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A ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE À PESSOA IDOSA COM CONDIÇÕES CRÔNICAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE ENFERMAGEM
ISIS LAILA OLIVEIRA SANTANA
A ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE À PESSOA IDOSA COM CONDIÇÕES
CRÔNICAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
BELO HORIZONTE
2022
ISIS LAILA OLIVEIRA SANTANA
A ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE À PESSOA IDOSA COM CONDIÇÕES
CRÔNICAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como exigência para obtenção do título de
Graduação em Enfermagem pela Universidade
Federal de Minas Gerais.
Orientadora: Prof. Dra. Sônia Maria Soares
Co orientadora: Laura Villaquirán Jiménez
BELO HORIZONTE
2022
1
Dedicatória
Dedico este trabalho a Deus, aos meus pais Edinalva e Hélio, que me fizeram que sou, e no
decorrer do processo de construção deste trabalho me mandaram mensagens de conforto e
força apesar da distância que nos impede de ter um abraço antes de deitar. Dedico a minha
irmã Ingrid, que nunca soltou minha mão e não me deixou desistir, e ao meu irmão André,
que sempre me mostrou o caráter de um homem batalhador. Dedico também à profº Sonia,
que esteve comigo durante 5 anos da minha trajetória acadêmica e à Laura que me
proporcionou utilizar seu estudo como base do meu trabalho. Dedico por fim, todos que
conheci ao longo destes seis anos, pessoas maravilhosas que marcaram minha vida para
sempre.
2
RESUMO
Este estudo aborda as os resultados de um recorte dissertação de mestrado “Avaliação da
capacidade institucional na assistência às pessoas idosas com condições crônicas na atenção
primária à saúde” de autoria de Laura Villaquirán Jiménez. Sabe-se que o envelhecimento
populacional tem relação direta com a elevação das condições crônicas na população
brasileira e mundial, sendo primordial identificar as fragilidades do atendimento a esse estrato
populacional a nível da Atenção Primária à Saúde. Além disso, a APS ainda tem como base
da sua organização da atenção à saúde, os seus atendimentos a priorização das condições
agudas ou o atendimento à demanda espontânea e na agudização das condições crônicas.
Dessa maneira, delineou-se como objetivo do estudo analisar a organização da atenção à
saúde à pessoa idosa com condições crônicas na rede primária à saúde segundo Assessment of
Chronic Illness Care na região Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais.O método utilizado
foi de um estudo descritivo e transversal conduzido pela abordagem quantitativa realizado em
13 Unidades Básicas de Saúde do município de Belo Horizonte, MG, Brasil.Os resultados
apontaram fragilidades na assistência do cuidado, mostrando deficiências na garantia de
fornecer um cuidado proativo, planejado, coordenado e centrado por parte das equipes da
ESF, dirigidas ao público idoso, uma vez que o escore encontrado na Dimensão I
(Organização da Atenção à Saúde) do instrumento ACIC apresentou 6,16, que representa
Organização razoável da atenção às condições crônicas conforme sugere o instrumento .
Desse modo, fica evidente que o manejo de políticas e programas de condições crônicas é
mais efetivo se todo o sistema no qual a atenção é prestada esteja orientada e permita maior
ênfase no cuidado às condições crônicas. Pelo cenário descrito, pode- se afirmar que é
imprescindível o incremento de ações para melhoria da organização da atenção à saúde na
APS, às pessoas idosas com condições crônicas, uma vez que essa organização foi
considerada razoável, no ponto de vista dos profissionais das ESF.
Descritores: Enfermagem; Envelhecimento; Condições Crônicas; Atenção Primária;
Organização da saúde.
3
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO……………………………………………………………………….…6
2 INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………..…8
2.1 O envelhecimento populacional e o impacto das condições crônicas na
organização da atenção à saúde…………………………………………………...…9
2.2 Objetivos…………………………………………………………………………14
2.2.1 Objetivo geral…………………………………………………….……14
2.2.2 Objetivos específicos…………………………………………..………14
3 REFERENCIAL TEÓRICO…………………………………………………………...…15
3.1 O conceito de condições crônicas………………………………………….……16
3.2 A organização da atenção à saúde na Atenção Primária e o manejo das
condições crônicas …………………………………………..………………………17
3.3 O Chronic Care Model e o Modelo de Atenção às Condições Crônicas…...…20
3.4 Instrumento de medida de avaliação da organização da atenção à saúde para
o cuidado às condições crônicas…………………………………………………….25
4 MÉTODO………………………………………………………………….……………….29
4.1 Delineamento do estudo…………………………………………………………30
4.2 Cenário do estudo……………………………………..…………………………30
4.3 População do estudo………………………………………………..……………32
4.4 Coleta de dados………………………………………………………..…………32
4.4.1 Questionário de Avaliação da Capacidade Institucional para Atenção
às Condições Crônicas (Assessment of Chronic Illness Care / ACIC)….…32
4.4.2 Trabalho de Campo……………………………………………………33
4.5 Variáveis do estudo e análise dos dados ………………………………….……34
4.6 Aspectos ético-legais………………………………………………………..……37
5 RESULTADOS………………………………………………………………………….…39
5.1 Distribuição e caracterização da população do estudo…………………..……40
5.2 Organização da atenção à saúde à pessoa idosa com condições crônicas com
os escores do ACIC……………………………………………………………..……43
5.3 Análise dos componentes da dimensão organização da atenção à saúde à
pessoa idosa com condições crônicas com os escores do ACIC ……………..……44
4
5.4 Análise dos componentes da dimensão organização da atenção à saúde à
pessoa idosa com condições crônicas com os escores do ACIC por categoria
profissional………………………………………………………………………...…46
5.5 Análise da dimensão organização da atenção à saúde à pessoa idosa com
condições crônicas com os escores do ACIC para cada UBS da regional noroeste
………………………………………………………………………………………...48
5.6 Análise dos componentes da dimensão organização da atenção à saúde à
pessoa idosa com condições crônicas com os escores do ACIC para cada UBS da
regional noroeste…………………………………………………………………….50
6 DISCUSSÃO…………………………………………………………………….…………54
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………..…………59
REFERÊNCIAS……………………………………………………………………..………62
ANEXOS…………………………………………………………………………..…………69
ANEXO 1 - Instrumento Assessment of Chronic Illness Care / ACIC - destinado
aos profissionais de saúde……………………………………………………...……69
ANEXO 2 -Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal
de Minas Gerais………………………………………………………………...……80
ANEXO 3 -Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Dirigido aos
profissionais das Equipes de Saúde da Família.………………...…………………81
5
1 Apresentação
6
Este trabalho inclui um recorte da dissertação de mestrado “Avaliação da capacidade
institucional na assistência às pessoas idosas com condições crônicas na atenção primária à
saúde” de autoria de Laura Villaquirán Jiménez, sob orientação da Prof.Dra. Sônia Maria Soares,
da qual participei ativamente como colaboradora. Trata-se de uma agenda de pesquisas realizadas pelo
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Cuidado e Desenvolvimento Humano (NEPCDH) da
Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais relacionada à temática da
qualidade da assistência à pessoa idosa em condições crônicas de saúde.
A pesquisa citada acima, envolveu um estudo transversal, descritivo em âmbito
regional, que teve como objetivo avaliar a capacidade institucional para o cuidado à pessoa
idosa com DM e/ou HAS na perspectiva dos profissionais das equipes de Saúde da Família,
do Distrito Sanitário Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais. A leitura crítica, os achados
da dissertação mostraram-se interessantes na medida em que são identificadas lacunas na
assistência do cuidado às pessoas idosas com condições crônicas na Atenção Primária à Saúde
- APS.
Na análise prévia considerando os dados do estudo foi evidenciado um cenário nada
animador. Dos 193 profissionais participantes, 142 indivíduos (73,5%) afirmaram que a APS
possui uma capacidade razoável para atenção às condições crônicas. Esse cenário remete para
uma provável inadequacidade dos serviços de saúde em operacionalizar as ações voltadas
para promoção da saúde e prevenção de doençase seus agravos.
Nesse sentido, verificou-se a necessidade de aprofundar a análise de alguns dados do
estudo, propondo um recorte da dissertação, agora, na busca de analisar os dados das Equipes
de Saúde da Família de Unidades Básicas de Saúde, considerando o eixo da organização da
atenção à saúde à pessoa idosa com condições crônicas no nível da atenção primária. Até
mesmo porque é imperativo encontrar respostas para o grande desafio que se impõe,
atualmente, na concretização de estratégias de enfrentamento das condições crônicas,
respaldadas em modelos crônicos de saúde na assistência do cuidado, principalmente na APS.
7
2 Introdução
8
2.1 O envelhecimento populacional e o impacto das condições crônicas na organização
da atenção à saúde
Hoje, pela primeira vez na história, a maioria das pessoas pode esperar viver até os 60
anos ou mais. Quando combinados com quedas acentuadas nas taxas de fertilidade, o aumento
na expectativa de vida leva ao rápido envelhecimento das populações em todo o mundo
(WHO, 2015).
O envelhecimento populacional é um fenômeno relacionado às várias etapas de
transição demográfica pelo mundo (SILVA, et.al 2021), cujo crescimento deverá acelerar nas
próximas décadas. A previsão entre 2020 e 2050, é que a quantidade de pessoas com mais de
60 anos no mundo aumente de 901 milhões para 1,4 bilhão em 2030, um crescimento de 56%
(UNITED NATIONS, 2020).
O Brasil tem acompanhado essa tendência demográfica mundial. Segundo dados
demográficos de 2019, o DATASUS mostra que, dos 210 milhões de brasileiros e brasileiras,
aproximadamente 30 milhões possuem 60 anos ou mais, com uma estimativa de crescimento
nas próximas décadas, decorrente da redução dos coeficientes de mortalidade, associada às
conquistas sociais e de saúde do País (BRASIL, 2020a). Estima-se ainda um índice de
envelhecimento de 110,1 pessoas idosas para cada 100 crianças e adolescentes (0-14 anos), o
que representa cerca de 40,5 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, em 2030 (IBGE,
2020).
