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BIOLOGIA CELULAR E GENÉTICA GRASIELA DIAS DE CAMPOS SEVERI-AGUIAR 1 C O M PE TÊ N C IA S UNIDADE 4 ÁCIDOS NUCLÉICOS 1. ÁCIDOS NUCLÉICOS O nome dessas moléculas advém do fato de apresentarem caráter ácido e por terem sido incialmente observadas dentro do núcleo das células. São polímeros, formados de monômeros de nucleotídeos, que não estão presentes apenas no núcleo das células, mas também no citoplasma, inclusive em organelas como mitocôndrias e cloroplastos e, em células procariontes. Nos núcleos interfásicos associam-se às proteínas forman- do a cromatina que, durante a divisão celular forma os cromossomos. Os cromossomos compõem sequências específicas chamadas genes, que são respon- sáveis pelo armazenamento, pela transmissão e pela expressão das informações gené- ticas dos organismos vivos. São responsáveis pela unidade e por toda diversidade da vida ao mesmo tempo. Quando alterados, de forma natural ou devido à ação de deter- minados fatores, podem dar origem às moléculas modificadas que deixarão de exercer sua função normal, respondendo por inúmeras doenças, muitas das quais podem ser transmitidas pelas descendências. O conhecimento da estrutura e das funções exercidas pelos ácidos nucléicos originou um avanço biotecnológico surpreendente possibilitando a clonagem, a seleção de em- briões, o desenvolvimento de terapias celulares e gênica, as vacinas, a bioengenharia, o aconselhamento genético, o sequenciamento do genoma de diversos organismos, os exames de determinação de paternidade, o diagnóstico e o prognóstico de doenças genéticas, entre outros avanços. Nessa unidade, será apresentado o papel essencial dessas moléculas na manutenção da vida. 1.1. ESTRUTURA E FUNÇÃO DOS ÁCIDOS NUCLEICOS São conhecidos dois tipos de ácidos nucléicos. O DNA (Ácido Desoxirribonucleico ou ADN) e o RNA (Ácido Ribonucleico ou ARN). Esses nomes foram atribuídos devido ao tipo de pentose (açúcar) que apresentam – desoxirribose e ribose, respectivamente, e que tem como diferença a hidroxila do carbono 2 do açúcar (Figura 01). Conhecer os componentes celulares e suas influências nos sistemas biológicos. Conteúdo programático 01. Estrutura e função de ácidos nucleicos 02. Estrutura dos genes e genomas 03. Cromatina e cromossomos 2 Biologia Celular e Genética U4 Ácidos nucléicos SA IB A M A IS Figura 01. Estrutura molecular das pentoses formadoras dos ácidos nucleicos. (Molécula de desoxirribose a esquerda e de ribose a direita. Observe que elas têm fórmula química C5H10O4 e C5H10O5, respectivamente). Desoxirribose Ribose Fo nt e: 1 23 R F DNA A estrutura do DNA, decifrada pelo zoólogo James Watson e pelo físico Francis Crick (Figura 02), foi tornada pública por uma comunicação publicada no periódico Nature em 25 de abril de 1953 e rendeu aos pesquisadores o Prêmio Nobel de Medicina em 1962. Figura 02. Watson e Crick junto ao modelo da molécula de DNA. Fonte: https://www.sciencephoto.com/media/222943/view/ watson-and-crick. Acesso em: 21 de abril de 2022. SOBRE A DESCOBERTA DA ESTRUTURA DO DNA.... Acesse os links: http://qnint.sbq.org.br/novo/index.php?hash=tema.33 Acesso em: 22 de abril de 2022. https://www.youtube.com/watch?v=V6bKn34nSbk. Acesso em: 22 de abril de 2022. https://www.sciencephoto.com/media/222943/view/watson-and-crick https://www.sciencephoto.com/media/222943/view/watson-and-crick http://qnint.sbq.org.br/novo/index.php?hash=tema.33 https://www.youtube.com/watch?v=V6bKn34nSbk U4 3Biologia Celular e Genética Ácidos nucléicos Esse modelo mostra que o DNA é um polímero, ou seja, uma macromolécula formada de monômeros chamados nucleotídeos. Os nucleotídeos são constituídos por uma pentose, um açúcar com cinco carbonos, uma base nitrogenada, que pode ser uma purina ou uma pirimidina e, um grupo fosfato (PO4). No caso do DNA a pentose é uma desoxirribose (Figura 03). Fo nt e: 1 23 R F Figura 03. Fórmula estrutural de um nucleotídeo. (No centro a pentose; à direita a base nitrogenada timina; à esquerda o grupo fosfato PO4, configurando um desoxirribonucleoídeo). Os nucleotídeos se ligam um ao outro para formar uma fita ou cadeia de nucleotídeos. Essa ligação ocorre sempre entre o fosfato ligado ao carbono 5’ da pentose de um nu- cleotídeo com o carbono 3’ da pentose do nucleotídeo adjacente. O carbono 1’ da pen- tose é o que se liga à base