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Módulo 09 - Psicanalista de Sucesso - Fundamentos da Técnica Psicanalítica I pdf

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FUNDAMENTOS DA TÉCNICA 
PSICANALÍTICA I 
 
 
 
Professora: Marisa Casagrande 
 
 
Docente:_____________________________ 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
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I – O Processo Psicanalítico 
1– O que é? 
2– Analisabilidade 
3– O Par Analítico 
 
II – Passos do Processo Psicanalítico 
1– Ambiente – Disposição de um consultório 
2– Anamnese 
3– Entrevista 
4– O Contrato Analítico: 
– A questão das anotações 
– Uso do Divã 
– Intercâmbio de tempo e dinheiro 
– Freqüência e duração das sessões 
 – Tempo provável para um tratamento psicanalítico 
– Férias 
– Regra da Livre Associação 
– Pagamento das faltas 
– Mudança de horários 
– O material onírico 
– Regra de abstinência 
5 – Postura do Psicanalista 
III – A Livre Associação 
 1- Definição 
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 2- O processo 
 3- Um exemplo detalhado de Associação de Idéias 
 4- Questionário para atuação do Psicanalista 
 
IV – Aliança Terapêutica 
 
V – Transferência 
VI – Contra-transferência 
 
VII – Resistência: 
 1- Definição 
 2- Resistência Consciente 
 3- Resistência Inconsciente 
 
VIII – Os Mecanismos de Defesa – Tipos sublimados de Resistências 
 
IX – Angústia da Separação 
 
X – A Interpretação 
 
XI - Etapas da Análise 
 
XII – Vicissitudes do Processo Psicanalítico 
 
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XIII – Leitura para reflexão: Essência e regra de auto-análise sistemática 
(Karen Horney) 
Anexo I 
Anexo II 
XIV – Leitura para reflexão: Psicanálise e Paciente Psiquiátrico 
Anexo III 
 
XV – Bibliografia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
I – O PROCESSO PSICANALÍTICO 
 
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1- O que é? 
 
Embora lidando com uma palavra aparentemente simples, quando 
contextualizamos a mesma à Psicanálise observamos que começa a ser 
objeto de polêmica. Entretanto, vamos nos prender à significação mais 
simples, embora encontremos mesmo assim uma possível dificuldade, 
quando se trata de sua semelhança com Situação Analítica. Por enquanto 
consideraremos Processo como sinônimo de Situação Analítica. 
 
 Pretendendo definir Processo Psicanalítico, queremos dizer que o 
tratamento psicanalítico tem um sítio, um lugar, e esse lugar é encontrado 
dentro da Situação Analítica. O processo é então o conjunto de fases 
sucessivas dentro da situação como um todo. E, em particular, a Situação 
fica sendo “a configuração total das relações interpessoais que se 
desenvolvem entre o Psicanalista e seu paciente.” 
 Podemos criar um conceito mais simples ainda, se dissermos que o 
Processo inclui todos os procedimentos havidos entre Psicanalista e 
paciente, desde a escolha do primeiro até a RTN (reação terapêutica 
negativa) que o paciente experimenta quando de fato seu tratamento já 
está encerrado. 
 
 
2- Analisabilidade 
 
Segundo os didatas mais famosos, toda vez que não existir uma contra-
indicação específica e irrecusável, a Psicanálise é indicada. 
 
Entretanto, falando das contra-indicações, podemos relacionar as de 
natureza familiar, religiosa, amizade etc... Mas, seriam todos os pacientes 
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analisáveis? Seriam todos os pacientes analisáveis por quaisquer 
Psicanalistas? 
 
 
 I – O PROCESSO PSICANALÍTICO 
 
O que é? 
 
Há enfermidades do universo psíquico que não são analisáveis? 
Outras perguntas poderiam ser levantadas, contudo tentaremos 
responder estas que nos parecem mais prementes. 
 
Seriam todos os pacientes analisáveis? 
Embora do ponto de vista etiológico, da natureza da enfermidade, o sejam, 
há pacientes que não preenchem os requisitos para tal. E nesse caso, 
até os fatores inteligência, cultura, universo religioso etc. podem contra-
indicar. Nesse caso o paciente não produzirá o suficiente para o processo 
de interpretação ou não acompanhará o raciocínio sempre avançado do 
Psicanalista. Um outro fator que não podemos descartar é a idade. 
 
Seriam todos os pacientes analisáveis por quaisquer Psicanalistas? 
 
Quando estivermos diante de um paciente analisável, precisamos ainda 
considerar a possibilidade do tal não ser analisável por nós. Há sempre a 
incidência de fenomenologia que pode contra-indicar. 
Por exemplo: 
 A Contra-transferência Negativa Imediata. Além deste fator, pode o 
paciente apresentar uma postura e característica de personalidade 
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desfavoráveis à constituição do Par Analítico. Isto exige muito cuidado na 
fase das entrevistas. 
 
Há enfermidades do psiquismo que não são analisáveis? 
 
Certamente, todas as enfermidades psicogênicas, em princípio, não 
oferecem condições. 
É claro que estamos agora lidando com o conceito de estrutural. 
Entretanto, há certos casos de esquizofrenias que parecem responder a 
uma análise profunda. Diante dessas considerações, uma outra pergunta 
se levantará: 
 
Quais são os pacientes tributários da psicanálise? 
 
Os Neuróticos. Só existe um tratamento eficaz para as neuroses – 
Psicanálise. 
O tratamento psiquiátrico para as neuroses é apenas sintomático. É como 
tirar a febre de alguém com infecção. Entretanto incluímos neste roteiro 
um capítulo sobre Psicanálise e Paciente Psiquiátrico. 
 
Por outro lado, temos ainda duas outras questões a considerar nesta 
parte: 
 
- A Psicanálise pode contribuir para os pacientes não indicados? 
 
 Sim. A Psicanálise cura as neuroses, ajuda aos psicóticos e não 
agrava quaisquer enfermidades. 
 
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- Os Psicanalistas têm que ser rigorosos na questão da 
analisabilidade? 
 
Em princípio sim. Pelo menos nos casos de contra-indicação familiar, de 
amizade etc... Contudo não será fácil recusar um paciente, especialmente 
se levarmos em conta as necessidades financeiras e a natureza 
sacerdotal de que nossa profissão se reveste. 
 
Não deve, contudo, forçar uma situação que saiba ser improdutiva. 
 
 
Vamos dar, ainda que resumidamente, os critérios da Dra. Zetzel de 
analisabilidade: 
 
- A capacidade de manter a confiança básica em ausência de uma 
gratificação imediata; 
 
- A capacidade de manter a discriminação entre o objeto e o self na 
ausência do objeto necessitado; 
 
- A capacidade potencial de admitir as limitações da realidade. 
 
Finalizando, teremos sempre bastante dificuldade com os pacientes que 
tendem a desenvolver prematuramente uma intensa transferência erótica 
desde as entrevistas face a face. 
 
 
3 – O Par Analítico 
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 A figura do Par Analítico surge em decorrência da analisabilidade. 
Se os requisitos para a situação analítica forem atendidos, há uma dupla 
de trabalho. 
 Queremos afastar desde já a idéia de que o Par Analítico engloba 
aspectos transferenciais. 
Não engloba, mas predispõe ao surgimento da mesma. E, se não ocorrer 
a transferência, o trabalho será inútil, não haverá cura. 
Assim, para entender o mesmo, temos que considerar se um determinado 
paciente vai responder melhor a um analista do que a outro, ou que um 
analista pode tratar melhor uns pacientes do que outros. Par Analítico, é, 
portanto, o melhor analista para determinado paciente e o paciente 
adequado para determinado analista. 
 
 Vale ainda considerar que essa figura não surge comimediatismo, 
sendo necessário um tempo determinado de contato para se ter idéia de 
sua medida. Isto torna fundamentais as entrevistas. 
 
II – PASSOS DO PROCESSO PSICANALÍTICO 
1 – O AMBIENTE 
 
 Do ponto de vista metodológico, ambiente não faz parte do 
processo. Entretanto, se precisamos dele para tal, não podemos ignorar a 
sua importância. É claro que existe ambiente e ambiente. Também 
sabemos que as pessoas se sentem melhor em função de certas 
disposições, cores etc... Assim, pensemos um pouco sobre um ambiente 
adequado para a prática psicanalítica. 
 
Disposição de um Consultório ou Gabinete: 
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- A sala não deve ser pequena em demasia; 
- Deve possuir os móveis apenas necessários; 
- Não deve ter nas paredes nada que chame a atenção; 
- Deve ser ambiente de pouca claridade; 
- A cortina deve ser de cor neutra; 
- Deve-se evitar enfeites sobre a mesa ou coisas que pareçam 
ostentação; 
- Se tiver estante, nela devem ter apenas livros; 
- Deve ser ambiente afastado de ruídos sistemáticos; 
- A limpeza e disposição dos móveis e demais pertences deve ser 
rigorosa; 
- O divã deve ser confortável e suficientemente largo para acomodar 
quaisquer pacientes; 
- A cadeira do analista deve estar disposta por detrás do divã, de 
maneira que o analista não seja visto pelo paciente enquanto livremente 
associa; 
- Não deve ter telefone nem campainha que soe dentro dessa sala, 
etc...; 
- Deve existir uma ante-sala levemente decorada. 
 
O ambiente deve oferecer ao paciente oportunidade de bem estar. Ele 
deve ter a sensação de que aquele local é o mais agradável possível para 
os 50 (cinqüenta) minutos a que tem direito. 
 
