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Geografia urbana

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GEOGRAFIA 
URBANA 
Aline Carneiro Silverol
A urbanização na 
atualidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar as dimensões da produção e consumo dos lugares da 
cidade.
  Descrever o processo de formação da periferia urbana.
  Explicar as questões ambientais nos espaços urbanos.
Introdução
Atualmente, o processo de produção e ocupação do espaço urbano 
está associado a ciclos econômicos e à ampliação das relações capi-
talistas pela globalização. A forma de produção e consumo desses 
locais também ocasionou uma alteração na maneira como as periferias 
passaram a ser vistas pelo capital. Além disso, a expansão da cidade 
e a produção de novos espaços também provocaram uma série de 
impactos ambientais que colocam em xeque o processo de urbani-
zação na atualidade. 
Neste capítulo, você vai conhecer os fatores que levaram ao processo 
de produção e consumo do espaço urbano, bem como o impacto desse 
processo nas periferias urbanas e no meio ambiente das cidades. 
1 Produção e consumo no espaço urbano
O fenômeno da produção e do consumo nos espaços urbanos está associado 
acima de tudo ao movimento de capitais que ocorre nesses espaços ao longo 
do tempo, ou seja, as práticas e atividades econômicas e sociais relacionadas 
ao capitalismo atual que ocorrem nos centros urbanos. 
Quando analisamos a história e a evolução do processo brasileiro de urba-
nização, entendemos que a urbanização foi e ainda é um fenômeno dependente 
da forma como o fluxo de capitais circula no meio urbano. Além disso, não 
basta o capital circular no espaço urbano; é preciso também que os diversos 
grupos sociais tenham, de alguma forma, acesso a ele.
A produção do espaço urbano
A abertura de capital por grande parte das empresas a partir dos anos 2000 
aumentou o interesse fi nanceiro na produção do espaço urbano. Essas ações 
produziram efeitos importantes na composição e na estruturação das cidades.
O espaço urbano é produzido por variadas ações promovidas pela reprodu-
ção da força de trabalho, que envolve desde a compra de imóveis, passando por 
bens de consumo duráveis e não duráveis até serviços como saúde e educação. 
Dessa maneira, a produção do espaço só acontece quando o mesmo é con-
sumido, pois somente assim pode ocorrer a circulação de capitais necessária 
para fomentar todo o processo de urbanização atual.
A produção do espaço urbano fomenta, ao mesmo tempo, o consumo e a 
produção de capital. A utilização do solo urbano, bem como a melhoria em 
estruturas já existentes, constitui uma forma de mobilização e previsão de 
capital. Além disso, há o processo de renovação das estruturas a partir de 
novos interesses imobiliários e de especulação, como o estabelecimento das 
áreas de negócios (central business) nas grandes metrópoles. 
As mudanças que ocorreram e que alteraram a relação do capital com a 
urbanização modificaram a produção do espaço urbano. Associado a isso, as 
ações promovidas pelo Estado brasileiro em função da expansão do capitalismo 
e da abertura econômica transformaram a produção do espaço em uma atividade 
ainda mais mercadológica. As mudanças fomentadas pelo Estado tiveram por 
objetivo a criação de normas que regulamentassem a circulação de capitais 
e seu investimento na urbanização, tornando-a uma atividade mais rentável.
A urbanização na atualidade2
Em 1993, com a aprovação dos fundos de investimento imobiliário pela Lei nº 8.668, 
e em 1997, com a promulgação da Lei nº 9.514, ou Lei do Sistema de Financiamento 
Imobiliário, a segurança jurídica para os credores imobiliários foi garantida no Brasil. 
Além disso, a criação dos fundos de investimento imobiliário garantiu liquidez a esses 
investimentos, ampliando a relação mercadológica e especulativa aos investidores. 
A partir do momento em que todas as condições favoráveis ao capital 
estavam asseguradas, bastava estimular o consumo do espaço urbano pelas 
diversos grupos sociais e atividades econômicas.
O consumo do espaço urbano
A inserção de novos atores fi nanceiros na produção do espaço urbano, além de 
alterar a composição e a estruturação das cidades, também precisaria alterar 
o padrão do consumo espaço urbano. Para a viabilização e a continuidade da 
produção do espaço urbano, era preciso que ele fosse consumido de forma 
contínua, mantendo as engrenagens do sistema produção–consumo em cons-
tante movimento. Nesse sentido, foi necessária uma grande reformulação da 
estrutura de crédito capitalista, com o aumento do crédito pessoal.
A reformulação do sistema de crédito foi necessária em decorrência das medidas 
impostas pelo liberalismo econômico, que alterou as ações capitalistas a partir da 
década de 1980, o que promoveu o aumento da concentração de recursos controlados 
por investidores institucionais. As empresas passaram a financiar os investimentos de 
forma direta, mediante a emissão de debêntures e ações. Essa situação representou um 
grande prejuízo aos bancos comerciais, pois se tratavam dos principais responsáveis 
pelo financiamento produtivo. Assim, os bancos foram forçados a procurar novas alter-
nativas de investimentos, surgindo então o crédito pessoal como alternativa de lucro. 
3A urbanização na atualidade
A partir dos anos 2000, com a estabilização da economia brasileira, as-
sociada a ações do Estado, houve um crescimento exponencial do crédito 
imobiliário. Ao mesmo tempo, também cresceu a emissão de instrumentos 
financeiros diversos, cujo rendimento está relacionado à produção e ao consumo 
do ambiente urbano construído.
Esse cenário propiciou uma grande expansão da atividade imobiliária 
por todo o país, multiplicando os lançamentos imobiliários e a diversidade 
de empreendimentos. Entretanto, é importante salientar que a aceleração do 
consumo do espaço urbano ocorreu a partir do momento em que o crédito 
habitacional também foi disponibilizado para as classes média e baixa, que 
tinham acesso restrito a esses créditos.
A oferta de crédito para as classes média e baixa ocasionou um crescimento 
exponencial na urbanização, especialmente nas periferias das cidades. Em 
muitas cidades do Brasil, as construções típicas das áreas periféricas foram 
substituídas por empreendimentos imobiliários de baixo custo, como conjuntos 
de edifícios e casas (Figura 1).
Figura 1. A expansão da periferia urbana em Curitiba, Paraná, a partir da oferta de 
crédito para as classes médias e baixas, alterando a paisagem urbana da cidade.
Fonte: Wirestock Images/Shutterstock.com. 
A urbanização na atualidade4
Além disso, cabe ressaltar que o processo de concessão de crédito para 
as classes mais baixas foi provocado pela necessidade de aumento dos lucros 
das grandes incorporadoras. Essas empresas precisavam ampliar seu mercado 
consumidor e, para que uma grande parcela da sociedade pudesse consumir o 
espaço urbano, era preciso a adoção de incentivos financeiros. 
Nesse sentido, para que os produtos urbanos fossem consumidos, foram 
necessárias algumas mudanças, como a atuação das empresas em áreas distan-
tes das regiões centrais. As áreas periféricas ganharam destaque no processo 
de urbanização atual, fato este que alterou a forma como as periferias são 
vistas pelo capital.
2 Periferia urbana
O processo brasileiro de urbanização é resultado de um modelo de desenvol-
vimento econômico que teve início no período colonial, quando os primeiros 
entrepostos para o despacho de mercadorias extraídas do Brasil Colônia passaram 
a atrair pessoas que foram se estabelecendo nesses lugares. Esse processo foi 
intensifi cado a partir da década de 1930, com o início da industrialização brasi-
leira, que também foi um importante fator de atração populacional para as áreas 
centrais. Nesse sentido, a confi guração espacial refl etida ao longo das últimas 
cinco décadas demonstra as diferentes etapas do desenvolvimento econômico. 
O desenvolvimento econômico transformou o espaço urbano e as áreas 
centrais em fragmentos,cada qual apresentando certo valor, de acordo com 
seu potencial de gerar capital, determinado pela proximidade às áreas centrais 
e aos sistemas de transporte e outras infraestruturas. Com isso, houve uma 
valorização dessas áreas e um aumento da especulação imobiliária, excluindo 
parte da população do processo de integração econômica e social.
Entre os anos de 1945 e 1980, o Brasil conheceu um intenso processo de 
urbanização, favorecido pela economia aquecida. Isso provocou um grande 
deslocamento populacional, alterando de forma importante a estrutura de-
mográfica das cidades. A expansão urbana foi responsável pela criação de 
muitos empregos, com uma complexa divisão social do trabalho, integrando 
boa parte da população à dinâmica urbana. 
5A urbanização na atualidade
Nesse período, houve uma grande oferta de trabalho nas áreas urbanas, 
transformando boa parte dos moradores em trabalhadores assalariados, o 
que possibilitou a integração desses grupos sociais à sociedade urbana já 
consolidada. 
A multiplicação dos postos de trabalho atraia cada vez mais grandes con-
tingentes populacionais, que passaram a se concentrar nas áreas centrais, 
além de conferir às cidades um grande dinamismo, dando surgimento a redes 
e fluxos urbanos entre as cidades.
Entretanto, apesar da expansão do mercado de trabalho e da inserção dessa 
parcela da população à dinâmica da cidade, o modelo econômico apresentava 
características concentradoras, tanto de renda quanto de população. Além 
disso, esse modelo se caracterizava por ser ao mesmo tempo excludente, já 
que o espaço urbano não apresentava os mesmos elementos e oportunidades 
para todos. 
