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PEDIATRIA - CICLO I Diagnóstico diferencial de Adenomegalias Anatomia e fisiologia ● O corpo humano possui em torno de 600 nódulos linfáticos ● Baço, tonsilas, adenóides ● Placas de Peyer fazem parte do tecido linfóide e seu papel é realizar a depuração dos antígenos provenientes do fluído extracelular” ○ Tecido de filtração e proteção do organismo” ■ São guardas, sentinelas ○ “Ínguas" ● No período neonatal ○ Não palpáveis ,pouca estimulação antigênica. ● Na infância, ○ Resposta hiperplásica mais imediata e intensa que no adulto, ○ Mais vistos na infância = hipertrofia ganglionar ○ Maior parte das infecções ○ Resposta imediata, intensa, generalizada ● Com o crescimento ○ Mecanismos de defesa mais específicos , ○ Reatividade ganglionar menos intensa e, ○ Comumente, mais localizada. ○ No adulto -> já construiu memória imunológica ○ Quando ocorre é mais localizada Características Tamanho ● O tamanho varia de acordo com a localização ● Usualmente o tamanho normal do linfonodo é < 1 cm de diâmetro, ● Nas crianças (2-10 anos) linfonodos normais podem ser maiores (de 1,0- 2,0 cm) em tamanho. ○ Gânglios maiores podem ser normais (1-2 cm) ● Os > 2-3 cm são sugestivos de malignidade ou doença granulomatosa ○ Resposta inflamatória mais evidente -> pensar em doenças ● 75% das linfonodomegalias periféricas são localizadas. ● + de 50% são observadas na cabeça e pescoço em geral não necessitam de investigações adicionais para o seu diagnóstico. ○ Maioria está na região de cabeça e pescoço ● As linfonodomegalias generalizadas: 25% dos casos e estão geralmente relacionadas a uma doença de base (infecções, doenças autoimunes e neoplasias malignas) ● A incidência anual das linfonodomegalias inexplicadas é de 0,6% na atenção primária, ○ Ambulatórios, consultórios ○ De 1000 casos, apenas 6 casos não são explicados e somente 1,1% desses casos estão relacionados às malignidades Considerar no atendimento ● No atendimento da criança/adolescente com linfonodomegalia é relevante considerar : ○ Idade do paciente, ○ Tamanho, ○ Características ○ Localização ○ Evolução: a quanto tempo apareceu, se está mudando de tamanho ○ Presença de sinais/sintomas inflamatórios ou sistêmicos associados ■ Vermelho, dor, consistência cística ■ Característica de nódulos que não causam preocupação: móvel, regular, de consistência elástica (macio) ● Consistência pétrea = chama a atenção Alerta!! ● Tamanho de linfonodos caracterizados como aumentados na dependência de localização ○ Linfonodos cervicais e axilares, quando > 1 cm; ○ Linfonodos inguinais, quando > 1,5 cm; ○ Linfonodos epitrocleares e poplíteos, quando > 0,5 cm; ■ Epitroclear = fossa cubital ■ Poplíteo = atrás do joelho ○ Linfonodomegalia isolada em criança, quando > 1,5-2 cm; ○ Linfonodos em outras localizações, quando > 1,0 cm; ○ Linfonodos palpáveis em região supraclavicular devem ser considerados sempre anormais, independente do seu tamanho. Diagnóstico diferencial Neonato Causas comuns ● Sífilis ● Toxoplasmose ● CMV ● HIV Causas raras ● Doenças de Chagas (congênitas) ● Leucemia ● Tuberculose ● Reticuloendoteliose ● Doença linfoproliferativa ● Doença de chagas ( congênita) ● Doença de depósito metabólico ● Desordens histiocíticas Crianças Causas comuns ● Infecção viral = infecções de vias aéreas ● EBV = vírus epstein-barr ● CMV = citomegalovírus ● Toxoplasmose PEDIATRIA - CICLO I Causas raras ● Doença do soro ● Leucemia/Linfoma ● Tuberculose ● Sarampo ● Sarcoidose ● Infecção fúngica ● Peste