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Contenção Química de Cães e Gatos Introdução Muitas vezes, é necessário conter os pequenos animais por meio de fármacos, para que o exame clínico realizado pelo médico-veterinário seja satisfatório e seguro. Sob o efeito de tranquilizantes ou sedativos, animais agressivos, agitados ou estressados podem ser mais bem examinados, possibilitando menores alterações paramétricas decorrentes do estresse, evitando agressões ao profissional que os examina. Conter quimicamente um animal não deve significar, contudo, apenas imobilizá-lo, mas diminuir o estresse da manipulação, com conforto e segurança para o paciente e para o médico-veterinário. Assim, animais que demonstrem agressividade ou medo excessivo devem ser manipulados somente após a contenção química. Frequentemente, é necessário que felinos, de maneira geral, e cães de raças violentas ou de comportamento nervoso sejam contidos farmacologicamente, a fim de permitir a realização de exames de boa qualidade. Além dos fatores inerentes ao indivíduo (raça, temperamento, estado físico), não podem ser esquecidos os estímulos externos que perturbam a tranquilidade do animal. Desse modo, mesmo aqueles animais dóceis e obedientes ao proprietário podem exigir tranquilização quando em contato com um ambiente novo, movimento de pessoas estranhas e percepção de odores e ruídos com os quais não estejam acostumados. Alguns exames clínicos podem, ainda, envolver dor, quando uma região lesada ou inflamada precisa ser manipulada, como ao examinar-se traumatismos osteomusculares, feridas, enfermidades otológicas etc. Outros exames, apesar de não provocarem dor, podem envolver certo desconforto por parte do animal (p. ex., abordagem da cavidade oral, da região genital ou do aparelho oftálmico). Além disso, ressalta-se a necessidade de alguns posicionamentos específicos exigidos por exames diagnósticos, utilizando radiografias ou ultrassonografias, possíveis apenas com a tranquilização ou mesmo com a anestesia geral do paciente (p. ex., necessidade de relaxamento muscular potente para a realização de exame radiográfico para o diagnóstico de displasia coxofemoral e imobilidade completa do paciente para a coleta de liquor cerebrospinal). Ao realizar o exame de um animal em que se utilizou tranquilizante, sedativo ou até mesmo anestésico geral, o médico veterinário deve conhecer os efeitos dos fármacos empregados para que seja possível avaliar se os seus achados clínicos são decorrentes do uso destes ou da enfermidade a ser pesquisada. Alterações de temperatura corporal, frequência cardíaca, frequência respiratória e pressão arterial são algumas das consequências mais comuns após o uso desses agentes. 84 Alguns fatores devem ser considerados para o uso da contenção química (Quadro 3.1). A espécie e a raça do paciente a ser examinado podem determinar o método mais adequado de contenção física, a necessidade e o tipo de fármaco a ser utilizado. As características fisiológicas, a diferente distribuição de receptores farmacológicos e as peculiaridades comportamentais resultam em diferentes alterações paramétricas em cães, gatos e pequenos animais exóticos. O efeito final também varia bastante entre as espécies, e a escolha correta do fármaco a ser utilizado depende do conhecimento prévio desses efeitos. As diferenças existentes entre raças, especialmente de cães, devem ser conhecidas e consideradas pelo médico-veterinário que irá realizar a contenção química. Enquanto raças grandes e agressivas exigem procedimentos que possibilitem uma abordagem segura, raças muito pequenas podem ser agitadas e de difícil manipulação. O estado físico do paciente pode limitar o uso de alguns fármacos que trariam risco a pacientes desnutridos, hipovolêmicos ou desidratados, por exemplo. A existência de outras enfermidades concomitantes, tais como as cardiopatias, os processos respiratórios, as hepato e nefropatias, assim como as doenças neurológicas, também pode influenciar a escolha do agente a ser utilizado. Caso o exame resulte em dor física, o fármaco ou a associação escolhida deve produzir analgesia adequada. O jejum, por outro lado, é imprescindível para a segurança de determinados procedimentos nos quais o relaxamento da cárdia produzido pelo fármaco facilita o regurgitamento do conteúdo gástrico, podendo ocasionar obstrução das vias respiratórias por aspiração, levando à pneumonia ou até mesmo à morte. Além disso, destaca-se a importância do jejum em posicionamentos nos quais o estômago repleto possa comprimir o diafragma e comprometer a capacidade respiratória do paciente. Dentre os fatores externos a serem considerados nas diferentes situações, é necessário conhecer o local em que o animal será examinado e a necessidade de posicionamentos específicos e de imobilidade requeridos pelo exame a ser efetuado. Por fim, a via de aplicação possível na situação apresentada também influencia a definição da técnica e dos medicamentos a serem empregados. 