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Os estudos nos mostra que é bem recente o conceito de infância. Esta fase da vida alguns estudiosos defendem que vai desde o dia do nosso nascimento até os doze anos de idade onde há transformações para adolescência. A passagem da infância para a fase adulta é marcada em todas as sociedades, algumas sociedades primitivas a transição entre a infância e idade adulta se dá por meio de algum ritual de iniciação. Esta fase de transição que liga a infância a fase adulta compreende a adolescência. É na adolescência que ocorrem as maiores transformações tanto a nível biológico, psicológico e social do ser humano, geralmente esta fase se estende dos doze aos vinte anos de idade. Psicologia da Infância e da Adolescência contribuirá para o seu crescimento acadêmico e humano. A Evolução do Conceito de Infância O conceito da infância, como um período especial do desenvolvimento em que o indivíduo deve ser cuidado, protegido e supervisionado, é bastante recente quando se considera a história da ciência. Até o século XVII predominava o conceito da criança como um adulto em miniatura, ou seja, acreditava-se que o raciocínio, os sentimentos, as ações infantis possuíam os mesmos elementos básicos dos adultos. Esta concepção influenciou o tratamento que a sociedade dispensava às crianças. Elas recebiam cuidados especiais até os sete anos de idade. As famílias mais prósperas também faziam pouca distinção entre a infância e a idade adulta. Era comum que as crianças começassem a escolarização aos quatro ou cinco anos de idade. Como ninguém dava importância à compreensão do processo de aprendizagem, nem se questionava a dificuldade dos assuntos ensinados, nem se prestava atenção às diferenças individuais. Assim, ninguém se espantava ao ver meninos de sete anos e jovens de dezoito recitando juntos uma lição. A concepção da criança como adulto em miniatura também se refletiu na arte. Na pintura medieval as crianças eram retratadas com as proporções corporais dos adultos. É mais provável que o pintor estivesse dando expressão ao que ele entendia como criança e não ao que realmente via. Gradativamente, a partir do século XVII, o conceito de infância foi mudando. As crianças passavam a ser afastadas de assuntos ligados ao sexo. A participação em festas coletivas e orgias, que até então era permitida, passou a ser considerada como maléfica à formação do caráter e da moral. Começou a se estabelecer o ensino graduado e a formação de classes com crianças mesma idade. Até o século XIX a classe baixa continuou a fazer pouca distinção entre crianças e adultos, colocando seus filhos para aprender um ofício ou trabalhar no campo aos sete ou oito anos, submetendo-os às mesmas faltas legais que os mais velhos e casando-os no início da adolescência. Foi necessário que muitas crianças não sobrevivessem à infância e que a burguesia crescesse para que ocorressem mudanças reais no tratamento que a sociedade dispensava a este período da vida. « há muitas crianças e muitas infâncias, cada uma constituída por nossos entendimentos da infância e do que as crianças são e devem ser». A infância no nosso país é uma etapa da vida entendida de modo diferente das comunidades africanas ou mulçumanas, por exemplo. Todavia, isso não significa que não haja uma essência igual a todas as crianças. As fases do desenvolvimento humano são as mesmas e podem ser observadas em qualquer ser humano de qualquer cultura, guardadas, obviamente, os aspectos culturais de cada grupo. Etimologicamente, a palavra infância vem do latim, infantia e refere-se ao indivíduo que ainda não sabe falar. Os dois Primeiros anos de Vida Nos três primeiros anos de vida, a criança apresenta um ritmo rápido de crescimento. Aos dois anos de idade ela já tem a metade da altura que terá ao completar seu desenvolvimento físico. Depois dos três primeiros anos ocorre um longo período em que o crescimento é mais lento, embora regular. Essa aceleração é conhecida como o estirão da adolescência, em que há um aumento de 8 a 10 cm na altura por ano, durante alguns anos. Para a maioria das pessoas, o crescimento físico se completa por volta dos dezoito anos de idade. Há grande variabilidade entre os indivíduos, tanto no momento em que o crescimento se acelera, quanto na taxa de crescimento. As crianças que começam a crescer mais cedo não se tornam, necessariamente, mais