As diferenças de renda entre a população trabalhadora e os responsáveis 
pelos meios de produção eram enormes, originando uma sociedade urbana com 
uma estrutura social complexa e fragmentada. A fragmentação da sociedade 
urbana refletiu-se no espaço urbano, com a segregação dos espaços de acordo 
com a renda e a atividade econômica. Se não havia espaço passível de ser 
consumido pela classe trabalhadora, era preciso encontrar locais que pudessem 
acomodar essa população e, ao mesmo tempo, mantê-las a serviço do capital 
nos centros urbanos. As periferias urbanas passaram então a representar o 
espaço urbano destinado e acessível ao consumo da classe trabalhadora urbana, 
graças à especulação imobiliária e aos interesses empresariais e políticos na 
gestão das áreas centrais.
As áreas periféricas eram caracterizadas como locais desorganizados, 
onde o parcelamento do solo era feito de qualquer forma, sem a menor 
preocupação com o planejamento urbano e com a futura instalação de 
infraestruturas. Além disso, qualquer área era passível de ocupação e 
loteamento por parte de algumas incorporadoras, ou mesmo de ocupação 
irregular pela população. Assim, a ocupação de morros, encostas e margens 
de rios avançava de forma indiscriminada, sendo essas áreas comercia-
lizadas a preços acessíveis, para que todos pudessem garantir o direito à 
casa própria (Figura 2).
A urbanização na atualidade6
Figura 2. A ocupação das áreas periféricas de forma irregular e sem 
planejamento causaram e ainda causam graves problemas de ordem 
estrutural, já que a instalação de infraestruturas básicas, como redes 
elétricas e cloacais, não foram previstas.
Fonte: Campanato (2008, documento on-line).
A partir da década de 1980, a economia brasileira sofreu uma desaceleração, 
perdendo seu dinamismo. Uma das principais consequências da diminuição 
do ritmo econômico foi a precarização dos empregos e a redução dos postos 
de trabalho, o que fez diminuir a renda da população trabalhadora e também 
a circulação de capital nos centros urbanos. 
Como consequência, houve um deslocamento populacional para áreas pró-
ximas aos centros urbanos e para as franjas das regiões metropolitanas, em 
função dos altos custos de vida. Esse movimento promoveu o crescimento das 
áreas periféricas de maneira geral, já que houve queda de renda por boa parte 
da população. Além disso, também estimulou o crescimento dos municípios em 
torno do município central, acentuando a formação de periferias metropolitanas.
Com a crise associada às consequências da desaceleração econômica e 
da urbanização, os índices de pobreza aumentaram e se generalizaram nas 
periferias, evidenciando a grande desigualdade social existente no país. A 
partir da década de 1990, a implantação de reformas para a inserção do Brasil 
no processo de globalização, mediante a adoção de políticas neoliberais, 
promoveu a abertura do mercado brasileiro aos investimentos e a instalação 
de atividades econômicas multinacionais.
7A urbanização na atualidade
Você pode estudar aspectos do processo de inserção do Brasil na economia global 
durante os anos 1990 acessando, no link a seguir, o artigo “Abertura econômica, em-
presariado e política: os planos doméstico e internacional”, de autoria dos professores 
da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Mancuso e Amâncio de Oliveira.
https://qrgo.page.link/KX9By
A nova ordem econômica que nascia no Brasil promoveu uma mudança no 
mercado de trabalho, pois a classe trabalhadora não estava preparada para ingressar 
nesse novo contexto trabalhista, que exigia conhecimentos técnicos e escolaridade 
acima das que eram solicitadas para a execução dos serviços até a década de 1980. 
Assim, muitos trabalhadores perderam suas posições no mercado, aumentando a 
parcela pobre e de trabalhadores informais nas periferias e as desigualdades sociais.
A partir da abertura de capital, muitas empresas passaram a investir no setor 
imobiliário e a buscá-lo como mais uma forma de obtenção de lucros. A produção 
do espaço urbano das grandes cidades passou a integrar o sistema financeiro de 
acumulação, alterando a dinâmica e a velocidade dos processos envolvidos na 
valorização imobiliária. Com a valorização cada vez maior dos espaços urbanos 
próximos às regiões centrais, a periferia urbana cresceu ainda mais. 
Para atender à demanda residencial das classes mais pobres, a ocupação das áreas 
periféricas ocorreu sem compromisso com o sistema de regulação do uso do solo e 
áreas de risco, entre outros, além de intensificar a fragmentação e segregação do espaço 
urbano. O mercado imobiliário ilegal também ganhou destaque, com a conivência do 
poder público, em benefício dos empresários do ramo imobiliário, que comercializaram 
muitas áreas de risco, causando prejuízos aos indivíduos e ao próprio Estado.
Entretanto, as mesmas mudanças econômicas e políticas que ocorreram a 
partir da década de 1980, bem como a expansão do capitalismo, promoveram 
outras modificações importantes no cenário urbano. A necessidade de novas 
A urbanização na atualidade8
fontes de lucro e a potencialização do consumo do espaço urbano provocaram 
um processo de urbanização das periferias para atender ao capital investidor. 
As periferias, que antes constituíam locais de pouco interesse por parte dos 
investidores, passaram, a partir dos anos 2000, a serem áreas muito interes-
santes do ponto de vista habitacional e de especulação imobiliária.
A facilitação de aquisição de crédito pessoal e de subsídios governamentais, 
associada à busca por novos mercados consumidores, estimulou a produção 
imobiliária voltada às classes média e baixa. Esse fenômeno promoveu um 
aumento substancial na comercialização de unidades voltadas para essa faixa 
de renda. Contudo, é importante salientar que, apesar do interesse das incor-
poradoras e da melhoria no aspecto do tecido urbano das periferias, tais locais 
não foram integrados aos outros sistemas urbanos existentes, permanecendo 
a segregação e a segmentação do espaço urbano.
A visão da sociedade urbana periférica como um mercado consumidor em 
potencial tem alterado a ocupação dos novos espaços urbanos da periferia. 
A implantação de conjuntos residenciais de edifícios e casas populares 
passu a ocorrer mediante um parcelamento mais adequado de solo, com 
previsão de instalação das estruturasde responsabilidade governamental. 
Além disso, essas obras vêm alterando o visual das periferias, que antes 
eram conhecidas pelas casas muito simples e paupérrimas, sem nenhum 
acabamento externo, mas que agora apresenta conjuntos prediais e casas 
organizadas de maneira estética.
Além de estimular a aquisição de imóveis por parte das classes de menor 
poder aquisitivo, as linhas de crédito também estimularam a reforma de muitos 
imóveis já existentes, tornando a periferia um lugar mais alegre e digno de 
viver, apesar das desigualdades sociais impostas pelo sistema capitalista. 
3 As cidades e o meio ambiente
Toda e qualquer cidade é um sistema complexo, que envolve indivíduos 
e grupos sociais e econômicos com interesses e objetivos distintos e que 
envolve também o meio ambiente. Assim, as interações na cidade ocorrem 
entre os diversos atores sociais e entre esses atores e o meio ambiente. 
Se a cidade é um sistema, a sociedade de forma geral e o meio ambiente 
também podem ser considerados sistemas que se inter-relacionam. A 
forma como interagem é determinante em uma série de comportamentos 
desses elementos. 
9A urbanização na atualidade
Para que isso ocorra, deve existir uma harmonia entre os sistemas. Ou seja, 
as cidades precisam de sistemas integrativos, que forneçam todas as regras 
e regulamentos, sistemas sociais e incentivos econômicos com um conjunto 
comum de metas e objetivos para a preservação e a integração da sociedade 
e da natureza à urbanização.
As questões ambientais que enfrentamos desde o início da expansão dos 
centros urbanos estão relacionadas à ausência de planejamento adequado para 
o desenvolvimento das cidades e também para comportar o aumento popula-
cional e as novas exigências da sociedade e da economia. O crescimento das 
cidades está relacionado a uma demanda cada vez maior por recursos naturais. 
Por sua vez, o aumento da demanda por infraestrutura, relações de consumo 
e energia exerce uma grande pressão sobre os recursos naturais limitados. 
Como consequência, as cidades entram em um processo que, a médio e longo 
prazos, pode se tornar insustentável.
Apesar dos males potenciais do crescimento demográfico desordenado, a urbanização 
pode na verdade ser uma das chaves para um projeto humano mais sustentável no 
planeta Terra. Na TEDTalk disponível no link a seguir, intitulada “Como as megacidades 
estão mudando o mapa do mundo”, Parag Khanna fala sobre como a civilização de 
redes urbanas globais em ascensão promete reduzir a poluição e a desigualdade — e 
até mesmo superar rivalidades geográficas.
https://qrgo.page.link/XoAXD
Problemas ambientais urbanos
As questões ambientais urbanas estão relacionadas aos impactos causados 
ao meio ambiente em função da implantação e crescimento das cidades ao 
longo do tempo. De certa forma, a maioria dos problemas ambientais urbanos 
A urbanização na atualidade10
está associada à maneira como ocorreu o processo de ocupação do território 
e a formação das primeiras cidades. Entre os principais problemas urbanos, 
destacam-se o saneamento básico, a ocupação de áreas de risco, o clima 
urbano, a poluição do ar, da água e do solo e as modifi cações da paisagem.
Sustentabilidade urbana
Um sistema urbano sustentável é aquele que, de forma planejada, permite 
que sua população tenha suas próprias necessidades atendidas e aumente 
seu bem-estar sem prejudicar o mundo natural nem colocar em risco as 
condições de vida de outras pessoas, seja no presente ou no futuro. A 
sustentabilidade urbana pode ser defi nida, então, como um estado desejável 
de condições urbanas que persistem ao longo do tempo, caracterizado 
por equidade, proteção do ambiente natural, uso mínimo de recursos 
não renováveis, vitalidade e diversidade econômica, autoconfi ança das 
comunidades, bem-estar individual e satisfação das necessidades básicas 
humanas (SOUZA, 2016). 