Diante deste cenário, surgem inquietações acerca da capacidade das sociedades de
enfrentar os desafios do envelhecimento, quais sejam os relacionados à habitação, transporte,
emprego, estruturas familiares, laços intergeracionais e proteção social (UNITED NATIONS,
2020). Ainda, somam-se a isso os desafios para o sistema de saúde, pois concomitante à
transição demográfica ocorre mudança no perfil epidemiológico, expressa pelo aumento das
condições crônicas, consideradas recentemente como pandemias ((FARQUHAR, 2015;
ISMAIL et al., 2016). Estas condições também apresentam estatísticas alarmantes, além do
fato de que condições crônicas como Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial Sistêmica
serem os principais fatores de risco para o agravamento do quadro de pacientes infectados
pela COVID-19 (BRASIL 2022).
9
Até 2030, projeções mundiais apontam o Brasil como o quarto país em número de
pessoas com condições crônicas na faixa etária de 20 a 79 anos (23,3 milhões), ficando atrás
apenas da China, Índia e Estados Unidos (IDF, 2020).
Ao lado da relevância como eventos epidemiológicos, as condições crônicas
caracterizam-se como um dos problemas de maior magnitude na prática clínica e de impacto
socioeconômico, na medida em que falhas no manejo de doenças crônicas como DM e HAS
levam a complicações tardias, tais como, acidente vascular encefálico (AVE), infarto agudo
do miocárdio (IAM), amputações, cegueira, neuropatia e nefropatia. Essa maior carga de
doenças afeta diretamente as pessoas e o sistema social, não somente em termos de anos de
vida funcionais perdidos, mas também em termos de morbidade que leva à incapacidade e
diminuição da qualidade de vida (GRANDY; FOX, 2012; IDF, 2015; WHO, 2016).
Além disso, a sobrecarga das condições crônicas é especialmente relevante, pois
apresenta uma relação diretamente proporcional: quanto maior a idade, maior a probabilidade
de múltiplas doenças crônicas e, por consequência, maior a busca de serviços médicos pela
população. Esse ônus excede os custos médicos diretos, pois afeta as economias, os sistemas
de saúde, as famílias e os indivíduos por meio de uma série de impulsionadores chaves como
redução da oferta do trabalho, custos de tratamento mais elevados e poupança reduzida. Tais
impulsionadores provocam impactos socioeconômicos e de desenvolvimento humano,
incluindo diminuição da produtividade e da competitividade dos países, diminuição dos
resultados de saúde, e aumento da pobreza e da desigualdade, assim como perda de
oportunidades (OLIVEIRA,2020; NIKOLIC; STANCIOLE; ZAYDMAN, 2011).
Prosseguindo a discussão para além das questões que percorrem os impactos sociais e
econômicos, decorrentes da sobrecarga das condições crônicas, têm surgido nas últimas
décadas, tanto no cenário internacional quanto nacional, a discussão sobre a crise dos modelos
assistenciais à saúde contemporâneos. Isso porque essa crise reflete o desencontro entre uma
situação de saúde do século XXI, com predominância relativa de condições crônicas, está
sendo respondida socialmente por um modelo de atenção à saúde, desenvolvido na primeira
metade do século XX, quando predominavam as condições agudas e aos eventos decorrentes
de agudizações de condições crônicas, de forma fragmentada, episódica e reativa (MENDES.
2018), tornando-se entraves na consolidação da qualidade dos cuidados prestados, sobretudo
na APS (OPAS, 2019).
10
Perante a realidade apresentada, há incoerência de se manter o enfrentamento das
condições crônicas na mesma lógica do atendimento centrado nas condições agudas e nos
serviços de emergência, pois não mais atendem a demanda dos indivíduos que vivenciam essa
condição de saúde, sobretudo da pessoa idosa (OLIVEIRA et al., 2013).
Particularmente, esse estrato populacional necessita de atenção domiciliar, com
incentivo à utilização de instrumentos específicos para avaliação diária da saúde do idoso, tais
como a garantia de consultas, tratamentos, medicamentos e exames laboratoriais, envolvendo
esforços das equipes de saúde da família e a pessoa idosa e seus familiares a partir de um
cuidado compartilhado (LIMA, 2018). Isto porque o tratamento clínico é adequado e
necessário, porém não é suficiente para assegurar o bom controle das condições crônicas. São
imperativas intervenções com outras formas de cuidados, associadas a mudanças de estilo de
vida, em um processo de cuidado contínuo de adaptação às situações apresentadas,
desenvolvimento de habilidades novas e interação com os diversos componentes do sistema
de saúde e recursos comunitários (BRASIL,2013).
Nesse âmbito, tem-se destacado a estruturação das Redes de Atenção à Saúde (RAS)
como um método de redesenho dos sistemas de saúde que possibilita resgatar a coerência
entre as necessidades demandadas pela população, a forma como esses sistemas
operacionalizam para respondê-las partir da implantação de novos modelos de atenção às
condições agudas e crônicas, substituindo o modelo tradicional focalizado na doença
(MENDES, 2018).
Nos dias atuais, o modelo de atenção à saúde que se apresenta como mais apropriado
para o cuidado de pessoas acometidas por alguma condição crônica é o Chronic Care Model
(CCM). O CCM possui, ferramentas práticas que permitem avaliar sua implementação na
perspectiva dos profissionais das equipes de Saúde da Família têm sido elaboradas, como por
exemplo, o questionário Assessment of Chronic Illness Care (ACIC) ou Avaliação da
Capacidade Institucional para a Atenção às Condições, na sua tradução para o português.
(MOYSES, 2012).
A tradução do ACIC para o portugues justifica-se pelo fato de que o CCM também foi
acolhido pelo Ministério da Saúde no “Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das
Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022” (BRASIL, 2011) como
modelo de atenção que deve subsidiar a qualificação a atenção ao cuidado à pessoa idosa que
11
vivencia uma condição crônica de saúde. Entretanto, à semelhançade outros modelos
derivados do CCM, esse modelo foi adaptado por Mendes (2012) no intuito de melhor se
adequar ao sistema público de saúde do país, denominando-o Modelo de Atenção às
Condições Crônicas (MACC).
Em Belo Horizonte, esse modelo foi discutido nas Oficinas de Qualificação da APS
realizadas no período de 2009 a 2011. Essas oficinas caracterizaram o esforço conjunto de
profissionais, gestores e cidadãos no fortalecimento da APS, por meio do planejamento, da
organização, da operacionalização e do monitoramento de ações que visam resultados
concretos na melhoria dos indicadores de saúde, na qualidade e na resolubilidade do cuidado
prestado (PBH, 2017).
No entanto, ainda persiste o distanciamento entre as necessidades atuais, as
recomendações clínicas e a atenção existente, com dificuldades de inserir e acompanhar a
pessoa idosa nas Redes de Atenção à Saúde. Muitas vezes, a assistência prestada coincide
com os planos e as ações voltados aos adultos, não havendo uma efetiva aplicação dos
programas de atenção à saúde direcionados ao público com mais de 60 anos (FERNANDES,
2013).
A APS, primeiro nível de atenção à saúde, deve atuar como porta de entrada do
sistema, com ampla cobertura às pessoas idosas, integrando e coordenando o cuidado através
de avaliação da capacidade funcional e de fragilidade da pessoa idosa, atendendo às
necessidades de saúde no âmbito de sua atuação e garantindo o acesso qualificado aos demais
serviços de saúde e especialidade geriatria, entretanto essa realidade ainda mantém-se na
teoria, e vem a passos curtos sendo implementada à prática (BRASIL, 2014).
Como efeito, tem-se uma grande falha na assistência da população idosa, por vezes
subdiagnosticada. Inclusive há possibilidade de que as pessoas idosas com maior risco clínico
não estejam sendo priorizadas na oferta de ações às suas necessidades, visto que os sistemas
de saúde ainda elegem o planejamento da oferta em detrimento das necessidades que é
diferenciada segundo a estratificação de seus riscos (MENDES, 2011). Tais aspectos merecem
atenção, pois não somente pode-se empreender esforços e recursos em intervenções
desnecessárias, equivocadas e ineficientes, como também poderá aumentar o risco dessas
pessoas progredirem para um quadro de fragilidade (MORAES, 2012).
12
Diante do cenário de mudanças ocorridas no mundo contemporâneo, com crescente
envelhecimento populacional além da pandemia pelo coronavírus, a provisão de organização
da atenção à saúde para cuidados crônicos torna-se, de um lado, urgente em sua execução, e,
por outro lado, cada vez mais uma tarefa complexa, difícil e desafiadora.
Nesse sentido, buscou-se, com este trabalho de conclusão de curso, contribuir para
responder à seguinte questão: Como está organizada a Atenção à saúde da pessoa idosa com
condições crônicas na APS?
Apesar das discussões empreendidas até o momento, ainda são limitados os estudos na
literatura referentes à temática com foco na percepção dos profissionais que promovem
cuidado para a pessoa idosa, o que justifica a realização deste estudo. Ressalta-se que a busca
pela qualidade dos serviços de assistência em saúde no Brasil tem recebido grande destaque
do Ministério da Saúde, com ênfase para a atenção ao indivíduo longevo, como a
incorporação do movimento que enseja a Década do Envelhecimento Saudável 2021-2030
proposta pela agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas
(OPAS, 2021).
Dessa maneira, este trabalho poderá contribuir para o conhecimento relacionado ao
cuidado à pessoa idosa com condição crônica praticado no conjunto da assistência prestada
pelas equipes de Saúde da Família, no contexto da atenção básica em saúde, a partir da
identificação de problemas e da compreensão dos determinantes norteadores de ações de
melhoria da qualidade do cuidado.
13
2.2 Objetivos
2.2.1 Objetivo geral
● Analisar a organização da atenção à saúde à pessoa idosa com condições crônicas na
atenção primária à saúde segundo Assessment of Chronic Illness Care na região
Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais.
2.2.2 Objetivos específicos
● Identificar a existência de: interesse da liderança, metas organizacionais e benefícios e
incentivos (econômicos e morais) para promover uma melhor atenção às condições
crônicas às pessoas idosas na APS;
● Analisar a atuação de estratégias efetivas para a melhoria da atenção às condições
crônicas às pessoas idosas na APS;
● Verificar a existência de incentivos e regulação com vistas a motivação e ao
empoderamento dos profissionais da saúde, com foco na enfermagem, para a atenção
às condições crônicas às pessoas idosas na APS;
● Analisar os indicadores de participação da liderança superior da organização para a
melhoria da atenção às condições crônicas às pessoas idosas na APS.
