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JURISDIÇÃO O conceito clássico de jurisdição é o poder que o Estado avocou para si de dizer o direito (jus dicere). É preciso, porém, enaltecer que no Estado Democrático de Direito a jurisdição é, a um só tempo, poder, função e atividade reconhecida ao Poder Judiciário pela Constituição da República não apenas para dizer o direito, como também para efetivá-lo. Supera-se, assim, o conceito de jurisdição formulado no Estado Liberal, em que o papel do juiz era tão somente o de “dizer o direito” (jus dicere). Rodrigo Klippel e Antonio Adonias Bastos lembram que o conceito de jurisdição de Chiovenda não pode ser visto, hoje em dia, como ponto final sobre o tema, visto que se trata de um produto do Estado Liberal de Direito, em que o juiz era visto como um autômato, como verdadeira “boca da lei”, devendo se restringir a realizar uma atividade quase mecânica de subsumir o fato ao direito179. Na verdade, parece-nos que a jurisdição também pode ser vista como um serviço público essencial prestado preponderantemente pelo Poder Judiciário, cuja finalidade, como adverte Leonardo Greco, é a tutela, a proteção, o reconhecimento ou a prevalência das situações fático-jurídicas de que são titulares determinados sujeitos em relação a outros ou em relação a toda a sociedade. Mesmo quando esses interesses possuem a mais ampla extensão subjetiva, abrangendo todos os cidadãos, como, por exemplo, quando o Ministério Público propõe a ação penal pública ou propõe uma ação civil pública em defesa da qualidade do ar, a finalidade da jurisdição, exercida por um juiz equidistante entre esses interesses e qualquer outro de qualquer sujeito que a ele se contraponha, é tutelar aquele interesse que vier a ser reconhecido pela lei como prevalente, público ou privado, de toda a sociedade ou de apenas um indivíduo180. Numa palavra, a finalidade da jurisdição é assegurar a todos o direito à tutela jurisdicional dos direitos ou interesses individuais ou metaindividuais reconhecidos pelo ordenamento jurídico à(s) pessoa(s) que, diretamente ou por intermédio de seus “representantes” ideológicos (MP, associações, sindicatos etc.), invocar(em) a prestação do serviço público jurisdicional. A jurisdição tem íntima relação com a competência. Tradicionalmente, fala-se que a competência é a medida da jurisdição de cada órgão judicial. É a competência que legitima o exercício do poder jurisdicional. Com razão, Marcelo Abelha Rodrigues, ao afirmar que “todo juiz competente possui jurisdição, mas nem todo juiz que possui jurisdição possui competência”181. É, pois, do exame dessa medida da jurisdição que se saberá qual órgão judicial é competente para julgar determinada causa. Com base na teoria geral do direito processual, é possível formular inúmeros critérios para determinar a competência. Tais critérios levam em conta a matéria, a qualidade das partes, a função, a hierarquia do órgão julgador, o lugar e o valor da causa. Daí o uso corrente das expressões que designam a competência em razão da matéria (ratione materiae), em razão das pessoas (ratione personae), em razão da função e da hierarquia, em razão do território (ratione loci) e das chamadas causas de alçada (em razão do valor da causa). Esses critérios podem ser trasladados para os domínios do direito processual do trabalho, desde que observadas algumas peculiaridades desse setor especializado da árvore jurídica. COMPETÊNCIA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO De plano, destaca-se que o fundamento constitucional da competência – em razão da matéria e da pessoa – da Justiça do Trabalho reside no art. 114 da CF, com nova redação dada pela Emenda Constitucional n. 45, publicada no Diário Oficial de 31-12-2004. Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - As ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II - As ações que envolvam exercício do direito de greve; III - As ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV - Os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; V - Os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; VI - As ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; VII - As ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII - A execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; IX - Outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. § 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. § 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. § 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. Por outro lado, as competências em razão da função e em razão do território dos órgãos da Justiça do Trabalho são fixadas pela lei, e não pela CF. É o que diz o art. 113 da própria CF (com nova redação dada pela EC n. 24/99), que remete à lei a tarefa de regular “a constituição, investidura, jurisdição, competência, garantias e condições de exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho”. A lei em questão é da competência privativa da União (CF, art. 22, I), por meio do Congresso Nacional, ou seja, trata-se de lei federal, pois os Estados e os Municípios não têm competência para legislar sobre direito processual (inclusive o do trabalho), os que os impede juridicamente de regulamentar o art. 113 da CF. Competência em razão da matéria A competência em razão da matéria no processo do trabalho é delimitada em virtude da natureza da relação jurídica material deduzida em juízo. Tem-se entendido que a determinação da competência material da Justiça do Trabalho é fixada em decorrência da causa de pedir e do pedido. Assim, se o autor da demanda aduz que a relação material entre ele e o réu é a regida pela CLT e formula pedidos de natureza trabalhista, só há um órgão do Poder Judiciário pátrio com competência para processar e julgar tal demanda: a Justiça do Trabalho. Por isso se diz que a Justiça do Trabalho é uma justiça especializada em causas trabalhistas. Essa orientação é adotada, inclusive, pelo STF: Ementa – Justiça do Trabalho. Competência. CF, art. 114. Ação de empregado contra o empregador visando à observação das condições negociais da promessa de contratar formulada pela empresa em decorrência da relação de trabalho. 1 – Compete à Justiça do Trabalho julgar demanda de servidores do Banco do Brasil para compelir a empresa ao cumprimento da promessa de vender-lhes, em dadas condições de preço e modo de pagamento, apartamentos que, assentindo em transferir-se para Brasília, aqui viessem a ocupar, por mais de cinco anos, permanecendo a seu serviço exclusivo e direto. 