85 Figura 3.1 Locais anatômicos de aplicação de fármacos: por vias subcutânea (SC), intramuscular (IM) e intravenosa (IV). Quadro 3.1 Fatores a serem considerados para o uso de contenção quí mica. Intrínsecos Extrínsecos Espécie Raça Estado clínico geral Doenças concomitantes Dor ou desconforto Jejum Local do exame (no chão, sobre mesa) Tipo de exame (envolvendo dor ou desconforto) Posicionamento necessário para o exame Necessidade de imobilidade para o exame Via de administração possível A seguir, serão apresentadas as diversas vias de aplicação possíveis e suas particularidades, assim como os diferentes fármacos e associações indicados para cada situação, com as suas implicações. Vias de aplicação mais utilizadas na contenção química O tipo de medicamento a ser administrado, o temperamento, o porte e a condição física do animal, as características do local em que se realizará o procedimento e o tipo de contenção física possível influenciam e determinam a via de aplicação selecionada. Na contenção química de pequenos animais, utilizam-se, sobretudo, as vias tópica, oral e parenterais (subcutânea, intramuscular e intravenosa) (Figura 3.1). Via oral Para que um medicamento possa ser aplicado por esta via, é necessário que seja palatável. 86 Tranquilizantes e sedativos em apresentação líquida ou em comprimidos ou drágeas estão disponíveis no mercado. No tipo líquido, podem ser utilizados em administração direta, na boca, ou por meio de seringas, puros ou misturados a uma pequena quantidade de água ou outro líquido. Não se indica a adição ao recipiente de água do animal, pois não é possível especificar a quantidade ingerida. Os comprimidos ou drágeas podem ser colocados diretamente no fundo da cavidade oral ou inseridos em alimentos sólidos, tais como pedaços de pão ou “bolinhos” de carne, impedindo que o animal perceba a existência do medicamento. A grande limitação desta via de aplicação é o longo tempo de latência, entre 1 e 2 h, com efeito bastante variável entre os pacientes. Por outro lado, a principal vantagem baseia-se na maneira não invasiva de tratar o animal, diminuindo, portanto, o estresse da contenção física prévia. Trata-se de uma excelente via de aplicação a ser empregada pelo proprietário, especialmente nos casos de animais agressivos ou de difícil transporte. O medicamento pode ser administrado no próprio domicílio, algum tempo antes de transportar o animal ao consultório. Desse modo, o paciente chega ao ambiente estranho já previamente tranquilizado ou sedado e, caso o efeito seja menor que o necessário, a suplementação por outras vias de aplicação torna-se mais fácil. Nessa situação, o médico-veterinário deve estar ciente de que os parâmetros já estarão alterados pelo efeito do fármaco, o que poderá mascarar o estado físico real do paciente ao exame físico. Via tópica Trata-se da deposição do princípio ativo, no caso específico, um anestésico local, sobre a pele ou mucosas, com o fim de absorção direta. Os produtos para este objetivo apresentam-se em gel, pomadas, sprays ou colírios (Figura3.2). O efeito sobre as mucosas é bastante superior ao produzido pela aplicação sobre a pele, em que a absorção é menor ou até desprezível. É necessário lembrar-se de que esta via de aplicação deve ser utilizada somente em peles e mucosas íntegras, sem ferimentos ou inflamações. Em grande parte das situações, pode haver a necessidade de aplicar um tranquilizante ou sedativo para que o animal permita a realização do exame, pois o anestésico tópico produz unicamente a analgesia, sem alterar seu estado psicológico. Um procedimento muito comum é o emprego de colírios anestésicos para produzir a analgesia da superfície da córnea, o que torna possível realizar alguns exames oftálmicos e até retirar um corpo estranho, por exemplo. Os sprays ou pomadas podem ser úteis nos exames ginecológicos ou orais e facilitam a intubação traqueal. 87 Figura 3.2 Colírio anestésico instilado na córnea de um cão (via de aplicação tópica). Vias parenterais Nestas vias, é importante a antissepsia do local e do material a ser utilizado, pois a possibilidade de contaminação é considerável. O antisséptico mais indicado para isso é a solução de álcool iodado e, especialmente na via intravenosa, a tricotomia pode ser utilizada para facilitar a localização do vaso sanguíneo e melhorar o efeito do antisséptico. O material utilizado para a injeção do fármaco deve ser descartável, a espessura e o comprimento da agulha e a capacidade da seringa devem ser adequados ao local de aplicação e ao volume do medicamento. O bisel da agulha deve ser posicionado de maneira a facilitar a perfuração e a escala numérica da seringa, sempre voltada para o aplicador, a fim de possibilitar o controle do volume e da velocidade de injeção. Ao se optar por esta via de aplicação, deve-se considerar o tipo de veículo utilizado no produto, o pH e a osmolaridade da solução, o tempo de latência esperado e a viabilidade de aplicação. Há várias maneiras de aplicação parenteral e, dentre elas, as