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LEITURA E SEMIÓTICA: DIÁLOGOS POSSÍVEIS PARA A SALA DE AULA W BA 06 27 _v 1. 1 © 2018 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Danielle Leite de Lemos Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Mariana Ricken Barbosa Priscila Pereira Silva Coordenador Danielle Leite de Lemos Oliveira Revisor Claudia Dourado de Salces Editorial Alessandra Cristina Fahl Daniella Fernandes Haruze Manta Flávia Mello Magrini Hâmila Samai Franco dos Santos Leonardo Ramos de Oliveira Campanini Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Barros, Aniúska Mansuêta Carvalho B277I Leitura e semiótica: diálogos possíveis para a sala aula/ Aniúska Mansuêta Carvalho Barros. – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2018. 110 p. ISBN 978-85-522-1029-0 1. Semiótica. 2. Ensino da língua portuguesa. I. Barros, Aniúska Mansuêta Carvalho. II. Título. CDD 370 Responsável pela ficha catalográfica: Thamiris Mantovani CRB-8/9491 2018 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 3 SUMÁRIO Apresentação da disciplina 04 Tema 01 – Linguagem: sensorialidade e transformação 05 Tema 02 – Semiótica Discursiva no ensino do Português 21 Tema 03 – Estudos da expressão verbal e não-verbal em sala 42 Tema 04 – Linguagem, epistemologia e didática 62 Tema 05 – Geração de sentidos nas aulas de leitura 78 Tema 06 – Interação Social, Leitura e Semiótica 96 Tema 07 – Semiótica e a construção do Leitor Crítico 112 Tema 08 – Intervenções pragmáticas 129 LEITURA E SEMIÓTICA: DIÁLOGOS POSSÍVEIS PARA A SALA DE AULA 4 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula Apresentação da disciplina O Curso de pós-graduação em Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica tem como disciplina de sua grade Estudos da linguagem: Semiótica discursiva e o ensino de Língua Portuguesa na Educação Básica. O Objetivo da disciplina é analisar o pa- pel do estudo dos signos, da interação social e da construção do sentido em processos de ensino-aprendizagem, assim como refletir sobre a for- mação do leitor crítico por meio de práticas docentes. Serão abordados como conteúdos programáticos, em 8 aulas, nesta disciplina, os seguintes temas: Estudos da Linguagem, Semiótica discursiva e o ensino de Língua Portuguesa na Educação Básica; Estudos da expressão verbal e não-ver- bal na sala de aula; Linguagem, epistemologia e didática; Percurso gera- tivo de sentidos nas aulas de leitura; Interação Social, leitura e Semiótica; Semiótica e a construção do leitor crítico e as Intervenções pragmáticas. Utilize todo o material para ampliar e consolidar seu conhecimento. Em todas as aulas haverá textos interativos, exemplos, outras formas de as- similar o conteúdo, que têm como intuito ampliar seus conhecimentos sobre determinados temas, conceitos, autores citados no texto. Pesquise, leia, busque novas formas de entender os temas propostos. Depende de você usar este material da melhor e mais ampla forma possível para o seu desenvolvimento profissional. Aproveite! Estude e amplie seus conhecimentos. 5 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula TEMA 01 LINGUAGEM: SENSORIALIDADE E TRANSFORMAÇÃO Objetivos • Estudar como a apropriação da Norma Culta da Língua e a transformação do indivíduo se dão a partir do pro- cesso de Alfabetização. • Apresentar as formas de abordagem do estudo da Linguagem sob a perspectiva da Semiótica. • Avaliar o aprendizado na Língua materna, consideran- do suas múltiplas facetas, a partir de uma abordagem Semiótica. • Estimular o estudo da abordagem da Linguagem ver- bal e não-verbal. • Contribuir para a construção de um Leitor Crítico por intermédio da apropriação da Língua (Norma Culta) e sua abordagem Semiótica. 6 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula Introdução Os estudos desta unidade apresentam conceitos importantes para vários outros estudados no Curso Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica, e, mais especificamente, para a disciplina Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula. Traz, ainda, temas relevantes, tais como: Pensamento, Linguagem, Gírias, Semiótica, Semiosfera, Sentido e Alteridade, para que você entenda melhor os Estudos da Linguagem e pense como o ensino da Língua Portuguesa e da Literatura na Educação Básica podem ser primordiais para a formação de um Leitor Crítico ainda no processo de Alfabetização, para que o aluno, a partir de então, seja capaz de refletir de forma sistêmica e abrangente os conteúdos a ele apresentados. 1. Estudos da linguagem Fonte: mrPliskin/Istock.com De acordo com o Dicionário Aurélio de Português Online, a Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos por meio Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 7 de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais, etc. Qualquer siste- ma de símbolos ou sinais ou objetos instituídos como signos; código. A Linguagem é a “expressão do pensamento pela palavra, pela escrita ou por meio de sinais. O que as coisas significam.” Verbete publicado em abril de 2018 e visualizado em em: 30 maio 2018. Essa é uma das várias formas de se denominar a Linguagem. O Sistema Linguístico, por sua vez, pode variar de local para local, de cultura local ou global, ser redefinido em apropriações linguísticas ou mesmo passar por alterações significativas, dependendo da época e contexto nos quais está inserido. Existem, ainda, os Sistemas Linguísticos específicos por se- tores (moda, fotografia, culinária, política), Sistemas Linguísticos por ida- de. Jovens, por exemplo, costumam criar variações linguísticas que repre- sentam o seu tempo, o seu modo de ver o mundo. E essa forma de se expressar altera de geração para geração. Uma expressão comum usada atualmente pode não significar absolutamente nada para a geração ante- rior e vice-versa. As gerações passadas falavam que um homem bonito era um “pão” ou um “pedaço de mau caminho”. Atualmente, usa-se outros termos e as próximas gerações, provavelmente, não irão sequer entender gírias atu- ais, muito menos às das gerações passadas. Você usa gírias? Quais são suas gírias preferidas? Já pensou que a gíria é uma forma de Linguagem, uma forma de se comunicar de um determinado tempo e local? Quais se- rão as gírias usadas pelos jovens japoneses e pelos jovens russos? Quem gosta de viajar precisa se atualizar para não parecer que “está na Disney”. Você sabe o que essa gíria quer dizer? A Linguagem pode ser definida, de acordo com a Teoria da Semiótica Pierciana, como um conjunto de signos ou código socializado. Qual Sistema Linguístico faz você vibrar? Qual é a sua forma de se expressar preferida? Já pensou a respeito? 8 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula PARA SABER MAIS Atualmente, há uma verdadeira miscelânea de gírias. As gí- rias, como você viu, podem ser de grupos, de lugar, de tem- po. As gírias são expressões que enriquecem ou “traduzem” aspectos da norma culta da Língua. Algumas gírias, com o passar do tempo, caem em desuso.Outras, no entanto, tor- nam-se parte do vernáculo e são inseridas no padrão formal da Língua. Exemplos de gírias que os jovens usam hoje em dia: Tá na Disney – está viajando. “Minha mãe tá na Disney que eu vou voltar às 22h”. Véy – vocativo. Vem da palavra “Velho”, que evoluiu para “Véio”, e agora véy, com acento mesmo. “Véy, fulana tá pis- tola com você”. Parça – parceiro, amigo. “Ninguém mexe com meu parça”. “Parça em primeiro lugar”. Mitou – expressão usada para qualquer acerto ou frase con- siderada positiva pelo coletivo. “Tio, você mitou naquela res- posta”. “Como foi na prova?” “Mitei. Pai é pai, tio”. Fonte: Material retirado do site UOL. Crush é uma gíria usada para se referir a alguém por quem somos apaixonados ou sentimos algum tipo de atração. Esta é uma palavra da língua inglesa e pode ser literalmente traduzida como «esmagar» ou «colidir». Assim, o crush re- presentaria a força “esmagadora” do sentimento que temos por determinada pessoa. Fonte: Definição do Dicionário Popular. Também existem as escolas Semióticas que definem a Linguagem de acordo com suas teorias e seu modo de observar o mundo e as interações Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 9 sociais. Na Teoria de Charles Sanders PEIRCE (ou peircianaPierciana), a Linguagem é um conjunto de formas de representação estabelecida, basi- camente, por signos. Os signos são algo ou alguma forma de representa- ção de alguma coisa para alguém. Para Umberto ECO, o signo é algo que está no lugar de outra coisa. Charles Sanders PEIRCE (1839 – 1914), pedagogo, cientista, linguista e matemático americano. Fonte: Disponível em: <https://www.britannica.com/biography/ Charles-Sanders-Peirce>. Acesso em: 04 out. 2018. Para a Semiótica da Cultura, criada pela Escola Semiótica de Tártu-Moscou, a Cultura é formada por Textos, que são as unidades mínimas do teci- do social, que formam processos linguísticos e literários. Um Texto da Cultura pode ser uma cor, uma poesia, uma peça de teatro ou um roteiro cinematográfico. A Semiótica da Cultura vai muito além da esfera cientí- fica. É uma tentativa de questionar e admitir outras leituras da realidade. O criador e impulsionador da Escola de Tártu-Moscou, Iuri Lotman, define a cultura como um sistema perceptível de textos, enquanto linguagem. Os textos são organizados por associações e representados por signos 10 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula linguísticos: índices, símbolos e ícones, que constituem a nossa Linguagem ou o tecido social no qual estamos inseridos. O homem, como ser cultural, comunica-se por meio desses signos, que funcionam como