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1 ATENÇÃO PRIMÁRIA Á SAÚDE E ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2 BREVE HISTÓRICO- CONCEITUAL SOBRE A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE ....................................................................................................................... 3 ORIGENS DA IMPLEMENTAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA E A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA NA REFORMA BRASILEIRA ................................................... 8 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................... 14 DESENHO DO ESTUDO ............................................................................... 15 AMOSTRAGEM DAS EQUIPES INVESTIGADAS ........................................ 17 NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA ............................................. 18 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 24 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 BREVE HISTÓRICO- CONCEITUAL SOBRE A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE Embasado em um processo conceitual, a trajetória da Atenção Primária à Saúde enquanto política de reorganização do modelo assistencial, tendo como referência reformas orientadas por este princípio e sua implantação no caso brasileiro. Mostra uma mudança no discurso das reformas setoriais com um retorno da ênfase na Atenção Primária A Saúde e na integração dos serviços. No contexto brasileiro, é necessário refletir sobre as possibilidades de sinergia dessa estratégia com outras políticas sociais e sobre os fatores necessários para garantir seu desempenho. Os estudos de avaliação mostram uma discreta superioridade de suas atividades sobre aquelas de unidades tradicionais, mas permanecem dificuldades no acesso, na estrutura física, na formação das equipes, na gestão e na organização da rede. 4 Essas dificuldades se correlacionam com o baixo patamar de financiamento público, a persistência de segmentação no sistema e a fraca integração dos serviços de atenção básica com outros níveis de atenção. Garantir a continuidade dessa estratégia realizando os ajustes necessários é um horizonte razoável a ser defendido do ponto de vista técnico, o qual será sempre condicionado pela dinâmica dos projetos tecnoassistenciais em disputa. Entre 1970/1971, aos princípios de cobertura universal estabelecido pelo Governo Federal, Québec realizou uma reforma de caráter muito inovador. Na porta de entrada de uma rede de estabelecimentos hierarquizados por regiões foram criados os Centres Locaux des Services Communautaires (CLSC), cujo Conselho de Administração era majoritariamente constituído por usuários e cujo atendimento deveria privilegiar a integralidade da atenção ("la globalité des soins") e a dimensão familiar e comunitária dos cuidados. Esse período foi marcado por um importante crescimento de movimentos sociais urbanos com cooperativas de habitação e clínicas populares autônomas que influenciaram a criação desses centros. Embora esses centros tenham mostrado a viabilidade da prestação de um cuidado integral, foram gradativamente assumindo uma posição marginal na rede de serviços, sendo dirigidos para atendimento de imigrantes, programas de prestação de cuidado em domicílio para idosos ou serviços em regiões distantes. Na década de 1980 e início dos anos 1990, o discurso se modificou num contexto neoliberal de restrições orçamentárias e ajustes macroeconômicos com ações regulatórias que ultrapassaram o âmbito dessa província. Em Québec a descentralização foi adotada, com a criação de agências regionais encarregadas de realizar fusões de estabelecimentos, fechamentos de hospitais e a chamada "virada ambulatorial", na qual os CLSC voltaram à cena como estruturas de apoio. Em 2003, essas regionais transformaram-se em Agências de Desenvolvimento de Redes Locais de Serviços de Saúde e de Serviços Sociais com um papel de coordenação, incluindo o setor privado. 