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Mestrado em Engenharia Biomédica Análise Computacional de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Monografia Gabriela Coelho de Pinho Queirós Porto, 15 de Julho de 2011 Análise Computacional de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Dissertação realizada no âmbito da disciplina de Monografia do Mestrado em Engenharia Biomédica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Gabriela Coelho de Pinho Queirós Licenciada em Bioengenharia pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa Orientador: João Manuel R. S. Tavares Prof. Auxiliar do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Gabriela Coelho de Pinho Queirós 2 Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Resumo Gabriela Coelho de Pinho Queirós 3 Resumo: Esta Monografia, realizada no âmbito da disciplina de Monografia do Mestrado em Engenharia Biomédica enquadra-se no domínio das metodologias e sistemas computacionais para análise de imagens e os seus principais objectivos foram a realização de um primeiro estudo bibliográfico para uma melhor familiarização com o tema a ser desenvolvido durante o próximo ano lectivo no âmbito da Tese. Sabendo que as imagens obtidas a partir da tecnologia de Ressonância Magnética Funcional permitiram um grande avanço na medicina relativamente ao conhecimento do funcionamento do cérebro, tornou-se pertinente estudá-la nomeadamente como método de investigação dos efeitos da Acupunctura. Isto permitiu também adquirir conhecimentos relativos ao processamento das imagens que será necessário durante o desenvolver da dissertação. Palavras-chave: fMRI, Análise Computacional, Processamento de Imagem, Acupunctura, Cérebro Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Agradecimentos Gabriela Coelho de Pinho Queirós 4 Agradecimentos Ao Professor João Tavares, por toda a disponibilidade e apoio para a realização deste trabalho. A todos aqueles que de uma maneira mais ou menos presente me apoiaram durante o período de todo o seu desenvolvimento. Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Índices Gabriela Coelho de Pinho Queirós 5 Índice: Resumo .............................................................................................................. 3 Agradecimentos ................................................................................................. 4 Índice de Figuras ................................................................................................ 6 Índice de Tabelas ............................................................................................... 7 Glossário ............................................................................................................ 8 Capítulo 1 – Introdução ...................................................................................... 9 1.1 – Enquadramento e Objectivos ............................................................. 9 1.2 – Contextualização Histórica .............................................................. 10 Capítulo 2 – Ressonância Magnética ............................................................... 13 2.1 – Princípios Físicos ............................................................................. 13 2.2 – Princípios de Instrumentação .......................................................... 19 2.3 – Aplicações da Ressonância Magnética........................................... 22 Capítulo 3 – Ressonância Magnética Funcional .............................................. 23 3.1 – O Cérebro (Bases de Anatomia e Fisiologia) .................................. 23 3.2 – Aplicações da fMRI ........................................................................... 27 3.2.1 – Organização de um estudo de fMRI ....................................... 28 Capítulo 4 – Medicina Tradicional Chinesa – A Acupunctura ........................... 30 Capítulo 5 – Processamento dos dados de fMRI ............................................. 32 5.1 – Pré-Processamento .......................................................................... 32 5.1.1 – Correcção do movimento ........................................................ 33 5.1.2 – Correcção temporal ................................................................. 33 5.1.3 – Suavização espacial ................................................................ 33 5.2 – Segmentação ..................................................................................... 34 Capítulo 6 – Considerações finais e Perspectivas futuras ............................... 37 Bibliografia ........................................................................................................ 38 Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Índices Gabriela Coelho de Pinho Queirós 6 Índice de Figuras: Figura 1 – Scanner de MRI MAGNETOM Symphony (Madihally, 2010). ......... 10 Figura 2 – Scanner de MRI “aberto”, MAGNETOM C!, Open MRI (Madihally, 2010). ............................................................................................................... 11 Figura 3 – Representação do momento angular de ......................................... 13 Figura 4 – Representação da magnetização microscópica de um núcleo (Prince & Links, 2005) .................................................................................................. 14 Figura 5 – Representação dos protões de forma aleatória .............................. 15 Figura 6 - Alinhamento dos protões após serem colocados sob um campo magnético forte (B0).......................................................................................... 15 Figura 7 – Representação da frequência precessão dos protões em torno do eixo z do campo magnético forte (B0)............................................................... 15 Figura 8 – Variação da relaxação longitudinal ao longo do tempo (Mazzola, 2009) ................................................................................................................ 16 Figura 9 – Variação da magnetização no plano transversal ao longo do tempo (Mazzola, 2009) ................................................................................................ 16 Figura 10 – Diagrama da sequência de impulsos para gerar spin ecos (Prince & Links, 2005) ...................................................................................................... 17 Figura 11 – Decaimento livre de indução, causado pela relaxação transversal (Prince & Links, 2005). ..................................................................................... 18 Figura 12 – Organização de um sistema típico de MRI (Khandpur, 2004) ....... 19 Figura 13 – Esquema da constituição de um íman supercondutor (Prince & Links, 2005) ...................................................................................................... 20 Figura 14 – Diagrama de blocos do sistema de detecção (Khandpur, 2004) ... 21 Figura 15 – Consola de operação do scanner de MRI (Prince & Links, 2005) . 21 Figura 16 – Esquema da construção de um scanner de MRI (Bronzino, 2000) 22 Figura 17 – Ilustração do cérebro humano. ...................................................... 