2 – À determinação da competência da Justiça do Trabalho não importa que dependa a solução da lide de questões de direito civil, mas sim, no caso, que a promessa de contratar, cujo alegado conteúdo é o fundamento do pedido, tenha sido feita em razão da relação de emprego, inserindo-se no contrato de trabalho. Nessa mesmalinha, o STF conheceu e deu provimento ao recurso extraordinário para reformar acórdão do STJ que – ao entendimento de que a causa de pedir e o pedido demarcam a natureza da tutela jurisdicional pretendida, definindo-lhes a competência – assentara a competência da Justiça Comum para processar ação de reparação, por danos materiais e morais, proposta por trabalhador dispensado por justa causa sob a acusação de apropriação indébita. Parece-nos, porém, que o STF deixou assentado que a fixação da competência material da Justiça do Trabalho depende exatamente daquilo que o autor leva para o processo, isto é, repousa na causa de pedir e pedido deduzidos em juízo, mesmo se a decisão de mérito que vier a ser prolatada envolver a aplicação de normas de direito civil ou de outros setores do edifício jurídico. Esse entendimento restou explicitado no voto do relator, ministro Sepúlveda Pertence, segundo o qual, para se estabelecer a competência, o “fundamental é que a relação jurídica alegada como suporte do pedido esteja vinculada, como o efeito à causa, à relação empregatícia, como me parece inquestionável que se passa aqui, não obstante o seu conteúdo específico seja o de uma promessa de venda, instituto de direito civil”. Na mesma esteira, obtempera João Oreste Dalazen, para quem O que dita a competência material da Justiça do Trabalho é a qualidade jurídica ostentada pelos sujeitos do conflito intersubjetivo de interesses: empregado e empregador. Se ambos comparecem a Juízo como tais, inafastável a competência dos órgãos desse ramo especializado do Poder Judiciário nacional, independentemente de perquirir-se a fonte formal do Direito que ampara a pretensão formulada. Vale dizer: a circunstância de o pedido alicerçar-se em norma do Direito Civil, em si e por si, não tem o condão de afastar a competência da Justiça do Trabalho se a lide assenta na relação de emprego, ou dela decorre. Do contrário, seria inteiramente inócuo o preceito contido no art. 8º, parágrafo único, da CLT, pelo qual a Justiça do Trabalho pode socorrer-se do “direito comum” como “fonte subsidiária do Direito do Trabalho”. Se assim é, resulta evidente que a competência da Justiça do Trabalho não se cinge a dirimir dissídios envolvendo unicamente a aplicação do Direito do Trabalho, mas todos aqueles, não criminais, em que a disputa se dê entre um empregado e um empregador nesta qualidade jurídica. Com a devida vênia, parece-me que o fundamento da tese do autor supracitado mais se coaduna com a competência em razão da pessoa, e não da matéria, pois, para ele, “a qualidade jurídica ostentada pelos sujeitos do conflito intersubjetivo de interesses” é condição suficiente para se fixar a competência da Justiça do Trabalho. Com o advento da EC n. 45/2004, a competência da Justiça do Trabalho foi bastante ampliada, pois ela passou a processar e julgar as ações oriundas, não apenas da relação de emprego, como também daquelas decorrentes da relação de trabalho (CF, art. 114, I). A incompetência em razão da matéria é de natureza absoluta e, consequentemente, deve ser declarada de ofício pelo juiz, independentemente de provocação das partes do processo. Mas cabe ao réu alegá-la antes de discutir o mérito, ou seja, em sede de preliminar (CPC, art. 337, II). A competência material da Justiça do Trabalho é exercida, em regra, no primeiro grau, pelos Juízes (titulares ou substitutos) das Varas do Trabalho. Em grau recursal ordinário, pelos Tribunais Regionais do Trabalho, e, em grau recursal extraordinário, pelo Tribunal Superior do Trabalho e, em algumas hipóteses de matérias constitucionais, pelo Supremo Tribunal Federal. Essa regra pode ser tratada de forma diversa segundo a lei, como, por exemplo, nos dissídios coletivos e na ação rescisória, a competência material é exercida originalmente pelos Tribunais. Competência em razão da pessoa Havíamos dito que a competência estabelecida no art. 114 da CF abarca, a um só tempo, a competência em razão da matéria (litígios referentes à relação de emprego ou decorrentes da relação de trabalho) e a competência em razão da pessoa. Cabe, agora, indicar os critérios escolhidos pelo legislador, pois a competência em razão das pessoas é fixada em virtude da qualidade da parte que figura na relação jurídica processual. Problematizando: quem são as pessoas que podem demandar na Justiça do Trabalho? Para enfrentar tal questão, optamos por conceituar os trabalhadores tutelados pelo direito material do trabalho, ou seja, aqueles que são alcançados pela expressão “trabalhadores”, contida no art. 7º, caput, da CF. Trabalhador, em sentido amplo, é toda pessoa física que utiliza sua energia pessoal em proveito próprio ou alheio, visando um resultado determinado, econômico ou não. Convém dizer, desde logo, que nem todo trabalhador é empregado, mas todo empregado é trabalhador. Existem duas teorias que procuram delimitar o campo de aplicação do direito material do trabalho: a restritiva e a ampliativa. A teoria restritiva, defendida por Manuel Alonso Olea, Francisco de Ferrari e outros, restringe o âmbito dessa disciplina aos empregados sujeitos da relação de emprego ou aos trabalhadores por conta alheia. Essa corrente exclui apenas o trabalhador autônomo. A teoria ampliativa estende o campo de aplicação do direito do trabalho a outros tipos de trabalhadores, inclusive ao autônomo, e não apenas ao empregado. São defensores desta teoria, dentre outros, Cabanellas, Perez Lenero e Galland. A tendência que vem sendo observada é a de que os trabalhadores autônomos, em linhas gerais, não estão tutelados pelo direito do trabalho. A exceção fica por conta da existência de legislação específica no ordenamento jurídico de cada Estado. Durante longo tempo, acreditava-se que o trabalho profissional seria dividido em quatro espécies: autônomo, subordinado, eventual e avulso. Tal divisão mereceu crítica dos estudiosos, uma vez que os trabalhadores eventual e avulso constituem, ao lado dos empregados, subespécies da espécie de trabalhador subordinado. Assim, inspirando-se na doutrina italiana, o pensamento dominante passou a admitir que o trabalho profissional pode ser dividido em dois grandes hemisférios: o do trabalhador autônomo e o do trabalhador subordinado. O trabalho subordinado subdivide-se, por sua vez, em trabalho subordinado típico e atípico. Pode-se dizer, então, que existe o trabalhador subordinado típico e o trabalhador subordinado atípico. Trabalhadores subordinados típicos são o empregado urbano e o empregado rural. Assim, por força da isonomia estabelecida no art. 7º, caput, da CF, as lides entre os empregados, urbano e rural, e os respectivos empregadores são da competência da Justiça do Trabalho, nos termos do art. 114, I, da CF (na sua redação original). Sob o enfoque da competência material, o objeto do vínculo jurídico entre empregado e o empregador é a relação de emprego. São trabalhadores subordinados atípicos o eventual, o avulso, o temporário, o doméstico e o servidor público investido em cargo público, de provimento efetivo ou em comissão, bem como o servidor contratado a