Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FUNDAMENTOS DA TÉCNICA PSICANALÍTICA I Professora: Marisa Casagrande Docente:_____________________________ APRESENTAÇÃO Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 2 I – O Processo Psicanalítico 1– O que é? 2– Analisabilidade 3– O Par Analítico II – Passos do Processo Psicanalítico 1– Ambiente – Disposição de um consultório 2– Anamnese 3– Entrevista 4– O Contrato Analítico: – A questão das anotações – Uso do Divã – Intercâmbio de tempo e dinheiro – Freqüência e duração das sessões – Tempo provável para um tratamento psicanalítico – Férias – Regra da Livre Associação – Pagamento das faltas – Mudança de horários – O material onírico – Regra de abstinência 5 – Postura do Psicanalista III – A Livre Associação 1- Definição Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 3 2- O processo 3- Um exemplo detalhado de Associação de Idéias 4- Questionário para atuação do Psicanalista IV – Aliança Terapêutica V – Transferência VI – Contra-transferência VII – Resistência: 1- Definição 2- Resistência Consciente 3- Resistência Inconsciente VIII – Os Mecanismos de Defesa – Tipos sublimados de Resistências IX – Angústia da Separação X – A Interpretação XI - Etapas da Análise XII – Vicissitudes do Processo Psicanalítico Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 4 XIII – Leitura para reflexão: Essência e regra de auto-análise sistemática (Karen Horney) Anexo I Anexo II XIV – Leitura para reflexão: Psicanálise e Paciente Psiquiátrico Anexo III XV – Bibliografia I – O PROCESSO PSICANALÍTICO Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 5 1- O que é? Embora lidando com uma palavra aparentemente simples, quando contextualizamos a mesma à Psicanálise observamos que começa a ser objeto de polêmica. Entretanto, vamos nos prender à significação mais simples, embora encontremos mesmo assim uma possível dificuldade, quando se trata de sua semelhança com Situação Analítica. Por enquanto consideraremos Processo como sinônimo de Situação Analítica. Pretendendo definir Processo Psicanalítico, queremos dizer que o tratamento psicanalítico tem um sítio, um lugar, e esse lugar é encontrado dentro da Situação Analítica. O processo é então o conjunto de fases sucessivas dentro da situação como um todo. E, em particular, a Situação fica sendo “a configuração total das relações interpessoais que se desenvolvem entre o Psicanalista e seu paciente.” Podemos criar um conceito mais simples ainda, se dissermos que o Processo inclui todos os procedimentos havidos entre Psicanalista e paciente, desde a escolha do primeiro até a RTN (reação terapêutica negativa) que o paciente experimenta quando de fato seu tratamento já está encerrado. 2- Analisabilidade Segundo os didatas mais famosos, toda vez que não existir uma contra- indicação específica e irrecusável, a Psicanálise é indicada. Entretanto, falando das contra-indicações, podemos relacionar as de natureza familiar, religiosa, amizade etc... Mas, seriam todos os pacientes Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 6 analisáveis? Seriam todos os pacientes analisáveis por quaisquer Psicanalistas? I – O PROCESSO PSICANALÍTICO O que é? Há enfermidades do universo psíquico que não são analisáveis? Outras perguntas poderiam ser levantadas, contudo tentaremos responder estas que nos parecem mais prementes. Seriam todos os pacientes analisáveis? Embora do ponto de vista etiológico, da natureza da enfermidade, o sejam, há pacientes que não preenchem os requisitos para tal. E nesse caso, até os fatores inteligência, cultura, universo religioso etc. podem contra- indicar. Nesse caso o paciente não produzirá o suficiente para o processo de interpretação ou não acompanhará o raciocínio sempre avançado do Psicanalista. Um outro fator que não podemos descartar é a idade. Seriam todos os pacientes analisáveis por quaisquer Psicanalistas? Quando estivermos diante de um paciente analisável, precisamos ainda considerar a possibilidade do tal não ser analisável por nós. Há sempre a incidência de fenomenologia que pode contra-indicar. Por exemplo: A Contra-transferência Negativa Imediata. Além deste fator, pode o paciente apresentar uma postura e característica de personalidade Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 7 desfavoráveis à constituição do Par Analítico. Isto exige muito cuidado na fase das entrevistas. Há enfermidades do psiquismo que não são analisáveis? Certamente, todas as enfermidades psicogênicas, em princípio, não oferecem condições. É claro que estamos agora lidando com o conceito de estrutural. Entretanto, há certos casos de esquizofrenias que parecem responder a uma análise profunda. Diante dessas considerações, uma outra pergunta se levantará: Quais são os pacientes tributários da psicanálise? Os Neuróticos. Só existe um tratamento eficaz para as neuroses – Psicanálise. O tratamento psiquiátrico para as neuroses é apenas sintomático. É como tirar a febre de alguém com infecção. Entretanto incluímos neste roteiro um capítulo sobre Psicanálise e Paciente Psiquiátrico. Por outro lado, temos ainda duas outras questões a considerar nesta parte: - A Psicanálise pode contribuir para os pacientes não indicados? Sim. A Psicanálise cura as neuroses, ajuda aos psicóticos e não agrava quaisquer enfermidades. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 8 - Os Psicanalistas têm que ser rigorosos na questão da analisabilidade? Em princípio sim. Pelo menos nos casos de contra-indicação familiar, de amizade etc... Contudo não será fácil recusar um paciente, especialmente se levarmos em conta as necessidades financeiras e a natureza sacerdotal de que nossa profissão se reveste. Não deve, contudo, forçar uma situação que saiba ser improdutiva. Vamos dar, ainda que resumidamente, os critérios da Dra. Zetzel de analisabilidade: - A capacidade de manter a confiança básica em ausência de uma gratificação imediata; - A capacidade de manter a discriminação entre o objeto e o self na ausência do objeto necessitado; - A capacidade potencial de admitir as limitações da realidade. Finalizando, teremos sempre bastante dificuldade com os pacientes que tendem a desenvolver prematuramente uma intensa transferência erótica desde as entrevistas face a face. 3 – O Par Analítico Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 9 A figura do Par Analítico surge em decorrência da analisabilidade. Se os requisitos para a situação analítica forem atendidos, há uma dupla de trabalho. Queremos afastar desde já a idéia de que o Par Analítico engloba aspectos transferenciais. Não engloba, mas predispõe ao surgimento da mesma. E, se não ocorrer a transferência, o trabalho será inútil, não haverá cura. Assim, para entender o mesmo, temos que considerar se um determinado paciente vai responder melhor a um analista do que a outro, ou que um analista pode tratar melhor uns pacientes do que outros. Par Analítico, é, portanto, o melhor analista para determinado paciente e o paciente adequado para determinado analista. Vale ainda considerar que essa figura não surge comimediatismo, sendo necessário um tempo determinado de contato para se ter idéia de sua medida. Isto torna fundamentais as entrevistas. II – PASSOS DO PROCESSO PSICANALÍTICO 1 – O AMBIENTE Do ponto de vista metodológico, ambiente não faz parte do processo. Entretanto, se precisamos dele para tal, não podemos ignorar a sua importância. É claro que existe ambiente e ambiente. Também sabemos que as pessoas se sentem melhor em função de certas disposições, cores etc... Assim, pensemos um pouco sobre um ambiente adequado para a prática psicanalítica. Disposição de um Consultório ou Gabinete: Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 10 - A sala não deve ser pequena em demasia; - Deve possuir os móveis apenas necessários; - Não deve ter nas paredes nada que chame a atenção; - Deve ser ambiente de pouca claridade; - A cortina deve ser de cor neutra; - Deve-se evitar enfeites sobre a mesa ou coisas que pareçam ostentação; - Se tiver estante, nela devem ter apenas livros; - Deve ser ambiente afastado de ruídos sistemáticos; - A limpeza e disposição dos móveis e demais pertences deve ser rigorosa; - O divã deve ser confortável e suficientemente largo para acomodar quaisquer pacientes; - A cadeira do analista deve estar disposta por detrás do divã, de maneira que o analista não seja visto pelo paciente enquanto livremente associa; - Não deve ter telefone nem campainha que soe dentro dessa sala, etc...; - Deve existir uma ante-sala levemente decorada. O ambiente deve oferecer ao paciente oportunidade de bem estar. Ele deve ter a sensação de que aquele local é o mais agradável possível para os 50 (cinqüenta) minutos a que tem direito. 