controladores sociais ou códigos da cultura. Segundo Lotman, todo código é um sistema modelizante, uma forma de organização da informação e seu desenvol- vimento. O conceito de semiosfera, criado por Lotman, tem como base a realidade sígnica humana. É uma possibilidade da criação simbólica, que supera a realidade biológica. Neste sentido, a Cultura é formada por uma realidade simbólica própria, na qual o próprio texto é um signo representativo da Linguagem e fonte da simbolização e formação social da Cultura. Assim, a semiosfera é um universo próprio de uma determinada cultura, e, por possuir um tipo de código próprio, cria uma Linguagem específica. Desta forma, o teatro, o ci- nema, a ortografia, a dança, a música têm seus próprios códigos culturais, a sua forma própria de Linguagem que gera um sentido na sua semiosfe- ra, seu universo linguístico particular. Você poderá entender, desta forma, que o conceito de semiosfera se relaciona à ideia de fronteira. É uma deli- mitação entre o que está dentro e o que está fora do espaço semiótico. A semiosfera, por este ponto de vista, é um espaço entre as linguagens, que permite reagrupar e ressignificar os sistemas de signos. No Brasil, Paulo Freire, que é um dos maiores e mais reconhecidos edu- cadores e grande balizador dos processos de percepção e apreensão da Linguagem, em suas diversas pesquisas a respeito do tema poderá lhes apresentar uma perspectiva de recursos Linguísticos, que vão muito além da Língua propriamente dita. A Linguagem, segundo o educador, pode ser tratada como estruturação discursiva do pensamento. A Linguagem tam- bém pode ser tratada, segundo Freire, como fenômeno ou categoria de pensamento (funcionamento próprio a partir do qual outros fenômenos sociais e pedagógicos podem ser explicados ou pelos quais transitam). De acordo com o pensamento de Freire em suas diversas obras, não é possível pensar a Linguagem sem compreender o mundo social no qual estamos inseridos, sem pensar o poder e a ideologia. O que Freire nos Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 11 alerta é que, para ensinar a “norma culta” da Língua Portuguesa, é preciso mostrar à criança que ao dominar a “Língua padrão da norma Culta” ela terá instrumentos necessários para a transformação do mundo. O estu- dioso afirma, ainda, que é a partir do indivíduo e de sua história e visão do mundo que se dá a transformação. Neste sentido, Freire demonstra a importância de se ensinar que a Língua é transformadora e pode ser instrumento de ação e reação, é um artifício contra a hierarquia social. Embora não seja instrumento para desfazer a história e a cultura subjacente ao próprio indivíduo. A Linguagem, neste sentido, é agregadora. Por este viés, o pensamento de Freire fica muito similar à proposta da Escola de Tártu-Moscou. Deste modo, pode-se perceber a importância de mostrar à criança na fase de Alfabetização que a Linguagem irá, certamente, transformar seu modo de ver, viver e sentir o mundo. A Linguagem nos abre para todos os sen- tidos. É tal qual a imagem: gustativa, olfativa, proprioceptiva, auditiva. A Linguagem é sensorial. E, portanto, transformadora. EXEMPLIFICANDO A leitura deve fazer parte do cotidiano, do contrário ela será sempre percebida como um momento especial, es- porádico. Por exemplo, a contação de história é uma das formas de aproximar a criança do livro. Segundo Pennac (2008), a relação de amor com o livro acontece aos pou- cos e tem a participação de todos os fatores externos, como a família e a escola. O homem é um ser cultural, ele aprende com os outros homens. PENNAC, D. Como um romance. Tradução de Leny Werneck. Porto Alegre, RS: L&PM; Rio de Janeiro: Rocco, 2008. 12 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula PARA SABER MAIS No artigo intitulado O ENCONTRO DAS ÁGUAS: DIÁLOGOS ENTRE PAULO FREIRE E DARCY RIBEIRO, escrito pela pedago- ga da UERJ, Rosemaria J. Vieira Silva, é possível entender um pouco mais sobre o encontro histórico ocorrido, em 1991, entre os estudiosos da Educação Paulo Freire e Darcy Ribeiro. Neste artigo, a autora busca recuperar um momento histó- rico na educação brasileira: O Encontro das Águas. Evento que ocorreu logo após a volta do exílio dos dois pesquisa- dores e no qual ambos puderam refletir sobre seus traba- lhos e a forma de perceber a educação, por uma perspectiva político-educacional. 1.1. Linguagem e Alteridade O final do século XIX e todo o século XX foram cruciais para as mudanças do modo de se relacionar, de se usar a Linguagem, entre os seres huma- nos. Da comunicação face a face, na qual destacávamos um interlocutor, um emissor, uma mensagem e um canal, passamos à comunicação por “instrumentos” ou artefatos extracorpóreos (celulares, por exemplo) que alteraram sobremaneira tanto a comunicação (e as formas de se comuni- car ou fazer entender) quanto a Linguagem em si. Assim, você é capaz de se observar enquanto fala e expressa e perceber no outro a Linguagem como Alteridade. Cabe ressaltar que Alteridade é a condição ou natureza do que é outro, do que faz parte de outra pessoa. É a qualidade ou estado de outro ser humano. É um termo bastante utili- zado também em Filosofia e Antropologia. Assim, a sua Linguagem cria o seu universo, a sua forma de pensar e interagir,os seus gostos pessoais ou em grupo. A Linguagem é, desta maneira, o seu tecido social. Como você aprendeu no contexto da Semiótica da Cultura. Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 13 Por outro lado, ao observar outras pessoas utilizarem a Língua (culta ou informal) ou Sistema Linguístico, você consegue distinguir os vários pontos de interesse e articulação do seu interlocutor. Essa observação não se fixa apenas no que a pessoa fala ou no idioma que utiliza. A Linguagem, como você já leu, é gestual, olfativa, sinestésica. As formas de comunicação não são apenas a fala ou a escrita. Por isso, ao preparar seu material para o processo de alfabetização, você deve levar em conta estes parâmetros. Com tais instrumentos, será mais fácil e apropriado você capturar o interesse do seu aluno e fazer com que ele veja a Língua não somente como um instrumento transformador, bem como uma forma de expressão social e cultural. A popularização da imprensa, a implementação e difusão do rádio e da televisão e, mais tarde, a construção e venda a preços acessíveis de computadores domésticos e a criação da rede mundial de comuni- cação (a Internet) fizeram com que houvesse uma mudança radical na forma de se comunicar, bem como na forma de se expressar, fazer-se entender. A Língua Portuguesa usada no Brasil passou por várias transformações no último século. Atualmente, há uma Linguagem totalmente diferente daquela do início do século passado. Não apenas na forma que esta Linguagem adquiriu (a Língua Portuguesa, por exemplo, adotou nova grafia, novas palavras, inseriu letras até então consideradas ‘estrangei- ras’ – Y, W e K – com a última Reforma Ortográfica, ocorrida em 2009). Houve alterações em fonemas, novos parâmetros de designação pes- soal/social, como também se apropriou de termos usados de forma diminuta ou coloquial. Além disso, houve a criação de novas palavras advindas do universo da Internet, bem como adequação de termos estrangeiros ao nosso idioma). Junte-se a tudo isso novas formas de se expressar por meio de imagens, figuras, símbolos de reconhecimento mundiais, tais como: 14 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula emojis (a Linguagem japonesa com figuras animadas, carinhas, gestos capazes de expressar as mais diversas emoções e sentimentos huma- nos), as abreviações em inglês para beijo – XX – e beijos e abraços – XOXO. Fonte: (calvindexter)/istock.com A Língua Inglesa é considerada universal, apesar de não ser a que pos- sui o maior número de falantes em todo o globo. Há um maior número de falantes de Mandarim, que ocupa o primeiro lugar das línguas com maior número de falantes em todo o mundo, em seguida os falantes de espanhol ocupam o segundo lugar e aqueles que falam Inglês ocupam a terceira posição deste ranking. A Língua Portuguesa estaria na sexta posição, segundo dados da BBC News. Esse ranking tem outra configuração, segundo o site Quora (visitado em 29/05/2018). Ainda segundo o Quora, a Língua Inglesa estaria em quarto lugar, uma vez que o Híndi/Urdu ocuparia o segundo lugar mundial de acordo com números de falantes. Veja os dados no gráfico. Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 15 Fonte: Disponível em: https://verbalisti.com/2014/08/22/strani-jezici/. Acesso em: 29 maio 2018. PARA SABER MAIS O Hindi ou Híndi é uma Língua indo-ariana, derivada do sânscrito e falada por 70% dos indianos, principalmente no norte, centro e oeste da Índia. Já o Urdu é uma Língua indo- -europeia, da família indo-ariana, que se formou sob influ- ência persa, turca e árabe, no sul da Ásia durante a época do sultanato de Deli e do Império Mongol (1200-1800). Isoladamente, o Urdu é o 5º idioma mais falado do mundo como idioma nativo, sendo o idioma nacional do Paquistão, e um dos 24 idiomas nacionais da Índia. Por sua similarida- de com o Hindi, muitas vezes o Urdu é considerado - junta- mente ao indi - como sendo parte do continuum linguístico denominado hindustâni, nesse caso sendo o segundo idio- ma mais falado do mundo. O Urdu é escrito em um alfabeto árabe modificado. 