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DI 14 - Estados 3 - Direitos, deveres e responsabilidades (2)

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31/03/2022
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DIREITO 
INTERNACIONAL 
PÚBLICO
AULA 14
Professor: Marcelo Uchôa
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UNIDADE V
ESTADO – Parte III
SINOPSE
• Direitos dos Estados: direitos 
fundamentais;
• Restrições aos direitos 
fundamentais;
• Deveres dos Estados; 
• Princípios do Estado brasileiro;
• Responsabilidade dos Estados.
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Direitos e deveres estatais
• Sejam ou não reconhecidos como 
grandes potências, em tese, os 
Estados integram a Sociedade 
Internacional no mesmo plano 
jurídico, usufruindo, em igualdade 
de condições, direitos e deveres. É o 
que consagra, p. EX., em seu texto, a 
Carta da OEA de 1948:
“Art. 10. Os Estados são juridicamente 
iguais, desfrutam de iguais direitos e de 
igual capacidade para exercê-los, e têm 
deveres iguais. Os direitos de cada um 
não dependem do poder de que 
dispõem para assegurar o seu exercício, 
mas sim do simples fato da sua 
existência como personalidade jurídica 
internacional”.
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Direitos estatais
A primeira categoria de direitos estatais são os 
direitos fundamentais dos Estados, os quais 
remontam apreciação jurídico-filosófica ao período 
de Hugo Grotius. Atualmente, são reconhecidos 
tanto pela Carta de constituição da ONU, como 
pela Carta correspondente da OEA.
Os direitos fundamentais estatais são imanentes 
aos Estados. Seu usufruto decorre tão-somente do 
fato dos Estados existirem. Não se tratam, 
individualmente, de direitos absolutos. Somados, 
entretanto, formam um conjunto integrado e 
interdependente, considerado absoluto enquanto 
sistema de garantias jurídicas. Em função disso, 
teoricamente, devem gozar de máxima eficácia 
possível.
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Direitos fundamentais dos 
Estados
• Os direitos fundamentais estatais têm 
como base o direito à existência. Dessa 
circunstância derivam:
a) Direito de conservação; 
b) Direito de defesa;
c) Direito de liberdade; 
d) Direito à soberania;
e) Direito à igualdade;
f) Direito de legação;
g) Direito ao comércio internacional.
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Direitos fundamentais 
dos Estados
O direito de conservação foi proclamado em 
1916, em Washington, pelo Instituto Americano 
de Direito Internacional, no Art. 1º da 
Declaração dos Direitos e Deveres das Nações 
(ROOT, p.212) : 
“Art. 1. Toda nação tem o direito de existir, 
proteger e conservar sua existência; mas este 
direito não implica o direito nem justifica o ato 
do estado para se proteger ou para conservar 
sua existência pela prática de atos ilícitos contra 
Estados inocentes e não ofensivos.”. (Tradução 
livre)
Em função do direito à conservação são 
tuteladas a memória, a cultura e a 
autodeterminação do Estado. 
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Direitos fundamentais 
dos Estados
• O direito de conservação está 
intimamente ligado ao direito de 
defesa, segundo o qual o Estado 
poderá tomar todas as medidas 
necessárias para defender a 
segurança nacional: construir 
fortificações, realizar treinamentos 
de guerra, expulsar estrangeiros 
perigosos e nocivos, proibir o 
trânsito de material bélico pelo 
interior do Estado, organizar 
tribunais internos, celebrar 
tratados de aliança e assistência 
mútuas, etc. 
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Direitos fundamentais dos Estados
O corolário do direito à liberdade pressupõe 
que nenhum Estado pode ser considerado 
como tal se não puder atuar com 
independência no cenário internacional, 
afastadas quaisquer interferências externas. 
