Prévia do material em texto
Direito Civil II Christian Aula 1 - 23/08/2023 1. Introdução - Contratos 1.1 Conceito: - Acordo - Obrigação entre partes - Consensual - “É um acordo de vontades entre as partes com a finalidade de produzir efeitos jurídicos.” - Caio Mário Para Caio Mário da Silva Pereira, “contrato é um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos”, ou ainda, de forma mais sucinta, “o acordo de vontades com a finalidade de produzir efeitos jurídicos”. - Não necessariamente vai ser acordo de vontades, já que a vontade é difícil de ser apreendida pelo direito, o direito confia na declaração de vontades. Isso pode dar origem a um vício e a parte não estar vinculada, bem como continuar obrigada. O Direito confia na nossa declaração de vontade. Em alguns casos o Direito salvaguarda produzindo um ato anulável, mas é um recorte de proteção e não a regra geral. - É um acordo de manifestações de vontades e não de declaração de vontades. - A finalidade das partes é diferente da finalidade do contrato → não confundir. - Produz apenas direitos obrigacionais? Não, também produz direitos reais. Exemplo: Escritura Pública de servidão. Esse contrato vai ter qual efeito? de servidão. Não vai depender só do conceito, vai depender do registro de imóvel. O efeito aqui é de criar um efeito real. - Pode produzir mudança de status também, exemplo: mudar a pessoa de menor incapaz para menor capaz. - Nós utilizamos a palavra ‘contrato’ em vários contextos, com significados distintos. - A visão estruturalista vê o contrato como um tipo de negócio jurídico. E o NJ é a manifestação de vontade socialmente vista como apta para gerar efeitos jurídicos. - O que faz diferença é se a vontade absolutamente. → nessa parte lembra de FATO JURÍDICO. - Contrato, então, seria um ato bilateral ou unilateral → é aquele onde tenho um encontro de duas ou mais manifestações de vontade para produzir uma só declaração. Aula 2 - 25/08/2023 1.1.2 Breve histórico - Para concepções formais vai ser contrato sempre que tiver uma atividade de interesse econômico. - Na era Justiniana, as obrigações eram provenientes de um contrato ou de um delito, eram concebidas como um vínculo entre duas pessoas, de modo que uma poderia exigir que a outra liquidasse determinada dívida. - Na origem do direito romano tinha o convencio que abrangia tanto o contractus: posso exigir, dependia de alguma formalidade, palavras sacramentais, a entrega da coisa e a inscrição do codex, fazer um tipo de registro → só existia nessas três situações. E do pacto: era de forma livre, servia como exceção. Primeiro, um acordo voluntário sem promoção de ação, porque pode estar resguardado pelo pretor; em outros casos pactos são cláusulas ou outros regulamentos possuidores de caráter modificador ou garantista (pactos adjetos). - Para o Direito Romano o simples acordo não gerava obrigação, e para que houvesse liame jurídico, obligatio, por assim dizer, era preciso além do acordo um fundamento jurídico: a causa civilis, que por sua vez, era o que elevava o ato jurídico bilateral a um contractus e só o credor de um tal contrato tinha à sua disposição uma ação (actio) reconhecida pelo direito quiritário para constranger o devedor a efetuar a prestação - Na evolução do direito romano começou-se a atribuir prazo, daí começou a ter 4 tipos de contratos: compra e venda, locação, mandato e sociedade. - Daí a situação foi se flexibilizando, com menos formalidades. - No final do séc,III a IV o contrato consensual era a regra e as formalidades sacramentais eram a exceção. - Após a queda do Império os povos germânicos se misturaram, daí as tradições se misturam: romano-germãnico, também teve a influência do direito canônico. - Daí passou-se a exigir mais formalidades, mas as pessoas deram uma “volta” nisso. - Durante a Idade Média começou a se dizer que as formalidades tinham se cumprido, mesmo sem terem sido cumpridas → juramento aqui tem papel fundamental, pois nas práticas medievais tinham grande importância → às fontes romanas passaram a serem lidas pelos canonistas → a promessa descumprida equivalia à mentira, que era pecado → daí a palavra passou a ser exigida por si só, começaram a resgatar a ideia só do consenso desenvolvida no direito