2 – ANAMNESE Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 11 Em Psicanálise, anamnese não é entrevista. Reservamos para a entrevista um caráter formal de oportunidade para termos uma visão anímica do paciente. A anamnese é o primeiro, contato. É a ocasião em que o paciente chega ou é trazido, e neste caso já temos uma forte contra- indicação para a análise. O ideal é que o paciente venha de livre e espontânea vontade. Se bem que às vezes necessite de apoio, do encorajamento de alguém, da família ou não. Na anamnese primeiramente ouvimos as razões de nossa procura, e, em certos casos já podemos refugar um paciente neste estágio, se constatarmos tratar-se de psicótico, de alguém que já conhecemos, se já tivemos algum tipo de negócio com o mesmo, enfim. Mas, como proceder na anamnese? Fazer a ficha do paciente. Esta ficha deve ter: - Nome completo; - Data de nascimento; - Filiação; - Estado Civil; - Nível cultural; - Condição sócio-econômica; - Condição sócio-econômica e cultural da família (pais); - Número de irmãos; - Relação com os irmãos; - Desempenho escolar; - Como se relaciona na sociedade; - Religião e como pratica essa religião; Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 12 - Grau de conhecimento da psicanálise; - Enfermidades que possui; - Enfermidades de que padeceu, inclusive as doenças próprias da infância; - Lesões provocadas por enfermidades; - Acidentes que padeceu; - Cirurgias que padeceu; - Quantidade de amigos; - Hábitos; - Passatempo preferido; - Medos, etc. De posse dessas informações e outras que poderão ser obtidas com as respostas a certas perguntas do chamado “Interrogatório forçado”, o psicanalista terá uma visão da analisabilidade e das possibilidades de formação do par analítico, bem como das condições econômicas que darão sustentação ao processo. Na anamnese o Psicanalista não deve prometer nada, além de sua boa vontade para com o caso, mas deixando claro que tudo vai depender do processo de entrevista. Não podemos garantir cura, nem mesmo se poderemos continuar com o caso, se bem que isto é mais teórico do que prático. 3 - A ENTREVISTA Já disse que em Psicanálise anamnese não é entrevista. Entrevista é um termo reservado para algum encontro de tipo especial, não para Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 13 contatos regulares. Trata-se, portanto, do que se faz antes de empreender um tratamento psicanalítico. Sua finalidade é, de modo mais amplo que na anamnese, decidir se a pessoa que consulta deve realizar um tratamento psicanalítico ou de outra natureza. Também nela se terá uma visão profunda das contra-indicações. Na entrevista devemos facilitar ao entrevistado a livre expressão de seus processos mentais, o que nunca se consegue com um enquadre formal de perguntas e respostas, embora durante a mesma possamos submeter algumas perguntas ou pedir que o futuro paciente fale sobre algo específico. Algumas considerações resumidas sobre a entrevista: - Tanto melhor será o campo da entrevista quanto menos participe o entrevistador; - É comum observarmos pacientes com forte dose de ansiedade e/ou angústia já na entrevista; - O analisado deve ser informado que a entrevista tem a finalidade de responder a uma consulta sobre sua análise mental e seus problemas, para ver se necessita de tratamento. - A entrevista se realiza sempre face a face e o uso do divã está formalmente afastado; - A entrevista não se baseia nas regras de Livre Associação, embora já se inicie uma espécie de ensaio da mesma; - O Psicanalista deve influenciar com atitudes não-verbais; - O Psicanalista deve anotar ao máximo, de modo elegante e não acintoso, tudo que interesse à decisão quanto a analisabilidade; - O Psicanalista não deve interpretar nem fazer diagnóstico durante a entrevista. Suas palavras devem induzir apenas; Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 14 - O Psicanalista não deve recorrer a procedimentos que evitem a ansiedade, como o apoio ou a sugestão, e tampouco resolvê-la com o instrumento específico da interpretação; - No fim de cada entrevista já predomina a angústia de separação, que será fortalecida no curso da análise; - A entrevista deve ter tempo limitado, como duas, três ou mais sessões, não deve ser arrastada indefinidamente; - Deve ser distinta do processo de Psicanálise formal, de maneira que o paciente saiba onde terminou uma e começou a outra; - A entrevista informa sobre fatos fundamentais, não como objeto de análise, mas como para definir se será ou não possível o trabalho de análise; - Na entrevista, também, o paciente poderá chegar a conclusão de que esse Psicanalista não lhe é indicado, sem, contudo, abrir mão do tratamento com um outro (é comum pacientes que vão de analista em analista, até encontrar um indicado, embora isso já possa ser estudado como uma busca de um profissional que satisfaça suas fantasias à priori), etc. 4. O CONTRATO ANALÍTICO Vamos tomar um termo das relações civis para designar certo procedimento necessário à prática psicanalítica. Antes de definirmos o Contrato Psicanalítico, precisamos entender que uma das estratégias da Entrevista é preparar o futuro paciente para subscrever o metafórico Contrato Psicanalítico. Esta expressão deve ficar circunscrita ao jargão dos psicanalistas, sem conotações legais. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 15 - Mas, o que é? É um acordo sobre as bases ou as condições do tratamento. “Vale a pena assinalar, ... que o contrato psicanalítico não só implica direitos e obrigações, mas também riscos, os riscos inerentes a todo o empreendimento humano”. O Contrato Psicanalítico poderá ser democrático ou autoritário. Aquele é o que tem em conta as necessidades do tratamento e as harmoniza com o interesse e a comodidade de ambas aspartes (paciente e analista). Lembremos que a cada obrigação do analisado corresponde simetricamente uma do analista. No contrato autoritário, temos a busca da conveniência do analista antes que preservar o desenvolvimento da tarefa. Há também um tipo menos comum, que é o demagógico, em que o psicanalista satisfaz o paciente em prejuízo do processo. Surge naturalmente, a pergunta: Quando deve ser formalizado o Contrato Psicanalítico? Na fase inicial das entrevistas. Pode mesmo ser alinhavado durante as entrevistas, entretanto, deve haver um momento em que se trate apenas dele. Um momento quando o paciente se veja de frente com obrigações definidas, com algo que ele terá que respeitar, uma vez que pretende a cura, o seu bem-estar. Generalidades sobre o Contrato Psicanalítico: - Não é um documento formal, escrito; - Deve incluir os elementos tradicionais, que veremos, bem como a possibilidade de sua alteração; Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 16 - Deve prever uma certa flexibilidade que não comprometa o andamento do processo nem do tratamento; - Deve frisar bem a responsabilidade do Psicanalista; - Deve esclarecer que tudo que o paciente faça, não faça, falte etc., será objeto de interpretação, etc. Principais itens do Contrato Psicanalítico: A questão das anotações Devemos informar ao paciente que temos o direito de anotar elementos colhidos da Livre Associação que considerarmos necessários para interpretações futuras ou para dirimir dúvidas quando de resistências contumazes apresentadas pelo paciente. Mas é preciso constar que as anotações não são obrigatoriedade, uma vez que há psicanalistas que simplesmente não anotam nada. Aconselhamos, contudo, que todos anotem determinadas coisas, porque a pura e simples postura audível, por melhor que seja a memória do Psicanalista, poderá provocar uma sensação de inutilidade das suas palavras, com acentuado descrédito pelo nosso trabalho. Uso do Divã O divã não é um sofá, onde o paciente senta se quiser. Trata-se de um instrumento do nosso trabalho. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 17 Entretanto, não devemos impor ao paciente como algo obrigatório, com pena de nosso Contrato tornar-se autoritário, o que deve ser evitado. Devemos, isto sim, esclarecer quanto a sua utilidade, o seu emprego histórico desde o mestre, Freud. Qual a razão do Divã? Freud o concebeu para possibilitar o maior relaxamento possível ao paciente enquanto fala. Ele tem por objetivo tirar o paciente da rotina de atividades musculares, diminuir as tensões, afastar as responsabilidades com equilíbrio e outras que consomem bastante energia. O divã é fundamental também porque permite ao psicanalista posicionar- se em relação a ele de modo a ficar menos exposto, diminuindo assim a carga transferencial e o constrangimento dos olhares insinuativos, que são responsáveis pela contra-transferência, fenômeno que pode ameaçar todo o trabalho. No contrato deve ficar claro que o divã é para o Psicanalista como a cadeira do equipo de um dentista, e tantas outras. Sem o divã, fazemos vários tipos de psicoterapias, menos psicanálise. Intercâmbio de tempo e dinheiro O dinheiro da psicanálise tem uma função econômica por excelência. Pode parecer absurdo esta afirmação, uma vez que dinheiro é sempre fator econômico. Só que o termo econômico em psicanálise tem outro significado. É uma carga de valores que domina uma relação. O dinheiro tem aqui importância diferente dos demais atendimentos médicos ou paramédicos. E tanto assim que empregamos o nome sessão em vez Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 18 de consulta. Além do mais, o paciente de psicanálise gasta muito mais e durante muito tempo, do modo como não despende recursos quaisquer outros pacientes, excetuando os casos de internação e cirurgias. Deve ficar claro que o paciente precisa do analista para resolver os seus problemas e este tem um preço e uma competência que lhe coloca ao dispor. O Psicanalista deve ser rígido na questão dos honorários, não atendendo de graça, sob nenhuma hipótese. -E por quê? Quem não pode pagar pela análise também não será beneficiado por ela. Sem falar nos complexos que seriam plasmados, dentre eles o de inferioridade, o de devedor eterno etc... O Psicanalista informará que aqueles 50 (cinqüenta) minutos lhe pertencem (ao paciente), que deve pagar por eles. Quanto à questão do valor (axiologia), é inversamente proporcional aos problemas enfrentados e às dificuldades deles advindas. No contrato, o Psicanalista deve fixar o seu preço, o modo de pagamento, podendo ser por sessão, semanal ou mensal, sendo este o preferido. Podemos também ter preços diferenciados, de acordo com as condições do paciente e a quantidade de sessões semanais. Entretanto, que nunca um paciente saiba o quanto os demais estão pagando. Não devemos ter uma tabela de preços afixada. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 19 Finalizando, o Psicanalista não deve ter como fonte de preocupação as alegações financeiras do paciente, ter pena, ou mesmo trocar idéias sobre tais problemas. Quanto a isto, ouvimos, como a qualquer outro problema. Não nos esqueçamos de que tudo deve ser interpretado. Freqüência e duração das sessões Freud psicanalisava com cinco (05) sessões semanais, dando folga apenas nos fins de semana e feriados. Com o passar do tempo as condições econômicas e do próprio tempo de que se dispõe têm mudado. Nos últimos anos temos encontrado uma situação intermediária que satisfaz – três sessões por semana. Mesmo assim é muito difícil encontrar quem possa arcar com tamanha despesa. E por causa desses complicadores, tem-se optado por duas sessões e, não havendo outra maneira, uma sessão. -Mas seria isto um barateamento da Psicanálise? - Não. É uma adaptação da ciência de Freud aos tempos bicudos em que vivemos. Mas, não enganemos os nossos pacientes – é muito difícil trabalhar assim. A Psicanálise acaba virando uma psicoterapia comum, com pequeno alcance material reprimido. -O que fazer? O Psicanalista precisa, ao menos neste caso, forçar um pouco para que o paciente entenda a necessidade de uma freqüência mais amiúde, pelo Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 20 menos duas vezes por semana, mesmo que isto sacrifique suas economias e obrigue a uma mudança radical nas suas contas pessoais. Quanto à duração das sessões, é igualmente histórico e comprovado que um período de cinqüenta minutos é adequado. É tempo suficiente para o paciente relaxar e começar a falar. Não devemos diminuir o tempo com a desculpa de abaixar o preço. Não devemos aumentar igualmente por qualquer hipótese. Vale a pena tomar cuidado com certas correntes modernas de psicanálise que pregam a possibilidade de gasto de tempo menor. Os Lacanianos têm imaginado sessões de até cinco (05) minutos, o que é um absurdo. Tempo Provável de um Tratamento Psicanalítico Embora haja psicoterapias rápidas, algumas até com fundamentação psicanalítica, vale lembrar que psicanálise não se preocupa com o fator tempo. Não podemos submeter ao tempo fatores ponderáveis e que dependerão de circunstâncias mil para virem à tona. O próprio processo psicanalítico está sujeito a vais-e-vens que cada caso determina. Além disso, existe o problema potencial da relação: Neurose – profundidade – conseqüências – personalidade – caráter – psicanalista – questões do par analítico – intensidade da transferência – Licenciado para - F ernanda santos- 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 21 complicação da contra-transferência – inteligência do paciente – idade – RTN etc. Tudo isto acena para a impossibilidade de fixação de prazos. Contudo, a experiência tem mostrado que, em média, um tratamento completo dura cerca de cinco anos. Pode ir até dez anos. Em alguns casos é interminável. Quando falamos na possibilidade de uma análise interminável, quase sempre causamos um bom susto. Mas não é difícil argumentar. Basta lembrar que muitas enfermidades somáticas são mais ou menos assim: cardiopatias, diabetes, neuropatias, reumatismo etc., têm que ser tratadas a vida toda. Não há cura do ponto de vista do banimento da enfermidade do organismo. Sem falar nos casos renais crônicos que obrigam o paciente à hemodiálise três vezes por semana, permanecendo ali cerca de quatro horas. E ninguém desiste por causa disto. Férias O Psicanalista deve contratar também o seu período de descanso semanal, nos feriados e anual. Estas férias devem atender também às necessidades de descanso financeiro do paciente quando de um período Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 22 de cessação de trabalho, que funciona bem para realimentar as esperanças e fortalecer a transferência, quando for o caso. Podemos optar por trinta dias corridos ou dois períodos de quinze dias. Entretanto, esses períodos devem ser fixados de antemão. Muito raramente se admite alteração nessa cláusula. O trabalho ininterrupto, sem a observância do período de descanso, é contra-indicado por todos os motivos. Regra da Livre Associação No contrato fixamos também que o nosso trabalho tem uma metodologia rígida, não por uma questão de intransigência, mas de princípio, de doutrina. A regra áurea é Livre Associação de Idéias. Psicanálise é isto. Fora dessa regra o que existe é método catártico, apoio, papoterapia, condutoterapia, menos Psicanálise. Nosso objetivo, o da Psicanálise, é tornar o inconsciente, o Id, consciente. Pretendemos e conseguimos trazer todo material recalcado no Id para a superfície, para o consciente, para o ego. Uma vez à tona, interpretamos e o próprio paciente se dará conta dos problemas, suas causas e aprenderá a conviver com os tais, e, se for o caso, promoverá a catarse. Naturalmente que o paciente não se envolverá tão facilmente assim. Leva algum tempo para entender e conseguir falar o que vai passando pela mente. Durante bom tempo ele vai tentar dialogar com o psicanalista, o que evitamos, com o silêncio absoluto. Será necessária uma ligeira palestra do psicanalista ensinando ao paciente o que é Livre Associação. Pode ser recomendável que se dê alguma coisa a respeito para o paciente ler. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 23 Podemos fazer certos exercícios que introduzam no método etc... De qualquer maneira, tratamento psicanalítico não é um papo em dias e horas e local marcados. Pagamento das Faltas Embora este critério não seja exclusivo da psicanálise, tem para nós uma importância capital. O paciente às vezes foge das sessões por motivos conscientes ou inconscientes. De qualquer maneira tais motivos são resistência. Mesmo quando diz que não tinha dinheiro, razão pela qual optamos pelo pagamento mensal, para evitar esta desculpa. Deve ficar claro que a sessão agendada é dele e ele paga, quer compareça ou não. Isto aumenta a responsabilidade do tratamento. Devemos ser rígidos nesta cláusula, dado à fenomenologia presente e intensa. Não devemos estender também o aumento inesperado de sessões semanais, fora do que se contratou, a não ser por motivos bem claros e discutidos, pois pode tratar-se de necessidade transferencial que não deve ser alimentada ou fortalecida. O processo deve ter a necessária rigidez, porque tudo é tratamento. Mudança de Horários Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 24 É bastante comum ser solicitada em pacientes fóbicos, ansiosos ou limítrofes (especialmente esquizofrênicos). Não deve ser de tudo proibida nem incentivada. Damos bom exemplo quando subordinamos toda a nossa vida aos compromissos da psicanálise. Se o psicanalista hoje e amanhã troca o horário das sessões por motivos fúteis, é claro que o paciente vai se sentir no mesmo direito, e isto nos é adverso. O Material Onírico Psicanalista que se preza não pode fugir dos sonhos nem possuir deles idéia mística, fantástica, sobrenatural, religiosa ou banal. O sonho é o melhor material que a mente fornece. No sonho as informações são completas e livres de bloqueios. Vêm, contudo, revestidas de simbolismos aparentemente intransponíveis. O que fazer com os sonhos? Interpretá-los à luz da técnica freudiana, fartamente estudada. Não se interpreta sonhos sob a ótica da astrologia, ou do jogo do bicho. CUIDADO! Lembremos também que os sonhos são reconhecidos até mesmo na Bíblia como material merecedor de crédito. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 25 Todo sonho é satisfação de uma necessidade. É claro que não estamos falando dos sonhos proféticos, mas daqueles produzidos pelo inconsciente para romper a barreira do superego, das censuras. A interpretação dos sonhos será estudada à parte. Regra de Abstinência Por abstinência entendemos o não envolvimento do psicanalista com os afetos ou os problemas do paciente. É claro que existe a contra- transferência que cada analista terá que trabalhar, embora não ocorra com a mesma intensidade com todos os pacientes, e nem mesmo durante toda a nossa vida. CUIDADO! É de Freud esta máxima: “Se quisermos que alguém nos abra o coração, devemos começar por abrir o nosso”. -Ela serve para tudo, menos para a prática psicanalítica. À primeira vista poderia parecer justo que o psicanalista permitisse, da parte do paciente, a visão de seus próprios defeitos e de seus próprios conflitos anímicos, abrindo a sua vida íntima aos olhos do analisado. Mas esse modo de proceder não carreta nenhuma vantagem ao tratamento, pelo contrário. Incapacita o paciente no sentido de vencer as suas resistências profundas, provocando-lhe, cada vez mais e mais, uma Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 26 curiosidade insaciável, chegando mesmo a encontrar na análise do psicanalista encantos e atrativos bem mais interessantes que a sua própria análise. Sem falar no fato de que o analista informaria sobre sua contra-transferência, seus afetos pelo paciente. Nessa linha de raciocínio, também o psicanalista não se interessa pelo paciente. Não existimos para satisfazer o paciente. Não temos como satisfazer e não nos deve interessar nem mesmo como é que o paciente o conseguirá. 