bubônica ● Histiocitose de células de Langerhans ● Doença granulomatosa crônica ● Histiocitose sinusal ● Reação à droga Adolescente Causas comuns ● Infecção viral ● EBV ● CMV ● HIV ● Toxoplasmose ● Sífilis Causas raras ● Doença do soro ● Leucemia/linfoma/doença de Hodgkin ● Doença linfoproliferativa ● Tuberculose ● Histoplasmose ● Sarcoidose ● Infecção fúngica ● Peste bubônica ● Reação à droga ● Doença de Castleman Guia Prático – Localização e Doenças associadas ● Mapa das localizações mais comuns ○ Maioria na cabeça e pescoço (mecanismo de defesa) Cervical ● Infecção orofaríngea (viral, estreptocócica grupo A, estafilocócica) ● Infecção do couro cabeludo/ pediculose ○ Couro cabeludo é altamente vascularizado -> uma lesão sangra muito -> qualquer lesão provoca reação de defesa do organismo ○ Dermatite seborreia -> prurido-> coça -> faz escoriações -> reação do organismo ○ Pediculose = piolho -> alteração ganglionar ■ Levantar o cabelo e em região inferior há lêndeas e linfonodos ■ Lesão provocada pelo piolho + lesão da coçadura -> reação inflamatória ● Infecção viral ( CMV, EBV, HHV-6) ● Doença da arranhadura de gato ○ Gato contaminado com bactéria -> se arranhar a mão / braço a criança pode gerar uma pápula (porta de entrada) e evoluir para adenomegalia axilar ○ Tratar com antibiótico ● Toxoplasmose ● Doença de Kawasaki ● Doença da tireóide ● Doença de Kikuchi ● Histiocitose sinusal ● Doença linfoproliferativa autoimune ● PFAPA = Febre periódica, estomatite aftosa (lesão oral), faringite, síndrome da adenopatia cervical ○ Em geral ocorre em pré escolares ○ Causa gânglios cervicais Auricular anterior ● Conjuntivite ● Outras infecções oculares ● Tularemia oculoglandular ● Celulite facial (acne) ● Otite externa ● Eczema infectado ○ Ex.: alergia a brincos de bijuteria -> inflamação de lobo da orelha -> formação de eczema retroauricular, pode ter secreção purulenta -> adenomegalia auricular anterior ● Otite média ● Infecção viral (rubéola, parvovírus) Supraclavicular ● SINAL DE MALIGNIDADE!!! -> investigar ● Malignidade ou infecção no mediastino (se for a direita) ● Malignidade metastática do abdômen (esquerda) ● Linfoma ● Tuberculose Epitroclear ● Localizado na fossa cubital ● Infecção na mão-braço (se unilateral) ● Linfoma (se bilateral) ● Sarcoidose ● Sífilis Inguinal ● ITU ● DST ○ Condiloma culminado ● Infecções perineais ● Infecções supurativas em MMII (infecções de pele ● Peste bubônica Hilar ● Descoberta ao exame de imagem (raio X, TC) ● Tuberculose ● Histoplasmose ● Blastomicose ● Coccidioidomicose ● Leucemia/linfoma ● Doença de Hodgkin ● Malignidade metastática (unilateral) ● Sarcoidose PEDIATRIA - CICLO I Axilar ● Doença da arranhadura do gato ● Infecção do braço ou da parede torácica ● Leucemia/linfoma ● Brucelose ● Reação a vacina BCG -> hipertrofia ganglionar axilar, unilateral, nos três primeiros meses após vacinação Abdominal ● Malignidades ● Adenite mesentérica (doenças virais e bacterianas) = hipertrofia ganglionar intra abdominal após um quadro de infecção respiratória de repetição (temporário) ○ Mais comum! ○ Função do mesentério = proteção, revestimento ○ Presença de gânglios no mesentério ○ Queixa de febre alta, dor abdominal, vômitos -> pode-se confundir com patologia cirúrgica abdominal (apendicite) -> pedir hemograma e USG = USG sem infecção abdominal e presença de adenite mesentérica ■ Deve-se examinar faringe e ouvido = otite pode cursar com dor abdominal na criança ● Não tem indicação de malignidade -> se repetir exames depois de uns