altas do que aquelas que iniciam o crescimento mais tarde. Além disso, existem diferenças entre os sexos quanto ao padrão de crescimento. Durante o crescimento físico há contínuas mudanças nas dimensões das partes do corpo, que crescem em proporções diversas e atingem seu limite máximo em diferentes momentos do processo. Como o tronco é a parte do corpo que apresenta um crescimento mais lento há um período em que pés, mãos, braços e pernas são bastante desproporcionais em relação ao corpo. Assista ao vídeo «Conceito de Infância – Sala de Convidados» da doutora em História Social/UFF, Bárbara Lisboa, onde ela reafirma que a criança no contexto psicossocial não é somente um adulto em miniatura, mas que deve ser protegida, que não deve ser forçada a trabalhar, que é ainda um ser humano em construção. Na medida em que existem padrões de crescimento que são comuns à raça humana e que ocorrem em fases específicas, podemos pressupor a existência de um processo de maturação como um dos agentes dessas mudanças. O crescimento corporal é um dos aspectos do desenvolvimento que é bastante influenciado por fatores hereditários. No entanto, má nutrição, doenças e estresse, se forem muito severos e prolongados, podem ter um impacto negativo sobre o crescimento físico. As crianças que não tem boa alimentação tendem a ser mais baixas, a pesar menos e a apresentar um ritmo de crescimento mais lento do que aquelas bem alimentadas. Quando ela é precoce, ou seja, ocorre nos primeiros dois anos de vida, seu resultado parece ser irreversível. Uma vez que, posteriormente, seja dada a criança uma dieta alimentar adequada, ela retornará ao seu ritmo de desenvolvimento, atingindo, assim, seu nível normal de crescimento. Doenças prolongadas também podem prejudicar o crescimento. Um ambiente cheio de tensão também pode inibir o crescimento físico, fazendo com que haja mudanças no ritmo e uma inibição do potencial de desenvolvimento. As pesquisas evidenciam que o estresse prolongado gera uma menor produção ou liberação do hormônio do crescimento. As crianças nessa última condição voltam ao padrão e ritmo normais de crescimento. Os desequilíbrios hormonais decorrentes, principalmente, de um funcionamento inadequado da hipófise ou da tireóide podem causar danos permanentes no crescimento. Por volta dos dois anos estará apto a falar e, como um ser social, não tardará a se envolver nos mais diferentes tipos de atividades grupais. Em cada estágio, o comportamento muda e a criança se entrega a novas aventuras. Quando, por exemplo, descobre que pode fazer perguntas e obter respostas, chega a embriagar seu interlocutor com tantas perguntas. Assim, o desenvolvimento humano, que tem suas raízes no início da vida, está sempre em processo de vir a ser. A tarefa principal da criança nos seus dois primeiros anos de vida é a descoberta do mundo físico e de si mesma como um objeto desse mundo. O processo de aprendizagem de um indivíduo para conhecer o mundo e a si próprio começa com a percepção, que é a capacidade que a consciência tem de captar os fenômenos sejam interiores ou exteriores. O recém-nascido entra em contato com o mundo por meio da sucção, visão, audição e preensão . Assim, o bebê começa a agarrar os objetos que os adultos colocam em suas mãos , pode levantar ligeiramente a cabeça para alcançar o seio, para de chorar quando a mãe ou outras pessoas o acariciam. Ao final do quarto mês de vida a criança já possui uma série de comportamentos adquiridos. Por exemplo, se o bebê está acompanhando um objeto com os olhos e esse objeto sai do seu campo visual, ele age como se repentinamente o objeto tivesse deixado de existir e não mostra qualquer consciênciade poder reencontrá-lo, virando a cabeça ou olhando em volta. A criança aprende a agir sobre as coisas e começa a se interessar pelas relações que unem as suas ações com os resultados. Assim, ela joga um objeto para agarrá-lo em seguida, balança o berço para agitar as coisas amarradas às grades, agita o chocalho para produzir seu som característico, demora-se observando os movimentos de suas mãos ou dos pés. A intencionalidade dessas ações demonstra que a criança começa a estabelecer relações causais entre suas ações e os eventos do meio ambiente. Durante o período que vai dos oito aos onze ou doze meses, as ações da criança tornam-se atos completos de inteligência prática. A criança