14
3 Referencial Teórico
15
3.1 O conceito de condições crônicas
As condições crônicas de saúde são multifatoriais, ou seja, determinadas por diversos
fatores, sejam eles sociais ou individuais. Podem ser entendidas como as circunstâncias na
saúde das pessoas que se apresentam de maneira relativamente persistente e que exigem
respostas sociais reativas ou pró-ativas, episódicas ou contínuas e fragmentadas ou integradas
dos sistemas de atenção à saúde, dos profissionais e das pessoas usuárias (MENDES, 2011,
2015; MALTA, 2021).
Dessa forma, trata-se de uma nova definição de saúde que se distingue tipologia
clássica amplamente utilizada, determinada por doenças transmissíveis e Doenças Crônicas
Não Transmissíveis - DCNT, que se fundamenta na etiopatogenia das doenças, muito
empregada no campo dos estudos epidemiológicos, porém ela não é suficiente para dar
suporte à organização dos sistemas de atenção à saúde (MENDES, 2011, 2018).
Essa nova categorização reporta à organização dos sistemas de atenção à saúde, na
medida em que a lógica de recorte baseia-se na forma de resposta social aos problemas de
saúde apresentados pelos cidadãos, sendo definidas como condições agudas, condições
crônicas e eventos agudos (MENDES, 2015). Esses termos estão orientados, principalmente,
por algumas variáveis-chave contidas no conceito de condição de saúde, diferenciando a
condição aguda da condição crônica com base: na natureza da causa pode ser apresentada por
múltiplos fatores, dentre os quais se incluem a hereditariedade, os hábitos diários, os fatores
ambientais, fisiológicos e sociais; tempo de duração superior a 3 meses ou permanente; papel
dos profissionais dentre outras variáveis (MENDES, 2011).
Com isso, evidencia-se que as condições crônicas possuem características especiais
que as diferenciam expressivamente das condições agudas, tendo uma natureza multifatorial,
que impõem respostas complexas por parte dos sistemas e serviços de saúde para seu
enfrentamento uma vez que os profissionais têm o papel não só de selecionar e prescrever o
tratamento, mas também de educar e fazer parceria com as pessoas usuárias.
Resumidamente, as condições crônicas são aquelas condições de saúde que devem ser
manejadas de forma pró-ativa, contínua e integrada pelo sistema de atenção à saúde, pelos
profissionais e pelos usuários/família para seu controle efetivo, eficiente e com qualidade.
Isso porque apresentam causas múltiplas e complexas; evoluem gradualmente ainda que
possam se manifestar de modo repentino e apresentar momentos de agudização, ao longo de
16
todo ciclo de vida. Mais prevalentes em idades mais avançadas podem de forma gradativa
comprometer a qualidade de vida por meio de limitações funcionais ou
incapacidades(MENDES, 2015).
Em geral, as condições crônicas, necessitam de cuidados de longa duração e apesar de
não serem a ameaça mais imediata à vida constituem as causas mais comuns de mortalidade
prematura. Além disso, grande parte das condições crônicas pode ser prevenida, ou até
mesmo ser retardada sua progressão, ou ter suas complicações reduzidas. Via de regra,
resultam de fatores de risco não controlados,aumentando o fosso entre os resultados de saúde
cuja tendência é levar a um ônus progressivo à medida que a população envelhece
(GOBIERNO VASCO, 2010; SILVA, 2018).
Frente ao exposto, observa-se que o fenômeno da cronicidade tem emergido como um
novo conceito que permite melhor compreender as implicações das condições crônicas de
saúde para os indivíduos afetados, suas famílias e cuidadores, bem como para os sistemas de
saúde e as sociedades (ALLOTEY et al., 2011). Nesse âmbito, a cronicidade sublinha a
necessidade urgente de reformular o desenho do sistema de prestação de cuidados em saúde
(GARCÍA-GOÑI et al., 2012).
3.2 A organização da atenção à saúde na Atenção Primária e o manejo das condições
crônicas
A Atenção Primária à Saúde faz parte da Rede de Atenção à Saúde - RAS. Essa rede é
um arranjo organizativo, sistematizado para responder a condições específicas de saúde, por
meio de um ciclo completo de atendimentos, que implica a continuidade e a integralidade da
atenção à saúde nos diferentes níveis de Atenção Primária, Secundária e Terciária (BRASIL,
2020b).
A APS tem sido apresentada como uma estratégia de organização da atenção à saúde
voltada para responder, de forma regionalizada, contínua e sistematizada, à maior parte das
necessidades de saúde de uma população. Procura integrar ações preventivas e curativas,
psfbem como a atenção a indivíduos, famílias e comunidades através da implementação do
Programa Saúde da Família (PSF), um programa centrado na família, contribui para uma
17
compreensão ampliada do processo saúde/doença e da necessidade de intervenções que
transcendem as práticas curativas (FERNANDES, 2013).
Entretanto, apesar da APS ter sua base organizacional com foco integral à pessoa, o
cuidado ainda está voltado para as condições agudas e para os eventos agudos das condições
crônicas, podendo persistir, na medida em que o foco da formação dos profissionais de saúde
que é pautada na hegemonia do modelo biomédico, ainda continua direcionado para os
cuidados tratativos, condições agudas e gerenciamento de forma isolada das condições
crônicas (FERNANDES, 2013; MALTA; MERHY, 2010).
Dessa maneira, as transformações no cenário demográfico e epidemiológico mundial
impõem a necessidade de se repensar a oferta dos serviços em saúde necessários para as
próximas décadas, com o redirecionamento dos sistemas de atenção à saúde. Caso contrário,
será estabelecida uma crise nesses sistemas, conforme observado em escala global atualmente
(MENDES, 2011). Isso se dá, devido de um descompasso temporal dos fatores contingenciais
que evoluem rapidamente como a transições demográfica, nutricional, tecnológica e
epidemiológica e dos fatores internos como a cultura organizacional, recursos, sistemas de
incentivos, estilos de liderança, modelos de atenção e arranjos organizativos que evoluem
muito lentamente (MENDES, 2018).
Nesse sentido, é evidente uma incoerência entre uma situação de saúde de transição
epidemiológica expressa pelo aumento das condições crônicas e uma resposta social inscrita
num sistema fragilizado em garantir a integralidade e a continuidade do cuidado. As
consequências dessa incoerência são substanciais, resultando em deficiências na organização
e no manejo de cuidados crônicos às pessoas idosas na APS. Essa incongruência é
identificada como uma barreira fundamental para a melhoria da qualidade do cuidado, que
determina do ponto de vista econômico, custos excessivos da atenção à saúde, pois não é
efetivo em manter as condições crônicas estabilizadas, o que leva a constantes agudizações,
admissões hospitalares e desperdícios de recursos (MENDES, 2015; FRANCESCONI et
al.,2019; STEY et al.,2010).
Tal concepção sugere a necessidade de investir em melhorias na qualidade do manejo
das condições crônicas na APS, por ser o nível de atenção direcionado aos cuidados
primários, que forma a base e determina o trabalho de todos os outros níveis dos sistemas de
18
saúde, detectando precocemente a doença, evitando suas complicações e a necessidade de
internação (BRASIL, 2019a).
Frente essa necessidade, tem-se enfatizado a urgência dos países adotarem medidas
que visem reestruturar seus sistemas de saúde, de tal modo a se adaptarem à elevada carga de
doenças de curso crônico, principalmente à pessoa idosa. Isso implica mudar o modelo
hegemônico e biomédico no sistema de saúde centrado na doença e, em especial, no
atendimento à demanda espontânea e na agudização das condições crônicas, haja visto ser o
modelo de atenção quem define a forma como o cuidado é realizado na rede e como os
distintos pontos se comunicam e se articulam (NOGUEIRA, 2021).
Inclusive, essa exigência tem sido reconhecida pela Ministério da Saúde ao adotar o
Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis
(DCNT) no Brasil 2011-2022 e a agenda dos objetivos da Década do Envelhecimento
Saudável 2021-2030 já citada anteriormente (MALTA, 2017; OPAS, 2021)
Entretanto, apesar do crescente interesse nos últimos anos em torno da temática da
garantia de uma organização da atenção à saúde para as condições crônicas na APS, um dos
grandes desafios a serem enfrentados diz respeito a variedade de atores que atuam no campo
dos sistemas de saúde e lutam pela diversidade dos pontos de vista. Isso porque, o produto nos
serviços de saúde é o resultado do contato direto entre profissionais e usuários e das ações e
interações que constituem essa relação (SERAPIONI, 2009).
Para a WHO (2016), no intuito de alcançar a organização da atenção à saúde, os
cuidados de saúde devem ser seguros, eficazes, oportunos, eficientes, equitativos e centrados
nas pessoas. Ao considerar tal questão, observa-se ser um desafio operacionalizar e
implementar estratégias que visem a melhoria da qualidade dos serviços de saúde fornecidos
na atenção primária e do cuidado prestado prestado, sendo necessário primeiramente
mensurá-la (ALMEIDA, 2015).
Ao ponderar que a saúde é uma interação dinâmica entre profissional-usuário, é válido
que os instrumentos avaliativos devem também ser capazes de contemplar a autopercepção
dos profissionais. Geralmente, o que se vê na prática são indicadores que envolvem a
percepção de somente uma classe de profissionais com pouca percepção de uma equipe como
19
https://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/70/L.1&Lang=S
a eSF tão importante quando se remete ao cuidado à pessoa que vivencia uma condição
crônica de saúde (THEIS, 2021).
Essa situação leva, portanto, a pensar que só será possível organizar a atenção à saúde
às pessoas idosas com condições crônicas se os profissionais da eSF na atenção primária
estiverem capacitados a desempenhar adequadamente essas funções. Só assim eles poderão
constituir a estratégia de reordenamento longitudinal e integral focado na melhoria da
qualidade do cuidado.