16 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula ASSIMILE O Quora é um website de perguntas e respostas, no qual as perguntas são feitas, respondidas, editadas e organizadas por uma comunidade de usuários cadastrados. A sede loca- liza-se na Califórnia. A empresa foi fundada por dois ex-fun- cionários do Facebook, Adam D’Angelo e Charlie Cheever em junho de 2009, e o site foi disponibilizado ao público em 21 de junho de 2010. O Quora se autodenomina como uma rede social do conhecimento. A Linguagem da Internet, no entanto, tem sua principal articulação escrita na Língua Inglesa. Considerado idioma universal, o inglês é a principal for- ma de comunicação da rede mundial e, mais especificamente, das redes sociais (Facebook, Twitter, Instagram). É preciso que você pense o estudo da linguagem não apenas como uma for- ma teórica, mas também como um processo comunicativo e crítico do mun- do a partir do indivíduo. Por intermédio do estudo da Linguagem, a criança poderá desenvolver vários de seus talentos, descobrir as diferenças entre as várias Línguas faladas no mundo, observar o quão rico e passível de explora- ção é o mundo ao seu redor. A Linguagem é o principal instrumento de apreensão social e desenvolvi- mento com o qual você poderá instrumentalizar uma criança no processo de Alfabetização. Adquirida a consciência transformadora e capacitadora da Linguagem, a criança desenvolve outros talentos, reformula seu vocabulário, compreende e assimila melhor conteúdos de outras disciplinas. Desta forma, é tão importante que no processo de Alfabetização o docen- te tenha a percepção da Linguagem e da apropriação da Língua Culta pela criança como esse processo de transformação, tanto pessoal quanto social. QUESTÃO PARA REFLEXÃO Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 17 2. Considerações Finais • Existem vários estudos sobre a Linguagem, suas principais funções, especificações e potencialidades. • O Estudo da Linguagem dará a você ferramentas para construir Leitores Críticos. • Entender que existem vários pensadores que refletiram a Linguagem e sua importância sob vários aspectos é fundamental para criar um ambiente transformador no processo de alfabetização. A Linguagem é um instrumento de capacitação e melhoria cognitiva do indivíduo, especialmente no processo de alfabetização. • A Linguagem não se refere apenas à oralidade. Com os tópicos aqui apresentados, você pode compreender que o Estudo da Linguagem ultrapassa a barreira da língua. É um instrumento social, formador de linguagens próprias de grupos, categorias profissionais, esferas sociais. Glossário • Linguagem – Pode se referir tanto à capacidade humana para a aquisição e utilização de sistemas complexos de comunicação, quanto para um sistema de comunicação complexo. Também pode ser descrita como a capacidade humana de se comunicar por meio de palavras ou gestos. • Língua – Instrumento de comunicação, composto por regras gramaticais que possibilitam que determinado grupo consiga re- produzir enunciados que lhes permitam comunicar-se e se fazer compreender. Possui caráter social e regras gerais, que a tornam 18 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula compreensível. • Alteridade - Substantivo feminino que expressa a qualidade ou es- tado do que é do outro ou do que é diferente. Um dos seus prin- cípios básicos é que o homem, em sua interação social, tem uma relação de interação com o outro. Assim, o “eu” em sua forma indi- vidual só pode existir em sua interação com o outro. • Sistema Linguístico – Delimita a língua e atribui a ela a caracterís- tica de ser um produto social. • Alfabetização - Substantivo feminino. Iniciação no uso do sistema ortográfico. Ato de propagar o ensino ou difusão das primeiras letras. VERIFICAÇÃO DE LEITURA TEMA01 1. Qual a Língua mais utilizada/falada em todo o mundo? a) Inglês. b) Português. c) Espanhol. d) Mandarim. e) Híndi/Urdu. 2. Na Escola de Tártu-Moscou foi criada a Teoria Semiótica conhecida como: a) Semiótica da Cultura. b) Semiótica Pierciana. c) Semiótica Freiriana. d) Semiótica Russa. e) Semiótica do Texto Cultural. 3. Paulo Freire mostra que o Estudo da Linguagem no pro- cesso de alfabetização é: Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 19 a) Uma forma complexa e inapropriada de alfabetizar. b) Uma forma mais rápida de alfabetizar as crianças. c) Um instrumento único para a alfabetização. d) A única forma de ser compreender a Língua Portuguesa. e) Um instrumento transformador e empoderador do in- divíduo, capaz de transformar e dar sentido a uma nova abordagem da alfabetização. Referências Bibliográficas BAITELLO, Norval. O pensamento sentado sobre glúteos, cadeiras e imagens. São Leopoldo, RS: Editora Unisinos, 2012. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio de Português Online. Disponível em: <https:// dicionariodoaurelio.com/linguagem>. Acesso em: 30 maio 2018. FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. 6 ed. São Paulo: Cortes, 2005. LOTMAN, Iuri. Estética e Semiótica do Cinema, Imprensa, Imprensa Universitária. Lisboa: Editorial Estampa, 1978. MACHADO, Irene. Concepção Sistêmica do mundo: vieses do círculo intelectu- al Bakhtiniano e da Escola Semiótica da Cultura, 2013. Dsponível em: <http://www. scielo.br/pdf/bak/v8n2/09.pdf>. Acesso em: 30 maio 2018. PENNAC, D. Como um romance. Tradução de Leny Werneck. Porto Alegre, RS: L&PM; Rio de Janeiro: Rocco, 2008. SCOCUGLIA, Afonso Celso. A teoria só tem uma utilidade se melhorar a prática educativa: as propostas de Paulo Freire, 2013. Disponível em: <http://www.acervo. paulofreire.org:8080/jspui/bitstream/7891/4209/1/FPF_PTPF_12_100.pdf>. Acesso em: 30 maio 2018. WATZALAWICK, Paul, BEAVIN, Janet, Helmick, JACKSON, Don D. Pragmática da Comunicação Humana – um estudo dos padrões, patologias e paradoxos da intera- ção. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Editora Cultrix, 2011. Gabarito – Tema 01 Questão 1 – Resposta: D O Mandarim é a língua que possui o maior número de falantes em 20 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula todo o mundo. Questão 2 – Resposta: A A Escola Russa de Tártu-Moscou revolucionou, na década de 1960, a forma de se pensar a Semiótica e dar novos significados a tudo o que os seres humanos denominam ou criaram, é uma nova forma de se observar as inter-relações humanas, nova forma de ver a cultura e a sociedade. Questão 3 – Resposta: E Na leitura sobre as pesquisas de Paulo Freire você pode observar que a alfabetização e o conhecimento da Linguagem podem ser tanto ins- trumento de mudança social quanto de empoderamento do indivíduo. 21 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula TEMA 02 SEMIÓTICA DISCURSIVA NO ENSINO DO PORTUGUÊS Objetivos • Mostrar como a interação humana com o mundo se constrói o tempo todo, de acordo com a Semiótica, por intermédio de formas de representação de tudo o que nos cerca. • Apresentar as variadas formas de discurso e como os homens as utilizam para sua interação social. • Mostrar as formas/processos de Comunicação Humana e como elas se aproximam da Linguagem. • Avaliar as diferenças entre Linguística e a semióti- ca, que não se reduz ao campo meramente verbal. A Semiótica se expande para qualquer sistema de signos e dá sentido às várias formas de diálogos ou linguagens. • Entender que a língua pode ser definida por um código formado por palavras e leis combinatórias, por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem. Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 22 • Compreender a dimensão Semiótica, que se insere no processo de ensino-aprendizagem do ler e do escre- ver da norma culta da Língua Portuguesa, que propõe um número maior possível de interações (sinais que sejam signos e que possam ser traduzidos e interpre- tados), enriquecendo assim a interação social. • Salientar que tais abordagens (pelas vias da Semiótica, da Estilística e da Análise do Discurso) compõem uma moldura metodológica – proposta pelo documento Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) – que pode intervir na produção de conhecimento em geral e no ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa. Vale ressaltar, entretanto, que o parâmetro atual para o Ensino na Educação Básica é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC 2018). Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 23 Introdução Os estudos desta unidade apresentam conceitos importantes para vários outros estudados no Curso Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica, e mais especificamente para a disciplina Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula. Traz, ainda, temas relevantes para que você entenda melhor os Estudos da Linguagem e pense como o ensino da Língua Portuguesa e da Literatura na Educação Básica podem ser primordiais para a formação de um Leitor Crítico, que assimile de forma mais sistêmica e abrangente os conteúdos a ele apresentados, tais como: Linguagem – Discurso e a Interação Humana (Formas de Discurso; as funções da Linguagem; Língua como Código) e a Língua Portuguesa na Educação Básica. 1. Linguagem - discurso e a interação humana Em qualquer situação vivida por um ser humano, pode-se observar que há uma intermediação entre este e o mundo, bem como uma visão co- mum que todos os seres humanos possuem acerca do mundo em que habitamos. A interação humana com o mundo constrói-se, o tempo todo, de acordo com a Semiótica, por intermédio de formas de representação de tudo o que nos cerca. Esse processo acontece por meio da combinação de elementos denominados pela Semiótica de signos. A Semiótica provém da raiz grega ‘semeion’ ou signo. Também vem do gre- go ‘semeiotiké’, que é ‘a arte dos sinais’. A origem da Semiótica remonta à Grécia Antiga, é contemporânea da Filosofia. As duas ciências sempre es- tiveram próximas sob perspectivas de observação da interação humana. A Semiótica estuda as formas como o indivíduo dá significado a tudo que o cerca. Semiótica, neste sentido, é a ciência que estuda os signos e todas as linguagens e acontecimentos culturais como fenômenos produtores de significado para os seres humanos. Sob este aspecto, a Semiótica dá sentido ao tecido social e às interações humanas. 