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Psicologia Existencial-Humanista - Antecedentes e Fenomenologia (Aula 1)

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PSICOLOGIA EXISTENCIAL-HUMANISTA – Prof. Renata Sigaud 
Aula 1 – Antecedentes da Fenomenologia 
Objetivos 
• As influências que Edmund Husserl recebeu das idéias de Franz Brentano, Carl Stumpf, etc; 
• Estabelecer uma contextualização histórica entre a psicologia proposta por Wundt daquela não-wundtiana; 
• Apresentar como os elementos destes debates contribuíram com a formação da fenomenologia e como isso influenciou outras formas de 
psicologia daquela proposta inicialmente por Wundt. 
 
Bibliografia 
• Capítulo 1 do livro: Fenomenologia de David Cerbone. 
• PEIXOTO, Adão José. Os sentidos formativos das concepções de corpo e existência na fenomenologia de Merleau-Ponty. Revista da 
Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies, v. 18, n. 1, p. 43-51, 2012. 
• Artigo: Fenomenologia transcendental e a psicologia fenomenológica de Edmund Husserl. Disponível em: 
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912018000300004 
• Artigo: STRUCHINER, Cinthia Dutra. Fenomenologia: de volta ao mundo-da-vida. Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological 
Studies, v. 13, n. 2, p. 247-251, 2007. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/3577/357735556015.pdf 
 
Introdução 
• Antes de darmos início aos conceitos da Fenomenologia é preciso entender o seu surgimento e o tempo da história. Como qualquer 
conceito novo, a fenomenologia surgiu a partir de transformações sociais do Século XX e que trouxeram a necessidade de uma nova 
forma de compreender o comportamento e os processos psíquicos. 
• A fenomenologia propõe uma nova forma de compreender o processo de aquisição de conhecimento, bem diferente do pensamento 
moderno marcado pelos trabalhos de filósofos como Descartes, Locke e Bacon. 
• Edmund Husserl elaborou os fundamentos da fenomenologia num contexto (final do século XIX e início do século XX) de profundas 
mudanças intelectuais e de difusão das ciências humanas. Este contexto foi de grande influência para a dicotomia corpo/alma, 
sujeito/objeto, consciência/mundo, estabelecida de um lado pelo racionalismo e, de outro, pelo empirismo. 
• Também era predominante nesse contexto a crença positivista no cientificismo, crença que acredita ser a ciência a solução para todos os 
problemas da humanidade; e crença de que todo conhecimento para ser científico precisa ser neutro. 
 
Filosofia – Século XVI e XVII 
• Busca da verdade única. 
• Positivismo – necessidade de contestar, de questionar tudo para confirmar ou refutar hipóteses. 
• Bacon (1561-1626): a importância da observação, como forma de combater erros e preconceitos – nova maneira de investigação. 
• Bacon – a busca da causa dos fenômenos (Por quê?) 
• Galileu (1564-1642) – a importância do experimento para testar hipóteses. 
• A confirmação das hipóteses gera uma lei. 
 
Racionalismo 
• Descartes – o método dedutivo. (O Discurso do Método, 1636) 
• O racionalismo afirmava que o conhecimento verdadeiro é o que surge do sujeito. Descartes elegeu a dúvida como método e submeteu 
tudo ao seu crivo. 
• Descartes acredita na existência das ideias inatas, ideias que têm sua origem na razão e são independentes dos sentidos. São inatas 
porque são resultantes da capacidade do homem de pensar, compreender, interpretar e transformar o próprio homem e as coisas. O 
critério da verdade é, portanto, a razão. 
• Análise – partir o problema em seus componentes mais simples. 
• Experiência (fenômeno) como dado não confiável. 
• Objetivo: separar aquilo que é universal e que se repete, porque isso é passível de generalização e seria, portanto, confiável. Para 
Descartes é somente através da racionalidade que se pode chegar a um conhecimento confiável. 
• O conhecimento mediado pelos sentidos corporais é considerado um conhecimento suspeito por ser particular, variável, e é considerado 
um conhecimento contaminado pelas paixões. É um conhecimento que advém da ação dos órgãos de sentido e tende a ser ilusório. 
• Daí, a necessidade do método, justamente como uma operação pela qual a razão corrige essa experiência ilusória. Tem com objetivo 
filtrar a experiência sensorial através do crivo da razão. 
• Trata-se de fazer com que essa subjetividade transcendente se sobreponha à subjetividade empírica. 
 
