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1 www.g7juridico.com.br INTENSIVO I Direito Penal Cleber Masson Aula 5 ROTEIRO DE AULA Continuação: 4.5. O Direito Penal do inimigo no Brasil - Admite-se a aplicação do Direito Penal do inimigo no Brasil? Não. Ele viola o princípio da isonomia (art. 5º, caput, CRFB/88 - “todos são iguais perante lei”) - como todos são iguais perante a lei não é possível separar as pessoas entre cidadãos e inimigos. Além do mais, diversos dispositivos da CF vedam a tortura, o uso de provas ilícitas, a incomunicabilidade do preso, consagram o contraditório etc. - Existem resquícios do Direito Penal do Inimigo no Brasil? Sim. O professor cita com exemplo os dispositivos legais que regulamentam o abate de aviões que se encontram em espaço aéreo brasileiro sem autorização, bem como o art. 5º da Lei de Terrorismo (Lei 13.260/2016) que pune atos preparatórios de terrorismo. Lei 13.260/2016, art. 5º: “Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito: Pena - a correspondente ao delito consumado, diminuída de um quarto até a metade.(...)” Obs.: A punição dos atos preparatórios de terrorismo é consequencia de pressões externas, principalmente dos EUA, em razão da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. 2 www.g7juridico.com.br O professor também menciona a Operação Hashtag, em que a Polícia Federal identificou um grupo de brasileiros jurando respeito à valores islâmicos via redes sociais na época das Olimpíadas, sendo enquadrado como atos preparatórios de terrorismo. Na época, Alexandre de Moraes atuava como Ministro da Justiça. Trata-se de um exemplo de manifestação do Direito Penal do Inimigo no Brasil. O regime disciplinar diferenciado (RDD) possui previsão no art. 52 da LEP e foi muito modificado com o Pacote Anticrime. Ainda que não seja o entendimento do STF e STJ, alguns doutrinadores afirmam que o RDD é uma manifestação do Direito Penal do Inimigo diante da possibilidade de isolamento do preso, da restrição de duas visitas por semanas por apenas duas horas com exceção de crianças e do banho de sol por apenas duas horas por dia. - Informalmente, o Direito Penal do Inimigo é admitido no Brasil? O Direito Penal do Inimigo existe informalmente no Brasil. Exemplo: grupos de extermínio - o professor cita os ataques realizados pelo PCC em 2006 em que grupos de criminosos atacaram viaturas policiais gerando muitos confrontos, mortes de policiais e de membros da organização criminosa. A polícia reagiu com veemência e muitos bandidos foram mortos, sobretudo, por vingança pela morte de policiais. Trata-se de exemplo de manifestação informal do Direito Penal do Inimigo. 5. A quarta velocidade do Direito Penal A quarta velocidade foi criada pelo argentino Daniel Pastor; ela também é chamada de neopunitivismo ou panpenalismo. - Neopunitivismo: nova forma de punir. - Panpenalismo: Direito Penal absoluto De acordo com Daniel Pastor, a quarta velocidade é aplicável principalmente a antigos chefes de Estado pela prática de crimes de guerra. (Ex.: morte de Sadam Hussein - Iraque). Obs.: O panpenalismo é mais arbitrário que o Direito Penal do Inimigo. 3 www.g7juridico.com.br O Direito Penal de quarta velocidade viola o princípio do juiz natural porque criam tribunais de exceção (que julgam fatos determinados), o princípio da reserva legal e da anterioridade da lei penal. Além disso, ele também viola o sistema acusatório - as funções de acusar, defender e julgar devem ser realizadas por pessoas diversas. Exemplo: os EUA acusaram, julgaram e aplicaram a pena de morte a Sadam Hussein. - Existe a quinta velocidade do Direito Penal? O Direito Penal de quinta velocidade possui presença maciça de agentes de segurança pública nos locais públicos para inibir a criminalidade. LEI PENAL 1. Introdução A lei penal é a fonte formal imediata do Direito Penal porque só ela pode criar crimes e cominar as respectivas penas. ● Estrutura: a lei penal incriminadora é formada pelo: - Preceito primário: definição da conduta criminosa; e - Preceito secundário: pena cominada. Exemplo: “Art. 121. Matar alguém: (Preceito primário) Pena - reclusão, de seis a vinte anos.” (Preceito secundário) Obs.: Norma perfeita é aquela que contém o conceito primário e o secundário. 