Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Nathalia C. Ferreira | Universidade Anhembi Morumbi | Turma XV Tutoria – Situação Problema 1.2 – Nasceu, e agora? 1. Quais são os riscos e as consequências da prematuridade? Quando é considerado prematuridade? A prematuridade é definida como o nascimento de um bebê antes das 37 semanas de gestação. "Termo" é um termo médico usado para se referir a um bebê que nasceu no momento ideal, com 37 a 41 semanas de gestação. O parto a termo é considerado o ideal para o desenvolvimento e saúde do bebê e da mãe. O parto prematuro ocorre quando o bebê nasce antes de completar 37 semanas de gestação. Quanto mais prematuro for o parto, maior é o risco de complicações para o bebê, como problemas respiratórios, digestivos, neurológicos, entre outros. Além disso, bebês prematuros têm maior risco de mortalidade neonatal. O parto pós-termo ocorre quando o bebê nasce após 42 semanas de gestação. Nesses casos, o risco de complicações para o bebê e para a mãe aumenta, devido a problemas como o envelhecimento da placenta, que pode afetar o suprimento de oxigênio e nutrientes para o feto, e a possibilidade de macrossomia fetal (quando o bebê é grande demais para a idade gestacional), o que pode dificultar o parto e aumentar o risco de lesões no nascimento. Idade gestacional e gestação são conceitos relacionados, mas não são a mesma coisa. A gestação se refere ao período em que o feto se desenvolve no útero materno. Ela começa com a fecundação do óvulo pelo espermatozoide e termina com o nascimento do bebê. Já a idade gestacional é a medida do tempo desde o primeiro dia do último período menstrual da mãe até a data atual. Ela é calculada em semanas e dias e é usada para estimar a idade do feto e a data provável do parto. Por exemplo, se a mulher teve seu último período menstrual em 1º de janeiro e hoje é 1º de março, sua idade gestacional é de cerca de 8 semanas. A idade gestacional é importante para o acompanhamento da gestação e para o planejamento do parto. Ela é calculada com base em informações fornecidas pela mãe, como a data da última menstruação e a data da concepção, quando ela é conhecida. Em alguns casos, exames de ultrassom também podem ser usados para determinar a idade gestacional do feto. Os bebês prematuros podem enfrentar uma série de riscos e consequências, incluindo: Problemas respiratórios: Os bebês prematuros têm maior risco de desenvolver problemas respiratórios, incluindo dificuldades para respirar e doença pulmonar crônica. Os bebês prematuros podem desenvolver problemas respiratórios porque seus pulmões ainda não estão totalmente desenvolvidos e prontos para funcionar de forma independente. Durante as últimas semanas de gestação, os pulmões do feto produzem uma substância chamada surfactante, que é fundamental para manter as pequenas vias respiratórias abertas após o nascimento e permitir que o bebê respire adequadamente. O surfactante é uma mistura de proteínas e lipídios que reveste a superfície interna dos pulmões, reduzindo a tensão superficial e permitindo que as pequenas vias respiratórias se expandam e se contraiam adequadamente. Nos bebês prematuros, os pulmões podem não ter produzido surfactante suficiente, o que pode levar a uma série de problemas respiratórios, como a síndrome do desconforto respiratório (SDR), também conhecida como doença da membrana hialina. Na SDR, os pulmões do bebê colapsam após cada respiração porque as pequenas vias respiratórias se fecham e exigem um grande esforço para se reabrir. Além disso, bebês prematuros também podem desenvolver apneia, que é a interrupção temporária da respiração, ou bradicardia, que é a diminuição da frequência cardíaca, o que pode ser preocupante para os profissionais de saúde que cuidam do bebê. Existem vários tratamentos para ajudar os bebês prematuros com problemas respiratórios. Alguns bebês prematuros podem precisar de suporte respiratório com oxigênio ou ventilação mecânica, enquanto outros podem precisar de uma terapia de reposição de surfactante. É importante que bebês prematuros recebam cuidados especializados em um hospital com uma unidade de terapia intensiva neonatal, onde eles possam receber o tratamento e o monitoramento necessários para ajudá-los a superar esses problemas respiratórios e outros desafios de saúde associados à prematuridade. Problemas de alimentação: Os bebês prematuros podem ter dificuldades para sugar, engolir e digerir alimentos, o que pode levar a problemas de crescimento e ganho de peso. Bebês prematuros podem enfrentar problemas de alimentação por uma série de razões fisiológicas. O sistema digestivo de um bebê prematuro não está totalmente desenvolvido, o que pode dificultar a alimentação e a digestão adequadas. Além disso, bebês prematuros têm um sistema nervoso ainda imaturo, o que pode afetar sua capacidade de coordenar a sucção, deglutição e respiração durante a alimentação. A imaturidade do sistema digestivo pode afetar a capacidade do bebê prematuro de digerir e absorver os nutrientes dos alimentos. Além disso, a alimentação com fórmula pode irritar o trato intestinal do bebê, causando inflamação e dor abdominal. Isso pode levar a problemas como refluxo gastroesofágico, regurgitação, vômitos e diarreia. Outro problema comum em bebês prematuros é a dificuldade de coordenação da sucção, deglutição e respiração durante a alimentação. Essa condição é conhecida como disfunção da deglutição e é mais comum em bebês prematuros com menos de 34 semanas de gestação. A disfunção da deglutição pode resultar em engasgos, tosses, dificuldade em respirar e problemas de alimentação, levando a uma maior chance de aspiração de alimentos ou líquidos. Além disso, bebês prematuros podem ter problemas com a sucção, que é necessária para extrair o leite do mamilo ou da mamadeira. A sucção requer o uso de músculos específicos da boca, língua e mandíbula, que podem ser imaturos em bebês prematuros. O tratamento dos problemas de alimentação em bebês prematuros pode incluir alimentação com sonda nasogástrica, que é uma sonda que é passada através do nariz até o estômago para fornecer nutrição. Nathalia C. Ferreira | Universidade Anhembi Morumbi | Turma XV Também podem ser utilizadas outras técnicas para ajudar os bebês a desenvolver suas habilidades de alimentação, incluindo estimulação oral e terapia da fala. É importante que os bebês prematuros sejam monitorados de perto por profissionais de saúde para garantir que estejam recebendo nutrição adequada e para detectar e tratar quaisquer problemas de alimentação precocemente. Problemas neurológicos: Os bebês prematuros têm maior risco de desenvolver problemas neurológicos, como hemorragia cerebral e lesões cerebrais. Bebês prematuros estão em risco de desenvolver problemas neurológicos porque o sistema nervoso central ainda está em desenvolvimento e, portanto, pode ser afetado pela