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w w w. u n i s u l . b r C om unicação nas O rganizações Comunicação nas Organizações Universidade do Sul de Santa CatarinaComunicação nas Organizações Neste livro, você verificará a importância da comunicação organizacional nas empresas e estratégias para gerenciá-la adequadamente. Afinal, a comunicação organizacional desempenha um papel fundamental na comunicação da missão da empresa aos diferentes públicos internos e externos. Uma adequada comunicação interna é condição básica para a qualidade da comunicação externa. Pela possibilidade de conferir vantagem competitiva às organizações, convidamo-lo para estudar a comunicação organizacional, de modo que ao final deste livro você tenha obtido acesso a estratégias para se obter uma visão sistêmica e adequada da organização diante do seu público estratégico. UnisulVirtual Palhoça, 2018 Comunicação nas Organizações Universidade Sul de Santa Catarina Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Reitor Mauri Luiz Heerdt Vice-Reitor Lester Marcantonio Camargo Pró-Reitor de Ensino, Pesquisa, Pós-graduação, Extensão e Inovação Hércules Nunes de Araújo Pró-Reitor de Administração e Operações Heitor Wensing Júnior Assessor de Marketing, Comunicação e Relacionamento Fabiano Ceretta Diretor do Campus Universitário de Tubarão Rafael Ávila Faraco Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Zacaria Alexandre Nassar Diretora do Campus Universitário UnisulVirtual Ana Paula Reusing Pacheco Campus Universitário UnisulVirtual Diretora Ana Paula Reusing Pacheco Gerente de Administração e Serviços Acadêmicos Renato André Luz Gerente de Ensino, Pesquisa, Pós-graduação, Extensão e Inovação Moacir Heerdt Gerente de Relacionamento e Mercado Guilherme Araujo Silva Gerente da Rede de Polos José Gabriel da Silva Livro Didático Professor conteudista Maria Terezinha Angeloni Designer Instrucional Ligia Maria Soufen Tumolo Leandro Kigenski Pacheco Assistente Acadêmico Roberta de Fátima Martins (3ª ed. rev.) Thayanny Aparecida Bedinot da Conceição (1ª reimpressão) Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro Revisão Ortográfica Diane Dal Mago Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul A59 Angeloni, Maria Terezinha Comunicação nas organizações : livro didático / Maria Terezinha Angeloni. 3. ed. rev. – Palhoça : UnisulVirtual, 2018. 132 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. 1. Comunicação nas organizações. 2. Comunicação empresarial. 3. Comunicação na administração. 4. Comunicação e tecnologia. I. Título. CDD (21. ed.) 658.45 Copyright © UnisulVirtual 2018 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Livro didático UnisulVirtual Palhoça, 2018 Comunicação nas Organizações Nome Conteudista Sumário Introdução | 7 Capítulo 1 Contextualização do ambiente de negócios e empresarial | 9 Capítulo 2 Aspectos conceituais básicos | 31 Capítulo 3 Comunicação organizacional integrada | 55 Capítulo 4 Tecnologias e meios de comunicação | 99 Considerações Finais | 121 Referências | 123 Sobre a Professora Conteudista | 131 Introdução Seja bem-vindo(a) à unidade de aprendizagem Comunicação nas Organizações. Como você poderá observar no decorrer do seu estudo, a comunicação é uma área que vem cada vez mais sendo considerada como relevante para o sucesso das empresas. Com a passagem da sociedade industrial para a sociedade da informação e do conhecimento, as organizações gerenciadas nos moldes taylorianos, em que a comunicação não era prioridade, passam hoje por uma nova realidade. Para dar conta do volume de dados, informações e conhecimentos gerados tanto no ambiente interno como no externo, um sistema de comunicação bem estabelecido precisa ser implementado. Você irá constatar que atualmente a relevância da comunicação na gestão organizacional não pode ser negada, o que exige uma nova postura gerencial. As demandas por eficiência e eficácia para competir em um mercado global pedem uma prática organizacional que trata a comunicação de maneira integrada, visando à construção de uma visão sistêmica e compartilhada que gere as mesmas percepções para os mais diferentes públicos estratégicos da organização. A comunicação organizacional deve, assim, fazer parte das estratégias das organizações, devendo ser gerenciada de forma planejada por desempenhar um papel fundamental, tanto na definição da missão da empresa como na comunicação dela aos diferentes públicos internos e externos. A comunicação interna, como você terá oportunidade de verificar, é condição básica para a qualidade da comunicação externa, e cada integrante da organização deve-se transformar em um embaixador comprometido com a construção e consolidação da marca e da imagem, consideradas como importantes ativos intangíveis das organizações contemporâneas. Percorrendo esse caminho, o resultado alcançado, com certeza, serão acionistas satisfeitos, clientes encantados, processos eficientes e eficazes e colaboradores motivados e preparados, sendo a comunicação responsabilidade de todos. Pela atualidade do tema e pela possibilidade de conferir vantagem competitiva para as organizações, convidamo-lo a aprofundar seu conhecimento e refletir sobre as mudanças da sociedade e, consequentemente, das organizações, analisando com profundidade a importância da comunicação nas organizações. Maria Terezinha Angeloni 9 Capítulo 1 Contextualização do ambiente de negócios e empresarial 1 Seção 1 A evolução da sociedade e da comunicação Para que você possa compreender a comunicação, é importante conhecer anteriormente as etapas de evolução da sociedade caracterizadas pelas ondas de mudança, nas quais o volume de dados, informação e conhecimentos vêm crescendo exponencialmente, consolidando a crescente importância do papel da comunicação nas organizações. 1.1 As ondas de mudança da sociedade A contextualização histórica da sociedade faz-se necessária para que você possa compreender as transformações ocorridas nas empresas advindas da necessidade de se adequarem a cada nova prescrição da sociedade. Alguns autores (TOFFLER, 1980; LYNCK E KORDIS, 1988; SAVAGE, 1996) descreveram as transformações da sociedade sob a forma de ondas, conforme demonstrado na Figura 1.1. Segundo esses autores, uma onda se forma à medida em que mudanças de valores, crenças e comportamentos se acumulam e são disseminados no interior e entre as sociedades. 1 ANGELONI, Maria Terezinha. Comunicação nas organizações. 3. ed. rev. Palhoça : UnisulVirtual, 2018. p.09-30. 10 Capítulo 1 Figura 1.1 - Ondas de mudança Fonte: Adaptado de Toffler (1980), Lynch e Kordis (1988) e Savage (1996). Na Figura 1.1, você pode destacar, para análise, quatro grandes variáveis: • as ondas de mudança; • a duração de cada uma delas; • a curva de informação; • a separação entre ondas do músculo e do cérebro. a) As ondas de mudança Você pode observar na Figura 1.1 as quatro principais ondas de mudança da sociedade: a agrícola, a industrial, a da informação e a do conhecimento. Na primeira onda dominavam os detentores da terra, na segunda dominavam os que possuíam as máquinas e o capital, na terceira e quarta onda dominam os que dispõem da informação e do conhecimento. Vale destacar: As ondas são apresentadas de maneira linear, o que não acontece na realidade. Pode-se, sim, dizer que uma onda perde sua supremacia para uma outra onda. Serão necessários sempre alimentos e produtos industriais, mas quem fica com a maior parte do valor final de venda dos produtos? 11 Comunicação nas Organizações Na onda industrial, a maior parcela do valor de venda do produto ficava com quem transformava o produto e não com quem o plantava ou o extraía da natureza. Na era da informação e do conhecimento, quem fica com a maior parcela do valor final do produto é quem cria a informação e o conhecimento, comovocê pode verificar na Figura 1.2, ou seja, quem produz o conhecimento fica com 55% do valor do produto: Figura 1.2 - O peso do conhecimento na cadeia de valor Fonte: OCDE – Relatório Anual 2001 (apud GOMES e outros 2003). Veja ainda a importância da informação e do conhecimento analisando o exemplo da Embrapa com relação à aplicação do conhecimento na agricultura, mais especificamente no desenvolvimento de uma nova espécie de banana, a sigatoga amarela. Figura 1.3 – Banana sinagoga amarela A análise da relação da banana pioneira com a espécie sigatoga amarela nos permite verificar que a nova espécie: • tem o mesmo sabor que a pioneira; • é 20% maior; • produz frutos 3 meses antes e em 1 hectare produz 70% mais. Fonte: Gomes entre outros, (2003). Pelo exemplo acima podemos observar que uma onda não elimina a outra, mas podem se complementar, ou seja, com a incorporação de conhecimento na agricultura pode-se melhorar a produtividade. Um outro exemplo que merece destaque e reflexão é o da Nike. Responda às questões que seguem sobre a empresa: 12 Capítulo 1 • O que a matriz produz? • Quem transforma os bens intangíveis em bens tangíveis? • Quanto custava uma camiseta oficial da copa do mundo? • Quanto custava uma camiseta sem a marca? • O que podemos deduzir dessa reflexão? É importante neste momento diferenciar o que são bens tangíveis e intangíveis. Em seus estudos, Brooking e Motta (1996) distinguiram os recursos da organização em duas categorias: tangíveis e intangíveis. Para os autores, os tangíveis são aqueles bens (ativos) tipicamente encontrados no balanço das organizações, tais como: maquinário, equipamentos, construções. Na categoria dos bens intangíveis, estão as pessoas e suas competências, os processos de negócios, a propriedade intelectual e os ativos de mercado, como a fidelização dos clientes. Coletivamente estes bens intangíveis são conhecidos como capital intelectual e os autores os dividiram em quatro componentes: a. ativos centrados no humano, que compreendem as habilidades coletivas, capacidade criativa, liderança, empreendedorismo, capacidade de comunicação e habilidades gerenciais incorporadas nas pessoas da organização; b. ativos de propriedade intelectual, que incluem know-how, direitos autorais, registro de patentes e outros direitos; c. ativos de infraestrutura, que se referem às tecnologias, metodologias e processos, os quais permitem o funcionamento da organização, incluindo métodos de gerenciamento das forças de venda, base de dados, de informações, clientes, sistemas de comunicação; d. ativos de mercado, que definem o potencial da organização em termos de ativos intangíveis relacionados ao mercado, incluindo marcas, atendimento ao mercado, posicionamento e valor de mercado. 