5 Houve aumento na regulação do trabalho médico instituindo-se algumas atividades obrigatórias e um sistema de remuneração diferenciada para exercício em locais específicos. No centro dessas redes surgiu um novo estabelecimento denominado Centre de Santé et des Services Sociaux (CSSS), fruto das fusões dos CLSC e de hospitais de cuidados de curta e longa durações, com o objetivo de estabelecer corredores de serviços integrados. Na porta de entrada, foram criados os Groupes de Médècine de Famille (GMF), uma continuidade das policlínicas já existentes, agora com subvenção governamental para estrutura física e recursos humanos. A introdução de uma concepção empresarial e a instituição de um mercado interno com ênfase na competição pública foram as principais mudanças adotadas pelas políticas de saúde do governo conservador que durou de 1983 a 1996. O princípio de regionalização foi rompido e as autoridades distritais passaram a realizar contratos com hospitais e outros serviços de atenção secundária, transformados em "trusts", portanto, com a responsabilidade de gerar seu próprio orçamento. Os GPs foram também estimulados a administrar fundos para compra direta de serviços. Há controvérsia quanto aos resultados dessas medidas, mas o fato é que elas introduziram uma dinâmica favorável à atenção primária aumentando consideravelmente o status dos generalistas. Estrategicamente foi aproveitado na nova fase que se inicia com a chegada do partido trabalhista ao poder em 1997, com o compromisso de abolir o mercado interno substituindo a competição por um trabalho colaborativo entre as instituições que, no entanto, permaneceram como "trusts". 6 A gestão local passou a ser responsabilidade de novas estruturas denominadas Primary Care Trusts (PCTs), às quais todos os GPs estão vinculados e onde, finalmente, começaram a trabalhar juntos as autoridades distritais e os órgãos de controle dos serviços de atenção primária. Em funcionamento desde 2002, os PCTs parecem estar avançando na direção de uma maior integração entre os serviços, sendo a compra de cuidados especializados definida a partir das necessidades do nível local. Foram previstos investimentos para o período 2000/2010 visando a reduzir os tempos de espera para no máximo 48 horas no caso dos GPs, três meses para especialistas e seis meses para cirurgias eletivas. O monitoramento do acesso é hoje central nas atividades dos PCTs, cujo trabalho enfrenta o desafio de promover qualidade entre uma diversidade de prestadores liberais. Em janeiro de 2006, um novo documento apresentado ao Parlamento reiterava a continuidadedessas medidas. Quanto a nova estratégia voltada à cena da Atenção Primária à Saúde é confirmada pelo Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde, que analisou reformas orientadas pela Atenção Primária à Saúde em países da União Européia a partir de 1990. O papel crescente da atenção primária deveria, em parte, à transferência de cuidados hospitalares para o nível ambulatorial havendo grande diversidade nas formas de organizar e de prestar estes serviços. As funções da Atenção Primária à Saúde adotada pelo Observatório Europeu praticamente coincidem com os atributos sugeridos por Starfield para avaliar estas práticas: Primeiro contato, longitudinalidade, integralidade, coordenação, centralização na família, Orientação para a comunidade, 7 e que começaram a ser utilizados no Brasil com a validação de um instrumento desenvolvido na Johns Hopkins University, o Primary Care Assessment Tool (PCAT) conforme veremos a seguir. Uma pesquisa desta autora com países da Organization for Economic Co- Operation and Development (OECD) mostrou que quanto maior a orientação do sistema para a atenção primária menor é o custo e melhor o desempenho na área materno-infantil. No entanto, para o conjunto de indicadores não havia diferenças importantes para os países agrupados no ranking superior ou intermediário de Atenção Primária à Saúde, com destaque para os seguintes atributos do sistema como um todo: distribuição eqüitativa de recursos, cobertura universal, baixa contrapartida financeira dos usuários e orientação integral e familiar nos serviços. 8 ORIGENS DA IMPLEMENTAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA E A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA NA REFORMA BRASILEIRA O desenho do SUS teve influência do ideário das reformas dos sistemas contemporâneos na década de setenta, mas os conhecimentos acumulados com novos modos de práticas e formação de recursos humanos em nível local não encontrarão eco no movimento sanitário, cujos esforços centraram-se em questões mais gerais das políticas e do direito à saúde. Os primeiros anos da reforma foram marcados pela integração e fusões de instituições associadas à tentativa de manter e difundir novos princípios num contexto de grave crise fiscal e financeira. A partir de 1996, houve um impulso na política de descentralização com Normas Operacionais favorecendo um arcabouço legal e administrativo necessário ao novo papel atribuído para o poder local. Portanto, mais do que reorganizar o