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REFLEXÕES SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES DRA. TÂNIA MARIA GOMES DA SILVA CONCEITO O vocábulo “violência” deriva do latim vis, significando força ou vigor (MUCHEBLEND, 2014). Termo polissêmico Trata-se uma prática presente em todas as sociedades/culturas. Não existe “a” causa da violência, mas “as causas” = modelo ecológico (pobreza, gênero, raça/etnia, desemprego, impunidade, fragilidade das leis, etc). CONHECER PARA ENFRENTAR VIOLÊNCIA x AGRESSIVIDADE A agressividade é da natureza humana, enquanto a violência é resultado da cultura – processo civilizatório (Norbert Elias) A violência é o resultado de um exercício de poder sobre o/a outro/a – Poder/resistência (Foucault) O QUE SE ENTENDE POR VIOLÊNCIA “Entende-se por violência contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada”. (Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra as mulheres/ Convenção de Belém do Pará, 1994) GÊNERO E VIOLÊNCIA Gênero (construção social) X Sexo (Biologia) Homens também sofrem violência de gênero Mulheres também praticam violência Modelos hegemônicos de masculinidade e feminilidade Feminicídios, lesões corporais, estupros, assédios, tráficos, cantadas, desvalorização do potencial intelectual da mulher, diferenças salariais sem justificativas, invisibilidade da mulher na história do país e do mundo, violência institucional. De 1841 a 1990 – na Inglaterra e no País de Gales havia 78 processos de esposas assassinas e 701 de maridos assassinos FORMAS DE VIOLÊNCIA Física: bater, chutar, queimar, cortar, mutilar, etc. Psicológica: humilhar, proibir a mulher de trabalhar, estudar, sair de casa, viajar, falar com amigos ou parentes, etc. Sexual: forçar relação sexual, obrigar a mulher a se prostituir, assediar sexualmente por meio de ameaça, coação ou força, etc. Patrimonial: destruição parcial ou total de objetos pertencentes à mulher, seus instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos. Moral: calúnia; difamação; quando o agressor atribui à mulher fatos que maculem a sua reputação, ou injúria, ofensa à dignidade da mulher, etc. Globalmente, 35% das mulheres já sofreram violência Países desenvolvidos e em desenvolvimento Os principais agressores são os parceiros ou ex-parceiros íntimos O domicílio é o local onde mais as mulheres sofrem violência Pandemia de Covid-19 – Epidemia de violência contra as mulheres (WHO, 2021, 2020). A VIOLÊNCIA EM NÚMEROS 245.713 agressões por violência doméstica 31,3% das agressões – ex-parceiros íntimos 26,7% - parceiros íntimos A média de agressão contra mulheres divorciadas foi maior. 65, 6% - negras 29,0% - brancas 2,3% - amarelas 3,0% - indígenas BRASIL: A VIOLÊNCIA EM NÚMEROS FONTE: FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2023) 1.437 – morte pelo pertencimento da vítima ao gênero feminino 61,1% mulheres negras 71,9% entre 18 e 44 anos 7 em cada dez foram mortas em casa Quem matou? – 53,5% parceiros íntimo Interseccionalidade - Analisa as formas pelas quais o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas de mulheres - raças, etnias, classes e outra (Akotirene, 2018) FEMINICÍDIOS EM NÚMEROS Cultura patriarcal - “patriarcado contemporâneo” Lentes de leitura passado/presente é complexa, mas necessária Séc. XVII - Ordenações Filipinas – Título XXV: “E toda mulher que estiver em adultério, morra por isso”. Passado de violência: colonialismo, escravidão, sexismo O direito do marido castigar/matar a esposa só foi abolido no Brasil pelo Código Criminal de 1830 - Legítima defesa da honra – controle da sexualidade feminina - MISOGINIA E ANDROCENTRISMO OS DIREITOS DAS MULHERES SÃO DIREITOS HUMANOS A luta contra a violência se torna uma das principais bandeiras dos feminismos contemporâneos. 1975 – Ano Internacional da Mulher. 1979 – CEDAW – Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de violência contra as mulheres. 1985 – Encontro Feminista da América Latina e Caribe (Bertioga, SP) – mobilização das mulheres negras. 