Buscar

HSP

Prévia do material em texto

Noelle Tavares Ferreira, Turma 86 Psicologia 
Atividade sobre o filme “Paulina” e o texto “Desenvolvimento do Juízo Moral e 
Afetividade na Teoria de Jean Piaget” (em dupla) – 20,0 pts 
O filme argentino Paulina, do diretor Santiago Mitre, aborda temas polêmicos e incômodos, 
tais como: estupro coletivo, violência, justiça social, direitos humanos, pobreza, desigualdade 
de classes, machismo e a (im)possibilidade de transformação social num mundo repleto de 
injustiças e crueldade. Tendo como personagem central uma advogada de classe média alta 
com um futuro promissor na profissão, e que, a despeito disto, resolve abandonar todo o 
conforto oferecido pelo pai juiz para dar aulas de “direitos humanos” numa área na qual a 
população não tem acesso a direitos básicos (num povoado pobre desassistido pelo Estado), 
assistimos os dilemas éticos da personagem provocados por uma situação extrema de 
violência sexual. Não obstante, Paulina, apesar da brutalidade sofrida e da pressão do pai e do 
namorado, segue firme em suas decisões calcadas no seu senso de “justiça” e nos seus ideais 
sociais; ou seja: nos embates e duelos entre as ideias de ​justiça (no seu aspecto jurídico e 
convencional do termo), de senso de justiça (no sentido piagetiano de “ideal de igualdade”, 
“reciprocidade”, e num “bem a ser alcançado”, para além de motivos individuais/afetivos) e 
de ​autonomia, “​Paulina quer ser livre para fazer o que bem entender com seu corpo, com 
sua profissão e com decisões capitais a respeito do crime que sofreu​” (Ivan Oliveira In: 
http://cinefestivais.com.br/criticas/paulina-de-santiago-mitre/​)​. 
Assim, com base nas ideias apontadas no texto sobre o desenvolvimento do juízo moral, 
façam uma análise do filme problematizando os termos acima: justiça, senso de justiça e 
autonomia. Ao final, escrevam as suas opiniões a respeito do desfecho do filme. 
 
 
 
 
 
http://cinefestivais.com.br/criticas/paulina-de-santiago-mitre/
http://cinefestivais.com.br/criticas/paulina-de-santiago-mitre/
 
O filme Argentino Paulina, é aquele tipo de arte, na qual o espectador pensa que encontrou 
uma resposta, mas na verdade fica embaralhado neste meio onde não há um moralismo 
convencional, não se tem lição: o que temos são seres humanos, envolvidos em dilemas 
íntimos, contradições subjetivas e relações da mais alta complexidade. O filme explora 
magistralmente o ser humano, mostrando suas fraquezas, dúvidas, imprecisões e dilemas, 
além de dramas sociais e morais sem necessariamente escancarar situações e sem procurar 
soluções simplórias. 
Primeiramente deve-se mostrar que o senso de justiça convencional apresentado no filme, é 
de certa maneira diferente do qual estamos acostumados, as escolhas da protagonista vão 
muito além de um desafio teimoso à figura paterna, pois elas mostram a tomada de controle 
da sua própria vida, num mundo de homens detentores dos meios para solucionar problemas. 
A personagem está profundamente mergulhada na política, fundamentalmente na justiça 
(mas, não na qual estamos acostumados, aquela exercida pelos políticos), Paulina usa sua 
crença no outro como instrumento de ruptura com um ciclo de bestialização do ser humano. 
Na verdade, trata-se aqui da construção de uma lógica alternativa de lidar com o mundo, que 
não a masculina, fadada a uma violência absolutamente destrutiva. Violência está presente, 
no ato contra a protagonista, mas também nas soluções propostas por seu namorado e por seu 
pai. 
Esta busca alternativa para solucionar os atos de violências apresentados por Paulina, 
podem-se encaixar no senso de justiça de Jean Piaget, no qual para ele deve-se haver a 
construção gradativa da moralidade calcada na evolução do respeito e da compreensão da 
perspectiva própria e do outro, deste modo p​ara de fato, ser uma ação moral, o sujeito deve 
agir corretamente pelo que sabe e quer de fato fazer acontecer. 
As condutas mais autônomas para Piaget, é a capacidade de tomar decisões em dois 
campos. No campo moral, refere-se decidir entre o que é certo e errado. No campo intelectual 
refere-se decidir oque é verdadeiro e o que não é verdadeiro, levando em consideração fatos 
relevantes, independentes de recompensa e punição. A conduta autônoma é 
progressivamente conquistada, mas não serão em todas as esferas da vida ou constantes a 
todo tempo. Por essa razão é possível encontrar em adultos, condutas regidas por uma 
mentalidade moral infantil e calcada na heteronomia, de forma que permanecem presos às 
regras externas, as quais são seguidas com base no respeito unilateral (pai e o namorado de 
Paulina). Assim, apresentam dificuldades para construir relações baseadas na reciprocidade 
de ações e pensamentos. 
As relações sociais são, portanto, formadoras dos sentimentos morais e marcam as duas 
grandes tendências da moral na teoria piagetiana: a moral do dever ou heteronomia e a moral 
do bem ou autonomia. Interessante observarmos que as morais da heteronomia e da 
autonomia coexistem a partir daí e, até na fase adulta é possível identificar a oscilação das 
condutas de um indivíduo ora predominantemente pautadas na heteronomia ora na 
autonomia. 
Em minha opinião, o filme sai totalmente do roteiro previsível hollywoodiano, me deixando 
ao final extremamente pensativa a respeito do mesmo e qual era o objetivo dele, pois o 
mesmo traz a compreensão que perturba e que faz pensar. Teve momentos no qual concordei 
plenamente com Paulina​, com suas decisões sobre seu próprio corpo, sua crítica à sociedade, 
mas depois, discordei embasada em um senso de justiça comum, pensando principalmente no 
impacto que suas decisões podem causar em outras mulheres que passaram pelas mesmas 
violências. Porém, ao final de tudo, não tenho uma posição certa sobre o final, estou dividida 
entre o senso comum de justiça e o mais radical na qual Paulina se embasou, tenho apenas 
uma certeza que o mundo não é feito de respostas fáceis e o poder do filme é justamente 
mostrar isso em minha opinião. 
Referências: 
Nakano, L e Oliveira, F. O DESENVOLVIMENTO MORAL E A NOÇÃO DE JUSTIÇA 
EM PESQUISAS BRASILEIRAS APOIADAS NA PERSPECTIVA PIAGETIANA: 
REVISÃO DE LITERATURA . Revista eletrônica de psicologia e epistemologia genéticas. 
Volume 10 Número 1 – Jan-Jul/2018

Continue navegando