título temporário (CF, art. 37, IX). Convém advertir que, à luz do nosso ordenamento jurídico vigente, os trabalhadores autônomos não gozam de proteção do direito do trabalho, mas as relações de trabalho que mantêm com os respectivos tomadores do serviço por eles prestados podem ser processadas e julgadas pela Justiça do Trabalho. O trabalhador eventual e o servidor público investido em cargo público (estatutário), de provimento efetivo ou em comissão, embora subordinados, também estão excluídos da proteção do direito material do trabalho; contudo, a Justiça do Trabalho passou a ser, por força da EC n. 45/2004, que inseriu o inciso I no art. 114 da CF, competente para processar e julgar as ações oriundasdas relações de trabalho entre eles e os respectivos tomadores de seus serviços. Um importante dado histórico deve ser lembrado. É que a Constituição de 1967, com as alterações introduzidas pela Emenda Constitucional n. 1/69, dispunha que era da Justiça Federal a competência para os dissídios entre os servidores públicos federais regidos pela CLT e a União e seus entes descentralizados (autarquias, fundações e empresas públicas). Os servidores celetistas dos Estados e dos Municípios tinham suas lides dirimidas pela Justiça do Trabalho. Com a CF de 1988, os servidores celetistas da União passaram, tal como já se dava com os servidores celetistas dos Estados e dos Municípios, a ter seus litígios com as respectivas pessoas jurídicas de direito público interno submetidos à competência da Justiça do Trabalho (art. 114). O doméstico e o temporário são trabalhadores subordinados sob tutela especial, isto é, não são destinatários de grande parte dos direitos trabalhistas outorgados ao empregado comum. Todavia, ambos já podiam demandar na Justiça do Trabalho. Isso ocorria porque, no caso do trabalhador doméstico, a Lei n. 5.859, de 11 de dezembro de 1972, em seu art. 7º, remeteu ao Decreto n. 71.885, de 9 de março de 1973, a tarefa de regulamentá-la. Assim, esse chamado “decreto autônomo” prescreve no seu art. 2º, parágrafo único, in verbis: As divergências entre empregado e empregador doméstico relativas a férias e anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social, ressalvada a competência da Justiça do Trabalho, serão dirimidas pela Delegacia Regional do Trabalho. Embora não prime pela boa técnica, a norma acima transcrita acabou, na prática, permitindo que os conflitos entre trabalhador doméstico e o tomador do seu serviço passassem a ser da competência da Justiça do Trabalho. Quanto ao trabalhador temporário, a competência da Justiça do Trabalho, para dirimir os conflitos decorrentes da relação de trabalho entre ele e as empresas de serviço temporário, está expressamente prevista no art. 19 da Lei n. 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Agora, com arrimo no inciso I do art. 114 da CF, com redação dada pela EC n. 45/2004, a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações propostas pelo trabalhador doméstico e pelo trabalhador temporário restou ainda mais evidente. O servidor público investido em emprego público é regido pela Consolidação das Leis do Trabalho, observadas algumas ressalvas previstas na Constituição Federal de 1988. Também chamado de servidor “celetista”, pois a relação jurídica que o vincula à Administração Pública é de natureza empregatícia, a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar os conflitos que surgem dessa relação encontra-se albergada no próprio inciso I do art. 114 da CF. O trabalhador avulso também pode demandar na Justiça do Trabalho nos litígios decorrentes da relação de trabalho em que ele e os tomadores de seus serviços figurarem como parte da relação jurídica processual, a teor do art. 643, caput, da CLT, que, a nosso sentir, fora recepcionado pela antiga redação do art. 114 da CF. Com muito mais razão, após a EC n. 45/2004, o trabalhador avulso pode propor ações na Justiça do Trabalho não apenas em face do tomador do seu serviço, do operador portuário e do OGMO – Órgão Gestor de Mão de Obra (CLT, art. 643, caput e § 3º), mas, também, em face do sindicato de sua correspondente categoria profissional (CF, art. 114, III). Em resumo, a interpretação sistemática e teleológica dos incisos I e IX do art. 114 da CF autoriza-nos a dizer que as lides entre os trabalhadores subordinados típicos (empregados urbano e rural) e os tomadores de seus serviços (empregadores) são dirimidas pela Justiça do Trabalho. Já as lides entre os trabalhadores subordinados atípicos (doméstico, avulso, temporário, eventual) e tomadores de seus serviços somente serão da competência da Justiça do Trabalho: a) se houver permissão infraconstitucional em tal sentido; b) se não existir norma infraconstitucional específica prevendo a competência da Justiça Comum; c) ou, nessa última hipótese, se sobrevier lei deslocando a competência para a Justiça do Trabalho. Assim, os trabalhadores autônomos, o empreiteiro pessoa física, os corretores e os profissionais liberais em face dos tomadores de seus serviços (salvo se se tratar de ação oriunda da relação de consumo) e os cooperados em face das cooperativas de trabalho, poderão, a nosso ver, demandar na Justiça do Trabalho, pois não existe lei anterior à EC n. 45/2004 dispondo o contrário, ou seja, prescrevendo que a competência é da Justiça Comum. Além disso, por força do art. 114 da CF, com redação dada pela EC n. 45/2004, será competente a Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações em que figurarem como parte: a) Os sindicatos (inciso III); b) Os entes de direito público externo (inciso I); c) Os órgãos da Administração Pública Direta, Autárquica ou Fundacional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na qualidade de empregadores (inciso I); d) A União, quando ajuizar ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho (inciso VII); e) O INSS, quando promove a execução das contribuições previdenciárias (inciso VIII); f) O MPT, na hipótese do § 3º do art. 114 da CF. Competência em razão da função A competência funcional (ou em razão da função) é fixada em virtude de certas atribuições especiais conferidas aos órgãos judiciais em determinados processos. A competência funcional pode ser vertical (hierárquica ou por graus), fixada com base no sistema hierarquizado de distribuição de competências entre os diversos órgãos judiciais, ou horizontal, atribuída aos órgãos judiciais do mesmo grau de jurisdição. As competências recursais são competências funcionais verticais, portanto o critério adotado é o hierárquico. São competências funcionais horizontais as fixadas para execução da sentença (CLT, art. 877) e concessão de medidas liminares (CLT, art. 659, IX e X). A distribuição por dependência prevista no art. 286, II, do CPC é um caso de competência funcional horizontal fixado por prevenção do juízo perante o qual fora proposta a demanda anterior e julgada extinta sem resolução do mérito. A competência prevista para o juízo do local do dano