Buscar

CULTURA-E-DIVERSIDADE-ÉTNICO-RACIAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 44 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 44 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 44 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
2 
SUMÁRIO 
1 O QUE É CULTURA? ................................................................................. 3 
2 AS DIVERSIDADES CULTURAIS .............................................................. 9 
3 CULTURA E DIVERSIDADE .................................................................... 12 
3.1 Diversidade cultural ............................................................................ 13 
3.2 Diversidade cultural no Brasil ............................................................. 15 
3.3 A convivência com as diferenças ....................................................... 18 
4 POLÍTICAS PÚBLICAS EM DEFESA DA PLURALIDADE CULTURAL ... 21 
4.1 Políticas Públicas e as relações Étnico-Raciais ................................. 23 
4.2 Estatuto da Igualdade Racial .............................................................. 25 
5 RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NO BRASIL ............................................ 33 
5.1 Significado da expressão étnico-racial ............................................... 34 
5.2 Preconceito e racismo ........................................................................ 35 
5.3 Lutas e Conquistas: trajetória do movimento negro brasileiro ............ 36 
6 TERMOS E CONCEITOS PRESENTES NO DEBATE SOBRE RELAÇÕES 
RACIAIS 38 
6.1 Identidade ........................................................................................... 38 
6.2 Identidade negra ................................................................................ 38 
6.3 Raça ................................................................................................... 39 
6.4 Etnia ................................................................................................... 39 
6.5 Racismo ............................................................................................. 39 
6.6 Etnocentrismo .................................................................................... 40 
6.7 Preconceito racial ............................................................................... 40 
6.8 Discriminação racial ........................................................................... 41 
6.9 Democracia racial ............................................................................... 41 
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 42 
 
 
 
3 
1 O QUE É CULTURA? 
 
Fonte: www.tandemmadrid.com 
Uma pergunta retorna sempre e tem se mostrado de difícil resposta: o que 
constitui, então, a natureza humana? Gradualmente, observa Lenski, começamos a 
perceber de forma um pouco mais clara isso que chamamos de “natureza humana”. 
Com as descobertas relativamente recentes do DNA, RNA, do código genético e de 
todas as pesquisas biológicas atuais, é possível entender um pouco melhor o que 
influencia nossa maneira de ser e de agir. Dessa forma, “muitos cientistas sociais 
consideram que o termo natureza humana não se refere ao que é mais específico do 
comportamento humano – como as pessoas se vestem, como casam, o que comem, 
como enterram seus mortos, como praticam suas crenças. Esses são costumes 
socialmente determinados e que variam intensamente.” Consequentemente, o termo 
natureza humana tende a ser utilizado mais em relação a tendências básicas 
enraizadas em nossa herança genética comum e que, portanto, independem do que 
é específico de cada sociedade e dos comportamentos que as pessoas aprendem no 
ambiente social em que vivem. 
Nessa perspectiva, o termo “natureza humana” estaria referenciado às 
“necessidades biológicas básicas do ser humano, à sua motivação geneticamente 
programada para satisfazê-las, à sua dependência, geneticamente baseada, de 
sistemas socioculturais e, também, ao seu potencial, geneticamente estabelecido para 
a construção cultural”. 
 
 
4 
 
Fonte: sociologiacta.blogspot.com.br/2010/04/sociedade-e-cultura.html 
Para acentuar a diferença que distingue os humanos do resto do mundo animal, 
os antropólogos buscaram vincular o termo cultura ao conceito de “símbolos”. 
Podemos garantir tudo que é fundamental em uma definição de cultura se a 
consideramos como “os sistemas de símbolos da humanidade e todos os aspectos da 
vida humana que deles dependem”. De um modo geral esse é o aspecto que mais 
nos distingue de todos os outros seres vivos. Mas o que são “símbolos” e “sistemas 
de símbolos”? 
Lenski esclarece que todos os mamíferos são capazes de comunicar com 
outros de sua espécie e o fazem através de “sinais”. Só os humanos, no entanto, usam 
“símbolos” tanto quanto “sinais”. Símbolos e sinais são veículos de transmissão de 
informação. Mas há uma fundamental diferença: o significado de um sinal é 
amplamente determinado de forma genética, é uma resposta geneticamente 
determinada por um estímulo específico. Um exemplo clássico de um sinal é o grito 
de dor emitido por um animal ferido. Outro membro do grupo responde instintivamente 
a esse som ou pode aprender através da observação e experiência a associá-lo com 
os humores e ações dos demais membros de seu grupo. E, com isso, ele pode ajustar 
o seu comportamento. Os sinais são extremamente úteis para ordenar as relações 
sociais entre os membros de um grupo. 
Os animais aprendem a associar experiências e por meio de sinais comunicam 
aos outros de sua espécie, informações essenciais – como uma ameaça de perigo – 
através de movimentos do corpo, secreções glandulares ou outros métodos e suas 
combinações. Em geral, no entanto, os sinais são muito limitados em seu poder de 
 
 
5 
comunicação. Os símbolos, em contraste, como não são condicionados 
geneticamente, são flexíveis e podem ser modificados facilmente. Pense na história 
de qualquer linguagem. Símbolos linguísticos foram modificados ao longo dos tempos 
enquanto seus significados permaneceram os mesmos e vice-versa. Isso ocorre 
porque os significados dos símbolos são atribuídos pelos grupos sociais de maneira 
arbitrária, adotados pelos seus membros e, portanto, não estão submetidos a regras 
previamente definidas e podem modificar-se com o tempo e as circunstâncias. 
 
 
Fonte: www.cultura.pe.gov.br 
A invenção da escrita, por exemplo, significou uma revolução na história da 
humanidade porque possibilitou aos seres humanos acumular informação muito além 
das suas capacidades biológicas. E isso só foi possível através de um sistema de 
símbolos – as letras do alfabeto. Pela combinação e recombinação das letras somos 
capazes, indefinidamente, de formar palavras e frases, transmitindo informações de 
todos os tipos às gerações que se sucedem. E fazemos isso ultrapassando em muito 
nossa capacidade de memória individual e independentemente do contato pessoal. 
Considere, também, a grande transformação cultural que ocorre nos nossos dias com 
o uso ampliado da Internet. 
 
 
6 
 
Fonte: mixbee.com.br 
São criações humanas que ampliam e atribuem novas formas e características 
ao mundo em que vivemos. Podemos dizer, portanto, que os símbolos são veículos 
culturalmente determinados para a transmissão de informações de qualquer natureza. 
O antropólogo Clifford Geertz, em seu livro A Interpretação das Culturas, ao analisar 
a relação entre o desenvolvimento da cultura e a evolução da mente humana 
considera que foi no período pré-histórico da Era Glacial que foram forjadas quase 
todas as características da existência do ser humano que são mais impressivamente 
humanas. Em uma mesma época da história evolutiva desenvolveram-se de forma 
combinada e interativa a totalidade do sistema nervoso do cérebro humano, a 
estrutura social baseada no tabu do incesto e a capacidade de criar e usar símbolos. 
“O fato de que essas características distintivas de humanidade”, escreveu Geertz, 
“emergiram juntas e em interação complexa uma com a outra (...) é de excepcional 
importância na interpretação da mentalidade humana,porque sugere que o sistema 
nervoso humano não apenas torna o homem capaz de adquirir cultura mas demanda 
positivamente que ele assim o faça para que possa funcionar.” 
Hoje, as pesquisas da neurociência têm comprovado a importância das 
atividades de natureza cultural que, associadas às atividades físicas, são a melhor 
maneira de avançar em idade de forma saudável e com lucidez. Nas sociedades 
tecnologicamente avançadas dos nossos dias, o volume de informação transmitido de 
geração para geração tornou-se tão grande que nenhum membro individual consegue 
dominá-lo. Assim, diz Lenski, “se os indivíduos são os portadores da cultura, a cultura 
 