modelo assistencial, o que predominou nesse momento foi o interesse em cumprir requisitos a fim de assegurar repasses federais, não sendo raros os exemplos em que a montagem das novas estruturas 9 administrativas era coincidente com o momento em que o município assumia a gestão da rede de serviços. Surgiram propostas mostrando a necessidade de mudanças paradigmáticas com projetos estruturantes no campo da saúde e no campo dos serviços, alertando- se para a importância da subjetividade dos usuários e dos coletivos de trabalho, com uma crítica contundente à racionalidade tecnoburocrática. A confluência de um conjunto de fatores parece explicar a emergência do Programa Saúde da Família (PSF) nesse momento: a experiência bem sucedida das ações do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) no Nordeste, o vazio programático para a questão assistencial no SUS e os atrativos políticos que um programa desta ordem poderia representar mesmo para um governo de cunho neoliberal. É possível também que oferecer um incentivo financeiro para contratação de equipes se configurasse como uma medida operacionalmente viável para estimular o reordenamento da atenção básica. Para Vianna & Dal Poz , teria havido uma interação positiva entre a sua implantação e a descentralização, com o PSF facilitando a adoção do financiamento per capita das ações básicas. O que estaria impedindo sua expansão seriam as estruturas burocráticas ainda pesadas, o corporativismo, o aparelho formador e os preconceitos em relação à tecnologia simplificada. É importante lembrar que o Banco Mundial havia divulgado seu relatório anual propondo pacotes mínimos de serviços 30 exacerbando críticas a formas de Atenção Primária à Saúde que pudessem significar um retrocesso de direitos. Entretanto as coordenações dos postos o PSF havia gerado avanços na prevenção, na consciência sanitária e na realização de visitas domiciliares, citando-se o agente comunitário de saúde como um grande fator de mudança neste sentido. Porém, era unânime a percepção de que esses avanços ficavam prejudicados pelo dimensionamento inadequado entre equipe e população. 10 As dificuldades quanto ao acesso coincidiam com a percepção das famílias, para as quais a principal diferença também se devia à presença do agente comunitário. Na grade avaliativa final, o grau de implantação do programa foi considerado moderadamente adequado com problemas no acesso (relação inadequada entre equipe e o número de famílias) e numa das dimensões da integralidade (referência). Assim, a dificuldade no acesso poderia dificultar as vantagens obtidas nos demais itens da integralidade ao prejudicar a realização de atividades de promoção, prevenção e visitas devido à sobrecarga das equipes. Havendo problemas na referência para especialidades, o cuidado mais complexo tornava-se também difícil e a integralidade ficava prejudicada como um todo. Uma pesquisa em municípios paulistas mostrou uma correlação entre a eficácia da gestão e a efetividade do sistema municipal, havendo necessidade de ganhos substanciais neste sentido. Municípios de grande porte tendem a ter maior capacidade e maior aprendizado institucional, mas muitos ainda mostravam pouca experiência e maturidade no PSF. Quanto mais baixa a governabilidade com a existência de conflitos entre os agentes (Conselho, Câmara, prestadores, Secretaria Estadual, Ministério da Saúde, Ministério Público) piores eram os resultados. No que diz respeito ao desempenho, o programa tende a favorecer um trabalho territorializado, com participação em atividades na comunidade e bons resultados na cobertura de ações programáticas. Portanto, algumas cidades estudadas no Estado do Rio de Janeiro notou-se que a ação setorial focalizada não parecia modificar a "lei do cuidado inverso": quanto pior a condição econômica do município pior a cobertura e a qualidade do atendimento. 