Segundo o art. 2º da Declaração citada 
aprovada no American Institute of 
International Law:
“Art.2. Toda nação tem direito à 
independência no sentido de que tem direito 
à busca da felicidade e está livre para se 
desenvolver sem interferência ou controle de 
outros estados, desde que, ao fazê-lo, não 
interfira ou viole os direitos de outros 
estados”. (Tradução livre)
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Direitos fundamentais 
dos Estados
• O direito à soberania, segundo já visto, 
está vinculado ao direito que o Estado 
dispõe de se autogovernar 
internamente (escolher sua forma 
regime de governo, legislar, exercer 
jurisdição, etc.) e externamente 
(igualdade jurídica, celebrar tratados, 
enviar e receber representantes 
diplomáticos, participar de organizações 
internacionais, protestar junto a órgãos 
internacionais, etc.)
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Direitos fundamentais dos 
Estados
O direito à liberdade e à soberania externa decorrem 
do direito à igualdade. Tal direito encontra-se 
consagrado nos mais variados diplomas 
internacionais, vide o art. 3º da supra citada 
Declaration of the Rights and Duties of Nations de 
1916: 
“Art. 3. Toda nação é em lei e perante a lei igual a 
todas as outras nações pertencentes à sociedade das 
nações...”
Tal ideário foi inserido no art. 2.1 da Carta da ONU 
(1945):
“Art.2.1. A Organização é baseada no princípio da 
igualdade soberana de todos os seus membros””.
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Direitos fundamentais dos 
Estados
A Resolução AG/ONU 2625 (Art. XXV), de 1970, que 
aprovou a Declaração sobre os Princípios de Direito 
Internacional Referentes à Amizade e Cooperação entre 
os Estados em conformidade com a Carta das Nações 
Unidas, proclamou, dentre os princípios incluídos no 
item 1, o princípio da igualdade soberana, o que fez nos 
termos:
“Todos os Estados gozam de igualdade soberana. Têm 
iguais direitos e iguais deveres e são igualmente 
membros da comunidade internacional, em que pese as 
diferenças de ordem econômica, social, política ou de 
outra índole”. (Tradução livre)
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Direitos fundamentais dos 
Estados
Grande problema que surge para o Direito 
Internacional em relação ao direito à igualdade é a 
parcimônia com a coexistência de uma igualdade 
jurídica e uma desigualdade de fato entre os Estados, 
especialmente devido às suas diferentes características 
econômicas. A relação é tão desigual, que repercute 
sobre a composição de certos órgãos da própria ONU, 
como o Conselho de Segurança, os bancos 
internacionais, etc. Não sem razão assinala MAZZUOLI 
(p. 563):
“A proteção deve voltar-se aos Estados situados à 
margem das chamadas Grandes Potências (expressão 
que também não encontra uma conceituação científica 
em Direito Internacional Público até o presente 
momento), de que são exemplos os Estados – mais 
ricos do mundo – pertencentes ao chamado G7/G8”.
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Direitos fundamentais dos Estados
O direito de legação é o direito do 
Estado de enviar, manter e receber 
diplomatas a outros Estados. Trata-se 
de uma prerrogativa específica das 
pessoas de direito internacional 
público, como Estados os soberanos, 
as organizações internacionais, as 
entidades vinculadas a ordens 
religiosas, etc.
A legação ativa diz respeito ao envio 
de representantes ao estrangeiro. Já a 
legação passiva relaciona-se com à 
faculdade de recebê-los. 
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Direitos fundamentais 
dos Estados
O direito de legação vincula-se aos princípios da 
igualdade jurídica e da soberania estatais. Por 
isso, está condicionado ao consentimento mútuo, 
podendo ser exercido por Estados soberanos. 
Excepcionalmente, pode ser exercido por 
entidades afins aos Estados (p. Ex., infraestatais 
como colônias), desde que com a permissão do 
Estado ao qual se vinculam (suseranos).
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Direitos fundamentais dos 
Estados
Apesar do direito ao comércio internacional ser uma 
faculdade e não uma obrigação do Estado, ele está 
incluído dentre os direitos estatais fundamentais por 
ser impossível, dada a ordem econômica 
contemporânea, alcançar desenvolvimento econômico 
sem o exercício de relações comerciais externas. Odireito à liberdade de comércio está consorciado ao de 
igualdade de tratamento entre os Estados.