 
7 
em sua totalidade é a propriedade de uma sociedade. Nesse sentido podemos dizer 
que os sistemas de símbolos tem uma função do ponto de vista cultural, semelhante 
ao do sistema genético. Ambos são mecanismos que facilitam a adaptação de 
populações ao seu ambiente, através da aquisição, de acúmulo, da transmissão e uso 
de informações relevantes”. 
Através da criação de sistemas de símbolos os seres humanos foram capazes 
de modificar seus comportamentos de maneira significativa, tornando sua adaptação 
ao ambiente cada vez mais eficiente e isso sem qualquer transformação orgânica 
importante. O antropólogo Clifford Geertz, sob a influência do grande cientista social 
Max Weber, acredita que “o ser humano é um animal envolvido em teias de 
significados que ele próprio teceu”. Cultura, para Geertz, são essas redes e sua 
análise deve ser um estudo interpretativo de seus significados. Para analisar e 
conhecer uma cultura é preciso interpretar os sinais e símbolos que são utilizados nos 
processos de comunicação de um grupo social, de um povo ou de uma nação. 
 
Fonte: psicologiaescolarcritica.wordpress.com 
O conceito de cultura está entre os mais usados na Sociologia e refere-se às 
formas de vida dos membros de uma sociedade ou de grupos dentro da sociedade, 
incluindo todas as formas de arte, com suas linguagens próprias (a literatura, a 
música, as artes plásticas, etc.), as várias formas de expressão que se manifestam no 
modo de vestir das pessoas, em seus costumes, em seus padrões de comportamento, 
os seus rituais religiosos, as suas ideias, crenças e princípios orientadores da vida 
(como as teorias científicas, as doutrinas religiosas e as ideologias). 
 
 
8 
O mundo da cultura é constituído de uma trama complexa dos elementos que 
contribuem para a organização da vida cotidiana, como os estilos de vida familiar e as 
atividades de lazer que caracterizam nosso ambiente de convivência, e dos 
mecanismos sociais desenvolvidos para a resolução dos problemas da vida coletiva, 
como as formas de organização da vida escolar, da política ou da produção da vida 
material. A cultura é um vasto campo que abrange tanto as ideias abstratas que 
traduzem a vida da imaginação e do pensamento, com suas linguagens próprias, 
quanto os arranjos sociais e os instrumentos que permitem e favorecem a cooperação 
entre as pessoas nas formas das organizações sociais, possibilitando melhorar nossa 
habilidade em alcançar o que precisamos e desejamos para nós mesmos. Dessa 
forma a noção de cultura envolve tanto aspectos “intangíveis” - como valores, crenças, 
ideias, teorias e normas sociais- quanto aspectos “tangíveis” – como objetos, produtos 
do trabalho, das artes, da ciência e da tecnologia. Os valores e as normas sociais 
definem o que é considerado fundamental e desejável para a orientação da vida das 
pessoas em suas interações sociais. Os valores informam nossas crenças morais 
dando sentido e direção às nossas vidas, enquanto as normas são regras 
comportamentais que definem o que é esperado das ações individuais no contexto da 
convivência social. 
 As normas dizem o que devemos fazer ou é proibido fazer em situações 
específicas. Em alguma medida as normas sociais, escritas ou não na forma de leis, 
refletem os valores predominantes de uma cultura em uma determinada sociedade. 
Todos esses elementos, tangíveis e intangíveis, são constitutivos da cultura e são 
compartilhados pelos membros da sociedade, formando um contexto comum para os 
seus integrantes e dando sentido às suas vidas, ações e atividades. 
 
Fonte: centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br 
 
 
9 
2 AS DIVERSIDADES CULTURAIS 
 
Fonte: www.abrhbrasil.org.br 
É fácil percebermos, quando entramos em contato com aspectos da vida de 
outras sociedades, como seus ambientes culturais e os comportamentos de seus 
membros são diferentes dos nossos e, às vezes, de forma acentuada. Quando temos 
a oportunidade de conhecer e comparar diversas culturas, por leituras e estudos ou 
em viagens, adquirimos consciência da importância da dimensão cultural para as 
nossas vidas e para a vida coletiva em geral. Isso também ajuda a esclarecermos o 
conceito sociológico de cultura. Sociedades de tempos históricos diversos ou em 
espaços geográficos diferentes, desenvolveram modos de vida, valores e crenças que 
em muitos aspectos e, às vezes, de maneira bastante radical, diferem e divergem dos 
nossos. 
Ao comparar e comentar diferentes culturas deve-se prestar atenção para 
eventuais manifestações de “etnocentrismo”, a tendência que desenvolvemos em 
julgar elementos de outras culturas com base nos padrões da nossa cultura, o que 
torna difícil simpatizar com as ideias ou aceitar os comportamentos das pessoas de 
uma cultura diferente. Os problemas envolvidos nas comparações e avaliações 
culturais levantam uma questão que tem se tornado fonte de grande debate, 
transformando-se em foco de tensão no mundo da política global, especialmente para 
 
 
10 
os que lidam na esfera internacional dos direitos humanos. Trata-se do significado e 
abrangência do relativismo cultural no mundo contemporâneo. 
A questão é a seguinte: é possível avaliarmos os valores e normas de outra 
cultura? Baseados em que critérios podemos julgar outra forma de vida cultural como 
melhor ou inferior à nossa? Essa é uma questão polêmica que provoca grandes 
debates nas ciências sociais. O sociólogo Anthony Giddens pergunta: no Afeganistão, 
“as políticas do Talibã para as mulheres são aceitáveis no início do século XXI?” O 
relativismo cultural – “ou seja, suspender suas próprias crenças culturais 
profundamente sustentadas e examinar uma situação de acordo com os padrões de 
outra cultura – pode ser repleto de incerteza e desafio”. (...) “Questões preocupantes 
são levantadas. O relativismo cultural significa que todos os costumes e 
comportamentos são igualmente legítimos? Haveria padrões universais aos quais 
todos os humanos deveriam aderir?” Giddens acrescenta, “não há soluções simples 
para esse dilema e para dúzias de outros casos nos quais normas e valores culturais 
não coincidem.” ...E ensina uma lição básica para todo o estudante de Sociologia: “O 
papel do sociólogo é evitar “respostas automáticas” e examinar questões complexas 
cuidadosamente a partir de tantos ângulos diferentes quanto possível.” 
 
 
Fonte: www.isehf.edu.py/?p=1008 
Essas inúmeras questões são um alerta e devem intensificar nossa disposição 
para conhecer os diversos sistemas socioculturais para melhor compreender os 
mecanismos que facilitam assim como os que dificultam a convivência humana, 
 
 
11 
necessariamente, de cunho social. De um lado a cooperação, a convivência mais 
equilibrada e harmoniosa, de outro, os antagonismos, os conflitos e as guerras. 
Os processos da globalização econômica, da revolução na informática, da 
mídia, da superação das barreiras geográficas vem transformando o mundo em uma 
grande “aldeia global”. Em que medida esses fenômenos estão produzindo uma 
cultura universal, válida para todos os povos? Em que sentido podemos afirmar isso? 
Quais os possíveis danos para a vida das pessoas e para os diferentes grupos sociais 
com raízes histórico-culturais distintas? Como fenômeno humano asculturas dos 
povos são dinâmicas e sofrem mudanças. Os indivíduos agem e reagem às 
influências do ambiente em que vivem e às transformações de seu tempo. Os grupos 
sociais se mobilizam e movimentam-se no sentido de alterar as suas condições de 
vida. Continuidade e mudança são dimensões inerentes à vida das sociedades e das 
culturas. As mudanças podem ocorrer de forma mais lenta, como nos tempos mais 
antigos, como podem tornar-se rápidas e permanentes como tem ocorrido desde os 
tempos modernos. 
 
