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PLANEJAMENTO EM GESTÃO DE PESSOAS Pablo Rodrigo Bes Políticas e práticas de gestão de pessoas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar práticas de gestão de pessoas. Definir políticas de gestão de pessoas. Formular políticas de gestão de pessoas coadunadas com a realidade da prática organizacional. Introdução O trabalho da área de gestão de pessoas se torna visível a partir das suas práticas, que se estendem, ou deveriam se estender, a todos os colaboradores da organização. Em um ambiente de negócios altamente competitivo, essas importantes práticas devem ser conhecidas e aplicadas por todos os líderes da empresa, visando ao estímulo da empregabilidade e ao alcance dos objetivos estratégicos. Para que isso ocorra, devem existir políticas de gestão de pessoas formuladas e implementadas de acordo com a realidade organizacional, a fim de que haja um tratamento equitativo entre todos os colaboradores. Neste capítulo, você vai estudar as práticas de gestão de pessoas, compreendendo as principais políticas organizacionais relacionadas a essas práticas e verificando exemplos de sua aplicação nas empresas. Práticas de gestão de pessoas As práticas contemporâneas de gestão de pessoas são fruto de reconfi gurações históricas nas formas de analisar os processos de interação existentes entre as organizações e os seus funcionários. Para que se possa compreender melhor as condições que tornaram possível a evolução da área, é importante conhecer algumas das teorias sociológicas. Primeiramente, é importante destacar que, ao longo da história, muitos pesqui- sadores se preocuparam com as relações de trabalho e poder existentes dentro do ambiente empresarial. Por exemplo, nas teorias de Karl Marx e Friedrich Engels, considera-se que existe uma grande disparidade entre o detentor do capital e o trabalhador (proletário), formando uma relação dominante-dominado ou opressor-oprimido. Porém, outros autores contemporâneos, como Pierre Bourdieu, Michel Foucault e Silvia Gherardi, trazem outras interpretações importantes para o entendimento dessas relações de poder e das ações postas em prática nas organizações, conforme será apresentado a seguir. Bourdieu (1977) desenvolve ao menos três conceitos importantes que é preciso conhecer: capital simbólico, campo e habitus. O capital simbólico funciona como um sinônimo de poder, que é adquirido pelo acúmulo de ativos que produzem um impacto simbólico, um sentido de força sobre os demais — como a situação econômica e o capital cultural que as pessoas trazem consigo. Assim, em uma empresa, o maior capital simbólico se encontraria entre os diretores e os cargos hierárquicos superiores, que são vistos com prestígio e maior status pelos demais. Já o campo é o espaço onde ocorrem as lutas de significação entre as pessoas, resultando em representações legitimadas como certas ou verdadeiras. Assim, podemos considerar o ambiente organizacional, a empresa, como um campo de lutas simbólico, em que, segundo Bourdieu (1977), legitimam-se e se reproduzem as ideias e se instituem as práticas impostas pelos gestores de tais locais. O habitus, por sua vez, representa as tendências que os indivíduos assumem para si, incorporando-as no seu jeito de viver, frutos de sua própria percepção em relação ao meio social em que vivem, dos campos sociais de que participam e de como reagem ao poder simbólico ali existente. Ao se referir à importância dos conceitos de Bourdieu para as organi- zações, Bispo (2013, documento on-line) acrescenta que “[...] Bourdieu não leva em conta no seu trabalho as práticas nos locais de trabalho, de modo a desconsiderar o processo de socialização secundária a partir das interações com profissionais e comunidades de prática”. Assim, a partir dos conceitos de Bourdieu, passamos a nos questionar se, de fato o poder está somente naqueles que detêm maior capital simbólico. Ou, ainda, se o habitus dos trabalhadores contemporâneos não entende o campo da empresa como um cenário onde eles também representam poder e podem crescer, adquirindo maior status por meio dos seus esforços. Será que as práticas organizacionais não contribuem para a constituição das suas formas de pensar e agir? Nesse