar você. Pude sentir lágrimas ardendo nos meus olhos. Eu não sei por que, de repente, eu senti vontade do chorar. Eu estava perdendo o controle. Minha mente se recusava a desligar dos sentimentos que meu coração tentava reprimir há tanto tempo. Estávamos muito ferrados... nós dois sabíamos que aquela conversa não terminaria bem, mas nenhum de nós se importava. Fomos longe demais e nos deixamos cegar por nossos desejos. Ele não era o único egoísta no recinto. Eu não era muito diferente dele. Eu coloquei meus sonhos primeiro e deixei Will ficar em algum lugar atrás das belas cortinas que se abriam para a sala cheia de cuecas e olhos de admiração me observando dançar para eles. Eu nunca o coloquei em primeiro lugar. Nunca tentei me colocar no lugar dele, sentir o que ele deve ter sentido todo o tempo que eu o afastei. Eu pensei que sabia como ele se sentia, mas eu estava errada. Eu não tinha a menor ideia do que acontecia na cabeça e no coração dele. Eu pensei que o amor dele era forte o suficiente para ajudá-lo a superar tudo. Eu só nunca pensei que se não fosse por mim, ele, provavelmente, estaria mais feliz agora, talvez até casado e com os filhos que ele sempre quis ter. – Pare de pensar – disse ele, como se pudesse ler meus pensamentos. Ah, se ele soubesse como eu queria parar de pensar... – Só se você fizer o mesmo – retruquei, novamente, fazendo parecer um desafio. Porque, como eu, ele nunca parava de pensar, nunca parava de dar muita importância a pequenos problemas. Ele não sabia como levar as situações numa boa. Ele não sabia não se importar, mesmo que neste momento ele achasse que não estava nem aí. – Vamos nos arrepender disso, Louise... – Não dou a mínima. Fiquei na ponta dos pés, passei os braços em volta do pescoço dele e colei os lábios nos dele, espantando cada pequena dúvida que mente anuviada dele ainda fosse capaz de pensar. Ele logo interrompeu o beijo e me virou então eu fiquei com as costas pressionadas no peito dele. Ele sussurrou no meu ouvido. – Quero fazer amor com você, Louise. Posso? As palavras foram suaves, mas firmes. Ele não me deixaria sair do quarto até ter o que queria. – Pode – respondi com a respiração pesada. Eu não queria pensar, deixei meus sentimentos bons e ruins assumirem. Pela primeira vez, no que parecia uma eternidade, eu simplesmente deixei rolar... Capítulo 12 William Era errado... O que estávamos prestes a fazer era tão errado, de diversas formas. Mas nenhum de nós dava importância. Estávamos muito embriagados para ponderar as consequências e fartos da merda que tínhamos que lidar para, simplesmente, transar. Eu estava embriago com o álcool, e a Louise com o peso de tudo que ela pensara ser forte para lidar sozinha. Era o pior momento para estarmos juntos, mas não éramos capazes de fingir que não nos desejávamos mais. Depois da competição, eu saí antes que a Louise percebesse que eu decidira ir assistir a dança dela. Ela parecia tão feliz no palco...me senti invadindo o mundo de juventude e liberdade dela, um mundo que ela deveria desfrutar sem estresse sobre nenhum aspecto de nossa vida. Ela pertencia ao palco e enquanto ela estava nele, ele era dela e a fazia feliz. E eu não poderia tirar essa felicidade dela. Apesar de que enquanto eu estava lá, deliciei-me com cada segundo da dança dela, eu não conseguia tirar os olhos... eu podia ver as emoções e os pensamentos dela enquanto executava os passos. Falavam comigo, o corpo dela falava comigo, mas eu não poderia arruinar tudo, eu tinha que sair de lá e foi o que fiz. Enquanto eu assistia ao amor da minha vida se mover tão graciosa quanto as ondas do mar, fiquei pensando como a situação era impossível para mim. E não era porque eu quisesse destruir a felicidade dela, era porque ela não poderia se permitir ser feliz comigo até ter certeza de que podia ser feliz sozinha. É como diz o ditado: você precisa se amar antes de amar alguém. E hoje, eu percebi como a vida dela ficou complicada com a minha presença. Invadir o mundo dela foi um erro desde o começo, e isso estava além de assisti-la no palco. Louise ficaria bem mesmo sem que eu assistisse cada movimento dela. Ela era forte e corajosa, era uma guerreira que não precisava de um exército para conquistar o mundo ou vencer batalhas... O fato é que ela não precisava mais de mim para lutar por ela, ela podia lutar sozinha. Tudo que eu fiz foi complicar a vida dela. Levantei-me e me despedi da Sabine, fui embora sem pensar duas vezes que, na verdade, eu estava indo embora da vida da Louise. Eu estava fugindo... dela, de mim, de todos os sentimentos que eu tinha por ela. Eu só queria morrer, ali mesmo, e nunca mais olhar nos olhos dela. Aqueles olhos lindos, olhos que me viam por dentro, que viam as profundezas da minha alma. E assim, faziam meu coração acelerar e meu corpo tremer, e quando eu olhava de volta naqueles olhos que eram como uma armadilha, eu mergulhava nas profundezas sem fim. Como eu disse, os olhos dela eram como uma armadilha feita só para mim e é por isso que eu precisava ir emboraantes que ela me visse. Saí do prédio praticamente correndo... Eu precisava me distanciar dela, entrei no carro e acelerei. Eu não olhei para trás, nem mesmo olhei de relance pelo retrovisor. Pensei que assim era melhor. Por um momento, imaginei deixá- la para sempre, fugir e nunca me permitir nem falar o nome dela de novo. Acelerei em direção ao hotel onde costumava ficar quando queria ficar sozinho e estacionei o carro com pressa. Fiz o registro e fui para o quarto me sentindo ao mesmo tempo derrotado e vitorioso por cair fora. Quando eu afogava as mágoas com as bebidas do minibar, decidi que poderia precisar fugir para mais longe dela assim eu não me entregaria e voltaria correndo para ela. Toc, toc, toc... Bateram à porta. A porcaria do funcionário do hotel precisa me deixar... eu abri a porta e comecei a gritar ante de notar que era ela quem estava à porta do meu quarto, linda e desejável como sempre. Eu grunhi, Eu estava perdido de novo. Perdido para caramba de tudo, menos dela. Não me lembro de ter me odiado mais do que naquele momento. Eu a queria para satisfazer a ânsia que eu não conseguia conter. Quando ela fez a oferta, a tampa da garrafa explodiu, meus sentimentos e pensamentos combinados a um desejo inexplicável que eu não sabia como conter e eu apenas deixei o desejo me levar... – Relaxa –sussurrei, dando um beijinho no pescoço dela. Intencionalmente eu a afastei de mim. Aparentemente um pedacinho da minha consciência ainda estava presente e me dizia que eu jamais me perdoaria se fosse rude com ela. No entanto, eu passei uma maldita eternidade sem ela e empurrei minhas preocupações para o fundo da mente onde eu não veria os olhos dela. Convenci-me que seria melhor se eu não conseguisse... eu a queria... eu precisava dela... agora. Eu podia sentir o peito dela subindo e descendo sob minhas mãos exploradoras tocando a barra da camiseta azul clara. Depois de algum silêncio eu a tirei. Eu passei as mãos nas costas dela e fui até o fecho do sutiã vermelho escuro abrindo-o num movimento suave, baixando as alças pelos braços dela. – Vou amarrar suas mãos – avisei, pegando minha gravata que estava no encosto de uma cadeira. Ela não protestou quando eu puxei as mãos dela para trás e as amarrei com o pedaço de tecido. Puxei-a para perto de novo, usando as mãos para massagear o corpo dela, para cima e para baixo nas laterais, passando a mão pela barriga e parando nos peitos perfeitos para beliscar de leve os mamilos rosados. – Por que, exatamente, você veio aqui, Louise? – perguntei pela centésima vez na última meia hora. Ela sabia que eu precisava ouvir a resposta. – Para agradar você – respondeu ela entrando, naquele exato momento, no jogo velado que, de alguma forma, parecia ser a única saída para a bagunça em que nos colocáramos. – Resposta certa – falei ainda bêbado para pensar direito... ou talvez eu estivesse apenas apreciando demais a total perda de controle para tentar ser sensato de novo. Nenhuma bebida poderia me deixar mais embriagado que o corpo e o cheiro singular dela... Eu sabia que sempre lembraria do cheiro da pele dela mesmo quando ela não estivesse por perto. Era o suficiente para me fazer fechar os olhos e ser banhado pelo cheiro dela que preenche cada célula do meu corpo. O jeans apertado que ela vestia não deixava muita margem para minha imaginação... quer dizer, no que diz respeito as curvas do corpo dela. Pelo jeans via-se todas as curvas sexys dela e eu mal podia esperar para explorar todo o corpo dela, por dentro e por fora. Abri o zíper da calça dela a puxei pelas pernas, quando estavam perto dos tornozelos ela levantou um pé e depois o outro tirando a calça e depois chutou-a para o lado. Ela ainda estava parada de costas para mim. Os cachos louros desciam em cascata por um ombro me deixando a vista maravilhosa das costas perfeitas, da bunda maravilhosa e das pernas longas. Corri as mãos pela coluna dela, apalpando levemente a bunda dela. A tanga vermelha-escura que ela vestia não cobria muito, o que era uma enorme vantagem no momento. Apertei um pouco mais a bunda dela e deslizei uma das mãos entre as pernas trazendo-a mais para perto de mim. Perdi o ar no momento que a senti molhada, através do tecido da tanga. Deus, ela estava pronta para mim. Eu não conseguia acreditar que ela me desejava apesar de eu estar sendo um completo babaca com ela hoje. Eu estava indisposto, muito indisposto, mas eu mal podia esperar pelo momento em que estaríamos perdidos no prazer de nossos corpos se tornando um só, pele com pele, quadril com quadril, boca com boca. Passaram alguns minutos enquanto estivemos ali, muito arrasados para nos separarmos um do outro. Debilitado demais para respirar e com medo demais até mesmo para pensar. Era como se estivéssemos prestes a desistir um do outro, mas não podíamos fazê-lo sem magoar e machucar ainda mais nosso coração, não importando quanto isso fosse impossível, considerando que já estavam partidos ao ponto que nenhum de nós sabia como curar os ferimentos. Eu estava devastado por causa dela e somente ela poderia dar um jeito nisso... e por isso eu queria puni-la, mesmo que eu percebesse que não era exatamente culpa dela, era a minha própria estupidez. Eu que me aproximei demais, e a culpa por isso era toda minha... e a este ponto, não havia nada que eu pudesse fazer. Eu a empurrei para o sofá e a debrucei no encosto. Pus as mãos na bunda dela de novo, depois as deslizei pelas laterais do corpo dela pegando as beiradas da tanga e deixando-a cair pelas pernas, quando chegou no chão ela, gentilmente, tirou-a pelos pés e a chutou longe e roçou a perna no meu pênis. Meu pênis ficou mais duro. Eu nunca a vira agir daquela forma, quieta, prestativa e inocente... e ela parecia estar uma pouco obcecada pela ideia de ser possuída de forma mais rude. Eu nem precisava ver o rosto dela para saber. O corpo falava por ela. Cada pensamento passando pela mente dela estava refletido na forma como ela respirava, jogava a cabeça para trás com os olhos fechados e o movimento dos lábios, sem sentir vergonha. Acho que ela nunca foi mais sexy do que nesse momento. Ajoelhei-me no chão e lambi entre os lábios delicados. Ela gemeu alto em resposta. Ela arqueou com meu toque e o corpo todo tremeu sob minhas mãos. Depois me levantei e peguei a garrafa de champanhe que estava na mesa, onde eu a colocara antes. Eu a virei deixando que o líquido dourado descesse pelas costas dela, pela bunda e pela perna. Curvei-me e comecei a lamber as pequenas gotas brilhantes na pele dela, correndo a língua pelas curvas maravilhosas e a acariciei com as mãos de forma sensual. – Também quero – disse ela de repente, virando um pouco a cabeça para me ver melhor. Inclinei-me para perto do rosto dela movendo o cabelo dela para trás e fazendo-a inclinar-se para mim. Depois cobri os lábios dela com os meus, deslizando a língua para dentro da boca dela e deixando-a saborear a champanhe dos meus lábios. – Você é minha pior distração, Louise... Minha maldição. Minha imperfeição perfeita. Você é minha melhor metade e meu desejo mais sombrio. Minha maior vitória e minha mais triste derrota. Você é tudo para mim... Tudo que eu quero esquecer e tudo que eu nunca quero deixar para lá... O que eu faço agora? Como vou viver? – Nada de ficar pensando hoje, lembra? – ela mordeu o lábio inferior apoiando a cabeça no meu ombro, os olhos fechados de novo. Eu alcancei seu clitóris desenhando círculos invisíveis em volta dele. Ela gemeu satisfeita encostando na minha mão. Deus, eu a queria, agora mais do que nunca. Tremendo dos pés à cabeça, tirei a roupa e fui ficar atrás dela de novo. – Por favor – sussurrou ela. – Faça-me sua, Will. Eu quero ser todasua... O que eu estava esperando? Por um momento senti vontade de parar antes que fosse tarde demais, mas aí ela pressionou a bunda contra meu pênis latejante e minha mente calou a boca. Agarrei a bunda dela e a penetrei forte e profundamente. Ela soltou gemidos de prazer. A umidade dela me acolheu me envolvendo com seu calor, fluindo pelo meu pênis e facilitando cada estocada. Arrepios percorreram minha espinha, como lâminas frias iniciando o fogo perigoso que queimava dentro de mim. Ela estremecia a cada estocada, minhas mãos e meus lábios em todos os pontos que eu conseguia tocá-la, nosso corpo batendo um contra o outro. Os sons de nós dois fazendo amor preenchia o quarto. Eu estabeleci o ritmo e ela se ajustou a ele perfeitamente. Eu nunca duvidei de que ela me entendia bem, ela sabia exatamente o que fazer e como se movimentar para me satisfazer. Minhas estocadas ficaram mais rápidas e fortes. – Desamarre-me – disse ela, ofegante. – Para quê? – Só me desamarre. E eu obedeci. Ela se virou e colocou as mãos em volta do meu pescoço. – Levante-me – sussurrou ela perto da minha boca. E eu obedeci de novo. Ela me enlaçou com as pernas, depois se abaixou um pouco e me deu um beijo profundo. Eu penetrava com vigor a vagina encharcada, fazendo-a soltar alguns gemidos. Estes vibravam nos meus lábios, pois ela continuava me beijando, sugando e mordendo meu lábio inferior e depois lambendo-o com a ponta da língua bem devagar. Comecei a penetrá-la mais rápido, os gemidos dela ficaram mais altos, a respiração acelerada. Gotas de suor começarem a escorrer nas minhas costas. Porra, eu estava tão perto, tão perto e não podia esperar para senti-la gozar junto comigo. Ela revirou os olhos, e eu senti a vagina contraindo me levando ainda mais para o limite. Onda após onda, o clímax nos dominou. Eu sentia que não podia contê- lo, mas eu queria mais. – Vire-se – mandei. Com um sorriso nos olhos encantadores ela fez o que eu mandei. Eu a inclinei sobre o sofá de novo e comecei a possuí-la por trás. Era enlouquecedor... eu não podia segurar mais. Com uma estocada final, eu gozei dentro dela sentindo um alívio há muito esperado, lavando-me da tensão, da dor, da raiva. Tão perfeito... sempre tão perfeito. – Você é um cretino egoísta, William Blair – disse ela, tentando recuperar o fôlego. – Ah, eu ainda não terminei com você, Louise. Ainda não... Eu não poderia deixá-la ir depois do que acabara de acontecer entre nós. – Eu quero que você fique dolorida – sussurrei, agarrando o cabelo dela de novo. – Você não deveria estar aqui hoje, mas você está. E, já que você, gentilmente, apareceu à minha porta, de jeito nenhum que vou deixá-la sair desse hotel antes de conseguir exatamente o que quero de você... e é você que eu quero, você inteira... *** Acordei com uma luz forte entrando pela janela. Esfregando os olhos, sentei-me na cama e tentei lembrar onde eu estava. No quarto do hotel? Mas que... ah, merda! A noite passada... Ah, merda!!! – Louise? – chamei devagar, virando-me para a direita esperando vê-la dormindo, mas a cama ao meu lado estava vazia. – Louise? – chamei de novo, mas ninguém respondeu. Verifiquei o terraço e o banheiro, mas ela não estava. Ela foi embora... Entrei em pânico e fiquei desesperado sabendo que eu poderia ter ferrado com a melhor parte da minha vida. Claro, depois do que fizéramos na noite anterior, eu nunca deveria ter esperado que ela ficasse. Deus, eu estava sendo um porco egoísta. Ela deve me odiar ainda mais agora. Bem feito para mim... mereço o ódio dela, mereço coisa pior. Olhei a cama bagunçada e minhas roupas no chão e então as lembranças da noite anterior preencheram minha mente. Ela fora maravilhosa, tão receptiva, tão linda. Ela me deixou realizar todas as fantasias que eu tinha com ela. Em nenhum momento tentou me parar. Se não a conhecesse bem eu diria que ela gostou tanto quanto eu, mas eu tinha certeza de que ela fizera mais por mim do que por ela mesma. Será que foi um sacrifício que ela fez para me agradar? Para me fazer acreditar que eu significava muito para ela? Ou era um último adeus que ela viera aqui dizer antes de partir para sempre? Seja lá o que for, eu precisava vê-la e perguntar tudo isso para ela. Eu não queria mais nenhuma incerteza entre nós. Tomei um banho rápido, vesti-me e liguei para o Christopher. – Você sabe onde a Louise está? – perguntei. – Bom dia para o senhor também – respondeu ele com a ironia costumeira. – E, sim, eu sei onde ela está, está na escola. – Ela foi para a minha casa antes? – Sim. – Ela levou as coisas dela? – Depende de que coisas o senhor se refere. Ela pegou alguns livros e alguns vestidos. Por quê? Então ela não estava planejando se mudar hoje, ou pelo menos ela ainda não mudara. Aquilo deveria ser bom sinal, não é? Respirei aliviado. – Esqueça. Você conseguiu a informação que eu pedi? – perguntei ao Christopher. Era sábado de manhã, Louise e eu deveríamos visitar Debora Griffin. Apesar que depois da noite anterior eu não tinha certeza de que ela ainda quisesse ir comigo ou mesmo me ver de novo. – Consegui. Os arquivos estão no seu iPad. Está embaixo do banco do passageiro do seu carro. Como sempre, ele cuidara de tudo. – Obrigado, Christopher. Vou lê-los assim que vir... Louise. – Espero que encontre mesmo tempo para lê-los. – E por que eu não leria? – Bem, imagino que depois da noite passada você não terá muito tempo para ler. – E por que exatamente você pensa assim? – Ah, nada em particular. Somente a atmosfera da casa... O que ele estava tentando dizer? – O que a Louise disse a você sobre ontem à noite? – perguntei. – Ah, acredite, eu não quero saber os detalhes. Mas ela não precisou dizer nada... a cara dela dizia tudo. – Pelo amor de Deus, Christopher, dá para parar com mistérios? Não estou com humor para charadas hoje. – Faço ideia... Ai, o velho realmente curtia me deixar irritado. Mesmo sem dizer muito a escolha de palavras dele dizia tudo o que ele não verbalizava. – Eu ligo para você mais tarde – falei, desligando o telefone. Às vezes, quando estou falando com o Christopher parece que tenho cinco anos de novo, com medo de ser punido por mal comportamento. Só que eu não sou mais um menino e meu mal comportamento não tem nada a ver com meus brinquedos ou brigas com outros meninos. Agora, tudo de ruim que eu fiz, eu fiz só para uma pessoa... Parei no estacionamento da Balero e chequei meu relógio, era meio-dia. Eu não sabia quantas aulas Louise teria, então pensei que poderia enviar uma mensagem antes de entrar e sair caçando-a. Estou aqui fora. Você pode vir aqui um pouco? Ela respondeu em menos de dez segundos. Você tem certeza de que “um pouco” será suficiente? Eu não sabia bem como reagir às palavras dela. Ou ela estava me provocando ou dizendo que estava brava comigo. Vai entender. Ok... respirei fundo e digitei: Depende como você vai usar esse um pouco... Enviar. Não saia daí – dizia a resposta dela. Poucos minutos depois, eu a vi saindo da escola, com ela veio o rapaz loiro com quem ela dançara na competição no dia anterior. Eles pararam na escada, ele a beijou no rosto e foi embora. Que porra é essa? Pensei comigo. Quem ele pensa que é? Eles sempre se beijam para se despedir? Ah, espera aí, cara, não há nada de errado com um beijo no rosto entre amigos, disse minha voz interna. Além disso, menos de 24 horas antes eu pensei em dar um tempo, deixando-a ter mais liberdade e parar de agir com um namorado paranoico se esgueirando por aí para garantir que nenhum cara flerte com ela ou a beije no rosto. Eu até pensei em deixá-la para sempre, ir embora... Bem, isso foi antes do que aconteceu na noite anterior. Louise olhou para o estacionamento,identificou meu carro e foi até onde eu a esperava. Respirei fundo, desejando boa sorte a mim mesmo e saí do carro. – Bom dia – falei quando ela se aproximou. – Bom dia – respondeu ela. Ela não parecia brava, na verdade, ela parecia se conter para não rir de mim. Muito bom. – Já terminou suas aulas para hoje? – perguntei. – Já. – Ela tentou disfarçar o sorriso, mas eu vi os traços de um brilhando no rosto dela. – Legal, entra no carro. – Mandão... você adora ser mandão, não é, Sr. Blair? Ugh, eu queria que ela parasse e só me dissesse o que está pensando. Havia muita ironia nos olhos dela, o sorriso dela completava o quadro. – Acho que você já passou tempo suficiente comigo para saber isso, Srta. Woods. Na verdade, eu adoro sim. Ela revirou os olhos, deu a volta no carro, abriu a porta e sentou no banco do passageiro sem dizer mais nada. Tomei o volante e liguei o carro. – Aonde nós vamos? – perguntou ela depois de uma pausa. – Tínhamos planos para hoje, esqueceu? Vamos até a casa da Débora, mas antes, precisamos conversar... Capítulo 13 Louise Paramos num pequeno parque, Will desligou o carro e disse: – Desculpe-me por ontem à noite... – ele não olhou para mim. As mãos ainda estavam na direção, os olhos voltados para o emblema no volante. – Pelo que, exatamente? – perguntei um tanto irritada. Até aquele momento eu acreditava que nós dois gostáramos do que acontecera na noite anterior, sem importar que, no começo, tenha parecido errado. – Eu estava mal ontem, Louise. Eu estava com raiva, bêbado e... nunca vai se repetir, prometo. – Nunquinha? Ele se virou para olhar para mim, e nos olhos, uma interrogação. Aproveitei o momento para observá-lo. Ele ainda vestia a mesma roupa. Aparentemente não parara em casa para se trocar. A sombra da barba já cobria o rosto dele. Ele parecia cansado, o que não era surpresa, considerando que caímos no sono por volta das cinco da manhã. E, até então, estávamos ocupados demais fazendo amor, tentando recuperar todos os meses que ficamos separados, não tivemos tempo de pensar no resto. E, honestamente, eu ainda tinha vontade de voltar ao Hotel Baía e fazer tudo de novo. Só que parecia que o Will não estava animado com a ideia de ter aquele tipo de aventura de novo. Será que ele pensa que o que fizemos foi errado? Porque