romano. - Depois a autonomia da vontade passa a ser o centro do sistema → essa ideia se configurou nos códigos oitocentistas. O consenso como parte fundamental para existência ou fim do contrato. - Nessa visão das primeiras codificações estabeleceram os 3 princípios clássicos do direito contratual: 1. Da liberdade 2. Da obrigatoriedade 3. Da relatividade - Daí, posteriormente, veio os contemporâneos: 1. Boa-fé 2. Função social 3. Equilíbrio 1.1.3 Notas sobre a análise econômica do direito - Análise econômica do direito: é um método - Economic Analysis of the Law Posner - Basicamente se preocupa com a noção de eficiência, ou seja, avaliar se o direito está dando a melhor solução para determinado problema do ponto de vista da eficiência e não da justiça. - A solução pode ou não coincidir com a mais justa → daí vai dos legisladores adotaram a mais justa. - Essa escola começou com um cara chamado Ronald Coase. - As partes sempre vão negociar o que for mais eficiente, desde que não existam os custos de transação → o que compensa mais. - Ótimo de Pareto → solução muito eficiente → é o equilíbrio onde os recursos estão alocados mais eficientemente e a melhora de um agente piora a de outro. - Daí surgiu a teoria dos jogos → como as partes se comportam. - 1.2 Fontes do direito contratual a) A lei → fonte primária b) Precedentes → depende de onde veio vai ser primária (súmulas STF) c) Precedentes não vinculantes, princípios gerais do direito e costumes → secundárias 1.3 Princípios do Direito Contratual 1.3.1 Liberdade - Autonomia: capacidade do indivíduo ou da pessoa de se autodeterminar, fazer suas escolhas e se vincular a partir das próprias escolhas. É uma ideia fundamental. - Autonomia da vontade: mais ligada aos iluministas, era vista como limite à atuação do Estado, do ordenamento jurídico. O indivíduo tem direito a ser autônomo e, portanto, a contratar. Era um direito inato, próprio da condição do indivíduo. Era uma proteção contra a intervenção do Estado mesmo. - Autonomia privada: espaço de autodeterminação do indivíduo que é concedido pelo ordenamento jurídico. É o ordenamento que escolhe o que limita. Começou a ser desenvolvida depois da 1ª GM. - A partir do reconhecimento dessas autonomias veio a liberdade. Vista em 3 facetas: 1. Liberdade de contratar: tenho autonomia para me vincular a um contrato. Uma consequência é que os tribunais não poderiam alterar os termos dos contratos. Daí teríamos duas visões: uma que diz que o juiz pode revisar as cláusulas do contrato, a outra que não poderia, só poderia anular o contrato ou não, mas jamais alterar cláusulas. 2. Liberdade de não contratar: o indivíduo tem o direito de estar livre das obrigações se ele não quiser. Uma consequência é a inexistência do contrato “mandatório”. Não existe juridicamente, só faticamente. 3. Liberdade contratual: liberdade de fixar o conteúdo do contrato. Óbvio, reconhecendo os limites, não é qualquer coisa também, há limites fixados pela lei. Aula 3 - 30/08/2023 1.4.2 Obrigatoriedade - Pacta sunt servanda: se refere a vinculatividade dos contratos. A maior expressão dessa ideia está no art.1134 do CC Francês de 1804 → basicamente que o contrato faz lei entre as partes contratantes. Para o professor isso é um hipérbole, pra ele basicamente significa que o contrato valia muito e não que ele fosse lei. O princípio da obrigatoriedade dos contratos representa a força vinculante das convenções, como ninguém é obrigado a contratar pelo princípio da autonomia da vontade, os que o fizerem serão obrigados a cumprir o contrato que celebraram se este for válido e eficaz, pois foram as partes que escolheram e aceitaram os termos e cláusulas descritos sem interferênciado juiz. - Isso vai desaparecendo, mas o fundamento da obrigatoriedade dos contratos é a segurança jurídica → é necessário ter certa estabilidade para que haja confiança e as pessoas façam contratos. Se tiver um contrato obrigatório tem segurança e permite certas obrigações econômicas que seriam realizadas. A necessidade de segurança jurídica se explica como função social do contrato, uma vez que se os contratantes não tivessem a intenção de cumpri-lo, este instrumento deixaria de ser confiável, o que geraria tumulto e caos