13 Comunicação nas Organizações Veja ainda o que dizem alguns renomados autores da administração sobre a importância da informação e do conhecimento: • Pierre Lévy (1993) – informações e conhecimentos estão na fonte das novas formas de riqueza e figuram entre os bens econômicos principais de nova era; • Peter Drucker (1994) – a riqueza será gerada pela inovação e essa pela capacidade de agregar conhecimento aos produtos e serviços. Discutidas as principais características das ondas de mudança, você está habilitado a analisar o tempo de duração de cada uma delas. b) A duração de cada onda Pelas informações contidas na Figura 1.1, você já deve ter observado que o tempo de duração de cada uma das ondas foi reduzido de maneira significativa. A primeira onda, a da agricultura, teve seu tempo de duração de cerca de 5.000 anos, dado que pode variar de acordo com o autor. A segunda onda, a industrial, teve o tempo de 300 anos. A terceira onda, a da informação, tem apenas algumas décadas e já se fala na onda do conhecimento. Se você for estudar a literatura sobre o assunto poderá encontrar algumas inconsistências, alguns autores não separam as ondas da informação e do conhecimento, outros acrescentam outras ondas – como a do espírito e a da sabedoria, que não discutiremos aqui por ainda não estarem suficientemente consolidadas. O que podemos inferir sobre a redução do tempo de cada uma das ondas com relação às organizações? O tempo de permanência de um produto no mercado também é cada vez menor. Todos já ouviram falar do famoso exemplo do Ford T. • Você já se perguntou quanto tempo ele ficou no mercado? • Pois é, temos aqui uma boa pesquisa a ser feita. Pesquise o tempo de permanência do Ford T no mercado, as suas versões e compare com a realidade atual. • Na época do Ford T, quais eram as opções de compra de carro que o consumidor possuía? • Qual a realidade atual? 14 Capítulo 1 Figura 1.4 – Evolução dos veículos Ford Fonte: Elaboração da autora, 2018. c) A curva de informação Com relação à curva da informação, podemos destacar que: • o aumento na quantidade de informações disponíveis tem ocorrido exponencialmente; • o homem pode se comunicar com qualquer outro em qualquer parte do planeta. Veja a seguir algumas curiosidades com relação ao aumento do volume de informações no decorrer do tempo: • nos últimos trinta anos foram produzidas mais informações do que nos cinco mil anos anteriores; • uma edição de dia útil do New York Times contém mais informações do que um cidadão médio do século XVI poderia obter em toda a sua vida; • em 1917, uma carta levava 40 dias entre os EUA e a Inglaterra; • em 1865, a morte de Abraham Lincoln levou treze dias para ser conhecida na Europa; • hoje as informações chegam em “tempo real”; • a biblioteca de Dante Alighiere no século XIV tinha 1.338 volumes e continha todo o conhecimento da época; • 300 anos mais tarde, Isaac Newton tinha 25 mil livros e supostamente todo o conhecimento europeu da época; • em 1990, a biblioteca do Congresso Americano tinha cerca de 93 bilhões de livros, cerca de três trilhões de bytes; • o telescópio Hubble enviou à Terra, em 1995, cerca de um trilhão de bytes/dia (PEREIRA e FONSECA, 1997). 15 Comunicação nas Organizações Você já se perguntou qual o efeito do aumento do volume de informações nas organizações? Um executivo do início do século XX defrontava-se com uma grande carência de informações, como suporte à tomada de decisão. Um executivo do início do século XXI encontra-se soterrado em um mar de informações. E a questão então muda: como gerenciar essas informações e retirar delas o subsídio para a tomada de decisão? d) A separação entre ondas do músculo e do cérebro Nas ondas agrícola e industrial existia uma separação entre os atores da organização em os que pensavam e os que executavam. Na sociedade da informação e do conhecimento, em razão do aumento do volume de informações e conhecimentos e da incapacidade dos gestores em processá-las, da formação dos integrantes das organizações, não é mais possível separar seus atores, pois: • as organizações necessitam não apenas de mão de obra (homem operacional), mas também de cérebro de obra (homem parentético); • surgem os trabalhadores do conhecimento; • para esses, as exigências saem do escopo do saber como fazer para saber por que fazer (DRUCKER, 1994). Você já se perguntou por que as pessoas que trabalham no chão de fábrica das organizações são denominadas de “mão de obra”? Porque interessava às organizações da era agrícola e industrial apenas a “mão” de seus trabalhadores, os músculos, e não seu cérebro. O “homem parentético” de Ramos (1984), ao contrário, é considerado “cérebro de obra”. Ele é um reflexo das novas circunstâncias sociais e uma reação a elas. A capacidade do homem parentético encontra-se na habilidade de abstrair-se do ambiente em que está inserido para analisá-lo de forma crítica, comprometido com os valores que o norteiam. Ele se sente capaz e motivado para participar, intervir e mudar o ambiente no qual está inserido. 16 Capítulo 1 Segundo Taylor (1967), os homens quando chegassemàs fábricas deveriam deixar do lado de fora não apenas seu sobretudo, mas também seu cérebro. Considerava também que os conflitos existentes nas organizações eram uma demonstração de má gestão. Hoje, para dar conta de processar o grande volume de informações geradas tanto no ambiente externo como no interno, as organizações necessitam não apenas de “mão de obra”, mas também do “cérebro” de seus integrantes. Após você ter compreendido as principais etapas pelas quais passou a sociedade, passamos agora à compreensão de como evoluiu a comunicação no tempo. 1.2 A evolução da comunicação A evolução da sociedade atingiu também a comunicação, que percorreu um grande caminho, do homem das cavernas à internet. A história da comunicação humana também pode ser analisada em ondas ou etapas. Algumas ferramentas inventadas pelo ser humano tiveram e têm como finalidade melhorar cada vez mais a comunicação entre os seres humanos. As etapas (ondas) de comunicação na história da civilização são, conforme McGarry (1999): • a oral; • a do alfabeto; • a do manuscrito; • a da tipografia; • a da eletrônica. Durante a onda oral, a voz humana era o único meio de transmissão das informações e conhecimentos, sendo para McLuhan (1964) o meio de informação mais rico no universo da comunicação, pois envolvia todos os sentidos intensamente. Reflita sobre as principais características da comunicação oral: • a transmissão de mensagens era feita por mitos, construídos e repetidos por meio de cantos e narrativas (LÉVY, 1993); • a principal restrição dessa etapa foi o tempo (com o decorrer desse, muitas informações e conhecimentos foram perdidos por não terem sido registrados); 17 Comunicação nas Organizações • a comunicação ocorria em grupos pequenos (minimizando ruídos na transmissão); • a utilização de redundância de informações (evitando mal- entendidos); • finalmente, tinha-se que contar com a boa memória dos agentes envolvidos na comunicação. A onda que envolve a criação do alfabeto e do manuscrito acaba com a imprecisão da etapa oral e minimiza algumas restrições da fala. O alfabeto surgiu da evolução de um sistema de sinais, conforme ressalta McGarry (1999): do pictográfico (representações de objetos, ações ou ideias – ícones), passando ao ideográfico (representa uma atividade, objeto ou ideia – indicadores), culminando no silábico (representa grupos de letras – símbolos). Reflita sobre as principais características da comunicação na etapa baseada no alfabeto e no manuscrito: • a escrita combina os signos ao mundo sonoro, criando um novo elo entre os dois modos de comunicação; • com a intensificação da função visual, o alfabeto reduziu o papel dos sentidos, do som, do tato e do paladar; • com o alfabeto, segundo McGarry (1999), o ser humano conseguiu comunicar ideias por meio de signos; • o registro permite que o conhecimento, a partir de então, possa ser transmitindo para as gerações futuras; • a história não mais se baseava na imaginação coletiva acumulada, mas sim em tábuas de argila, rolos de papiros e manuscritos; • os discursos são separados das circunstâncias em que foram produzidos, eliminando a mediação humana na adaptação ou tradução das mensagens, indispensável na etapa oral; • a escrita, ao intercalar um tempo entre a emissão e a recepção da mensagem, inicia a comunicação espaçada, que pode gerar mal- entendidos, perdas e erros, já que as mensagens podem aparecer fora de contexto ou serem ambíguas. A tipografia veio revolucionar a comunicação. Antes da tipografia os livros eram manuscritos e caros. Não há dúvida de que a imprensa revolucionou os meios de comunicação, segundo McGarry (1999), uniformizou a ortografia, o uso educado da língua, influenciou os padrões de organização e a recuperação do conhecimento registrado. 