Do ponto de vista histórico, o comércio sempre foi o 
elo de ligação entre um Estado e outro. O direito 
fundamental ao comércio, por sua vez, foi um dos 
primeiros direitos fundamentais requeridos aos 
Estados, sendo fortemente teorizado a partir de Hugo 
Grotius (comércio marítimo).
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Restrições aos direitos fundamentais
Segundo o Art. 12 da Carta da OEA: 
“Os direitos fundamentais dos Estados não 
podem ser restringidos de maneira alguma.”
Contudo, não sendo os direitos fundamentais 
individualmente absolutos, na prática, podem 
sofrer restrições, muitas delas sobre o 
exercício de sua soberania, com endosso do 
Direito Internacional.
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Restrições aos direitos fundamentais
• Servidões negativas ou apositivas (P. Ex., 
proibição de passagem aérea, ou de realização 
de exercícios militares em determinado lugar; 
determinação de abrir passagem no próprio 
território para exército estrangeiro) 
• Condomínio (P. Ex., entre 1898 e 1956 o antigo 
Sudão foi administrado condominialmente pela 
Grã-Bretanha e o Egito) 
• Garantias internacionais (P. Ex., após a guerra 
Franco-Prussiana, por imposição do Tratado de 
Frankfurt, de 1871, a França foi obrigada a 
permitir, em garantia, a ocupação militar de 
partes de seu território pela Prússia (atual 
Alemanha), até a quitação de uma altíssima 
indenização. Além disso, teve que entregar à 
Prússia, os territórios da Alsácia e da Lorena);
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Restrições aos direitos 
fundamentais
• Cessão territorial (a soberania de 
jurisdição sobre determinada parte do 
território é totalmente disponibilizada. P. 
Ex., entre 1949 e 1999, a soberania do 
Canal do Panamá foi cedida aos EUA);
• Arrendamento de território (neste caso, 
não se entrega a soberania plena sobre o 
território, apenas cede-se parte da 
soberania para exercício de 
competências administrativas. P. Ex., 
Entre 1898 e 1997, Hong Kong, apesar de 
ser chinesa foi arrendada à Grã-Bretanha; 
Desde 1903, Guantánamo está arrendada 
por Cuba aos EUA. Em 1934, o 
arrendamento passou a ser por tempo 
indeterminado e mediante o pagamento 
do valor anual de 4 mil dólares anuais);
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Restrições aos direitos fundamentais
• Neutralidade estatal permanente (P. 
Ex., a Suíça, a partir de 1815, e o 
Vaticano, em 1929);
• Neutralização temporária de 
território (P. Ex., segundo o Plano de 
Partilha da Palestina pela AG da 
ONU, de 1947, Jerusalém ficaria sob 
controle internacional por uma 
década, até 1957, quando deveria 
submeter-se a plebiscito para decidir 
sua condição); 
• Imunidade de jurisdição (P. Ex., as 
que são concedidas aos diplomatas 
em geral).
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Deveres dos Estados
• A literatura qualifica os DEVERES DOS ESTADOS
em morais ou jurídicos:
 Os deveres morais derivam de imperativos 
éticos baseados em princípios de cortesia, 
humanidade, equidade, palavra, cujo 
cumprimento não pode ser exigido 
coercitivamente pelo Direito Internacional. 
Devido ao fator não coercibilidade têm sido foco 
de apreciação constante de organizações 
internacionais para fins de positivação. 
 Os deveres jurídicos decorrem de tratados, 
costumes internacionais, normas outras de 
Direito Internacional, de modo que são 
obrigatórios e passíveis de exigência coercitiva 
pelo Direito Internacional. 
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Deveres dos Estados
• São exemplos de deveres morais:
a) Socorro e colaboração em situações de 
calamidades naturais e momentos de 
inquietação político-social;
b) Salvamentos marítimos em caso de 
sinistros seja em águas territoriais ou 
em alto-mar;
c) Concessão de abrigo em portos e 
aeroportos a embarcações de bandeiras 
estrangeiras, em casos de acidentes, 
danos mecânicos, etc.;
d) Apoio em questões de caráter 
humanitário em geral, em tempos de 
paz ou guerra;
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Deveres dos Estados
e) Providência de medidas sanitárias 
visando evitar o risco de 
propagação de enfermidades;
f) Assistência financeira a Estados mais 
necessitados;
g) Assistência e cooperação em 
matérias judiciárias civis e 
criminais, com promoção de 
medidas contra o crime;
h) Participação em missões 
internacionais estipuladas pelas 
Nações Unidas.