 
2 – ANAMNESE 
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 Em Psicanálise, anamnese não é entrevista. Reservamos para a 
entrevista um caráter formal de oportunidade para termos uma visão 
anímica do paciente. A anamnese é o primeiro, contato. É a ocasião em 
que o paciente chega ou é trazido, e neste caso já temos uma forte contra-
indicação para a análise. O ideal é que o paciente venha de livre e 
espontânea vontade. Se bem que às vezes necessite de apoio, do 
encorajamento de alguém, da família ou não. 
 Na anamnese primeiramente ouvimos as razões de nossa procura, 
e, em certos casos já podemos refugar um paciente neste estágio, se 
constatarmos tratar-se de psicótico, de alguém que já conhecemos, se já 
tivemos algum tipo de negócio com o mesmo, enfim. 
 
 Mas, como proceder na anamnese? 
 
Fazer a ficha do paciente. Esta ficha deve ter: 
 
- Nome completo; 
- Data de nascimento; 
- Filiação; 
- Estado Civil; 
- Nível cultural; 
- Condição sócio-econômica; 
- Condição sócio-econômica e cultural da família (pais); 
- Número de irmãos; 
- Relação com os irmãos; 
- Desempenho escolar; 
- Como se relaciona na sociedade; 
- Religião e como pratica essa religião; 
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- Grau de conhecimento da psicanálise; 
- Enfermidades que possui; 
- Enfermidades de que padeceu, inclusive as doenças próprias da 
infância; 
- Lesões provocadas por enfermidades; 
- Acidentes que padeceu; 
- Cirurgias que padeceu; 
- Quantidade de amigos; 
- Hábitos; 
- Passatempo preferido; 
- Medos, etc. 
 
De posse dessas informações e outras que poderão ser obtidas com as 
respostas a certas perguntas do chamado “Interrogatório forçado”, o 
psicanalista terá uma visão da analisabilidade e das possibilidades de 
formação do par analítico, bem como das condições econômicas que 
darão sustentação ao processo. 
 
 Na anamnese o Psicanalista não deve prometer nada, além de sua 
boa vontade para com o caso, mas deixando claro que tudo vai depender 
do processo de entrevista. 
Não podemos garantir cura, nem mesmo se poderemos continuar com o 
caso, se bem que isto é mais teórico do que prático. 
 
 
3 - A ENTREVISTA 
 Já disse que em Psicanálise anamnese não é entrevista. Entrevista 
é um termo reservado para algum encontro de tipo especial, não para 
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contatos regulares. Trata-se, portanto, do que se faz antes de empreender 
um tratamento psicanalítico. 
Sua finalidade é, de modo mais amplo que na anamnese, decidir se a 
pessoa que consulta deve realizar um tratamento psicanalítico ou de outra 
natureza. 
Também nela se terá uma visão profunda das contra-indicações. 
 Na entrevista devemos facilitar ao entrevistado a livre expressão de 
seus processos mentais, o que nunca se consegue com um enquadre 
formal de perguntas e respostas, embora durante a mesma possamos 
submeter algumas perguntas ou pedir que o futuro paciente fale sobre algo 
específico. 
Algumas considerações resumidas sobre a entrevista: 
 
- Tanto melhor será o campo da entrevista quanto menos participe o 
entrevistador; 
- É comum observarmos pacientes com forte dose de ansiedade e/ou 
angústia já na entrevista; 
- O analisado deve ser informado que a entrevista tem a finalidade de 
responder a uma consulta sobre sua análise mental e seus problemas, 
para ver se necessita de tratamento. 
- A entrevista se realiza sempre face a face e o uso do divã está 
formalmente afastado; 
- A entrevista não se baseia nas regras de Livre Associação, embora 
já se inicie uma espécie de ensaio da mesma; 
- O Psicanalista deve influenciar com atitudes não-verbais; 
- O Psicanalista deve anotar ao máximo, de modo elegante e não 
acintoso, tudo que interesse à decisão quanto a analisabilidade; 
- O Psicanalista não deve interpretar nem fazer diagnóstico durante a 
entrevista. Suas palavras devem induzir apenas; 
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- O Psicanalista não deve recorrer a procedimentos que evitem a 
ansiedade, como o apoio ou a sugestão, e tampouco resolvê-la com o 
instrumento específico da interpretação; 
- No fim de cada entrevista já predomina a angústia de separação, 
que será fortalecida no curso da análise; 
- A entrevista deve ter tempo limitado, como duas, três ou mais 
sessões, não deve ser arrastada indefinidamente; 
- Deve ser distinta do processo de Psicanálise formal, de maneira que 
o paciente saiba onde terminou uma e começou a outra; 
- A entrevista informa sobre fatos fundamentais, não como objeto de 
análise, mas como para definir se será ou não possível o trabalho de 
análise; 
- Na entrevista, também, o paciente poderá chegar a conclusão de 
que esse Psicanalista não lhe é indicado, sem, contudo, abrir mão do 
tratamento com um outro (é comum pacientes que vão de analista em 
analista, até encontrar um indicado, embora isso já possa ser estudado 
como uma busca de um profissional que satisfaça suas fantasias à priori), 
etc. 
 
 
4. O CONTRATO ANALÍTICO 
 
 Vamos tomar um termo das relações civis para designar certo 
procedimento necessário à prática psicanalítica. 
 
 Antes de definirmos o Contrato Psicanalítico, precisamos entender 
que uma das estratégias da Entrevista é preparar o futuro paciente para 
subscrever o metafórico Contrato Psicanalítico. Esta expressão deve ficar 
circunscrita ao jargão dos psicanalistas, sem conotações legais. 
 
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- Mas, o que é? 
 
 É um acordo sobre as bases ou as condições do tratamento. 
 
 “Vale a pena assinalar, ... que o contrato psicanalítico não só implica 
direitos e obrigações, mas também riscos, os riscos inerentes a todo o 
empreendimento humano”. 
 
 O Contrato Psicanalítico poderá ser democrático ou autoritário. 
Aquele é o que tem em conta as necessidades do tratamento e as 
harmoniza com o interesse e a comodidade de ambas aspartes (paciente 
e analista). Lembremos que a cada obrigação do analisado corresponde 
simetricamente uma do analista. No contrato autoritário, temos a busca da 
conveniência do analista antes que preservar o desenvolvimento da 
tarefa. Há também um tipo menos comum, que é o demagógico, em que 
o psicanalista satisfaz o paciente em prejuízo do processo. 
 
 Surge naturalmente, a pergunta: Quando deve ser formalizado o 
Contrato Psicanalítico? Na fase inicial das entrevistas. Pode mesmo ser 
alinhavado durante as entrevistas, entretanto, deve haver um momento 
em que se trate apenas dele. Um momento quando o paciente se veja de 
frente com obrigações definidas, com algo que ele terá que respeitar, uma 
vez que pretende a cura, o seu bem-estar. 
 
 
Generalidades sobre o Contrato Psicanalítico: 
 
- Não é um documento formal, escrito; 
- Deve incluir os elementos tradicionais, que veremos, bem como a 
possibilidade de sua alteração; 
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- Deve prever uma certa flexibilidade que não comprometa o 
andamento do processo nem do tratamento; 
- Deve frisar bem a responsabilidade do Psicanalista; 
- Deve esclarecer que tudo que o paciente faça, não faça, falte etc., 
será objeto de interpretação, etc. 
 
Principais itens do Contrato Psicanalítico: 
 
 
A questão das anotações 
 
 Devemos informar ao paciente que temos o direito de anotar 
elementos colhidos da Livre Associação que considerarmos necessários 
para interpretações futuras ou para dirimir dúvidas quando de resistências 
contumazes apresentadas pelo paciente. Mas é preciso constar que as 
anotações não são obrigatoriedade, uma vez que há psicanalistas que 
simplesmente não anotam nada. 
 
 Aconselhamos, contudo, que todos anotem determinadas coisas, 
porque a pura e simples postura audível, por melhor que seja a memória 
do Psicanalista, poderá provocar uma sensação de inutilidade das suas 
palavras, com acentuado descrédito pelo nosso trabalho. 
 
Uso do Divã 
 
 
 O divã não é um sofá, onde o paciente senta se quiser. 
Trata-se de um instrumento do nosso trabalho. 
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 Entretanto, não devemos impor ao paciente como algo obrigatório, com 
pena de nosso Contrato tornar-se autoritário, o que deve ser evitado. 
Devemos, isto sim, esclarecer quanto a sua utilidade, o seu emprego 
histórico desde o mestre, Freud. 
 
 Qual a razão do Divã? 
 
Freud o concebeu para possibilitar o maior relaxamento possível ao 
paciente enquanto fala. 
Ele tem por objetivo tirar o paciente da rotina de atividades musculares, 
diminuir as tensões, afastar as responsabilidades com equilíbrio e outras 
que consomem bastante energia. 
 O divã é fundamental também porque permite ao psicanalista posicionar-
se em relação a ele de modo a ficar menos exposto, diminuindo assim a 
carga transferencial e o constrangimento dos olhares insinuativos, que são 
responsáveis pela contra-transferência, fenômeno que pode ameaçar todo 
o trabalho. 
 
 No contrato deve ficar claro que o divã é para o Psicanalista como a 
cadeira do equipo de um dentista, e tantas outras. 
Sem o divã, fazemos vários tipos de psicoterapias, menos psicanálise. 
Intercâmbio de tempo e dinheiro 
 
 
 O dinheiro da psicanálise tem uma função econômica por 
excelência. Pode parecer absurdo esta afirmação, uma vez que dinheiro 
é sempre fator econômico. Só que o termo econômico em psicanálise tem 
outro significado. É uma carga de valores que domina uma relação. O 
dinheiro tem aqui importância diferente dos demais atendimentos médicos 
ou paramédicos. E tanto assim que empregamos o nome sessão em vez 
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de consulta. Além do mais, o paciente de psicanálise gasta muito mais e 
durante muito tempo, do modo como não despende recursos quaisquer 
outros pacientes, excetuando os casos de internação e cirurgias. 
 