começa ainda, a procurar os objetos quando eles saem do seu campo visual. Ela divertir-se-á com as brincadeiras de dar e tomar, como, por exemplo, entregar e receber sucessivamente uma boneca de um adulto. A partir dos nove meses, gradativamente, o desempenho da criança mostra a consolidação da noção de objeto permanente e de espaço contínuo. Ter a noção do objeto permanente, refere-se ao fato de que a criança passa a entender que os objetos, mesmo não sendo visto por ela, ainda existem. Ela passa a se considerar como um elemento do universo, podendo ser tanto agente como receptor das ações dos elementos do meio. Categorias Paigentianas: Teoria chamada de Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética onde Jean Piaget, explica como o indivíduo, desde o seu nascimento, constrói seu conhecimento. Por volta dos dezoito meses, ela começa a mostrar algum ressentimento quando lhe é tomada alguma coisa que ela deseja. As noções do «antes» e «depois» também se desligam do ambiente imediato da criança, para aplicar-se agora a todo o campo da percepção. Em conclusão, no período que vai do nascimento aos dezoito meses, aproximadamente, a elaboração da realidade pelo pensamento da criança constitui a passagem de um estado em que as coisas giram em torno de um «eu» que crê dirigi-las e provocá-las sem, contudo, situar-se como um elemento do universo, para um estado em que o «eu» se torna um elemento de um mundo estável e independente de sua própria atividade. Jean Piaget denominou essa fase do desenvolvimento de estágio sensório-motor, porque pela ausência função simbólica, a criança representa e interage com o mundo pelas ações e baseia seus julgamentos nas sensações e percepções. À medida que a criança constrói as noções de objeto, tempo, espaço e causalidade, elabora também a noção do «eu corporal» ou «eu somático». Essa noção lhe dá uma vaga consciência de si mesma como ser individual. Uma criança não pode comer quando deseja e, quando tenta se movimentar, logo sente suas limitações. Assim, no seu universo, a presença do adulto é muito importante. O atendimento que ele dá às necessidades do bebê é gradativamente percebido, pela criança, como algo que vem do mundo exterior. A confiança básica se define pela certeza de que as necessidades serão atendidas assim que forem manifestadas. A criança adquire o sentimento de que é capaz de fazer com que alguém apareça e a alivie. Assim, ela passa a «confiar no adulto», mesmo quando ele não está presente. A disposição de deixar a mãe sair do seu alcance sem que isso produza ansiedade ou raiva indevida é, assim, o primeiro desafio emocional para a criança no início da objeção do eu. Por outro lado, se suas necessidades não forem satisfeitas adequadamente, o mundo para a criança torna-se fonte de ameaça e de frustração. Em conclusão, a base do «aprender a ser» está no prazer que a criança sente ao ser pegada no colo, ao ser embalada com cantigas de ninar, e quando as pessoas falam com ela com carinho. A confiança se desenvolve como consequência de um clima emocional estável que estimula e nutre a capacidade inerente da criança de se tornar uma personalidade segura. Tal estimulação, no entanto, não exclui transtornos momentâneos que a criança pode aprender a dominar, continuando a crescer psicologicamente. A criança explora os objetos e brinquedos que lhe são oferecidos em função de comportamentos recém-adquiridos. Ela pode, por exemplo, jogar o chocolate no chão para que o adulto o apanhe e o coloque em suas mãos várias vezes sucessivas. A maior parte das interações sociais da criança nos seus dois primeiros anos de vida é com o adulto. No decurso dos dois primeiros meses, ela sorri para o rosto da mãe e do pai, por volta dos três meses, já apresenta sinais de consciência social, tais como deixar de chorar à aproximação de alguém, fazer movimentos e prestar atenção na voz da pessoa adulta, choramingar ou chorar quando alguém que estava conversando ou cuidando dela se afasta. Entre cinco e sete meses, aproximadamente, a maioria das crianças torna-se capaz de distinguir as pessoas estranhas das familiares. Se o contato com estranhos for agradável, calmo e afetuoso, a criança aprenderá a se aproximar de pessoas não-familiares. Após os seis primeiros meses de vida, as intenções sociais crescem em número e complexidade. Aumentam brincadeiras, tais como esconde esconde, fingir