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Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Oliveira Vaz Revisão Textual Kauê Berto Web Designer Thiago Azenha FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Núcleo de Educação a Distância; STRUETT, Mirian Aparecida Micarelli. Políticas Públicas em Saúde. Mirian. Aparecida Micarelli Struett Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 97 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira dos Santos. UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock Professora Me. Mirian Aparecida Micarelli Struett Possui graduação em ADMINISTRAÇÃO pela UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ (2001) e mestrado em ADMINISTRAÇÃO EM GESTÃO DE NEGÓCIOS pela UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ (2005). É funcionária pública Estadual desde 1992 no HOSPITAL UNIVERSITÁRIO REGIONAL DE MARINGÁ. Já coordenou equipes na área de Imaginologia (Radiologia, Tomografia e USG), realizou Estatística Hospitalar e atualmente é gestora de contratos e atas de registro de Preços e Convênios Federais, pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais na área de Sistemas de Informação e Contabilidade Gerencial, é professora titular do Centro de Ensino Superior de Maringá - EaD 40 e da Pós Graduação da UniCesumar. Tem experiência na área de Administração Pública e Privada e atua como docente nas áreas de Gestão Hospitalar, Gestão de Hotelaria e Estrutura Hospitalar, Gestão da Qualidade e Certificação Ambiental, Administração voltada para a Gestão Pública, Sustentabilidade e Responsabilidade Social, Desenvolvimento Sustentável, Segurança no Trabalho Hospitalar e Conceitos da Administração e Ética Empresarial. Link: http://lattes.cnpq.br/3388750064285917 AUTORA http://lattes.cnpq.br/3388750064285917 Prezado(a) estudante! É com muita satisfação que apresento a você, a disciplina de “Políticas Públicas em Saúde”, na qual o principal objetivo é a apresentação das políticas públicas de saúde no Brasil, partindo do contexto sócio-histórico de atenção à saúde pública. Estudo de aspectos gerais do funcionamento e estrutura do Sistema Único de Saúde e regulamentação da saúde suplementar. Desta forma, na Unidade I com o tema “Políticas Públicas em saúde: definição e histórico”, será conceituado e contextualizado historicamente o início das Políticas Públicas de Saúde no Brasil e quais são as principais questões de saúde formuladas para atender à sociedade nesta área, dando uma ênfase especial ao Sanitarismo Campanhista do século XX e apresentando a criação e o desenvolvimento do Ministério da Saúde. Por fim, procuraremos entender como se deu a luta pela democratização do acesso à saúde. Na Unidade II, com o tema “Sistema Único de Saúde - SUS”, conceituaremos e compreenderemos o que representa o Sistema SUS, conheceremos seus antecedentes históricos, caminhando até criação do SUS com a Constituição Federal de 1988. Em seguida, descreveremos sobre a Lei Orgânica da Saúde 8080 e 8142 de 1990, buscando compreender seus princípios e diretrizes e ao final desta unidade compreender o princípio da universalização do acesso à Saúde, traçando alguns dos avanços e obstáculos da implantação e implementação do sistema SUS. Em seguida, na Unidade III, com o tema “Organização e Estrutura do SUS”, para compreendermos um pouco mais sobre como o SUS é organizado e qual é a sua estrutura atual, vamos tratar sobre os princípios organizativos, descentralização, regionalização e hierarquização no SUS, na qual finalizamos a unidade apresentando como se dá a atenção primária, secundária e terciária de assistência à saúde no SUS. Por fim, na Unidade IV, com o tema “Saúde Suplementar e órgãos Reguladores”, finalizaremos a última parte de livro compreendendo sobre a representatividade da Saúde Suplementar em nosso País, dando uma ênfase especial aos órgãos reguladores existentes, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Portanto, prezado(a) estudante, vamos à leitura deste livro. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 6 Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico UNIDADE II ................................................................................................... 28 Sistema Único de Saúde (SUS) UNIDADE III .................................................................................................. 50 Organização e Estrutura do SUS UNIDADE IV .................................................................................................. 72 Saúde Suplementar e Órgãos Reguladores 6 UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico Professora Mestre Mirian Aparecida Micarelli Struett Plano de Estudo: • Políticas Públicas em Saúde: definições e histórico • Definições de Políticas Públicas em Saúde • Sanitarismo campanhista do início do século XX • Ministério da Saúde: criação e desenvolvimento • Lutas pela democratização do acesso à saúde Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar e contextualizar Políticas Públicas em Saúde • Apresentar algumas definições dadas as Políticas Públicas em Saúde • Compreender como se deu o Sanitarismo campanhista do século XX • Apresentar a criação e o desenvolvimento do Ministério da Saúde • Entender como ocorreu a luta pela democratização do acesso à saúde 7UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico INTRODUÇÃO Prezado (a) aluno (a)! Na manutenção da vida e da saúde humana na maioria das vezes, o próprio indivíduo desconhece os mecanismos para a sua preservação. Por isso, é preciso conhecer o sistema que leva a esse direcionamento. As políticas públicas em Saúde vinculam-se às necessidades que a população tem em relação à saúde. Em algum momento de nossa vida, necessitamos de um atendimento relacionado à a saúde. Praticamente, essa necessidade já se inicia muito antes mesmo do nosso nascimento, quando, por exemplo, há a necessidade de se fazer o exame diagnóstico para a constatação da gravidez, de calcular o tempo de gravidez e da data provável do nascimento. Desta forma, desde o nascimento até o nosso óbito, há a necessidade e a busca por cuidados relacionados à saúde. É muito comum relacionarmos a saúde pública ao Sistema Único de Saúde, na qual se vinculam diversas tipos de necessidades provenientes da população que nem sempre são atendidas imediatamente, principalmente por causa da grande procura por esse atendimento que tem como principal característica a gratuidade. Mas, nem sempre foi assim. Portanto, para entendermos como chegamos ao que conhecemos hoje, inicialmente vamos traçar a trajetória política do Brasil com o objetivo de contextualizar as Políticas Públicas em Saúde, apresentando suas principais definições. Em seguida, será apresentado sobre o tema sanitarismo campanhista bem como da criação e o desenvolvimento do Ministério da Saúde. Ao final desta unidade, apresento a você os principais fatos, mais relevantes na luta pela democratização ao acesso à saúde. Importante salientar, que a compreensão deste tema é de fundamental importância para balizar o vosso conhecimento, e servir de suporte para a sua compreensão dos próximos temas tratados na unidades deste livro. Portanto,prezado(a) aluno(a), desejo a você, uma boa leitura e aprendizado. 8UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÕES E HISTÓRICO A Saúde Pública como um serviço gratuito foi assegurada pela legislação a partir da Constituição Federal de 1988. Para entendermos como a saúde pública brasileira, chegou ao atendimento gratuito e outras formas de atuação como conhecemos hoje, é preciso conhecer sua trajetória política historicamente. A Saúde Pública, se configura como Política Nacional, pautado na dimensão política e social. Para Lechopier (2015, p. 210), ela é considerada “tanto uma disciplina científica como um campo de políticas e ações relacionadas com a saúde da população”. De acordo com Hack (2019), algumas iniciativas na área da saúde pública ocorreram após a vinda da corte Portuguesa ao Brasil em 1808. A elite era atendida por médicos formados no exterior enquanto o restante dos cidadãos eram atendidos por pajés e curandeiros. Assim, as primeiras ações públicas eram restritas a poucos profissionais, como médicos, farmacêuticos e o controle dos portos. Somente no início do século XX, é que as ações governamentais começaram a ocorrer principalmente relacionadas ao combate de epidemias e a algumas iniciativas de saneamento. Outras ações na área da saúde eram realizadas por profissionais de saúde com caráter de filantropia. Sobre os antecedentes do Sistema Único de Saúde (SUS) - tema este que retrata o período da Administração Portuguesa e do início das Políticas Públicas na época da saúde do Império, da saúde da República e da institucionalização da Saúde Pública no Brasil até a criação do SUS - será descrito mais resumidamente na Unidade 2, tópico 2 do nosso livro didático. 9UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico Antes de compreendermos a definição de Políticas Públicas em Saúde, precisamos compreender o termo “Políticas Públicas” e posteriormente, o da “Saúde Pública”. O Estado como promotor do bem-estar da sociedade deve promover diversas ações e atuar nas mais diversas áreas. Como por exemplos: na área da educação, na área da saúde, na área do meio ambiente, dentre outras. Para conseguir atender à sociedade e promover o bem-estar utiliza-se das Políticas Públicas. De acordo com SOLHA (2014, p. 71) Políticas Públicas representam: [...] diretrizes para nortear as ações em determinada área da vida social. Sua formulação envolve a discussão de vários atores da sociedade:gover- no, legisladores, representantes de associações civis e de setores produtivos (comércio, indústria, transporte, entre outros), resultando em um consenso. Várias de suas proposições podem virar leis. Um bom exemplo, é a política Nacional do Idoso, que prevê ações que vão desde a assistência à saúde dessa população até a gratuidade do transporte público. As Políticas Públicas, representam as ações e as decisões do Estado, voltadas para a solução de problemas presentes na sociedade. Conforme os autores Simões et al. (2008, p.5), “são a totalidade de ações, metas ou planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público” e [...] “são definidas pelos governos e não pela sociedade”, principalmente porque as demandas da sociedade, representada pelos grupos organizados por exemplos, os Sindicatos, Associações, dentre outros, não conseguem se expressar de forma integral, por exemplos, por conta da diversidade (idade, religião, etnia, gênero, aspirações, etc), bem como da limitação dos recursos públicos, ora escassos ou limitados. REFLITA Para Lopes (2019) “Para que serve um Estado Democrático, se a liberdade e os direitos são outorgados sob pressão?” O interesse público refletido pelos grupos geram disputas entre si, cabendo aos formuladores de políticas públicas compreender e selecionar essas demandas e solicitações maximizando o bem-estar da sociedade, uma vez que não poderá atender à todos os grupos. Seus principais atores são: os estatais (políticos e servidores públicos) e os privados, ou seja a sociedade civil que não possuem vínculo com a estrutura do Estado representados por Sindicatos, Centros de pesquisa, Grupos de pressão ou de interesse, dentre outro (SIMÕES ET AL., 2008). 10UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico De acordo com Vasconcelos (2000) apud Borges (2002), a Saúde Pública faz parte, ou seja, é parte integrante das Políticas Públicas definidas como de responsabilidade pública e como direito social, ou seja, é entendida como política de proteção às pessoas. Envolve a compreensão da vida comunitária, dos seus costumes, diversidade e sociabilidade, enfim ela surge no momento da necessidade de assistência e proteção à saúde de pessoas. Já para Lopes (2019, p. 97) a ação objetiva ainda “a promoção, a proteção e a recuperação da saúde dos indivíduos”. Segundo Lopes (2019), os diversos atores da sociedade (Estado, pessoas, famílias e empresas) desempenham cada qual o seu papel. O Estado é considerado uma instituição política, já o governo tem a função de controlar as ações do Estado, utilizando os seus recursos da melhor forma. Se por um lado, temos a democracia emanada pelo povo - que estabelece confronto e debate, por outro temos o desinteresse e a desmobilização dos políticos. De acordo com Winslow (1920) Apud Lechopier (2015, p. 209), para se atingir os objetivos da saúde pública, ou seja, “prevenir doenças, prolongar a vida e promover a saúde” os meios são: (1) a sanitarização do ambiente; (2) o controle das infecções transmissíveis; (3) a educação individual da higiene pessoal; (4) a organização de serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce e o tratamento preven- tivo de doenças; (5) construir a maquinaria social para assegurar a todos um padrão de vida adequado para a manutenção da saúde. Como podemos observar, os quatro primeiros itens estão relacionados à Saúde, entretanto o último item não é unicamente sanitária, mas sim envolve outros dois campos, a política e social. Por isso a saúde pública não é considerada somente como um campo para acesso à satisfação das necessidades de saúde e recursos, mas também um campo político em resposta a essas necessidades, incluindo também uma maior participação do cidadão (LECHOPIER, 2015). Para Solha (2014, p. 71) “as políticas públicas sempre estiveram relacionadas ao momento histórico [...] modificada ao longo dos séculos XX e XXI, mas foi a partir de 1990 que houve uma aceleração deste processo”. Segundo Lopes (2019), o Sistema Único de Saúde (SUS), instituído pela Lei n. 8090/90 reflete o desejo de seus legisladores, buscando nada mais do que reduzir a exclusão das comunidades necessitadas, na área da Saúde. Nesse sentido, vamos conhecer quais são essas Políticas Públicas implementadas e desenvolvidas voltada às questões específicas, em sua maior parte com foco nas questões da saúde trazendo diversas responsabilidades aos gestores nos três níveis de Gestão: Federal, Estadual e Municipal. 11UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico 2 DEFINIÇÕES DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE Solha (2014) categoriza as Políticas Nacionais em Saúde em: ● Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) promulgada pela Portaria n.2488 de 21/10/2011; ● Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) promulgada pela Portaria n.3390 de 30 de Dezembro de 2013; ● Política Nacional de Atenção às Urgências (PNAU) promulgada pela Portaria n.1600 de 7 de julho de 2011; ● Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) promulgada pela portaria n.687 de 30 de março de 2006; ● Política Nacional de Humanização em 2003; ● Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) lançado em 1984; ● Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança - PNAISC - Saúde da Criança e do Adolescente em 2015; ● PolíticaNacional de Atenção à Saúde Integral do Homem (PNASIH); ● Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) em 2006. ● Política Nacional de Medicamentos - Assistência Farmacêutica - trajetória histórica desde a criação da CEME até Portaria de 2012 com a criação do Programa Farmácia Popular do Brasil. 12UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico Para Hack (2019), o alcance das políticas públicas para a Sociedade na área da saúde, ou seja, considerando o direito à saúde e o próprio SUS, podem ser destinadas a públicos específicos na promoção à saúde e categorizadas por tipo de atendimento, quais sejam: 1. Promoção a saúde de Públicos específicos, 2. por Tipos de Atendimentos , e, 3. Políticas da Humanização: 1. Promoção a saúde de Públicos específicos: contemplam a Saúde da população Indígena, Saúde da Mulher, Saúde do Homem, Saúde da Criança e a Saúde da Pessoa Idosa, além de outros como jovens e adolescentes, pessoas com deficiência, no sistema prisional, população negra e do campo e da floresta: 1.1 Saúde Indígena Segundo a Constituição Federal de 1988 essa população é reconhecida como singular por seu tipo de organização formal, costumes, linguagem, etc. As especificidades desse atendimento estão previstas na Lei nº 8080/1990, conhecida como Lei Arouca, alterada em 1999, e junto ao Decreto nº 3.156/1999 dispõem sobre as condições de atendimento para esta categoria pelo SUS. Em 2002, o Ministério da Saúde aprova, por meio da Portaria nº 254, a Política Nacional à Saúde dos Povos Indígenas, reconhecendo que esta categoria tem especificidades culturais, comunitárias e epidemiológicas próprias, bem como existem diversas comunidades reconhecidas e respeitadas. Devido às especificidades dessas comunidades é preciso capacitar as equipes, promovendo integração intercultural e assegurando a integralidade do direito à saúde. Exige também uma participação popular indígena no planejamento e avaliação dos serviços prestados. Neste sentido, o controle social deve ser exercido nos conselhos de saúde. 1.2 Saúde da Mulher A sua saúde está relacionada à maternidade (fertilidade, gestação, etc.), riscos de doenças com maior agravo, condições culturais e sociais vivenciadas, como por exemplo, violência doméstica ou sexual. Na Lei 8080/90 está subscrito o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato com direito à acompanhante. Amparada pelas Leis: 11.664/2008 (câncer na mulher), 11.634/2007 (direitos da gestante),11.340/2006 (violência doméstica e familiar), 11.1008/2005 (altera a lei 8080/90 parturientes), 10.778/2003 (notificação compulsória) e 9.263/1996 (planejamento familiar). 13UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico Em 2004, o Ministério da Saúde formulou a Política Nacional de Atenção à Saúde Integral da Mulher envolvendo diversas questões como por exemplos: o atendimento qualificado, às especificidades de subgrupos populacionais (mulheres negras, presidiárias, etc.), a superação dos limites da saúde reprodutiva e sexual e a promoção da saúde da mulher. 1.3 Saúde do homem A Saúde do Homem têm demandas relacionadas às doenças de maior incidência, causas de morte as de reprodução cultural. A Portaria n. 1944 institui a Política Nacional de Atenção Integrada à Saúde do Homem (doenças crônicas, as relacionadas à violência e indicadores de menor expectativa de vida em relação às mulheres), buscando integração com as políticas das mulheres, adolescentes e idosos e o investimento e promoção e prevenção do homem na APS (atenção primária em saúde), evitando seu agravamento. 1.4 Saúde da criança Direito à Saúde e universalização pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, Lei n. 8069/90, que define os direitos da população até 18 anos (crianças entre 0 e 11 anos e adolescentes de 12 até 18 anos), quanto aos direitos fundamentais (vida e saúde, liberdade, dignidade e respeito, convivência familiar e comunitária, cultura, esporte e lazer, e, profissionalização e proteção no trabalho) e proteção, promoção e recuperação da saúde desde a gestação, com prioridade de atendimento em relação ao adulto, com exceção durante o período gestacional, ou seja, são ações transversais compreendendo mãe e filho. Em 2015, dado às demandas diversas, é instituído a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança - PNAISC com o objetivo de promover e dar proteção à criança e o aleitamento materno, com cuidados desde a gestação até os 09 anos, buscando reduzir a morbimortalidade. Também protegendo a criança em situações de violência, bem como dos adolescentes com fatores de riscos para a saúde, bem-estar e vida. Desde 2005, a Portaria n. 1.968, já prevê obrigatoriedade na notificação ao Conselho Tutelar para casos de maus-tratos (aspectos físicos, mental e social). 