Buscar

[PDF] CONTENÇÃO QUÍMICA DE CÃES E GATOS - Semiologia Veterinária - A Arte do Diagnóstico, 3ª edição

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Contenção Química de Cães e Gatos
Introdução
Muitas vezes, é necessário conter os pequenos animais por meio de fármacos, para que o
exame clínico realizado pelo médico-veterinário seja satisfatório e seguro.
Sob o efeito de tranquilizantes ou sedativos, animais agressivos, agitados ou estressados
podem ser mais bem examinados, possibilitando menores alterações paramétricas decorrentes
do estresse, evitando agressões ao profissional que os examina.
Conter quimicamente um animal não deve significar, contudo, apenas imobilizá-lo, mas
diminuir o estresse da manipulação, com conforto e segurança para o paciente e para o
médico-veterinário.
Assim, animais que demonstrem agressividade ou medo excessivo devem ser manipulados
somente após a contenção química. Frequentemente, é necessário que felinos, de maneira geral,
e cães de raças violentas ou de comportamento nervoso sejam contidos farmacologicamente, a
fim de permitir a realização de exames de boa qualidade.
Além dos fatores inerentes ao indivíduo (raça, temperamento, estado físico), não podem ser
esquecidos os estímulos externos que perturbam a tranquilidade do animal. Desse modo,
mesmo aqueles animais dóceis e obedientes ao proprietário podem exigir tranquilização
quando em contato com um ambiente novo, movimento de pessoas estranhas e percepção de
odores e ruídos com os quais não estejam acostumados. Alguns exames clínicos podem, ainda,
envolver dor, quando uma região lesada ou inflamada precisa ser manipulada, como ao
examinar-se traumatismos osteomusculares, feridas, enfermidades otológicas etc.
Outros exames, apesar de não provocarem dor, podem envolver certo desconforto por parte
do animal (p. ex., abordagem da cavidade oral, da região genital ou do aparelho oftálmico).
Além disso, ressalta-se a necessidade de alguns posicionamentos específicos exigidos por
exames diagnósticos, utilizando radiografias ou ultrassonografias, possíveis apenas com a
tranquilização ou mesmo com a anestesia geral do paciente (p. ex., necessidade de relaxamento
muscular potente para a realização de exame radiográfico para o diagnóstico de displasia
coxofemoral e imobilidade completa do paciente para a coleta de liquor cerebrospinal).
Ao realizar o exame de um animal em que se utilizou tranquilizante, sedativo ou até mesmo
anestésico geral, o médico veterinário deve conhecer os efeitos dos fármacos empregados
para que seja possível avaliar se os seus achados clínicos são decorrentes do uso destes ou
da enfermidade a ser pesquisada. Alterações de temperatura corporal, frequência cardíaca,
frequência respiratória e pressão arterial são algumas das consequências mais comuns após
o uso desses agentes.
84
Alguns fatores devem ser considerados para o uso da contenção química (Quadro 3.1).
A espécie e a raça do paciente a ser examinado podem determinar o método mais adequado
de contenção física, a necessidade e o tipo de fármaco a ser utilizado. As características
fisiológicas, a diferente distribuição de receptores farmacológicos e as peculiaridades
comportamentais resultam em diferentes alterações paramétricas em cães, gatos e pequenos
animais exóticos. O efeito final também varia bastante entre as espécies, e a escolha correta do
fármaco a ser utilizado depende do conhecimento prévio desses efeitos.
As diferenças existentes entre raças, especialmente de cães, devem ser conhecidas e
consideradas pelo médico-veterinário que irá realizar a contenção química. Enquanto raças
grandes e agressivas exigem procedimentos que possibilitem uma abordagem segura, raças
muito pequenas podem ser agitadas e de difícil manipulação.
O estado físico do paciente pode limitar o uso de alguns fármacos que trariam risco a
pacientes desnutridos, hipovolêmicos ou desidratados, por exemplo. A existência de outras
enfermidades concomitantes, tais como as cardiopatias, os processos respiratórios, as hepato e
nefropatias, assim como as doenças neurológicas, também pode influenciar a escolha do agente
a ser utilizado.
Caso o exame resulte em dor física, o fármaco ou a associação escolhida deve produzir
analgesia adequada.
O jejum, por outro lado, é imprescindível para a segurança de determinados procedimentos
nos quais o relaxamento da cárdia produzido pelo fármaco facilita o regurgitamento do
conteúdo gástrico, podendo ocasionar obstrução das vias respiratórias por aspiração, levando
à pneumonia ou até mesmo à morte. Além disso, destaca-se a importância do jejum em
posicionamentos nos quais o estômago repleto possa comprimir o diafragma e comprometer a
capacidade respiratória do paciente.
Dentre os fatores externos a serem considerados nas diferentes situações, é necessário
conhecer o local em que o animal será examinado e a necessidade de posicionamentos
específicos e de imobilidade requeridos pelo exame a ser efetuado.
Por fim, a via de aplicação possível na situação apresentada também influencia a definição
da técnica e dos medicamentos a serem empregados.
85
Figura 3.1 Locais anatômicos de aplicação de fármacos: por vias subcutânea (SC), intramuscular
(IM) e intravenosa (IV).
Quadro 3.1 Fatores a serem considerados para o uso de contenção quí ​mica.
Intrínsecos Extrínsecos
Espécie
Raça
Estado clínico geral
Doenças concomitantes
Dor ou desconforto
Jejum
Local do exame (no chão, sobre mesa)
Tipo de exame (envolvendo dor ou desconforto)
Posicionamento necessário para o exame
Necessidade de imobilidade para o exame
Via de administração possível
A seguir, serão apresentadas as diversas vias de aplicação possíveis e suas
particularidades, assim como os diferentes fármacos e associações indicados para cada
situação, com as suas implicações.