18 Capítulo 1 Reflita sobre as principais características da comunicação na etapa de comunicação baseada na tipografia: • o poder de preservação dos conhecimentos, anteriormente passados somente por meio do modo oral ou de poucos manuscritos, cresceu muito; • as ideias que haviam sido registradas em poucos manuscritos corriam sempre o perigo de se perderem ou caírem no esquecimento; • a impressão, de acordo com Lévy (1993), transformou profundamente o modo de transmissão dos textos, em razão do aumento da quantidade de impressos em circulação; • cada leitor pode gerar suas próprias interpretações independentemente da presença do mestre, como ocorria na época do ensino oral; • a partir da invenção da escrita e, posteriormente, da imprensa, a possibilidade de comunicar-se tomou um tal vulto que atualmente muitos reclamam do excesso de informações disponíveis; • o destinatário do texto após a imprensa é um indivíduo isolado que lê em silêncio. Após a tipografia, a onda eletrônica surgiu com a criação do computador, que inicialmente era restrito a determinadas instituições e hoje está em quase todos os lugares. O tempo transcorrido da criação do mainframe (computador de grande porte) ao notebook foi de apenas algumas décadas, e a criação de novas tecnologias não parou de crescer até hoje. Com a convergência das tecnologias da informática, televisão e telecomunicações, surge o conceito de rede, que vem, mais uma vez, revolucionar a comunicação. Pare e reflita sobre as principais características da comunicação na etapa de comunicação eletrônica: • o computador pessoal e a formação de redes, para Lévy (1993), transformaram a informática em um meio de comunicação de massa, pelo qual é possível trabalhar com a imagem e o som tão facilmente quanto na escrita; • as redes de informática encurtam o tempo e a distância e evidenciam os diferentes padrões da comunicação humana, principalmente os elos de comunicação informal entre usuários; • a comunicação rompe o tempo e o espaço e se transforma em 19 Comunicação nas Organizações tempo real; • as redes são as responsáveis pelo aumento vertiginoso do volume de dados, informações e conhecimento. Essa divisão em ondas, a exemplo das ondas de mudança da sociedade, não significa que uma etapa cessou para dar início à outra. Na realidade, elas coexistem, sendo que uma auxilia a outra, visando a uma comunicação entre os seres humanos de qualidade cada vez maior. Seção 2 Dado, informação e conhecimento – matérias- primas para a comunicação Para bem compreender o processo de comunicação, é importante entender, antes de tudo, o papel que nele exercem os dados, as informações e os conhecimentos. Dado, informação e conhecimento são elementos fundamentais para a comunicação e a tomada de decisão nas organizações, mas seus significados não são tão evidentes. Eles formam um sistema hierárquico de difícil delimitação. O que é um dado para um indivíduo pode ser informação e/ou conhecimento para outro. Davenport (1998) corrobora esse ponto de vista colocando resistência em fazer essa distinção por considerá-la nitidamente imprecisa. Considerando a inter-relação e difícil possibilidade de separar o que é dado, informação e conhecimento, e consciente de suas importâncias para a decisão, é importante que você compreenda seus significados. • Dados - são elementos brutos, sem significado, desvinculados da realidade. Eles constituem-se na matéria-prima da informação. Dados sem qualidade levam a informações e decisões da mesma natureza. Exemplo de dado: os elementos contidos em um balanço patrimonial. • Informações - são dados com significado. São dados dotados de relevância e propósito. São dados contextualizados que visam a 20 Capítulo 1 fornecer uma solução para uma determinada situação de decisão. Exemplo: a relação de um ou mais dados do balanço patrimonial irá fornecer índices financeiros (rotação, liquidez, rentabilidade etc.). • Conhecimentos - podem ser considerados como as informações processadas pelos indivíduos. O valor agregado à informação depende dos conhecimentos anteriores dessesindivíduos. Adquirimos conhecimento por meio do uso da informação nas nossas ações. Ou seja, o uso dos índices financeiros na tomada de decisão gera o conhecimento. Dotar os dados, as informações e os conhecimentos de significados não é um processo tão simples como parece. Características individuais que formam o modelo mental de cada pessoa interferem na codificação/decodificação deles, acarretando, muitas vezes, distorções individuais que poderão ocasionar problemas no processo de comunicação. Segundo Lago (2001), Pereira e Fonseca (1997) e Davenport (1998), para amenizar essas distorções devemos ter consciência de que: • existem diferenças entre o que queremos dizer e o que realmente dizemos; entre o que dizemos e o que os outros ouvem; entre o que ouvem e o que escutam; entre o que entendem e lembram; e entre o que lembram e retransmitem; • as pessoas só escutam aquilo que querem e como querem de acordo com suas próprias experiências, paradigmas e pré- julgamentos; • nosso estado de espírito e humor pode afetar a maneira como lidamos com a informação; • as abordagens informacionais normalmente privilegiam os atributos racionais, sequenciais em detrimento a outros igualmente importantes, senão mais, como os relacionados às abordagens intuitivas e não lineares. 2.1 Alavancando as decisões No processo de tomada de decisão, é importante ter disponíveis dados, informações e conhecimentos, mas esses normalmente estão dispersos, fragmentados e armazenados na cabeça dos indivíduos e sofrem interferência de seus modelos mentais. Nesse momento, o processo comunicacional e o trabalho em equipe (assuntos a serem aprofundados nos próximos capítulos) desempenham papéis relevantes 21 Comunicação nas Organizações para resolver algumas das dificuldades essenciais no processo de tomada de decisão. Pelo processo de comunicação, pode-se buscar o consenso que permitirá prever a adequação dos planos individuais de ação em função do convencimento, e não da imposição ou manipulação. Pelo trabalho em equipe, pode-se conseguir obter o maior número de informações e perspectivas de análise distintas, sendo validada a proposta mais convincente no confronto argumentativo dos demais (GUTIERREZ, 1999). Visando a alavancar a qualidade das decisões organizacionais, sugerimos uma reflexão sobre a melhoria da comunicação e o envolvimento das pessoas na tomada de decisão. 2.2 Melhorando a comunicação Alguns teóricos da administração, como Davenport (1998), Nonaka e Takeuchi (1997), Stewart (1998) e Sveiby (1998), apontam um novo direcionamento da comunicação, voltado, principalmente, às questões relacionadas à transmissão da informação e do conhecimento organizacional (ANGELONI; FERNANDES, 1999). Os conceitos de dado, informação e conhecimento estão estritamente relacionados com sua utilidade no processo decisório e ligados ao conceito de comunicação. O processo de comunicação é uma sequência de acontecimentos no qual dados, informações e conhecimentos são transmitidos de um emissor para um receptor. Figura 1.5: Componentes do processo de comunicação Fonte: Elaboração da autora, 2018. Segundo Davenport (1998), uma das características da informação consiste na dificuldade de sua transferência com absoluta fidelidade, e sendo o conhecimento a informação dotada de valor, consequentemente, a transmissão é ainda mais difícil. 22 Capítulo 1 A informação é valiosa precisamente porque alguém deu a ela um contexto, um significado, acrescentou a ela sua própria sabedoria, considerou suas implicações mais amplas, gerando o conhecimento. O conhecimento, logo, é tácito e difícil de explicitar. “Quem quer que já tenha tentado transferir conhecimento entre pessoas ou grupos sabe como é árdua a tarefa. Os receptores devem não apenas usar a informação, mas também reconhecer que de fato constitui conhecimento”. (NONAKA apud DAVENPORT, 1998, p. 19). Para melhorar a qualidade da comunicação, o ser humano tem que desenvolver as habilidades de se expressar e de ouvir. Normalmente as pessoas estão predispostas a defender seus pontos de vista, assim, quando um interlocutor está falando, o outro não está atento ao que ele está dizendo, mas já está preparando a argumentação para defender seu ponto de vista, interferindo na qualidade da comunicação. 2.3 A inter-relação entre as variáveis Pelo visto, até o presente momento, você deve ter observado que existe uma inter-relação entre as variáveis dado, informação e conhecimento com os processos de comunicação e decisão, conforme representado na Figura 1.6. Figura 1.6 – Elementos intervenientes na tomada de decisão Fonte: Elaboração da autora, 2018. Considerando o dado como a matéria-prima da informação e a informação, por sua vez, como a matéria-prima do conhecimento, de nada adiantaria a organização dispor de dados, informações e conhecimentos, se persistisse na organização a cultura de que dados, informações e conhecimentos constituem-se em poder. As informações e os conhecimentos devem circular pela organização por meio de um eficiente sistema de comunicação, envolvendo a instalação de uma infraestrutura tecnológica adequada. Só assim a organização disporá de dados, 23 Comunicação nas Organizações informações e conhecimentos de qualidade e em tempo hábil para dar suporte à tomada de decisão. Qual seu comportamento em relação aos dados, informações e conhecimentos de que você dispõe? Você os considera poder e os guarda apenas para você, ou compartilha com os demais integrantes da organização? Qual a interferência de uma e da outra postura no processo decisório? Seção 3 A comunicação do ponto de vista das teorias administrativas Esta seção tem por objetivo fazer uma análise histórica da função da comunicação dentro das empresas, a partir das Teorias das Organizações. A análise das Teorias das Organizações apresentada na sequência foi realizada por Angeloni e Fernandes (1999) e busca analisar a interação entre a organização e a comunicação, nas diferentes fases do pensamento administrativo. 