Buscar

Fenomenologia_introdu__o (2)

Prévia do material em texto

Psicologia Existencial e Humanista
Prof. Renato Cezar Silvério Júnior
Fenomenologia
Conceitos básicos
Pai da Fenomenologia
Edmund Husserl
Biografia:
Nasceu na Morávia (na atual Eslováquia) em abril de 1859;
Estudou em Berlim, preocupando-se primeiramente com Matemática, depois com a Filosofia;
Era judeu, mas converteu-se ao cristianismo protestante;
Suas principais obras foram publicadas no início do século XX, abrindo uma nova metodologia de reflexão filosófica, a Fenomenologia;
Morreu em 1938. Além das obras publicadas, há milhares de manuscritos taquigrafados, ainda sendo traduzidos. Ou seja, sua obra ainda não está totalmente publicada.
Objetivos de Husserl
Na época de Husserl, o conhecimento científico era a grande promessa de encontro de um saber verdadeiro sobre o mundo;
O filósofo pretendia dar uma consistência maior à filosofia de sua época, inspirando-se nas buscas científicas. Essa busca por exatidão atravessou toda sua obra;
A razão era problematizada pela filosofia da época. Eles buscavam fundar a base dessa racionalidade, para assim poder criar um conhecimento sólido, que pudesse ser considerado verdadeiro e universal;
Antes de conhecer melhor Husserl, precisamos ver qual o contexto de pensamento no qual ele vive.
https://www.youtube.com/watch?v=Yg71wYf-mg4&t=278s 
Racionalidade
Será possível obtermos um conhecimento verdadeiro e universal sobre algo?
Qual é a base da verdade?
Duas posições
;
Objetivismo
1. Existe um mundo real, independente do sujeito que o percebe, e que é verdadeiro em si mesmo. Todo erro é causado pelo sujeito, e é a razão que consegue chegar à verdade. Objetivo seriam os fenômenos que não dependem do sujeito, cujas características independem dele
Subjetivismo
2. Não há certeza sobre a existência de um mundo real, já que só temos acesso a ele por meio da forma como o percebemos. Assim, a única verdade existente é aquela. Cada pessoa pode perceber os fenômenos à sua maneira, sem garantias de que, para o outro, ele seja igual. 
Qual o fundamento de todas as coisas?
Para tal questão, geralmente há duas concepções:
Materialismo: Tudo é matéria, e todos os fenômenos se devem ao encadeamento material das coisas entre si;
Idealismo: Tudo é ideia, só podemos ter certeza das ideias que povoam nossa mente;
Há ainda o dualismo: Autores que creem na existência de dois universos de fenômenos, totalmente irreconciliáveis – o universo da matéria e o universo da ideia (mente). Entretanto, o pensamento dualista leva a um problema: se existem os dois, pode-se dizer que eles interagem entre si, ou não?
Dualismo interacionista: há interação entre mente e corpo;
Dualismo paralelista: Não há interação direta entre mente e corpo
Qual o fundamento de todas as coisas?
Sujeito
Objeto
Observação
O que realmente percebemos?
Uma imagem psíquica, uma ideia?
Vemos a coisa em si?
Eles são diferentes ou iguais?
A traição das imagens
Magritte, 1929
Hegel: Filósofo alemão, ele foi o criador da dialética, método pelo qual se poderia alcançar a Racionalidade Perfeita, como ele chamava, o “Espírito Absoluto”. Influenciou durante anos a filosofia e influenciou o pensamento marxista, que foi adotado na época pelo Comunismo (criando uma dialética não mais idealista, mas materialista). 
A Filosofia do final do século XIX
Schopenhauer: Outro grande pensador alemão, é considerado um dos influenciadores do Existencialismo. Sua Filosofia pregava um retorno ao Indivíduo. Ele enfoca a apropriação subjetiva da realidade, na existência humana. (Idealismo Subjetivista)
Positivismo: Comte
Filósofo Francês, diz que não se deve pesquisar as causas dos fenômenos (Deus ou natureza), mas suas leis, que são as relações constantes entre seus elementos. É o paradigma mais influente na ciência, ainda hoje (Materialista e objetivista).
objetividade
subjetividade
Positivismo
Salienta a objetividade do conhecimento
Elimina o caráter humano;
Busca a universalidade do conhecimento.
Psicologia Experimental
Três teorias sobre o conhecimento
Quando observamos algo, falamos sobre algo, estamos tratando de objetos reais? Podemos realmente nos comunicar, de modo que o que eu vejo e sobre o que falo é acessível ao outro? O sentido que dou à minha existência pode ser compreendido pelos outros?