sentido, uma contribuição interessante para o entendimento de como se dão as relações no interior das organizações provém do filósofo francês Políticas e práticas de gestão de pessoas2 Michel Foucault. Foucault (2014) define o poder como algo microscópico, que permeia todo o tecido social, sendo exercido de forma produtiva por todas as pessoas, não estando somente localizado em alguns, vistos como mais pode- rosos ou dominantes. Assim, dentro de uma organização, os colaboradores detêm também grande poder em relação a suas chefias. Afinal, basta que se reúnam e façam greve ou diminuam o seu ritmo de produção, por exemplo, que os efeitos desse poder afetarão toda a empresa. Ou seja, ainda que admitamos que o empregador possui maior grau de poder, os empregados também exercem atos de poder cotidianamente ao executarem as suas tarefas e obrigações. É importante ter em mente que as práticas realizadas na gestão de pessoas nas organizações podem contribuir para a sua construção como sujeitos e que o poder se ramifica por todos os membros das empresas, independentemente da sua posição hierárquica. Assim, cabe analisar a aprendizagem baseada em prática como estratégia capaz de promover o desenvolvimento pessoal e a aprendizagem organizacional. Segundo Bitencourt (2010), a expressão comunidades de práticas foi criada em 1987, no Institute for Research on Learning, em Palo Alto, na Califórnia (Estados Unidos), por Etienne Wenger e Jean Lave, sendo impulsionada desde então como uma ótima alternativa para trabalhar com a aprendizagem organizacional. Wenger, McDermont e Snyder (2002) apontam quatro elementos que compõem uma comunidade de prática: 1. domínio; 2. significado; 3. comunidade; 4. prática. Dessa forma, “[...] o domínio cria uma base comum e a identidade. Uma boa definição do domínio legitima a comunidade afirmando o propósito e os valores de seus membros e stakeholders”, segundo Wenger, McDermont e Snyder (2002, p. 27, tradução nossa). Assim, as comunidades de prática normalmente ocorrem pelas relações informais, unindo pessoas (comunidade) pelos seus interesses comuns em determinados assuntos ou áreas (domínios) com os quais se importam (significado) e que apresentam processos colabo- rativos de aprendizagem (práticas). Gherardi (2006) apresenta contribuições importantes para o conceito de prática organizacional, afirmando que é composta por quatro componentes: 1. grupo de atividades; 2. tempo de desenvolvimento; 3Políticas e práticas de gestão de pessoas 3. reconhecimento social; 4. modo de organização do ambiente. Ou seja, uma prática organizacional envolve um conjunto de atividades desenvolvidas por um grupo social, que apresentam certa unidade e reco- nhecimento por parte desse grupo ao longo do tempo em que se mantêm em funcionamento e têm como efeito a modificação ou a manutenção de um jeito de agir no ambiente empresarial. Conforme acrescenta Bispo (2013, documento on-line), “Uma prática é algo que dá identidade a um grupo que se organiza a partir dela, sua aprendizagem ocorre por meio das interações entre os atores sociais e os elementos humanos e não humanos, e é resultado de uma dimensão tácita e estética dessas interações”. Logo, as práticas são parte importante e determinante do funcionamento dos processos organizacionais, fazendo-se presentes em todas as áreas e devendo ser consideradas fundamentalmente na gestão de pessoas. Assim, deve-se compreender que, ao longo de todo o sistema de gestão de pessoas, existem práticas que promovem a interação entre os colaboradores e as organizações. Entre os modelos possíveis que apresentam os elementos que compõem o sistema de gestão de pessoas de uma organização, podemos destacar os componentes ilustrados na Figura 1. Figura 1. Visão articulada entre o sistema de gestão de pessoas e as suas principais práticas. Fonte: Borges e Mourão (2013). Políticas e práticas de gestão de pessoas4 As estratégias organizacionais somente podem se realizar a partir das pessoas. Nesse caso, deve-se buscar um desempenho superior dos membros da organização. Isso faz a gestão de pessoas ser uma responsabilidade de todos os gestores, não somente do departamento de gestão de pessoas ou de recursos humanos (RH). Conforme salienta Bitencourt (2010, p. 82): A gestão de pessoas é uma responsabilidade compartilhada e distribuída ao longo da estrutura organizacional. Mesmo que na organização exista a área de RH formalmente constituída, a gestão de pessoas não será uma atribuição exclusiva dessa área. Pelo contrário, será distribuída por todos os gestores, cabendo à área de RH a formulação de políticas que equalizem as práticas de gestão de pessoas pelos diversos gestores e áreas da organização, vinculando- -as aos objetivos estratégicos da organização, e pelo suporte a esses gestores na aplicação diária dessas políticas. Dessa forma, para que as práticas de gestão de pessoas idealizadas no seu respectivo departamento possam ser conduzidas de forma estratégica e atinjam os resultados organizacionais, é muito importante que existam políticas de gestão de pessoas instituídas e legitimadas pelos demais gestores, inclusive integrando a cultura organizacional. Afinal, são essas políticas que nortearão o andamento das práticas, conforme será apresentado no próximo tópico. Políticas de gestão de pessoas Quando falamos sobre políticas organizacionais, devemos ter em mente que elas existem para nortear o que será feito, estabelecendo as diretrizes gerais a serem postas em prática pelos membros da organização. Assim, as políticas de gestão de pessoas visam estabelecer os princípios que deverão ser considerados por todos os gestores ao colocarem em prática as suas ações voltadas aos colaboradores. Ter políticas de gestão de pessoas instituídas faz com que exista um alinhamento das práticas, o que facilita o alcance dos objetivos organizacionais. Armstrong e Taylor (2014) acrescentam que as políticas de gestão de pessoas definem como a empresa se posiciona, quais são as expectativas e os valores da organização a respeito da forma de tratamento dos indivíduos. Ainda, tais políticas são consideradas como pontos de referência para o desenvolvimento das práticas organizacionais e para a tomada de decisões, além de proporcio- narem um tratamento mais equitativo entre os trabalhadores. 5Políticas e práticas de gestão de pessoas Ainda de acordo com Armstrong e Taylor (2014), a arquitetura de um sistema de gestão de pessoas apresenta três elementos interdependentes e de grande importância para as organizações contemporâneas, conforme apre- sentado no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Armstrong e Taylor (2014). Estratégias de gestão de pessoas Definem a direção que a gestão de pessoas pretende tomar em cada uma de suas principais áreas de atividade. Políticas de gestão de pessoas Estabelecem o que a gestão de pessoas deve fazer e fornecem diretrizes que definem como aspectos específicos do RH devem ser aplicados e implementados. Práticas de gestão de pessoas Consistem nas atividades que envolvem a gestão e o desenvolvimento de pessoas e o gerenciamento das relações de emprego existentes. Quadro 1. Componentes da arquitetura de gestão de pessoas Como se pode perceber no Quadro 1, as políticas apontam o tom que a organização terá ao lidar com seus colaboradores, sendo, nesse caso, direta- mente responsáveis pelos aspectos relacionados à motivação dos colaborado- res em relação à empresa. Ainda, estão relacionadas ao alcance (ou não) da conciliação entre os interesses individuais dos colaboradores e os aspectos e objetivos da organização. Esse ajuste entre o que a organização projeta em termos estratégicos com o que os indivíduos esperam do local em que exercem sua relação de emprego é sempre desafiador, pois exige o encaixe dos interesses apresentados na Figura 2. Políticas e práticas de gestão de pessoas6 Figura 2. Ajustes necessários entre a organização e o indivíduo. Fonte: Adaptada de Bitencourt (2010). As políticas de pessoal contribuem de forma muito significativa para que os indivíduos possam ajustar o seu nível de interesse e as suas expectativas aos fatores organizacionais. Elas também determinam como poderão ser realizados os processos de ajuste necessários para que cada colaborador se encaixe per- feitamente ao cargo que ocupa, desenvolvendo as competências necessárias para que possa contribuir com os resultados almejados pela empresa. Entre as muitas políticas de gestão de pessoas que se encontram