que está dormindo, dar adeus, bater palminhas quando alguém canta parabéns, dentre outras brincadeiras. Até aproximadamente os nove meses de idade, as crianças mostram pouco interesse na interação com outros bebês. Basicamente, a tarefa da criança nessa primeira etapa da vida é a descoberta do mundo que a rodeia. Assim, os outros bebês entram como um elemento desse universo e não como alguém que tenha atrativos especiais. A partir dos dois anos de idade a criança torna-se mais ativa. O mundo da criança desta fase é um mundo mágico. O jogo do «faz-deconta» domina todas as suas atividades. Com a imaginação da fantasia ela salta as fronteiras do tempo e do espaço e aumenta os limites de sua força real. Competirá com as outras crianças e mostrará a força de suas capacidades, aptidões e habilidades. Nas suas brincadeiras com as outras crianças é novamente a fantasia que lhe ensinará os papéis sociais. Nos jogos de «faz-de-conta» a criança dos anos pré- escolares aprende a conviver com o mundo e as pessoas de maneira divertida e agradável. Nesta obra as autoras fazem uma abordagem atual e relevante acerca do desenvolvimento da criança e do adolescente do ponto de vista da psicologia, desafiando o estudante a pensar sobre o fascinante desenvolvimento humano. Quando a criança adquire a linguagem, ela entra em um mundo inteiramente novo de coisas a aprender e compreender, tornando-se capaz de liderar usando suas experiências e o meio ambiente de novas maneiras. Fatores que influenciam o desenvolvimento da linguagem Os teóricos que defendem a primeira posição argumentam que a linguagem, como outros comportamentos, é aprendida por meio de condicionamento. Isso leva a criança a repeti-los. A criança é considerada um elemento passivo que responde apenas às estimulações oferecidas pelos outros falantes. Por isso, acredita que a criança deve ter de modo apropriado contato com muitos e variados conteúdos. Para eles, a maior evidência da existência desse mecanismo é o desenvolvimento rápido e o domínio da estrutura da fala que a criança apresenta. Desde o momento em que a criança começa a falar, por volta dos dezoito meses, ela usa as palavras em uma sequência apropriada, ou seja, segue uma regra gramatical. No entanto, as evidências mostram que tanto os fatores biológicos como os ambientais influenciam a aquisição e o desenvolvimento da linguagem. Por volta do primeiro ano de vida a criança começa a usar suas primeiras palavras. Um bebê, por exemplo, pode começar a se referir ao alimento como «papá, papá». Entre dezoito e vinte meses de idade, ocorre uma grande revolução na fala da criança, com o aparecimento das primeiras sentenças. Por volta dos três anos de idade, a produção verbal da criança é semelhante à linguagem coloquial dos adultos, embora ela ainda possa cometer alguns enganos. Como a criança modela sua fala pela linguagem que ouve, é importante que os pais e os outros adultos com quem ela, frequentemente,se comunica usem a dicção e normas gramaticais corretamente. Os erros de articulação ou gagueira, bem como características da voz, estabelecidos neste início, podem se transformar em hábitos fortes que perdurará a vida inteira, se não forem tratados. Ao falar, a criança não copia simplesmente àquilo que ouve. Com o aparecimento da função simbólica ocorre a formação dos primeiros conceitos, o que permite que a criança represente pessoas e objetos ausentes e imagine situações que não estão em sua realidade imediata. Nas perguntas da criança pode-se observar uma necessidade de conceituar o cotidiano. Se os pais e os demais adultos derem atenção e responderem adequadamente à curiosidade intelectual da criança, possibilitarão que ela corrija seus conceitos e modifique suas atitudes e expectativas, bem como ajudarão na construção de conhecimentos que serão úteis durante o processo de educação formal. O raciocínio da criança desta fase, especialmente dos dois aos quatro anos de idade, é muito influenciado por suas próprias vontades e desejos, suas percepções e explicações refletem apenas um ponto de vista, ou seja, o seu. O pensamento egocêntrico caracteriza-se por suas contradições, ou seja, em vez de adaptar-se objetivamente à realidade, ele se modela segundo o ponto de vista da pessoa que o produz, deformando as relações existentes entre os fatos, bem como suas características essenciais. Devido ao seu egocentrismo, a