11 A avaliação dos atributos da atenção primária a partir da aplicação do PCAT tem mostrado resultados variáveis. Tanto no interior como na capital de São Paulo, as dimensões com as quais os usuários estavam mais satisfeitos eram a porta de entrada, o vínculo e os profissionais. Na capital a acessibilidade foi referida por usuários, profissionais e gestores como a pior dimensão em todos os estratos de exclusão tanto no PSF como nas unidades básicas de saúde tradicionais. Nesse caso, o índice de atenção básica (IAB) foi comparativamente mais favorável ao PSF em todos os estratos, mas quanto maior a exclusão pior era a avaliação. O impacto do PSF nos indicadores de saúde permanece controverso. A análise de alguns indicadores selecionados para o Brasil de 1998 a 2003/2004 aponta para a diminuição da brecha entre as faixas de IDH sugerindo efeitos positivos para a equidade, porém um estudo feito em municípios nordestinos de grande porte não identificou diferenças significativas nos indicadores de saúde da criança entre áreas cobertas e não cobertas pelo PSF. Nesse caso, havia uma clara relação desses indicadores com a situação sócio- econômica, confirmando-se assim, a já conhecida importância da determinação social desses agravos. O Pacto de Gestão regulamentou o bloco financeiro da atenção básica parasuperar a fragmentação vigente, extinguindo-se a vinculação de incentivos por faixas de cobertura o que prejudicava os grandes centros. O Pacto pela Vida reiterou como prioridade a consolidação e a qualificação da Estratégia Saúde da Família como modelo de atenção básica e centro ordenador das redes de atenção à saúde. 12 A EQUIDADE NA COBERTURA DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA No Brasil, nas ultimas décadas vêm sendo marcadas por importantes mudanças sociais. Nas principais políticas sociais, mencionar os programas de transferência de renda, a expansão da cobertura escolar e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) . Com a criação do SUS, em 1988, o Estado brasileiro assumiu a responsabilidade da oferta e financiamento de todos os serviços de saúde. Desde então, diversas políticas têm sido implementadas buscando garantir uma oferta mais eficiente e mais equitativa. Os resultados dessas políticas podem ser observados em melhoras no acesso aos serviços de saúde, com destaque para a atenção primária e emergência, incluindo cuidado pré-natal, cobertura vacinal e acesso a medicamento. 13 Estudos recentes mostram aumentos nas taxas de utilização dos serviços de saúde nos últimos dez anos, especialmente entre as camadas de renda mais baixa, o que vem contribuindo para reduzir iniquidades na utilização desses serviços. Parte desses avanços pode ser explicada pela ampliação da atenção primária que vem ocorrendo em todo o país. Entre a década de 1990, o Ministério da Saúde deu início a um processo de mudança no SUS, passando de um modelo assistencial tradicional centrado na doença e no cuidado médico individualizado para um modelo que prioriza a atenção primária. No modelo anterior o foco é no cuidado curativo e hospitalocêntrico, o novo modelo é focado na promoção, prevenção e acompanhamento da população usuária. A criação do Programa Saúde da Família (PSF), em 1994, foi um reflexo dessa mudança. Em 2006, foi aprovada a primeira Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) que transformou o PSF em uma estratégia de abrangência nacional denominada a partir de então Estratégia Saúde da Família (ESF). Essa política foi reeditada em 2011 em função da necessidade de se discutir, principalmente, a questão da qualidade na oferta de serviços de saúde. Atualmente, a ESF está configurada como a principal iniciativa de atenção primária desenvolvida no âmbito do SUS, tendo papel relevante na prevenção e no acompanhamento das famílias. O atendimento da população é orientado pelos seguintes princípios ordenadores: primeiro contato, integralidade, coordenação, longitudinalidade, orientação comunitária, 14 foco na família e competência cultural. Ainda que diversos avanços tenham sido alcançados desde a criação do SUS e da ESF, as desigualdades regionais e socioeconômicas no acesso aos serviços de saúde no país ainda são marcantes, sendo mais acentuadas para os cuidados preventivos. Nos últimos tempos, essas desigualdades têm sofrido expressiva redução, que pode ser atribuída tanto à ampliação do acesso aos serviços de saúde entre a população SUS dependente, promovida pela ESF, quanto pelas melhoras no padrão de vida da população. Em 2012, foi realizada uma pesquisa visando a analisar os serviços ofertados pela ESF no Estado de Minas Gerais. A pesquisa investigou os principais marcadores da atenção primária para crianças, gestantes, idosos e mulheres em idade reprodutiva. Esse é um primeiro estudo desenhado para avaliar o papel da ESF na redução das desigualdades na utilização dos serviços de saúde. Com objetivo em apresentar ressaltantes atinentes à cobertura da ESF, bem como da desigualdade social nesta cobertura, em Minas Gerais e por região ampliada de saúde. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Minas Gerais e a saúde da família Uma breve pesquisa em Minas Gerais no ano de 2010, possui cerca de 20 milhões de habitantes distribuídos em 853 municípios. O estado é caracterizado por forte heterogeneidade socioeconômica e demográfica. Em 2010, o PIB per capita anual estava em torno de R$ 10.700,00, sendo R$ 26.144,00 na macrorregião do Triângulo do Sul e R$ 6.003,00 na do Jequitinhonha. 15 Essa disparidade também é observada para a escolaridade e indicadores epidemiológicos: em 2010, a taxa de analfabetismo variava de 4,7% no Centro a 22,5% no Nordeste; e a taxa de mortalidade infantil variava de 10,3 no Município de Passos a 27,8 em Santa Helena de Minas. Nas duas últimas décadas, o estado passou por mudanças demográficas e socioeconômicas importantes, caracterizadas, sobretudo, pela redução da desigualdade e da pobreza. Entre os anos de 1990 e 2009, o coeficiente de Gini, utilizado para medir a desigualdade de renda, reduziu de 0,63 para 0,54, representando uma queda de 19%, superior à média nacional de 12%. Ademais, a taxa de pobreza em Minas Gerais variou de 38,27% para 12,05%, configurando uma redução de 70% (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. http://www.ipeadata.gov.br, acessado em 30/Nov/2011). Contudo, as desigualdades socioeconômicas entre as regiões ainda são expressivas. Minas Gerais possui 4.253 equipes de atenção primária, ou seja, 14% do total do país. A atenção primária é fortalecida pelo Projeto Saúde em Casa e pela implantação das redes de assistência à saúde, com foco na rede de hipertensão e diabetes (HIPERDIA), atenção à saúde da mulher e crianças (Rede Viva Vida) e a rede de atenção às pessoas idosas (Rede Mais Vida). DESENHO DO ESTUDO Foram realizados inquéritos domiciliares na área urbana, com amostra representativa para quatro grupos-alvo da ESF: crianças menores de cinco anos; idosos (60 anos e mais); 16 gestantes e mulheres entre 25 e 59 anos. Foram consideradas gestantes as mulheres que tinham filhos menores de cinco anos vivos presentes no domicílio. Essa definição permitiu obter uma amostra maior de mulheres com informação sobre todo o período gestacional, muito embora possa resultar em um viés de memória. A área rural foi excluída do estudo devido às dificuldades associadas à logística de campo que comprometeriam o orçamento disponível para a realização desta pesquisa. O alcance dos resultados diz respeito à implementação da ESF na área urbana de Minas Gerais, onde 85% da população residem. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (COEP/UFMG; parecer 04200203000-10). O instrumento de coleta dos dados foi organizado em sete seções que se referem à identificação e caracterização sociodemográfica do domicílio e características de saúde dos quatro grupos-alvo. 17 AMOSTRAGEM DAS EQUIPES INVESTIGADAS O desenho da amostra foi probabilístico, no qual a unidade primária de seleção era a equipe da ESF e a unidade secundária, o domicílio. A amostra foi uniformemente distribuída entre as macrorregiões de saúde. O desenho amostral foi estratificado por região, com alocação igual de 16 equipes da ESF em cada macrorregião de saúde, respeitando a proporção dos grupos-alvo na população em Minas Gerais. Com essa alocação igualitária de número de equipes por região, os erros de estimação nos estratos tendem a ficar homogêneos. Em cada macrorregião, efetuou-se a seleção aleatória sistemática dos municípios de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), garantindo maior variabilidade socioeconômica entre os municípios selecionados. A probabilidade de seleção do município foi proporcional ao número de equipes de saúde da família. Foram selecionados 173 municípios e em seguida procedeu-se ao sorteio de equipes de saúde naqueles que em 2011 tinham mais de uma equipe. No caso de a equipe sorteadapertencer à área rural, foi realizada a substituição. 18 O tamanho amostral foi definido de modo a garantir a representatividade por macrorregião de saúde e grupo-alvo, considerando a probabilidade de ocorrência de cada evento de interesse associado aos grupos-alvo. Para as crianças, o evento de interesse foi a posse do cartão de vacina; para idosos, considerou-se a utilização de consultas médicas e para mulheres, a cobertura de exame preventivo. NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA O Programa Saúde da Família (PSF) foi criado pelo Ministério da Saúde, em 1994, para promover a reorganização das ações de atenção primária no país. Atualmente, o número de indivíduos assistidos pelas equipes de saúde da família é de 101 milhões, cerca de 50% da população. Para apoiar essas equipes nas atividades relacionadas ao cuidado, o