 
Fonte: cliquetando.xpg.uol.com.br 
É importante observar que “as culturas ultrapassam seus criadores”, como diz 
Lenski. Cada um de nós nasce em uma sociedade com uma cultura estabelecida e é 
somente através do domínio dessa cultura que somos capazes de satisfazer nossas 
necessidades e aspirações. Mas, no processo de dominar a cultura, a cultura tende a 
nos controlar e fazer de nós suas criaturas. Em um sentido, ela define mesmo nossos 
 
 
12 
objetivos na vida e dá forma aos padrões de nossos pensamentos. Por isso 
encontramos dificuldade em desaprender o que aprendemos no passado. E isso é 
especialmente marcante nas pessoas mais velhas. Por outro lado é sempre possível 
uma adaptação consciente e deliberada a um novo ambiente ou a uma mudança 
cultural. Isso implica que processos de mudança cultural ocorrem e podem até ser 
controlados e mesmo planejados. Esse tema, o da mudança cultural, é especialmente 
importante na medida em que envolve o debate em torno das questões que dizem 
respeito às transformações da sociedade. 
Em geral, novos elementos culturais são acrescentados em uma base de 
continuidade. Em certos momentos ocorre o abandono de componentes culturais que 
são substituídos por outros novos. Se nós pensarmos nos vários instrumentos de 
comunicação utilizados através dos séculos nós teremos uma boa amostra das 
significativas mudanças culturais e das consequências dessas mudanças para a vida 
das pessoas. Mas muitas mudanças envolvem, ao mesmo tempo, continuidade, como 
é o caso do alfabeto que usamos há mais de três mil séculos, assim como o conceito 
de justiça que perdura desde tempos ainda mais antigos. 
 
 
Fonte: gdeufal.blogspot.com.br 
3 CULTURA E DIVERSIDADE 
A cultura ocupa um lugar de destaque na circunstância contemporânea. No 
passado ou no presente, nas mais diversas partes do globo, homens e mulheres 
nunca deixaram de se organizar em sociedade e de se questionar sobre si e sobre o 
mundo que os rodeia. Os vários descobrimentos têm estimulado a imaginação dos 
 
 
13 
homens e mulheres do presente, que colocam muitas questões em torno dos povos 
do passado, mas que não deixam a menor dúvida quanto à sofisticação do 
pensamento, da visão de mundo e das manifestações estéticas e culturais desses 
povos. 
A diversidade das manifestações culturais se estende não só no tempo, mas 
também no espaço. No Brasil, nos deparamos com uma riqueza cultural 
extraordinária: 200 povos indígenas falando mais de 180 línguas diferentes. Há mais 
de 2.200 comunidades remanescentes de quilombos no Brasil, com características 
geográficas distintas, com diferentes meios de produção e de organização social. 
Noções como espaço e tempo também são marcadamente diferenciadas no 
campo e na cidade, onde a ação de homens e mulheres está presente, interferindo no 
espaço e o carregando de significado. A surpresa pode marcar um olhar mais 
cuidadoso para o interior da nossa própria sociedade: se compararmos o campo com 
o meio urbano ou as diferentes regiões do país, nos daremos conta das diversidades 
existentes entre os seus habitantes. Também na cidade encontramos indivíduos de 
distintas origens. Além disso, existem as diferenças entre as gerações. 
Fenômeno unicamente humano, a cultura se refere à capacidade que os seres 
humanos têm de dar significado às suas ações e ao mundo que os rodeia. 
3.1 Diversidade cultural 
 
Fonte: centraldeinteligenciaacademica.blogspot.com.br 
 
 
14 
A diversidade cultural é um fenômeno que sempre acompanhou a humanidade. 
No Brasil, há diversas tradições culturais, algumas mais popularizadas e outras pouco 
conhecidas. Algumas valorizadas outras pouco respeitadas. É constitutivo das 
sociedades humanas apresentar um mecanismo diferenciador: quando o encontro de 
duas sociedades parece gerar um resultado homogêneo em seu interior surgem 
diferenças significativas, que marcam as fronteiras entre os grupos sociais. Por outro 
lado, sociedades que estão em contato há muito tempo mantêm com zelo os 
elementos significativos de sua identidade. 
A diversidade brasileira, não se esgota com as sociedades indígenas e as 
comunidades quilombolas. Os movimentos negros há muito nos lembram que a 
origem da população de afrodescendentes – com seus universos culturais, suas 
formas de resistência, suas sabedorias e construções de conhecimentos, sua visão 
de mundo, organização, luta etc. – acaba por definir um universo de referência 
específico a esses grupos. 
Falar da diversidade cultural no Brasil significa levar em conta a origem das 
famílias e reconhecer as diferenças entre os referenciais culturais de uma família 
nordestina e de uma família gaúcha, por exemplo. Significa, também, reconhecer que, 
no interior dessas famílias e na relação de umas com as outras, encontramos 
indivíduos que não são iguais, que têm especificidades de gênero, raça/etnia, religião, 
orientação sexual, valores e outras diferenças definidas a partir de suas histórias 
pessoais. 
 
 
15 
3.2 Diversidade cultural no Brasil 
 
Fonte: www.geledes.org.br 
O Brasil tem uma notável diversidade criativa. A diversidade cultural pode ter 
um papel central no desenvolvimento de projetos culturais no país, especialmente com 
ênfase nos indígenas e afrodescendentes. 
Ao tentar enfrentar seu problema mais urgente – a desigualdade social – o país 
vem descobrindo a forte influência da cultura para a configuração dessa realidade, 
bem como seu potencial de transformação social do cenário atual. 
Falta ainda uma abordagem cultural mais profunda com relação aos povos 
indígenas e aos afrodescendentes. Estes dois grupos de minoria apresentam os 
piores indicadores sociais do país, mas que apenas nos últimos anos passaram a ser 
alvo de políticas sociais específicas. 
 
É preciso que mais seja feito para preservar: 
 tradições indígenas, 
 línguas indígenas ameaçadas de desaparecimento, 
 conhecimento tradicional indígena sobre a natureza 
 
 
16 
 terras indígenas - há conflitos a respeito da expansão a fronteira agrícola e os 
investimentos em infraestrutura, 
 afirmação dos direitos dos povos indígenas, 
 Influência da cultura africana na cultura e história do Brasil. 
 
O conceito de Diversidade Cultural é fator fundamental para a construção 
contemporânea das Políticas Públicas, especialmente nas áreas da Cultura e das 
Políticas Sociais. A Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural e os atuais 
esforços desenvolvidos pela Unesco, em torno de uma futura Convenção 
Internacional sobre a proteção e promoção da Diversidade Cultural, evidenciam a 
centralidade dessas discussões. 
Os direitos culturais fazem parte dos direitos humanos e a dimensão cultural é 
indispensável e estratégica para qualquer projeto de desenvolvimento. Segundo a 
Declaração Universal da Diversidade Cultural, os indivíduos e grupos devem ter 
garantidas as condições de criar e difundir suas expressões culturais; o direito à 
educação e à formação de qualidade que respeite sua identidade cultural; a 
possibilidade de participar da vida cultural de sua preferência e exercer e fruir suas 
próprias práticas culturais, desde que respeitados os limites dos direitos humanos. O 
direito à diferença, e à construção individual e coletiva das identidades através das 
expressões culturais é elemento fundamental da promoção de uma cultura de paz. 
O reconhecimento e a valorização da diversidadecultural estão ligados à busca 
da solidariedade entre os povos, à consciência da unidade do gênero humano e ao 
desenvolvimento dos intercâmbios culturais. Os processos de globalização e/ou 
mundialização, caracterizados pela rápida evolução das tecnologias da informação e 
da comunicação constituem hoje desafios para a preservação e promoção dessa 
diversidade, criando condicionamentos e ameaçando o diálogo permanente entre 
culturas, civilizações ou grupos sociais. Por outro lado, é fundamental o respeito, a 
valorização e o convívio harmonioso das diferentes identidades culturais existentes 
dentro dos territórios nacionais. 
 