Nessa direção, dentre as propostas de reformas dos sistemas vislumbradas com vistas
à redução do ônus das condições crônicas na população e melhoria do cuidado profissional,
tem-se assumido o desafio de desenvolver e implementar novos modelos de atenção à saúde
baseados em evidência e dirigidos principalmente ao manejo das condições crônicas
(SCHMIDT et al., 2011; WAGNER et al., 2001). Atualmente, o modelo que se apresenta mais
apropriado é o Chronic Care Model (CCM) (WAGNER, 1998) que juntamente com outros
modelos assistenciais como o O Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MENDES,
2012) encontram-se articulados pelo conceito de condições de saúde e apresentam
singularidades quando aplicados a eventos agudos e a condições crônicas (MENDES, 2015).
3.3 O Chronic Care Model e o Modelo de Atenção às Condições Crônicas
Como ferramenta para subsidiar o cuidado a pessoas com condições crônicas na
atualidade, Ed Wagner e colaboradores no MacColl Center for Health Care Innovation, em
Seattle, Estados Unidos, desenvolveram o Chronic Care Model (CCM) (WAGNER;
AUSTIN; VON KORFF, 1996). O modelo conceitualmais utilizado como base de expansões
ou adaptações subsequentes em uma série de países, incluindo a estrutura dos Cuidados
Inovadores para Condições Crônicas da OMS (Innovative Care for Chronic Conditions /
ICCC) (WHO, 2002) e o Modelo de Cuidado Crônico Expandido (Expanded Chronic Care
Model) (BARR et al., 2003).
O CCM foi proposto em resposta à crescente prevalência de condições crônicas de
saúde e à decadência dos sistemas fragilizados em enfrentar essas condições. Inicialmente,
seus idealizadores identificaram por meio de revisão da literatura, os fatores críticos basilares
20
necessários para alcançar os melhores cuidados prestados a indivíduos que vivenciam uma
condição crônica de saúde, sendo eles:
● relações contínuas entre usuários e sua equipe de saúde;
● individualização dos cuidados segundo as necessidades dos usuários;
● cuidados que antecipam as necessidades do usuário;
● serviços baseados em evidências científicas e cooperação entre os prestadores de
cuidados de saúde para melhorar o cuidado das pessoas com condições crônicas
(OPREA et al., 2010).
Com base nos dados encontrados, os autores propuseram o modelo em questão (Figura
1), onde todos os fatores supracitados foram considerados. Conforme a Figura 1, o CCM
identifica seis elementos-chave que interagem entre si, subdivididos em dois grandes campos
- o Sistema de Atenção à Saúde e a Comunidade (MENDES, 2012), sendo projetados para
obter cuidados de qualidade elevada, por meio de interações produtivas entre pessoas usuárias
e equipes de saúde pró-ativas e preparadas (WAGNER et al., 2001).
Figura 1- Chronic Care Model (CCM)
Fonte: WAGNER, 1998. Autorização de uso de imagem concedida pelo American College of Physicians .
Tradução para o português de responsabilidade de Mendes (2015).
No Sistema de Atenção à Saúde, as mudanças devem ocorrer na organização da
atenção à saúde, no desenho do sistema de prestação de serviços, no suporte às decisões, nos
sistemas de informação clínica e no autocuidado apoiado. Na Comunidade, as mudanças estão
centradas na articulação dos serviços de saúde com os recursos da comunidade (MENDES,
2015).
21
Da parte dos usuários, as pessoas devem dispor de informação, habilidades, motivação
e confiança para atuar como parceiras nos seus próprios cuidados. Do outro lado da interação,
a equipe de saúde, necessita de ter as informações, as habilidades e os recursos necessários,
tais como, acesso oportuno a equipamento, material e medicamentos para assegurar o manejo
clínico efetivo. A pró-atividade implica a capacidade de prevenir doenças e complicações por
meio da redução dos fatores de risco para as condições crônicas (OPAS, 2019).
Essa parceria entre profissionais e pessoas que vivenciam uma situação crônica de
saúde é considerada a modificação necessária e tradicional de organizar e prestar a
assistência. Segundo o CCM, o cuidado crônico é mais efetivo quando as pessoas idosas com
condições crônicas e profissionais de saúde são parceiros no manejo clínico da condição
(BODENHEIMER et al., 2002).
O CCM está organizado em 6 elementos, sendo eles: desenho do sistema de prestação
de serviços; suporte às decisões; autocuidado apoiado; sistema de informação clínica;recursos
da comunidade e por fim, a organização da atenção à saúde, elemento que foi selecionado
como foco deste trabalho, conforme descrição no Quadro 1.
Quadro 1 - Descrição do elemento Organização da atenção à saúde do Chronic Care Model
(CCM)
Elemento Descrição
Organização da
atenção à saúde
>> Objetiva criar cultura, organização e mecanismos que promovam a melhoria de uma
atenção planejada, contínua, segura e de alta qualidade. Ao mesmo tempo, a
organização deverá favorecer as pessoas com condições crônicas a transitar por todos os
níveis do sistema e pontos de atenção necessários.
Ações-chave para a organização da atenção à saúde
✓ Apoiar a melhoria da atenção às condições crônicas em todos os níveis da
organização, a começar pelas lideranças. Estes devem identificar melhorias como um
trabalho importante e expressar essa percepção na visão, na missão, nos valores e nos
planos estratégico e tático das organizações;
✓ presença de uma liderança permanentemente envolvida com os processos de
melhoria clínica contínua;
✓ integrar os processos de melhoria da atenção às condições crônicas nos programas de
qualidade da organização;
✓ fortalecimento aberto e sistemático do manejo de erros e problemas de qualidade
para melhorar a atenção à saúde;
✓ conceder incentivos (financeiros ou de outro tipo) com base na qualidade da atenção
à saúde;
✓ desenvolver consensos que facilitem a coordenação da atenção à saúde dentro e entre
os diferentes centros de tratamento e níveis de atenção.
Fonte: MENDES, 2011; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2015, adaptado pela pesquisadora.
22
O CCM é amplamente aceito e empreendido, em vários países, principalmente nos
serviços de cuidados primários, que objetivam orientar e melhorar os esforços direcionados à
prestação de cuidados a pessoas com condições crônicas de saúde. Esse modelo, ao subsidiar
ações de prevenção e de intervenção precoce associada à gestão integrada, pode ser uma
solução para o problema difícil e complexo de como fornecer cuidados a pessoas com
condições crônicas (BAPTISTA et al., 2016).
Ora, o CCM mostra-se favorável, na medida em que desafia a conjuntura de
programas de saúde tradicionais e enfatiza a importância de repensar e redesenhar a prática
clínica no nível primário de saúde (GARCÍA-GOÑI et al., 2012).
No cenário brasileiro, o CCM foi aderido pelo Ministério da Saúde no “Plano de
Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT)
no Brasil” mencionado anteriormente. Porém, assim como outros modelos derivados do
CCM, Mendes (2012) também adotou e propôs o Modelo de Atenção às Condições Crônicas
(MACC), com o objetivo de maior adaptação ao contexto cultural e de melhor adaptação ao
cenário do sistema público de saúde do Brasil. Tal ação se justifica uma vez que, o CCM foi
desenvolvido em um ambiente de sistemas privados dos Estados Unidos, o que exige
adaptações do mesmo quando aplicado em outras federações com sistemas de saúde públicos
díspares.
Tal questão foi reconhecida pelo Ministério da Saúde que, em 2012, em outro
documento oficial intitulado: “Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças crônicas
nas Redes de Atenção à Saúde e nas linhas de cuidado prioritárias” (BRASIL, 2012), que
adotou o MACC como modelo de atenção que deverá subsidiar as ações na rede SUS.
O MACC tem como modelo gênese o CCM anteriormente exposto, o qual possui
elementos a partir da integração dos princípios de outros dois modelos: o Modelo da Pirâmide
de Riscos (MPR) que estratifica a população segundo os riscos, e o Modelo da Determinação
Social da Saúde de Dahlgren e Whitehead, que permite visualizar as relações hierárquicas
entre os diversos determinantes da saúde (MOYSÉS, 2012). Obtendo-se assim, a adaptação
do modelo a um sistema de atenção à saúde pública e universal como o SUS.
Em suma, o MACC está estruturado em cinco níveis de intervenção de saúde e em três
componentes integrados: a população total estratificada em subpopulações por estratos de
riscos com base no MPR (à esquerda da Figura 2), os focos das intervenções de saúde,
23
considerando os diferentes níveis de determinação - os determinantes intermediários,
proximais e individuais com base no modelo de Dahlgren e Whitehead (à direita da Figura 2)
e os cinco níveis das intervenções de saúde sobre os determinantes e suas populações -
intervenções promocionais, preventivas e de gestão da clínica com base no CCM (no meio da
Figura 2) (MENDES, 2011, 2015).
Figura 2- Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC)
Fonte: MENDES, 2011, p. 246.
O lado esquerdo da Figura 2 diz respeito a diferentes subpopulações de uma população
total sob responsabilidade da APS. Por sua vez, o lado direito da Figura 2 corresponde ao focodas distintas intervenções de saúde segundo os determinantes sociais da saúde (MENDES,
2012). A população e suas subpopulações são cadastradas e registradas segundo as
subpopulações de distintos níveis do modelo:
● nível 1: população total e, em relação à qual se intervém sobre os determinantes
sociais da saúde intermediários (determinantes que se manifestam no âmbito local de
atuação da APS, principalmente aqueles ligados às condições de vida e de trabalho -
educação, emprego, renda, habitação, saneamento, disponibilidade de alimentos,
infraestrutura urbana, serviços sociais, e outros);
● nível 2: subpopulações com diferentes fatores de risco ligados aos comportamentos e
aos estilos de vida (determinantes sociais da saúde proximais): subpopulações de
pessoas tabagistas, com sobrepeso ou obesidade, sedentárias, usuárias excessivas de
bebida alcoólica, com alimentação pouco saudável, sob estresse exagerado e outros;
● nível 3: subpopulações de pessoas com riscos individuais e/ou com condição crônica
estabelecida, mas de baixo e médio riscos;
24
● ✓ nível 4: subpopulações de pessoas com condição crônica estabelecida, mas de alto
e muito alto riscos;
● ✓ nível 5: subpopulações de condições de saúde muito complexas (MENDES, 2015;
SILVA, 2017).
Uma das vantagens do MACC quando implantado, diz respeito à possibilidade de
organizar a atenção às condições crônicas, liberando tempo das equipes de saúde da APS para
atender, tanto as ações programadas, quanto as ações não programadas que se apresentam
nessas unidades sob a forma de demanda espontânea (MENDES, 2011).
