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A inviolabilidade domiciliar, o acesso da polícia e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - Atividade Policial

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15/10/2022 16:31 A inviolabilidade domiciliar, o acesso da polícia e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - Atividade Policial
https://atividadepolicial.com.br/2021/02/05/a-inviolabilidade-domiciliar-o-acesso-da-policia-e-a-jurisprudencia-do-superior-tribunal-de-justica/ 1/55
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15/10/2022 16:31 A inviolabilidade domiciliar, o acesso da polícia e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - Atividade Policial
https://atividadepolicial.com.br/2021/02/05/a-inviolabilidade-domiciliar-o-acesso-da-policia-e-a-jurisprudencia-do-superior-tribunal-de-justica/ 2/55
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No texto “O direito fundamental à inviolabilidade de domicílio e os seus limites” publicado neste site
“Atividade Policial”, é abordado com profundidade o direito fundamental à inviolabilidade domiciliar, além de
diversos detalhes.
Neste texto, após estudar centenas de julgados dos tribunais superiores, separei os mais importantes para
traçar diretrizes a respeito dos entendimentos dos tribunais superiores acerca do ingresso de policiais em
domicílio.
O domicílio tem proteção constitucional.
Art. 5º (…)
XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de �agrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial;
O Decreto 678/92 que promulgou a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, também protege o
domicílio.
Art. 11
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, na de sua família,
em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação.
O art. 150, §4º, do Código Penal utiliza o termo “casa” e este engloba: I – qualquer compartimento habitado; II
– aposento ocupado de habitação coletiva; III – compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce
pro�ssão ou atividade.
a) Qualquer compartimento habitado – o conceito abrange inclusive moradias transitórias. Logo, não se
exige que seja a�xada em determinado local, motivo pelo qual admite-se como casa o barco, trailer,
motorhome, cabina de trem, vagão de metrô abandonado, quarto de hotel, de pensão, abrigo embaixo de
ponte ou viaduto.
b) Aposento ocupado de habitação coletiva – o conceito abrange o cômodo (quarto ou sala etc) onde o
indivíduo mora que constitui seu lar e, portanto, goza da proteção legal. Logo, os locais públicos do hotel,
motel e pensão não são objeto da proteção legal, porém, o quarto com hóspede, o local da administração, a
cozinha, a lavanderia gozam da proteção
c) Compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce pro�ssão ou atividade – local onde o
indivíduo desenvolve sua pro�ssão, atividade ou negócios, como escritório do advogado, do engenheiro,
gabinete do juiz, do promotor, do delegado, do Comandante etc. As dependências desses compartimentos,
como salas de espera, que sejam abertas ao público não gozam da proteção. Desse modo, não se
compreende dentro desse conceito os bares, teatros, cinemas, lojas etc. As dependências da casa que sejam
por Rodrigo Foureaux | 5 fev 2021 | Atividade Policial
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15/10/2022 16:31 A inviolabilidade domiciliar, o acesso da polícia e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - Atividade Policial
https://atividadepolicial.com.br/2021/02/05/a-inviolabilidade-domiciliar-o-acesso-da-policia-e-a-jurisprudencia-do-superior-tribunal-de-justica/ 3/55
cercadas abrangem o conceito e gozam da proteção legal, no entanto as áreas não cercadas não caracterizam
dependência e por essa razão não gozam da proteção legal.
Observa-se que o próprio Código Penal cuidou de dizer o que não se considera como casa, consoante art.
150, § 5º: I – hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição
do n.º II do parágrafo anterior; II – taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
a) Hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta – aqui não se
considera casa os locais de acesso livre e uso comum, enquanto abertos ao público. Ex.: hall de entrada, área
da piscina, sala de espera, etc.
b) Taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero – taverna consiste em bar, restaurante, botequim,
vendinha, etc. Por sua vez, casa de jogo corresponde a locais onde se praticam jogos de azar (ex.: cassino) ou
não, como um �iperama.
Muitas vezes o termo domicílio é empregado como sinônimo de casa.
A Constituição Federal autoriza o ingresso em domicílio, independentemente, do consentimento do morador,
em quatro hipóteses: 1. Em caso de �agrante delito; 2. Em caso de desastre; 3. Para prestar socorro; 4.
Durante o dia, por determinação judicial.
Extrai-se do texto constitucional que não se exige mandado judicial para entrada forçada em residência em
caso de �agrante delito, de desastre e para prestar socorro, em qualquer período, de modo que a limitação
temporal é aplicada apenas para as situações de cumprimento de mandado judicial, hipótese na qual só pode
ser cumprido durante o dia.
A discussão quanto ao ingresso forçado em domicílio pelos policiais sempre foi questão de intenso debate na
jurisprudência e na doutrina. Não é possível, dada a in�nidade de situações possíveis, delimitar
antecipadamente de forma objetiva e clara em quais casos a polícia pode ingressar em domicílio, devendo
essa análise ser feita casuisticamente (caso a caso).
O Supremo Tribunal Federal, em 2015, no Recurso Extraordinário n. 603616 �xou balizas importantes para
serem utilizadas quando da análise do ingresso em domicílio, por policiais, nas situações de �agrante delito,
sendo �xada a seguinte tese:
A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando
amparada em fundadas razões, devidamente justi�cadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa
ocorre situação de �agrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal doagente ou da
autoridade e de nulidade dos atos praticados.
Caso concreto
A polícia estava monitorando o agente e seu comparsa. Em um dia em que o comparsa saiu da casa do
recorrente dirigindo um caminhão, ao ser interceptado foram encontrados 23,421 kg de cocaína dentro do
veículo. Ao ser preso o comparsa con�rmou que recebeu a droga de outro agente. Na sequência os policiais
dirigiram-se à casa deste agente e lá encontraram 8,542kg dentro de um veículo Ford Focus de sua
propriedade, estacionado na garagem de sua residência.
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15/10/2022 16:31 A inviolabilidade domiciliar, o acesso da polícia e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - Atividade Policial
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Tratava-se de caso de crime permanente (trá�co de substância entorpecente), ou seja, cuja consumação se
prolonga no tempo, admitindo o �agrante em qualquer momento, enquanto perdurar a ilicitude. Ex.: trá�co
de drogas, sequestro, furto de energia elétrica, posse de arma de fogo.
A defesa sustentou a ilicitude das provas que fundamentaram a sentença condenatória, sob o argumento de
que foram colhidas mediante invasão do domicílio sem ordem judicial que autorizasse a busca e apreensão.
Fundamentos do voto vencedor (Ministro Gilmar Mendes)
É necessário estabelecer uma interpretação que, ao mesmo tempo, con�rme a garantia da inviolabilidade e,
de outro lado, proteja os agentes estatais, oferecendo orientação quanto a sua forma de atuação.
O entendimento da Suprema Corte e do STJ é no sentido de que é viável o ingresso forçado pela polícia,
independentemente de autorização judicial, se dentro da casa está ocorrendo um crime permanente.
A entrada forçada sem ordem judicial sofre controle judicial posterior, como forma de preservar a
inviolabilidade domiciliar, protegendo o domicílio contra ingerências arbitrárias.
A entrada forçada é admissível pelo agente estatal desde que �que demonstrada a existência de fundadas
razões que permitam concluir a situação e �agrância, de modo que a simples constatação da situação de
�agrância realizada mediante posterior controle judicial não é su�ciente.
A proteção contra a invasão arbitrária exige que a diligência seja avaliada em parâmetros anteriores à sua
realização, de modo que o agente de segurança pública demonstre a existência de justa causa por meio de
elementos que caracterizem a suspeita da ocorrência de uma situação que autoriza o ingresso forçado.
No caso, o ingresso forçado estava fundamentado no acompanhamento prévio e nas declarações do
comparsa, o que constitui elementos su�cientes para indicar fundadas razões de que o agente estivesse
cometendo o delito.
Comentários
Nesse caso submetido ao crivo do STF, não há dúvidas de que o ingresso não foi realizado por circunstâncias
desconhecidas, ou seja, os policiais não contaram com a sorte. Foi demonstrado que a probabilidade do
agente ter em depósito substância entorpecente era muito alta, em razão do fato de seu comparsa ter sido
preso pouco antes pela polícia após ser abordado e �agrado com grande quantidade de cocaína logo após
sair da casa do agente.
Depreende-se do inteiro teor do julgado que os policiais monitoravam há algum tempo o agente e seu
comparsa e que o ingresso na residência não se deu com base exclusivamente em denúncia anônima sem
posterior investigação, mas em razão da prisão do comparsa e da sua con�ssão em a�rmar que recebeu a
substância entorpecente do agente.
Desse modo, o ingresso na casa foi realizado à luz da Constituição Federal, na medida em que os policiais
apresentaram justa causa su�ciente para a entrada forçada.