5 – POSTURA DO PSICANLISTA O Psicanalista não deve provocar distanciamento com a máscara de semideus ou super-homem. Deve ser uma figura natural, que inspire confiança e não provoque especulação além das fenomenológicas naturais. O Psicanalista deve vestir-se bem, sem ostentação. Não deve usar roupas anacrônicas nem modismo demasiado. Deve, contudo, ser uma pessoa agradável, quer pela indumentária, quer pela higiene geral. Precisa ouvir sem manifestar susto com o conteúdo comunicado. Não pode manifestar escrúpulo nem qualquer espécie de julgamento. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 27 Na recepção do paciente, deve estender-lhe a mão para um bom- dia, boa-tarde ou boa noite, sem exageros. Nada de beijinhos ou tapinha – essas coisas serão interpretadas pelo pacientecomo afetividade e favorecerão ou fortalecerão a transferência. Quando o paciente falar algum gracejo, devemos rir de leve. Se não o fizermos, provocaremos o constrangimento inibitório. Não devemos rir às gargalhadas com o paciente – o paciente é que está em análise, não nós. Não podemos dar ao paciente a idéia de que a sessão nos interessa de modo pessoal, que nos sentimos bem com ela etc. -E quando de encontros fora do consultório? Cumprimentamos, sem fazer qualquer referência à condição de paciente e psicanalista. Não devemos apresentar o paciente a outros como tal. Não devemos “nos abrir”, nem mesmo nesta situação. Paciente é paciente, em qualquer lugar que esteja. III – LIVRE ASSOCIAÇÃO 1 - Definição Como definição, podemos dizer que é o caudal de idéias que se relacionam entre si e que são verbalizadas sem preocupação lógica ou estilo. A Livre Associação é parte fundamental do Processo Psicanalítico. Sem ela não existe Psicanálise, porém monólogo ou diálogo. O Processo Psicanalítico não consiste em um paciente falando o que consegue lembrar ou simplesmente ocupando os ouvidos da analista. Na Livre Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 28 Associação fala-se do que vem naturalmente à cabeça e não daquilo que procuramos no material mnético. Podemos afirmar que leva algum tempo para um paciente Associar Livremente. Quando muito, começa falando desembaraçadamente, o que não é o mesmo. Para a Livre Associação é fundamental o uso do Divã. Ali o paciente encontra uma posição de conforto que favorece essa manifestação do inconsciente mais naturalmente. Lembremos que todo material recalcado ao inconsciente está ali como que colado, arraigado. Não é fácil desprendê-lo. Certas condições mínimas são necessárias. A mais eficiente é aquela em que o indivíduo é convidado para falar em uma posição que normalmente não utiliza para tal, e sim para dormir. Há uma predisposição mental ao relaxamento próprio do sono e à capacidade de verbalizar. 2 – O processo da Livre Associação É indiferente o tipo de material que se tenha, que o paciente apresente: pode ser a história de analisado, as recordações infantis ou mesmo a história da enfermidade; Não é um interrogatório nem um diálogo travado entre Psicanalista e paciente. Algumas vezes fazemos perguntas, mas não sistematicamente. Aliás, procedemos melhor quando as nossas perguntas induzem uma compreensão e praticamente não exige resposta; Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 29 A Psicanálise visa sondar o inconsciente para trazer à tona da consciência as idéias que aí se acham recalcadas e libertá-las através da compreensão. É verdade que tal libertação é, de certa forma, um pouco de aplicação do método catártico. Outrossim, quem traz à tona tais idéias latentes é o paciente, não o analista. O Psicanalista não é escafandrista, um mergulhador. No máximo atua dando corda à imaginação mnética. O paciente escolhe o ponto de partida de sua conversação. Entretanto, cabe ao Psicanalista perceber se sua conversa não passa de “um contar do dia a dia”. Às vezes o paciente fala muito exatamente para não falar o pouco que deve. A conversa funciona muitas vezes como bloqueio, resistência. Desse modo, o psicanalista pode alertar sobre a improdutividade do material verbalizado, mas isto com muito cuidado. Devemos ensinar que o paciente deve falar o que apareça sem esforço de recordação na mente, e não falar por falar; O paciente não deve raciocinar sobre o que está dizendo; quando ocorre o raciocínio, o que há de fato é uma seleção, como se o paciente pudesse definir o que é importante e o que não é. Na base dessa seleção é encontrada a resistência. Uns dizem: “Lembrei de algo, mas isso não é importante, não tem nada a ver”. É exatamente aí que temos que trabalhar e fazê-lo entender a presença de uma resistência, de um bloqueio. O paciente não deve se preocupar com o que está dizendo. Deve agir como que estando a “pensar em voz alta”. Transmite todas as idéias que forem surgindo, mesmo que sejam agressivas, pareçam vergonhosas, banais, conflitem com os seus costumes. Aliás uma das coisas mais responsáveis pelo recalque é exatamente o “pensar de um modo e falar de outro”. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 30 Isto é cometido pelos padrões culturais e pela hipocrisia das religiões etc. Sintetizando: “Coloque-se diante do Psicanalista como um passageiro olhando da janela de um trem, em velocidade, e, vá narrando o que se passa na tela da sua imaginação”. (Dr. Gastão Pereira da Silva) 3 – Um exemplo detalhado de Associação de Idéias Uma aula sobre como trazer à tona as idéias recalcadas. Obs.: O conteúdo que incluímos sob este título foi extraído do livro de J. Ralph, “Conhece-te pela Psicanálise”. Vou ensinar ao aluno como se deve pescar. E não só como pescar, mas também, o lugar bom para uma boa pescaria. Mas não se trata de peixes, trata-se de pescar idéias. Não as alheias, mas as suas próprias idéias. É verdade que, sob certas condições, precisamos pescar as idéias dos outros; mas, comumente não há necessidade disso. Há muitos indivíduos, com efeito, que com a maior sofreguidão, nos oferecem as suas, graciosamente, sob a forma de convicções e de preconceitos. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 31 A média dos indivíduos recusa-se a admitir qualquer associação com sua última atitude mental; e com que energia procuram demonstrar que suas idéias são próprias, espontâneas e desinteressadas. Não, o que pretendo agora é ensiná-lo a pescar as próprias idéias. Naturalmente, elas lhe interessam muito. Mas vai uma grande distância entre interessar-se por uma coisa e possuí-la e gozá-la integralmente. De nada nos vale uma ótima coisa, que apreciamos muito e pela qual muito nos interessamos, se não podemos utilizá-la justamente quando e como queremos. E se não o podemos fazer, é porque a coisa não nos pertence de fato, e, se por acaso a consideramos nossa, somos, positivamente, vítimas de uma ilusão. Nesta pescaria, que empreenderemos juntos, vamos adotar um anzol mental. Será uma pesca extremamente prática e de grande proveito para a sua personalidade. Quero ensiná-lo a trazer à consciência (de modo que se possam confrontar) as idéias responsáveis pelo seu temperamento: as boas e as más, as fortes e as fracas. Nas profundezas do inconsciente há um grande sortimento de idéias e lembranças que a gente supõe serem próprias, originais; na realidade, a natureza e as tendências do procedimento consciente são condicionadas por esses elementos mentais submersos. Poucas, entretanto, são as pessoas que têm a noção exata de suas próprias reservas mentais, ou uma noção inteligente dos alicerces Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 32 inconscientes sobre as soterradas (idéias). E, quando afluem, escolhemos as que são utilizáveis, rejeitando as restantes para as profundidades do espírito. O nosso equilíbrio mental depende do critério de seleção: se o critério na escolha é bom, será o nosso benefício; se mau, o nosso bem-estar sofrerá os prejuízos resultantes. Há, ainda, uma outra maneira de pensar, a que devemos referir, de passagem: é o sonho acordado, o devaneio. É um modo de pensar que não dá vantagens ao indivíduo na luta pela vida. Com efeito, a atenção em vez de se dirigir, intencionalmente, a um objeto mental definido, é atraída, nesse caso, pelas idéias – desejos. Representa um esforço para alcançar uma via imaginária e que não se consegue na vida real. Sendoum meio de se fugir às realidades da vida, constitui uma espécie de ópio mental, que devemos, portanto, evitar a todo o custo. O que o aluno vai conhecer agora é uma outra atitude mental, onde a atenção não é, nem dirigida, nem atraída, mas assiste, como um espectador passivo, ao desfile das idéias que, sob certas condições, aparecem no horizonte da consciência. Essa atitude é conhecida, tecnicamente, sob o nome de Livre Associação de Idéias. Na Livre Associação as idéias fluem e se sucedem sem intervenção consciente, sejam