eu me diverti, nunca me diverti tanto... – Louise... sobre o que aconteceu ontem... não foi certo. Ah, sim, aí está. Não foi certo... – Você está falando sério? – perguntei falando alto. – Por que você sempre quer que tudo seja sempre perfeito? Ugh! – Você também não quer que seja perfeito? Você não está tentando viver a vida perfeita sem nada errado ou ruim, eu inclusive? – Will, por favor... eu sei que tenho afastado você por tempo demais, mas eu achei que estava fazendo o melhor para nós dois. Eu pensei... Deus, agora eu sei que fui tola, mas precisamos mesmo conversar sobre isso de novo? – Claro que precisamos! Porque eu não entendo você, Louise. Pensei que conhecesse você, mas não a conheço. Diga-me, por que você permitiu que eu fizesse tudo o que fiz com você ontem à noite? – Porque eu também queria! – respondi inflamada. – Eu não deixei você fazer nada que eu também não quisesse. Como você não vê isso! Eu não estou brava com você, não o culpo por nada... eu amo você, Will. E não quero mudar nada. Eu só quero estar com você. Estou cansada de fugir, estou mesmo. E na noite passada... me entreguei a você porque era isso o que eu queria, eu queria ser sua, inteira, incondicionalmente. E eu não me arrependo de nada, de estar com você, de ser sua de novo. Will balançou a cabeça suspirando. – Não deveríamos ter sido tão... – Apaixonados? – Deveríamos ter esperado... eu deveria ter esperado. Eu deveria ter dado mais tempo a você... – Pare, Will, pare! Você não fez nada contra minha vontade. Você está me entendendo? Eu queria você tanto quanto você me queria! Se você se arrepende, então não faz sentido ficarmos mais juntos. Porque o que eu senti ontem à noite foi amor. E se você sentiu algo diferente, fale, e eu vou embora. – Louise, por favor... – ele envolveu meu rosto com as mãos. – Não é isso que estou dizendo – falou suavemente. – Então eu não estou entendendo... o que você está tentando me dizer? – Senti que iria chorar se ele dissesse que não queria mais ficar comigo. Eu provavelmente morreria ali mesmo. – Eu amo você, Louise, demais. Ele se aproximou dando um beijinho na minha boca. – E eu não me arrependo de nem um segundo da noite passada. Como eu poderia me arrepender? Foi maravilhoso, você foi maravilhosa. Eu ainda não acredito que ficamos a noite toda fazendo amor, várias vezes, como se nunca fosse o suficiente. Mas, eu ainda acho que preciso me desculpar pela minha grosseria. Não foi de propósito. É que eu estava cansado de esperar por você. E sim, eu estava a um passo de desistir de você, de nós. Se você não tivesse ido ao hotel, eu, provavelmente, estaria num voo para Paris agora, não sei... quando você apareceu, eu estava pensando em como eu iria embora... para sempre. Eu não consegui conter as lágrimas, elas escorreram pelo meu rosto como rios de dor que eu não conseguia esconder. As palavras dele pareceram como lâminas na minha carne, deixando arranhões sangrando por todo meu corpo. – E você vai ficar aqui? – perguntei com voz trêmula. Ele sorriu e dissipou minhas lágrimas, uma a uma. – Vou ficar. Não consigo imaginar minha vida sem você, Louise. – Desculpa – falei, sentindo que era minha vez de pedir desculpas. – Pelo quê? – perguntou ele, ainda segurando meu rosto. – Por fazer você sofrer tanto, por deixar você, por tudo... eu sei que você tem o direito de ir embora e nunca mais olhar para mim, mas, Will, por favor... não faça isso. Não me deixe. Eu prometo, vou mudar. Por você, e por mim mesma. – Mas eu não quero que você mude, Louise. Eu só quero que você me permita amar você, me permita ser o homem com o qual você pode contar, o homem que você confia e quer a seu lado. – Eu nunca deixei de confiar em você. Nunca duvidei de seus sentimentos por mim. E ontem à noite, quando eu vi as consequências de tudo o que fiz a você, percebi que não era o que eu queria, não era o que eu esperava ver. Eu vi você e você estava despedaçado e perdido. Eu não consegui deixar de me culpar por aquilo, porque era tudo culpa minha. – Não vou negar, eu me sentia como lixo ontem, e sabe por quê? – perguntou ele. – Por quê? – perguntei baixinho. – Porque eu fui ver você dançar e a vi de uma perspectiva diferente. Eu vi uma Louise que eu não conhecia. Eu vi sua vida fora do nosso mundinho. E então, eu acreditei que aquilo era tudo de que você precisava. E pensei que não havia lugar para mim na sua vida. Fiquei até o fim da competição, vi você ganhar e aí fui embora, sem dizer nada, porque não consegui ficar... eu não queria ver você desistir do que você merece por minha causa. Eu nunca me perdoaria por estragar seus sonhos. E, droga, eu ainda sinto que não tem lugar para mim na sua vida, Louise. Eu ainda acho que me retirar da sua vida seria o melhor que posso fazer por você, mas não consigo... não consigo sair da sua vida. Mesmo sabendo que sua vida seria muito mais fácil sem mim. – O que é que você está falando? Mais fácil? Sem você? Você acredita mesmo que eu seria capaz de aproveitar minha vida sem você comigo? – Eu não sei... – Ah, Will, você está completamente errado. Tudo o que quero e preciso é você. – E a dança? E a proposta da Sabine? Não é tudo que você sempre quis? – Como você soube da proposta dela? Ele soltou meu rosto, recostando-se no banco, os olhos ainda em mim. Pegou uma das minhas mãos e beijou-a suavemente. – Ela me disse. E eu acho que vocêdeveria aceitar a proposta. Acredito que aquele era um dos assuntos que eu não sabia como contar para ele. E, sim, eu temia que ele não aprovasse. – Você acha mesmo que eu deveria aceitar? Tudo bem para você se eu aceitar? – Bem, vou morrer de ciúmes de vez em quando, mas, no geral... sim, acho que consigo viver com isso. – Você está bravo comigo por eu não ter contado? – Honestamente? Não estou. Estou um pouco desapontado, mas bravo não. Por que você não me contou a proposta dela? Você temia que eu pedisse para você não aceitar? – Não... eu só pensei que você talvez não gostasse. Mas nunca pensei que você me pediria para não aceitar. Sei do seu amor por mim e que quer que eu seja feliz. E você sabe como sou feliz dançando. – Eu sei. Eu vi de novo ontem na competição. E, sim, eu estava com ciúmes do jeito que seu par tocava em você... – Will baixou os olhos como se estivesse com vergonha de me falar sobre ciúmes. Eu sorri. – Você não deveria sentir ciúmes. Era somente uma dança, uma apresentação. Mas quando danço para você é totalmente diferente. – Eu sei, eu sinto. – Trégua? Ele riu. – Eu não sabia que estávamos em guerra. – Bem, pareceu um pouco ontem à noite... Mas se você quiser brigar comigo de novo, faça como ontem. Ele fechou os olhos por um segundo, depois me olhou, dizendo: – Pare de me tentar, você sabe que não sou nada bom em resistir a você. Inclinei-me para frente e o beijei. Alguns segundos depois ele disse: – Talvez devemos pensar sobre o que vamos falar com a Debora? – Sim, é melhor pensarmos. Ele me olhou de novo com desejo e apontou para meu banco, dizendo: Meu iPad está embaixo do seu banco, pegue-o e abra o arquivo com nome “Debora”. Christopher encontrou alguma informação sobre ela, mas eu não tive tempo de ver os arquivos. – Você não acha melhor voltarmos para casa primeiro para você trocar de roupa? Ele olhou para a camisa e a calça amassadas. – Verdade, eu não pensei nisso. Eu ri e peguei o iPad embaixo do banco. Liguei-o e comecei a procurar a pasta. – O que você pediu para o Christopher investigar sobre ela? – Eu não sei o que ela tem feito desde que deixou a empresa, então pedi a ele para descobrir mais sobre o novo trabalho dela e as pessoas para quem ela está trabalhando. Encontrei a pasta com o nome da Debora, abri o primeiro arquivo e gritei. – Eu sabia! – O quê? – Eu sabia que já a vira antes de você me mostrar as fotos do seu pai, mas eu não conseguia lembrar onde. Agora eu sei. – Virei o iPad para ele poder a foto da qual eu falava. – É seu pai junto com ela? – É. Eu vi essa foto no site dele também. – Você acha que ela trabalha para ele agora – perguntou Will. – Deixe-me ver... – Eu abri outro arquivo que tinha uma breve biografia dela e... – Só pode ser brincadeira – murmurei, lendo a lista de lugares onde ela costumava trabalhar. Dizer que era curta era o eufemismo do século. – Ela estava com o Montgomery todo esse tempo – falei. – O quê? – Ela começou a trabalhar para ele há quase dez anos, logo depois que saiu da empresa do seu pai. – Mas... como eles se conhecerem? Será que a Rea tinha razão e meu pai conhecera o seu, anos atrás? – Espera, tem algo mais aqui. De acordo com os arquivos ela conhecia Montgomery bem antes do acidente, e seu pai também... – Impossível. – Will parou o carro no acostamento, pegou o iPad da minha mão e olhou os arquivos. – Eles se conhecem por pelo menos... vinte anos? Por que eu nunca ouvi meu pai mencionar o nome do Montgomery? – Talvez porque ele não quisesse dizer a ninguém que se conheciam. – Mas por quê? Por que o segredo? – Será que sua mãe sabe algo? – Acredito que não. Meu pai nunca contava para ela o que acontecia na empresa. Ele acreditava que as mulheres não precisavam saber assuntos de trabalho, a menos que fossem parte dele. – E o Christopher? Como é possível que ele não conhecesse Montgomery? – Estranho, não é? Dei de ombros. – Talvez houvesse assuntos que seu pai preferia manter para si mesmo. – Espera... o que é isso? – O que, Will? – Aqui diz que a empresa com a qual meu pai estava prestes a fazer negócios no dia que ele morreu era do Montgomery. Levi Donald era o presidente, mas a empresa fora fundada por seu pai. Levi era o testa de ferro do seu pai. Eu engoli seco, meu coração acelerou. – Você está pensando o mesmo que eu? – perguntou Will, ainda olhando fixo para o iPad que tinha nas mãos. – Na verdade, eu nem sei o que pensar. – Isto é o que a Rea estava tentando falar para você... quando Fletcher foi eleito Senador, ele teve que deixar os negócios. Ele falsificou o acordo e fez todos acreditarem que ele vendera a empresa, mas, na verdade, sempre fora dele. E os arquivos dizem que Debora liderou a empresa logo depois que saiu da empresa do meu pai. – Precisamos falar com ela – falei. – Agora mesmo. – É exatamente isso que faremos. Eu não acredito que ela vá se importar com minha camisa amarrotada. Preciso fazer algumas perguntas a ela antes de pensar em qualquer outra coisa. Will ligou e carro de novo e acelerou pela estrada, para o endereço nos arquivos, o mesmo que o Drew disse que é onde a Debora mora agora. Ficamos muito desapontados quando chegamos à casa dela, ela não estava lá. Na verdade, o lugar parecia estar fechado há anos, sem ninguém morando lá. – Tem certeza que é aqui? – perguntei. – Tenho. Verifiquei várias vezes. Fui até uma das janelas e olhei para dentro, tentando ver pelas cortinas entreabertas. – Não há mobília – informei. – Quem são vocês? – disse alguém atrás de nós quase nos matando de susto. Nos viramos e vimos um senhor com uma arma apontada direto para nós. – Procuramos por Debora Griffin – disse Will calmamente, escudando- me com o corpo. – Não conheço ninguém com esse nome – vociferou o homem. Eu diria que ele tinha por volta de 70 anos, talvez mais, com longa barba cinza e usando um chapéu engraçado que me lembrou um elfo que eu vira em um filme uma vez. A calça preta e a camisa estavam sujas e, mesmo à distância, pude sentir o mal cheiro dele. Será que ele não conhecia o sabonete para evitar fedor? – O senhor conhece os proprietários desta casa? – Perguntei dando um passo a frente. Will segurou minha mão e me puxou para trás. – Cuidado – falou baixo para que só eu o ouvisse. – Claro que conheço! A casa é minha – respondeu o senhor. – Desculpe, não queríamos incomodar o senhor – falei. – Estamos procurando por uma velha amiga nossa. – Virei-me para o Will, dizendo: – Dê- me o iPad. Ele me passou o iPad sem dizer nada. – Posso mostrar a foto da mulher que procuramos? – perguntei para o homem com a arma, que ainda estava apontada para nós. O homem olhou para os lados, abaixou a arma e assentiu. Dei um passo a frente, deixando alguns de distância entre nós e mostrei a ele a foto da Debora. – O senhor já viu essa mulher? – perguntei. O homem me olhou, depois moveu os olhos para Will que estava ao meu lado. – Conheço – respondeu ele finalmente. – Ela é minha filha, mas o nome dela não é Debora, é Christine Montgomery. Capítulo 14 William Acho que nunca fiquei tão pasmo em toda minha vida. – Como o senhor a chamou? – perguntei. – Christine Montgomery? E, ela é sua... filha? Isso significa que o senhor é parente de Fletcher Montgomery, é isso? – Sim, ele é meu sobrinho. – Respondeu ele com um sorriso amarelo. – Embora eu ache que ele nem saiba que estou vivo. Não nos vemos há quase 40 anos. Meu irmão e eu nunca fomos próximos. Eu nunca o vi, ou qualquer um da família dele, depois que eles saíram dessa casa... o que aconteceu há muitos anos... – E sua filha? Onde ela está agora? – perguntei. – Não a vejo há meses. Louise e eu nos olhamos surpresos. – O senhor sabe onde encontrá-la? – perguntou Louise. – Não, não sei. Ela não vem muito aqui, talvez uma ou duas vezes por ano.Mas ela costumava me telefonar quase toda semana. Aí, alguns meses atrás, ela parou de ligar. E ela não veio mais aqui, não sei o que aconteceu – falou ele parecendo preocupado. Por um segundo, tive a impressão de ter visto lágrimas brilhando nos olhos dele. – Obrigado pela ajuda, senhor! – falei. – De novo, desculpe-nos por incomodá-lo. Não sabíamos que a Debora, quer dizer, não sabíamos que a Christine não morava mais aqui. – Por que precisam encontrá-la? Ela, o meu sobrinho, fizeram algo errado? – Por que o senhor diz isso? – perguntei, aproximando-me dele. – Mesmo quando eram crianças, Fletcher sempre a colocava em encrenca... – Então eles mantiveram contato mesmo depois de seu irmão mudar daqui? – perguntou Louise. – Sim. Fletcher continuou a enviar cartas e cartões de aniversário. Quando ela se formou, ela ligou para ele e ele a convidou para ir para Los Angeles onde ele vivia com a família à época. Implorei para ela não ir. Sabe, a mãe dela morreu quando ela tinha cinco anos e eu a criei sozinho. Eu não queira que ela fosse, ela era minha garotinha, mesmo crescida, ela ainda era meu bebê... – O Homem olhou pensativo para a casa atrás de mim. – Mas quando ela voltou com um diploma nas mãos, eu fiquei tão orgulhoso. Ela disse que Fletcher a ajudara a entrar na faculdade e quando ela se formou ele queria que ela trabalhasse para ele. Aposto que Louise e eu estava pensando a mesma coisa. – Obrigado de novo por sua ajuda, senhor – falei. – Estendi a mão direita e o homem a apertou, assentindo. – A seu dispor – disse ele. – Posso pedir um favor? – Claro – respondi. – Vocês me avisam se descobrirem onde minha filha está? Louise falou: – Avisaremos sim, senhor. Havia algo que eu não conseguia parar de pensar. Olhei de novo para a casa e para o homem e disse: – Por que sua filha não o ajudou a cuidar da casa? Desculpe, mas não parece boa. – E nem o senhor, pensei sobre o homem. Se eu não soubesse, pensaria que era morador de rua. Ele parecei morador de rua, e eu me perguntava como aquilo acontecera a ele. Eu tinha certeza de que a filha tinha bastante dinheiro para que ele tivesse tudo de que precisava. – Eu não quero ajuda dela – respondeu o homem. –Eu costumava fazer tudo sozinho, mesmo depois de me aposentar, e quebrei as duas pernas num acidente de carro. Eu não queria ajuda dela. Ela mandou dinheiro para pagar pelo médico, comida, roupas, mas eu não aceitaria nada dela. Mesmo o dinheiro que ela mandava, eu dava a maior parte para ajudar um dos hospitais locais para veteranos de guerra. E, sim, talvez eu pareça um velho chato e louco, mas é quem eu sou. Estou bem com o que tenho. Tudo que quero agora e saber se minha menina está bem. – Nos avisaremos ao senhor caso descubramos algo – falei. – Vamos? – perguntei para Louise. Ela meneou a cabeça e me seguiu até o carro. – Esta foi a conversa mais esquisita que eu já tive na vida – disse ela quando acelerei nos afastando da casa dos Montgomery. – Você não acha que é estranho que nem o Drew nem o Christopher conseguiram encontrar a endereço certo da Debora, também conhecida como Christine Montgomery? E o nome dela? Por que ela mudou? – Acho que sei o que aconteceu com o nome verdadeiro da Christine e porque ela teve que trocar de nome. – Sabe? – perguntou ela surpresa. – Aposto que seu pai a fez mudar de nome para esconder que eram parentes. E, se eu estiver certo, foi feito para enganar meu pai. – Você acha que ela era espiã o tempo todo que trabalhou para seu pai? – Tenho certeza. A única coisa que não entendo é o que seu pai tinha contra o meu. Por que queria destruí-lo? – Você acha que tinha algo a ver com as respectivas empresas? – Quem sabe? Tudo é possível. Preciso pedir ao Christopher para vasculhar o passado do meu pai e a vida da Debora. Por fim, sabemos menos sobre ela do que pensávamos. – Por que será que o Drew nunca me falou que conhecia Debora, ou Christine ou, seja lá quem ela for? Eles cresceram juntos. Como ele poderia não conhecê-la? – Talvez ele não soubesse que o irmão mantinha contato com ela. Além disso, ele a conhecia como Christine. – Sim, mas como ele não reconheceu o endereço que ele mesmo me passou? Ele morou lá, ele deveria ter perguntado por que, de repente, eu queria visitar a casa onde ele crescera. E você acredita mesmo que ele não sabia que Debora e Christine eram a mesma pessoa? – Por que não vamos pessoalmente perguntar tudo isso a ele? Mas a sorte não estava ao nosso lado aquele dia. Quando chegamos a Le Papillon, Kate disse que Drew não estava lá. – Você sabe quando ele volta? – perguntei. – Não sei. Ele só disse que não demoraria. Vocês tentaram ligar para ele? – Tentamos – disse Louise. – Pelo menos umas dez vezes e nada. Ele não atendeu o maldito telefone. – Bem, então, que tal uma xícara de chá? Ou uísque, talvez. – Uma xícara de uísque? Eu fiz careta para a forma como ela falara. – Obrigado, hoje não. – Passei mal só de pensar em beber de novo. Louise riu. – Nada de uísque. Mas chá seria ótimo. Fomos para o bar que estava cheio de mulheres de vestido, preparando-se para o show da noite. Algumas gritaram quando viram Louise. – Ah, vejam só quem está aqui! – disse uma das garotas indo cumprimentar Louise. Pelo que me lembro, o nome dela é Natasha. – Esperávamos ver você só amanhã – disse outra garota. – Você virá para o ensaio amanhã? Valery e eu estamos trabalhando numa nova dança e gostaríamos de saber sua opinião. – A Valery quer saber minha opinião? – disse Louise surpresa. – Duvido. – Na verdade quero sim – disse Valery, também conhecida como Tess. Ela me cumprimentou com um movimento de cabeça e depois disse para Louise: – Posso falar com você, em particular? Louise olhou para mim pronta para falar algo, mas Kate falou primeiro: – Não se preocupe, eu cuido dele. Vá conversar com a Val. Louise sorriu para mim se desculpando, e as duas foram embora. – Você tem certeza de que não quer uísque? – perguntou Kate se sentando em frente a mim. – Tenho – respondi. – Como quiser. – Ben! – Ela chamou o atendente. – Duas xícaras de chá, por favor. – Como anda tudo por aqui? – perguntei, aguardando meu chá. – Até que bem. As novas garotas que a Marlena enviou para cá são muito boas. Ocorre que elas são grandes fãs da Lu. Elas a viram dançando na época do orfanato. – Então a Marlena continua mandando garotas para cá? – Continua. Ela e Drew fizeram um acordo. Ele dá às garotas trabalho, comida e um teto e elas trabalham para ele. Nem todas dançam, algumas são garçonetes. E uma das meninas é minha assistente agora. Tenho muito o que fazer, duas mãos não são suficientes para fazer tudo. Ben trouxe nosso chá. A Kate pegou a xícara dela da bandeja e disse: – O que vocês querem com o Drew? Eu sei que você, mais do que ninguém, nunca foi grande fã dele. Eu sorri. – Verdade, mas preciso fazer algumas perguntas sobre a família dele. Você sabe algo sobre a família dele? – Tudo o que sei é que ele é irmão do cretino do Montgomery. Eu detestava quando ele vinha aqui. Ele era sempre muito mal-educado com as meninas. – Fletcher costumava ser um dos frequentadores do clube? – Ainda é. Ele vem de vez em quando. Não com tanta frequência, mas esporadicamente. – Ele já trouxe algum amigo? Kate pensou um pouco. – Não, não que eu me lembre. Ele sempre vem sozinho, fica numa das mesas mais afastadas, assiste ao show, depois pede uma dança particular de uma das garotas. Mas nunca o vi com ninguém. – Entendo. – Você está pensando em alguém em particular? – perguntou Kate, observando-me com suspeita. – O que está acontecendo, William? E não me diga que não é nada, porque eu vi como você e a Lu pareciam perturbadosquando entraram aqui. – Bem... – olhei em volta. As meninas estavam saindo do bar, então eu esperei até que estivéssemos a sós e disse: – Desconfiamos que Fletcher tenha algo a ver com a morte do meu pai. Kate arfou. – Você só pode estar brincando... por que vocês acham isso? – É que uma prima do Fletcher e do Drew, que trabalhou para meu pai, depois foi trabalhar para o pai da Louise. E uma pessoa nos disse que ela pode saber a verdade sobre a morte do meu pai. Por isso pensamos em falar com ela pessoalmente, mas quando chegamos a casa onde ela deveria morar, ela não estava. E nem mesmo o pai dela, que vive na casa, sabe onde encontrá-la. – Ah, entendo... é por isso que vocês precisam falar com o Drew? Vocês acham que ele sabe onde encontrar a prima? – Sim, ou, pelo menos, esperamos que ele possa nos falar mais sobre ela. Ela trocou de nome há um tempo e, pessoalmente, eu acredito que Drew não sabia disso. Mas eu ainda quero fazer algumas perguntas a ele. – Drew nunca comentou que tinha uma prima. Na verdade, eu sempre achei que o irmão fosse o único parente vivo. Louise voltou para o bar sem cor. – O que aconteceu? – perguntei preocupado. A Tess não estava mais com ela. – O que ela falou? Louise olhou cuidadosa para a Kate antes de dizer: – Você sabia que o detetive que investigava a morte da Isabel costumava vir aqui com meu pai? – O quê? – perguntou ela surpresa. – A Valery falou isso? – Sim. Ela disse que não conseguia lembrar onde vira o cara, mas aí, alguns dias atrás, ela viu Drew conversando com meu pai e se lembrou de vê-los juntos aqui. Ela parou por uma fração de segundo recuperando o fôlego e continuou: – Ela até dançou para eles... Levantei a mão processando cada palavra dela. – Espera – falei, interrompendo Louise. – Isabel é a garota que você comentou, que trabalhava aqui e que foi assassinada? – Isso – Kate respondeu pela Louise. – Mas não entendo por que a Valery falaria isso para você. – Ela olhou para