prematuridade. Além disso, bebês prematuros são frequentemente expostos a condições médicas que podem afetar o cérebro, como hipóxia (falta de oxigênio), hemorragia intracraniana, infecções e outras complicações. A imaturidade do cérebro de um bebê prematuro pode levar a várias condições neurológicas, incluindo hemorragia intracraniana, lesões cerebrais, atraso no desenvolvimento neurológico e convulsões. A hemorragia intracraniana é uma das complicações neurológicas mais comuns em bebês prematuros e ocorre quando os vasos sanguíneos no cérebro do bebê se rompem, causando sangramento e pressão no tecido cerebral circundante. As lesões cerebrais podem ocorrer devido a hipóxia, isquemia (falta de fluxo sanguíneo) ou trauma durante o parto. Os bebês prematuros também estão em maiorrisco de desenvolver convulsões, que são causadas por atividade elétrica anormal no cérebro. A causa exata das convulsões em bebês prematuros nem sempre é conhecida, mas pode estar relacionada à imaturidade do cérebro ou a condições médicas subjacentes. O atraso no desenvolvimento neurológico é outra complicação comum em bebês prematuros e pode resultar em problemas como atraso no desenvolvimento motor, problemas de aprendizado e atraso no desenvolvimento da linguagem. Para prevenir ou minimizar os problemas neurológicos em bebês prematuros, é importante garantir que eles recebam cuidados médicos de alta qualidade, incluindo monitoramento regular da pressão intracraniana e intervenções terapêuticas precoces, se necessário. Os bebês prematuros também podem precisar de terapia ocupacional, fisioterapia ou terapia da fala para ajudá-los a desenvolver habilidades motoras e de comunicação. Problemas cardíacos: Os bebês prematuros têm maior risco de desenvolver problemas cardíacos, como cardiomiopatia e hipertensão pulmonar. Fluxo sanguíneo pulmonar, volumes AE e VE, e volume da aorta ascendente estão elevados. AO = aorta; AE = átrio esquerdo; VE = ventrículo esquerdo; AP = artéria pulmonar. Os bebês prematuros podem desenvolver problemas cardíacos devido à imaturidade do coração e do sistema circulatório, que ainda estão em desenvolvimento durante a gestação. Além disso, os bebês prematuros são frequentemente expostos a condições médicas que podem afetar o coração, como hipóxia (falta de oxigênio), infecções e outras complicações. Um dos problemas cardíacos mais comuns em bebês prematuros é a Persistência do Ducto Arterioso (PDA), que é a falha em fechar o ducto arterioso, um canal entre a aorta e a artéria pulmonar que permite o fluxo de sangue oxigenado dos pulmões para o corpo do bebê. A PDA é mais comum em bebês prematuros, pois o ducto arterioso normalmente fecha pouco tempo após o nascimento. Quando ele permanece aberto, pode resultar em aumento do fluxo sanguíneo para os pulmões e uma sobrecarga no coração do bebê, que pode levar a problemas cardíacos a longo prazo. Outros problemas cardíacos que podem afetar bebês prematuros incluem a taquicardia supraventricular, uma frequência cardíaca rápida Nathalia C. Ferreira | Universidade Anhembi Morumbi | Turma XV e irregular que pode afetar o fluxo sanguíneo para o corpo, e a insuficiência cardíaca, que ocorre quando o coração não consegue bombear sangue suficiente para atender às necessidades do corpo. Para prevenir ou tratar problemas cardíacos em bebês prematuros, é importante monitorar de perto a função cardíaca durante o período neonatal, incluindo o uso de exames de imagem e testes de monitoramento cardíaco, como o eletrocardiograma. Em alguns casos, pode ser necessário administrar medicamentos ou realizar cirurgias para corrigir ou aliviar os problemas cardíacos. Problemas de visão: Os bebês prematuros têm maior risco de desenvolver problemas de visão, incluindo retinopatia da prematuridade, que pode levar à cegueira. Os bebês prematuros têm maior probabilidade de desenvolver problemas de visão devido a um problema chamado retinopatia da prematuridade (ROP). A retina é a camada de células sensíveis à luz na parte de trás do olho que transmite sinais visuais ao cérebro. Durante a gestação, a retina se desenvolve lentamente e normalmente é completamente desenvolvida por volta de 36 semanas de gestação. Nos bebês prematuros, a retina pode não ter se desenvolvido completamente, e isso pode torná-la mais vulnerável a danos quando exposta a estresses, como a exposição excessiva ao oxigênio, comum em prematuros que precisam de ventilação mecânica. O estresse pode levar a um crescimento anormal dos vasos sanguíneos na retina, o que pode levar a um descolamento da retina ou outros problemas que podem causar cegueira. A retinopatia da prematuridade (ROP) é uma doença ocular que pode afetar bebês prematuros e que pode levar à perda da visão. Uma das principais causas da ROP é a hipóxia, que é a falta de oxigênio nos tecidos. A hipóxia pode ocorrer em bebês prematuros devido à imaturidade de seus sistemas respiratórios e circulatórios, que ainda não estão totalmente desenvolvidos. A hipóxia pode desencadear a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs) na retina. As EROs são moléculas altamente reativas que podem danificar as células da retina, incluindo os vasos sanguíneos. A exposição prolongada a EROs pode levar ao estresse oxidativo, que é o desequilíbrio entre a produção de EROs e a capacidade das células para neutralizá-las. O estresse oxidativo pode causar danos às células da retina, incluindo os vasos sanguíneos, e contribuir para o desenvolvimento da ROP. Além disso, a hipóxia pode estimular a produção do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), que é uma proteína que promove o crescimento de novos vasos sanguíneos na retina. No entanto, se houver excesso de VEGF, pode ocorrer um crescimento excessivo e anormal dos vasos sanguíneos na retina, o que pode levar a problemas, como hemorragias e descolamento da retina. O fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1) é um hormônio que estimula o crescimento e a diferenciação celular, incluindo as células da retina. A produção de IGF-1 é reduzida em bebês prematuros, o que pode afetar negativamente o desenvolvimento da retina e contribuir para o desenvolvimento da ROP. A eritropoietina (EPO) é um hormônio que estimula a produção de glóbulos vermelhos na medula óssea e aumenta a quantidade de oxigênio transportado no sangue. A EPO também tem um efeito protetor sobre as células da retina, pois ajuda a prevenir a morte celular programada (apoptose). No entanto, a produção de EPO também é reduzida em bebês prematuros, o que pode contribuir para a hipóxia e para o desenvolvimento da ROP. Em resumo, a hipóxia em um bebê prematuro pode desencadear a produção de EROs, estimular a produção de VEGF e prejudicar a produção de IGF-1 e EPO, o que pode contribuir para o desenvolvimento da ROP. A prevenção e o tratamento da ROP envolvem medidas para reduzir a hipóxia e monitorar