nitrogenada e o carbono 5’ é o que se liga ao grupo fosfato. A ligação entre um nucleotídeo e outro tem o sentido 5’=>3’ para a formação da cadeia ou fita de nucleotídeos. Todavia, a molécula de DNA é constituída de duas fitas ou cadeias de nucleotídeos. É uma molécula fita dupla, cujo os nucleotídeos de uma fita se ligam pelas bases nitroge- nadas através de ligações de hidrogênio e, de forma complementar, aos nucleotídeos da outra fita. Isto quer dizer que a ligação dos nucleotídeos das duas cadeias ocorre não entre bases iguais e de mesma categoria, mas entre bases complementares. Isso se deve à estrutura química das bases nitrogenadas (Figura 04). 4 Biologia Celular e Genética U4 Ácidos nucléicos Figura 04. Estrutura do DNA. Existem dois tipos ou categorias de bases nitrogenadas: as purinas (bases púricas) e as pirimidinas (bases pirimídicas) (Figura 5). Pertencem ao grupo das purinas a Adenina (A) e a Guanina (G) e ao grupo das pi- rimidinas, a Timina (T), Citosina (C) e a Uracila (U), esta última não encontrada no DNA, apenas no RNA. AdeninaTimina Ligação de hidrogênio Citosina Guanina Açucar Fosfato Purinas Pirimidinas Figura 05. Bases nitrogenadas púricas e pirimídicas. Fo nt e: 1 23 R F Fo nt e: 1 23 R F (Adenina; Guanina; Citosina; Timina; Uracila, não presente na molécula de DNA) Adenina Guanina Citosina Timina Uracila U4 5Biologia Celular e Genética Ácidos nucléicos No DNA as ligações complementares ocorrem entre A e T; e entre C e G, conforme a figura 06. Figura 06. Ligações entre bases nitrogenadas complementares no DNA. Conforme observado na figura acima, entre A e T ocorrem duas ligações de H e entre C e G acontecem três ligações de H, o que garante a complementariedade entre elas. Sendo assim, as duas fitas de nucleotídeos estabelecem ligações de hidrogênio entre bases nitrogenadas complementares, formando uma estrutura muito semelhante a uma escada. Os degraus da escada estariam representados pelas ligações entre as bases nitrogenadas das duas cadeias de nucleotídeos e, o corrimão da escada, seriam as pentoses e os fosfatos (Figura 07). Fo nt e: 1 23 R F BASES NITROGENADAS LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO Figura 07. Diagrama ilustrativo da cadeia dupla de nucleotídeos do DNA. Fo nt e: 1 23 R F (Círculo amarelo representando o grupo fosfato, em lilás a pentose e em rosa as bases nitrogenadas unindo as duas fitas por meio de ligações de hidrogênio). Nucleotídeos Ligação de hidrogênio Base heterocíclica nitrogenada Resíduo de ácido fosfórico Pentose Nucleosídeo 6 Biologia Celular e Genética U4 Ácidos nucléicos SA IB A M A IS Ao observar a figura acima é possível verificar que a cadeia de nucleotídeos da esquerda tem sentido 5’=>3’ e a cadeia de nucleotídeos da direita apresenta sentido inverso, ou seja, 3’=>5’ e as desoxirriboses estão invertidas, com o ápice voltado para baixo. Podemos dizer que as duas cadeias ou fitas de nucleotídeos são antiparalelas, ou seja, elas se dispõem paralelamente uma em relação a outra, mas com sentidos contrários. Esse fato ocorre para que as bases nitrogenadas consigam realizar as ligações de hidrogênio voltadas para o centro da molécula. Assim, no centro da molécula estão os pares de bases (pb) que são utilizados para representar uma sequência de DNA como um gene, por exemplo. A molécula de DNA, composta por quatro tipos de nucleotídeos, constitui a unidade da vida. Os seres vivos apresentam infinitas combinações desses nucleotídeos, caracteri- zando a diversidade das formas. Cada organismo é uma individualidade. Todas as infor- mações decomo são os organismos, como eles funcionam e vivem, estão contidas no arranjo individual de cada ser vivo. Esse mesmo arranjo, porém, responde pela esplên- dida diversidade nas formas de vida. O DNA é a molécula da hereditariedade. Através da informação nela contida, os descendentes recebem dos genitores a combinação que formará sua individualidade. Essa molécula nos faz únicos. SOBRE O DNA.... Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=7Hk9jct2ozY. Acesso em: 23 de abril de 2022. RNA O RNA também é um polímero formado por nucleotídeos, que se ligam da mesma forma que os nucleotídeos que formam as fitas ou cadeias no DNA. Todavia, o RNA é uma molécula de cadeia simples, ou seja, apresenta apenas uma fita de nucleotídeos, que pode sofrer dobras e empacotamento, assumindo formas peculiares. Os nucleotídeos do RNA também são constituídos das três moléculas já conhecidas: um açúcar de 5 carbonos (pentose), no caso a ribose, uma base nitrogenada e um gru- po fosfato. As bases nitrogenadas púricas são A e G, porém as pirimídicas são a C e a U (uracila). O RNA não apresenta em sua estrutura a base T, ela só está presente no DNA. A estrutura do RNA é apresentada na Figura 08. https://www.youtube.com/watch?v=7Hk9jct2ozY U4 7Biologia Celular e Genética Ácidos nucléicos As semelhanças e diferenças entre o DNA e o RNA são mostradas na Figura 09. Figura 08. Diagrama mostrando a estrutura do RNA, dos nucleotídeos e das bases nitrogenadas que fazem parte da sua estrutura. Nucleotídeo Nucleotídeo Fosfato Estrutura de fosfato de açúcar Ribose Ribose Base BASE Purinas Adenina Adenina Guanina Guanina Citosina Citosina Uracila Uracila Pirimidinas Figura 09. Diagrama comparando DNA e RNA. RNA Ácido ribonucleico Diferenças DiferençasSimilaridades Adenina Fio único Fio duplo Timina Par de base Uracila Único nucleobase Adenina Adenina - Timina Guanina - Citosina Guanina Guanina Citosina Citosina NucleotideNucleotide Uracila Guanina Timina Adenina Citosina Desoxir ribose DNA Ácido desoxirribonucleico Fo nt e: 1 23 R F 8 Biologia Celular e Genética U4 Ácidos nucléicos Ao contrário do DNA, que permanece na célula desde que ela tem origem, o RNA é fabricado quando necessário. Isso acontece, por exemplo, durante a síntese de proteí- na, quando ele funciona como um sinal para alguma atividade celular e, também, para regular as atividades da célula, regulando a expressão dos genes. Assim, o RNA é uma molécula que, depois de exercer sua função na célula, é reciclado, ou seja, seus nucle- otídeos são utilizados para formar novos RNAs. O RNA é formado a partir de uma sequência de DNA, num processo chamado de trans- crição, como veremos mais adiante em uma outra unidade. Uma sequência de nucleo- tídeos de uma das fitas do DNA serve de molde para fazer um transcrito primário de RNA. Este, por sua vez, deverá sofrer algumas modificações em sua estrutura, ainda dentro do núcleo da célula, facultando-o a realizar determinada função. Poderá, assim, representar uma informação hereditária decodificada do gene com as seguintes princi- pais funções: codificar uma sequência de aminoácidos de proteínas na forma de RNA mensageiro (RNAm) (Figura 10). Esse RNA serve de molde para formar uma proteína, ou seja, é traduzido numa sequ- ência de aminoácidos de uma proteína. Esse processo ocorre em todas as células na produção de proteínas que irão atuar na forma e estrutura dos organismos, mas tam- bém, como enzimas, hormônios, neurotransmissores, etc. Figura 10. Diagrama ilustrando os eventos de transcrição e tradução. 2 - estar envolvidos com a formação de ribossomos na forma de RNA ribossomal (RNAr). Transcrição Tradução Proteína Fo nt e: 1 23 R F U4 9Biologia Celular e Genética Ácidos nucléicos Os ribossomos são estruturas celulares que realizam a síntese proteica, ou tradução, que estudaremos em outra unidade. Em algumas regiões específicas do DNA da célula são encontradas cópias dos genes de RNA ribossomal (RNAr), que quando transcritas, formam o RNAr. Os RNAr se associam com proteínas ribossomais e dão origem às subunidades ribossomais maior e menor do ribossomo. Os ribossomos catalisam a ligação peptídica entre aminoácidos, dando origem à cadeia polipeptídica de uma proteína (Figura 11). Podem ser encontrados livres no citoplasma, na forma de polissomos ou, associados à membrana do retículo endoplasmático caracterizando o retículo endoplasmático granular ou rugoso (RER). Figura 11. Diagrama do ribossomo realizando a tradução. 3 - ligar-se covalentemente a aminoácidos específicos e atuar como adaptadores entre RNAm e aminoácidos, durante a síntese proteica, na forma de RNA transportador (RNAt). Durante a síntese de proteínas, o RNAt é direcionado ao citoplasma, onde carrega ou transporta o aminoácido específico ao código presente no RNAm, para que seja incor- porado à proteína em formação (Figura 12). Amino ácido Subunidade maior do ribossomo Subunidade menor do ribossomo tRNA mNRA Crescimento da cadeia polipeptídica Fo nt e: 1 23 R F 10 Biologia Celular e Genética U4 Ácidos nucléicos (À esquerda=> o ribossomo encontra-se associado à molécula de RNAm que possui os códons, que são trincas complementares aos anticódons do RNAt. À direita=> o RNAt mostrando seu sítio de ligação com um códon do RNAm e na extremidade 3’ da molécula, um aminoácido ligado que será trazido até o local onde ocorre a síntese proteica). Os RNAt são utilizados várias vezes pois, assim que transferem o aminoácido à cadeia polipeptídica que está se formando, eles ficam livres para se ligarem a outros aminoáci- dos e continuarem trabalhando no processo de tradução. 