1.5 Saúde da Pessoa Idosa Expressa na premissa do envelhecimento saudável e ativo, há um conjunto de demandas nesta área: maior incidência de doenças, acompanhamento das doenças crônicas e tratamento de doenças, tendo como referencial o Plano de Madri (sob a ótica de sua contribuição para a sociedade) e o Estatuto do Idoso fundamentado pela Lei n. 14UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico 10.741/2003. Em 2006, é instituída pela Portaria n.2.528 a Política Nacional de Saúde à Pessoa Idosa, considerados ainda como grupos prioritários na implementação da Rede de Atenção à Saúde - RAS. 2. Por Tipos de Atendimentos: contempla os atendimentos na Saúde Mental, Saúde Bucal e Atenção Farmacêutica. 2.1 Saúde Mental Antes privilegiado pelo Internamento, a partir da Lei n. 10.216/2001 tem como modelo a atenção psicossocial, alinhada a direitos humanos, superação de preconceitos, reconhecimento (identidade, autonomia e participação), redefinindo o modelo de atenção anterior, focado em atendimento para reinserção social e o direito à convivência familiar e comunitária, bem como com novos espaços de atendimento por exemplos o ambulatório (hospital-dia) e os centros de atenção psicossocial (Caps). Essa Reforma Psiquiátrica rompe com o modelo anterior, o manicomial (ofertar cuidados, muitas vezes traduzidas em maus-tratos e controle de diferenças), envolvendo a reorganização dos hospitais e leitos psiquiátricos orientadas pela Portaria n. 251/2002, implementando o programa De volta pra Casa (reintegração social) e de novos espaços de saúde básica e ambulatorial, tipo o Caps, com fortalecimento na perspectiva de redes com a Portaria n. 3.088/2011, a Rede de Atenção Psicossocial - RAPS. Esse atendimento pressupõe ainda a reinvenção da cidadania, onde esses indivíduos são compreendidos como sujeitos sociais e políticos além da transformação epistemológica (processo de repensar, desconstruir e reconstruir conceitos), técnico-assistencial (organização e cuidados), jurídico-política (normalização dos termos) e sociocultural (abrange toda a sociedade). Esse modelo ainda é frágil e existem muitas resistências apesar do intenso movimento de luta antimanicomial. 2.2 Saúde Bucal O atendimento odontológico é feito em Unidades Básicas de Saúde - UBS, com equipes atuando no tratamento dentário além de promoção e prevenção. O Ministério da Saúde em 2003, lançou a Política Nacional de Saúde Bucal, estabelecendo diretrizes para as ações de promoção e proteção à saúde bucal (informação e água fluoretada) com perspectivas de recuperação, evitando o agravamento dos problemas de saúde e reabilitação (integral e parcial) com desenvolvimento em níveis destacando que o campo prioritário de atendimento é a APS, reconhecendo a especificidade da criança e adolescente, adultos, 15UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico idosos e gestantes, estabelecendo investimentos nos centros de referência de especialidades odontológicas - Creos em nível secundário e terciário de atenção, organizados de forma regionalizada para atendimentoscirúrgicos periodontais, dentística de maior complexidade, dentre outros, preservando a gratuidade e integralidade, disponibilizando inclusive, órteses e próteses, exames diagnósticos e medicamentos necessários. 2.3 Atenção Farmacêutica Apesar de muitos não saberem, todo cidadão tem direito à medicação para o seu tratamento e recuperação à saúde. Entretanto, não é a todo tipo de medicamento disponível em razão de livre escolha, mas atrelado a sua necessidade e disponibilidade nos diferentes níveis de atenção. Em 1971, é criada a Central de Medicamentos - Ceme, vinculado ao Ministério da Previdência e Assistência Social e após ao Ministério da Saúde. Inicia-se assim a distribuição de medicamentos, com diversas fragilidades como a falta de adequação à necessidades regionais, desperdícios de investimentos em alguns tipos de medicamentos, dentre outros problemas de logística e distribuição, lacunas para os medicamentos de alto custo, prazo de validade, etc. O novo formato composto pela Política Nacional de Medicamentos (Portaria n. 3.916/1998) e pela Política Nacional de Assistência Farmacêutica, de 2004, envolve todas as esferas e gestores alinhadas a diretrizes para os medicamentos relacionados a adoção de medicamentos essenciais, regulamentação sanitária, reorganização da assistência, promoção do uso racional e da produção, desenvolvimento científico, tecnológico e capacitação de recursos humanos, garantia de segurança, eficácia e qualidade desses medicamentos. Na revisão dos medicamentos essenciais, está a Rename disponibilizado a lista oficial, atualizando constantemente os medicamentos a partir da lógica do SUS. Em 2005 é criada a comissão Comare (Comissão técnica e multidisciplinar da Rename). Em 2017, por meio da portaria n. 1.897, é publicada a nova versão (classificação por níveis de complexidade e alfabética conforme recomendação da Organização Mundial de Saúde - OMS), substituindo a de 2014, com gestão compartilhadas entre as federações e/ou por tipo de componentes, compreendendo os componentes: básico (Cbaf), estratégico (Cesaf) e especializado (Ceaf), e insumos e uso hospitalar. Embora haja a fundamentação legal (cobertura universal, integral e de qualidade) o que vemos ainda é a negação do direito, a omissão dos gestores, o não acesso aos medicamentos e insumos, fazendo com que a população busque por meio de ações judiciais a exigibilidade de seu direito. 16UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico 3. Política Nacional da Humanização - PNH Proposta em 2003, tem como objetivo humanizar os processos de gestão e assistência na área da Saúde evidenciadas na implementação do SUS, propondo principalmente o fomento à comunicação entre os componentes humanos, no intuito de melhorar o processos, por meio de: princípios, métodos, diretrizes e dispositivos que servem de orientação para a prática dos princípios da Humanização, quais sejam (BRASIL, 2011d APUD HACK, 2019): 3.1 Princípios - transversalidade, indissociabilidade na atenção e gestão, protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos. 3.2 Métodos - tríplice inclusão, inclusão dos diferentes sujeitos, analisadores sociais e do coletivo. 3.3 Diretrizes - clínica ampliada, co-gestão, acolhimento, valorização do trabalho e trabalhador, defesa dos direitos dos usuários, fomento à grupalidades, coletivos e redes, construção da memória SUS que dá certo. 3.4 Dispositivos - Grupos de trabalho e Câmara Técnica de Humanização, colegiado gestor, contrato de gestão, escuta qualificada para usuários e trabalhadores da saúde, visita aberta, direito a acompanhante, programa de formação do trabalhador e comunidade ampliada de pesquisa, equipe transdisciplinar de referência e apoio matricial, projetos co geridos de ambiência, acolhimento com classificação de riscos, projeto terapêutico singular e de saúde coletiva, projeto memória do SUS que dá certo. De acordo com Hack (2019), os resultados pretendidos e alcançados na PNH está diretamente atrelada a Qualidade na prestação dos serviços da saúde, ou seja, visa diminuir filas e agilizar o atendimento, melhorar o fluxo de informação, maior resolutividade do serviço na área da saúde, melhores condições de vida para o trabalhador e para o usuário do serviço SUS, garantir os direitos dos cidadãos, dentre outras formas de melhorar continuamente a prestação dos serviços na área da saúde. As políticas públicas de saúde no Brasil estão relacionadas a diversos momentos históricos envolvendo descobertas científicas, a situação econômica e questões sociais, na qual a saúde do sistema Brasileiro passa por diversas fases, sendo modificada ao longo dos séculos e visando a sua qualificação até o momento que conhecemos hoje com a implementação do SUS (SOLHA, 2014). No nosso próximo Tópico, vamos continuar essa trajetória histórica, dando continuidade aos investimentos na área da saúde, e a criação dessas políticas, que se estabeleceram como prioridade, porém visando o desenvolvimento econômico, no século XX. 17UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico 3 SANITARISMO CAMPANHISTA DO INÍCIO DO SÉCULO XX De acordo com Oliveira (2016, p.1), no século XX, o Estado investiu em imunização para evitar o alastramento das doenças, ou seja, o Estado torna “a vacina obrigatória, cujas intervenções eram impostas com severidade, transformando-se em caso de polícia”. Além da preocupação em relação às exportações, a outra preocupação eram os imigrantes, utilizados como mão de obra escrava, pois o seu adoecimento interferiria diretamente no desenvolvimento econômico, principalmente nas regiões urbanas. Nesta época, as doenças como varíola e a hanseníase eram as que traziam maior atenção, por conta da forma de contágio, mas havia também a febre amarela e a malária. Neste sentido as intervenções do governo eram a partir de campanhas, imunização e controle sanitário, principalmente porque elas aumentavam devido às condições insalubres de moradia e no espaço de trabalho. Esse modo de intervenção autoritária ficou conhecido como modelo campanhista ou sanitarismo campanhista, devido às estratégias de atuação muito semelhante à atuação de campanha dos militares (HACK, 2019). Uma frase muito conhecida em nossos dias, e não obstante à época, era de que “os fins justificavam os meios”. De acordo com Polignano (2001) Apud Hack (2019, p.23), “o uso da força e da autoridade eram legitimados”, ou seja, o governo ordenava, e por força da rigidez da lei os agentes de saúde, munidos de poder de polícia entravam nas residências e vacinavam os moradores. 18UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico REFLITA Na história das políticas públicas prevalece os interesses de mercado, pois eles se so- bressaem às necessidades da população. E, permanece desta forma na atualidade? Fonte: a autora Segundo Hack (2019), uma das ações mais conhecidas historicamente foi a vacinação contra varíola em 1904, que ocorreu de forma compulsória, levando a uma revolta da vacina, na qual os cidadãos negavam-se a ser vacinados. E porque essa revolta? A explicação seria pela ignorância de que o processo de imunização poderia assegurar saúde às pessoas ou porque ocorria de forma totalmente desvinculada de um processo de educação? Ou por conta da falta de um esclarecimento sobre a necessidade desta imunização? Ou ainda, por causa das consequências deste procedimento? Nesta época, até mesmo para se conseguir um emprego, ser matriculado em uma escola ou habilitar documentos ou ainda viajar, era indispensável a apresentação da carteira de vacinação. Fato este, não diferente do que ainda ocorrem em algumas instituições de ensino de nosso país ou quando vamos viajar para um ou outro país. Com o movimento violento, segundo a Fiocrus (2005) Apud Hack (2019), a vacina deixou de ser obrigatória, mas apesar da queda, houvedemanda espontânea em anos posteriores a epidemia de Varíola se tornou grave. Ainda segundo Hack (2019): ● Em 1918 com a gripe espanhola, evidencia-se a fragilidade do sistema de saúde, na qual foi criada a Liga Pró-Saneamento buscando uma reforma pela saúde, pois se tornava um entrave para o desenvolvimento do País. ● Na mesma época, é criado o serviço de medicamentos para combater as endemias da época e fortalecer o ministério responsável pela gestão e, ● Em 1921 há a expansão dos serviços de saúde para o capital internacional. A atitude do Estado se torna mais agressiva principalmente quando há o contágio de Lepra e Tuberculose, cujas internações eram compulsórias, exigindo o afastamento do doente, levando-os à exclusão social, se traduzindo como desrespeito à dignidade humana. Registrava-se em alguns casos, fragilidades nos diagnósticos, levando pacientes a serem internados em Sanatórios, com diagnósticos de doenças mentais, por interesses privados, significando uma forma de controle da sociedade (HACK, 2019). 19UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico SAIBA MAIS O Hospital Colônia de Barbacena (MG) tornou-se conhecido como o “Holocausto Brasi- leiro”, dado às inúmeras violências e mortes ocorridas no estabelecimento. O livro tem como título: Holocausto Brasileiro: vida, genocídio e 60 mil mortes ocorridas no maior hospício do Brasil, e o documentário, de 2016,chama-se Holocausto Brasileiro. Fonte: HACK, 2019. 20UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico 4 MINISTÉRIO DA SAÚDE: CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO O Ministério da Saúde foi criado em 1953 por Getúlio Vargas, a partir da Lei n. 1920. Até então o Ministério da Saúde era parte do Ministério da Saúde, Educação e Cultura, com a finalidade de organizar e formular planos e programas voltados para a promoção, a prevenção e a assistência à saúde da população (OLIVEIRA, 2012). De acordo com Oliveira (2012, p. 37), os acontecimentos no âmbito da saúde, considerados significativos está relacionada à “criação do Ministério da Saúde em 1953 e a reorganização dos serviços de controle das endemias rurais” [...], pois eles são relacionados [...] “a política de saúde pública da prevenção de doenças transmissíveis” [...] e previdenciária, que era restrita aos contribuintes e seus dependentes. De acordo com Borges (2002, p. 3) até a década de 60, “a assistência à saúde caracterizou-e basicamente pelo modelo médico-sanitário com duas vertentes bastantes distintas”, sendo: 1 - epidemiológica - pautada unicamente no controle de doenças em escala social e, 2 - clínica - oferecer atendimento médico a quem fizesse parte do sistema previdenciário. De acordo com Oliveira (2012), o Ministério da Saúde já passou por diversas reformas, buscando sua estruturação. Em 1974, por exemplo, englobava as secretarias de Saúde e de Assistência Médica, passando a formar a Secretaria Nacional de Saúde. Com a exclusão de determinados segmentos da saúde no atendimento público e diversos problemas relacionados às questões econômico sociais, alguns profissionais se mobilizam, dentre eles, políticos, sindicalistas, etc., trazendo novas formas de pensar a 21UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico saúde pública, que se fortaleceu com o movimento sanitário da década de 70, denominado movimento sanitário, cujos principais locais destes eixos norteadores foram as universidades, onde a saúde era discutida criticamente. É nessa época, que as discussões giravam em torno da saúde pública do país, tratando sobre temas como a participação popular, a democratização das condições de trabalho, a humanização no atendimento, ou seja, buscar a resolutividade. Para Borges (2002, p. 5) “o subsistema público foi se tornando cada vez mais precário” e foi nesta base de conflitos que foram [...] “se fortalecendo os movimentos em defesa da reforma Sanitária” levando a “aprovação do SUS no final da década de 80”. Ainda segundo o Borges (op.cit.), o movimento da Reforma, buscou também a democracia, e foi com a realização do Simpósio Nacional de Políticas de Saúde em 1979, que se propuseram novas orientações na área da saúde, já pensando na integralidade e descentralização da saúde, porém não se priorizou essas novas propostas nesta época. Somente na década de 80, a partir da Constituição Federal de 1988, determinou-se que era o dever do Estado garantir saúde a toda a população, época, da criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Nos anos 80 e 90 se fortalece o processo de redemocratização do país acompanhado por profundas crises nas políticas em Saúde. Nessas décadas, segundo Campos (1997a) apud Borges (2002, p. 5), “a saúde funcionou dentro de um sistema plural, onde vários modelos diferentes de assistência conviveram - um subsistema público, um privado e um liberal”. Segundo Oliveira (2012), em geral, em programas de governo neoliberal, existe a crença de que o Estado deve ser mínimo. Desta forma, cada pessoa cidadã, deveria ser responsável pela sua saúde, afinal, é para isso que existem os planos de saúde e privados, cabendo ao Estado apenas demandas não atendidas pelo Mercado. No Brasil, temos as duas formas de prestação de serviços. Parte dela para o Estado, que assume geralmente os custos mais caros não cobertos pelos Planos de Saúde e parte para o mercado privado. Mas, a luta pela reforma sanitária, como aponta Fleury (1997) apud Borges (2002, p.5): [...] está intimamente ligada à democracia, na medida em que havia em suas propostas, formulações doutrinárias para o encontro de ideais igualitários e a tentativa de transformações das políticas públicas, através da regulamen- tação e responsabilização do Estado pela proteção à saúde dos cidadãos. Esta época ficou caracterizada por lutas pela democratização na área da saúde, principalmente, pela necessidade que a população tinha do acesso à saúde. 22UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico 5 LUTAS PELA DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO À SAÚDE Na década de 30, segundo Côrtes et al (2009, p. 41), o Conselho era mais um órgão consultivo do Ministério da Educação e da Saúde Pública, sendo somente na década de 90 que seu papel é redefinido como “palco central dos embates sobre a reforma do sistema brasileiro de Saúde [...] e [...] “se torna um canal para a representação dos interesses dos atores diante do Estado”. E, como foi essa evolução? De acordo com Borges (2002), diversas Conferências Nacionais de Saúde (CNS), instituídas pela Lei n.378 de 1937 em diante avaliam o desenvolvimento no campo da saúde. Em 1963, realizou-se a III CNS e nos movimentos se reivindicava o direito Universal a um Sistema de Saúde, buscando a melhoria do bem estar da saúde Brasileira. De acordo com Lopes (2019), a partir da década de 60 houve uma maior participação dos indivíduos da sociedade civil na política. Mas foi em 1986, antes da Constituição Federal de 1988, de acordo com Borges (2002) e Baptista (2007), na 8ª Conferência Nacional da Saúde que os principais temas foram abordados, dentre eles, o direito, a reformulação do sistema e o financiamento setorial, na qual a saúde passou englobando outras questões importantes como: as condições de alimentação, habitação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, lazer, dentre outras. Nesta época, de acordo com Baptista (2008, p.45-45) o cenário da década de 80: 23UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico [...] iniciou-se em clima de redemocratização, crise política, social e institu- cional do Estado Nacional. A área social e, em especial, a previdência social vivia uma crise profunda, assumindo medidas de racionalização e reestrutu- ração do sistema. No âmbito da saúde, o movimento da Reforma Sanitária indicava propostas de expansão da área de assistência médica e previdên- cia, intensificando os conflitos de interesse com a previdência