 Deve ficar claro que o paciente precisa do analista para resolver os 
seus problemas e este tem um preço e uma competência que lhe coloca 
ao dispor. 
O Psicanalista deve ser rígido na questão dos honorários, não atendendo 
de graça, sob nenhuma hipótese. 
 
 -E por quê? 
 
Quem não pode pagar pela análise também não será beneficiado por ela. 
Sem falar nos complexos que seriam plasmados, dentre eles o de 
inferioridade, o de devedor eterno etc... 
 
 O Psicanalista informará que aqueles 50 (cinqüenta) minutos lhe 
pertencem (ao paciente), que deve pagar por eles. 
 
 Quanto à questão do valor (axiologia), é inversamente proporcional 
aos problemas enfrentados e às dificuldades deles advindas. 
 No contrato, o Psicanalista deve fixar o seu preço, o modo de 
pagamento, podendo ser por sessão, semanal ou mensal, sendo este o 
preferido. Podemos também ter preços diferenciados, de acordo com as 
condições do paciente e a quantidade de sessões semanais. Entretanto, 
que nunca um paciente saiba o quanto os demais estão pagando. 
 
 Não devemos ter uma tabela de preços afixada. 
 
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 Finalizando, o Psicanalista não deve ter como fonte de preocupação 
as alegações financeiras do paciente, ter pena, ou mesmo trocar idéias 
sobre tais problemas. Quanto a isto, ouvimos, como a qualquer outro 
problema. 
Não nos esqueçamos de que tudo deve ser interpretado. 
 
Freqüência e duração das sessões 
 Freud psicanalisava com cinco (05) sessões semanais, dando folga 
apenas nos fins de semana e feriados. 
 Com o passar do tempo as condições econômicas e do próprio 
tempo de que se dispõe têm mudado. Nos últimos anos temos encontrado 
uma situação intermediária que satisfaz – três sessões por semana. 
Mesmo assim é muito difícil encontrar quem possa arcar com tamanha 
despesa. E por causa desses complicadores, tem-se optado por duas 
sessões e, não havendo outra maneira, uma sessão. 
 
 -Mas seria isto um barateamento da Psicanálise? 
 
- Não. 
 
 É uma adaptação da ciência de Freud aos tempos bicudos em que 
vivemos. Mas, não enganemos os nossos pacientes – é muito difícil 
trabalhar assim. A Psicanálise acaba virando uma psicoterapia comum, 
com pequeno alcance material reprimido. 
 
 -O que fazer? 
 
O Psicanalista precisa, ao menos neste caso, forçar um pouco para que o 
paciente entenda a necessidade de uma freqüência mais amiúde, pelo 
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menos duas vezes por semana, mesmo que isto sacrifique suas 
economias e obrigue a uma mudança radical nas suas contas pessoais. 
 
 Quanto à duração das sessões, é igualmente histórico e 
comprovado que um período de cinqüenta minutos é adequado. É tempo 
suficiente para o paciente relaxar e começar a falar. Não devemos diminuir 
o tempo com a desculpa de abaixar o preço. Não devemos aumentar 
igualmente por qualquer hipótese. 
 
 Vale a pena tomar cuidado com certas correntes modernas de 
psicanálise que pregam a possibilidade de gasto de tempo menor. 
Os Lacanianos têm imaginado sessões de até cinco (05) minutos, o que é 
um absurdo. 
 
 
Tempo Provável de um Tratamento Psicanalítico 
 
 Embora haja psicoterapias rápidas, algumas até com 
fundamentação psicanalítica, vale lembrar que psicanálise não se 
preocupa com o fator tempo. 
Não podemos submeter ao tempo fatores ponderáveis e que dependerão 
de circunstâncias mil para virem à tona. O próprio processo psicanalítico 
está sujeito a vais-e-vens que cada caso determina. 
 
Além disso, existe o problema potencial da relação: 
 
Neurose – profundidade – conseqüências – personalidade – caráter – 
psicanalista – questões do par analítico – intensidade da transferência – 
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complicação da contra-transferência – inteligência do paciente – idade – 
RTN etc. 
 
Tudo isto acena para a impossibilidade de fixação de prazos. Contudo, a 
experiência tem mostrado que, em média, um tratamento completo dura 
cerca de cinco anos. Pode ir até dez anos. 
Em alguns casos é interminável. 
 
 Quando falamos na possibilidade de uma análise interminável, 
quase sempre causamos um bom susto. Mas não é difícil argumentar. 
Basta lembrar que muitas enfermidades somáticas são mais ou menos 
assim: cardiopatias, diabetes, neuropatias, reumatismo etc., têm que ser 
tratadas a vida toda. 
Não há cura do ponto de vista do banimento da enfermidade do 
organismo. Sem falar nos casos renais crônicos que obrigam o paciente à 
hemodiálise três vezes por semana, permanecendo ali cerca de quatro 
horas. E ninguém desiste por causa disto. 
 
 
 
 
Férias 
 
 
 
 O Psicanalista deve contratar também o seu período de descanso 
semanal, nos feriados e anual. Estas férias devem atender também às 
necessidades de descanso financeiro do paciente quando de um período 
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de cessação de trabalho, que funciona bem para realimentar as 
esperanças e fortalecer a transferência, quando for o caso. 
 
 Podemos optar por trinta dias corridos ou dois períodos de quinze 
dias. Entretanto, esses períodos devem ser fixados de antemão. Muito 
raramente se admite alteração nessa cláusula. O trabalho ininterrupto, 
sem a observância do período de descanso, é contra-indicado por todos 
os motivos. 
Regra da Livre Associação 
 
 No contrato fixamos também que o nosso trabalho tem uma 
metodologia rígida, não por uma questão de intransigência, mas de 
princípio, de doutrina. 
 A regra áurea é Livre Associação de Idéias. Psicanálise é isto. 
 Fora dessa regra o que existe é método catártico, apoio, papoterapia, 
condutoterapia, menos Psicanálise. 
Nosso objetivo, o da Psicanálise, é tornar o inconsciente, o Id, consciente. 
Pretendemos e conseguimos trazer todo material recalcado no Id para a 
superfície, para o consciente, para o ego. Uma vez à tona, interpretamos 
e o próprio paciente se dará conta dos problemas, suas causas e 
aprenderá a conviver com os tais, e, se for o caso, promoverá a catarse. 
 
Naturalmente que o paciente não se envolverá tão facilmente assim. Leva 
algum tempo para entender e conseguir falar o que vai passando pela 
mente. Durante bom tempo ele vai tentar dialogar com o psicanalista, o 
que evitamos, com o silêncio absoluto. 
 
 Será necessária uma ligeira palestra do psicanalista ensinando ao 
paciente o que é Livre Associação. Pode ser recomendável que se dê 
alguma coisa a respeito para o paciente ler. 
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Podemos fazer certos exercícios que introduzam no método etc... 
De qualquer maneira, tratamento psicanalítico não é um papo em dias e 
horas e local marcados. 
 
 
Pagamento das Faltas 
 
 Embora este critério não seja exclusivo da psicanálise, tem para nós 
uma importância capital. O paciente às vezes foge das sessões por 
motivos conscientes ou inconscientes. De qualquer maneira tais motivos 
são resistência. Mesmo quando diz que não tinha dinheiro, razão pela qual 
optamos pelo pagamento mensal, para evitar esta desculpa. 
 
 Deve ficar claro que a sessão agendada é dele e ele paga, quer 
compareça ou não. Isto aumenta a responsabilidade do tratamento. 
 
 Devemos ser rígidos nesta cláusula, dado à fenomenologia presente 
e intensa. 
Não devemos estender também o aumento inesperado de sessões 
semanais, fora do que se contratou, a não ser por motivos bem claros e 
discutidos, pois pode tratar-se de necessidade transferencial que não 
deve ser alimentada ou fortalecida. 
O processo deve ter a necessária rigidez, porque tudo é tratamento. 
 
 
Mudança de Horários 
 
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 É bastante comum ser solicitada em pacientes fóbicos, ansiosos ou 
limítrofes (especialmente esquizofrênicos). Não deve ser de tudo proibida 
nem incentivada. Damos bom exemplo quando subordinamos toda a 
nossa vida aos compromissos da psicanálise. Se o psicanalista hoje e 
amanhã troca o horário das sessões por motivos fúteis, é claro que o 
paciente vai se sentir no mesmo direito, e isto nos é adverso. 
 
 
O Material Onírico 
 
 Psicanalista que se preza não pode fugir dos sonhos nem possuir 
deles idéia mística, fantástica, sobrenatural, religiosa ou banal. O sonho é 
o melhor material que a mente fornece. 
No sonho as informações são completas e livres de bloqueios. 
 Vêm, contudo, revestidas de simbolismos aparentemente 
intransponíveis. 
 
 O que fazer com os sonhos? 
 
 Interpretá-los à luz da técnica freudiana, fartamente estudada. 
Não se interpreta sonhos sob a ótica da astrologia, ou do jogo do bicho. 
 
CUIDADO! 
 
Lembremos também que os sonhos são reconhecidos até mesmo na 
Bíblia como material merecedor de crédito. 
 
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 Todo sonho é satisfação de uma necessidade. É claro que não 
estamos falando dos sonhos proféticos, mas daqueles produzidos pelo 
inconsciente para romper a barreira do superego, das censuras. 
 
 A interpretação dos sonhos será estudada à parte. 
 
 
Regra de Abstinência 
 
 
 Por abstinência entendemos o não envolvimento do psicanalista 
com os afetos ou os problemas do paciente. É claro que existe a contra-
transferência que cada analista terá que trabalhar, embora não ocorra com 
a mesma intensidade com todos os pacientes, e nem mesmo durante toda 
a nossa vida. 
 
 CUIDADO! 
 
É de Freud esta máxima: “Se quisermos que alguém nos abra o coração, 
devemos começar por abrir o nosso”. 
 