Vias de aplicação mais utilizadas na
contenção química
O tipo de medicamento a ser administrado, o temperamento, o porte e a condição física do
animal, as características do local em que se realizará o procedimento e o tipo de contenção
física possível influenciam e determinam a via de aplicação selecionada. Na contenção
química de pequenos animais, utilizam-se, sobretudo, as vias tópica, oral e parenterais
(subcutânea, intramuscular e intravenosa) (Figura 3.1).
Via oral
Para que um medicamento possa ser aplicado por esta via, é necessário que seja palatável.
86
Tranquilizantes e sedativos em apresentação líquida ou em comprimidos ou drágeas estão
disponíveis no mercado. No tipo líquido, podem ser utilizados em administração direta, na
boca, ou por meio de seringas, puros ou misturados a uma pequena quantidade de água ou outro
líquido. Não se indica a adição ao recipiente de água do animal, pois não é possível
especificar a quantidade ingerida. Os comprimidos ou drágeas podem ser colocados
diretamente no fundo da cavidade oral ou inseridos em alimentos sólidos, tais como pedaços
de pão ou “bolinhos” de carne, impedindo que o animal perceba a existência do medicamento.
A grande limitação desta via de aplicação é o longo tempo de latência, entre 1 e 2 h, com
efeito bastante variável entre os pacientes.
Por outro lado, a principal vantagem baseia-se na maneira não invasiva de tratar o animal,
diminuindo, portanto, o estresse da contenção física prévia.
Trata-se de uma excelente via de aplicação a ser empregada pelo proprietário,
especialmente nos casos de animais agressivos ou de difícil transporte. O medicamento pode
ser administrado no próprio domicílio, algum tempo antes de transportar o animal ao
consultório. Desse modo, o paciente chega ao ambiente estranho já previamente tranquilizado
ou sedado e, caso o efeito seja menor que o necessário, a suplementação por outras vias de
aplicação torna-se mais fácil. Nessa situação, o médico-veterinário deve estar ciente de que os
parâmetros já estarão alterados pelo efeito do fármaco, o que poderá mascarar o estado físico
real do paciente ao exame físico.
Via tópica
Trata-se da deposição do princípio ativo, no caso específico, um anestésico local, sobre a
pele ou mucosas, com o fim de absorção direta. Os produtos para este objetivo apresentam-se
em gel, pomadas, sprays ou colírios (Figura3.2).
O efeito sobre as mucosas é bastante superior ao produzido pela aplicação sobre a pele, em
que a absorção é menor ou até desprezível.
É necessário lembrar-se de que esta via de aplicação deve ser utilizada somente em peles e
mucosas íntegras, sem ferimentos ou inflamações.
Em grande parte das situações, pode haver a necessidade de aplicar um tranquilizante ou
sedativo para que o animal permita a realização do exame, pois o anestésico tópico produz
unicamente a analgesia, sem alterar seu estado psicológico.
Um procedimento muito comum é o emprego de colírios anestésicos para produzir a
analgesia da superfície da córnea, o que torna possível realizar alguns exames oftálmicos e até
retirar um corpo estranho, por exemplo.
Os sprays ou pomadas podem ser úteis nos exames ginecológicos ou orais e facilitam a
intubação traqueal.
87
Figura 3.2 Colírio anestésico instilado na córnea de um cão (via de aplicação tópica).
Vias parenterais
Nestas vias, é importante a antissepsia do local e do material a ser utilizado, pois a
possibilidade de contaminação é considerável. O antisséptico mais indicado para isso é a
solução de álcool iodado e, especialmente na via intravenosa, a tricotomia pode ser utilizada
para facilitar a localização do vaso sanguíneo e melhorar o efeito do antisséptico.
O material utilizado para a injeção do fármaco deve ser descartável, a espessura e o
comprimento da agulha e a capacidade da seringa devem ser adequados ao local de aplicação
e ao volume do medicamento.
O bisel da agulha deve ser posicionado de maneira a facilitar a perfuração e a escala
numérica da seringa, sempre voltada para o aplicador, a fim de possibilitar o controle do
volume e da velocidade de injeção.
Ao se optar por esta via de aplicação, deve-se considerar o tipo de veículo utilizado no
produto, o pH e a osmolaridade da solução, o tempo de latência esperado e a viabilidade de
aplicação.
Há várias maneiras de aplicação parenteral e, dentre elas, as mais usadas na contenção
química são: (1) subcutânea; (2) intramuscular; e (3) intravenosa.
Via subcutânea
Esta via é escolhida nos casos em que se deseja retardar a absorção do fármaco ou quando
é possível a espera maior para o efeito ser alcançado, pois o período de latência é, em média,
de 30 a 45 min; além disso, pode ser útil no caso de animais muito agressivos e de difícil
contenção.
O local anatômico de escolha deve possibilitar o deslocamento da pele para a introdução
da agulha no espaço subcutâneo, sendo as regiões dorsal ou lateral do tórax ou do abdome as
mais indicadas (Figura 3.3).
Grandes volumes podem ser aplicados por esta via, tomando-se o cuidado de dividir o
88
volume total em vários pontos do corpo do animal.
Via intramuscular
Assim como a via subcutânea, a intramuscular pode ser útil naqueles animais agressivos nos
quais a abordagem mais segura é a aproximação pela porção posterior do corpo. Dessa
maneira, o animal pode ser amordaçado e firmemente contido pela coleira pelo próprio
proprietário, enquanto a aplicação é realizada no membro pélvico.