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Deveres dos Estados
O principal dever jurídico dos 
Estados consiste em respeitar 
à soberania dos homólogos, 
isto é, não ingerir 
indevidamente em assuntos de 
competência alheia. Em outras 
palavras, dever de não-
intervenção. 
Tal princípio, inicialmente 
consagrado na Carta da OEA 
(art. 2º, b, c/c art. 19), foi 
reconhecido como princípio 
insofismável do Direito 
Internacional, merecendo 
transposição para diversos 
diplomas internacionais, um 
dos quais a Resolução AG/ONU 
n. 2625 (XXV), de 1970.
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Deveres dos Estados
• Esta multicitada Resolução AG/ONU n. 2625, 
sobre Declaração sobre os Princípios de Direito 
Internacional referentes às Relações de Amizade 
e à Cooperação entre os Estados em 
conformidade com a Carta das Nações Unidas, 
ressalta, em seu item 1, a proclamação de vários 
princípios, dentre os quais, o princípio da 
igualdade de direito e da livre determinação dos 
povos. Na continuidade, afirma, também, o 
dever dos Estados de não intervenção nos 
assuntos alheios combinado com a obrigação de 
ajudar a ONU para que nenhuma intervenção 
indevida aconteça. 
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Deveres dos Estados
“Em virtude do princípio da igualdade de direitos e da livre 
determinação dos povos, consagrado na Carta das Nações 
Unidas, todos os povos tem o direito determinar livremente, sem 
ingerência externa, sua condição política e de procurar seu 
desenvolvimento econômico, social e cultural, e todo Estado tem 
o dever de respeitar este direito em conformidade com as 
disposições da Carta”. 
Com efeito, continua, prescrevendo a seguinte determinação:
“Todo Estado tem o dever de promover mediante ação conjunta 
ou individual, a aplicação do princípio da igualdade de direitos e 
da livre determinação dos povos, em conformidade com as 
disposições da Carta, e de prestar assistência às Nações Unidas 
no cumprimento das obrigações que se lhe encomendem a Carta 
à respeito da aplicação de dito direito, a fim de:
a) fomentar as relações de amizade e a cooperação entre os 
Estados e;
b) Por fim rapidamente ao colonialismo, tendo devidamente em 
conta a vontade expressada dos povos de que se trate; (...)”
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Deveres 
dos Estados
• A intervenção indevida de um Estado nos assuntos alheios não é assunto 
estranho ao Direito Internacional, tampouco para países do continente 
americano. 
• O tema, motivo de indignação que remonta aos inspiradores do 
Libertador Simón Bolívar (Francisco de Miranda foi apenas um deles), 
chegou a ser objeto de refutação veemente do ex-presidente norte-
americano James Monroe, que, em mensagem ao Congresso norte-
americano, em 2 de dezembro de 1823, reivindicou a não mais 
interferência, doravante, de potências estrangeiras (notadamente 
europeias) em assuntos de competência soberana dos países do Novo 
Continente, fossem tais assuntos territoriais ou quaisquer outros, sob 
pena de rechaço armado  Doutrina Monroe
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Francisco de Miranda
América Espanhola (Venezuela), 
1750-1816
James Monroe
(EUA, 1758-1831)
Simón Bolívar
América Espanhola 
(Venezuela), 1783-1830
Deveres dos Estados
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• Uma suposta intervenção indevida pode dar-se de diversas maneiras:
a) mediante a ingerência na política interna de um país para 
manutenção ou derrocada de dado governo; 
b) pelo apoio ou oposição, explícita ou implícita, em guerra civil; 
c) por ingerência em assuntos legislativos, judiciários alheios, etc.
• Por outro lado, a intervenção pode ser (Accioly, TratadoDIP-1, p. 261):
a) diplomática (oficial ou oficiosa) ou armada; b) individual ou coletiva; 
c) aberta ou dissimulada; d) positiva ou negativa (se se trata de 
intervir ou impedir a intervenção em terceiro Estado). 