24 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula As linguagens são formas de expressão dos seres humanos. A Linguagem representa os valores de grupos de uma sociedade e podem variar no tempo e no espaço. As línguas (português, inglês, francês) são linguagens. As Línguas, entretanto, apresentam-se de forma exclusivamente verbal. As linguagens são lugares de interação dos seres humanos. Há uma ex- pectativa semelhante entre quem produz, quem lê e os interlocutores deste processo. Há, neste processo, uma forma de linguagem específica: da moda, do cinema, da arte, etc. Grosso modo, pode-se dizer que diferentemente da Linguística, a semió- tica não se reduz ao campo meramente verbal. A Semiótica se expande para qualquer sistema de signos e dá sentido às várias formas de diálogos ou linguagens: Artes visuais, Música, Fotografia, Cinema, Moda, Gestos, Religião, entre outros. A Semiótica analisa o tecido social e o denomina, complementa, expande ou ergue fronteiras. É uma ciência em constante movimento e aprimoramento. Os signos são denominados pelos semioticistas de várias escolas e po- dem ser diferentes ou ter atribuições diferentes, de acordo com as linhas de raciocínio ou entendimento de cada uma dessas escolas. Considerada um saber abstrato e formal, generalizado, a Semiótica de Charles Sanders Pierce não é considerada um ramo do conhecimento aplicado. De acordo com o autor, os seres humanos exprimem o con- texto à sua volta por meio de uma tríade: Primeiridade, Segundidade e Terceiridade. Estessão os alicerces de sua teoria. Voltaremos a eles ao longo deste capítulo para melhor compreensão. Para Pierce, um signo é algo que, sob certo aspecto ou de algum modo, representa alguma coisa para alguém. O signo representa alguma coisa, seu objeto. Coloca-se no lugar desse objeto, não sob todos os aspectos, mas com referência a um tipo de ideia. Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 25 PARA SABER MAIS O Centro de Estudos Peirceanos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), formado pela professora Lúcia Santaella, no início da década de 1970, é um local de referência sobre a obra do norte-americano Charles Sanders Peirce (1839-1914), cientista, lógico, filósofo e criador da mo- derna ciência semiótica. Livros: BRENT, J. Charles Sanders Peirce: A Life. Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press, 1993. SANTAELLA, L.. O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983. SANTAELLA, L.. A assinatura das coisas. Rio de Janeiro: Imago, 1992. SEBEOK, T. A. Encyclopedic Dictionary of Semiotics. Berlin&New York: Mouton de Gruyter, 1994. A Semiótica Discursiva, ou Semiótica Francesa, baseada na obra de Algirdas Julien GREIMAS (linguista lituano, de origem russa, que contribuiu para a teoria da Semiótica e da Narratologia – 1917-1992) e seus seguidores, afir- ma que o discurso é um dos patamares da constituição do significado, em que um enunciador reveste formas mais abstratas com conteúdos mais concretos. Cabe ressaltar que a Narratologia é o estudo das narrativas de ficção e não-ficção, por meio de estruturas e elementos. Campo de estudo muito importante principalmente para a dramaturgia e a área audiovisual (cinema, jogos digitais, etc.). 1.1. Formas de Discurso Discurso é um dos patamares da constituição do significado, em que um 26 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula enunciador reveste formas mais abstratas com conteúdos mais concre- tos. Todas as vezes que alguém, a partir de uma situação dada, concretiza a Comunicação, houve a produção de um Discurso. Isso acontece todos os dias, com todas as pessoas. Assim, pode-se afirmar que todas as vezes que nos comunicamos estamos produzindo discursos. Você precisa ter em mente que, ao ensinar a Língua Portuguesa na Educação Básica, esta- rá colocando em prática a formação de Discursos. Toda enunciação que suponha um locutor e um ouvinte (na qual o pri- meiro, tem a intenção de influenciar, de algum modo, o segundo) é um pressuposto discursivo. A diversidade dos discursos orais de qualquer natureza e de qualquer nível, da conversa trivial à oração mais orna- mentada, é um Discurso. O Discurso também é a massa dos escritos que reproduzem discursos orais ou que lhes tomam emprestados a construção e os fins: corres- pondências, memórias, teatro, obras didáticas. Enfim, todos os gêne- ros nos quais alguém se dirige a alguém, enuncia-se como locutor e organiza aquilo que diz na categoria da pessoa forma um Discurso. Deste modo, todo discurso é orientado. É produzido para um dado fim. Em situações de interação oral, por exemplo, ocorre um constante pro- cesso de retomadas, antecipações, sendo sempre necessário que os interlocutores estejam orientados e reorientados em seus discursos. Pode-se afirmar também que todo discurso é interativo. Mesmo que não haja um interlocutor à nossa frente, sempre estamos interagindo com o outro ao produzir nossos discursos, de forma mais ou menos explícita. Por outro lado, todo discurso é contextualizado. Não é possível imagi- nar um discurso fora de uma dada situação comunicativa. Sempre que um discurso se produz, esse processo se dá em um dado contexto e é impossível separar uma coisa da outra. 1.2. As funções da Linguagem “A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não pode prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser al- cançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre texto e contexto.” (FREIRE, 2003, p. 58) Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 27 Quando falo, escrevo ou leio, estou mobilizando uma série de estratégias. Tais estratégias aparecerão em uma situação de comunicação: ao produ- zir ou ler um texto, uma fala. Nestes momentos, você está em interação com um outro, o seu interlocutor/ leitor. É importante, portanto, articular a comunicação. Para que, assim, tanto quem está produzindo como os que estão tentando compreender uma dada mensagem, sejam contemplados pelo processo de comunicação/ interação. Ao compor ou ler um texto, ao ler uma notícia ou travar um diálogo, por exemplo, você estabelece hipóteses. Este tipo de informação deve ser passada ao aluno quando se está mos- trando a Língua como instrumento de acesso social e como processo de alfabetização. Fazendo desta forma, você estará mostrando ao aluno a importância de se pensar, de observar o processo de aprendizagem e lhe dar sentido, contextualização. Com tais pontuações, o professor consegue despertar no aluno a criti- cidade. O aluno deverá ser sempre instigado a fim de torná-lo um leitor com senso crítico e aguçar sua vontade de aprender cada vez mais. Da mesma forma, o produtor, o interlocutor/leitor também mobilizam es- tratégias de compreensão das mensagens. Ao estabelecer algum contato com um texto, oral ou escrito, o interlocutor/leitor também tem: • um objetivo para sua audição ou leitura da mensagem; • a necessidade de compreender uma certa quantidade de informa- ções passadas pelo texto; • suas próprias crenças, valores e atitudes. 28 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula Ao ler um texto ou ouvir a fala de alguém, é preciso ter clareza de que a po- sição de leitor e ouvinte pode não ser a mesma do produtor da mensagem. ASSIMILE Elementos da Comunicação Neste sentido, cada função da Linguagem está ligada a um dos elementos do processo da Teoria da Comunicação, confor- me estipulado pelos estudos de Roman Osipovich Jakobson, 1896 – 1982, pensador russo que se tornou um dos mais im- portantes linguistas do século XX e pioneiro da análise estru- tural da linguagem, poesia e arte. O processo comunicativo, segundo Jakobson, é composto por seis componentes estru- turais que realizam seis respectivas funções, quais sejam: • Emissor Função Emotiva ou Expressiva; • Receptor Função Conativa ou Apelativa; • Código Função Metalinguística; • Mensagem Função Poética; • Canal Função Fática; • Referente Função Referencial ou Denotativa. Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 29 Assim: • o CONTEXTO seria a função referencial; • o REMETENTE seria a função emotiva/ expressiva; • a MENSAGEM é função poética; • o DESTINATÁRIO é a função conativa; • o CANAL tem uma função fática; e • o CÓDIGO possui uma função metalinguística. A Língua é, por este ângulo, um meio de interação entre sujeitos. Uma in- teração que se dá, nessa e em muitas outras situações, pela intermediação de signos verbais, combinados de acordo com as regras do idioma. Muitas pessoas acreditam que apenas dominar o código da Língua, conhecendo as regras de seus usos padrão, é suficiente para se comunicar bem. Mas o conhecimento das funções da Linguagem e do processo de comu- nicação entre os seres humanos é primordial para que esta promoção da interação humana aconteça de forma assertiva. Para tanto, para ensinar uma Língua, é preciso conhecer o processo ou forma de comunicação hu- mana estabelecido pela semiótica ao longo dos anos. Ao sintetizar as funções da Linguagem, você terá: 1. Função Emotiva ou Expressiva: todos os signos que, numa dada si- tuação comunicativa, centram-se no emissor. Foco no transmissor da mensagem. Expressa opiniões e sentimentos. Exemplos: biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor. 2. Função Conotativa ou Apelativa: todos os signos que, numa dada situação comunicativa,centram-se no receptor/destinatário. Foco no receptor da mensagem. 