1995 – IV Conferência Mundial sobre a Mulher – Beijing – inclui a temática racial na sua Declaração e fortalece o movimento feminista negro. Década de 1990 – 49ª. Assembleia Mundial da Saúde alerta para os riscos que a violência causa à saúde física e psicológica das mulheres. Embora a violência não seja uma questão específica da área da saúde, ela produz inúmeros agravos à saúde.... O MACHISMO ADOECE E MATA AS MULHERES. FEMINISMO E A LUTA PELO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA BRASIL : Década de 1980 - redemocratização do país - a violência contra a mulher ganha espaço na agenda política. Criação do SOS Mulher - primeiro serviço voltado para o atendimento a mulheres vítimas/em situação de violência. 1985 – 1ª.Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) - São Paulo. Criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, com status de ministério e importante atuação na conquista de diversos direitos para as mulheres na Constituição de 1988 (GREGORI, 1993). AS CONQUISTAS DAS MULHERES NO BRASIL Constituição Federal de 1988 – estabelece a igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres. O homem deixa de ser o chefe da família (BRASIL, 1988). Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) - prevê como medidas protetivas o afastamento do agressor do lar, a proibição de contato, a transferência da vítima e de seus dependentes a um abrigo especializado ou a inclusão em programa oficial de proteção. Lei 13.104/2015 – torna o feminicídio um crime hediondo. Fonte da imagem https://www.escolaespacoeducar.com.br/2020/03/personalidade-marco- maria-da-penha-maia-fernandes A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES SE TORNA UM PROBLEMA SOCIAL, DE SAÚDE E DE VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS Maria da Penha Fernandes – Lei 11.340/2006 Artigo 2: Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social AS CONQUISTAS DAS MULHERES NO BRASIL A despeito das conquistas, o Brasil permanece como um lugar de violência para quem nasce mulher. Fonte da imagem: https://abrangente.psc.br/nao-importa-se-o- copo-esta-meio-cheio-ou-meio-vazio-mas-se-esta-se-enchendo/ É NECESSÁRIO aperfeiçoar as políticas públicas já existentes e criar outras que tenham ainda maior potencial de proteção aos direitos das mulheres. Toda mulher tem direito a uma vida sem violência e, para isso, é IMPRESCINDÍVEL A EQUIDADE DE GÊNERO. PORTANTO...... REFERÊNCIAS AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. SP: Sueli Carneiro/Pólen, 2018 (Coleção Feminismos plurais) ANZALDÚA, Gloria. La conciencia de la mestiza: Rumo a uma nova consciência. Ver. Estudos Feministas. V13, n. 3, 2005, p. 704-719. FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Visível e Invisível. 2023. https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/03/visiveleinvisivel-2023-relatorio.pdf. GREGORI, M. F. Cenas e queixas. Um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista. Rio de Janeiro: Paz e Terra; São Paulo: Anpocs, 1993. HOLANDA, H. B. Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/03/visiveleinvisivel-2023-relatorio.pdf REFERÊNCIAS KRUG, E. G.; et al. Relatório mundial sobre violência e saúde. World Health Organization. 2002. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2019/04/14142032-relatorio-mundial-sobre-violencia-e-saude.pdf>. Acesso em 22 junho, 2002. MINAYO, M. C. S.; et al. Institucionalização do tema da violência no SUS: avanços e desafios. Ciência e Saúde Coletiva. v. 23, n. 6, 2018. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413- 81232018236.04962018>. Acesso em 26 janeiro, 2022. MUCHEBLEND, R. Uma história da violência. Do final da Idade Média aos nossos dias. Rio de Janeiro: Editora 70, 2014 1. WORD HEATH ORGANIZATION (WHO). Violence against women. 2021. Disponível em: <https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/violence-against-women>. Acesso em 02 junho, 2021.
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