estabe- lecidas nas organizações contemporâneas, podemos citar, acompanhando Armstrong e Taylor (2014), as seguintes: políticas de organização; políticas de RH; políticas de aprendizagem e desenvolvimento; políticas de gerenciamento de recompensas; políticas de relacionamento interpessoal. É importante ressaltar que as políticas de gestão de pessoas trazem consigo os aspectos filosóficos de como as pessoas são percebidas no meio profissional e como são representadas nos valores da cultura organizacional, considerando sempre os aspectos ambientais internos e externos para sua formulação. As 7Políticas e práticas de gestão de pessoas políticas de organização envolvem o estabelecimento de critérios para o desenho e a descrição de cargos, o desenvolvimento das pessoas e a gestão do conhecimento organizacional. Assim, poderão ser estabelecidos os respon- sáveis de cada setor que deverão acompanhar o departamento de gestão de pessoas na descrição e análise dos cargos existentes. Essa política favorece as futuras contratações e possibilita os ajustes necessários nas competências dos colaboradores que atuam na organização. As políticas de RH são aquelas que tratarão de aspectos como planeja- mento da força de trabalho, recrutamento e seleção, gestão de talentos, saúde e segurança no trabalho, bem-estar dos colaboradores, cumprimento das leis trabalhistas e interface digital das práticas de gestão de pessoas. Essas políticas atuam sobre os subsistemas de RH que vimos anteriormente, sendo fundamentais para que exista um bom clima organizacional e para que se mantenha o contrato psicológico entre os colaboradores e a organização. Muitas das políticas de gestão de pessoas contemporâneas procuram colocar a busca pelo bem-estar dos colaboradores como prioridade da organização, por se acreditar que, assim, esses colaboradores serão mais comprometidos e engajados com os resultados da empresa. O contrato psicológico é informal e subjetivo, e representa todas as expectativas que o colaborador traz consigo ao entrar em uma organização, ou seja, quais chances de crescimento, desenvolvimento e reconhecimento ele terá se realizar as suas atribuições com eficiência. Com o passar do tempo, caso essas expectativas iniciais se confirmem, será ótimo para a motivação e o desempenho desse colaborador. Caso não se con- firmem, os níveis de motivação provavelmente declinarão pela quebra do contrato psicológico, podendo levar a um pedido de demissão. Por essa razão, é extremamente importante que, nos processos de seleção realizados, não sejam geradas expectativas inatingíveis para os colaboradores, pois tudo o que ali for dito servirá para construir esse contrato psicológico. As políticas de aprendizagem e desenvolvimento consideram a aprendi- zagem organizacional e suas práticas, a aprendizagem individual, a gestão do desenvolvimento pessoal, o gerenciamento do desempenho dos colaboradores e o comprometimento dos colaboradores. Essas políticas norteiam a forma como a empresa entende a aprendizagem organizacional e a relaciona com a Políticas e práticas de gestão de pessoas8 sua efetivação no mercado em que atua, estabelecendo para todos os setores como esses aspectos deverão ser considerados e estar presentes nas práticas voltadas para constituir essa organização aprendente. As políticas de gestão de recompensas, por sua vez, propõem diretrizes para pesquisas de análise salarial, gestão de remuneração, remuneração por mérito e benefícios dos colaboradores. Elas se encarregam de estabelecer as diretrizes para que os colaboradores sejam recompensados de forma direta e indireta pelos seus serviços prestados para a organização, o que, normalmente agrega muita satisfação e pode elevar o desempenho destes. As políticas de relações interpessoais estabelecem diretrizes para as relações de emprego da organização, para as relações operacionais existentes e para as formas como os colaboradores poderão se manifestar e como ocorrerão os processos de comunicação interna. Envolvem o estabelecimento de canais de comando entre os departamentos, os gestores e os seus colaboradores, como utilizar a intranet, o e-mail e outros canais para a comunicação entre as pessoas que trabalham na organização. Como se pode perceber, existem