Além disso, a sustentabilidade urbana pode ser considerada como a capaci-
dade dinâmica de um espaço urbano atender adequadamente às necessidades 
das populações presentes e futuras por meio de atividades de planejamento, 
desenvolvimento e gestão ambiental, econômica e social. No contexto da 
sustentabilidade urbana, a dimensão econômica propõe a maximização social e 
ambiental dos recursos humanos, energéticos e materiais por meio do fomento 
do desenvolvimento econômico a eles associados. 
Em uma política de sustentabilidade urbana, os processos devem ir além 
da mitigação de impactos; deve-se eliminar os impactos negativos e reverter 
as situações de insustentabilidade. Isso nos leva a reconhecer que existem 
limites que não devem ser violados, tanto sociais quanto naturais, o que 
instiga a dimensão econômica a encontrar novas oportunidades de inovação. 
A dimensão ambiental em um sistema urbano tem por objetivo manter a 
funcionalidade dos sistemas que dependem da natureza, além de controlar e 
minimizar os impactos sobre o meio ambiente e o espaço, visando a restauração 
e a manutenção dos ciclos naturais (Figura 3).
11A urbanização na atualidade
Figura 3. Um sistema ambiental equilibrado garante uma melhor 
qualidade de vida aos habitantes das cidades. Na imagem, o 
Parque Ecológico do Cocó, em Fortaleza, Ceará.
Fonte: Fortaleza (2008, documento on-line).
A natureza, assim como o ser humano, não é algo fixo e imutável. A socie-
dade e o meio ambiente encontram-se em um fluxo constante, e as alterações 
no modo de vida da sociedade muitas vezes são tão significativas que afetam 
a própria natureza da vida na Terra. O meio ambiente possui uma grande 
capacidade de adaptação às mudanças, mesmo em situações em que a alteração 
é muito brusca e violenta. Compreender essa capacidade de adaptação, bem 
como adotar ações de preservação, é essencial para identificar como as nossas 
cidades podem ser sistemas urbanos sustentáveis.
Para que o meio ambiente possa funcionar em equilíbrio e em harmonia 
com os centros urbanos, diversas medidas podem ser tomadas com relação ao 
uso e à preservação dos recursos, garantindo-os de forma igualitária para as 
gerações atuais e futuras. Entre elas, podemos citar: cuidados na seleção de 
matérias-primas para o desenvolvimento de produtos, avaliando a capacidade 
de regeneração desses recursos; a preservação da biodiversidade; o uso de 
energias renováveis; investimento em políticas que incentivem o aumento do 
A urbanização na atualidade12
ciclo de vida dos produtos; reutilização e reciclagem de produtos; redefinição 
de programas de manufaturas; utilização de meios de transporte de baixo 
impacto ambiental, entre outros.
O ciclo de vida de um produto refere-se às etapas de sua produção, desde a extração 
da matéria-prima para a sua produção até seu descarte. Para cada etapa, observa-se 
quanto foi consumido de recursos e de energia e quais foram os impactos causados ao 
meio ambiente. Ou seja, quando pensamos em um produto e em sua sustentabilidade, 
todas as etapas e recursos despendidos para sua a produção devem ser avaliados.
A dimensão social em um sistema urbano está associada às melhorias e à 
manutenção da qualidade de vida da sociedade. Para a sustentabilidade urbana, 
é necessário que a dimensão social esteja em equilíbrio com os progressos 
alcançados pelo desenvolvimento econômico e que foram proporcionados 
pelo uso dos recursos naturais. 
A sociedade é composta por seres humanos, que são animais sociais que 
consideram não só a felicidade e o bem-estar individual, mas também o da 
coletividade. O comportamento da coletividade reflete o desejo de difusão 
de prosperidade, segurança, saúde, educação, conectividade social, eficácia 
coletiva e de distribuição igualitária desses benefícios, todos os quais dão 
origem a um estado de bem-estar (ROSE, 2019). 
A sustentabilidade urbana, quando consideramos a dimensão social, tam-
bém envolve o reconhecimento das relações e das interdependências entre o 
meio ambiente e sociedade. A existência humana depende da qualidade do meio 
ambiente, ou seja, de arpuro, temperaturas adequadas, solos aptos à produção 
agrícola e à ocupação urbana e segurança no abastecimento de água potável. 
As ações humanas que prejudicam o meio ambiente revertem-se em con-
sequências negativas à própria sociedade, demonstrando a complexidade dos 
sistemas naturais e a necessidade de estudar a fundo seu funcionamento. Além 
disso, por serem sistemas abertos, não há como prever o tipo de resultado após 
uma determinada interferência humana. 
As dimensões econômicas, sociais e ambientais também possuem alguns 
subsistemas, que interferem no sistema urbano, como as questões políticas e 
culturais. Tais questões fazem parte do processo coletivo, uma vez que também 
13A urbanização na atualidade
regem os princípios da convivência humana. A questão política interfere nos 
aspectos financeiros, na relação do Estado com o capital privado e especial-
mente na ética e honestidade na governabilidade urbana. Muitas vezes, a 
sustentabilidade urbana é quase impraticável devido a práticas corruptas nas 
esferas governamentais e da iniciativa privada. 
Já a questão cultural refere-se ao modo como as pessoas encaram a susten-
tabilidade urbana. Atitudes simples da sociedade, como descartar o lixo nos 
locais corretos, economizar água, não fazer ligações clandestinas de esgotos, 
entre outras, não se refletem no comportamento-padrão de todos os cidadãos. 
Para que haja uma mudança nesse tipo de comportamento, são necessários 
investimentos em uma educação ambiental efetiva nas escolas, universidades 
e até mesmo no mundo corporativo, seja ele público ou privado. 
Dessa forma, para se atingir a sustentabilidade urbana, é fundamental 
adotar novas formas de observar e relacionar as dimensões econômica, social e 
ambiental, juntamente com seus subsistemas. Isso significa que a compreensão 
do sistema urbano como uma relação sistêmica é de grande importância para 
avaliar e planejar os cenários futuros do desenvolvimento das cidades. Tais 
perspectivas requerem a identificação e avaliação de oportunidades e ameaças 
capazes de contribuir ou atrapalhar no avanço da sustentabilidade urbana a 
médio e longo prazos, bem como sua inserção nas pautas de discussão das 
políticas públicas e privadas e em processos de gestão associados.
CAMPANATO, V. 22 de março de 2008. Agência Brasil, 2008. Disponível em: http://
memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/galeria/2008-03-22/22-de-marco-de-2008. Acesso 
em: 17 fev. 2020.
FORTALEZA. Wikiwand, 2008. Disponível em: https://www.wikiwand.com/pt/Fortaleza. 
Acesso em: 17 fev. 2020.
ROSE, J. F. P. A cidade em harmonia: o que a ciência moderna, civilizações antigas e a natu-
reza humana nos ensinam sobre o futuro da vida urbana. Porto Alegre: Bookman, 2019.
SOUZA, C. S. Sustentabilidade urbana: conceitualização e aplicabilidade. 2016. 66 f. Dis-
sertação (Mestrado) — Programa de Pós-Graduação em Tecnologias para o Desenvol-
vimento Sustentável, Universidade Federal de São João Del Rey, Ouro Branco, MG, 2016. 
A urbanização na atualidade14
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Leituras recomendadas
CARLOS, A. F. A.; SANTOS, C. S.; ALVAREZ, I. P. (Org.). Geografia urbana crítica: teoria e 
método. São Paulo: Contexto, 2018.
LEFEBVRE, H. A revolução urbana. Belo Horizonte: UFMG, 1999. 
LEITE, C. Cidades sustentáveis cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num 
planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012.
SANTOS, M. Ensaios sobre a urbanização latino-americana. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2010.
SANTOS, M. Manual de geografia urbana. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2008.
SANTOS, M. Urbanização brasileira. 5. ed. São Paulo: EDUSP, 2009.
15A urbanização na atualidade
GEOGRAFIA 
URBANA 
Aline Carneiro Silverol 
A urbanização brasileira
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer a evolução da população urbana brasileira.
  Explicar a urbanização e a estruturação da rede urbana brasileira.
  Descrever a urbanização contemporânea brasileira e os novos con-
teúdos das metrópoles e das cidades médias.
Introdução
Desde os primórdios da colonização do Brasil, diversos acontecimentos 
conduziram à formação das primeiras vilas e cidades, especialmente os 
relacionados aos fluxos econômicos, que interferiram de forma direta 
e importante na dinâmica da urbanização. Ao longo da nossa história, 
a expansão e a diversificação da economia promoveram movimentos 
populacionais entre áreas rurais e áreas urbanas, aumentando a concen-
tração demográfica das cidades, até ultrapassarem a porcentagem de 
habitantes das áreas rurais. Conforme a população foi aumentando e os 
fluxos de produtos e serviços foram se ampliando, as cidades e as taxas 
de urbanização aumentaram consideravelmente. Com isso, surgiram as 
grandes cidades e as metrópoles, além de toda uma hierarquia urbana.
Neste capítulo, você vai analisar o processo de urbanização brasileira e toda 
a dinâmica envolvida para que as cidades atingissem suas configurações atuais.
1 Evolução da população urbana brasileira
Durante alguns séculos, a população brasileira esteve concentrada nas áreas 
rurais, em função da própria dinâmica colonial e das capitanias hereditárias. 
As vilas que se formaram incialmente tinham por objetivo concentrar e despachar 
os produtos obtidos por meio da exploração agrícola e mineral para as metrópoles.
A partir do século XVII, com a intensificação das relações comerciais, al-
gumas vilas se transformaram em cidades e passaram a exercer certa influência 
regional, constituindo-se também em polos de atração populacional. De forma 
geral, a população urbana se distribuía pelos diferentes aglomerados urbanos, 
especialmente nas cidades litorâneas e fortemente concentradas na região Su-
deste. Somente a partir da República Velha, entre o final do século XVIII e 
início do século XIX, é que esses sistemas regionais de cidades começaram de 
fato a se articular nacionalmente dentro de um processo de integração comercial. 