cuidadosamente o crescimento dos vasos sanguíneos na retina, incluindo exames oftalmológicos regulares durante a internação neonatal e após a alta hospitalar. Além disso, a prematuridade pode estar associada a outros problemas de visão, como a ambliopia (olho preguiçoso), que pode ocorrer quando um dos olhos é mais fraco que o outro. Bebês prematuros também podem ter mais probabilidade de desenvolver erros refrativos, como miopia, hipermetropia ou astigmatismo, que afetam a capacidade do olho de focalizar a luz adequadamente. Para prevenir ou tratar problemas de visão em bebês prematuros, é importante realizar exames oftalmológicos regularmente durante a internação neonatal e após a alta hospitalar, especialmente se o bebê for prematuro extremo ou tiver outros fatores de risco para a retinopatia da prematuridade. O tratamento pode incluir terapias com laser, injeções intravítreas de medicamentos ou cirurgia, dependendo da gravidade do problema. Além disso, bebês prematuros têm maior risco de desenvolver infecções, icterícia, anemia, hipotermia e hipoglicemia. O tratamento da prematuridade pode envolver cuidados intensivos em uma unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN), incluindo suporte respiratório, nutrição intravenosa, fototerapia e outras intervenções médicas específicas para tratar as complicações que podem surgir. 2. Quais os parâmetros de peso, comprimento, perímetro encefálico para um recém-nascido para sua idade gestacional? Os parâmetros de peso, comprimento e perímetro encefálicode um recém-nascido para sua idade gestacional são importantes indicadores do seu desenvolvimento fetal e podem ser usados para avaliar seu crescimento e risco de complicações. Nathalia C. Ferreira | Universidade Anhembi Morumbi | Turma XV As normas de referência para peso, comprimento e perímetro encefálico variam de acordo com a idade gestacional do bebê, uma vez que o desenvolvimento fetal é progressivo e segue um padrão previsível. Algumas das referências mais comuns para recém-nascidos de acordo com a idade gestacional são: Peso para a idade gestacional: é expresso em percentis e indica como o bebê está em relação a outros bebês da mesma idade gestacional. Um bebê que está no percentil 50 tem um peso médio para sua idade gestacional, enquanto um bebê no percentil 10 tem um peso abaixo da média. Comprimento para a idade gestacional: é expresso em percentis e indica como o bebê está em relação a outros bebês da mesma idade gestacional. Um bebê que está no percentil 50 tem um comprimento médio para sua idade gestacional, enquanto um bebê no percentil 10 tem um comprimento abaixo da média. Perímetro encefálico para a idade gestacional: também é expresso em percentis e indica o tamanho da cabeça do bebê em relação a outros bebês da mesma idade gestacional. Um bebê que está no percentil 50 tem um perímetro encefálico médio para sua idade gestacional, enquanto um bebê no percentil 10 tem um perímetro encefálico abaixo da média. 3. O que é Apgar e seus parâmetros avaliados? O Apgar é uma ferramenta de avaliação do estado de saúde do recém- nascido logo após o nascimento, desenvolvida pela médica anestesiologista Virginia Apgar em 1952. O objetivo do teste é avaliar o estado geral do bebê e identificar a necessidade de cuidados imediatos. O Apgar avalia cinco parâmetros importantes do recém-nascido: • Frequência cardíaca: avaliada pelo uso de um estetoscópio ou monitor cardíaco. A frequência cardíaca normal de um recém- nascido é acima de 100 batimentos por minuto. • Respiração: avaliada pela observação da respiração do recém- nascido. Se o bebê estiver respirando de forma regular e vigorosa, ele receberá uma pontuação alta neste item. • Tonicidade muscular: avaliada pela observação da movimentação do bebê. Um bebê com boa tonicidade muscular terá membros ativos e bem flexionados. • Reflexo de irritabilidade: avaliado pela aplicação de um estímulo leve, como uma pequena pressão na sola do pé do bebê. Um bebê com bom reflexo de irritabilidade deve reagir rapidamente ao estímulo. • Cor: avaliada pela observação da coloração da pele do bebê. Um bebê com uma cor rosada recebe uma pontuação alta neste item. Cada parâmetro recebe uma pontuação de 0 a 2, totalizando um máximo de 10 pontos. Um recém-nascido que recebe uma pontuação de 7 a 10 é considerado em bom estado de saúde, enquanto um recém-nascido com uma pontuação abaixo de 7 pode precisar de cuidados adicionais. O Apgar é realizado pelo médico ou enfermeiro obstétrico logo após o nascimento do bebê. Ele avalia o recém-nascido em dois momentos distintos, geralmente nos minutos 1 e 5 após o parto. Em alguns casos, uma terceira avaliação pode ser realizada aos 10 minutos de vida do bebê. Os primeiros minutos após o nascimento são considerados críticos para o recém-nascido, pois é quando ele passa por uma série de adaptações para se ajustar à vida fora do útero. Por isso, é importante que o Apgar seja realizado rapidamente, de preferência nos primeiros 60 segundos após o nascimento, para que qualquer problema possa ser identificado e tratado imediatamente. 4. Quais são as principais adaptações (enfatizar o controle da temperatura) extrauterinas? As principais adaptações extrauterinas envolvem a transição do ambiente intrauterino para o ambiente extrauterino, o que exige uma série de mudanças fisiológicas para o recém-nascido se adaptar e manter sua homeostase. Uma das adaptações mais importantes é o controle da temperatura corporal. No útero, o feto é mantido em uma temperatura constante e protegido das variações ambientais. Após o nascimento, o recém- nascido precisa manter sua temperatura corporal por conta própria, o que pode ser difícil, especialmente em ambientes frios. Para manter a temperatura corporal, o recém-nascido realiza várias adaptações, como aumento da taxa metabólica, aumento da produção de calor, vasoconstrição periférica e tremores. O aumento da taxa metabólica leva a uma maior produção de calor pelo corpo, enquanto a vasoconstrição periférica ajuda a reduzir a perda de calor pela pele. Os tremores também ajudam a gerar calor. Para manter a temperatura corporal adequada, o recém-nascido realiza diversas adaptações fisiológicas, incluindo: • Termogênese não-shivering: o recém-nascido possui tecido adiposo marrom, que é capaz de gerar calor a partir da quebra de gordura. Além disso, o fígado também produz calor pela oxidação de ácidos graxos. • Termogênese shivering: em recém-nascidos com mais de 28 semanas de gestação, o tremor muscular pode ser uma fonte adicional de calor. • Contração vascular: o recém-nascido pode reduzir o fluxo sanguíneo para a pele e extremidades, diminuindo a perda de calor. • Postura fetal: o recém-nascido pode se encolher em uma posição fetal, reduzindo a superfície exposta ao ambiente e, assim, a perda de calor. A termogênese não-shivering (TNS) é um processo pelo qual o corpo