inúmeras atividades que o departamento de gestão de pessoas desenvolve na organização, e todos os gestores acabam sendo também responsáveis por realizar o gerenciamento de pessoas que trabalham em seus setores. Assim, as políticas de gestão de pessoas devem ser amplamente conhecidas — afinal, por meio delas, a organização poderá gerenciar de forma integrada e alinhada os seus colaboradores. Políticas de gestão de pessoas e a realidade organizacional Nesta seção, você vai compreender como as políticas de gestão de pessoas se alinham com as práticas organizacionais na contemporaneidade, verifi cando exemplos de sua aplicação na prática. Começaremos analisando as políticas de recursos humanos e como estas infl uenciam nas práticas que são adotadas em seus subsistemas. Muitas vezes, tais políticas ocorrem de forma complementar e simultânea, abrangendo várias áreas. Em um estudo exploratório realizado sobre artigos que têm como foco as políticas de gestão de pessoas nas organizações empresariais atuantes no Brasil, no período de 2000 a 2010, Demo et al. (2011, documento on-line) reforçam que as políticas de gestão de pessoas “[...] são importantes na medida em que estão alinhadas às metas da organização e fornecem as condições para que as pessoas contribuam efetivamente para o alcance de resultados superiores”. Os 9Políticas e práticas de gestão de pessoas autores apresentam as políticas de gestão de pessoas mais recorrentes e suas respectivas definições nas empresas estudadas, conforme mostra o Quadro 2. Fonte: Adaptado de Demo et al. (2011). Políticas de recrutamento e seleção Proposta articulada da organização, com construções teóricas e práticas, para procurar colaboradores, estimulá-los a se candidatar e selecioná-los, buscando harmonizar valores, interesses, expectativas e competências da pessoa com as características e demandas do cargo e da organização. Políticas de envolvimento Proposta articulada da organização, com construções teóricas e práticas, para criar um vínculo afetivo com seus colaboradores, contribuindo para seu bem-estar em termos de reconhecimento, relacionamento, participação e comunicação. Políticas de treinamento, desenvolvimento e educação Proposta articulada da organização, com construções teóricas e práticas, para prover aos colaboradores a aquisição sistemática de competências e estimular a contínua aprendizagem e produção de conhecimento. Políticas de condições de trabalho Proposta articulada da organização, com construções teóricas e práticas, para prover aos colaboradores boas condições de trabalho, em termos de benefícios, saúde, segurança e tecnologia. Políticas de avaliação de desempenho e competências Proposta articulada da organização, com construções teóricas e práticas, para avaliar o desempenho e as competências dos colaboradores, subsidiando as decisões sobre promoções, planejamento de carreira e desenvolvimento. Políticas de recompensas Proposta articulada da organização, com construções teóricas e práticas, para recompensar o desempenho e as competências dos colaboradores em termos de remuneração e incentivos. Quadro 2. Políticas de gestão de pessoas na realidade brasileira Políticas e práticas de gestão de pessoas10 No processo de recrutamento e seleção, as políticas vão estabelecer quais modalidades serão utilizadas para o preenchimento das vagas existentes na empresa, ou seja, se essas ações serão internas, aproveitando os colaborado- res “da casa”, externas, permitindo somente indivíduos de fora da empresa, ou, ainda, mistas. Perceba que, para os colaboradores, a possibilidade de participar de todos os processos internos de recrutamento e seleção costuma ser motivadora; porém, nem sempre é o que é verificado nas organizações, sobretudo para cargos de nível gerencial mais elevado. Bitencourt (2010, p. 84) acrescenta que “[...] há certa unanimidade entre os profissionais da área quanto a ideia de que o recrutamento interno seria um fator motivador para a retenção de talento humano, especialmente de jovens que têm como prioridade sua formação profissional (por exemplo no recrutamento de trainees)”. Porém, esse fator depende diretamente das políticas de gestão de pessoas que atuam sobre as práticas de RH das