Exposta a teste �xada pelo Supremo Tribunal Federal que é utilizada pelo Superior Tribunal de Justiça decidir
os mais diversos casos, a seguir são analisados os julgados do STJ.
Hipóteses nas quais o Superior Tribunal de Justiça entendeu pela licitude da entrada forçada no
domicílio
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1. É legítimo o ingresso forçado em imóvel não habitado após denúncia anônima e monitoração do
local pela polícia para con�rmar ausência de habitantes.
Sem desconsiderar a proteção constitucional de que goza a propriedade privada, ainda que desabitada,
não se veri�ca nulidade na busca e apreensão efetuada por policiais, sem prévio mandado judicial, em
apartamento que não revela sinais de habitação, nem mesmo de forma transitória ou eventual, se a
aparente ausência de residentes no local se alia à fundada suspeita de que tal imóvel é utilizado para a
prática de crime permanente (armazenamento de drogas e armas), o que afastaria a proteção
constitucional concedida à residência/domicílio. Situação em que, após denúncia anônima detalhada de
armazenamento de drogas e de armas, seguida de informações dos vizinhos de que não haveria residente
no imóvel, de vistoria externa na qual não foram identi�cados indícios de ocupação da quitinete (imóvel
contendo apenas um colchão, algumas malas, um fogão e janela quebrada, apenas encostada), mas foi
visualizada parte do material ilícito, policiais adentraram o local e encontraram grande quantidade de
drogas (7kg de maconha prensada, fracionadas em 34 porções; 2.097, 8kg de cocaína em pó, fracionada
em 10 tabletes e 51 gramas de cocaína petri�cada, vulgarmente conhecida como crack) e de armas (uma
submetralhadora com carregador, armamento de uso proibido; 226 munições calibre .45; 16 munições
calibre 12; 102 munições calibre 9mm; 53 munições calibre .22; 04 carregadores, 01 silenciador, 02 canos
de arma curta, 03 coldres). 
A transposição de portão em muro externo que cerca prédio de apartamentos, por si só, não implica,
necessariamente, afronta à garantia de inviolabilidade do domicílio. Para tanto, seria necessário
demonstrar que dito portão estava trancado, ou que havia interfone ou qualquer outro tipo de
aparelho/mecanismo de segurança destinado a limitar a entrada de indivíduos que quisessem ter acesso
ao prédio já no muro externo, o que não ocorre no caso concreto, em que há, inclusive, depoimento de
policial a�rmando que o portão estaria aberto. 
STJ, HC 588445. Rel Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma, j. 25/08/2020.
Caso concreto
Policiais, após denúncia anônima, ingressaram em apartamento que não tinha sinais de moradia habitual.
A defesa argumentou a ausência de fundadas razões para a entrada forçada pelos policiais e que a ausência
de móvel e de cortinas não autorizariam o ingresso.
Fundamentos da decisão
O STF �xou entendimento no RE nº 603.616/RO que o ingresso forçado em domicílio sem mandado judicial
apenas se revela legítimo quando amparado em fundadas razões devidamente justi�cadas pelas
circunstâncias do caso concreto, que indiquem que naquele momento há situação de �agrante delito no
interior da residência.
O crime de trá�co de entorpecentes é permanente, o que legitima a entrada de policiais em domicílio para
cessar a prática delitiva, desde que existam elementos su�cientes de probabilidade delitiva capazes de
demonstrar a ocorrência de �agrância.
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Para o STF o conceito de casa possui caráter amplo porque compreende (a) qualquer compartimento
habitado; (b) qualquer aposento ocupado de habitação coletiva; (c) qualquer compartimento privado não
aberto ao público, onde alguém exerce pro�ssão ou atividade.
Pelos depoimentos dos policiais foram realizadas diligências no local, através de conversa com moradorespróximos para averiguar se o imóvel era ocupado por alguém, ocasião em que foi informado que não era
ocupado.
A conjugação da denúncia anônima de que o local era utilizado para armazenamento de substâncias
entorpecentes e armas de fogo, associada às informações prestadas pelos vizinhos de que não havia
ninguém residindo no local, somado a vistoria externa efetuada pelos policiais que constataram a ausência
de indícios de ocupação do imóvel, bem como a espera por algum habitante do recinto, afasta a garantia
constitucional e legitima o ingresso sem ordem judicial.
O fato de o prédio ser cercado por muro com portão pelo qual entraram os policiais antes de adentrar na
quitinete não conduz ao entendimento de que a transposição do portão já viola a garantia constitucional,
especialmente diante das informações de que o portão estava aberto e não havia qualquer tipo de
aparelho destinado a limitar a entrada de indivíduos.
O material ilícito era possível de ser visualizado pela janela conforme se extrai dos depoimentos dos
policiais, fato que somado aos demais fatores, autorizariam o ingresso.
Comentários
Observa-se que, nesse caso, a denúncia anônima não era algo isolado, os policiais realizaram diligências
prévias ao entrevistar vizinhos e, ainda, monitoraram o imóvel a �m de con�rmar as informações obtidas.
Veri�ca-se o empenho dos policiais em con�rmar primeiro as informações para depois agir, a �m de legitimar
a sua conduta.
As diligências prévias realizadas em uma situação de �agrante delito não caracterizam atos de investigação,
típicos do Delegado de Polícia, pois a Polícia Militar possui a obrigação de atuar nas situações de �agrante
delito, imediatamente, podendo, para tanto, obter informações imediatas para então agir. Isso porque a
Constituição Federal em seu art. 144, § 5º, preconiza ser atribuição da Polícia Militar a preservação da ordem
pública, o que inclui a repressão imediata ao delito. Por uma questão lógica, de coerência e como decorrência
da teoria dos poderes implícitos, está a Polícia Militar autorizada, nas situações de �agrante delito, a
diligenciar na rua para obter maiores informações e, consequentemente, atuar. Ouvir pessoas na rua, buscar
informantes e realizar campana nessas situações não caracterizam atribuições típicas da autoridade de
polícia judiciária, até porque para realizar a prisão em �agrante é necessário buscar informações, até para
que o �agrante �que caracterizado e comprovado.
2. É legítimo o ingresso no domicílio alheio em razão de denúncia de disparo de arma de fogo dentro
da casa.
O delito imputado tem natureza permanente. Legítima, portanto, a entrada de policiais para fazer cessar a
prática do delito, independentemente de mandado judicial, desde que existam elementos su�cientes de
probabilidade delitiva. No caso o ingresso dos policiais no imóvel ocorreu após informações dando conta
de um disparo de arma de fogo, demonstrando que os agentes de segurança atuaram a partir de
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15/10/2022 16:31 A inviolabilidade domiciliar, o acesso da polícia e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - Atividade Policial
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fundadas suspeitas da prática de crimes no interior da residência. 
STJ, HC 595.700/MG, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma, j. em 06/10/2020.
Caso concreto
Os policiais realizavam patrulhamento quando foram informados a respeito de um disparo de arma de fogo e
de seu autor, motivo pelo qual se dirigiram ao imóvel e lá encontraram drogas, munições, balança de
precisão e uma quantia em dinheiro.
Fundamentos da decisão
O STF �xou entendimento no RE nº 603.616/RO que o ingresso forçado em domicílio sem mandado judicial
apenas se revela legítimo quando amparado em fundadas razões devidamente justi�cadas pelas
circunstâncias do caso concreto, que indiquem que naquele momento há situação de �agrante delito no
interior da residência.
O crime de trá�co de entorpecentes é permanente, o que legitima a entrada de policiais em domicílio para
cessar a prática delitiva, desde que existam elementos su�cientes de probabilidade delitiva capazes de
demonstrar a ocorrência de �agrância.
Somente quando o contexto fático anterior ao ingresso autorizar a conclusão acerca da ocorrência de crime
no interior da residência é que se mostra possível sacri�car a garantia constitucional.
O contexto fático que se deu o �agrante decorreu da informação de um disparo de arma de fogo e de seu
autor, o que legitima o ingresso no domicílio.
Os policiais agiram após informações que resultaram em fundadas suspeitas da prática de crime no interior
da residência.
Comentários
O disparo de arma de fogo, por si só, é crime previsto na Lei n. 10.826/03.
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via
pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como �nalidade a prática de outro crime:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
O fato de se escutar um disparo de arma de fogo dentro de uma residência legitima o ingresso da polícia,
pois é imprescindível que se veri�que se há feridos e pessoas que precisam de socorro imediato. A não
prestação de socorro imediato pode resultar na morte de eventual ferido.
O disparo da arma signi�ca que o crime acabara de ser praticado e poderia ser tanto um homicídio, quanto
apenas o disparo de arma de fogo, o que constitui justa causa su�ciente para o ingresso e que será possível
de ser veri�cado somente após o ingresso.