-Ela serve para tudo, menos para a prática psicanalítica. 
 
 À primeira vista poderia parecer justo que o psicanalista permitisse, 
da parte do paciente, a visão de seus próprios defeitos e de seus próprios 
conflitos anímicos, abrindo a sua vida íntima aos olhos do analisado. Mas 
esse modo de proceder não carreta nenhuma vantagem ao tratamento, 
pelo contrário. Incapacita o paciente no sentido de vencer as suas 
resistências profundas, provocando-lhe, cada vez mais e mais, uma 
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curiosidade insaciável, chegando mesmo a encontrar na análise do 
psicanalista encantos e atrativos bem mais interessantes que a sua 
própria análise. Sem falar no fato de que o analista informaria sobre sua 
contra-transferência, seus afetos pelo paciente. 
 
 Nessa linha de raciocínio, também o psicanalista não se interessa 
pelo paciente. 
 
 Não existimos para satisfazer o paciente. 
 
Não temos como satisfazer e não nos deve interessar nem mesmo como 
é que o paciente o conseguirá. 
 
5 – POSTURA DO PSICANLISTA 
 
 O Psicanalista não deve provocar distanciamento com a máscara de 
semideus ou super-homem. 
 
 Deve ser uma figura natural, que inspire confiança e não provoque 
especulação além das fenomenológicas naturais. 
 
O Psicanalista deve vestir-se bem, sem ostentação. 
Não deve usar roupas anacrônicas nem modismo demasiado. Deve, 
contudo, ser uma pessoa agradável, quer pela indumentária, quer pela 
higiene geral. 
Precisa ouvir sem manifestar susto com o conteúdo comunicado. Não 
pode manifestar escrúpulo nem qualquer espécie de julgamento. 
 
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 Na recepção do paciente, deve estender-lhe a mão para um bom-
dia, boa-tarde ou boa noite, sem exageros. Nada de beijinhos ou tapinha 
– essas coisas serão interpretadas pelo pacientecomo afetividade e 
favorecerão ou fortalecerão a transferência. 
 
 Quando o paciente falar algum gracejo, devemos rir de leve. Se não 
o fizermos, provocaremos o constrangimento inibitório. Não devemos rir 
às gargalhadas com o paciente – o paciente é que está em análise, não 
nós. Não podemos dar ao paciente a idéia de que a sessão nos interessa 
de modo pessoal, que nos sentimos bem com ela etc. 
 
 -E quando de encontros fora do consultório? 
 
Cumprimentamos, sem fazer qualquer referência à condição de paciente 
e psicanalista. Não devemos apresentar o paciente a outros como tal. Não 
devemos “nos abrir”, nem mesmo nesta situação. Paciente é paciente, em 
qualquer lugar que esteja. 
 
III – LIVRE ASSOCIAÇÃO 
1 - Definição 
 
 Como definição, podemos dizer que é o caudal de idéias que se 
relacionam entre si e que são verbalizadas sem preocupação lógica ou 
estilo. 
 
 A Livre Associação é parte fundamental do Processo Psicanalítico. 
Sem ela não existe Psicanálise, porém monólogo ou diálogo. O Processo 
Psicanalítico não consiste em um paciente falando o que consegue 
lembrar ou simplesmente ocupando os ouvidos da analista. Na Livre 
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Associação fala-se do que vem naturalmente à cabeça e não daquilo que 
procuramos no material mnético. 
 
 Podemos afirmar que leva algum tempo para um paciente Associar 
Livremente. Quando muito, começa falando desembaraçadamente, o que 
não é o mesmo. 
 
 Para a Livre Associação é fundamental o uso do Divã. 
 Ali o paciente encontra uma posição de conforto que favorece essa 
manifestação do inconsciente mais naturalmente. Lembremos que todo 
material recalcado ao inconsciente está ali como que colado, arraigado. 
Não é fácil desprendê-lo. Certas condições mínimas são necessárias. 
 A mais eficiente é aquela em que o indivíduo é convidado para falar em 
uma posição que normalmente não utiliza para tal, e sim para dormir. Há 
uma predisposição mental ao relaxamento próprio do sono e à capacidade 
de verbalizar. 
 
2 – O processo da Livre Associação 
 
 É indiferente o tipo de material que se tenha, que o paciente 
apresente: pode ser a história de analisado, as recordações infantis ou 
mesmo a história da enfermidade; 
 
 Não é um interrogatório nem um diálogo travado entre Psicanalista 
e paciente. Algumas vezes fazemos perguntas, mas não 
sistematicamente. Aliás, procedemos melhor quando as nossas perguntas 
induzem uma compreensão e praticamente não exige resposta; 
 
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 A Psicanálise visa sondar o inconsciente para trazer à tona da 
consciência as idéias que aí se acham recalcadas e libertá-las através da 
compreensão. 
É verdade que tal libertação é, de certa forma, um pouco de aplicação do 
método catártico. Outrossim, quem traz à tona tais idéias latentes é o 
paciente, não o analista. 
 O Psicanalista não é escafandrista, um mergulhador. No máximo atua 
dando corda à imaginação mnética. 
 
 O paciente escolhe o ponto de partida de sua conversação. 
Entretanto, cabe ao Psicanalista perceber se sua conversa não passa de 
“um contar do dia a dia”. Às vezes o paciente fala muito exatamente para 
não falar o pouco que deve. A conversa funciona muitas vezes como 
bloqueio, resistência. Desse modo, o psicanalista pode alertar sobre a 
improdutividade do material verbalizado, mas isto com muito cuidado. 
Devemos ensinar que o paciente deve falar o que apareça sem esforço de 
recordação na mente, e não falar por falar; 
 
 O paciente não deve raciocinar sobre o que está dizendo; quando 
ocorre o raciocínio, o que há de fato é uma seleção, como se o paciente 
pudesse definir o que é importante e o que não é. Na base dessa seleção 
é encontrada a resistência. 
Uns dizem: “Lembrei de algo, mas isso não é importante, não tem nada a 
ver”. É exatamente aí que temos que trabalhar e fazê-lo entender a 
presença de uma resistência, de um bloqueio. 
 
O paciente não deve se preocupar com o que está dizendo. Deve agir 
como que estando a “pensar em voz alta”. Transmite todas as idéias que 
forem surgindo, mesmo que sejam agressivas, pareçam vergonhosas, 
banais, conflitem com os seus costumes. Aliás uma das coisas mais 
responsáveis pelo recalque é exatamente o “pensar de um modo e falar 
de outro”. 
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Isto é cometido pelos padrões culturais e pela hipocrisia das religiões etc. 
 
Sintetizando: 
 
 “Coloque-se diante do Psicanalista como um passageiro olhando da 
janela de um trem, em velocidade, e, vá narrando o que se passa na tela 
da sua imaginação”. 
 
(Dr. Gastão Pereira da Silva) 
 
3 – Um exemplo detalhado de Associação de Idéias 
 
Uma aula sobre como trazer à tona as idéias recalcadas. 
 
Obs.: O conteúdo que incluímos sob este título foi extraído do livro de J. 
Ralph, “Conhece-te pela Psicanálise”. 
 
Vou ensinar ao aluno como se deve pescar. E não só como pescar, mas 
também, o lugar bom para uma boa pescaria. 
 
Mas não se trata de peixes, trata-se de pescar idéias. Não as alheias, mas 
as suas próprias idéias. 
 
É verdade que, sob certas condições, precisamos pescar as idéias dos 
outros; mas, comumente não há necessidade disso. Há muitos indivíduos, 
com efeito, que com a maior sofreguidão, nos oferecem as suas, 
graciosamente, sob a forma de convicções e de preconceitos. 
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 A média dos indivíduos recusa-se a admitir qualquer associação com sua 
última atitude mental; e com que energia procuram demonstrar que suas 
idéias são próprias, espontâneas e desinteressadas. 
 
Não, o que pretendo agora é ensiná-lo a pescar as próprias idéias. 
Naturalmente, elas lhe interessam muito. Mas vai uma grande distância 
entre interessar-se por uma coisa e possuí-la e gozá-la integralmente. 
 
De nada nos vale uma ótima coisa, que apreciamos muito e pela qual 
muito nos interessamos, se não podemos utilizá-la justamente quando e 
como queremos. 
E se não o podemos fazer, é porque a coisa não nos pertence de fato, e, 
se por acaso a consideramos nossa, somos, positivamente, vítimas de 
uma ilusão. 
 
Nesta pescaria, que empreenderemos juntos, vamos adotar um anzol 
mental. Será uma pesca extremamente prática e de grande proveito para 
a sua personalidade. 
 
Quero ensiná-lo a trazer à consciência (de modo que se possam 
confrontar) as idéias responsáveis pelo seu temperamento: as boas e as 
más, as fortes e as fracas. 
 
Nas profundezas do inconsciente há um grande sortimento de idéias e 
lembranças que a gente supõe serem próprias, originais; na realidade, a 
natureza e as tendências do procedimento consciente são condicionadas 
por esses elementos mentais submersos. 
 
Poucas, entretanto, são as pessoas que têm a noção exata de suas 
próprias reservas mentais, ou uma noção inteligente dos alicerces 
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inconscientes sobre as soterradas (idéias). E, quando afluem, escolhemos 
as que são utilizáveis, rejeitando as restantes para as profundidades do 
espírito. 
 
O nosso equilíbrio mental depende do critério de seleção: se o critério na 
escolha é bom, será o nosso benefício; se mau, o nosso bem-estar sofrerá 
os prejuízos resultantes. 
 