30 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula Utiliza-se da persuasão e do imperativo. Exemplos: anúncios publicitários e propagandas. 3. Função Poética: não deve ser associada apenas à poesia. Todo uso de signos que procura ir além apenas do sentido imediato da mensa- gem. É quando o signo é empregado de forma sugestiva, despertando o imaginário do receptor. Foco na estética da mensagem. Utiliza-se do ritmo e da sonoridade, do jogo de imagens e de ideias. Exemplos: poemas e poesias. 4. Função Referencial ou Denotativa: ligada ao contexto da situação de comunicação. Não diz respeito ao “eu” emissor nem ao “você” re- ceptor; associa-se ao “ele” ou “isso”, qualquer outra pessoa, assunto, acontecimento. Foco no conteúdo. Expressa uma informação objetiva. Exemplos: textos científicos, jornalísticos e didáticos. 5. Função Fática: Centrada no contato. Composta por signos usados para iniciar, manter ou encerrar uma dada comunicação. A função fá- tica manifesta essencialmente a necessidade ou desejo de comunicar. Foco na comunicação. Fatos cotidianos (bom dia, boa noite, tudo bem, como vai você...). Exemplos: diálogos. 6. Função Metalinguística: Centrada no código. Tudo o que, numa men- sagem, serve para dar explicações ou precisar o código utilizado pelo destinador (ou emissor) diz respeito a esta função. Foco no código linguístico. Explicar a linguagem utilizando a linguagem. Exemplo: dicionário. Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 31 1.3. Língua como Código Uma língua pode ser definida por um código formado por palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem. Na concepção de língua como código (entendida como ‘instrumento” de Comunicação), o texto é visto como um simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte. Para que o processo aconteça, bastaria que o leitor/ouvinte tivesse o co- nhecimento do código (uma vez que o texto, uma vez codificado, é total- mente explícito). Também nessa concepção, o papel do “decodificador” é essencialmente passivo. Dominar o código é importante, mas não se pode esquecer que o sentido do que se diz ou escreve será realmente definido pelo outro, o interlo- cutor/leitor. O interlocutor/leitor não é uma figura passiva, que está ali apenas esperando o que se tem a dizer. Interlocutores/leitores têm seus próprios valores, interesses, etc. Desta forma, compreenderá o que lhe é dito de acordo com seus próprios critérios. 2. A Língua Portuguesa na Educação Básica De acordo com Edgar Morin (2000), deve-se reconhecer o duplo enraiza- mento no cosmos físico e na esfera viva e, ao mesmo tempo, o desenrai- zamento propriamente humano. Você está, simultaneamente, dentro e fora da natureza. Tal pensamento leva a questões mais singulares no que diz respeito ao ensino da forma culta da Língua Portuguesa e ao uso dos signos,propos- tos pela Semiótica. Morin defende, com a Teoria da Complexidade, a inte- ração entre as várias disciplinas. No lugar da especialização, da simplificação e da fragmentação de saberes, 32 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula Morin propõe o conceito de complexidade. Essa é a ideia-chave de O Método, a obra principal do sociólogo, que se compõe de seis volumes pu- blicados a partir de 1977. A palavra é tomada em seu sentido etimológico latino, “aquilo que é tecido em conjunto”. O pensamento complexo, se- gundo Morin, tem como fundamento formulações surgidas no campo das ciências exatas e naturais, como as teorias da informação e dos sistemas e a cibernética, que evidenciaram a necessidade de superar as fronteiras entre as disciplinas. Para recuperar a complexidade da vida nas ciências e nas atividades hu- manas, Morin recomenda um pensamento crítico sobre o próprio pensar e seus métodos, o que implica sempre voltar ao começo. Não se trata de círculo vicioso, mas de um procedimento em espiral, que amplia o conhe- cimento a cada retorno e, assim, se coaduna com o fato de o homem ser sempre incompleto - o aprendizado é para toda a vida. Neste sentido, a Semiótica é capaz de proporcionar ao aluno uma visão mais abrangente de códigos, signos e significados. Isso faz com que o en- sino seja formulado de uma forma que leve ao raciocínio, com base em expressão e comunicação mais eficazes. A Semiótica, neste contexto e de acordo com o postulado de Peirce, dá subsídios para que o homem se veja como um signo no/do mundo e dis- ponha-se a interagir com os demais signos. Haveria, desta forma, um compartilhamento num espaço solidário (entendendo-se que nem só o homem é signo). Por meio de uma atitude Semiótica, desta forma postu- lada, torna-se possível o resgate da sensibilidade humana. É a Semiótica, como ciência, que ensina aos seres humanos a “ver” (assi- milar, compreender) o mundo e tudo o que o compõe, dando um maior sentido à própria esfera humana. O ato de “dar sentido” alicerça a consi- deração do valor comunicativo da Língua Portuguesa como língua mater- na e nacional. Por outro lado, o domínio da língua culta se fortalece como instrumento Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 33 fundamental da aquisição de conhecimentos das demais disciplinas. Por este pressuposto, o ensino da Língua deixa de ser meramente gramatical (que não instrumentaliza o aluno/usuário para a comunicação eficiente), mas capacita o aluno para uma visão ao mesmo tempo mais holística e transformadora social. Verifica-se, desta forma, que é preciso inserir a língua em um contexto maior e mais abrangente de códigos e signos, caminho pelo qual transi- tam as demais disciplinas e suas respectivas linguagens (independente- mente de área ou subárea). Por essa nova perspectiva, percebe-se a disseminação do conhecimento enciclopédico associado ao conhecimento sígnico - associado ao Linguístico -, como sendo a base da capacitação do aluno para a leitura do mundo com olhos próprios. É por esse pressuposto que o aluno alcançaria a autonomia de interpretação dos signos do mundo e, assim, alcançaria uma formação cidadã independente. E mais sistêmica, mais visionária até do mundo. Por este viés e com o intuito de revitalizar o processo de ensino-apren- dizagem e de tornar mais eficaz a comunicação linguística como base do crescimento cultural do estudante, o Governo Federal, por intermédio do Ministério da Educação e Cultura (MEC) representado por comissões de especialistas, gerou o documento BNCC (2018). Ao agrupar as disciplinas por áreas de afinidade, a BNCC instituiu como base a Comunicação e Expressão e contemplou a área denomina- da Linguagens, Códigos e suas Tecnologias com um suporte teórico de Semiótica. Esta junção de conhecimento tem como alicerce a Análise do Discurso e a Análise Estilística. Com tal enfoque, foi possível promover a interdisciplinaridade por meio da exploração e da conscientização das relações entre significado, signi- ficação, sentido e posição discursiva. O que elevou o ensino da Língua Portuguesa na educação básica a um nível visionário mais amplo e eficaz. 34 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula PARA SABER MAIS Para conhecer os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), acesse o Portal MEC, Sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC 2018), aces- se o site Base Nacional Comum do Ministério da Educação. A dimensão Semiótica, que se insere no processo de ensino-aprendiza- gem do ler e do escrever da norma culta da Língua Portuguesa, propõe um número maior possível de interações (sinais que sejam signos e que possam ser traduzidos e interpretados), enriquecendo assim a interação social. O uso da Análise do Discurso e de suas teorias é importante por- que explicitam os mecanismos de produção de textos, levando em conta as condições de produção. Por meio da Análise do Discurso, tornam-se visíveis as relações de poder noato de se comunicar. É possível, no ensino da Língua Portuguesa, identificar o sujeito que fala (atribuindo a ele a autoridade que lhe é conferida pelo lugar social que re- presenta em consonância com o tema sobre o qual fala), bem como ava- liar sua intenção e sua posição ideológica em relação ao seu interlocutor. Mais uma vez, vê-se o ensino da norma culta da Língua Portuguesa como processo de instrumentalização do indivíduo. Por este parâmetro, torna- -se possível observar marcas textuais, infratextuais e supratextuais que configuram as forças enunciativas, proposicionais, ilocucionais e perlo- cucionais inscritas no ato de fala. Estas referências não se realizam nas ou por palavras, mas pelos próprios indivíduos/alunos falantes que as ele- gem e as pronunciam. Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 35 É importante salientar que tais abordagens (pelas vias da Semiótica, da Estilística e da Análise do Discurso) compõem uma moldura metodológi- ca – proposta pelo PCN – que pode intervir na produção de conhecimen- to em geral e no ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa. É também observada aqui a interdisciplinaridade proposta por Edgar Morin, mais uma vez em ação no ensino da forma culta da Língua. Desta forma, com a escolarização, torna-se possível a preparação do aluno para o trabalho de construir efeitos de referência direta no próprio mundo, bem como de fazer inferências no mundo à sua volta. Todo esse processo enfatiza a importância da leitura e da produção de textos como determinantes da atuação sociopolítica do indivíduo e de sua capacidade de compreensão das mensagens verbais e não-verbais (interdisciplinaridade do currículo escolar). Por viver-se numa época de multimeios de comunicação (veloz, multicultural e por vários dispositi- vos), exige-se dos indivíduos uma visão sistêmica e uma competência e desempenho sígnicos maior. Tais competências são capazes de afastar os alunos/indivíduos de quaisquer mecanismos de marginalização so- cioeconômica e cultural. Discutir a capacitação para a leitura do mundo aliada a um potencial de fluência discursiva e enunciativa (oral e escrita) pelo aluno, neste momen- to, é crucial para a melhoria da sua própria qualidade de vida e para a sua colaboração para o aperfeiçoamento da sociedade. Todo esse processo de ensino-aprendizagem da Língua se alicerça em um processo instru- mental teórico, consistente e indispensável ao novo ‘modelo de professor de Linguagens’. 