3.1 Corrente racionalista clássica Para os teóricos dessa corrente, como Taylor, Fayol e Weber, a comunicação da empresa é enfocada, principalmente, como informação operacional e formal. Ela se limita à informação descendente e sob forma diretiva (BENOIT, 1994). Os racionalistas clássicos transmitem uma imagem mecanicista da organização, na qual o ser humano ocupa passivamente seu posto. Esses modelos de organização são fundamentados na racionalidade. O que importa é que as instruções sejam seguidas. Esse estilo de gestão despótico de administração separa os executantes dos dirigentes; o trabalho em equipe, entre os operários, deve ser evitado, a fim de evitar más influências. 24 Capítulo 1 A Figura 1.7 retrata as características da comunicação para essa corrente. Figura 1.7 – A comunicação do ponto de vista da corrente racionalista Fonte: Elaboração da autora, 2018. Em reação às simplificações excessivas contidas nos estudos dos racionalistas, uma nova corrente de pensamento se desenvolve: a dos psicólogos. 3.2 Corrente psicológica Essa nova corrente se posiciona particularmente contra a concepção do “Homo economicus” e faz referência a outros fatores explicativos do comportamento dos indivíduos no interior das organizações, constituindo-se em um progresso incontestável do ponto de vista das motivações não econômicas. Os psicólogos, entre eles, Mayo, Likert, McGregor, Leavitt e Maslow, quiseram mostrar que a psicologia poderia ser útil e, sobretudo, importante, para as organizações, e abriram uma nova perspectiva para a comunicação organizacional: a era das relações humanas, na qual o trabalho em equipe e o interesse pelas pessoas são privilegiados (BENOIT, 1994; PETIT, entre outros, 1993). Os métodos tradicionais de autoridade são colocados em xeque pelas novas estruturas, mas a abordagem, contudo, é vista como paternalista à medida em que as tarefas assumidas pelos executantescontinuam pobres e o poder e as responsabilidades continuam centralizadas, mesmo que as práticas das relações humanas privilegiem a expressão dos sentimentos. 25 Comunicação nas Organizações A Figura 1.8 retrata as principais características dessa corrente. Figura 1.8 – A comunicação do ponto de vista da corrente psicológica Fonte: Elaboração da autora, 2018. Apesar de terem-se acrescido variáveis novas ao processo de comunicação, o caráter hierárquico e formal da comunicação permanece retratado em forma piramidal, surgindo uma nova corrente: a dos sociólogos. 3.3 Corrente sociológica Do ponto de vista da corrente dos sociólogos, mais especificamente do sociólogo Friedberg (1981), a abordagem dos psicólogos desconsidera a importância das estruturas organizacionais, analisando as comunicações no vazio. Contudo, os indivíduos em situação de trabalho estão inseridos em estruturas organizacionais que definem de maneira relativamente restritiva como as comunicações podem e devem se desenvolver. Os atores das organizações não são, assim, totalmente livres para adotar um comportamento. A organização determina o comportamento humano por meio da divisão de trabalho; suas especializações e suas definições hierárquicas determinam claramente a autoridade e o sistema de relações que regulamentam a comunicação necessária entre os cargos de trabalho. Eles denunciam a burocracia não comunicante e colocam em valor a comunicação informal, conforme as características apresentadas na Figura 1.9. 26 Capítulo 1 Figura 1.9 – A comunicação do ponto de vista da corrente sociológica Fonte: Elaboração da autora, 2018. Pelos sociólogos, as empresas passam a ser vistas como sistemas abertos e a participação dos atores das organizações proporciona uma distribuição mais democrática do poder. Para essa corrente de pesquisadores, a expressão passa a ser considerada como prioritária. Ela é vista como um dos elementos da administração participativa em que o pessoal está engajado a dar seu parecer, não somente para ser escutado, mas também para preparar as decisões com a preocupação de uma maior eficácia. 3.4 Corrente gerencial Para os autores inseridos na corrente gerencial, como Simon e Drucker, “a racionalidade humana” deve ser questionada. Os conceitos de participação, de estratégia, de administração por objetivos, de decisão, de contingência etc. ocupam um lugar central. Os indivíduos, dotados de personalidade própria e limitados por restrições múltiplas, devem contentar-se com uma “solução satisfatória” permitida pelos meios e recursos disponíveis na circunstância (FRIEDBERG, 1981). 27 Comunicação nas Organizações Esses autores consideram que existem competências particulares ao administrador não encontradas nas outras correntes de pensamento. Uma das competências é a comunicação no interior das organizações, outra é a decisão em condições de incertezas, e finalmente a planificação estratégica. Na Figura 1.10 você encontrará destacadas as principais características dessa corrente. Figura 1.10 – A comunicação do ponto de vista da corrente gerencial Fonte: Elaboração da autora, 2018. Apesar dos grandes avanços dentro da Teoria das Organizações na análise da comunicação, as contingências ambientais e o avanço do conhecimento dão espaço a novas perspectivas. 3.5 Corrente da administração pós-industrial Ouchi, Peters e Waterman, Archier e Serieyx e Kanter são os representantes mais importantes dos novos modelos ocidentais da Administração Pós-Industrial, reforçando a importância das empresas em desenvolver técnicas e métodos para facilitar a comunicação e admitindo que o papel tradicional dos executivos deve ser adaptado a esse novo momento, tornando esses, sobretudo, animadores e comunicadores. O papel primordial dos executivos é o de facilitar a comunicação, estimulando interações constantes e positivas. O sucesso das empresas está intimamente relacionado com a comunicação rica e informal. A comunicação passa a ser caracterizada por uma efervescência de ideias, de conceitos, de métodos, pela explosão de novas teorias e ampliação do campo de 28 Capítulo 1 pesquisa, surgindo, dessa forma, a consciência da necessidade da comunicação organizacional como uma função básica das empresas. As principais características dessa escola você encontrará na Figura 1.11. Figura 1.11 – A comunicação do ponto de vista da corrente pós-industrial Fonte: Elaboração da autora, 2018. Verifica-se, assim, a passagem da referência mecânica da época tayloriana à referência biológica e sistêmica, em que organizar não é mais colocar a ordem, mas criar a vida, tornando a comunicação um dos elementos-chave ao sucesso das empresas. A partir desse momento, serão analisadas as tendências da comunicação na abordagem contemporânea da administração. 3.6 Corrente contemporânea A corrente de administração contemporânea, por meio de seus principais teóricos, Davenport e Prusak (1998), Nonaka e Takeuchi (1997), Stewart (1998), Sveiby (1998) e Morrison (1997), aponta um novo direcionamento da comunicação, voltado não apenas à transmissão de dados e informações, mas também do conhecimento organizacional. A complexidade ambiental na qual as organizações passam a estar inseridas modifica o paradigma da comunicação empresarial. O grande desafio passa a ser o da transmissão do conhecimento dentro das dimensões interna e externa, assim como em todas as direções e sentidos da organização. Essa relevância do conhecimento dentro das organizações se dá pelo fato de que ele passa a ser a única vantagem competitiva duradoura de uma empresa. 29 Comunicação nas Organizações Nonaka e Takeuchi (1997) afirmam a importância da comunicação para a transmissão e conversão do conhecimento tácito em explícito e vice-versa, e como uma função básica da organização ela se volta a facilitar os processos de compartilhamento do conhecimento, dentro não apenas do espaço físico comum da empresa, mas agora dentro de uma realidade virtual, passando a comunicação no ciberespaço a ser essencial para as empresas. Outro aspecto relevante dessa corrente é a explosão da tecnologia como objeto facilitador da comunicação, principalmente com o advento da telemática. As conexões em rede, a comunicação a laser, a fibra ótica e os sistemas de comutação de grandes computadores cresceram significativamente e espalharam pelo contexto empresarial uma ideia de conectividade. Na Figura 1.12, veja as principais características da comunicação nas empresas contemporâneas. Figura 1.12 – A comunicação do ponto de vista da corrente contemporânea Fonte: Elaboração da autora, 2018. Apesar das grandes mudanças no ambiente de negócios e do ápice de algumas variáveis em detrimento de outras, a comunicação percorreu o caminho do pensamento administrativo, crescendo em importância e firmando seu papel fundamental para a eficiência e eficácia dos objetivos empresariais. Imaginar o êxito organizacional na perspectiva contemporânea sem trabalhar os processos de comunicação pode ser considerado uma imprudência. 30 Capítulo 1 Que conclusão pode-se tirar da análise da teoria administrativa do ponto de vista da comunicação? • Pode-se observar nessa análise histórica que, inicialmente, a empresa tinha apenas uma responsabilidade: a econômica, com o objetivo único da maximização dos lucros; • Em cem anos, a administração dos ativos materiais (administração da produção, do capital etc.) deixou lugar importante à administração de ativos cada vez mais imateriais (informação, imagem da empresa, administração de recursos humanos etc.); • A comunicação começou a aparecer verdadeiramente como uma função da empresa, no mesmo nível que a administração da produção, financeira ou de recursos humanos (MUCCHIELLI, 1993); • A evolução do mundo dos negócios teve que seguir a evolução da sociedade. As organizações do início do século, rígidas, organizadas em torno de um sistema tradicional, não têmmais espaço nos dias atuais, quando a informação e o conhecimento tornam-se recursos fundamentais para o gerenciamento das organizações, tanto em suas formas internas como externas. Em qual (ais) corrente (s) você enquadraria sua empresa? Faça uma análise considerando que nenhuma organização está inserida em apenas uma corrente, mas que sofre influência de mais de uma delas. Identifique, contudo, a maior predominância. Ao estudar este capítulo, você pôde analisar o contexto organizacional e identificar as ondas de mudança, conhecer a evolução da comunicação e compreender o papel do dado, da informação e do conhecimento no processo de comunicação. Foi capaz de distinguir nas principais etapas da teoria organizacional e o papel da comunicação. 