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Copyright @ 2015 Sidnei Oliveira Copyright @ 2015 Integrare Editora e Livraria Ltda. Publisher Luciana M. Tiba Editor André Luiz M. Tiba Coordenação e produção editorial Nilcéia Esposito Projeto grá�co e diagramação ERJ Composição Editorial Capa Qpix – estúdio de criação – Renato Sievers Revisão Renata Truyts Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Oliveira, Sidnei Mentoria : elevando a maturidade e o desempenho dos jovens / Sidnei Oliveira. -- São Paulo : Integrare Editora, 2015. Bibliografia. ISBN 978-85-8211-070-6 1. Carreira 2. Conflito de gerações 3. Jovens - Comportamento 4. Jovens - Trabalho 5. Relações entre gerações 6. Relações interpessoais I. Título. 15-06738 CDD-305.23 Índices para catálogo sistemático: 1. Jovens : Desenvolvimento da maturidade 305.23 Todos os direitos reservados à INTEGRARE EDITORA E LIVRARIA LTDA. Rua Tabapuã, 1.123, 7o andar, conj. 71/74 CEP 04533-014 – São Paulo – SP – Brasil Tel. (55) (11) 3562-8590 Conheça o nosso site: www.integrareeditora.com.br http://www.integrareeditora.com.br/ Agradecimentos É um grande desafio agradecer à todos que contribuíram para que esse livro fosse uma realidade. Tenho muita gratidão pela vida de meus filhos Rodrigo e Amanda, que com suas vidas brilhantes me fazem sentir a importância de ser pai. Tenho muita gratidão pela vida de alguns mentores muito especiais como o Dr. Içami Tiba, Vicente Picarelli, Eugênio Mussak e Sofia Esteves, que sempre me incentivaram a trilhar o meu próprio caminho como mentor. Tenho muita gratidão pela vida de pessoas especiais como a Giovanna Mel, alguém que conheci jornalista, mas que se mostrou muito mais companheira e amiga quando emprestou sua incrível energia e determinação para criar espetaculares perturbações em minha trajetória. Tenho muita gratidão pela vida de minhas companheiras de trabalho, Carla Orioli, Camila Caputti e Rani Peixoto, que crescem como profissionais e como seres humanos, sendo mentoradas disciplinas e também agindo como mentoras quando me dão �toques precisos� sobre minha atuação. Tenho muita gratidão pela vida de Andre Tiba, Luciana Tiba e Julio Quattrucci que sempre representam a equipe da Integrare Editora, eles são amigos e apoiadores desde meu primeiro livro. Ainda assim, são tantos mentores que me tocaram e tantos mentorados que foram tocados por mim nesses anos que se tivesse que registrar o nome de cada um, já seria um outro livro apenas com citações, por isso, deixarei para todos um citação de um mentor muito especial: �Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso�. Charles Chaplin Apresentação �A sociedade deveria tentar oferecer a cada jovem um mentor de fora do sistema educacional, alguém que tivesse grande interesse no desenvolvimento e progresso daquela pessoa na vida�. Charles Handy � The Hungry Spirit Geração Cristal – Os seis minutos que paralisaram os jovens Aconteceu o que todos imaginavam. A frase #querovernacopa, que assombrava a realização do maior evento do planeta, finalmente surgiu no lugar mais inesperado � a jovem seleção brasileira de 2014, com Felipe Scolari exercendo a função de técnico �professor�. Até o início da partida, era evidente a euforia com os recém- eleitos heróis, que agora tinham um motivo especial para vencer, afinal eles não estariam lutando apenas por uma taça de ouro, mas, sim, por um colega abatido no último jogo. Justamente o jogador de talento incomum (Neymar), que nas partidas anteriores era a estrela do time. Vencendo o jogo seriam elevados a �semideuses�, caminhariam para o Olimpo da final da Copa e, nessa condição, teriam apenas que concluir o torneio vencendo outro oponente, que talvez estivesse ali somente para completar o espetáculo de transformar os jovens jogadores em �deuses�. Os sinais estavam evidentes nos choros emocionados e no desespero do capitão do time no momento mais difícil em um jogo anterior, mas poucos entenderam o que estava acontecendo e disseram apenas que a equipe era muito mais sensível e menos �animal�, era a nova cara, a nova realidade do futebol. O momento contagiou de tal forma, que os poucos que perceberam a fragilidade naquele time foram considerados pessimistas, �inimigos do Brasil�, ignorantes sobre o �novo jogador do milênio�. Contudo, aqueles seis minutos inacreditáveis surgiram na frente de milhões de pessoas e o resultado foi �o pior jogo de toda história do futebol�. Ninguém conseguia acreditar no que estava acontecendo, nem mesmo o time adversário. Enquanto o desastre acontecia, surgiam os primeiros comentários em favor dos jovens jogadores, considerados �guerreiros� diante de uma batalha desigual, lutando contra uma seleção que se preparou mais de oito anos para esse momento. (Oi?) O fato é que os jovens jogadores simplesmente paralisaram, pois se prepararam para ser os �heróis�, mas não para suportar as frustrações das batalhas que esse caminho exigiria. Um fato que passou despercebido foi a total dependência dos jogadores em relação ao seu treinador. A sutileza do gesto de indignação do técnico com �seus meninos� foi capaz de paralisar todo o time, pois quando demonstrou sua decepção e recolheu-se para o assento, foi como se estivesse anunciando que estava desistindo da batalha. Esse cenário, que deixou o Brasil com uma cicatriz enorme, reflete como estamos lidando com os jovens nos últimos 25 anos. Preparamos uma �geração de cristal�, capaz de ser brilhante diante de condições favoráveis, mas frágil diante das adversidades. Assim como os jogadores se perderam naqueles minutos assombrosos, vemos os jovens de hoje paralisados diante das frustrações por não alcançarem o sucesso que consideram �merecedores�. Usando de estratégias erráticas, observamos jovens que trocam de empregos e de relacionamentos ao menor sinal de insatisfação, tentando �escapar� do desconforto, como se não percebessem que o resultado de longo prazo será muito mais difícil de suportar. Toda cicatriz tem sua importância diretamente ligada ao aprendizado que extraímos de uma experiência, portanto, quando a situação �nos paralisa�, devemos absorver o impacto e usar a frustração como alavanca para alcançar nossos mais extraordinários talentos, mesmo diante de um jogo em que, eventualmente, sejamos derrotados. O grande desafio da atualidade é justamente criar um ambiente mais favorável ao desenvolvimento da maturidade dos jovens, que foram sistematicamente criados em um cenário social que favorece o desenvolvimento acadêmico, mas que os protege da realidade sempre que possível, minimizando ou socializado as consequências de cada escolha. Essa realidade, de certo modo, provoca avaliações distorcidas que �infantilizam� e subestimam as capacidades dos jovens e isso intensifica ainda mais os efeitos de retardamento da maturidade, paralisando perigosamente toda manifestação dos talentos dessa geração. Estamos prolongando a infância dos mais novos na esperança de também prolongar a juventude dos mais veteranos, esquecendo que o aumento real da expectativa de vida � bastante documentado em publicações científicas e também em meu livro Jovens para sempre (Integrare Editora) � já resolve essa questão. De fato, deveríamos nos preocupar com novos papéis para exercer com o tempo extra que recebemos e acredito que a melhor contribuição seja desenvolvermos nossas atividades não mais como grandes executores, mas, sim, como mentores com foco no desenvolvimento da maturidade dos mais jovens. Afinal, a condição da vida ainda é: Mantenha a calma, trabalhe duro e pare de mimimi Sumário Prefácio 1. Jovens & veteranos – Um encontropossível Choque de gerações ou chocados com as novas gerações? Uma geração paradoxal Cadê o meu mentor? 2. É importante esclarecer Afinal, o que é mentoria? Professor Coach Mentor A nova era da gestão Trabalho coletivo Trabalho cooperativo Trabalho colaborativo 3. O desafio de desenvolver a maturidade Que tipo de jovens estamos preparando para o futuro? Não basta parecer sério, tem que ser! Não falta competência ao jovem � falta maturidade Maturidade não é ensinada, mas, sim, aprendida 4. Sem repertório, sem conhecimento Só sei que nada sei Repertório � Amplitude ou profundidade? Conexões � ligando os pontos O perfil do conhecedor 5. A regra é clara Disciplina ajuda no desempenho? Normas � cumprir ou não cumprir? 6. Você sempre será uma referência #tamujunto? Olhando o truque, e não o mágico 7. O poder das cicatrizes Tomando choques Planejar ou improvisar? 8. Um modelo para mentoria A estratégia de mentoria Maduro Questionador Arrogante Colaborativo A incoerência desmotiva o jovem O mentor você conhece de olhos fechados!. 