nas ações civis públicas (Lei n. 7.347/85, art. 2º) é, a um só tempo, funcional (horizontal) e territorial, portanto absoluta. Tomando-se por base os órgãos que compõem a Justiça do Trabalho, podemos dizer que há competência funcional das Varas do Trabalho, dos Tribunais Regionais do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho. A competência funcional das Varas do Trabalho está prevista no art. 652 da CLT, in verbis: Art. 652. Compete às Varas do Trabalho: a) conciliar e julgar: I – os dissídios em que se pretenda o reconhecimento da estabilidade de empregado; II – os dissídios concernentes a remuneração, férias e indenizações por motivo de rescisão do contrato individual de trabalho; III – os dissídios resultantes de contratos de empreitada em que o empreiteiro seja operário ou artífice; IV – os demais dissídios concernentes ao contrato individual de trabalho; V – as ações entre trabalhadores portuários e os operadores portuários ou o Órgão Gestor de Mão de Obra – OGMO decorrentes da relação de trabalho; b) processar e julgar os inquéritos para apuração de falta grave; c) julgar os embargos opostos às suas próprias decisões; d) impor multas e demais penalidades relativas aos atos de sua competência. Por força do art. 653 da CLT, compete, ainda, às Varas do Trabalho, por intermédio do juiz do trabalho (titular ou substituto, conforme o caso): a) requisitar às autoridades competentes a realização das diligências necessárias ao esclarecimentodos feitos sob sua apreciação, representando contra aquelas que não atenderem a tais requisições; b) realizar as diligências e praticar os atos processuais ordenados pelos Tribunais Regionais do Trabalho ou pelo Tribunal Superior do Trabalho; c) julgar as exceções de incompetência que lhes forem opostas; d) expedir precatórias e cumprir as que lhes forem deprecadas; e) exercer, em geral, no interesse da Justiça do Trabalho, quaisquer outras atribuições que decorram da sua jurisdição. A competência funcional dos Tribunais Regionais do Trabalho, quando dividido em Grupos de Turmas, deverá observar o disposto no art. 6º da Lei n. 7.701/88 e o respectivo Regimento Interno, ou seja, um Grupo de Turma, necessariamente, terá competência para apreciar e julgar os dissídios coletivos. Nem todos os TRTs possuem Grupos de Turmas. Alguns funcionam apenas com o Pleno; outros, com Pleno e Turmas. Nos termos do art. 678 da CLT, aos Tribunais Regionais, quando divididos em Turmas, compete: I – ao Tribunal Pleno, especialmente: a) processar, conciliar e julgar originariamente os dissídios coletivos; b) processar e julgar originariamente: 1) as revisões de sentenças normativas; 2) a extensão das decisões proferidas em dissídios coletivos; 3) os mandados de segurança, ressalvados os atos administrativos praticados pelos órgãos de fiscalização (CF, art. 114, IV e VII), cuja competência funcional é das Varas do Trabalho; c) processar e julgar em última instância: 1) os recursos das multas impostas pelas Turmas; 2) as ações rescisórias das decisões das Varas do Trabalho, dos Juízes de Direito investidos na jurisdição trabalhista, das Turmas e de seus próprios acórdãos; 3) os conflitos de jurisdição entre as suas Turmas, os Juízes de Direito investidos na jurisdição trabalhista, as Varas do Trabalho, ou entre aqueles e estas; d) julgar em única ou última instância: 1) os processos e os recursos de natureza administrativa atinentes aos seus serviços auxiliares e respectivos servidores; 2) as reclamações contra atos administrativos de seu Presidente ou de qualquer de seus membros, assim como dos Juízes de primeira instância e de seus funcionários; II – às Turmas: a) julgar os recursos ordinários previstos no art. 895, a, da CLT; b) julgar os agravos de petição e de instrumento; c) impor multas e demais penalidades relativas a atos de sua competência jurisdicional, e julgar os recursos interpostos das decisões das Varas do Trabalho e dos Juízes de Direito que as impuserem. Parágrafo único. Das decisões das Turmas não caberá recurso para o Tribunal Pleno, exceto no caso do inciso l da alínea c do item 1 deste artigo. Quando não divididos em Turmas, diz o art. 679 da CLT que aos Tribunais Regionais compete o julgamento das matérias a que se refere o art. 678, exceto a de que trata o inciso l da alínea c do item 1, bem como os conflitos de competência entre Turmas. Compete, ainda, aos Tribunais Regionais ou às suas Turmas, nos termos do art. 680 da CLT: a) determinar aos Juízes das Varas do Trabalho ou aos Juízes de Direito a realização dos atos processuais e diligências necessárias ao julgamento dos feitos sob sua apreciação; b) fiscalizar o cumprimento de suas próprias decisões; c) declarar a nulidade dos atos praticados com infração de suas decisões; d) julgar as suspeições arguidas contra seus membros; e) julgar as exceções de incompetência que lhes forem opostas; f) requisitar às autoridades competentes as diligências necessárias ao esclarecimento dos feitos sob apreciação, representando contra aquelas que não atenderem a tais requisições; g) exercer, em geral, no interesse da Justiça do Trabalho, as demais atribuições que decorram de sua jurisdição. A competência funcional dos Presidentes dos TRTs está prevista no art. 682 da CLT, com as alterações introduzidas pela EC n. 24/99. Dentre as principais atribuições dos Presidentes, além da prevista no art. 2º, § 2º, in fine, da Lei n. 5.584/70, destacam-se: a) dar posse aos Juízes (titulares e substitutos) das Varas do Trabalho e aos funcionários do próprio Tribunal e conceder-lhes férias e licenças; b) presidir às sessões do Tribunal; c) presidir às audiências de conciliação nos dissídios coletivos; d) executar suas próprias decisões e as proferidas pelo Tribunal; e) convocar suplentes dos Juízes do Tribunal, nos impedimentos destes; f) representar ao Presidente do Tribunal Superior do Trabalho contra os Juízes das Varas do Trabalho; g) despachar os recursos interpostos pelas partes; h) requisitar às autoridades competentes, nos casos de dissídio coletivo, a força necessária, sempre que houver ameaça de perturbação da ordem; i) exercer correição, pelo menos uma vez por ano, sobre as Varas do Trabalho, ou parcialmente sempre que se fizer necessário, e solicitá- la, quando julgar conveniente, ao Presidente do Tribunal de Justiça, relativamente aos Juízes de Direito investidos na administração da Justiça do Trabalho; j) distribuir os feitos, designando os Juízes que os devem relatar; k) designar, dentre os funcionários do Tribunal e das Varas existentes em uma mesma localidade, o que deve exercer a função de distribuidor; l) assinar as folhas de pagamento dos Juízes e servidores do Tribunal. A competência do TST está disciplinada no art. 702 da CLT, na Lei n. 7.701, de 21 de dezembro de 1988, e na Resolução Administrativa n. 1.937, de 20 de novembro de 2017, que instituiu o Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho – RITST. Compete, pois, ao TST, nos termos do art. 74 