mais usadas na contenção química são: (1) subcutânea; (2) intramuscular; e (3) intravenosa. Via subcutânea Esta via é escolhida nos casos em que se deseja retardar a absorção do fármaco ou quando é possível a espera maior para o efeito ser alcançado, pois o período de latência é, em média, de 30 a 45 min; além disso, pode ser útil no caso de animais muito agressivos e de difícil contenção. O local anatômico de escolha deve possibilitar o deslocamento da pele para a introdução da agulha no espaço subcutâneo, sendo as regiões dorsal ou lateral do tórax ou do abdome as mais indicadas (Figura 3.3). Grandes volumes podem ser aplicados por esta via, tomando-se o cuidado de dividir o 88 volume total em vários pontos do corpo do animal. Via intramuscular Assim como a via subcutânea, a intramuscular pode ser útil naqueles animais agressivos nos quais a abordagem mais segura é a aproximação pela porção posterior do corpo. Dessa maneira, o animal pode ser amordaçado e firmemente contido pela coleira pelo próprio proprietário, enquanto a aplicação é realizada no membro pélvico. O local de eleição para a aplicação intramuscular em cães e gatos é a massa muscular das coxas (músculos semitendíneo e semimembranáceo) (Figura 3.4). Medicamentos muito viscosos ou de pH extremos podem produzir dor à aplicação, resultando em reação e movimentação do animal. As complicações decorrentes da aplicação intramuscular podem ser a formação de abscessos ou lesões do nervo ciático. Essas complicações estão frequentemente associadas ao descuido do aplicador com a antissepsia do local e consequente desenvolvimento de infecções, podendo ser quase completamente abolidas observando-se as técnicas de antissepsia correta. Nesta via de aplicação, o período de latência pode ser, em média, de 15 a 30 min, e a duração de efeito, em regra, é menor que na aplicação subcutânea e maior que na intravenosa. Figura 3.3 A. Aplicação de fármaco por via subcutânea em cão. B. Esquema das camadas anatômicas atravessadas nessa via de aplicação. Via intravenosa 89 Nesta via de aplicação, não há necessidade de absorção e o efeito inicia-se quase imediatamente. A velocidade de aplicação deve ser criteriosa, a fim de evitar a ocorrência de alterações paramétricas bruscas. O período de latência é de, no máximo, 15 min, conforme as características do fármaco empregado. A principal vantagem desta via de aplicação é o início rápido de efeito, mas requer imobilidade física do paciente que possibilite a localização e a punção do vaso. Nesta via, as veias mais utilizadas são a radial ou a cefálica (Figura 3.5) e a safena. Nos casos de necessidade de aplicação de grandes volumes ou nos quais o acesso às veias citadas seja difícil (aplicações repetidas, flebites, animais hipotensos ou em choque etc.), a veia jugular pode ser uma boa opção. No Quadro 3.2 são apresentadas algumas características próprias das diferentes vias de aplicação de fármacos. Principais fármacos utilizados em contenção química de cães e gatos Dentre o arsenal anestesiológico disponível, os tranquilizantes e sedativos, os agonistas a2 e os analgésicos opioides são os que mais se prestam, seja de maneira isolada ou em associação, à contenção química de pequenos animais. Em procedimentos que exijam relaxamento muscular maior e abolição completa da sensibilidade dolorosa, ainda é possível utilizar os anestésicos dissociativos ou os gerais injetáveis. A seguir, serão abordados cada um dos grupos citados e suas indicações. 90 Figura 3.4 A. Aplicação de fármaco por via intramuscular em um cão. B. Esquema das camadas anatômicas atravessadas nessa via de aplicação. Tranquilizantes e sedativos Em Semiologia Veterinária, esses fármacos certamente são os de mais ampla utilização, pois possibilitam a diminuição do estresse desencadeado pela manipulação do animal. A tranquilização caracteriza-se pela diminuição da ansiedade, levando o animal a um estado de relaxamento, porém mantendo-o responsivo a estímulos ambientais. A sedação, além de todas as características do estado de tranquilização, pode resultar em sonolência e até em um estado de total hipnose, dependendo da dose utilizada. No primeiro grupo, é possível incluir os fenotiazínicos e as butiroferonas e, dentre os sedativos, destacam-se os benzodiazepínicos. Em pequenos animais, as butiroferonas são raramente utilizadas, tendo sua maior aplicação na espécie suína. Fenotiazínicos Os fármacos desse grupo se caracterizam por produzirem boa tranquilização e relaxamento muscular em cães e gatos, levando-os a um estado de diminuição da ansiedade, o que torna possível sua melhor manipulação. Sua indicação se limita a acalmar pacientes muito ansiosos 91 ou agressivos ou prepará-los para a aplicação posterior de anestesia dissociativa ou geral. Figura 3.5 A. Aplicação por via intravenosa em cão. B. Esquema das camadas anatômicas atravessadas nessa via de aplicação. Os animais se apresentam mais calmos, com relaxamento de pescoço e cabeça, ptose palpebral, protrusão da membrana da