Ministério da saúde criou, em 2008, os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). Cada NASF vincula-se a um número variável de equipes de saúde da família, entre 8 e 20, e pode ser composto por até 19 profissionais, entre eles, estão: Psiquiatras; 19 Nutricionistas; Fisioterapeutas; Psicólogos. A implantação dos NASF tem ocorrido de maneira exponencial: em 2008, eram 3 e passaram para 1.498 em 2011. No Município de São Paulo, a gestão da saúde difere de outras metrópoles do país, uma vez que as equipes de saúde da família e os NASF são gerenciados por instituições parceiras da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Essas são instituições privadas contratadas pela prefeitura e assumem a contratação dos profissionais da atenção primária, assim como, o treinamento, a coordenação e a supervisão direta. Também se responsabilizou por construir a articulação funcional entre os vários níveis de atenção, isto é, um grau de coordenação e de integração para funcionamento da rede assistencial necessário para assegurar o cumprimento dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). As ideias que fundamentam o gerenciamento da microrregião são: a integralidade do cuidado, o funcionamento efetivo dos fluxos de referência e contrar- referência para criação de uma plataforma de ensino e pesquisa que contribua para a formação de profissionais de saúde, para a educação permanente dos trabalhadores e que gere conhecimento a partir do referencial da atenção primária à saúde enquanto base organizadora do sistema de saúde. Essa plataforma é chamada de Projeto Região Oeste. Dentre as expectativas que gestores depositam no NASF, está o aumento da resolutividade da atenção primária à saúde vinculada à ideia da potencialidade do trabalho interdisciplinar dos profissionais dos NASF e das equipes de saúde da família e ao melhor acesso aos serviços de saúde pela reorganização da demanda e redução da procura dos serviços da atenção secundária e terciária como porta de entrada no sistema. A Portaria nº. 2.4883 descreve que, com a responsabilização compartilhada pelo conjunto NASF-equipes de saúde da família, o acompanhamento dos casos ocorreria de forma interdisciplinar, e as práticas de encaminhamento seriam 20 reavaliadas, modificando a coordenação do cuidado nas redes de atenção à saúde. Nesse sentido, o grupo concorda com a portaria ao destacar a necessidade de o NASF potencializar a atenção primária à saúde, ampliar as ações das equipes de saúde da família, articulando as redes de atenção à saúde e, assim, otimizar os fluxos de referência e contrarreferência. "O primeiro papel é aumentar a resolutividade da atenção primária à saúde e saber determinar os recursos a serem agenciado quando os limites se apresentarem e participar na organização dos outros níveis do sistema". "...conseguir fazer junto à equipe: potencializar o grau de intervenções e construir novas ações para aumentar a resolutividade...". "A gente está numa lógica que qualquer equipe multiprofissional que se implante vai se deparar com a potência do trabalho e do território, mas também com os limites de uma rede que não responde. Eu acho que esta equipe deve estimular no território a função das redes". Uma preocupação destacada pelos participantes foi que o NASF não assuma o papel dos outros níveis de atenção, apesar das filas de espera para atendimento em serviços de atenção secundária. Nesse sentido, Cunha & Campos afirmam que a falta de serviços de saúde especializados pode conduzir a um funcionamento equivocado do NASF, que assume um papel de "substituição do serviço que falta", na tentativa de responder à demanda da população. "uma equipe dessas não tem condição de substituir a rede de saúde...". Segundo Vosgerau et al. afirmam que as práticas irracionais de utilização de medicamentos repercutem no aumento da morbimortalidade e dos gastos com saúde. 21 Esses autores destacam que o NASF, atuando de modo integrado às equipes de saúde da família e tendo o farmacêutico, pode contribuir para o uso racional de medicamentos pela população. Essa ideia condiz com a expectativa dos participantes da oficina, mas está em oposição à cultura estabelecida. "O NASF não como solução, mas como parceiro para achar soluções". O grupo chama a atenção para a necessidade de repensar a organização do trabalho, as agendas dos profissionais, tanto no que se refere à assistência individualizada quanto para a construção do trabalho interdisciplinar que repercute diretamente na qualidade do cuidado. "Você pode desperdiçar muito tempo do trabalho das pessoas. Tem que desenvolver um tipo de divisão de trabalho, com ações que são inovadoras para potencializar e integrar ações". Atuar no ensino e educação permanente Os participantes destacaram a importância de os profissionais do NASF atuarem no ensino. Discutiu-se o tema da inserção de alunos da graduação e da pós-graduação 22 na atenção primária à saúde, além da formação dos profissionais das equipes de saúde da família e do próprio NASF. "...é como transformar as unidades básicas de saúde que hoje a gente já tem voltadas ao ensino; fazer para que tenham enfermagem, medicina e também fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional". As atividades do NASF foram vistas como uma possibilidade de ampliação do campo de ensino de diversas especialidades médicas, de enfermagem e de outras categorias profissionais como a terapia ocupacional, fonoaudiologia e fisioterapia. Isso está de acordo com a proposta curricular das Diretrizes Nacionais, que, pautadas nas necessidades do SUS, preconizam a formação de profissionais capazes de atuar na atenção primária à saúde, o que coloca o NASF como potencial espaço de ensino e de pesquisa. "A universalização é dada pela oferta de serviços e não necessariamente para a leitura que a gente constrói de quem mora na região". "O NASF tem que compor com aquilo que já é demanda dos serviços e aquilo que na universalização da atenção não pode ser ainda cuidado". Para Schraiber & Mendes-Gonçalves, o conceito de necessidade de saúde eleito pelos serviços tem sido o operacional, associado ao consumo de um serviço, geralmente a consulta médica. Para Sucupira & Ferrer, as demandas específicas são determinadas pela proposta de atendimento dos serviços de saúde. Nos dizeres dos autores Nascimento & Oliveira (p. 94) postulam que o NASF tem como principal desafio alterar a cultura organizacional no SUS, "...que prioriza a quantidade em detrimento da qualidade, o referenciamento em detrimento da resolutividade e a avaliação de impacto e de indicadores de saúde por ações meramente quantitativas, em detrimento das qualitativas estabelecido.” Para esses autores, o NASF, tendo como base a clínica ampliada, visa melhorar a qualidade do serviço ofertado e não apenas suprir a demanda assistencial no aspecto numérico. 23 O funcionamento do NASF tem, como desafio,a articulação das suas atividades dentro da agenda das equipes de saúde da família, considerando as metas assistenciais e o processo de trabalho. Em relação à possibilidade de o usuário ter acesso direto ao NASF sem passar pela equipe de saúde da família. Alguns participantes defenderam que os indivíduos devem ser direcionados para consulta individual ou compartilhada apenas após a discussão do caso com a equipe de saúde da família. Outros afirmaram que deveria existir uma possibilidade de agendamento direto com o profissional do NASF via grupos de promoção da saúde ou pelo acolhimento. "Sem dúvida a porta de entrada vai ser sempre mais a equipe de saúde da família”. 24 REFERÊNCIAS Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. Ministério da Saúde. Portaria no 2.488 de 21 de outubro de 2011. Diário Oficial da União 2011; 21 out. Corbo ADA, Morosini MVGC. Saúde da família: história recente da reorganização da atenção à saúde. In: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, organizador. Textos de apoio em políticas de saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2005. p. 15781. Secretaria de Estado de Saúde. Deliberação CIB-SUS/MG no 978, de 16 de novembro de 2011. Diário Oficial de Minas Gerais 2011; 16 nov. Ministério da Saúde. Portaria nº. 154, de 24 de janeiro de 2008. Cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família NASF. Diário Oficial da República Federativa do Brasil 2008; 25 jan. 3. Ministério da Saúde. Portaria GM nº. 2488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Diário Oficial da União 2011; 24 out. Sucupira ACS, Ferrer APS. Uma experiência de ensino de propedêutica pediátrica em ambulatório. Pediatria (São Paulo) 2000; 22:105-12 Nascimento DDG, Oliveira MAC. Reflexões sobre as competências profissionais para o processo de trabalho nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família. Mundo Saúde (Impr.) 2010; 34:92-6. Schraiber LB, Mendes-Gonçalves RB. Necessidades de saúde e atenção primária. In: Schraiber LB, Nemes MIB, Mendes-Gonçalves RB, organizadores. Saúde do adulto na unidade básica. 2ª Ed. São Paulo: Editora Hucitec; 1996. p. 29-47. 25
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