Louise. – Porque da última vez que estive aqui, falei com o Drew sobre meu pai, e ele disse algo que me fez acreditar que ele sabia mais sobre a morte da Isabel do que ele queria que as pessoas soubessem. Eu perguntei diretamente se meu pai tivera algo com a morte, mas ele disse que não. Aí eu fui falar com a Valery e perguntei sobre a noite que a pobre moça foi morta. Ela me falou sobre o investigador do caso. Pelo que ela disse, logo depois do caso ter sido fechado ele foi enviado para trabalhar em outro lugar. Ela tinha certeza de que o conhecia, só não lembrava de onde. E agora que sabemos que ele era amigo do meu pai, e se juntarmos o comportamento estranho do Drew quando falei com ele, podemos chegar a uma conclusão muito ruim... – Não – Kate sacudiu a cabeça. – Drew jamais mentiria para a polícia se soubesse algo sobre a morte da Isabel. – Tem certeza? – perguntei. Ela e Louise se olharam. – Eu conheço bem o Drew – disse Kate. – Ele nunca daria cobertura para o irmão se ele estivesse envolvido com assassinato, sobretudo se fosse uma das garotas do clube. Seria muito perigoso para ele. – Acho que devemos esperar o Drew e perguntar sobre a Isabel, de novo. – Sugeri. – O que você quer saber sobre ela? – Soou a voz zangada do Drew atrás de nós. Louise, Kate e eu nos viramos para onde vinha o som da voz. Como sempre, ele não aparentava estar feliz em me ver. Ele sabia que eu não viria ao clube se não tivesse uma boa razão, e agora que a Louise não era mais uma das dançarinas, tenho certeza de que o homem podia pressentir problemas. – Precisamos conversar – disse Louise. – Podemos ir para o seu escritório? Drew me olhou desconfiado de novo e disse: – Venham comigo. Nós quatro saímos do bar e o seguimos até o escritório. Assim que entramos no escritório, ele fechou a porta e foi para a mesa dele, apertou algumas teclas no teclado do computador fazendo as cortinas pesadas cobrirem todas as janelas da sala. – Você não devia ter vindo aqui – disse ele olhando para mim. – O que você sabe sobre a morte da Isabel? – Primeiro, queremos que você nos fale sobre a Debora Griffin ou Christine Montgomery, como preferir – disse Louise. – Você sabe quem é ela, não sabe? Ele xingou em voz alta antes de dizer: – Eu sei, embora preferisse não saber. – Você sabe onde ela está? – perguntei. – Sei, mas você não vai gostar da resposta. – Fale, precisamos conversar com ela – disse Louise. – Acho que esta não é uma possibilidade... Ela foi enviada para um hospício, e acho que não é permitido visitantes. – O quê? – Olhei para ele chocado. – Você está dizendo que ela está... louca? Drew assentiu indo até um pequeno bar no canto da sala. – Sim, literalmente. – Ele se serviu de um copo de uísque e bebeu tudo num só gole. – Foi por causa disso que você saiu hoje? – perguntou Kate. – Foi. – Ele olhou para a Louise. – No dia que você me pediu para descobrir o endereço da Debora eu não sabia que descobriria tanta merda que meu irmão mantinha escondida por anos. Eu não sabia que a Debora e a Christine eram a mesma pessoa. Eu não via a Christine desde que éramos crianças e não sabia que meu irmão mantinha contato com ela depois de irmos para Los Angeles e também não sabia que ele a chamara para trabalhar com ele. – Como ela adoeceu? – perguntou Louise. – Pelo que conseguimos descobrir sobre ela, ela liderava uma das empresas do Montgomery por muitos anos. – Acho que ela não tinha muita escolha... Tenho certeza de que o cretino a fez perder a sanidade. Louise me olhou em choque. – Como isso é possível? Pessoalmente o relato do Drew não me surpreendeu. Eu sempre soube que Fletcher era capaz de qualquer coisa, inclusive enlouquecer pessoas, ou, ao menos, fazer com que elas parecessem doentes. Droga, aposto que ele podia fazê-las desaparecer sem que ninguém nem imaginasse que ele estava envolvido. Ele é um desgraçado ardiloso. – Eu tenho uma teoria sobre o atual estado da Christine – disse Drew. – A pobre mulher está pagando pelo que meu querido irmão fez a você, Louise. Tudo começou com você. Primeiro, você conheceu William Blair, o filho do pior inimigo dele. Então o William começou a investigar seu passado tentando descobrir o nome dos seus pais biológicos. Ele encontrou Rea, a enfermeira do hospital onde você nasceu. Ela contou para ele que você era filha do Fletcher. Então William contou a você a verdade sobre seu pai. E eu tenho certeza de que Fletcher não esperava que isso acontecesse. Mas quando ele percebeu que você e William estavam juntos, ele entendeu como uma bomba relógio que ele não sabia como controlar. Então ele pensou que poderia eliminar a única possível testemunha de todos os crimes dele. E essa testemunha é a Debora. Porque ela estava com ele desde o começo e sabe tudo sobre ele. Ou, pelo menos, sabia tudo até “perder a sanidade”. – Você sabia que seu irmão odiava a mim e a minha família? – perguntei. – Honestamente, descobri isso há poucos dias, quando juntei o que a Louise falou sobre você e sobre a Debora. Mas, sim, há algo que suponho seja a razão de tudo que meu irmão fez contra você e seu pai. – E o que é? – perguntei, cruzando os braços. Eu ainda não conseguia acreditar que meu pai nunca me contou que conhecia Fletcher Montgomery, e pior, que eles eram inimigos. – Quando Fletcher tinha 18 anos ele conheceu uma garota chamada Angela. Ele se apaixonou por ela tão desesperadamente que queria se casar com ela, mas o problema é que ela já gostava de outra pessoa... – Meu pai... – finalizei a frase do Drew. – Exatamente. Assentiu ele, sentando-se na enorme cadeira em couro. – Fletcher não perdoou seu pai por tirar Angela dele. Eu acredito que bem lá no fundo ele ainda odeia Randal, mesmo que ele já esteja morto há algum tempo. –Isso é ridículo – disse Louise. – Você acha mesmo que ele mataria o pai do Will por causa de ciúmes? – Ciúme é algo muito perigoso, Louise. Leva as pessoas a fazerem coisas terríveis. Ela balançou a cabeça, provavelmente ainda incapaz de aceitar o fato de que o pai dela pudesse ser tão monstruoso. – E a Isabel? – perguntou Kate. – O que o Montgomery tem a ver com a morte dela? Drew falou de novo. – Como eu já disse, ciúme leva as pessoas a fazerem coisas terríveis... Capítulo 15 Louise O sangue congelou nas minhas veias, senti como se estivesse prestes a desmaiar, eu não conseguia pensar direito. – Você está falando sério? – falei praticamente caindo numa cadeira que estava perto, chocada com as palavras do Drew. Drew não parecia estar brincando, mas eu tinha esperança de que ele diria que estava. Mesmo sendo uma brincadeira horrível, ainda seria melhor do que tudo ser verdade. – Desculpe, querida, mas estou falando sério – respondeu ele. – Claro que eu não posso afirmar com 100% de segurança que foi meu irmão que matou Isabel, mas eu acredito que tenha sido ele por causa do que ele sentia por ela. Will riu com sarcasmo e disse: – Não me diga que ele estava apaixonado por ela também... – Eu não acredito que possa ser considerado amor de verdade, era mais como uma obsessão o que ele sentia por ela. – Mas a Tess me disse que a Isabel estava envolvida com o homem que foi preso acusado de matá-la. Ela tem razão? Drew suspirou. – O que sei é que havia algo entre eles. Mas não acredito que fosse algo sério. Antes da Isabel ser assassinada eu não proibia nossas meninas de sair com clientes. Elas não eram minhas prisioneiras e eu nunca quis que fosse assim. Eu lhes dava a liberdade de que precisavam e que mereciam... em outras palavras, elas tinham o direito de ter vida fora de Le Papillon com quem quisessem. – Até que uma delas foi morta... – conclui. – Exato – respondeu Drew olhando para o chão envergonhado, como se ele fosse responsável pelas decisões da Isabel e pela morte dela. – Bem, isso significa que precisam reabrir a investigação – disse Will. – As duas investigações na verdade. – Não! – Levantei-me e fui até ele. – Você não entende como meu pai é perigoso? Ele é louco, isso está claro. E eu não quero que você se machuque por causa dele. – Eu não disse que também tinha medo de que ele acabasse como o pai, morto num “acidente”. Mas, aparentemente, Will me conhecia bem o suficiente para saber exatamente por que eu me preocupava com ele fuçando por aí para encontrar informações sobre meu pai. Ele me envolveu com os braços, dizendo: – Sei que está com medo, mas não podemos permitir que ele machuque mais alguém, Louise. Primeiro ele matou meu pai fazendo parecer acidente. Depois matou Isabel e deu um jeito de que outra pessoa fosse presa no lugar dele. E agora a Christine está num hospício em algum lugar, louca, talvez, e se não for, todos pensam que é... Você não acha que tudo isso é mais do que suficiente para que ele pague? E a nós? Eu olhei para ele, tentando encontrar as palavras certas para fazê-lo parar de cavoucar mais, mas falhei. Porque no meu íntimo eu sabia que ele estava certo, e que meu pai tinha que pagar pelos atos dele. – Eu acho que devemos procurar mais informações sobre os dois casos – disse Drew. – Kate, você precisar conversar com as meninas sobre a Isabel. Elas precisam contar tudo o que sabem, principalmente a Valery. –Vou conversar com elas – respondeu Kate. – Ótimo. Louise e William, vocês precisam descobrir mais sobre o trabalho da Debora na empresa do Randal. E também, vejam se conseguem mais informação sobre a negociação que eles estavam fazendo quando o Randal se envolveu num “acidente” de barco, acabando com a vida dele e tornando a tal negociação sem efeito. E eu... – Drew fez uma pausa suspirando. – Eu vou cuidar para que o imbecil do meu irmão não descubra o que estamos fazendo pelas costas dele. – Tenha cuida... – Drew ergueu a mão para me parar, mas eu o interrompi antes dele protestar – Não, estou falando sério. Tenha cuidado. Nós não queremos nos envolver em um “acidente”, queremos? Will me soltou, e pegou o telefone no bolso da calça, dizendo: – Talvez precisemos de ajuda da polícia. Vou ligar para um amigo meu na Delegacia de Nova Iorque e perguntar se pode nos ajudar ou, pelo menos, nos dar cobertura se precisarmos. – Psicopata como o Fletcher é, eu acredito que ele seja esperto o suficiente para limpar as cenas de crime antes de sair delas, então eu duvido que ele deixe quaisquer provas. Será como encontrar uma agulha num palheiro acharmos algo para que a polícia possa prendê-lo. Além disso, quando encontrarmos uma prova, precisaremos do meu amigo para nos ajudar a coletá-la para que não seja considerada, falsificada ou violada. Se a prova for classificada como falsa ou alterada, não a usarão. – Nós temos que trabalhar duro para garantir que teremos provas concretas o suficiente para provar o que ele fez sem que ele ou a polícia se voltem contra nós – explicou Drew. – Eu não duvido que ele descubra o que estamos fazendo e arme para nós já que estaremos perto de conseguir todas as provas do que ele tem feito. Se o Fletcher é, de verdade, responsável pelos assassinatos e pela insanidade da Christine, será um grande escândalo. Fletcher é político, e se o povo descobrir o que ele fez, ou mesmo descobrir que ele está sendo investigado por aqueles crimes, a votação entre os eleitores dele deve cair. – Eu não quero nem saber – disse Will. – Se ele matou meu pai, e se eu encontrar provas suficientes para provar, eu juro, vou fazer tudo para que o cretino passe o resto da vida na cadeira ou o que seja que ele tenha que encarar pelos crimes que cometeu. Eu me recuso a deixá-lo livre. Não me importa se levar o resto da minha vida para provar que ele é culpado, de alguma forma eu vou garantir que a justiça seja feita... Eu olhava fixo para o chão pensando no quanto Montgomery ficaria furioso se fosse preso e responsabilizado por tudo de terrível que fez, quando, de repente, ouvi Drew falar meu nome. – Louise – O que me levou a prestar atenção de novo na conversa. Eu ouvira tudo, só estava pensando também. – Está nos ouvindo? – perguntou ele. – Claro que estou. Montgomery nunca foi pai para mim. Então não acho que ficará ofendido quando souber minha participação em destruir a carreira dele. Além disso, ele merece minha traição. É o mínimo que posso fazer em retribuição por ele ter estragado minha infância. Drew assentiu. – Temos um acordo então. Vamos começar a investigar. *** Mais tarde, quando chegamos em casa, Will decidiu telefonar para a mãe e ver se ela nos dava mais informação. Afinal, ela não deveria ter esquecido o homem loucamente apaixonado por ela. – Por que você nunca me disse que conhecia Fletcher Montgomery? – Will perguntou assim que a mãe atendeu ao telefone, sem nem mesmo cumprimentá-la. A ligação estava em viva voz, então eu ouvia tudo que ela dizia. Falei para o Will que não precisava, e que ele poderia me contar tudo depois, mas ele disse que não queria manter mais segredos de mim. Independente do que ela dissesse, ele queria que eu ouvisse. – Fletcher e eu... é complicado, William... sempre foi complicado, desde que nos conhecemos... Estávamos no ensino médio quando nos conhecemos. Éramos jovens e inconsequentes e, embora ele fosse só um rapaz negligenciado, eu podia dizer que ele não era como os outros da idade dele. Ele costumava ficar nervoso quando gostava de algo e não conseguia ter. Conheci seu pai enquanto ainda estávamos juntos e, já conhecendo o temperamento esquentado do Fletcher, seu pai era uma brisa fresca. Terminei com Fletcher. Eu nãoconseguia ficar com alguém como ele e assim, tornei-me uma das coisas que ele não podia ter... No dia que eu e seu pai nos casamos, ele foi a casa dos meus pais esbravejando que seu pai não era bom o suficiente para mim, dizendo-lhes que eu merecia mais do que o Randal poderia me dar e como eles não deveriam, de jeito nenhum, ter permitido que eu me casasse com ele. Meus pais pensaram que ele estava apenas com ciúme e o mandaram embora. E, claro, não o ouviram permitindo que eu me casasse com seu pai... como eu disse antes, é complicado. – Mãe, você o amava? – perguntou Will, olhando-me. Provavelmente estávamos pensando a mesma coisa. Como nossa vida teria sido diferente se nossos pais tivessem feito outras escolhas... bem, e se meu pai não fosse o monstro sem coração que, aparentemente, ele sempre fora. Se tudo tivesse sido diferente entre nossos pais ou, se o Montgomery tivesse deixado a mãe do Will para lá, talvez não nos conhecêssemos. Will talvez não estivesse na estação indo para o escritório do pai. Ele provavelmente estaria por aí se divertindo como faziam os rapazes da idade dele... Eu nem conseguia imaginar minha vida sem Will. Minha vida era uma bagunça, e era ele que me mantinha em pé e, definitivamente, era a parte da minha vida que mesmo tentando, eu não consegui ficar sem. Por fim, nada importava, contanto que estivéssemos juntos... eu já estava pensando demais. As coisas são como são, nos conhecemos e é por isso que estamos aqui hoje. Angela falou: – Nunca amei ninguém como amei seu pai. Ele é o amor da minha vida e isso nunca mudará... Você tem algo para me dizer? Você parece preocupado. Eu conheço você, então, fala, o que está acontecendo? Will não tinha certeza se era melhor contar a mãe sobre o possível envolvimento do Montgomery na morte do pai. Ele não achava que ela estivesse pronta para ouvir aquilo. Então pensamos que seria melhor confirmar a suspeita antes. No momento, nós não tínhamos provas concretas para confirmar ou não a culpa dele então, era melhor manter nossas desconfianças somente para nós para não culpar quem não tem culpa, caso Montgomery fosse inocente. Como se diz: Todos são inocentes até que se prove o contrário. – Está tudo bem, mãe. Verdade. Eu só fiquei surpreso quando descobri que você e Fletcher Montgomery se conheciam e que eu não sabia. Eu não imaginava que vocês tivessem uma história juntos. – Isto é por causa daquela garota... Louise? – perguntou ela em tom arrogante. Claramente ela acreditava que ela e o filho estavam acima de pessoas como eu. Olhei para Will com ar interrogador. Angela sabia sobre mim? Como? Will sorriu para mim me puxando para seu abraço. – Você sabe que eu gosto dela. Na verdade, eu sempre gostei. – Ah, entendo... vocês estão namorando? Eu sorri, olhando para ele. Estamos namorando? – Mais ou menos – respondeu Will, depois beijou minha testa, correndo a mão para cima e para baixo nas minhas costas. Era muito difícil classificar nosso relacionamento. Para mim, era mais do que namorar, era mais profundo do que palavras podiam expressar. E eu acho que Will se sentia assim também. Por isso nunca dissemos, claramente, que estávamos namorando. E também tem o fato de que ficamos vários meses separados sem nos encontrar. Durante aqueles meses nosso relacionamento seria melhor definido com “um tempo” em vez de namoro. Agora que voltamos, namoro poderia descrever o vínculo que temos. – Com tantas meninas no mundo você tinha que se apaixonar justo pela filha do Fletcher... bem, isso é irônico, não é? Não parecia que ela estava brava com a escolha do filho, mas se divertindo com ela. E eu não a culpo. Afinal, era difícil acompanhar os fatos que nos uniram. Fiquei feliz em perceber que meus pensamentos de pouco antes, sobre ela achar que ela e Will eram melhores do que eu, eram infundados. Fiquei aliviada. – Ela é maravilhosa, mãe. Sei que você vai gostar dela também quando a conhecer. – Se ela conseguiu conquistar seu coração, tenho certeza de que é especial. Não é qualquer uma que consegue isso. Estou certa de que gostarei dela também. Will sorriu, meneando a cabeça em aprovação ao comentário dela, despediu-se, desligou o telefone, me abraçou e beijou minha cabeça. Depois de um momento de pura alegria era hora de voltar ao trabalho. Retomamos nossa investigação. – Então é verdade... – disse ele, colocando o telefone na mesa. – Meu pai roubou minha mãe do Montgomery. Esta é, com certeza, uma boa razão para o ele odiar meu pai a vida toda, não é? Se uma pessoa tirasse você de mim, eu a descartaria – falou, apertando o abraço. – Acho até que eu a mataria... – completou devagar. Ah, sei exatamente o que ele estava falando. Eu senti o mesmo em relação a ele. Sei que fui uma chata nos últimos meses, mas eu abominava a ideia de vê-lo com outra mulher. Eu, provavelmente, morreria em saber que o coração dele não me pertencia mais. Nenhuma força seria suficiente para me livrar da dor que eu sentiria por perdê-lo para outra mulher. Seria muito pior do que me manter longe dele e tentar tirá-lo da minha vida. Talvez eu tenha sido egoísta, mas era verdade. Eu nem podia pensar nele estar com alguém que não fosse eu. Meus sentimentos por ele eram mais fortes do que eu. Eu, provavelmente não deveria ter ficado pensando tanto sobre isso. Amá-lo e estar com ele era muito mais fácil do que ficar me preocupando em ele me deixar. – Que tal comermos algo? – perguntou ele. – Estou morrendo de fome. Eu ri. – Isso não é surpresa, considerando que a única coisa que você ingeriu desde ontem à noite foi álcool. – Isso não é verdade, você foi a sobremesa. – Verdade, como eu pude me esquecer da sobremesa? – Você se importa em ser minha doce sobremesa de novo? Daqui a pouco? – Ele se curvou tocando meus lábios com os dele. – Minha necessidade por você não pode ser comparada a nada. – A minha também – falei entre beijos. – Isso quer dizer que você vai ficar comigo esta noite? – Talvez... – Por que não mudamos você oficialmente para meu quarto? Sinto falta de você na minha cama. – Que interesseiro, Sr. Blair. Brincar de casinha é bom, não é? – Isso mesmo. Eu ri abraçando-o pelo pescoço. – Eu amo você – falei. – E eu amo mais – respondeu ele curvando-se e me beijando de novo. Ele estava tentando manter o clima leve e me provocando com o que aconteceria à noite, mas eu sabia que ele estava chateado com tudo o que descobrimos sobre o passado e a morte do pai. E eu sabia que ficaria ainda pior se confirmássemos nossas suspeitas sobre o acidente. Mas nossa única opção era continuar tentando descobrir a verdade, nenhum de nós saberia viver sem ela. Fazia tanto tempo desde a última vez que Will e eu dormimos na cama dele e foi maravilhoso. Foi como se eu finalmente tivesse voltado para casa depois de uma longa jornada que parecia sem fim e solitária. Olhei para o homem dormindo tranquilamente ao meu lado e sorri, desenhei uma linha pelo rosto e queixo dele com a ponta dos dedos. Não fizéramos nada além de conversar o resto da noite. Eu sabia que Will precisava de mim tanto quanto eu precisava dele. Ele não tinha vergonha de contar os medos dele e ele sabia todos os meus. Nem percebemos quando caímos no sono abraçados e foi tão bom, natural, tranquilo... E agora, observando Will dormir, eu não conseguia parar de pensar sobre o que eu ainda precisava fazer. Will estava certo, meu pai tinha que pagar por ser uma pessoa horrível, mas eu não podia deixá-lo machucar o Will. Eu tinha certeza de que o Will seria a primeira pessoa que ele culparia por ter arruinado o sonho de ser o próximo presidente dos Estados Unidos da América. Mas todos sabemque quanto mais alto sobe maior é o tombo. Meu pai talvez não tivesse entendido, mas ele merecia todo o ódio que eu tinha por ele. Ele não podia continuar destruindo a tudo e a todos no caminho para a tão esperada ascensão. Alguém tinha que pará-lo, e esse alguém seria eu... eu preferia que ele culpasse a mim do que vingar-se do Will. Talvez eu estivesse sento tola, mas eu tinha esperança de que Montgomery não machucaria a própria filha, não importa o quanto a vida dele possa ser arruinada pela vingança dela. Amanheceu antes do que eu esperava. Abri os olhos e para minha tristeza, Will não estava ao meu lado. A parte dele da cama estava vazia exceto por uma folha de papel em cima do travesseiro dele com meu nome escrito. Peguei o bilhete e li: Minha querida Louise, Acordar ao seu lado é sempre algo que não se pode expressar com palavras... nem mesmo o tempo mudou isso. Uma parte da minha mente ainda acha que estou vivendo um sonho porque você está finalmente comigo de novo. E o resto não consegue parar de aproveitar cada segundo disso... Parece que nunca estamos no lugar certo, na hora certa para eu poder dizer o quanto você significa para mim. Eu amo você mais do que eu poderia imaginar amar alguém: demais para descrever, demais para deixar para lá, demais para deixar de amar você... E conforme pensamentos sobre você invadem minha mente, meu coração dispara. Ele bate por você, porque cada respiração sua, cada sorriso que vejo brilhar no seu lindo rosto, cada beijo que roubo de você... Sempre que não posso vê-la, sinto que estou me afogando nas profundezas dos meus medos de perder você de novo. Eu perco a cabeça por você... tão jovem e selvagem, você invadiu meu mundo e como um