Em 1920, o Brasil apresentava uma população de aproximadamente 27 
milhões e contava com 74 cidades maiores com mais de 20 mil habitantes, 
totalizando entre elas 4.552.069 residentes, ou seja, 17% do total da população 
(BRITO; HORTA; AMARAL, 2018). 
Entre 1920 e 1930, 58,3% das cidades com mais de 20 mil habitantes estavam localizadas 
na região Sudeste, em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e no Distrito Federal de 
então (Brito et al. 2001). 
A partir dos anos de 1930 e 1940, o processo de urbanização se tornou ainda 
mais intenso, incorporando grandes transformações estruturais na sociedade 
e na economia nacional impulsionadas pela urbanização. Nesse sentido, não 
apenas o território foi modificado, mas também a sociedade brasileira, que 
se tornava cada vez mais urbana.
A urbanização do interior do território nacional foi acelerada pelo movimento 
dos capitais comerciais locais, fomentando o investimento de origem privada de 
companhias de energia, de telefone, de meios de transporte, instituições de ensino, 
entre outras. Além disso, a expansão desses investimentos também promoveu 
o surgimento de serviços como postos de gasolina, armazéns de mercadorias 
diversas e outras atividades que reforçaram a urbanização e o setor terciário. 
O aumento da população nas áreas urbanas foi ocasionado por uma série 
de fatores, dentre eles a crise internacional, que prejudicou o comércio agrí-
cola, obrigando uma parcela significativa da população rural a migrar para 
as cidades. Além disso, o processo de industrialização também foi um fator 
de atração da população rural e de outras regiões, aumentando a migração 
interna.No entanto, apesar do dinamismo, a população urbana de então não 
havia superado a população que ainda vivia nas áreas rurais.
A urbanização brasileira2
O censo demográfico realizado em 1940 revelou que apenas 31,2% da população brasi-
leira, na época, que era de 41.236.315 habitantes, residia em áreas urbanas. Nas décadas 
seguintes, o percentual aumentou consideravelmente, com tendência crescente de 
urbanização, mas foi somente em 1970 que se registrou uma população urbana maior 
que a população rural (55,9%) (BRITO; HORTA; AMARAL, 2018). 
Até o final da Segunda Guerra Mundial, a base econômica da maioria 
das cidades e capitais do território brasileiro era fomentada pelas atividades 
agrícolas. Nesse contexto, essas cidades exerciam uma grande influência 
nas áreas ao seu redor, além de concentrar funções administrativas públicas 
e privadas. Por isso, o percentual da população rural oscilava, mas ainda era 
dominante a parcela de habitantes nas áreas rurais. 
À medida que as cidades se tornavam mais urbanizadas, diversas melhorias 
nas condições de vida, aliadas às iniciativas de saneamento e de saúde pública, 
reduziram as taxas de mortalidade, aumentando as taxas de crescimento 
vegetativo. Além disso, existia o trabalhado assalariado nas lavouras de café, 
o que atraiu migrantes nacionais e internacionais, provocando mudanças sig-
nificativas no perfil da mão-de-obra. Ademais, a existência de trabalhadores 
assalariados gerou uma intensa comercialização de produtos alimentícios, 
além do fortalecimento do mercado interno. 
Contudo, a crise de 1929 interrompeu esse período de forte crescimento 
econômico e urbano que estava associado à produção cafeeira. A queda dos 
produtos agrícolas brasileiros, somada à dívida externa que o Brasil contraiu 
em função da economia cafeeira, obrigou o país a investir no mercado interno 
e a construir uma nova organização econômica, dessa vez estruturada na 
industrialização mediante a substituição de importações.
Para compreender melhor os impactos da crise de 1929 no Brasil, assista ao vídeo 
disponível no link a seguir e amplie o seu conhecimento.
https://qrgo.page.link/qF4zN 
3A urbanização brasileira
A combinação dessas mudanças provocou também dois tipos de migração 
que iriam persistir lado a lado durante meio século a partir de 1930: a ocupação 
das fronteiras agrícolas (Paraná, Centro-Oeste e Amazônia) e a migração de 
áreas rurais para áreas urbanas. A continuação da queda da mortalidade e o 
aumento do crescimento vegetativo contribuíram fortemente para alimentar 
esses dois fluxos durante várias décadas (MARTINE; MCGRANAHAN, 2010).
O auge do crescimento da população urbana ocorreu entre 1950 e 1980, 
especialmente entre 1950 e 1960. A partir de 1970, o crescimento da população 
ainda era considerado elevado, embora não no mesmo ritmo verificado até a 
década de 1960. O crescimento demográfico urbano ocorreu em virtude do 
intenso fluxo migratório das áreas rurais para as áreas urbanas, associado às 
altas taxas de natalidade e baixas taxas de mortalidade, que também contri-
buíram de forma relevante para o aumento da população urbana.
Entretanto, é importante salientar que o crescimento da população urbana a 
partir da década de 1950 ocorreu em áreas específicas do território brasileiro. 
Nas demais regiões do Brasil, a população rural continuava em crescimento.
Entre 1960 e 1980, ápice do ciclo de expansão das migrações, estima-se 
que elas foram responsáveis por 53% do crescimento da população urbana. 
Considerando a taxa de fecundidade dos migrantes rurais na cidade, ou seja, o 
efeito indireto da migração, sua participação total no crescimento da população 
urbana chegou a 65% (BRITO; HORTA; AMARAL, 2018).
Quando analisado sob o ponto de vista espacial e social, o crescimento da 
economia urbano–industrial até o fim da década de 1970 foi muito intenso e 
desequilibrado. O crescimento e a urbanização estavam muito concentrados 
no Rio de Janeiro e em São Paulo, o que gerou importantes desequilíbrios 
regionais, inclusive entre a cidade e o campo, pois não se conseguia gerar o 
número de empregos necessários para atender a toda a demanda de crescimento 
da força de trabalho que passou a estar presente nas cidades. 
As migrações internas foram responsáveis pela redistribuição da população do campo rumo 
às cidades, principalmente na região centro-sul, acima de tudo para o estado de São Paulo. 
Entretanto, apesar do crescimento econômico, os desequilíbrios provocaram nas cidades de 
destino a reprodução dos problemas econômicos e sociais enfrentados nas cidades de origem. 
A urbanização brasileira4
Entre 1970 e 1980, houve um significativo aumento da população urbana, 
se comparado à década anterior. Nas décadas de 1980 e 1990, a população 
total cresceu 26% enquanto a população urbana aumentou em cerca de 40%, 
demostrando que a movimentação populacional foi a responsável pelo incre-
mento do número de habitantes nos centros urbanos. 
Entretanto, a partir da década de 1990 houve uma interrupção do cres-
cimento populacional e de sua concentração nos grandes centros urbanos. 
A taxa de crescimento urbano caiu de 4,2% ao ano na década de 1970 
para 2,6% na década de 1980, especialmente nas regiões metropolitanas. 
No decorrer da década de 1970, as metrópoles eram responsáveis por 41% 
de todo o crescimento urbano nacional, enquanto na década de 1980 essa 
proporção caiu para 30%. O ciclo de urbanização acelerada que perdurou 
por meio século estava sendo interrompido, e a queda do crescimento e 
da concentração populacional nas grandes cidades se manteve durante a 
década de 1990. 
Diversos fatores contribuíram para essa mudança no padrão de urbanização 
brasileiro, sendo os três principais a queda da fecundidade, a crise econômica 
que se instalou no país entre as décadas de 1980 e 1990 e a descentralização 
da atividade produtiva nos grandes centros urbanos. Esses fatores, associados 
a outros fenômenos, permitiram uma reorganização da hierarquia urbana e a 
alteração dos centros de influência urbana.
2 Urbanização e estruturação da rede 
urbana brasileira
No início da colonização do território brasileiro, os colonizadores por-
tugueses não tinham interesse em criar uma sociedade urbana, e sim 
estabelecer poucos núcleos urbanos no litoral brasileiro com a função 
de defesa e também como entreposto para a exploração do interior nos 
diversos ciclos extrativos e agrícolas que existiram durantes os séculos 
que se seguiram. Além disso, as classes sociais dominantes eram ligadas 
à economia rural e consideradas antiurbanas. Dessa forma, durante todo 
o período colonial e pela maior parte período imperial, as cidades criadas 
para defesa e entreposto não faziam parte de uma rede urbana propriamente 
dita, relacionando-se mais com a metrópole no exterior do que entre si, 
confi gurando pontos isolados no território.
5A urbanização brasileira
Para entender como a economia colonial influenciou o processo de urbanização, 
assista ao vídeo disponível no link a seguir.
https://qrgo.page.link/2Dvsu 
Entretanto, os núcleos urbanos se comunicavam de alguma forma, e uma 
incipiente rede urbana no Brasil deu seus primeiros passos a partir do século 
XII. Ao final de 1720, o Brasil já contava com sessenta e três vilas e oito 
cidades, sendo considerada a primeira rede urbana formada no país. 
Nesse sentido, o país durante muitos séculos foi considerado um grande 
arquipélago. O território era formado por espaços que tinham uma rede de 
relações próprias, que eram ditadas por suas relações com o exterior, isto é, 
outros subespaços. Cada um deles apresentava polos dinâmicos internos, que 
exibiam uma relação escassa e não interdependente. 