Nestes casos o policial ingressa na residência por estar autorizado constitucionalmente por haver �agrante
delito e para veri�car a necessidade de se prestar socorro (art. 5º, XI, da CF).
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15/10/2022 16:31 A inviolabilidade domiciliar, o acesso da polícia e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - Atividade Policial
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Em se tratando da prestação de socorro, a sua real necessidade somente se veri�ca após o ingresso na
residência e um disparo de arma de fogo é motivo idôneo su�ciente para legitimar o ingresso, dada a alta
probabilidade de haver ferido.
3. Busca por arma de fogo utilizada em crime autoriza o ingresso forçado em domicílio, na hipótese em
que o agente for reconhecido por foto e fugir ao avistar a aproximação da polícia, entrando em sua
casa e se evadindo pela janela em direção à mata.
O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que o crime de posse de arma é do tipo
permanente, cuja consumação se protrai no tempo, o qual não se exige a apresentação de mandado de
busca e apreensão para o ingresso na residência do agente, quando se tem por objetivo fazer cessar a
atividade criminosa, dada a situação de �agrância, inclusive no período noturno, independente de
mandado judicial, e desde que haja fundada razão da existência do crime. 
Diante da fundada suspeita de que o paciente teria sido o autor de roubo armado ocorrido no dia anterior
(16 horas antes), visto que identi�cado pela vítima em reconhecimento fotográ�co, sua fuga, ao avistar a
aproximação da autoridade policial, entrando em sua casa e se evadindo pela janela em direção à mata,
gera legitimamente a presunção de que a arma utilizada no crime poderia se encontrar na residência, o
que autoriza a busca domiciliar sem prévio mandado judicial. 
O fato de não ter sido encontrada a arma, mas, sim, entorpecentes em quantidade signi�cativa (100
microtubos plásticos com cocaína, totalizando 433,8g da substância) constitui descoberta fortuita que não
retira a legitimidade da situação de �agrância que ensejou a entrada dos policiais na residência. 
STJ, HC 614.078/SP, Rel. Ministro Reynaldo Soares Da Fonseca, 5ª Turma, j. em 03/11/2020.
Caso concreto
Após um roubo em uma lanchonete, o suposto autor do fato foi reconhecidopela vítima, mediante fotogra�a
apresentada pela Polícia Militar. Cerca de dezesseis horas após o fato os policiais se dirigiram à residência do
autor do fato, momento em que, ao avistar os policiais, empreendeu fuga por uma janela, razão pela qual os
policiais ingressaram na residência para busca da arma de fogo, ocasião na qual encontraram substâncias
ilícitas dentro de um armário na cozinha.
Fundamentos da decisão
O entendimento �rmado pelo STF em sede de repercussão geral no RE nº 603.616/RO, no qual �xou a tese
de que o ingresso forçado em domicílio sem mandado judicial apenas se revela legítimo quando amparado
em fundadas razões devidamente justi�cadas pelas circunstâncias do caso concreto, que indiquem que
naquele momento há situação de �agrante delito no interior da residência.
Somente quando o contexto fático anterior ao ingresso autorizar a conclusão acerca da ocorrência de crime
no interior da residência é que se mostra possível sacri�car a garantia constitucional.
O crime de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido ou restrito é crime permanente. De acordo com
o art. 303 do CPP, entende-se que o agente está em �agrante delito enquanto não cessar a permanência da
ação. Desse modo, é legítima a entrada de policiais para fazer cessar a prática do crime,
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independentemente de mandado judicial, desde que demonstrada existência de fundadas razões que
sinalizem para a possibilidade de afastar a proteção constitucional.
A autoridade policial atuou com base na fundada suspeita de que o paciente era o autor do crime de roubo
armado ocorrido dezesseis horas antes porque identi�cado pela vítima.
A suspeita de que o indivíduo era o autor do crime de roubo associada à fuga empreendida pelo agente ao
avistar os policiais legitima a presunção de que a arma utilizada no crime poderia se encontrar na
residência, o que autoriza a busca.
O encontro de substâncias entorpecentes, ainda que não encontrada a arma de fogo, con�gura descoberta
fortuita que não retira a legitimidade da situação de �agrância que ensejou a entrada dos policiais na
residência.
Comentários
No caso há informações su�cientes da prática de crime pelo agente, diante do reconhecimento feito pela
vítima e da possibilidade de o agente manter a posse de arma de fogo no seu domicílio. Importante ressaltar
que não houve �agrante do crime de roubo, a�nal, já tinham passado mais de dezesseis horas do fato e da
narrativa se conclui que não existia guarnição policial à procura do agente. Em que pese a �nalidade dos
policiais ser a localização da arma, acabaram por encontrar drogas, o que constitui descoberta fortuita, razão
pela qual a prova (droga apreendida) é legal.
A teoria do encontro fortuito ou casual de provas, também denominada serendipidade, consiste na obtenção
casual, fortuita, de elementos probatórios de uma infração penal que não é objeto de investigação. Isto é,
busca-se investigar um crime, mas durante a investigação deste crime aparecem outros que não possuem
relação com a investigação originária.
Consiste numa limitação à teoria da prova ilícita por derivação (teoria dos frutos da árvore envenenada),
segundo a qual uma prova é obtida em razão de uma diligência anterior autorizada que tinha por objetivo a
investigação de outro crime.
Serendipidade advém do inglês “serendipity” e signi�ca descobrir coisas por acaso. Isto é, a pessoa sai em
busca de uma coisa, mas acaba por descobrir outra(s).
Os tribunais têm aplicado a teoria do encontro fortuito, devendo ser analisado se no caso concreto houve
desvio de �nalidade ou não na execução do meio de obtenção de prova, para a validade da prova obtida.
Nesse sentido:
1. Segundo a teoria do encontro fortuito ou casual de provas (serendipidade), independentemente da
ocorrência da identidade de investigados ou réus, consideram-se válidas as provas encontradas
casualmente pelos agentes da persecução penal, relativas à infração penal até então desconhecida, por
ocasião do cumprimento de medidas de obtenção de prova de outro delito regularmente autorizadas,
ainda que inexista conexão ou continência com o crime supervenientemente encontrado e este
não cumpra os requisitos autorizadores da medida probatória, desde que não haja desvio de
�nalidade na execução do meio de obtenção de prova.
2. Assim, embora, em um primeiro momento, a investigação não tenha sido dirigida ao recorrente, o
encontro fortuito de provas, ocorrido em procedimento efetuado com observância da legislação de
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regência (perícia no celular do corréu), é válido para comprovar seu envolvimento no trá�co de drogas.
STJ – RHC 117.113/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 26/11/2019, DJe
05/12/2019. (Destaque nosso)
A infração descoberta é denominada de crime achado, sendo este o termo utilizado pelo Supremo Tribunal
Federal.
O “crime achado”, ou seja, a infração penal desconhecida e, portanto, até aquele momento não
investigada, sempre deve ser cuidadosamente analisada para que não se relativize em excesso o inciso XII
do art. 5º da Constituição Federal. A prova obtida mediante interceptação telefônica, quando referente a
infração penal diversa da investigada, deve ser considerada lícita se presentes os requisitos
constitucionais e legais.
STF – HC 129678, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ALEXANDRE DE MORAES,
Primeira Turma, julgado em 13/06/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-182 DIVULG 17-08-2017 PUBLIC 18-
08-2017.
A doutrina subdivide o encontro fortuito de provas em primeiro e segundo grau. Será de primeiro grau
quando houver o encontro fortuito de fatos conexos, o que valerá como prova. Será de segundo grau
quando não houver conexão no encontro fortuito de fatos, razão pela qual o elemento descoberto valerá
como notitia criminis e não prova, o que autoriza o desencadeamento de uma nova investigação.
Não obstante este entendimento doutrinário, o Superior Tribunal de Justiça decidiu ser possível considerar
como prova a descoberta fortuita, ainda que não haja conexão, a saber: “Em princípio, havendo o encontro
fortuito de notícia da prática futura de conduta delituosa, durante a realização de interceptação telefônica
devidamente autorizada pela autoridade competente, não se deve exigir a demonstração da conexão
entre o fato investigado e aquele descoberto, a uma, porque a própria Lei nº 9.296/96 não a exige, a duas,
pois o Estado não pode se quedar inerte diante da ciência de que um crime vai ser praticado e, a três, tendo
em vista que se por um lado o Estado, por seus órgãos investigatórios, violou a intimidade de alguém, o fez
com respaldo constitucional e legal, motivo pelo qual a prova se consolidou lícita. A discussão a respeito da
conexão entre o fato investigado e o fato encontrado fortuitamente só se coloca em se tratando de infração
penal pretérita, porquanto no que concerne as infrações futuras o cerne da controvérsia se dará quanto a
licitude ou não do meio de prova utilizado e a partir do qual se tomou conhecimento de tal conduta
criminosa.”