23 Figura 18 – Divisão dos lobos cerebrais. ......................................................... 24 Figura 19 – Visualizações lateral e medial dos hemisférios cerebrais (Ramachandran, 2002). ................................................................................... 26 Figura 20 – Aplicação de um kernel de suavização Gaussiano 3-D ................ 34 file:///C:/Users/Gabi/Documents/MESTRADO%20FEUP/Monografia/PROJECTO%20Monografia/Monografia_Gabriela_Queiros.docx%23_Toc298447652file:///C:/Users/Gabi/Documents/MESTRADO%20FEUP/Monografia/PROJECTO%20Monografia/Monografia_Gabriela_Queiros.docx%23_Toc298447652 file:///C:/Users/Gabi/Documents/MESTRADO%20FEUP/Monografia/PROJECTO%20Monografia/Monografia_Gabriela_Queiros.docx%23_Toc298447653 file:///C:/Users/Gabi/Documents/MESTRADO%20FEUP/Monografia/PROJECTO%20Monografia/Monografia_Gabriela_Queiros.docx%23_Toc298447654 file:///C:/Users/Gabi/Documents/MESTRADO%20FEUP/Monografia/PROJECTO%20Monografia/Monografia_Gabriela_Queiros.docx%23_Toc298447654 file:///C:/Users/Gabi/Documents/MESTRADO%20FEUP/Monografia/PROJECTO%20Monografia/Monografia_Gabriela_Queiros.docx%23_Toc298447656 file:///C:/Users/Gabi/Documents/MESTRADO%20FEUP/Monografia/PROJECTO%20Monografia/Monografia_Gabriela_Queiros.docx%23_Toc298447656 file:///C:/Users/Gabi/Documents/MESTRADO%20FEUP/Monografia/PROJECTO%20Monografia/Monografia_Gabriela_Queiros.docx%23_Toc298447657 file:///C:/Users/Gabi/Documents/MESTRADO%20FEUP/Monografia/PROJECTO%20Monografia/Monografia_Gabriela_Queiros.docx%23_Toc298447657 file:///C:/Users/Gabi/Documents/MESTRADO%20FEUP/Monografia/PROJECTO%20Monografia/Monografia_Gabriela_Queiros.docx%23_Toc298447663 Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Índices Gabriela Coelho de Pinho Queirós 7 Índice de Tabelas: Tabela 1 – Valores da Razão Giromagnética ................................................... 14 Tabela 2 – Valores aproximados de T1 e T2 para diferentes tecidos (Hobbie & Roth, 2007) ....................................................................................................... 17 Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Glossário Gabriela Coelho de Pinho Queirós 8 Glossário: 1H – Hidrogénio 2D – Duas dimensões B0 – campo magnético BOLD – Blood oxygenation level dependent CT – Tomografia Computorizada (Computed Tomography) dHb – Desoxihemoglobina FID – decaimento livre de indução fMRI – Ressonância Magnética Funcional (Functional Magnetic Resonance Imaging) HbO2 – Oxihemoglobina M0 – magnetização ML – Magnetização longitudinal MRI – Ressonância Magnética (Magnetic Resonance Imaging) Mxy – Magnetização transversal NMR – Ressonância Magnética Nuclear (Nuclear Magnetic Resonance) PET – Tomografia por Emissão de Positrões (Positron Emission Tomography) RF – Radiofrequência ROI – Região de interesse ROI – Região de interesse SNR – Relação sinal-ruído SPM – mapa estatístico paramétrico T1 – Relaxação longitudinal T2 – Relaxação transversal xoy – plano transversal Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Introdução Gabriela Coelho de Pinho Queirós 9 Capítulo 1 – Introdução A Engenharia Biomédica reúne princípios de engenharia, medicina, física, química e biologia com o grande objectivo de fazer progredir os cuidados de saúde disponíveis para a sociedade. Congregando conhecimento proveniente das mais variadas disciplinas, os engenheiros biomédicos são capazes de desenhar instrumentos, dispositivos e ferramentas computacionais médicas bem como realizar estudos e pesquisas para adquirir e aprofundar conhecimentos necessários à resolução das mais diversas problemáticas. A área da Imagiologia Médica possibilita a obtenção de informação relativa à fisiologia e anatomia de órgãos internos de um modo não-invasivo através das mais variadas técnicas actualmente existentes como a Ressonância Magnética (MRI), o Raio-X (R-X), a Tomografia Computorizada (CT) e a Tomografia por Emissão de Positrões (PET). Graças a estas torna-se possível uma detecção precoce de doenças, uma melhor coordenação de tratamentos médicos e mesmo um melhor conhecimento geral da actividade molecular dos organismos vivos. A Engenharia Biomédica tem assim um papel fundamental nesta área através do design, construção e análise de sistemas de imagiologia médica, o que permite que esta seja uma área com enorme expansão nos campos da instrumentação e da análise computacional (Madihally, 2010). 1.1 – Enquadramento e Objectivos Este trabalho, incluído no âmbito da disciplina de Monografia do Mestrado em Engenharia Biomédica insere-se no domínio das metodologias e sistemas computacionais para análise de imagens. Os principais objectivos desta monografia consistem na realização de um primeiro estudo bibliográfico relativamente aprofundado para uma inicial familiarização com o tema a ser desenvolvido durante o próximo ano lectivo no âmbito da Tese. Pretende-se realizar uma primeira abordagem aos princípios da MRI para posteriormente estudar os fundamentos e métodos de análise de imagens médicas de Ressonância Magnética Funcional (fMRI). Será ainda Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Introdução Gabriela Coelho de Pinho Queirós 10 abordada a aplicação desta técnica para a avaliação de uma área da medicina tradicional chinesa, a acupunctura, passível de ser utilizada no decorrer do desenvolvimento do tema da dissertação de mestrado. 1.2 – Contextualização Histórica A história da imagiologia teve o seu início há muitos séculos atrás com a descoberta de conceitos fundamentais de física, biologia e química. Mas o seu verdadeiro impulso deu-se em 1895, pelo físico alemão Wilhelm C. Roentgen, com a descoberta acidental da radiação X que permitiu a obtenção da primeira imagem médica, uma radiografia da mão esquerda da sua esposa. Durante várias décadas o Raio-X foi a fonte de imagens médicas e pela década de 30 este já era utilizado para visualizar grande parte dos órgãos humanos. Em 1942 Karl T. Dussik, neurologista austríaco relatou a primeira utilização de ultra-sons como meio de diagnóstico e em 1968 o ginecologista e obstetra Stuart Campbell publicou um método melhorado de imagens de ultra- som que viria posteriormente a ser utilizado de modo corrente na examinação de fetos durante a gravidez (Madihally, 2010). Posteriormente a radiografia expandiu para tomografia computorizada por transmissão e permitiu a Godfrey Hounsfield a construção do primeiro scanner de CT, em 1972, através da utilização da metodologia matemática de reconstrução de imagens desenvolvida por Allan Cormack, na década anterior. Estas descobertas valeram a estes dois cientistas o Prémio Nobel da Medicina em 1979. Figura 1 – Scanner de MRI MAGNETOM Symphony (Madihally, 2010). Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Introdução Gabriela Coelho de Pinho Queirós 11 O fenómeno da Ressonância Magnética Nuclear (NMR) foi primeiramente descrito por Felix Bloch e Edward Purcell, na década de 50 mas foi apenas em 1971 que surgiu o primeiro trabalho da aplicação da NMR para a obtenção de imagens médicas (Prince & Links, 2005). Trabalho este desenvolvido pelo investigador americano Raymond V. Damadian que mostrou que o tempo de relaxação magnético dos tecidos diferia do dos tumores. No início da década de 80 a MRI foi considerada como a nova maneira de tirar fotografias ao interior do corpo humano e tal impulsionou os investigadores a tornarem esta tecnologia num método robusto e sofisticado de obtenção destas imagens através da utilização de scanners como o da Figura 1. Desenvolvimentos na tecnologia magnética tais como o aparecimento de electroímanes supercondutores tornaram possível obter imagens com melhor qualidade e também o aparecimento da MRI “aberta”, com scanners como mostra a Figura 2 possibilitaram que esta tecnologia fosse cada vez mais aceite pelos pacientes. Figura 2 – Scanner de MRI “aberto”, MAGNETOM C!, Open MRI (Madihally, 2010). Em 1990, Seiji Ogawa, biofísico japonês descobriu, em trabalhos com a parceria dos Laboratórios AT&T’s Bell, que a desoxihemoglobina (dHb) quando sob influência de um campo magnético, aumentava a força do campo na sua vizinhança enquanto a oxihemoglobina (HbO2) não. Foi a descoberta deste fenómeno que conduziu ao desenvolvimento da Ressonância MagnéticaFuncional (fMRI), a qual permite obter imagens dos órgãos em funcionamento ou estudar as diferentes funções dos mesmos. Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Introdução Gabriela Coelho de Pinho Queirós 12 A melhoria destas tecnologias tem ainda sido possível com o desenvolvimento da área de análise computacional, através da criação de algoritmos cada vez mais sofisticados que permitem a extracção de informação volumétrica estrutural e funcional para a medição, processamento, visualização e análise de imagens (Madihally, 2010). Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Nuclear Gabriela Coelho de Pinho Queirós 13 Capítulo 2 – Ressonância Magnética A MRI é uma técnica de imagiologia tomográfica capaz de produzir imagens de características internas físicas e químicas de um dado corpo através da medição externa dos sinais de ressonância magnética. A tomografia é uma área muito importante da imagiologia, o termo grego tomos significa “corte” mas esta possibilita a obtenção de imagens do interior do corpo sem que haja de facto um corte deste. Assim com o recurso a um scanner de MRI é possível obter conjuntos de dados ou imagens multidimensionais representativas da distribuição espacial de uma dada medida de quantidade física. É possível gerar imagens seccionadas de 2 dimensões (2D) com qualquer orientação, imagens volumétricas 3D e até imagens 4D das distribuições espaço-espectral ou espaço-temporal. Outra particularidade desta tecnologia está na natureza dos sinais utilizados para formar as imagens uma vez que, ao contrário das outras tecnologias, não necessita de recorrer a partículas com radiação para gerar os sinais captados (Landini, Positano, & Santarelli, 2005). 2.1 – Princípios Físicos Os protões e os neutrões constituintes dos núcleos atómicos possuem uma propriedade denominada momento angular spin (Φ) que apresenta magnitude e direcção e que está na base do fenómeno de NMR. Este momento angular ou spin do núcleo pode ser considerado como resultado do movimento rotacional ou giratório do núcleo em torno do seu próprio eixo cuja ilustração se encontra na Figura 3. O hidrogénio (1H) é o elemento mais abundante no corpo e por isso o elemento de maior interesse para a obtenção das imagens anatómicas de MRI possibilitando um sinal de MRI mais forte. Figura 3 – Representação do momento angular de um núcleo (Prince & Links, 2005) Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Nuclear Gabriela Coelho de Pinho Queirós 14 Sendo o núcleo uma partícula carregada, o spin faz-se acompanhar por um vector de momento magnético (μ), cuja representação do campo de magnetização se encontra na Figura 4 e cuja relação com o momento angular spin é dada pela expressão: (Equação 1) onde γ representa a razão giromagnética que é uma característica particular dos núcleos. A Tabela 1 apresenta os valores da razão giromagnética de alguns elementos mais comuns (Prince & Links, 2005): Tabela 1 – Valores da Razão Giromagnética Razão Giromagnética (MHz/T) 1H 42.58 13C 10.71 19F 40.05 31P 11.26 Na MRI o sinal obtido é produzido pelo campo magnético do 1H, sendo este um sinal muito pequeno para induzir uma corrente passível de ser detectada por uma bobine. Assim torna-se necessário o alinhamento dos protões para que seja possível a produção de um momento magnético suficientemente grande para ser detectado. Como a orientação dos protões é completamente aleatória como na Figura 5, os seus vectores de momento magnético vão apresentar várias direcções diferentes o que leva a que se cancelem uns aos outros. No entanto, quando estes são colocados sob a influência de um campo magnético externo (B0) dá-se o alinhamento dos spins na mesma direcção do campo mas nem todos os vectores têm o mesmo sentido. O que ocorre é que a maioria dos protões vai alinhar-se no mesmo sentido do campo, que corresponde a um Figura 4 – Representação da magnetização microscópica de um núcleo (Prince & Links, 2005) Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Nuclear Gabriela Coelho de Pinho Queirós 15 estado energético menor (Paralelo), e os restantes vão alinhar-se no sentido oposto, correspondente a um estado de maior energia (Anti-Paralelo) ilustrado na Figura 6. Esta diferença vai provocar um constante desequilíbrio que levará a uma magnetização (M0) do tecido responsável pela obtenção da MRI (Landini, Positano, & Santarelli, 2005). A frequência à qual os núcleos giram, representada na Figura 7, também conhecida por frequência de Larmor ou frequência de precessão é proporcional à razão giromagnética e à amplitude do campo magnético externo aplicada: (Equação 2) Assim, ao submetermos os protões à acção de um campo de radiofrequências como a frequência de precessão vamos estar a provocar o fenómeno de ressonância e isto vai levar a que ocorra um aumento do número de spins anti-paralelos e que os spins sejam colocados em fase. Figura 7 – Representação da frequência precessão dos protões em torno do eixo z do campo magnético forte (B0) A amplitude e a duração dos impulsos desta frequência vão determinar os efeitos provocados e o sinal medido vai ser a magnetização transversal, Figura 5 – Representação dos protões de forma aleatória Figura 6 - Alinhamento dos protões após serem colocados sob um campo magnético forte (B0) Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Nuclear Gabriela Coelho de Pinho Queirós 16 sinal que só vai ser possível detectar-se através de bobinas que captam a radiofrequência no momento em que os protões apresentam a frequência de precessão em fase, isto é, a girar em torno do eixo longitudinal z (Prince & Links, 2005). No momento em que a radiofrequência (RF) é interrompida, a magnetização transversal diminui e vai desaparecer ao contrário da magnetização longitudinal que vai aumentar, isto é, os protões vão regressar ao seu estado de equilíbrio emitindo energia electromagnética, fenómeno conhecido por relaxação. Trata-se de um fenómeno físico dinâmico em que o protão regressa ao seu estado