Mecanicismo 
• Mecanicismo: conceito de que tudo no Universo funciona como uma grande máquina. Sua origem remonta à física de Galileu Galilei 
(1564- 1642) e de Isaac Newton (1642-1727). 
• A relação do Mecanicismo com a Psicologia se encontra na ideia de que,a partir do conhecimento dos elementos básicos dos processos 
mentais e ou comportamentais e de sua respectiva organização, é possível mensurar o fenômeno, descrevê-lo e predizer seu 
funcionamento adequado ou não. 
 
Determinismo 
• Determinismo: noção de que pode-se prever com exatidão qualquer evento, a partir do um conhecimento de leis imutáveis que 
governam os fenômenos físicos e de suas condições iniciais. 
“Podemos considerar o presente estado do universo como resultado de seu passado e a causa do seu futuro. Se um intelecto em certo 
momento tiver conhecimento de todas as forças que colocam a natureza em movimento, e a posição de todos os itens dos quais a natureza é 
composta, e se esse intelecto for grandioso o bastante para submeter tais dados à análise, ele incluiria numa única fórmula os movimentos dos 
maiores corpos do universo e também os do átomo mais diminutos; para tal intelecto nada seria incerto e o futuro, assim como o passado, 
estaria ao alcance de seus olhos.” Pierre-Simon Laplace (matemático 1749-1827) 
 
Empirismo 
• Locke (1632-1704) – empirismo (Ensaio sobre o Conhecimento Humano, 1695) 
• Tabula rasa - mente como papel em branco ao nascer. 
• Questiona se podemos aceitar qualquer conhecimento com base na evidência introspetiva. 
• Experiência sensorial como a única fonte confiável de conhecimento. 
• Acusa a crença em ideias inatas de ser inútil e enganadora. 
• John Locke ainda influenciou a Psicologia com outros conceitos, tais como a Teoria do Associacionismo e as ideias simples e complexas. As 
ideias simples podem ser entendidas como sensação ou reflexão, são elementares, e possuem a característica de serem recebidas 
passivamente pela mente. Já as ideias complexas são derivadas da combinação de ideias simples, criadas pela mente de forma ativa 
(SCHULTZ, 2005). Deste processo de combinação de ideias simples em complexas decorre a Teoria da Associação, noção primeira para a 
ideia de aprendizagem, muito utilizada pela Psicologia Científica. 
 
Positivismo 
• O Empirismo também influenciou a metodologia de construção do conhecimento científico que nascia na época. Segundo essa noção, só 
é válido o fato passível de verificação objetiva. 
• Principal representante: Auguste Comte (1798-1857). Segundo este filósofo, o conhecimento válido seria aquele passível de observação 
empírica. Qualquer ideia pautada na metafísica, na especulação ou na religião deveria ser ignorada, visto que não sustentava ou levava ao 
entendimento dos fatos reais. De acordo com o Positivismo, a sociedade científica é considerada a mais evoluída, onde o progresso social 
somente é possível por meio do conhecimento científico, único válido. Neste viés, a Matemática deveria pautar toda construção de 
conhecimento, que deveria ter a função de explicar os fenômenos por meio de Leis Gerais. 
• Para o positivismo, o conhecimento verdadeiro é o conhecimento neutro, objetivo e empiricamente comprovado. É neutro porque o 
conhecimento, para ser considerado verdadeiro, não pode ter a influência da subjetividade. Os próprios fenômenos sociais devem ser 
tratados como física social; é objetivo porque se refere aos dados imediatos da experiência, em oposição à metafísica; é empiricamente 
comprovado porque é o que pode ser testado, medido, quantificável. Assim, o conhecimento científico é o que se caracteriza pela certeza 
sensível de uma observação sistemática; relaciona os fenômenos a princípiosque permitem combinar as observações isoladas; investiga 
os fenômenos procurando suas relações constantes de concomitância e sucessão, suas leis; é capaz de prever e controlar fenômenos para 
a instituição de um estado científico. 
Mas por que contamos toda essa história antes de chegarmos a Fenomenologia? Para compreendermos que o questionamento de Husserl era 
tão antigo, quanto dos filósofos e pesquisadores dos Séculos XVI e XVII. Ele fazia o seguinte questionamento: “como pode o conhecimento estar 
certo de sua consonância com as coisas que existem em si, de as ‘atingir’?” 
 
Husserl (1859 – 1938) 
• "Com toda a seriedade, sou da seguinte opinião: não existiu nunca, nem existirá jamais, uma ciência objetiva do espírito, uma doutrina 
objetiva da alma, objetiva no sentido se atribuir às almas, às comunidades pessoais, inexistência ["existência em"] nas formas da espaço-
temporalidade". 
 