31 Capítulo 2 Aspectos conceituais básicos 1 Seção 1 A comunicação e os elementos básicos do processo de comunicação Nesta seção, você encontra as informações referentes à conceituação de comunicação e aos principais fatores que compõem o processo de comunicação. 1.1 O que é comunicação Definir comunicação é uma tarefa árdua, por se tratar de um assunto amplo e complexo. A palavra “comunicar”, de acordo com Pereira e Fonseca (1997), vem do Latim communicare, que significa “tornar comum”. Por meio das comunicações é possível aumentar a sinergia entre as pessoas, diminuindo dúvidas e questionamentos. O aperfeiçoamento das comunicações modifica o comportamento dos indivíduos e possibilita a aceleração do processo de conhecimento. Mas como se define comunicação? A seguir você encontrará as definições de alguns dos principais autores da área. De uma forma ampla, para Casagrande (1988), a comunicação caracteriza uma estrutura social, por meio da qual se compartilham modos de vida e de comportamentos, hábitos ou costumes, e que supõe a existência de certos conjuntos de normas que estruturam a associação e os conjuntos dos elementos 1 ANGELONI, Maria Terezinha. Comunicação nas organizações. 3. ed. rev. Palhoça : UnisulVirtual, 2018. p.31-54. 32 Capítulo 2 que estão em relação. A definição de comunicação para Faria e Suassuna (1982, p. 1) é “a técnica de transmitir uma mensagem a um público ou pessoa, fazendo com que um pensamento definido e codificado possa alcançar o objetivo por meio de estímulo capaz de produzir a ação desejada”. A comunicação, conforme Penteado (1977, p. 2), “é o processo por meio do qual as pessoas tentam fazer um intercâmbio compreensivo de significações através de símbolos.” Stefanelli (1992, p. 42) define a comunicação como o processo de compreender, compartilhar mensagens enviadas e recebidas, no qual as próprias mensagens e o modo como se dá seu intercâmbio, exercem influência no comportamento das pessoas nele envolvidas, a curto, médio e longo prazo, no local onde ocorreu a comunicação ou mesmo a distância. O processo de comunicação envolve pessoas, que se inter-relacionam por meio de símbolos em busca de significados compartilhados. Comunicação é o processo por meio do qual as pessoas tentam fazer um intercâmbio compreensivo de significações através de símbolos. Assim, a comunicação, conforme Faria e Suassuna (1982), obedece a um processo, cujo mecanismo envolve o estímulo (excitação externa ou interna do organismo), a percepção (sensibilidade ao estímulo), a elaboração mental (comparação de novas ideias ou sensações com os hábitos arraigados), a resposta (reação ao estímulo), a ação (atitude externa de defesa ao impulso recebido) e as consequências (comparação das vantagens ou desvantagens da nova atitude). Para Berlo (1999), se há comunicação, o receptor reage a um estímulo, e se ele não reagir é porque não houve comunicação. Logo, todo comportamento comunicativo tem como objetivo a obtenção de uma reação de uma pessoa ou de um grupo. Torquato (1986, p. 162) destaca ainda que 33 Comunicação nas Organizações a comunicação exerce um formidável poder. Por meio da comunicação, uma pessoa convence, persuade, atrai, muda ideias, influencia, gera atitudes, desperta sentimentos, provoca expectativas e induz comportamentos. Por meio da comunicação, uma organização estabelece uma tipologia de consentimento, formando congruência, equalização, homogeneização de ideias, integração de propósitos. Ao se tratar da “Comunicação Organizacional”, pode-se traçar um paralelo com a comunicação humana, mudando-se apenas o conteúdo das experiências compartilhadas, as quais relatariam o cotidiano da empresa. Shermerhorn (1991, p. 250) define comunicação organizacional como o processo específico pelo qual a informação se movimenta dentro de uma organização e entre a organização e seu ambiente. Dessa forma, você poderá constatar, em síntese, que a comunicação é um processo pelo qual, na prática, quem comunica está: • influenciando o outro; • modificando atitudes e comportamentos; • criando hábitos novos; • ampliando seus conhecimentos; • estimulando o processo de aprendizagem. Após ter compreendido o que é comunicação, é importante que você conheça os elementos que constituem este processo. 1.2 Elementos básicos do processo de comunicação Considerando que a comunicação é um processo, antes de mais nada, você precisa saber o que é um processo. De acordo com Berlo (1999), um processo é qualquer fenômeno que apresenta contínua mudança no tempo, não tem começo e nem fim definido, tratando-se de uma sequência dinâmica de eventos, sendo que cada elemento do processo age e é influenciado pelos outros. O conceito apresentado por Redfield (1966) determina a comunicação como sendo um processo de transferência de uma mensagem de uma fonte de informação a um 34 Capítulo 2 destinatário, sendo a mensagem transmitida por palavra escrita ou falada, por imagens, por gestos ou por outros meios. O processo de comunicação para Tavares (1988) é composto de três elementos: o emissor (codificador), a mensagem e o receptor (decodificador), enquanto que para Penteado (1977) esse processo é composto por quatro elementos, acrescentando aos anteriores o meio (canal). Shannon e Weaver (1949) consideram ainda a importância de um outro elemento no processo de comunicação: o ruído. Redfield (1966) incorpora um outro elemento ao processo de comunicação: a resposta do destinatário, ou o feedback. Na Figura 2.2 você encontrará a representação dos elementos básicos do processo de comunicação. Para melhor compreender o processo de comunicação, você deverá saber em que consiste cada um desses elementos. Para iniciar o processo de comunicação, é necessário que se tenha o que comunicar, o que nos coloca frente à mensagem. A mensagem é a forma com que o emissor codifica a informação. Figura 2.1 – O processo de comunicação Fonte: PEREIRA, 2003, p. 53. O emissor ou codificador é a pessoa que produz, codifica e transmite a mensagem, podendo ser um único indivíduo ou um grupo situado no interior ou exterior das organizações. A codificação da mensagem consiste em organizar as ideias por meio de uma série de símbolos, resultando em uma mensagem pela 35 Comunicação nas Organizações qual pretendemos nos comunicar. Na codificação, o emissor deverá ter em mente quem é o receptor, para que a mensagem possa ser compreendida por ele. O receptor ou decodificador é o indivíduo ou grupo de indivíduos que recebe a mensagem emitida. A recepção é a etapa na qual a mensagem chega ao seu destinatário por meio de um canal. A decodificação da mensagem é o processo pelo qual o receptor interpreta o significado dos símbolos utilizados na construção da mensagem, podendo haver uma série de interpretações diferentes por diferentes indivíduos ou pelo mesmo indivíduo em épocas diferentes. Você se lembra do item referente a dado, informação e conhecimento como matéria- prima para a comunicação? Lá foi destacado que no processo de codificação/ decodificação da mensagem podem ocorrer distorções. Pois é, trata-se do ruído. O ruído é uma interferência na mensagem que pode tornara comunicação menos eficaz e que está quase sempre presente no processo de comunicação. O canal é o meio ou veículo pelo qual o emissor e o receptor são ligados e que possibilita à mensagem circular. Os meios de comunicação podem variar dos mais naturais, como a boca de um indivíduo, aos mais sofisticados, como as mais avançadas tecnologias da informação. Você se lembra do item referente à evolução da comunicação? Lá você estudou os principais meios de comunicação, do oral à eletrônica. Eles não são excludentes, mas podem ser complementares. O feedback é a verificação do sucesso de uma comunicação, ou seja, é o momento em que se verifica se a mensagem transmitida pelo emissor foi bem compreendida pelo receptor. Após você conhecer os elementos de base da comunicação, está apto a conhecer os principais modelos de comunicação. 36 Capítulo 2 Seção 2 Modelos de comunicação Alguns modelos de comunicação são apresentados na literatura, mas entre eles apenas os principais serão aqui estudados. A exemplo da Seção 3, do Capítulo 1, na qual você estudou a evolução da comunicação do ponto de vista das teorias administrativas, aqui você encontrará alguns modelos de comunicação que também acompanharam a evolução do pensamento administrativo. Mas antes disso, são importantes alguns esclarecimentos. Acompanhe! De acordo com Kerlinger (apud MARTINS, 2007, p. 2): Uma teoria é um conjunto de constructos (conceitos), definições e proposições relacionadas entre si, que apresentam uma visão sistemática de fenômenos especificando relações entre variáveis com a finalidade de explicar e prever fenômenos da realidade. De acordo com Martins (2007, p. 2): Um modelo busca a especificação da natureza e a importância de relações entre variáveis, constructos, fatores etc. que possam oferecer, com base em teorias científicas, explicações e explanações de um dado sistema. Pode-se afirmar que um modelo representa a teoria de um sistema. 