furacão, e em segundos, conquistou meu coração e meus pensamentos. Nada faz sentido sem você... Sou indefeso contra o poder que você tem sobre mim. Não sei ser eu mesmo sem você. E, toda vez que estou com você, me delicio em cada momento de proximidade como se não houvesse o amanhã, como se não houvesse nada além de nós dois, escondidos dos olhos de todos no nosso mundo. Quando estou longe de você, segundos parecem horas, dias parecem meses. Não tenho futuro sem você. Eu vivo com as lembranças do meu passado que, às vezes, parece não existir porque você estava sempre nele... E agora, tudo o que quero é ficar com você para sempre. Beijar você, amar você, respirar você. Estou cansado de estar incompleto. Estou cansado de estar quebrado em pedaços que só você sabe como juntar. Eu quero me sentir completo de novo, o que é impossível sem você... Não é possível medir o poder do meu amor por você, mas espero que possa sentí-lo com seu coração... Nos vemos em breve, meu amor. Seu para sempre. W. Ah, como senti falta das cartas dele. Sempre tão lindas, profundas e cheias de significado. Will sempre foi um homem cheio de segredos, mas quando ele me escrevia, ele não escondia nem um simples pensamento ou emoção. Nas cartas, ele sempre foi honesto comigo, talvez até mais do que poderia se permitir ser pessoalmente. Christopher bateu à porta dizendo: – O café da manhã está pronto! – Já vou! – gritei, enfiando na gaveta do criado-mudo a carta do Will. Tomei um banho rápido, vesti-me e desci para tomar café. – Onde está o Will? – perguntei para Christopher, chateada por não encontra com ele para o café da manhã. – Ele foi trabalhar. – Num domingo? – Aquilo pareceu estranho, especialmente considerando que ele não me dissera que tinha planos de trabalhar no domingo. – Não precisa se preocupar, foi uma emergência no trabalho, mas tenho certeza de que nada sério. A propósito, ele me pediu para levar você ao escritório quando terminasse o ensaio em Le Papillon. – Para quê? – perguntei tomando um gole do meu café pelando. – Não sei. Você já esteve lá? – Não. – Quanto tempo vai durar o ensaio? – Duas ou três horas. Eu ligo quando acabar, pode ser? – Pode. Agora tome café que eu leve você até o clube. Como sempre, o ensaio de domingo em Le Papillon foi um caos. Kate estava furiosa e eu não sabia se era porque as meninas não conseguiam fazer os movimentos que ela tentava ensinar ou se era porque estava em choque com a conversa do dia anterior. – Pelo amor de Deus, meninas! Como é que vocês vão dançar hoje à noite se estão se movendo como tartarugas no gelo? Eu ri e disse: – Calma, Kate, elas estão indo bem. – Eu já estava assistindo ao ensaio há meia hora. Eu não ia dançar, mas queria ver a dança nova da Tess. – Indo bem não é o que quero delas, Lu, quero perfeição! Mas olhe para elas, mal conseguem ficar em pé sem tropeçar a cada dois minutos. Deus, eu devo ter feito algo muito errado para ter que aturar dançarinas assim... o carma é uma porcaria... As meninas se olharam. Quando a Kate estava brava, ela detestava tudo o que acontecia no palco não importava se fosse muito bom ou muito ruim. – Por que não paramos um pouco? – perguntei. – Kate me olhou com cara de “você só pode estar brincado”. – Rapidinho, dois minutos de descanso, ok? – Refiz minha pergunta sorrindo para ela. Ela xingou em voz alta, depois disse: – Tudo bem, dois minutos, meninas. Depois voltem ao trabalho! Apontei a saída com a cabeça na esperança de que pudéssemos conversar em particular. – O que está acontecendo? – perguntei quando entramos na sala do Drew. – O Drew sumiu. – O quê? – Quer dizer, eu sei que ele está com seu pai, mas ainda estou preocupada com ele. – Ele está com meu pai? – Acho que sim. Montgomery veio aqui ontem à noite para assistir ao show. Depois ele e o Drew vieram para o escritório e conversaram por cerca de duas horas. – Sobre o quê? – Bem que eu queria saber... depois o Montgomery foi embora e Drew saiu logo em seguida. Não o vejo ou recebo notícias desde ontem à noite. – Você ligou para ele? – Não. – Por quê? – perguntei pegando meu telefone no bolso. – Estou com medo – disse Kate, colocando os braços em torno do próprio corpo. – Não seja ridícula. Vamos ligar para ele. Teclei o número dele e esperei. Ele atendeu depois de uns poucos toques. – Sim – grunhiu ele. Ele parecia ter acabado de acordar. – Onde é que você está? Estamos preocupadas com você! Ele pigarreou e disse: – Desculpe, Lu, eu não achei que você precisasse assinar minha permissão para sair à noite. Revirei os olhos. – Não seja idiota. – Claramente meu tio estava muito bem, vivo, respirando e, provavelmente, abraçado a uma mulher cheia de curvas. – Você podia ao menos ter ligado para a Kate para dizer que você estava bem. – Também não preciso da permissão dela – respondeu ele com a mesma voz de sono. – Ai, tudo bem – vociferei. – Da próxima vez poderia fazer a gentileza de nos avisar que vai dormir fora? Vai nos poupar do estresse. – Brava, desliguei o telefone. – Ele está com uma mulher, não é? – Perguntou Kate seca. Suspirei. Eu não podia mentir para ela, ela o conhecia melhor que eu. – Pelo menos sabemos que ele está bem. – Filho da puta... claro que está bem. – Sorriu ela. – Como eu posso ser não burra? Pensei que ele tivesse se metido em alguma encrenca, quando, na verdade, tudo o que ele fez, foi se meter em outra vagina. – Ela xingou em voz alta e saiu do escritório batendo a porta ao sair. Lamentei pela Kate. Ela ainda gostava do Drew e, algo me dizia que ele também a amava, mas por uma razão desconhecida ele não queria aquele amor na vida dele. Ou, talvez, ele só tivesse medo de ficar emocionalmente preso a outra pessoa. Ele sempre fora sozinho, sem esposa, sem filhos, só com trabalho. Ele gostava assim, estava bem assim, e não queria mudar. A Kate sabia disso... mas, como qualquer mulher, ela tinha esperança de que um dia Drew visse nela a mulher de verdade, não só a stripper com quem ele podia passar uma noite. Que visse a mulher amorosa e capazde arrumar o que estava errado na vida bagunçada dele. E eu, esperava sinceramente que o sonho da Kate se realizasse. Ele merecia ser feliz. Capítulo 16 William Eu já estava esperando pela Louise por cerca de duas horas. Christopher me ligou assim que saíram de Le Papillon, e eu mal podia esperar para ver meu amor. Havia uma surpresa esperando por ela no meu escritório. Ela nunca estivera aqui antes, mas eu queria mostrar tudo a ela, deixá-la conhecer meu mundo do meu ponto de vista. Depois da morte do meu pai, levei quase um ano para me acostumar a ser o novo líder da empresa. Eu ainda não conseguia acreditar que ele se fora... e eu também não conseguia acreditar que toda a responsabilidade pelo futuro da empresa dele estava nas minhas mãos. Eu era muito novo, sabia tão pouco sobre ser o chefão. Eu não queria ser o chefe, eu só queria meu pai de volta. Passei duas semanas em West Coast na esperança de que a guarda costeira conseguiria encontrar meu pai onde encontraram os restos do barco. Eu acreditava que se fosse paciente, eles me ligariam dizendo que ele estava são e salvo, mas isso nunca aconteceu. Meu mundo desabou no dia que encontraram o corpo dele. Voltei para Nova Iorque arrasado, perdido. Eu não sabia o que fazer, eu não sabia como viver sabendo que meu pai nunca mais voltaria. Nem sei como, por fim, consegui ser o homem da casa e do trabalho. Minha mãe pensou que seria melhor ela ir para a Europa. Basicamente porque ela estava tão arrasada quanto eu e não podia imaginar a vida sem meu pai. Ela assumiu que seria o melhor para nós dois. Pensou que se eu tivesse que vê-la triste dia após dia, me faria sentir pior. Isso era verdade, em parte. Eu me culpava por falhar em achar o corpo do meu pai na água fria do oceano. Eu sei que não foi minha culpa, eu não poderia ter feito nada para salvá-lo... E então minha mãe foi embora, dizendo que eu era forte o suficiente para assumir o lugar do meu pai nos negócios. Ela acreditava em mim, e Christopher também. Ele não me deixou nem por um segundo. Ele acompanhara meu pai por anos, sabia muito sobre os negócios e parceiros da empresa e com a ajuda dele consegui me tornar o homem que sou hoje. Havia algo mais que me ajudara a seguir em frente. Louise... embora não saiba, ela foi minha maior motivação. Se eu deixasse a empresa ir para o buraco, eu não conseguiria tomar conta dela, e se eu não tomasse conta dela nosso relacionamento também iria para o buraco. Não sei por que, mas eu nunca deixei de acreditar que nos encontraríamos de novo. E quando este dia chegou, tudo na minha vida passou a fazer sentido. Pela primeira vez em anos, senti que tinha pelo que lutar. Pela primeira vez em muito tempo, senti-me feliz, muito feliz, como se ela tivesse me enfeitiçado. Eu não conseguia me livrar da vontade de estar com ela. Num piscar de olhos, Louise tornou-se a minha vida. E mesmo partindo meu coração às vezes, eu ainda estava feliz em saber que ela estava comigo de novo. Eu não poderia perdê-la, não agora que sabíamos que nossa vida sempre fora ligada. Era como se sempre tivéssemos caminhado lado a lado, mas sem que nossos caminhos se cruzassem, até o dia que nos encontramos na estação de trem. Uma batida suave à porta me trouxe de volta à realidade. Fui abrir a porta e sorri ao ver Louise. – Por que tanto segredo? – perguntou ela, entrando no escritório. Beijei-a na boca e disse: – Pensei que você tivesse dito que tinha saudades do Sr. Segredos. Eu queria ajudar você a se lembrar dele e do tempo que passou com ele. Ela sorriu. – Senti mesmo falta dele. Muita. Mas por que estamos aqui? – Ela olhou em volta curiosa. – Porque eu queria mostrar meu mundo a você. Este lugar é muito especial para mim. – Certo... e o que faremos aqui? – Você tem alguma sugestão? Ela balançou a cabeça ainda sorrindo. – Então por que não começamos com uma pequena excursão? Ela deixou a bolsa no sofá do meu escritório e fomos ver as outras dependências da sede da empresa. – Aqui é a sala de conferências – expliquei, abrindo a porta para ela. – Lembro-me da primeira vez que tive que falar aqui, foi terrível. Todo o comitê estava aqui e eu estava bem nervoso. Ela riu. – Por quê? – Fora algumas aulas na faculdade, eu nunca falara para um grupo grande de pessoas. E não eram quaisquer pessoas, eu sabia que precisava impressioná- las. A parte boa é que eles entendiam pelo que eu estava passando à época porque fingiram que minha fala fora perfeita embora eu não tenha tirado os olhos do papel onde estava escrito o que eu deveria dizer e, quando tirei, eu não lembrava absolutamente nada do que deveria dizer. – Não pode ter sido tão ruim assim. – Acredite, você teria rido se tivesse me visto. Acho que nunca me senti tão pequeno em toda minha vida. Havia pessoas que tinham, pelo menos, o dobro da minha idade. Eles tinham muito mais experiência do que eu e eram, com certeza, mais inteligentes. Mas o mais surpreendente foi quando terminei de falar, eles começaram a me aplaudir como se nunca tivessem ouvido nada melhor. O apoio deles significou muito para mim. De repente me senti como se tivesse passado do menino de dois anos que tinha medo até da própria sombra para um homem cheio de confiança e determinação. – Nunca duvidei do seu talento – disse Louise. – Administrando a empresa ou no quer for... Eu ri. – No que for? –Você sabe... como fazer café, ajudar-me a sair de outra confusão que eu tenha me metido só para emoção de estar nela... Olhei para ela, sorrindo. – Só isso? Não tenho nenhum outro talento de que você possa gostar? – Bem... tem algumas coisas que eu não me importaria se você fizesse comigo... só para me certificar de que você é bom nelas também. Puxei-a para perto de mim e a beijei. Sempre que ela estava por perto eu queria tocá-la, beijá-la, abraçá-la e nunca soltar. Provavelmente porque eu ainda tinha medo de perdê-la. Por isso que eu deixei a carta para ela antes de sair. Havia coisas que eu não tinha coragem de dizer em voz alta, mas eu queria que ela soubesse como eu me sentia sobre o que acontecia em nossa vida. –Há um outro lugar que eu gostaria de mostrar a você – falei. Andamos pelo corredor e paramos em frente a uma porta que levava até um pequeno cinema. – O que tem aí? – perguntou ela. – Sua vida antes de me conhecer, sua vida comigo nela... Depois do que aconteceu no hotel eu sabia que precisava dar explicações de tudo o que eu tinha na cabeça naquele momento. – Vamos, Will, abra a porta! – disse ela impaciente. – Você me deixou curiosa. Eu abri a porta e entramos na sala escura. – Podemos acender as luzes? – perguntou Louise. Eu não respondi. Peguei um controle remoto pequeno no meu bolso e apertei o botão ligar. A tela à nossa frente ligou, brilhando na sala escura. Apertei o play no controle remoto e fotos da Louise começaram a aparecer na tela. – O que é isso? – Ela se aproximou da tela e sentou-se numa das cadeiras. Sentei-me perto dela. – Continue assistindo – falei. Pude ver lágrimas brilhando nos olhos dela. Ela não tirava os olhos da tela. Havia fotos dela quando criança, a menina de dez anos que eu me lembrava de encontrar na estação de trem. Depois havia fotos dela mais velha, dançando, andando pelas ruas de Nova Iorque, ou conversando com a Tess, tomando sorvete. Havia fotos dela e da Tess rindo e brincando. A Tess ainda morava em Paradise. Havia fotos da Louise quando ela finalmente pode sair do orfanato. Fotos dela passeando por Paris, de nossa viagem juntos. Havia fotos da primeira noite que passáramos juntos... Eu não falei nada, só a observei enquanto ela via as fotos. Ela parecia perdida nas lembranças e eu não queria atrapalhar com perguntas desnecessárias. Depois de alguns minutos de silêncio ela falou: – Lembro-medaquele dia. – Ela apontou para a foto que piscava na tela. – Foi o dia que a Tess saiu do orfanato. – A foto mostrava Louise parada no portão do orfanato. Ela tinha olhar tão triste na foto. Parecia a garotinha que acabara de perder a melhor amiga, e era exatamente isso que a foto mostrava. Ela estava perdendo a amiga. – Eu não queria que ela fosse embora – disse ela. Uma lágrima correu pelo rosto dela. – Uma parte de mim estava feliz por ela. Ele estava livre, finalmente. Ela poderia fazer o que quisesse, e eu tinha que esperar por mais dois anos antes de poder sair de Paradise. Mas era difícil saber que teria que passar os dois anos sem ela. Naquela época eu não sabia se nos encontraríamos de novo ou não. Eu sempre tive esperança de que a Tess voltaria para me buscar quando chegasse meu dia de sair, mas ela não veio. E eu não tinha ideia de que Marlena a enviara para Le Papillon. Então, quando cheguei ao clube eu vi a nova Tess, uma estranha. Ela era fria, estar perto dela era como se o inferno estivesse congelando pela frieza que ele demonstrava. Ela mudara demais... eu não a reconheci. Eu estava tão feliz em vê-la e ela me disse que na verdade nunca me vira como amiga. Ela disse que em Paradise não era possível ser amigo de ninguém, porque todos tinham que defender os próprios interesses, e ela sempre defendera os dela... disse que me usou. Isso me magoou muito. – Você se lembra daquele dia? – perguntei, apontando para tela com uma foto diferente. Era a foto de Louise que Christopher me enviara quando eu estava me Paris, quase seis meses atrás. Ela sorriu, assentindo. – Era o dia que eu deveria passar a ser livre. Pelo menos eu pensei que seria livre... Mas tarde naquele mesmo dia, fui a Le Papillon e percebi, quando cheguei lá, que liberdade era a última coisa que eu encontraria. – Mas nos encontramos de novo. – Peguei a mão dela e ela se inclinou e colocou a cabeça no meu ombro, vendo as fotos na grande tela a nossa frente. – É, aí eu encontrei você de novo... e isso mudou tudo... você mudou tudo. Eu a beijei na cabeça, dizendo: – Você... já lamentou ter me encontrado de novo? Ela respondeu de imediato: – Sim, em especial no dia que tive que deixar você. Mas eu nunca lamentei todos os momentos maravilhosos que tivemos juntos. – Ela me olhou, e os olhos cheios de sentimentos. – Nunca lamentei me apaixonar por você, William Blair. Mesmo, às vezes, parecendo errado. Acho que me apaixonei por você na primeira vez que nos encontramos, na estação. Eu sorri. – Isso quer dizer que você me amou por anos. Ela também sorriu. – Foi uma das coisas que tornou melhor todos os dias vividos em Paradise, que era um inferno, devo dizer. Embora, naquela época, eu não sabia que era amor. Eu vivi das lembranças do nosso primeiro encontro, da lembrança de você me dar as luvas e da minha promessa a você de que nunca deixaria ninguém me machucar. Eu ficava relembrando nossa conversa, repetindo-a diversas vezes na minha cabeça. Ela me dava força. Às vezes eu sentia que podia fazer tudo o que quisesse, sentia que conseguiria tudo de que precisasse. Tudo graças a você... Você me inspirou, você me fez acreditar que a vida, não necessariamente, tinha que ser triste. Você me ajudou a acreditar em mim mesma. Eu sempre serei grata a você por isso, porque sem você eu, provavelmente, nunca teria conseguido lutar pelos meus sonhos como lutei. – Não tem que ser ruim, Louise. Você sabe disso, não sabe? Ela assentiu, dizendo: – Eu sei. Eu sei que você nunca vai me deixar na mão. E eu acho que sei porque você quis me mostrar todas essas fotos hoje. A maioria delas foi tirada pelo Christopher, não foi? – Foi. Eu disse que nunca deixei de cuidar de você, e Christopher tem sido meu parceiro nesse pequeno crime. Ela sempre podia estar onde eu queria estar e não podia. – Antes de entrarmos nesta sala você disse que eu veria minha vida antes de depois de você... e agora, eu consigo ver a diferença entre o antes e o depois. – Eu não quis ofendê-la mostrando estas fotos, de jeito nenhum. Tudo que eu queria era mostrar a você que o seu passado nem sempre determina que você não possa ter o futuro que deseja para si. Não significa que você não possa seguir em frente, deixando tudo para trás e começar vida nova, diferente de tudo o que você costumava ter antes. Eu quero que você deixe seu passado para trás. Deus sabe que não há nada mais importante para mim do que fazer você feliz. – Eu sei. Nunca duvidei disso, Will. Eu sei que tudo o que você faz, faz por mim. E isso não tem preço. – Então, que tal deixarmos todas aquelas lembranças do seu passado nesta sala e começar algo novo juntos? Ela veio mais para perto de mim, envolveu meu rosto com as mãos e me beijou. Havia muita ternura e amor no beijo dela. Era como se ela quisesse dizer com aquele beijo tudo que não conseguia expressar. – Eu topo – disse ela, interrompendo o beijo. – Ótimo. – Aproximei as mãos dela dos lábios e beijei-as, uma de cada vez. – Você já comeu alguma coisa hoje? Além do café da manhã? Ela fez uma careta. – Não, e estou morrendo de fome. – Vou ligar para o Christopher e pedir a ele para preparar algo especial para nós. Ou você prefere comer em outro lugar? – Eu preferia ir para casa mesmo. Então saímos da sala de cinema, voltamos para o escritório, Louise pegou a bolsa dela no sofá e fomos para casa. Senti-me um pouco melhor depois de assistir à apresentação das fotos com ela. Algo me dizia que ela se sentira melhor também. Sinceramente, eu esperava que ela estivesse se sentido melhor, porque, às vezes, parecia que ela ainda não tinha certeza do que fazer para o futuro. Ao menos agora eu tinha esperança de que ela conseguisse ver como poderia ser bom se ela me permitisse construir um mundo novo para ela, para nós. Estávamos sentados na sala de jantar, saboreando o frango assado com cogumelos ao molho de vinho branco que o Christopher preparado para nós. – Como é possível para um homem saber sobre culinária, negócios e segurança? – perguntou Louise. – Honestamente, não faço ideia – respondi. – Talvez ele seja o Super- homem. Embora eu ache que ele não poderia ser o Super-homem porque nunca o vi voar, a menos que ele seja muito bom em esconder os superpoderes. Ele é mais controlado do que qualquer um que eu conheci... Ou talvez ele seja um mago. Se ele for um mago, ele pode preparar a refeição rapidamente com o movimento de varinha mágica e também pode lidar com negócios e segurança tudo com um único movimento... Tudo sem jamais chamar atenção. Você já o viu carregando uma varinha? – riu Louise. – Eu ri algo. – Não, mas tudo é possível. – Você gostou de ontem à noite? – perguntou ela de repente. – Você está falando de você estar na minha cama... a noite inteira? Gostei. Mesmo que a noite tenha sido tranquila demais. Por quê? – Tenho uma ideia... você pode pegar aquela garrafa de vinho – Ela apontou para o vinho que estava sobre a mesa. – Subir e me esperar no seu quarto? Olhei para ela curioso. – Espera aí, você está me mandando para o meu quarto? Eu me lembro de ser mandado para meu quarto quando era criança, e lembro que não era divertido... mas eu também não levava bebida. Então, o que a senhorita Louise está aprontando? – Exato, estou mandando você para o quarto, mas ao menos você jantou antes e você sabe que irei logo em seguida... Então, você confia em mim? – perguntou ela brincando e levantando da mesa. – Confio... a menos que você esteja prestes a fazer algo que eu não possa controlar. Ai, não, não confio nada em você. Ela riu. – Só o que posso prometer é que você vai gostar do que tenho em mente para você. Estreitei os olhos olhando para ela esorri. – Tudo bem, acredito em você por enquanto. Vou subir e esperar por você no meu quarto – falei, garantindo que ela soubesse que mesmo acreditando nela, e confiando, eu sabia que ela ia fazer confusão. Eu tinha certeza de que ela iria me impressionar e eu nem sabia o que ela ia fazer. Ela sempre conseguia me deixar de boca aberta, e eu sempre adorava tudo o que ela fazia. Então, fui para meu quarto para, pacientemente, ou nem tanto, esperar por ela... Capítulo 17 Louise Subi as escadas correndo, entrei no meu quarto e abri o guarda-roupa. Eu planejava fazer uma pequena apresentação para o Will e encontrei o conjunto perfeito para usar. Sorrindo, peguei a roupa no guarda-roupa e fechei as portas dele. Eu sabia que ele amaria meu show. Fui me trocar no banheiro, quando sai, peguei os sapatos e sentei-me na cama para calçá-los pensando em como faria para que Will se lembrasse para sempre desta noite. Quando entrei no quarto dele, dez minutos depois, ele estava sentado numa cadeira perto da janela aberta. – Você não tem medo de ficar resfriado? – perguntei, me aproximando, mas não muito. Ele me olhou de cima a baixo bem devagar. Começou estudando meus sapatos e as meias pretas. Subiu o olhar para a tanga rendada preta e o sutiã que combinava. Quando ele, finalmente, olhou no meu rosto ele viu que eu estava