 
17 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
O conceito de diversidade cultural nos permite perceber que as identidades 
culturais nacionais não são um conjunto monolítico e único. Ao contrário, podemos e 
devemos reconhecer e valorizar as nossas diferenças culturais, como fator para a 
coexistência harmoniosa das várias formas possíveis de brasilidade. 
Como o respeito a eventuais diferenças entre os indivíduos e grupos humanos 
é condição da cidadania, devemos tratar com carinho e eficácia da promoção da 
convivência harmoniosa, dos diálogos e dos intercâmbios entre os brasileiros – 
expressos através das diversas linguagens e expressões culturais, para a superação 
da violência e da intolerância entre indivíduos e grupos sociais em nosso país. 
No plano das relações internacionais, os Ministérios da Cultura e das Relações 
Exteriores têm trabalhado em conjunto em prol da chamada Convenção da Unesco 
sobre Diversidade Cultural, através da qual os países assumirão uma série de 
compromissos em torno da promoção e da proteção da diversidade cultural. É 
fundamental que os mecanismos ativos de política cultural sejam fortalecidos no nível 
das relações internacionais. 
 
 
18 
Para o Governo brasileiro, proteger e promover as expressões culturais em sua 
diversidade é direito legítimo dos cidadãos, da sociedade civil e dos estados 
nacionais. A Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural, além de participar da 
construção da agenda internacional sobre Diversidade Cultural, colabora na 
estruturação das políticas culturais no Brasil a partir do conceito de Diversidade 
Cultural, o que nos coloca outros dois desafios. O primeiro é o entendimento do 
conceito de Diversidade Cultural no contexto da cultura brasileira, trabalhado de 
maneira transversal aos segmentos governamentais e da sociedade civil. Outro 
desafio é o de estabelecer diálogos com grupos e redes culturais representativas da 
Diversidade Cultural brasileira ainda excluídos do acesso aos instrumentos de política 
pública de cultura e contribuir para o aperfeiçoamento dos mecanismos de proteção e 
promoção da nossa Diversidade Cultural. 
3.3 A convivência com as diferenças 
 
Fonte: lauraartes.blogspot.com.br 
A tolerância acontece quando existe uma convivência respeitosa entre as 
diferenças. Já a intolerância é um comportamento que se materializa pela violência 
física ou simbólica, motivada pelo ódio ao outro. Trata-se de uma violência que é 
usada no cotidiano contra pessoas e povos, baseada na dificuldade de entender e 
aceitar as diferenças. Ela pode ser étnica, política, de gênero, de classes, religiosa, 
 
 
19 
sexual, cultural e social. O desafio do mundo contemporâneo é o de que todas essas 
identidades consigam conviver juntas e em paz. 
A noção de tolerância que temos hoje tem raízes no Iluminismo. Em 1689, o 
filósofo inglês John Locke (1632-1704) escreveu a Carta sobre a Tolerância, que 
trouxe importantes argumentos na defesa da tolerância. Naquela época, eram comuns 
massacres recíprocos entre católicos e protestantes na Europa. Na Carta, Locke 
defende a preservação de certos direitos dos indivíduos e afirma que os homens não 
têm o direito de infligir tortura por motivo religioso. 
 
 
Fonte: beira.pt 
Locke rejeita a conversão da fé à força. Ele acredita que ninguém pode mudar 
sua fé pelo simples comando de outro. Para ele, as perseguições religiosas provocam 
ainda mais intolerância. Por outro lado, o respeito pela consciência alheia disseminaria 
a paz na sociedade. 
As reflexões dos filósofos iluministas influenciaram a criação de leis que 
reconhecem todos como iguais. Após a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, a 
ONU assinou a Declaração Universal dos Direitos do Homem. O primeiro artigo da 
Declaração diz que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e 
direitos. Os indivíduos têm direitos porque são seres humanos, e não por sua condição 
social. 
 
 
20 
A Constituição brasileira também assegura que todos são iguais perante a lei, 
sem distinção de qualquer natureza e garante aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade. 
Já a intolerância que se baseia em diferentes tipos de preconceitos tem como 
característica atentar contra a diversidade humana. Do ponto de vista de sua origem, 
a palavra preconceito significa pré-julgamento, ou seja, ter uma conclusão sobre 
alguma coisa que ainda não se conhece. Na prática, a palavra preconceito foi 
consagrada como um pré-julgamento negativo a respeito de uma pessoa ou de 
alguma coisa. 
Para Michael Walzer, intelectual e pensador norte-americano, “a coexistência 
pacífica de grupos de pessoas com histórias, culturas e identidades diferentes” é o 
próprio conceito de tolerância. Walzer identifica e classifica diferentes posturas como 
tolerância. Assim, encontra quatro possibilidades que são comumente relacionadas à 
tolerância: 
1) aceitação resignada da diferença; 
2) indiferença bondosa em relação aos outros; 
3) reconhecimento dos direitos dos diferentes e 
4) abertura e curiosidade para com a alteridade (ideia de que 
todo o homem social interage e interdepende do outro, agindo 
de forma a considerar sempre o outro). 
 
Fonte: www.tudodesenhos.com/d/diversidade-cultural 
 
 
21 
4 POLÍTICAS PÚBLICAS EM DEFESA DA PLURALIDADE CULTURAL 
 
Fonte: culturaptrn.blogspot.com.br 
A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização 
de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no 
território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais 
discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao 
aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e 
algumas vezes paradoxal. 
As culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo das suas histórias, 
na construção de suas formas de subsistência, na organização da vida social e 
política, nas suas relações com o meio e com outros grupos, na produção de 
conhecimentos etc. A diferença entre culturas é fruto da singularidade desses 
processos em cada grupo social. A desigualdade social é uma diferença de outra 
natureza: é produzida na relação de dominação e exploração socioeconômica e 
política. 
Quando se propõe o conhecimento e a valorização da pluralidade cultural 
brasileira, não se pretende deixar de lado essa questão. Ao contrário, principalmente 
no que se refere à discriminação, é impossível compreendê-la sem recorrer ao 
 
 
22 
contexto socioeconômico em que acontece e à estrutura autoritária que marca a 
sociedade. As produções culturais não ocorrem “fora” de relações de poder: são 
constituídas e marcadas por ele, envolvendo um permanente processo de 
reformulação e resistência. Ambas, desigualdade social e discriminação, articulam-se 
no que se convencionou denominar “exclusão social”: impossibilidade de acesso aos 
bens materiais e culturais produzidos pela sociedade e de participação na gestão 
coletiva do espaço público — pressuposto da democracia. Entretanto, apesar da 
discriminação, da injustiça e do preconceito que contradizem os princípios da 
dignidade, dorespeito mútuo e da justiça, paradoxalmente o Brasil tem produzido 
também experiências de convívio, reelaboração das culturas de origem, constituindo 
algo intangível que se tem chamado de brasilidade, que permite a cada um 
reconhecer-se como brasileiro. Por isso, no cenário mundial, o Brasil representa uma 
esperança de superação de fronteiras e de construção da relação de confiança na 
humanidade. 
 