do seu Regimento Interno, processar, conciliar e julgar, na forma da lei, em grau originário ou recursal ordinário ou extraordinário, as demandas individuais e os dissídios coletivos que excedam a jurisdição dos Tribunais Regionais, os conflitos de direito sindical, assim como outras controvérsias decorrentes de relação de trabalho, e os litígios relativos ao cumprimento de suas próprias decisões, de laudos arbitrais e de convenções e acordos coletivos. Para racionalizar sua atuação e tornar mais eficiente a prestação jurisdicional, o TST, no âmbito da sua autonomia, encontra-se dividido em: Tribunal Pleno, Órgão Especial, Seção Especializada de Dissídios Coletivos e Seção Especializada de Dissídios Individuais, esta subdividida em duas Subseções, e oito Turmas. São as seguintes as competências funcionais de cada órgão do TST: Tribunal Pleno Nos termos do art. 75 do RITST, compete ao Tribunal Pleno: I – eleger, por escrutínio secreto, o Presidente e o Vice-Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, o Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho, os 7 (sete) Ministros para integrar o Órgão Especial, o Diretor, o Vice-Diretor e os membros do Conselho Consultivo da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (Enamat), o diretor e os membros do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Assessores e Servidores do Tribunal Superior do Trabalho (Cefast); os Ministros membros do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) e respectivos suplentes, os membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Ministro Ouvidor e seu substituto; II – dar posse aos membros eleitos para os cargos de direção do Tribunal Superior do Trabalho, aos Ministros nomeados para o Tribunal, aos membros da direção e do Conselho Consultivo da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (Enamat) e do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Assessores e Servidores do Tribunal Superior do Trabalho (Cefast); III – escolher os integrantes das listas para provimento das vagas de Ministro do Tribunal; IV – deliberar sobre prorrogação do prazo para a posse no cargo de Ministro do Tribunal Superior do Trabalho e o início do exercício; V – determinar a disponibilidade ou a aposentadoria de Ministro do Tribunal; VI – opinar sobrepropostas de alterações da legislação trabalhista, inclusive processual, quando entender que deve manifestar-se oficialmente; VII – estabelecer ou alterar súmulas e outros enunciados de jurisprudência uniforme, pelo voto de pelo menos 2/3 (dois terços) de seus membros, caso a mesma matéria já tenha sido decidida de forma idêntica por unanimidade em, no mínimo, 2/3 (dois terços) das turmas, em pelo menos 10 (dez) sessões diferentes em cada uma delas, podendo, ainda, por maioria de 2/3 (dois terços) de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de sua publicação no Diário Oficial; VIII – julgar os incidentes de assunção de competência e os incidentes de recursos repetitivos, afetados ao órgão; IX – decidir sobre a declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, quando aprovada a arguição pelas Seções Especializadas ou Turmas; X – aprovar e emendar o Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho; XI – processar e julgar as reclamações destinadas à preservação de sua competência e à garantia da autoridade de suas decisões e à observância obrigatória de tese jurídica firmada em decisão com eficácia de precedente judicial de cumprimento obrigatório, por ele proferida. (grifos nossos) A Lei n. 13.467/2017 alterou a redação da alínea f do inciso I do art. 702 da CLT, disciplinando que, no elenco das competências do Tribunal Pleno do TST, incumbe-lhe, em única instância: (...) f) estabelecer ou alterar súmulas e outros enunciados de jurisprudência uniforme, pelo voto de pelo menos dois terços de seus membros, caso a mesma matéria já tenha sido decidida de forma idêntica por unanimidade em, no mínimo, dois terços das turmas em pelo menos dez sessões diferentes em cada uma delas, podendo, ainda, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de sua publicação no Diário Oficial. Vê-se, assim, que dispositivo em causa restringe sobremaneira a competência do Pleno do TST para editar ou alterar súmulas e orientações jurisprudenciais, bem como para modular os efeitos da decisão uniformizadora da jurisprudência, o que levou o TST a alterar o seu regimento interno, no particular, como se infere do inciso VII do art. 75 do RITST. Além disso, nos termos dos §§ 3º e 4º do inciso I do art. 702 da CLT, acrescentados pela Lei n. 13.467/2017: Art. 702 (....) § 3º As sessões de julgamento sobre estabelecimento ou alteração de súmulas e outros enunciados de jurisprudência deverão ser públicas, divulgadas com, no mínimo, trinta dias de antecedência, e deverão possibilitar a sustentação oral pelo Procurador-Geral do Trabalho, pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, pelo Advogado- Geral da União e por confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional. § 4º O estabelecimento ou a alteração de súmulas e outros enunciados de jurisprudência pelos Tribunais Regionais do Trabalho deverão observar o disposto na alínea f do inciso I e no § 3º deste artigo, com rol equivalente de legitimados para sustentação oral, observada a abrangência de sua circunscrição judiciária. (NR) De tal arte, parece-nos que as novas regras impostas pela Lei n. 13.467/2017 criaram sérios obstáculos para a edição de súmulas e orientações jurisprudenciais no âmbito da Justiça do Trabalho, deixando claro que o legislador retirou dos Tribunais do Trabalho a autonomia para, regimentalmente, dispor sobre o procedimento atinente à produção de sua jurisprudência. Com efeito, o art. 926, caput, do CPC/2017 dispõe que os tribunais devem uniformizar a sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente, sendo certo que, nos termos dos seus §§ 1º e 2º, é por meio dos seus respectivos regimentos internos que os tribunais “editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante”, devendo “ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação”. No entanto, o TST, num primeiro momento, curvou-se à literalidade da Lei n. 13.467/2017 (alínea f do inciso I, e §§ 3º e 4º do art. 702 da CLT), na medida em que reproduziu essas regras restritivas de sua autonomia para editar e modificar súmulas em seu próprio regimento interno. Posteriormente, o Pleno do TST (ArgInc-696-25.2012.5.05.0463) declarou inconstitucional os referidos dispositivos. Órgão Especial Prescreve o art. 76 do RITST que ao Órgão Especial compete: I – em matéria judiciária: a) processar e julgar as reclamações destinadas à preservação de sua competência, à garantia da autoridade de suas decisões e à observância obrigatória de tese jurídica firmada em decisão com eficácia de precedente judicial de cumprimento obrigatório, por ele proferida; b) julgar mandado de segurança impetrado contra atos do Presidente ou de qualquer Ministro do