social. Em outras palavras, a imutabilidade do contrato decorre da convicção de que o contrato faz lei entre as partes. - Outro fundamento é ético: a manutenção da palavra, a pessoa fez uma promessa e eticamente deve ser mantida. - Consequência: intangibilidade dos contratos: ideia forte do direito contratual clássico que vem sendo mitigado por alguns outros princípios. O contrato deve ser cumprido e executado pela ordem jurídica porque é a vontade das partes. - Na visão clássica, o juiz só poderia anular o contrato se tivesse vício → princípio da intangibilidade, mas não revisar as cláusulas. - Qui dit contractuel dit juste: o mero acordo de vontades entre duas partes contratantes já é expressão da justiça. - Limitações para o princípio da obrigatoriedade dos contratos, são exceções, pois a regra é que o contrato firmado é obrigatório: Caso fortuito e força maior, ocorrência de fato extraordinário e inevitável que torne impossível o cumprimento da obrigação, situação na qual não cabe indenização à parte que não recebeu a obrigação. Desistência ou arrependimento, neste caso o contratante pode se arrepender ou desistir de contrato firmado por meio de arras. Fatos supervenientes inevitáveis, são casos imprevisíveis que tornam o cumprimento da obrigação extremamente difícil de ser cumprida pelo devedor mas não a torna impossível, não se encaixando nas situações de caso fortuito ou força maior. Para tal foram criadas diversas teorias: Cláusula rebus sic stantis (alteração das circunstâncias), teoria da pressuposição (presume-se como será a situação na hora do pagamento), teoria da imprevisão (libera o devedor no caso de fato superveniente imprevisível que tornou o pagamento impossível) e, por fim, teoria da excessiva onerosidade (evita que a parte mais forte tenha privilégio sobre a parte mais fraca). 1.4.3 Relatividade: - O contrato só surte efeitos entre as partes, não faz o contrato para afetar um terceiro ou seu patrimônio. O princípio da relatividade dos efeitos do contrato tem como premissa que o contrato somente produz efeito em relação às partes contratantes, isto é, àqueles que manifestaram sua vontade vinculando-os ao seu conteúdo, não afetando terceiros nem seu patrimônio. Tem como objetivo a satisfação das necessidades individuais. - Existem exceções em que o contrato vincula terceiros, são elas a estipulação em favor de terceiro, a promessa de fato de terceiro e os contratos coletivos → para o professor NÃO vinculam exatamente, ele discorda de outros doutrinadores. Ex: pai morre e filho não aceita receber o dinheiro do seguro. - Decorre do princípio da autonomia: se a pessoa não aderir ao contrato não está vinculada. 1.4.4 Boa-fé: - Foi se diluindo ao longo do tempo da parte do direito contratual até chegarmos no modelo liberal de contrato. Isso foi previsto desde o Código Francês de 1804. - No nosso CC de 1916 o legislador não queria inserir como cláusula geral, por achar que é um conceito muito aberto, que não agregaria segurança jurídica. Então não previu expressamente a boa-fé objetiva, era usada só no sentido de boa-fé subjetiva- que é um conceito mais seguro, é a boa-fé do conhecimento. Ex: pessoal faz algo sem saber que não deveria → pagar alguém sem saber que não é o credor real. A boa-fé objetiva é cláusula geral de conduta do direito obrigacional e deve ser aplicada pelo juiz no julgamento das relações obrigacionais, juntamente com o fim social do contrato e a ordem pública. Difere do Código Civil anterior pois este dava mais importância a autonomia da vontade e obrigatoriedade do contrato e por ser fonte de direitos e obrigações. - Impõe um padrão de conduta de agir eticamente. Os fundamentos para o princípio da boa-fé objetiva são a honestidade, a retidão, a lealdade e a consideração para com os interesses do outro contratante. Constitui assim um modelo jurídico na medida em que se reveste de variadas formas, dependendo sempre do caso concreto para ser analisada. - No nosso Código Civil atual: Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. - O professor fala que é um pouco vago este artigo 422. Pode gerar deveres ou impedimentos para que a pessoa esteja obrigada a determinados deveres jurídicos. - A boa-fé cria os deveres acessórios: de