usando uma máscara que era branca como a neve. Eu sei que o choque do branco era o contraste perfeito com o conjunto preto, completava a imagem em frente a ele. – Sinto como se meu corpo estivesse pegando fogo – falou depois de algum tempo, finalmente me olhando nos olhos. – Não tenho nem um pouco de medo de pegar um resfriado, pelo menos não quando você está vestida assim... É quente. Essa é a máscara que você estava usando na noite do seu primeiro solo em Le Papillon? – Sim, você se lembrou... – Claro que lembrei. Como não lembrar? Tudo o que eu queria enquanto assistia sua dança era tirar a máscara do seu rosto. Você vai dançar para mim hoje? – Sim... respondi misteriosa. Ele engoliu seco olhando de novo para mim dos pés à cabeça. – Você está tentando me matar, Louise? Porque sinto que posso morrer a qualquer momento. É sério, não é ilegal aparecer no quarto de um homem vestida sexy assim? Espero que você não esteja pensando que eu consiga manter minhas mãos longe de você... – Eu nunca disse que você deveria conter suas mãos... pelo menos hoje não... – Ai, você vai acabar comigo antes mesmo de eu ter a chance de vê-la dançar. E, julgando pelos seus sapatos, a dança vai ser maravilhosa. Ah, e já que estamos falando dos seus sapatos, tenho que dizer, mal posso esperar para ter suas pernas em volta de mim com esses saltos afundando na minha bunda. – Planejei que você fosse mais ativo na apresentação desta vez... quero que você dance comigo. – Então você me quer morto mesmo? Sim, agora tenho certeza de que quer. Eu ri internamente, ignorando as palavras dele e disse: – Você pode ligar a música, por favor? – Soltei o cabelo, deixando-o cair nos meus ombros e nas minhas costas. Will levantou-se, pegou o controle remoto no criado-mudo e ligou o som. A música preencheu o quarto. Depois aproximou-se de mim, disse: – Se você é um sonho, eu não quero acordar nunca. Dito isso, nossos lábios finalmente se encontraram. Não fazia muito tempo desde que nos beijáramos e fizéramos amor, mas desta vez estávamos sóbrios e prontos para uma noite para proporcionar prazer um para o outro. Nossas línguas dançavam sozinhas, escorregando uma na outra numa exploração apaixonada. Will agarrava minha nuca garantindo que eu não iria a lugar algum. Nunca interrompendo o beijo, ele desceu as mãos pelas minhas costas parando na minha cintura e acariciando-a. Havia tão pouca distância entre nossos corpos que seria muito fácil render-me ao desejo que eu sentia e fazer amor com ele naquela hora, mas, independente da ânsia, de jeito nenhum que eu ia desistir sem dançar como eu havia planejado. Eu precisava da dança quase do mesmo jeito que precisava dele dentro de mim. Era outra forma de mostrar a ele o quanto o amava. – Você já ouviu falar de casais que fazem amor na pista de dança? – Movi-me para frente colocando os braços em volta do pescoço dele. – Não, mas agora que você falou, estou louco para tentar – respondeu ele sem ar. Nossos olhares se encontraram e eu pude sentir a intensidade dos sentimentos dele por mim. Era assustador e excitante ao mesmo tempo, mas, acima de tudo, era tentador demais para recuar e sair do abraço dele. Ondas de poderosa excitação correram pelo meu corpo. Sempre fora tão maravilhosamente inacreditável estar tão perto dele, entregando-me por inteiro e recebendo-o por inteiro. Ele aproximou os lábios dos meus me beijando delicadamente. Deus, aqueles lábios... nunca me canso de devorá-los. Will me abraçou apertado e me puxou mais para perto do que eu pensaria ser possível, apertando-me contra o peito. O beijo começou devagar e depois intensificou com cada batida de nosso coração. Em segundos meu mundo tornou-se embaçado, era só ele e eu, e nosso corpo se movendo no ritmo da música, nossa língua deslizando e se enrolando uma na outra num jogo de sedução. Senti meu sutiã roçar na camisa do Will e, em seguida, notei as mãos dele deslizando rápido nas minhas costas para abrir o fecho do pedaço de tecido que cobria meus seios. Porém, ele parou um pouco antes de liberá-los, sussurrando entre meus lábios entreabertos: – Quero tirá-lo... Afastei-me um pouco só para poder olhá-lo nos olhos e disse: – Isso – beijei os lábios dele – deve fazer minha dança demorar um pouco mais... – falei, permitindo que ele tirasse o sutiã, e o beijei de novo. – O que mais eu poderia querer? – comentou ele sorrindo. Ele abriu meu sutiã e escorregou as alças pelos meus ombros, depois tirou-o e jogou-o na cama. – Você é a inspiração para muitas das minhas fantasias, Louise. Tenho vivido com as maravilhosas imagens que você deixou na minha memória... mas nenhuma fantasia se compara ao que sinto quando estou com você. Em momentos assim, não precisamos de palavras. Podemos sentir o alívio por estarmos juntos de novo depois de tantos dias e noites solitárias que cada um de nós viveu enquanto estávamos separados. Mas Will tinha razão, ter lembranças dele ainda era melhor do que jamais tê-lo conhecido. Agora eu entendia melhor do que antes. Eu nunca sentira nada assim. Quando estávamos juntos eu sentia como se tocasse a alma dele, não só a pele, era lindo. E eu tinha certeza de que ele sentia o mesmo por mim... como se ao me tocar ele alcançasse minha alma e mostrasse a ela todo o amor que eu não tivera a vida toda. Ele abriu o coração para mim e me deixou entrar sem hesitação, e eu fiz o mesmo por ele. Naquele momento, jurei que nunca mais me fecharia para ele, eu nunca mais o deixaria sozinho, e eu, nunca mais o magoaria de novo. Will era o mundo para mim, ele era o coração que batia forte no meu peito. E era como se este contasse cada segundo que eu passava com ele, uma batida por segundo. Ele espantava todos os medos e as dúvidas de dentro de mim. Era tão fácil estar com ele. Eu não precisava fingir ser algo que eu não era, eu podia ser eu mesma, simplesmente amando-o e sentindo o amor dele me doando sua força e beleza. O único problema que eu tinha era nos momentos que ele não estava por perto, quando eu não podia desfrutar da presença dele e de todos os benefícios desta presença em minha vida. Meu coração crescia a cada beijo dele. Era impossível não sentir o quanto eu o amava, e eu o amava, de verdade... infinitamente. Ele era o amor da minha vida e eu não deixaria esse amor desaparecer. Os sentimentos naquele momento eram tão fortes,parecia que havia uma droga no ar e que a estávamos inalando, preenchendo cada centímetro do nosso corpo e nossa mente, derretendo-nos no coração um do outro. E quando estivéssemos totalmente derretidos, explodiríamos e depois voltaríamos com nova e inimaginável força transformando nosso mundo numa realidade não existente que era tão perfeita que nós nunca iriamos querer sair dessa realidade de amor e voltar para o mundo real. Interrompi o beijo e, ainda perto do Will, virei-me balançando no ritmo da música tocando ao fundo. Eu podia sentir a respiração quente dele no meu pescoço quando ele beijava numa linha que descia pela minha nuca e depois por meus ombros. Ele deslizou as mãos pelas laterais do meu corpo e pela minha barriga aproximando mais nossos corpos. Pude sentir a excitação dele pressionada contra minhas costas. Com uma mão ainda na minha barriga ele colocou a outra dentro da minha tanga, por baixo do tecido macio, acariciando meu clitóris. Ergui uma das mãos e a coloquei em volta do pescoço dele, soltando a cabeça para trás e descansando no ombro dele. Ele deu um beijinho no meu lóbulo, depois sussurrou: – Se não for assim que toda noite vai começar, então eu não quero que chegue um novo dia. Eu sorri, fechei os olhos e desfrutei da sensação que o toque dele despertava em mim. – Se você gosta tanto assim que eu dance para você, então não me oponho a fazer isso toda noite... – Hummm... – resmungou ele no meu ouvido. – Parece um excelente plano, e amanhã à noite vai sacudir também. Eu ri e disse: – E todas as noites depois de amanhã, mas você tem certeza de que aguenta dançar tanto? Ele riu baixinho. O som da risada vibrou no meu ombro. – Ah, sim, minha doce Louise, tenho certeza de que aguento. A sensação de rendição total tomou conta de mim. Era claro que o amor dele por mim era tão grande quanto o meu por ele, e era simplesmente impossível resistir a ele ou ao que ele sentia por mim. Assistir à apresentação das fotos com ele no escritório pareceu ter modificado nosso relacionamento. Acredito que eu precisava que alguém me mostrasse a diferença entre meu passado e meu presente. E, talvez, eu me recusasse a ver, mas Will sabia que seria uma lição que eu precisava aprender. Não fazia sentido em fugir da pessoa que conseguia me fazer verdadeiramente feliz. Nenhuma realização profissional se comparava a estar com ele, que, sem nenhum esforço, era um sonho meu realizado. Porque, no fundo, eu sempre soube que estava fazendo tudo por ele. As palavras que ele me disse anos atrás me inspiraram a viver cada droga de dia que passei em Paradise e nas ruas pedindo dinheiro para poder ficar no orfanato. A presença dele na minha vida agora inspirava tudo que eu fazia na escola, cada dança e cada pequena vitória, tudo era por ele. Saber que ele me ama como eu sou é maravilhoso. Apesar das minhas lutas mentais e imperfeições ele ainda queria que ficássemos juntos... Quando me virei para olhar para ele, ele pegou a fita na parte de trás da minha cabeça e desamarrou deixando a máscara cair do meu rosto. – Mesmo adorando vê-la usando isso, eu quero ver você inteira, sem nada cobrindo seu rosto, escondendo sua beleza de mim. Quando a música estava quase acabando, ele deslizou as mãos até meus quadris, me levantou e colocou minhas pernas ao redor dele. Ainda me beijando, ele foi até a cama e me deitou nela gentilmente. Ajoelhou-se sobre mim, um joelho de cada lado do meu corpo. Ele se curvou e beijou minha barriga. A sensação dos lábios quentes na minha pele foi divina. Depois ele pegou minha tanga e a tirou pelas minhas pernas expondo meu corpo para os olhos famintos. – Você é alucinantemente linda – sussurrou ele, movendo os olhos cheios de desejo pelo meu corpo nu. – Sempre demais, mas nunca suficiente. Ele me olhou nos olhos com carinho. O olhar dizia todos os pensamentos passando pela cabeça dele. Eu não sabia se era possível, mas, naquele momento, senti como se estivéssemos ficando mais próximos, conectados de forma mais profunda do que antes. Como se cada toque, cada beijo e cada olhar nos conectasse mais. Ainda nos olhávamos quando ele colocou a mão entre minhas pernas e as afastou. Ele deslizou a mão até meu peito e acariciou um dos meus seios, brincando com meu mamilo endurecido. Ele sabia exatamente o que eu queria que ele fizesse e ele não me fazia esperar muito para continuar brincando com meu corpo. Ainda acariciando meu seio com uma mão, ele deslizou para baixo posicionando-se entre minhas pernas abertas, e com a outra mão tirou o que cobria meu clitóris e, finalmente, abaixou a cabeça sugando-o. Então ele lambeu formando uma linha entre os lábios molhados e ansiosos por serem explorados. Eu ansiava desesperadamente cada toque dele, cada beijo. As preliminares eram tortura, mas, ao mesmo tempo, eu não queria que acabassem. Eu estava pronta para recebê-lo dentro de mim, mas eu estava adorando que ele estivesse explorando cada pedaço do meu corpo, cuidando e amando meu corpo do jeito que ele acreditava que eu merecia. Will afastou-se para me olhar nos olhos, e quando eu senti os dedos dele mergulhando dentro de mim, minha respiração acelerou. Elevei os quadris, precisava senti-lo mais profundamente dentro de mim. Inclinando-se, ele beijou minha barriga, desenhando pequenos círculos com a língua em volta do meu umbigo, enquanto os dedos continuaram entrando e saindo de mim. Ele moveu os lábios até meu peito e sugou avidamente meus delicados mamilos, fazendo- me gemer de prazer. Ele falou baixinho que meu corpo o fazia sentir-se muito bem. Disse que estava desesperado e fraco contra os convites silenciosos dele. Eu sabia que se ele continuasse, ele me faria gozar antes mesmo de ter a chance de compartilhar com ele o prazer que eu sentia. Ele me dava prazer, mas eu queria satisfazê-lo também. – Você não está jogando limpo – falei enquanto colocava minha mão sobre a dele, impedindo-o de me levar ao orgasmo antes de eu estar pronta. – Você ainda está totalmente vestido, e eu aqui, deitada na cama, usando nada além de meias e sapatos. Ele riu diabolicamente. – Eu não jogo limpo, eu jogo para ganhar... e parece que estou ganhando... Olhei para ele emburrada, dizendo: – Bem, Sr. Trapaceiro, se você quer que seu jogo continue, vai ter que jogar limpo em algum momento... Ele sorriu compadecido. – Ah, está bem. Você vence desta vez, mas só porque eu não quero que isto acabe – disse ele desabotoando a camisa e jogando- a em uma cadeira. Quando a camisa caiu certinho na cadeira ele tirou a calça e a cueca jogando-as também. Agora ele estava em ordem, completamente nu na minha frente. Sorri ofegante olhando para o belo corpo dele. – Bem melhor – disse eu aprovando. Pegando-o pela mão e puxando-o para que deitasse sobre mim. Ele riu pairando sobre mim. Ficamos nos olhando, era como se estivéssemos tentando ver quem piscaria ou desviaria o olhar primeiro, ou melhor, quem cairia na tentação primeiro. Nosso corpo mal se tocava, mas eu podia sentir o calor que irradiava da pele dele. Eu não conseguia mais segurar, finalmente cedi a tentação de tocá-lo. Procurei entre nosso corpo, envolvendo o pênis dele gentilmente com os dedos, acariciando-o com movimentos para cima e para baixo. Ele estava tão duro e pronto para mim, a firmeza me deixou excitada... eu precisava senti-lo dentro de mim, me preenchendo. Ergui a pélvis, encostando meus lábios molhados na ponta do pênis dele, enquanto ainda o friccionava com a mão. – Este é o retorno por tentar me fazer gozar antes mesmo de você tirar a camisa... Ele resmungou, fechando os olhos. – Você é tão provocadora... – De nada. – Eu ri,movendo meus quadris para cima e para baixo contra o pênis dele. Cada músculo do corpo dele enrijeceu. Ele agarrou minha mão que envolvia o pênis dele, empurrou para cima da minha cabeça e prendeu-a na cama. Depois deitou-se sobre mim. Ele, finalmente, deslizou a ponta do pênis para dentro de mim, observando me cheio de desejo. Eu expirei quando ele penetrou mais fundo... mas ele ainda não estava suficientemente profundo, ele ainda não estava inteiro dentro de mim. Ele estava duro como aço, e, naturalmente, eu me senti tonta com a sensação do músculo de amor dele dentro de mim, mesmo que não fosse por inteiro. Ele me penetrou totalmente, e o fez com força. Ele sempre parecia saber exatamente o que eu queria, e, neste momento, ele sabia que eu queria que ele fosse violento. Por um segundo, achei que fosse desmaiar pela intensidade de nossa relação sexual. Eu tinha tantos pensamentos e emoções diferentes passando pela minha cabeça, era arrebatador. Finalmente éramos um só... estávamos conectados de corpo e alma. Eu não tinha palavras para descrever como era maravilhoso estar com ele de novo. Will continuou se movendo para dentro e para fora de mim, penetrando- me profundamente. Beijando-me como só ele sabia, e me tocando de formas que eu nunca fora tocada por outro homem. A experiência era intensa, era além do qualquer sentimento que eu já tivera. Mesmo quando estivemos juntos antes, não era assim. Nos últimos dias tínhamos trabalhado vários problemas entre nós e, agora, podíamos somente estar juntos, nos amar de uma forma que nunca nos permitíramos antes. O tempo e a realidade não mais existiam para nós. Estávamos perdidos no momento... Eu sabia que ele estava perdido em mim como eu estava nele. Fazíamos tudo sincronizado, até mesmo o que era involuntário. Nosso coração batia no mesmo ritmo, respirávamos ao mesmo tempo, nosso corpo se movimentava no mesmo ritmo. Eu erguia o quadril para me aproximar do dele e ele baixava o quadril para se aproximar do meu. Até mesmo nossos lábios estavam em sintonia, constantemente se encontrando para compartilhar beijos sensuais. Era uma sensação de satisfação. Era amor, puro e verdadeiro. Era poderoso, poderia destruir o universo. – Eu amo você, Louise – disse Will, cobrindo meu rosto e meu pescoço de beijinhos quentes. – Quero ficar com você para sempre. – É isso? Então para sempre é o que você terá – respondi, olhando-o nos olhos. Ele começou a respirar mais pesado e a me penetrar mais rápido, com mais força. Seguíamos rápido para o clímax, ambos perdidos no desejo pelo alívio tão esperado. Eu senti como se meu coração fosse sair do peito, ele estava feliz demais para bater no ritmo normal. Cravei as unhas gentilmente nas costas dele para demonstrar o prazer que ele me proporcionava e senti os músculos enrijecerem ao meu toque. – Deus, Louise... – Os quadris dele batiam contra os meus, levando-me ao limite. As paredes da minha vagina o apertaram dando as boas vindas ao orgasmo que descia pela minha espinha e explodia bem onde eu conseguia sentir que o pênis dele pulsava com o próprio êxtase. Ele gemeu alto, superando o som da música que ainda tocava ao fundo. – Eu não quero parar de fazer amor com você nunca – falou na curva do meu pescoço. Devagar ele saiu de dentro de mim e rolou para deitar-se ao meu lado. Pegou minha mão e a beijou com os lábios macios. Eu sorri. – Então somos dois – concordei, virando a cabeça para olhar para ele. – Você está bem? Eu machuquei você? – Estou ótima. Apesar de que na última vez que fizemos amor você não parecia se importar em como eu me sentiria pela manhã. Eu não queria, de forma alguma, fazê-lo se sentir culpado pelo que acontecera no hotel. Foi uma das melhores noites que passamos juntos. Ele falou em voz alta. – Eu já disse que estava mal aquela noite. – Sim, claro... como se eu já não soubesse quão perdido no momento você fica às vezes. – Ugh, você me faz sentir um perfeito cretino que só se importa com a satisfação sexual. Rolei para meu lado esquerdo e coloquei a mão no peito dele. – Não seja ridículo. Eu adorei cada segundo daquela noite. – Sério? – Você fala como se não soubesse isso. – Bem, eu ainda me sinto um merda pelo jeito que a tratei. – Como se eu fosse propriedade sua? Ele falou alto de novo. – Você não está ajudando. – Então peça para sua consciência calar a boca. Você não acha que é um tanto tarde para sentir culpa? Como eu já disse, eu não me arrependo de ter ido ao hotel, eu não me arrependo de me oferecer, e não me arrependo das atitudes. E, se você se lembrar, fui eu que me ofereci primeiro. Ele colocou o dedo no meu queixo me fazendo olhar para ele. – Mas você me diria se não gostasse de algo ou não quisesse fazer algo, não é? – Claro que eu diria. – Que bom. – Ele beijou meus lábios. – Agora é melhor dormirmos um pouco – disse ele pegando o controle remoto e desligando a música. Eu mordi meu lábio inferior pensando no que poderíamos fazer em vez de dormir. – O quê? – perguntou ele, rindo pelo meu silêncio. – Não precisa dormir hoje, mocinha? – Bem, talvez um pouco mais tarde, mas definitivamente agora não... *** Não dormimos muito. Na verdade, eu só consegui dormir por cerca de uma hora, quando o despertador tocou indicando que era hora de levantar e ir para a escola. – Mmm... não vai embora. – Will me puxou pela mão me fazendo cair de volta na cama. Eu ri. – Preciso ir ou vou chegar atrasada à aula. Você não precisa levantar e se preparar para o trabalho? – Que dia é hoje? – Perguntou ele grogue, me abraçando. – Segunda-feira. – Ah, então acho que preciso levantar e me preparar para o trabalho... mas não antes de receber um beijo de bom dia do meu amor. Ele me puxou em direção aos lábios e me beijou com calor. Não sei quanto tempo duraria nosso beijo se o Christopher não tivesse batido à porta do quarto, dizendo: – Louise, a Sra. Cormac quer falar com você! O quê? O que ela pode querer comigo a esta hora da manhã? – Só um segundo! – Gritei, pulando da cama. Vesti a camisa do Will e fui abrir a porta. – Bom dia – disse Christopher me entregando o telefone. – Obrigada –falei baixinho. Fechei a porta e disse ao telefone: – Alô? – Bom dia, Louise. Desculpe por incomodar você, mas eu queria perguntar uma coisa... – Sim, o que é, Sra. Cormac? Vi o olhar perturbado do Will. – Você gostaria de jantar comigo? Regina, uma amiga minha, me convidou para a inauguração do novo bistrô dela e me disse para levar uma amiga comigo. Eu gostaria que você fosse comigo. Regina era dançarina, e eu gostaria que você a conhecesse. O que você acha? – Eu... nem sei o que dizer... seria uma honra. Muito obrigada! – Maravilha! – disse Sabine. – Vejo você mais tarde, então. Vou pedir ao meu motorista para pegar você e levar até o bistrô. Não é muito longe da minha casa, então nos encontraremos lá. – Tudo bem e, obrigada de novo. – Não precisa agradecer. Tchau. – O que ela queria? – perguntou Will assim que desliguei o telefone. Não gostei do tom em que ele falou. – Por que você age assim em relação a ela? Ele deu de ombros, sentando na cama. – Nada. Eu só queria saber por que ela ligou para você tão cedo numa segunda-feira. Está tudo bem? – Está, ela só queria me convidar para a inauguração do bistrô de uma amiga dela. Ela disse que a amiga era dançarina e ela quer que nos conheçamos. – Entendo. Will olhou perturbado de novo, então saiu da cama e foi para o banheiro sem dizer mais nada. O bom humor sumira... O que há com ele? Acho que ele não confia na Sabine... Mas por quê? Duvido que haja boa razão para a desconfiança dele... Capítulo 18 William – Por que hoje? – perguntou Christopher me servindo café. Meu cérebro estava prestes a explodir. Depois da conversa da Louisecom a mãe, eu via confusão à frente. – Porque ela pediu a Louise para ir jantar com ela. O pessoal do Montgomery as verá juntas, e aí, quem sabe o que vai acontecer? Sabine precisa saber a verdade. Ela precisa se preparar para o que possa acontecer se o pessoal dele as vir juntas. Você não quer esperar mais um pouco antes de contar a ela que a Louise é filha dela? – Bem, agora não podemos mais esperar. É agora ou nunca. Se elas saírem juntas, a vida das duas estará em perigo. Eu sei que não vou conseguir convencer a Louise a não ir, então preciso conversar com a Sabine e contar a verdade antes dela encontrar com a Louise. – Você quer que eu vá junto? Eu ri. – Já sou grandinho, Christopher. Acho que consigo conversar com a Sabine Cormac. – Mas você nunca disse a uma mulher que a filha dela, que ela pensava ter morrido ao nascer, não está morta. Esta conversa pode ser um pouco mais difícil do que você imagina. Só estou falando... – Obrigado pela preocupação, vou ficar bem. – Tomei o último gole do meu café, peguei o telefone, liguei para minha