Tribunal, ressalvada a competência das Seções Especializadas; c) julgar os recursos interpostos contra decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho em mandado de segurança de interesse de magistrados e servidores da Justiça do Trabalho; d) julgar os recursos interpostos contra decisão em matéria de concurso para a Magistratura do Trabalho; e) julgar os recursos ordinários em agravos internos interpostos contra decisões proferidas em reclamações correicionais ou em pedidos de providências que envolvam impugnação de cálculos de precatórios; f) julgar os recursos ordinários interpostos contra decisões proferidas em mandado de segurança impetrado contra ato do Presidente de Tribunal Regional em precatório; g) julgar os recursos ordinários interpostos contra decisões proferidas em reclamações quando a competência para julgamento do recurso do processo principal for a ele atribuída; h) julgar os agravos internos interpostos contra decisões proferidas pelo Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho; i) julgar os agravos internos interpostos contra decisões que denegam seguimento a recurso extraordinário por ausência de repercussão geral da questão constitucional debatida; j) deliberar sobre as demais matérias jurisdicionais não incluídas na competência dos outros órgãos do Tribunal; II – em matéria administrativa: a) proceder à abertura e ao encerramento do semestre judiciário; b) eleger os membros do Conselho da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho e os das Comissões previstas neste Regimento, com observância, neste último caso, do disposto nos §§ 1º e 3º de seu art. 53; c) aprovar e emendar o Regulamento Geral da Secretaria do Tribunal Superior do Trabalho, o Regimento da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, o Regulamento da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, os Estatutos da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (Enamat) e do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Assessores e Servidores do Tribunal Superior do Trabalho (Cefast), e o Regimento Interno do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT); d) propor ao Poder Legislativo, após a deliberação do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), a criação, extinção ou modificação de Tribunais Regionais do Trabalho e Varas do Trabalho, assim como a alteração de jurisdição e de sede destes; e) propor ao Poder Legislativo a criação, a extinção e a transformação de cargos e funções públicas e a fixação dos respectivos vencimentos ou gratificações; f) escolher, mediante escrutínio secreto e pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, Desembargador de Tribunal Regional do Trabalho para substituir temporariamente Ministro do Tribunal Superior do Trabalho; g) aprovar a lista dos admitidos na Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho; h) aprovar a lotação das funções comissionadas do Quadro de Pessoal do Tribunal; i) conceder licença, férias e outros afastamentos aos membros do Tribunal; j) fixar e rever as diárias e as ajudas de custodo Presidente, dos Ministros e servidores do Tribunal; l) designar as comissões temporárias para exame e elaboração de estudo sobre matéria relevante, respeitada a competência das comissões permanentes; m) aprovar as instruções de concurso para provimento dos cargos de Juiz do Trabalho Substituto; n) aprovar as instruções dos concursos para provimento dos cargos do Quadro de Pessoal do Tribunal e homologar seu resultado final; o) julgar os recursos de decisões ou atos do Presidente do Tribunal em matéria administrativa; p) julgar os recursos interpostos contra decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho em processo administrativo disciplinar envolvendo Magistrado, estritamente para controle da legalidade; q) examinar as matérias encaminhadas pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT); r) aprovar a proposta orçamentária da Justiça do Trabalho; s) julgar os recursos ordinários interpostos contra agravos internos em que tenha sido apreciada decisão de Presidente de Tribunal Regional em precatório; t) deliberar sobre as questões relevantes e atos normativos a que alude o art. 41, XXXIII e parágrafo único, deste Regimento. Seção Especializada em Dissídios Coletivos – SDC Diz o art. 77 do RITST, que compete à Seção de Dissídios Coletivos: I – originariamente: a) julgar os dissídios coletivos de natureza econômica e jurídica, de sua competência, ou rever suas próprias sentenças normativas, nos casos previstos em lei; b) homologar as conciliações firmadas nos dissídios coletivos; c) julgar as ações anulatórias de acordos e convenções coletivas; d) julgar as ações rescisórias propostas contra suas sentenças normativas; e) julgar os agravos internos contra decisões não definitivas, proferidas pelo Presidente do Tribunal, ou por qualquer dos Ministros integrantes da Seção Especializada em Dissídios Coletivos; f) julgar os conflitos de competência entre Tribunais Regionais do Trabalho em processos de dissídio coletivo; g) processar e julgar as tutelas provisórias antecedentes ou incidentes nos processos de dissídio coletivo; h) processar e julgar as ações em matéria de greve, quando o conflito exceder a jurisdição de Tribunal Regional do Trabalho; i) processar e julgar as reclamações destinadas à preservação de sua competência e à garantia da autoridade de suas decisões; II – em última instância, julgar: a) os recursos ordinários interpostos contra as decisões proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho em dissídios coletivos de natureza econômica ou jurídica; b) os recursos ordinários interpostos contra decisões proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho em ações rescisórias, reclamações e mandados de segurança pertinentes a dissídios coletivos e em ações anulatórias de acordos e convenções coletivas; c) os embargos infringentes interpostos contra decisão não unânime proferida em processo de dissídio coletivo de sua competência originária, salvo se a decisão embargada estiver em consonância com precedente normativo do Tribunal Superior do Trabalho ou com súmula de sua jurisprudência predominante; d) os agravos de instrumento interpostos contra decisão denegatória de recurso ordinário nos processos de sua competência. Seção Especializada em Dissídios Individuais – SDI Prescreve o art. 78 do RITST que à Seção Especializada em Dissídios Individuais, em composição plena ou dividida em duas Subseções, compete: I – em composição Plena: a) julgar, em caráter de urgência e com preferência na pauta, os processos nos quais tenha sido estabelecida, na votação, divergência entre as Subseções I e II da Seção Especializada em Dissídios Individuais, quanto à aplicação de dispositivo de lei federal ou da Constituição da República; b) processar e julgar as reclamações destinadas à preservação de sua competência, à garantia da autoridade de suas decisões e à observância obrigatória de tese jurídica