A rede urbana formada a partir de 1720, bem como o processo de urba-
nização, foi iniciada a partir da colonização do território brasileiro, sendo 
estimulada pelo próprio sistema social das colônias, que era formado pelos 
seguintes elementos:
  a organização política-administrativa, queenvolvia as capitanias he-
reditárias, o governo geral e a organização municipal;
  as atividades econômicas, especialmente a agricultura de exportação 
e de subsistência;
  a estrutura social (classes sociais) propriamente dita;
  as atividades urbanas e os indivíduos nelas envolvidos, como o comércio, 
os serviços, o funcionalismo, a mineração, etc.
Dessa forma, a urbanização se acelerou a partir do século XVIII, e as 
vilas e cidades ganharam mais importância a partir do momento em que 
as oligarquias agrárias elegeram as cidades como sua moradia principal. A 
classe social agrária só retornava às fazendas para acompanhar o andamento 
da produção e para resolver problemas relacionados à atividade (Figura 1).
A urbanização brasileira6
Figura 1. Os núcleos urbanos passaram a ganhar importância com 
a migração da oligarquia agrária para as pequenas cidades.
Fonte: Diego Grandi/Shutterstock.com. 
A urbanização brasileira atingiu sua maturidade no século XIX, à medida 
que as relações entre as cidades foram se expandindo. No período da República 
Velha (1889–1930), com a grande expansão da economia cafeeira e com o 
primeiro e expressivo surto de industrialização, as relações comerciais entre as 
diferentes regiões brasileiras, que até então eram consideradas “arquipélagos 
regionais”, se intensificaram.
Os arquipélagos regionais eram articulados em torno das atividades agrí-
colas e mantinham um sistema de cidades polarizadas, geralmente pelas 
capitais das Províncias, que seriam os futuros Estados na era Republicana. 
As capitais centralizavam os principais serviços públicos, a intermediação 
comercial e financeira das principais atividades econômicas regionais e os 
serviços ligados a exportação e importação.
Foi somente após a Segunda Guerra Mundial que a integração do território 
brasileiro tornou-se viável. Nesse momento, foi realizada a interligação das 
estradas de ferro e a construção das estradas de rodagem, permitindo o contato 
entre as diversas regiões do país e especialmente dessas regiões com o núcleo 
urbano principal, São Paulo. 
Toda essa infraestrutura construída tinha por objetivo intensificar os programas 
de substituições de importações e, por consequência, promover o crescimento da 
urbanização com a ampliação da comunicação entre as redes urbanas. Assim, a 
7A urbanização brasileira
implantação da malha ferroviária e viária contribuiu para a interligação de cidades 
e redes urbanas mais isoladas, conferindo dinamismo e a expansão da urbanização.
Na segunda metade do século XIX, com a produção do café, o estado de São 
Paulo passou a ser o polo dinâmico de uma grande área do território nacional, 
que abrangia o Rio de Janeiro e Minas Gerais. Todo o aparato desenvolvido 
em função da economia, como a melhoria dos meios de transporte, incluindo 
a malha ferroviária e de portos, e dos meios de comunicação, trouxe uma 
dinamismo a essa região do Brasil. 
A dinâmica proporcionada pela produção e comercialização do café e pela 
divisão do trabalho foi fundamental para que o processo de industrialização se 
desenvolvesse primeiramente nessa região, atribuindo uma grande vantagem 
ao polo central, São Paulo (Figura 2).
Figura 2. A cafeicultura foi uma das responsáveis pelo grande acúmulo 
de capital por parte da oligarquia agrária, utilizado no início da indus-
trialização brasileira.
Fonte: Andre Nery/Shutterstock.com. 
Em função da cafeicultura e do processo de industrialização, os movimentos 
migratórios internos e internacionais aumentaram. Estes últimos, fortemente 
financiados pela União, impunham limites à expansão dos deslocamentos 
populacionais internos, já que se dirigiam principalmente para os Estados onde 
mais se expandia a economia, ou seja, São Paulo e Rio de Janeiro. Assim, os 
A urbanização brasileira8
imigrantes, especialmente os italianos, representaram importante mão-de-
-obra nas fazendas cafeeiras e contribuíram para o incremento populacional 
das áreas urbanas na época da industrialização.
Entre décadas de 1970 e 1980, que representam o ápice do processo de 
concentração urbana, cerca de metade da população urbana já residia nas 
aglomerações metropolitanas e nos centros dessas aglomerações. Nesse pe-
ríodo, cidades com menos de 20 mil habitantes ainda apresentavam alguma 
relevância, já que concentravam cerca de um quarto (1970) e um quinto (1980) 
da população urbana do país. 
No decorrer do tempo, entretanto, sua participação relativa passou a 
apresentar uma tendência decrescente em favor das cidades maiores. Por 
outro lado, observa-se que a maioria da população que vive nos aglomerados 
metropolitanos residia em cidades com mais de 100 mil habitantes. No ano 
2000, por exemplo, elas concentravam cerca de 92% da população total dos 
aglomerados metropolitanos(BRITO; HORTA; AMARAL, 2018).
Nesse contexto, podemos dizer que o período compreendido entre os anos 
de 1930 até 1980 foi marcado por um processo constante de crescimento 
urbano e de concentração da população em cidades cada vez maiores. Esse 
processo estava relacionado às diversas etapas do desenvolvimento nacional 
e foi estimulado pelo crescimento demográfico, que alimentava o estoque de 
migrantes em potencial nas áreas rurais, assim como o crescimento vegetativo 
da população residente nas próprias cidades.
Até a década de 1980, o ciclo de expansão da população urbana rumava 
para uma grande concentração da população nas grandes cidades, principal-
mente nos centros urbanos que apresentavam uma população acima de 500 
mil habitantes. Nessa época, 57% da população urbana já residiam em cidades 
com mais de 100 mil habitantes e 35% em cidades com mais de 500 mil. 
Após 1980, o ciclo de expansão começou a assumir um novo padrão, apresen-
tando uma diminuição mais representativa das taxas de crescimento da população 
urbana e da evolução do seu grau de urbanização, além de uma maior participação 
das cidades com uma população entre 100 e 500 mil habitantes, que continuaram 
a crescer mais intensamente que as cidades com mais de 500 mil habitantes.
A partir do final da década de 1980 e início da década de 1990, novos 
fenômenos passaram a ser observados nas cidades, como a aglomeração 
urbana e a formação das grandes metrópoles, bem como a descentralização 
da população em relação às grandes cidades e a busca por cidades menores.
9A urbanização brasileira
3 Urbanização contemporânea brasileira
Enquanto a indústria comandava a economia, as aglomerações urbanas surgiam em 
função dos parques industriais, formando cidades com grande população e relevân-
cia na hierarquia urbana. Essas cidades e suas redes urbanas eram articuladas em 
função da manutenção do processo de urbanização e industrialização, o que tornava 
os outros núcleos urbanos à sua volta dependentes das decisões das cidade-polo. 
No decorrer das décadas de 1980 e 1990, a indústria vinha perdendo força e 
influência na economia brasileira de forma gradativa, enquanto o setor de serviços 
experimentava um importante crescimento. Além disso, com a globalização, o 
perfil industrial foi sendo alterado: as grandes indústrias, com muitos empregados 
em sua linha de produção, foram sendo substituídas por fábricas de alta tecnologia. 
A mudança no perfil industrial exigia um novo tipo de espaço urbano, pois as 
grandes cidades já não eram tão atrativas, já que não havia necessidade de tanta mão-
-de-obra, além dos custos operacionais nas grandes cidades serem mais elevados.
O espaço urbano e as cidades foram sendo reestruturados em função da 
mudança do perfil industrial, além da interação entre as indústrias de alta tecno-
logia, as atividades artesanais, que são desempenhadas pelas micro e pequenas 
empresas, e o setor de serviços. Essas duas últimas são também desempenhadas 
em espaços dispersos, especialmente nas cidades médias, em função do custo. 
Diante desse cenário, as grandes indústrias começaram a se deslocar para 
as cidades de porte médio, periféricas aos grandes centros urbanos, ondefoi 
possível diminuir os custos de operação, como aluguéis, salários dos traba-
lhadores, mobilidade urbana, dentre outros. Foi assim, por exemplo, que a 
cidade de Cubatão, em São Paulo, localizada a 58 km da região metropolitana 
da capital, se consolidou como um importante parque industrial.
Entretanto, as micro e pequenas empresas apresentam um papel fundamental 
na articulação espacial das cidades médias. Para essas empresas, as relações 
entre o cliente e o fornecedor são baseadas em custos relacionados a distância e, 
por isso, elas se aglomeram, organizando, de uma certa forma, o território. Essa 
articulação interna dos territórios aumenta a relevância das cidades médias como 
agentes do processo de descentralização das políticas públicas (SANTOS, 2008).
Como já mencionado anteriormente, diversos fatores contribuíram para 
a mudança do padrão de urbanização no Brasil, dentre os quais podemos 
destacar a queda nas taxas de fecundidade, a crise econômica entre 1980 e 
1990 e a própria descentralização da atividade industrial. 
A diminuição das taxas de fecundidade pode ser atribuída à própria di-
nâmica do processo de urbanização. Uma família numerosa na cidade não 
era uma vantagem; ao contrário, significava maiores gastos, especialmente 
A urbanização brasileira10
com relação à habitação, e ainda representava um obstáculo à ascensão social 
e econômica. Dessa forma, houve uma redução das taxas de fecundidade, 
diminuindo a oferta de migrantes e o crescimento da população das cidades.
Por sua vez, a crise econômica que o país atravessou entre as décadas de 
1980 e 1990, em decorrência das consequências do choque do petróleo, que 
provocou o aumento dos juros internacionais, só fez crescer a dívida externa 
brasileira. Além disso, a crise promoveu uma forte queda na produção indus-
trial. Os problemas econômicos acabaram gerando outras mudanças de grande 
significado, como o fim do regime militar e o retorno do regime democrático; 
o fim do ciclo de industrialização via substituição de importações; e a im-
plantação das teorias neoliberais, incluindo a privatização de várias grandes 
empresas nacionais, a abertura da economia e a redução do papel do Estado.