lealdade, cuidado, transparência, etc. → positivos - Há as figuras parcelares: desenvolvimento da boa-fé de modo parcelar, abuso do direito, supressio, surrectio e tu quoque → “negativos”. → Uma das funções mais importantes da boa-fé objetiva é a proibição de venire contra factum proprium, que proíbe qualquer uma das partes de agir em contradição com o que foi assumido anteriormente, visando a proteção da outra parte. A conduta contraditória entre os comportamentos da parte é vista como quebra de injustificada de confiança em prejuízo da contraparte, assim, a conduta posterior não tem eficácia. Outros conceitos relativos à boa-fé são supressio, surrectio e tu quoque, que respectivamente significam que um direito não exercido durante determinado lapso temporal deixa de existir e não poderá mais ser cobrado, a prática continuada de certo ato gera nascimento de direitos e, por fim, a proibição de que a uma das partes quebre o contrato e exija da outra o cumprimento de sua obrigação. Aula 4 - 01/09/2023 → Continuação sobre o PRINCÍPIO DA BOA-FÉ: - O princípio da boa-fé objetiva está ligado não só à interpretação dos contratos (uma vez que não pode prevalecer o sentido literal da linguagem sobre a intenção da declaração de vontade dos contratantes), mas também ao interesse social de segurança das relações jurídicas. Para que haja segurança jurídica nos contratos, faz-se imprescindível que as partes celebrem o negócio com lealdade, honestidade, probidade, honradez, confiança recíproca, ou seja, procedam com boa-fé. A boa-fé dos contratantes deve existir em todas as fases do contrato (na tratativa negocial, na formação, na execução e na extinção), devendo as partes esclarecerem os fatos e o conteúdo das cláusulas, objetivando o equilíbrio das prestações, o respeito mútuo e a cooperação entre os contratantes. - Para Mônica Yoshizato Bierwagen: [...] é difícil definir, num só conceito, o que vem a ser o princípio da boa-fé, não só porque apresenta múltiplos sentidos, ora se relacionando à ideia de justiça que deve imperar sobre todo o ordenamento jurídico ou sobre determinados ramos, auxiliando a interpretação ou a integração de suas normas, ora como regra de conduta (boa-fé objetiva) ou estado de espírito do sujeito (boa-fé subjetiva), mas principalmente porque em cada um desses sentidos a sua noção deve ser construída a partir de critérios próprios, que não permitem a sua unificação num único conceito[...]. → Dessa forma, decidiu-se adjetivar o conceito, distinguindo boa-fé subjetiva e objetiva. A boa-fé subjetiva corresponde à virtude de dizer o que acredita e acreditar no que diz, ou seja, é o estado interno do sujeito; já a boa-fé objetiva é representada pela conduta do contratante que demonstra seu respeito à outra parte. Para Maria Helena Diniz, a boa-fé que deve integrar as relações contratuais é aboa-fé objetiva, pois trata-se de uma: [...] norma que requer o comportamento leal e honesto dos contratantes, sendo incompatível com quaisquer condutas abusivas, tendo por escopo gerar na relação obrigacional a confiança necessária e o equilíbrio das prestações e da distribuição dos riscos e encargos, ante a proibição do enriquecimento sem causa[...]. → Assim, se os contratantes não agirem com a boa-fé objetiva em qualquer das fases do contrato, estarão descumprindo uma obrigação imposta por lei, incorrendo em ato ilícito, tendo como consequências as mesmas de qualquer ilicitude. → Figuras parcelares da boa-fé (jornada do direito civil): são caracterizadas como espécies de atos abusivos e que possuem especificidades próprias, em que pese todas visam preservar a cláusula geral da boa-fé : 1. “Venire contra factum proprium” (proibição de comportamento contraditório) ou Teoria dos atos próprios: Existe uma sequência composta por dois atos, o primeiro pode ser comissivo ou omissivo, já o segundo obrigatoriamente será comissivo. Há desconformidade de coerência entre eles e violação da confiança, em razão de existir contradição entre ambos. É a quebra de uma expectativa. Exemplo: discussão sobre a penhorabilidade do bem de família oferecido, voluntariamente, à penhora. → Os atos, se analisados isoladamente, são lícitos, mas sob o enfoque conjunto passam a ser ilícitos. 