secretária e disse que chegaria um pouco mais tarde hoje. A conversa com Sabine era a primeira coisa a fazer pela manhã. – Muito bem, já vou – falei ao Christopher. – Boa sorte. E, por favor, tenha paciência com a Sabine. Prepare-a para a notícia antes de despejar tudo. Algo me diz que ela vai ficar chocada e descrente. Respirei fundo e assenti, dizendo: – Farei o melhor possível. Eu não me lembrava de estar tão nervoso quanto estava agora. Parecia que eu estava prestes a contar a minha própria mãe que ela tinha uma filha viva, e não à mãe da Louise. Ela vai ficar furiosa e chocada. Ela deverá ficar triste pelos anos perdidos e brava quando perceber onde a Louise passou a infância, e grata por tê-la de volta. Como eu não era mãe, eu não podia realmente imaginar tudo o que uma mãe sentiria ao descobrir, quase vinte anos depois, que a filha sempre estivera viva. Fui para a escola da Louise, certifiquei-me de que ela estava na aula e fui até a sala da diretora. Liguei para a secretária no caminho para a escola e pedi para que agendasse um horário para mim. Não que isso fosse surpreendê-la menos ao me ver no escritório dela. – William... que surpresa – disse ela, confirmando meus pensamentos. – O que o trás aqui hoje? Espero que Louise esteja bem. – Ela está bem. Está em aula agora, mas eu tenho algo muito importante para contar a senhora... – Por favor, sente-se. – Ela indicou a cadeira com a cabeça. – Gostaria de uma xícara de café? – Não, obrigado. Já tomei bastante café por hoje. – Eu sentia que meu coração estava prestes a pular do meu peito. Eu não sabia dizer se era pela cafeína ou pelo nervosismo. – Ok, o que você gostaria de me contar? Hesitei. Eu não sabia como começar a conversa. – O que a senhora sabe sobre a Louise? – perguntei. – Bem, não muito. Sei que ela cresceu num orfanato e que é uma dançarina muito talentosa. – Ela sorriu com as próprias palavras. – O que tenho para contar a senhora tem a ver com o passado da Louise, com a infância dela para ser mais específico... – Você está muito sério, William. Estou ficando nervosa. Então somos dois, pensei comigo. Senti suor na minha testa. Acredito que a senhora não sabe que eu e Louise nos conhecemos há muitos anos, quando ele ainda era uma menina pedindo esmola numa das estações de trem. Sabine arfou. – Ela tinha que pedir esmolas para viver? – Não exatamente. O orfanato onde ela cresceu fazia as crianças “trabalharem”. – Meu Deus, isto é terrível. – Quando a vi pela primeira vez, eu tinha quase 20 anos. E ela era apenas uma menina que eu queria, desesperadamente, ajudar. Isso porque eu sabia tudo sobre aquele orfanato. Meu pai cresceu lá também. E as histórias que ele me contou sobre Paradise eram terríveis. Por isso eu queria fazer algo bom pela Louise. Eu a vi crescer, eu sabia tudo o que acontecia na vida dela, até que ela completou 18 anos e pode, finalmente, sair do orfanato. Ela foi enviada para trabalhar num clube. – O clube para homens, certo? Ela me falou. – Sim. Mas a presença da Louise lá não era acidente. Ela foi mandada para lá de propósito... o dono é tio dela. – Verdade? Mas isto é uma boa notícia, não? – Bem, depende... Antes de eu encontrar Louise trabalhando no clube, eu pesquisei um pouco sobre o passado dela. Eu queria ajudá-la a encontrar a família, os pais biológicos... mas os resultados me deixaram chocado, porque eu conhecia o homem que é o pai dela. – Ele era seu amigo? –perguntou ela. – Não exatamente. Mas meu pai o conhecia há alguns anos. – É alguém importante? Como ele se chama? Hesitei de novo. Agora ou nunca, pensei comigo. – Fletcher Montgomery – falei. Ela ficou pálida. Olhou para mim de boca aberta, em choque. – O Fletcher Montgomery? – perguntou ela depois de pequena pausa. – Sim, o senador... Ela engoliu seco e pegou um jarro com água que estava na mesa dela. Ela colocou um pouco de água num copo e bebeu. Sem dizer nada, ela se levantou e foi até a janela que dava para um pequeno parque. – Acredito que não seja por coincidência que você veio me falar do laço familiar entre Fletcher e Louise. Você sabe que ele e eu... ficamos juntos? – Ela se virou e olhou para mim esperando minha resposta. – Sim, eu sei. – Quanto você sabe? – Sei que a senhora deveria ter tido um bebê. Ela assentiu, voltando-se para a janela. – Infelizmente foi um natimorto. – A senhora tem certeza? – perguntei, levantando-me e indo para onde ela estava. Ela me olhou franzindo a testa. – O que você está querendo dizer? – A senhora tem certeza de que o bebê nasceu morto? Ela franziu ainda mais a testa. – Não sei por que você começou essa conversa, William, mas... – Sabine, por favor, responda a minha pergunta. É muito importante. O que você se lembra daquele dia no hospital? Ela piscou algumas vezes, respirou fundo e disse: – Não muito. Eu estava sedada, mal conseguia pensar direito. – Eles deixaram a senhora ver o bebê depois do nascimento? – Não, eu não vi o bebê. O trabalho de parto começou muito antes. Minha mãe ligou para a ambulância e os médicos disseram que o bebê estava com falta de oxigênio e disseram que precisavam fazer o parto o mais rápido possível. Eles fizeram uma cesárea. Fiquei inconsciente por algumas horas e quando acordei eles me disseram... que bebê não conseguira. Os olhos dela se encheram de lágrimas. Ela tentou esconder, mas eu pude ver como era doloroso para ela falar sobre a perda do bebê. – Disseram que era um menino. – Um menino? – perguntei confuso. – Sim, por que isso é surpreende você? – Porque... – Espera, você disse que Fletcher é pai da Louise? Então por que ela cresceu num orfanato? Ele e a esposa não queriam o bebê? – A mulher dele nem sabe que ela existe... porque ela não é a mãe. – Ah, entendo. Mas por que você está me contando isso? – Acho que é melhor a senhora se sentar? – falei. Eu sabia que a cabeça dela estava caótica, e aposto que no fundo ela já sabia a resposta para a pergunta que fazia a si mesma. – Os médicos mentiram para você. Seu bebê não morreu, e não era menino, era menina... As lágrimas que ela se esforçava para conter rolaram pelo rosto dela. Ela não disse nada, só ficou me olhando, esperando que eu dissesse as palavras. Que eu dissesse que a Louise era o bebê que ela pensava ter perdido anos atrás. Eu continuei. – Você não sabia que estava grávida quando você e o Fletcher terminaram o relacionamento, sabia? Ela balançou a cabeça devagar. – O que ele disse quando você contou? – Eu nunca disse que estava grávida dele – ela respondeu. – Uma amiga em comum contou. Então Fletcher me procurou e disse que eu precisava me livrar do bebê, mas já era muito tarde para um aborto, e eu jamais concordariaem matar meu bebê mesmo que ainda não fosse tarde. Então eu disse para ele sair da minha casa e nunca mais voltar. E assim ele fez. Eu nunca mais o vi, até o dia em que vi aqueles banners promocionais horrorosos para a campanha eleitoral. – O que quer dizer que você não sabia que ele estava no hospital na noite em que o bebê nasceu. – Não, eu não sabia... – As mãos dela tremiam, então peguei a jarra de água e coloquei mais um pouco no copo. – Obrigada – disse ela, pegando o copo e tomando a água devagar. Puxei uma das cadeiras perto dela e me sentei em frente a ela. Sorri, dizendo: – Você deu à luz uma linda menina, Sabine. Mais lágrimas escorreram pelo rosto dela. – Mas Montgomery garantiu que você nunca soubesse dela... ou melhor, ele tentou. Ele só na esperava que alguém fosse procurar por ela. Ela a mandou para o pior lugar do mundo, acreditando que seu segredo estaria seguro. E aquele lugar é chamado Paradise... Sabine sacudiu a cabeça sussurrando: – Não, não, não, não... – Ele nunca esperava que eu, ou quem quer que fosse, descobrisse a verdade sobre o que ele fez a você e a Louise. – Ela escondeu o rosto nas mãos e soluçou, os ombros sacudiam. Eu esperei. Dei a ela alguns minutos para digerir o que eu dizia. Finalmente ela enxugou as lágrimas na manga longa e disse: – Ela sabe? – Não. Ela só sabe quem é o pai dela. – Eles já se encontraram? – Já, mas não posso dizer que foi um bom encontro. Louise o odeia, e eu não a culpo. – Nem eu... – murmurou Sabine, olhando para o nada. Então os olhos dela encontraram os meus e ela falou: – Eu não posso ter filhos... depois daquele dia infernal, 18 anos atrás, os médicos me disseram que eu nunca mais poderia ter filhos. E eles não estavam errados. – Ela pegou um lenço no bolso e enxugou as lágrimas. – Meu marido e eu temos tentado conceber há anos, e nada... – Mas agora a senhora sabe a verdade. A senhora teve um bebê há 18 anos. Mesmo não tendo criado a criança, eu sei que ela ia querer saber que é sua filha, que a senhora é a mãe dela. – O que eu faço agora? – Seja feliz – falei. Eu tinha certeza de que, um dia, Louise e Sabine poderiam falar uma para a outra tudo o que não permitiram que elas falassem antes. – E a Louise? Devo contar a verdade a ela? Deus, eu ainda não acredito que ela está viva... e não acredito que ela está aqui, frequentando a escola onde eu trabalho. Todo esse tempo ela estava tão perto... E se ela não me perdoar por tê-la deixado sozinha naquele lugar terrível? – Ela sabe que a senhora não tem culpa. E ela quer muito encontrá-la. – Por que você não contou a ela sobre mim? – Porque eu não queria complicar mais a vida dela. – É por causa daquele filho da puta do Montgomery, não é? Desculpe os termos, mas você nem imagina como estou com raiva dele agora. – Não se preocupe, eu entendo. E sim, é por causa dele. Ele ficaria furioso em saber que a senhora encontrou a Louise, e que eu ajudei. – Você disse que sei pai o conhecia. Ele sabe que você e Louise estão juntos? – Sabe, e é isso que me apavora. Então eu contei para ela o resto da história sobre Fletcher, seu passado e presente, e sobre o que ele fizera a meu pai e a toda minha família. – Inacreditável – disse ela atordoada. – Ele ousou dizer a Louise para ficar longe da vida dele? Ah, ele vai pagar por isso... – Por favor, não faça nada impensado. Como eu já disse, ele tem que pagar por muitas coisas, e não podemos arriscar que ele descubra o que estamos tentando fazer. Precisamos esperar e descobrir mais provas dos crimes dele, e aí, deixaremos a bomba explodir. – Eu sei, eu sei, William. É que não consigo sentar aqui e não fazer nada. Eu sorri. – Você pode aproveitar o tempo com sua filha. É só isso que importa agora. Ela também sorriu. – Você está certo. Embora agora eu não tenha ideia de como me comportar na frente dela, porque tudo o que eu quero é correr para a sala dela e abraçá-la e dizer o quanto eu... a amo. E como eu lamento não ter descoberto antes. – Eu sei. Acredite. Sei exatamente como é ficar longe dela. – Ah... – ela se curvou para a frente e me abraçou apertado. – Estou tão feliz que minha menina tenha se apaixonado por um homem tão maravilhoso. E a história de amor de vocês é tão linda. Gostaria de ter estado ao lado dela. – Mas, provavelmente, eu e ela não teríamos nos conhecido. Ela bateu de leve na minha mão. – Você está certo. Ela tem sorte em ter você. E eu espero ter tempo suficiente com ela para conhecê-la e amá-la como ela merece ser amada pela mãe. – Vai ficar tudo bem, tenho certeza. Ela suspirou. – Vamos torcer pelo melhor. Agora, você se incomoda de me acompanhar até a sala da Louise? Não consigo resistir à vontade de vê-la. Mesmo que eu não possa contar a verdade, pelo menos, ainda não. – Eu não queria que ela me visse com a senhora, então é melhor eu ir. – Ah, certo. Mas obrigada por vir aqui e me contar tudo. Acho que nunca conseguirei agradecer por você ter me encontrado, por cuidar da minha filha, por estar ao lado dela. – É um prazer fazer parte da vida dela. Eu a amo, Sabine, mais do que tudo nesse mundo. – Eu sei. Posso ver. Eu percebi na primeira vez que o vi assistindo a dança dela. E tenho certeza de que ela é feliz com você. – Espero que sim. – Venha comigo, vou mostrar outra saída. Se não queremos que ela nos veja juntos, é melhor ficar longe da entrada principal. Ela foi até a porta e acenou para mim para que eu a seguisse. – Quanto ao jantar... – falei enquanto caminhávamos pelo corredor. – Espero que não se importe do meu pessoal cuidar da senhora. – Não me importo. Embora eu não tenha medo do Montgomery. Posso lidar com ele. E não tenho medo de aparecer em público com a Louise ao meu lado. É melhor ele se acostumar a nos ver juntas. Descemos as escadas e Sabine destrancou a porta para eu sair. – Vejo você em breve, William – Bom jantar, Sabine. Sorrimos um para o outro e eu fui embora. Que alívio saber que a Sabine conhecia a verdade. Pelo menos agora eu não precisava me preocupar com a Louise quando ela estivesse na escola. A mãe dela prometera garantir que ela estaria segura lá. Cheguei ao escritório perto da hora do almoço, Christopher me encontrou na sala de espera. – Como foi – perguntou. – Foi bem. Melhor do que eu esperava. O que você está fazendo aqui? Você não deveria estar trabalhando na busca de mais informações sobre o passado do Montgomery? – É exatamente por isso que decidi vir até aqui e contar tudo o que descobri. – Algo útil? – Ah, muito útil. Fomos para meu escritório e Christopher me deu a pasta que ele estava segurando. – Leia – pediu, sentando-se. – O que é isso? – Eu abri a pasta, li algumas linhas do primeiro papel que encontrei e olhei para ele em choque. – Você só pode estar brincando... Todas as propriedades do Montgomery pertencem a Christine? – Ah, é por isso que ela ainda está viva. – Então por que ele a colocou num hospício. – Boa pergunta, e eu tenho a resposta. Algumas semanas antes de ela ser enviada para lá, um dos vizinhos do Montgomery os ouviu brigando. Ela ameaçou contar aos jornalistas tudo o que ele fizera. Então, aos poucos ela começou a desligar mentalmente e, por fim, um dia ele a internou num hospício. – Ele tinha medo de que ela o deixasse sem um centavo e que o mandasse para a prisão. Mas como ela se recusou a devolver as propriedades ele a internou. – Exatamente. – Aposto que a esposinha não faz a menor ideia de que o precioso marido deixou a prima mandar em tudo que eles têm. – E mais, eles assinaram um acordo pré-nupcial... que diz que se eles se separarem, ele só fica com o carro, porque a maior parte das propriedades da família dele pertencem ao sogro. Mas agora nós sabemos que, de alguma forma, ele fez da Christine a única dona de tudo que ele e a esposapossuíam. Parece que ela também vai sair sem nem um centavo. Eu ri. – Pobre dela. Será que ela sabe que casou com um idiota? – Duvido. Pelas inúmeras fotos e vídeos da família, ela sempre fora profundamente apaixonada por ele. Por isso não era difícil enganá-la. O acordo pré-nupcial que eles assinaram fora somente uma tentativa do pai dela de proteger suas propriedades e o futuro da filha. Mas depois da morte dele, Montgomery garantiu que todos os investimentos e outras propriedades da família fossem dele, ou melhor, da Christine. – Não acredito que ele confiava tanto assim nela. – Nem eu. Mas foi o que aconteceu e o Montgomery chegou bem perto de perder tudo. Se a Christine não conseguir sair do hospício, tudo passa a ser propriedade dos Estados Unidos da América. – Ah, o cara está ferrado. – Mas caiu tudo na nossa mão. – Isso, velho amigo. Estamos a um passo de destruir o famoso Fletcher Montgomery. Capítulo 19 Louise Eu estava a caminho do bistrô onde a Sabine e eu combinamos de nos encontrar, quando recebi uma mensagem do Will. Amo você, daqui até a Lua – dizia mensagem. Eu sorri, e respondi: Eu também. O comportamento estranho do Will hoje de manhã ainda me incomodava. Não era a primeira fez que a menção ao nome da Sabine o deixava preocupado. Christopher disse que eu podia confiar nela, então qual o problema do Will? Duvido que ela possa fazer algo contra mim, ou a quem quer que seja. Ela era tão bondosa. O motorista da Sabine, Paul, falou ao parar no estacionamento do bistrô, cujo nome era Bon Appétit: – A senhora Cormac disse que esperaria por você lá dentro. – Obrigada pela carona – falei, saindo do carro. Um choro alto chamou minha atenção. Virei para a direita e vi uma menininha, ajoelhada, chorando. Aparentemente ela tropeçara e caíra. A mãe a ajudara a se levantar, enxugando as lágrimas dela e beijando o rosto, sussurrando no ouvido dela. Ver o laco entre mãe e filha despedaçou meu coração em mil pedacinhos. Foi comovente. Eu nunca tivera a chance de viver o que a menina vivia. Sempre desejei, quando era menina, que minha mãe viria me beijar e dissipar minha dor, acalmando-me com palavras, mas isso não era possível para mim, já que eu não tinha mãe. E não havia ninguém na minha vida que pudesse substituí-la, nem mesmo o Will podia ocupar esse lugar. E eu nunca tive a figura materna na vida, então, como eu disse antes, não era possível para mim. A menininha começou a sorrir, meneou a cabeça para a mãe, e elas se afastaram. Eu costumava pensar que depois de tantos anos sozinha que eu estava acostumada a não ter uma família de verdade. Mas depois de ver as duas, percebi que devo estar errada sobre isso. Quando eu estava prestes a entrar no local, virei-me e percebi um Jeep preto estacionado não muito longe de onde eu estava. Não era a primeira vez que eu o via. Mais cedo, quando eu estava saindo da escola, notei que estava estacionado em frente a entrada. Talvez eu nunca tivesse prestado atenção a ele se não fosse pela música tocando lá dentro, era uma da minhas preferidas. A mesma música estava tocando no Jeep que eu via agora. Os vidros eram bem escuros para ver quem estava lá dentro, mas quando olhei mais de perto, o carro começou a andar e passou por mim bem devagar. Talvez eu estivesse imaginando coisas, mas eu tive uma sensação estranha de que não era coincidência. Será que o carro era dos espiões do meu pai? Não me surpreenderia se fosse. Por um momento, entrei em pânico. Eu sabia que o Christopher estava por perto, ele prometeu me seguir até o bistrô e depois me levar de volta para casa. Mas eu não conseguia parar de me preocupar. Respirei fundo, dizendo a mim mesma para ficar calma e caminhei até a entrada. O porteiro abriu a porta para mim e eu vi um casal elegante e sorridente, por volta de 50 anos, saindo. Estavam vestidos a rigor: ela usava um longo vestido vermelho, e ele smoking com uma gravara que combinava perfeitamente com a roupa dela. Olhei para meu jeans azul-escuro, camiseta branca e jaqueta em couro preto. Mentalmente amaldiçoei minha escolha. Eu devia ter me trocada antes de vir para cá, pensei. – Louise! – Sabine saiu do restaurante para me cumprimentar. – Estou muito feliz que tenha conseguido vir. – Ela me abraçou, o que foi surpresa, considerando que eu era só uma estudante da escola dela, e mal nos conhecíamos. – Ah, eu também – falei. – Embora pareça que eu não estou vestida de acordo. – Ah, sua roupa está perfeita! Espere até você conhecer a Regina. Você não vai acreditar que ela é a dona desse lugar. – Por quê? – Bem, porque minha querida amiga é um pouco... excêntrica. De forma boa, claro. – Há quanto tempo vocês se conhecem? – Ah, querida, muito tempo, nem lembro quando nos conhecemos. – Sabine riu. – Acho que há uns 20 anos. Nós dançávamos numa trupe de balé em Los Angeles. Depois eu mudei para Nova Iorque e ela se casou e começou a escrever livros de culinária até alguns meses atrás, quando ela decidiu que abriria um bistrô. Tudo no menu veio da avó dela que passou as receitas para a Regina e são o orgulho e alegria dela. – Ah, então deve ser muito especial. – Ah, sim. Todos os pratos são deliciosos. Eu ainda nem experimentei todos, mas sei que são. Regina sempre foi ótima cozinheira. Agora vamos entrar. Mal posso esperar para você conhecer a Regina. Ela também está ansiosa por conhecer você. – Ela sabe sobre mim? – perguntei, sinceramente surpresa. – Sabe, sabe sim. – Sabine me conduziu até a chapelaria. Tirei a jaqueta e a entreguei ao atendente. Ele me deu um cartãozinho com o número para pegar minha jaqueta no fim da noite. – Não ria quando você vir a Regina. – Por que eu riria? Ela nem teve a chance de responder. Uma mulher da mesma idade da Sabine, vestida com um casacão vermelho-escuro com babado em renda branca e preta ao redor do pescoço, veio até nós e me abraçou apertado. Senti como se todo o ar fosse tirado de mim. – Minha nossa... veja só essa garota! Tão crescida e linda... – Ela deu um passo para trás e me olhou de cima a baixo com os grandes olhos azuis. – Sou Regina André. – A senhora é francesa? – perguntei curiosa. Ela riu. – Tecnicamente, não. Meu sexto marido era francês, e eu adorava tanto o sobrenome dele que mesmo depois de nos separarmos quis mantê-lo. – Ah... – seis maridos? Será que é verdade? Sabine riu vendo minha expressão chocada. – Não assuste a garota, Regie. Que tal nos mostrar o local? – Com todo prazer. Senhoras, sigam-me. – Ela se virou. Assim que ela ficou de costa para nós, percebi que o cabelo louro e cacheado, na altura dos ombros, tinha as pontas vermelhas. Se não a conhecesse, diria que ela fora deixada para trás por algum circo que estivera na cidade. Sabine tinha razão, Regina era excêntrica. Sabine se inclinou e sussurrou no meu ouvido: – Ela gosta que as pessoas fiquem surpresas ao vê-la. Um dia ela parece uma roqueira, e no dia seguinte parece gótica. – Ela parou um pouco, como se pudesse ler meus pensamentos. – Mas independente de como ela esteja vestida, ela é minha amiga. Ela é uma das poucas pessoas com quem sempre posso contar. – Entendo o que quer dizer... – Eu podia contar numa mão as pessoas nas quais podia confiar. Entramos numa sala espaçosa cheia de convidados. Eles conversavam e riam saboreando a refeição. A sala era decorada com papel de parede floral. As toalhas combinavam com o papel de parede, e as mesas eram ovais e redondas. Cada mesa tinha uma estatueta diferente no centro com lâmpadas no formato da Torre Eiffel formando centros de mesa interessantes. – Parece que a senhora gosta de tudo da França – falei sorrindo para Regina. Ela assentiu. – Você tem toda razão, Louise. Às vezes sinto saudadede estar casada com Claud. Não importa o quanto ele fosse mulherengo, nosso casamento foi o melhor de todos os que tive. Estive em Paris no verão passado. Foi por poucos dias, mas adorei a cidade – falei, relembrando aqueles dias inesquecíveis que passei lá com Will. – Ah, é? – Sabine olhou para mim um pouco surpresa. – Fui para lá com o Will – expliquei. Eu sabia que ela e Will haviam se encontrado durante a minha competição. – Ah, ele ama muito você, não é? – perguntou Regina. Sabine olhou para ela de um jeito que não consegui entender, parecia uma advertência. O que pareceu estranho. Parecia que a Regina sabia muito mais sobre mim do que eu sabia sobre