agradáveis ou desagradáveis, importantes ou não, na aparência. O que não significa que basta levantar a tampa do caldeirão do inconsciente para que transborde uma variada procissão de idéias e, com isso, se obtenha um resultado proveitoso. Não. O resultado pode ser inteiramente outro. Sabemos que toda idéia que surge na consciência tem suas raízes nas profundidades do espírito; e sabemos, também, que se pudéssemos Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 33 seguir essas raízes, desde a consciência até as suas origens no inconsciente, haveríamos de chegar à origem dessa idéia, isto é, às lembranças soterradas das quais ele não é mais do que a expressão. Tomemos uma determinada idéia; coloquemo-la, como se fosse uma isca, na consciência. Abstenhamo-nos de qualquer análise consciente; afastemos toda a crítica, todo o juízo, toda a coordenação, enfim, toda e qualquer forma de intervenção consciente; deixemos que outras idéias venham juntar-se à primeira, que faz o papel de isca, apenas por uma associação puramente simpática, que entre elas possa existir. Vamos obter, assim, uma Livre Associação de Idéias. Nesse processo, a idéia que ocupa em um determinado momento o campo da consciência, liberta-se atraindo para si a idéia imediata, exclusivamente em virtude de uma associação simpática que as une. Não entra no processo nenhuma interferência intelectual. O pensamento consciente, ao contrário, é um processo essencialmente de seleção; somos nós que atraímos as idéias para a consciência e, então, depois de analisá-las, julgá-las, medi-las, retemos as que nos convêm e rejeitamos as que não nos interessam. Para se obter uma boa associação de idéias é necessário afastar completamente esses esforços intelectuais e assumir, perante a consciência, a atitude de simples espectador do que vai acontecer. Deve- se assistir à procissão de idéias sem interpor nenhuma influência intelectual. Essa atitude mental não é difícil de se obter. É antes uma questão de habilidade. E, uma vez conseguida, basta um pouco de prática para repeti- la, sempre que se entender ser útil e necessária. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 34 Lembre-se sempre que nenhuma idéia penetra na consciência por ação do acaso. Toda idéia que, mesmo que seja por um tempo mínimo, ocupa o centro da consciência, aí não entrou por acaso. Ou foi empurrada pelas influências subjacentes, ou foi atraída pelas condições de superfície. Se, como no exemplo da idéia – isca, nos abstivermos de qualquer influência intelectual sobre ela, vai se operar uma associação livre de idéias, constituída das lembranças que são as suas próprias raízes; e deixando que essas associações se realizem livremente, num fluxo ininterrupto e contínuo, a consciência há de reconhecer, por fim, a lembrança exata que constitui a sua origem. Na Livre Associação, a idéia estimuladora (isca), que se encontra na consciência, está presa, por laços bem definidos, a um conjunto de lembranças localizado em algum ponto da vasta região do inconsciente; e se pudéssemos seguir a linha de associações que une entre si estes dois fatores, haveríamos de conhecer, rápida e nitidamente, a influência que as memórias soterradas exercem sobre a nossa conduta consciente. E isso porque teríamos assim conseguido ligar o efeito à causa. Resumindo: A Livre Associação de Idéias é a VIA RÉGIA que conduz à compreensão do processo pelo qual a conduta é controlada pelo espírito inconsciente; se o método for bem aplicado, pode-se, mesmo, reconstruir a personalidade consciente, abrindo-se aos nossos olhos perspectivas de maravilhosas possibilidades. IV – ALIANÇA TERAPÊUTICA Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 35 Na primeira parte deste estudo abordamos o chamado Par analítico. Vimos na ocasião que o par analítico constitui a combinação do melhor Psicanalista para determinado paciente, e vice-versa. Na seqüência e combinação de fatores, em decorrência desde par, surgem a transferência e a contra-transferência, que estudaremos dentro em pouco. Antes, porém, aparece este delicado assunto, a Aliança, por muitos confundida com transferência. Mas não confundamos – a transferência ocupa uma parte definida do universo psicanalítico. Nem tudo que ocorre na situação analítica é transferência. Temos, contudo, que reconhecer que a linha divisória entre a Aliança Terapêutica e a Transferência é muito tênue. - Como defini-la? Segundo Zetzel, Aliança Terapêutica é uma espécie de transferência racional. Essa transferência racional se caracteriza, sobretudo, por não ter o aspecto de neurose, o que chamamos de neurose de transferência. A diferença está na intensidade, racionalidade, consciência de que os afetos que surgem não são frutos de paixão mas do relacionamento. Por outro lado, a transferência se reveste da irracionalidade, envolvimento afetivo que não permite ao paciente distinguir os níveis de sentimentos. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 36 Podemos situar melhor a Aliança Terapêutica em relação à Transferência, do seguinte modo: A Aliança Terapêutica é favorável, colaboradora do processo, enquanto que a transferência, embora fundamental para a cura, em princípio opera negativamente, tende a atrapalhar. Aparece como embaraço que deve ser interpretado, caso contrário inviabiliza o tratamento, isto se perpetuará. A experiência tem-nos ensinado também outra coisa: a Aliança Terapêutica não necessita de interpretação, nem teríamos como fazê-lo. Precisamos confessar, entretanto, que a diferença entre a neurose de transferência e a aliança não é absoluta. É mais uma diferença de compreensão do paciente do que de natureza de sentimentos. Em suma, o que o paciente sente, em ambos os casos, é a mesma coisa. Mas a posição e análise pessoal do paciente difere. Uma outra situação interessante, é que na transferência a luta do psicanalista é para interpretá-la, afastá-la, dando lugar à possibilidade de instalação da dinâmica interpretativa. Na aliança terapêutica ocorre exatamente o contrário: o Psicanalista a reforça. Ele precisa da manutenção desse clima para sustentar a confiabilidade. Finalizando, diríamos que o ideal da transferência é que se transforme ou evolua para a Aliança Terapêutica. Uma coisa não se encontrará ao mesmo tempo em um paciente. Outra coisa se discute: Pode existir Aliança Terapêutica sem o processo inicial da transferência? Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 37 V – TRANSFERÊNCIA Definição: Atitudes, sentimentos e fantasias que um paciente experimenta, na situação analítica, em relação ao seu Psicanalista, muitas das quais emergem, de modo aparentemente irracional, de suas próprias necessidades inconscientes e conflitos, em vez de circunstâncias reais de suas relações com o analista. Assim, o paciente atribui, inconscientemente, características de seu pai, mãe, irmãos etc. ao analista, enquanto este representará qualquer dessas pessoas em relação ao paciente. A teoria da transferênciaé uma das maiores contribuições de Freud à ciência e também o pilar do trabalho psicanalítico. A transferência precisa ser entendida como um falso enlace, que tem, em princípio, dois objetivos, ambos inconscientes: a- Satisfazer as necessidades propriamente incons-cientes, confundindo a pessoa do Psicanalista com as pessoas que faltaram ou faltam na vida do paciente; b- Evitar a subida do mundo inconsciente ao consciente, funcionando desse modo como resistência, como dissimulação, com o fim de direcionar as energias mentais para um lado que embargue a manifestação do universo inconsciente. Em ambos os casos, “a transferência que se destina a ser maior obstáculo para a Psicanálise, se converte em seu auxiliar mais precioso, quando se Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 38 consegue detectar em cada caso (e manifestação) e traduzi-la para o enfermo”. Em qualquer caso, a transferência jamais poderá ser entendida como uma fraqueza de caráter, como “safadeza” do paciente, mas como algo inevitável às pessoas mais sérias. É sempre um problema da personalidade no que diz respeito às neuroses, carências etc. As pessoas que sufocam as manifestações transferenciais, o que conseguem é plasmar mais uma carência, fortalecendo assim o patrimônio neurótico. Não nos esqueçamos também que a transferência não é fenômeno exclusivo das relações psicanalíticas, mas acham-se presentes em todo trabalho relacional. E é pior nas outras profissões e contatos, porque os envolvidos não têm o conhecimento científico do que está ocorrendo, tomando, de acordo com o lado, como oportunidade de satisfação. A confusão que segue será sem precedentes nessas vidas. VI – CONTRA-TRANSFERÊNCIA Definição: As atitudes, sentimentos e fantasias que o psicanalista experimenta, muitas das quais provêm, aparentemente de modo irracional, de suas próprias necessidades e conflitos psíquicos, e não de circunstâncias reais de suas relações com o paciente. A contra-transferência pode ser, como deduzimos da definição, conseqüência de carências do Psicanalista, de problemas não resolvidos desse profissional. Pode também ser conseqüência da situação psicanalítica em si. Nesse caso, é, “uma resposta emocional do Psicanalista aos estímulos que provêm do paciente, como resultado da Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 39 influência do analisado sobre os sentimentos inconscientes do profissional” (Etchegoyen). Se na transferência temos que estar atentos para interpretá-la, de igual maneira precisamos estar atentos aos nossos sentimentos e sempre dispostos à auto-interpretação, com pena de ficarmos vencidos no relacionamento e impedidos de trabalhar em benefício do paciente. Quando falamos na Aliança Terapêutica que deve ser uma evolução da transferência, a própria transferência racional, de certa forma postulamos o mesmo para a contra-transferência. Nesse caso, quando nos interpretamos, quando identificamos os motivos dessa afetividade etc., transformamos esse sentimento intenso no correspondente à Aliança Terapêutica, a que chamamos descendente. Essa Aliança Terapêutica Descendente, que vem do Psicanalista, é igualmente um importante instrumento do processo, porque liga o psicanalista ao paciente, sem interdependência ao nível de sentimento. VII – RESISTÊNCIA 1 - Definição É a oposição a qualquer tentativa de revelação de um conteúdo inconsciente. A maior ou menor intensidade da luta travada pelo paciente contra o analista que ameaça pôr a descoberto esse conteúdo oculto constitui sempre uma medida de força repressora, isto é, de resistência. Temos, como grande objetivo da resistência, manter a neurose. A razão desse procedimento inconsciente reside no mal-estar que a revelação da neurose ocasiona. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 40 O paciente, também inconscientemente, opta pelo desprazer de manutenção do recalque, com o qual já está acostumado. 2 - Tipos de Resistências: a- Resistência consciente – é a retenção intencional de informações por parte de um paciente, causada pela vergonha, medo de rejeição, temor de perder a consideração do analista. Aceita-se que, subentendida na resistência consciente, haja sempre motivos inconscientes; b- Resistência inconsciente – aquela produzida pelo inconsciente de modo defensivo, sem que o paciente perceba. Tão somente atua ou deixa de atuar. O tipo mais conhecido é denominado atos falhos (falhados). 3 - Generalidades sobre resistências: • Os atos falhos ou lapsos são os esquecimentos, os cortes, as “evitações” que o inconsciente pratica com uma intenção definida. Aparece nos erros de leitura, de escrita, nas trocas de nomes, empregos de palavrões em momentos de solenidades e até em discursos e sermões; • A própria transferência é um tipo de resistência, porque visa cercear o processo e redirecionar os contatos; • Resistência é tudo aquilo que impede que o sujeito transfira o material reprimido para o consciente; • A resistência pode manifestar-se no paciente que fala muito, colocando o seu dia-a-dia para servir de manto sobre o seu passado; • A resistência pode ser encontrada no silêncio. Em todo caso precisa ser interpretada; • A crítica a todo comentário do analista é sempre uma resistência; Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 41 • Também a aceitação de tudo que o profissional fale pode ser resistência, na medida em que limita o avanço do mesmo, é a cortesia que protege a necessidade de reviver seus conflitos instintivos. VIII – OS MECANISMOS DE DEFESA Tipos sublimados de resistências Em alguns casos, os mecanismos de defesa podem ser interpretados como resistências. Também podem ser tratados como mecanismos de adaptação do Ego. São atuações que visam dar um tratamento sintomático aos complexos e aos deslizes, quando a consciência se sente desequilibrada. Segundo Otto Fenichel, eis os principais encontrados na situação analítica: 1- Sublimação – Ocorre quando os impulsos neuróticos são canalizados para um fim nobre, sadio; 2- Negação – É, como o termo designa, a negação de um impulso, quando a pessoa mascara um determinado instinto; 3- Projeção – Quando o paciente transfere para outrem os seus sentimentos, impulsos e padecimentos, quando sentimos e dizemos que o outro é que sente; 4- Introjeção – É uma espécie de incorporação, o ato de tragar, engolir o problema. Ocorre quando o paciente padece e incorpora como seu, só seu, e de certa forma há um contentamento com esse ato, sem ainda tratar-se de masoquismo; 5- Repressão – É uma tentativa de ignorar os problemas sentidos, normalmente dizendo que não tem problema algum; Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 42 6- Formação reativa – toda tentativa de defender a personalidade de algum perigo iminente; 7- Mecanismos secundários – Anulação, aleamento, regressão, bloqueios de afetos, protelação de afetos, desprezo de afetos; 8- Racionalização – Talvez o mais nobre dos mecanismos, que se trata da tentativa de auto-justificação de todos os atos, posições e cometimentos. É o esforço que o indivíduo faz para não se sentir culpado jamais. IX – ANGÚSTIA DA SEPARAÇÃO Fenômeno que percebemos, em alguns casos, desde as entrevistas, onde o paciente apresenta uma sensação de abandono, quando o seu tempo vai terminando, como se estivesse para perder algo muito caro. Na Angústia de Separação aparece um suave quadro de depressão situacional. A Angústia de Separação é diretamente proporcional à transferência e à Aliança Terapêutica. No caso de pacientes com forteresistência, que retardam ao máximo a instalação desses fenômenos, também se notará uma frieza, um corte do cordão umbilical indolor. Em caso de pacientes psicóticos, não-tributáveis da psicanálise, junto aos quais se esteja praticando uma psicoterapia de fundamentação psicanalítica, notar-se-á que a angústia de separação pode incluir certos tipos agressivos de evite. Pode também o paciente insistir em continuar, ter surtos na saída, simular insegurança, quadros fóbicos etc. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 43 X – A INTERPRETAÇÃO A interpretação é o instrumento mais nobre da psicoterapia. Entendemos por interpretação o método de deduzir o que o paciente tem em sua alma e lhe comunicarmos. A interpretação, é, portanto, a aplicação da racionalidade ao material que nos é oferecido através da Livre Associação. É quando o psicanalista entende e junta os fatos, montando o quebra-cabeça com o material mnético apresentado. A interpretação se dá sobre coisas lógicas apresentadas pelo paciente que, entretanto, não se vê com lógica alguma quando fala. Entretanto, em face do arrazoado do psicanalista, há a compreensão, a clareza. E, com o passar do tempo, à medida que o tempo de análise aumenta, o paciente já vai percebendo, e em algumas vezes se antecipa à interpretação. Mas, nesse caso, algumas vezes erra. Quando o paciente se antecipa na interpretação, o que temos nem sempre é insight, mas a inveja do psicanalista e a tentativa de tomar o seu lugar. Na interpretação o psicanalista precisa ser curto e educado. Não deve se estender em uma palestra longa, que dê lugar a divagações. Sempre que possível deverá interpretar com linguagem indagativa, fazendo perguntas que induzam uma resposta. Esse caso é aparentemente melhor, porque o paciente fica com a sensação de ter concluído a respeito. Tem mais facilidade de aceitar do que se tivesse recebido uma idéia pronta. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 44 Na interpretação o Psicanalista tem um aliado – o insight. Este termo tem, em psicanálise, uma significação maior do que a terminológica. O insight acontece no paciente, e será proporcional à inteligência dele e à disposição ou vontade de descobrir a sua verdade. Depende também de uma boa aliança terapêutica. Nele o paciente vê claramente, em um momento, toda a verdade da interpretação. Normalmente o insight desencadeia uma aceleração no processo associativo, em alguns casos fazendo o paciente calar, para, por algum tempo, desfrutar das memórias ligadas à verdade da interpretação. XI – ETAPAS DA ANÁLISE Quando dizemos que há etapas, o que queremos dizer é que na evolução do processo psicanalítico, há momentos característicos, definidos, distintos de outros, momentos com uma dinâmica especial que os distingue. Aliás, tudo nesta vida tem princípio, meio e fim. Vejamos as três etapas clássicas da análise: - Primeira etapa – A abertura da análise. Vai da primeira sessão (anamnese) até mais ou menos uns três meses, quando estamos com contrato de duas a três sessões semanais. Nessa fase temos os ajustes necessários, o início da transferência etc.; - Segunda etapa – O mesmo que etapa média. É a menos típica e mais longa e criativa. Começa quando o analisando compreendeu e aceitou as regras do jogo, como Livre Associação, interpretação, ambiente permissivo etc.. Prolonga-se por um tempo variável até que a enfermidade originária (ou sua réplica, a neurose de transferência) haja desaparecido ou tenha-se modificado substancialmente; - Terceira etapa – O término da análise. Não se prolonga por muito tempo. Deve durar, contudo, o suficiente para que a Reação Terapêutica Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 45 Negativa (RTN) seja vencida, para que a angústia da separação definitiva seja igualmente interpretada e assumida. Como vemos, a análise, que vem de resolver problemas, no fim, por causa do intenso e duradouro relacionamento, acaba tornando-se um problema. Entretanto, o tal não será enfermidade e tem caráter gratificante. Em alguns casos – Freud mesmo já o considerou – nos deparamos com o caso de Análise interminável, sem que o paciente seja um psicótico. São pessoas que, embora tenham os