produz calor sem a contração muscular associada à termogênese por tremores. Isso ocorre principalmente em recém-nascidos, que têm pouca massa muscular para realizar tremores. A TNS é mediada por tecidos adiposos marrons (TAM) e, em menor medida, pelo fígado e músculos esqueléticos. Os TAM são tecidos especializados que contêm uma grande quantidade de mitocôndrias, responsáveis pela produção de energia na forma de ATP. Nos TAM, a energia é liberada na forma de calor, em vez de ser armazenada para uso posterior. A ativação dos TAM é controlada pelo sistema nervoso simpático, que libera noradrenalina nas terminações nervosas que se ligam a receptores específicos nos TAM, estimulando a produção de calor. A noradrenalina também aumenta a taxa metabólica do fígado e músculos esqueléticos, contribuindo para a produção de calor. Em recém-nascidos, a TNS é crucial para manter a temperatura corporal em um nível adequado, uma vez que eles não são capazes de tremer como mecanismo de regulação térmica. A TNS começa a se desenvolver durante o último trimestre da gestação, e é mais eficiente em recém- nascidos prematuros do que em bebês a termo, uma vez que os primeiros têm mais TAM em relação à sua massa corporal. Além disso, os recém-nascidos têm uma maior superfície corporal em relação ao peso, o que aumenta a perda de calor por convecção, evaporação e radiação, tornando a regulação térmica ainda mais crítica. A gordura marrom, que é um tecido adiposo especializado encontrado em bebês e em animais hibernantes, é responsável pela produção de calor através da termogênese não-shivering. Quando a temperatura do corpo cai, os receptores de frio na pele enviam sinais para o cérebro, que Nathalia C. Ferreira | Universidade Anhembi Morumbi | Turma XV estimula a liberação de norepinefrina, um hormônio que ativa a gordura marrom. A gordura marrom, por sua vez, produz calor através da oxidação de ácidos graxos e glicose. A termogênese shivering é um mecanismo de produção de calor que ocorre quando o corpo humano tenta aumentar a temperatura por meio do tremor dos músculos esqueléticos.Esse processo é mediado pelo sistema nervoso central, que envia sinais para os músculos produzirem contrações rítmicas involuntárias. O tremor muscular ocorre porque as contrações musculares geram energia térmica como um subproduto, o que ajuda a aumentar a temperatura corporal. Além disso, o tremor muscular também aumenta o metabolismo, o que leva a uma maior produção de calor. Esse mecanismo é geralmente ativado quando a temperatura do corpo cai abaixo de um certo ponto, como em condições de hipotermia ou em situações de exposição prolongada ao frio. A termogênese shivering pode ser ineficaz em manter a temperatura corporal normal por longos períodos, mas é um mecanismo importante para ajudar a proteger o corpo em emergências. A termogênese shivering é um mecanismo de produção de calor que é mais comumente observado em adultos, mas também pode ocorrer em recém-nascidos. A produção de calor através da termogênese shivering é semelhante em recém-nascidos e adultos, mas há algumas diferenças fisiológicas que são importantes considerar. Recém-nascidos têm um sistema nervoso imaturo, e os centros nervosos que controlam a termorregulação não estão completamente desenvolvidos. Além disso, a quantidade de massa muscular que um recém-nascido tem é muito menor do que a de um adulto, o que significa que a termogênese shivering pode não ser tão eficiente em aumentar a temperatura corporal. Outras adaptações incluem a transição da respiração fetal para a respiração pós-natal, a mudança na circulação sanguínea (onde o coração começa a bombear sangue para os pulmões para a oxigenação), a digestão de alimentos e a eliminação de resíduos. Além disso, o recém-nascido também precisa se adaptar à estimulação sensorial externa, que pode ser intensa e diferente do ambiente intrauterino. Isso inclui adaptações ao som, luz, toque e até mesmo ao cheiro. Todas essas adaptações são cruciais para garantir a sobrevivência e a saúde do recém-nascido, e qualquer alteração pode indicar problemas que precisam ser tratados imediatamente. 5. Caracterizar a icterícia neonatal e a consequência do acúmulo de bilirrubina. Entender o metabolismo da bilirrubina. Caracterizar os exames, o diagnóstico clínico laboratorial e o tratamento. A icterícia neonatal é uma condição comum em recém-nascidos caracterizada pela coloração amarelada da pele e dos olhos, devido ao acúmulo de bilirrubina no sangue. A bilirrubina é um pigmento amarelo produzido pela quebra dos glóbulos vermelhos antigos e é transportada para o fígado, onde é processada e eliminada através das fezes. Em recém-nascidos, a icterícia pode ocorrer devido à imaturidade do fígado, o que pode resultar em uma incapacidade temporária de processar adequadamente a bilirrubina. O acúmulo de bilirrubina pode ser agravado por outros fatores, como uma maior taxa de produção de bilirrubina no recém-nascido, uma diminuição da ingestão de líquidos ou uma diminuição da eliminação de bilirrubina nas fezes. A bilirrubina é tóxica para o sistema nervoso central e pode causar danos neurológicos se seus níveis no sangue se tornarem muito altos. Para evitar isso, o corpo humano realiza o processo de conjugação, que é a adição de uma molécula de água solúvel à bilirrubina, tornando-a mais facilmente excretável pelo fígado e pelos rins. No entanto, em recém-nascidos, a capacidade do fígado para realizar essa conjugação pode ser limitada, resultando em uma maior concentração de bilirrubina não conjugada no sangue. A bilirrubina não conjugada é insolúvel em água e não pode ser eliminada pelos rins, mas é transportada pela albumina no sangue. Em altas concentrações, a bilirrubina não conjugada pode atravessar a barreira hematoencefálica e causar danos ao cérebro. 6. Quais as causas da perda de peso do RN? Quais são os parâmetros ideais? A perda de peso em recém-nascidos é uma condição normal nas primeiras semanas de vida. Geralmente, os bebês perdem cerca de 5 a 10% do seu peso inicial nas primeiras semanas após o nascimento, devido a fatores como a eliminação de líquidos e mecônio (matéria fecal estéril verde escura formada por secreções intestinais, bile, líquido amniótico e células da mucosa intestinal; geralmente, é eliminado nas primeiras 24 a 48 horas após o nascimento / quando o recém-nascido começa a se alimentar, mas às vezes, ele é eliminado no líquido amniótico antes ou perto do momento do nascimento; o mecônio também pode ser aspirado pelo feto durante o parto, o que pode levar a complicações respiratórias), a adaptação à amamentação e a regulação da temperatura corporal. No entanto, a perda de peso excessiva pode ser um sinal de desidratação ou de problemas com a alimentação do bebê. Algumas das causas mais comuns incluem: o Problemas na amamentação, como a pega incorreta ou a produção insuficiente de