 
Fonte: www.escolavillare.com.br 
A singularidade que permite essa esperança é dada por sua constituição 
histórica peculiar no campo cultural. O que se almeja, portanto, ao tratar de Pluralidade 
Cultural, não é a divisão ou o esquadrinhamento da sociedade em grupos culturais 
fechados, mas o enriquecimento propiciado a cada um e a todos pela pluralidade de 
formas de vida, pelo convívio e pelas opções pessoais, assim como o compromisso 
ético de contribuir com as transformações necessárias à construção de uma 
 
 
23 
sociedade mais justa. Reconhecer e valorizar a diversidade cultural é atuar sobre um 
dos mecanismos de discriminação e exclusão, entraves à plenitude da cidadania para 
todos e, portanto, para a própria nação. 
4.1 Políticas Públicas e as relações Étnico-Raciais 
 
Fonte: oincrivelze.com.br 
No campo da inclusão social, sem negar a existência de muitos outros grupos 
humanos que sofrem os processos de exclusão social, os afrodescendentes e as 
mulheres são exemplos de grupos que, historicamente, foram alvo de discriminações 
e preconceitos que acabaram por negar-lhes muitos dos direitos que asseguram a 
igualdade de condições e de oportunidades para a construção de uma vida digna. 
Como parte dos processos recentes de democratização da sociedade 
brasileira, muito se tem conseguido na conquista por políticas públicas e por marcos 
legais que deem a esses grupos algumas das condições socioeducacionais e 
ocupacionais necessárias à melhoria de suas condições de vida. É pouco, no entanto, 
diante dos séculos de exclusão social a que foram submetidos, e muito ainda tem de 
ser feito para se chegar a uma sociedade verdadeiramente inclusiva, que lhes 
assegure a igualdade de direitos e o respeito às diferenças. 
Os principais avanços estão na área da educação. Os Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCNs) para o Ensino Fundamental (1997), destaca a importância de 
 
 
 
24 
[...] conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro 
bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-
se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe 
social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e 
sociais (PCN, v.20, 1997, p.4). 
Já a Lei nº 10.639/03, estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e 
cultura afro-brasileiras e africanas nas escolas públicas e privadas do ensino 
fundamental e médio. Há também o Parecer do CNE/CP 03/2004 que aprovou as 
Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para 
o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Africanas; e a Resolução CNE/CP 
01/2004, que detalha os direitos e as obrigações dos entes federados ante a 
implementação da lei compõem um conjunto de dispositivos legais considerados 
como indutores de uma política educacional voltada para a afirmação da diversidade 
cultural e da concretização de uma educação das relações étnico-raciais nas escolas, 
desencadeada a partir dos anos 2000. É nesse mesmo contexto que foi aprovado, em 
2009, o Plano Nacional das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das 
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e 
Africana. 
 
 
25 
4.2 Estatuto da Igualdade Racial 
 
Fonte: etnicorracial.blogspot.com.br 
LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010, Institui o Estatuto da Igualdade Racial 
 
Art. 1º Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à 
população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos 
étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais 
formas de intolerância étnica. 
Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se: 
I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou 
preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que 
tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em 
igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos 
político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou 
privada; 
 
 
26 
II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso 
e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude 
de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; 
III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da 
sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais 
segmentos sociais; 
IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e 
pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga; 
V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado 
no cumprimento de suas atribuições institucionais; 
VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados pelo Estado 
e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção 
da igualdade de oportunidades. 
Art. 2º É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade de oportunidades, 
reconhecendo a todo cidadão brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da 
pele, o direito à participação na comunidade, especialmente nas atividades políticas, 
econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo sua 
dignidade e seus valores religiosos e culturais. 
Art. 3º Além das normas constitucionais relativas aos princípios fundamentais, 
aos direitos e garantias fundamentais e aos direitos sociais, econômicos e culturais, o 
Estatuto da Igualdade Racial adota como diretriz político-jurídica a inclusão das 
vítimas de desigualdade étnico-racial, a valorização da igualdade étnica e o 
fortalecimento da identidade nacional brasileira. 
Art. 4º A participação da população negra, em condição de igualdade de 
oportunidade, na vida econômica, social, política e cultural do País será promovida, 
prioritariamente, por meio de: 
I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econômico e social; 
II - adoção de medidas, programas e políticas de ação afirmativa; 
III - modificação das estruturas institucionais do Estado para o adequado 
enfrentamento e a superação das desigualdades étnicas decorrentes do preconceito 
e da discriminação étnica; 
 
 
27 
IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o combate à 
discriminação étnica e às desigualdades étnicas em todas as suas manifestações 
individuais, institucionais e estruturais; 
V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e institucionais que 
impedem a representação da diversidade étnica nas esferas pública e privada; 
VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da sociedade civil 
direcionadas à promoção da igualdade de oportunidades e ao combate às 
desigualdades étnicas, inclusive mediante a implementação de incentivos e critérios 
de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos públicos; 
VII - implementação de programas de ação afirmativa destinados ao 
enfrentamento das desigualdades étnicas no tocante à educação, cultura, esporte e 
lazer, saúde, segurança, trabalho, moradia, meios de comunicação de massa, 
financiamentos públicos, acesso à terra, à Justiça, e outros. 
Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa constituir-se-ão em políticas 
públicas destinadas a reparar as distorções e desigualdades sociaise demais práticas 
discriminatórias adotadas, nas esferas pública e privada, durante o processo de 
formação social do País. 
Art. 6º O direito à saúde da população negra será garantido pelo poder público 
mediante políticas universais, sociais e econômicas destinadas à redução do risco de 
doenças e de outros agravos. 
§ 1º O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde (SUS) para 
promoção, proteção e recuperação da saúde da população negra será de 
responsabilidade dos órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distritais e 
municipais, da administração direta e indireta. 
§ 2º O poder público garantirá que o segmento da população negra vinculado 
aos seguros privados de saúde seja tratado sem discriminação. 
Art. 7º O conjunto de ações de saúde voltadas à população negra constitui a 
Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, organizada de acordo com 
as diretrizes abaixo especificadas: 
I - ampliação e fortalecimento da participação de lideranças dos movimentos 
sociais em defesa da saúde da população negra nas instâncias de participação e 
controle social do SUS; 
II - produção de conhecimento científico e tecnológico em saúde da população 
negra; 
 
 
28 
III - desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educação 
para contribuir com a redução das vulnerabilidades da população negra. 
Art. 8º Constituem objetivos da Política Nacional de Saúde Integral da 
População Negra: 
I - a promoção da saúde integral da população negra, priorizando a redução 
das desigualdades étnicas e o combate à discriminação nas instituições e serviços do 
SUS; 
II - a melhoria da qualidade dos sistemas de informação do SUS no que tange 
à coleta, ao processamento e à análise dos dados desagregados por cor, etnia e 
gênero; 
III - o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da 
população negra; 
IV - a inclusão do conteúdo da saúde da população negra nos processos de 
formação e educação permanente dos trabalhadores da saúde; 
V - a inclusão da temática saúde da população negra nos processos de 
formação política das lideranças de movimentos sociais para o exercício da 
participação e controle social no SUS. 
Parágrafo único. Os moradores das comunidades de remanescentes de 
quilombos serão beneficiários de incentivos específicos para a garantia do direito à 
saúde, incluindo melhorias nas condições ambientais, no saneamento básico, na 
segurança alimentar e nutricional e na atenção integral à saúde. 
Art. 9º A população negra tem direito a participar de atividades educacionais, 
culturais, esportivas e de lazer adequadas a seus interesses e condições, de modo a 
contribuir para o patrimônio cultural de sua comunidade e da sociedade brasileira. 
Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9o, os governos federal, 
estaduais, distrital e municipais adotarão as seguintes providências: 
I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o acesso da população negra 
ao ensino gratuito e às atividades esportivas e de lazer; 
II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham espaço para promoção 
social e cultural da população negra; 
III - desenvolvimento de campanhas educativas, inclusive nas escolas, para 
que a solidariedade aos membros da população negra faça parte da cultura de toda a 
sociedade; 
 