criança estende suas vivências pessoais a brinquedos, animais ou objetos. É como se ela atribuísse uma alma humana a todas as coisas. Se, por exemplo, a boneca ou o bichinho de pelúcia forem deixados em casa quando a família sair para passear, ela logo manifestará preocupação se eles sentirão solidão e medo. Em termos de relacionamento com a realidade externa, quanto mais nova é a criança, mais autocentrada ela é. Outro exemplo de animismo é o fato de a criança acreditar que, se dermos à «fada dos dentes» uma moedinha, ela substituirá o dente que caiu por outro novo. A criança desta fase tende a analisar as coisas à luz da percepção imediata. Seus raciocínios se baseiam no todo ou em alguma característica específica. Se, por exemplo, perguntarmos a criança se automóveis, jipes e caminhões são veículos, ela provavelmente dirá que sim. Ela não é capaz de avaliar a reciprocidade de uma relação de parentesco, por que seu egocentrismo a impede de ver-se como irmã. Por volta dos seis anos de idade o pensamento vai se tornando, pouco a pouco, reversível. É essa reversibilidade que torna possível, a criança, operar com classes e relações, que é característico do raciocínio da fase seguinte. A aquisição da linguagem é um fator muito importante para o desenvolvimento da personalidade. Nesta etapa do desenvolvimento inicia-se a formação da consciência moral. Os conceitos éticos da criança de dois a seis anos de idade fundamentam-se, basicamente, nas consequências das ações. Por isso, a busca do prazer imediato é o segundo elemento de sua orientação moral. Um exemplo dessa busca de prazer imediato é que quando começa a chover, a criança corre para a chuva, apesar de saber que sua mãe poderá vir a puni-la por isso. As ações definidas como corretas são as que dão prazer, ou seja, satisfazem o indivíduo e, ocasionalmente, as outras pessoas. A reciprocidade parece apenas como troca de favores ou deveres. A combinação desses dois elementos, medo da punição e hedonismo ingênuo leva a criança a fazer apenas o que está com vontade de fazer e não o que é obrigada. O surgimento da consciência moral tem como consequência o sentimento de culpa. À medida que a criança se desenvolve, ela se torna mais responsável por suas ações. A partir do segundo ano de vida, o nome adquire significado para a criança e isso a auxilia no estabelecimento da consciência de si mesma. A criança desta etapa ainda não separa nitidamente o real do imaginário. Os heróis dos programas televisão, por exemplo, são ela, assustadoramente, reais e vivem no seu mundo como qualquer outra pessoa de sua realidade cotidiana. Enquanto está nesse processo de descoberta de seus atributos como pessoa, a criança apresenta uma acentuada tendência a opor-se a interferências. Por isso resiste a qualquer coisa que não se harmonize com as ideias e atitudes que adotou. Ela vê quase todas as propostas dos adultos como uma ameaça potencial à sua identidade. Essa reação de oposição generalizada, ou negativismo, representa uma fase de transição entre a dependência e docilidade do bebê e a autonomia e a iniciativa, características da criança em idade pré-escolar. O indivíduo não passa a vida inteira considerando as regras disciplinares como algo imposto de fora. Em outras palavras, o controle externo é substituído pelo autocontrole. Embora a dependência tenda a diminuir como desenvolvimento, algumas pessoas a mantém como um traço de personalidade ao longo da vida. Os pais têm um papel importante no processo de desenvolvimento da autonomia. Se eles encorajarem as iniciativas da criança, elogiarem o sucesso, derem tarefas que não excedam as capacidades da criança, forem coerentes em suas exigências e aceitarem o fracasso, estarão contribuindo para o aparecimento do sentimento de autoconfiança e autoestima. A tipificação sexual é o estabelecimento dos papéis sociais ligados ao sexo, ou seja, aprender a se comportar como homem ou mulher. A partir dos três anos de idade a criança começa a demonstrar um grande interesse por questões sexuais. Na maior parte das atividades lúdicas da criança dos dois aos seis anos de idade predomina a fantasia. No jogo dramático a criança experimenta concretamente os papéis sociais de outras pessoas. O jogo dramático não serve apenas para a criança aprender sobre a sociedade da qual ela faz parte. É também um veículo para a expressão de sentimentos, temores