leite materno; o Dificuldades em engolir, como as associadas à síndrome de Down ou a outros problemas de desenvolvimento; o Infecções, como a sepse neonatal; o Problemas gastrointestinais, como refluxo gastroesofágico ou obstruções intestinais. Os parâmetros ideais de peso para recém-nascidos dependem da idade gestacional, do sexo e de outros fatores individuais. Em geral, os bebês de termo (nascidos após 37 semanas de gestação) têm um peso médio de cerca de 2,5 a 4 kg. Já os bebês prematuros tendem a pesar menos, de acordo com o tempo de gestação. Nathalia C. Ferreira | Universidade Anhembi Morumbi | Turma XV 7. Para que serve o uso de colírio e injeção de vitamina K no RN após o parto? O uso de colírio no recém-nascido tem como objetivo prevenir a conjuntivite neonatal, que pode ser causada por bactérias presentes na região vaginal da mãe durante o parto. A aplicação do colírio deve ser feita logo após o nascimento, para que a ação preventiva seja eficaz. Já a injeção de vitamina K no recém-nascido após o parto é feita para prevenir a hemorragia por deficiência de vitamina K. A vitamina K é necessária para a síntese de fatores de coagulação no sangue, e os recém-nascidos têm uma quantidade reduzida dessa vitamina em seu organismo, o que pode levar a uma maior susceptibilidade a hemorragias. A aplicação da injeção de vitamina K é padrão em muitos países e recomendada por organizações de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria. 8. Caracterizar o plano de cuidado para um RN. O plano de cuidado para um recém-nascido é um conjunto de ações e intervenções que devem ser realizadas para garantir o bem-estar e a saúde do bebê. O plano é geralmente desenvolvido por profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros, e pode incluir os seguintes elementos: Monitoramento do estado de saúde do bebê, incluindo a avaliação da frequência cardíaca, da respiração e da temperatura corporal. Realização de exames físicos regulares para verificar o desenvolvimento físico e neurológico do bebê, bem como detectar possíveis problemas de saúde. Monitoramento da alimentação do bebê, seja por meio de amamentação ou de fórmula infantil, para garantir que o bebê esteja recebendo a nutrição adequada. Administração de medicamentos e vacinas conforme indicado para prevenir doenças ou tratar problemas de saúde Cuidados com a higiene, incluindo a limpeza do cordão umbilical e das áreas genital e perianal. Monitoramento do peso e do crescimento do bebê, para garantir que esteja crescendo e ganhando peso de forma adequada. Educação dos pais ou cuidadores sobre cuidados com o recém-nascido, incluindo alimentação, higiene e sinais de alerta para possíveis problemas de saúde. 9. Caracterizar a triagem neonatal e o teste do pezinho. A Triagem Neonatal Biológica(TNB) é um conjunto de ações preventivas, responsável por identificar precocemente indivíduos com doenças metabólicas, genéticas, enzimáticas e endocrinológicas, para que estes possam ser tratados em tempo oportuno, evitando as sequelas e até mesmo a morte. Além disso, propõe o gerenciamento dos casos positivos através de monitoramento e acompanhamento da criança durante o processo de tratamento. A triagem neonatal contempla o diagnóstico presuntivo, o diagnóstico de certeza, o tratamento, o acompanhamento dos casos diagnosticados e a incorporação e uso de tecnologias voltadas para a promoção, prevenção e cuidado integral. O diagnóstico presuntivo em triagem neonatal refere-se à interpretação de correlações clínicas e/ou clínico-laboratoriais, indicando impressão, suspeita ou probabilidade, obtidas por utilização unicamente dos testes de triagem conforme protocolos técnicos estabelecidos para os distúrbios ou doenças específicas; O diagnóstico definitivo ou de certeza refere-se à constatação da presença do distúrbio ou doença, nos casos previamente suspeitos à triagem, por meio de testes confirmatórios e/ou avaliação clínica; A melhoria da efetividade do acesso ao tratamento e acompanhamento dos casos diagnosticados, obtidos com as ações operacionais de monitoramento e acompanhamento das pessoas com diagnóstico positivo incluem a busca ativa para a recoleta, reteste, reavaliação, agendamento de consultas e acompanhamento de comparecimento; A incorporação e uso de tecnologias voltadas para a promoção, prevenção e cuidado integral nas Redes de Atenção à Saúde (RAS), incluindo tratamento medicamentoso e fórmulas nutricionais quando indicados no âmbito do SUS devem ser resultado das recomendações formuladas por órgãos governamentais a partir do processo de avaliação e aprovação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) e Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do Ministério da Saúde. As ações do PNTN devem ser articuladas entre o Ministério da Saúde, Secretarias de Saúde dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). Os entes federativos organizam os fluxos da triagem neonatal, incluindo-os nas Redes de Atenção à Saúde do SUS e os integram aos componentes: Atenção Básica, Atenção Especializada e Maternidades. Os níveis de atenção estão articulados entre si, de forma a garantir a integralidade do cuidado e o acesso regulado a cada ponto de atenção e/ou aos serviços de apoio, observadas as especificidades inerentes e indispensáveis à garantia da equidade na atenção às pessoas com diagnóstico positivo na triagem neonatal. Critérios para inclusão de doenças no PNTN Os critérios habitualmente usados para programas de triagem, em geral, seguem aqueles propostos por James Wilson e Gunnar Jungner em 1968, em documento publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), são eles: • A história natural da doença deve ser bem conhecida; • Ser possível a identificação da doença antes do início das manifestações clínicas; • A possibilidade de tratamento em estágio precoce deve trazer maiores benefícios, comparado ao tratamento após manifestação clínica da doença; • Existência de um teste adequado para o diagnóstico em estágio precoce, passível de incorporação nas rotinas para diagnóstico de outras doenças já incorporadas em testes de triagem neonatal; • A incidência da doença deve ser alta na população; • O custo-benefício da triagem populacional deve ser considerado bem como sua efetividade; • Deve existir uma ampla aceitação por parte da população. Condições essenciais para o Ministério da Saúde: • Capacidade de expansão dos métodos de diagnóstico para todos os recém-nascidos brasileiros, atendendo aos princípios de equidade e universalidade do SUS; • Atenção integral aos recém-nascidos e acompanhamento dos diagnosticados atendendo o princípio da integralidade da atenção do SUS; • A existência de Protocolos Clínicos de Diretrizes Terapêuticas- PCDT, de cada doença proposta, publicados pelo Ministério da Saúde; • Tratamento disponível na Assistência Farmacêutica do SUS. Nathalia C. Ferreira | Universidade Anhembi Morumbi | Turma XV Missão Promover, implantar e implementar ações do Programa Nacional de Triagem Neonatal no âmbito do SUS, visando o acesso universal, integral e equânime, com foco na prevenção, na intervenção precoce e no acompanhamento permanente das pessoas com as doenças incluídas no Programa. Doenças • Deficiência de Biotinidase (DB) A deficiência de biotinidase (DBT) é um erro inato do metabolismo, de origem genética e herança autossômica recessiva, que consiste na deficiência da enzima biotinidase, responsável pela absorção e regeneração orgânica da biotina, uma vitamina existente nos alimentos que compõem a dieta normal, indispensável para a atividade de diversas enzimas. As reações químicas que ocorrem dentro do nosso organismo permitem que alimentos sejam processados ou metabolizados para serem utilizados. As enzimas são proteínas especiais produzidas pelo organismo para permitirem que as reações químicas ocorram. Algumas enzimas precisam de vitaminas para ser ativadas. Às vezes o organismo não produz uma determinada enzima em quantidade suficiente ou a enzima que é fabricada não trabalha adequadamente. Isto faz com que a enzima tenha uma redução da sua atividade e não funcione como deveria. Outras reações químicas que dependem desta enzima também podem ficar prejudicadas. Se a atividade da enzima é inferior a 10% de sua atividade normal ela é considerada deficiente. Normalmente deficiências enzimáticas acarretam problemas médicos. Assim, como a maioria dos erros inatos do metabolismo, a deficiência de biotinidase, de herança autossômica recessiva, apresenta mais de 140 mutações descritas. Classificação: a) deficiência profunda de biotinidase; b) deficiência parcial de biotinidase; c) sem deficiência de biotinidase. Clinicamente esta doença manifesta-se a partir da sétima semana de vida com distúrbios neurológicos e cutâneos tais como crises epiléticas, hipotonia, microcefalia, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, alopecia e dermatite eczematoide. Nos pacientes com diagnóstico tardio observam-se, distúrbios visuais, auditivos, assim como, atraso motor e de linguagem. Pacientes diagnosticados em período sintomático, frequentemente apresentam atraso do desenvolvimento e risco de desenvolverem sequelas auditiva, visual e de funções nervosas superiores irreversíveis, ao contrário do que se observou nos pacientes diagnosticados no período neonatal. Os pacientes com testes de triagem alterados (parcial ou total), identificados pela análise da enzima biotina, serão classificados como suspeitos até a confirmação ou não do diagnóstico, que será estabelecido a partir do teste quantitativo da atividade de biotinidase, podendo ser complementado com estudo genético-molecular. O tratamento medicamentoso é muito simples, de baixo custo e consiste na utilização de biotina (vitamina H) em doses diárias de acordo com a subclassificação da deficiência de biotina, baseada no teste quantitativo. O diagnóstico precoce, com o início do tratamento ainda nos primeiros meses de vida, assegura ao bebê uma vida normal sem qualquer sintoma da doença. Em crianças diagnosticadas precocemente, o uso de biotina preveniu as anormalidades clínicas e bioquímicas. Estudos demonstram que quanto mais precocemente o tratamento é instituído, melhor é a resposta clínica. A prevalência da DBT pode variar de acordo com a população estudada. Nos EUA estudos do ano de 2000 relatam uma incidência de 1: 59.000. No Brasil,estima-se que possam existir aproximadamente 3.200 pacientes com DBT (incidência aproximada de 1 para 60.000, em uma população de cerca de 190 milhões de habitantes). • Doenças Falciformes (DF) e outras Hemoglobinopatias A Doença Falciforme é uma afecção genética com padrão de herança autossômico recessivo, causada por um defeito na estrutura da cadeia beta da hemoglobina, que leva as hemácias a assumirem forma de lua minguante, quando exposta a determinadas condições como febre alta, baixa tensão de oxigênio, infecções etc. As alterações genéticas (mutação) nessa proteína (hemoglobina) são transmitidas de geração em geração (padrão de herança familiar). Padrão: a hemoglobina padrão em humanos adultos é chamada de hemoglobina A (Hb A) - padrão Hb AA. A hemoglobina padrão em humanos recém-nascidos é a hemoglobina Fetal (Hb F) - padrão Hb FA. Hemoglobinopatias: As hemoglobinopatias podem ser resultantes de mutações que afetam os genes reguladores promovendo um desequilíbrio no conteúdo quantitativo das cadeias polipeptídicas e consequentemente nos tipos normais de hemoglobina, causando as talassemias. Também pode ser originadas de alterações envolvendo genes estruturais que promovem a formação de moléculas de hemoglobinas com características bioquímicas diferentes das hemoglobinas normais, denominadas hemoglobinas variantes. As hemoglo-binas variantes mais frequentes são a hemoglobina S (Hb S) e hemoglobina C (Hb C). O indivíduo heterozigoto para Hb S é popularmente conhecido como “traço falcêmico” ou “traço falciforme” (Hb AS). Poderão também ser identificadas outras hemoglobinas variantes (Hb D, Hb E, Hb Hasharon etc.) com ou sem significado clínico. Nos procedimentos de triagem neonatal em recém-nascidos, é possível identificar de forma diferenciada os indivíduos heterozigotos (Hb FAS) dos indivíduos homozigotos, ou seja, doentes (Hb FS). O termo doença falciforme (DF) é usado para definir as hemoglobinopatias, nas quais, o fenótipo predominante é o da Hb S, mesmo quando associada a outra hemoglobina variante (Hb Var). Os tipos de DF mais frequentes são Hb SS, a Hb S-beta Talassemia e as duplas heterozigoses Hb SC e Hb SD. Essas variações causadas por heterozigoses compostas podem apresentar quadros clínicos variados. O paciente afetado apresenta as seguintes alterações clínicas: anemia hemolítica, crises vaso-oclusivas, crises de dor, insufici-ência renal progressiva, acidente vascular cerebral, maior susceptibilidade a infecções e sequestro esplênico. Podem ocorrer também alterações no desenvolvimento neurológico, com provável etiologia vaso-oclusiva de sistema nervoso central. Identificação da DF na triagem neonatal O diagnóstico da DF pela triagem neonatal (teste do pezinho), antes do aparecimento dos sintomas clínicos, encoraja a implementação de práticas de cuidados preventivos e orientação aos pais em relação ao recém-nascido. Permite também uma ação pedagógica sobre a condição genética da família e risco de recorrência em futuras gestações, através de orientação familiar ou aconselhamento genético. O ideal é que o tratamento seja iniciado antes dos quatro meses de vida para que a prevenção das infecções e outras complicações que podem levar à morte da criança seja efetivo. A família da criança identificada deverá receber orientação básica da equipe multidisciplinar no ponto de Nathalia C. Ferreira | Universidade Anhembi Morumbi | Turma XV