36 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula PARA SABER MAIS Segundo Merith-Claras (2012, p. 58) “Uma das responsabili- dades atribuídas aos professores de língua portuguesa é a formação de alunos capazes de ler, criticamente, diferentes gêneros discursivos (...) Considerando esse quadro, é possí- vel inferir que a escola ainda carece de novos instrumentos teórico-metodológicos (...)”. Trecho extraído do artigo: O ensino da língua materna e a se- miótica: possibilidades de leitura e análise linguística de uma fábula, Sonia Merith-Claras. 3. Considerações Finais • Você pôde observar nesta aula as variadas formas de Discurso e como os homens as utilizam para sua interação social. • Você adquiriu com este módulo a possibilidade de avaliar as diferen- ças linguísticas e semióticas. E entendeu que a Semiótica se expande para qualquer sistema de signos e dá sentido às várias formas de A Semiótica é capaz de alterar nossa percepção do mundo. Tal como você viu na primeira aula desta disciplina, a Semiótica, além de nomi- nar tudo o que nos cerca, pode fazer repensar o tecido cultural no qual se está inserido. Para o aprendizado de uma língua, a Semiótica é fun- damental. Com os parâmetros de Análise de Discurso, por exemplo, o aluno se capacita e instrumentaliza para aprender a forma culta da Língua Portuguesa e, também, para observar o mundo e suas perspec- tivas por um novo viés e de forma mais abrangente e sistêmica. QUESTÃO PARA REFLEXÃO Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 37 Diálogos ou Linguagens. • Com este programa de estudos é possível entender que a Língua pode ser definida por um código formado por palavras e leis com- binatórias, por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem. • Este módulo também o levou a compreender a dimensão semióti- ca, que se insere no processo de ensino-aprendizagem do ler e do escrever da norma culta da Língua Portuguesa. • Neste capítulo foi possível observar abordagens (pelas vias da Semiótica, da Estilística e da Análise do Discurso) que compõem uma moldura metodológica – proposta pelo documento Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) – que intervieram na produção de conhe- cimento em geral e no ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa. Glossário • Linguagem – Pode se referir tanto à capacidade humana para a aquisição e utilização de sistemas complexos de comunicação quanto para um sistema de comunicação complexo. Também pode ser descrita como a capacidade humana de se comunicar por meio de palavras ou gestos. • Língua – Instrumento de comunicação, composto por regras gramaticais que possibilitam que determinado grupo consiga re- produzir enunciados que lhes permitam comunicar-se e se fazer compreender. Possui caráter social e regras gerais que a tornam compreensível. • Discurso – Substantivo masculino. Este termo pode conter vários significados. Discurso é toda situação que envolve a comunicação dentro de um determinado contexto e diz respeito a quem fala, para quem se fala e sobre o que se fala. Outra definição bastante conhecida é de que o discurso seja uma exposição metódica so- bre certo assunto. Um conjunto de ideias organizadas por meio da linguagem de forma a influir no raciocínio, ou quando menos, nos 38 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula sentimentos do ouvinte ou leitor. Também pode ser conjunto de pensamentos e visões de mundo derivados da posição social desse grupo ou instituição que permitem que esse grupo ou instituição se sustente como tal em relação à sociedade, defendendo e legiti- mando sua ideologia, que é sempre coerente com seus interesses. • Comunicação - Substantivo feminino. É a ação de transmitir uma mensagem e, eventualmente, receber outra mensagem como res- posta. Por Comunicação, entende-se o processo que envolve a tro- ca de informações entre dois ou mais interlocutores por meio de signos e regras Semióticas mutuamente entendíveis. Trata-se de um processo social primário, que permite criar e interpretar men- sagens que provocam uma resposta. • Semiótica - substantivo feminino. Basicamente é a teoria geral das representações, que leva em conta os signos sob todas as formas e manifestações que assumem (linguísticas ou não), enfatizando, especialmente, a propriedade de convertibilidade recíproca entre os sistemas significantes que integram. Existe, no entanto, várias vertentes da Semiótica. VERIFICAÇÃO DE LEITURA TEMA 02 1. Em qualquer situação vivida por um ser humano, pode-se observar que há uma intermediação entre este e o mun- do. A interação humana com o mundo se constrói, o tem- po todo, de acordo com a Semiótica, por intermédio de formas de representação de tudo o que nos cerca. Esse processo acontece por meio da combinação de elementos denominados pela Semiótica de: a) Signos. Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 39 b) Significados. c) Verbos. d) Letras. e) Formas. 2. É importante salientar que as abordagens pelas vias da Semiótica, da Estilística e da Análise do Discurso com- põem uma moldura metodológica – proposta pelo PCN – que pode intervir na produção de conhecimento em geral e no ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa. É tam- bém observada aqui a interdisciplinaridade proposta por Edgar MORIN, mais uma vez em ação no ensino da forma culta da Língua. O que significa PCN? a) Pacto pela Comunicação Nacional. b) Processo Cognitivo Normal. c) ParâmetrosCurriculares Nacionais. d) Parâmetros Curriculares Normativos. e) Parâmetros Cognitivos Nacionais. 3. A dimensão Semiótica, que se insere no processo de en- sino-aprendizagem do ler e do escrever da norma culta da Língua Portuguesa, propõe um número maior possível de interações (sinais que sejam signos e que possam ser traduzidos e interpretados), enriquecendo assim a inte- ração social. O uso da Análise do Discurso e suas teorias é importante porque: a) explicitam as condições de produção do texto sem os signos. b) explicitam os mecanismos de produção de textos, 40 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula levando em conta as condições de produção. c) explicitam os mecanismos de produção de textos, me- ramente sob o ponto de vista gramatical. d) explicitam os mecanismos de produção de textos, le- vando em conta o discurso propositivo linguístico e não a lógica do discurso apenas. e) explicitam os mecanismos de produção de textos, ape- nas de forma padrão linguística e gramatical. Referências Bibliográficas CHARAUDEAU, P., MAINGUENEAU, D. Dicionário de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2004. ECO, Umberto. Tratado geral de semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2000. EPSTEIN, Isaac. O signo. São Paulo: Ática, 1997. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 2003. FIORI N, José L. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 2000. 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São os signos as denominações primárias de todas as coisas. Questão 2 – Resposta: C O Governo Federal, por intermédio do Ministério da Educação e Cultura (MEC), representado por comissões de especialistas, gerou o documento Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) com o intui- to de agrupar as disciplinas por áreas de afinidade, o PCN instituiu como base a Comunicação e Expressão e contemplou a área deno- minada Linguagens, Códigos e suas Tecnologias com um suporte te- órico de Semiótica. Esta junção de conhecimento tem como alicerce a Análise do Discurso e a Análise Estilística. Questão 3 – Resposta: B É a Semiótica, como ciência, que ensina aos seres humanos a “ver” (assimilar, compreender) o mundo e tudo o que o compõe, dando um maior sentido à própria esfera humana. O ato de “dar sentido” alicerça a consideração do valor comunicativo da Língua Portuguesa como língua materna e nacional. 42 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula TEMA 03 ESTUDOS DA EXPRESSÃO VERBAL E NÃO-VERBAL EM SALA Objetivos • Comunicar melhor. • Fazer apresentações melhores. • Fazer-se entender principalmente no campo profis- sional. • Escrever de forma mais clara e objetiva. • Mobilizar e influenciar pessoas por meio da escrita. • Utilizar a linguagem escrita de forma eficaz como um importante canal de comunicação. Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 43 Introdução Os estudos desta unidade apresentam conceitos importantes para vários outros estudados no Curso Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica, e mais especificamente para a disciplina Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula. Traz, ainda, temas relevantes para que você entenda melhor os Estudos da Linguagem e pense como o ensino da Língua Portuguesa e da Literatura na Educação Básica podem ser primordiais para a formação de um leitor crítico, que assimile de forma mais sistêmica e abrangente os conteúdos a ele apresentados. A interação humana acontece, o tempo todo com formas de representa- ção. Este processo de interação ocorre pela combinação de elementos ou signos. O signo deve ser entendido como qualquer coisa que esteja no lu- gar de outra, representando-a. Nesta aula, você poderá entender melhor como este processo ocorre. Você irá estudar nesta aula: O Homem e sua interação com o Mundo (Diferentes Faces do Signo), Linguagem (Funções da Linguagem, Língua) e Produzindo Textos Coerentes (Fatores de Intertextualidade e Leitura e Interpretação de Texto). 