organizações. Inclusive, existem hoje organizações que propõem que seus colaboradores possam indicar novos candidatos em potencial para esses processos seletivos e, caso haja a contratação, costumam premiar o colaborador que fez a indicação, unindo uma política de RH com uma de recompensa. Outro aspecto interessante desse tipo de política de gestão de pessoas é a permissão (ou não) de que trabalhem na empresa membros de uma mesma família. Existem organizações que permitem, sem problemas, e outras em que é terminantemente proibida essa prática. Entre as políticas de envolvimento, que visam melhorar o vínculo dos colaboradores com as organizações, temos as definições quanto às estratégias que serão postas em prática para reconhecer o trabalho dos profissionais, como serão realizados os feedbacks entre colaboradores e suas respectivas chefias, quais canais de comunicação serão utilizados, entre outras. Para reforçar a importância da existência dessa política de gestão de pessoas, podemos citar a pesquisa de Turci (2013) em uma instituição bancária de grande porte que opera em nível internacional. Nessa organização, a técnica do feedback é utilizada sistematicamente como ferramenta de melhoria contínua do desempenho e desenvolvimento de seus colaboradores em todas as suas unidades. Assim, a pesquisa realizada “[...] mostrou que a empresa possui política formal para lidar com este tipo de desenvolvimento. Os funcionários entrevistados foram unânimes em afirmar que em sua atividade existe a utilização do feedback e que essa técnica auxilia para o crescimento pessoal deles e da própria empresa”, conforme destaca Turci (2013, documento on-line). Como se pode perceber, todos têm a ganhar com a formulação e a implementação de políticas de gestão de pessoas. 11Políticas e práticas de gestão de pessoas Você já trabalhou em alguma empresa em que, após apresentarem minimamente quais seriam suas atribuições, você foi deixado trabalhando sozinho, sem saber ao certo se aquilo que estava executando estava de acordo com o que a empresa queria que fizesse? Ou, pior ainda, sem ter a exata noção de que a qualidade do que estava fazendo se alinhava com o que a empresa normalmente entrega aos seus clientes? Pois bem, saiba que esse exemplo pode relacionar-se com uma política de gestão de pessoas dessa organização. Nesse caso, parece haver uma falta de posicionamento da empresa em relação às políticas de envolvimento adotadas para as pessoas, pois o feedback não é visto como uma atividade sistemática e generalizada na organização. Existem hoje empresas que assumem o feedback como ferramenta constante de ajustes no desempenho dos colaboradores e, inclusive, deixam abertas as possibilidades para que os colaboradores peçam feedbacks sempre que sentirem necessidade de saberem como está o seu trabalho. As políticas de recompensas também têm sido aplicadas em muitas em- presas brasileiras na atualidade, procurando, de fato, retribuir os esforços dos colaboradores e a sua fundamental participação para o atingimento dos resultados organizacionais. Porém, essas políticas devem ser implementadas de tal forma que gerem um sentimento de justiça social dentro da organização e não produzam descontentamento e insatisfação nos grupos de trabalho, pois as pessoas se motivam de maneiras diferentes, e isso deve ser considerado. Nesse contexto, ao analisarem o impacto das políticas de recompensas em uma organização pública de Alagoas, Oliveira, Barbosa e Levino (2018 documento on-line) comentam que as organizações deveriam: [...] se preocupar em alinhar os sistemas de recompensas dos servidores com os seus objetivos organizacionais e principalmente com as características do seu corpo funcional, buscando assim a valorização de todos que integram a organização. Como também, são necessárias políticas de carreira e sistemas remuneratórios que resultem em remunerações diferenciadas para os membros da organização, uma vez que as competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) e os desempenhos das pessoas tenderão a ser diferentes. Os planos de cargos e salários, também conhecidos como planos de car- reira, também costumam ser elementos que produzem satisfação, desafiam e motivam boa parte dos colaboradores. Estes, ao