Todos esses fatores tiveram consequências que culminaram em um dos 
impactos mais importantes para o processo de concentração urbana, que foi o 
aumento do desemprego e da pobreza. As grandes cidades foram as mais afeta-
das pela crise econômica, especialmente os setores industriais e de construção. 
A redução das oportunidades econômicas nas grandes cidades diminuiu e até 
inverteu, por algum tempo, os fluxos migratórios tradicionais, gerando fortes 
correntes de migração de retorno e até as primeiras correntes importantes de 
emigração para o exterior. Nesse contexto, as cidades não metropolitanas ou 
cidades médias se apresentaram como uma opção e uma nova oportunidade, 
e a partir daí foram registradas taxas de crescimento populacional maiores 
do que as taxas observadas nas cidades metropolitanas. 
Ademais, antes mesmo da crise econômica, já estava ocorrendo um processo 
de descentralização da produção, especialmente na região de São Paulo, o 
que sinalizava um novo padrão de urbanização e de crescimento das cidades. 
Somado a isso, também havia uma importante iniciativa por parte dos gover-
nos para integrar as diferentes regiões do país por meio de incentivos fiscais 
e outros investimentos governamentais, como a Zona Franca de Manaus. Os 
próprios empresários aproveitaram essas iniciativas para descentralizar suas 
atividades, fugir dos problemas das grandes metrópoles, abrir novos mercados 
e aumentar sua lucratividade.
Por outro lado, essa descentralização das atividades econômicas obser-
vada entre as décadas de 1980 e 1990 não diminuiu a relevância das grandes 
metrópoles no cenário urbano nacional. Mesmo com duas décadas de cres-
cimento econômico reduzido, as metrópoles brasileiras apresentaram um 
aumento populacional absoluto importante, pois, apesar da estagnação das 
cidades-polo, as periferias das grandes metrópoles continuaram crescendo a 
um ritmo acelerado.
11A urbanização brasileira
A região metropolitana de São Paulo, apesar da descentralização das atividades 
industriais, permaneceu como a capital dos serviços administrativos, financeiros, 
educacionais e culturais mais modernos do país. Assim, podemos considerar que a 
área de influência do polo dominante foi mais expandido do que desconcentrado.
A partir da década de 1990, uma nova ordem urbana foi sendo constituída na 
hierarquia urbana brasileira, com a reorganização e a mudança dos papéis das 
cidades, além do seu reposicionamento em relação à sua importância regional e 
nacional. Essas alterações se processaram em decorrência do novo padrão urbano, 
que mudou a forma como as cidades e suas redes urbanas se relacionavam. 
As mudanças observadas no decorrer da década de 1990 refletiram-se no 
aparecimento de uma nova rede urbana, com cidades mais ou menos qualifi-
cadas dentro da hierarquia urbana, e localizadas longe dos locais tradicionais, 
como o interior do país. As cidades médias passaram a exercer influência e 
a atrair novos habitantes em decorrência das suas funcionalidades e do papel 
que desempenham na rede urbana regional, nacional e internacional.
As cidades médias
O processo de metropolização brasileiro esteve associado ao processo de 
industrialização de partes do espaço geográfi co e às dinâmicas de acúmulo 
de capital, que originaram nove regiões metropolitanas, as quais comandavam 
a organização do território. O desenvolvimento das cidades médias foi um 
aspecto fundamental dessa organização em um nível hierárquico inferior, 
atuando como polos regionais e contribuindo para a articulação das escalas 
de produção e consumo (SANTOS, 2009).
Entretanto, o fenômeno metropolitano contemporâneo tem resultado em 
novas formas urbanas, que se caracterizam pela tendência à dispersão, alta 
mobilidade e desconcentração territorial, espalhando-se pelas áreas urbanas 
e rurais. Em vista disso, as cidades médias podem ser consideradas um fenô-
meno oposto ao processo vivenciado inicialmente pelas grandes cidades que 
resultaram na metropolização. 
Por definição, as cidades médias não se encontram em um contexto me-
tropolitano, possuindo uma posição definida na hierarquia urbana e na or-
ganização do território. No entanto, com a relevância que foram adquirindo 
A urbanização brasileira12
com o tempo, essas cidades passaram a indicar o surgimento de um nível 
hierárquico intermediário. Portanto, as cidades médias brasileiras apresentam 
uma grande importância para o funcionamento das redes urbanas, pois possuem 
características que as aproximam das grandes metrópoles, como a oferta de 
bens e serviços e os demais fluxos econômicos, mas ao mesmo tempo não 
apresentam os mesmos problemas.
BRITO, F.; HORTA, C. J. G.; AMARAL, E. F. L. A urbanização recente no Brasil e as aglome-
rações metropolitanas. OFS Preprints, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.31219/osf.
io/84b92. Acesso em: 30 jan. 2020.
MARTINE, G.; MCGRANAHAN, G. A transição urbana brasileira: trajetória, dificuldades 
e lições aprendidas. In: BAENINGER, R. (org.). População e cidades: subsídios para o 
planejamento e para as políticas sociais. Campinas: Núcleo de Estudos de População, 
Unicamp; Brasília: UNFPA, 2010.
SANTOS, M. Manual de geografia urbana. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2008.
SANTOS, M. Urbanização brasileira. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2009.
Leituras recomendadas
CARLOS, A. F. A.; SANTOS, C. S.; ALVAREZ, I. P. (org.). Geografia urbana crítica: teoria e 
método. São Paulo: Editora Contexto, 2018.
LEFEBVRE, H. A revolução urbana. Belo Horizonte: Editora Ufmg, 1999.
LEITE, C. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num 
planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012.
SANTOS, M. Ensaios sobre a urbanização Latino-Americana. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2010.
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cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
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local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
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13A urbanização brasileira
GEOGRAFIA 
URBANA 
Mait Bertollo
O processo de urbanização
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Descrever as condições históricas para a origem e o desenvolvimento 
das cidades.
  Explicar a urbanização na Revolução Industrial.
  Relacionar a urbanização contemporânea e novos conteúdos com a 
globalização e a economia flexível.
Introdução
Ao longo dos séculos, as principais cidades da história humanidade 
passaram por processos que consolidaram o arranjo espacial presente 
no espaço urbano. Para entender como o processo de urbanização re-
dundou no que se vê no mundo atual, é preciso destrinchar os principais 
marcos históricos e tendências que pontuaram a evolução dessas grandes 
aglomerações sociais, econômicas e culturais.
Neste capítulo, você vai estudar como surgiram as principais cidades 
da história e as condições para que elas se consolidassem. Você também 
verá como a Primeira e a Segunda Revoluções Industriais proporcionaram 
alterações substanciais nas cidades, tanto no âmbito espacial quanto 
social, político e econômico. Por fim, a urbanização contemporânea 
também será abordada, em seu desenvolvimento ligado às redes de 
transportes e telecomunicações e intensificado pela globalização.
1 Condições históricas para a origem 
e o desenvolvimento das cidades
A aglomeraç ã o de habitantes e a concentraç ã o de construç õ es e infraestruturas 
como ruas, avenidas e pontes e de atividades econô micas como comé rcio, 
serviços e indú strias caracterizam o espaç o urbano, que correspondem às 
cidades. Registros histó ricos indicam que já havia cidades entre 3.500 a.C. e 
3.000 a.C. Antes disso, a maioria dos grupos humanos era nô made, isto é, se 
deslocava periodicamente em busca de alimentos e abrigo. 
A história da humanidade revela que em todos os períodos houve desen-
volvimento de té cnicas, numa contínua reinvenção de saberes em busca de 
melhorias das condições materiais. A prática da agricultura e a domesticação 
de animais são exemplos de té cnicas criadas, permitindo ao ser humano viver 
coletivamente em cidades. Isso somente foi possível quando a produção do 
campo passou a gerar excedentes suficientes para permitir que uma parcela 
da população passasse um longo período trabalhando em outros tipos de 
atividades, como artesanato, comércio etc.
Assim, o sedentarismo trouxe novas possibilidades aos primeiros povoados 
e o domínio das técnicas já citadas. Ao longo do tempo, esses povoados foram 
erguendo fortificações e delimitações com o objetivo de proteção. Cada povoado, 
influenciado por fatores históricos e geográficos específicos, foi se organizando 
e se especializando em determinadas atividades sociais e econômicas.
Cidades na Antiguidade
As primeiras cidades surgiram na Mesopotâmia, atual região onde está lo-
calizado o Iraque, por volta do ano 3.500 a.C., entre os rios Tigre e Eufrates. 
Esses rios propiciavam água, planícies e solos férteis para cultivo de várias 
culturas, elementos importantes para o estabelecimento de cidades. 
Nesse sentido, outras regiões também tinham condições semelhantes, como 
as regiões de vales dos rios Nilo, no Egito, Indo, na Í ndia, e Huang-Ho (ou 
Amarelo) e Yang-Tsé -Kiang (Azul) na China. Assim, foi possível nesses lugares 
desenvolver nú cleos urbanos que se expandem até os dias atuais. À medida que 
a produç ã o de alimentos foi se diversificando e aumentando, outros lugares 
que nã o tinham vales fé rteis també m foram capazes de desenvolver cidades.
Com o passar do tempo, a produção de excedente foi crescendo e fomentou 
o comércio nas cidades, o que as tornou cada vez mais importantes política 
e economicamente, bem como populosas. Um exemplo é Atenas, na Grécia, 
que chegou a ter uma população superior a 200 mil habitantes entre os anos 
508 a.C. e 322 a.C. Roma, uma das mais importantes cidades da Antiguidade 
e capital do Império Romano do Ocidente, atingiu no século IV, durante o 
início da Era Cristã, mais de 900 mil habitantes.