1. O homem e sua interação com o mundo Pode-se utilizar vários recursos para se comunicar ou se fazer entender. Gestos, imagens, músicas são alguns destes artifícios de Comunicação que os seres humanos adaptaram para se expressar. O Discurso, no entanto, é umas das formas mais abrangentes e efetivas para se estabelecer um pro- cesso de comunicação com outro ser humano. Pode-se dizer, desta forma, que a Linguagem assume várias funções e características discursivas. Diferentes formas de se transmitir uma mensagem, utilizando-se de inú- meras associações, foram pensadas, construídas e executadas pelos ho- mens. Para estabelecer um processo comunicativo, você já viu que há 44 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula alguns elementos imprescindíveis para que realmente aconteça a comu- nicação: emissor, receptor, mensagem, canal, contexto e código. Em qualquer situação vivida por um ser humano, no entanto, você pode observar que ocorre uma intermediação entre o mundo e a visão que se tem dele. Uma foto, por exemplo, não mostra a pessoa. A foto mostra a sua representação. Nos dois exemplos de fotos abaixo, o fotografado é um presidente dos Estados Unidos. O primeiro, Barack Obama e, o segundo, Donald Trump. Independentemente da posição política ou trajetória de cada um deles, a própria foto esboça uma representação destes dois homens. Imagem do Obama. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/barack- obama-2012-retrato-oficial-1129156/>. Acesso em: 06 out. 2018. Imagem do Donald Trump. Disponível em: <https://www.cnbc.com/ donald-trump/>. Acesso em: 04 out. 2018. Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 45 O que você vê nas fotos é uma representação deles e não, exatamente, quem eles são. Ao mesmo tempo que você se apropria destes dois “per- sonagens”, uma vez que eles são representantes da maior potência mun- dial e são o tempo todo retratados pela mídia. Com a foto, vê-se um signo e tudo o que ele representa. O homem mais poderoso do mundo, retratado por esses dois indivíduos, cada qual em seu tempo à frente do governo dos EUA, é um signo (cheio de significados, simbolismos, fortes apropriações por parte de quem os vê e acompanha suas trajetórias). Grosso modo, pode-se auferir ao processo de fotografar uma dimensão de representação visual de ideias, contextos, rótulos, de dimensões so- ciais e culturais. A foto ou imagem é um signo máximo de nossa cultura. De acordo com o professor Norval Baitello Junior, a imagem nos devora. Baitello cunhou o termo Iconofagia para designar o processo de os seres humanos serem devorados pelas imagens. Mesmo antes de as vermos, as imagens já nos devoraram, afirma o estudioso em seu livro A Era da Iconofagia. Disseminador e um dos maiores representantes da Semiótica da Cultura no Brasil, Baitello é enfático ao falar sobre a imagem e a sua for- ça. A Era da Iconofagia – Reflexões sobre Imagem, Comunicação, Mídia e Cultura é um livro do professor de Semiótica da Culturada PUC/SP, Norval Baitello Junior. De acordo com Baitello, o termo Iconofagia possui uma po- livalência intencional, uma vez que ora as imagens são devoradas, ora são elas quem devoram. A ideia de devoração nasceu do pensamento antro- pofágico, do Modernismo Brasileiro, em 1920, que propunha uma devora- ção de ícones, ídolos e símbolos da cultura europeia, em vez de imitá-la, portanto, um ato iconofágico, mas com um sentido construtivo e criativo. Como você viu nas aulas anteriores, de acordo com Charles Sanders Peirce (1839 – 1914), filósofo, pedagogo, cientista, linguista e matemático ame- ricano, “um signo é algo que representa alguma coisa para alguém”. Mas isso, segundo o estudioso, dá-se por representação ou referência. 46 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula Já para Louis Hjelmslev (1899 – 1965), linguista dinamarquês cujas ideias formaram a base do Círculo Linguístico de Copenhague, o signo é a parti- cularidade que nos interessa de alguma coisa. O signo, neste caso, funcio- na, designa, significa. PARA SABER MAIS Nas palavras de Beividas (2015, p. 01) “Hjelmslev nos legou elementos sólidos para estabelecer uma teoria com meto- dologia descritiva da Língua natural, de cunho integralmen- te imanente, teoria e metodologia aprumadas para serem constantemente produzidas e conduzidas a partir do interior da própria Língua – tal como pleiteava ele, ao modo de uma linguística – que não deixasse invadir suas descrições com argumentos, critérios, conceitos e pontos de vista oriundos de regiões transcendentes à Língua, seja no seu plano da ex- pressão, por critérios físico-acústicos, fisiológicos e congêne- res, seja no seu plano do conteúdo, por conceitos psicológi- cos, sociológicos ou filosóficos, dentre outros.” Artigo completo: BEIVIDAS, Waldir. A teoria da linguagem de HJELMSLEV: uma epistemologia imanente do conhecimento. Revista de Estudos Semióticos, v. 11, n. 1 (2015). Umberto Eco (1932 – 2016), escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibli- ófilo italiano (titular da cadeira de Semiótica e diretor da Escola Superior de ciências humanas na Universidade de Bolonha), encerra a questão ao afirmar que “Signo é algo que está no lugar de outra coisa”. Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 47 PARA SABER MAIS No site ebiografia podemos encontrar um pouco sobre avia de Umberto Eco, que nas palavras de Diva Frasão “Umberto ECO (1932-2016) foi um escritor, professor e filósofo italia- no, autor do romance ‘O Nome da Rosa’, um dos maiores sucessos literários do século XX. Eco (1932-2016) nasceu em Alexandria, Piemonte, Itália, no dia 5 de janeiro de 1932. Filho de Giulio Eco e Giovanna Eco, estudou Filosofia e Literatura na Universidade de Turim, onde mais tarde tornou-se profes- sor. Foi considerado um dos expoentes da nova narrativa ita- liana, iniciada por Ítalo Calvino (1923-1985). Exerceu grande influência sobre os meios intelectuais ao estudar os fenôme- nos de comunicação ligados à cultura de massas, como his- tórias em quadrinhos, telenovelas e cartazes publicitários”. 1.1. Diferentes Faces do Signo O mundo, tal qual você o vê e vivencia, é constituído por plantas, animais, aparelhos de televisão, celulares, computadores, carros, casas, plantas, vulcões, oceanos. Enfim, uma infinidade de coisas. Muitas delas de ordem natural do planeta e outras criadas pelos homens. Com o intuito de facilitar o entendimento de tudo o que há no mundo, linguistas, em especial, os estudiosos ligados à Semiótica, denominaram de signos tudo o que se conhece. Existem diferentes áreas/linhas de estudos da Semiótica, como você já pode ver nas aulas anteriores. Na Semiótica mais comumente ligada aos estudos do americano Charles Peirce, tudo o que observamos ou nos cer- ca são signos, distintos entre verbais e não-verbais. Signos Verbais são formados por sinais visuais e sonoros: a letra e o 48 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula fonema. O Signo Verbal divide-se em dois: • Signo verbal Significado – conceito/sentido ou valor diferenciado. • Signo verbal Significante – que se manifesta foneticamente. Por exemplo, o termo CASA, em relação ao objeto, tem dupla representação: • Significado ou imagem mental – casa. • Significado que também é “Plano de Conteúdo”, o que casa significa. • Significante – que é o conjunto de fonemas KAZA. • Significante, como conjunto sonoro, também é chamado de “Plano de Expressão”. Os Signos podem ser Não-verbais. Sinais sonoros ou visuais compõem a chamada Linguagem Não-verbal. Exemplos de signos sonoros Não- verbais: música instrumental, sirene, apito ou uma buzina. Exemplos de signos visuais Não-verbais: cores (semáforo), formas (placas), movi- mentos (vídeos, imagens). Uma concha, por exemplo, pode ser um Signo Não-verbal de concepção e fecundidade (quando usada na pintura “O nascimento de Vênus”, obra do pintor italiano Sandro Botticelli, feita entre os anos de 1482 a 1485, para decorar a residência “Villa Medicea di Castello”) ou como um logotipo (identidade visual da Shell, empresa multinacional petrolífera anglo-ho- landesa, que tem como principais atividades a refinação de petróleo e a extração de gás natural). As duas formas, no entanto, não representam a concha objeto, que é um invólucro marinho. Fonte: jskiba/Istock.com Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 49 “O nascimento de Vênus”, pintura de Botticelli. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/pintura-la-nascita-di-venere-63186/>. Acesso em: 14 set. 2018. PARA SABER MAIS Feita entre os anos de 1482 a 1485, o “Nascimento de Vênus” é uma pintura de Sandro Botticelli, encomendada por Lorenzo di Pierfrancesco de Médici para a Villa Medicea di Castello. A obra está exposta na Galleria Degli Uffizi, em Florença, na Itália. Este famoso quadro de Botticelli foi revolucionário em sua época, por ser a primeira pintura renascentista com tema exclusivamente leigo e mitológico. 