conhecerem essas políticas Políticas e práticas de gestão de pessoas12 de ascensão profissional, passam a gerenciar suas carreiras visando a esse crescimento no interior das organizações. Nesse caso, os planos devem ser claros e acessíveis a todos, para que, caso se interessem, possam engajar-se e direcionar seus esforços galgando novas posições, melhor remuneração e benefícios para suas vidas. As políticas de gestão de pessoas voltadas para a melhoria das condições de trabalho também têm se expandido na atualidade, devido ao entendimento de que todo investimento em busca de qualidade de vida no trabalho (QVT) traz retornos muito positivos para o bem-estar e o desempenho dos colabo- radores. Ao apresentarem uma pesquisa com 130 trabalhadores de diferentes organizações do Distrito Federal sobre a QVT e o bem-estar nas organizações, Couto e Paschoal (2017, documento on-line) destacam que “[...] a QVT não se restringe a ações organizacionais voltadas à saúde do trabalhador, mas consiste em um conjunto de ações e ferramentas que visam modificar as condições de trabalho e do trabalhador em sua totalidade”. Dessa forma, as ações que buscam incrementar qualidade de vida e bem- -estar aos colaboradores vão além dos aspectos relacionados com a ergonomia e o estudo de riscos e acidentes a que os trabalhadores se encontram expostos. Couto e Paschoal (2017), na pesquisa realizada, apontam também as seguintes atividades: ginástica laboral; momentos de relaxamento; sala com musicalização; comemoração dos aniversariantes; automassagem. Perceba que essas iniciativas que fazem bem e afetam positivamente os colaboradores somente vão acontecer em todos os setores da organização se houverem políticas de gestão de pessoas que as incentivem e institucionalizem. Pode-se concluir que as práticas de gestão de pessoas, na contemporanei- dade, principalmente se analisadas sob a lógica estratégica, são de extrema importância para o alcance dos resultados organizacionais. Porém, a definição do tipo de prática que poderá proporcionar os efeitos desejados junto aos colaboradores depende diretamente das diretrizes que a gestão de pessoas estabelece, por meio de suas políticas. Logo, as políticas e as práticas apre- sentam uma relação de interdependência e complementaridade. 13Políticas e práticas de gestão de pessoas Para saber mais sobre a ginástica laboral, uma das práticas que visam a proporcionar bem-estar, saúde e qualidade de vida aos trabalhadores, assista ao vídeo do Portal da Educação disponível no link abaixo. https://qrgo.page.link/YNX6K ARMSTRONG, M.; TAYLOR, S. Armstrong’s handbook of human resource management practice. 13rd ed. United Kingdom: Kogan Page, 2014. BISPO, M. S. Aprendizagem organizacional baseada no conceito de prática: contribuições de Silvia Gherardi. Revista de Administração Mackenzie, v. 14, n. 6, p. 132-161, 2013. Dispo- nível em: https://www.redalyc.org/pdf/1954/195429392007.pdf. Acesso em: 3 jan. 2020. BITENCOURT, C. Aprendizagem organizacional: uma estratégia para mudança? In: BITENCOURT, C. et al. Gestão Contemporânea de pessoas: novas práticas, conceitos tradicionais. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. BORGES, L. 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Políticas e práticas de gestão de pessoas14 OLIVEIRA, L. L.; BARBOSA, M. A. C.; LEVINO, N. A. Quando a grama do vizinho é mais verde que a sua: motivação e equidade de recompensas na percepção dos servidores e comissionados no Tribunal de Contas de Alagoas. Revista Eletrônica de Administração, v. 17, n. 2, p. 284-304, 2018. Disponível em. http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/ rea/article/view/1522/1192. Acesso em: 3 jan. 2020. TURCI, R. H. Feedback: a importância desta técnica na rotina empresarial. Revista In- teratividade, v. 1, n. 1, p. 81-89, 2013. Disponível em: http://www.firb.br/editora/index. php/interatividade/article/view/47/63. Acesso em: 3 jan. 2020. WENGER, E.; MCDERMOTT, R.; SNYDER, W. Cultivating communities in a world of practice: a guide to managing knowledge. Boston: Harvard Business School Press, 2002. Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 15Políticas e práticas de gestão de pessoas
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