terceira pálpebra (Figura 3.6) e orelhas pendentes. Procuram se sentar ou deitar, respondendo, porém, a estímulos externos que podem provocar reação de alerta. Nas manipulações que venham a causar dor, os fenotiazínicos, por produzirem analgesia desprezível, devem estar associados a outros fármacos com esse efeito. É necessário estar atento à contenção física desses animais, pois há manutenção da capacidade de reação aos estímulos externos. Além disso, devem ser evitados em pacientes com histórico de convulsão, por diminuírem o limiar convulsivo, podendo, portanto, desencadeá-la. Os fenotiazínicos agem na formação reticular e, por isso, produzem depressão generalizada do sistema nervoso central (SNC), com interferência no controle da atividade elétrica cortical, que altera a regulação do sono e da vigília, assim como no controle do sistema nervoso autônomo (por meio de ação sobre sistema límbico e hipotálamo) e neuroendócrino, dentre outros. 92 Figura 3.6 Protrusão de terceira pálpebra, 15min após a aplicação de 0,1 mg/kg de acepromazina em cão. Esse mecanismo de ação deve ser de conhecimento do veterinário responsável pela avaliação semiológica, pois explica algumas alterações clínicas após o uso de fenotiazínicos, que podem interferir em parâmetros vitais. Sob o efeito desses fármacos, observa-se diminuição da temperatura corporal, por sua ação sobre o centro termorregulador do hipotálamo. Além disso, como resultado da depressão do reflexo vasomotor de origem central, espera-se a diminuição dos valores da pressão arterial, de efeitos diretos sobre a musculatura dos vasos e sobre o coração e de bloqueio adrenérgico periférico. Dentre os fenotiazínicos, a acepromazina é a mais difundida na prática clínica de pequenos animais, seguida da clorpromazina e da levomepromazina. A acepromazina pode ser utilizada por via oral, subcutânea, intramuscular ou intravenosa. A apresentação por via oral, em gotas, é bastante prática e possibilita a utilização até por pessoas leigas e fora de ambiente hospitalar. Dessa maneira, em animais muito violentos ou inquietos, o proprietário pode ser orientado a utilizá-la previamente ao exame clínico. Em felinos, seu uso é limitado por produzir intensa salivação. Os efeitos da administração oral da acepromazina iniciam-se em poucos minutos e a intensidade da sedação é relativamente boa, o que torna possível uma abordagem mais tranquila do animal. Quadro 3.2 Vias de aplicação de fármacos e suas características. Via de aplicação Período de latência Duração do efeito Biodisponibilidade Necessidade de imobilização do animal Oral Variável, tendendo a longo Mais longo Variável* Relativa Tópica (colírio, gel ou pomadas anestésicas) Variável, tendendo a inter mediário Intermediário a longo Quase completa Completa, porém rápida 93 Subcutânea Intermediário Intermediário a longo* Quase completa Relativa Intramuscular Intermediário Intermediário a longo* Quase completa Relativa Intravenosa Curto Curto Completa Completa e longa *As características do produto podem influenciar a duração do efeito e a biodisponibilidade. Pela via parenteral, a acepromazina pode ser utilizada nos animais em que seja possível a contenção mecânica para a aplicação do fármaco e, nesses casos, deve ser a via de escolha, por proporcionar melhor previsão dos períodos de latência e de efeito, assim como tranquilização mais potente. As doses e as particularidades do uso dos diferentes fármacos na contenção química em pequenos animais estão apresentadas no Quadro 3.3. Benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos são fármacos com efeito sedativo, miorrelaxante e anticonvulsivante. No homem, o efeito é muito superior ao produzido em animais e, por esse motivo, além do fato de provocarem amnésia, são o sedativo de escolha naquela espécie. Em medicina veterinária, em especial nos pequenos animais, não deve ser indicado como sedativo único e seu uso se limita a aumentar o miorrelaxamento produzido pelos fenotiazínicos ou anestésicos dissociativos. A utilização de benzodiazepínicos como único agente visando à contenção farmacológica é contraindicada em pacientes hígidos, nos quais o efeito final pode ser paradoxal, produzindo excitação. Nos animais debilitados e/ou toxêmicos, o efeito sedativo é mais evidente; nesses casos, podem ser o agente de escolha, especialmente quando o uso dos fenotiazínicos for contraindicado. A principal indicação de seu uso é em associação aos fenotiazínicos, seja com a finalidade de reduzir sua dose ou aumentar o miorrelaxamento, o que pode ser desejado para alguns exames clínicos ou manipulações específicas (avaliação de fraturas e lesões em membros, posicionamento radiográfico etc.). Os benzodiazepínicos também são os fármacos de escolha na contenção química de animais com históricos de convulsão ou doenças neurológicas (situação em que os fenotiazínicos estão contraindicados) e na medicação pré-anestésica para a realização de anestesia dissociativa. Nesse último caso, esses fármacos irão evitar a