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dos Estados
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Quando um Estado diretamente, por seus atos 
de governo ou de seus agentes, ou 
indiretamente, através de pessoas ou 
coletividades que representa, não cumpre seus 
deveres jurídicos, seja com a Sociedade 
Internacional por inteira ou apenas parte de seus 
integrantes, ele pode ser responsabilizado 
perante os órgãos internacionais de jurisdição. 
A responsabilidade tem finalidade repressiva, 
visando o saneamento dos prejuízos 
eventualmente havidos, ou preventiva, para 
evitar que o ilícito se repita.
Responsabilidade dos Estados
O dever de não intervir comporta três exceções 
que podem minimizar ou excluir completamente 
a responsabilização do Estado interveniente:
a) Quando a intervenção é estabelecida em 
nome do direito de defesa do interveniente, 
resguardada a proporcionalidade;
b) Quando a intervenção visar à salvaguarda da 
segurança coletiva;
c) quando a intervenção for realizada em prol da 
proteção e promoção dos direitos humanos.
Das três exceções, apenas a primeira independe 
de autorização do Conselho de Segurança da 
ONU. 
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Responsabilidade dos Estados
As responsabilidades dos Estados podem ser:
• Direta, quando o ato ilícito é praticado pelo próprio 
governo ou por agentes oficiais do Estado, ou indireta, 
quando a licitude decorre de ato de particulares, grupo 
ou coletividade às quais o Estado representa.
• Por comissão, quando o ato ilícito decorre de conduta 
positiva estatal, ou omissão, quando deriva de inação.
• Podem ser, também, convencional, quando a frustração 
do dever diz respeito ao não cumprimento de tratados, 
ou delituosa, quando resulta de descumprimento de 
obrigações decorrentes de costumes e princípios 
internacionais.
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Responsabilidade dos Estados
Para a caracterização da responsabilidade é necessário 
aferir-se a existência dos seguintes elementos:
a) o ato ilícito (violação positiva ou negativa); 
b) nexo causal (entre o ato danoso e a conduta estatal); 
c) dano a ser reparado (moral ou material).
Além das três exceções já citadas, que podem minimizar 
ou excluir a responsabilidade, também podem elidi-la: 
as represálias, desde que sejam a única forma de reação 
contra os ilícitos empreendidos, e uma vez que lhes 
sejam proporcionais, e a prescrição liberatória, quando 
a responsabilidade se extingue devido à anuência, 
silêncio ou omissão do Estado lesado na busca de 
reparação.
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Responsabilidade dos Estados
É dever de todo Estado proteger seu nacional no próprio 
território ou no estrangeiro. O costume internacional 
reconhece a legitimidade da proteção do Estado ao seu 
nacional na jurisdição estrangeira, quando este é 
submetido a uma responsabilização arbitrária. Nessas 
situações, o Estado pode, compreendendo que a 
arbitrariedade praticada contra o seu nacional 
configurou-se como afronta indireta à sua soberania, 
conceder-lhe o benefício do ENDOSSO, assumindo-se 
dominus litis na reclamação contra o Estado coator. 
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Responsabilidade dos Estados
Com efeito, o endosso torna estatal uma reclamação 
particular, funcionando como imunização excepcional 
estendida ao nacional contra a jurisdição estrangeira. 
Sua concessão, porém, refreia-se pela necessidade de 
exaurimento dos meios de reclamação internos, de 
evidenciação de arbitrariedade na postura coativa 
reclamada e na correspondência de nacionalidade 
com o indivíduo beneficiário da proteção.
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Responsabilidade dos Estados
Não obstante a dimensão de justiça do endosso, durante 
o século XIX até meados do século XX, quando a 
competitividade comercial alcançou níveis jamais antes 
alcançados e a verve imperialista das grandes potências se 
revelou de forma mais aberta e desimpedida de qualquer 
aresta, o instituto foi recorrentemente utilizado para 
imunizar comerciantes estrangeiros frente a jurisdições de 
nações comercialmente exploradas. Não apenas por 
potências europeias, mas, também, pelos EUA, 
contrariando os pressupostos de proteção continental que 
defenderam com a Doutrina Monroe, a qual, doravante, 
passaram interpretar segundo a fórmula do “America 
First”, ou seja, aplicando-se a Doutrina Monroe a todas as 
potências menos a si.