1.2. CROMATINA E CROMOSSOMOS No núcleo das células o DNA não é encontrado de forma isolada, mas sempre associa- do às proteínas nucleares formando a cromatina. Isso acontece para permitir o empa- cotamento do DNA, ou seja, que uma molécula tão grande, com aproximadamente 2m de comprimento, possa ser compactada e armazenada no interior de um núcleo que, em média, apresenta 5µm de diâmetro. Além disso, a compactação do DNA permite que alguns genes nele contido sejam expressos ou ativos, enquanto outros permanecem inativos ou sem expressão. No momento em que a célula vai se dividir, seja por mitose ou meiose, faz-se necessá- rio que a cromatina se compacte ainda mais e se individualize em blocos cromatínicos, conhecidos como cromossomos. Nessa forma bastante compactada, os cromosso- mos são mais facilmente divididos, de forma equitativa, para as células-filhas. Desse modo, vamos entender esses estados diferentes que o material genético pode apresen- tar, dependendo da fase de vida da célula. Figura 12. Diagrama mostrando um ribossomo realizando a tradução ou síntese proteica (à esquerda) e de um RNAt transportando os aminoácidos (à direita) Fonte: 123RF Cadeia de amino ácido (proteína) Amino ácido Amino ácido Haste do aceitador T-loop D-loop Loop variável mRNA Loop Anticódon tRNA tRNA mRNA Códon Códon Subunidade menor Subunidade maior U4 11Biologia Celular e Genética Ácidos nucléicos Cromatina Nas células em interfase, ou seja, quando ela não está se dividindo, realizando suas funções necessárias de manutenção da homeostasia (equilíbrio), o DNA associado às proteínas nucleares forma a cromatina. A cromatina é uma estrutura filamentosa, com espessura que varia de 10 a 30 nm. Na sua estrutura encontramos, além do DNA, prote- ínas básicas nucleares chamadas de histonas (H) e proteínas não histônicas (PNH). As histonas (H) promovem não só o empacotamento do DNA, como veremos a seguir, mas também, participam da regulação gênica, reprimindo ou ativando a transcrição dos mesmos. Existem cinco classes de histonas, de acordo com a quantidade dos ami- noácidos lisina e arginina que apresentam. São elas: H1, H2A, H2B, H3 e H4. Vamos entender como ocorre a associação do DNA às histonas para formar a cromatina. Duas moléculas de cadauma das histonas, H2A, H2B, H3 e H4, se agrupam para for- mar um octâmero (estrutura formada por oito moléculas). Ao redor desse octâmero de histonas, 147pb de DNA se enrolam completando uma volta mais ¾ de volta, formando um core nucleossômico. Vários desses core apresentam-se unidos por um DNA espa- çador com aproximadamente 53 pares de bases, formando uma estrutura chamada de nucleossomo, caracterizando o primeiro nível de organização da fibra cromatínica co- nhecida como colar de contas ou como nucleofilamento, que possui em torno de 10nm de espessura (Figura 13). Figura 13. Diagrama representando o primeiro nível de organização da cromatina, fibra de 10 nm. (O filamento azul claro é o DNA que circunda com uma volta mais ¾ de volta o core de histonas - círculos azul-escuros, que unidos pelo DNA espaçador, forma o nucleossomo ou unidade repetitiva da cromatina). A histona H1 liga-se ao DNA espaçador, encurtando a distância entre os core nucle- ossômicos, promovendo dobramentos do filamento sobre si mesmo e formando o so- lenóide, com aproximadamente 30nm de espessura (segundo nível de organização). Esse solenóide forma alças, empacotando ainda mais a cromatina atingindo 300nm. Por fim, essas alças se dobram sobre si mesmas formando uma estrutura com 1.400nm de espessura, os cromossomos, que constituem o grau máximo de compactação da cromatina, que acontece durante o processo de divisão celular (Figura 14). Fo nt e: 1 23 R F 12 Biologia Celular e Genética U4 Ácidos nucléicos Figura 14. DNA, cromatina e cromossomo. Fonte: 123RF Cromossomo Fibra de cromatina Nucleossoma Histona Dupla hélice DNA No núcleo da célula em interfase é comum observar