ela. Lembrei-me da minha primeira conversa com a Sabine. Ela disse que não tinha filhos, e agora me pergunto se a atenção que ela me dava tinha a ver com o desejo dela de ter filhos. Talvez ela só sentisse como se fosse a filha que ela nunca teve... quem sabe? – Aquela é a nossa mesa, senhoras – disse Regina apontando para uma mesa a minha direita. – Quero que provem meu frango assado ao molho de cogumelos. É maravilhoso! – Ela acenou para que a garçonete trouxesse a comida e as bebidas, enquanto nos sentávamos. – Então, Louise, o que acha das aulas na Balero? – perguntou Regina. – Eu adoro. Adoro tudo lá na verdade. Sempre sonhei em frequentar escola de dança. – Sim, é um ótimo lugar para dançarinos talentosos como você. Quem ensinou você a dançar? – Ninguém. Aprendi tudo o que sei de assistir a televisão e ler livros. – Você tem talento natural, então – disse Regina me observando pensativa. – Dançar, como outros talentos, é algo que não se aprende adequadamente se não tiver o dom já dentro de você. Eu costumava dançar muito... até o dia que percebi que gostava mais de cozinhar do que das coreografias exaustivas. Vamos brindar a vocês, senhoras, à paixão que têm pela dança e pela beleza que criam no palco! – Saúde! – dissemos Sabine e eu juntas. Eu só podia beber bebidas sem álcool. Então, quando vi que eram 22 horas percebi que era hora de ir embora para casa. O que era para ser só um jantar de negócios se transformou num jantar divertido. Eu me diverti. Regina me apresentou a muitas pessoas, eu nem conseguia lembrar o nome delas. Algumas eram da época que ela era dançarina, outras eram colegas de trabalho e algumas era amigas que ela achou que eu gostaria de conhecer pessoalmente. Quanto a Sabine, ela parecia distraída. Não falou muito, e eu a peguei mais de uma vez me olhando com um sorrisinho no rosto. Fiquei me perguntando no que ela estaria pensando. – Acho que já é hora de eu ir para casa – falei para Sabine. – Você sabe onde a Regina está? – perguntei olhando em volta. – Gostaria de agradecer pela noite maravilhosa. Me diverti muito e ela foi maravilhosa, e todos os amigos dela foram muito gentis. – Não se preocupe, Louise. Eu falo para ele que você gostou. Você precisa de carona para casa? – Christopher, o motorista do Will, está me esperando. – Ah, ok – disse ela um pouco desapontada. – Você está bem, Sabine? Parece longe. Ela me olhou pensativa de novo e disse: – Estou muito bem, Louise. Acho que nunca estive tão feliz em toda minha vida. – Então não preciso me preocupar em deixá-la aqui sozinha? – Eu sorri me levantando. Ela levantou e disse: – Vou ficar bem. Eu acompanho você. Saímos do restaurante e a primeira coisa que notei foi o Jeep preto que eu vira antes. Meu coração disparou. Olhei em volta nervosa, procurando o carro do Christopher como louca. Respirei aliviada quando ele estacionou na porta. – Você está bem, Louise? – perguntou Sabine notando minha expressão preocupada. – Estou bem sim. Obrigada pelo convite. Acho que nunca me diverti tanto rodeada por pessoas que não conheço. – Fico feliz que tenha gostado – falou ela, abraçando-me para se despedir. – Ficarei fora por alguns dias, a irmã do meu marido vai se casar e não podemos faltar ao casamento. Mas estarei de volta para sua próxima apresentação na terça-feira. Eu soube que você fará um solo na apresentação especial de Natal. – Sim, e você nem imagina como estou nervosa. Meus joelhos tremem só de pensar em dançar com tantos professores e alunos assistindo. – Mas não será seu primeiro solo, por que está preocupada? – Nunca dancei com tantos profissionais assistindo. Minhas apresentações em Le Papillom eram mais como os ensaios na Balero. Não eram importantes. Embora, não vou mentir, eu ficava nervosa antes de toda dança lá. – Não se preocupe, sei que será perfeito. Gostei das palavras dela. Era bom demais saber que ela acreditava em mim, deu-me mais confiança e coragem. – Espero que você e o Will pretendam ir à festa que haverá depois. É uma tradição, vocês não podem faltar. – Festa? Eu nem sabia que haveria uma festa. Mas tenho certeza de que o Will ficará feliz em ir comigo. – Ótimo. Boa semana para você. – Divirta-se no casamento. – Vou sim. Nos despedimos e eu entrei no carro do Christopher, acenando para a Sabine pela janela. – Parece que vocês se divertiram juntas – disse ele, olhando-me pelo retrovisor. – Sim, nos divertimos – respondi. – Quem diria que eu e ela nos daríamos tão bem juntas? Um movimento do meu lado esquerdo chamou minha atenção. Virei-me para olhar pela janela e vi o Jeep andando do nosso lado. – Eles estão me seguindo o dia inteiro – falei para o Christopher. Ele assentiu. – Eu sei. Eu os vi seguindo você até o restaurante e depois notei que estavam esperando você sair. – É o pessoal do Montgomery? – Sim, verifiquei a placa. O carro pertence a uma das empresas que era do seu pai. – Era? – Acredito que ele não conseguiu conciliar ser senador e administrar uma empresa ao mesmo tempo. Conforme os documentos as empresas foram vendidas quando ele foi eleito, mas sabemos que ele ainda manda nelas. – Eu nunca vi o pessoal dele me seguindo tão de perto. Quer dizer, eu sempre soube que eles estavam por perto, mas hoje senti como se quisessem que eu os visse me observando. Christopher não respondeu. – O que você acha? – perguntei. – Tudo é possível – respondeu ele, seco. – Você contou para o Will que eles estavam me seguindo hoje? – Não. Ele estava ocupado conversando sobre os segredos do pai dele com Drew. Não tivemos oportunidade de conversar. – Conversando com o Drew? – perguntei surpresa. – O Drew detesta o Will. – Mesmo assim ele ligou para o Will hoje cedo dizendo que tinha algo importante para conversar com ele. Will pediu que ele fosse ao escritório, mas eu não sei sobre o que eles conversaram. Will disse que me contaria quando eu e você chegássemos em casa. – Você acha que meu pai sabe o que estamos tramando contra ele? – Acredito que não. Mas ele gosta de ter tudo sobre controle. Então eu não tenho dúvidas de que ele vai continuar espionando você. Eu acho que ele a considera seu pior inimigo. – Isso é ridículo – falei cruzando os braços. – Eu não conseguiria fazer nada sem você, o Will e o Drew. – Ele não pensa assim. – Idiota. Ele está obcecado em ser eleito Presidente. Será que ele nunca pensou que seria melhor ficar nas sombras, ganhando o dinheiro sujo e evitando atrair atenção para si mesmo, principalmente considerando toda a merda que ele fez no passado? – É por isso que você é o inimigo mais perigoso dele. A merda feita no passado, como você diz, começou a aparecer no dia que você e Will se encontraram e ele começou a investigar seus pais. Resmunguei desesperada. Se eu pudesse voltar no tempo... talvez eu não tivesse pedido ao Will para me ajudar a descobrir o nome dos meus pais, talvez houvesse uma forma de evitar o ataque que estamos lidando agora. – Não é culpa sua, Louise – afirmou Christopher.– Cedo ou tarde a verdade viria à tona. – Eu não me importaria se acontecesse sem nosso envolvimento na bagunça. – Bem, não podemos mudar nada agora. Não, melhor dizendo, podemos mudar muitas coisas, e mudaremos. – Precisamos tomar muito cuidado. Eu não quero que você, ou Will, ou quem seja, se machuque. – Vai ficar tudo bem, Louise. Acredite, eu nunca menti para você, menti? – Ele sorriu estacionando no caminho da casa. Eu sorri. – Tudo bem, acredito em você. Quando entramos em casa ela estava cheia de pessoas que eu não conhecia. – O que está acontecendo? – perguntei para o Christopher. – Quem são essas pessoas? – Não faço ideia – respondeu ele, franzindo a testa. Aí eu vi o Will vindo em nossa direção. – Oi – falou ele me dando um beijo rápido na boca. – Temos convidados. – Estou vendo – falei. – Pode explicar o que está acontecendo aqui? Então vi o Drew conversando com um homem de terno escuro. – Estas são as pessoas que vão testemunhar sobre as atividades ilegais do seu pai – explicou Will. – Como você as encontrou? – perguntou Christopher. – Não fui eu, foi o Drew. Ele teve que garantir a segurança de todos eles em troca da informação que precisamos para colocar o cretino atrás das grades pelo resto da maldita vida dele. – Então eles vão nos dar respaldo no tribunal se conseguirmos levar meu pai para lá? – perguntei. – Sim, vão. E, até lá, precisamos garantir que seu pai não saiba que eles concordaram em jogar no nosso time. – O que você vai fazer? – perguntou Christopher. – Vamos para o escritório e contarei a vocês o plano que eu e o Drew elaboramos. E temo que tenha péssimas notícias para contar... – Sobre o quê? – Agora tenho certeza de que a morte do meu pai foi obra do Montgomery. Drew encontrou um gerente que costumava trabalhar no porto onde o barco do meu pai ficava. Ele disse que o Montgomery o pagou para mexer no motor do barco. – Mas ele ainda será preso como cúmplice – falei. – Ele já se deu conta disso? Will sorriu, cheio de humor. – Drew tentou fazê-lo entender exatamente o que significaria admitir tais coisas, mas ele se sentiu mal por receber dinheiro e matar um homem. Ele foi um assassino de aluguel... – O que mais você quer nos contar? – perguntou Christopher. Will me olhou com cautela antes de dizer: – É sobre a Isabel... Balancei a cabeça me recusando a acreditar no que eu já sabia que ele diria. – Desculpe, Louise, mas seu pai foi o homem com quem ela passou aquela trágica noite. E ele foi a última pessoa a vê-la viva... Capítulo 20 Aquela seria a semana mais longa da minha vida. Por nosso plano, Will convocaria uma coletiva de imprensa na qual eu e ele informaríamos aos eleitores tudo o que o Sr. Montgomery tentava esconder por tanto tempo. Seria uma fala dos infernos. Honestamente eu não sabia como eu ia conseguir falar quando estivesse lá, mas eu precisava tentar. Sim, eu queria que ele pagasse por tudo que fizera, mas nem mesmo a presença do Will diminuía minha preocupação. Parecia que algo terrível aconteceria. Hoje é terça-feira, dia da Mostra de Natal da Balero. Eu estava bem nervosa. Mal conseguia pensar direito, preocupada tanto com a minha apresentação à noite quanto com a coletiva na sexta-feira. Eu não sabia se a Sabine já voltara da viagem, mas eu precisava falar com ela. Precisava ouvir as palavras de encorajamento dela. Era importante para mim. – Nervosa? – perguntou Will me beijando no ombro. Eu estava de frente para o espelho e ele parado atrás de mim. Eu tinha esperança de que meu reflexo me diria que tudo ficaria bem, e que seria maravilhoso, mas a garota no espelho não tinha nada a dizer. – Nervosa é pouco para descrever – respondi me apoiando nele. Ele me abraçou sorrindo pelo espelho. – Quer me mostrar sua dança para eu dizer se está boa ou não? Dei um soco de leve no queixo dele. – Pensei que você não duvidasse do meu talento. – Não duvido. Eu estava tentando inventar uma desculpa para você dançar para mim de novo. Virei-me e coloquei os braços em volta do pescoço dele, dizendo: – Você verá a dança mais tarde. E você sabe que dançarei para você não importa quantas pessoas estejam assistindo. – Vou ter que levar a câmera. Quero tirar algumas fotos suas dançando. Sinto falta de fotografar você. – Você tirou fotos de mim ontem à noite, isso não conta? – Em minha mente relembrei a noite que tivéramos. Ele tirou fotos de mim, eu tirei dele, e de nós fazendo amor. Dançamos, conversamos. Não consigo imaginar forma melhor de passar a noite do que estando com ele, um homem com o qual sonhei por anos. Primeiro como amigo, depois como amante. Mas sempre que eu via o rosto dele nos meus sonhos, sentia-me a garota mais feliz do mundo, e isso era algo que não mudara com o tempo. – Não importa quantas fotos eu tire de você, nunca é suficiente – disse ele beijando meus lábios. – É como fazer amor com você, só que no papel. Eu sorri. – Então não me importo que você me ame para sempre. – Isso é o melhor que eu podia ouvir de você hoje. – Beijou-me de novo, mais demorado desta vez, e disse: – Tenho alguns assuntos para tratar no escritório, então é melhor eu me vestir antes que eu mande o trabalho para o inferno e fique aqui com você. – Também preciso me trocar, Christopher deve estar esperando por mim. – Você acha que ele percebeu que não tomamos café da manhã? – Eu acho que ele percebe tudo o que fazemos ou, nesse caso, o que não fazemos. Às vezes me sinto constrangida na presença dele. Sinto que ele sabe tudo o que passa pela minha cabeça. – Deus me livre! Eu não quero ninguém além de mim sabendo dos pensamentos maliciosos que passam pela sua cabeça pecadora. – Minha mente pecadora? É mesmo? Will sorriu. – Bem, até os santos têm pensamentos de pecado, certo? – Não sei. Nunca fui santa o suficiente para confirmar. – Hum... pare de me seduzir, minha diabinha. Eu realmente preciso ir para o trabalho. – Vá, não estou segurando você – falei, dando um beijinho no queixo dele depois subindo para a boca. – Ah, você está sim... – Ele me abraçou mais apertado. – Você é meu vício, Louise. Forte e incurável. – E você é o meu – sussurrei perto dos lábios dele. Que pena, poderíamos voltar para o quarto e nos trancar lá distante do resto do mundo, pelo menos por mais algum tempo. – Que roupa você vai usar hoje à noite? – É surpresa. – Will já me vira usando o vestido, mas como a apresentação era importante para mim, eu queria que tudo fosse especial, inclusive o vestido. *** Eu senti como se a escola estivesse em chamas. Os alunos corriam pelos corredores puxando araras enormes com diferentes figurinos. Alguns ensaiavam vários passos bem no meio do corredor, porque todas as salas de aula estavam ocupadas. Eu era uma das poucas alunas que não tiveram vontade de treinar a coreografia. Eu estava nervosa demais para dar um passo com medo de cair. O que dirá dançar sem cair de cara. – Louise! – Sabine chamou do outro lado do corredor. – Venha aqui, por favor! – Ela acenou para que que fosse até o escritório dela. Fiquei feliz que ela já voltara. Eu temia que ela não conseguisse ir à apresentação, e eu queria que ela estivesse lá e me visse dançar. – O que foi? – perguntei entrando na sala e fechando a porta. – Você tem figurino para sua apresentação? – Tenho, por quê? – Qual a cor? – Preto e branco. – Perfeito. Pegue qual quiser – falou abrindo uma caixa com mais de uma dúzia de pares de luvas. Eram de cores e comprimentos diferentes, mas todas lindíssimas. – Uau... nunca vi nada assim – falei pegando um par de luvas pretas que iam até o cotovelo. Eram de seda, rendadas e decoradas com pequenos cristais brilhantes. – Todas foram feitas pela minha costureira italiana favorita. Ela é minha amiga e nunca perde a chance de me surpreendercom um novo par de luvas. Todas são obras de arte. – São mesmo – falei experimentando as luvas. – Mas por que... – Não faça perguntas, apenas aceite-as. É um presente em sinal de agradecimento por você ter ido ao restaurante da Regina comigo. – Mas foi um prazer acompanhar você. – Por favor, Louise, fique com as luvas. Elas trarão sorte. Sei por experiência própria. Eu hesitei. – Não vou aceitá-las de volta – disse ela. Desisto. – Tudo bem, ficarei com elas. Obrigada, são lindas. – Ótimo, e espero assistir a uma dança inesquecível hoje. – Agora estou realmente preocupada. – Eu ri nervosa. – Não fique. William virá hoje? – Sim, ele prometeu que estaria aqui às seis horas. – Muito bom. Agora vá se aprontar. Ela me desejou boa sorte e eu saí. *** Estar no palco sempre parecia surreal. Para mim só existia a luz brilhante do palco, era como se houvesse um elo invisível entre a magia iluminando o palco e eu. Não havia nada igual. A onda de energia correndo pelo meu corpo enquanto eu esperava pelos primeiros acordes da música que eu dançaria. O calor que eu sentia a cada passo, a cada movimento, o ar saindo dos meus pulmões a cada salto, era um mundo muito especial e sagrado, eu não queria nunca sair dele. Porque quando eu saía, sempre havia algo terrível esperando por mim... isto, até hoje. Hoje tudo parecia diferente. Eu me sentia diferente. Mais experiente, mais corajosa e forte do que nunca. Talvez porque o Will estivesse assistindo, lembrando da última vez que eu usara aquele vestido e dançara para ele no quarto dele. Eu sabia que ele estava lembrando do sentira, porque eu também me lembrava. Ou talvez fosse diferente por causa das luvas... Outro par de luvas me inspirara uma vez, fazendo-me acreditar que eu podia fazer o que quisesse, qualquer coisa... Eu não podia me assistir, mas eu sabia que o vestido branco e preto voava lindamente quando eu girava, balançava no ar e depois pousava suavemente sobre meus pés. Eu conseguia ouvir o barulho do vestido mesmo com a música preenchendo a sala. Quando as luzes focavam em mim, outra onda de entusiasmo corria por mim. Era como se eu estivesse conectada a um espírito mágico que era derramado no palco, fluindo com o momento e eu sendo tomada por ele. Eu não via ninguém que me assistia, exceto um par de olhos em particular que seguiam cada passo meu, me consumindo, tornando-se uno comigo e minha dança. Os olhos que eu amava mais do que poderia ter imaginado. Somente um sentimento podia se comparar ao que eu sentia quando estava no palco...fazer amor com Will, saber que nada além do momento que me consumia poderia me levar às alturas, fazer-me sentir como se estivesse em transe, perdida para tudo menos para os sentimentos que me levavam ao limite e para algo lindo. Não havia começo nem fim. Eu me tornara a música, a dança e o público que me assistia. Tornei-me a alegria, poderosa e sem fronteira. Eu poderia fazer o céu cair e o sentimento era impagável... Era bom demais para ser verdade, e verdadeiro demais para não vive-lo. Mas a melhor hora foi quando a música acabou e eu abri os olhos e vi o público. Por alguns segundos, ninguém se moveu ou falou algo, estavam encantados com minha dança. Era como tê-los todos na palma da minha mão, sentindo cada batida do coração deles. E eles me pertenciam... Começaram a aplaudir, o que me trouxe novas emoções: orgulho, alívio e amor por tudo que eu passara para estar ali naquela noite. Eu me senti poderosa. E aí, encontrei os olhos da pessoa que eu amava. Mesmo do outro lado da sala, eu podia sentir o amor indescritível irradiando da alma dele. E isso era o que eu mais precisava. A admiração de ninguém importaria se eu não tivesse visto aqueles olhos amados, se eu não tivesse sentido a admiração que vinha deles. Era divino... Um simples aceno de cabeça em aprovação que mudara tudo. Antes da dança, durante a dança e depois da dança. Meneie a cabeça em resposta, sorrindo e desci do palco mais feliz do que nunca. E só quando acabou o som dos aplausos que eu respirei e notei que estivera prendendo a respiração. Revivi, sentia-me mais viva do que nunca... – Louise que dança maravilhosa! – disse Kate correndo em minha direção. Ela disse que não perderia minha apresentação por nada. E, claro, eu estava feliz em vê-la. Diferente do Will, ela ficou atrás das cortinas dizendo que era onde ela se sentia mais confortável. – Obrigada – falei, abraçando-a. – Usei alguns passos das suas aulas, percebeu? – Lógico que percebi! Como eu não perceberia? – ela riu. – Minha menina... estou muito orgulhosa de você. – Isso significa muito para mim, você sabe, não é? Ela assentiu e eu notei algumas lágrimas escorrendo pelo rosto dela. – O que foi? Ela sorriu em meio as lágrimas. – É que... por um momento desejei ser você no palco. Livre e feliz... – Mas você é livre. Nunca é tarde para começar algo novo. Nunca é tarde para sair de Le Papillon... – Para mim não... meu lugar é lá. – Ah, Kate... você é maravilhosa em todos os sentidos da palavra. Nunca duvide disso. – Esse é o ponto, eu nunca duvidei. Nós duas rimos. – Chega de lágrimas por hoje, certo? – Enxuguei os brilhos no rosto dela e disse: – Você me ajuda a me trocar para ir à festa? Ela assentiu. – Claro. – Espero que fique para a festa, você vai ficar? – Não posso, querida. Preciso voltar para o clube. Com o Drew ficando fora com frequência para resolver, os problemas você sabe de quem, alguém tem que estar lá para garantir que tudo está bem e sob controle. Ah, entendo... que pena que você não pode ficar. Eu queria apresentar você a Sabine Cormac. Vocês vão gostar uma da outra. – Fica para a próxima, ok? – Tudo bem. *** – Que apresentação magnífica, Louise. – Will se aproximou e me beijou docemente. – Adorei cada segundo. – E o vestido? – Ah, quase me matou. Você deveria ter me avisado! Eu mal consegui deixar de pensar na primeira vez que a vi vestindo-o. Você usou de propósito, não foi? – Talvez... Ele me envolveu com os braços e me beijou de novo. – Você estava linda e graciosa no palco. Agora sei porque a Balero aceitou você. Acho que você nunca dançou tão belamente quanto hoje. Não consegui tirar os olhos de você. – Fico feliz que tenha gostado. Você viu a Sabine? Eu queria saber a opinião dela também. – Não tenho palavras para descrever como adorei o que você fez no palco, Louise – disse ela atrás de mim. Virei-me e sorri feliz para ela. – Suas luvas me deram sorte. – Não foram as luvas, e nós duas sabemos disso. – Ela olhou para o Will e depois de novo para mim. – O amor faz maravilhas. – Concordo totalmente – disse Will. – Que tal uma taça de ponche? – perguntou Sabine. Ela chamou a garçonete e a moça veio até nós carregando uma bandeja com bebidas. – Gostaria de brindar a você, Louise. A tudo que você conseguir aprender e alcançar em 18 anos. Você é tão jovem, mas tão sábia e talentosa. Estou tão orgulhosa de ter você aqui, conosco... Bem quando eu levei meu copo para perto do da Sabine, o copo dele trincou, despedaçando-se em pequenos pedaços que caiam no chão se espalhando e tilintando contra o piso de mármore. – Mas o que... – Levei algum tempo para perceber o que estava acontecendo. – Sabine! – gritou Will amparando-a. Olhei para o rosto dela e vi puro horror estampado nele. Então desci os olhos para o vestido creme até parar num enorme ponto vermelho, bem no centro do peito. Era sangue... – Chamem uma ambulância! – disse Will, deitando-a no chão com cuidado. Minhas mãos tremiam. Meu telefone... preciso do meu telefone! Onde está meu telefone? Não está comigo... – Alguém chame a ambulância!