Há, ainda, uma outra maneira de pensar, a que devemos referir, de 
passagem: é o sonho acordado, o devaneio. É um modo de pensar que 
não dá vantagens ao indivíduo na luta pela vida. Com efeito, a atenção 
em vez de se dirigir, intencionalmente, a um objeto mental definido, é 
atraída, nesse caso, pelas idéias – desejos. Representa um esforço para 
alcançar uma via imaginária e que não se consegue na vida real. Sendoum meio de se fugir às realidades da vida, constitui uma espécie de ópio 
mental, que devemos, portanto, evitar a todo o custo. 
 
O que o aluno vai conhecer agora é uma outra atitude mental, onde a 
atenção não é, nem dirigida, nem atraída, mas assiste, como um 
espectador passivo, ao desfile das idéias que, sob certas condições, 
aparecem no horizonte da consciência. Essa atitude é conhecida, 
tecnicamente, sob o nome de Livre Associação de Idéias. 
 
Na Livre Associação as idéias fluem e se sucedem sem intervenção 
consciente, sejam agradáveis ou desagradáveis, importantes ou não, na 
aparência. O que não significa que basta levantar a tampa do caldeirão do 
inconsciente para que transborde uma variada procissão de idéias e, com 
isso, se obtenha um resultado proveitoso. Não. O resultado pode ser 
inteiramente outro. 
 
Sabemos que toda idéia que surge na consciência tem suas raízes nas 
profundidades do espírito; e sabemos, também, que se pudéssemos 
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seguir essas raízes, desde a consciência até as suas origens no 
inconsciente, haveríamos de chegar à origem dessa idéia, isto é, às 
lembranças soterradas das quais ele não é mais do que a expressão. 
 
Tomemos uma determinada idéia; coloquemo-la, como se fosse uma isca, 
na consciência. Abstenhamo-nos de qualquer análise consciente; 
afastemos toda a crítica, todo o juízo, toda a coordenação, enfim, toda e 
qualquer forma de intervenção consciente; deixemos que outras idéias 
venham juntar-se à primeira, que faz o papel de isca, apenas por uma 
associação puramente simpática, que entre elas possa existir. Vamos 
obter, assim, uma Livre Associação de Idéias. 
 
Nesse processo, a idéia que ocupa em um determinado momento o campo 
da consciência, liberta-se atraindo para si a idéia imediata, exclusivamente 
em virtude de uma associação simpática que as une. Não entra no 
processo nenhuma interferência intelectual. 
 
O pensamento consciente, ao contrário, é um processo essencialmente 
de seleção; somos nós que atraímos as idéias para a consciência e, então, 
depois de analisá-las, julgá-las, medi-las, retemos as que nos convêm e 
rejeitamos as que não nos interessam. 
 
Para se obter uma boa associação de idéias é necessário afastar 
completamente esses esforços intelectuais e assumir, perante a 
consciência, a atitude de simples espectador do que vai acontecer. Deve-
se assistir à procissão de idéias sem interpor nenhuma influência 
intelectual. 
Essa atitude mental não é difícil de se obter. É antes uma questão de 
habilidade. E, uma vez conseguida, basta um pouco de prática para repeti-
la, sempre que se entender ser útil e necessária. 
 
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Lembre-se sempre que nenhuma idéia penetra na consciência por ação 
do acaso. 
 
Toda idéia que, mesmo que seja por um tempo mínimo, ocupa o centro da 
consciência, aí não entrou por acaso. Ou foi empurrada pelas influências 
subjacentes, ou foi atraída pelas condições de superfície. 
 
Se, como no exemplo da idéia – isca, nos abstivermos de qualquer 
influência intelectual sobre ela, vai se operar uma associação livre de 
idéias, constituída das lembranças que são as suas próprias raízes; e 
deixando que essas associações se realizem livremente, num fluxo 
ininterrupto e contínuo, a consciência há de reconhecer, por fim, a 
lembrança exata que constitui a sua origem. 
 
Na Livre Associação, a idéia estimuladora (isca), que se encontra na 
consciência, está presa, por laços bem definidos, a um conjunto de 
lembranças localizado em algum ponto da vasta região do inconsciente; e 
se pudéssemos seguir a linha de associações que une entre si estes dois 
fatores, haveríamos de conhecer, rápida e nitidamente, a influência que 
as memórias soterradas exercem sobre a nossa conduta consciente. E 
isso porque teríamos assim conseguido ligar o efeito à causa. 
 
Resumindo: 
 
A Livre Associação de Idéias é a VIA RÉGIA que conduz à compreensão 
do processo pelo qual a conduta é controlada pelo espírito inconsciente; 
se o método for bem aplicado, pode-se, mesmo, reconstruir a 
personalidade consciente, abrindo-se aos nossos olhos perspectivas de 
maravilhosas possibilidades. 
 
IV – ALIANÇA TERAPÊUTICA 
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Na primeira parte deste estudo abordamos o chamado Par analítico. 
Vimos na ocasião que o par analítico constitui a combinação do melhor 
Psicanalista para determinado paciente, e vice-versa. 
 
Na seqüência e combinação de fatores, em decorrência desde par, 
surgem a transferência e a contra-transferência, que estudaremos dentro 
em pouco. 
 
Antes, porém, aparece este delicado assunto, a Aliança, por muitos 
confundida com transferência. Mas não confundamos – a transferência 
ocupa uma parte definida do universo psicanalítico. 
Nem tudo que ocorre na situação analítica é transferência. Temos, 
contudo, que reconhecer que a linha divisória entre a Aliança Terapêutica 
e a Transferência é muito tênue. 
 
- Como defini-la? 
 
Segundo Zetzel, Aliança Terapêutica é uma espécie de transferência 
racional. Essa transferência racional se caracteriza, sobretudo, por não ter 
o aspecto de neurose, o que chamamos de neurose de transferência. 
 
 A diferença está na intensidade, racionalidade, consciência de que os 
afetos que surgem não são frutos de paixão mas do relacionamento. 
 
 Por outro lado, a transferência se reveste da irracionalidade, 
envolvimento afetivo que não permite ao paciente distinguir os níveis de 
sentimentos. 
 
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Podemos situar melhor a Aliança Terapêutica em relação à Transferência, 
do seguinte modo: 
 
A Aliança Terapêutica é favorável, colaboradora do processo, enquanto 
que a transferência, embora fundamental para a cura, em princípio opera 
negativamente, tende a atrapalhar. 
 
 Aparece como embaraço que deve ser interpretado, caso contrário 
inviabiliza o tratamento, isto se perpetuará. 
 
A experiência tem-nos ensinado também outra coisa: a Aliança 
Terapêutica não necessita de interpretação, nem teríamos como fazê-lo. 
 
Precisamos confessar, entretanto, que a diferença entre a neurose de 
transferência e a aliança não é absoluta. É mais uma diferença de 
compreensão do paciente do que de natureza de sentimentos. Em suma, 
o que o paciente sente, em ambos os casos, é a mesma coisa. Mas a 
posição e análise pessoal do paciente difere. 
 
Uma outra situação interessante, é que na transferência a luta do 
psicanalista é para interpretá-la, afastá-la, dando lugar à possibilidade de 
instalação da dinâmica interpretativa. Na aliança terapêutica ocorre 
exatamente o contrário: o Psicanalista a reforça. Ele precisa da 
manutenção desse clima para sustentar a confiabilidade. 
 
Finalizando, diríamos que o ideal da transferência é que se transforme ou 
evolua para a Aliança Terapêutica. Uma coisa não se encontrará ao 
mesmo tempo em um paciente. Outra coisa se discute: Pode existir 
Aliança Terapêutica sem o processo inicial da transferência? 
 
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V – TRANSFERÊNCIA 
 
Definição: 
Atitudes, sentimentos e fantasias que um paciente experimenta, na 
situação analítica, em relação ao seu Psicanalista, muitas das quais 
emergem, de modo aparentemente irracional, de suas próprias 
necessidades inconscientes e conflitos, em vez de circunstâncias reais de 
suas relações com o analista. Assim, o paciente atribui, 
inconscientemente, características de seu pai, mãe, irmãos etc. ao 
analista, enquanto este representará qualquer dessas pessoas em relação 
ao paciente. 
 
A teoria da transferênciaé uma das maiores contribuições de Freud à 
ciência e também o pilar do trabalho psicanalítico. 
 
A transferência precisa ser entendida como um falso enlace, que tem, em 
princípio, dois objetivos, ambos inconscientes: 
 
a- Satisfazer as necessidades propriamente incons-cientes, 
confundindo a pessoa do Psicanalista com as pessoas que faltaram ou 
faltam na vida do paciente; 
 
b- Evitar a subida do mundo inconsciente ao consciente, funcionando 
desse modo como resistência, como dissimulação, com o fim de direcionar 
as energias mentais para um lado que embargue a manifestação do 
universo inconsciente. 
 
Em ambos os casos, “a transferência que se destina a ser maior obstáculo 
para a Psicanálise, se converte em seu auxiliar mais precioso, quando se 
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consegue detectar em cada caso (e manifestação) e traduzi-la para o 
enfermo”. 
 
Em qualquer caso, a transferência jamais poderá ser entendida como uma 
fraqueza de caráter, como “safadeza” do paciente, mas como algo 
inevitável às pessoas mais sérias. 
 É sempre um problema da personalidade no que diz respeito às neuroses, 
carências etc. As pessoas que sufocam as manifestações transferenciais, 
o que conseguem é plasmar mais uma carência, fortalecendo assim o 
patrimônio neurótico. 
 
Não nos esqueçamos também que a transferência não é fenômeno 
exclusivo das relações psicanalíticas, mas acham-se presentes em todo 
trabalho relacional. E é pior nas outras profissões e contatos, porque os 
envolvidos não têm o conhecimento científico do que está ocorrendo, 
tomando, de acordo com o lado, como oportunidade de satisfação. A 
confusão que segue será sem precedentes nessas vidas. 
 