ao microscópio regiões da cromati- na mais condensada (heterocromatina) e outras menos condensadas (eucromatina). A heterocromatina representa regiões do DNA que não estão sendo expressas, ou seja, onde não está havendo transcrição e, por isso, se apresenta mais condensada, de forma que o DNA daquela região não fica acessível às enzimas transcricionais. Porém, as regiões que apresentam atividade gênica, isto é, onde está ocorrendo a transcrição para a formação de RNA, a cromatina fica mais frouxa ou descondensada, de forma que os sítios de ligação do DNA às enzimas do processo transcricional ficam expostos, caracterizando a eucromatina (Figura 15). Figura 15. Diagrama da estrutura da cromatina (à esquerda) e eletromicrografia de um linfócito B colorida artificialmente (à direita) evidenciando a eucromatina e a heterocromatina. Histona Cauda de histona GeneNucleossoma Cromatina Sequência de DNA DNA inacessível: O gene está inativo DNA inacessível: O gene está ativo A U4 13Biologia Celular e Genética Ácidos nucléicos SA IB A M A IS (Figura A => DNA empacotado inacessível às enzimas transcricionais – heterocromatina – (abaixo), e regiões de DNA acessível às enzimas transcricionais – eucromatina – (acima); Figura B=> citoplasma do linfócito em marrom e o núcleo circundado em vermelho, apresentando a eucromatina (em bege), a heterocromatina (em azul) e o nucléolo (em verde)). Embora todas as células de um organismo apresentem igualmente o mesmo DNA, ou seja, a mesma sequência de nucleotídeos, cada tipo celular tem a expressão do DNA diferente devido às diferenças nas regiões da cromatina que estão na forma de eucro- matina ou de heterocromatina. Por exemplo, o queratinócito, uma célula da epiderme, tem a região do DNA codificadora de queratina na forma eucromática, ativa e sintetiza (produz) queratina, enquanto a região codificadora da insulina está na forma heterocro- mática, inativa. Por isso, o queratinócito não produz insulina, que é uma proteína com característica hormonal produzida pelas células beta do pâncreas. Já na célula beta do pâncreas, ao contrário, a região de DNA codificadora da queratina está na forma heterocromática e a da insulina, na forma eucromática. Assim ocorre o controle da expressão gênica. B SOBRE EUCROMATINA E HETEROCROMATINA.... Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=iQPffMdtNnA. Acesso em: 23 de abril de 2022. Cromossomo Quando uma célula realiza o processo de divisão celular a cromatina atinge seu grau máximo de compactação e forma os cromossomos (Figura 16). Eles são blocos de cro- matina altamente condensada que são divididos para formar as células filhas. https://www.youtube.com/watch?v=iQPffMdtNnA 14 Biologia Celular e Genética U4 Ácidos nucléicos Figura 16. Distensão sobre lâmina de linfócitos do sangue pe- riférico em interfase e em mitose (metáfase) com modificações. (Duas células em divisão celular mostrando os cromossomos metafásicos (setas), e células em intérfase mostrando os núcleos interfásicos) Os seres humanos possuem 46 cromossomos, organizados em 23 pares de cromosso- mos. Vinte e dois pares são chamados de autossomos, porque seu DNA não codifica características sexuais, apenas as autossômicas. Um par é chamado sexual porque determina as características sexuais do indivíduo. Em cada par, seja autossômico ou sexual, existe um elemento de origem materna e outro de origem paterna. Cada ser humano recebeu 23 cromossomos do pai, trazidos pelo espermatozoide, e 23 cromossomos da mãe, contidos no ovócito. Durante a fecun- dação, esses cromossomos se uniram em um núcleo de uma célula chamada zigoto, da qual todas as outras células se originaram. Cada cromossomo, quando observado ao microscópio durante a divisão celular, apre- senta duas metades, que são chamadas cromátides (Figura 17). As cromátides de um mesmo cromossomo são chamadas cromátides irmãs e, quando pertencem a cromos- somos diferentes do mesmo par, são chamadas cromátides homólogas. Fo nt e: 1 23 R F Figura 17. O cromossomo com suas cromátides irmãs. Cromossomo não duplicado Cromossomo duplicado Cromátide Cromátide Cromátide Centrômero Cromátides irmãs Fo nt e: 1 23 R F U4 15Biologia Celular e Genética Ácidos nucléicos Os cromossomos apresentam uma constrição primária, chamada centrômero. Cada cromossomo possui um centrômero. A porção do cromossomo situada acima do cen- trômero