O local de eleição para a aplicação intramuscular em cães e gatos é a massa muscular das
coxas (músculos semitendíneo e semimembranáceo) (Figura 3.4).
Medicamentos muito viscosos ou de pH extremos podem produzir dor à aplicação,
resultando em reação e movimentação do animal.
As complicações decorrentes da aplicação intramuscular podem ser a formação de
abscessos ou lesões do nervo ciático. Essas complicações estão frequentemente associadas ao
descuido do aplicador com a antissepsia do local e consequente desenvolvimento de infecções,
podendo ser quase completamente abolidas observando-se as técnicas de antissepsia correta.
Nesta via de aplicação, o período de latência pode ser, em média, de 15 a 30 min, e a
duração de efeito, em regra, é menor que na aplicação subcutânea e maior que na intravenosa.
Figura 3.3 A. Aplicação de fármaco por via subcutânea em cão. B. Esquema das camadas
anatômicas atravessadas nessa via de aplicação.
Via intravenosa
89
Nesta via de aplicação, não há necessidade de absorção e o efeito inicia-se quase
imediatamente. A velocidade de aplicação deve ser criteriosa, a fim de evitar a ocorrência de
alterações paramétricas bruscas. O período de latência é de, no máximo, 15 min, conforme as
características do fármaco empregado.
A principal vantagem desta via de aplicação é o início rápido de efeito, mas requer
imobilidade física do paciente que possibilite a localização e a punção do vaso. Nesta via, as
veias mais utilizadas são a radial ou a cefálica (Figura 3.5) e a safena.
Nos casos de necessidade de aplicação de grandes volumes ou nos quais o acesso às veias
citadas seja difícil (aplicações repetidas, flebites, animais hipotensos ou em choque etc.), a
veia jugular pode ser uma boa opção.
No Quadro 3.2 são apresentadas algumas características próprias das diferentes vias de
aplicação de fármacos.
Principais fármacos utilizados em contenção
química de cães e gatos
Dentre o arsenal anestesiológico disponível, os tranquilizantes e sedativos, os agonistas a2 e
os analgésicos opioides são os que mais se prestam, seja de maneira isolada ou em associação,
à contenção química de pequenos animais. Em procedimentos que exijam relaxamento
muscular maior e abolição completa da sensibilidade dolorosa, ainda é possível utilizar os
anestésicos dissociativos ou os gerais injetáveis.
A seguir, serão abordados cada um dos grupos citados e suas indicações.
90
Figura 3.4 A. Aplicação de fármaco por via intramuscular em um cão. B. Esquema das camadas
anatômicas atravessadas nessa via de aplicação.
Tranquilizantes e sedativos
Em Semiologia Veterinária, esses fármacos certamente são os de mais ampla utilização,
pois possibilitam a diminuição do estresse desencadeado pela manipulação do animal. A
tranquilização caracteriza-se pela diminuição da ansiedade, levando o animal a um estado de
relaxamento, porém mantendo-o responsivo a estímulos ambientais. A sedação, além de todas
as características do estado de tranquilização, pode resultar em sonolência e até em um estado
de total hipnose, dependendo da dose utilizada.
No primeiro grupo, é possível incluir os fenotiazínicos e as butiroferonas e, dentre os
sedativos, destacam-se os benzodiazepínicos. Em pequenos animais, as butiroferonas são
raramente utilizadas, tendo sua maior aplicação na espécie suína.
Fenotiazínicos
Os fármacos desse grupo se caracterizam por produzirem boa tranquilização e relaxamento
muscular em cães e gatos, levando-os a um estado de diminuição da ansiedade, o que torna
possível sua melhor manipulação. Sua indicação se limita a acalmar pacientes muito ansiosos
91
ou agressivos ou prepará-los para a aplicação posterior de anestesia dissociativa ou geral.
Figura 3.5 A. Aplicação por via intravenosa em cão. B. Esquema das camadas anatômicas
atravessadas nessa via de aplicação.
Os animais se apresentam mais calmos, com relaxamento de pescoço e cabeça, ptose
palpebral, protrusão da membrana da terceira pálpebra (Figura 3.6) e orelhas pendentes.
Procuram se sentar ou deitar, respondendo, porém, a estímulos externos que podem provocar
reação de alerta.
Nas manipulações que venham a causar dor, os fenotiazínicos, por produzirem analgesia
desprezível, devem estar associados a outros fármacos com esse efeito. É necessário estar
atento à contenção física desses animais, pois há manutenção da capacidade de reação aos
estímulos externos. Além disso, devem ser evitados em pacientes com histórico de convulsão,
por diminuírem o limiar convulsivo, podendo, portanto, desencadeá-la.
Os fenotiazínicos agem na formação reticular e, por isso, produzem depressão generalizada
do sistema nervoso central (SNC), com interferência no controle da atividade elétrica cortical,
que altera a regulação do sono e da vigília, assim como no controle do sistema nervoso
autônomo (por meio de ação sobre sistema límbico e hipotálamo) e neuroendócrino, dentre
outros.
92
Figura 3.6 Protrusão de terceira pálpebra, 15min após a aplicação de 0,1 mg/kg de acepromazina
em cão.
Esse mecanismo de ação deve ser de conhecimento do veterinário responsável pela
avaliação semiológica, pois explica algumas alterações clínicas após o uso de fenotiazínicos,
que podem interferir em parâmetros vitais.
Sob o efeito desses fármacos, observa-se diminuição da temperatura corporal, por sua ação
sobre o centro termorregulador do hipotálamo. Além disso, como resultado da depressão do
reflexo vasomotor de origem central, espera-se a diminuição dos valores da pressão arterial,
de efeitos diretos sobre a musculatura dos vasos e sobre o coração e de bloqueio adrenérgico
periférico.