meses estará normal (transitório) Diagnóstico Quadro clínico - doença sistêmica ● Presença de sinais/sintomas sugestivos de doença sistêmica: ○ Febre inexplicada, ■ Descartar outras infecções ○ Perda de peso, ○ Astenia, ○ Palidez, ○ Dor óssea ou articular inexplicadas, ○ Sudorese noturna, ○ Prurido constante (excluir eczema) ○ Dor abdominal recorrente e inexplicada, ○ Petéquias, equimoses, sangramentos. ● Presença de hepatoesplenomegalia. ○ Não associada a outra doença infecciosa (ex.: toxoplasmose, mononucleose) ● Resposta ao tratamento antimicrobiano. Exames complementares ● Após exclusão de outras patologias pela clínica ->pedir exames ● Alguns exames complementares na avaliação de uma cç com suspeita diagnóstica de câncer ● Hemograma: ○ Neutropenia com ou sem blastos, pancitopenia (alteração de todos os grupos celulares - baixos) ● Mielograma: ○ As indicações para sua realização incluem, presença de diminuição significativa e inexplicada do número de células, de umaou mais séries no hemograma, presença de blastos. ■ Ex.: neutropenia, blastos ou pancitopenia ● Desidrogenase láctica (LDH): ○ Maiores concentrações são obtidas durante dano tecidual inespecífico. ● Ácido úrico: ○ Causas de produção excessiva incluem câncer metastático, leucemias, linfomas, anemias hemolíticas, policitemia Exames de imagem ● Radiografia de tórax: ○ Fornece informações acerca da linfonodomegalia generalizada e hilar, além de evidenciar a presença de possível massa mediastinal. ● Ultrassonografia cervical com doppler: ○ É um exame operador dependente (depende do laudo do radiologista) ○ Avaliação de número, dimensões, forma, presença de necrose, padrão de calcificação, padrão vascular ● Ultrassonografia abdominal ● Tomografia de tórax e abdome. Biópsia do linfonodo (diagnóstico tecidual): ● É o padrão ouro para avaliação das linfonodomegalias periféricas (quando não se tem HD, inconclusivo) ● Se após demais passos não chegar a um diagnóstico -> pedir biópsia do linfonodo Quando o linfonodo deve ser biopsiado? ● Linfonodomegalia com pesquisa clínica e laboratorial inconclusiva, e que continua aumentando de tamanho após duas semanas de observação, ou não apresente regressão em 4 a 6 semanas; ● Tamanho: ○ Linfonodos de maior tamanho. ○ Os linfonodos supraclaviculares aumentados devem ser sempre prontamente avaliados, pois estão associados a um alto risco de malignidade; ● Linfonodomegalia com pesquisa clínica e laboratorial inconclusiva, e que continua aumentando de tamanho após duas semanas de observação, ou não apresente regressão em 4 a 6 semanas; ● Linfonodo aderido a planos profundos ou à pele, de crescimento rápido, coalescente e endurecido; ● Linfonodomegalia em região cervical inferior ou supraclavicular e/ou associada a linfonodomegalia profunda; ○ Linfonodos coalescentes = que se juntam ● Linfonodomegalia associada à sintomatologia sugestiva de doença grave (presença de sinais/sintomas sistêmicos persistentes e inexplicados); ○ Perda de peso, palidez, astenia, mudança de padrão de comportamento ● Linfonodomegalia associada a anormalidades radiológicas ou alterações no hemograma inexplicadas pela avaliação de medula óssea; ● Linfonodomegalia generalizada associada a hepatomegalia e/ou esplenomegalia inexplicada; ○ Não é CMV, toxoplasmose ou outra doença que justifique esses sintomas ● Linfonodomegalia sem sinais de involução após tratamento específico. ● É de responsabilidade do pediatra o seguimento clínico seriado desses pacientes. ○ Acompanhar o paciente ● Sempre que