fundamental. Existem dois tipos de relaxação, a relaxação longitudinal, descrita por uma curva exponencial caracterizada pela constante de tempo T1, durante a qual os protões voltam a estar alinhados com o campo magnético. A curva ilustrada na Figura 8 representa a variação da relaxação longitudinal ao longo do tempo, onde se pode ver que T1 representa o tempo necessário para a magnetização longitudinal (ML) recuperar 63% do seu valor inicial (M0). A relaxação transversal é descrita por uma curva exponencial caracterizada pela constante de tempo T2, que se resume à saída dos protões do seu estado de fase e a curva representada na Figura 9 mostra a variação da magnetização no plano transversal ao longo do tempo, onde T2 representa o tempo necessário para a magnetização transversal (Mxy) atingir 32% do seu valor inicial (Mazzola, 2009). A relaxação transversa é mais rápida do que a relaxação longitudinal e estes valores não estão relacionados com a força do campo magnético. Figura 8 – Variação da relaxação longitudinal ao longo do tempo (Mazzola, 2009) Figura 9 – Variação da magnetização no plano transversal ao longo do tempo (Mazzola, 2009) Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Nuclear Gabriela Coelho de Pinho Queirós 17 A Tabela 2 mostra alguns valores dos tempos de relaxação, à frequência de precessão de 20 MHz: Tabela 2 – Valores aproximados de T1 e T2 para diferentes tecidos (Hobbie & Roth, 2007) T1 (ms) T2 (ms) Sangue 1200 200 Músculo 500 35 Tecido adiposo 200 60 Água 3000 3000 Substância branca 790 90 Substância cinzenta920 100 Líquido céfalo-raquidiano 4000 2000 Após o pulso de RF, vão ocorrer inúmeras alterações em ambas as magnetizações, a magnetização longitudinal aumenta, a transversal diminuiu e este processo liberta energia e para a recepção deste sinal uma antena é colocada no plano transversal (x0y) onde é induzida uma corrente eléctrica (lei de Faraday). Para uma melhor compreensão da emissão deste sinal é necessário especificar a sequência de pulsos de RF denominada sequência spin eco. Esta é baseada na repetição de uma sequência de impulsos de 90º e 180º consecutivamente e apresenta dois parâmetros: TE/2 e TE. O esquema da emissão destes impulsos está ilustrado na Figura 10. Figura 10 – Diagrama da sequência de impulsos para gerar spin ecos (Prince & Links, 2005) Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Nuclear Gabriela Coelho de Pinho Queirós 18 O impulso de 90º (TE/2) provoca o desaparecimento da magnetização longitudinal e o crescimento da transversal e quando este é desligado, dá-se um decaimento da magnetização transversal e os protões libertam a energia absorvida. Esta energia libertada vai provocar oscilações na frequência do campo magnético o que induz uma corrente eléctrica, o sinal. A frequência deste é constante mas desaparece ao longo do tempo, o que se traduz numa curva exponencial de decaimento. As antenas recebem o sinal no plano transversal devido às variações do vector da magnetização transversal. Quando não existe qualquer gradiente magnético dá-se o designado decaimento livre de indução (FID), representado na Figura 11 que é provocado por uma diminuição da magnetização transversal, perda de energia para o ambiente e redução da oscilação de sinal no plano transverso. Como não existe nenhum gradiente magnético, o sinal de FID decresce mais rapidamente do que o T2 e é caracterizado por um tempo constante T2*. O tempo T2* é influenciado por um tipo específico de relaxação spin-spin e pelos campos magnéticos estáticos não homogéneos que aceleram o desfasamento dos spins. Figura 11 – Decaimento livre de indução, causado pela relaxação transversal (Prince & Links, 2005). O impulso de 180º (TE) coloca os spins em fase e inverte o campo magnético não homogéneo e uma vez aplicado um RF com este impulso os spins entram em fase e a magnetização transversa reaparece e aumenta. Após isto os spins deslocam-se para um estado de desequilíbrio e a magnetização transversa diminui. Quando atingirem na totalidade este estado, o impulso de 180º é enviado e os protões entram novamente em fase. Quando se desliga o pulso de 180º o sinal é emitido em forma de ecos. A diferença de intensidade Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Nuclear Gabriela Coelho de Pinho Queirós 19 de sinal depende de dois factores, Tempo de Repetição (TR – que é a diferença entre a intensidade de sinal entre tecidos T1 usando dois pulsos consecutivos, ou seja, a diferença entre a magnetização longitudinal de diferentes tecidos) e Tempo de Eco (TE – que é o tempo entre o pulso 90º e o eco. Pode ser escolhido pelo operador) que indicaram o tipo de imagem (imagem ponderada em T1, densidade protónica e imagem ponderada em T2) (Hobbie & Roth, 2007). 2.2 – Princípios de Instrumentação Os componentes básicos de um scanner de MRI apresentam-se esquematizados na Figura 12: Figura 12 – Organização de um sistema típico de MRI (Khandpur, 2004) Estes instrumentos utilizam campos magnéticos estáticos, uniformes e fortes (a sua força pode variar entre os 0.2T e os 3T em uso clínico) com três conjuntos de bobinas, que têm a si associados amplificadores e dispositivos para correcção da corrente, necessárias à codificação espacial do paciente a analisar por produção de um gradiente magnético variante no tempo. O transmissor RF transmite e recebe as bobinas e os amplificadores e os receptores de RF são utilizados para excitação dos núcleos e para receber os Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Nuclear Gabriela Coelho de Pinho Queirós 20 sinais. O computador é utilizado para controlar o scanner e para processar e apresentar os resultados (imagens, espectros, etc.). Contêm também outros dispositivos como equipamento para monitorização do paciente e sistemas de segurança (Kutz, 2009). O íman (magnet) proporciona B0 uniforme e estável (Figura 13); Figura 13 – Esquema da constituição de um íman supercondutor (Prince & Links, 2005) O B0 destes scanners pode ser gerado por electroímanes resistivos, ímanes permanentes ou ímanes supercondutores, sendo estes últimos os mais comuns e que devido à tecnologia supercondutora necessitam de um sistema de arrefecimento próprio com Hélio líquido. O transmissor RF (RF transmitter) envia impulsos de RF para a amostra; Para a activação dos núcleos este sistema que emite os sinais consiste no transmissor RF em si, num amplificador de potência RF e em bobinas de transmissão. O transmissor em si é constituído por um cristal que oscila à frequência de precessão. O sistema gradiente (gradient system) gera campos magnéticos variáveis no tempo; É este sistema gradiente que é responsável pela capacidade da codificação espacial dos sinais detectados para a formação das imagens. Isto deve-se à capacidade de controlar localmente o campo magnético e à utilização de três bobinas que impões as variações lineares no campo magnético em qualquer uma das direcções cartesianas. Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Nuclear Gabriela Coelho de Pinho Queirós 21 O sistema de detecção (detection system) produz o sinal de saída; A sua principal função é detectar e gerar o sinal de saída a ser processado pelo computador e apresenta-se estruturado de acordo com o diagrama de blocos da Figura 14. Figura 14 – Diagrama de blocos do sistema de detecção (Khandpur, 2004) Aqui a bobina de recepção vai funcionar como uma antena para captar a magnetização nuclear flutuante da amostra e converte-la na voltagem flutuante de saída V(t). A bobina apresenta-se ligada uma rede de correspondência (matching network) que faz a ligação ao pré-amplificador para maximizar a energia transferida para o amplificador e introduz um alternador de fase para o sinal. O pré-amplificador é um amplificador de baixo ruído que amplifica o sinal e o transfere um detector de quadratura de fase. Este circuito de detecção recebe o sinal de NMR V(t) e o sinal de referencia e faz a sua multiplicação de modo a obter só uma saída e apresenta um filtro passa baixo para remoção de todos os componentes excepto os centrados em zero. Por fim o sinal é processado por um conversor A-D para ser transformado numa série de dados a ser analisa no computador. O sistema de imagem (imager system) inclui o computador para reconstrução e Figura 15 – Consola de operação do scanner de MRI (Prince & Links, 2005) Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Nuclear Gabriela Coelho de Pinho Queirós 22 apresentação das imagens (Figura 15) (Khandpur, 2004). Na Figura 16 é possível ver como todos estes componentes se organizam no interior de um scanner de MRI. Figura 16 – Esquema da construção de um scanner de MRI (Bronzino, 2000) 2.3 – Aplicações da Ressonância Magnética Algumas das aplicações existem desta tecnologia são: MRI Standard; Imagiologia Eco-Planar (EPI); Fast Imaging with Steady-state Precession (FISP); Half Fourier Acquisition Single-shot Turbo spin Echo (HASTE); Angiografia de Ressonância Magnética; Espectroscopia de Ressonância Magnética; Ressonância Magnética Funcional. Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Funcional GabrielaCoelho de Pinho Queirós 23 Capítulo 3 – Ressonância Magnética Funcional A fMRI é uma aplicação da MRI que se refere à utilização desta tecnologia para detectar alterações localizadas no fluxo sanguíneo e na oxigenação sanguínea que ocorrem no cérebro como resposta à actividade neuronal. O conceito de que o fluxo sanguíneo cerebral poderia reflectir a actividade neuronal iniciou-se em 1890 com experiências realizadas por Roy e Sherrington e este tornou-se a base de todas as técnicas de imagiologia cerebrais baseadas na hemodinâmica. Nas ultimas décadas esta técnica tem vindo a ser muito desenvolvida com o objectivo de mapear o cérebro humano e tem sido extensivamente utilizada para investigar funções cerebrais como a visão, linguagem, motora e cognitiva (Buxton, 2009). 3.1 – O Cérebro (Bases de Anatomia e Fisiologia) O cérebro humano, representado na Figura 17, é o principal órgão do sistema nervoso central e o centro de controlo de muitas actividades voluntárias e involuntárias do corpo humano e como tal é responsável por acções tão complexas como pensamento, memória, emoção e linguagem. No adulto este órgão pode ter cerca de 12 biliões de neurónios (células do sistema nervoso). Figura 17 – Ilustração do cérebro humano. Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Funcional Gabriela Coelho de Pinho Queirós 24 Apresenta-se dividido em dois hemisférios, esquerdo e direito onde se diferenciam as denominadas áreas funcionais, no entanto não existe um acordo generalizado para a definição e marcação das fronteiras entre cada uma destas e é a ausência destas definições anatómicas que leva a que existam várias subdivisões do córtex cerebral. O hemisfério esquerdo é responsável pelo pensamento lógico e competência comunicativa O hemisfério esquerdo é responsável pelo pensamento lógico e competência comunicativa, com áreas altamente especializadas como a Área de Broca (B), responsável pela motricidade da fala, e a Área de Wernicke (W), responsável pela compreensão verbal, enquanto o hemisfério direito é responsável pelo pensamento simbólico e criatividade. O corpo caloso, localizado no fundo da fissura sagital, é a estrutura responsável pela conexão entre os dois hemisférios cerebrais e é responsável pela troca de informações entre as diversas áreas do córtex cerebral. O córtex motor é responsável pelo controle e coordenação da motricidade voluntária. Aqui o córtex motor do hemisfério esquerdo controla o lado direito do corpo e o córtex motor do hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo. O córtex pré-motor, responsável pela aprendizagem motora e pelos movimentos de precisão, encontra-se na parte em frente da área do córtex motor. O cerebelo é o principal responsável pela coordenação geral da motricidade e equilíbrio. O eixo formado pela adeno- hipófise e o hipotálamo, são responsáveis pelas funções homeostáticas do organismo (cárdio-respiratória, circulatória, etc.). O córtex cerebral está dividido em quatro áreas chamadas de lobos cerebrais, com funções diferenciadas e especializadas representadas nas Figura 18: Figura 18 – Divisão dos lobos cerebrais. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pensamento_l%C3%B3gico http://pt.wikipedia.org/wiki/Pensamento_l%C3%B3gico http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rea_de_Broca http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rea_de_Wernicke http://pt.wikipedia.org/wiki/Pensamento_simb%C3%B3lico http://pt.wikipedia.org/wiki/Criatividade http://pt.wikipedia.org/wiki/Corpo_caloso http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3rtex_motor http://pt.wikipedia.org/wiki/Motricidade http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=C%C3%B3rtex_pr%C3%A9-motor&action=edit&redlink=1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Cerebelo http://pt.wikipedia.org/wiki/Adeno-hip%C3%B3fise http://pt.wikipedia.org/wiki/Adeno-hip%C3%B3fise http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipot%C3%A1lamo http://pt.wikipedia.org/wiki/Homeostase http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Lobo_cerebral&action=edit&redlink=1 http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Lobo_cerebral&action=edit&redlink=1 Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Funcional Gabriela Coelho de Pinho Queirós 25 O lobo frontal, localizado na zona da testa, inclui o córtex motor e pré-motor e o córtex pré-frontal e é responsável pelo planeamento de acções e movimentos bem como funções que possam incluir o pensamento abstracto e criativo, a fluência de pensamento e linguagem, respostas afectivas e emocionais, vontade e atenção selectiva; O lobo occipital, na região da nuca, está coberto pelo córtex cerebral, também designado por córtex visual e é constituído por várias sub-áreas especializadas em processar a visão de cor, movimento, profundidade e distância; O lobo parietal, na parte superior central da cabeça é constituído por duas subdivisões - a anterior designada por córtex somatossensorial, com funções relacionadas com as sensações (tacto, dor, temperatura, etc.) e a posterior que é uma área secundária que analisa, interpreta e integra as informações recebidas pela área anterior; E os lobos temporais, nas