Três posturas filosóficas:
Objetivismo: Sim, existe um mundo real, independente do sujeito, acessível a todos através da razão, que apaga as distorções subjetivas. É a posição do Positivismo de Comte, que se esquece do papel do sujeito, ou seja, de nossa forma particular de perceber;
Subjetivismo: Não, tudo o que eu vejo e compreendo depende da minha vida privada. É o pensamento que diz que tudo depende de como pensamos, e das coisas que se passam em nossas cabeças. A objetividade seria uma ilusão.
Historicismo: Essa postura é uma alternativa às outras duas. O que eu penso não depende de mim, mas do contexto em que vivo (a época e o lugar). Para estes, algo só é verdadeiro para determinado contexto histórico, e não há nada que seja universal. Questiona tanto o objetivismo quanto o subjetivismo.
Essas três posições são criticadas por Husserl, que as considera reducionistas, já que assumem um dos pontos como verdadeiro, considerando os outros falsos.
De onde então surge a verdade?
Como temos certeza de que estamos realmente vendo algo, ali, fora de nós, diferente e independente de nós?
Para Husserl, não dá para desconsiderar:
Sujeito
Objeto
Observação
O subjetivo
O Fenômeno objetivo
O Contexto
O que é um objeto?
Vamos fazer agora um exercício. Olhe para este objeto, e tente dizer o que ele é, na sua realidade mais verdadeira e completa.
Podemos observar o objeto atentando para as percepções: sensações, a cor, o formato, a textura, a temperatura. Essa descrição relaciona-se ao método de Wundt, pai da Psicologia científica;
Podemos analisar sua função, fazer uma teoria sobre o objeto;
Podemos também fazer uma análise subjetiva, através das associações de ideias com relação às vivências internas do sujeito.
Tais formas de descrever o objeto sempre deixam algo de fora:
ou o sujeito que o percebe,
ou o objeto enquanto este existe independentemente, 
ou a percepção que se tem deste.
14
Fenomenologia
A intenção de Husserl era criar uma filosofia que fosse a base da ciência, que conseguisse chegar a uma forma de conhecimento que fosse verdadeira e universal, além de completa;
A visão fenomenológica busca descrever o objeto tal como ele nos aparece, ou seja enquanto fenômeno. Estuda o objeto e busca nele sua essência, aquilo sem o qual o objeto não seria objeto.
LEMA:
“Retorno às coisas mesmas”
Não à sensação da coisa
Não à teoria da coisa
Não à ideia da coisa
O fenômeno atravessa os três
Essência
Geralmente, quando percebemos algo, não nos perguntamos sobre a essência daquilo que vemos
Por exemplo, quando você vê um copo. Parece óbvio o que ele é e para que serve. Entretanto, quando tentamos defini-lo, acabamos ou falando do que ele é feito, ou para que serve, ou como são suas características. Mas isso não é o que o copo é realmente
Ou seja, toda vez que olhamos para algo, acabamos presos em pré-concepções, preconceitos, teorias, e deixamos de ver a coisa mesma
Fenômeno e consciência
Fenômeno é aquilo que se dá a uma consciência, aquilo que se mostra
A consciência é considerada o modo mais humano de nossa presença no mundo. Temos consciência do mundo e das coisas, ou seja, eles aparecem para nós como portando um sentido, mesmo quando não sabemos qual sentido é esse
Ele, sentido, é sempre um objeto tal como é percebido por alguém
Fenômeno: A coisa mesma
Sujeito
Consciente
Objeto
Observação
A questão toda está aqui. Quando vemos um objeto, nós simplesmente recebemos a luz que o ilumina, atravessando nossos olhos e atingindo a região visual no cérebro? Somo PASSIVOS na percepção?
O que a Fenomenologia responde é que não! A consciência é ATIVA na percepção. O homem olha para o objeto. Há uma intenção no ato de consciência! Essa intençãoé algo a mais que se acrescenta na percepção.
INTENCIONALIDADE
Intencionalidade
Este é o conceito chave da Fenomenologia. Ele descreve o ato de atribuir um sentido, pela consciência, ao fenômeno
É a intencionalidade que liga a consciência ao objeto, ou seja, o sujeito ao mundo
A intencionalidade é o que une objeto a consciência tornando consciência e objeto em uma unidade indissociável e estabelecendo a existência de ambas na/em relação
Por isso escrevemos sempre que será um objeto-para-uma-consciência e uma consciência-para-um-objeto
É através da análise da relação intencional que se pode chegar à essência do fenômeno
Ato de atribuir sentido
Intencionalidade
A consciência é sempre intencional
A junção da consciência com o objeto formam uma unidade indissociável. Desta unidade, obtemos o fenômeno
“A intencionalidade é, essencialmente, o ato de atribuir um sentido; é ela que unifica a consciência e o objeto, o sujeito e o mundo. Com a intencionalidade há o reconhecimento de que o mundo não é pura exterioridade e o sujeito não é pura interioridade, mas a saída de si para o mundo que tem uma significação para ele.” (FORGHIERI,2001, p. 15).