houver suspeita de câncer o paciente deve ser encaminhado, o mais rápido possível, para um centro de referência em oncologia pediátrica. PEDIATRIA - CICLO I Caso Clínico Recém-nascido com massa cervical A newborn with neck mass Relato de caso ● Recém-nascido do sexo masculino, primeiro filho de casamento não consanguíneo, foi internado na Unidade de Neonatologia devido a choro fraco, dificuldade para alimentar, hipoglicemia e uma massa cervical anterior aumentada, presente ao nascimento. ● O exame à internação apresentava discreta hipotonicidade, além de edema na porção central do pescoço. ● A massa era de consistência macia, móvel, não cística, sem sinais flogísticos e sem sopro audível. ● O restante do exame físico não apresentava alterações. ● Não havia história de doença tireoidiana ou surdez na família. ● A mãe do bebê era uma mulher jovem e saudável, com gravidez sem complicações, sem história de abuso de álcool ou drogas ilícitas, uso de derivados de tiouréia/agentes antitireoidianos (propiltiouracil, metimazol e carbimazol), drogas ricas em iodo (amiodarona, medicamentos para asma, expectorantes) ou lítio durante a gestação. Não apresentava bócio e sua função tiroidiana era normal, com anticorpos antitireoide negativos ● Foi realizada ultrassonografia que mostrou um aumento difuso significativo da glândula tireóide ● Os achados de baixos níveis séricos de tiroxina livre (T4 livre = 1,7 μg/dL) e altos níveis séricos de hormônio estimulante da tireoide (TSH > 150 μUI/mL) confirmaram o diagnóstico de hipotiroidismo primário. ● Iniciou-se imediatamente a terapia de reposição hormonal com L-tiroxina (25 μg/dia). ● Três dias depois, o nível sérico de TSH era 16,6 μUI/mL, e o recém-nascido já podia se alimentar, tinha boa sucção e boa tolerância à dieta. ● Saber onde a criança nasceu? -> já tinha uma massa cervical ao nascer que deveria ser investigada = situação de negligência do hospital = criança poderia ter um hipotireoidismo severo Resumo ● O bócio congênito é uma causa rara de massa cervical no recém-nascido podendo resultar de um defeito na síntese de tiroxina pelo feto, ou administração de antitireoidianos ou substâncias contendo iodo durante a gravidez. ● Na maioria das vezes, acompanha-se de disfunção tireoidiana. ● É descrito o caso de um recém-nascido a termo, de sexo masculino, com bócio congênito e hipotireoidismo primário. ● Foi iniciada terapia hormonal de reposição com normalização dos níveis de tiroxina e triiodotironina. ● Como a investigação materna foi negativa, a dismormonogênese foi considerada a causa mais provável do hipotiroidismo. Introdução ● O bócio congênito (BC) é uma causa rara de massa cervical em recém-nascidos e pode resultar de ingestão materna de medicamentos antitireoidianos, passagem transplacentária de anticorpos maternos ou erros inatos na produção de hormônios tireoidianos (disormonogênese). ● Outras causas mais raras incluem mutações ativadoras do receptor de TSH (hipertireoidismo não autoimune congênito), mutações ativadoras da subunidade alfa da proteína G (síndrome de McCune-Albright), hemiagenesia da tireóide e tumores tireoidianos. ● Mesmo nas formas hereditárias, o bócio e o distúrbio de tireóide, que frequentemente o acompanha, podem não estar evidentes ao nascimento. ● A dismormonogênese do sistema tiroidiano representa cerca de 10 a 20% de todos os casos de hipotiroidismo congênito, e a maioria dos recém-nascidos apresenta um bócio relativamente grande.
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