2. Classificação a) Incriminadoras: são aquelas que criam crimes e cominam as respectivas penas. Elas estão contidas na Parte Especial do Código Penal e na legislação extravagante. Atenção: Não existem normas penais incriminadoras na Parte Geral do Código Penal. b) Não incriminadoras: são aquelas que não criam crimes e não cominam penas. Em regra elas estão alojadas na Parte Geral do Código Penal. Excepcionalmente existem normas não incriminadoras na Parte Especial do Código Penal e na legislação extravagante . 4 www.g7juridico.com.br Exemplo: art. 128 do CP; art. 327 do CP. ● As normas penais não incriminadoras se subdividem em várias categorias: b.1) permissivas: são as causas de exclusão de ilicitude porque autorizam a prática de fato típico em determinadas situações. Exemplo: o art. 25 do CP autoriza “matar alguém” em legítima defesa; As normas penais permissivas, em regra, estão previstas no art. 23 do CP (Parte Geral do Código Penal). Contudo, também existem normas penais permissivas na Parte Especial do Código Penal - art. 128 e 142 do, CP. b.2) exculpantes: preveem a exclusão da culpabilidade do agente ou a impunidade de determinados delitos. Exemplos de excludentes da culpabilidade: art. 21, 22 e 26 do CP. Exemplos de impunidade de determinados delitos: art. 342, §2º do CP. b.3) interpretativas: esclarecem o conteúdo e o significado de outras normas. Exemplo: art. 327, CP. b.4) de aplicação, finais ou complementares: delimitam o campo de validade do Direito Penal. Exemplo: art. 5º, CP - princípio da territorialidade. b.5) diretivas: estabelecem os princípios vetores do Direito Penal. Exemplo: art. 1º, CP - princípio da reserva legal e da anterioridade. b.6) integrativas, complementares ou de extensão: complementam a tipicidade na tentativa (art. 14, caput, CP), na participação (art. 29, caput, CP) e nos crimes omissivos impróprios (art. 13, §2º, CP). 5 www.g7juridico.com.br c) Completas ou perfeitas: apresentam todos elementos da conduta criminosa e a respectiva pena. Exemplo: art. 155, caput, CP. d) Incompletas ou imperfeitas: dependem de complementação de ato administrativo ou por outra lei (norma penal em branco) ou, ainda, pelo aplicador do direito (tipo penal aberto). 3. Características da lei penal a) Exclusividade: apenas a lei penal pode criar crimes e cominar as respectivas penas. b) Anterioridade: a lei penal deve ser anterior ao fato que pretende punir. c) imperatividade: o cumprimento da lei penal é obrigatório; sua violação acarreta a imposição de uma pena ou medida diversa. d) Generalidade: a lei penal se dirige indistintamente a todas as pessoas, inclusive aos inimputáveis. e) Impessoalidade: a lei penal projeta seus efeitos para fatos futuros e alcança qualquer pessoa que venha a praticá-los. 4. Tempo do Crime Obs.: Lugar; Ubiquidade; Tempo; Atividade CP, art. 4º: “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.” - O tempo do crime é o momento da conduta. Exemplo: “A” efetua disparo de arma de fogo contra “B” quando possuía 17 anos, 11 meses e 29 dias. “B” falece uma semana depois - nesse caso “A” é inimputável e responde pelas disposições do ECA. - O Código Penal adota a teoria da atividade para o tempo do crime (art. 4º do CP). - A teoria da atividade tem utilidade em relação aos crimes materiais ou causais. 6www.g7juridico.com.br Os crimes materiais ou causais são aqueles em que o tipo penal possui conduta e resultado naturalístico; eles exigem a produção do resultado naturalístico para fins de consumação. Nos crimes formais ou de mera conduta, a consumação se dá com a prática da conduta. Teoria da atividade versus prescrição Cuidado: para o tempo do crime o art. 4ª do Código Penal adota a teoria da atividade. Entretanto, no tocante ao termo inicial da prescrição, o art. 111, I, do Código Penal adota a teoria do resultado. CP, art. 111: “A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: I - do dia em que o crime se consumou.” Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.” - Crime permanente: é aquele cuja consumação se prolonga no tempo pela vontade do agente. O agente deliberadamente mantém uma situação contrária ao Direito. No crime permanente: i) A prisão em flagrante é possível a qualquer tempo enquanto durar a permanência; e ii) A prescrição começa a fluir a partir da data em que cessar a permanência. Exemplo: extorsão mediante sequestro (art. 159, CP) - no momento da privação da liberdade da vítima o sequestrador possuía 17 anos; ela é libertada após o agente completar dezoito anos e entrar em vigor uma lei mais grave. Nesse caso, o sequestrador responde pelo Código Penal e a lei mais grave é aplicada. - Crime continuado - art. 71 do CP: o agente pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e pelas condições de tempo, local, maneira de execução e outras semelhantes - os crimes subsequentes devem ser entendidos como continuação do primeiro (teoria da ficção jurídica). Exemplo: o agente pratica cinco furtos continuados - os quatros primeiros quando do vigor de lei menos grave e o último crime sob a vigência de lei mais grave. 7 www.g7juridico.com.br Atenção: no exemplo acima, de acordo com a Súmula 711 do STF deve ser aplicada a lei mais grave para toda a série continuada. Para a teoria da ficção jurídica, o crime continuado é um único delito para fins de aplicação de pena. 5. Lugar do crime CP, art. 6º: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.” Para o lugar do crime se adota a teoria da ubiquidade. O lugar do crime é o lugar da ação ou omissão, bem como o lugar do resultado. Por esse motivo essa teoria também é chamda de mista. A teoria da ubiquidade ou mista se aplica aos crimes materiais ou causais. Além disso, ela se aplica apenas aos crimes à distância ou de espaço máximo. Os crimes à distância ou de espaço máximo são aqueles em que a conduta e o resultado ocorrem em países diversos - se refere à soberania dos países envolvidos na empreitada criminosa. Exemplo: “A” atira em “B” em solo brasileiro e “B” morre em solo paraguaio - nesse caso o lugar do crime será o Brasil e o Paraguai. No exemplo acima, “A” pode ser julgado tanto no Brasil quanto no Paraguai. Atenção: como o agente pode ser processado, julgado, condenado e cumprir penas em dois países, o art. 8º CP traz uma regra para evitar o bis in idem: a pena cumprida no estrangeiro deve ser descontada da pena a ser cumprida no Brasil pelo mesmo crime. CP, art. 8º: “A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.” Imagine que, no exemplo acima, o agente foi processado tanto no Brasil como no Paraguai e condenado à pena de 15 anos primeiro e 10 anos no segundo. Após cumprir a pena no Paraguai, ele é extraditado para o Brasil e cumpre os 5 anos remanescentes. 8 www.g7juridico.com.br - Crimes à distância versus crimes plurilocais: Os crimes à distância ou crimes de espaço máximo são aqueles em que conduta e resultado ocorrem em países diversos. Trata-se de uma questão de soberania dos países envolvidos . Os crimes plurilocais ou crimes de espaço mínimo são aqueles em que conduta e o resultado ocorrem em comarcas diversas dentro do mesmo país. Nesse caso, a questão é de competência. Exemplo: “A” atira em “B” no Rio de Janeiro e a vítima falece em Niterói. A teoria do resultado é adotada nos crimes plurilocais para fixação da competência (art. 70 do CPP). CPP, art. 70: “A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.” - Crimes plurilocais dolosos contra a vida: A jurisprudência adota a teoria da atividade para fixação da competência nos crimes plurilocais dolosos contra a vida. Exemplo: “A” atira em “B” no Rio de Janeiro e a vítima falece em Niterói - de acordo com o CPP a competência seria da comarca de Niterói, mas a jurisprudência dos tribunais fixam a competência da comarca do Rio. - Fundamentos: a) Produção de provas: No exemplo dado acima as provas estão no local da conduta e não no local do resultado, assim como as eventuais testemunhas. b) Essência do Tribunal do Júri: O fundamento do júri é que a sociedade abalada por um crime deve julgar por seus representantes o autor do delito. 