9. Ser exemplo, ser mentor Quem quer ser uma referência? Frustrações � foco nas vitórias ou nas derrotas? Omissão � se dá para não se envolver, por que fazer algo? Apego � quando se perde o que nunca se teve A ansiedade ainda vai te matar! Procrastinação � a arte de adiar Superficialidade � como saber muito pouco de muita coisa Popularidade � quantas curtidas você vale? 10. Ser potencial é uma aposta Conflitos � Quando interesses pessoais se desalinham Chega de atalhos! É hora de agir com estratégia! O jovem precisa de desafios para mostrar seu talento! Sonhe sempre, sonhe grande, mas realize muito! Cicatriz dói, mas ajuda! Saiba mais sobre o autor Prefácio Quero reservar este espaço para os pensamentos de uma pessoa muito especial. Sua trajetória, energia e vida são exemplos para mim e para muitos. Um verdadeiro mentor que impactou minha vida de uma forma absolutamente única, fazendo com que me torna-se um escritor de verdade. Sou muito grato por seus impactos e por sua influência sempre, meu amigo e mentor, Içami Tiba. Sobre as frustrações �Em uma brincadeira, deixar que o filho vença sempre é também uma forma de evitar a frustração. Os pais podem ter dificuldade em ver o filho frustrado, sofrer com isso, ou podem não saber lidar com a reação que o filho costuma ter diante das frustrações. Além de distorcer a realidade, os pais estão perdendo uma importante oportunidade de trabalhar com os filhos uma questão fundamental para seu desenvolvimento: a resiliência, que é a capacidade de lidar com as frustrações sem se desestruturar psicologicamente�. Sobre a realidade �Alguns pais preferem distorcer a realidade para manter a inadequação do filho. Para poupá-lo, jogam a culpa nos outros. Se o filho caiu, deveria ter tomado mais cuidado. Mas não, para esse tipo de pai o chão é que estava escorregadio (o que pode até ser verdade, mas é o filho que deve ser cuidadoso, e não o chão)�. Sobre a família �A família deveria ser o exemplo maior de relacionamentos integrais entre seus componentes. Daí a importância de os pais se prepararem para exercer melhor suas funções de pais, capacitando- se para educar os filhos por meio de conhecimentos educativos. Do contrário, continuaremos às voltas com essa situação familiar caótica que observamos hoje�. Sobre a felicidade �A felicidade não se conquista com birras. Ela não pode vir acompanhada de sofrimentos e sacrifícios de outras pessoas�. Sobre a atenção �Vendo o olhar atencioso do pai, a criança tem a certeza de que, se precisar, será atendida. Essa é a base da segurança. Se você, pai ou mãe, pode interromper seu trabalho em casa para atender a um telefonema que não escolhe hora, também terá disponibilidade para fazer pequenas pausas e, assim, dar a atenção necessária a seu filho. O atendimento diário da criança custa muito pouco. O não atendimento acumulado causa uma falência na estrutura da personalidade que, futuramente, pode custar muito caro�. Sobre as crianças �As crianças precisam ser protegidas e cobradas de acordo com suas necessidades e capacidades. Protegidas nas situações das quais não conseguem se defender; cobradas naquilo que estão aptas a fazer�. Sobre as consequências �Educar é assumir consequências! Os pais têm que ensinar o filho a assumir as consequências dos seus atos. Se um filho não sabia que não podia fazer, os pais têm que ensiná-lo e já combinar as consequências. Se o filho já sabia, e mesmo assim errou, está na hora de cobrar as consequências�. Sobre as mães �Cada vez que algumas mães arrumam a bagunça dos filhos � se eles já têm condições de fazê-lo �, estão postergando o amadurecimento deles. Se crescerem com tais hábitos poderão achar que é função de mulher arrumar a casa, perpetuando o machismo. Essa gentil poupança aos filhos em vez de ajudá-los, prejudica-os já em casa e futuramente na sociedade�. Sobre o ser humano �O homem é um ser humano integral, superior. Entretanto, se fizer apenas o mínimo que se espera dele, sem ter uma visão mais abrangente do mundo, ele empobrecerá�. A conclusão que as pessoas têm é que se você fizer o que ama, você vai ser bem sucedido. E isso pode ser verdade, mas também pode ser que, caso você seja bem sucedido, você amará o que você faz. Afinal, você apenas ama ser bem sucedido. Ben Horowithz 1 Jovens & veteranos – Um encontro possível Choque de gerações ou chocados com as novas gerações? A primeira impressão que se tem é de que as gerações estão vivendo um tempo de ruptura total, em que os mais velhos não entendem os jovens, que, por sua vez, consideram os mais velhos absolutamente lentos e desconectados da realidade atual. Evidentemente, essas divergências sempre aconteceram entre as gerações. O fato novo é que os conflitos atuais estão mais potencializados principalmente pelo ritmo de vida que surgiu com as novas tecnologias. Como resultado, todos desejam ser jovens pelo maior tempo possível. Até o aumento da expectativa de vida, provocado também por avanços da ciência, contribui para a intensidade nos conflitos, pois existem mais gerações lutando por um lugar no mundo. Os mais velhos sentem-se produtivos em seus postos atuais, por isso não abrem espaço para os mais jovens ocuparem estas posições. Claro que essa situação não se sustentará por muito tempo. O que é necessário é um novo modelo de relacionamento entre as gerações, em que os mais velhos substituam o papel de �executivos/operadores�, guardiães dos processos e zeladores dos resultados, para assumir uma nova carreira � a de líder educador � conhecido como mentor. Deixando todo esforço executivo para a geração mais jovem, que tem mais energia e mais habilidades para o atual contexto tecnológico. Essa conscientização também deve acontecer com os jovens, que mesmo tendo mais habilidades, precisam reconhecer que isto é apenas fruto de um cenário de superestimulação a que foram submetidos desde a primeira infância. E isso não os torna �especiais�. Eles precisam entender que são e precisam ser mais preparados para o novo ambiente hipercompetitivo e que, além de todo conhecimento técnico e toda informação que conseguem absorver, precisam acessar um tipo muito especial de conhecimento � o tácito �, que apenas os mais velhos possuem, fruto de todas as experiências acumuladas em suas vidas. O caminho é a negociação de interesse entre as gerações. E essa negociação precisa acontecer com maior rapidez. Uma geração paradoxal Nos últimos meses, a crescente rotatividade de pessoal, principalmente na faixa de jovens entre 20 e 30 anos, tornou-se uma das grandes preocupações para as empresas. Tem sido comum encontrar gestores perplexos com os novos comportamentos e expectativas profissionais que os jovens apresentam. Ansiedade por crescimento rápido, superficialidade, falta de comprometimento e de foco, desprezo pela hierarquia e infidelidade corporativa sãoas características mais comuns. Surgiram até mitos de que os jovens não querem trabalhar em funções técnicas e rotineiras, querem crescer e se tornar gerentes e diretores em menos de dois anos e somente aceitam trabalhar em ambientes divertidos e descolados. Todos esses fatores já seriam suficientes para justificar a desconfiança que os gestores têm dos jovens em suas equipes, mas a realidade tem mostrado que é necessário um olhar menos passional e mais isento sobre esses fatos. Se focarmos somente na questão da rotatividade no emprego, observaremos uma contradição comportamental. Em minhas palestras para universitários e trainees, há um momento em que observo um grande incômodo nos jovens, sempre aliado a uma postura crítica, principalmente quando apresento casos de profissionais que trocaram de emprego diversas vezes. Normalmente esse tipo de comportamento é avaliado como negativo pelos jovens profissionais. Será então que estamos diante de um paradoxo provocado pelas atitudes dos jovens? Estariam esses jovens absolutamente perdidos em suas aspirações? A resposta é �talvez� para ambas as questões. O que acontece é que as empresas não estão sendo rápidas em atualizar suas diretrizes e processos corporativos. Além disso, os gestores se afastaram de um dos pilares fundamentais do exercício da liderança, que é o desenvolvimento de pessoas e a formação de líderes e sucessores. Avaliam que a única forma de dar �novos desafios� é por meio de promoções a cargos superiores � que ainda estão ocupados por eles próprios � ou ainda por meio de aumentos salariais. Uma avaliação mais profunda permite concluir que as expectativas mais valorizadas pelos jovens estão depositadas na possibilidade de receber mentoria genuína de seu líder imediato, aliada a uma autonomia e flexibilidade em projetos que ajudem no desenvolvimento. Entretanto, no lugar de os gestores promoverem desafios que permitiriam o amadurecimento de suas jovens equipes, eles preferem ampliar os bloqueios e controles. Os resultados que alcançam com isso é a desmotivação dos jovens com a carreira corporativa e a redução na capacidade de promover inovações � este é o verdadeiro paradoxo! Certamente teremos que aprender a gerenciar índices maiores na rotatividade de pessoal, pois é a nova realidade no mercado hipercompetitivo que estamos experimentando nestes novos tempos. Se há uma real vontade de gerenciar esta realidade com melhores resultados, o caminho passa pela reavaliação no papel dos gestores, que promovem com mais intensidade as competências que permitam o desenvolvimento de pessoas e principalmente a formação de sucessores. Cadê o meu mentor? Um dos exercícios que mais utilizo em minhas palestras e workshops, no sentido de despertar reflexões mais profundas, é pedir aos participantes para fecharem os seus olhos e pensarem em alguma pessoa que, de alguma forma, tenha interferido de modo significativo em seus destinos. Procuro guiá-los no resgate de lembranças de seus mentores, aquelas pessoas que dedicaram tempo e energia para ajudá-los a se desenvolver. Quando os participantes começam abrir seus olhos, é muito comum eu observar aquele olhar agradecido por fazê-los lembrar de alguém que realmente fez diferença na vida de outra pessoa. Os depoimentos espontâneos que surgem em seguida referem-se a pais, professores ou antigos chefes � todos com reconhecida experiência e que encontraram motivos para passar adiante seus conhecimentos, agindo como uma referência, um modelo, um instrutor disposto a ensinar tudo que sabia dando orientações e apontando direções. Contudo, um fato novo tem despertado minha atenção, principalmente quando realizo este exercício em plateias formadas por jovens da Geração Y e Z� Muitas vezes esses jovens não conseguem identificar ninguém. Quando abrem seus olhos, percebo a reação de dúvida e estranheza diante do exercício. Alguns chegam a manifestar o fato de não entender o que se esperava com o exercício. Depois que dou as explicações, ou seja, peço para identificarem seus mentores, novamente as reações são de perplexidade, diante do insucesso em encontrar alguém a quem pudessem atribuir a classificação de mentor. O mais comum é pensarem em personalidades que admiram como grandes empresários ou líderes políticos. Ou seja, pessoas distantes do convívio e sem nenhum relacionamento com o jovem. Que podem, na melhor das hipóteses, ser considerados referências muito mais pela relevância pública de seu trabalho, do que pelo conhecimento de seu caráter. Em uma dessas ocasiões fui interrompido por um jovem que gritou: �Cadê o meu mentor?