firmada em decisão com eficácia de precedente judicial de cumprimento obrigatório, por ela proferida. II – à Subseção I (SBDI-1): a) julgar os embargos interpostos contra decisões divergentes das Turmas, ou destas que divirjam de decisão da Seção de Dissídios Individuais, de súmula ou de orientação jurisprudencial; b) processar e julgar as reclamações destinadas à preservação de sua competência, à garantia da autoridade de suas decisões e à observância obrigatória de tese jurídica firmada em decisão com eficácia de precedente judicial de cumprimento obrigatório, por ela proferida; c) julgar os agravos internos interpostos contra decisão monocrática exarada em processos de sua competência ou decorrentes do juízo de admissibilidade da Presidência de Turmas do Tribunal; d) processar e julgar os incidentes de recursos repetitivos que lhe forem afetados; III – à Subseção II (SBDI-2) a) originariamente I – julgar as ações rescisórias propostas contra suas decisões, as da Subseção I e as das Turmas do Tribunal; II – julgar os mandados de segurança contra os atos praticados pelo Presidente do Tribunal, ou por qualquer dos Ministros integrantes da Seção Especializada em Dissídios Individuais, nos processos de sua competência; III – julgar os pedidos de concessão de tutelas provisórias e demais medidas de urgência; IV – julgar os habeas corpus; V – processar e julgar os Incidentes de Resolução de Demandas Repetitivas suscitados nos processos de sua competência originária; VI – processar e julgar as reclamações destinadas à preservação de sua competência, à garantia da autoridade de suas decisões e à observância obrigatória de tese jurídica firmada em decisão com eficácia de precedente judicial de cumprimento obrigatório, por ela proferida; b) em única instância: I – julgar os agravos internos interpostos contra decisão monocrática exarada em processos de sua competência; II – julgar os conflitos de competência entre Tribunais Regionais e os que envolvam Desembargadores dos Tribunais de Justiça, quando investidos da jurisdição trabalhista, e Juízes do Trabalho em processos de dissídios individuais; c) em última instância: I – julgar os recursos ordinários interpostos contra decisões dos Tribunais Regionais em processos de dissídio individual de sua competência originária; II – julgar os agravos de instrumento interpostos contra decisão denegatória de recurso ordinário em processos de sua competência. As Turmas Dispõe o art. 79 do RITST que compete a cada uma das Turmas julgar: I – as reclamações destinadas à preservação da sua competência e à garantia da autoridade de suas decisões; II – os recursos de revista interpostos contra decisão dos Tribunais Regionais do Trabalho, nos casos previstos em lei; III – os agravos de instrumento das decisões de Presidente de Tribunal Regional que denegarem seguimento a recurso de revista; IV – os agravos internos interpostos contra decisão monocrática exarada em processos de sua competência; V – os recursos ordinários em tutelas provisórias e as reclamações, quando a competência para julgamento do recurso do processo principal for atribuída à Turma, bem como a tutela provisória requerida em procedimento antecedente de que trata o art. 114 do RITST. Competência em razão do lugar (foro) A competência em razão do lugar (ratione loci), também chamada de competência territorial, é determinada com base na circunscrição geográfica sobre a qual atua o órgão jurisdicional. Geralmente, a competência ratione loci é atribuída às Varas do Trabalho, que são os órgãos de primeira instância da Justiça do Trabalho. A competência territorial das Varas do Trabalho é determinada por lei federal. Cumpre ressaltar, no entanto, que os Tribunais Regionais do Trabalho têm competência para processar e julgar as causas trabalhistas, originariamente (ex.: dissídio coletivo) ou em grau de recurso (ex.: recurso ordinário), dentro do espaço geográfico, normalmente correspondente a umEstado da Federação. Vale dizer, o TRT tem competência territorial limitada a determinada região, que, geralmente, coincide com a área de um Estado. Na mesma linha, o TST possui competência territorial para processar e julgar, originariamente, os dissídios coletivos que extrapolem a área geográfica de uma região (ou melhor, ultrapassem a área territorial sob a jurisdição de um Tribunal Regional do Trabalho) e, em grau recursal, as decisões dos TRTs nos dissídios individuais ou coletivos. Numa palavra, o TST possui competência ratione loci sobre todo o território brasileiro. O regramento da competência em razão do lugar tem previsão expressa na CLT (art. 651), não cabendo, pois, em princípio, a aplicação supletiva ou subsidiária do CPC. Trata-se, portanto, de competência relativa e somente pode ser arguida por meio de exceção. Logo, não pode ser declarada de ofício (STJ, Súmula 33; TST/SBDI-2 OJ n. 149). Tem-se admitido, em homenagem ao princípio da simplicidade que informa o processo do trabalho – embora tecnicamente não seja a forma correta – a arguição da incompetência territorial como preliminar da contestação. A competência territorial das Varas do Trabalho pode ser classificada: a) quanto ao local da prestação do serviço; b) quando se tratar de empregado agente ou viajante comercial; c) de empregado brasileiro que trabalhe no estrangeiro; ou d) de empresa que promova atividade fora do lugar da celebração do contrato. Portanto, o juízo competente para processar e julgar uma reclamação trabalhista é o juízo do local da prestação dos serviços ou da contratação (art. 651, caput e § 3º, da CLT). Quando agente ou viajante comercial for parte de dissídio, a competência será do juízo em que a empresa tenha agência ou filial e a está o empregado esteja subordinado. Em sua falta, será competente o juízo em que o empregado tenha domicílio ou o da localidade mais próxima. Empregado brasileiro contratado para trabalhar no estrangeiro pode ajuizar reclamação trabalhista no Brasil, desde que não haja convenção internacional dispondo em contrário (art. 651, § 2º, CLT. Conflitos de competência Conflito de competência, cognominado pela CLT de conflito de jurisdição, é um incidente processual que ocorre quando dois órgãos judiciais se proclamam competentes (conflito positivo) ou incompetentes (conflito negativo) para processar e julgar determinado processo. Com efeito, diz o art. 803 da CLT que os conflitos de competência podem ocorrer entre: a) Juízos do Trabalho e Juízes de Direito investidos na jurisdição da Justiça do Trabalho; b) Tribunais Regionais do Trabalho; c) Juízos e Tribunais do Trabalho e órgãos da Justiça Ordinária. De acordo com a Súmula 420 do TST, não se configura conflito de competência entre Tribunal Regional do Trabalho e Vara do Trabalho a ele vinculada. Na verdade, essa Súmula reconhece que não existe, juridicamente, conflito de competência funcional entre órgãos judiciais de hierarquias diferentes. Com efeito, lecionam Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero que o “conflito de competência só pode ocorrer entre juízos com a mesma hierarquia, podendo ocorrer conflito entre juízos de hierarquia diferente apenas quando entre eles não houver vinculação”. São legitimados para suscitar conflito de competência, nos termos do art. 805 da CLT, os próprios juízos e tribunais do trabalho, o Ministério Público do Trabalho (seja como órgão agente ou órgão interveniente) ou as partes interessadas, pessoalmente ou por meio de seus representantes. No que concerne à incompetência relativa, se o réu oferece exceção e o juiz a acolhe e remete os autos para o juízo para o qual declinou a competência, não pode este, de ofício, suscitar o conflito, pois a incompetência relativa só pode ser arguida pela parte. Nesse sentido: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. COMPETÊNCIA TERRITORIAL. COMPETÊNCIA RELATIVA. Uma vez acolhida a exceção de incompetência territorial arguida pela parte, não pode o juízo suscitar conflito de competência (TRT 17ª R., CC 0000134-09.2015.5.17.0000, Rel. Des. Jailson Pereira da Silva, DEJT 25-8-2015). Em outras palavras, o juiz só pode suscitar, de ofício, conflito de competência se esta for absoluta, como, por exemplo, na hipótese do art. 2º da Lei n. 7.347/85, que trata da competência funcional-territorial do juízo do local do dano na ação civil pública ou de demanda ajuizada por servidor público estatutário (STF-ADI n. 3.395). No que concerne à parte interessada, o art. 806 da CLT dispõe que, se ela já houver oposto na causa exceção de incompetência, estará proibida de suscitar o conflito. Trata-se, a nosso ver, de preclusão lógica, na medida em que conflito de jurisdição e exceção de incompetência têm, in casu, a mesma finalidade. Em síntese, a parte que ofereceu exceção de incompetência (CLT, art. 806), ou, ao contestar, arguiu preliminar de incompetência absoluta do juízo, não pode suscitar conflito de competência. O conflito, porém, não impede que a parte que não o suscitou ofereça exceção declinatória de foro, que é relativa (CPC/73, art. 117; CPC, art. 952, parágrafo único). A parte que suscitar o conflito deverá produzir a prova, evidentemente documental, de sua existência (CLT, art. 807). Os conflitos de competência serão resolvidos (CLT, art. 808): a) pelos Tribunais Regionais, os suscitados entre Juízes do Trabalho e entre Juízos de Direito investidos na jurisdição trabalhista, ou entre umas e outras, nas respectivas regiões; b) pelo Tribunal Superior do Trabalho, os suscitados entre Tribunais Regionais, ou entre Juízes do Trabalho e Juízos de Direito sujeitos à jurisdição de Tribunais Regionais diferentes. Como é palmar, a CLT oferece a solução dos conflitos que ocorrem entre os órgãos que integram a jurisdição trabalhista, incluindo os Juízos de Direito nela investidos. O art. 114, V, da CF, com redação dada pela EC n. 45/2004, prescreve ser da competência da Justiça do Trabalho processar e julgar os conflitos de competência entre os órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o, da CF. É de ressaltar, portanto, que a Constituição Federal de 1988 (art. 102, o) estabeleceu a competência do STF para julgar os conflitos de competência entre: a) o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais; b) Tribunais Superiores; c) Tribunais Superiores e qualquer outro tribunal. A Carta Republicana de 1988 determina, ainda, que ao STJ compete julgar os conflitos de competência entre: a) quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no seu art. 102, I, o, da CF; b) tribunal e juízes a ele não vinculados; c) juízes vinculados a tribunais diversos. No que respeita a conflitos de competência entre órgãos judiciais da Justiça do Trabalho, colacionamos o seguinte julgado: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. AJUIZAMENTO NO LUGAR DO DOMICÍLIO DA RECLAMANTE. POSSIBILIDADE DE ELEIÇÃO DO FORO SE COINCIDENTE COM O LOCAL DA CONTRATAÇÃO OU DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS (ART. 651, § 3º, DA CLT). Conflito negativo de competência suscitado pelo Juízo da Vara do Trabalho de Barra Mansa (RJ), que se declarou incompetente, em razão do lugar, para julgar a reclamação trabalhista ajuizada pelo reclamante em Cruzeiro (SP). Considerado o fato de o reclamante ter sido contratado em local de jurisdição da cidade de Cruzeiro e ali ter prestado os serviços por quase todo o contrato de trabalho, localidade em que reside (fl. 2), vem à baila o disposto no art. 651, § 3º, da Consolidação das Leis do Trabalho, que faculta ao trabalhador a eleição do foro, in casu, o Juízo da Vara do Trabalho do Cruzeiro, visando à garantia de todos os princípios protetivos do Direito do Trabalho e de acesso ao Poder Judiciário prevista no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal. Conflito de competência acolhido, para declarar competenteo Juízo da Vara do Trabalho de Cruzeiro (TST-CC 10361-37.2012.5.00.0000, j. 4-12-2012, Rel. Min. Pedro Paulo Manus, SBDI-2, DEJT 7-12-2012). O processamento do conflito de competência na esfera trabalhista é regulado pelos arts. 809 e 810 da CLT. Recomenda-se, outrossim, a consulta aos Regimentos Internos dos Tribunais, pois neles pode haver normas específicas sobre o procedimento a ser observado nos conflitos de competência. Sugestão de leitura: LEITE, Carlos Henrique B. Curso de direito processual do trabalho: Editora Saraiva, 2023. E-book. ISBN 9786553624689. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786553624689/. Acesso em: 22 ago. 2023. QUESTÕES 01 - Nos exatos termos da Consolidação das Leis do Trabalho, o local competente para julgar ação movida por viajante comercial é: a) No local da prestação dos serviços. b) No local de residência do empregado. c) No local da sede da empresa empregadora. d) No local da celebração do contrato. e) No local sede do Tribunal Regional do Trabalho competente. 02 - Vênus distribuiu, na cidade de Caldas Novas, reclamatória trabalhista em face da sua empregadora doméstica Hera, cobrando da mesma as verbas rescisórias que não foram pagas na rescisão contratual e indenização por danos morais. A prestação de serviços se deu na cidade de Anápolis. Nessa situação, com base no que prevê a Consolidação das Leis do Trabalho, poderá a ré arguir exceção de incompetência territorial: a) No prazo de 5 dias a contar da notificação, antes da audiência e em peça que sinalize a existência desta exceção. b) No prazo de 10 dias a contar da notificação, antes da audiência e em peça que sinalize a existência desta exceção. c) Em audiência, antes da apresentação da defesa, hipótese em que o Juiz dará vista à parte autora para manifestação. d) Em preliminar de contestação. RESPOSTAS Questão 01 – O local competente para julgar ação movida por viajante é no local da sede da empresa empregadora, nos termos do art. 651, § 1º, da CLT. Questão 02 – Poderá a parte ré arguir exceção de incompetência territorial no prazo de 5 dias a contar da notificação, nos termos do art. 800, caput, da CLT.