hipertonicidade muscular produzida por aquele tipo de anestesia. Quadro 3.3 Posologia dos principais fármacos utilizados na contenção quí mica de pequenos animais. Fármaco Cão Gato Observações Fenotiazínicos Acepromazina 0,03 a 0,1 mg/kg (IM, IV ou 0,03 a 0,1 mg/kg1 Os fenotiazínicos promovem 94 SC), dose máxima de 3 mg1 1 a 3 mg/kg, VO1 1 a 3 mg/kg, VO1 tranquilização, sem analgesia, não possibilitando manipulações muito invasivas. O animal responde a estímulos externos Clorpromazina e levomepromazina 1 a 2 mg/kg (IM, IV ou SC)1 1 a 2 mg/kg (IM, IV ou SC)2 Benzodiazepínicos Diazepam 0,1 a 0,5 mg/kg (IV) ou 0,3 a 1 mg/kg (IM ou SC)1 1 a 2 mg/kg (IV ou oral)2 0,1 a 0,5 mg/kg (IV) ou 0,3 a 1,0 mg/kg (IM ou SC)1 Para obtenção de contenção química, utilize sempre em associação a fenotiazínicos ou como medicação pré- anestésica. O flumazenil (0,05 mg/kg IV) é o antagonista farmacológico específico Midazolam 0,1 a 0,2 mg/kg (IM ou IV)1 0,1 a 0,2 mg/kg (IM ou IV)1 Opioides agonistas Morfina 0,1 a 0,5 mg/kg2 0,1 mg/kg (SC ou IM)1 0,26 ml/kg, via epidural Utilizados em associação aos tranquilizantes e sedativos quando a manipulação provoca dorMeperidina 1 a 5 mg/kg (IM) 1 5 a 10 mg/kg (SC ou IM)1 Fentanila 0,01 a 0,05 mg/kg (IV ou IM)3 0,01 a 0,05 mg/kg (IV ou IM)3 Agonista-antagonista Butorfanol 0,05 a 0,2 mg/kg (IV) e 0,2 a 0,5 mg/kg (IM)3 0,1 a 0,4 mg/kg3 Buprenorfina 0,005 a 0,02 mg/kg (IM)3 0,003 a 0,01 mg/kg (IV)2 0,006 a 0,01 mg/kg (IM ou IV)1 0,005 a 0,02 mg/kg (IM)3 0,006 a 0,01 mg/kg (IM ou IV)1 Agonistas α2 Xilazina 0,25 a 0,5 mg/kg (IV) ou 0,5 a 1 mg/kg (IM)1 0,25 a 0,5 mg/kg (IV) ou 0,5 a 1 mg/kg (IM)1 Sedação acompanhada de analgesia e miorrelaxamento Medetomidina 0,01 a 0,04 mg/kg1 0,04 a 0,08 mg/kg1 Dexmedetomidina 0,1 a 3 mg/kg (IV)4 SR Anestesia dissociativa Cetamina 11 a 22 mg/kg (IM) e 5 a 10 mg/kg (IV)3 8 a 15 mg/kg (IM) e 2 a 8 mg/kg (IV)3 Associe a benzodiazepínicos, fenotiazínicos ou agonistas α2 Tiletamina 9,9 a 13,2 mg/kg (IM) 4 a 6,6 mg/kg (IV)3 7,5 a 12,5 mg/kg (IM) e 5 mg/kg (IV)3 95 Anestésicos gerais intravenosos Tiopental sódico 12,5 mg/kg (com MPA) IV2 Administrados exclusivamente por via IV. Requerem jejum prévioPropofol 5 mg/kg, IV 2 IM = via intramuscular; IV = via intravenosa; MPA = medicação pré-anestésica; SC = subcutânea; SR = sem referência; VO = via oral. 1 Lumb e Jones, 1996. 2 Massone, 1999. 3 Fantoni e Cortopassi, 2002. 4 Dyck e Shafer, 1993. Caracterizam-se pela sua ação em receptores benzodiazepínicos específicos, aumentando a liberação do ácido g-aminobutírico (GABA) que, por ser um neurotransmissor depressor do SNC, induz sonolência e sedação. Em nosso país, dentre os benzodiazepínicos de uso mais difundido, destacam-se o diazepam e o midazolam. O diazepam, um dos mais antigos benzodiazepínicos de uso clínico, é o fármaco de escolha nos casos de pacientes epilépticos; pode ser utilizado por via subcutânea ou intramuscular, mas a via de escolha é a intravenosa, por ser a menos dolorosa e apresentar efeito mais rápido (Quadro 3.3). Sua utilização por via oral não apresenta eficácia sedativa em animais, sendo empregada somente em felinos, com outra finalidade (estimulante de apetite). Em casos especiais, em que haja necessidade de rapidez de efeito e a via intravenosa for de difícil acesso, é possível utilizar a via retal com bons resultados. A associação desse benzodiazepínico a outros fármacos, na mesma seringa, pode produzir turvação ou precipitação da mistura; assim, a aplicação deve ser em seringas separadas. As doses clínicas produzem depressões respiratória e cardíaca mínimas. Doses mais elevadas podem provocar leve depressão respiratória, hipotensão, aumento da frequência cardíaca e diminuição do débito cardíaco. Os efeitos colaterais do diazepam podem ser corrigidos com o uso do flumazenil, um antagonista farmacológico específico, cuja disponibilidade aumenta a segurança de seu uso. O midazolam, utilizado com as mesmas indicações do diazepam, produzum período de ação menor; é possível misturá-lo na mesma seringa com outros fármacos, tais como fenotiazínicos ou opioides, sem produzir turvação ou precipitação, o que pode ser uma vantagem, possibilitando aplicação única. Produz estimulação do apetite em felinos, assim como o diazepam, e, por não ser irritante, pode ser utilizado tanto por via intravenosa quanto intramuscular, com efeitos muito semelhantes, nas mesmas doses. No homem, o midazolam pode ser utilizado como agente indutor, provocando intensa hipnose, o que não ocorre em animais, tendo seu uso limitado à contenção química ou como medicação pré-anestésica. Opioides São analgésicos potentes que agem em receptores opioides específicos, podendo ser 96 classificados em agonistas, agonistas-antagonistas (de ação mista) e antagonistas, conforme sua atividade intrínseca quando se ligam aos receptores. Os agonistas e os de ação mista podem ser amplamente utilizados em contenção química, normalmente associados a tranquilizantes ou sedativos, pelo seu potente efeito analgésico, tornando