problemas resolvidos, não conseguem suficiente força e independência. O mais comum é que sejam pessoas submetidas a uma intensa carga de neuroses atuais, neuroses estas que, com o tempo e complexibilidade da vida vão aumentando. Algumas pessoas precisam de apoio, uma espécie de muleta, tornando a análise interminável. XII – VICISSITUDES DO PROCESSO PSICANALÍTICO Toda ciência, bem como todo relacionamento, apresenta suas dificuldades naturais. Precisamos estar conscientes de que há fatores que dificultam sobremaneira a análise: idade avançada, condições econômicas, religiosidade, inteligência de menos. Por outro lado, a inteligência de mais também pode dificultar. Entre as principais vicissitudes, temos: Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 46 - Insight – Tanto a sua ausência, nos “desinteligentes”, quanto a sua fartura, podem atrapalhar. Além do mais, em termos de interpretação, quantas vezes o paciente vê uma coisa e o psicanalista vê outra. - Elaboração – É o tempo que o paciente gasta para se organizar e reagir à postura do Psicanalista. É o conjunto de fatores que diz que o paciente assumiu a sua condição, compreende o papel do profissional e pratica as partes que lhe cabe; - Acting-out – Problema difícil de explicar. Poder-se-ia dizer que se trata de uma ação fora da situação analítica ou que tem por objetivo afastar o paciente ou o Psicanalista de seu suporte. Mas para simplificar, é quando o paciente faz uma coisa em vez da outra. CONCLUSÃO Todo esse nosso trabalho não visa esgotar nem reunir toda problemática que nos envolve, mas alinhar as situações mais comuns. Cresçamos em Freud. Leitura para reflexão Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 47 XIII – ESSÊNCIA E REGRA DA AUTO-ANÁLISE SISTEMÁTICA (Karen Horney) Visto como já examinamos o trabalho psicanalítico sob diversos pontos de vista, e vimos, através de um exemplo extenso, o processo geral por que uma pessoa se psicanalisa a si mesma, dificilmente será necessário – e parecerá mesmo redundante – discutir sistematicamente a técnica da auto-análise. Os comentários a seguir, portanto, apenas ressaltarão certas considerações, muitas das quais já mencionadas a outros respeitos, que merecem atenção especial quanto se atua sobre o próprio eu. Conforme vimos, o processo de livre associação, de auto-expressão franca e sem reservas, é o ponto de partida e a base permanente de todo o trabalho analítico – auto-análise ou análise profissional -, mas não é, de maneira alguma, uma proeza fácil. Poderia imaginar-se que este processo fosse mais simples quando se trabalha sozinho, porquanto, nesse caso, não há ninguém para interpretar mal, criticar, intrometer-se ou revidar; além disso, não é tão humilhante manifestar-se a respeito de coisas de que a gente possa envergonhar-se. Até certo ponto isso é verdade, embora também seja verdade que uma pessoa de fora, pelo simples fato de estar escutando, proporciona estímulo e encorajamento. Não há dúvida alguma, porém, que quer se esteja trabalhando só ou com um analista, os maiores obstáculos à livre expressão estão sempre dentro da pessoa. Esta anseia tanto por ignorar certos fatores, e por manter a imagem que tem de si própria, que, sozinha ou não, o máximo que pode esperar é uma certa aproximação do ideal das associações livres.Em vista destas dificuldades, a pessoa que trabalha só deve lembrar-se, de tempos em tempos, que estará agindo contra seus verdadeiros interesses se deixar de lado ou eliminar qualquer idéia ou sentimento que venha à tona. Deve lembrar-se, igualmente, de que a responsabilidade é exclusivamente sua: não há ninguém senão ela para adivinhar um elo que esteja faltando ou para investigar acerca de um vácuo deixado em suspenso. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 48 Este escrúpulo é particularmente importante com referência à expressão de sentimentos. A este propósito, há dois preceitos que deve-se ter em mente. Um, é o de que a pessoa deve procurar exprimir o que sente realmente, e não o que deve sentir por força de tradições ou de seus próprios padrões morais. Deve, ao menos, dar-se conta de que pode haver um hiato imenso e significativo entre os sentimentos genuínos e os adotados artificialmente, e deve perguntar-se, às vezes – não enquanto estiver associando, mas posteriormente – o que sente deveras sobre o assunto. A outra regra é que deve dar rédeas tão largas quanto possível a seus sentimentos. Isto, também, é mais fácil de dizer do que de fazer. Pode parecer ridículo sentir-se tremendamente magoado por uma ofensa aparentemente banal. Pode ser incrível e desagradável desconfiar e odiar alguém que nos é muito chegado; pode-se não ter dúvidas em admitir um esboço de irritação, mas achar-se assustador constatar que a ira está deveras presente. Deve lembrar-se, contudo, que, no que toca às conseqüências externas, nenhuma situação é menos perigosa do que a da análise, para uma expressão real dos sentimentos. Na análise só importa a conseqüência interior, e esta consiste em identificar-se a intensidade total de um sentimento. Na análise só importa a conseqüência interior, e esta consiste em identificar-se a intensidade total de um sentimento. Pois, em questão psicológica, também, não se pode enforcar quem ainda não foi capturado. Evidentemente, ninguém é capaz de desentocar à força sentimentos que estão reprimidos. Tudo o que qualquer um pode fazer é não refrear o que está ao seu alcance. Com toda a boa vontade do mundo, Clara, no início de sua análise, não teria podido sentir ou exprimir mais ressentimento contra Peter do que o fez, mas, à medida que a análise progrediu, tornou- se capaz de perceber a intensidade real de seus sentimentos. Sob um certo ponto de vista, toda a evolução por que ela passou pode ser descrita como uma liberdade crescente para perceber o que de fato sentia. Mais uma palavra quanto à técnica da livre associação: é indispensável abster-se de raciocinar enquanto se estiver associando. O raciocínio tem Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 49 seu lugar na análise e são muitas as oportunidades para utilizá-lo – depois. Mas, segundo já foi acentuado, a essência mesma da livre associação é sua espontaneidade. Por conseguinte, a pessoa que estiver tentando fazê-la, não deve procurar chegar a uma solução raciocinada. Suponha- se, por exemplo, que você está tão cansado e bambo que gostaria de arrastar-se até a cama e declarar-se doente. Aí você olha para fora, da janela de um segundo andar, e dá tento de que está pensando que se você caísse no máximo quebraria um braço. Isto o espanta. Você não sabia que estava desesperado, tão desesperado a ponto de querer morrer. A seguir, você ouve um rádio tocando no andar de cima, e pensa, com uma certa irritação, que gostaria de dar um tiro no sujeito que está ouvindo o rádio. Você conclui, com razão, que deve haver raiva, além de desespero, no fato de sentir-se doente. Até aqui você vai indo bem. Você já se sente menos paralisado, porquanto se está furioso com alguma coisa talvez possa encontrar a razão para isso. Mas, aí você começa a pesquisar conscientemente, num frenesi, o que é que pode tê-lo enfurecido. Examina todos os incidentes que ocorreram antes de sentir- se tão cansado. É possível que você atine com a provocação, mas o mais provável é que toda sua busca consciente dê em nada – e que a causa real lhe ocorra meia hora mais tarde, depois de você ter desanimado ante a futilidade de suas tentativas e de ter desistido da investigação consciente. Tão improdutivo quanto essas tentativas de forçar uma solução é o procedimento de uma pessoa que, mesmo quando deixa a mente trabalhar em liberdade, procura descobrir o significado de suas associações, ligando-as umas às outras. Seja o que for que o leva a fazer isso, quer se trate de impaciência, de uma necessidade de ser inteligente ou de um receio de dar saída a idéias e sentimentos incontroláveis, esta intromissão do raciocínio propende a perturbar a situação de repouso necessária à livre associação. É verdade que o significado de uma associação pode surgir espontaneamente. A série de associações de Clara, que terminou com a letra do cântico religioso, é um bom exemplo disto: as associações dela mostraram um grau crescente de lucidez, apesar de não ter sido feito nenhum esforço consciente para entendê-las. Por outras palavras, os dois processos – auto-expressão e compreensão Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 50 – as vezes podem coincidir. Sem embargo, no que toca a esforços conscientes, eles devem ser conservados rigorosamente separados. Se estabelecermos assim uma distinção clara entre a livre associação e a compreensão, quando é que se pára de associar e tenta-se compreender? Felizmente, não há regra alguma para isso. Enquanto os pensamentos estiverem fluindo livremente, não há motivo para detê-los artificialmente: mais cedo ou mais tarde, serão contidos por algo mais forte do que eles mesmos. Quiçá a pessoa chegue a um ponto onde se sinta curiosa de saber o que é que tudo aquilo significa; toque, de repente, em uma corda emocional que prometa lançar luz sobre algo que a incomoda; fique, simplesmente, sem idéias, o que pode ser um sinal de resistência, mas também pode indicar que esgotou o assunto, por enquanto; ou pode apenas dispor de tempo limitado e queira