é chamada braço curto e aquela localizada abaixo do centrômero é o braço longo do cromossomo. A posição do centrômero determina a classificação do cromossomo em quatro tipos: metacêntrico (no meio do cromossomo), submetacêntrico (deslocado do centro), acro- cêntrico (próximo à extremidade) e telocêntrico (na extremidade) (Figura 18). Figura 18. Diagrama mostrando os tipos de cromossomo, conforme a posição do centrômero, e os braços curto e longo. As extremidades cromossômicas são chamadas telômeros. São regiões que possuem sequências ricas em guanina (G), repetidas inúmeras vezes, que impedem a fusão dos cromossomos. Estudos demonstram que são perdidos pares de bases dos telôme- ros durante as divisões celulares e que esse fato é responsável pelo envelhecimento. Quanto maior o número de divisões por que passa a célula, menor se tornam os telôme- ros dos cromossomos e mais instáveis eles ficam. Todavia, as células transformadas, que dão origem ao câncer, são capazes de manter a atividade de uma enzima chamada telomerase, que promove o alongamento dos telômeros. Sendo assim, embora elas se dividam inúmeras vezes, seus telômeros não encurtam e elas não envelhecem e mor- rem, como acontece com as células normais ou saudáveis 1.3. GENES E GENOMA Um artigo recém-publicado na revista Science intitulado The complete sequence of a hu- man genome (Figura 19) apresentou a sequência completa de 3.055 bilhões de pares de base no genoma humano (Fonte: Nurk et al. 2022, Science 376, 44–53). Desde 2003, quan- do teve início o Projeto Genoma Humano, haviam sido sequenciados 92% do genoma e 8% ainda estavam desconhecidos. Nesses bilhões de pares de bases agora sequenciados, foram encontrados 63.494 genes, responsáveis por codificar 19.969 proteínas. Esse trabalho é resultado da dedicação e esforço de diversos pesquisadores, de di- ferentes centros e consórciosde pesquisa, que quase 20 anos depois, nos fornece a grandiosa dimensão do nosso genoma. Mas afinal, o que é o genoma? O que são os genes? Nesse tópico buscaremos entender esses conceitos. Metacêntrico Centrômero Braço longo Braço curto Submetacêntrico Acrocêntrico Telocêntrico Fonte: 123RF 16 Biologia Celular e Genética U4 Ácidos nucléicos Figura 19. Artigo publicado em abril de 2022 (à esquerda) e capa da revista Science onde foi publicado (à direita). Fonte: https://www.science.org/doi/pdf/10.1126/science.abj6987. Acesso em: 24 de abril de 2022. SA IB A M A IS SOBRE O SEQUENCIAMENTO DO GENOMA HUMANO.... Acesse o link https://www.youtube.com/watch?v=MvuYATh7Y74. Acesso em: 23 de abril 2022. Como podemos observar o genoma é o nome dado ao conjunto de pares de bases que constitui o material genético de uma espécie (Figura 20). Pode ser desde o genoma de uma bactéria, até o genoma humano. Isto é, toda a informação contida na molécula do DNA das células, constitui o genoma, onde existem regiões codificadoras e não codifica- doras, ou seja, regiões que contém informações e outras que não as contém. Muitos or- ganismos já tiveram seu genoma sequenciado como algumas bactérias, plantas e peixes. Figura 20. Representação ilustrativa da sequência de bases de nucleotídeos do DNA que compõem o genoma. Fo nt e: 1 23 R F https://www.science.org/doi/pdf/10.1126/science.abj6987 https://www.youtube.com/watch?v=MvuYATh7Y74 U4 17Biologia Celular e Genética Ácidos nucléicos No genoma são encontrados vários genes, sequências de DNA localizadas em uma de- terminada região de um ou mais cromossomos que contém informação para um produto funcional, seja uma proteína, RNAt ou RNAr. Grande parte do nosso DNA é não codi- ficadora, ou seja, não é responsável por algum tipo de informação, porém, as regiões codificadoras formam os genes. A informação hereditária contida no gene é decodificada numa molécula, o RNA, du- rante a transcrição e, depois, é utilizada na tradução, síntese de uma proteína. Esse mecanismo é conhecido por expressão gênica, e será estudada em outra unidade. Na célula em interfase, os genes ficam distribuídos ao longo da cromatina, mas no mo- mento em que acontece a divisão da célula ocorre a individualização dos cromossomos e os genes passam a serem localizados em pontos específicos nos cromossomos, que são chamados locus gênicos (Figura 21). Figura 21. Localização dos genes nos cromossomos (locus gênicos). (No alto=>cromossomo; no detalhe=> o DNA