Nesse sentido, fica evidente a potência do modelo, sendo uma possibilidade de
fortalecer a APS, seja pela mudança do processo de trabalho das equipes, pela integração
entre os profissionais e entre os níveis de atenção, e a consequente satisfação das pessoas que
vivenciam uma situação crônica de saúde (MENDES, 2015).
3.4 Instrumento de medida de avaliação da organização da atenção à saúde para o
cuidado às condições crônicas
Para avaliar e guiar os esforços de melhoria da organização da atenção à saúde para o
cuidado às condições crônicas na APS, os sistemas de saúde requerem ferramentas práticas de
avaliação. Um dos instrumentos disponíveis na literatura é o questionário o Assessment of
Chronic Illness Care(ACIC), que consiste na Avaliação da Capacidade Institucional para a
Atenção às Condições Crônicas, em sua versão traduzida e adaptada para a língua portuguesa
do Brasil (MOYSES, 2012). O ACIC permite ao profissional da atenção à saúde avaliar em
que medida fornece cuidados adequados, considerando a situação de saúde de pessoas com
condições crônicas , e tem como referência os pressupostos do CCM (GLASGOW et al.,
2010).
Esse questionário ACIC foi projetado e testado pelo MacColl Institute for Health
Improvement nos Estados Unidos, sendo adaptado semântica e culturalmente por diversos
grupos interessados em sua utilização como ferramenta de suporte para o diagnóstico,
adequação, monitoramento e avaliação de modelos de atenção às condições crônicas apoiados
no Chronic Care Model (MOYSES, 2012).
25
O ACIC (ANEXO 1) é composto por 35 questões norteadoras divididas em sete
dimensões: Dimensão 1- Organização da Atenção à Saúde; Dimensão 2 - Articulação com a
comunidade; Dimensão 3 - Autocuidado apoiado; Dimensão 4 - Suporte à decisão;
Dimensão 5 - Desenho do sistema de prestação de serviço; Dimensão 6 - Sistema de
informação clínica ; Dimensão 7: Integração dos componentes do MACC (MOYSES, 2012).
Estas dimensões recebem pontuação na escala Likert de 0 a 11. Obtendo - se uma
pontuação para cada dimensão, que ao final, são somadas e divididas pelo número de
dimensões resultando na Capacidade Institucional, a qual é classificada em quatro níveis de
atenção às CC: resultados entre 0 e 2 (limitada: nível D); entre 3 e 5 (básica: nível C); entre 6
e 8 (razoável: nível B); entre 9 e 11 (ótima: nível A) (RODRIGUES, 2021; MOYSES, 2012).
De modo geral, esse questionário enfatiza a avaliação pelos profissionais da
capacidade institucional local para desenvolver o modelo de atenção às condições crônicas e,
assim, apoiar as equipes para melhorar a atenção a essas condições na comunidade, nos
serviços e na relação com as pessoas usuárias. O quadro abaixo apresenta os elementos que
compõem o CCM, divididos em dimensões que são avaliadas pelo ACIC (CAVALCANTE,
2016; MOYSES, 2012).
26
Quadro 2 - Descrição das dimensões do questionário Assessment of Chronic Illness
Care(ACIC)
Dimensões Descrição do conceito
Organização da
Atenção à Saúde
A atenção às condições crônicas pode ser mais efetiva se todo o sistema (organização,
instituição, unidade) no qual a atenção é prestada esteja orientado e permita maior ênfase
no cuidado às condições crônicas.
Articulação com
a comunidade
A articulação entre o sistema de saúde (instituições/unidades básicas de saúde) e os
recursos comunitários têm um importante papel na gestão/ manejo de condições
crônicas.
Autocuidado
Apoiado
O autocuidado apoiado efetivo pode ajudar as pessoas com condições crônicas e suas
famílias a lidar com os desafios do convívio e do tratamento, além de reduzir as
complicações e os sintomas da doença.
Suporte à Decisão O manejo efetivo de condições crônicas assegura que os profissionais de saúde tenham
acesso a informações baseadas em evidência para apoiar as decisões na atenção às
pessoas usuárias. Isso inclui diretrizes e protocolos baseados em evidência, consultas a
especialistas, educadores em saúde e envolvimento dos usuários de forma a tornar as
equipes de saúde capazes de identificar estratégias efetivas de cuidado.
Desenho do
sistema de
prestação de
serviços
A evidência sugere que a gestão efetiva da atenção às condições crônicas envolve mais
que a simples adição de intervenções a um sistema focado no cuidado de condições
agudas. São necessárias mudanças na organização do sistema, realinhando a oferta do
cuidado.
Sistema de
Informação
Clínica
Informação útil e oportuna, individualizada por pessoa usuária e por populações usuárias
com condições crônicas, é um aspecto crítico de modelos de atenção efetivos,
especialmente aqueles que empregam abordagens populacionais.
Integração dos
Componentes do
MACC
Sistemas de saúde efetivos integram e combinam todos os elementos do modelo, por
exemplo, associando as metas de autocuidado com os registros nos sistemas de
informação, ou associando políticas locais com atividades dos planos terapêuticos dos
pacientes (locais para desenvolvimento de atividades físicas, estruturação de hortas
comunitárias etc.)
Fonte: MOYSÉS; SILVEIRA FILHO; MOYSÉS, 2012.
Internacionalmente, o ACIC tem sido utilizado como uma ferramenta de suporte para
melhorar a qualidade da atenção e o reconhecimento da relação da implementação do CCM, e
os benefícios concedidos ao sistema de atenção à saúde. Particularmente no Brasil, o ACIC
foi traduzido e adaptado pela Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (PR), em parceria
com o Laboratório de Inovações no Cuidado às Condições Crônicas, e a Organização
Pan-Americana da Saúde, mas ainda não foi concluído o processo de validação
(CAVALCANTE, 2016; MOYSES, 2012).
O ACIC continua sendo uma abordagem inovadora para a gestão de mudanças de
prestação de cuidados crônicos (SILVA, 2019). Conforme mencionado acima, numerosas
investigações realizadas nos Estados Unidos, onde o instrumento foi idealizado, e em outros
27
países concluem que o ACIC é um instrumento cuja eficácia tem sido comprovada,
permitindo identificar, além das áreas que necessitam de empreender melhorias, mas também
o grau em que as mudanças podem ser incorporadas (CRAMM et al, 2018).
Como o ACIC, é um instrumento de grande potencial para identificar como é o
cuidado às condições crônicas, ele oferece a oportunidade de avaliar suas sete dimensões
separadamente, dessa maneira, para este estudo, o ACIC foi utilizado para análise de somente
uma de suas sete dimensões, sendo escolhida a dimensão,Organização da Atenção à Saúde,
conforme descrita acima no Quadro 2.
28
4 Método
29
4.1 Delineamento do estudo
Trata-se de um estudo descritivo e transversal conduzido pela abordagem quantitativa
realizado em 13 unidades básicas de saúde do distrito sanitário Noroeste do município de
Belo Horizonte, MG, Brasil.
Os estudos descritivos têm por objetivo determinar condições relacionadas à saúde,
segundo o tempo, o lugar e/ou as características dos indivíduos. A epidemiologia descritiva
pode fazer uso de dados secundários (dados pré-existentes) e primários (dados coletados para
o desenvolvimento do estudo), como o utilizado neste presente trabalho. A epidemiologia
descritiva examina como a incidência ou a prevalência de uma condição relacionada à saúde
varia de acordo com determinadas características, como sexo, idade, escolaridade e renda,
entre outras (COSTA; BARRETO, 2019).
O estudo transversal é o estudo epidemiológico que avalia uma determinada situação
em um único momento histórico (BORDALO, 2006). Este tipo de estudo é um dos
delineamentos mais empregados na pesquisa epidemiológica consiste no estudo, visto que é
recomendado quando se deseja estimar a frequência com que um determinado evento de
saúde se manifesta em uma população específica, além dos fatores associados com o mesmo
(BASTOS; DUQUIA, 2013).
4.2 Cenário do estudo
Para fins deste estudo, foi selecionada a área de abrangência do Distrito Sanitário
Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais. Esse distrito, que corresponde a uma das nove
regiões da organização político administrativa do município (Figura 3), foi escolhido por ter
apresentado o maior número absoluto da população residente com 60 anos ou mais (44.801
pessoas idosas) conforme estimativa do IBGE, para o censo de 2010.
30
Figura 3 - Distritos político administrativos do município de Belo Horizonte, MG
Fonte: Censo IBGE, 2010. Prefeitura de Belo Horizonte, 2017.
A rede de serviços públicos de atenção à saúde, do distrito Noroeste (Figura 4), conta
com 16 UBS, cujas áreas de abrangência são estabelecidas com base nos setores censitários
contíguos, considerando barreiras geográficas, malha viária e população residente (BELO
HORIZONTE, 2022).
Figura 4 - Distrito Sanitário Noroeste e seus territórios de gestão compartilhada
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte, 2022
31
4.3 População do estudo
No período da coleta de dados a regional Noroeste possuía 16 UBS compreendendo
um total de 66 equipes de eSF compostas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem
e Agentes Comunitários da Saúde conforme preconizado pelo Ministério da Saúde.
Para a obtenção de uma amostra favorável significativa à coleta de dados, optou-se por
determinar alguns critérios de inclusão e exclusão. Como inclusão foram selecionados
médicos e enfermeiros com um mínimo de tempo de trabalho de seis meses de atuação na
atenção primária, sendo que a equipe deveria possuir no mínimo dois profissionais de saúde
na sua composição. Como critério de exclusão foi determinado que as equipes de saúde da
família incompletas e aquelas nas quais os profissionais médicos e enfermeiros estivessem
afastados, por qualquer motivo (férias e licença) não fariam parte da pesquisa.
Obedecendo aos critérios de inclusão e exclusão, somente 40 equipes possuíam
membros que cumpriam os requisitos, sendo excluídas da amostra 26 equipes. Das 40
equipes selecionadas, cinco fizeram parte da prova piloto do estudo realizada para avaliar a
aplicabilidade do instrumento. Dessa maneira, a população do estudo, compreende a mesma
população total do estudo “Avaliação da capacidade institucional na assistência às pessoas
idosas com condições crônicas na atenção primária à saúde” que foi composta de (n=193)
profissionais que atuavam em 35 eSF.