À medida que as conquistas de novos lugares ocorriam, novas cidades 
eram formadas, conformando as primeiras redes urbanas. Um exemplo é o 
Império Romano, que, a partir de Roma, sua principal e mais importante cidade, 
O processo de urbanização2
expandiu-se para o Oriente Médio, Norte da África e Europa Ocidental, esta-
belecendo diversos núcleos populacionais. O declínio do Império Romano do 
Ocidente, em 476 d.C., marcou o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média, 
e teve como implicação a decadência do processo de urbanização vigente e 
o início de um processo de ruralização que durou boa parte da Idade Média.
No período feudal, entre os séculos V e XV, as cidades passaram por um 
momento de perda de importância, quando grande parte da populaç ã o passou 
a habitar feudos, que eram espaço de produç ã o agrí cola. Apenas quando o 
modelo de produç ã o medieval entrou em decadência, as cidades voltaram a 
se sobressair como lugares de negó cios e poder.
Cidades no feudalismo
A Idade Média, período entre os séculos V e XV, foi caracterizada principal-
mente pelo sistema chamado feudalismo. Nesse período, o sistema produtivo, a 
economia, a política e a sociedade passaram por grandes transformações, com 
a Igreja Católica como centro do poder. Os feudos se isolaram e passaram a ser 
autônomos, limitando e diminuindo as transações comerciais entre as diversas 
regiões. Assim, as cidades fi caram restritas a núcleos pequenos, protegidos 
por grandes fortifi cações para garantir a segurança de castelos e igrejas dentro 
dos feudos. Contudo, o renascimento do comércio e o surgimento de núcleos 
populacionais mais dinâmicos, sobretudo na Itália, marcaram o reinício do 
processo de urbanização. 
Essa mudança já identificada no final do século XIII, e consolidada no 
século XV, é chamada de Renascimento, movimento caracterizado por reformas 
nas áreas da cultura, política e economia. Nesse momento, também se acentuam 
as diferenças entre a cidade e o campo, demarcando esses dois espaços e suas 
atividades principais. Com o passar do tempo, o poderio econômico e político 
acabou se concentrando nas cidades, o que atraiu mais pessoas a habitar o 
espaço urbano, por maior oferta de alimentos e serviços, relativa segurança, 
diversos tipos de trabalho e potenciais condições para melhoria de vida. 
Cidades na Idade Moderna
Para compreender como se constituem as cidades modernas, é importante 
reconhecer o desenvolvimento do mercantilismo como o fato que resultou 
na retomada do processo de urbanização no mundo. Com a intensifi cação 
do comércio entre as regiões, as cidades recuperaram seu papel de destaque, 
centralizando o poder político e econômico. O desenvolvimento das cidades 
3O processo de urbanização
transpôs os limites dos feudos e das fortifi cações, já que começaram a se de-
senvolver em torno dos castelos e das igrejas e a crescer próximas às inúmeras 
e dinâmicas rotas de comércio. Nesse período, as redes urbanas passam a se 
delinear como um conjunto de cidades que se articulam por meio dos fl uxos 
de capitais, pessoas, mercadorias e informações, que se consolidará e se 
intensifi cará nos séculos subsequentes (BENKO, 1996).
O mercantilismo foi um conjunto de práticas econômicas ampliadas no continente 
europeu entre os séculos XV e XVIII, baseadas no intervencionismo estatal, no co-
lonialismo e no metalismo. Nesse contexto, o colonialismo foi um tipo de política 
desenvolvida para exercer poder e autoridade sobre um território estrangeiro, ocupado 
e conduzido militarmente pelo país colonizador, a metrópole. As ações eram muitas 
vezesrealizadas contra a vontade dos habitantes locais, que geralmente perdiam a 
posse de terras e direitos. Por sua vez, o metalismo, também é chamado de bulionismo, 
era a exploração e uso de metais preciosos, principalmente após a colonização do 
continente americano. Esses metais eram utilizados para realizar trocas comerciais e 
como moeda de compra e venda de diversos itens por meio do uso da prata e do 
ouro como as primeiras moedas da Modernidade. 
2 A urbanização na Revolução Industrial
A intensifi cação e expansão de atividades comerciais e o crescimento das cidades 
estão profundamente ligados à Primeira e à Segunda Revolução Industrial. 
As cidades conhecidas como contemporâneas passaram a comportar indústrias 
que transformavam matérias-primas em produtos para vendê-los a diversas 
regiões, inclusive para as colônias situadas nos continentes americano e africano. 
A Primeira Revolução Industrial
A Primeira Revolução Industrial ocorreu aproximadamente entre 1760 e 
1850, e foi um importante momento de ascensão urbana. Cabe lembrar que o 
urbanismo, que são as técnicas para organização das aglomerações humanas, 
como condições de habitação às populações das cidades, teve seu ápice apenas 
a partir de meados do século XX, quando muitos países iniciaram seu processo 
de industrialização. 
O processo de urbanização4
Dessa forma, para que as cidades abrigassem as indústrias que se desen-
volviam nesse período — bem como os trabalhadores e todas as infraestru-
turas necessárias para que a produção acontecesse —, foi preciso haver uma 
intensa transformação do espaço. Assim, o campo e a cidade se transformam 
e a natureza também sofreu grandes mudanças. Os trabalhadores do campo 
começaram a se deslocar para as cidades principalmente pela necessidade 
de mão-de-obra e pela busca de melhores condições de vida. Esse processo, 
chamado de êxodo rural, resultou no aumento populacional das cidades e 
no seu crescimento estimulado pela industrialização. Nesse contexto, com a 
chegada acentuada de pessoas vindas do campo, começam a ser construídas 
cada vez mais moradias urbanas (CORRÊA, 1990). 
Como consequência, o sistema de transporte começou a ser transformado, 
o comércio se tornou mais intenso e pujante e houve grande expansão terri-
torial das cidades, sucedendo problemas sociais e de saúde, como poluição, 
falta de saneamento básico, moradias precárias para os trabalhadores, falta 
de distribuição de água potável, etc. 
Na época da Primeira Revolução Industrial, houve também uma intensifi-
cação do sistema colonialista, impulsionada pela busca por matérias-primas 
para a fabricação de diversos produtos. O Brasil, por exemplo, fornecia algodão 
e café, enquanto outros países que também eram colônias na América do Sul 
e no continente africano, que eram pouco ou nada industrializados, também 
tiveram suas matérias-primas exploradas por países industrializados para o 
incremento da sua própria produção.
Assim, o sistema colonialista de exploração atendia aos interesses da Revo-
lução Industrial. Além da exploração de matéria-prima, havia a escravização 
de povos nativos, como no caso do Brasil, em que o trabalho era realizado por 
povos indígenas ou africanos escravizados. Isso ocorreu do século XVI ao 
século XIX. A matéria-prima e a produção agrícola procedentes da exploração 
escrava era comercializada com países europeus industrializados, destacando-
-se a supremacia da Inglaterra na aquisição desses produtos.
Essa matéria-prima servia de base para produzir mercadorias nos países 
industrializados e vendê-las para o mundo todo, inclusive para os países que 
forneciam essa matéria-prima. Foi criada, a partir daí, a primeira divisão entre 
países industrializados e países agrários fundados em exploração de produtos 
minerais e agrícolas (SANTOS, 1993).
Os países industrializados construíam e aprimoravam as técnicas de pro-
dução, estabelecendo indústrias próximas a rios e jazidas de carvão mineral, 
já que o funcionamento dessas indústrias se dava pela siderurgia e motores a 
vapor. As máquinas utilizavam o calor como forma de energia, em que a água, 
5O processo de urbanização
sob alta temperatura, era convertida em energia mecânica. As consequências 
foram o crescimento de grandes cidades industriais e mudanças espaciais. 
A natureza foi sendo cada vez mais modificada, com a transformação dos 
usos econômicos, por exemplo, nas margens dos rios por indústrias e, con-
sequentemente, o aumento da poluição, desmatamento e retificação dos rios 
com a expansão das cidades (SANTOS, 1996).
A Segunda Revolução Industrial 
A urgência por maior e mais intensa produção para vender as mercadorias 
industrializadas em maior escala para outros países conduziu, no século XIX, 
à chamada Segunda Revolução Industrial, com destaque para a invenção do 
motor a explosão e a produção e uso da energia elétrica. O uso do motor à 
explosão foi e ainda é direcionado principalmente para os transportes, como 
os automóveis, que surgiram no fi m do século XIX, bem como para alguns 
tipos de máquinas industriais.
A energia elétrica, o motor a explosão e as fontes de energia como ga-
solina e diesel foram inventos que tiveram suporte do desenvolvimento das 
ciências. As pesquisas científicas começaram a ter maior influência sobre o 
desenvolvimento tecnológico utilizado para a expansão industrial a partir de 
fins do século XIX. Isso permitiu que o setor industrial pudesse dar um salto 
de produção, levando a um aumento extraordinário no acúmulo de capitais. 
Portanto, o desenvolvimento científico em muitas áreas do conhecimento 
passou a convergir com interesses capitalistas. Na Segunda Revolução In-
dustrial, o desenvolvimento da ciência foi essencial para a concretização das 
transformações e gerou a expansão tanto na produção quanto no acúmulo de 
riquezas (CHESNAIS, 1998).
O grande número de invenções e o uso dessas tecnologias a partir da Se-
gunda Revolução Industrial resultaram em mudanças impactantes em vários 
âmbitos, como na economia rural e urbana e na expansão e modificação das 
localizações das indústrias, comércio, habitações, redes de transporte, etc. 
(SANTOS, 1996).