Dentre os fenotiazínicos, a acepromazina é a mais difundida na prática clínica de pequenos
animais, seguida da clorpromazina e da levomepromazina.
A acepromazina pode ser utilizada por via oral, subcutânea, intramuscular ou intravenosa. A
apresentação por via oral, em gotas, é bastante prática e possibilita a utilização até por
pessoas leigas e fora de ambiente hospitalar. Dessa maneira, em animais muito violentos ou
inquietos, o proprietário pode ser orientado a utilizá-la previamente ao exame clínico. Em
felinos, seu uso é limitado por produzir intensa salivação. Os efeitos da administração oral da
acepromazina iniciam-se em poucos minutos e a intensidade da sedação é relativamente boa, o
que torna possível uma abordagem mais tranquila do animal.
Quadro 3.2 Vias de aplicação de fármacos e suas características.
Via de aplicação Perío​do de latência Duração do efeito Biodisponibilidade Necessidade de
imobilização do animal
Oral Variá​vel, tendendo a
longo
Mais longo Variá​vel* Relativa
Tópica (colírio, gel ou
pomadas anestésicas)
Variá​vel, tendendo a
in​ter ​me​diá​rio
Intermediá​rio a longo Quase completa Completa, porém
rápida
93
Subcutâ​nea Intermediá​rio Intermediá​rio a longo* Quase completa Relativa
Intra​muscular Intermediá​rio Intermediá​rio a longo* Quase completa Relativa
Intravenosa Curto Curto Completa Completa e longa
*As características do produto podem influenciar a duração do efeito e a biodisponibilidade.
Pela via parenteral, a acepromazina pode ser utilizada nos animais em que seja possível a
contenção mecânica para a aplicação do fármaco e, nesses casos, deve ser a via de escolha,
por proporcionar melhor previsão dos períodos de latência e de efeito, assim como
tranquilização mais potente.
As doses e as particularidades do uso dos diferentes fármacos na contenção química em
pequenos animais estão apresentadas no Quadro 3.3.
Benzodiazepínicos
Os benzodiazepínicos são fármacos com efeito sedativo, miorrelaxante e anticonvulsivante.
No homem, o efeito é muito superior ao produzido em animais e, por esse motivo, além do fato
de provocarem amnésia, são o sedativo de escolha naquela espécie. Em medicina veterinária,
em especial nos pequenos animais, não deve ser indicado como sedativo único e seu uso se
limita a aumentar o miorrelaxamento produzido pelos fenotiazínicos ou anestésicos
dissociativos.
A utilização de benzodiazepínicos como único agente visando à contenção farmacológica é
contraindicada em pacientes hígidos, nos quais o efeito final pode ser paradoxal, produzindo
excitação. Nos animais debilitados e/ou toxêmicos, o efeito sedativo é mais evidente; nesses
casos, podem ser o agente de escolha, especialmente quando o uso dos fenotiazínicos for
contraindicado.
A principal indicação de seu uso é em associação aos fenotiazínicos, seja com a finalidade
de reduzir sua dose ou aumentar o miorrelaxamento, o que pode ser desejado para alguns
exames clínicos ou manipulações específicas (avaliação de fraturas e lesões em membros,
posicionamento radiográfico etc.). Os benzodiazepínicos também são os fármacos de escolha
na contenção química de animais com históricos de convulsão ou doenças neurológicas
(situação em que os fenotiazínicos estão contraindicados) e na medicação pré-anestésica para
a realização de anestesia dissociativa. Nesse último caso, esses fármacos irão evitar a
hipertonicidade muscular produzida por aquele tipo de anestesia.
Quadro 3.3 Posologia dos principais fármacos utilizados na contenção quí ​mica de pequenos animais.
Fármaco Cão Gato Observações
Fenotiazínicos
Acepromazina 0,03 a 0,1 mg/kg (IM, IV ou 0,03 a 0,1 mg/kg1 Os fenotiazínicos promovem
94
SC), dose máxima de 3 mg1
1 a 3 mg/kg, VO1
1 a 3 mg/kg, VO1 tranquilização, sem
analgesia, não possibilitando
manipulações muito
invasivas. O animal responde
a estímulos externos
Clorpromazina e
levomepromazina
1 a 2 mg/kg (IM, IV ou SC)1 1 a 2 mg/kg (IM, IV ou SC)2
Benzodiazepínicos
Diazepam 0,1 a 0,5 mg/kg (IV) ou 0,3 a
1 mg/kg (IM ou SC)1
1 a 2 mg/kg (IV ou oral)2
0,1 a 0,5 mg/kg (IV) ou 0,3 a
1,0 mg/kg (IM ou SC)1
Para obtenção de contenção
quí​mica, utilize sempre em
associação a fenotiazínicos ou
como medicação pré-
anestésica. O flumazenil (0,05
mg/kg IV) é o antagonista
farmacológico específico
Midazolam 0,1 a 0,2 mg/kg (IM ou IV)1 0,1 a 0,2 mg/kg (IM ou IV)1
Opioides agonistas
Morfina 0,1 a 0,5 mg/kg2 0,1 mg/kg (SC ou IM)1
0,26 ml/kg, via epidural
Utilizados em associação aos
tranquilizantes e sedativos
quando a manipulação
provoca dorMeperidina 1 a 5 mg/kg (IM)
1 5 a 10 mg/kg (SC ou IM)1
Fentanila 0,01 a 0,05 mg/kg (IV ou IM)3 0,01 a 0,05 mg/kg (IV ou IM)3
Agonista-antagonista
Butorfanol 0,05 a 0,2 mg/kg (IV) e 0,2 a
0,5 mg/kg (IM)3
0,1 a 0,4 mg/kg3
Buprenorfina 0,005 a 0,02 mg/kg (IM)3
0,003 a 0,01 mg/kg (IV)2
0,006 a 0,01 mg/kg (IM ou
IV)1
0,005 a 0,02 mg/kg (IM)3
0,006 a 0,01 mg/kg (IM ou
IV)1
Agonistas α2
Xilazina 0,25 a 0,5 mg/kg (IV) ou 0,5 a
1 mg/kg (IM)1
0,25 a 0,5 mg/kg (IV) ou 0,5 a
1 mg/kg (IM)1
Sedação acompanhada de
analgesia e miorrelaxamento
Medetomidina 0,01 a 0,04 mg/kg1 0,04 a 0,08 mg/kg1
Dexmedetomidina 0,1 a 3 mg/kg (IV)4 SR
Anestesia dissociativa
Cetamina 11 a 22 mg/kg (IM) e 5 a 10
mg/kg (IV)3
8 a 15 mg/kg (IM) e
2 a 8 mg/kg (IV)3
Associe a benzodiazepínicos,
fenotiazínicos ou agonistas α2
Tiletamina 9,9 a 13,2 mg/kg (IM) 4 a 6,6
mg/kg (IV)3
7,5 a 12,5 mg/kg (IM) e 5
mg/kg (IV)3
95
Anestésicos gerais intravenosos
Tiopental sódico 12,5 mg/kg (com MPA) IV2 Administrados
exclusivamente por via IV.