regiões laterais da cabeça por cima das orelhas, têm como principal função processar os estímulos auditivos. No entanto existe outro mapa também muito utilizado, baseado no parcelamento dos hemisférios cerebrais em cerca de 50 áreas citoarquitectónicas (Figura 19), por Korbinian Brodmann’s, que se dividem em cinco grandes zonas funcionais (Ramachandran, 2002): Limbica; Paralimbica; Associação heteromodal; Associação unimodal; Sensório-motor primário. http://pt.wikipedia.org/wiki/Lobo_frontal http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=C%C3%B3rtex_pr%C3%A9-frontal&action=edit&redlink=1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Lobo_occipital http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3rtex_cerebral http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3rtex_cerebral http://pt.wikipedia.org/wiki/Vis%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/wiki/Lobo_parietal http://pt.wikipedia.org/wiki/Posterior http://pt.wikipedia.org/wiki/Lobos_temporais http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabe%C3%A7a http://pt.wikipedia.org/wiki/Orelha Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Funcional Gabriela Coelho de Pinho Queirós 26 Figura 19 – Visualizações lateral e medial dos hemisférios cerebrais (Ramachandran, 2002). Em 1990 Ogawa relatou, com base no seu estudo em cérebros de ratos, que a o mapeamento funcional do cérebro era possível devido ao efeito BOLD (Blood Oxygenation Level Dependent) que se baseia em alterações da desoxihemoglobina (dHb), onde esta funciona como um agente paramétrico contrastante e cujas alterações de concentração locais no cérebro levam a um aumento da intensidade do sinal de MRI (Ogawa, Lee, Kay, & Tank, 1990) . Embora os mecanismos que conectam activação neuronal e a fisiologia cerebral sejam ainda objecto de muitos estudos, sabe-se que a activação neuronal leva a um aumento no consumo de ATP (adenosina trifosfato), o que implica um aumento de necessidade de oxigénio e para preencher a necessidade dá-se um aumento do fluxo sanguíneo local e estas alterações Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Funcional Gabriela Coelho de Pinho Queirós 27 fisiológicas são fundamentais para a fMRI. Assim, ao atravessar a rede de vasos capilares, a oxihemoglobina (HbO2) vai libertar o oxigénio que transporta, transformando-se em desoxihemoglobina (dHb), cujas propriedades paramagnéticas actuam no sentido de intensificar localmente os efeitos do campo magnético externo. Logo, para suprimir esse défice de O2, dá-se um aumento de volume e fluxo sanguíneo locais, o que leva a uma posterior diminuição na concentração de dHb em relação ao nível basal, sendo estas alterações na concentração de dHb que funcionam como agente de contraste (Faro & Mohamed, 2010). Assim,segundo Pauling & Coryell a dHb é paramagnética (atractiva), isto é, magnetiza-se no mesmo sentido do campo magnético a que é exposta e a HbO2 é diamagnética (repulsiva) e estas propriedades magnéticas têm um efeito directo na intensidade do sinal detectado nas regiões neurais activas. É possível verificar que um aumento da concentração de HbO2 no fluxo de sangue vai provocar um aumento na intensidade do sinal captado e que numa situação contrária, ou seja, na presença de uma maior concentração de dHb vai ocorrer uma diminuição da intensidade local devido ao realinhamento de T2 e T2*. Isto verifica-se porque os eventos que iniciam com o aumento da actividade eléctrica e modulam a resposta neurovascular alteram o sinal de ressonância magnética no tempo e produzem a função de resposta hemodinâmica (Pauling & Coryell, 1936). 3.2 – Aplicações da fMRI As técnicas de fMRI têm vindo a evoluir muito rapidamente ao longo dos últimos anos, juntamente com a evolução dos métodos de análise que permitem detectar as alterações na actividade neural. Assim sendo uma das principais aplicações da fMRI apresenta-se relaciona com a área das neurociências para permitir um melhor estudo dos mecanismos cerebrais tão complexos como a percepção, as emoções, o comportamento e a dor, sendo de grande interesse conseguir descrever quantitativamente estas funções bem como qualitativamente. Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Funcional Gabriela Coelho de Pinho Queirós 28 A fMRI enquadra-se assim com estes objectivos porque envolve um conjunto de técnicas que possibilitam a exploração da susceptibilidade dos sinais de MRI aos processos fisiológicos associados com a actividade cerebral. 3.2.1 – Organização de um estudo de fMRI Para a análise da fMRI tem se vindo a utilizar um grande número de técnicas derivadas de métodos de processamento e análise estatística. Estas podem ser classificadas como derivadas de hipótese e baseadas em modelos ou como derivadas de dados e exploratórias. Os métodos baseados em modelos incluem análise de variância (ANOVA) e métodos correlacionais e os métodos derivados de dados incluem análise de componentes principais (PCA) e análise de componentes independentes (ICA), sendo que todos estes métodos têm como factor comum a capacidade de identificar as áreas de activação cerebrais mais significativas num paciente (Bogorodzki & Rogowska, 2005). Os estudos de fMRI são extremamente dependentes das alterações hemodinâmicas cerebrais e para a organização destes é necessário tem em conta as características espaciais e temporais destes efeitos hemodinâmicos. As características espaciais resultam da vasculatura cerebral e as características temporais prendem-se com o atraso inerente às alterações do sinal em resposta à actividade neural e com a dispersão das alterações hemodinâmicas resultantes ao longo do tempo. Com base nas características temporais dos fenómenos hemodinâmicos podemos ainda classificar os estudos de fMRI em: Delineamento em blocos, onde a experiencia é desempenhada de modo continuo em blocos de tempo (normalmente com a duração de 20-60 seg) e cujo objectivo é criar um “estado estacionário” das alterações hemodinâmica e neuronal. Este é um bom método para detecção de pequenas alterações na actividade cerebral; Delineamento relacionado com eventos utiliza padrões de resposta temporais em hemodinâmica e as características de Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Ressonância Magnética Funcional Gabriela Coelho de Pinho Queirós 29 resposta linear associados com as aplicações de estímulos múltiplos. Estes últimos são aplicados individualmente e em ordem aleatória e mede-se a resposta hemodinâmica a cada um deles. Este método pode ainda dividir-se em: Delineamento de estudo único espaçado (com longos intervalos entre estímulos e são utilizados com o objectivo de permitir que no fim de cada estimulo a resposta hemodinâmica retorne ao seu estado de repouso); Delineamento de estudo único rápido (que tira partido das propriedade de linearidade e sobreposição da resposta hemodinâmica. Para estes estudos é também de estrema importância saber reconhecer as variáveis chave a analisar tais como a resolução espacial, a resolução temporal, a cobertura cerebral e a relação sinal-ruído (SNR), para que possam ser convenientemente manipuladas para obtenção dos resultados pretendidos. Assim, para obtenção de uma resolução espacial muito elevada é necessário reduzir a resolução temporal, limitar a cobertura cerebral e diminuir a SNR. No entanto há também que ter em conta outros aspectos importantes associados a estas técnicas, tais como o custo financeiro extremamente elevado e as restrições relativas à segurança do paciente (Savoy, 2002). Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Medicina Tradicional Chinesa – A Acupunctura Gabriela Coelho de Pinho Queirós 30 Capítulo 4 – Medicina Tradicional Chinesa – A Acupunctura A acupunctura (do latim acus - agulha e punctura - pontuada) é um ramo da Medicina Tradicional Chinesa e consiste na aplicação de agulhas, em pontos definidos do corpo, chamados de "Pontos de Acupunctura" ou "Acupontos", para obter efeito terapêutico em diversas condições. Isto é, colocar agulhas da espessura de fios de cabelo em diferentes pontos de pressão, em todo o corpo. Acredita-se que o estímulo desses pontos promova as capacidades naturais regeneradoras do corpo e aperfeiçoe o seu funcionamento. A medicina tradicional chinesa está associada às teorias baseadas no Taoismo, sobre a dualidade Yin/Yang (aspectos opostos de todo movimento no universo). Trata-se no entanto de um conceito hoje considerado quântico que os médicos chineses antigos conseguiram adaptar para a medicina. No corpo do homem existe um equilíbrio que pode ser alterado por diversos tipos de influências, como a alimentação, o comportamento entre outras. Com base nisto existem inúmeras formas de diagnóstico na medicina tradicional chinesa. Algumas delas são a pulsação, a observação do aspecto da língua, da cor e aspectos da pele. A aceitação da acupunctura pela medicina ocidental teve início a partir de 1970 com diversos estudos científicos no sentido de comprovar a sua eficácia. Em 1973 Chiang e Cols demonstraram que a acupunctura provoca um efeito conduzido através dos nervos, ao constatarem que o estímulo das agulhas não provocava efeito quando aplicado em áreas bloqueadas por anestésicos locais. Em 1979, a Organização Mundial de Saúde (OMS) editou uma lista com 41 doenças nas quais esta técnica teve excelentes resultados e publicou o documento Acupuncture: Review and analysis of reports on controlled clinical trials, onde expõe os resultados destas pesquisas. Neste documento foi analisada a eficácia da acupunctura em comparação com o tratamento convencional para 147 doenças, sintomas e condições de saúde. Chan, 1984,[12] concluiu que muitos dos pontos de acupunctura correspondem a locais de penetração das fibras nervosas na fáscia muscular, 309 pontos estão http://pt.wikipedia.org/wiki/Latim http://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina_Tradicional_Chinesa http://pt.wikipedia.org/wiki/Tao%C3%ADsmo http://pt.wikipedia.org/wiki/Yin_yang http://www.wpro.who.int/health_topics/traditional_medicine/publications.htm http://www.wpro.who.int/health_topics/traditional_medicine/publications.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Acupuntura#cite_note-11 Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Medicina Tradicional Chinesa – A Acupunctura Gabriela Coelho de Pinho Queirós 31 localizados sobre terminações nervosas e 286 pontos localizados sobre os principais vasos sanguíneos. Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Processamento dos dados de fMRI Gabriela Coelho de Pinho Queirós 32Capítulo 5 – Processamento dos dados de fMRI Para o estudo de fMRI são necessárias a aquisição de uma ou várias séries temporais de dados funcionais (sequências rápidas de MR), captados durante a realização de estímulos sensoriais ou motores ou durante a realização de paradigmas, que são conjuntos de tarefas cognitivas, e a aquisição de dados anatómicos (sequências lentas de MR) que abranjam as áreas de interesse que servem de referência estrutural para a visualização das áreas funcionais activas. Após esta aquisição é feita a localização e caracterização das regiões cerebrais activadas pelos estímulos. Para tal são necessárias várias etapas de processamento das imagens uma vez que todo este processo está sujeito à influência de diversos tipos de artefactos que podem adulterar as imagens obtidas (Formisano, Salle, & Goebel, 2005). Segundo (Jenkinson & Smith, 2001) não existe apenas um protocolo para a análise de imagens de fMRI, no entanto há uma sequência base de passos para o processamento de imagens de fMRI: 1. “ Adquirir e reconstruir as imagens individuais 2. Corrigir a fase das séries temporais para variações de timing dos cortes obtidos 3. Aplicar uma correcção de movimento para corrigir movimentos da cabeça 4. Suavização espacial dos dados para aumentar SNR 5. Filtrar cada série temporal de voxel’s para remover variações temporais e ruído de elevada frequência 6. Realizar a análise estatística (através da geração de um mapa estatístico paramétrico – um SPM) 7. Thresholding do SPM para encontrar as regiões activas significantes.” 5.1 – Pré-Processamento O contraste devido ao efeito BOLD, aliado a técnicas de aquisição rápida, permite a visualização de determinados processos cerebrais. No Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Processamento dos dados de fMRI Gabriela Coelho de Pinho Queirós 33 entanto, tais alterações de contraste não são visíveis directamente, o que implica a utilização de algoritmos computacionais para a visualização dessas mesmas áreas. 5.1.1 – Correcção do movimento Durante a aquisição das imagens, qualquer movimento realizado pelo paciente, desde pequenos movimentos da cabeça ao pulsar dos vasos sanguíneos, vai gerar artefactos de movimento. Estes são responsáveis por distorções na análise de séries de dados e nem sempre é possível a sua correcção através de técnicas de pós-processamento. Assim, aplicam-se algoritmos de realinhamento das imagens captadas que permitam obter a função de transformação geométrica mais adequada à minimização de diferenças entre as imagens (Buxton, 2009). 5.1.2 – Correcção temporal A obtenção dos dados das séries temporais é feita pela aquisição de um corte de cada vez o que implica que as diferentes partes do cérebro não sejam analisadas em simultâneo e que os dados não possam ser considerados como uma amostra instantânea. Assim, para a correcção deste desfasamento ajustam-se os dados através de um deslocamento aproximado de cada série temporal de voxel’s que pode ser feito pela aplicação de uma interpolação 1-D no domínio temporal ou pela aplicação de uma transformada de Fourier (Formisano, Salle, & Goebel, 2005). 