4.4 Coleta de dados
4.4.1 Questionário de Avaliação da Capacidade Institucional para Atenção às Condições
Crônicas (Assessment of Chronic Illness Care / ACIC)
Para responder à pergunta da pesquisa “Como está organizada a atenção à saúde da
pessoa idosa com condições crônicas na APS?”, foi utilizada uma das sete dimensões da
versão adaptada para a língua portuguesa do Brasil (MOYSES, 2012) do questionário
Assessment of Chronic Illness Care / ACIC.
Em suas 35 questões subdivididas em 7 dimensões, o ACIC avalia como um todo,
qual é a Capacidade Institucional para o atendimento às condições crônicas, desde o nível
32
limitado, básico, razoável ou ótimo, conforme a escala Likert mencionada no item 3.4 deste
trabalho.
No entanto, para responder à pergunta proposta, este trabalho realizou uma análise
aprofundada da dimensão de número um do instrumento ACIC, intitulada como: Organização
da Atenção à Saúde proposta pelo ACIC. Esta dimensão é subdividida em 6 itens (Quadro -
3) que recebem pontuação na escala Likert de 0 a 11, que ao final, são somadas e
divididas pelo número de itens (seis), resultando na Organização da Atenção à Saúde a qual
é classificada em quatro níveis de atenção às CC: resultados entre 0 e 2 (limitada: nível D);
entre 3 e 5 (básica: nível C); entre 6 e 8 (razoável: nível B); entre 9 e 11 (ótima: nível A)
(RODRIGUES, 2021; MOYSES, 2012).
Quadro 3 - Itens da Dimensão 1 do ACIC - Organização da Atenção à Saúde
Item Conteúdo do item
1 O interesse da liderança organizacional em relação às mudanças na atenção às condições crônicas...
2 Metas organizacionais para a atenção às condições crônicas...
3 Estratégias para a melhoria da atenção às condições crônicas...
4 Regulação e incentivos...
5 Liderança superior da organização...
6 Benefícios e incentivos (econômicos e morais)....
Fonte: MOYSÉS; SILVEIRA FILHO; MOYSÉS, 2012.
A escolha desse questionário é justificada, uma vez que com a análise a Dimensão 1
intitulada “Organização da Atenção à Saúde”, tem-se como intuito, analisar como o manejo
das condições crônicas às pessoas é prestado no cenário de estudo.
4.4.2 Trabalho de Campo
A coleta de dados foi realizada quatro fases distintas e ocorreu entre outubro a
dezembro de 2019 conforme descrito a seguir:
Etapa 1: Contato para aproximação com os gestores das Equipes de Saúde da Família
das Unidades Básicas de Saúde do Noroeste de Belo Horizonte
33
Nesta etapa, foi primeiramente realizado o contato com o local do estudo e as Equipes
de Saúde da Família de 13 das 16 unidades básicas de saúde da região Noroeste de Belo
Horizonte. Realizamos uma listagem de contatos de todos os gerentes das unidades e
efetuamos o contato via ligação telefônica. Nesta fase o contato foi realizado em conjunto por
todas as três integrantes do estudo. Após o contato com os gestores,foram marcadas as datas
para a aplicação do ACIC com os profissionais das equipes que atendiam os critérios
exigidos.
Etapa 2: Teste piloto para avaliar a aplicabilidade do ACIC
Antecedendo a coleta de dados para o estudo, foi realizado um teste piloto para avaliar
a aplicabilidade do instrumento. Foram selecionados da população de estudo 31 participantes
pertencentes a 5 equipes de diferentes UBS da regional Noroeste de Belo Horizonte. Com o
teste piloto, foi possível identificar alguns aspectos relacionados ao tempo de aplicação do
questionário obtendo uma média de 47 minutos. Além disso, foi possível identificar se o grau
da linguagem do instrumento era compreensível e claro para os participantes. Ao final do teste
piloto, constatou-se que o ACIC possuía um grau importante de palavras e termos
incompreensíveis para alguns participantes, dessa maneira, na busca do direcionamento e
clareza do conteúdo do instrumento, foram utilizados termos que facilitassem a compreensão,
mas que não fujam do contexto, para assim alcançar os objetivos propostos.
Etapa 3: Aplicação do instrumento ACIC.
Para responder à pergunta da pesquisa, foi aplicado o instrumento Assessment of
Chronic Illness Care (ACIC), em sua versão adaptada e traduzida para o português brasileiro
(GOMTUBUTRA et al, 2012).
De início o projeto foi apresentado aos membrosde cada equipe, para que em seguida
fosse realizada a leitura integral em voz alta e assinatura do TCLE por cada participante.
Posteriormente o instrumento foi distribuído para cada profissional da equipe e procedeu-se
com a explicação do preenchimento do instrumento. Como o instrumento possui certa
complexidade , foi necessário aplicá-lo individualmente, por meio de entrevistas aos
integrantes das equipes de saúde que fizeram parte do estudo.
Os entrevistados foram orientados a selecionar apenas uma resposta para cada estágio,
os quais são representados em níveis D, C, B ou A e os valores vão de 0 a 11. Sendo 0, 1 e 2 o
34
nível D, 3,4,5 o nível C, 6,7,8 o nível B, e 9,10 e 11 o nível A. A pontuação média geral do
ACIC é obtida pela soma dos valores de cada sessão que o constitui. Os valores mais baixos
expressam capacidades institucionais menores, e, os mais altos, capacidades institucionais
maiores de atenção às condições crônicas.
Etapa 4: Organização dos Instrumentos.
Nesta etapa foi realizada a separação dos instrumentos por Unidade Básica de Saúde e
por eSF, sendo estas colocadas em ordem numérica, conforme a quantidade de eSF
entrevistadas para este estudo. Posteriormente foi estratificada somente a Dimensão 1 -
Organização da Atenção à Saúde, para posterior análise dos dados.
35
4.5 Variáveis do estudo e análise dos dados
Este estudo inclui variáveis dependentes e independentes conforme descrito no
Quadro 4:
Quadro 4 - Descrição das variáveis do estudo do instrumento Assessment of Chronic Illness
Care –ACIC.
Variável Independente Descrição/ Variável Categoria
Sexo Sexo (diferenciação genetica entre homens e
mulherres)
1-Feminino
2-Masculino
Idade Idade em anos 1-Menos de 20 anos
2- De 20 a 40 anos
3- De 40 a 60 anos
4-Mais de 60 anos
Profissão Atividade laboral atual 1-Médico
2-Enfermeiro
3-Técnico de Enfermagem
4- Auxiliar de Enfermagem
5-Agente comunitário de saúde
Especialização na área Especialização certificada e na área de atenção
às condições crônicas
1-Sim
2-Não
3-Não tem aplicabilidade
Nível de formação Formação de ensino conforme diretriz nacional 1 - Ensino básico
2 - Ensino Técnico
3 - Graduação
Tempo de exercício
profissional
Tempo de trabalho no na profissão 1-Menos de 1 ano
2-De 1 a 5 anos
3-De 5 a 10 anos
4-Mais de 10 anos
Tempo de exercício
profissional com
doenças
cardiovasculares
Tempo de exercício profissional com doenças
cardiovasculares
1-Menos de 1 ano
2-De 1 a 5 anos
3-De 5 a 10 anos
4-Mais de 10 anos
Variável Dependente Descrição/ Variável Categoria
Organização da atenção
à saúde
OAS1-Liderança Organizacional do Sistema;
OAS 2-Metas Organizacionais;
OAS 3-Estratégias para a melhoria da atenção;
OAS 4-Regulação e incentivos para a atenção;
OAS 5-Liderança da instituição;
OAS 6-Benefícios e incentivos.
Pontuação de 0 A 11
Fonte: MOYSES, 2012. Elaborado pela autora (2019).
36
O Quadro 5 apresenta os escores referentes à interpretação dos resultados obtidos por
meio da aplicação do ACIC, analisando a Dimensão 1 - Organização da atenção à saúde.
Quadro 5 - Interpretação dos resultados da Dimensão 1 - Organização da atenção à saúde.
Pontuação Interpretação
“0 a 2” Organização limitada da atenção às condições crônicas
“3 a 5” Organização básica da atenção às condições crônicas
“6 a 8” Organização razoável da atenção às condições crônicas
“9 a 11” Organização ótima para a atenção às condições crônicas
Fonte: MOYSES, 2012. Elaborado pela autora (2022).
Após a coleta dos dados, os valores e variáveis foram transcritos no programa
estatístico Statistical Package for the Social Sciences para Windows versão 22.0. (SPSS).
Primeiramente, com o intuito de caracterizar a população de estudo foi realizada a análise
descritiva dos dados com a utilização das frequências absolutas e relativas.
Posteriormente, foi realizado o teste da normalidade das variáveis utilizando-se o teste
Kolmogorov – Smirnov. Uma vez que as variáveis contínuas apresentaram distribuição
normal foram realizadas as comparações múltiplas com o teste ANOVA, além foi testada a
homogeneidade das variâncias com o teste Levene e, finalmente foi utilizado o teste T3 de
Dunnett para comparações múltiplas das variâncias.
4.6 Aspectos ético-legais
O estudo foi ancorado nos preceitos éticos da Resolução 466/2012, que versa sobre a
participação de Seres Humanos em pesquisas e foi iniciado após aprovação pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, mediante o CAAE
48212615.2.0000.5149 (ANEXO 2) e pelo Comitê de Ética da Secretaria Municipal de Saúde
de Belo Horizonte - Parecer nº 1.351.378. Além disso, foram obedecidos os trâmites legais
prescritos na Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2013).
37
A cada participante foi esclarecido o caráter voluntário de sua participação e a
liberdade de desistir a qualquer momento, sem que isso representasse nenhum prejuízo.
Também foram afirmados os benefícios indiretos e os possíveis constrangimentos. Foi
informado, também, através da leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (ANEXO 3) a garantia de anonimato, tanto na coleta como no tratamento e
divulgação dos dados.
Para garantir o anonimato, os informantes deste estudo receberam os códigos P1 a
P20, inicial da palavra “participante” associada a números sequenciais, considerando a ordem
dos clusters, e c1 a c3, correspondendo ao respectivo cluster do qual fez parte.