2.1 Modelo físico Um dos primeiros modelos do processo comunicativo foi o de Shannon e Weaver (1949), Figura 2.2, no qual uma certa fonte emissora seleciona signos de um repertório, constrói uma mensagem e a transmite mediante emissão de sinais ou estímulos físicos, por meio de um canal. Os sinais são recebidos por um receptor, que os decodifica, sendo a mensagem recebida pelo destinatário. Algumas interferências (ruídos) podem modificar a mensagem, utilizando- se a redundância ou repetição da mensagem para minimização desse problema. Você poderá verificar que estão presentes no modelo (Figura 2.2) os elementos básicos da comunicação que você estudou na seção anterior. 37 Comunicação nas Organizações Os autores desse modelo, que eram engenheiros, não consideraram os aspectos psicológicos nem os dinâmicos da comunicação. O objetivo deles era a transmissão de mensagens pelas máquinas, tais como o telégrafo. Desse modo, a fonte da mensagem foi privilegiada, colocando o destinatário em uma posição passiva, não estando o feedback presente no modelo proposto. Figura 2.2 – O modelo de comunicação de Shannon e Weaver Fonte: SHANNON e WEAVER, 1949, p. 98. Em reação às simplificações excessivas contidas no modelo físico de comunicação, uma nova corrente de pensamento se desenvolve e um novo modelo é proposto: o psicológico. 2.2 Modelo psicológico Além de considerar os elementos retratados no modelo físico, acrescenta outros elementos relacionados com os processos mentais das pessoas que se comunicam. No modelo psicológico de Berlo, apresentado na Figura 2.3, o emissor e o receptor funcionam como intérpretes da mensagem, sendo essa interpretação permeada pelos hábitos dos envolvidos e pelo sentido (aceitação e entendimento, intenção e objetivo) da mensagem. A escolha do código da mensagem pelo codificador poderá refletir na atenção do decodificador a essa. Figura 2.3 – O modelo de comunicação de Berlo Fonte: BERLO, 1999, p. 73. 38 Capítulo 2 O modelo psicológico, apesar de tentar humanizar o modelo físico de comunicação, não conseguiu abranger a complexidade do processo da comunicação, surgindo o modelo sociológico de comunicação. 2.3 Modelo sociológico Enquanto o modelo psicológico tinha seu foco nos processos mentais dos comunicadores, o modelo sociológico mostra o processo de comunicação como um fenômeno social que ocorre entre pessoas, sem esquecer que essas são membros de grupos primários, os quais, por sua vez, são parte de estruturas sociais maiores que compõem o sistema social global. O processo de comunicação ocorre, conforme o modelo de Riley e Riley (MERTON, p.1961), Figura 2.4, pela transmissão de mensagem por meio do emissor (E), que consiste de um grupo primário, para um outro grupo primário, que a recebe por meio do receptor (R). As estruturas sociais constituem segmentos do sistema social global, ou seja, da sociedade em seu conjunto. Figura 2.4 – O modelo de comunicação dos Riley Fonte: RILEY e RILEY apud MERTON, 1961, p. 102. Moles (1986), analisando os modelos existentes e a teoria da informação de Shannon e Weaver, percebe a falta de uma visão sistêmica do processo de comunicação e apresenta o modelo baseado na teoria estrutural da comunicação e da sociedade, resultando em um dos modelos de comunicação mais completos até o momento, conforme Figura 2.5. 39 Comunicação nas Organizações Figura 2.5 – O modelo de comunicação de Moles Fonte: MOLES, 1986, p. 29. Você pode observar no modelo de Moles (1986) que o autor considera uma grande parte dos elementos da comunicação abordados pelos autores descritos anteriormente, acrescentando uma série de outros elementos ainda não considerados, tais como o contexto da comunicação e o repertório de signos dos indivíduos, o universo material, a interação dos envolvidos, a aprendizagem, bem como a organização dos sistemas de transação entre os indivíduos por meio da produção, seleção e identificação dos signos. Diante do exposto, você pôde perceber que a comunicação deve ser analisada levando-se em conta tanto os aspectos físicos, como psicológicos e sociológicos, estando todos eles contemplados no modelo de comunicação de Moles. 40 Capítulo 2 Seção 3 Os fatores que influenciam a comunicação nas organizações Ao avançar no estudo das comunicações nas organizações, você poderá constatar que inúmeros fatores vêm à tona, demonstrando a complexidade do tema. Diversos aspectos que influenciam a comunicação nas organizações são apresentados e discutidos por autores como Torquato (1986), Penteado (1989), Boudith e Buono (1992), Stoner e Freeman (1985), Shermerhorn (1991) e Argenti (2006). A compreensão desses aspectos é essencial para que você possa compreender a comunicação organizacional, pois é por meio dela que se constroem as relações de trabalho. 3.1 Categorias das comunicações A comunicação organizacional visa a conhecer a si mesmo e ao outro, que pode estar inserido no interior da organização ou no ambiente externo. Portanto, duas são as principais categorias de comunicação, a interna e a externa: • interna - integra as comunicações que se processam no interior do sistema organizacional, dando suporte às decisões, agrupando estruturas, redes, objetivos, normas, políticas, programas, diretrizes etc.; • externa - diz respeito às comunicações recebidas e enviadas pelo sistema organizacional para o mercado, fornecedores, consumidores, poderes públicos, envolvendo os padrões sociais, culturais, políticos, econômicos e do meio ambiente. Segundo Torquato (1986), essas duas categorias dão organicidade e consistência à organização, permitindo conhecer e estar em interação tanto com o ambiente interno como com o externo onde atua. Ladeira (1981) destaca que tanto a comunicação com o público interno quanto com o público externo deverá ser subsidiada por princípios éticos. 3.2 Fluxo de comunicação Comunicação descendente - é o processo de transmissão de informações da cúpula para a base, consistindo de instruções,normas, procedimentos etc. O grande problema encontrado nesse fluxo é a ausência de feedback, podendo gerar os ruídos provenientes da passagem das comunicações pelos 41 Comunicação nas Organizações diferentes níveis hierárquicos segundo o seguinte fluxo: do diretor para o chefe de departamento, que envia a mensagem para o chefe de divisão e assim sucessivamente até chegar aos níveis inferiores. Quanto maior o número de níveis hierárquicos, maior a possibilidade de ruídos na comunicação. Você já brincou de telefone sem fio? Então, já deve ter observado que, quanto maior o número de pessoas envolvidas no processo, maior a possibilidade de ruídos na comunicação. Comunicação ascendente - é o processo de transmissão de informações pelo qual a base (os colaboradores) pode fazer chegar aos escalões superiores informações funcionais e operativas, assim como suas opiniões, atitudes e ações. Por exemplo, em uma organização com forte estrutura de autoridade, um trabalhador de chão de fábrica dificilmente se comunicará com o gerente, mas apenas com seu supervisor direto. Comunicação horizontal – possibilita o entrosamento dos integrantes da organização no mesmo nível ou entre níveis hierárquicos diferentes de forma diagonal e lateral: • diagonal - contatos com pessoas de status mais elevado ou mais baixo que trabalham em outros departamentos; • lateral - contato com pessoas de igual status que trabalham em outros departamentos. Qualquer planejamento do sistema de comunicação deverá contemplar todos os direcionamentos acima descritos, conforme você poderá visualizar na Figura 2.6, visando à implantação de um sistema de comunicação multidirecional. 42 Capítulo 2 Figura 2.6 - Sistema de comunicação multidirecional Fonte: Elaboração da autora, 2018. É interessante destacar que a comunicação multidirecional é tão importante para as organizações que pode ser comparada ao sangue no corpo humano. Uma unidade ou setor sem informação pode sofrer tanto quanto um órgão do corpo humano sem sangue, portanto, imagine as informações percorrendo todas as unidades da organização assim como o sangue flui por todo o corpo. 3.3 Redes de comunicação Uma rede consiste de um conjunto de canais existentes dentro de uma organização ou grupo social, por meio dos quais o processo de comunicação acontece. Duas principais redes de comunicação permeiam a comunicação, a rede formal e a rede informal: • rede formal – comporta todas as manifestações comunicativas legitimadas pelo poder burocrático oficial, seguindo a estrutura da organização. Trata-se da comunicação oficial que faz parte do sistema legal das comunicações implícitas nas operações de uma organização. A rede formal transporta as informações essenciais nas quais os gerentes confiam quase que exclusivamente. Concretiza- se a partir de relatórios, memorandos etc., sendo de grande importância para o desenvolvimento das atividades diárias da organização; • rede informal – abriga as manifestações espontâneas dos integrantes da organização. É a rede que está cada vez mais sendo 43 Comunicação nas Organizações incentivada pelas organizações com modelo de gestão participativo. Concretiza-se por meio de ambientes estruturados para encontros dos colaboradores, como sala de conversas, campeonatos de esportes, associações, teatros na empresa etc. - estudos demonstram que cerca de 75% das informações transportadas por meio da rede informal estavam corretas, ou seja, a rede informal transporta informações fidedignas e de qualidade, devendo ser estimulada pela organização. - Se em uma organização a comunicação for insuficiente, boatos de corredor, o famoso “rádio-corredor”, poderão surgir para suprir a deficiência na comunicação. A rádio-corredor, como popularmente conhecida a rede informal de comunicação, sempre existiu, e quanto menor o nível de comunicação em uma organização ou maior o número de falhas no processo comunicacional, maior o número de boatos existentes. As organizações devem começar a prestar mais atenção e dedicar um tempo maior para o processo de comunicação. Todos os dias os integrantes das organizações são surpreendidos com informações novas que causam espanto quando eles percebem que são os últimos a serem informados. Quando a rede formal falha, a rede informal tende a preencher o vazio. Mas por que isso acontece em grande parte das organizações? Pode-se dizer que uma das razões é decorrente do modelo de gestão adotado, muitas vezes apoiado em uma cultura forte de comando e controle. 