possível a realização de exames físicos que provoquem dor. No uso da morfina, o protótipo dos opioides, evidencia-se êmese e, às vezes, defecação, por sua ação sobre o centro do vômito e por aumento do peristaltismo intestinal, respectivamente. A ação sobre os receptores opioides do tipo m resulta, além da analgesia, em depressão respiratória, que é um dos mais temidos efeitos colaterais desses fármacos. Quando ocorre depressão respiratória ou apneia após o uso de opioides, pode-se lançar mão dos antagonistas, como a naloxona, sabendo-se, contudo, que o efeito analgésico também será antagonizado. Tendo-se a morfina como padrão de grau de analgesia, busca-se o opioide mais potente, com menor grau de depressão respiratória. Alguns exemplos dos opioides disponíveis em nosso mercado encontram-se no Quadro 3.3. A indicação para cada situação baseia-se, principalmente, na farmacocinética, que difere muito entre os opioides, resultando em duração de efeito bastante variável. Dessa maneira, fármacos de excelente potência, mas de curtíssimo tempo de ação, tais como alfentanila, sufentanila e remifentanila, têm sua indicação restrita ao uso transoperatório, não sendo, portanto, aplicáveis à finalidade principal deste capítulo. Ótimos resultados têm sido obtidos a partir da associação de tranquilizantes, tais como fenotiazínicos com opioides como morfina, meperidina, fentanila, buprenorfina e butorfanol, resultando em boa imobilização do paciente, com potencialização da tranquilização e analgesia adicional, o que possibilita, inclusive, manipulações desconfortáveis e dolorosas. Outra aplicação bastante útil da morfina é a realizada por via peridural, associada a anestésicos locais, em ortopedia, resultando em analgesia de até 24 h na espécie canina. Dessa maneira, além do exame físico de um membro pélvico fraturado, por exemplo, é possível realizar a avaliação radiográfica e a redução fechada da fratura, caso seja indicada. O longo período de analgesia leva, ainda, a maior conforto do animal, prolongando-se por várias horas após a intervenção do médico veterinário. Agonistas a2 São fármacos que, clinicamente, induzem miorrelaxamento ou inibição de espasticidade muscular, sedação e analgesia. Sua ação baseia-se na ativação dos receptores a2 pré-sinápticos do sistema nervoso simpático. O exemplo de medicamento desse grupo mais difundido em nosso meio é a xilazina, utilizada há décadas em medicina veterinária. Mais recentemente, a detomidina, a medetomidina e a dexmedetomidina foram colocadas à disposição, sendo as duas últimas as mais promissoras para o uso em pequenos animais. A xilazina em pequenos animais é utilizada em doses que variam de 0,25 a 1 mg/kg, tanto 97 por via intramuscular como intravenosa. Os efeitos aparecem dentro de 10 a 15 min após a aplicação intramuscular e após 5 min da aplicação por via intravenosa. Os animais apresentam intenso miorrelaxamento e procuram sozinhos o decúbito, desligando-se dos estímulos do ambiente, podendo parecer totalmente alheios e irresponsivos aos estímulos externos, dependendo da dose utilizada. O grau de analgesia é dose-dependente, possibilitando algumas manipulações dolorosas (lavagens otológicas, curativos etc.) e até a realização de pequenas intervenções pouco cruentas (desbridamento de feridas, pequenas suturas). A xilazina induz bradicardia e um breve período de 5 a 10 min de hipertensão, sendo a última resultante de sua ação inicial sobre os receptores adrenérgicos pós-sinápticos, causando vasoconstrição. Após esse efeito inicial, há diminuição do débito cardíaco e hipotensão, podendo levar a pressão arterial a valores de 25 a 33% menores que os basais. A bradicardia é resultante, ainda, do aumento do tônus vagal, sendo indicado o uso prévio de sulfato de atropina, um anticolinérgico, visando diminuir o efeito do sistema parassimpático sobre a frequência cardíaca. Espera-se que a frequência respiratória diminua significativamente após a aplicação da xilazina; contudo, os valores de pH e gases sanguíneos devem permanecer inalterados, visto que o volume-minuto é mantido pelo aumento do volume corrente. Em cães e gatos, é comum a ocorrência de êmese após a aplicação intramuscular ou subcutânea da xilazina, decorrente da ativação de receptores adrenérgicos centrais. Além disso, o refluxo gástrico também pode ocorrer nessas espécies pelo relaxamento do tônus do esfíncter gastresofágico. Devido a esse efeito, em cães nos quais o jejum prévio não foi realizado, pode-se utilizar a xilazina como agente de contenção química, com a expectativa de que o estômago seja esvaziado. Uma das associações mais comumente utilizadas em animais de companhia é a de xilazina com cetamina, minimizando assim os efeitos depressores cardíacos pela ação simpaticomimética da última. Soma-se a isso o efeito de miorrelaxamento produzido pelo agonista adrenérgico, reduzindo a hipertonia muscular decorrente do efeito da cetamina. Nessa associação, deve-se acrescentar, ainda, o sulfato de atropina, minimizando