� Foi uma ótima pergunta, pois muitos estavam com a mesma dúvida na cabeça e a questão serviu para que eu fizesse um alerta: Não se encontram mentores no Google, nem é possível dispensá-los quando se pretende um desenvolvimento. Todo conhecimento tácito, que também é conhecido como experiência, está nas mãos dos mais veteranos. Para ter acesso a esse conhecimento é indispensável conquistar um mentor. Para isso só há um caminho: ser aprendiz, ou, criando uma corruptela em nosso idioma, ser �mentorado�. Nos dias atuais, em que os jovens querem ser vistos e reconhecidos como vencedores, não é muito comum identificar a postura de aprendiz, isto é, de estar aberto para o aprendizado. Nesse caso, não se trata de conhecimento acadêmico, mas, sim, do velho e bom �pulo do gato�. Pode-se compreender essa postura diante da evidente superioridade dos jovens em relação ao ritmo frenético das mudanças, principalmente as tecnológicas. Contudo, também está claro que falta algo para alcançarem seus sonhos, principalmente os novos desafios. Os desafios estão com os veteranos, que ainda se esforçam para manter o ritmo das coisas � eles têm talento, energia e experiência para �não deixar a peteca cair�. Se você, jovem, está se perguntando �cadê o meu mentor?�, lembre-se de que, mais próximo do que você imagina, há um veterano perguntando �cadê o meu aprendiz?�. Tornando-se um consciente criador de escolhas, você começa a gerar ações que são evolucionárias para você. Deepak Chopra 2 É importante esclarecer… Afinal, o que é mentoria? Toda definição conceitual merece uma apresentação didática para privilegiar o entendimento. O tema mentoria tem sido construído de modo um pouco rudimentar no Brasil, e não é raro ver o mentor ser confundido com outros dois tipos de agentes que também trabalham com o desenvolvimento humano � o professor e o coach. Em muitas situações, as diferenças entre esses agentes são sutis e abstratas, por isso é mais fácil olhar as semelhanças na forma de atuação e ignorar aspectos fundamentais quando se pretende promover os talentos das pessoas, especialmente dos jovens que possuem todo potencial futuro. Para potencializar os talentos de um indivíduo, é preciso ter como foco a ferramenta fundamental na formação do próprio talento que é o desenvolvimento da maturidade. Sem esse alinhamento, o talento se perde por não ter sustentação em atividades práticas e tangíveis que sedimentam o conhecimento tácito por meio dos resultados alcançados na experiência. Gosto de pensar que a maturidade é o resultado que se alcança com o que se aprende com as consequências das próprias escolhas. Nesse processo podemos identificar o papel de cada agente que auxilia ou interfere na maturidade do indivíduo e é interessante observar as diferenças nos objetivos de cada um: Professor O primeiro agente é o professor, responsável pela etapa mais básica do processo de maturidade. Cabe a ele fornecer as informações e instruções que serão necessárias para que o indivíduo possa realizar qualquer atividade. Nesse caso, cabe ao agente ter um excelente repertório teórico sobre a matéria que pretende instruir e ser capaz de disponibilizar essas informações por meio de uma eficiente forma de comunicação. Quanto mais competência esse agente tiver nessas duas questões,melhor será o resultado alcançado por quem for alvo da instrução. Coach O segundo agente é o coach, cujas atividades estão relacionadas ao uso das instruções que adquiriu com o professor. O foco é trabalhar o desenvolvimento das competências, avaliando o desempenho, os desafios e as necessidades de ampliação de recursos e até de novas instruções, além de mudanças específicas. O coach atua como um treinador altamente capacitado para orientar, organizar e colocar um foco e metas na vida de seus coachees. Seu principal objetivo é estimular o jovem a buscar resultados, sejam de curto, médio ou longo prazo, por meio de exercícios de reflexão e questionamentos sistemáticos diante das metas estipuladas pelo próprio indivíduo. A consequência resultante desse processo é a sedimentação de um novo estágio no desenvolvimento da maturidade Mentor O mentor é o terceiro agente que atua diretamente no desenvolvimento da maturidade de um indivíduo, por isso é essencial ser um indivíduo experiente que tem por objetivo passar adiante suas experiências e vivências em uma determinada área de atuação. Normalmente, o mentor age como uma referência, uma pessoa disposta demonstrar tudo que sabe, orientando, apontando direções e estabelecendo desafios que permitam ao mentorado desenvolver seu conhecimento tácito a partir de suas experiências. Geralmente, envolve aspectos de carreira e apoio psicológico, seu horizonte é de longo prazo, privilegia o desenvolvimento e o progresso graduais e não guarda necessariamente uma relação direta com qualquer tipo de hierarquia. A relação do mentor com o mentorado é marcada pelo respeito e pela confiança. Isso permite que sejam apresentados direcionamentos em forma de conselhos, provocações e estímulos que permitam o desenvolvimento dos talentos do mentorado. Quando os objetivos são consolidados, podemos ter uma visão mais clara do papel de cada agente na construção da maturidade de um indivíduo. Evidentemente, na prática as ações se misturam em algum nível, mas é importante registrar que quando se está em um papel não se exerce qualquer um dos outros. As ações são complementares, mas excludentes � ou seja, quando se age como mentor, não se deve instruir ou cobrar desempenho, pois o foco está no desenvolvimento do talento. Agir dessa forma é um desafio porque desenvolvemos um modelo de gestão baseado nos resultados alcançados pela gestão de processos. Esse modelo estabelece uma sequência lógica para o desenvolvimento do indivíduo. Primeiramente, são transmitidas as instruções, afinal ele precisa �saber� realizar o processo para ser respeitado como alguém que dá resultados. A seguir, para garantir que o indivíduo possa realizar as coisas com eficiência, o desenvolvimento das competências é priorizado imediatamente após a transmissão das instruções. Essa lógica não considera o desenvolvimento dos talentos, que somente se manifestam quando há um bom alinhamento do indivíduo entre suas escolhas, suas capacidades, suas limitações e, por fim, suas expectativas. Quem pode ajudar nesse alinhamento é justamente o mentor. Entretanto é importante estar atento às transformações que os novos comportamentos e expectativas têm provocado na gestão das coisas, pois já é evidente que estamos assistindo e participando de uma incrível mudança nos relacionamentos entre as pessoas, as empresas e os processos � tudo provocado pelas novas tecnologias, pelas redes sociais e pela gigantesca quantidade de informações geradas a cada segundo. A nova era da gestão Trabalho coletivo Chega uma nova mensagem e você descobre que o final de semana será ocupado novamente por uma tarefa urgente: preparar o projeto para segunda-feira. Rapidamente, você percebe que está sozinho nessa missão, pois da forma como as tarefas estão distribuídas, você não pode contar com a ajuda de mais ninguém, afinal o modelo de sua empresa está sedimentado em uma coletividade, na qual cada pessoa tem um papel com atribuições e responsabilidades distintas. Além disso, foi a você que o desafio foi confiado, de modo que pedir ajuda, recusar a tarefa ou mesmo falhar na entrega não são opções válidas, pois certamente isso �mancharia� sua trajetória profissional. Esse cenário é cada vez mais presente na rotina das pessoas, já que vivemos em um tempo em que a tecnologia faz com que a �vida profissional� invada a �vida pessoal� sem pedir permissão. Quem nunca recebeu uma mensagem ou um telefonema em pleno domingo à tarde e optou por fazer o trabalho para ganhar tempo? O modelo de trabalho coletivo teve origem na revolução industrial, há mais de duzentos anos, e até hoje estabelece o comportamento nas corporações. Nesse modelo, a hierarquia, os processos e os controles têm um objetivo único: garantir o resultado. Como consequência, a carreira profissional fica necessariamente vinculada ao desempenho, ou seja, quanto mais o profissional conseguir produzir, mais resultados serão alcançados. O modelo de trabalho coletivo, totalmente focado em processos, é tão válido que é a base de tudo que se definiu como sucesso profissional. Contudo, os tempos atuais trouxeram novas realidades. Com o aumento na expectativa de vida, as pessoas realinham suas trajetórias e buscam, cada vez mais, o equilíbrio de vida. Quando isso não é alcançado nem como perspectiva futura e breve, surge um sentimento de insatisfação com a própria carreira. Um novo modelo está surgindo e os principais protagonistas são os jovens profissionais, que já estabelecem as expectativas de equilíbrio de vida em todos os seus relacionamentos com o trabalho, seja este vinculado a uma empresa ou não. A carreira profissional já não é mais formada em 35 anos de trabalho. Hoje � e no futuro � esse tempo irá muito além dos sessenta anos, portanto, é tempo de mudanças. É tempo de uma nova era na gestão. Trabalho cooperativo Estamos há alguns anos vendo a transformação na gestão das empresas. Desde 1990, com o advento da reengenharia de processos, soluções foram apresentadas e métodos foram experimentados, mas nada foi mais efetivo que a crescente substituição do trabalho coletivo por práticas cooperativas. Muito