44 Capítulo 2 Veja, pela charge abaixo, o poder do boato! Figura 2.7 - O poder do boato Fonte: <http://www.terravista.com.pt>. As redes de comunicação formal e informal podem ser utilizadas simultaneamente na organização para melhorar o sistema de comunicação, e a estrutura formal poderá utilizar a rede informal para completar o processo de comunicação. 3.4 Dimensões da comunicação A comunicação comporta três dimensões: a comportamental, a social e a cibernética. Comportamental - abrange o posicionamento das pessoas e do desenvolvimento organizacional, envolvendo preocupações e habilidades comunicativas entre pessoas e grupos, com a finalidade de ajustamentos, integração e desenvolvimento, ocorrendo em três níveis, intrapessoal, interpessoal e grupal: • nível intrapessoal - estuda o comportamento do indivíduo, suas atitudes e habilidades; • nível interpessoal - trata, além das variáveis internas de cada comunicador, das relações existentes entre as pessoas envolvidas, suas intenções e expectativas ante as outras, as regras dos jogos interpessoais em que poderão estar empenhadas no processo de 45 Comunicação nas Organizações comunicação; • nível grupal - também denominado de organizacional, é onde se estuda todo o repertório de situações envolvendo grupos nas organizações, como dimensões do grupo, frequência de contatos, tempo de conhecimentos, de trabalho, participação em decisões, centralismo grupal, coesão, clareza da norma grupal, homogeneidade etc. Social - envolve a comunicação entre a organização e o sistema social, por meio da comunicação de massa, que se caracteriza pela transmissão de mensagens de uma fonte para uma ampla audiência, heterogênea e dispersa. Cibernética - agrupa circuitos de captação, armazenamento, tratamento e disseminação de informações para uso dos quadros organizacionais, vinculando- se ao sistema tecnológico das organizações. As três dimensões devem acontecer simultaneamente na organização de maneira sinérgica e harmônica, visando à utilização de linguagem unificada para todos os públicos, e envolvida na comunicação visando à construção de um discurso organizacional coerente e comum, criando, assim, uma visão compartilhada. Como acontece a comunicação entre duas pessoas? - A pessoa X pode falar ou escrever, mas ela comunica sempre ou apenas quando a pessoa Y recebe a mensagem? - Basta a pessoa Y receber a mensagem ou ela precisa decodificá-la? - Pode ocorrer falha na comunicação? Como, quando e por quê? - Pode-se utilizar simultaneamente mais de um tipo de comunicação? A partir do presente momento, você verificará que as pessoas sempre utilizam mais de um tipo de comunicação, e mesmo quando estão paradas estão se comunicando, ou seja: Tudo é comunicação. Não podemos não comunicar. (BATESON, BIRDWMISTELL, WATZLAWICK,1981) 3.5 Tipos de comunicação Para os pesquisadores da Escola Palo Alto, Bateson, Birdwmistell e Watzlawick (1981), o indivíduo está inserido em um contexto e em uma cultura que permitem interpretar o conteúdo da comunicação não apenas pela mensagem, mas 46 Capítulo 2 também pelo comportamento do emissor. A comunicação para os autores ultrapassa a análise do verbal e destaca-se a importância da comunicação não verbal. Comunicação verbal - acontece por meio das palavras ou signos e é responsável por apenas uma pequena parte da comunicação. Por meio da comunicação verbal, simbólica e abstrata,que se faz por palavras (faladas ou escritas), o homem pode compreender e dominar o mundo que o rodeia e entender os outros. Por meio da fala, os indivíduos de um mesmo grupo linguístico criam diferentes representações do mundo, interagem, comunicam- se, trocam experiências e buscam soluções para seus problemas (DORNELLES, 2004). Comunicação não verbal – acontece por meio de gestos, expressão facial, voz etc. e é responsável por 2/3 do que transmitimos. Ela complementa ou contradiz o que dizemos, além de demonstrar os sentimentos. São sinais que produzimos, gestos que fazemos, imagens que criamos ou percebemos. Eles acontecem por meio das mãos, da cabeça, do rosto, da boca, enfim, ocorrem pela expressão do corpo. A expressão não verbal nem sempre possui a clareza das palavras, mas é carregada de significados. Mais emocional e sensitivo, o não verbal muitas vezes é o elemento de surpresa na comunicação consciente e programada (DORNELLES, 2004). Muitos sinais de comunicação reforçam, substituem ou contrariam a fala, como os gestos, a expressão facial, a postura (movimentos e inclinações do corpo), a ocupação do espaço, o toque (o tato é um sentido que substitui o olhar). A comunicação não verbal tem expressão própria da cultura, do ambiente social onde vigora. Ela transmite crenças, valores comuns a determinados povos ou mesmo a uma parcela da população. O que a comunicação não verbal não domina é o mundo interior do destinatário, que interpreta, modifica, reinventa a mensagem (DORNELLES, 2004). Algumas formas de comunicação não verbal: • cinestésica - movimento do corpo (gestos, postura, expressão facial); • paralinguística - características da voz, sons parasitas; • proxêmica - utilização do espaço; • tacênica - contato físico; • nível de energia - comportamento do indivíduo; • aparência física - roupas, cabelos; • contato visual - contato do olhar. 47 Comunicação nas Organizações Imagine uma pessoa falando ao telefone. Você poderá imaginá-la inerte, sem qualquer gesticulação ou expressão? Ao escutá-la falar, você consegue imaginar seu estado de espírito ou humor? Portanto, mesmo a distância você consegue decodificar a linguagem não verbal de seu interlocutor. Isso porque, em todo processo de comunicação, o corpo expressa, independentemente da vontade do emissor uma série de sinais, denominados de linguagem não verbal. Essa série de sinais é emitida de forma inconsciente e muitas vezes pode contradizer a mensagem emitida por meio da comunicação verbal. Se nossa linguagem corporal não for compatível com as palavras, o interlocutor ficará confuso e poderá não acreditar na linguagem verbal. Em síntese: Lembre-se: Falamos com a voz, mas nos comunicamos com o corpo inteiro. 3.6 A essencialidade da comunicação Para Katz e Kahn (1975), as comunicações são tão essenciais para uma organização que alguns analistas sustentam que, se pudéssemos identificar todos os canais de comunicação e a influência das mensagens no comportamento da organização, estaríamos mais próximos de compreender a organização em si. A análise dos diferentes fatores que influenciam a comunicação permite ainda que você perceba a complexidade do processo de comunicação humano e organizacional, que não é um processo fácil e está permeado de barreiras. 3.7 O lado perverso da comunicação: as barreiras decorrentes do processo Para a implantação de um eficaz sistema de comunicação, é indispensável que a organização identifique as barreiras existentes. Muitos autores, como Robbins (1978), Lima (1979), Stoner e Freeman (1985), Stefanelli (1992), Boudith e Buono (1992), Silva (1996), Chanlat e Bédard (1996), Robbins e Finley (1997) e Pereira (2003), abordam o tema identificando inúmeras barreiras que interferem na qualidade do sistema de comunicação. 48 Capítulo 2 Essas barreiras podem ter sua origem na organização, nos seres humanos e nas tecnologias. A seguir serão apresentadas algumas das principais barreiras existentes na comunicação organizacional: • estrutura organizacional - as hierarquias rígidas dificultam a comunicação entre os níveis hierárquicos, criando barreiras na comunicação devido às suas estruturas formais, distância física entre as pessoas, diferenças de status e poder; • layouts fechados - gabinetes e portas fechadas criam barreiras físicas que podem prejudicar a comunicação, transmitindo a ideia de que as pessoas não querem ser incomodadas, principalmente em se tratando de pessoas de nível hierárquico superior; • reações emocionais - as reações emocionais (raiva, amor, autodefesa, ódio, ciúme, medo, vergonha) influenciam o modo como compreendemos a mensagem de outros e influenciamos os outros com nossas mensagens; • desconfiança - a comunicação sofre influência da confiança ou desconfiança que o receptor tem no emissor, assim como da autoconfiança. Muitas pessoas têm a tendência de ocultar seus pensamentos, talvez por não gostarem de si mesmas. Essas pessoas, por um lado, refugiam-se no mutismo por medo de suas ideias não agradarem e serem rejeitadas ou não valorizarem sua mensagem e, por outro lado, porque não gostam do emissor; • não ouvir - muito se fala sobre a habilidade de saber falar, mas um dos grandes problemas da comunicação está na capacidade de ouvir do receptor. Normalmente, as pessoas não compreendem a informação que está sendo transmitida, pois não deixam o seu interlocutor chegar ao fim do raciocínio antes de discordar ou interromper com dúvidas sobre o que está sendo dito; • escutando mal - a nossa capacidade de raciocínio é bem maior do que a de fala, consequentemente preenchemos este “espaço” com outros pensamentos durante uma conversa. As mensagens sofrem ainda com os pré-julgamentos realizados, dificultando, muitas vezes, a compreensão da mensagem emitida; • escutando seletivamente – as pessoas também ouvem apenas aquilo que reforça sua percepção de mundo. Se a mensagem que recebem entra em conflito com suas convicções, a pessoa pode ter dificuldade para entender, lembrar e agir, em