a produção excessiva de secreções e a depressão cardíaca e, assim, tem-se a imobilidade do paciente, com intensa prostração e considerável grau de analgesia. A principal contraindicação do uso da xilazina é a existência de cardiopatias ou problemas respiratórios graves que possam comprometer a oxigenação do animal. Não deve ser utilizada para a contenção química de animais a serem submetidos a exames radiográficos do sistema gastrintestinal, pois diminuem o trânsito, podendo provocar atonia gástrica, aerofagia e distensão abdominal, especialmente em cães de grande porte, o que resultaria em interpretação errônea do exame. A medetomidina, um agonista a2 de efeito sedativo e analgésico em cães e gatos, mais 98 potente que a xilazina, ainda não é comercializada no Brasil, mas tem sido amplamente utilizada em outros países, apresentando efeitos melhores e menores efeitos colaterais que a xilazina. A dexmedetomidina foi recentemente introduzida no mercado nacional e, por ter seletividade maior pelos receptores a2quando comparada à xilazina, pode exercer menores efeitos cardiovasculares decorrentes da ativação de receptores a1. No cão, na dose de 10 mg/kg por via intramuscular, reduz a frequência cardíaca e o débito cardíaco, sem alterar a pressão arterial. Esse grupo de fármacos também dispõe de antagonistas que aumentam a segurança de seu uso, por possibilitarem a reversão dos efeitos colaterais indesejáveis. Dentre os antagonistas específicos, pode-se citar a iombina e o atipamezol, sendo este ainda indisponível no mercado nacional. Anestesia dissociativa Trata-se de uma modalidade anestésica em que há dissociação entre o tálamo e o sistema límbico, resultando em anestesia do tipo “cataleptoide”, estando o paciente consciente, com os olhos abertos, porém completamente alheio ao meio ambiente que o cerca. É representada por cetamina e tiletamina, fármacos facilmente encontrados no mercado nacional e comercializados pordiversos laboratórios. É indicada principalmente na contenção química daqueles animais em que a total imobilidade seja necessária, e em situações em que outros fármacos como os agonistas a2 ou os barbitúricos sejam contraindicados. São anestésicos bastante seguros, com doses letais medianas (DL50) muito superiores às doses clínicas indicadas; contudo, são contraindicados em pacientes epilépticos, por diminuírem o limiar convulsivo, ou hipertensos, por resultarem em aumento da pressão arterial. Além disso, devem ser evitados nos casos de exames oftálmicos, pois aumentam a pressão intraocular, impedindo a confiabilidade nos valores obtidos na tonometria. O aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial após o uso de agentes dissociativos é devido, principalmente, à ação central, liberando catecolaminas e produzindo esses efeitos simpaticomiméticos. A tiletamina não causa depressão respiratória em doses clínicas, mas doses elevadas podem resultar em hipoventilação e apneia. A frequência respiratória pode até diminuir nos primeiros minutos decorridos da aplicação desses fármacos, mas tende a retornar rapidamente a valores basais. Os anestésicos dissociativos costumam causar salivação e aumento das secreções do sistema respiratório, efeitos que são facilmente controlados pela utilização do sulfato de atropina. Cuidado especial deve ser tomado na espécie felina, na qual uma pequena quantidade de secreção pode causar obstrução das vias respiratórias. Desse modo, a intubação traqueal é indicada nos felinos, a fim de manter a permeabilidade das vias respiratórias. 99 Por causar aumento da tonicidade muscular, a anestesia dissociativa é sempre realizada com a associação de relaxantes musculares. A tiletamina é encontrada no mercado, já em preparação, associada ao zolazepam, um benzodiazepínico. Por outro lado, a cetamina, comercializada de maneira isolada, deve ser utilizada em associação a benzodiazepínicos ou agonistasa2. Anestesia geral Em alguns procedimentos semiológicos muito específicos, a anestesia geral pode ser requerida. Nessa modalidade, utiliza-se principalmente por via intravenosa, por possibilitar indução e duração rápidas, que favoreçam, em grande parte dos casos, a realização do exame sem que seja necessária aparelhagem específica. Como exemplos característicos de exames diagnósticos que dependem de anestesia geral, é possível citar os exames radiográficos de coluna vertebral (mielografias, epidurografias) e o procedimento para diagnosticar displasia coxofemoral, assim como as coletas de liquor cerebrospinal. A anestesia geral injetável em pequenos animais pode ser obtida com a utilização de barbitúricos ou propofol, aplicados exclusivamente por via intravenosa. Dentre os barbitúricos, aqueles de ultracurta duração, como o tiopental, são os mais indicados, possibilitando rápida recuperação do animal, a qual poderá ser prolongada caso sejam necessárias múltiplas aplicações. Para que isso não ocorra, tudo deve estar pronto para a realização do exame, imediatamente após o animal perder os reflexos