Eugênio Pacelli sustenta a desnecessidade de haver conexão para que a prova descoberta seja lícita,
posicionamento com o qual concordamos.
Não é a conexão que justi�ca a licitude da prova. O fato, de todo relevante, é que, uma vez franqueada a
violação dos direitos à intimidade e à privacidade dos moradores da residência, não haveria razão alguma
para a recusa de provas de quaisquer outros delitos, punidos ou não comreclusão. Isso porque uma
coisa é a justi�cação para a autorização da quebra de sigilo; tratando-se de violação à intimidade, haveria
mesmo de se acenar com a gravidade do crime. Entretanto, outra coisa é o aproveitamento do conteúdo
da intervenção autorizada; tratando-se de material relativo à prova de crime (qualquer crime), não se
pode mais argumentar com a justi�cação da medida (interceptação telefônica), mas, sim, com a aplicação
da lei.
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A serendipidade subdivide-se ainda em objetiva e subjetiva. Será objetiva quando o encontro fortuito for de
fatos criminosos e será subjetiva quando o encontro fortuito relacionar-se ao envolvimento de outras
pessoas que não estejam sendo investigadas.
Em qualquer caso deve ser analisado se houve desvio de �nalidade na execução do meio de obtenção de
prova. Eugênio Pacelli cita um exemplo interessante em que o desvio se caracteriza, razão pela qual as provas
são ilícitas.
Quando, na investigação de um crime contra a fauna, por exemplo, agentes policiais, munidos de mandado
judicial de busca e apreensão, adentram em determinada residência para o cumprimento da ordem, espera-
se, e mesmo exige-se (art. 243, II, CPP), que a diligência se realize exclusivamente para a busca de animais
silvestres. Assim, se os policiais passam a revirar as gavetas ou armários da residência, é de se ter por ilícitas
as provas de infração penal que não estejam relacionadas com o mandado de busca e apreensão. Em
semelhante situação, como é óbvio, o local revistado jamais abrigaria o objeto do mandado judicial.
A descoberta fortuita de provas não é incomum nas buscas e apreensões em domicílio, seja em razão de
mandado ou de �agrante delito, e nas interceptações telefônicas.
No caso de cumprimento de mandado de busca e apreensão o art. 243, II, do Código de Processo Penal exige
que no mandado conste o motivo e os �ns da diligência, não devendo estes serem desvirtuados quando de
seu cumprimento. Não deve haver desvio de �nalidade na realização da diligência, sob pena dos elementos
probatórios se tornarem ilícitos.
Em que pese a busca e apreensão decorrente de �agrante delito não ser precedida de mandado, aplica-se o
mesmo raciocínio do cumprimento do mandado de busca e apreensão, pois o policial ao entrar em uma
residência em razão de �agrante delito tem um �m especí�co que não pode ser desvirtuado, sob pena de
incorrer em desvio de �nalidade na execução do meio probatório e as provas, eventualmente, descobertas,
se tornarem ilícitas. Além do mais, ao ingressar em residência em razão de �agrante delito, o policial tem por
foco a localização de bens especí�cos, que é de conhecimento e investigação prévia à entrada, o que autoriza
a busca domiciliar sem prévia autorização judicial. Do contrário, seria permitir uma busca completa na
residência sem fundamento idôneo para tal.
Exemplo 01: A polícia ingressa legitimamente na residência, após denúncia de disparo de arma de fogo,
sendo esta informação con�rmada por vizinhos. Durante a busca realizada na residência a polícia poderá
procurar somente pela arma de fogo. Como a arma de fogo pode estar guardada ou escondida em qualquer
local da casa, será lícito abrir gavetas, armários e procurar por todos os cantos da casa, razão pela qual
eventual droga localizada e apreendida, durante essas buscas, será considerada lícita, pois não houve deviso
de �nalidade na execução da diligência, já que a procura pela arma, logicamente, é o mesmo caminho pela
procura de droga. Caso seja encontrada uma arma, é legítimo que os policiais continuem a procurar mais
armas, pois não se sabe se o agente possui somente uma arma de fogo na residência ou se essa informação,
eventualmente, recebida, é verdadeira. Com isso, é lícita a busca em toda a residência à procura de armas de
fogo.
Exemplo 02: A polícia recebe denúncia via COPOM de um agente que está praticando trá�co de drogas em
sua residência, momento em que a guarnição policial se desloca e visualiza à distância o agente vendendo
drogas para usuários e uma movimentação incomum, sendo con�rmado por vizinhos que o local é ponto de
trá�co, o que é �lmado pela polícia que decide ingressar na residência sem mandado. Como as drogas
podem estar guardadas em qualquer local da casa, será legítima a busca em todos os cômodos e móveis e
eventuais armas apreendidas serão lícitas, pois não haverá desvio de �nalidade na realização da diligência.
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Exemplo 03: Tendo como parâmetro o exemplo de Eugênio Pacelli, quando os policiais ao realizarem
diligências obtêm um mandado de busca e apreensão para buscar e apreender, exclusivamente, animais
silvestres e passam a, na execução do mandado, revirar as gavetas ou armários da residência, é de se ter por
ilícitas as provas de infração penal que não estejam relacionadas com o mandado de busca e apreensão, pois
houve desvio de �nalidade no cumprimento do mandado, pois é óbvio que o local revistado jamais abrigaria
o objeto do mandado judicial.
Exemplo 04: A polícia realiza diligência e obtém na justiça um mandado de busca e apreensão,
especi�camente, para apreender um determinado veículo ou um avião de pequeno porte em uma Fazenda.
Durante o cumprimento do mandado os policiais decidem adentrar na residência e realizam buscas que
resultam na localização de armas e drogas. Como houve desvio de �nalidade por não ser o objeto do
mandado, as buscas são ilícitas e as provas produzidas não possuem validade.
Exemplo 05: Policiais investigam agentes que pertence à organização criminosa de sequestro de crianças e
consegue descobrir a residência em que encontra-se uma criança que fora sequestrada há poucos dias e está
na iminência de ser enviada para o exterior. Visando prender em �agrante e cessar a conduta criminosa e
salvar a criança, os policiais decidem, em razão do �agrante delito, ingressar na residência, sem mandado, e
localizam a criança, até porque pedir um mandado, nessas circunstâncias, pode fulminar o princípio da
oportunidade e a criança ser levada da casa e não mais encontrada. Em um primeiro momento pode-se
pensar que a �nalidade pretendida pelos policiais foi atingida, a�nal de contas a criança já foi localizada e os
agentes presos. Ocorre que nesses casos envolvendo organizações criminosas é comum que além do objeto
principal do crime praticado pela organização haja diversos outros crimes, como trá�co de drogas, porte
ilegal de arma de fogo e documentos falsos, razão pela qual é razoável entender que a busca domiciliar em
toda a casa é lícita, pois não há desvio de �nalidade, já que é inerente às organizações criminosas a prática de
uma pluralidade de crimes.
Exemplo 06: A justiça autoriza a prisão de um agente, sendo este preso dentro da residência. Como no
mandado não consta autorização para a realização de busca domiciliar, eventuais buscas serão consideradas
ilícitas, pois o ingresso na residência legitima-se exclusivamente para efetuar a prisão do agente e eventuais
buscas caracterizam desvio de �nalidade. Por outro lado, caso os policiais possuam informações �dedignas e
documentadas de que na casa há objetos ilícitos, como armas e drogas, será lícita a busca domiciliar.
Exemplo 07: A justiça autoriza o cumprimento de mandado de busca e apreensão para apreender,
exclusivamente, documentos falsos. Como documento falso pode estar em qualquer local da residência,
eventual apreensão de arma e droga durante a busca será lícita, pois não terá ocorrido desvio de �nalidade.
Exemplo08: A justiça autoriza o cumprimento de mandado de busca e apreensão para apreender gados que
foram furtados de uma Fazenda. Durante a diligência os policiais decidem adentrar à residência e dar buscas
em gavetas e armários, ocasião em que localizam drogas e armas. A busca foi ilícita, pois houve desvio de
�nalidade. Obviamente, gados não são encontrados dentro da casa, muito menos em gavetas e armários.
Portanto, as drogas e armas apreendidas não possuem validade probatória.