Requerem jejum prévioPropofol 5 mg/kg, IV
2
IM = via intramuscular; IV = via intravenosa; MPA = medicação pré-anestésica; SC = subcutânea; SR = sem
referência; VO = via oral. 1 Lumb e Jones, 1996. 2 Massone, 1999. 3 Fantoni e Cortopassi, 2002. 4 Dyck e
Shafer, 1993.
Caracterizam-se pela sua ação em receptores benzodiazepínicos específicos, aumentando a
liberação do ácido g-aminobutírico (GABA) que, por ser um neurotransmissor depressor do
SNC, induz sonolência e sedação.
Em nosso país, dentre os benzodiazepínicos de uso mais difundido, destacam-se o diazepam
e o midazolam.
O diazepam, um dos mais antigos benzodiazepínicos de uso clínico, é o fármaco de escolha
nos casos de pacientes epilépticos; pode ser utilizado por via subcutânea ou intramuscular, mas
a via de escolha é a intravenosa, por ser a menos dolorosa e apresentar efeito mais rápido
(Quadro 3.3). Sua utilização por via oral não apresenta eficácia sedativa em animais, sendo
empregada somente em felinos, com outra finalidade (estimulante de apetite).
Em casos especiais, em que haja necessidade de rapidez de efeito e a via intravenosa for de
difícil acesso, é possível utilizar a via retal com bons resultados. A associação desse
benzodiazepínico a outros fármacos, na mesma seringa, pode produzir turvação ou precipitação
da mistura; assim, a aplicação deve ser em seringas separadas.
As doses clínicas produzem depressões respiratória e cardíaca mínimas. Doses mais
elevadas podem provocar leve depressão respiratória, hipotensão, aumento da frequência
cardíaca e diminuição do débito cardíaco.
Os efeitos colaterais do diazepam podem ser corrigidos com o uso do flumazenil, um
antagonista farmacológico específico, cuja disponibilidade aumenta a segurança de seu uso.
O midazolam, utilizado com as mesmas indicações do diazepam, produzum período de
ação menor; é possível misturá-lo na mesma seringa com outros fármacos, tais como
fenotiazínicos ou opioides, sem produzir turvação ou precipitação, o que pode ser uma
vantagem, possibilitando aplicação única. Produz estimulação do apetite em felinos, assim
como o diazepam, e, por não ser irritante, pode ser utilizado tanto por via intravenosa quanto
intramuscular, com efeitos muito semelhantes, nas mesmas doses. No homem, o midazolam
pode ser utilizado como agente indutor, provocando intensa hipnose, o que não ocorre em
animais, tendo seu uso limitado à contenção química ou como medicação pré-anestésica.
Opioides
São analgésicos potentes que agem em receptores opioides específicos, podendo ser
96
classificados em agonistas, agonistas-antagonistas (de ação mista) e antagonistas, conforme sua
atividade intrínseca quando se ligam aos receptores. Os agonistas e os de ação mista podem
ser amplamente utilizados em contenção química, normalmente associados a tranquilizantes ou
sedativos, pelo seu potente efeito analgésico, tornando possível a realização de exames físicos
que provoquem dor.
No uso da morfina, o protótipo dos opioides, evidencia-se êmese e, às vezes, defecação,
por sua ação sobre o centro do vômito e por aumento do peristaltismo intestinal,
respectivamente. A ação sobre os receptores opioides do tipo m resulta, além da analgesia, em
depressão respiratória, que é um dos mais temidos efeitos colaterais desses fármacos. Quando
ocorre depressão respiratória ou apneia após o uso de opioides, pode-se lançar mão dos
antagonistas, como a naloxona, sabendo-se, contudo, que o efeito analgésico também será
antagonizado.
Tendo-se a morfina como padrão de grau de analgesia, busca-se o opioide mais potente,
com menor grau de depressão respiratória. Alguns exemplos dos opioides disponíveis em
nosso mercado encontram-se no Quadro 3.3. A indicação para cada situação baseia-se,
principalmente, na farmacocinética, que difere muito entre os opioides, resultando em duração
de efeito bastante variável. Dessa maneira, fármacos de excelente potência, mas de curtíssimo
tempo de ação, tais como alfentanila, sufentanila e remifentanila, têm sua indicação restrita ao
uso transoperatório, não sendo, portanto, aplicáveis à finalidade principal deste capítulo.