mostrando os genes A e B. Em unidades posteriores, voltaremos a tratar sobre os cromossomos, cariótipos e me- canismos de transmissão dos genes ao longo das gerações. Cromossomo Genes (áreas de DNA nos cromossomos) codificam para a produção de proteínas es- pecíficas Gene A é a sequência de DNA que produz a proteína A Gene B é a sequência de DNA que produz a proteína B Um gene mutado tem um código incorreto, resultando em erro para produzir corretamente sua proteína específica). Fo nt e: 1 23 R F G LO SS Á R IO 18 Biologia Celular e Genética U4 Ácidos nucléicos Atividade 2. Anticódon: nome dado à trinca (três bases nitrogenadas) que ficam num doa braços RNAt, correspondente ao códon do RNAm, que corresponde a um dos 20 tipos de aminoácidos que existem na natureza. Códon: nome dado à trinca (três bases nitrogenadas) do RNAm com a informação para um determinado tipo de aminoácido. Interfase: fase da vida da célula em que ela não está se dividindo. Ela pode estar se preparando para dividir ou não. Nocaute gênico: modificação genética introduzida capaz de interromper ou anular um gene que, então, não mais se expressa. Pentose: estrutura química formada por 5 átomos de Carbono (C) como os açúcar ribose e dexosirribose. 2. ATIVIDADES PROPOSTAS Atividade 1. Enunciado Sobre as moléculas de DNA e RNA, preencha a tabela com os principais apontamentos. DNA RNA Estrutura da molécula Tipo de pentose Bases nitrogenadas Localização intracelular Principais funções Enunciado A molécula de DNA, que contém a informação genética dos organismos, é composta por sequências de nucleotídeos, muitas das quais participam da formação de moléculas de RNA. Assinale a alternativa que apresenta uma sequência de nucleotídeos de DNA e sua respec- tiva sequência de RNA. a. CCGTTACAGTAC e GGCAATGTCATG b. CCGTTACAGTAC e GGCAAUGUCAUG c. CCGTTACAGTAC e CCGTTACAGTAC d. CCCTTACAGAAC e GGGAATGTCTTG e. CCCTTACAGAAC e GCGUUTCTCUUG U4 19Biologia Celular e Genética Ácidos nucléicos Atividade 3. Durante a pandemia de covid-19, foram desenvolvidas várias vacinas contra o vírus SAR- S-cov-2, buscando diminuir o número de óbitos e não sobrecarregar o sistema de saúde. “Os imunizantes desenvolvidos pelas indústrias farmacêuticas Pfizer, em colaboração com a BioNTech, e pela Moderna são, sem dúvida, os mais inovadores. Eles utilizam uma cópia sintética (produzida em laboratório) do RNA mensageiro (mRNA) do Sars-CoV-2 que codifica a proteína Spike. Esse mRNA é protegido por uma camada de gordura, evitando sua de- gradação e permitindo que seja utilizado diretamente como vacina. Essa gotícula de gordura contendo o material genético do Sars-CoV-2 é reconhecida pelas células e, mais uma vez, o mRNA instrui a célula a produzir a proteína Spike, desencadeando a resposta por anticorpos e a resposta celular.” Fonte: https://www.tecmundo.com.br/ciencia/211399-making-of-vacinas-o-sars-cov2.htm. Acesso em: 25 de abril de 2022. Abaixo são apresentadas várias proposições a esse respeito. Assinale a correta. a. O RNAm fica naturalmente protegido, dentro das nossas células, no interior de uma cama- da de gordura para não ser degradado. b. O RNAm é uma molécula de fita simples que tem capacidade imunizante, ou seja, de gerar a resposta imune no indivíduo que recebeu a vacina. c. O RNAm é uma molécula de fita simples, produzido a partir do DNA e contém a informa- ção de como será a proteína que vai desencadear a resposta imune. d. A proteína Spike, que é produzida a partir do RNAm, é o anticorpo produzido pelo orga- nismo que fica imunizado. e. A proteína Spike, que é produzida a partir do RNAm, forma as capas proteicas dos novos vírus, que são produzidos pelas células do indivíduo vacinado, que irão desencadear res- posta imune. Atividade 4. Enunciado Pesquisas têm buscado o controle de doenças como a dengue. Uma delas resultou “na pro- dução de uma cepa de Aedes aegypti modificada geneticamente, batizada de OX513A. Ela carrega um gene adicionado em laboratório que produz grande quantidade de uma proteína com origem em bactérias, sem função nas células de mosquitos. Ao direcionar os aminoá- cidos e a maquinaria celular dos insetos para a sua própria fabricação, essa proteína impe- de a produção de proteínas essenciais à vida do mosquito e ocupa boa parte do espaço, causando o colapso das células. Combinados, os dois efeitos causam a morte celular em poucos