social e envol- vendopoder institucional e pressões do setor privado. Segundo os autores, Côrtez et al. (2009, p.52), até a reformulação da década de 90, o conselho era considerando um “conselho de notáveis”. A participação da sociedade se deu em outros espaços, aparecendo em destaque a Comissão Nacional da Reforma Sanitária com representação da população e de trabalhadores da saúde, considerado um embrião da nova composição dos conselhos. Para Hack (2019), o êxito da população na CF de 1988 não está atrelado apenas ao direito à saúde, mas também à sua dimensão democrática, ou seja, à participação do cidadão na condução política do País, pois não se trata apenas de voto, e sim de democracia participativa (participação do cidadão na gestão pública) a partir da iniciativa popular, do plebiscito e do referendo. Isso significa Controle Social (elaboração, implantação e fiscalização) das Políticas Públicas. Segundo Lopes (2019), uma das formas de participação, já previstos em leis e políticas governamentais, são os conselhos gestores. Esses conselhos são formas institucionalizadas de participação da comunidade nas políticas públicas. De acordo com Cortês et al (2009), antes mesmo da promulgação da Lei n.8142, o antigo conselho de saúde, já não existia mais, o conselho continuou integrando o Ministério da saúde, porém, agora com caráter deliberativo. Sua regulamentação, segundo Hack (2019), de forma mais específica, ocorre em 1990, com a Lei de n. 8.142 com a criação dos Conselhos (espaços permanentes e legítimos de discussão e tomada de decisões de conselheiros, ou seja, decisões de caráter deliberativos, na área da saúde nos níveis Municipal, Estadual e Federal, com diversas competências conforme Resolução n. 333/2003 do CNS-Conselho Nacional de Saúde) e posteriormente com as Conferências em Saúde (encontros ampliados, com representantes governamentais e da sociedade civil - delegados). Nestas conferências é que são discutidas as políticas específicas e o desenvolvimento da política de saúde, com caráter deliberativo. 24UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico SAIBA MAIS O Cidadão pode participar das assembléias dos conselhos e das conferências em saú- de. Nestes espaços, entretanto, ele pode participar apenas como ouvinte, porém tem direito à voz quando quer expressar sua opinião, porém sem direito a voto. Fonte: a autora É importante salientar, conforme Lopes (2010, p.22), “para que o cidadão exerça sua participação, deve lutar organizadamente, pela divisão de responsabilidades dentro do governo, no intuito de instituir uma linguagem democrática não excludente” nesses espaços participativos. 25UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico CONSIDERAÇÕES FINAIS Logo no início desta unidade compreendemos um pouco mais sobre as definições de políticas públicas e políticas de saúde. Como pudemos perceber as políticas da saúde são parte integrante das políticas públicas, entendidas aqui como ações voltadas ao campo social orientadas pelas políticas de Estado que visam principalmente ao bem-estar público. Neste sentido, as políticas na saúde pública visam a promover, proteger e recuperar a saúde das pessoas em uma sociedade. Na área das Políticas Públicas em Saúde, você pode perceber, que ela se destina a públicos específicos como a mulher, o homem, as crianças e adolescentes, a pessoa idosa e indígenas, bem como promove o atendimentos voltados à saúde mental, bucal e farmacêutica, tanto na saúde básica, de atenção hospitalar, de atenção às Urgências, e de promoção à saúde, além das políticas de Humanização. Analisando o contexto histórico das políticas públicas, percebemos que desde 1808 com a colonização portuguesa no Brasil, já haviam ações voltadas à saúde pública, entretanto as intervenções eram no sentido de evitar o alastramento de doenças contagiosas, como por exemplo a varíola e a lepra. Neste sentido, as intervenções governamentais eram realizados por meio de campanhas, imunização e controle sanitário, de modo autoritário, ou seja, com uma atuação semelhante à campanha dos militares sendo conhecida como modelo campanhista ou sanitarismo campanhista. Até chegar ao modelo de saúde que conhecemos hoje, a saúde pública passou por diversas reformas, desde a criação do Ministério da Saúde, primeiro porque atuava unicamente no controle de doenças em escala social e porque oferecia atendimento médico a quem fizesse parte do sistema previdenciário, levando à uma precariedade da saúde individual para boa parte da sociedade. A reforma sanitária está relacionada à integralidade e descentralização da saúde e a democratização da sociedade, ou seja, a participação nas políticas públicas. Isto vem a englobar outras vertentes como as condições de alimentação, habitação, renda, meio ambiente, trabalho, dentre outros na área da saúde. Somente ao final da década de 80, com a Constituição de 1988, que se adota o modelo de seguridade social. Um Abraço e até a próxima Unidade! 26UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico LEITURA COMPLEMENTAR Segundo a Organização Pan-Americana (OPAS, 2003), os problemas de saúde mais recorrentes neste segmento populacional (Quilombolas) estão associados às desigualdades históricas que condicionam a pobreza e reduzem o acesso aos serviços de saúde. A luta do movimento negro possibilitou essa mudança de olhar. A Marcha Zumbi dos Palmares, ocorrida em 1995, resultou na criação do Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da População Negra. No ano seguinte, o Grupo de Trabalho realizou em Brasília a mesa-redonda intitulada “Saúde da População Negra”, que contou com a participação de cientistas, sociedade civil organizada, médicos e técnicos do Ministério da Saúde, cujo relatório final passou a fazer parte das bases conceituais sobre o assunto. Alguns anos depois, no âmbito do Ministério da Saúde, houve a criação do Comitê Técnico de Saúde da População Negra, por meio da Portaria nº 1.678/2004 e, posteriormente, foi instituída a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, por meio da Portaria nº 992/2009. No contexto específico das comunidades quilombolas, em 2006, o Ministério da Saúde (MS) garantiu o acréscimo de 50% nos valores repassados por equipes de saúde a municípios que atendessem populações quilombolas e de assentamentos de reforma agrária, conforme a Portaria nº 822/GM/MS, alterando os critérios de definição das modalidades da Estratégia Saúde da Família. As comunidades quilombolas também foram referidas em outros documentos, como na Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, em 2009, e na Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta, instituída pela Portaria nº 2.866/2011. Contudo, estudos apontam que os gestores municipais não compreendem o princípio da equidade do SUS (Sistema Único de Saúde), desconhecem a política específica para a população negra, além de não reconhecerem a importância do acréscimo de 50% dos valores repassados pelo governo federal aos municípios que registram atendimento às comunidades. O movimento negro, em especial o movimento quilombola, tem contribuído para dar visibilidade às comunidades. No entanto, por mais que a luta tenha avançado nos últimos anos, ainda há uma invisibilidade quanto à presença das comunidades nos serviços públicos de saúde. Esta falta de reconhecimento da presença destes grupos dificulta a construção de uma política pública de saúde que dê conta das especificidades, bem como impossibilita a busca dos recursos públicos para a construção desta política. Fonte: MELLO, W.F. Comunidades quilombolas e políticas de saúde. 2017. Texto extraído parcialmente: <https://terradedireitos.org.br/acervo/artigos/comunidades-quilombolas-e- politicas-de-saude/22602>. Acesso em: 15 nov. 2019. http://agenciapatriciagalvao.org.br/racismo_/negar-racismo-faz-psicanalise-brasileira-reeditar-sofrimento-psiquico-social-aponta-psicologa/?utm_term=Negar+racismo+faz+psicanalise+brasileira+reeditar+sofrimento+psiquico+social%2C+aponta+psicologa&utm_campaign=Jornalistas&utm_source=e-goi&utm_medium=emailhttp://agenciapatriciagalvao.org.br/racismo_/negar-racismo-faz-psicanalise-brasileira-reeditar-sofrimento-psiquico-social-aponta-psicologa/?utm_term=Negar+racismo+faz+psicanalise+brasileira+reeditar+sofrimento+psiquico+social%2C+aponta+psicologa&utm_campaign=Jornalistas&utm_source=e-goi&utm_medium=email 27UNIDADE I Políticas Públicas em Saúde: Definição e Histórico MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Políticas e Sistema de Saúde no Brasil Organizadores: Lígia Giovanella, Sarah Escorel, Lenaura de Vasconcelos Costa Lobato, José Carvalho de Noronha, Antonio Ivo de Carvalho Editora: Fiocruz Ano: 2008 Sinopse: Como desconhecer o que é a política de saúde, o que é o Sistema Único de Saúde (SUS), os determinantes sociais, as condições de saúde e as desigualdades do acesso no Brasil? Esta obra consolida o conhecimento crítico sobre o sistema de saúde brasileiro produzido ao longo dos últimos trinta anos. Ele inclui os eixos de análise individual/coletivo, clínico/epidemiológico e público/privado, além de congregar autores com experiência na gestão de serviços e do próprio sistema, nos três níveis da federação. FILME/VÍDEO Título: Políticas de Saúde no Brasil: um Século de Luta pelo Direito à Saúde Ano: 2006 Sinopse: Esse vídeo, feito pelo Ministério da Saúde, aborda de maneira leve, divertida e pedagógica, a história das políticas de saúde no Brasil, destacando os mecanismos que foram criados para a implantação do SUS. Sua narrativa central mostra como a saúde era considerada, no início do século XX, um dever da população, com as práticas sanitárias implantadas autoritariamente pelo Estado, de modo articulado aos interesses do capital, e como, no decorrer do século, através da luta popular, essa relação se inverteu, passando a ser considerada, a partir da Constituição de 1988, um direito do cidadão e um dever do Estado. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=L7NzqtspLpc> 28 Plano de Estudo: • Sistema Único de Saúde (SUS) • Antecedentes Históricos do SUS • Constituição de 1988 e a criação do SUS • Lei Orgânica da Saúde (LOS) nº 8.080/90 e nº 8.142/90 • Universalização do acesso à saúde: avanços e obstáculos Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar e contextualizar o Sistema Único de Saúde (SUS) • Conhecer os antecedentes e Histórico do SUS • Compreender como se deu a criação do SUS e a Constituição de 1988 • Conhecer os fundamentos da Lei Orgânica da Saúde • Compreender o princípio da universalização do acesso à saúde, os seus avanços e obstáculos UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) Professora Mestre Mirian Aparecida Micarelli Struett 29UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) INTRODUÇÃO Prezado (a) aluno (a)! Nesta Unidade iremos aprofundar um pouco mais o vosso conhecimento sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). Portanto, iniciaremos com a contextualização e os conceitos e responsabilidades no Sistema Único de Saúde (SUS), apresentando seus antecedentes históricos buscando compreender como se deu a sua criação e como a Constituição de 1988 corrobora para sua criação. Em seguida você irá conhecer os fundamentos da Lei Orgânica da Saúde (LOS) e compreender a relação entre a universalização do acesso à saúde, bem como dos avanços e obstáculos do SUS. Neste sentido, logo no início traçaremos uma visão geral do SUS, apresentando seus princípios e diretrizes, abrangência, responsabilidades e importância na Sociedade, bem alguns dos resultados obtidos após sua criação. Em seguida, traçaremos os antecedentes históricos do SUS que se inicia na saúde da Colônia e do Império, passando pela saúde na República, Institucionalização da saúde Pública e movimento sanitário culminando da Constituição de 1988 e na criação do SUS. A Constituição Federal é um grande marco para a população Brasileira e nela estão presentes alguns princípios fundamentais para garantir a Saúde das pessoas. Dando continuidade, conheceremos um pouco do que tratam as Leis 8080 e 8142 de 1990, cujas leis que irão proporcionar um melhor entendimento sobre como o SUS irá funcionar para atender aos objetivos propostos na Constituição Federal de 1988, sobre as políticas de saúde, a participação popular e repasses de recursos para o funcionamento do SUS. E, ao final desta unidade, trataremos sobre a Universalização da Saúde, apresentando os avanços e os obstáculos no Brasil, para o atendimento deste princípio fundamental. Portanto, prezado(a) aluno(a), desejo a você, uma boa leitura e aprendizado. 30UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) 1 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) De acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (CONASS, 2011), o Sistema Único de Saúde (SUS) é constituído por um conjunto de ações e de serviços de saúde gerenciado pela gestão pública. Ele é organizado em redes regionalizadas e hierarquizadas no Brasil inteiro, com direção única em cada esfera de governo, entretanto sua estrutura não é isolada quando se trata da promoção dos direitos dos cidadãos. Portanto as ações do SUS fazem parte do contexto das Políticas Públicas de Seguridade social (saúde, previdência e Assistência Social). Algumas correntes de pensamento tratam o Sistema Único de Saúde (SUS) como algo acabado e fazem comparações. Entretanto, ele não está acabado, pois se apresenta por princípios e diretrizes em contínua transformação. Neste sentido, Elias (2008, p.14) de maneira sintética descreve: O SUS são princípios e diretrizes. O SUS fundamenta-se em três princípios: universalidade, igualdade e equidade. A equidade como princípio comple- mentar ao da igualdade significa tratar todas as diferenças em busca da igualdade. As diretrizes do SUS são três: descentralização, participação da comunidade através dos Conselhos de Saúde e o atendimento integral, ou seja, prover as ações curativas e as ações preventivas necessárias. As ideias que construíram o SUS foram legitimadas da seguinte forma (BRASIL, 1988 Apud SOLHA, 2014, p. 15): A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações de serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 31UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) REFLITA A construção da saúde é de responsabilidade única do SUS ou de toda a sociedade? Para CONASS (2011) e SOLHA (2014), este dever deve ser cumprido nas três esferas do poder público (Federal, Estadual e Municipal) conforme estabelecido pela Lei n. 8080/90, em seu artigo 9º a direção deve ser única em cada esfera e deve contemplar a participação da comunidade na gestão do SUS relacionadas às transferências de recursos dentre outras providências conforme estabelecido pela Lei n. 8142/90, da qual trataremos nos tópicos seguintes, ainda nesta unidade. De acordo com Solha (2014, p. 15) “a construção da saúde não seria responsabilidade única do SUS, mas que todos os setores da sociedade devem participar ativamente [...] pois as condições de vida são fundamentais para elevar o nível de saúde das populações”. Em síntese, o SUS foi criado pela Constituição Federal (CF), também chamada de “Constituinte Cidadã” em 1988, e regulamentado pelas Leis n. 8080 e 8142 de 1990. As duas leis juntas foram a Lei Orgânica da Saúde (LOS), assunto que trataremos em outros tópicos desta unidade e nas próximas unidades deste livro. O SUS ao longo das últimas duas décadas, consolidou-se como a maior Política de Estado por promover a inclusão e justiça social. Portanto, o SUS deve ofertar a todos indistintamente “um conjunto de serviços sanitária e socialmente necessários, com base em protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas e por meio de amplo movimento de discussão envolvendo os gestores da saúde na Comissão Intergestores Tripartite e o Conselho Nacional de Saúde” (CONASS, 2011, p. 29). A partir das definições legais da CF e da Lei Orgânica da Saúde (LOS), iniciou-se o processo deimplantação do SUS pactuado ao Ministério da Saúde, CONASS e Conasems (Conselho Nacional das Secretarias Municipais). Todo o processo de construção do SUS, foi orientado pelas Normas Operacionais SUS (NOB-SUS) instituídas a partir de portarias ministeriais, para definição de competências em cada esfera e a forma de receber os repasses de recursos do Fundo Nacional da Saúde, a exemplo disto, foram criadas as NOB- SUS 01/91, NOB-SUS 01/92,NOB-SUS 01/93 e NOB-SUS 01/96. Já em 2001 e 2002 foram publicadas as NOB-SUS 01/01 e 01/02 da Assistência à Saúde. Essas normas têm como objetivos para o SUS: induzir/estimular mudanças, aprofundar/reorientar implementação e a definir objetivos (estratégicos, prioridades, diretrizes e movimentos tático-operacionais), regular as relações entre os gestores e normatizar (CONASS, 2011; SOLHAS, 2014). 32UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) SAIBA MAIS O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção da saúde. Conheça a estrutura, os princípios e funcionamento do SUS na sua íntegra, acessando o link a seguir: Disponível em: <http://www.saude.gov.br/sistema-unico-de-saude#o-que-e> A seguir, no próximo tópico, vamos conhecer um pouco sobre os antecedentes do Sistema Único de Saúde, que começa com a Administração Portuguesa no Brasil, demonstrando como era a saúde na época do Império, a saúde da República até a institucionalização da saúde pública, bem como do movimento da reforma sanitária até a criação do SUS. 33UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) 2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO SUS A Administração Portuguesa no Brasil no século XVIII, buscava o combate às causas das doenças, até então não se falava sobre saúde e sociedade, cuja finalidade médica e do Estado era evitar a morte. A partir do século XIX inicia-se um processo de transformação econômico-política no Brasil, nascendo a medicina social com duas características (reflexão e prática médica no meio urbano e apoio científico indispensável ao exercício do poder do Estado). Desta forma, efetivamente no século XX iniciam-se as Políticas Públicas, visando a enfrentar as questões sanitárias no país (CONASS, 2011): A Saúde na Colônia e no Império ● Com a vinda da Coroa Portuguesa, a saúde na colônia e no Império iniciaram-se na cidade do Rio de Janeiro, considerado como centro das ações sanitárias. Era necessário criar centros de formação de médicos. Por ordem real, iniciam-se as academias médico-cirúrgicas no RJ e na Bahia. ● Em 1829 foi criado a Junta de Higiene Pública, considerado ineficaz, em 1851 se transforma em Junta Central de Higiene Pública com objetivos de inspeção, vacinação, controle do exercício da medicina e a política sanitária da terra englobando inspeção de alimentos, farmácias, armazéns de mantimentos, dentre outros. 34UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) ● Até 1850 as atividades relacionadas à saúde pública eram relacionadas às atribuições sanitárias às juntas e o controle de navios e saúde dos portos, ou seja, controle mínimo do capital do Império. ● A junta não resolveu totalmente a saúde pública, mas marca uma nova etapa da higiene pública, mantida até século XIX. Esse período termina sem alcançar os efeitos desejados, ou seja, sem que o Estado viesse a solucionar os graves problemas de saúde. A Saúde na República ● Com a ideia de modernizar o Brasil, a Proclamação da República em 1889, vê a necessidade de atualizar economia/sociedade redefinindo os trabalhadores como capital humano, e neste contexto a medicina assume papel de guia para assuntos sanitários. Nesta época, o Brasil era mais rural e apresentava um contingente de 70% de analfabetos e doentes, com intensos conflitos entre capital e trabalho e no âmbito de políticas sociais, cabia aos Estados a responsabilidade da saúde, saneamento e educação. ● As políticas de saúde, com início final da década de 1910, buscava a consciência política sobre o modelo sanitário a ser adotado. No início do século XX, Rio de Janeiro, apresentava um quadro sanitário caótico com diversas doenças graves (varíola, malária, febre amarela e a peste), levando os navios estrangeiros a não quererem atracar no Porto do RJ. Exigia assim, uma intervenção Estatal nas questões relativas à saúde. ● A atenção para as epidemias da cidade, como a peste bubônica de 1899, no porto de Santos dá início a pesquisas no Instituto Soroterápico Federal, transformado posteriormente em Fundação Oswaldo Cruz e no Instituto Butantan-SP formando médicos com influência da pesquisa da França e Alemanha com concepção para doenças transmissíveis e propostas de ações na política pública. ● Outros nomes como Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Arthur Neiva e Vital Brasil, destacam-se rumo a Saúde Pública e criação de instituições com um ativo movimento de reforma sanitária sob a liderança de médicos higienistas com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) em 1920. ● Medidas de proteção social - assistência médica tem papel legal como política pública em 1923 com a aprovação da Lei Elói Chaves. Nesta época, os trabalhadores se organizavam para lidar com problemas de invalidez, doença e morte. 35UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) ● Cria-se as Caixas de Aposentadorias (CAPs), dando início a responsabilidade do Estado pela a regulação dessas concessões de benefícios e serviços e da assistência médica, sem no entanto participar diretamente do custeio das caixas, ou seja, era mantido por empregados e empregadores. Somente na década de 60, o rural é contemplado com a criação do FUNRURAL. Institucionalização da Saúde Pública ● A década de 30 (Governo Vargas) é um marco nas políticas sociais no Brasil. Em 1937, com a promulgação da nova Constituição reforça-se o centralismo e a autoridade (ditadura no Brasil) e na déc. 40 há a imposição de um Sindicato com exigência de pagamento de contribuição sindical. ● Em 1943 é homologada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e a massa assalariada é o ponto de sustentação política do governo e ao mesmo tempo criam-se a estrutura sindical do Estado. ● Em relação à Previdência Social, o antigo CAPs é substituído pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP). A principal mudança consistiu na criação do Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP), fazendo a prestação de serviços para os pré-cidadãos, ou seja, que não tinham emprego formalizado. ● Com a nova constituição de 1946, ainda no governo Vargas, inicia-se uma experiência democrática, com estrutura em múltiplos programas e serviços de campanhas e ações sanitárias, com novos contornos políticos/sociais até 1964. Alguns marcos constitucionais são: a criação do ministério da saúde em 1953 e a reorganização dos serviços do Departamento Nacional de Endemias Rurais em 1956, a campanha nacional (Lepra, malária, etc. )de 1958 a 1964, a 3ª conferência em saúde em 1963 (último evento da experiência democrática). ● No período militar (1964-84) houve o predomínio financeiro das instituições previdenciárias afetando profundamente a medicina previdenciária e saúde pública. ● Em 1966 as IAPs foram unificadas como Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), gerenciado pelo Estado e a saúde pública é relegada a segundo plano tornando-se ineficaz e conservadora, com atuação somente a campanhas de baixa eficácia e diversos problemas sociais (altas taxas de mortalidade, repressão política, recessão,etc). 36UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) ● Na década de 70, houve uma maior expansão da assistência médica, com a construção e reforma de clínicas e hospitais privados financiados pela Previdência Social, com enfoque na medicina curativa. Esses repasses tornaram-se fonte de corrupção. ● Em 1975 o modelo da ditadura militar entra em crise, por ter sido ineficaz em solucionar os problemas coletivos de saúde (mortalidade, endemias, epidemias, etc.), custos altos, redução de receitas, incapacidade de atendimento a todos os marginalizados (sem carteira), desvios de verba e não repasses da União para o sistema tripartite (empregador, empregado e união). Movimento Sanitário ● Marcado por movimentos sociais e denúncias da situação é discutido em Congressos, as doenças e degradação da qualidade de vida das pessoas. Em 1968 é incorporado à medicina preventiva nas faculdades, com a criação dos Departamentos de Medicina Preventiva (DMPs). ● Há uma forte crítica aos efeitos da medicalização, com a valorização da medicina tradicional, com programas alternativos de medicina comunitária focados na atenção primária realizado por pessoal não qualificado. ● Em 78 é discutida a elitização da prática médica, e o foco passa a ser a saúde coletiva. Houve um confronto teórico com o movimento preventivista liberal com diálogos reformista tendo como base conceitual correntes marxistas, já iniciada em 1974 com críticas do regime e ressurgimento de movimento estudantil, da anistia e do novo sindicalismo. ● O II Plano Nacional de Desenvolvimento(PND), denunciava a carência de capacidade gerencial e estrutura técnica no campo social (saúde, infraestrutura de serviços urbanos) culminando na criação do Conselho de Desenvolvimento Social (CDS) para a criação de políticas sociais e sua legitimação, porém acabou criando pessoas com pensamentos contrários em seu setor. ● No Governo Geisel (1974-79), houveram propostas ao movimento sanitário privilegiando a medicina curativa e detrimento à preventiva de interesse coletivo, propiciando assim novamente à corrupção (procedimentos cirúrgicos desnecessários com excessos de ações médicas para a promoção do superfaturamento). 37UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) ● No Governo Figueiredo, influenciado pelo II PND do governo Geisel pareceu mais promissor, entretanto não conseguiu concretizar a unificação dos Ministérios (previdência e da saúde) para alcançar resultados na reforma pretendida. ● Em 1980, criou-se o Programa Pró-saúde, chamada mais tarde de Prev-saúde (programa de atenção primária com atendimentos por nível de complexidade), porém sem mudar significativamente a rede hospitalar privada. Apesar do paradigma das reformas se incorporarem ao ideário do movimento sanitário, ainda havia uma forte contestação do sistema de saúde governamental, caracterizadas pelo apelo à democratização do Sistema, com participação popular, universalização dos serviços, etc. ● Em 1981 resultou o lançamento do pacote da previdência, com aumento de alíquotas de contribuição e, neste contexto, foi criado o Conselho Consultivo de Administração Previdenciária (CONASP) como organizador e racionalizador da assistência médica reorientando a assistência à Saúde com as ações integradas de saúde (AIS) por meio de convênios entre a maioria dos Estados e Municípios. Apesar de todos os problemas, significou um avanço na área ambulatorial, contratação de recursos humanos, articulação dos serviços municipais, revisão dos serviços privados e participação da população na gestão. No advento da Nova República, o movimento sanitário ocupa todos os espaços de discussão articulado com lideranças políticas. ● Em 1985, chega ao fim o regime militar e aumenta a liderança do movimento sanitário. ● Convoca-se a 8ª Conferência Nacional de Saúde(1986), com Sérgio Arouca, Presidente da Fundação Oswaldo Cruz, momento este de reformulação mais profunda no movimento de democratização da saúde e fortalecimento do sistema de saúde público, criando-se um documento base o conceito de saúde como “resultante das condições alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra e acesso aos serviços da saúde” (p.22). ● Ainda em 1986, ocorre a unificação do INAMPS com o Ministério da Saúde, na qual o setor saúde receberia recursos do INAMPS. Nesta Conferência, discute- se a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) como um novo arcabouço institucional com separação da saúde e da previdência. ● Com a Comissão da Reforma Sanitária, e a discussão sobre financiamento e operacionalização do SUS em 1987, criou-se o Sistema Unificado e 38UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) Descentralizado de Saúde (SUDS), considerado como estágio evolutivo da AIS, transferiria os recursos do INAMPS para os serviços do Estado, mediante convênio, no intento de fazer com que os recursos forem adequadamente direcionados. ● O SUDS consistiu em uma estratégia junto com a Comissão Nacional de Reforma Sanitária (CNRS), criada em 1986, para reorientar as políticas de Saúde e dos serviços, enquanto se desenvolvesse a nova Constituição para a elaboração da legislação deste setor. ● Desta forma, a CNRS elaborou proposta para subsidiar a nova Lei do SUS, combatida pelos representantes do movimento sindical como insuficiente, porém chega à Assembleia Nacional Constituinte como discutida, legitimada e completa, sendo aprovada pela Constituinte de 1988. Cabe