– gritei me ajoelhando próximo dela. – Louise... – disse ela com voz que mal se ouvia. – Chi... está tudo bem, tudo vai ficar bem. Os médicos chegarão em alguns minutos. Fique acordada e continue respirando. – Olhei para o Will. – O que foi isso? – Louise... – Sabine chamou meu nome de novo. – Por favor, não fale. – Eu senti lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu não sei porque parecia que eu estava perdendo alguém muito próximo, como se perdesse uma parte de mim. – Alguém atirou nela – disse Will. Ele estava tão pálido quanto a Sabine. Ele se levantou, pegou o telefone e ligou para a emergência. Depois ligou para o Christopher dizendo: – Entre aqui, agora! – ele se curvou sobre o pulso dela e verificou. – Está ficando fraco. – Ah, meu Deus... – eu não conseguia descrever todos os pensamentos correndo pela minha mente. Eu estava chocada demais para pensar direito. – Precisamos levá-la para outro lugar. – Não – protestou Will – não sabemos se a bala atingiu algum órgão vital e movê-la pode ser perigoso. – Ele tirou o casaco, puxou a camisa de dentro da calça e rasgou um pedaço dela. – Pressione isso contra o ferimento – disse ele colocando o pedaço de pano sobre o peito dela. – Onde você vai? – perguntei aterrorizada vendo-o sair. – Precisamos pegar quem atirou nela. Olhei para minhas mãos pressionando o pedaço de tecido branco. Ficou vermelho assim que o pressionei, fazendo-me chorar ainda mais. Algumas pessoas se reuniam ao nosso lado, mas eu não ligava. – Louise – ela falou de novo. – Preciso dizer algo muito – ela tossiu, sangue saía da boca dela e ela tentou continuar – importante. – Conversamos depois, ok? – Tentei forçar um sorriso, mas acho que não consegui. – Por favor, não se canse falando. Onde estão os paramédicos? – Me escute, Louise... – Sabine tentou tocar minha mão, mas não conseguiu. Ela estava fraca demais para se mexer. – Sou sua... – Onde está a vítima? – Alguém gritou. Vi três homens de uniforme azul-escuro tentando abrir caminho entre a multidão. – Aqui! – acenei para eles. – Eles a levarão para o hospital. Você vai ficar bem – falei para Sabine. – Louise... – Moça, por favor se afaste – disse um dos paramédicos. Ele verificou o pulso dela, depois abriu a mala e pegou um item com um reservatório prata, com um tubo e uma máscara fixada a ele. Era um respirador para ajudá-la a respirar. – Pronto? – perguntou outro paramédico. O primeiro assentiu. – Um, dois, três. – Os dois a colocaram numa maca e saíram rapidamente com ela. Eu corri atrás deles. Meu vestido era muito comprido, os saltos do sapato muito altos, claramente não eram feitos para correr, mas eu corri mesmo assim. – Ela vai sobreviver? – perguntei aos paramédicos. – Não sabemos. Precisamos levá-la ao hospital para ser examinada pelos médicos. Meu corpo todo tremeu. – Posso ir junto? – Você é parente dela? – Não, mas... – Então é melhor você ficar aqui e avisar a família dela. Eles começaram a empurrar a maca para dentro da ambulância quando um dos paramédicos disse: – Ela está tentando dizer alguma coisa. – Ele se curvou e removeu a bomba. – Louise – Eu a ouvi dizer. – Você é Louise? – perguntou o homem. – Sou. – Venha até aqui. Aproximei-me e segurei uma das mãos dela. As lágrimas não paravam de escorrer pelo meu rosto. – Preciso dizer uma coisa... – Ah, por favor, Sabine, deixe que eles a levem para o hospital primeiro. – Você é... minha filha... Ela fechou os olhos e os paramédicos me afastaram dela fechando as portas rápido. Depois, ouvi sirenes tocando alto, e o carro branco se afastava depressa, com minha mãe lá dentro, com um buraco de bala no peito... minha mãe? Capítulo 21 Fiquei ali, paralisada. Acredito que o choque fora forte demais para que conseguir pensar. Pessoas, carros, prédios a minha volta, tudo misturado como uma pintura borrada, como se alguém tivesse pegado o paintbrush e misturado todos os tons de tudo que eu via, transformando num caos. Engoli seco olhando envolta. Eu não sabia o que fazer, para onde ir, para quem ligar. Eu estava muito perdida. Não me lembrava de ter entrado no hall cheio de pessoas aterrorizadas conversando sobre o que acontecera. Procurei pelo Will, mas ele não estava ao alcance da minha vista. Fui para o vestiário onde estava minha bolsa, peguei o celular e liguei para ele. Ele atendeu no segundo toque. – Onde você está? – perguntei com a voz trêmula. – Do lado de fora – respondeu. – Estou falando com a polícia. Onde você está? – No vestiário. – Não saia daí. Estarei aí em um minuto. – Tudo bem. – Finalizei a ligação e sentei num banco, sentia os joelhos e as mãos tremendo. Lágrimas que eu não percebera que continha, desceram pelo meu rosto. Eu estava em choque e preocupada com a Sabine, mas, mais do que tudo, eu estava assustada... Tão assustada que toda vez que eu fechava os olhos, via o copo quebrando na mão dela e depois a enorme mancha de sangue no vestido ficando maior a cada respiração da Sabine. Meu Deus, poderia ser eu sendo levada para o hospital, ou o Will ou qualquer um na festa. Mas o que é que está acontecendo? Alguém tentou matar a Sabine? Por quê? Nada do que acontecera fazia sentido para mim. Eu nem ouvira o tiro. O atirador devia estar usando silenciador na arma. Quando me dei conta do que acontecia, já era tarde demais. Embora eu não ache que eu poderia ter mudado alguma coisa. Ninguém viu acontecer, foi tão rápido. Num segundo estávamos conversando e rindo, no segundo seguinte o copo dela quebrou e tudo virou caos. Só um pouco depois, quando vimos a Sabine deitada no chão com sangue no vestido, que percebemos que algo terrível acontecera. As pessoas começaram a gritar e se aglomerar a nossa volta, mas eu não vi o rosto delas. Eu só via ela... Olhando para mim com tanto medo nos olhos. Nunca vou esquecer aquele olhar. Ela ficava repetindo meu nome como se fosse a única coisa que ele conseguia falar. Ela queria me dizer algo. E ela disse... O que ela dissera pouco antes de ser levada na ambulância me deixou sem palavras. Será que ela falava a verdade? Não, não, não... não era possível. Ela não podia ser minha mãe. Ela devia estar em choque por causa do tiro. Sim, ela me tratava diferente dos outros, mas eu tinha certeza de que era por que não tivera filhos. E ela disse que eu a lembrava dela quando era jovem. Sim, esta deve ser a razão para o que ela disse. Ela não estava pensando direito. – Louise? – ouvi Will chamando meu nome. – Estou aqui! – respondi enxugando as lágrimas com as costas das mãos. – Ah, Louise... Ele entrou na sala e sentou do meu lado me envolvendo com os dois braços. – Como você está? – perguntou ele acariciando minhas costas. – Não sei... foi horrível. Estou tão assustada, Will. Eu o abracei procurando por conforto. – Fique tranquila, está tudo bem agora. Encontraram o homem que atirou nela. – Ah, meu Deus! É mesmo? – É. Acontece que um dos seguranças da Balero viu um homem no telhado do prédio da frente. Que pena que ele chegou lá tarde demais e Sabine foi ferida. Mas felizmente ele conseguiu capturar o atirador que está sendo interrogado pela polícia agora. – Você sabe quem é ele? – Não sei. Ele não falou nada sobre quem o contratou ou quem exatamente ele deveria matar. Ele só falou que queria um advogado e que não falaria sem um. – Quem você acha que poderia querer matar a Sabine? Ela é tão boa pessoa. Ela nunca faria mal a ninguém. – Queria saber a resposta, Louise. – Ele beijou minha testa depois me abraçou de novo. – Precisamos ir para casa. – Não, eu quero ir para o hospital. – Louise... – Não posso ir para casa agora. Preciso saber se ela vai ficar bem. Por favor, Will, me leve primeiro para o hospital. Ele hesitou, mas depois assentiu e disse: – Tudo bem, levo você lá. Troquei de roupa vestindojeans e camiseta, removi a maquiagem borrada e o sangue da Sabine. Então, fomos para o hospital onde ela estava. *** – Louise? Virei-me ao ouvir alguém dizer meu nome. – Regina! – Eu vi a amiga da Sabine se aproximando de mim. – Menina, que bom ver você – ela falou me abraçando. – O que aconteceu? O motorista dela me ligou dizendo que ela fora baleada durante a festa, mas ele não sabia detalhes. – Na verdade também não sabemos. Foi tudo muito rápido. Não vimos quem atirou, mas o cretino já está com a polícia. Ele foi pego logo após atirar. – Que fatalidade. – gritou Regina. – Quem poderia querer machucar nossa querida Sabine? – Tenho me feito a mesma pergunta. Deus, ela estava tão pálida... você conversou com os médicos? O que eles disseram? – Nada promissor... Eles a levaram para o Centro Cirúrgico dizendo que ela perdera muito sangue e que precisavam remover a bala. Então, acredito que teremos mais notícias quando terminarem a cirurgia. – Pena que não podemos fazer nada para ajudá-la. – Podemos rezar – disse Regina, sorrindo. – Sempre ajuda. Ouvi Will conversando com alguém, mas o homem não parecia ser médico. – Quem é ele? – perguntei para Regina. – Aquele é o Nigel, marido da Sabine. Você ainda não o conheceu? – É a primeira vez que o vejo. – O Sr. Cormac parecia mais velho que Sabine, talvez 10 ou 15 anos. Ele era alto e estava muito bem fisicamente para a idade, ele tinha o grisalho perfeito que os homens mais velhos têm. Os óculos pequenos e o bigode o deixaram parecido com os professores da Balero. – O que ele faz? – perguntei curiosa. – Ele é químico, trabalha em laboratórios fazendo experimentos com recursos minerais, testando a natureza deles. Sabine o conheceu quando ela ainda era estudante. Ele é 14 anos mais velho que ela, então, naturalmente, os pais dela não ficaram empolgados com a ideia da filha casar com um “velho”. Mas depois de algum tempo, eles viram como ela era feliz com ele e abençoaram o casamento. Nigel é um homem maravilhoso. Ele ajudou Sabine a lidar com a perda, e aí... – Que perda? – perguntei. Pude ver que Regina ficou nervosa. – Não é nada, esqueça. É algo pessoal, não tenho direito de fofocar pelas costas dela, sobretudo agora que ela está passando por uma cirurgia. – Tem algo a ver com ela não poder ter filhos? – Nem sei por que fiz aquela pergunta. Saiu da minha boca antes que eu pensasse duas vezes no que ia dizer. A expressão da Regina ficou sombria. – Não devíamos falar disso, Louise. Sabine dirá tudo quando ela estiver pronta. – Dizer o quê? – Tive um mal pressentimento sobre minha conversa com a Regina. Ela estava, claramente, escondendo algo de mim, e eu não entendia porque. – O que está acontecendo? – perguntei, olhando nervosa para o Will, que ainda conversava com o Sr. Cormac. De repente, lembrei-me das palavras da Sabine. – Ela perdeu um bebê? – perguntei cuidadosa. Somar dois mais dois não era difícil para mim. Pelo menos minhas suposições explicariam o comportamento estranho dela. Eu ouvira sobre pessoas que passaram por grandes perdas imaginarem que outra pessoa fosse aquela quem elas perderam. Talvez fosse esse o caso da Sabine em relação a mim. Talvez ela tenha visto em mim o filho que perdera. Não era a primeira vez que eu pensava isso. – Por quê? – perguntou Regina me observando com cuidado. – Pouco antes de ser levada para o hospital ela me disse algo... mas eu acredito que ela estivesse delirando. – O que ela falou? – Regina olhou para Will e o Sr. Cormac, e depois olhou de volta para mim. Balancei a cabeça sorrindo. – Ela disse que sou filha dela. Regina ficou branca como a neve. Deu um passo para trás e sentou numa cadeira atrás dela. – O que foi? – perguntei preocupada. – Está tudo bem? Quer um copo de água? –Não, estou bem. Obrigada. – Por que ficou chocada com o que eu disse? – perguntei, sentando perto dela. – Estou certa sobre Sabine ter perdido um bebê? Ela teve um filho... e perdeu? Regina engoliu seco e assentiu. – Foi um momento terrível para ela. – Nigel era o pai? – Não. Ela engravidou de outro homem, mas ele era casado e eles não podiam ficar juntos. Mas ela queria o bebê. – A voz dela tremeu. – Ela estava tão feliz, comprando aquelas roupinhas lindas para o futuro bebê. Perdê-lo quase a matou. Eu acho que nunca a vi tão perdida, tão devastada. Ela não queria mais viver. Os pais dela e eu tememos que ela atentasse contra a própria vida. Mas então, ela conheceu Nigel. Ele a ajudou a superar. Ele a ajudou a acreditar que poderia viver, dançar e ser feliz de novo. Não importava quanto doesse o coração dela. Ela a ensinou que a dor melhoraria o jeito dela dançar. Ele mostrou a ela como colocar toda aquela agonia nos movimentos, e a dança dela floresceu para o que é hoje. – Não admira ela ter aberto uma escola de dança. Ela ama cada um dos alunos. – Sim, ela sempre quis ter filhos... uma pena, depois do que aconteceu anos atrás, ela nunca mais engravidou. O destino decidiu não lhe dar outra chance. Só quando ela descobriu sobre você... e ela parou de repente. – Descobriu sobre mim? – perguntei. – Você fala do dia que ela assistiu à gravação da minha dança? – Louise, está tudo bem? – Will veio até nos com o Sr. Cormac junto. – Queria apresentar você ao marido da Sabine. Este é Nigel Cormac. – Muito prazer. – Ele sorriu para mim. – Igualmente, Louise. Sabine me contou sobre você – falou enquanto rolava uma lágrima no rosto dele. Olhei para Regina de novo. Eu não conseguiria ir sem antes ter a resposta para minha pergunta. – O que você quis dizer com quando ela descobriu sobre mim? – perguntei de novo. Will tencionou a mandíbula. O Sr. Cormac ficou tenso. Regina olhou para Will de uma forma que eu não gostei. – Mas o que é que está acontecendo aqui? – perguntei me levantando. – Louise, não é a hora nem o lugar para falar disso – disse Will. – Falar do que? – Por que não esperamos a Sabine melhorar? – falou Regina. O Sr. Cormac falou: – Acho que a Rê está certa. Precisamos pensar na saúde da Sabine agora. Acho que eu já sabia o que nenhum deles tinha coragem de me falar. Lembrei-me do que William falara sobre minha mãe. Sobre a gravidez e sobre meu pai não poder ficar com ela por já ser casado. Então comecei a pensar sobre tudo o que a Regina me falou sobre a perda da Sabine, e como ela se sentira. Aí a imagem da Sabine me observando na inauguração do bistrô da Regina voltou a minha mente e eu acho que aquele foi o momento que tudo ficou claro para mim. Começando pelo dia em que meu pai me mandou para Paradise até o momento em que Sabine disse que eu era filha dela. – Ela não estava delirando, estava? – perguntei com voz trêmula. – Sobre o que você está falando? – perguntou Will. Eu não contara a ele o que Sabine me dissera. Dirigi um olhar penetrante a Regina. – Ela é minha mãe, não é? – Senti- me tão fraca naquele momento. Eu não sentia meu corpo, era como se ele não me pertencesse e eu fosse somente um espírito que o possuía temporariamente. Eu não conseguia pensar mais. – Fale, é isso? – Ergui a voz incapaz de me controlar. – Louise, acalme-se, por favor – disse Will. Eu nem o ouvi. Regina e Sabine eram amigas há décadas, só ela sabia a verdade, só ela poderia confirmar ou desmentir. Então me dirigi a ela de novo, com mais calma desta vez: – Por favor, preciso saber. – Eu estava prestes a desabar, e não percebia. Ela falou para o Will: – Não posso mais. Sabine está tão mal agora... e se... – Não diga isso – disse o Sr. Cormac, colocando o braço sobre os ombros dela. – Precisamos ser fortes, por ela. Regina olhou para mim e disse: – Não sou a pessoa mais indicada para falar para você, Louise, mas acredito que dadas as circunstâncias e seus questionamentos, seria inútil continuar mentindo... Sim, você é filha da Sabine. – Meu Deus– falei com voz entrecortada. Meu coração disparou no peito. Ele batia tão rápido que eu mal conseguia respirar, parecia que cada respiração seria a última. Sentei-me, o choque era grande demais para falar, pensar ou me mover. – Tragam água para ela, por favor – disse Will, abaixando-se. Gentilmente ele tirou o cabelo do meu rosto, mas não disse nada sobre o que acabara de acontecer. E então, me dei conta. Olhei nos olhos dele e vi a resposta para a pergunta que eu nem fizera. – Você sabia... – falei baixinho. Ele não respondeu. – Há quanto tempo? – perguntei. Ele engoliu seco passando a mão pelo cabelo. – Não importa. – Há quanto tempo? – Repeti a pergunta. – Descobri recentemente. Eu não sabia que a Sabine era sua mãe até você se inscrever na Balero. – O que quer dizer que você sabia há pelo menos seis meses... e não me contou... por quê? – Louise, eu não podia. – Por quê? – Perguntei mais alto desta vez. Eu ri nervosamente. – Não me diga que foi por causa do meu pai de novo. Deus, se você soubesse quanto eu odeio meu pai... – Isso, eu não podia contar nada, porque se eu contasse, Montgomery faria tudo para separar vocês duas. E eu não podia deixar isso acontecer, de novo não. – E ela? Quando ela soube a verdade? – Há alguns dias, antes de vocês duas irem à inauguração do bistrô da Regina. Agora entendo porque o comportamento dela me pareceu tão estranho aquele dia. Ela sabia que eu era a filha que ela pensava ter perdido para sempre... – Ah, meu Deus... – Coloquei as mãos no rosto e deixei as lágrimas caírem. Finalmente eu encontrara minha mãe e agora ela estava morrendo e eu, provavelmente, nunca teria a chance de falar com ela de novo. – Isso não pode estar acontecendo... não agora que eu a encontrei... – Calma... – Will me abraçou tentando me confortar, mas nem a presença dele poderia me livrar da tristeza. – Preciso vê-la – falei. – Eu quero falar com ela, eu quero... – Louise, você não pode entrar lá agora. Olhe para mim – disse Will com voz firme. Ele sabia que eu não estava me sentindo bem. – Ela está sob efeito de forte medicação, está dormindo. Precisamos esperar que a cirurgia termine. Então eu a levarei até ela, tudo bem? Ela vai ficar bem, só precisamos esperar um pouco mais. Você está me ouvindo? Ela vai ficar bem. Assenti, tentando seguir o racional dele. Ele estava certo. Os médicos não me deixariam chegar perto dela. Eu precisava esperar. – Vou esperar – falei. – Ele assentiu, suspirando. – Quer sair um pouco, tomar ar? – Não. Eu quero ficar aqui. – Aqui, tome um pouco de água – disse Regina me entregando o copo de plástico. Tomei alguns goles e coloquei o copo numa cadeira ao meu lado. – Ela estava feliz em saber a verdade? – perguntei. Eu nem sabia para quem perguntar. O Sr. Cormac foi o primeiro a responder. – Você nem imagina. Ela chorou a noite inteira, mas eram lágrimas de felicidade. Ela disse que estava muito feliz em saber que você estava viva. Mas, mais do que tudo, ela estava feliz em saber que você é muito parecida com ela, com sua paixão pela dança e o desejo de ser a melhor. Ela disse que tinha muito orgulho de ser sua mãe, Louise. Mais lágrimas encheram meus olhos. Eu também estava orgulhosa de ser filha da melhor mulher que eu poderia imagina chamar de mãe. Uma das portas do corredor fora aberta e um médico, perto dos 50 anos, veio em nossa direção. Pulei da cadeira correndo em direção a ele. – Como ela está? – perguntei sem ar. – Por favor me diga que ela vai viver. Will, Regina e Nigel se aproximaram de nós. O médico disse: – Infelizmente não posso prometer nada agora. Foi tudo bem na cirurgia e conseguimos remover a bala. Mas ela despedaçou uma das costelas, logo acima do coração, e tivemos que remover todos os pedaços que encontramos. Fizemos o melhor que pudemos para remover todos e garantir que o coração e os vasos sanguíneos não fossem danificados durante o processo. Agora o que precisamos fazer é esperar que a cicatrização faça o trabalho dela. – Podemos vê-la? – perguntei. – Infelizmente agora não é possível. Ela precisará ficar na terapia intensiva pelas próximas 24 horas. Ela está dormindo. – Mas ela vai acordar, não é? – disse Nigel. – Precisamos esperar pelo melhor – respondeu o médico. Senti como se eu estivesse morrendo, deitada na mesa de cirurgia com uma costela quebrada e o coração que mal batia. – Conseguiremos dar um prognóstico melhor se ela sobreviver a esta noite. – Se? – perguntei num sussurro. – Como eu disse, agora não posso prometer nada. Capítulo 22 Acho que o tempo nunca passou tão devagar quando naquela noite. Toda vez que eu verificava as horas, não passara mais de um minuto desde a última olhada no maldito relógio. – Louise, você precisa comer – disse Kate, empurrando para mim uma bandeja com comida. Só de pensar em comer enquanto Sabine, minha mãe, estava no hospital, talvez morrendo, eu passava mal. – Não consigo – falei. – Mas vai comer! – afirmou ela em tom severo, pegando o garfo e esperando num pedaço de rosbife. – Você não dormiu nem comeu por quase 30 horas... detesto dizer, mas o café não conta. Você precisa comer, Louise. Você não vai ajudar sua mãe passando fome ou exaurindo suas forças até a morte. Coma! – falou, forçando o garfo na minha direção. Olhei para o pedaço de carne e assenti, desistindo. – Ok, vou comer – falei pegando o garfo. Ela sorriu aprovando. – Essa é a minha garota. Ela e eu estávamos em Le Papillon no meu antigo quarto. Depois de falarmos com o médico sobre a Sabine, eu liguei para ela. Ela foi ao hospital imediatamente após saber do acidente. Ficamos lá o resto daquela noite, e todo o dia seguinte, mas aí ela insistiu em me levar para casa. Eu não queria ir para a casa do Will, então fomos para o clube. Não havia show, então a maioria das meninas estava fora cuidando dos assuntos delas. O silêncio no clube era atípico. Meu telefone vibrou de novo no criado mudo. Olhei para a tela e cancelei a chamada. – É o Will de novo? – perguntou Kate. Assenti, mastigando um pedaço de carne. – Por que você não atendeu? Dei de ombros. Eu não sabia como responder à pergunta dela. Eu só não queria falar com ele agora. Talvez eu estivesse sendo egoísta, mas depois de descobrir que a Sabine é minha mãe e que ela está tão perto da morte, eu fiquei brava com ele. Ele sabia a verdade... o tempo inteiro... e não me contou. E, no momento, eu não me importava se era por causa do meu pai ou quem fosse, porque era alta a probabilidade de eu não poder chamá-la de mãe e dizer o quanto eu precisava dela. Eu poderia ter feito tudo isso por seis meses, seis meses em segurança, já que o desgraçado do Fletcher Montgomery nunca apareceu na escola para assassinar nenhuma de nós até o dia da Mostra. Eu poderia saber a verdade há meio ano, e Will me deixou na ignorância, e sem mãe, quando na verdade, eu a tinha o tempo todo! – Você está zangada com ele? – perguntou Kate, sentando-se na beira da cama. – Estou zangada com o mundo inteiro – falei. – Mas ele não tinha escolha... Olhei para ela como quem diz: Ah, não? – Sempre temos escolha. – Não, nem sempre. E você, mais do que ninguém, já deveria saber disso. Kate estava certa. Eu nunca tive escolha, tinha que viver sob as regras impostas por outros. E agora que eu finalmente estava livre, minha vida parecia estar ficando cada vez melhor a cada dia, pelo menos até a terça-feira à noite quando tudo ficou ainda mais bagunçado do que costumava ser. De novo, eu não tinha escolha, só podia sentar e ficar esperando por boas notícias. Eu torcia para que fossem boas notícias porque eu nem podia imaginar perder minha mãe de novo, uma vez na vida já era suficiente. – Não posso perdê-la, Kate – falei, empurrando o prato. – Obrigada,