2. Supressio (Verwirkung)/ Surrectio (Erwirkung): Também há uma sequência composta por dois atos, o primeiro necessariamente omissivo e o segundo comissivo. Entre eles há um lapso temporal gerando a expectativa de que aquele ato não seria praticado. A supressio é a omissão qualificada no tempo, pois suprime a possibilidade de exercer um direito. De modo que este até poderia ser efetivado, mas não o será porque a omissão se solidificou e retirou essa possibilidade do titular. → Supressio: para o titular. → Surrectio: para aquele em que se criou a expectativa. Exemplo: Art. 330, CC: “O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor ao previsto no contrato”. 3. “Tu quoque” ou “Estoppel”: É uma sequência composta por dois atos, o primeiro é um ato ilícito subjetivo, o segundo seria um ato lícito, se não fosse antecedido do ilícito. Ocorre quando em um contrato bilateral algum dos contratantes não cumpre com os seus deveres e, por essa razão, não pode se valer posteriormente da exceptio non adimplenti contractus (exceção do contrato não cumprido). → Exemplo: art. 588, CC (“Senatus consulto macedoniano”): “O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores”. → Se o menor omitiu a sua idade para obter o empréstimo (ato ilícito subjetivo) não poderá invocar o art. 588 em seu benefício. 4. “Duty to mitigate the loss” (dever de mitigar as próprias perdas): É o abuso do direito de ser credor. Como exemplo, observam-se as “astreintes” abusivas, situação na qual o credor se mantém inerte a fim de obter vantagem pecuniária com relação ao descumprimento da decisão judicial pelo devedor. Outro exemplo é a súmula 309 do STJ: “O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo”. → Assim, se o credor de alimentos permanece inativo durante largo lapso temporal, somente poderá requerer a prisão do devedor com base nas três últimas prestações inadimplidas. 5. “Substancial Performance”/ Adimplemento Substancial/ Inadimplemento Mínimo: É o abuso do direito de requerer a resolução de um contrato. Nos termos do art. 475, CC: “A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos”. → Contudo, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) adere à tese da substancial performance estabelecendo que se a obrigação foi substancialmente cumprida é porque o inadimplemento foi mínimo. Assim, mostra-se abusivo requerer a resolução do contrato. O art. 475 não pode ser exercido de maneira arbitrária. → Exemplo: cumprimento de empréstimo em quase toda a sua totalidade. 6. Violação Positiva de Contrato/Adimplemento fraco: É o abuso do direito no cumprimento de um contrato. Ocorre quando o devedor cumpre com todas as suas obrigações, mas viola os deveres anexos da boa-fé objetiva. Gera responsabilidade civil extracontratual. NO GERAL: a boa-fé objetiva possui uma tríplice função: interpretativa dos negócios jurídicos, integrativa (deveres anexos) e limitadora do exercício de direitos, de forma a materializar o princípio da eticidade na legislação civil. 1.4.5 Princípio da função social: - Ao contrário da boa-fé, é algo mais recente. Para Humberto Theodoro Júnior, “a função social do contrato consiste em abordar a liberdade contratual em seus reflexos sobre a sociedade (terceiros) e não apenas no campo das relações entre as partes que o estipulam (contratantes)”. - Os contratantes, embora sejam livres para ajustar os termos do contrato, deverão agir sempre dentro dos limites que se fazem necessários para evitar que o seu negócio prejudique injustamente terceiros alheios ao contrato. → isso foi surgindo após a noção do individualismo da ideologia liberal do século XIX. - Esse princípio era desconhecido, tinha-se a função social da propriedade. Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual. Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que: I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução; II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada. → Antes esse artigo foi objeto de muitas críticas para tentar entender o seu conteúdo. Na redação original falava de contratar, não tem mais a grafia “em razão dê (...)”, antes dava uma ideia que só podia contratar se tivesse uma função social bem estabelecida. Com a lei de liberdade econômica mudou para esse acima. Os legisladores colocaram, também, o parágrafo único → o poder judiciário não vai entrar tanto, só em situações de excepcionalidade. Vale em relações privadas. → No modelo clássico de contrato só se admitiam as funções econômica e regulatória, sendo estranho à época pensar nos reflexos sociais que o negócio contratual pudesse causar, justamente pelo modelo liberal não aceitar que se operassem os efeitos além das partes contratantes (princípio da relatividade dos efeitos contratuais). Já na concepção moderna, a função social mostra-se um elemento indispensável para a garantia do justo equilíbrio social, que se torna um limite para a liberdade de contratar (autonomia da vontade). - Esse artigo (421) comprimiu a função social, mas ainda sim, o que de fato é? →Temos algumas vertentes sobre a função social do contrato: 1. Aspectos externos da função social: a leitura feita pela doutrina de que o legislador indica que o contrato não interessa só as partes, aqui ele também reconhece a comunidade. Por isso, ele deve ser tutelado e preservado por todos. Serviu para fundamentar a oponibilidade do contrato em relação a terceiros no direito braisleiro, é uma mitigação do princípio da relatividade dos contratos. Pondera no caso concreto e quando tiver um 3º interferir na relação contratual, pode ser que seja oponível a ele. Enunciado 21 da jornada do Direito Civil: “A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusulageral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito.” → Professor exemplificou com o caso do Zeca Pagodinho e cerveja. A nova skin, por este princípio, poderia impedir a Ambev de contratar o Zeca e não apenas processar o Zeca. 2. Aspectos internos, surgiram 4 correntes: 2.1 Autores que negam a existência de um efeito interno. A função social só serve para oponibilidade perante a terceiros; 2.2 Fomentar a circulação de riqueza, possibilitando a transação de riqueza. Se faz isso o contrato cumpre sua função social; 2.3 Análise da repercussão social e econômica de determinada decisão sobre o contrato. A função social possibilitaria uma análise consequencialista do juiz na hora de julgar uma questão contratual. Ex: juiz revisar a cláusula penal e ver a consequência disso para a social e não só entre as partes, não ter mais a cláusula ia fazer existir mais inadimplemento → atingiria toda a sociedade, o juiz não analisou só o contrato, mas o geral → professor achar a ideia mais interessante da função social do contrato; 2.4 Função de proteção do mais fraco na relação contratual → é o que existe muito em doutrinas. 1.4.6 Equilíbrio contratual - À época da ideologia liberal, no século XIX, os contratantes tinham a máxima liberdade para contratar, tendo o contrato força obrigatória e vinculante para as partes. Nesse cenário, o Estado não interferia, de modo algum, nas relações contratuais. Com o crescimento da indústria e de seu poderio econômico, passou-se a observar que o contratante mais forte (aquele detentor de poder econômico ou de mercado, do monopólio das informações sobre o objeto do contrato) acabava por aproveitar de sua condição para extrair o máximo de vantagem do contrato, em detrimento da parte mais fraca. Assim, desde que respeitasse a lei, os contratantes tinham o direito de buscar a máxima realização de seu interesse, individualmente, mesmo que aquela relação contratual trouxesse sérios prejuízos para a parte economicamente menos favorecida. Entretanto, após a mudança dos tempos e do direito civil de modo geral, a autonomia privada passou a depender da existência de um equilíbrio entre os contratantes. O valor de justiça hoje prestigiado pelo direito contratual trouxe ao contrato o princípio do equilíbrio econômico, que consiste na isonomia entre os contratantes no que toca às condições para defender seus interesses. Fábio Ulhoa Coelho condiciona o princípio da autonomia da vontade à existência de equilíbrio entre os contratantes: “A ordem jurídica somente deve reconhecer validade e eficácia à composição dos interesses pelos próprios titulares, mediante acordo de vontades, se eles possuírem iguais meios para defendê-los na mesa de negociação. Caso contrário, o mais forte acabará fazendo prevalecer seus interesses, e