VI – CONTRA-TRANSFERÊNCIA 
 
Definição: 
 As atitudes, sentimentos e fantasias que o psicanalista experimenta, 
muitas das quais provêm, aparentemente de modo irracional, de suas 
próprias necessidades e conflitos psíquicos, e não de circunstâncias reais 
de suas relações com o paciente. 
 
A contra-transferência pode ser, como deduzimos da definição, 
conseqüência de carências do Psicanalista, de problemas não resolvidos 
desse profissional. Pode também ser conseqüência da situação 
psicanalítica em si. Nesse caso, é, “uma resposta emocional do 
Psicanalista aos estímulos que provêm do paciente, como resultado da 
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influência do analisado sobre os sentimentos inconscientes do 
profissional” (Etchegoyen). 
 
Se na transferência temos que estar atentos para interpretá-la, de igual 
maneira precisamos estar atentos aos nossos sentimentos e sempre 
dispostos à auto-interpretação, com pena de ficarmos vencidos no 
relacionamento e impedidos de trabalhar em benefício do paciente. 
 
Quando falamos na Aliança Terapêutica que deve ser uma evolução da 
transferência, a própria transferência racional, de certa forma postulamos 
o mesmo para a contra-transferência. Nesse caso, quando nos 
interpretamos, quando identificamos os motivos dessa afetividade etc., 
transformamos esse sentimento intenso no correspondente à Aliança 
Terapêutica, a que chamamos descendente. Essa Aliança Terapêutica 
Descendente, que vem do Psicanalista, é igualmente um importante 
instrumento do processo, porque liga o psicanalista ao paciente, sem 
interdependência ao nível de sentimento. 
 
VII – RESISTÊNCIA 
 
1 - Definição 
 
É a oposição a qualquer tentativa de revelação de um conteúdo 
inconsciente. A maior ou menor intensidade da luta travada pelo paciente 
contra o analista que ameaça pôr a descoberto esse conteúdo oculto 
constitui sempre uma medida de força repressora, isto é, de resistência. 
 
Temos, como grande objetivo da resistência, manter a neurose. A razão 
desse procedimento inconsciente reside no mal-estar que a revelação da 
neurose ocasiona. 
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 O paciente, também inconscientemente, opta pelo desprazer de 
manutenção do recalque, com o qual já está acostumado. 
 
2 - Tipos de Resistências: 
 
a- Resistência consciente – é a retenção intencional de informações 
por parte de um paciente, causada pela vergonha, medo de rejeição, 
temor de perder a consideração do analista. Aceita-se que, subentendida 
na resistência consciente, haja sempre motivos inconscientes; 
 
b- Resistência inconsciente – aquela produzida pelo inconsciente de 
modo defensivo, sem que o paciente perceba. Tão somente atua ou deixa 
de atuar. O tipo mais conhecido é denominado atos falhos (falhados). 
 
3 - Generalidades sobre resistências: 
 
• Os atos falhos ou lapsos são os esquecimentos, os cortes, as 
“evitações” que o inconsciente pratica com uma intenção definida. 
Aparece nos erros de leitura, de escrita, nas trocas de nomes, empregos 
de palavrões em momentos de solenidades e até em discursos e sermões; 
• A própria transferência é um tipo de resistência, porque visa cercear 
o processo e redirecionar os contatos; 
• Resistência é tudo aquilo que impede que o sujeito transfira o 
material reprimido para o consciente; 
• A resistência pode manifestar-se no paciente que fala muito, 
colocando o seu dia-a-dia para servir de manto sobre o seu passado; 
• A resistência pode ser encontrada no silêncio. Em todo caso precisa 
ser interpretada; 
• A crítica a todo comentário do analista é sempre uma resistência; 
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• Também a aceitação de tudo que o profissional fale pode ser 
resistência, na medida em que limita o avanço do mesmo, é a cortesia que 
protege a necessidade de reviver seus conflitos instintivos. 
 
VIII – OS MECANISMOS DE DEFESA 
 
Tipos sublimados de resistências 
 
Em alguns casos, os mecanismos de defesa podem ser interpretados 
como resistências. Também podem ser tratados como mecanismos de 
adaptação do Ego. São atuações que visam dar um tratamento 
sintomático aos complexos e aos deslizes, quando a consciência se sente 
desequilibrada. 
 
Segundo Otto Fenichel, eis os principais encontrados na situação 
analítica: 
 
1- Sublimação – Ocorre quando os impulsos neuróticos são 
canalizados para um fim nobre, sadio; 
2- Negação – É, como o termo designa, a negação de um impulso, 
quando a pessoa mascara um determinado instinto; 
3- Projeção – Quando o paciente transfere para outrem os seus 
sentimentos, impulsos e padecimentos, quando sentimos e dizemos que 
o outro é que sente; 
4- Introjeção – É uma espécie de incorporação, o ato de tragar, engolir 
o problema. Ocorre quando o paciente padece e incorpora como seu, só 
seu, e de certa forma há um contentamento com esse ato, sem ainda 
tratar-se de masoquismo; 
5- Repressão – É uma tentativa de ignorar os problemas sentidos, 
normalmente dizendo que não tem problema algum; 
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6- Formação reativa – toda tentativa de defender a personalidade de 
algum perigo iminente; 
7- Mecanismos secundários – Anulação, aleamento, regressão, 
bloqueios de afetos, protelação de afetos, desprezo de afetos; 
8- Racionalização – Talvez o mais nobre dos mecanismos, que se trata 
da tentativa de auto-justificação de todos os atos, posições e 
cometimentos. É o esforço que o indivíduo faz para não se sentir culpado 
jamais. 
 
 
IX – ANGÚSTIA DA SEPARAÇÃO 
 
 
Fenômeno que percebemos, em alguns casos, desde as entrevistas, onde 
o paciente apresenta uma sensação de abandono, quando o seu tempo 
vai terminando, como se estivesse para perder algo muito caro. 
Na Angústia de Separação aparece um suave quadro de depressão 
situacional. 
 
A Angústia de Separação é diretamente proporcional à transferência e à 
Aliança Terapêutica. No caso de pacientes com forteresistência, que 
retardam ao máximo a instalação desses fenômenos, também se notará 
uma frieza, um corte do cordão umbilical indolor. 
 
Em caso de pacientes psicóticos, não-tributáveis da psicanálise, junto aos 
quais se esteja praticando uma psicoterapia de fundamentação 
psicanalítica, notar-se-á que a angústia de separação pode incluir certos 
tipos agressivos de evite. Pode também o paciente insistir em continuar, 
ter surtos na saída, simular insegurança, quadros fóbicos etc. 
 
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X – A INTERPRETAÇÃO 
 
A interpretação é o instrumento mais nobre da psicoterapia. 
 
Entendemos por interpretação o método de deduzir o que o paciente tem 
em sua alma e lhe comunicarmos. A interpretação, é, portanto, a aplicação 
da racionalidade ao material que nos é oferecido através da Livre 
Associação. É quando o psicanalista entende e junta os fatos, montando 
o quebra-cabeça com o material mnético apresentado. 
A interpretação se dá sobre coisas lógicas apresentadas pelo paciente 
que, entretanto, não se vê com lógica alguma quando fala. Entretanto, em 
face do arrazoado do psicanalista, há a compreensão, a clareza. E, com 
o passar do tempo, à medida que o tempo de análise aumenta, o paciente 
já vai percebendo, e em algumas vezes se antecipa à interpretação. Mas, 
nesse caso, algumas vezes erra. 
 
Quando o paciente se antecipa na interpretação, o que temos nem sempre 
é insight, mas a inveja do psicanalista e a tentativa de tomar o seu lugar. 
 
Na interpretação o psicanalista precisa ser curto e educado. 
 Não deve se estender em uma palestra longa, que dê lugar a divagações. 
Sempre que possível deverá interpretar com linguagem indagativa, 
fazendo perguntas que induzam uma resposta. Esse caso é 
aparentemente melhor, porque o paciente fica com a sensação de ter 
concluído a respeito. 
Tem mais facilidade de aceitar do que se tivesse recebido uma idéia 
pronta. 
 
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Na interpretação o Psicanalista tem um aliado – o insight. 
Este termo tem, em psicanálise, uma significação maior do que a 
terminológica. O insight acontece no paciente, e será proporcional à 
inteligência dele e à disposição ou vontade de descobrir a sua verdade. 
Depende também de uma boa aliança terapêutica. Nele o paciente vê 
claramente, em um momento, toda a verdade da interpretação. 
Normalmente o insight desencadeia uma aceleração no processo 
associativo, em alguns casos fazendo o paciente calar, para, por algum 
tempo, desfrutar das memórias ligadas à verdade da interpretação. 
 
XI – ETAPAS DA ANÁLISE 
 
Quando dizemos que há etapas, o que queremos dizer é que na evolução 
do processo psicanalítico, há momentos característicos, definidos, 
distintos de outros, momentos com uma dinâmica especial que os 
distingue. Aliás, tudo nesta vida tem princípio, meio e fim. 
 
Vejamos as três etapas clássicas da análise: 
 
- Primeira etapa – A abertura da análise. Vai da primeira sessão 
(anamnese) até mais ou menos uns três meses, quando estamos com 
contrato de duas a três sessões semanais. Nessa fase temos os ajustes 
necessários, o início da transferência etc.; 
- Segunda etapa – O mesmo que etapa média. É a menos típica e 
mais longa e criativa. Começa quando o analisando compreendeu e 
aceitou as regras do jogo, como Livre Associação, interpretação, ambiente 
permissivo etc.. Prolonga-se por um tempo variável até que a enfermidade 
originária (ou sua réplica, a neurose de transferência) haja desaparecido 
ou tenha-se modificado substancialmente; 
- Terceira etapa – O término da análise. Não se prolonga por muito 
tempo. Deve durar, contudo, o suficiente para que a Reação Terapêutica 
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Negativa (RTN) seja vencida, para que a angústia da separação definitiva 
seja igualmente interpretada e assumida. 
 