Ótimos resultados têm sido obtidos a partir da associação de tranquilizantes, tais como
fenotiazínicos com opioides como morfina, meperidina, fentanila, buprenorfina e butorfanol,
resultando em boa imobilização do paciente, com potencialização da tranquilização e analgesia
adicional, o que possibilita, inclusive, manipulações desconfortáveis e dolorosas.
Outra aplicação bastante útil da morfina é a realizada por via peridural, associada a
anestésicos locais, em ortopedia, resultando em analgesia de até 24 h na espécie canina. Dessa
maneira, além do exame físico de um membro pélvico fraturado, por exemplo, é possível
realizar a avaliação radiográfica e a redução fechada da fratura, caso seja indicada. O longo
período de analgesia leva, ainda, a maior conforto do animal, prolongando-se por várias horas
após a intervenção do médico veterinário.
Agonistas a2
São fármacos que, clinicamente, induzem miorrelaxamento ou inibição de espasticidade
muscular, sedação e analgesia. Sua ação baseia-se na ativação dos receptores a2 pré-sinápticos
do sistema nervoso simpático. O exemplo de medicamento desse grupo mais difundido em
nosso meio é a xilazina, utilizada há décadas em medicina veterinária. Mais recentemente, a
detomidina, a medetomidina e a dexmedetomidina foram colocadas à disposição, sendo as
duas últimas as mais promissoras para o uso em pequenos animais.
A xilazina em pequenos animais é utilizada em doses que variam de 0,25 a 1 mg/kg, tanto
97
por via intramuscular como intravenosa. Os efeitos aparecem dentro de 10 a 15 min após a
aplicação intramuscular e após 5 min da aplicação por via intravenosa.
Os animais apresentam intenso miorrelaxamento e procuram sozinhos o decúbito,
desligando-se dos estímulos do ambiente, podendo parecer totalmente alheios e irresponsivos
aos estímulos externos, dependendo da dose utilizada. O grau de analgesia é dose-dependente,
possibilitando algumas manipulações dolorosas (lavagens otológicas, curativos etc.) e até a
realização de pequenas intervenções pouco cruentas (desbridamento de feridas, pequenas
suturas).
A xilazina induz bradicardia e um breve período de 5 a 10 min de hipertensão, sendo a
última resultante de sua ação inicial sobre os receptores adrenérgicos pós-sinápticos, causando
vasoconstrição. Após esse efeito inicial, há diminuição do débito cardíaco e hipotensão,
podendo levar a pressão arterial a valores de 25 a 33% menores que os basais. A bradicardia
é resultante, ainda, do aumento do tônus vagal, sendo indicado o uso prévio de sulfato de
atropina, um anticolinérgico, visando diminuir o efeito do sistema parassimpático sobre a
frequência cardíaca.
Espera-se que a frequência respiratória diminua significativamente após a aplicação da
xilazina; contudo, os valores de pH e gases sanguíneos devem permanecer inalterados, visto
que o volume-minuto é mantido pelo aumento do volume corrente.
Em cães e gatos, é comum a ocorrência de êmese após a aplicação intramuscular ou
subcutânea da xilazina, decorrente da ativação de receptores adrenérgicos centrais. Além
disso, o refluxo gástrico também pode ocorrer nessas espécies pelo relaxamento do tônus do
esfíncter gastresofágico. Devido a esse efeito, em cães nos quais o jejum prévio não foi
realizado, pode-se utilizar a xilazina como agente de contenção química, com a expectativa de
que o estômago seja esvaziado.
Uma das associações mais comumente utilizadas em animais de companhia é a de xilazina
com cetamina, minimizando assim os efeitos depressores cardíacos pela ação
simpaticomimética da última. Soma-se a isso o efeito de miorrelaxamento produzido pelo
agonista adrenérgico, reduzindo a hipertonia muscular decorrente do efeito da cetamina. Nessa
associação, deve-se acrescentar, ainda, o sulfato de atropina, minimizando a produção
excessiva de secreções e a depressão cardíaca e, assim, tem-se a imobilidade do paciente,
com intensa prostração e considerável grau de analgesia.
A principal contraindicação do uso da xilazina é a existência de cardiopatias ou problemas
respiratórios graves que possam comprometer a oxigenação do animal. Não deve ser utilizada
para a contenção química de animais a serem submetidos a exames radiográficos do sistema
gastrintestinal, pois diminuem o trânsito, podendo provocar atonia gástrica, aerofagia e
distensão abdominal, especialmente em cães de grande porte, o que resultaria em interpretação
errônea do exame.
A medetomidina, um agonista a2 de efeito sedativo e analgésico em cães e gatos, mais
98
potente que a xilazina, ainda não é comercializada no Brasil, mas tem sido amplamente
utilizada em outros países, apresentando efeitos melhores e menores efeitos colaterais que a
xilazina.
A dexmedetomidina foi recentemente introduzida no mercado nacional e, por ter
seletividade maior pelos receptores a2quando comparada à xilazina, pode exercer menores
efeitos cardiovasculares decorrentes da ativação de receptores a1. No cão, na dose de 10
mg/kg por via intramuscular, reduz a frequência cardíaca e o débito cardíaco, sem alterar a
pressão arterial.
Esse grupo de fármacos também dispõe de antagonistas que aumentam a segurança de seu
uso, por possibilitarem a reversão dos efeitos colaterais indesejáveis. Dentre os antagonistas
específicos, pode-se citar a iombina e o atipamezol, sendo este ainda indisponível no mercado
nacional.