Exemplo 09: É determinada a busca e apreensão de um quadro em uma determinada residência. Esse
quadro foi objeto de furto e tem valor econômico, contudo a pessoa que sofre a diligência não o furtou, mas
o adquiriu (receptação) por preço bem aquém do verdadeiro valor. A polícia, ao adentrar na residência, já se
depara com o quadro pendurado na parede da sala, contudo, resolve abrir armários e gavetas em busca de
outros crimes, ocasião em que é encontrada uma arma de fogo de uso restrito. A decisão de busca somente
autorizou a apreensão do quadro, logo, a conduta consistente em abrir gavetas e armários não é lícita, pois
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houve desvio de �nalidade. Desse modo, a descoberta da arma de fogo não pode servir como prova idônea
aplicada para que o agente responda pelo crime do art. 16, da Lei nº 10.826/03, a não ser se provado que
seria descoberto o crime de qualquer modo (Teoria da Descoberta Inevitável), como a hipótese em que
retiram o quadro da parede a atrás deste estava a arma ilegal. O policial não deve fazer vista grossa. Se,
dentro de seu campo de visão, ao entrar na residência visualizar qualquer ilegalidade, deverá atuar, como
decorrência da teoria da descoberta inevitável. O policial possui a obrigação de atuar nos casos de �agrante
delito e o ingresso na residência foi legítimo, razão pela qual, nestes casos, não há ilegalidade em apreender
bens visualmente perceptíveis e que sejam produtos de crime, como armas e drogas. Não se pode é haver
desvio de �nalidade, o que ocorreria a partir do momento em que abrisse gavetas.
Exemplo 10: A justiça expede mandado de prisão de um tra�cante. A polícia chega à residência deste e
efetua a prisão imediatamente. Como os policiais não possuem mandado de busca e apreensão, poderão
realizar buscas por drogas ilícitas na residência? Certamente, haverá dois entendimentos. O primeiro
sustentará pela impossibilidade, já que não havia mandado de busca e apreensão nem situação
caracterizadora de �agrante delito que autorizasse a busca domiciliar. O segundo sustentará a possibilidade
da realização de busca, em que pese não haver mandado de busca e apreensão, pois é da natureza desses
crimes que haja drogas dentro da casa de tra�cantes. Na prática, com os grandes tra�cantes, geralmente,
não são encontradas drogas. Gerenciam todo o comércio de trá�co a distância. O primeiro entendimento
deve prevalecer, pois não é possível partir de suposições, sem elementos concretos, de que há situação de
�agrante delito em razão da “fama” do agente ou da vida pregressa, como já decidido pelo Superior Tribunal
de Justiça, além do STF exigir fundadas razões da ocorrência de �agrante delito para a realização de buscas
domiciliar sem que haja prévia autorização judicial.
4. É legítima busca domiciliar forçada realizada por policiais militares que sentem cheiro de maconha.
No caso concreto os policiais foram autorizados a entrar na casa pelo agente que buscava documento
de identidade para apresentar aos policiais, momento em que foi sentido o forte cheiro de maconha, o
que somado ao nervosismo do agente, legitimou o ingresso na residência.
Os policiais perceberam o nervosismo do paciente e ao chegarem à residência, já sentiram um forte odor
de maconha, razão pela qual �zeram a busca dentro da residência. No caso concreto os policiais foram
autorizados a entrar na casa pelo agente que buscava documento de identidade para apresentar aos
policiais, momento em que foi sentido o forte cheiro de maconha, o que somado ao nervosismo do
agente, legitimou o ingresso na residência. AgRg no HC 423.838/SP, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, j.
08/02/2018.
Caso concreto
O indivíduo foi abordado na rua, contudo, como não portava seus documentos pessoais, juntamente com os
policiais, se dirigiu à sua residência. No local, a entrada foi franqueada aos policiais que sentiram forte cheiro
de maconha e, somado ao nervosismo do agente, foi a razão pela qual realizaram a busca no imóvel, onde
localizaram grande quantidade e variedade de substâncias entorpecentes.
Fundamentos da decisão
● Há situação de �agrante na medida em que o crime de trá�co de drogas é crime permanente, ou seja, que
se prolonga no tempo, razão pela qual se dispensa o mandado judicial, sendo legítimo o ingresso por policiais
militares em decorrência do estado de �agrância, que foi caracterizado pelo forte odor de maconha.
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Comentários
A maconha armazenada, sobretudo se estiver em grande quantidade, possui um odor bem característico,
sendo possível que o seu cheiro ultrapasse o ambiente. Nesse caso há um elemento concreto, na medida em
que o cheiro da substância con�rma a informação de que naquele local ela é armazenada.
Em que pese o cheiro característico da droga, em outro caso em que uma cadela constatou a presença de
drogas, o que resultou no ingresso de policiais na residência, a apreensão das drogas foi considerada ilícita.
Essa decisão será estudada adiante. Fato é que o cão possui uma capacidade de identi�car drogas com muito
mais precisão do que o ser humano, no entanto as provas foram invalidadas.
No dia a dia da atuação policial não é recomendável que os policiais ingressem na residência com
fundamento, exclusivamente, no cheiro da droga. Apesar de haver essa decisão do Superior Tribunal de
Justiça, as decisões mais recentes têm demonstrado cada vez mais que o STJ realiza uma interpretação bem
restritiva das situações que permitem o ingresso da polícia em residência em situação de �agrante delito,
sem autorização judicial, tanto é que após a decisão que chancelou como legal o ingresso de policiais com
base no cheiro da maconha sentido por policiais, entendeu ser ilegal o ingresso com base no cheiro da droga
sentido por um cão farejador.
De qualquer forma, sendo o cheiro bem forte e característico é prudente que os policiais, caso decidam
entrar, procurem arrolar testemunhas não policiais para darem um maior respaldo probatório à atuação.
Não que a palavra do policial não tenha validade, mas na justiça, certamente, haverá questionamentos e
havendo testemunhas não policiais que con�rmem o cheiro da droga, mais elementos haverá para
comprovar as alegações.
Não obstante seja prudente arrolar testemunhas não policiais, é necessário esclarecer que testemunhas não
policiais têm muito medo de deporem contra tra�cantes e podem não conhecer também o cheiro da
maconha. Como não é possível registrar o cheiro da droga por qualquer meio que não seja por pessoas, um
relato detalhado de todas circunstâncias (local, palavra dos vizinhos, acompanhamento da movimentação,
denúncias etc.) colaborá para o êxito da ocorrência.
5. Denúncia de tra�cância via COPOM, associada a atitude suspeita e emprego de fuga do acusado
autoriza o ingresso forçado em domicílio.
O agente teve o domicílio violado, porquanto teria enveredado, em fuga, para dentro do imóvel, sendo
que os agentes policiais se encontravam em ronda de rotina em local conhecido pelo trá�co de drogas,
quando viuo suposto agente em atitude suspeita. A entrada no domicílio do indivíduo ocorreu em
seguida à fuga para dentro do imóvel. Ocorre que os agentes policiais não estavam lá por eventualidade,
eis que teriam recebido denúncia via “COPOM” de que naquela residência acontecia trá�co de drogas,
supostamente, realizado por pessoa conhecida no meio policial, havendo inclusive a preocupação em se
determinar possíveis agentes envolvidos, tendo sido indicado o indivíduo de cognome “Porco”. 
Veri�ca-se, assim, que a exceção ao postulado da inviabilidade do domicílio ocorreu em razão de denúncia
via “COPOM”, acerca da ocorrência de trá�co, dando conta de que indivíduo de alcunha “Porco” se
encontraria em residência determinada, em poder de substância entorpecente, o que motivou o
deslocamento da força policial até o local, quando se deparou com o agente em atitude suspeita, que
chegou a receber ordem de parada pelos policiais, contudo teria se deslocado em fuga, ou seja, a
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conjunção de fatores contribuíram a dar suporte as fundadas razões para entrada no domicílio. 
STJ, AgRg no HC 607.601/SP, Rel. Ministro Felix Fischer, 5ª Turma, j. em 27/10/2020.
Caso concreto
A guarnição policial tomou conhecimento, via COPOM, de que um indivíduo se encontrava em residência, em
poder de substância entorpecente, o que motivou o deslocamento da força policial até o local. A entrada no
domicílio foi franqueada pela esposa do autor do fato.
Fundamentos da decisão
A entrada no domicílio se deu, após fuga do acusado para dentro da residência, em decorrência de
denúncia via COPOM de que naquela residência acontecia trá�co de drogas, supostamente realizado por
pessoa conhecida no meio policial, além da possibilidade de envolvimento de agentes estatais.
Comentários
Neste julgado o Superior Tribunal de Justiça fez uma distinção com o caso julgado no HC 585.150, pelo
próprio STJ, para afastar o entendimento aplicado anteriormente.
No HC 585.150 o agente teve o domicílio violado, pois teria fugido para dentro de sua casa e os policiais se
encontravam em ronda de rotina, em local conhecido pelo trá�co de drogas, momento em que visualizou o
agente em atitude suspeita. No HC 607.601 o ingresso dos policiais na residência também ocorreu em
seguida à fuga do agente para dentro do imóvel, ocorre que os agentes policiais não estavam lá por
eventualidade, eis que teriam recebido denúncia via COPOM de que naquela residência acontecia trá�co de
drogas, supostamente, realizado por pessoa conhecida no meio policial, havendo inclusive a preocupação em
se determinar possíveis agentes envolvidos, tendo sido indicado o indivíduo de cognome “Porco”.