Nesta perspectiva, Husserl acreditava que as vivências são intencionais e na intencionalidade que encontra-se a consciência. 
Bello, p.14, 2006
Método Fenomenológico
O método fenomenológico é denominado de análise intencional
Essa forma de análise visa esclarecer a essência da relação entre o sujeito e seu objeto, mostrando então seu sentido
Para isso, ela realiza o que se chama de redução fenomenológica
Método Fenomenológico
É chamado de redução fenomenológica, ou epoché
Deve-se seguir os seguintes passos:
Negar tudo aquilo que não pode ser confirmado como absolutamente verdadeiro ou falso;
Fazer a intuição originária do fenômeno, na vivência imediata (ver o que é essencial para se definir o que o objeto é);
Porque esse método é tão difícil?
Husserl fala que vivemos na Atitude Natural: temos uma ideia cristalizada de que o mundo existe dessa forma mesma que a gente pensa, independente de nós mesmos (e de nossas crenças e preconceitos)
Ignoramos que é a consciência que dá sentido ao mundo
COLOCAR ENTRE PARÊNTESES
Método Fenomenológico
Atitude
Fenomenológica
Considera a totalidade do fenômeno na relação do objeto com a consciência dele, mostrando como se revelam suas significações.
Não há como eliminar a atitude natural, mas ela deve ser colocada de lado, “entre parênteses”, como se disséssemos – E se isso não for verdadeiro?
Junto com ela, deve-se colocar:
Teorias;
Preconceitos;
Ciência;
A consciência como sendo independente do mundo.
Psicologia Fenomenológica
As descrições fenomenológicas formam a base para o desenvolvimento de uma Psicologia Fenomenológica, pois possibilita formar um conhecimento verdadeiro e universal através da observação da vivência mais concreta do homem
Alguns resultados da reflexão fenomenológica
Psicologia dentro da Atitude Natural
O psicólogo olha para as vivências do paciente, presentes e passadas
Também dá atenção para suas prospecções (suas ideias sobre seu futuro)
Através disso, ele cria teorias, visando correlacionar essas visões e buscar uma explicação para o comportamento
Psicologia dentro da Atitude Fenomenológica
Coloca todo fato ou explicação entre parênteses
Reflete sobre o que é variável na existência da pessoa
Chega ao que não varia, à essência de seu comportamento, ou seja, seu sentido mais íntimo
Alguns resultados da reflexão fenomenológica
Camada superficial: preconceitos, hábitos irrefletidos
Camada intermediária: conceitos, teorias frutos da reflexão
Camada profunda: a essência do fenômeno, o pré-reflexivo.
No que se baseia o pré-reflexivo?
Para se referir ao pré-reflexivo, ou seja, à camada de vivência mais originária, anterior à toda reflexão, Husserl fala do “Mundo da Vida” (Lebenswelt). É a Vivência Imediata da consciência, em seu contato mais íntimo com o mundo, o agora-vivo. É desse ponto que se deve partir toda reflexão sobre o objeto.
Ou seja, o que pensamos das coisas, quando as observamos, não é o imediato (a experiência primeira). Ele está contaminado por nossa atitude natural, ou seja, o vemos como sempre tendo estado ali, cheio de teorias que explicam o porquê ele é assim. Não percebemos o sentido inicial do contato que temos com ele
Para resolver isso, a atitude fenomenológica coloca entre parênteses todos esses hábitos e teorias, deixando aparecer a experiência imediata
Pensamentos, Representações e Juízos
Vivência imediata
O início da ciência é a intenção do cientista, em relação a um problema da vivência cotidiana
Alguns resultados da reflexão fenomenológica
Contribuições da Fenomenologia para a Psicologia
O método fenomenológico visa atingir a camada originária (primordial, primeira) da relação do sujeito com o mundo e com o outro, buscando um conhecimento universal que surge da vivência concreta
Assim, em vez de se construir primeiramente um conhecimento teórico sobre o sujeito, é preciso primeiro destacar a essência de nossa relação com o mundo
Resumo: Fenomenologia
A Fenomenologia é um método, que visa compreender, e não explicar, a experiência da consciência em sua relação com o mundo
A relação da consciência com o mundo se dá na intencionalidade, ou seja, o ser humano não é uma máquina movida por um mecanismo, ele move-se (tem uma intenção), seu comportamento tem um sentido em sua vida
O que a Fenomenologia foca é a relação entre a consciência (que se dirige ao mundo) e o objeto (enquanto fenômeno, ou seja, algo que também se mostra para a consciência). Ela foge da teorização da experiência
A redução fenomenológica visa apreender a essência da experiência, ou seja, seu sentido mais originário
A experiência é compartilhada, ou seja, algumas experiências são divididas com outras pessoas
O guardador de rebanhos
Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa

Continue navegando