presente em entidades ligadas ao terceiro setor, o trabalho cooperativo buscou lidar com questões que exigiam agilidade de processos sem o rígido controle hierárquico da coletividade, por isso, tem-se apresentado cada vez mais em outros setores. O mais curioso é que a pressão por resultados está em conflito direto com a crescente busca pelo equilíbrio de vida, o que tem transformado também o comportamento dos profissionais que esperam de seus colegas a cooperação para lidar com a pressão por produtividade. Não é mais incomum o sentimento de �culpa� por estar deixando o trabalho no horário contratado. Normalmente, os colegas acabam exercendo uma pressão social silenciosa, como se estivessem esperando maior cooperação, e o profissional se submete a uma jornada de trabalho cada vez mais intensa para não perder o patrimônio social. O modelo de trabalho cooperativo, totalmente focado em relacionamentos, atende parcialmente às expectativas de socialização do trabalho, promovendo a inclusão de profissionais a partir de suas facilidades, assim como de suas limitações. Isso permite um ambiente mais aceitável por não ser tão competitivo, proporcionando o equilíbrio desejado pelos profissionais; contudo, em muitos casos, a produtividade segue em um ritmo mais lento, restringindo os ambientes que possam fazer uso desse método. Desse modo, uma nova gestão precisa surgir e ser ainda mais adequada ao tempo atual, pois os resultados sempre estarão na equação. Trabalho colaborativo Estamos no tempo do trabalho colaborativo, caracterizado pelo compartilhamento de ideias e informações entre os membros de um grupo com o intuito de alcançar resultados ligados a uma meta comum. Isso tornou-se possível quando os sistemas de comunicação e as bases de informações fizeram-seacessíveis a todos os profissionais, como acontece atualmente nas redes sociais. Em sistemas colaborativos, o compartilhamento de recursos é tão natural quanto a espontânea coordenação dos esforços de trabalho. Nesse modelo, os papéis individuais e os processos são apenas a referência para a organização das atividades. O objetivo é proporcionar o trabalho em conjunto de maneira fluida e eficaz, por meio de esforços intensos de comunicação, permitindo a negociação mais eficiente em direção a um propósito. Nesse modelo, a coordenação das atividades é negociada e compartilhada entre os membros e estes passam a comunicar, negociar e tomar decisões referentes às tarefas. Profissionais que realizam o trabalho colaborativo são desafiados a se desapegar de suas posições hierárquicas e focarem diretamente no propósito, buscando a motivação de todos os membros do grupo. Nesse sistema, a comunicação exige padrões flexíveis que promovam a inovação nos processos com a consequente ampliação dos resultados. Assim, na próxima vez que chegar uma mensagem com uma exigência de um projeto para a próxima segunda-feira, o profissional poderá perceber que não estará mais sozinho, pois poderá acionar qualquer colaborador de sua rede profissional, compartilhando os resultados. No trabalho colaborativo, o foco é totalmente nas conexões pessoais, isso permite a realização do trabalho em qualquer momento e em qualquer lugar, o que promove melhores condições de equilíbrio de vida ao profissional e o resultado é alcançado de forma genuína, pois é alcançado o verdadeiro engajamento dos profissionais, que sempre foram e serão movidos pelo compartilhamento de propósitos. Não haverá borboleta se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses. Rubens Alves 3 O desa�o de desenvolver a maturidade Que tipo de jovens estamos preparando para o futuro? Tenho o costume de contar o exemplo de educação da águia, que depois de uma rápida avaliação da maturidade de seus filhotes, os faz �saltar� do ninho para que descubram suas próprias asas. A conclusão que a história traz é que é sábio e desejado que sejamos autossuficientes e independentes, tomando nossas próprias decisões e assumindo as consequências de cada uma delas. Entretanto, atualmente muitos jovens relutam em �saltar� para sua independência, pois estão acostumados com o padrão de vida que seus pais proporcionam. Parece que o ninho está sempre confortável. Para as gerações veteranas (X e baby-boomers), é um desafio enorme acreditar no �potencial de voo� dos mais jovens. As motivações são variadas e paradoxais, mesclando argumentos que remetem a sentimentos de amor e cuidado com a vida do jovem e críticas pela falta de foco e compromisso com as próprias expectativas, levando ao julgamento de imaturidade para se aproximar do penhasco e ousar fazer o �voo�. Esses argumentos são válidos em algumas circunstâncias. Muitos jovens estão empenhados em manter o estilo de vida que possuem no convívio com seus pais, focando suas preocupações nas dificuldades que enfrentam para se colocar profissionalmente de maneira aceitável, isto é, de forma que possam sustentar um padrão de vida no mínimo equivalente ao que possuem atualmente. Quando confrontado com esses argumentos é comum ao jovem negar o comportamento mais acomodado e transferir a situação para a realidade atual, que tem um cenário mais complexo e competitivo do que no tempo de seus pais. Realmente o cenário é bem diferente que em outros tempos, mas isso não é uma boa justificativa, pois dificuldades sempre existiram e as gerações anteriores encontraram uma forma de �voar�, transformando-se em águias. Talvez o que tenha acontecido é que as �águias veteranas� também mudaram seu comportamento e melhoraram seus ninhos deixando de desafiar seus filhotes para o �salto�. Este é um comportamento muito comum em outro tipo de ave, que tutela seus filhotes, mantendo o conforto e a proteção � a galinha. Devemos lembrar apenas que filhotes de águia viram águias quando voam e ganham independência, já os filhotes de galinha� Que tipo de jovens estamos preparando para o futuro? Águias ou galinhas? Não basta parecer sério, tem que ser! Nos tempos atuais, os jovens estão dedicando um esforço enorme para que sejam reconhecidos por suas competências e talentos. Grande parte deles sustenta uma dose de frustração porque os gestores e o mercado de trabalho não apresentam desafios compatíveis com suas capacidades, proporcionando apenas trabalhos operacionais e de baixa relevância. Essa situação é recorrente nas reclamações que ouço de jovens nas sessões de mentoria que realizo. Parece que nenhum gestor está disposto a correr riscos e apostar nos profissionais mais novos, mesmo que eles apresentem certificações de suas habilidades. Esse cenário teria contornos de injustiça se apenas fosse um caso de preconceito corporativo, no qual os mais veteranos buscam limitar os mais jovens para garantir a permanência de suas próprias funções, talvez ameaçadas por competentes e habilitados profissionais. Contudo, o contexto é um pouco mais complexo e merece ser analisado a partir da observação dos comportamentos que os jovens apresentam quando chegam ao mercado de trabalho. Um exemplo é notar as intensas transformações, principalmente por causa das novas tecnologias, que, literalmente, estão se incorporando em nosso dia a dia. Isso permite avaliar o jovem como um profissional mais imaturo e menos competente, pois é clara uma irracional relação de dependência de smartphones, tablets e da internet, tirando o foco ou mantendo sua atenção em forma fragmentada e superficial. Outro exemplo é o recorrente discurso dos jovens profissionais de sustentar suas atividades somente se estiver �gostando de fazer�, esquecendo que, na maioria das vezes, �precisam fazer� mesmo sem gostar. Há um roteiro que torna o indivíduo sério e que faz com que seja levado a sério: Primeiro, é importante que ele saiba o que pode fazer, depois é preciso considerar o que quer fazer e somente depois das duas condições atendidas é que se coloca o que gosta de fazer. A inversão dessa ordem transfere uma condição de imobilidade de gestão: Imagine que alguém, para fazer algo, primeiro precise gostar, contudo, nunca passou pela experiência. Certamente irá recuar diante do desafio ou mostrar-se inseguro. Imagine o desafio de gestão em tentar desafiar alguém a fazer algo que não quer ou ainda tentar criar condições para fazer algo que não pode. O jovem profissional precisa substituir os conceitos: Faça o que gostar Use se te derem Comece se quiser E adotar: Comece onde você está Use o que você tem Faça o que você pode É chegado o momento de os jovens mostrarem que são sérios e querem ser levados a sério, mas, para que isso aconteça, não basta expor as expectativas de mudanças. É necessário que os jovens façam a mudança! Para isso, é prioritário que eles sejam sérios consigo mesmos, determinando um propósito e seguindo na direção dele. Não basta mais parecer sério, é preciso ser sério, fazendo o que pode e usando os recursos que possui. Não falta competência ao jovem – falta maturidade Todos os gestores com quem converso trazem, em seus depoimentos, uma avaliação muito negativa sobre a competência do jovem profissional. Características como falta de engajamento e de foco e irresponsabilidade são muito comuns e estabelecem um padrão profissional bastante preocupante. Buscamos jovens que se comprometam, se envolvam com o trabalho; que tragam ideias e promovam inovações. Contudo, percebemos que algo está diferente. As prioridades dos jovens profissionais estão ligadas ao estilo de vida, por isso conseguimos ver com clareza apenas uma ambição extrema para alcançar posições mais privilegiadas e com remunerações cada vez maiores. O que acontece realmente? O jovem profissional de hoje é incompetente? É evidente que não, na verdade, ele tem um potencialmuito maior do que qualquer outra geração de jovens que já chegou ao mundo corporativo. Afinal, ele foi muito estimulado, possui mais acesso às informações e desenvolveu uma competência singular em relação às tecnologias. Parece, então, que nós, os mais veteranos, é que fomos incompetentes em formar novos profissionais. Apesar de providenciarmos aos jovens uma estrutura de formação acadêmica mais acessível e mais dinâmica do que as que existiam há vinte anos, essa estrutura não está formando bons profissionais. Temos parte da responsabilidade na formação dos jovens, mas nossa falha não foi em prover instrumentos e facilidades para a formação de profissionais. Isso nós fizemos muito bem! A nossa falha acontece por não proporcionarmos um ambiente que exponha o jovem a desafios, nos quais ele tenha oportunidade de ganhar suas próprias cicatrizes com as falhas que eventualmente comete. De forma sistemática, buscamos eliminar todas as possibilidades de falhas, pois nossas prioridades são sempre os resultados. Com isso, o que estamos alcançando é apenas uma geração de profissionais absolutamente preocupados em não falhar. Isso demonstra não uma incompetência, mas, sim, uma imaturidade corporativa nos jovens profissionais, que, para não falharem, evitam se expor a grandes desafios. O que de fato falta não é competência, mas uma atitude madura dos profissionais novatos, que somente poderá ser desenvolvida mediante uma postura educadora por parte dos gestores veteranos. Maturidade não é ensinada, mas, sim, aprendida Foi Chris Argyris, professor de comportamento educacional e organizacional na Universidade de Harvard, que, em 1978, propôs o modelo de gestão baseado nos princípios de maturidade. O modelo é simples e considera que quanto maior a maturidade de uma pessoa, menor a necessidade de controle sobre ela, valendo também o oposto. O grande enigma desse modelo é identificar os mecanismos que contribuem para o desenvolvimento da maturidade, pois dessa forma o indivíduo teria maior autonomia para explorar seus talentos. Contudo temos um cenário que cria uma complexidade enorme para que isso aconteça como nas gerações anteriores. Já percebemos que a vida está, em muitos aspectos, mais fácil. As tecnologias ampliam o acesso a novas experiências que, antes, eram restritas a poucos privilegiados. Diariamente somos atropelados por um turbilhão de informações, sempre com novos cenários e novas possibilidades nos convidando e até nos obrigando a criar um novo olhar. Tudo é apresentado como novo e essa é a realidade mais vibrante que podemos usufruir, pois ela proporciona a percepção da juventude plena, intensa e frenética. Isso significa que ser jovem agora é, também, uma realidade dos adultos, que antes abandonavam a juventude quando descobriam as responsabilidades que as escolhas exigiam � agora já não é mais assim. O aumento na expectativa de vida transformou completamente esse cenário. Surge, assim, o �jovem adulto�. Agora todos queremos ser jovens, e fazemos escolhas que sustentem essa condição. Como ficam, então, os jovens de idade? Aqueles que ainda não viveram tantas situações e não dispõem de um grande arsenal de experiência? Esse é o grande desafio da atualidade, em que cinco gerações diferentes precisam conviver, alinhando valores, costumes e expectativas diversas. Nessa realidade, os principais atores são justamente os jovens das gerações Y e Z. Eles já percebem que as consequências de suas escolhas são absolutamente individuais e, por isso, devem se responsabilizar por cada decisão que tomam, afinal, eles estão ficando �adultos� também. Entretanto, essa transformação não é muito simples, pois os �adultos� de hoje persistem em continuar na juventude, provocando, com essa atitude, um efeito colateral, em que o próprio jovem adia a sua transição, mantendo o status anterior de adolescência. A principal consequência para esse cenário é a imaturidade que observamos nos profissionais. Falta engajamento com os projetos, competência técnica e, principalmente, visão estratégica com a própria carreira, reduzindo as expectativas profissionais a um conjunto de benefícios financeiros de curto prazo. Isso precisa mudar com urgência, afinal, são os jovens que devem comandar as transformações do mundo. Para que isso aconteça, precisamos que os �jovens adultos� se adaptem à singularidade do momento atual e transformem-se em mentores, promovendo e permitindo que os mais inexperientes possam enfrentar seus próprios desafios, ou seja, falhar e aprender com os seus erros. Só que isso exige uma nova leitura do cenário. Quando pesquiso o jovem de hoje, da geração Y e Z, sempre vejo referências inusitadas e até conflitantes. Dizem que essa é uma geração perdida no meio de tantas possibilidades que a realidade atual apresenta e, por isso, é incapaz de se aprofundar em algum tema. Contudo, talvez por causa de todo o �investimento� que foi feito, cobra-se que ela seja um sucesso de competência. Muitos imaginam que, só por ser da geração Y e Z, o jovem tem que ser, necessariamente, um talento. Isso é um engano terrível e só contribui para atrasar o desenvolvimento e a maturidade dele. Talento não é exclusividade de uma geração, muito menos uma capacidade que se alcança apenas por meio do acesso a tecnologia, infraestrutura ou recursos educacionais modernos. Há um fator decisivo para que um talento se manifeste: um mentor apostar no jovem e auxiliá-lo no desenvolvimento de seu potencial. Vivemos, porém, em um tempo em que os mentores são raros e nem sempre são conquistados pelos jovens. Na verdade, aqueles que poderiam ser mentores estão muito ocupados competindo com os próprios jovens por um lugar no mercado. Essa realidade é uma distorção do fluxo ideal para o desenvolvimento de pessoas talentosas, pois, quando um jovem não tem seu potencial identificado, não há apostas em suas capacidades e, consequentemente, não são apresentados a ele desafios que permitam desenvolver o próprio talento. O processo é muito simples: quando um mentor identifica um jovem e decide apostar em suas capacidades, ele direciona recursos e desafios para valorizar os resultados que podem ser alcançados. Para esse mentor, o jovem é um potencial. Tudo que decidir em relação ao jovem, terá o objetivo de desenvolver esse potencial para que se manifeste o talento, ou seja, é absolutamente prioritário desenvolver a maturidade para que os jovens consigam alcançar todo potencial que esperamos. Para que isso ocorra, o amadurecimento do indivíduo precisa contemplar algumas etapas: informação, disciplina, exemplo e conhecimento tácito. Entretanto, desenvolver o amadurecimento não é simples e precisa ser monitorado por um mentor, pois o cenário atual é relativamente hostil ao jovem, que se cobra e é cobrado o tempo todo para ser �um sucesso�. Tenho visto jovens absolutamente frustrados por não alcançarem seus sonhos rapidamente, considerando a falta de resultados magníficos como absoluto fracasso pessoal. Diante dessa realidade, buscam freneticamente novos caminhos, mudando suas escolhas diante de oportunidades superficiais, mas que apresentam possibilidades mínimas de satisfação. Essa atitude faz do jovem um indivíduo mais frágil e superficial em relação às próprias escolhas, tanto na vida profissional como na pessoal, fazendo com que demonstre indignação e paralisia diante do fracasso. O cenário, contudo, está se transformando, afinal, o jovem está aprendendo a superar o fracasso da mesma forma que as outras gerações tiveram que aprender � por meio das próprias cicatrizes. Buscar desafios e aprender a superá-los, mesmo com as frustrações e os fracassos inevitáveis, é como ganhar cicatrizes definitivas. Contudo, é importante lembrar que a felicidade intensa pode se realizar em pequenos ou grandes momentos, mas somente acontecerá se as escolhas estiverem revestidas de um propósito intenso. Nesse momento é fundamentala ação de um mentor que possa ajudá-lo a definir e identificar seu propósito. É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe. Epíteto 4 Sem repertório, sem conhecimento Só sei que nada sei Desde os tempos mais antigos a busca pelo conhecimento tem caracterizado a espécie humana. Nesse esforço, encontramos diversas formas de registrar e passar informações entre as gerações. Os mais antigos registros são conhecidos como �arte rupestre�, aqueles desenhos gravados ou traçado na rocha, tem datação de mais de 10 mil anos e até hoje pesquisadores realizam estudos e pesquisas para entender todos os significados que podem ser atribuídos às gravuras. Esse processo evoluiu muito até chegarmos à internet, em que milhões de informações fluem em frações de segundos pelo planeta. Contudo a trajetória não foi rápida! Foram necessários milhares de anos para que evoluíssemos nesse processo. Tivemos que desenvolver linguagens que pudessem ser decodificadas por outras pessoas, criar formas físicas para armazenar informações e ainda tivemos que aprender a abstrair e atribuir significado nesses registros para que tudo isso pudesse alcançar finalmente a condição de conhecimento. Um dos mais brilhantes períodos de conhecimento da nossa história é marcado pelos primeiros filósofos, que registraram em cartas e papiros, seus pensamentos ou suas conexões sobre as informações guardadas até então. Gosto muito da frase que resume bem esse período de incessante busca pelo conhecimento: �Só sei que nada sei� A frase, muitas vezes chamada de �paradoxo socrático�, é atribuída a uma narrativa de Platão sobre o filósofo Sócrates. Contudo, não há concordâncias sobre a veracidade dessa informação, apenas uma citação registrada na Apologia de Platão que diz: �Aquele homem acredita saber alguma coisa, sem sabê-la, enquanto eu, como não sei nada, também estou certo de não saber�. Nesses pequenos exemplos já podemos ter uma dimensão da complexidade do pensamento e do processo de transformar informações em conhecimento. Para realizar essa tarefa, usamos como modelo o próprio cérebro humano, que tem a capacidade de armazenar informações de forma estruturada, criando repertório, assim como pode fazer conexões entre essas informações para que elas resultem em conhecimento. O resultado desse processo interfere diretamente no desenvolvimento da maturidade de uma pessoa e representa uma das dimensões que deve ser analisada durante a mentoria. Repertório – Amplitude ou profundidade? Cada indivíduo possui uma incrível capacidade de armazenar informações em sua mente. Para isso, utiliza uma estrutura indexada de modo a facilitar a recuperação dos dados no momento em que são necessários. Quanto mais disciplina nesse processo de indexação, mais velocidade na recuperação das informações. Esse é o princípio que comanda o sistema de ensino nas escolas e universidades até os dias atuais. É muito comum vermos professores se empenhando em criar repertórios estruturados na cabeça de seus alunos, principalmente quando propõem a repetição das informações exaustivamente � até que elas estejam bem �gravadas�. Como se apenas o fato de ter uma informação decorada na mente garantisse algo da mera repetição. Devemos considerar que formamos nosso repertório de duas formas: a primeira é de natureza externa, como aulas assistidas, leituras diversas, filmes e áudios acessados, ou seja, toda e qualquer informação que seja transmitida de forma estruturada e captada por nós. Esses dados ficam armazenados de acordo com a importância que damos a eles no momento da captura. Com o tempo, se não utilizamos esses dados, outros acabam recebendo a prioridade e, eventualmente, esse tipo de informação se perde em nossa mente. A segunda é de natureza interna e tem uma forma menos estruturada de armazenamento, pois refere-se a dados guardados a partir das conclusões que formamos a respeito de nossas experiências, ou seja, são informações constantemente reavaliadas e até alteradas, por isso não podem estar em uma estrutura rígida. Elas surgem quando fazemos nossas escolhas, quando somos confrontados com as suas consequências e como avaliamos esses resultados, que no final, formam um conjunto de informações que fica armazenado na forma de premissas, valores e conceitos. Esses dados são utilizados frequentemente, pois refletem os nossos referenciais para tomada de novas decisões, por isso, com o tempo, percebemos que as informações de natureza interna acabam formando um conjunto de comportamentos que caracterizam o indivíduo. Entretanto, a crescente busca por informações criou a necessidade do desenvolvimento de soluções que pudessem auxiliar no acúmulo cada vez maior de dados. Surgiu assim o cérebro digital e, para criá-lo, nossa estrutura cerebral serviu de inspiração para o desenvolvimento de um mecanismo que reproduzisse nossa forma de montar e manter nossos repertórios de informações. Para que pudéssemos acessá-lo desenvolvemos a linguagem binária, e isso nos permitiu guardar e acessar dados de uma maneira incrivelmente rápida, alterando todo o processo de evolução da sociedade nos últimos sessenta anos. Quando surgiu a internet, conectando todas as bases de dados pelo planeta, a ampliação dos repertórios de dados de uma forma exponencial permitiu que toda informação produzida pudesse ser acessada instantaneamente por qualquer indivíduo. E isso provocou muitas mudanças no desenvolvimento do repertório pessoal. As pessoas passaram a contar com a tecnologia na estruturação de todo seu repertório de natureza externa, evitando acumular em sua mente, informações mais detalhadas sobre qualquer assunto, afinal qualquer dado pode ser acessado pela internet. Como resultado, o cenário atual é um pouco surreal, pois agora estamos privilegiando mais a quantidade e menos a qualidade dos temas. Podemos afirmar que atualmente, todos nós estamos nos tornando mais superficiais em nossos repertórios, contando apenas com nosso repertório de natureza interna para fazer escolhas. Conexões – ligando os pontos Ter um repertório com informações de qualidade é condição direta para criar o conhecimento, pois ele é resultado das conexões que fazemos entre os dados que temos. Não adianta ter um dado e não saber conectá-lo a outro que produza algum tipo de resultado ou permita uma escolha assertiva. Você talvez desconfie que isso não aconteça com facilidade, afinal pode acreditar que todas as informações que tem em sua mente fazem sentido para você. Contudo, isso não é totalmente verdade. Durante nossa vida, acumulamos diversas informações que acabam sendo inúteis para nós, principalmente aquelas que não utilizamos de forma alguma. Gosto de citar um exemplo: Você consegue pensar na raiz quadrada dos números 9, 16 e 25? Se você frequentou o colégio regularmente, há uma enorme chance de você ter se lembrado das respostas para essa questão aritmética. Os números 3, 4 e 5 saltaram instantaneamente como resposta sua mente, talvez você até tenha ficado um pouco orgulhoso por ter se lembrado tão rapidamente. De qualquer forma, gostaria que respondesse agora, para que serve a raiz quadrada? Creio que a resposta não virá tão rapidamente, a menos que você seja engenheiro ou matemático. Isso acontece porque você nunca precisou conectar a informação dos números com a aplicação prática da ferramenta de cálculo conhecida como raiz quadrada, ou seja, você mantém uma informação em seu repertório, mas não a conecta a nenhuma outra informação. Na prática, para você, é uma informação que não se transforma em conhecimento, está apenas armazenada. Para conectar as informações é preciso ter uma atitude ativa, buscando entender os significados associados, os padrões reconhecidos em situações similares ou em possíveis ligações entre dados diferentes. E isso não é muito simples, pois requer um esforço mental para avaliar de maneira lógica todas aspossíveis conexões, identificando pontos positivos e negativos que façam sentido racional e usando até a intuição para conectar o que, muitas vezes, não faça sentido. Ligar os pontos não está diretamente associado à quantidade de dados que um indivíduo tem em seu repertório pessoal, mas é condição essencial ter dados de boa qualidade, caso contrário, as conexões serão sempre limitadas. Não é difícil encontrar casos de pessoas que reconhecidamente não possuíam um grande repertório acadêmico, mas que promoveram grandes realizações por causa de sua notável capacidade de conexão, principalmente entre pessoas e entre informações. O perfil do conhecedor Quando avaliamos a maturidade resultante dessa dimensão, encontramos algumas possibilidades de perfil que demanda um tipo de ação do mentor. Um perfil simples de identificar é o prático, percebido como um indivíduo de baixo repertório externo � aquele estruturado e acadêmico � e com alta capacidade de conexão. Normalmente, ele é uma pessoa de ações e atividades, contudo, não é raro ele ter pouco entendimento dos fatos que o levaram a alcançar o resultado, e isso pode comprometer ações mais planejadas e de longo prazo. No campo oposto é possível identificar o indivíduo teórico, que possui um reconhecido repertório acadêmico, mas que não tem muita habilidade ou capacidade de realizar conexões. Algumas vezes isso não acontece não porque ele não quer, mas, sim, porque prioriza sempre a ampliação de seu repertório e não a aplicação prática dos dados em sua mente. É importante observar que as novas tecnologias e a mudança nos comportamentos educacionais alteraram completamente a forma de construção dos repertórios. Se antes nos preocupávamos em ampliar nosso repertório externo com estudos, leituras etc., agora temos instrumentos que realizam essa tarefa para nós. Os aparelhos celulares, com capacidade de armazenamento de dados estruturados, desde textos e informações até registros de imagens e filmes, associados à capacidade de acesso de velocidade e a quase ilimitada capacidade de armazenamento, tornaram-se uma extensão de nosso repertório. Na verdade, se avaliarmos com mais atenção, veremos que praticamente não precisamos mais nos preocupar em desenvolver um repertório estruturado, armazenando informações em nosso cérebro, pois a informação sempre estará à disposição, basta ter o smartphone e uma conexão com a internet ao alcance das mãos. Quando isso ocorre, percebemos que temos apenas o repertório interno � aquele que formamos a partir de nossas experiências pessoais � para realizar nossas conexões, pois caso tenhamos a necessidade de completar o conhecimento com algum dado externo, certamente estaremos dependentes do auxílio do equipamento e da internet, onde de fato, os dados estão armazenados. Temos que ser verdadeiros indexadores de endereços. É nesse momento que vemos a necessidade intensa de atuação do mentor, pois as novas gerações de jovens foram pouco expostas às experiências que pudessem ajudar a construir um repertório interno mais rico. Conjugando essa condição com a questão do repertório externo mais superficial, identificamos um perfil mais limitado em conhecimento, que afeta diretamente o desenvolvimento da maturidade nessa dimensão. Se você encontrar um caminho sem obstáculos, ele provavelmente não leva a lugar nenhum. Frank Clark 5 A regra é clara Disciplina ajuda no desempenho? Nos primeiros momentos que percebemos nossa existência como indivíduos, entendemos também que há regras que determinam todos os procedimentos que precisaremos adotar para interagir com as coisas à nossa volta. Tudo segue uma disciplina, uma norma, um processo � e isso não é ruim, pois significa que temos na disciplina um poderoso instrumento para nos ajudar em nosso desenvolvimento. O método científico, responsável pelo incrível avanço intelectual da humanidade nos últimos trezentos anos, está baseado justamente na observação dos padrões das coisas. Quando observamos algo que �não conhecemos�, imediatamente buscamos identificar o processo para que faça sentindo, caso contrário, rejeitamos esse conhecimento. Temos regras, inclusive, para nossas ações mais pessoais. Se você não consegue identificar isso claramente, observe que quando coloca um sapato, quase sempre começa pelo mesmo pé, ou então quando escova os dentes veja que sempre começa pelo mesmo lado da boca. Por que fazemos assim? O ser humano é absolutamente fantástico nessa questão. Somos uma espécie que ganha desempenho quando repetimos uma atividade. Quanto mais repetição, mais rapidez e mais qualidade. Quando buscamos um melhor resultado, essa regra pode ser aplicada com segurança. Buscamos alcançar, por meio das normas, a melhor forma de otimizar o uso de nossos recursos. Quanto mais padronizado, mais produtivo será um processo. Essa teoria foi fundamental para o surgimento da Era Industrial e está absolutamente enraizada nos conceitos da produção em série. Claro que o alcance do resultado esperado com as regras está diretamente relacionado à aderência das pessoas que estão envolvidas no processo. Sem isso, o processo simplesmente não acontece. Não adianta nada estabelecer um conjunto de regras que não são cumpridas. Vemos isso em dezenas de leis que existem no Brasil, mas que não servem para nada. Isso acontece porque todas as regras têm limitações e jamais conseguirão contemplar todos os aspectos de um processo. Além disso, as regras perdem sua validade e eficiência com o tempo, por isso é necessário sempre buscar inovações, ou seja, novas regras. Atualmente, com as informações fluindo de forma instantânea e sem fronteiras, é possível ver que grande parte das regras são rapidamente substituídas por outras, pois sempre surgem novos referenciais que desafiam a validade das normas vigentes. Todos os dias, vemos inovações que nos surpreendem com possibilidades de melhorar algo que já é ótimo. Esse conceito é a essência que comanda todo avanço tecnológico que observamos nos últimos 25 anos. Podemos concluir que agora é o tempo da inovação, mas isso não significa que todas as pessoas estão constantemente pensando em alguma forma nova de fazer as coisas. Na verdade, grande parte dos indivíduos prefere reagir diante de novas regras, posicionando-se de forma mais cética diante dos possíveis ganhos propostos pela inovação, afinal, quando uma regra alcança um conjunto de resultados positivos, é muito difícil se desapegar, pois se transformaram em costumes que geram segurança. Algo que é bem refletido na frase popular: �Em time que está ganhando não se mexe!� O mais interessante nisso tudo é que cada pessoa tem um perfil diferente e cabe ao mentor entender e ajudar o mentorado a identificar essa condição para extrair o melhor aprendizado que a disciplina pode proporcionar, pois o amadurecimento nessa dimensão será alcançado pela aderência às regras vigentes e pela atitude diante de novas regras. Normas – cumprir ou não cumprir? A atitude do indivíduo diante das regras é muito relativa. Cada um se posiciona de acordo com seus interesses, ou seja, quanto mais a norma contemplar as expectativas pessoais, maior será a aderência. Isso pode parecer meio infantil em termos de atitude, mas é importante lembrar que não aceitamos com facilidade algo que nos atinge de forma negativa. Quando as circunstâncias nos impõe algo assim, reagimos imediatamente, buscando alguma alternativa que contemple nossos interesses. Quando agimos dessa maneira, somos considerados rebeldes, pois rejeitamos as regras e propomos novos caminhos, independentemente de eles atenderem os princípios que deram origem às próprias regras que contestamos. Quando entendemos que a regra atende os nossos interesses, escolhemos uma atitude mais conservadora, adotando o processo da forma estabelecida. Nesse caso, somente reagiremos se alguma coisa não funcionar como esperado. Não é um problema adotarqualquer um desses perfis e, de fato, oscilamos entre eles o tempo todo, pois cada situação, cada regra, exige nosso posicionamento. Obviamente, grande parte das vezes, esperamos que as pessoas com quem interagimos, sejam mais conservadoras e menos rebeldes, ou seja, esperamos que elas cumpram o que está estabelecido na regra. Um exemplo é pensar que tipo de perfil você gostaria de ver no piloto do avião que você está embarcando, ou então que tipo de dentista você prefere que faça o seu tratamento de canal? No entanto, como estamos diante de um mundo em constante transformação, parece que agora o mais bacana é contestar as regras, �sair da caixa�, ser um inovador. Temos estimulado isso constantemente. Gestores exigem essa postura mais �rebelde� de seus colaboradores, pois a empresa precisa de resultados melhores sempre, mas isso não pode acontecer de forma arriscada. Segundo os gestores, é preciso inovar, mas seguindo as regras atuais. É nesse momento que vemos a pressão por mais resultados criando uma condição de insatisfação muito grande, pois temos que alcançar melhores resultados, fazendo as coisas da mesma maneira, e isso é quase insano, como diz a frase atribuída a Albert Einstein e também a Rita Mae Brown: �A definição de insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes�. Como mentores, precisamos estimular a maturidade por meio da disciplina por um caminho diferente. Se identificamos um perfil mais rebelde, devemos ampliar a percepção do mentorado sobre o propósito das regras a que ele está submetido. Refletindo com ele sobre o entendimento do objetivos e resultados que as regras buscam contemplar. Quando estamos diante de um perfil mais conservador, devemos avaliar as expectativas e os interesses do mentorado e, quando ele manifesta algum sinal de insatisfação, podemos estimular uma atitude mais ativa na proposição de novos caminhos. É junto dos �bão� que a gente fica �mió�. Guimarães Rosa 6 Você sempre será uma referência #tamujunto? Quando pensamos em exemplos, logo imaginamos uma série de situações que servem de referências para nós. Para cada situação estabelecemos um julgamento e nos posicionamos, muitas vezes aderindo e repetindo o exemplo completamente, pois de certo modo o aprovamos. Outras vezes rejeitamos a situação de tal maneira, que agimos de forma oposta. Consideramos nesse caso um antiexemplo. Construímos nossas referências de duas formas: uma baseada nas influências que recebemos da coletividade em que estamos inseridos. Os comportamentos que as pessoas adotam quando estão interagindo em grupo exercem uma grande pressão sobre nós, podendo alterar completamente nosso próprio comportamento. Conhecemos isso como cultura e são visíveis tanto nos costumes de uma nação, como também nos mais pequenos e simples agrupamentos sociais. A outra forma de construirmos nossas referências é baseada no impacto de pessoas que escolhemos observar por diversos motivos, como admiração e inspiração. Essa observação é mais sútil e complexa, pois temos que identificar a expertise daquele que será nosso referencial, pois somente assim teremos condições de extrair alguma influência que possa representar um aproveitamento positivo para nosso desenvolvimento. Observando a cultura, vemos que muitas vezes, somos reféns de comportamentos sociais e aderimos a eles principalmente como forma de estabelecer uma conexão com as demais pessoas, em outras palavras, como forma de sermos aceitos na sociedade que escolhemos viver. A influência nesses momentos é de uma magnitude incrível. Chegamos a aderir os comportamentos do grupo até mesmo sem perceber. Uma das situações mais comuns desse tipo de influência acontece em nossa vida profissional, aquele momento em que nos inserimos em um ambiente de trabalho. A convivência social é tão intensa nesse caso que, quando nos damos conta, estamos nos vestindo e usando o vocabulário característico do grupo. Outro ambiente onde é muito fácil observar essa realidade é em estádios de futebol, que com sua grande concentração humana nos leva a adotar uma postura que talvez jamais teríamos em um outro ambiente, principalmente quando se trata de seguir o exemplo e falar �palavrões� para o juiz ou para os jogadores do time adversário. Claro que podemos optar por não aderir essas influências simplesmente nos afastando. Contudo, se tentamos permanecer no grupo de forma mais isenta e discreta, percebemos que somos excluídos espontaneamente, já que dificilmente deixamos de demostrar nosso incômodo com o comportamento do grupo. Olhando o truque, e não o mágico Durante nossa vida, somos influenciados por muitas pessoas. Algumas tem um impacto maior e são capazes de alterar profundamente nossas escolhas, ajudando a definir inclusive o que nos tornamos. São exemplos e modelos de vida. Aquelas pessoas que admiramos de uma forma especial, pois elas têm nosso respeito, nossa confiança e nossa total atenção. Essa forte influência acontece porque nos expomos de forma mais aberta, sem preconceitos. Nossa relação com quem escolhemos, como exemplo normalmente é muito intensa e pode até chegar à condição de veneração, mas aí o efeito é negativo e não se alcança o desenvolvimento pessoal. O mais comum é observarmos atentamente a expertise da pessoa que admiramos. Ficar atento à expertise de uma pessoa é como observar um mágico em ação. Quando vemos o truque ser realizado, queremos saber qual é o segredo, mas isso tem uma cerimônia. Se o mágico contar o segredo, ele perde a graça e desprezamos a expertise, agora se descobrirmos o �truque�, imediatamente tentamos incorporar a expertise ao nosso comportamento, buscando a primeira oportunidade de repetir o exemplo. Todos nós temos nossos �truques� e gostamos de mantê-los guardados para usar somente em momentos muito específicos, assim nos sentimos reconhecidos por estar fazendo algo de uma forma especial. Com as pessoas que são nossos exemplos não é diferente, assim como acontece com um mágico, é muito difícil descobrir os �truques�, pois eles estão muito bem protegidos. Estar aberto aos exemplos, sejam individuais ou coletivos, estabelece uma relação muito intensa com a maturidade, mas para isso é preciso entender que podemos extrair algo de tudo que nos impacta. Quando não estamos atentos a isso, temos poucas oportunidades de desenvolvimento. As posturas decorrentes dos exemplos que observamos são antagônicas, pois refletem diferentes dimensões pelas quais as pessoas admitem serem influenciadas. Quando um indivíduo não adere prontamente a cultura do meio em que está, mas presta muita atenção na expertise das pessoas-chave nesse grupo, ele normalmente tem uma postura mais incomodada, ou seja, extrai pouco da influência do grupo para sua maturidade, mas guarda boas influências de alguns indivíduos. Essa postura não se sustenta por muito tempo, afinal ninguém gosta de estar incomodado e muito menos incomodando alguém, ainda mais um grupo. Uma postura mais passiva acontece quando a pessoa adere muito a cultura do grupo, mas deixa passar completamente a expertise de pessoas-chave, aquelas que são referenciais para o próprio grupo. Nesse caso, o indivíduo prefere apenas ser o executor de suas tarefas, priorizando a sua aceitação pelo grupo. Quando o mentor identifica uma baixa aderência à cultura e também uma baixa atenção à expertise, ele está diante de um crítico. Alguém que é capaz de passar por diversos exemplos, sem que consiga absorver qualquer elemento que o ajude no desenvolvimento de sua maturidade. O mentor precisa ajustar sua atuação de modo que estimule o mentorado a adotar uma postura mais aderente às influências de seu grupo, questionando sobre os possíveis aprendizados que pode extrair na experiência e os propósitos e as razões que comandam as manifestações observadas. Somente assim ele poderá extrair elementos que contribuem para sua maturidade social.Além disso, o mentor precisa se perceber como um referencial para seu mentorado e, pensando em estimular a atenção à expertise, pode e deve apresentar os próprios referenciais que possui � quem são seus modelos, seus exemplos? Assim pode estabelecer um modelo de atuação que permita ao mentorado desenvolver a sua própria expertise. O homem que a dor não educou será sempre uma criança. N. Tommaseo 7 O poder das cicatrizes Tomando choques Quando alcançamos a dimensão do conhecimento tácito no processo de maturidade, significa que já reunimos todas as instruções em nosso repertório, entendemos todos os procedimentos e já estabelecemos os referenciais que julgamos adequados para nossa análise dos riscos envolvidos em uma ação, cabe portanto finalizar esse processo e usufruir do que será conhecido como experiência. Seria ótimo se cada vez que tivéssemos que adquirir uma experiência, tudo acontecesse exatamente dessa forma, com tempo para que cada etapa fosse devidamente explorada, com o objetivo de permitir um conhecimento tácito sólido, mas isso é muito raro de se obter. Vivemos em uma realidade muito mais dinâmica e onde os acontecimentos surgem independentes em cada uma das dimensões. Algumas vezes, o conhecimento tácito acontece sem que as informações, os processos e os exemplos estejam presentes � na verdade eles ocorrem como consequência do próprio resultado alcançado na dimensão tácita. Dizemos que é aquele tipo de conhecimento que se adquire com a experiência pessoal e que dificilmente pode ser ensinado. Um bom exemplo é aquilo que sabemos sobre �choques elétricos�. Se tivéssemos que adquirir esse conhecimento por um processo estruturado, provavelmente teríamos que ter em nosso repertório a seguinte informação: �Choque elétrico é o desconforto provocado pela corrente elétrica quando esta passa pelo corpo humano�. Além disso, deveríamos tomar conhecimento das regras sobre a relação entre a corrente elétrica e o corpo humano e, ainda, identificar alguém que estivesse estabelecendo essa relação para avaliarmos o que acontece e somente assim tomarmos uma decisão. Na prática, aceleramos toda a estrutura de maturidade quando decidimos apenas colocar o �dedo na tomada�, pois a partir do evento, descobrimos todas as informações sobre o desconforto que choques elétricos provocam, entendemos rudimentarmente que há uma regra simples que estabelece que �dedo na tomada dá choque� e ainda criamos um poderoso referencial por meio do próprio exemplo. Tudo aconteceu em frações de segundos e, a partir da experiência, um novo conjunto de informações está depositado em nosso repertório, auxiliando-nos nas próximas situações semelhantes. Descrever assim uma situação tão corriqueira pode parecer cômico, mas é exatamente o que acontece na dimensão tácita. Podemos dizer que amadurecemos por meio de nossas cicatrizes � só que isso não é uma decisão que tomamos espontaneamente. Ninguém se aventura em uma experiência sem dimensionar os riscos envolvidos. Além disso, sempre procuramos estabelecer uma estratégia para garantir os resultados que almejamos. É nesse momento que vacilamos em nossa maturidade� Em muitas circunstâncias � talvez a maioria � ganhamos nossas cicatrizes em escolhas que provocaram falhas e resultados negativos. Quem não tem uma cicatriz de corte ou queimadura, conquistada enquanto corria onde não podia ou brincava com fogo? Nossa vida também nos impõe aquelas cicatrizes que não deixam marcas no corpo, mas, sim, na mente e no coração. Todas são resultados de nossas escolhas e contribuem de maneira fundamental e formam a nossa personalidade, nosso caráter. Parece estranho que para ter maturidade também devemos ter cicatrizes. Não gostamos de marcas, quase sempre procuramos esconder, disfarçar ou mesmo eliminar qualquer marca que ficou registrada em nossas vidas. O fato é que todas estas marcas trazem lembranças, muitas delas amargas de dores que sentimos. Por isso há o desejo de manter distância, ou mesmo ignorar a existência das cicatrizes. Nos dias atuais, essa etapa vem sendo afetada negativamente, pois envolve as possíveis falhas e isso não é fácil de se admitir em um cenário que privilegia o foco em resultados. Dificilmente encontramos uma situação em que a falha é aceita e considerada parte do processo. O mais comum é evitarmos os riscos e tentarmos planejar todo o processo antes mesmo que ele se inicie. Essa filosofia afeta principalmente os mais jovens, que são pressionados a ser sempre um sucesso. Na perspectiva atual, as falhas são punidas com rigor e a única possibilidade aceita é a vitória. A baixa tolerância ao fracasso e às perdas tem como consequência o adiamento de escolhas, ou seja, evita-se correr riscos que possam deixar cicatrizes. É um processo contínuo que provoca a distorção no desenvolvimento e amadurecimento dos jovens. É nesse momento que a atuação do mentor é fundamental. Não para evitar que o jovem falhe, mas, sim, para exercer uma influência positiva que possibilite ao mentorado um aprendizado com as consequências das suas escolhas. Planejar ou improvisar? Estabelecer uma estratégia para as situações a que escolhemos nos expor exige um posicionamento pessoal intenso, pois seja qual for o resultado, ele irá nos afetar. Isso dá a dimensão do que conhecemos como protagonismo e cada pessoa adota um perfil distinto para sua realidade de vida. A palavra protagonismo tem origem no latim protos (principal, primeiro) e agonistes (lutador, competidor). Isso significa que devemos ser os primeiros a lutar por nossos interesses. Por isso não precisamos elaborar muitas reflexões, para concluir que ser protagonista é ser o personagem principal de sua vida. Existem algumas formas de protagonismo que podemos adotar, considerando que cada situação exige sempre uma avaliação de riscos e uma estratégia de ação. O mais previsível é o protagonismo planejador, quando avaliamos a situação como de elevado risco e, portanto, nos expomos menos, além de realizarmos um amplo levantamento de possíveis consequências e estabelecermos prováveis escolhas para os eventuais problemas, ou seja, fazemos muitos planos. Uma forma de antiprotagonismo é quando adotamos a postura reativa, isto é, consideramos todas as situações como de alto risco e não nos expomos. Como entendemos que estamos �protegidos� por não nos expormos, também não elaboramos planos, pois não consideramos necessário. Atualmente temos encontrado também, um tipo de protagonismo muito peculiar, que é o inconveniente, caracterizado por uma postura de alta exposição aos riscos, mas sem uma estratégia muito planejada. Algumas pessoas se orgulham inclusive de agir assim, acreditando estar demonstrando ousadia e segurança para lidar com as consequências. Nessa dimensão, o mentor precisa desenvolver em si mesmo o domínio, pois é o momento mais desafiador para quem quer desenvolver a maturidade de outra pessoa. Esse é o momento que potencialmente gera a cicatriz e, se a relação do mentor com o mentorado é intensa, há uma enorme pressão para que o mentor queira proteger seu mentorado. Uma situação que reflete bem esse momento é aquela que podemos experimentar quando estamos ensinando uma criança a andar de bicicleta. Se considerarmos todas as etapas da maturidade que a criança precisa ter para desenvolver essa habilidade, veremos que, em algum momento, agiremos como instrutores, passando todas as informações sobre a bicicleta e seu funcionamento. Em outro momento, agiremos como coach e treinaremos a criança, por meio de atividades regulares, provavelmente utilizando a proteção de �rodinhas de apoio�, buscando desenvolver as competências na arte de andar de bicicleta. Neste exemplo, o momento da mentoria é quando temos que �soltar a mão do banco�, permitindo que a criança tenha a oportunidade de andar com total autonomia, correndo, evidentemente, o risco de cair. O desafio de �abrir mão�
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