ainda tentar interpretar suas anotações. Quanto à compreensão das associações, é tão infinita a gama dos temas e combinações de temas que pode apresentar-se, que não é possível fixar quaisquer regras a respeito do significado dos elementos individuais dos contextos individuais. Certos princípios fundamentais foram estudados no capítulo relativo à participação do analista no processo analítico; entretanto, forçosamente muito é deixado a cargo da habilidade, presença de espírito e capacidade de concentração de cada um. Por isso, limitar- me-ei a ampliar o que já foi dito, acrescentando algumas observações sobre o intuito que deve presidir à interpretação. Quando uma pessoa pára de associar e começa a examinar suas anotações, com o fim de compreendê-las, seu método de trabalho deve mudar: em lugar de ficar inteiramente passiva e receptiva ante tudo o que aparecer, tornar-se ativa. Agora, o raciocínio dela entra em ação. Prefiro exprimir isso, entretanto, de forma negativa: ela não mais exclui o raciocínio, pois mesmo agora ela não o emprega com exclusividade. É difícil descrever exatamente a atitude que deve ser adotada ao procurar apreender o significado de uma série de associações. Por certo, o Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 51 processo não deve degenerar em um mero exercício intelectual. Se quiser isso, será melhor jogar xadrez, prever a evolução da política mundial, ou dedicar-se a palavras cruzadas. Um esforço para conceber interpretações perfeitamente escorreitas, sem perder nenhuma conotação possível, talvez gratifique-lhe a vaidade, demonstrando a superioridade de suainteligência, mas dificilmente o levará mais próximo de uma verdadeira compreensão de si mesma. Um esforço assim chega mesmo a oferecer algum perigo, pois pode impedir o progresso ao produzir uma confortável impressão de “eu-sei-tudo”, enquanto, de fato, ela apenas catalogou dados isolados sem ter sido tocada por coisa alguma. O outro extremo, um “insight” meramente emocional, é bem mais valioso. Se não for posteriormente aperfeiçoado, tampouco é o ideal a atingir, porquanto deixa fugir muitas pistas significativas, malgrado não estejam ainda nítidas de todo. Mas, consoante vimos na análise de Clara, um “insight” deste gênero pode pôr alguma coisa em marcha. No início do trabalho, ela teve uma sensação intensa de estar extraviada, decorrente do sonho com a cidade estrangeira; foi mencionado, então, que embora seja impossível verificar se essa experiência emocional teve qualquer repercussão ulterior na análise, a inquietação resultante pode ter afrouxado o tabu rígido que ela possuía face aos vínculos complexos que a prendiam a Peter. Outro caso ocorreu durante a batalha final de Clara contra sua dependência, quando sentiu sua franca resistência a governar a própria vida; ela, então, não tinha a menor noção intelectual do significado deste “insight” emocional, e, no entanto, ajudou-a a sair de um estado de impotência letárgica. Em vez de desejar produzir uma obra-prima científica, a pessoa que está trabalhando sozinha deve deixar sua interpretação ser dirigida por seu interesse. Deve simplesmente ir empós daquilo que lhe atrai a atenção, que lhe desperta a curiosidade, que toca uma corda emocional em seu íntimo. Se for suficientemente flexível para deixar-se guiar por seu interesse espontâneo, pode ficar razoavelmente certa de que intuitivamente escolherá os assuntos que, no momento, lhe forem mais Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 52 acessíveis à compreensão, ou que se enquadrarão no problema em que ela estiver trabalhando. Presumo que este conselho suscitará algumas dúvidas. Não estarei advogando uma excessiva tolerância? Será que o interesse do indivíduo não o levará a escolher assuntos com os quais está familiarizado? Não significará isto ceder ante as resistências? Examinarei em um capítulo à parte como lidar com as resistências; basta dizer, aqui, que é verdade que deixar-se levar pelos próprios interesses significa adotar o caminho de menor resistência. Mas, a menor resistência não quer dizer a mesma coisa que nenhuma resistência. O princípio significa, essencialmente, a busca dos assuntos que, no momento, são os menos reprimidos. E é este, exatamente, o princípio que o analista aplica quando apresenta suas interpretações. Ele, como já foi salientado, escolhe para interpretar os fatores que, segundo crê, o paciente pode apreender perfeitamente na ocasião, e renuncia a aventurar-se por problemas que ainda estão muito reprimidos. Toda a auto-análise de Clara ilustra a validade deste procedimento. Aparentemente sem querer, nunca se deu ao trabalho de atacar nenhum problema que não evocasse uma reação nela, mesmo que estivesse praticamente “na cara”. Sem nada saber acerca do princípio de orientação pelo interesse, intuitivamente o aplicou através de todo seu trabalho, e isso foi-lhe muito útil. Um exemplo pode representar muitos. Na série de associações que concluiu com o primeiro aparecimento do devaneio sobre o grande homem, Clara identificou somente o papel desempenhado em sua relação pela necessidade de proteção. As sugestões referentes a suas outras expectativas dos homens, foram por ela postas de lado inteiramente, malgrado fossem óbvias e se destacassem no devaneio. Esta escolha intuitiva levou-a a adotar a melhor linha de ação possível. Ela absolutamente não avançou por terreno conhecido: a descoberta de que a necessidade de proteção era parte integrante de seu “amor”, foi uma descoberta de um fator até então desconhecido. Outrossim, conforme deve estar ainda na lembrança do leitor, esta descoberta constitui a primeira incursão contra sua ilusão querida de “amor”, o que foi, por si Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 53 mesmo, um passo penoso e incisivo. Tomar, ao mesmo tempo, o problema agravante de sua atitude parasitária com relação aos homens, teria sido certamente por demais árduo, a menos que o tratasse de forma superficial. Isto leva-nos a um último pormenor: não é possível absorver mais do que um “insight” importante de cada vez. A tentativa de fazê-lo será nociva a ambos, ou a todos eles. Qualquer “insight” relevante requer tempo e concentração total, para que possa “assentar” e enraizar-se. A compreensão de uma série de associações exige flexibilidade, não só na direção do trabalho, como acabamos de ver, mas também no modo de abordar. Por outras palavras, na seleção de problemas a gente deve orientar-se pelos interesses emocionais espontâneos, bem como pela inteligência; também no estudo dos problemas que aparecem, deve-se passar com facilidade do pensamento deliberado para a apreensão intuitiva das ligações. Este último requisito pode ser comparado à atitude necessária quando se estuda uma pintura: pensamos a respeito da composição, da combinação de cores, das pinceladas e de coisas do mesmo jaez, mas também levamos em conta as reações emocionais provocadas em nós pela pintura. Isto corresponde, igualmente, à atitude que o analista adota face às associações de um paciente. Enquanto estou escutando o que o paciente me diz, às vezes medito intensamente sobre possíveis significados, chegando a uma conjetura só por deixar a conversa do paciente agir sobre minhas faculdades intuitivas. A verificação de qualquer conclusão, contudo, não importa como se tenha chegado a ela, sempre impõe completa atenção intelectual. Uma pessoa pode achar, naturalmente, que em uma série de associações nada lhe desperta o interesse em particular; ela apenas vê uma ou outra possibilidade, mas nada de esclarecedor. Ou, no extremo oposto, pode achar que mesmo que se detenha em uma conexão, certos outros elementos também a impressionam. Em ambos os casos, será bom que anote à margem as questões deixadas em suspenso. Talvez no futuro, ao recapitular suas anotações, as possibilidades meramente teóricas tenham algum significado para ela, ou as perguntas guardadas possam ser agora examinadas em maior detalhe. Licenciado para - F ernanda santos - 29024185823 - P rotegido por E duzz.com 54 Há, ainda, um último escolho a ser citado: nunca aceite mais do que você pode acreditar deveras. Este perigo é maior na análise regular, especialmente se o paciente é daqueles que tendem a concordar com afirmações peremptórias. Mas também pode desempenhar um papel quando a pessoa confia em seus próprios recursos. Ela pode sentir-se obrigada, por exemplo, a aceitar o que quer que de “mau” surja a seu respeito, e a desconfiar de uma “resistência” caso hesite em fazê-lo. Ficará mais garantida, porém, se encarar sua interpretação como simples tentativa, sem procurar convencer-se de que é definitiva. A essência da análise é a verdade, e isto deve aplicar-se igualmente à aceitação ou não das interpretações. O perigo de fazer uma interpretação desorientadora, ou pelo menos improfícua nunca pode ser eliminado, mas não se precisa temer isso excessivamente. Se a pessoa não baqueia, mas prossegue dentro da mentalidade certa, mais cedo ou mais tarde aparecerá uma trilha mais proveitosa, ou então se dará conta de estar em um beco sem saída e talvez até aprenda alguma coisa com essa experiência. Clara, por exemplo, antes de empenhar-se na análise de sua dependência, passará uns dois meses escavando à procura de uma suposta necessidade de impor sua vontade. Graças
Compartilhar