Como vemos, a análise, que vem de resolver problemas, no fim, por causa 
do intenso e duradouro relacionamento, acaba tornando-se um problema. 
Entretanto, o tal não será enfermidade e tem caráter gratificante. 
 
Em alguns casos – Freud mesmo já o considerou – nos deparamos com 
o caso de Análise interminável, sem que o paciente seja um psicótico. São 
pessoas que, embora tenham os problemas resolvidos, não conseguem 
suficiente força e independência. O mais comum é que sejam pessoas 
submetidas a uma intensa carga de neuroses atuais, neuroses estas que, 
com o tempo e complexibilidade da vida vão aumentando. Algumas 
pessoas precisam de apoio, uma espécie de muleta, tornando a análise 
interminável. 
 
XII – VICISSITUDES DO PROCESSO PSICANALÍTICO 
 
Toda ciência, bem como todo relacionamento, apresenta suas 
dificuldades naturais. 
 
Precisamos estar conscientes de que há fatores que dificultam 
sobremaneira a análise: idade avançada, condições econômicas, 
religiosidade, inteligência de menos. 
Por outro lado, a inteligência de mais também pode dificultar. 
 
Entre as principais vicissitudes, temos: 
 
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- Insight – Tanto a sua ausência, nos “desinteligentes”, quanto a sua 
fartura, podem atrapalhar. Além do mais, em termos de interpretação, 
quantas vezes o paciente vê uma coisa e o psicanalista vê outra. 
 
- Elaboração – É o tempo que o paciente gasta para se organizar e 
reagir à postura do Psicanalista. É o conjunto de fatores que diz que o 
paciente assumiu a sua condição, compreende o papel do profissional e 
pratica as partes que lhe cabe; 
 
- Acting-out – Problema difícil de explicar. Poder-se-ia dizer que se 
trata de uma ação fora da situação analítica ou que tem por objetivo 
afastar o paciente ou o Psicanalista de seu suporte. Mas para simplificar, 
é quando o paciente faz uma coisa em vez da outra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONCLUSÃO 
 
Todo esse nosso trabalho não visa esgotar nem reunir toda problemática 
que nos envolve, mas alinhar as situações mais comuns. 
Cresçamos em Freud. 
 
Leitura para reflexão 
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XIII – ESSÊNCIA E REGRA DA AUTO-ANÁLISE SISTEMÁTICA 
(Karen Horney) 
 
 
Visto como já examinamos o trabalho psicanalítico sob diversos pontos de 
vista, e vimos, através de um exemplo extenso, o processo geral por que 
uma pessoa se psicanalisa a si mesma, dificilmente será necessário – e 
parecerá mesmo redundante – discutir sistematicamente a técnica da 
auto-análise. Os comentários a seguir, portanto, apenas ressaltarão certas 
considerações, muitas das quais já mencionadas a outros respeitos, que 
merecem atenção especial quanto se atua sobre o próprio eu. 
 
Conforme vimos, o processo de livre associação, de auto-expressão 
franca e sem reservas, é o ponto de partida e a base permanente de todo 
o trabalho analítico – auto-análise ou análise profissional -, mas não é, de 
maneira alguma, uma proeza fácil. Poderia imaginar-se que este processo 
fosse mais simples quando se trabalha sozinho, porquanto, nesse caso, 
não há ninguém para interpretar mal, criticar, intrometer-se ou revidar; 
além disso, não é tão humilhante manifestar-se a respeito de coisas de 
que a gente possa envergonhar-se. Até certo ponto isso é verdade, 
embora também seja verdade que uma pessoa de fora, pelo simples fato 
de estar escutando, proporciona estímulo e encorajamento. Não há dúvida 
alguma, porém, que quer se esteja trabalhando só ou com um analista, os 
maiores obstáculos à livre expressão estão sempre dentro da pessoa. 
Esta anseia tanto por ignorar certos fatores, e por manter a imagem que 
tem de si própria, que, sozinha ou não, o máximo que pode esperar é uma 
certa aproximação do ideal das associações livres.Em vista destas 
dificuldades, a pessoa que trabalha só deve lembrar-se, de tempos em 
tempos, que estará agindo contra seus verdadeiros interesses se deixar 
de lado ou eliminar qualquer idéia ou sentimento que venha à tona. Deve 
lembrar-se, igualmente, de que a responsabilidade é exclusivamente sua: 
não há ninguém senão ela para adivinhar um elo que esteja faltando ou 
para investigar acerca de um vácuo deixado em suspenso. 
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Este escrúpulo é particularmente importante com referência à expressão 
de sentimentos. A este propósito, há dois preceitos que deve-se ter em 
mente. Um, é o de que a pessoa deve procurar exprimir o que sente 
realmente, e não o que deve sentir por força de tradições ou de seus 
próprios padrões morais. Deve, ao menos, dar-se conta de que pode haver 
um hiato imenso e significativo entre os sentimentos genuínos e os 
adotados artificialmente, e deve perguntar-se, às vezes – não enquanto 
estiver associando, mas posteriormente – o que sente deveras sobre o 
assunto. A outra regra é que deve dar rédeas tão largas quanto possível 
a seus sentimentos. Isto, também, é mais fácil de dizer do que de fazer. 
Pode parecer ridículo sentir-se tremendamente magoado por uma ofensa 
aparentemente banal. Pode ser incrível e desagradável desconfiar e odiar 
alguém que nos é muito chegado; pode-se não ter dúvidas em admitir um 
esboço de irritação, mas achar-se assustador constatar que a ira está 
deveras presente. Deve lembrar-se, contudo, que, no que toca às 
conseqüências externas, nenhuma situação é menos perigosa do que a 
da análise, para uma expressão real dos sentimentos. Na análise só 
importa a conseqüência interior, e esta consiste em identificar-se a 
intensidade total de um sentimento. Na análise só importa a conseqüência 
interior, e esta consiste em identificar-se a intensidade total de um 
sentimento. Pois, em questão psicológica, também, não se pode enforcar 
quem ainda não foi capturado. 
 
Evidentemente, ninguém é capaz de desentocar à força sentimentos que 
estão reprimidos. Tudo o que qualquer um pode fazer é não refrear o que 
está ao seu alcance. Com toda a boa vontade do mundo, Clara, no início 
de sua análise, não teria podido sentir ou exprimir mais ressentimento 
contra Peter do que o fez, mas, à medida que a análise progrediu, tornou-
se capaz de perceber a intensidade real de seus sentimentos. Sob um 
certo ponto de vista, toda a evolução por que ela passou pode ser descrita 
como uma liberdade crescente para perceber o que de fato sentia. 
 
Mais uma palavra quanto à técnica da livre associação: é indispensável 
abster-se de raciocinar enquanto se estiver associando. O raciocínio tem 
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seu lugar na análise e são muitas as oportunidades para utilizá-lo – depois. 
Mas, segundo já foi acentuado, a essência mesma da livre associação é 
sua espontaneidade. Por conseguinte, a pessoa que estiver tentando 
fazê-la, não deve procurar chegar a uma solução raciocinada. Suponha-
se, por exemplo, que você está tão cansado e bambo que gostaria de 
arrastar-se até a cama e declarar-se doente. Aí você olha para fora, da 
janela de um segundo andar, e dá tento de que está pensando que se 
você caísse no máximo quebraria um braço. Isto o espanta. Você não 
sabia que estava desesperado, tão desesperado a ponto de querer 
morrer. A seguir, você ouve um rádio tocando no andar de cima, e pensa, 
com uma certa irritação, que gostaria de dar um tiro no sujeito que está 
ouvindo o rádio. Você conclui, com razão, que deve haver raiva, além de 
desespero, no fato de sentir-se doente. Até aqui você vai indo bem. Você 
já se sente menos paralisado, porquanto se está furioso com alguma coisa 
talvez possa encontrar a razão para isso. Mas, aí você começa a 
pesquisar conscientemente, num frenesi, o que é que pode tê-lo 
enfurecido. Examina todos os incidentes que ocorreram antes de sentir-
se tão cansado. É possível que você atine com a provocação, mas o mais 
provável é que toda sua busca consciente dê em nada – e que a causa 
real lhe ocorra meia hora mais tarde, depois de você ter desanimado ante 
a futilidade de suas tentativas e de ter desistido da investigação 
consciente. 
 
Tão improdutivo quanto essas tentativas de forçar uma solução é o 
procedimento de uma pessoa que, mesmo quando deixa a mente 
trabalhar em liberdade, procura descobrir o significado de suas 
associações, ligando-as umas às outras. Seja o que for que o leva a fazer 
isso, quer se trate de impaciência, de uma necessidade de ser inteligente 
ou de um receio de dar saída a idéias e sentimentos incontroláveis, esta 
intromissão do raciocínio propende a perturbar a situação de repouso 
necessária à livre associação. É verdade que o significado de uma 
associação pode surgir espontaneamente. A série de associações de 
Clara, que terminou com a letra do cântico religioso, é um bom exemplo 
disto: as associações dela mostraram um grau crescente de lucidez, 
apesar de não ter sido feito nenhum esforço consciente para entendê-las. 
Por outras palavras, os dois processos – auto-expressão e compreensão 
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– as vezes podem coincidir. Sem embargo, no que toca a esforços 
conscientes, eles devem ser conservados rigorosamente separados. 
 
Se estabelecermos assim uma distinção clara entre a livre associação e a 
compreensão, quando é que se pára de associar e tenta-se compreender? 
Felizmente, não há regra alguma para isso. Enquanto os pensamentos 
estiverem fluindo livremente, não há motivo para detê-los artificialmente: 
mais cedo ou mais tarde, serão contidos por algo mais forte do que eles 
mesmos. Quiçá a pessoa chegue a um ponto onde se sinta curiosa de 
saber o que é que tudo aquilo significa; toque, de repente, em uma corda 
emocional que prometa lançar luz sobre algo que a incomoda; fique, 
simplesmente, sem idéias, o que pode ser um sinal de resistência, mas 
também pode indicar que esgotou o assunto, por enquanto; ou pode 
apenas dispor de tempo limitado e queira ainda tentar interpretar suas 
anotações. 
 