Veri�ca-se que o traço distintivo reside no fato dos policiais terem se deslocado em direção à residência do
agente após receber um comunicado do Centro de Operações da Polícia Militar, portanto, não estavam ali
eventualmente, já que tinham informações do COPOM que havia trá�co de drogas em determinada
residência.
É importante destacar que as denúncias repassadas ao COPOM assemelham-se aos casos de denúncia
anônima, pois não se tem como certi�car quem é a pessoa que ligou 190 e realizou a denúncia. Em se
tratando de denúncia anônima o STJ possui jurisprudência que não serve – se não houver investigação prévia
– para legitimar o ingresso forçado em residência, ainda que em contexto de fuga do agente após visualizar
os policiais. Nesse sentido:
A existência de denúncia anônima da prática de trá�co de drogas somada à fuga do acusado ao avistar a
polícia, por si sós, não con�guram fundadas razões a autorizar o ingresso policial no domicílio do acusado
sem o seu consentimento ou sem determinação judicial.
RHC 89.853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, j. em 18/2/2020.
HC 610.403/MS, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, j. em 06/10/2020.
6. Investigação inicial de crimes de receptação e falsidade ideológica e posterior suspeita de prática de
tra�cância con�rmada por agentes da Divisão Estadual de Narcóticos, que foram visualizadas ao se
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deslocarem à residência, legitimam o ingresso forçado em domicílio.
No bojo de inquérito policial que apurava a prática dos delitos de receptação e falsidade ideológica, a
equipe de investigação obteve a informação de que o agente também praticava o trá�co de drogas. A
existência da suspeita foi con�rmada por agentes da Divisão Estadual de Narcóticos, sendo informado,
ainda que se dedicava, principalmente, à comercialização de maconha prensada. Posteriormente,
colaboradores não orgânicos comunicaram à autoridade policial que teria alugado um apartamento
apenas para o armazenamento de drogas. Na ocasião, também foi fornecida a localização do imóvel.
Desse modo, ante a existência de informações sobre possível prática de crime de trá�co de drogas no
referido apartamento, os policiais se dirigiram até o local, para averiguação. Embora não tenham sido
atendidos ao baterem à porta do imóvel, os policiais perceberam que esta encontrava-se apenas
encostada. Ao abri-la, visualizaram uma grande quantidade de fardos de maconha prensada. Somente
então os policiais acessaram o interior da residência, na qual lograram encontrar além da elevada
quantidade de drogas, balanças de precisão e caderno com anotações relativas à comercialização de
drogas, o que corroborou as suspeitas e notícias dos ilícitos, justi�cando, assim, o ingresso no
apartamento. 
Quanto à tese de que o ingresso da autoridade policial no domicílio se deu mediante arrombamento, �cou
demonstrado, pelas instâncias ordinárias, que, após se dirigirem ao apartamento e não serem atendidos,
os policiais veri�caram que a porta encontrava-se apenas encostada. Ao empurrá-la, visualizaram uma
grande quantidade de drogas e, então, adentraram na residência, logrando encontrar os entorpecentes e
os objetos já mencionados. 
STJ, AgRg no HC 610.828/SE, Rel. Ministro Felix Fischer, 5ª Turma, j. em 27/10/2020.
Caso concreto
Determinado agente era investigado pelos crimes de trá�co de substância entorpecente e receptação.
Durante as investigações, levantou-se a suspeita de que o agente exercia a tra�cância de substância
entorpecente, fato que foi con�rmado pela Divisão Estadual de Narcóticos que indicou, ainda, o local de
atuação do agente, bem como ao tipo de maconha comercializada.
No local, os policiais não foram atendidos quando bateram na porta, contudo, percebendo que a porta estava
apenas encostada a empurraram, ocasião em que visualizaram grande quantidade de fardos de maconha
prensada.
Fundamentos da decisão
● As circunstâncias do caso concreto extraídas do relatório do inquérito policial legitimaram a entrada
forçada no domicílio, con�gurando exceção à garantia constitucional.
● Consta do inquérito policial, que apurava a prática dos crimes de receptação e falsidade ideológica, que a
equipe obteve informações da Divisão Estadual de Narcóticos de que o agente também era tra�cante de
drogas, dedicando-se principalmente à comercialização de maconha prensada.
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Nota-se que a Polícia Civil lá tinha uma investigação sólida em andamento, de forma que enquanto os crimes
de receptação e falsidade ideológica eram investigados,a Divisão de Narcóticos tinha conhecimento do
exercício da tra�cância pelo agente, inclusive do tipo de droga que comercializada. Essa investigação por
parte da autoridade de polícia judiciária atende à prévia investigação exigida pelo STJ com o �m de legitimar o
ingresso de policiais em residências nas hipóteses de �agrante delito.
Além do mais, percebe-se que os policiais visualizaram a droga do lado de fora do apartamento, uma vez que
a porta não estava trancada e ao a empurrarem foi possível perceber visualmente uma grande quantidade de
droga.
Há dois fatores importantes nesse caso e que justi�cam o ingresso. 1º) Investigação em andamento com
elementos probatórios que identi�cam ser o agente autor de trá�co de drogas e que estas encontram-se
armazenadas na residência; 2º) Situação clara e comprovada de �agrante delito dentro da residência, a partir
do momento em que os policiais, sem adentrar, visualizaram a droga dentro da casa. Isto é, não houve o fator
“sorte”, mas intelectual, estratégico e investigativo decorrente do trabalho policial.
7. Agente encontrado no telhado se desfazendo das drogas autoriza o ingresso forçado em domicílio.
Não se veri�ca ilegalidade quanto à inviolabilidade de domicílio quando for constatado que os policiais,
após o recebimento de denúncia anônima, realizaram diligências para a apuração dos fatos narrados,
dirigindo-se ao endereço apontado, no qual, enquanto aguardavam autorização para a entrada no local,
avistaram o agente em atitude suspeita, em cima do telhado tentando se desfazer das drogas, tendo os
policiais somente ingressado no imóvel após haver fundadas suspeitas da prática do trá�co de drogas na
residência. 
STJ, EDcl no RHC 129.923/MG, Rel. Ministro Ne� Cordeiro, 6ª Turma, j. em 06/10/2020.
Caso concreto
Após recebimento de denúncia anônima, os policiais realizaram diligências para a apuração dos fatos
narrados, dirigindo-se ao endereço indicado, no qual, enquanto aguardavam autorização para entrada,
avistaram o agente em atitude suspeita, em cima do telhado tentando se desfazer das drogas.
Fundamentos da decisão
Não se constata ilegalidade no ingresso em domicílio na hipótese em que a entrada só ocorreu após
fundadas suspeitas da prática de trá�co de drogas na residência, demonstrada pelo fato do agente ser
�agrado pelos policiais em cima do telhado se desfazendo das drogas.
Comentários
No caso a denúncia anônima não foi isolada, pois as informações foram con�rmadas pelos policiais ao
chegarem no local e avistarem o agente descartando a droga pelo telhado da residência. O descarte de droga
é su�ciente para indicar a tra�cância no local e a justa causa para o ingresso no domicílio. De igual modo, não
se revela adequado exigir maiores investigações, na medida em que o agente estava descartando a droga e a
ausência de ação imediata por parte da polícia inequivocamente frustraria a apreensão da droga e a prisão
do agente, o que acabaria por fulminar o princípio da oportunidade na atividade policial. Além do mais, no
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crime de trá�co de drogas, a ausência da apreensão das drogas acaba por inviabilizar a persecução penal
contra o agente.
8. Denúncia anônima associada à fuga de agentes, que portavam arma de fogo e rádios
comunicadores, e relato de usuários que o local é ponto de venda e consumo de drogas, legitima
ingresso forçado em domicílio.
A fuga de suspeitos em direção à residência, os quais possuíam arma de fogo e rádios comunicadores,
bem como o relato de usuário de drogas, con�rmando que ali funcionava um local de venda e consumo
de drogas, legitimou a entrada dos policiais no domicílio, ainda que sem autorização judicial, pois
devidamente justi�cada pelas fundadas razões referidas. 
STJ, HC 500.101/RS, Rel. Ministro Reynaldo Soares Da Fonseca, 5ª Turma, j. em 11/06/2019.
Caso Concreto
Os policiais estavam em patrulhamento de rotina quando receberam a informação de ocorrência de trá�co
no local, para onde se dirigiram e lá avistaram duas mulheres sentadas num banco, no lado oposto, estavam
um homem no portão e um adolescente no pátio, o qual, ao visualizar a polícia, tentou empreender fuga para
o interior da residência.