38
5 Resultados
39
Os resultados deste estudo, que interrogou os profissionais de saúde da atenção
primária sobre a Organização da atenção à saúde (Dimensão 1 do instrumento ACIC), estão
descritos a partir de seis tópicos intitulados a seguir: Distribuição e caracterização da
população do estudo; Organização da atenção à saúde à pessoa idosa com condições crônicas
com os escores do ACIC; Análise dos componentes da dimensão organização da atenção à
saúde à pessoa idosa com condições crônicas com os escores do ACIC; Análise dos
componentes da dimensão organização da atenção à saúde à pessoa idosa com condições
crônicas com os escores do ACIC por categoria profissional; Análise da dimensão
organização da atenção à saúde à pessoa idosa com condições crônicas com os escores do
ACIC para cada UBS da regional noroeste; Análise dos componentes da dimensão
organização da atenção à saúde à pessoa idosa com condições crônicas com os escores do
ACIC para cada UBS da regional noroeste.
Tais resultados referem-se ao total de respostas dos 193 profissionais das Equipes de
Saúde da Família de 13 das 16 Unidades Básicas de Saúde da regional Noroeste de Belo
Horizonte, bem como a população total do estudo “Avaliação da capacidade institucional na
assistência às pessoas idosas com condições crônicas na atenção primária à saúde“ de autoria
de Laura Villaquiran Jimenez.’
5.1 Distribuição e caracterização da população do estudo
A população do estudo foi constituída por 193 profissionais, integrantes em 35 eSF,
das 13 UBS. Dentre as 13 UBS estudadas, a que possuía maior número de equipes (n=5)
alocadas, foi a UBS 06, esta UBS, por consequência, foi a que apresentou maior número de
profissionais (n=23). Já as UBS com menor número de eSF foram as que possuíam somente
(n=2) conforme descrito no Quadro 6.
40
Quadro 6 - Distribuição do número de participantes das equipes da eSF por UBS, Belo
Horizonte, Minas Gerais, 2019.
Nº UBS Quantidade de ESF Quantidade de Profissionais
1 UBS 1 03 15
2 UBS 2 03 16
3 UBS 3 03 18
4 UBS 4 03 16
5 UBS 5 02 10
6 UBS 6 05 23
7 UBS 7 03 19
8 UBS 8 02 11
9 UBS 9 02 13
10 UBS 10 02 09
11 UBS 11 02 14
12 UBS 12 03 16
13 UBS 13 02 10
TOTAL 13 35 193
Fonte: Jiménez, 2019. Adaptado pela autora.
A análise da amostra permitiu identificar que majoritariamente, os profissionais das
193 eSF, são do sexo feminico, compreenndendo 86,5% (n=167). Além disso, foi possível
identificar que a idade dos(as) participantes apresentou a maior porcentagem na faixa etária de
20 a40 anos 40% (n= 79).
Quanto ao perfil profissional, a maior proporção correspondeu aos agentes
comunitários de saúde ACS com 51,2% (n=99), certamente devido essa categoria de
profissionais, ser a mais extensa mas ESF. Em seguida, os médicos (as) e os enfermeiros (as)
cada categoria apresentou uma porcentagem de 19,4%; (n=35), em menor proporção os
técnicos de enfermagem representaram um percentual de 11,3%; (n=22) e por fim, os
auxiliares de enfermagem, 1%; (n=2).
Quanto à especialização na área das DCNT, somente 21,8%; (n=43) da amostra, já
havia se especializado. No parâmetro de tempo de exercício profissional 66%; (n=129) atuam
em seus cargos a mais de 10 anos. Com base no tempo de exercício profissional com pessoas
com condições crônicas, o estudo revelou que o tempo mínimo em anos de trabalho foi menos
de 1 ano só um 1,5% (n=3); e a maioria dos profissionais responderam possuir mais de 10
anos trabalhando com pessoas com condições crônicas 64,5% (n=123), dados disponíveis na
(Tabela 1).
41
Tabela 1 - Distribuição dos participantes das eSF segundo as variáveis sociodemográficas,
regional Noroeste, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2019.
Variáveis n % Média (DP) Mín- Máx)
Sexo
Feminino 167 86,5
Masculino 26 13,5
Idade
Menos de 20 anos 12 6,9
De 20 a 40 anos 79 40
De 40 a 60 anos 48 24,3
Mais de 60 anos 58 29,4 40,96±11,15 (19-72)
Profissão
Enfermeiro 35 19,4
Médico 35 19,4
Técnico de enfermagem 22 11,3
Auxiliar de enfermagem 2 1,0
Agente Comunitário da Saúde 99 51,2
Especialização na área
Sim 43 21,8
Não 49 24,9
Não tem aplicabilidade 100 53,3
Tempo de exercício profissional
Menos de 1 ano 2 1,5
De 1 a 5 anos 28 14,2
De 4 a 10 anos 37 18,8
Mais de 10 anos 129 66 65,2± 2,15 (1-128)
Tempo de exercício profissional com
pessoas em condições crônicas
Menos de 1 ano 3 1,5
De 1 a 5 anos 28 14,2
De 4 a 10 anos 39 19,8
Mais de 10 anos 123 64,5 64,8± 1,91 (2-122)
Fonte: Jiménez, 2019.
42
5.2 Organização da atenção à saúde à pessoa idosa com condições crônicas com os
escores do ACIC
Os resultados da avaliação da Dimensão 1 - Organização da atenção à saúde presente
no instrumento ACIC apresentaram uma nota média de 6,16 Tabela - 2. Esse total indica que
as Unidades Básicas de Saúde da regional noroeste de Belo Horizonte, apresentam uma
organização razoável da atenção às condições crônicas.
Tabela 2 - Avaliação obtida da Dimensão 1 - Organização da Atenção à Saúde do instrumento
ACIC proporcionadas pelas equipes da eSF, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2019.
Dimensão Média D.P I.C.-95% Min. Max.
Organização da Atenção à Saúde Inf. Sup.
6,16 1,69 5,92 6,40 2,16 11,00
Fonte: Jiménez, 2019. Adaptado pela autora.
Na perspectiva do maior número de profissionais das equipes da eSF da regional
Noroeste de Belo Horizonte, a Atenção Primária à Saúde foi avaliada com uma capacidade
razoável (51,80%) de Organização da Atenção à Saúde às pessoas com condições crônicas.
(Quadro 7).
Quadro 7 - Distribuição das porcentagens de avaliação da Organização da Atenção à saúde
pelo quantitativo total de profissionais das equipes da ESF, regional noroeste, Belo Horizonte,
Minas Gerais, 2019.
.
Classificação da atenção às condições crônicas n %
Organização da atenção à saúde limitada para a atenção às condições crônicas 3 1,55%
Organização da atenção à saúde básica para a atenção às condições crônicas 75 38,85%
Organização da atenção à saúde razoável para a atenção às condições crônicas 100 51,80%
Organização da atenção à saúde ótima para a atenção às condições crônicas 15 7,80%
Total 193 100%
Fonte: Da autora, 2022.
43
5.3 Análise dos componentes da dimensão organização da atenção à saúde à pessoa idosa
com condições crônicas com os escores do ACIC
A Tabela 3 apresenta a média obtida a partir de cada componente na Dimensão 1 -
Organização da Atenção à Saúde do instrumento ACIC.
Tabela 3 - Avaliação dos componentes da dimensão Dimensão 1 - Organização da Atenção à
Saúde do instrumento ACIC, Belo Horizonte,Minas Gerais, 2019.
Componentes Média D.P I.C.-95% Min. Max.
1-Interesse da liderança Inf. Sup.
5,13 2,23 5,41 6,05 0,00 11,00
2-Metas organizacionais
6,02 2,37 5,68 6,35 1,00 11,00
3-Estratégias para melhoria
5,99 2,53 5,63 6,36 0,00 11,00
4-Regulação e incentivos
6,06 2,34 5,72 6,39 0,00 11,00
5- Liderança superior
6,97 2,16 6,66 7,28 1,00 11,00
6-Benefícios e incentivos
6,30 2,15 6,00 6,61 0,00 11,00
Fonte: Jiménez, 2019. Adaptado pela autora.
Na análise de cada componente da dimensão da Organização da Atenção à Saúde,
observou-se que a média mais alta alcançada, foi no componente: Liderança superior da
organização 6,97, no subnível B do instrumento. Com esta pontuação, identifica-se através do
ACIC que a maior parte dos profissionais de saúde das eSF entrevistados, consideram que a
liderança superior da organização, como gestores e gerentes encorajam esforços para a
melhoria da atenção às condições crônicas.
Em seguida, os Benefícios e incentivos receberam pontuação média de 6,30 no
subnível B do instrumento. Esse valor direciona à compreensão de que enfermeiros, técnicos
de enfermagem, médicos, agentes comunitários da saúde e demais profissionais que
compunham as 13 eSF entrevistadas, identificam que na UBS que estão alocados, há
benefícios e incentivos tanto a nível económico e quanto a nível moral que encorajam o
autocuidado dos pacientes com condições crônicas e promovem mudanças sistêmicas.
44
O componente regulação e incentivos para a atenção às condições crônicas, recebeu
pontuação média de 6,06 também situado no subnível B do instrumento ACIC. Esta
pontuação sugere que na maioria das UBS da regional noroeste, uma parte significativa dos
incentivos tanto da parte gerencial quanto assistencial da unidade são direcionados para apoiar
as metas terapêuticas de atenção às pessoas usuárias com condições crônicas. Já as metas
organizacionais para atenção às condições crônicas, receberam a pontuação de 6,02 situado no
subnível B do instrumento, demonstrando que nas eSF das UBS pesquisadas, as metas são
monitoradas e revistas em uma frequência que garanta uma boa articulação do cuidado, apesar
dessas metas não serem amplamente incorporadas em planos de melhoria de qualidade.
O componente estratégias para melhoria da atenção às condições crônicas recebeu
pontuação 5,99, colocando este item do instrumento no subnível C. Esse valor revela que para
os profissionais participantes, as UBS da regional noroeste utilizam estratégias para melhoria
da atenção às condições crônicas somente em soluções emergenciais para resolver
pontualmente os problemas que se apresentam, como baixa de indicadores, respostas a
ouvidorias ou demandas pontuais. Esse cenário revela a necessidade de serem adotadas
estratégias efetivas, que sejam usadas de maneira pró-ativas na definição dos objetivos
organizacionais para atenção às condições crônicas.