atenção especializado, para a confirmação diagnóstica e o início do tratamento específico. A prevenção das complicações é muito eficiente na redução da morbimortalidade. As principais medidas preconizadas para alcançar esse objetivo são: antibióticoterapia profilática (esquema especial de vacinação), suplementação com ácido fólico, além do seguimento clínico especializado. Estima-se a existência de dois milhões de portadores do gene da Hb S no Brasil e que 25 a 50 mil pessoas tenham a forma homozigótica (Hb SS) denominada de DF. • Fenilcetonúria (PKU) A sigla PKU vem do nome da doença em inglês “phenylketonuria”. A Fenilcetonúria é um dos erros inatos do metabolismo, com padrão de herança au-tossômico recessivo. O defeito metabólico, gerado geralmente da enzima hepática Fenilalanina Hidroxilase, leva ao acúmulo do aminoácido Fenilalanina (FAL) no sangue e ao aumento da Fenilalanina e da excreção urinária de Ácido Fenilpirúvico. Foi a primeira doença genética a ter tratamento estabelecido com terapêutica dietética específica. Sem a instituição, por meio de programas de Triagem Neonatal, do diagnóstico precoce e do tratamento antes dos 3 meses de vida, a criança afetada pela Fenilcetonúria apresenta um quadro clínico clássico, caracterizado por atraso global do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), deficiência mental, comportamento agitado ou padrão autista, convulsões, alterações eletroencefalográficas e odor característico na urina. O diagnóstico estabelecido pelos programas de Triagem Neonatal é o ideal, pois permitirá o tratamento precoce, com introdução de terapia dietética adequada, que evitará o desenvolvimento do quadro clínico. A Triagem Neonatal é realizada a partir da dosagem quantitativa da Fenilalanina (FAL) sanguínea em amostras colhidas em papel-filtro. Recomenda-se que a coleta seja feita somente após 48 horas do nascimento, pois, para que o aumento da FAL possa ser detectado, é fundamental que a criança tenha inge-rido uma quantidade suficiente de proteína. Nesse momento, mesmo as crianças de risco, que ainda não tiveram contato com leite materno, podem ter o sangue colhido, desde que estejam sob dieta parenteral (rica em aminoácidos essenciais). O tratamento consiste basicamente em uma dieta com baixo teor de FAL, mantendo-se o monitoramento em níveis adequados deste aminoácido para permitir o crescimento e desenvolvimento normais do indivíduo. A instituição de uma dieta isenta de FAL causaria um dano ainda maior do que a Fenilcetonúria propriamente dita, ou seja, a Síndrome da Deficiência de Fenilalanina, que é caracterizada por eczema grave, prostração, ganho de peso insuficiente, desnutrição, além de deficiência mental e crises convulsivas. O tratamento preconizado por equipe de especialistas deverá ser mantido por toda a vida. Estudos realizados em todo o mundo sugerem que a suspensão da dieta pode resultar em deterioração intelectual e comportamental, sendo, portanto, aconselhável a manutenção da dieta por toda a vida. A dieta utilizada é hipoproteica, suplementada por uma fórmula de aminoácidos isenta de Fenilalanina (FAL), fornecida aos pacientes pelos Estados e Distrito Federal. Como os alimentos que são fontes importantes de proteína (principalmente os ricos em FAL) são eliminados da dieta, as quantidades de aminoácidos essenciais (com exceção da FAL) passam a ser controladas por meio do fornecimento dessa fórmula especial. Essa reposição permitirá que o paciente tenha desenvolvimento, tanto somático quanto neurológico, adequado apesar da importante restrição dietética que lhe será imposta. É uma doença metabólica rara, com prevalência global média estimada de 1: 10.000 recém-nascidos. A incidência varia entre as diferentes nações do mundo e os diferentes grupos étnicos. As maiores taxas são encontradas na Irlanda (1: 4.500) e na Turquia (1: 2.600), e as menores, na Finlândia, no Japão e na Tailândia (1:200.000, 1: 143.000 e 1: 212.000, respectivamente). No Brasil, tem sido encontrada uma prevalência variando de 1: 15.000 a 1: 25.000. É importante que a família fique atenta e verifique a presença e a quantidade de fenilalanina no rótulo de medicamentos e alimentos industrializados. São proibidos alimentos que contenhamo adoçante aspartame na sua formulação. Com esta preocupação, a ANVISA fez um trabalho com a indústria alimentícia e publicou uma Tabela de Composição de Fenilalanina em Alimentos, com mais de 600 itens, possibilitando ampliar a variedade de alimentos consumidos e melhorar a qualidade de vida dos fenilcetonúricos. • Fibrose Cística (FC) A Fibrose Cística (FC) ou Mucoviscidose, como também é conhecida, é uma das doenças hereditárias consideradas graves determinada por um padrão de herança autossômico recessivo e afeta especialmente os pulmões e o pâncreas, num processo obstrutivo causado pelo aumento da viscosidade do muco. Nos pulmões, esse aumento na viscosidade bloqueia as vias aéreas propiciando a proliferação bacteriana (especialmente pseudomonas e estafilococos), o que leva à infecção crônica, à lesão pulmonar e ao óbito por disfunção respiratória. No pâncreas, quando os ductos estão obstruídos pela secreção espessa, há uma perda de enzimas digestivas, levando à má nutrição. Esta doença apresenta um índice de mortalidade elevado, porém, nos últimos anos, o prognóstico tem melhorado muito, mostrando índices de 75% de sobrevida até o final da adolescência e de 50% até a terceira década de vida. Muitas crianças com Fibrose Cística não apresentam nenhum sinal ou sintoma da doença ao nascimento. Isto pode perdurar por semanas, meses ou mesmo anos. Cerca de 5% a 10% dos pacientes afetados nascem com obstrução intestinal por mecônio, a qual pode ser visualizada já na avaliação ultrassonográfica. A síndrome íleo meconial envolve distensão abdominal, impossibilidade de evacuação e vômitos. Eventualmente, mesmo os adultos podem apresentar um quadro semelhante a este. Dentre os demais sintomas podem estar incluídos: esteatorreia, dificuldade de ganho de peso, problemas respiratórios, perda de sal pelo suor, dor abdominal recorrente, icterícia prolongada, edema hipoproteinêmico, pancreatite recorrente, cirrose biliar, acrodermatite enteropática e retardo no desenvolvimento somático. O curso clínico da doença se caracteriza por períodos de remissão e períodos de exacerbação, com aumento da frequência e gravidade das exacerbações com o passar do tempo. Diante de uma doença com um prognóstico tão grave e cuja sintomatologia manifesta-se geralmente em torno dos primeiros anos de vida, os programas de triagem neonatal são de importância fundamental para o seu acompanhamento adequado. O diagnóstico presuntivo é estabelecido com a análise dos níveis da tripsina imunorreativa (IRT). O teste deve ser realizado em amostras colhidas em até 30 dias de vida do RN. O exame confirmatório dos casos suspeitos é a dosagem de cloretos no