Anestesia dissociativa
Trata-se de uma modalidade anestésica em que há dissociação entre o tálamo e o sistema
límbico, resultando em anestesia do tipo “cataleptoide”, estando o paciente consciente, com os
olhos abertos, porém completamente alheio ao meio ambiente que o cerca. É representada por
cetamina e tiletamina, fármacos facilmente encontrados no mercado nacional e comercializados
pordiversos laboratórios.
É indicada principalmente na contenção química daqueles animais em que a total
imobilidade seja necessária, e em situações em que outros fármacos como os agonistas a2 ou
os barbitúricos sejam contraindicados. São anestésicos bastante seguros, com doses letais
medianas (DL50) muito superiores às doses clínicas indicadas; contudo, são contraindicados
em pacientes epilépticos, por diminuírem o limiar convulsivo, ou hipertensos, por resultarem
em aumento da pressão arterial. Além disso, devem ser evitados nos casos de exames
oftálmicos, pois aumentam a pressão intraocular, impedindo a confiabilidade nos valores
obtidos na tonometria.
O aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial após o uso de agentes dissociativos
é devido, principalmente, à ação central, liberando catecolaminas e produzindo esses efeitos
simpaticomiméticos. A tiletamina não causa depressão respiratória em doses clínicas, mas
doses elevadas podem resultar em hipoventilação e apneia. A frequência respiratória pode até
diminuir nos primeiros minutos decorridos da aplicação desses fármacos, mas tende a retornar
rapidamente a valores basais.
Os anestésicos dissociativos costumam causar salivação e aumento das secreções do
sistema respiratório, efeitos que são facilmente controlados pela utilização do sulfato de
atropina. Cuidado especial deve ser tomado na espécie felina, na qual uma pequena quantidade
de secreção pode causar obstrução das vias respiratórias. Desse modo, a intubação traqueal é
indicada nos felinos, a fim de manter a permeabilidade das vias respiratórias.
99
Por causar aumento da tonicidade muscular, a anestesia dissociativa é sempre realizada com
a associação de relaxantes musculares. A tiletamina é encontrada no mercado, já em
preparação, associada ao zolazepam, um benzodiazepínico. Por outro lado, a cetamina,
comercializada de maneira isolada, deve ser utilizada em associação a benzodiazepínicos ou
agonistasa2.
Anestesia geral
Em alguns procedimentos semiológicos muito específicos, a anestesia geral pode ser
requerida. Nessa modalidade, utiliza-se principalmente por via intravenosa, por possibilitar
indução e duração rápidas, que favoreçam, em grande parte dos casos, a realização do exame
sem que seja necessária aparelhagem específica. Como exemplos característicos de exames
diagnósticos que dependem de anestesia geral, é possível citar os exames radiográficos de
coluna vertebral (mielografias, epidurografias) e o procedimento para diagnosticar displasia
coxofemoral, assim como as coletas de liquor cerebrospinal.
A anestesia geral injetável em pequenos animais pode ser obtida com a utilização de
barbitúricos ou propofol, aplicados exclusivamente por via intravenosa.
Dentre os barbitúricos, aqueles de ultracurta duração, como o tiopental, são os mais
indicados, possibilitando rápida recuperação do animal, a qual poderá ser prolongada caso
sejam necessárias múltiplas aplicações. Para que isso não ocorra, tudo deve estar pronto para
a realização do exame, imediatamente após o animal perder os reflexos protetores. Nesses
casos, o plano anestésico requerido é, na maioria das vezes, bastante superficial, exigindo
doses menores que as habitualmente utilizadas na indução anestésica para procedimentos
cirúrgicos mais longos. Os barbitúricos não devem ser utilizados em pacientes hepatopatas ou
com enfermidades cardíacas não compensadas, pois podem ocorrer graves complicações. O
propofol, por outro lado, não apresenta essas limitações inerentes aos barbitúricos e pode ser
a melhor opção nessas situações.
Em todos os casos de anestesia geral intravenosa, é indicada a medicação pré-anestésica
com fenotiazínicos ou outro fármaco (quando os fenotiazínicos forem contraindicados),
visando à redução da dose de anestésico geral requerido. Ao realizar a anestesia geral, é
necessário sempre observar o jejum alimentar, evitando que a regurgitação do conteúdo
gástrico possa resultar em falsa via, com risco de obstrução de vias respiratórias ou de
complicações pulmonares pós-anestésicas.
Quadro 3.4 Indicações dos protocolos farmacológicos de acordo com as diversas variáveis clínicas e circunstanciais possíveis.
Tipo de exame Temperamento e estado físico do animal Protocolo de contenção química
Simples exame físico
geral
Animal amedrontado ou estressado, em bom
estado geral, que permite contenção mecânica
Tranquilização com fenotiazínico por qualquer
via de aplicação
100
Animal agressivo, em bom estado geral, que não
permite contenção mecânica segura
Tranquilização com fenotiazínico administrado
pelo proprietário por via oral, ou por via IM ou
SC, seguida de contenção mecânica ou agonista
α2 pela via IM
Animal agressivo que não permite contenção
mecânica segura, debilitado, com
comprometimento do estado geral
Tranquilização com fenotiazínico, administrado
pelo proprietário por via oral, ou por vias IM ou
SC, seguida de contenção mecânica. Utilizar
doses baixas do tranquilizante
Animal epiléptico ou com histórico de episódios
convulsivos
Benzodiazepínicos
Exames físicos
acompanhados de dor
ou desconforto (p. ex.,
oftálmicos, otológicos
etc.)