5.1.3 – Suavização espacial Este passo tem como principal objectivo a aplicação de filtros de suavização para reduzir os efeitos de distorção possivelmente causados pela instrumentação ou mesmo pela actividade fisiológica do cérebro que possam levar à presença de ruído. Assim para este fim recorre-se normalmente a filtros passa-baixo, como é o caso do filtro Gaussiano 3D, cujos efeitos podem ser Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Processamento dos dados de fMRI Gabriela Coelho de Pinho Queirós 34 observados na Figura 20, para fazer uma suavização espacial das séries temporais das fMRI (Formisano, Salle, & Goebel, 2005). Figura 20 – Aplicação de um kernel de suavização Gaussiano 3D 5.2 – Segmentação O processo de segmentação das imagens tem um papel muito importante na extracção de informação e atributos úteis das imagens a analisar. Este é um dos passos mais importantes para a análise, compreensão e interpretação das imagens e o seu principal objectivo é dividi-las em regiões que sejam homogéneas no que respeita a certos critérios ou características. Cada região pode ser processada separadamente para extrair a informação. Este processo pode ser acompanhado pela identificação de todos os píxeis ou voxels que pertençam à mesma estrutura ou região. A segmentação das imagens não é apenas importante para a extracção de características e visualização mas também para a realização de medições e compreensão das mesmas. Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Processamento dos dados de fMRI Gabriela Coelho de Pinho Queirós 35 A segmentação de dados provenientes da fMRI é algo difícil principalmente devido ao aumento da dimensionalidade dos dados e às limitações físicas impostas por esta técnica. A quantificação precisa da fisiologia regional depende da delineação (segmentação) precisa das estruturas ou regiões de interesse (ROI) e o principal papel destas é: Permitir a quantificação; Reduzir o conjunto de dados por concentração da análise das ROI extraídas; Estabelecer uma correspondência estrutural para as amostras fisiológicas dentro das regiões. A abordagem mais directa de segmentação é a delineação manual das ROI, mas existem também métodos semiautomáticos que permitem remover a subjectividade da definição desta devida aos operadores humanos. De um modo geral, as técnicas de segmentação podem dividir-se em quatro classes: Thresholding É uma das técnicas mais simples de implementar. Nesta, selecciona-se um valor (threshold) predefinido e divide-se a imagem em grupos de píxeis cujos valores sejam iguais ou superiores ao do threshold e em grupos com valores mais baixos. A abordagem mais utilizada é a de Thresholding Global que é também a mais simples e computacionalmente mais rápida, mas existem também outras abordagens como a de Thresholding Local e a de Thresholding Dinâmico. Estas duas últimas são muito úteis quando o valor do thresholding não consegue ser determinado a partir do histograma. Segmentação baseada em orlas Esta abordagem apresenta duas componentes: Detecção das orlas Ligação/Seguimento das orlas Para determinação das orlas e das regiões. Estas podem ser definidas por transições abruptas na intensidade dos píxeis que pode ser reflectida pela informação do gradiente. A implementação da detecção de orlas pode ser acompanhada pela convolução da imagem original com uma máscara (janela ou kernel) que vai percorrer toda a imagem. Para resolver possíveis falhas Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Processamento dos dados de fMRI Gabriela Coelho de Pinho Queirós 36 causas por ruído ou artefactos da aquisição implementa-se seguidamente a ligação das orlas para estabelecer a ligação entre os píxeis de modo a formar orlas mais significativas ou regiões fechadas. Segmentação com base em regiões Esta abordagem examina os píxeis da imagem e forma regiões disjuntas por união de píxeis vizinhos com propriedade de homogeneidade baseadas em critérios de semelhança. A imagem original pode ser montada por junção de todas as regiões sem que haja sobreposição entre estas. A técnica mais simples para esta abordagem é o Region Growing que é utilizado para extrair a região ligada de píxeis semelhantes da imagem. Este algoritmo requer uma medida de similaridade que determine os critérios de inclusão de píxeis e de paragem para paragem do crescimento da região. Classificação de píxeis Trata-se de uma abordagem que utiliza a estatística do histograma para definir thresholds simples ou múltiplos para classificar as imagens. Torna-se muito útil quando os píxeis apresentamvárias características que possam ser expressadas através de um vector num espaço de características multidimensional. A segmentação das imagens pode ser realizada através de clustering de todas as características de interesse para imagens multicanal ou multiespectais. Clustering é um processo de combinação e agrupamento de objectos similares num único cluster enquanto os objectos com outras características são agrupados em clusters diferentes. A similaridade é quantificada em termos de uma medida de distância apropriada. Estas técnicas são normalmente aplicadas para a segmentação de imagens 2D, mas existem também algumas abordagens mais avançadas de segmentação: Segmentação baseada em modelos (utiliza modelos analíticos para descrever a forma das ROI); Segmentação multimodal (integra informação disponível de diferentes modalidades de imagiologia); Abordagens multivariadas (onde as estruturas são identificadas e extraídas com base na informação temporal presente em imagens dinâmicas) (Suri, Wilson, & Laxminarayan, 2005). Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Considerações finais e Perspectivas futuras Gabriela Coelho de Pinho Queirós 37 Capítulo 6 – Considerações finais e Perspectivas futuras Com base no estudo realizado para esta Monografia pode-se concluir que os sistemas de MRI são de extrema importância já que providenciam informação científica de elevada resolução e que pode ser obtida de modo não invasivo. Trata-se de uma área da imagiologia de grande relevância devido aos avançados no conhecimento do funcionamento e anatomia do corpo humano que têm permitido, tornando-se cada vez mais detalhados e rápidos e menos dispendiosos. A área da imagiologia médica tem também sofrido grandes avanços ao longo do tempo, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de algoritmos e ferramentas computacionais cada vez mais rápidos e objectivos. O estudo da fMRI permitiu adquirir vários conhecimentos relativamente aos conceitos inerentes a esta técnica e também aos conceitos inerentes ao processamento das imagens que será necessário durante o desenvolver da dissertação. Para estudo futuro pretende-se fazer um estudo mais aprofundado da Ressonância Magnética Funcional ao nível de testes de acupunctura com o objectivo de detectar, identificar e delimitar as zonas de activação cerebral que esta técnica provoca e para tal torna-se necessário adquirir um conhecimento mais aprofundado dos conceitos inerentes às técnicas de fMRI e dos respectivos algoritmos e softwares de tratamento de dados a usar no desenvolvimento deste projecto. Análise de Imagens de Ressonância Magnética Funcional Bibliografia Gabriela Coelho de Pinho Queirós 38 Bibliografia: ABI Center for Advanced Brain Imaging. (s.d.). MRIcro. Obtido em 9 de Maio de 2011, de www.cabiatl.com/mricro/mricro/mricro.html Bogorodzki, P., & Rogowska, J. (2005). Structural Group Classification Technique based on Regional fMRI BOLD Response. IEEE Transactions on Medical Imaging, Vol. 24, Nº3 , 389-398. Bronzino, J. D. (2000). The Biomedical Engineering HandBook, Second Edition. CRC Press LLC. Buxton, R. B. 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