50 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula São categorias dos Signos Não-verbais: • Ícone – Relação de semelhança, em algum aspecto, com o que repre- senta - modelos, esquemas, etc. • Índice – Apresenta relação direta, causal com o que representa – indicação de um caminho, um sintoma, etc. • Símbolo – Apresenta relação convencional com o seu objeto – a cor vermelha da Coca-cola, símbolos de marcas conhecidas, etc. 2. Linguagem Nas diversas áreas da atividade humana, é possível perceber que há al- gumas regras ou padrões que são obedecidos por todos os membros de determinada sociedade. São estas regras que definem o padrão de signos socializados. A Linguagem é qualquer sistema de signos socializado. Como você já viu na primeira aula, existe a linguagem da moda, do jornalismo, da televisão, do cinema, da culinária, da fotografia, etc. De acordo com essas definições, é possível perceber que: • as Linguagens são formas de expressão humana, representando valores de grupos de uma dada sociedade, que podem variar no tempo, no espaço, etc. • as Línguas (o português, o inglês, o francês, etc.) são Linguagens, mas, diferentemente de outras, apresentam-se de forma exclusiva- mente verbal. • as Linguagens são lugares de interação humana, pois tanto produ- tores como interlocutores/leitores têm expectativas semelhantes das manifestações de Linguagem nas quais interagem. Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 51 2.1. Funções da Linguagem A Linguagem como um dos facilitadores de transmissão de ideias de for- ma coerente, levando do emissor ao receptor um determinado assunto, de forma coerente e que possa ser entendido, despertou interesse entre estudiosos de várias áreas do conhecimento humano. O linguista Roman Jakobson (1896-1982) formulou uma das teorias mais conhecidas em todo o mundo sobre a Comunicação. O pesquisador, es- pecialista na teoria e método de crítica literária para narrativas e poesiaconhecido como formalismo, transferiu tal conhecimento teórico para o estudo da Linguagem. Desta forma, Jakobson propôs a análise estrutural da Linguagem. O intuito desta teoria era compreender quais elementos estruturam a co- municação e quais seriam as funções da Linguagem. Para tanto, Jakobson postulou que todo ato de Comunicação verbal é composto por seis fatores (uma combinação de signos utilizada o tempo todo em nossas interações): 52 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula ASSIMILE Além de todos esses fatores, existe o ruído. O ruído no pro- cesso de comunicação é qualquer coisa que interfira na transmissão da informação de forma clara do emissor para o receptor. Os ruídos podem ser: físicos, fisiológicos, psicológi- cos ou semânticos. Em cada situação de Comunicação, a combinação sígnica organiza-se de acordo com certos objetivos. E, a partir desta combinação, é colocado em funcionamento uma ou mais funções da Linguagem. E, cada função da Linguagem está ligada a um dos elementos de comunicação: Remetente, Receptor, Mensagem etc. JAKOBSON em sua obra, em especial em seu li- vro Linguistics and Poetics (1960), elabora o processo de Comunicação sob os seguintes aspectos: Veja: • Remetente ou Emissor – Função emotiva/expressiva. Composta por todos os signos, que em dado momento, centram-se no emissor (orador, narrador, autor). • Destinatário ou Receptor – Função conativa. Composta por todos os signos, que em dado momento, centram-se no receptor/desti- natário. Aquele a quem o emissor dirige sua mensagem (ouvinte, leitor, telespectador, usuário, destinatário). • Mensagem – Função poética. Quando o signo é empregado de for- ma sugestiva, despertando o imaginário do receptor. É o conjunto das informações transmitidas (texto, discurso, o conteúdo, o que está sendo dito). • Canal – Função fática. É centrada no contato. Composta por signos usados para iniciar, manter ou encerrar uma dada comunicação. É o meio pelo qual as mensagens circulam – voz, ondas sonoras Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 53 (contato ou conexão psicológica ou física). • Contexto – Função referencial. Também chamada de Denotativa, está ligada ao contexto da situação de comunicação. É constituído pela situação e pelos objetos reais aos quais a mensagem remete (o referente, a situação). • Código – Função metalinguística. É centrada no código. Tudo o que, numa mensagem, serve para dar explicações ou precisar o código utilizado pelo destinador (ou emissor). É constituído pelo conjunto de signos e regras de organização (o sistema linguístico ou comuni- cativo, um conjunto de signos e regras linguísticos). 2.2. Língua A Língua é, antes de mais nada, um lugar de interação entre sujeitos (pesso- as). Uma interação que se dá pela intermediação dos Signos Verbais, com- binados de acordo com as regras do idioma. É preciso dominar o Código da Língua (regras e usos padrão), mas também o sentido do que se diz ou escreve. Senão, não seremos compreendidos pelos interlocutores. Todos nós temos nossos próprios valores, interesses, etc., e avaliamos o que le- mos, principalmente, com base nestas perspectivas pessoais. Uma Língua pode, ainda, ser definida como um código formado por palavras e leis combinatórias por meio dos quais as pessoas se comunicam e interagem. 3. Produzindo textos coerentes O que é um texto? Um tipo de combinação coerente de signos, com base Semiótica, na qual se amplia o conceito, desassociando-o exclusivamente da palavra para formar um todo. Assim, qualquer conjunto articulado de signos que faça sentido para um dado leitor, conjunto esse marcado por duas interrupções (um começo e um fim) pode ser considerado texto. 54 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula A partir desse conceito, pode-se classificar os textos como predominante- mente: Verbais: formados pela Língua escrita ou Língua falada (ex: textos em geral, conversas, páginas de livros, etc.). Visuais: feitos com combinações de Signos Não-verbais (ex: planta baixa, fotografia, tela de pintura, etc.). Sincréticos: feitos com Signos Verbais e Não-verbais (ex: cena de teleno- vela, reportagens de jornais e revistas, filmes, etc.). Os textos literários são os que, independentemente de serem ficcionais, ou exclusivamente verbais, apresentam forte teor conotativo, o que signi- fica dizer que pedem uma interpretação por parte do interlocutor/leitor. No caso dos textos não-literários, são aqueles em que o caráter denota- tivo prevalece. Assim, suas afirmativas se baseiam em signos usados em seu significado mais comum para os membros da comunidade sociolin- guística; dentre eles, claro, o interlocutor/leitor. Em relação à coerência textual, pode-se dizer que ela depende da re- lação harmônica entre as partes do texto e, também, da relação que o texto consegue manter com o interlocutor/leitor em uma dada situação comunicativa. 3.1. Fatores de Textualidade Como você viu, a coerência de um texto depende de mais de um fator. Agora, você verá mais alguns deles: • Intencionalidade: dentro do texto, o produtor usa uma série de recursos para atingir sua intenção comunicativa. A isso se denomi- na “intencionalidade” de um texto. • Informatividade: é o caráter previsível ou imprevisível das infor- mações que o texto apresenta. Um texto com alto grau informativo Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula 55 trará mais informações imprevistas, isto é, novas, ainda não anun- ciadas na sequência textual. Já um texto com baixa informatividade apresenta poucas informações, já anunciadas ou não na sequência do texto. • Aceitabilidade: para que um dado texto funcione, é preciso que o leitor/interlocutor esteja disposto a participar da situação comuni- cativa, entendendo os propósitos de seu produtor. • Situcionalidade: é o que torna o texto relevante para uma dada situação de comunicação. Assim, um texto pode estar bem escrito, bem articulado internamente, mas não estar adequado ao contex- to. Por outro lado, pode estar aparentemente desarticulado, mas dentro do contexto em que aparece, fazer sentido. A coerência de um texto dependerá, entre outros aspectos: da harmonia entre suas partes; do ponto de vista do leitor/interlocutor, em uma dada situação comunicativa; de sua inserção dentro de um contexto; da inten- cionalidade do autor; de seu teor informativo e da participação colabora- tiva do interlocutor/leitor. 3.2. Leitura e Interpretação de Texto Para ler e entender um texto, é preciso atingir dois níveis de leitura: Informativa e de reconhecimento, e Interpretativa. A primeira leitura de um texto deve ser feita sempre cuidadosamente por ser o primeiro contato, extraindo-se informações e se preparando para a leitura interpretativa. Durante a interpretação grife palavras-chave, passagens importantes; tente ligar uma palavra à ideia-central de cada parágrafo. A última fase de interpretação concentra-se nas perguntas e opções de respostas. Marque palavras como NÃO, EXCETO, RESPECTIVAMENTE, pois fazem diferença na denominação e interpretação do texto. Estas palavras, 56 Leitura e Semiótica: Diálogos Possíveis para a Sala de Aula geralmente, mudam o texto ou o direcionam. Retorne ao texto, mesmo que pareça ser perda de tempo. Leia novamente para ter ideia do sentido global proposto pelo autor. Desta forma, uma boa leitura deve seguir os seguintes passos: • Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do assunto. • Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a leitura, vá até o fim. • Ler, ler bem, ler profundamente. Ler o texto pelo menos umas três vezes. • Ler com perspicácia, sutileza, malícia nas entrelinhas. • Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar. • Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor. • Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para melhor compreensão. • Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, parte) do texto
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