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Responsabilidade dos Estados
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DOUTRINA DRAGO
Nenhuma potência estrangeira 
pode usar a força (bloqueio 
comerciais, etc.) para cobrar 
dívidas na América Latina
Luis María Drago
(Argentina, 1859-1921)
Carlos Calvo
(Uruguai, 1824-1906)
DOUTRINA CALVO
Institui a cláusula Calvo, mediante
a qual um comerciante estrangeiro 
abre mão de uma eventual proteção 
via endosso, igualando-se aos 
Nacionais em caso de dívidas
Responsabilidade 
dos Estados
Em resposta à indiscriminada utilização do 
endosso, os contratos internacionais passaram a 
prever a inclusão da “Cláusula Calvo”, através da 
qual o contratante particular renuncia 
expressamente à eventual imunidade.
A efetividade da cláusula, porém, não é unânime 
nos tribunais. Uma das alegações importantes 
contra a mesma é que a titularidade da 
prerrogativa de imunidade é do Estado, e, não, da 
pessoa do nacional, de modo que sua eventual 
renúncia, ainda que expressa e antecipada, não 
surte qualquer efeito, pois tal possibilidade só se 
franqueia ao Estado. 
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Princípios internacionais do 
Estado brasileiro
Os princípios internacionais do Estado Brasileiro
estão elencados na CF/88, basicamente em seu art. 
4º:
Art. 4º. O Brasil rege-se nas suas relações 
internacionais pelos princípios: I – independência 
nacional; II – prevalência dos direitos humanos; III –
autodeterminação dos povos; IV – não intervenção; 
V – igualdade entre os Estados; VI – defesa e paz; VII 
–solução pacífica dos conflitos; VIII –repúdio ao 
terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os 
povos para o progresso da humanidade; X –
concessão de asilo político.
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Princípios internacionais do 
Estado brasileiro
Outros princípios internacionais do Estado 
Brasileiro:
Busca pela integração econômica, política, social e 
cultural dos povos da América Latina, visando à 
formação de uma comunidade latino-americana 
de nações (CF/88, art.4º, Parágrafo único);
Submissão do Brasil a jurisdição de Tribunal Penal 
Internacional, a cuja criação tenha manifestado 
adesão (CF/88, art. 5º,§ 4º)
Busca pela criação de um Tribunal Internacional 
de Direitos Humanos (CF/88, análise sistemática);
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BIBLIOGRAFIA
ACCIOLY, Hildebrando. Manual 
de Direito Internacional 
Público. Ed. Saraiva.
AKEHURST, Michael. 
Introdução ao Direito 
Internacional. Ed. Coimbra.
ARANGUA RIVAS, Carlos J. 
Doctrinas de Monroe, 
Drago y Tobar. Ed. La Sud-
America
BROWNLIE, Ian. Principles of 
Public International Law. 
Ed. Oxford.
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BIBLIOGRAFIA
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https://www.oas.org/dil/port/tratados
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/d
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• Convenção sobre Direitos e Deveres 
dos Estados de Montevidéu de 1933 
(Dec. 1570/33). In: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/d
ecreto/1930-1949/d1570.htm
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BIBLIOGRAFIA
• Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de 
Tratados de 1978. In: 
http://www.camara.gov.br/sileg/integras/1307193.pdf 
• Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de 
Bens, Arquivos e Dívidas de 1983. In: http://www.dh-
cii.eu/0_content/investigao/files_CRDTLA/convencoes_tratados
_etc/convencao_de_viena_sobre_sucessao_de_estados_em_m
ateria_de_propriedade_do_estado_arquivos_e_dividas_de_8_d
e_abril_de_1983.pdf
• Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados de Montevidéu 
de 1933 (Dec. 1570/33). In: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-
1949/d1570.htm
Direito Internacional Público 
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Até a próxima 
aula...
FIM!!
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