 
29 
IV - implementação de políticas públicas para o fortalecimento da juventude 
negra brasileira. 
Art. 11. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, 
públicos e privados, é obrigatório o estudo da história geral da África e da história da 
população negra no Brasil, observado o disposto na Lei no 9.394, de 20 de dezembro 
de 1996. 
§ 1º Os conteúdos referentes à história da população negra no Brasil serão 
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, resgatando sua contribuição 
decisiva para o desenvolvimento social, econômico, político e cultural do País. 
§ 2º O órgão competente do Poder Executivo fomentará a formação inicial e 
continuada de professores e a elaboração de material didático específico para o 
cumprimento do disposto no caput deste artigo. 
§ 3º Nas datas comemorativas de caráter cívico, os órgãos responsáveis pela 
educação incentivarão a participação de intelectuais e representantes do movimento 
negro para debater com os estudantes suas vivências relativas ao tema em 
comemoração. 
Art. 12. Os órgãos federais, distritais e estaduais de fomento à pesquisa e à 
pós-graduação poderão criar incentivos a pesquisas e a programas de estudo 
voltados para temas referentes às relações étnicas, aos quilombos e às questões 
pertinentes à população negra. 
Art. 13. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos competentes, 
incentivará as instituições de ensino superior públicas e privadas, sem prejuízo da 
legislação em vigor, a: 
I - resguardar os princípios da ética em pesquisa e apoiar grupos, núcleos e 
centros de pesquisa, nos diversos programas de pós-graduação que desenvolvam 
temáticas de interesse da população negra; 
II - incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de formação de professores 
temas que incluam valores concernentes à pluralidade étnica e cultural da sociedade 
brasileira; 
III - desenvolver programas de extensão universitária destinados a aproximar 
jovens negros de tecnologias avançadas, assegurado o princípio da proporcionalidade 
de gênero entre os beneficiários; 
IV - estabelecer programas de cooperação técnica, nos estabelecimentos de 
ensino públicos, privados e comunitários, com as escolas de educação infantil, ensino 
 
 
30 
fundamental, ensino médio e ensino técnico, para a formação docente baseada em 
princípios de equidade, de tolerância e de respeito às diferenças étnicas. 
Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações socioeducacionais 
realizadas por entidades do movimento negro que desenvolvam atividades voltadas 
para a inclusão social, mediante cooperação técnica, intercâmbios, convênios e 
incentivos, entre outros mecanismos. 
Art. 15. O poder público adotará programas de ação afirmativa. 
Art. 16. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos responsáveis pelas 
políticas de promoção da igualdade e de educação, acompanhará e avaliará os 
programas de que trata esta Seção. 
Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das sociedades negras, 
clubes e outras formas de manifestação coletiva da população negra, com trajetória 
histórica comprovada, como patrimônio histórico e cultural, nos termos dos arts. 215 
e 216 da Constituição Federal. 
Art. 18. É assegurado aos remanescentes das comunidades dos quilombos o 
direito à preservação de seus usos, costumes, tradições e manifestos religiosos, sob 
a proteção do Estado. 
Parágrafo único. A preservação dos documentos e dos sítios detentores de 
reminiscências históricas dos antigos quilombos, tombados nos termos do § 5o do art. 
216 da Constituição Federal, receberá especial atenção do poder público. 
Art. 19. O poder público incentivará a celebração das personalidades e das 
datas comemorativas relacionadas à trajetória do samba e de outras manifestações 
culturais de matriz africana, bem como sua comemoração nas instituições de ensino 
públicas e privadas. 
Art. 20. O poder público garantirá o registro e a proteção da capoeira, em todas 
as suas modalidades, como bem de natureza imaterial e de formação da identidade 
cultural brasileira, nos termos do art. 216 da Constituição Federal. 
Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio dos atos 
normativos necessários, a preservação dos elementos formadores tradicionais da 
capoeira nas suas relações internacionais. 
Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da população negra às 
práticas desportivas, consolidando o esporte e o lazer como direitos sociais. 
Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação nacional, nos 
termos do art. 217 da Constituição Federal. 
 
 
31 
§ 1ºA atividade de capoeirista será reconhecida em todas as modalidades em 
que a capoeira se manifesta, seja como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o 
exercício em todo o território nacional. 
§ 2º É facultado o ensino da capoeira nas instituições públicas e privadas pelos 
capoeiristas e mestres tradicionais, pública e formalmente reconhecidos. 
Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado 
o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais 
de culto e a suas liturgias. 
Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício dos 
cultos religiosos de matriz africana compreende: 
I - a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas à religiosidade e 
a fundação e manutenção, por iniciativa privada, de lugares reservados para tais fins; 
II - a celebração de festividades e cerimônias de acordo com preceitos das 
respectivas religiões; 
III - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições 
beneficentes ligadas às respectivas convicções religiosas; 
IV - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de artigos e materiais 
religiosos adequados aos costumes e às práticas fundadas na respectiva 
religiosidade, ressalvadas as condutas vedadas por legislação específica; 
V - a produção e a divulgação de publicações relacionadas ao exercício e à 
difusão das religiões de matriz africana; 
VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas de 
natureza privada para a manutenção das atividades religiosas e sociais das 
respectivas religiões; 
VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para divulgação das 
respectivas religiões; 
VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertura de ação penal em face 
de atitudes e práticas de intolerância religiosa nos meios de comunicação e em 
quaisquer outros locais. 
Art. 25. É assegurada a assistência religiosa aos praticantes de religiões de 
matrizes africanas internados em hospitais ou em outras instituições de internação 
coletiva, inclusive àqueles submetidos a pena privativa de liberdade. 
 
 
32 
Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias para o combate à 
intolerância com as religiões de matrizes africanas e à discriminação de seus 
seguidores, especialmente com o objetivo de: 
I - coibir a utilização dos meios de comunicação social para a difusão de 
proposições, imagens ou abordagens que exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao 
desprezo por motivos fundados na religiosidade de matrizes africanas; 
II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e outros bens de 
valor artístico e cultural, os monumentos, mananciais, flora e sítios arqueológicos 
vinculados às religiões de matrizes africanas; 
III - assegurar a participação proporcional de representantes das religiões de 
matrizes africanas, ao lado da representação das demais religiões, em comissões, 
conselhos, órgãos e outras instâncias de deliberação vinculadas ao poder público. 
 
[...] 
 
Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação valorizará a 
herança cultural e a participação da população negra na história do País. 
Art. 44. Na produção de filmes e programas destinados à veiculação pelas 
emissoras de televisão e em salas cinematográficas, deverá ser adotada a prática de 
conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos negros, sendo 
vedada toda e qualquer discriminação de natureza política, ideológica, étnica ou 
artística. 
Parágrafo único. A exigência disposta no caput não se aplica aos filmes e 
programas que abordem especificidades de grupos étnicos determinados. 
Art. 45. Aplica-se à produção de peças publicitárias destinadas à veiculação 
pelas emissoras de televisão e em salas cinematográficas o disposto no art. 44. 
Art. 46. Os órgãos e entidades da administração pública federal direta, 
autárquica ou fundacional, as empresas públicas e as sociedades de economia mista 
federais deverão incluir cláusulas de participação de artistas negros nos contratos de 
realização de filmes, programas ou quaisquer outras peças de caráter publicitário. 
§ 1º Os órgãos e entidades de que trata este artigo incluirão, nas especificações 
para contratação de serviços de consultoria, conceituação, produção e realização de 
filmes, programas ou peças publicitárias, a obrigatoriedade da prática de iguais 
 
 
33 
oportunidades de emprego para as pessoas relacionadas com o projeto ou serviço 
contratado. 
§ 2º Entende-se por prática de iguais oportunidades de emprego o conjunto de 
medidas sistemáticas executadas com a finalidade de garantir a diversidade étnica, 
de sexo e de idade na equipe vinculada ao projeto ou serviço contratado. 
§ 3º A autoridade contratante poderá, se considerar necessário para garantir a 
prática de iguais oportunidades de emprego, requerer auditoria por órgão do poder 
público federal. 
§ 4º A exigência disposta no caput não se aplica às produções publicitárias 
quando abordarem especificidades de grupos étnicos determinados. 
Art. 47. É instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial 
(Sinapir) como forma de organização e de articulação voltadas à implementação do 
conjunto de políticas e serviços destinados a superar as desigualdades étnicas 
existentes no País, prestados pelo poder público federal. 
§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão participar do Sinapir 
mediante adesão. 
§ 2º O poder público federal incentivará a sociedade e a iniciativa privada a 
participar do Sinapir. 
5 RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NO BRASIL 
 
Fonte: rapefilosofia.blogspot.com.br 
 
 
34 
A sociedade brasileira é constituída por diferentes grupos étnico-raciais que a 
caracterizam, em termos culturais, como uma das mais ricas do mundo. Entretanto, 
sua história é marcada por desigualdades e discriminações, especificamente contra 
negros e indígenas, impedindo, desta forma, seu pleno desenvolvimento econômico, 
político e social. 
5.1 Significado da expressão étnico-racial 
O termo raça tem sua origem datada do século XVII (MARTINS, 1985, p.182). 
Com o passar do tempo, mais especificamente a partir do século XIX, passou a ser 
utilizado no sentido de justificar as diferenças fenotípicas entre seres humanos e 
marcar relações de dominação político-cultural de um grupo sobre outro. O 
entendimento de que o conceito de raça, no campo social existe, foi confirmado pelas 
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para 
o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, que definem a raça como “a 
construção social forjada nas tensas relações entre brancos e negros, muitas vezes 
simuladas como harmoniosas, nada tendo a ver com o conceito biológico de raça 
cunhado no século XVIII e hoje sobejamente superado.” (BRASIL, 2004). 
Outro conceito bastante utilizado nos estudos sobre as relações raciais é o de 
etnia. O termo é derivado do grego ethnikos, adjetivo de ethos, e se refere a povo, 
nação. O conceito de etnia baseado no pensamento de Cashmore (2000), diz respeito 
a um grupo que possui algum grau de coerência, solidariedade, origens e interesses 
comuns. Um grupo étnico é mais do que um ajuntamento de pessoas, às pessoas 
deve ser agregado seu pertencimento histórico e cultural. O uso do termo etnia ganhou 
força para se referir aos ditos povos diferentes: judeus, índios, negros, entre outros. A 
intenção era enfatizar que os grupos humanos não eram marcados por características 
biológicas herdadas dos seus pais, mães e ancestrais, mas sim, por processos 
históricos e culturais. 
Assim, o termo “raça” diz respeito aos atributos dispensados a certo grupo e 
“grupo étnico” se refere a uma resposta original de um povo quando, em alguma 
situação, se sente marginalizado pela sociedade. Um vocábulo que passou a ser 
utilizado no Brasil e merece destaque é a expressão etnicorracial.Seu sentido 
determina que as tensas relações raciais estabelecidas no país, vão para além das 
diferenças na cor da pele e traços fisionômicos, mas correspondem também à raiz 
 
 
35 
cultural baseada na ancestralidade afro-brasileira que difere em visão de mundo, 
valores e princípios da origem europeia (Brasil, 2004, p.13-14). 
 
 
Fonte: www.sescsp.org.br 
5.2 Preconceito e racismo 
O preconceito tem uma dinâmica capaz de criar uma rede de relações entre as 
pessoas que, de maneira gradativa, ganha corpo e transforma-se em percepções de 
mundo. O maior problema é que essa dinâmica gera atitudes diante das variadas 
situações e pessoas, produzindo deformidades nas relações sociais, como: o 
homofobismo, o racismo, a discriminação, o sexismo, dentre outros (SANT’ANA, 
2005). 
A Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de 
Discriminação Racial, de 1969 considera discriminação racial, como sendo: 
[...] qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, 
cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito 
anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano 
(em igualdade de condição) de direitos humanos no domínio político, social, 
cultural ou em qualquer outro domínio da vida pública (Art. 1º). 
O racismo é uma construção ideológica que afirma ser uma raça superior outra. 
São vários os racismos. As primeiras manifestações racistas aconteceram no século 
XVI; dos colonizadores europeus contra as populações nativas das Américas e contra 
os negros africanos. Mas, foi no século XIX, a partir da expansão do capitalismo 
industrial, que o racismo se transformou numa política justificada ideologicamente e 
praticada pelos Estados Europeus. 
 
 
36 
5.3 Lutas e Conquistas: trajetória do movimento negro brasileiro 
As trajetórias dos movimentos sociais negros brasileiros têm sido marcadas por 
um processo histórico de resistências e de lutas em defesa do direito à diferença 
étnica e, ainda, pela implementação de políticas públicas voltadas à garantia dos 
princípios da reparação, do reconhecimento e da valorização do povo negro. 
 
 
Fonte: www.memorialdademocracia.com.br 
A trajetória dos Movimentos Negros foi marcada por grandes acontecimentos 
sócio históricos: 
 Nas décadas de 1920 e de 1930, o advento da “locomotiva” e a opção 
pela política da imigração europeia caracterizaram a intenção do governo brasileiro 
em substituir a mão de obra do negro pela do trabalhador europeu, dificultando assim 
o acesso desse segmento ao mercado de trabalho; 
 O período de 1940 a 1970 foi marcado pela resistência negra em busca 
do reconhecimento e valorização de seu patrimônio cultural e de suas reivindicações. 
Este movimento fez surgir várias entidades negras, com destaque para o Teatro 
Experimental Negro (TEN) e a Frente Negra, primeiro partido negro do país; 
 A partir de 1970 se evidenciou um cenário político-militar com a pregação 
da ideologia do mito da democracia racial, perspectiva que fora combatida 
ferrenhamente pelas organizações dos Movimentos Negros no auge da ditadura 
militar e em pleno regime de exceção. 
 
 
37 
 
Fonte: zambukaki.wordpress.com 
Os Movimentos Negros das décadas de 1970 e 1980, ao colocarem em suas 
agendas as denúncias de racismo institucional, de racismo à moda brasileira e da 
farsa da democracia racial, demarcaram um campo de força política imprescindível na 
conquista por direitos civis, políticos e materiais. 
Na atualidade, alguns avanços foram significativos. Após a Marcha 300 anos 
da Imortalidade de Zumbi, em 1995, em Brasília, e da III Conferência Mundial Contra 
o Racismo,em 2001, na cidade de Durban, na África do Sul, aflorou a discussão sobre 
as reparações por meio de ações afirmativas, a exemplo da política de reserva de 
vagas para negros – “cotas” – no ensino superior das universidades federais 
brasileiras, que em 2012 foi aprovada por unanimidade pelo Supremo Tribunal 
Federal; o Decreto Nº 4.887/03, que prevê o reconhecimento, delimitação, 
demarcação e titulação das terras das comunidades dos quilombos; e a Lei 10639/03, 
que prevê o enfrentamento ao racismo na educação. 
 