Nas cidades, o motor a explosão e a eletricidade romperam com imposições 
de localização ainda vigentes na Primeira Revolução Industrial, em que as 
indústrias tinham que se localizar obrigatoriamente próximas aos rios e às 
jazidas. Isso produziu outro tipo de organização, pois as disposições físicas das 
O processo de urbanização6
cidades se transformaram. As cidades começaram a ser adaptadas ao advento 
dos automóveis e sistemas de transporte como bonde e metrô, passando a 
crescer até onde esses veículos podiam chegar. 
Essas novas bases tecnológicas geraram também um importante desen-
volvimento da chamada indústria pesada, como a metalurgia, a siderurgia, 
máquinas e equipamentos industriais. Os motores a explosão, além de estimular 
a fabricação de automóveis, também expandiram a indústria do petróleo. Outro 
elemento importante foi o incremento da tecnologia para a geração de energia 
elétrica, resultando no motor elétrico e nos primeiros eletrodomésticos, que 
transformam as casas e os tipos de máquinas usados nas fábricas. 
Para a produção dessas mercadorias e seu aprimoramento, houve grandes 
investimentos, sucedendo em associação de empresas para aumento da capa-
cidade produtiva e competitiva. Simultaneamente, diversos bancos e demais 
instituições financeiras iniciaram a participação em atividades industriais, 
desenvolvendo a partir daí os mercados de capitais e as bolsas de valores. Os 
bancos se tornaram também donos dessas empresas e começaram a investir 
na produção. Nesse contexto, iniciou-se uma extraordinária concentração de 
capital por um pequeno número de empresas, que ao ampliarem seus lucros 
também ampliavam seu parque industrial, resultando no desaparecimento de 
pequenas empresas de alguns setores. Nessa fase do capitalismo, iniciou-se o 
chamado capitalismo financeiro ou capitalismomonopolista (SANTOS, 1996).
Quando o capitalismo monopolista se estabeleceu, ocorreu a nítida divisão 
entre os chamados países desenvolvidos industrializados e os países subdesen-
volvidos de economia agrária. Nesse contexto, Inglaterra, Alemanha e França 
eram os mais industrializados, destacando-se também os Estados Unidos; já 
países da América do Sul, como o Brasil, Colômbia, Peru, e do continente 
africano, como aqueles localizados na chamada África Subsaariana, forneciam 
e fornecem matérias-primas e detêm um grande mercado consumidor, com 
população crescente.
As relações comerciais entre os países a partir da Segunda Revolução 
industrial se intensificaram, realçando o fato de que os países subdesenvolvidos 
que eram colônias deixaram de sê-las. O sistema internacional dessa época, 
anterior ao contemporâneo, tem então como principal característica os países 
subdesenvolvidos no papel de fornecedores de matérias-primas e com papel 
político de pouca importância (CORRÊA, 1990).
7O processo de urbanização
3 A urbanização contemporânea 
Ao analisar as condições históricas para o nascimento e desenvolvimento 
das cidades, é possível notar que a urbanização apresenta frequentemente 
fortes vínculos com a indústria. As atividades industriais transformam o 
espaço urbano e o contexto da urbanização contemporânea fomenta também 
a atividade do setor terciário da economia, conhecido pelo comércio e pela 
prestação de serviços. Tais elementos geram um circuito espacial produtivo, 
que impacta em todas as escalas do espaço geográfi co. Num passado recente, 
as indústrias se localizavam nas grandes metrópoles, mas atualmente elas se 
deslocam para cidades médias, ou mesmo para países em desenvolvimento (LE 
GOFF, 1998). Esse movimento tem o objetivo de buscar mão-de-obra barata 
e incentivos fi scais, bem como leis ambientais menos rígidas ou inexistentes. 
Metrópoles como São Paulo e Nova York estão se tornando cada vez mais 
cidades prestadoras de serviços, isto é, cidades do setor terciário. Ainda 
que as fábricas se desloquem para outras regiões, os setores administrativo, 
fi nanceiro e de pesquisa tendem a permanecer no local de origem, tornando 
essas cidades cada vez mais especializadas num setor terciário sofi sticado.
O circuito espacial produtivo é um conceito da geografia utilizado para compreender 
os fluxos acelerados e em rede de bens, informações e capital, resultando na mundia-
lização da produção, do consumo e dos serviços, elemento que constitui o fenômeno 
da globalização (SANTOS, 1986; SANTOS; SILVEIRA, 2001). O circuito espacial produtivo 
aborda a conhecida “cadeia produtiva” (de abordagem econômica), sob a ótica do 
espaço, ponderando sobre as novas divisões territoriais do trabalho e na especialização 
dos lugares. Como exemplo, podemos citar a produção de vacinas, cujo circuito 
espacial produtivo mundial envolve elementos advindos de vários países, desde o vírus 
inativado, que vem geralmente de países europeus, até os plásticos da seringa, que 
podem vir dos Estados Unidos, e sua derradeira montagem, que pode se dar no Brasil.
O aumento e desenvolvimento da urbanização pode ser observado, por 
exemplo, a partir do dado de que em 1950 a populaç ã o urbana representava 
menos de 30% da populaç ã o mundial. Desde entã o, a urbanizaç ã o vem ocor-
rendo de forma acelerada em todo o mundo. Atualmente, a população urbana 
representa mais de metade da populaç ã o mundial (Figura 1). 
O processo de urbanização8
Figura 1. Evolução da população urbana mundial de 1950 a 2016.
Fonte: United Nations (2018, documento on-line).
Ainda que em muitos paí ses a populaç ã o rural supere a urbana, a tendê ncia 
é que essa proporç ã o se reverta ainda neste sé culo. No Brasil, oito em cada dez 
habitantes vivem em cidades (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA 
E ESTATÍSTICA, 2017).
A evolução dos transportes e das telecomunicações, principalmente nas 
últimas décadas do século XX e nas duas primeiras décadas do século XX, 
pelos elementos da globalização, afetou diretamente a dinâmica das cidades, 
pois elas passaram a se interligar, criando conexões comerciais, econômicas, 
políticas e sociais, influenciando-se mutuamente em escala tanto regional 
quanto global. Assim, há uma profunda relação entre o desenvolvimento das 
cidades e a globalização, pois o papel delas no cenário mundial transformou-
-se significativamente. Cabe ressaltar que a globalização é entendida como 
um período em que há um processo de intensa e ampla integração econômica 
e política internacional, caracterizado pelo avanço nas técnicas ligadas aos 
sistemas de transporte e de comunicação. Esse fenômeno de caráter mundial se 
acentuou no fim do século XX e se mantém no século XXI (SANTOS, 1996).
Nesse contexto, algumas cidades se tornam megacidades e/ ou cidades 
globais. As cidades globais exercem influência econômica e política sobre 
várias regiões do planeta, principalmente no âmbito financeiro, cultural e de 
serviços. Entre as cidades classificadas como globais, podemos citar Nova 
York, Londres, Tóquio, Paris, Frankfurt, Zurique, Los Angeles e Chicago. 
Nota-se que as cidades globais estão situadas em países desenvolvidos.
Os países desenvolvidos apresentam frequentemente uma rede urbana densa e 
articulada, por causa da elevada densidade de urbanização, assim como um sistema 
9O processo de urbanização
econômico dinâmico, com significativo consumo interno, além de uma rede de 
transportes e comunicações tecnologicamente sofisticada. Nos países subdesen-
volvidos, que têm industrialização concentrada em apenas alguns pontos ou têm 
menor densidade de industrialização, a rede urbana geralmente é desarticulada e 
linear, direcionada para as regiões exportadoras, como os portos, derivando um 
tipo de conexão fragmentada entre as cidades e as regiões de cada país.
As redes urbanas, nesse caso, tendem a se adensar em regiões onde há gran-
des aglomerações urbanas integradas por redes de transporte e comunicação. 
As redes de metrópoles conectadas são chamadas de megalópoles, presentes, 
por exemplo, na porção ocidental da Europa, no sudeste do Japão e na região 
nordeste dos Estados Unidos. Nas últimas décadas, importantes redes urbanas 
foram estabelecidas em países subdesenvolvidos, como a região sudeste do 
Brasil, no conhecido eixo Rio de Janeiro–São Paulo–Campinas, e as regiões 
concentradas nas cidades de Buenos Aires, na Argentina, e Cidade do México.
No início do século XXI, a internet permitiu a criação de redes globais, que 
conectam pessoas, empresas, instituições e lugares, com potencial de facilitar 
o acesso a serviços, informações e mercadorias. Um exemplo são as cidades 
de menor porte: até o advento da internet, uma cidade pequena dependia dire-
tamente de cidades maiores e mais próximas para ter acesso a determinadas 
mercadorias. Atualmente, em alguns setores da economia, já não se aplica mais 
essa dependência, visto que há a possibilidade de compras pela internet, em que 
a ligação entre os lugares se dá de forma instantânea e simultânea.
A rede urbana, na atualidade, se torna mais complexa, principalmente pelos 
usos de tecnologias de transporte e comunicação. Essa rede pode ser qualificada 
pela interdependência entre diferentes cidades e se estabelece a partir dos fluxos 
de dados, mercadorias, capitais, pessoas e informações. Assim, cada cidade de 
uma rede urbana estabelece relações com as demais com base nos serviços que 
cada uma delas tem a oferecer e tem a demandar (HARVEY, 2005). 
No contexto da urbanização contemporânea, é importante distinguir a 
urbanização em países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Nos países desen-
volvidos, as Revoluções Industriais provocaram um processo de urbanização 
gradativo: num primeiro momento, a população se concentrava em torno 
das indústrias em áreas centrais; conforme o processo de industrialização se 
intensificou, as fábricas se deslocaram para as cercanias das grandes cidades, 
principiando um processo de especialização dos

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