Realizada a abordagem nas mulheres, uma portava arma de fogo, ao passo que a outra portava um rádio
comunicador. No mesmo instante foram abordados o homem e o adolescente infrator que também
possuíam rádio comunicador e arma de fogo.
No interior do imóvel estavam outras mulheres em volta de uma mesa sobre a qual existia grande
quantidade de drogas e artefatos bélicos. Nos demais cômodos da residência foram encontrados outros
artefatos bélicos e mais substâncias entorpecentes.
Fundamentos da decisão
As circunstâncias do caso concreto consistente em (a) denúncia anônima sobre a tra�cância no local; (b)
fuga de suspeitos em direção à residência, os quais possuíam arma de fogo e comunicadores e (c) relato de
usuário de drogas, con�rmando que no local funcionava boca de fumo, são su�cientes para autorizar o
ingresso forçado em domicílio.
O caráter permanente do crime de trá�co autoriza a prisão em �agrante, o que legitima o ingresso no
domicílio ainda que sem autorização judicial.
A residência funcionava como boca de fumo, onde são armazenadas e vendidas substâncias entorpecentes,
o que signi�ca dizer que a todo momento o crime é praticado nas modalidades “ter em depósito” e
“guardar”.
Comentários
Nesse caso existiam elementos su�cientes para indicar a tra�cância. Os agentes foram abordados portando
arma de fogo e rádios comunicadores, o que somado à denúncia anônima, ao local conhecido como boa de
fumo e fuga de suspeitos em direção à residência, tornaram-se elementos su�cientes para a abordagem e
posterior ingresso forçado no domicílio.
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Observa-se do julgado que havia certa estrutura na atividade desempenhada, a�nal, portavam arma de fogo
e rádios comunicadores.
Embora o STJ, na maioria dos julgados, sustente a exigência de investigação preliminar, essa não é
imprescindível se há elementos concretos su�cientes para indicar a guarda ou depósito da substância em
residência, como aconteceu nesse caso concreto.
9. Denúncia anônima, associada à fuga e descarte de droga autorizam o ingresso forçado.
No caso em exame, a justa causa para a adoção da medida de busca e apreensão sem mandado judicial
evidencia-se no fato de que os policiais militares, impulsionados por denúncia anônima sobre a ocorrência
de comércio de drogas, foram até o local onde se encontrava o réu que, de pronto, tentou empreender
fuga, lançando uma sacola de plástica sobre a laje da casa em que estava, na qual foram encontrados 26
microtubos de cocaína e 4 porções de maconha. 
STJ, AgRg no HC 516.746/SP, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, 5ª Turma, j. em 15/08/2019.
Caso concreto
Após denúncia anônima de ocorrência de trá�co de drogas, os policiais se dirigiram ao local onde se
encontrava um indivíduo que tentou empreender fuga e, no ato, descartou sacola plástica sobre a laje da
casa, na qual continha substâncias entorpecentes.
Fundamentos da decisão
A justa causa para a adoção da medida de busca e apreensão sem mandado judicial evidencia-se no fato de
que os policiais militares, após denúncia anônima sobre a ocorrência de comércio de drogas, foram até o
local onde se encontrava o indivíduo que, de pronto, tentou empreender fuga, lançando uma sacola de
plástica sobre a laje da casa em que estava, na qual foram encontrados 26 micro tubos de cocaína e4
porções de maconha.
A natureza permanente do crime de trá�co, diante da justa causa apresentada não con�gurou ilegalidade
no ingresso forçado.
Comentários
Essa hipótese diferencia-se das demais nas quais só temos a denúncia anônima associada à fuga. Neste caso
há um fator relevante, consistente no fato de que, naquele momento, o agente estava na posse de drogas,
pois as arremessou sobre a laje, o que concedeu maior segurança jurídica para a atuação policial, ainda que
sem autorização judicial.
10. Bar não se enquadra no conceito de domicílio, ainda que por extensão.
As drogas encontradas pelos policiais militares no bar do Paciente (dentro de uma bolsa próxima ao
balcão), ou seja, em local aparentemente aberto ao público, não se enquadra no conceito de domicílio,
ainda que por extensão. 
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STJ, HC 468.968/PR, Rel. Ministra Laurita Vaz, 6ª Turma, j. em 07/05/2019.
Caso concreto
Os policiais avistaram o agente em atitude suspeita em frente a um bar junto a uma residência, o que
motivou a entrada no local onde encontraram uma bolsa no balcão, a qual continha substâncias
entorpecentes.
Fundamentos da decisão
As drogas foram encontradas pelos policiais militares no bar do agente dentro de uma bolsa que estava
próxima ao balcão, ou seja, em local aparentemente aberto ao público que não se enquadra no conceito de
domicílio.
De acordo com a doutrina do professor Guilherme de Souza Nucci, “as áreas abertas ao público podem ser
objeto de busca e, porventura, de apreensão de algo interessante à investigação”.
Comentários
Nesse caso, interessante comentar aqui a tese da defesa de que o bar era a residência do paciente e que
naquele momento estava tendo uma festa (chá de fraldas) do proprietário. O STJ não entrou nesse mérito,
pois entendeu que isso exigiria o exame probatório, o que é incabível em sede de Habeas Corpus.
É importante esclarecer que, de acordo com o art. 150, §4º do Código Penal, casa compreende o
compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce pro�ssão ou atividade. Trata-se de hipótese que
contempla o espaço de trabalho, com vista a assegurar a necessária tranquilidade para o desempenho das
funções.
Nos locais de trabalho, seja público ou privado, pois a lei não distingue, o espaço fechado ao público é
considerado “casa” e possui proteção constitucional. Dessa forma, considera-se “casa” a parte interna de um
barzinho ou restaurante (dentro do balcão); o consultório médico na área que o médico atende (a sala de
espera é aberta ao público); o escritório de advocacia; o gabinete de um juiz, promotor, delegado ou
comandante; a parte interna dos cartórios judiciais e extrajudiciais; cozinhas de bares, restaurantes e hotéis,
quando não houver o direito de visitar, o que decorre de previsão em lei; as lavanderias e quaisquer espaços
fechados ao público em que as pessoas exerçam pro�ssão ou atividade; o local onde as garotas de programa
atendem seus clientes em uma casa da prostituição.
Desse modo, se no momento da festa o bar não estava aberto ao público externo, mas atendendo somente a
amigos e familiares do proprietário que se encontrava em uma festa particular não seria possível o ingresso
dos policiais sem autorização judicial se não houvesse elementos concretos que indicassem a ocorrência de
�agrante delito. Isso porque o espaço fechado ao público é considerado “casa” e possui proteção
constitucional. 
Diferente seria o caso se o bar estivesse aberto ao público e a bolsa fosse encontrada próxima ao balcão ou
sobre ele, o que autorizaria o �agrante.
11. É lícito o ingresso em domicílio no caso em que policiais abordem indivíduo na via pública, em
atividade duvidosa, sem documentos e que não saiba responder a perguntas básicas, e que aponte
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como lugar de moradia uma construção inacabada, sendo em seguida apontado o real endereço por
vizinhos.
No caso, os policiais abordaram indivíduo na via pública em atividade duvidosa, sem documentos e que
não sabia responder perguntas básicas, que apontou como lugar de moradia uma construção inacabada,
o que gerou a fundada suspeita de um comportamento ilícito. Havendo informações de vizinhos do real
endereço do abordado, o ingresso na residência estava motivado, independentemente de mandado
judicial. No local, houve a prisão em �agrante do paciente e demais corréus com grande quantidade de
drogas. 
STJ, AgInt no HC 484.111/SP, Rel. Ministro Jorge Mussi, 5ª Turma, j. em 07/02/2019.
Caso concreto
O agente foi abordado pilotando moto com placa de outro estado da federação e não portava documentos,
além de fornecer informações pessoais contraditórias que motivaram os agentes a se dirigir até a residência.
No local nada foi encontrado. Contudo, na saída, um transeunte informou que o agente residia em outra
casa, para onde se dirigiram os policiais que surpreenderam o agente e seu comparsa embalando e
preparando cocaína para comercialização.
Fundamentos da decisão
Não há irregularidade no ingresso sem prévio mandado em razão da prática do crime de trá�co de
entorpecentes que é infração permanente e admite prisão em �agrante a qualquer tempo.
O contexto fático da abordagem, conforme relatado no caso concreto, legitimou o ingresso na residência,
em razão do �agrante delito.
Comentários
Veri�ca-se que, nesse caso, a princípio, não fosse pela ausência de documentos, talvez o resultado fosse
diferente.
Depreende-se que o que motivou os policiais a se dirigirem à residência do agente foi a ausência de
documento enquanto pilotava uma moto com placa de outro estado da federação.