protetores. Nesses casos, o plano anestésico requerido é, na maioria das vezes, bastante superficial, exigindo doses menores que as habitualmente utilizadas na indução anestésica para procedimentos cirúrgicos mais longos. Os barbitúricos não devem ser utilizados em pacientes hepatopatas ou com enfermidades cardíacas não compensadas, pois podem ocorrer graves complicações. O propofol, por outro lado, não apresenta essas limitações inerentes aos barbitúricos e pode ser a melhor opção nessas situações. Em todos os casos de anestesia geral intravenosa, é indicada a medicação pré-anestésica com fenotiazínicos ou outro fármaco (quando os fenotiazínicos forem contraindicados), visando à redução da dose de anestésico geral requerido. Ao realizar a anestesia geral, é necessário sempre observar o jejum alimentar, evitando que a regurgitação do conteúdo gástrico possa resultar em falsa via, com risco de obstrução de vias respiratórias ou de complicações pulmonares pós-anestésicas. Quadro 3.4 Indicações dos protocolos farmacológicos de acordo com as diversas variáveis clínicas e circunstanciais possíveis. Tipo de exame Temperamento e estado físico do animal Protocolo de contenção química Simples exame físico geral Animal amedrontado ou estressado, em bom estado geral, que permite contenção mecânica Tranquilização com fenotiazínico por qualquer via de aplicação 100 Animal agressivo, em bom estado geral, que não permite contenção mecânica segura Tranquilização com fenotiazínico administrado pelo proprietário por via oral, ou por via IM ou SC, seguida de contenção mecânica ou agonista α2 pela via IM Animal agressivo que não permite contenção mecânica segura, debilitado, com comprometimento do estado geral Tranquilização com fenotiazínico, administrado pelo proprietário por via oral, ou por vias IM ou SC, seguida de contenção mecânica. Utilizar doses baixas do tranquilizante Animal epiléptico ou com histórico de episódios convulsivos Benzodiazepínicos Exames físicos acompanhados de dor ou desconforto (p. ex., oftálmicos, otológicos etc.) Bom estado geral Tranquilização com fenotiazínico associado a opioides ou agonistas α2 pela via IM, associado ou não a anestésico dissociativo ou anestesia dissociativa com benzodiazepínicos como MPA Animais debilitados, cardiopatas, toxêmicos, idosos ou muito jovens Tranquilização com fenotiazínico em doses baixas (metade da dose) associado a opioides ou anestesia dissociativa com benzodiazepínico como MPA Animal epiléptico ou com histórico de episódios convulsivos Agonistas α2 ou benzodiazepínicos seguidos de tiobarbitúrico Mielografias, epidurografia, coleta de liquor, radiografia para diagnóstico de displasia coxofemoral Animal em bom estado geral, sem histórico de convulsão Tranquilização com fenotiazínico seguida de indução com tiobarbitúrico ou propofol Animais cardiopatas, hepatopatas, idosos, debilitados ou toxêmicos Tranquilização com fenotiazínico, seguida de indução com propofol Animal com histórico de convulsão Benzodiazepínico, seguido de indução com tiobarbitúrico IM = intramuscular; MPA = medicação pré-anestésica; SC = subcutânea. A intubação traqueal é indicada nesses pacientes, aumentando a segurança da anestesia ao manter a permeabilidade das vias respiratórias e possibilitar a ventilação artificial diante de complicações respiratórias. Considerações finais Quando a contenção química for indicada, um bom exame pré-anestésico deve ser realizado no paciente, sempre que possível, com a finalidade de escolher o protocolo mais seguro e dimensionar o risco do procedimento. Esse último deve ser sinceramente esclarecido ao proprietário, que, dessa maneira, poderá avaliar o custo-benefício e decidir pela realização ou 101 não do ato. A opção pela técnica farmacológica mais indicada deve levar em consideração, além do estado físico do paciente, o tipo e o tempo de exame a ser executado, assim como o temperamento do animal. No Quadro 3.4 está exposto um resumo de como essas opções podem ser realizadas. Muitas vezes, o jejum não foi realizado por não se ter prevista a necessidade de contenção química para realizar a avaliação clínica. Desse modo, pode-se optar pela utilização de fármacos nos quais a repleção gástrica não seja um problema ou, simplesmente, avaliar a conveniência em se transferir o procedimento, para que o jejum seja observado. Todo o material de reanimação e de controle de situações de emergência deve ser previsto e estar facilmente disponível caso ocorram complicações. Esse simples cuidado pode salvar a vida do paciente, proporcionando uma valiosa economia de tempo. Todas as alterações de variáveis fisiológicas provocadas pelos fármacos utilizados na contenção farmacológica devem ser conhecidas pelo semiologista, para que não ocorra a interpretação errônea do real estado clínico do animal e, por fim, recomenda-se monitorar continuamente o paciente preparado dessa maneira para o exame, evitando-se, assim,surpresas desagradáveis. 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