dias: o suficiente para que o macho modificado encontre a fêmea, acasale, passe o gene para sua descendência e morra. Nascidos já com o mecanismo de superprodução da proteína, os novos mosquitos devem morrer antes que possam servir de vetor a doenças.” Fonte: https://revistapesquisa.fapesp.br/polemica-no-ar-de-jacobina/. Acesso em: 25 de abril de 2022. Esses mosquitos modificados geneticamente foram liberados em uma cidade baiana e redu- ziram efetivamente o número de mosquitos e de contaminação por dengue. Esse exemplo https://www.tecmundo.com.br/ciencia/211399-making-of-vacinas-o-sars-cov2.htm https://revistapesquisa.fapesp.br/polemica-no-ar-de-jacobina/ 20 Biologia Celular e Genética U4 Ácidos nucléicos Atividade 5. Enunciado “Estudos epidemiológicos indicam que mulheres sem filhos apresentam cerca de quatro ve- zes mais risco de desenvolver câncer de mama na menopausa do que aquelas que se torna- ram mães ainda jovens. Pesquisadores da UNICAMP buscaram avaliar se havia diferenças morfológicas e no padrão de expressãodos genes no tecido mamário dos dois grupos. Nas amostras das mulheres que tiveram filhos, a quantidade de núcleos com a cromatina mais condensada foi muito maior. Isso mostra que a gestação induziu uma reprogramação local e silenciou alguns genes que poderiam ser inadequados, como aqueles relacionados à prolife- ração celular. É possível que essas mudanças façam com que a mulher com filhos fique mais protegida contra o câncer de mama.” Fonte: https://revistapesquisa.fapesp.br/pesquisadores-esclarecem-efeito-protetor-da-gravidez-contra-o-cancer-de- mama/. Acesso em: 26 de abril de 2022. São feitas abaixo várias proposições a respeito da cromatina. Analise cada uma delas, iden- tificando se são verdadeiras (V) ou falsas (F). ( ) Cromatina é o nome dado ao conjunto formado pela associação do DNA à proteínas nucleares nas células interfásicas. ( ) Cromatina é o nome dado ao DNA contido nas células, sejam pro ou eucariontes, que é também conhecido como genoma, correspondente à sequência de pares de bases de que é composto. ( ) As regiões da cromatina mais condensadas, a heterocromatina, apresentam sequências de DNA não codificadoras ou que não são expressas, que permanecem inativas. ( ) As regiões da cromatina menos condensadas, a eucromatina, apresentam sequências de DNA codificadoras ou que são expressas, que permanecem ativas. ( ) Durante o processo de divisão celular, a cromatina atinge o grau máximo de condensação para formar os cromossomos, que serão igualmente divididos entre as células-filhas. demonstra a aplicação de conceitos básicos da biologia da célula na resolução de problemas de saúde pública. De acordo com o texto, podemos concluir que: a. a introdução de proteínas no mosquito modificado é danosa, causando sua morte e dos descendentes. b. os aminoácidos que foram introduzidos no mosquito eram alterados, originando proteínas alteradas que causaram a morte dos mosquitos. c. o gene foi introduzido nas células reprodutoras do mosquito para que, ao se reproduzir com a fêmea, os descendentes tivessem o gene modificado. d. o gene introduzido não alterou o genoma do mosquito, apenas ocupou espaço nas células para elas não fazerem proteínas e prejudicar a vida do mosquito. e. o gene introduzido no genoma do mosquito continha informações para codificar uma pro- teína com efeitos negativos no mosquito. https://revistapesquisa.fapesp.br/pesquisadores-esclarecem-efeito-protetor-da-gravidez-contra-o-cancer-de-mama/ https://revistapesquisa.fapesp.br/pesquisadores-esclarecem-efeito-protetor-da-gravidez-contra-o-cancer-de-mama/ U4 21Biologia Celular e Genética Ácidos nucléicos A sequência correta, de cima para baixo, é: a. F, F, V, V, F b. V, F, V, V, F c. V, V, V, V, V d. V, F, V, V, V e. F, V, F, V, V 22 Biologia Celular e Genética U4 Ácidos nucléicos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Arend MC, Pereira JO, Markoski MM. Arq Bras Cardiol. 2017; 108(1):81-83. CARVALHO, Hernandes F.; PIMENTEL, Shirlei M.R. A Célula. 4. ed. Barueri: Manole, 2019. Pág. 28-33; 189- 208. POLLARD, Thomas D.; EARNSHAW, William C. Biologia Celular. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Pág. 549-595. Nurk S. et al., 2022. The complete sequence of a human genome. Science, 376: 44–53. EDUCANDO PARA A PAZ _Hlk105681117
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