e ansiedades. Frequentemente, pelas atividades lúdicas a criança revela a distribuição do poder dentro da família, o tipo de disciplina imposta a ela pelos pais e professores, o humor e a ternura que os adultos manifestam por ela. Por volta dos quatro anos de idade aparecem os companheiros imaginários. Eles, frequentemente, são sentidos pela criança como parte do seu cotidiano. Algumas vezes eles nascem de uma necessidade real da criança. Em alguns casos, os companheiros imaginários podem até ser mal recebidos pela criança. Outras vezes eles são elementos que estão a serviço da sua consciência moral e vieram para castigá-la ou repreendê-la por erros cometidos, tornando-se assim fonte de ansiedade e culpa. Devido ao fato de o mundo da criança pré-escolar ser uma mistura de realidade e fantasia, ela não é sensível ao argumento dos adultos de que essas figuras imaginárias não existem. No entanto, dois ou três anos depois, essas personalidades fantásticas deixam de existir ou são encaradas apenas como parte do jogo do «faz-de-conta». Quando crianças dos dois aos quatro anos de idade se reúnem, há o predomínio dos jogos paralelos. Esse período representa uma etapa intermediária entre as condutas exclusivamente individuais dos bebês e as condutas socializadas dos anos posteriores. A criança desta idade gosta de participar dos grupos de crianças mais velhas e, por imitação, começa a querer brincar de acordo com o modelo oferecido por elas. Contudo, como não pode colocar-se em pé de igualdade com as demais nem é aceita pelo grupo, ela se isola e passa a brincar sozinha. Paradoxalmente, a criança desta fase é, ao mesmo tempo, muito inovadora, como também, no seu egocentrismo, considera as regras sagradas e intocáveis. A partir dos cinco anos de idade, gradativamente, se iniciam as brincadeiras ou jogos interativos. Ao aproximar-se dos sete anos de idade, a criança apresenta modificações consideráveis no seu comportamento, na sua linguagem, nas suas interações com os companheiros e, principalmente, na qualidade de raciocínio. A criança de idade pré-escolar, por exemplo, embora saiba ir à escola e à casa de um amigo, não consegue dizer qual dos dois lugares é mais próximode sua casa. Por outro lado, além de ser capaz de traçar, mentalmente, os dois caminhos a criança de idade escolar já consegue raciocinar sobre a distância percorrida. No período compreendido dos sete aos doze anos, além do conceito de distância, são dominados também os conceitos de tempo , de classes, de relações e de número. A criança desta fase demonstra, também, uma maior receptividade à amizade de outras crianças, bem como ao conhecimento das coisas do seu mundo imediato. Finalmente, é preciso enfatizar que neste período a criança já possui grandes partes das habilidades dos adultos, algumas das quais bastante especializadas. O pensamento da criança nesta etapa é caracterizado pelo uso de sistemas logicamente organizados, entre os quais estão a classificação e a seriação. Isso porque a maioria de nossos conceitos é concreta, ou seja, baseia-se em características observáveis . Quando começa a falar, a criança é capaz de dar nomes genéricos às coisas, embora nem sempre o faça adequadamente. A segunda posição, classes como um sistema lógico, é assumida por Jean Piaget e seus colaboradores. Para eles, a classificação é de natureza operatória e não apenas semântica, ou seja, é necessário não só o domínio do significado das palavras, mas também o das operações de inclusão e complementação que a classificação comporta. Um exemplo de operação é a união de objetos para construir uma classificação. O domínio da classificação é um processo gradual. Por volta de sete anos a criança começa a dominar as relações de semelhança. Ela é capaz de descobrir critérios de classificação e a partir deles compor grupos e subgrupos. Por volta dos nove anos, ela já domina as relações de inclusão e de complementação. No entanto, esse domínio só ocorre quando as classes se referem às coisas do seu cotidiano e quando as qualidades em jogo são atributos perceptuais dos estímulos. Ela não consegue realizar encaixes hierárquicos para classes ou qualidades abstratas, tais como felicidade ou justiça. Por isso Piaget chamou este período do desenvolvimento de estágio das operações concretas. A mudança na qualidade das estruturas cognitivas ocorre a partir da interação criança-meio.