Quanto à compreensão das associações, é tão infinita a gama dos temas 
e combinações de temas que pode apresentar-se, que não é possível fixar 
quaisquer regras a respeito do significado dos elementos individuais dos 
contextos individuais. Certos princípios fundamentais foram estudados no 
capítulo relativo à participação do analista no processo analítico; 
entretanto, forçosamente muito é deixado a cargo da habilidade, presença 
de espírito e capacidade de concentração de cada um. Por isso, limitar-
me-ei a ampliar o que já foi dito, acrescentando algumas observações 
sobre o intuito que deve presidir à interpretação. 
 
 Quando uma pessoa pára de associar e começa a examinar suas 
anotações, com o fim de compreendê-las, seu método de trabalho deve 
mudar: em lugar de ficar inteiramente passiva e receptiva ante tudo o que 
aparecer, tornar-se ativa. Agora, o raciocínio dela entra em ação. Prefiro 
exprimir isso, entretanto, de forma negativa: ela não mais exclui o 
raciocínio, pois mesmo agora ela não o emprega com exclusividade. É 
difícil descrever exatamente a atitude que deve ser adotada ao procurar 
apreender o significado de uma série de associações. Por certo, o 
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processo não deve degenerar em um mero exercício intelectual. Se quiser 
isso, será melhor jogar xadrez, prever a evolução da política mundial, ou 
dedicar-se a palavras cruzadas. Um esforço para conceber interpretações 
perfeitamente escorreitas, sem perder nenhuma conotação possível, 
talvez gratifique-lhe a vaidade, demonstrando a superioridade de suainteligência, mas dificilmente o levará mais próximo de uma verdadeira 
compreensão de si mesma. Um esforço assim chega mesmo a oferecer 
algum perigo, pois pode impedir o progresso ao produzir uma confortável 
impressão de “eu-sei-tudo”, enquanto, de fato, ela apenas catalogou 
dados isolados sem ter sido tocada por coisa alguma. 
 
O outro extremo, um “insight” meramente emocional, é bem mais valioso. 
Se não for posteriormente aperfeiçoado, tampouco é o ideal a atingir, 
porquanto deixa fugir muitas pistas significativas, malgrado não estejam 
ainda nítidas de todo. Mas, consoante vimos na análise de Clara, um 
“insight” deste gênero pode pôr alguma coisa em marcha. No início do 
trabalho, ela teve uma sensação intensa de estar extraviada, decorrente 
do sonho com a cidade estrangeira; foi mencionado, então, que embora 
seja impossível verificar se essa experiência emocional teve qualquer 
repercussão ulterior na análise, a inquietação resultante pode ter 
afrouxado o tabu rígido que ela possuía face aos vínculos complexos que 
a prendiam a Peter. Outro caso ocorreu durante a batalha final de Clara 
contra sua dependência, quando sentiu sua franca resistência a governar 
a própria vida; ela, então, não tinha a menor noção intelectual do 
significado deste “insight” emocional, e, no entanto, ajudou-a a sair de um 
estado de impotência letárgica. 
 
 Em vez de desejar produzir uma obra-prima científica, a pessoa que 
está trabalhando sozinha deve deixar sua interpretação ser dirigida por 
seu interesse. Deve simplesmente ir empós daquilo que lhe atrai a 
atenção, que lhe desperta a curiosidade, que toca uma corda emocional 
em seu íntimo. Se for suficientemente flexível para deixar-se guiar por seu 
interesse espontâneo, pode ficar razoavelmente certa de que 
intuitivamente escolherá os assuntos que, no momento, lhe forem mais 
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acessíveis à compreensão, ou que se enquadrarão no problema em que 
ela estiver trabalhando. 
 
Presumo que este conselho suscitará algumas dúvidas. Não estarei 
advogando uma excessiva tolerância? Será que o interesse do indivíduo 
não o levará a escolher assuntos com os quais está familiarizado? Não 
significará isto ceder ante as resistências? Examinarei em um capítulo à 
parte como lidar com as resistências; basta dizer, aqui, que é verdade que 
deixar-se levar pelos próprios interesses significa adotar o caminho de 
menor resistência. Mas, a menor resistência não quer dizer a mesma coisa 
que nenhuma resistência. O princípio significa, essencialmente, a busca 
dos assuntos que, no momento, são os menos reprimidos. E é este, 
exatamente, o princípio que o analista aplica quando apresenta suas 
interpretações. Ele, como já foi salientado, escolhe para interpretar os 
fatores que, segundo crê, o paciente pode apreender perfeitamente na 
ocasião, e renuncia a aventurar-se por problemas que ainda estão muito 
reprimidos. 
 
Toda a auto-análise de Clara ilustra a validade deste procedimento. 
Aparentemente sem querer, nunca se deu ao trabalho de atacar nenhum 
problema que não evocasse uma reação nela, mesmo que estivesse 
praticamente “na cara”. Sem nada saber acerca do princípio de orientação 
pelo interesse, intuitivamente o aplicou através de todo seu trabalho, e 
isso foi-lhe muito útil. Um exemplo pode representar muitos. Na série de 
associações que concluiu com o primeiro aparecimento do devaneio sobre 
o grande homem, Clara identificou somente o papel desempenhado em 
sua relação pela necessidade de proteção. As sugestões referentes a 
suas outras expectativas dos homens, foram por ela postas de lado 
inteiramente, malgrado fossem óbvias e se destacassem no devaneio. 
Esta escolha intuitiva levou-a a adotar a melhor linha de ação possível. 
Ela absolutamente não avançou por terreno conhecido: a descoberta de 
que a necessidade de proteção era parte integrante de seu “amor”, foi uma 
descoberta de um fator até então desconhecido. Outrossim, conforme 
deve estar ainda na lembrança do leitor, esta descoberta constitui a 
primeira incursão contra sua ilusão querida de “amor”, o que foi, por si 
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mesmo, um passo penoso e incisivo. Tomar, ao mesmo tempo, o 
problema agravante de sua atitude parasitária com relação aos homens, 
teria sido certamente por demais árduo, a menos que o tratasse de forma 
superficial. Isto leva-nos a um último pormenor: não é possível absorver 
mais do que um “insight” importante de cada vez. A tentativa de fazê-lo 
será nociva a ambos, ou a todos eles. Qualquer “insight” relevante requer 
tempo e concentração total, para que possa “assentar” e enraizar-se. 
 
A compreensão de uma série de associações exige flexibilidade, não só 
na direção do trabalho, como acabamos de ver, mas também no modo de 
abordar. Por outras palavras, na seleção de problemas a gente deve 
orientar-se pelos interesses emocionais espontâneos, bem como pela 
inteligência; também no estudo dos problemas que aparecem, deve-se 
passar com facilidade do pensamento deliberado para a apreensão 
intuitiva das ligações. Este último requisito pode ser comparado à atitude 
necessária quando se estuda uma pintura: pensamos a respeito da 
composição, da combinação de cores, das pinceladas e de coisas do 
mesmo jaez, mas também levamos em conta as reações emocionais 
provocadas em nós pela pintura. Isto corresponde, igualmente, à atitude 
que o analista adota face às associações de um paciente. Enquanto estou 
escutando o que o paciente me diz, às vezes medito intensamente sobre 
possíveis significados, chegando a uma conjetura só por deixar a 
conversa do paciente agir sobre minhas faculdades intuitivas. A 
verificação de qualquer conclusão, contudo, não importa como se tenha 
chegado a ela, sempre impõe completa atenção intelectual. 
 
Uma pessoa pode achar, naturalmente, que em uma série de associações 
nada lhe desperta o interesse em particular; ela apenas vê uma ou outra 
possibilidade, mas nada de esclarecedor. Ou, no extremo oposto, pode 
achar que mesmo que se detenha em uma conexão, certos outros 
elementos também a impressionam. Em ambos os casos, será bom que 
anote à margem as questões deixadas em suspenso. Talvez no futuro, ao 
recapitular suas anotações, as possibilidades meramente teóricas tenham 
algum significado para ela, ou as perguntas guardadas possam ser agora 
examinadas em maior detalhe. 
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Há, ainda, um último escolho a ser citado: nunca aceite mais do que você 
pode acreditar deveras. Este perigo é maior na análise regular, 
especialmente se o paciente é daqueles que tendem a concordar com 
afirmações peremptórias. Mas também pode desempenhar um papel 
quando a pessoa confia em seus próprios recursos. Ela pode sentir-se 
obrigada, por exemplo, a aceitar o que quer que de “mau” surja a seu 
respeito, e a desconfiar de uma “resistência” caso hesite em fazê-lo. Ficará 
mais garantida, porém, se encarar sua interpretação como simples 
tentativa, sem procurar convencer-se de que é definitiva. A essência da 
análise é a verdade, e isto deve aplicar-se igualmente à aceitação ou não 
das interpretações. 
 
O perigo de fazer uma interpretação desorientadora, ou pelo menos 
improfícua nunca pode ser eliminado, mas não se precisa temer isso 
excessivamente. Se a pessoa não baqueia, mas prossegue dentro da 
mentalidade certa, mais cedo ou mais tarde aparecerá uma trilha mais 
proveitosa, ou então se dará conta de estar em um beco sem saída e 
talvez até aprenda alguma coisa com essa experiência. Clara, por 
exemplo, antes de empenhar-se na análise de sua dependência, passará 
uns dois meses escavando à procura de uma suposta necessidade de 
impor sua vontade. Graças

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