um processo denominado de memória seletiva; 49 Comunicação nas Organizações Você já reparou quantas vezes: ficamos mais preocupados com a resposta do que em escutar o que a outra pessoa está falando? não escutamos ou escutamos pela metade? interpretamos o que o outro diz sem ao menos deixá-lo concluir o pensamento? concluímos que o conteúdo é ruim antes de ouvir a mensagem? surge equívoco na comunicação devido à falta de atenção e de saber escutar? • linguagem diferente - palavras significam coisas diferentes para pessoas diferentes de acordo com idade, sexo, cultura, educação e formação cultural (modelos mentais que você verá no próximo capítulo), gerando diferenças de percepção sobre a mesma mensagem; • jargão - dentro do contexto da utilização de linguagens diferentes, encontra-se o jargão. Algumas empresas ou pessoas especialistas possuem seu jargão peculiar, o que por um lado pode facilitar a comunicação no interior de cada especialidade ou organização, mas por outro pode aumentar as dificuldades de compreensão entre elas, já que muitas palavras possuem significados equivalentes; • diferenças de percepção - é um dos fatores mais comuns na interferência da comunicação, já que pessoas com conhecimentos e experiências diferentes costumam perceber o mesmo fenômeno a partir de perspectivas diferentes, pois cada pessoa possui um quadro de referências próprio que resulta das suas vivências e experiências adquiridas ao longo do tempo (modelos mentais); • complexidade e tamanho da mensagem - mensagens excessivamente longas e com o uso de termos pouco correntes ou redundantes dificultam a sua compreensão; • diferenças culturais - a comunicação é feita de palavras, símbolos e imagens, e esses podem significar coisas diferentes para pessoas de culturas diferentes. A comunicação entre pessoas de culturas diferentes e que utilizam línguas diferentes é sempre mais complexa.Por exemplo, em alguns países, mostrar a sola do sapato é uma ofensa. O toque físico com o interlocutor, usual na cultura brasileira, não é bem visto por algumas culturas, como a francesa; • atitudes defensivas (abertura ou não a críticas) - muitas pessoas não possuem capacidade para dar atenção às observações e críticas que lhe são feitas, reagindo emocionalmente e muitas vezes com hostilidade; • ausência de feedback - sem um retorno, não podemos saber se a 50 Capítulo 2 mensagem foi bem recebida ou não. É arriscado apenas presumir que o receptor recebeu a mensagem e a decodificou de maneira correta, compreendendo realmente o que o emissor quis dizer; • canais formais - apesar de cobrir uma distância cada vez maior, à medida em que as organizações se desenvolvem e crescem, esses canais também inibem o fluxo de informação, pois as comunicações formais necessitam ultrapassar muitas camadas da organização, cada uma encerrando um potencial de distorção; • codificação da mensagem - utilizar códigos desconhecidos pelo receptor na construção das mensagens pode afetar a qualidade da comunicação, podendo gerar mal-entendidos; • propriedade da informação - em algumas organizações e para algumas pessoas, informação é ainda considerada poder, consequentemente indivíduos que possuem informações e conhecimentos especiais não os compartilham com outras pessoas, o que implica tanto distorções na comunicação quanto atrasos no processo decisório das empresas; • inconsistência da linguagem verbal e não verbal - a linguagem não verbal transmite uma série de mensagens importantes que podem reforçar ou contradizer a linguagem verbal. A linguagem não verbal, por ser espontânea e não controlada, tende a assumir um grande papel de credibilidade ou não das mensagens recebidas; • ruídos - dificilmente a comunicação ocorre sem a interferência de ruídos, que podem ser físicos, ambientais e psicossociais. Após conhecer algumas das barreiras à comunicação, leia com atenção o texto “O difícil facilitário do verbo ouvir”, de Arthur da Távola (1999, p. 8), que segue: 51 Comunicação nas Organizações O difícil facilitário do verbo ouvir Artur da Távola Um dos maiores problemas de comunicação, tanto a de massa como a interpessoal, é o como o receptor ouve, e como o emissor, ou seja, o outro fala. Em uma mesma cena de televisão, notícia de telejornal ou em um simples bate- papo ou discussão, observo que a mesma frase permite diferentes níveis de entendimento. Na conversação se dá o mesmo. Raras, raríssimas são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que a outra pessoa está dizendo. Observe que: 1. Em geral, o receptor não ouve o que o outro fala; ele ouve o que o outro não está dizendo. 2. O receptor não ouve o que a outra fala; ele ouve o que quer ouvir. 3. O receptor não ouve o que o outro fala; ele ouve o que já escutara antes e coloca o que o outro está falando naquilo que se acostumou a ouvir. 4. O receptor não ouve o que o outro fala; ele ouve o que imaginou que o outro ia falar. 5. Em uma discussão, em geral, os discutidores não ouvem o que o outro está falando. Eles ouvem quase que só o que estão pensando para dizer em seguida. 6. A pessoa não ouve o que a outra pessoa fala. Eles apenas ouvem o que gostariam ou de ouvir ou o que o outro dissesse. 7. A pessoa não ouve o que a outra pessoa fala. Ela ouve o que já está sentindo. 8. A pessoa não ouve o que a outra fala. Ela ouve o que já pensava a respeito daquilo que a outra está falando. 9. A pessoa não ouve o que a outra está falando. Ela retira da fala da outra pessoa apenas as partes que tenham a ver com ela, que a emocionem, agradem ou molestem. 10. A pessoa não ouve o que a outra fala. Ouve o que confirme ou rejeite o seu próprio pensamento. 11. A pessoa não ouve o que a outra está falando. Ouve o que possa se adaptar ao impulso de amor, raiva ou ódio que já sentia pela outra pessoa. 12. A pessoa não ouve o que a outra fala. Ouve da fala dela apenas aqueles pontos que possam fazer sentido para as ideias e pontos de vista que no momento a estejam influenciando ou tocando diretamente. 52 Capítulo 2 Esses doze pontos mostram como é raro e difícil conversar. Como é raro e difícil se comunicar! O que há em geral, ou são monólogos simultaneamente trocados, à guisa de conversa, ou são monólogos paralelos, à guisa de diálogo. O próprio diálogo pode haver sem que, necessariamente, haja comunicação. Essa só se dá quando ambos os polos ouvem- se, não no sentido de “escutar”, mas no sentido de procurar compreender em sua extensão e profundidade. Ouvir, portanto, é muito raro. É necessário limpar a mente de todos os ruídos e interferências do próprio pensamento durante a fala alheia. Ouvir implica uma entrega ao outro, uma diluição nele. Daí a dificuldade das pessoas inteligentes efetivamente ouvirem. A sua inteligência em funcionamento permanente, ou o seu hábito de pensar, avaliar, julgar e analisar tudo interfere como ruído na plena recepção daquilo que o outro está falando. Não é só a inteligência a atrapalhar a plena audiência. Outros elementos perturbam o ato de ouvir. Um deles é o mecanismo de defesa. Há pessoas que se defendem de ouvir o que as outras estão dizendo, por verdadeiro pavor inconsciente de se perderem de si mesmas. Elas precisam “não ouvir” porque “não ouvindo” livram-se da retificação dos próprios pontos de vista, da aceitação de realidades diferentes das próprias, de verdades idem e assim por diante. Livram do novo, que é saúde, mas apavora. Não ouvir, é, pois sólido mecanismo de defesa. Ouvir é um grande desafio. Desafio de abertura interior: de impulso na direção do próximo, de comunhão com ele, de aceitação dele como é e como pensa. Ouvir é proeza. Ouvir é ato de sabedoria. Depois que a pessoa aprende a ouvir ela passa a fazer descobertas incríveis escondidas e patentes em tudo aquilo que os outros estão dizendo. Apesar de todos esses fatores que dificultam a comunicação, a vantagem competitiva de uma organização no futuro, para Brown (2000), dependerá da qualidade da comunicação. As barreiras sempre existiram e existirão, mas hoje, na sociedade da informação e do conhecimento, as organizações devem ser preocupar, mais do na sociedade industrial, com o estabelecimento de um sistema de comunicação eficaz, sinérgico e integrado, que possibilite que as informações e conhecimentos circulem por todas as unidades da organização, dando suporte ao desenvolvimento das atividades organizacionais e ao processo decisório. 53 Comunicação nas Organizações Quais das barreiras acima apresentadas são organizacionais, humanas e tecnológicas? Analisando as barreiras organizacionais, humanas e tecnológicas acima descritas, como elas acontecem em sua empresa? Por que existem tantas falhas na comunicação organizacional e o que fazer para amenizá-las? Como você se comporta no processo de comunicação, tanto na emissão como na recepção das mensagens? 3.8 Em busca de uma comunicação eficaz Identificar as barreiras é muito importante, mas não suficiente para tornar o sistema de comunicação eficaz. Mecanismos para eliminar ou amenizar as distorções devem ser implementados visando a um melhor entendimento entre os interlocutores e, consequentemente, o bom andamento das atividades organizacionais. Todo ser humano tem capacidade de se comunicar, mas muitas vezes o processo comunicacional deixa a desejar, comprometendo significativamente a qualidade das relações interpessoais e de grupo, assim como os resultados da organização. Dessa forma, o único caminho a seguir é a reflexão, análise e identificação das barreiras existentes e o desenvolvimento de habilidades para superá-las, em busca de uma comunicação eficaz. A comunicação organizacional é uma arte que deve ser desenvolvida. Desenvolver e implementar um sistema de comunicação eficaz é o grande desafio que as organizações enfrentam, já que muitos problemas podem ser fruto de falhas na
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