lembrar, que antes da criação do SUS, o Ministério da Saúde desenvolvia promoção da saúde e prevenção de doenças (campanhas de vacinação e controle de endemias), beneficiando apenas a trabalhadores da economia formal e seus dependentes. Somente depois da CF de 1988 com a criação do SUS é que a saúde é reconhecida como direito universal, assunto que será tratado no próximo tópico com a Constituição de 1988 e a criação do SUS. 39UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) 3 CONSTITUIÇÃO DE 1988 E A CRIAÇÃO DO SUS Em 1988 é promulgada a 8ª Constituição do Brasil, considerada como marco fundamental na redefinição das Políticas de Estado na área da Saúde Pública e de grande relevância, na qual é definido o novo conceito de saúde, na qual para se ter saúde é preciso ter acesso também à alimentação, moradia, emprego, lazer dentre outros fatores. Como já descrito no nosso primeiro tópico deste livro, a definição de saúde, de acordo com o artigo 196 cita a saúde como “direito de todos e dever do Estado”, garantido mediante políticas sociais e econômicas “a redução do risco à doenças e outros agravos com acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação” (CONASS, 2011, p. 25). De acordo com FERREIRA (2008), a Constituição Federal de 1988 definiu como princípios do SUS: a Universalização, a Integralidade, a Descentralização, a Hierarquização e a Participação Popular. Assim, a CF em seu artigo 198, define as ações e serviços do SUS do seguinte modo (CONASS, 2011, p. 25): As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem em um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I. Descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II. Atendimento Integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III. Participação da comunidade. Parágrafo Único - O Sistema Único de Saúde será financiado, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos estados, do Distrito Fede- ral e dos Municípios, além de outras fontes. 40UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) Este texto, apresenta a concepção do SUS voltada às necessidades da população, buscando resgatar o compromisso do Estado com o bem-estar da população, consolidando-o como um direito de cidadania. Em 1989, e com novas negociações,é promulgada uma lei complementar servindo como base operacional à reforma e o início da Construção do SUS. Desta forma, as ações e serviços públicos de saúde e a contratação de serviços privados ou mediante convênio devem obedecer às diretrizes previstas no artigo 198 da CF de 1988 na qual seus princípios organizacionais e doutrinários estão relacionados às seguintes características (CONASS, 2011, p. 26): = Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; = Integralidade de assistência, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; = Equidade; = Descentralização político-administrativa com direção única em cada esfera de governo = Conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; = Participação da comunidade; = Regionalização e hierarquização. Sousa, Lima e Jorge (2016) Apud Busato, Garcia e Rodrigues (2019) categorizam os princípios do SUS em doutrinários (universalidade, integralidade, igualdade e equidade) e organizativos (descentralização, regionalização, hierarquização e participação da comunidade). SAIBA MAIS Um grande desafio se coloca historicamente para os anos futuros, porque a fragmenta- ção do Sistema SUS tem profundas raízes econômicas, políticas e culturais que o sus- tenta, onde a Saúde “como direito de todos e dever do Estado não foi sustentada”. Neste sentido, se o financiamento da saúde não foi contemplado, não conseguimos avançar nesta questão porque na constituinte haviam muitos economistas que eram contrários à vinculação de receitas. Disponível em: <http://www.conass.org.br/consensus/25-anos-da-constituicao-federal-brasileira-e-sus/> 41UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) 4 LEI ORGÂNICA DA SAÚDE (LOS): LEI DE Nº 8.080/90 E DE Nº 8.142/90 Ambas as leis são resultado de um longo processo histórico e social, que visam a interferir nas condições de saúde e na Assistência prestada à população Brasileira. O SUS criado pela Constituição é regulamentada por essas Leis, ou seja, desde a instituição dessas Leis, “o SUS vem passando por importantes mudanças em razão do processo de descentralização das responsabilidades, das atribuições e dos recursos estabelecidos pelos Municípios”(CONASS, 2011, p. 32). A Lei de nº 8.080 de 19 de setembro de 1990, aborda as condições para promover, proteger e recuperar a saúde, além da organização e o funcionamento dos serviços também relacionados à saúde. Essa Lei determina em seu art. 9º a direção que o SUS deve tomar, neste caso, a direção deve ser única em cada esfera de governo conforme Inciso I do artigo 198 da Constituição Federal. Por esfera entende-se, o poder público federal (Ministério da Saúde), estadual e municipal (Secretaria da saúde). Trata-se também da organização, direção e gestão do SUS, da definição de competências e atribuições, do funcionamento e participação complementar dos serviços privados de assistência à saúde, da política de recursos humanos e recursos financeiros, gestão financeira, planejamento e orçamento (SANTOS; CARVALHO, 2018). No Art. 5º da Lei nº 8.080/90 são apresentados os objetivos do SUS e no Art. 6º o campo de atuação do SUS, quais sejam (BRASIL, 1990a): 42UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS: I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; II - a formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos eco- nômico e social, a observância do disposto no § 1º do art. 2º desta lei; III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas. Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS): I - a execução de ações: a) de vigilância sanitária; b) de vigilância epidemiológica; c) de saúde do trabalhador; e d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica; II - a participação na formulação da política e na execução de ações de sa- neamento básico; III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde; IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar; V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho; VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobioló- gicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção; VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de inte- resse para a saúde; VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo humano; IX - a participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guar- da e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; X - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico; XI - a formulação e execução da política de sangue e seus derivados. Conforme o art. 14-A e 14-B da Lei n.º 12.466/2011, complementar à Lei nº 8080/90, são reconhecidos como fórum de negociação e pactuação entre gestores quanto aos aspectos operacionais as Comissões (Bipartite e Tripartite) e reconhecidos como entidades representativas do ente Estadual o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e ente Municipal, o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), cujas entidades receberão recursos do orçamento geral da União por meio do Fundo Nacional de Saúde. O Decreto n. 7.508 de 28 de junho de 2011, regulamenta a Lei 8080/1990. Já a Lei de nº 8.142 de 28 de dezembro de 1990, aborda a participação da população na gestão do Sistema Único de Saúde e as transferências de recursos da área de saúde entre os governos, na qual são instituídas as instâncias colegiadas e os instrumentos de participação social em cada esfera de governo e os recursos financeiros recebidos mediante existência de Conselho Municipal de Saúde, e de acordo com a legislação (SANTOS; CARVALHO, 2018). De acordo com CONASS (2011, p. 27), O SUS conta em cada esfera de governo com as seguintes instâncias colegiadas de participação social: “(i) Conferência de Saúde e (ii) Conselho de Saúde”. Bem como conta com a “Conferência Nacional de Saúde (CNS) 43UNIDADE II Sistema Único de Saúde (SUS) realizada a cada quatro anos”, com diversos representantes de diversos segmentos sociais com os objetivos de avaliar a situação de saúde e propor diretrizes para a formulação de políticas de saúde. Desta forma, os conselhos participam das políticas públicas de saúde, atuam independente do governo e manifestam diferentes interesses e segmentos, possibilitando negociação das propostas e direcionamento de recursos por distintas prioridades. A representação dos participantes deve ser paritária no percentual de 50% aos usuários, em relação ao conjunto dos demais segmentos (trabalhadores da saúde, representação de governo, de prestadores de serviços privados conveniados, ou sem fins lucrativos, dentre outros) e sua organização e normas de funcionamento devem ser definidas por regime próprio após aprovação (CONASS, 2011; SANTOS; CARVALHO, 2018). Em atendimento ao parágrafo 2º da Lei nº 8.142/90, o Conselho de Saúde atua em caráter permanente e deliberativo e é composto por diversos representantes para atender ao objetivo proposto, ou seja, para atuar na formulação de estratégias e para controlar a execução da política pública de saúde em todas as instâncias, inclusive as relacionadas aos aspectos financeiros e econômicos. A homologação das decisões deve ser realizada pelo Chefe do poder legal de cada esfera (BRASIL, 1990b). Os recursos para cobertura das ações e serviços serão repassados de forma regular e automática à todas as esferas de acordo com os critérios estabelecidos no art.
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