suor “Teste de Suor”. A quantidade anormal de sal nas secreções corporais, especialmente no pulmão e no pâncreas, leva a uma perda pelo suor, fato que é característico da doença em bebês e crianças maiores. Quando a análise do teor de cloro no suor mostrar níveis alterados e quadro clínico compatível, pode-se estabelecer o diagnóstico de Fibrose Cística. Nathalia C. Ferreira | Universidade Anhembi Morumbi | Turma XV O tratamento do paciente com Fibrose Cística consiste em acompanhamento médico regular, suporte dietético, utilização de enzimas pancreáticas, suplementação vitamínica (vitaminas A, D, E, K) e fisioterapia respiratória. Quando em presença de complicações infec-ciosas, está indicada a antibióticoterapia de amplo espectro. Além do esquema vacinal habitual, as crianças devem receber também imunização anti-pneumocócica e anti-hemófilos. Em países de grande miscigenação racial, como o Brasil, a doença pode manifestar-se em todo o tipo de população. Não existe variação de incidência em função do sexo, afetando homens e mulheres de maneira igual, numa incidência em torno de 1 caso positivo para cada 10.000 indivíduos. • Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC) ou Hiperplasia Congênita da Supra-renal As glândulas supra-renais, que recebem este nome porque se localizam acima de cada um dos rins, produzem diversos hormônios essenciais para o organismo. A denominação hiperplasia adrenal congênita (HAC) engloba um conjunto de síndromes transmitidas de forma autossômica recessiva, que se caracterizam por diferentes deficiências enzimáticas na síntese dos esteroides adrenais. O diagnóstico presuntivo da HAC na triagem neonatal é realizado pela quantificação da 17-hidroxi-progesterona (17-OHP), seguido de testes confirmatórios no soro. As manifestações clínicas na HAC dependem da enzima envolvida e do grau de deficiência enzimática (total ou parcial). A apresentação clínica pode se expressar por insuficiência glicocorticoide, insuficiência mineralocorticoide, excesso de andrógenos ou ainda por insuficiência de andrógenos. Na deficiência da 21-hidroxilase existe um espectro de manifestações clínicas, que podem ser divididas em três formas: forma clássica perdedora de sal, forma clássica não perdedora de sal e forma não clássica. A deficiência enzimática mais frequente é a da 21-hidroxilase. Quando isso acontece, o cortisol é o hormônio que se torna deficiente e os hormônios andrógenos (masculinizantes) aumentam seus níveis. Em meninas, isso pode levar ao aparecimento de caracteres sexuais masculinos (pelos, aumento do clitóris) e, em ambos os sexos, pode levar ou não a uma perda acentuada de sal e ao óbito. O tratamento com corticoides pode reverter estes quadros, quando instituído precocemente. No caso da perda de sal, o tratamento requer a administração de hormônios mineralocorticoides com a máxima urgência. A suplementação de cortisona provoca a diminuição da síntese de hormônios androgênicos, relacionados à virilização. Medidas cirúrgicas auxiliam a recompor o aspecto anatômico da genitália nas meninas afetadas. Na forma perdedora de sal, a administração de mineralocorticoides deve ser continuamente monitorizada. O tratamento deve ser feito precocemente e por toda a vida. Pacientes assintomáticos com HAC forma não clássica não necessitam de tratamento. Para pacientes do sexo feminino com hiperandrogenismo, além da reposição hormonal com baixas doses de glicocorticoide, deve ser seguido o tratamento proposto no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Síndrome dos Ovários Policísticos e Hirsutismo. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado melhoram o padrão de crescimento podendo normalizá-lo na maior parte dos casos. O tratamento deve ser contínuo ao longo da vida. O intervalo entre consultas, levando em consideração os dados clínicos e a realização de exames laboratoriais, deve seguir o que foi sugerido pelo especialista. A incidência da HAC na sua forma clássica é descrita na literatura como sendo aproximadamente de 1 a cada 10 ou 20 mil nascimentos, variando conforme a etnia e regiões geográficas. Nas formas graves, perdedoras de sal, o diagnóstico precoce é fundamental. A incidência das formas tardias não está bem estabelecida. No Brasil, a incidência da forma perdedora de sal parece oscilar de 1: 7.500 a 1: 10.000 nascidos vivos. • Hipotireoidismo Congênito (HC) O Hipotireoidismo Congênito é uma emergência pediátrica causada pela incapacidade da glândula tireóide do recém-nascido em produzir quantidades adequadas de hormônios tireoideanos, que resulta numa redução generalizada dos processos metabólicos. As crianças não submetidas a Programas de Triagem Neonatal e, consequentemente, não tratadas precocemente, terão o crescimento e desenvolvimento mental seriamente comprometidos. O quadro de manifestações clínicas inclui: hipotonia muscular, dificuldades respiratórias, cianose, icterícia prolongada, constipação, bradicardia, anemia, sonolência excessiva, livedoreticularis, choro rouco, hérnia umbilical, alargamento de fontanelas, mixedema, sopro cardíaco, dificuldade na alimentação com deficiente crescimento pôndero-estatural, atraso na dentição, retardo na maturação óssea, pele seca e sem elasticidade, atraso de desenvolvimento neuropsicomotor e retardo mental. Já a maioria das crianças que tem o diagnóstico precoce estabelecido não deverá apresentar sintomatologia clínica, desde que a terapia de reposição hormonal com a administração oral de tiroxina (T4), seja iniciada no tempo oportuno. O momento ideal para o diagnóstico do Hipotireoidismo Congênito é, sem dúvida, o período neonatal, pois é sabido que a partir da segunda semana de vida a deficiência de hormônios tireóideos poderá causar alguma lesão neurológica levando ao retardo mental grave. Após o resultado positivo inicial no Programa de Triagem Neonatal, deve ser realizada a dosagem do T4 (total e livre) e do TSH em amostra de sangue venoso, para que haja a efetiva confirmação diagnóstica. Seguindo essa estratégia, a média de detecção dos casos suspeitos estará ao redor de 90%. Os 10% restantes não são detectáveis por TSH até a idade de 2 a 6 semanas. Cabe ressaltar que, estes últimos, serão menos gravemente afetados. O tratamento deverá ser monitorado laboratorialmente, por meio da determinação das concentrações plasmáticas de T4 total e de T4 livre, assim como da concentração de TSH. O prognóstico depende, fundamentalmente, do tempo decorrido para o início do tratamento, da severidade do hipotireoidismo e da manutenção dos níveis hormonais dentro da normalidade. No Brasil, a incidência relatada é de aproximadamente 01 caso positivo para cada 2.500 nascidos vivos. Os casos de hipotireoidismo congênito central são mais raros, ocorrendo em cerca de 1: 25.000 a 1: 100.000 nascidos vivos, sendo diagnosticados com base na aferição de T4 em conjunto com TSH.
Compartilhar