Bom estado geral Tranquilização com fenotiazínico associado a
opioides ou agonistas α2 pela via IM, associado ou
não a anestésico dissociativo ou anestesia
dissociativa com benzodiazepínicos como MPA
Animais debilitados, cardiopatas, toxêmicos,
idosos ou muito jovens
Tranquilização com fenotiazínico em doses baixas
(metade da dose) associado a opioides ou
anestesia dissociativa com benzodiazepínico
como MPA
Animal epiléptico ou com histórico de episódios
convulsivos
Agonistas α2 ou benzodiazepínicos seguidos de
tiobarbitúrico
Mielografias,
epidurografia, coleta
de liquor, radiografia
para diagnóstico de
displasia coxofemoral
Animal em bom estado geral, sem histórico de
convulsão
Tranquilização com fenotiazínico seguida de
indução com tiobarbitúrico ou propofol
Animais cardiopatas, hepatopatas, idosos,
debilitados ou toxêmicos
Tranquilização com fenotiazínico, seguida de
indução com propofol
Animal com histórico de convulsão Benzodiazepínico, seguido de indução com
tiobarbitúrico
IM = intramuscular; MPA = medicação pré-anestésica; SC = subcutânea.
A intubação traqueal é indicada nesses pacientes, aumentando a segurança da anestesia ao
manter a permeabilidade das vias respiratórias e possibilitar a ventilação artificial diante de
complicações respiratórias.
Considerações finais
Quando a contenção química for indicada, um bom exame pré-anestésico deve ser realizado
no paciente, sempre que possível, com a finalidade de escolher o protocolo mais seguro e
dimensionar o risco do procedimento. Esse último deve ser sinceramente esclarecido ao
proprietário, que, dessa maneira, poderá avaliar o custo-benefício e decidir pela realização ou
101
não do ato.
A opção pela técnica farmacológica mais indicada deve levar em consideração, além do
estado físico do paciente, o tipo e o tempo de exame a ser executado, assim como o
temperamento do animal. No Quadro 3.4 está exposto um resumo de como essas opções podem
ser realizadas.
Muitas vezes, o jejum não foi realizado por não se ter prevista a necessidade de contenção
química para realizar a avaliação clínica. Desse modo, pode-se optar pela utilização de
fármacos nos quais a repleção gástrica não seja um problema ou, simplesmente, avaliar a
conveniência em se transferir o procedimento, para que o jejum seja observado.
Todo o material de reanimação e de controle de situações de emergência deve ser previsto e
estar facilmente disponível caso ocorram complicações. Esse simples cuidado pode salvar a
vida do paciente, proporcionando uma valiosa economia de tempo.
Todas as alterações de variáveis fisiológicas provocadas pelos fármacos utilizados na
contenção farmacológica devem ser conhecidas pelo semiologista, para que não ocorra a
interpretação errônea do real estado clínico do animal e, por fim, recomenda-se monitorar
continuamente o paciente preparado dessa maneira para o exame, evitando-se, assim,surpresas
desagradáveis.
Bibliografia
ARONSON, E.; KRAUS, K.H.; SMITH. J. The effect of anesthesia on the radiographic
appearance of coxofemoral joints. Veterinary Radiology, 32: 2-5, 1991.
BELLI, C.B.; FANTONI, D.T. Drogas e associações anestésicas. Clínica Veterinária, 5: 28-30,
1996.
DYCK, J.B.; SHAFER, S.L. Dexmedetomidin pharmacokinetics and pharmacodynamics.
Anaesthe. Pharm. Review, 1: 238-45, 1993.
FANTONI, D.T.; CORTOPASSI, S.R.G. Anestesia em cães e gatos. 1. ed. São Paulo: Roca,
2002. 389 p.
HALL, L.W.; TAYLOR, P.M. Anaesthesia of the cat. 1. ed. London: Baillière Tindall, 1996.
362 p.
HELLYER, P. General anesthesia for dogs and cats. Veterinary Medicine, 91: 311-25, 1996.
JONES, D.J.; STEHLING, L.C.; ZAUDER, H.L. Cardiovascular responses to diazepam and
midazolam maleate in the dog. Anesthesiology, 51: 430-4, 1979.
KITAHARA, F.R. et al. Efeitos hemodinâmicos da dexmedetomidina em cães. Estudo
experimental. R. Bras. Ci. Vet., supl., 9: 128-30, 2002.
MACHADO, A. Neuroanatomia funcional. 2. ed., São Paulo: Atheneu, 1998. 363 p.
MASSONE, F. Anestesiologia veterinária – farmacologia e técnicas. 3. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1999. 225 p.
102
MILLER, R.D. Anesthesia. 5. ed., v. 2, Philadelphia: Churchill Livingstone, 2000. 1662 p.
NORSWORTHY, G.D. Feline practice. Philadelphia: J.B. Lippincott, 1993. 688 p.
PRECEDEX. Abbott Laboratories on line, USA, nov. 2001. Disponível em:
http://www.rxlist.com/precedex-drug.htm. Acesso em 29 nov. 2001.
RAMSAY, E.C.; WETZEL, R.W. Comparison of four regimens for intraoral administration of
medication to induce sedation in dogs prior to euthanasia. J.A.V.M.A., 231: 240-2, 1998.
TAYLOR, P.M.; HERRTAGE, M.E. Evaluation of some drug combinations for sedation in the
dog. J. Small Anim. Pract., 27: 325-33, 1986.
THURMON, J.C.; TRANQUILLI, W.J.; BENSON, G.J. Lumb & Jones veterinary anesthesia.
3. ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1996. 928 p.
WETZEL, R.W.; RAMSAY, E.C. Comparison of four regimens for intraoral administration of
medication to induce sedation in cats prior to euthanasia. J.A.V.M.A., 231: 243-5, 1998.
103

Continue navegando