 
38 
6 TERMOS E CONCEITOS PRESENTES NO DEBATE SOBRE RELAÇÕES 
RACIAIS 
 
Fonte: beta.brasa.art.br 
6.1 Identidade 
A identidade não é algo inato. Ela se refere à um modo de ser no mundo e com 
os outros. É importante na criação de redes de relações e referências culturais dos 
grupos sociais. Indica traços de cultura que se expressam através de práticas 
linguísticas, festivais, rituais, comportamentos alimentares e tradições populares. Não 
envolve apenas cultura, mas também níveis sócio-político e histórico de cada 
sociedade. A identidade atua nos níveis simbólico, subjetivo e político. 
6.2 Identidade negra 
Reconhecer-se em uma identidade supõe estabelecer um sentido de 
pertencimento a um grupo social de referência. Somos sujeitos de identidades 
transitórias, e como em outros processos identitários, a identidade negra se constrói 
gradativamente num movimento que envolve múltiplas variáveis. Geralmente este 
processo se inicia na família e vai se modificando a partir de outras relações que o 
sujeito estabelece. 
A identidade negra é entendida como uma construção social, histórica, cultural 
e plural, do olhar de um grupo étnico-racial ou sujeitos que pertencem a um mesmo 
grupo, sobre si mesmos a partir da relação com o outro. 
 
 
39 
 
Fonte: acervo.novaescola.org.br 
6.3 Raça 
As raças são construções sociais, políticas e culturais produzidas nas relações 
sociais e de poder ao longo do processo histórico. Portanto, raça não é um dado da 
natureza, mas sim uma visão a partir do contexto cultural. 
6.4 Etnia 
Termo utilizado para se referir ao pertencimento ancestral e étnico-racial dos 
negros e outros grupos da sociedade. 
6.5 Racismo 
Comportamento social que se manifesta de várias formas em diferentes 
contextos e sociedades. 
 
 
Fonte: prezi.com 
 
 
40 
6.6 Etnocentrismo 
A palavra Etnocentrismo vem da junção das palavras Etno, que significa minha 
cultura ou minha identidade; e Centrismo, que refere-se a centro. Sendo assim, é um 
termo que designa o sentimento de superioridade que uma cultura tem em relação a 
outras, com a crença de que seus valores e culturas são melhores ou mais corretos. 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
6.7 Preconceito racial 
Refere-se ao conceito ou opinião formado antecipadamente, sem ponderação 
ou melhor conhecimento dos fatos. É uma atitude adquirida no convívio social, pois 
os seres humanos não nascem preconceituosos. 
 
 
Fonte: prezi.com 
 
 
41 
6.8 Discriminação racial 
Enquanto o racismo e o preconceito estão no âmbito das doutrinas, 
julgamentos, concepções de mundo e crenças, a discriminação é a adoção de práticas 
que efetivam o racismo e o preconceito. 
A discriminação pode ser direta, quando deriva de atos concretos de exclusão 
pela cor; ou indireta, quando é expressa em políticas públicas ou práticas 
administrativas, por exemplo. 
6.9 Democracia racial 
A sociedade brasileira construiu historicamente um discurso que narra a 
existência de uma harmonia racial entre brancos e negros. Tal discurso desvia o olhar 
da população e do Estado das atrocidades cometidas contra esse grupo, impedindo-
os de agirem eficazmente na superação do racismo. 
 
 
Fonte: prezi.com 
 
 
 
42 
REFERÊNCIAS 
AZEVEDO, Thales de. Democracia Racial: Ideologia e realidade. Petrópolis: Vozes, 
1975. 
BANTON, Michael. A idéia de raça. Lisboa: Edições 70, 1979. 
BENTO, Maria Aparecida da Silva. Psicologia social do racismo. Petrópolis: Vozes, 
2002. 
BRASIL. Decreto nº 65.810, de 8 de dezembro de 1969. Diário Oficial da República 
Federativa do Brasil, Brasília. Disponível em: 
http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=94836. Acesso: 09 
de dezembro de 2016.BRASIL. Ministério da Educação Conselho Nacional de Educação. Diretrizes 
curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o 
ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Brasília: Ministério da 
Educação, 2005. Disponível em: 
<www.sinpro.org.br/arquivos/afro/diretrizes_relacoes_etnico-raciais.pdf>. Acesso em: 
20 nov. 2016 
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a 
Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura 
Afro-brasileira e Africanas. Brasília: Secad/MEC, 2004. 
BRASIL. Plano de implantação das diretrizes curriculares nacionais para a 
educação das relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura 
Afrobrasileira e Africana. Brasília: Ministério da Educação & Secretaria Especial de 
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, 2009. Disponível em: 
<portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task>. Acesso em: 13 mar. 2016. 
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: 
introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação 
Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. 126p. 
CARVALHO, José Jorge. Inclusão étnica e racial no Brasil – a questão das cotas 
no Ensino Superior. São Paulo: Attar Editorial, 2005. 
 
 
43 
CASHMORE, Ellis. Dicionário de relações étnicas e raciais. Ellis Cashmore com 
Michael Banton...[et al.]; tradução: Dinah Klevej. São Paulo: Summus, 2000. 
CULTURA em três dimensões. As políticas do Ministério da Cultura de 2003 a 
2010. Brasília, DF: MinC, 2010. 
FEIJÓ, Martin Cezar. O que é política cultural? 5a. ed., São Paulo: Brasiliense, 1992 
FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. São 
Paulo: Ática, vols.1 e 2, 1978. 
GEERTZ, Clifford. Interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989. 
GUIMARÃES, Antônio S. Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34, 2002. 
HENRIQUES, Ricardo. (Org.). Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei 
Federal n. 10.639/03. Brasília: Ministério da Educação; Secretaria de Educação 
Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. p. 39-61. 
HENRIQUES, Ricardo. Desigualdade racial no Brasil: evolução das condições de 
vida na década de 90. Rio de Janeiro, IPEA, 2001. 
LENSKI, G. Human Societies: An Introduction to Macrosociology, McGraw-Hill, 
Paradigm Press, 1970-2011. 
MCLAREN, Peter. Multiculturalismo crítico. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2000. 
MOURA, Clóvis. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Ática, 1988. 
MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, 
identidade, etnia. Niterói: EDUFF, 2000. 
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 
1994. 
PEREIRA, José Maria Nunes. Colonialismo, racismo, descolonização. In: Estudo 
Afro-asiáticos, Cândido Mendes, Ano 1, nº 2, 1978. 
SANT’ANA, Antônio Olímpio. História e Conceitos sobre o racismo e seus derivados. 
In: MUNANGA, Kabengele (Org). Superando o racismo na escola. Brasília: 
Ministério da Educação, 2005. 
 
 
44 
SANTAELLA, Lucia. “Sujeito, subjetividade e identidade no ciberespaço”. In: LEÃO, 
Lucia (org.). Derivas: cartografias do ciberespaço. São Paulo: Annablume Editora, 
2004. 
TURINO, Célio. Ponto de Cultura – o Brasil de baixo para cima. São Paulo: Ed. Anita 
Garibaldi, 2010. 
WHITE, Leslie A. O conceito de cultura. Tradução de Tereza Carneiro. Rio de 
Zahar, 2002.

Mais conteúdos dessa disciplina