não se realizará a articulação de interesses amparada na autonomia privada.” Aula 4 - 01/09/2023 → Continuação do princípio de EQUILÍBRIO CONTRATUAL: - Aqui não temos um artigo específico tratando disso, mas indicativos dessa mudança de visão do código. No CC de 1916 a preocupação era com a segurança jurídica. A visão que existia era a oitocentista, muito baseada no que contratasse era justo. Não havia preocupação do direito com o equilíbrio substancial. Se as partes contrataram era equilibrado para elas. Entendia que os sujeitos eram livres, logo o que foi contratado era justo equilibrado, originalmente não havia controle. Nos contratos sinalagmáticos fazia-se não se fazia um controle para ver se era materialmente igual. O controle era feito não pelo equilíbrio, mas pela declaração de vontade - estando livre do dolo, coação e erro o contrato seria válido. - Hoje de forma geral o judiciário ainda está se adaptando, fazendo certo controle na materialidade, na validade do sinalagma. Situações que saltam os olhos, eles arrumam um jeito de policiar o que foi feito. - Em termos de mudança legislativa, isso começou a ter na LESÃO e no ESTADO DE PERIGO. Há dois elementos: 1. Subjetivos: varia em cada um desses vícios. → afeta a declaração de vontade. 2. Objetivo: a disparidade → Ex: assume a dívida. Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. → No Estado de Perigo, o elemento subjetivo seria a necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família e o elemento subjetivo seria assumir a obrigação excessivamente onerosa. Temos ainda o artigo 51, IV, do CDC: Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código; III - transfiram responsabilidades a terceiros; IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; (...) → No CC não tem. Se o juiz encontra uma cláusula iníqua num contrato que não é de consumo ele não teria poder para anular essa cláusula. Há ainda, o artigo 6 do CDC, inciso V: Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; - Durante a execução (contratei algo que em princípio era equilibrado e ao longo do tempo, em algum momento, virou desequilibrado, aconteceu algum evento). Nessa situação, o que fazer? Professor usou exemplo da fábrica de alumínio x fábrica de suco → contrato de 5 anos. O legislador pode pensar: 1. Equilíbrio originário: Querer segurança jurídica, foda-se, vai ter que cumprir o ocntrato mesmo uma das partes ficando prejudicada. Se a fábrica de alumínio quiser parar o prejuízo rescinde o contrato. 2. Equilíbrio superveniente: Aconteceu um evento, e esse evento desequilibrou e nós vamos equilibrar. A situação ficou injusta e merece a garantia de um equilíbrio superveniente. Um exemplo é revisar o aluguel de imóveis depois de um longo tempo, é algo ajustável. → Duas visões bem opostas. Há, ainda, uma visão central: normalmente não se preocupa com o equilíbrio superveniente, apenas em algumas situações. Nos contratos em geral coloca alguma restrição: Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as condições do contrato. → Hoje o regime do CC permite a revisão em algumas situações em particular. Junqueira faz uma separação entre os princípios: Liberdade → boa-fé é um limitador Obrigatoriedade → equilíbrio Relatividade → função social → Esses passam a ser ponderados com os outros 3. II. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 2.1 Típicos, atípicos e mistos: - São importantes, pois algumas regras se aplicam a contratos específicos. a) Típicos: tem previsão na lei, previsão legal. Há um regramento, uma série de elementos para enquadrar. Ex: compra e venda, mútuo, doação, troca, empreitada, agência. b) Atípicos: não tem previsão na norma. Posso fazer isso, prever coisas que não estão na lei. Regidos pelas normas gerais dos contratos e pelo que aspartes estabelecerem. c) Mistos: misturam elementos de outro tipo. Ex: Arrendamento mercantil (leasing) → locação por determinado período e depois tem opção de compra. 2.2 Solenes e não-solenes: a) Solenes (formais): tem alguma forma requerida para que seja realizado. Em geral, não são solenes (art. 134). b) Não-solenes (não formais): não tem forma. Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo. 2.3 Consensuais e reais: a) Consensuais: b) Reais: