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31/03/2022 1 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO AULA 14 Professor: Marcelo Uchôa 1 UNIDADE V ESTADO – Parte III SINOPSE • Direitos dos Estados: direitos fundamentais; • Restrições aos direitos fundamentais; • Deveres dos Estados; • Princípios do Estado brasileiro; • Responsabilidade dos Estados. 2 Direitos e deveres estatais • Sejam ou não reconhecidos como grandes potências, em tese, os Estados integram a Sociedade Internacional no mesmo plano jurídico, usufruindo, em igualdade de condições, direitos e deveres. É o que consagra, p. EX., em seu texto, a Carta da OEA de 1948: “Art. 10. Os Estados são juridicamente iguais, desfrutam de iguais direitos e de igual capacidade para exercê-los, e têm deveres iguais. Os direitos de cada um não dependem do poder de que dispõem para assegurar o seu exercício, mas sim do simples fato da sua existência como personalidade jurídica internacional”. 1 2 3 31/03/2022 2 Direitos estatais A primeira categoria de direitos estatais são os direitos fundamentais dos Estados, os quais remontam apreciação jurídico-filosófica ao período de Hugo Grotius. Atualmente, são reconhecidos tanto pela Carta de constituição da ONU, como pela Carta correspondente da OEA. Os direitos fundamentais estatais são imanentes aos Estados. Seu usufruto decorre tão-somente do fato dos Estados existirem. Não se tratam, individualmente, de direitos absolutos. Somados, entretanto, formam um conjunto integrado e interdependente, considerado absoluto enquanto sistema de garantias jurídicas. Em função disso, teoricamente, devem gozar de máxima eficácia possível. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 4 Direitos fundamentais dos Estados • Os direitos fundamentais estatais têm como base o direito à existência. Dessa circunstância derivam: a) Direito de conservação; b) Direito de defesa; c) Direito de liberdade; d) Direito à soberania; e) Direito à igualdade; f) Direito de legação; g) Direito ao comércio internacional. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 5 Direitos fundamentais dos Estados O direito de conservação foi proclamado em 1916, em Washington, pelo Instituto Americano de Direito Internacional, no Art. 1º da Declaração dos Direitos e Deveres das Nações (ROOT, p.212) : “Art. 1. Toda nação tem o direito de existir, proteger e conservar sua existência; mas este direito não implica o direito nem justifica o ato do estado para se proteger ou para conservar sua existência pela prática de atos ilícitos contra Estados inocentes e não ofensivos.”. (Tradução livre) Em função do direito à conservação são tuteladas a memória, a cultura e a autodeterminação do Estado. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 6 4 5 6 31/03/2022 3 Direitos fundamentais dos Estados • O direito de conservação está intimamente ligado ao direito de defesa, segundo o qual o Estado poderá tomar todas as medidas necessárias para defender a segurança nacional: construir fortificações, realizar treinamentos de guerra, expulsar estrangeiros perigosos e nocivos, proibir o trânsito de material bélico pelo interior do Estado, organizar tribunais internos, celebrar tratados de aliança e assistência mútuas, etc. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 7 Direitos fundamentais dos Estados O corolário do direito à liberdade pressupõe que nenhum Estado pode ser considerado como tal se não puder atuar com independência no cenário internacional, afastadas quaisquer interferências externas. Segundo o art. 2º da Declaração citada aprovada no American Institute of International Law: “Art.2. Toda nação tem direito à independência no sentido de que tem direito à busca da felicidade e está livre para se desenvolver sem interferência ou controle de outros estados, desde que, ao fazê-lo, não interfira ou viole os direitos de outros estados”. (Tradução livre) Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 8 Direitos fundamentais dos Estados • O direito à soberania, segundo já visto, está vinculado ao direito que o Estado dispõe de se autogovernar internamente (escolher sua forma regime de governo, legislar, exercer jurisdição, etc.) e externamente (igualdade jurídica, celebrar tratados, enviar e receber representantes diplomáticos, participar de organizações internacionais, protestar junto a órgãos internacionais, etc.) Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 9 7 8 9 31/03/2022 4 Direitos fundamentais dos Estados O direito à liberdade e à soberania externa decorrem do direito à igualdade. Tal direito encontra-se consagrado nos mais variados diplomas internacionais, vide o art. 3º da supra citada Declaration of the Rights and Duties of Nations de 1916: “Art. 3. Toda nação é em lei e perante a lei igual a todas as outras nações pertencentes à sociedade das nações...” Tal ideário foi inserido no art. 2.1 da Carta da ONU (1945): “Art.2.1. A Organização é baseada no princípio da igualdade soberana de todos os seus membros””. 10 Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa Direitos fundamentais dos Estados A Resolução AG/ONU 2625 (Art. XXV), de 1970, que aprovou a Declaração sobre os Princípios de Direito Internacional Referentes à Amizade e Cooperação entre os Estados em conformidade com a Carta das Nações Unidas, proclamou, dentre os princípios incluídos no item 1, o princípio da igualdade soberana, o que fez nos termos: “Todos os Estados gozam de igualdade soberana. Têm iguais direitos e iguais deveres e são igualmente membros da comunidade internacional, em que pese as diferenças de ordem econômica, social, política ou de outra índole”. (Tradução livre) Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 11 Direitos fundamentais dos Estados Grande problema que surge para o Direito Internacional em relação ao direito à igualdade é a parcimônia com a coexistência de uma igualdade jurídica e uma desigualdade de fato entre os Estados, especialmente devido às suas diferentes características econômicas. A relação é tão desigual, que repercute sobre a composição de certos órgãos da própria ONU, como o Conselho de Segurança, os bancos internacionais, etc. Não sem razão assinala MAZZUOLI (p. 563): “A proteção deve voltar-se aos Estados situados à margem das chamadas Grandes Potências (expressão que também não encontra uma conceituação científica em Direito Internacional Público até o presente momento), de que são exemplos os Estados – mais ricos do mundo – pertencentes ao chamado G7/G8”. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 12 10 11 12 31/03/2022 5 Direitos fundamentais dos Estados O direito de legação é o direito do Estado de enviar, manter e receber diplomatas a outros Estados. Trata-se de uma prerrogativa específica das pessoas de direito internacional público, como Estados os soberanos, as organizações internacionais, as entidades vinculadas a ordens religiosas, etc. A legação ativa diz respeito ao envio de representantes ao estrangeiro. Já a legação passiva relaciona-se com à faculdade de recebê-los. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 13 Direitos fundamentais dos Estados O direito de legação vincula-se aos princípios da igualdade jurídica e da soberania estatais. Por isso, está condicionado ao consentimento mútuo, podendo ser exercido por Estados soberanos. Excepcionalmente, pode ser exercido por entidades afins aos Estados (p. Ex., infraestatais como colônias), desde que com a permissão do Estado ao qual se vinculam (suseranos). 14 Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa Direitos fundamentais dos Estados Apesar do direito ao comércio internacional ser uma faculdade e não uma obrigação do Estado, ele está incluído dentre os direitos estatais fundamentais por ser impossível, dada a ordem econômica contemporânea, alcançar desenvolvimento econômico sem o exercício de relações comerciais externas. Odireito à liberdade de comércio está consorciado ao de igualdade de tratamento entre os Estados. Do ponto de vista histórico, o comércio sempre foi o elo de ligação entre um Estado e outro. O direito fundamental ao comércio, por sua vez, foi um dos primeiros direitos fundamentais requeridos aos Estados, sendo fortemente teorizado a partir de Hugo Grotius (comércio marítimo). Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 15 13 14 15 31/03/2022 6 Restrições aos direitos fundamentais Segundo o Art. 12 da Carta da OEA: “Os direitos fundamentais dos Estados não podem ser restringidos de maneira alguma.” Contudo, não sendo os direitos fundamentais individualmente absolutos, na prática, podem sofrer restrições, muitas delas sobre o exercício de sua soberania, com endosso do Direito Internacional. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 16 Restrições aos direitos fundamentais • Servidões negativas ou apositivas (P. Ex., proibição de passagem aérea, ou de realização de exercícios militares em determinado lugar; determinação de abrir passagem no próprio território para exército estrangeiro) • Condomínio (P. Ex., entre 1898 e 1956 o antigo Sudão foi administrado condominialmente pela Grã-Bretanha e o Egito) • Garantias internacionais (P. Ex., após a guerra Franco-Prussiana, por imposição do Tratado de Frankfurt, de 1871, a França foi obrigada a permitir, em garantia, a ocupação militar de partes de seu território pela Prússia (atual Alemanha), até a quitação de uma altíssima indenização. Além disso, teve que entregar à Prússia, os territórios da Alsácia e da Lorena); Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 17 Restrições aos direitos fundamentais • Cessão territorial (a soberania de jurisdição sobre determinada parte do território é totalmente disponibilizada. P. Ex., entre 1949 e 1999, a soberania do Canal do Panamá foi cedida aos EUA); • Arrendamento de território (neste caso, não se entrega a soberania plena sobre o território, apenas cede-se parte da soberania para exercício de competências administrativas. P. Ex., Entre 1898 e 1997, Hong Kong, apesar de ser chinesa foi arrendada à Grã-Bretanha; Desde 1903, Guantánamo está arrendada por Cuba aos EUA. Em 1934, o arrendamento passou a ser por tempo indeterminado e mediante o pagamento do valor anual de 4 mil dólares anuais); Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 18 16 17 18 31/03/2022 7 Restrições aos direitos fundamentais • Neutralidade estatal permanente (P. Ex., a Suíça, a partir de 1815, e o Vaticano, em 1929); • Neutralização temporária de território (P. Ex., segundo o Plano de Partilha da Palestina pela AG da ONU, de 1947, Jerusalém ficaria sob controle internacional por uma década, até 1957, quando deveria submeter-se a plebiscito para decidir sua condição); • Imunidade de jurisdição (P. Ex., as que são concedidas aos diplomatas em geral). Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 19 Deveres dos Estados • A literatura qualifica os DEVERES DOS ESTADOS em morais ou jurídicos: Os deveres morais derivam de imperativos éticos baseados em princípios de cortesia, humanidade, equidade, palavra, cujo cumprimento não pode ser exigido coercitivamente pelo Direito Internacional. Devido ao fator não coercibilidade têm sido foco de apreciação constante de organizações internacionais para fins de positivação. Os deveres jurídicos decorrem de tratados, costumes internacionais, normas outras de Direito Internacional, de modo que são obrigatórios e passíveis de exigência coercitiva pelo Direito Internacional. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 20 Deveres dos Estados • São exemplos de deveres morais: a) Socorro e colaboração em situações de calamidades naturais e momentos de inquietação político-social; b) Salvamentos marítimos em caso de sinistros seja em águas territoriais ou em alto-mar; c) Concessão de abrigo em portos e aeroportos a embarcações de bandeiras estrangeiras, em casos de acidentes, danos mecânicos, etc.; d) Apoio em questões de caráter humanitário em geral, em tempos de paz ou guerra; Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 21 19 20 21 31/03/2022 8 Deveres dos Estados e) Providência de medidas sanitárias visando evitar o risco de propagação de enfermidades; f) Assistência financeira a Estados mais necessitados; g) Assistência e cooperação em matérias judiciárias civis e criminais, com promoção de medidas contra o crime; h) Participação em missões internacionais estipuladas pelas Nações Unidas. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 22 Deveres dos Estados O principal dever jurídico dos Estados consiste em respeitar à soberania dos homólogos, isto é, não ingerir indevidamente em assuntos de competência alheia. Em outras palavras, dever de não- intervenção. Tal princípio, inicialmente consagrado na Carta da OEA (art. 2º, b, c/c art. 19), foi reconhecido como princípio insofismável do Direito Internacional, merecendo transposição para diversos diplomas internacionais, um dos quais a Resolução AG/ONU n. 2625 (XXV), de 1970. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 23 Deveres dos Estados • Esta multicitada Resolução AG/ONU n. 2625, sobre Declaração sobre os Princípios de Direito Internacional referentes às Relações de Amizade e à Cooperação entre os Estados em conformidade com a Carta das Nações Unidas, ressalta, em seu item 1, a proclamação de vários princípios, dentre os quais, o princípio da igualdade de direito e da livre determinação dos povos. Na continuidade, afirma, também, o dever dos Estados de não intervenção nos assuntos alheios combinado com a obrigação de ajudar a ONU para que nenhuma intervenção indevida aconteça. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 24 22 23 24 31/03/2022 9 Deveres dos Estados “Em virtude do princípio da igualdade de direitos e da livre determinação dos povos, consagrado na Carta das Nações Unidas, todos os povos tem o direito determinar livremente, sem ingerência externa, sua condição política e de procurar seu desenvolvimento econômico, social e cultural, e todo Estado tem o dever de respeitar este direito em conformidade com as disposições da Carta”. Com efeito, continua, prescrevendo a seguinte determinação: “Todo Estado tem o dever de promover mediante ação conjunta ou individual, a aplicação do princípio da igualdade de direitos e da livre determinação dos povos, em conformidade com as disposições da Carta, e de prestar assistência às Nações Unidas no cumprimento das obrigações que se lhe encomendem a Carta à respeito da aplicação de dito direito, a fim de: a) fomentar as relações de amizade e a cooperação entre os Estados e; b) Por fim rapidamente ao colonialismo, tendo devidamente em conta a vontade expressada dos povos de que se trate; (...)” Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 25 Deveres dos Estados • A intervenção indevida de um Estado nos assuntos alheios não é assunto estranho ao Direito Internacional, tampouco para países do continente americano. • O tema, motivo de indignação que remonta aos inspiradores do Libertador Simón Bolívar (Francisco de Miranda foi apenas um deles), chegou a ser objeto de refutação veemente do ex-presidente norte- americano James Monroe, que, em mensagem ao Congresso norte- americano, em 2 de dezembro de 1823, reivindicou a não mais interferência, doravante, de potências estrangeiras (notadamente europeias) em assuntos de competência soberana dos países do Novo Continente, fossem tais assuntos territoriais ou quaisquer outros, sob pena de rechaço armado Doutrina Monroe Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 26 Francisco de Miranda América Espanhola (Venezuela), 1750-1816 James Monroe (EUA, 1758-1831) Simón Bolívar América Espanhola (Venezuela), 1783-1830 Deveres dos Estados 27 D ireitoInternacional Público Prof. M arcelo U chôa • Uma suposta intervenção indevida pode dar-se de diversas maneiras: a) mediante a ingerência na política interna de um país para manutenção ou derrocada de dado governo; b) pelo apoio ou oposição, explícita ou implícita, em guerra civil; c) por ingerência em assuntos legislativos, judiciários alheios, etc. • Por outro lado, a intervenção pode ser (Accioly, TratadoDIP-1, p. 261): a) diplomática (oficial ou oficiosa) ou armada; b) individual ou coletiva; c) aberta ou dissimulada; d) positiva ou negativa (se se trata de intervir ou impedir a intervenção em terceiro Estado). 25 26 27 31/03/2022 10 Responsabilidade dos Estados 28 D ir e it o I n te rn ac io n al P úb lic o P ro f. M ar ce lo U ch ô a Quando um Estado diretamente, por seus atos de governo ou de seus agentes, ou indiretamente, através de pessoas ou coletividades que representa, não cumpre seus deveres jurídicos, seja com a Sociedade Internacional por inteira ou apenas parte de seus integrantes, ele pode ser responsabilizado perante os órgãos internacionais de jurisdição. A responsabilidade tem finalidade repressiva, visando o saneamento dos prejuízos eventualmente havidos, ou preventiva, para evitar que o ilícito se repita. Responsabilidade dos Estados O dever de não intervir comporta três exceções que podem minimizar ou excluir completamente a responsabilização do Estado interveniente: a) Quando a intervenção é estabelecida em nome do direito de defesa do interveniente, resguardada a proporcionalidade; b) Quando a intervenção visar à salvaguarda da segurança coletiva; c) quando a intervenção for realizada em prol da proteção e promoção dos direitos humanos. Das três exceções, apenas a primeira independe de autorização do Conselho de Segurança da ONU. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 29 Responsabilidade dos Estados As responsabilidades dos Estados podem ser: • Direta, quando o ato ilícito é praticado pelo próprio governo ou por agentes oficiais do Estado, ou indireta, quando a licitude decorre de ato de particulares, grupo ou coletividade às quais o Estado representa. • Por comissão, quando o ato ilícito decorre de conduta positiva estatal, ou omissão, quando deriva de inação. • Podem ser, também, convencional, quando a frustração do dever diz respeito ao não cumprimento de tratados, ou delituosa, quando resulta de descumprimento de obrigações decorrentes de costumes e princípios internacionais. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 30 28 29 30 31/03/2022 11 Responsabilidade dos Estados Para a caracterização da responsabilidade é necessário aferir-se a existência dos seguintes elementos: a) o ato ilícito (violação positiva ou negativa); b) nexo causal (entre o ato danoso e a conduta estatal); c) dano a ser reparado (moral ou material). Além das três exceções já citadas, que podem minimizar ou excluir a responsabilidade, também podem elidi-la: as represálias, desde que sejam a única forma de reação contra os ilícitos empreendidos, e uma vez que lhes sejam proporcionais, e a prescrição liberatória, quando a responsabilidade se extingue devido à anuência, silêncio ou omissão do Estado lesado na busca de reparação. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 31 Responsabilidade dos Estados É dever de todo Estado proteger seu nacional no próprio território ou no estrangeiro. O costume internacional reconhece a legitimidade da proteção do Estado ao seu nacional na jurisdição estrangeira, quando este é submetido a uma responsabilização arbitrária. Nessas situações, o Estado pode, compreendendo que a arbitrariedade praticada contra o seu nacional configurou-se como afronta indireta à sua soberania, conceder-lhe o benefício do ENDOSSO, assumindo-se dominus litis na reclamação contra o Estado coator. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 32 Responsabilidade dos Estados Com efeito, o endosso torna estatal uma reclamação particular, funcionando como imunização excepcional estendida ao nacional contra a jurisdição estrangeira. Sua concessão, porém, refreia-se pela necessidade de exaurimento dos meios de reclamação internos, de evidenciação de arbitrariedade na postura coativa reclamada e na correspondência de nacionalidade com o indivíduo beneficiário da proteção. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 33 31 32 33 31/03/2022 12 Responsabilidade dos Estados Não obstante a dimensão de justiça do endosso, durante o século XIX até meados do século XX, quando a competitividade comercial alcançou níveis jamais antes alcançados e a verve imperialista das grandes potências se revelou de forma mais aberta e desimpedida de qualquer aresta, o instituto foi recorrentemente utilizado para imunizar comerciantes estrangeiros frente a jurisdições de nações comercialmente exploradas. Não apenas por potências europeias, mas, também, pelos EUA, contrariando os pressupostos de proteção continental que defenderam com a Doutrina Monroe, a qual, doravante, passaram interpretar segundo a fórmula do “America First”, ou seja, aplicando-se a Doutrina Monroe a todas as potências menos a si. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 34 Responsabilidade dos Estados . Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 35 DOUTRINA DRAGO Nenhuma potência estrangeira pode usar a força (bloqueio comerciais, etc.) para cobrar dívidas na América Latina Luis María Drago (Argentina, 1859-1921) Carlos Calvo (Uruguai, 1824-1906) DOUTRINA CALVO Institui a cláusula Calvo, mediante a qual um comerciante estrangeiro abre mão de uma eventual proteção via endosso, igualando-se aos Nacionais em caso de dívidas Responsabilidade dos Estados Em resposta à indiscriminada utilização do endosso, os contratos internacionais passaram a prever a inclusão da “Cláusula Calvo”, através da qual o contratante particular renuncia expressamente à eventual imunidade. A efetividade da cláusula, porém, não é unânime nos tribunais. Uma das alegações importantes contra a mesma é que a titularidade da prerrogativa de imunidade é do Estado, e, não, da pessoa do nacional, de modo que sua eventual renúncia, ainda que expressa e antecipada, não surte qualquer efeito, pois tal possibilidade só se franqueia ao Estado. 36 34 35 36 31/03/2022 13 Princípios internacionais do Estado brasileiro Os princípios internacionais do Estado Brasileiro estão elencados na CF/88, basicamente em seu art. 4º: Art. 4º. O Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos princípios: I – independência nacional; II – prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – não intervenção; V – igualdade entre os Estados; VI – defesa e paz; VII –solução pacífica dos conflitos; VIII –repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de asilo político. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 37 Princípios internacionais do Estado brasileiro Outros princípios internacionais do Estado Brasileiro: Busca pela integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações (CF/88, art.4º, Parágrafo único); Submissão do Brasil a jurisdição de Tribunal Penal Internacional, a cuja criação tenha manifestado adesão (CF/88, art. 5º,§ 4º) Busca pela criação de um Tribunal Internacional de Direitos Humanos (CF/88, análise sistemática); Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 38 BIBLIOGRAFIA ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito Internacional Público. Ed. Saraiva. AKEHURST, Michael. Introdução ao Direito Internacional. Ed. Coimbra. ARANGUA RIVAS, Carlos J. Doctrinas de Monroe, Drago y Tobar. Ed. La Sud- America BROWNLIE, Ian. Principles of Public International Law. Ed. Oxford. Direito Internacional PúblicoProf. Marcelo Uchôa 39 37 38 39 31/03/2022 14 BIBLIOGRAFIA • Carta da OEA (Dec. 30.544/52). In: https://www.oas.org/dil/port/tratados _A- 41_Carta_da_Organiza%C3%A7%C3%A 3o_dos_Estados_Americanos.htm • Carta da ONU (Dec. 19.841/45). In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/d ecreto/1930-1949/d19841.htm • Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados de Montevidéu de 1933 (Dec. 1570/33). In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/d ecreto/1930-1949/d1570.htm Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 40 BIBLIOGRAFIA • Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de Tratados de 1978. In: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/1307193.pdf • Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de Bens, Arquivos e Dívidas de 1983. In: http://www.dh- cii.eu/0_content/investigao/files_CRDTLA/convencoes_tratados _etc/convencao_de_viena_sobre_sucessao_de_estados_em_m ateria_de_propriedade_do_estado_arquivos_e_dividas_de_8_d e_abril_de_1983.pdf • Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados de Montevidéu de 1933 (Dec. 1570/33). In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930- 1949/d1570.htm Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 41 BIBLIOGRAFIA • DUARTE, Maria Luisa. Direito Internacional Público e ordem jurídica global do século XXI. Ed. AAFDL • DÍEZ DE VELASCO. Instituciones Derecho Internacional Público. Ed. Tecnos. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 42 40 41 42 31/03/2022 15 BIBLIOGRAFIA • GOMES, Laurentino. 1822 (Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo pra dar errado). Ed. Nova Fronteira. • GONZÁLEZ CAMPOS, Júlio Diego. Curso de Derecho Internacional Público. Ed. Thomson-Civitas. • GOUVEIA, Jorge Bacelar. Manual de Direito Internacional Público. Ed. Almedina • HUSEK, Carlos Roberto. Curso de Direito Internacional Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 43 BIBLIOGRAFIA • KELSEN, Hans; CAMPAGNOLO, Umberto. Direito Internacional e Estado Soberano. Ed. Martins Fontes. • MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. Ed. RT • MIRANDA, Jorge. Curso de Direito Internacional Público. Ed. Principia. • ONU RECONHECE Palestina como Estado observador não membro. In: <http://www1.folha.uol.com.br/mun do/1193448-onu-reconhece- palestina-como-estado-observador- nao-membro.shtml>. Acesso em: 31 jan. 2018. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 44 BIBLIOGRAFIA • PEREIRA, André Gonçalves; QUADROS, Fausto de. Manual de Direito Internacional Público. Ed. Almedina. • Resolução ONU 2625 (Art. XXV). In: http://www.un.org/es/comun/docs/?symbol=A /RES/2625(XXV) • Resolução sobre reconhecimento de novos Estados e de novos governos. In: http://www.idi- iil.org/app/uploads/2017/06/1936_brux_01_fr. pdf • ROOT, Elihu. The Declaration of the Rights and Duties of Nations Adopted by the American Institute of International Law. In: American Journal of International. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/pdf/2187520.pdf? refreqid=excelsior%3A255fd718e44281c0bb03 7b5b26e8ac63 • UCHÔA, Marcelo Ribeiro. Curso Crítico de Direito Internacional Público. Ed. Lumens Juris. • UCHÔA, Marcelo Ribeiro. Direito Internacional. Ed. Lumen Juris. Direito Internacional Público Prof. Marcelo Uchôa 43 44 45 31/03/2022 16 Até a próxima aula... FIM!! 4 6 46
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