O STJ entendeu su�ciente as razões do ingresso, haja vista a informação prestada por transeunte que o
agente residia em local diverso daquele apontado por ele. Neste local foi encontrada grande quantidade de
entorpecente que indica a tra�cância.
O STJ no HC 609.982 entendeu ser ilegítimo o ingresso em residência com fundamento em denúncia anônima
e em razão de con�rmação de vizinho, o que se aproxima deste caso, mas possui como traço distintivo o fato
do indivíduo não portar documentos enquanto pilotava a moto e não ter indicado o endereço correto quando
solicitado pela polícia, o que, certamente, foi essencial para o STJ considerar o ingresso na residência lícito.
12. Box do tipo self storage não se enquadra no conceito de domicílio. Atenção: Em que pese não ser
considerado domicílio, não signi�ca que o ingresso é livre, devendo haver elementos que demonstrem
a situação de �agrante delito, sobretudo diante do disposto no art. 22 da Lei n. 13.869/19.
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O local onde foram apreendidos os entorpecentes não se enquadra no conceito de domicílio, ainda que
por extensão, uma vez que se trata de box, do tipo self storage, locado para �ns de guarda de bens ou
mercadorias, não merecendo a proteção constitucional elencada no inciso XI da CF, por não con�gurar
ambiente privado no qual haja exercício de pro�ssão ou atividade. 
STJ, RHC 86.561/SP, Rel. Ministro Antonio Saldanha Palheiro, 6ª Turma, j.em 21/08/2018.
Caso concreto
Auditores da receita federal se dirigiram a uma empresa de locação de boxes para �scalização. Após ingresso
no local, foi fornecido à auditora uma lista de locatáriose, de imediato, passou a �scalizar os boxes. A ação
tinha por objetivo �scalizar mercadorias e durante o ato observaram que três boxes estavam em nome de
pessoa física, contudo, armazenavam mercadorias, o que levantou a suspeita da equipe face a proibição, já
que mercadorias devem estar em nome de pessoas jurídicas. Após informações prestadas pela funcionária
do estabelecimento, a equipe resolveu abrir um dos boxes ocasião em que encontraram em seu interior
substâncias que aparentavam ser entorpecentes como ecstasy e lança-perfume, além de anabolizantes,
medicamentos e suplementos alimentares.
Fundamentos da decisão
O crime de trá�co de entorpecentes é delito permanente que dispensa o mandado de busca e apreensão
para ingresso forçado em domicílio.
O STF �rmou entendimento, em sede de repercussão geral no RE nº 603.616/RO, de que o ingresso forçado
em domicílio sem mandado judicial apenas se revela legítimo quando amparado em fundadas razões
devidamente justi�cadas pelas circunstâncias do caso concreto, que indiquem que naquele momento há
situação de �agrante delito no interior da residência.
O local da diligência era box utilizado para comércio ou guarda de objetos, que não se considera
compartimento privado no qual alguém exerce pro�ssão ou atividade.
A �scalização era rotineira e a descoberta se deu fortuitamente em razão de suspeita levantada acerca do
tipo de mercadoria guardada nos boxes alugados com imediata requisição de acompanhamento pela
polícia militar e pelo DENARC.
Comentários
Box Self Storage consiste em um espaço, geralmente, alugado para a guarda de bens. Tome como exemplo
uma pessoa que trabalha de casa, mas não tem onde guardar os produtos de seu comércio. Ela decide alugar
um box self storage para guardar os bens, o que pode ocorrer quando uma pessoa se muda para uma casa
menor, mas também não tem espaço para guardar alguns móveis. O mercado de self storage tem crescido no
Brasil. Self Storage signi�ca “armazenamento pessoal”.
O Superior Tribunal de Justiça decidiu que o box do tipo self storage não se enquadra no conceito de
domicílio.
Fundamentou que “embora alegue a defesa a ilicitude dos elementos de prova colhidos, ao argumento de
que houve violação à garantia da inviolabilidade de domicílio comercial do recorrente, não há que se falar em
domicílio. Isso porque o local onde foram apreendidos os entorpecentes não se enquadra no conceito de
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domicílio, ainda que por extensão, uma vez que se trata de box, do tipo self storage, locado para �ns de
guarda de bens ou mercadorias, não merecendo a proteção constitucional elencada no inciso XI da CF, por
não con�gurar ambiente privado no qual haja exercício de pro�ssão ou atividade.”
No caso concreto auditores da Receita Federal durante a �scalização localizaram entorpecentes como ecstasy
e lança-perfume, além de anabolizantes, medicamentos e suplementos alimentares, sendo a Polícia Militar
acionada.
Portanto, é possível que policiais realizem buscas em box self storage, ainda que não haja autorização
judicial. De qualquer modo a busca indiscriminada, sem que haja um mínimo de elementos que justi�que,
não deve ocorrer. Em que pese não ser considerado “casa” para �ns de proteção à inviolabilidade, como
regra, qualquer medida invasiva, inclusive, abordagem policial, deve haver elementos mínimos (fundada
suspeita). No caso pode-se falar em uma exigência inferior para ingressar em um box self storage, se
comparado a uma residência.
Diante do conceito de casa como compartimento habitado ou não aberto ao público onde alguém exerce
pro�ssão ou atividade, depreende-se que o box “self storage” embora tenha por objetivo armazenar objetos
pessoais ou inerentes à atividade empresarial não se inclui no conceito de casa, na medida em que não é
extensão da residência, pois é locado para �ns de guarda de  bens ou mercadorias, não merecendo a
proteção constitucional  elencada no inciso XI da CF, por não con�gurar ambiente privado  no qual haja
exercício de pro�ssão ou atividade.
A situação seria diversa se fosse um depósito localizado dentro do terreno onde também se situa a residência
da pessoa, nesse caso, o depósito seria extensão da casa.
Desse modo, de fato, não houve ilegalidade, especialmente diante da suspeita levantada quanto ao tipo de
material armazenado e pelo fato de pessoa física armazenar, em nome próprio, mercadoria, o que motivou
os agentes federais a abrirem o box.
É importante consignar que o art. 22 da Lei n. 13.869/19 considera crime de abuso de autoridade o ato de
invadir ou adentrar, sem os requisitos legais, imóvel alheio ou suas dependências.
Art. 22.  Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante, imóvel
alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem determinação judicial ou
fora das condições estabelecidas em lei:
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (destaque nosso)
O Box Self Storage encaixa-se no conceito de um imóvel alheio, ainda que não utilizado para �ns residenciais.
Por ser um imóvel com destinação social e utilizado por quem loca deve receber a proteção da
inviolabilidade, dado o direito a privacidade (art. 5º, X, da CF). Por não ser considerado casa, certamente,
haverá um menor rigor quanto às exigências para ingressar no box e realizar buscas. De qualquer forma, os
ingressos devem ocorrer somente nas hipóteses em que houver fundamentos concretos, como o caso de
�agrante delito.
Destaco que o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que a falta de autorização judicial não invalida busca em
imóvel desabitado, pois “a proteção constitucional de que goza a propriedade privada, ainda que desabitada,
não se veri�ca nulidade na busca e apreensão efetuada por policiais, sem prévio mandado judicial, em
apartamento que não revela sinais de habitação, nem mesmo de forma transitória ou eventual, se a aparente
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ausência de residentes no local se alia à fundada suspeita de que tal imóvel é utilizado para a prática de crime
permanente (armazenamento de drogas e armas), o que afastaria a proteção constitucional concedida à
residência/domicílio.”
Nota-se que a ocupação do imóvel e o grau de intimidade e privacidade afetados parecem ser sopesados pelo
Superior Tribunal de Justiça ao analisar o rigor para o ingresso em imóveis sem mandado judicial.
A seguir analisaremos os julgados nos quais o Superior Tribunal de Justiça entendeu pela ilegalidade
do ingresso.
1. Denúncia anônima con�rmada por vizinho desacompanhada de investigação preliminar não
legitima o ingresso em domicílio.
Denúncias de origem não identi�cada, que por si não servem de qualquer modo como prova, e o
subsequente ingresso imediato no domicílio, sem quaisquer diligências investigatórias adicionais prévias,
não cumprem ao requisito de fundamentos razoáveis da existência de crime permanente dentro do
domicílio. 
STJ, HC 609.982/RS, Rel. Ministro Ne� Cordeiro, 6ª Turma, j. em 15/12/2020.
Caso Concreto
A polícia recebeu informações anônimas de que numa determinada residência existiam armas de fogo e
drogas armazenadas, o que foi con�rmado por uma vizinha próxima da residência. Os policiais cercaram o
local e, sem mandado judicial, adentaram na residência, ocasião em que apreenderam entorpecentes e uma
arma de fogo que foi descartada pela janela pelo �agrado.
Fundamentos da decisão
A jurisprudência do STJ é no sentido de que são exigíveis fundamentos razoáveis da

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