6. Lei penal no espaço 9 www.g7juridico.com.br 6.1. Introdução - Regra geral: territorialidade - aplica-se a lei brasileira ao crime praticado no território nacional. - Exceções: i) Extraterritorialidade: aplicação da lei penal brasileira a crimes cometidos fora do território nacional. ii) Intraterritorialidade: aplicação da lei estrangeira a crime praticado no Brasil. Exemplo: diplomata de outro país que pratica crime no Brasil - nesse caso ele não se submete à legislação brasileira. 6.2. Princípio da territorialidade CP, art. 5º, caput: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.” O princípio da territorialidade não é absoluto. A territorialidade é mitigadaou temperada. Conceito de território: é o espaço em que o Estado exerce a sua soberania política. Território brasileiro por extensão: o território brasileiro por extensão está previsto no art. 5º, §1º do CP: CP, art. 5º, § 1º: “Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto- mar.” São territórios brasileiros por extensão: - As embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem. 10 www.g7juridico.com.br Exemplo: imagine que um avião da Presidência da República está no aeroporto da China e o comandante pratica crime de estupro contra uma aeromoça - nesse caso o crime foi praticado em território brasileiro porque se considera que o avião é território brasileiro por extensão. - As aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. Exemplo: um empresário pratica crime de estrupro em jatinho no espaço aéreo correspondente ao Brasil - nesse caso o crime foi praticado em território brasileiro por extensão. Obs.: A sede e os prédios de Consulados Estrangeiros não são considerados território extrangeiro por extensão. 6.3. Outros princípios (crime praticado no extrangeiro) 6.3.1. Princípio da personalidade ou nacionalidade a) Personalidade ativa: o crime é praticadono extrangeiro e o agente é punido de acordo com a lei brasileira, independentemente da nacionalidade do sujeito passivo e do bem jurídico tutelado. - A personalidade ativa está prevista no art. 7º, I, “d’ do CP: Art. 7º, inc. I, “d”, do CP: Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: (...) d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.” Além disso, o princípio também está previsto no art. 7º, II, “b’ do CP: Art. 7º, inc. II, “b”, do CP: “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (...) II - os crimes: (...) b) praticados por brasileiro.” 11 www.g7juridico.com.br Obs.: A Constituição Federal proíbe a extradição de brasileiros natos e admite de forma excepcional a extradição de brasileiros naturalizados. Nesses casos, os brasileiros natos respondem pela lei brasileira. Exemplo: caso de estrupro cometido por Daniel Alves na Espanha - se o jogador consegue voltar para o Brasil ele não pode ser extraditado por ser braisleiro nato e, por consequência, responderá de acordo com a lei brasileira. b) Personalidade passiva: o crime é praticado no exterior contra vítima brasileira. Art. 7º, § 3º, do CP: “A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça.” Neste caso, a lei penal brasileira é aplicada ao estrangeiro se este estiver no Brasil. Exemplo: um japonês pratica tentativa de homicídio contra sua esposa brasileira no Japão. A brasileira volta para o Brasil e o japonês também. Ele se dirige até a casa do genitor da vítima e, ao perceber que ela não se encontra, pratica homicídio contra seu sogro - nesse caso ele responderá no Brasil pelo crime de homicídio praticado no país e pelo crime de tentativa de homicídio praticado no Japão.
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