Com a menor média de pontuação, encontra-se o componente Interesse da liderança,
5,13, pontuação situada no sub nível C do instrumento ACIC. Com tal pontuação, fica claro
que para os profissionais atuantes, existem gargalos relacionados ao interesse da liderança
organizacional em relação às mudanças às condições crônicas, na esfera superior da gestão.
Os protocolos direcionados pelas Secretarias da Saúde, bem como em instâncias maiores do
poder, estão refletidos na visão, na missão e no plano estratégico, apesar de não haver
recursos comprometidos para a execução do trabalho. Conforme priorizado no instrumento,
em um cenário ideal, o que deve haver neste componente seria que o interesse da liderança
organizacional fizesse parte de planos estratégicos de longo prazo, com recursos humanos e
financeiros direcionados para o atendimento à população idosa com condições crônicas.
45
5.4 Análise dos componentes da dimensão organização da atenção à saúde à pessoa idosa
com condições crônicas com os escores do ACIC por categoria profissional
A Tabela 4 apresenta a média dos escores obtidos por cada categoria profissional,referente à percepção dos participantes em relação à organização da atenção à saúde às
pessoas com condições crônicas, segundo as dimensões do ACIC.
Como pode se observar na Tabela 4, os médicos obtiveram como média geral de 5,69
na Dimensão I - Organização da Atenção às condições crônicas com base no instrumento
ACIC. Como pontuação obtida, é possível identificar que esses profissionais avaliam a
atenção às condições crônicas no local de trabalho com organização básica para a atenção
dessas condições. Além disso, é possível perceber que para a classe médica, o melhor
componente para que a organização à atenção à saúde para as pessoas idosas com condições
crônicas esteja voltado para a atuação da liderança superior, escore 6,36. Já, o item que
interfere para que o cuidado não seja ótimo, mas sim razoável, é a Regulação dos incentivos,
escore 5,02. Esses dados demonstram que os médicos das eSF estudadas, são profissionais
que identificam gargalos no atendimento à pessoa idosa com condições crônicas,
principalmente voltados à ineficiência da captação e distribuição de recursos da Atenção
Básica, apesar de classificarem a liderança superior como estimuladora de esforços para
melhoria da atenção às pessoa com condições crônicas.
46
Tabela 4 - Avaliação da dimensão Dimensão 1 - Organização da Atenção à Saúde do instrumento ACIC, segundo as categorias de profissionais,
Belo Horizonte, Minas Gerais, 2019.
Componente/ Profissão Médico(n=35)
Enfermeiro
(n=35)
Tec. Enf
(n=22)
Aux. Enf.
(n=02)
ACS
(n=99)
Média D.P Média D.P Média D.P Média D.P Max. D.P
1-Interesse da liderança
5,58 2,04 5,35 2,07 5,81 1,81 4,50 2,12 5,82 2,39
2-Metas organizacionais
5,80 1,95 5,82 2,39 6,81 2,42 5,50 0,70 6,05 2,50
3-Estratégias para melhoria
5,80 2,17 5,82 2,58 5,95 2,51 4,50 2,12 6,24 2,64
4-Regulação e incentivos
5,02 2,21 5,73 2,53 6,22 1,79 4,50 0,70 6,59 2,35
5- Liderança superior
6,36 1,98 6,70 2,18 7,72 2,14 4,00 2,82 7,21 2,13
6-Benefícios e incentivos
5,61 1,72 5,97 2,09 6,54 1,89 5,00 1,41 6,52 2,30
TOTAL 5,69 1,44 5,89 1,81 6,50 1,49 4,66 1,41 6,40 1,76
Fonte: Da autora, 2022.
47
Assim como a classe médica, os enfermeiros também avaliaram de forma geral a
Organização para Atenção às condições crônicas como básica, obtendo uma média de 5,89.
Os componentes com, que tiveram avaliações mais altas pelos enfermeiros foram Liderança
superior com 6,70, seguida de Benefícios e incentivos 5,97, evidenciando que para esses
profissionais, a Liderança superior da organização encoraja esforços para a atenção às
condições crônicas, apesar de nem encorajar e nem desencorajar o autocuidado pelos
pacientes através de benefícios econômicos e morais. Já os componentes com menor
pontuação foram Interesse da liderança 5,35 e Regulação de incentivos 5,73.
Já os técnicos de enfermagem avaliaram o local de trabalho nas eSF com uma
capacidade razoável da organização a atenção às condições crônicas com uma média total de
6,50. O componente com maior escore foi A Liderança Superior, 7,72 assim como bem
avaliado pelos médicos e enfermeiros. Os técnicos de enfermagem também pontuaram o
Interesse da Liderança 5,81 como o item de menor média, demonstrando que a classe da
enfermagem considera que a liderança organizacional, possui interesse em não direcionar
recursos para execução de mudanças na atenção às condições crônicas.
Os auxiliares de enfermagem apresentaram resultados bem distintos dos demais
profissionais acima citados, uma vez que a média de pontuação para a Dimensão I - Atenção
às condições crônicas do instrumento ACIC foi de 4,66. Essa pontuação revela que para os
auxiliares de enfermagem, o local de trabalho possui uma organização básica de atendimento
às pessoas idosas com condições crônicas. A pontuação mais alta encontrada foi no
componente, Metas organizacionais obtendo escore 5,50. Já a pontuação mais baixa foi no
componente Liderança superior 4,00. Os valores baixos encontrados, podem estar
relacionados a baixa quantidade de profissionais auxiliares de enfermagem, sendo somente 2
entrevistados dentre o total de 193.
Por fim, os Agentes Comunitário de Saúde avaliaram a organização da atenção à
saúde como como razoável para a atenção às condições crônicas, assim como os técnicos de
enfermagem classificaram, obtendo uma média do ACIC de 6,40. Esses profissionais
apontaram com maior média o componente Liderança superior 7,40 e com menor média o
componente Interesse da Liderança, com pontuação de 5,82 (Tabela 4).
48
5.5 Análise da dimensão organização da atenção à saúde à pessoa idosa com condições
crônicas com os escores do ACIC para cada UBS da regional noroeste
As análises descritivas e comparações múltiplas de cada componente da Dimensão I -
Organização da atenção à saúde do instrumento ACIC nas UBS que fizeram parte do estudo
serão apresentadas nas tabelas a seguir.
Tabela 5 - Avaliação da Dimensão I - Organização da Atenção à Saúde do ACIC em cada
Unidade Básica de Saúde, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2019.
UBS n Média D.P I.C.-95% Valor-p1
Inf. Sup.
UBS 01 03 6,89 1,80 6,02 7,76
UBS 02 03 6,01 1,47 5,23 6,80
UBS 03 03 5,02 1,23 4,41 5,64
UBS 04 03 5,10 2,33 3,85 6,34
UBS 05 02 7,26 0,89 6,62 7,89
UBS 06 05 6,36 1,52 5,70 7,02
UBS 07 03 5,71 0,83 5,31 6,12 <0,001
UBS 08 02 5,26 1,67 4,08 6,47
UBS 09 02 6,91 0,30 6,73 7,01
UBS 10 02 6,40 1,39 5,32 7,47
UBS 11 02 5,85 1,22 5,14 6,56
UBS 12 03 6,37 1,83 5,39 7,34
UBS 13 02 7,86 2,42 6,12 9,59
Total 35 6,16 1,69 5,92 6,40
Fonte: Jiménez, 2019. Adaptado pela autora.
Nota: Teste de Levene, valor- p = 0,05
A Tabela 5 demonstra que em relação à dimensão da Organização da Atenção à Saúde
para a atenção, a maior média encontrada foi na UBS 13: (7,86), seguida da UBS 05: (7,26).
Com essa pontuação, evidencia-se que para os profissionais da UBS 05 e UBS 13, a
organização para atenção à saúde de pessoas idosas com condições crônicas é razoável em
seus locais de trabalho. Já os participantes da UBS 03 e 04 tiveram uma tendência a atribuir
menores escores à dimensão em comparação às demais UBS e deram uma média de 5,02 e
49
5,10 (IC95% 4,41-5,64)(IC95% 3,85- 6,34) respectivamente, evidenciando a organização do
atendimento às condições crônicas com um nível básico.
Ao realizar as comparações múltiplas Tabela 6, foram encontradas diferenças
significativas (p< 0,05). Na dimensão da Organização da Atenção à Saúde nas UBS da
regional, a UBS 05 apresentou menor avaliação (p=0,001) com relação à UBS 03. Já com
relação à UBS 07, a UBS 05 apresentou a maior avaliação (p=0,018), revelando diferenças
significativas na percepção dos profissionais das Equipes de Saúde da Família.
Tabela 6 - Avaliação da Dimensão I - Organização da Atenção à Saúde do ACIC e
comparação entre Unidades Básicas de Saúde, Belo Horizonte, Minas
Gerais, 2019.
UBS (Comparações múltiplas) Valor-p1
UBS 03 UBS 09 <0,001
UBS 03 UBS 05 =0,001
UBS 07 UBS 09 <0,001
UBS 07 UBS 05 <0,018
Fonte: Jiménez, 2019. Adaptado pela autora.
Nota: Teste T3 Dunnett
5.6 Análise dos componentes da dimensão organização da atenção à saúde à pessoa idosa
com condições crônicas com os escores do ACIC para cada UBS da regional noroeste
A Tabela 7 evidencia em uma análise geral, que o componente que adquiriu maior
pontuação na Dimensão I do instrumento ACIC, foi a Liderança superior, com média 9,30 na
UBS 13. Já o componente com a menor pontuação foi Interesse da liderança 3,43 na UBS 04.
De forma geral em todas os componentes, observou-se que os resultados do instrumento
apresentaram diferenças significativas (p<0,05).
Com uma análise mais estratificada, é possível identificar que o componente Interesse
da Liderança obteve maior pontuação na UBS 09: (8,25). Esse valor sugere que os
profissionais do Centro 09 consideram que no local de trabalho o interesse da liderança
organizacional em relação às mudanças na atenção às condições crônicas, está incorporado na
organização e na sua liderança superior, com recursos humanos e financeiros

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