 
Resumindo 
• Existiram 3 vertentes na modernidade (filosofia): 
➢ Realista: primado do objeto. Objeto em si mesmo, apreendido pelos sentidos. 
➢ Idealismo: primazia do sujeito, da mente, das ideias. Correspondência S-O se estabelece pelas ideias. 
➢ Kant: procura superar esse impasse. Tenta entender qual é a contribuição de um e de outro, redistribuindo as funções. Institui um 
meio termo. O conhecer como um trabalho conjunto: apreensão sensível + intelecto, resultando em uma síntese. Daí vem a noção 
da relatividade do conhecimento -> FENÔMENO. Realidade condicionada às estruturas lógicas. 
Importância da noção de fenômeno. Não existe objeto que não esteja correlacionado com o sujeito. 
• Husserl vai partir dessa noção de que existe uma “contaminação” das coisas pelo sujeito. As coisas se adaptam ao sujeito de forma que a 
consciência já não tem acesso as coisas mesmas. Husserl vai tentar instituir um método para tentar recuperar a nossa relação com as 
coisas, ou seja, purificar a relação entre sujeito e objeto. 
 
Franz Brentano (1838-1917) 
• Importante precursor da psicologia da Gestalt e da psicologia humanista. 
• Criticou o Empirismo e o Racionalismo; 
• A grande contribuição de Brentano consiste de início em distinguir fundamentalmente os fenômenos psíquicos, que comportam uma 
intencionalidade, a visada de um objeto, dos fenômenos físicos; 
• Rejeitou a tese associacionista sobre o conteúdo da consciência como algo permanentemente real, opondo-se também a Wundt. 
• Psicologia do Ato: o fenômeno psíquico se constitui como atividade e não como conteúdo, dessa forma considerava essencial o método 
empírico e não experimental; 
• Propõe o abandono das técnicas de introspecção. 
• Psicologia deve partir da percepção E DA EXPERIÊNCIA. 
• Principal recurso da psicologia seria a percepção interna para estudo de fenômenos psicológicos; 
• Renuncia aos determinismos biológico ou psicológico (o que determina o comportamento é a intenção que o anima). 
• Wundt defendia uma psicologia experimental. 
• Brentano defendia uma psicologia empírica mais ampla, tendo como método principal a observação e não a experimentação. 
• Não tem como objetivo descartar a experiência individual. 
• Se opôs a ideia de Wundt de que a psicologia deveria estudar o conteúdo da experiência consciente. 
• Objeto de estudo da psicologia é a própria atividade mental, por exemplo, o ato mental de ver ao invés do conteúdo mental do que é 
visto. 
• Psicologia do ato: contraria a visão wundtiana de que os processos mentais envolvem conteúdos. Ex: visão de cor. 
• Objeto de estudo distinto requer um método de estudo diferente. 
• Atos mentais – diferente de conteúdos sensoriais – não são acessíveis por meio do método introspectivo. 
• A posição de Brentano teve os seus adeptos, mas a psicologia wundtiana manteve sua proeminência. Era mais fácil estudar as sensações 
ou conteúdos conscientes com métodos da psicofísica do que atos, mais impalpáveis. 
 
Carl Stumpf (1848-1936) 
• Stumpf treinou os psicólogos que iriam fundar a psicologia da 
Gestalt. 
• Influenciado pela obra de Brentano. 
• Busca propor um método compatível com a proposta de 
Brentano: a fenomenologia. 
• Fenomenologia: exame da experiência não distorcida, ou 
seja, a experiência tal como ela ocorre. 
• Não concordava com Wundt no tocante a decompor a 
experiência em elementos. Para ele, fazê-lo tornaria a 
experiência artificial e abstrata. 
 
Hegel (1770-1831) 
• Historicismo: as concepções filosóficas – produzidas em 
determinado contexto histórico – tinham uma legitimidade 
relativa, na medida em que expressavam as condições 
históricas em função das quais foram propostas. 
• A filosofia hegeliana teve por efeito enfraquecer o impulso 
filosófico-científico, com sua doutrina de legitimidade relativa 
de toda e qualquer filosofia, para a respectiva época, 
doutrina essa cujo sentido foi, porém, dentro do sistema de 
pretenso valor absoluto, completamente diverso do 
significado historicista com que acolheram as gerações que, 
perdendo a fé na filosofia hegeliana, perderam a fé em toda a 
filosofia absoluta. (Penna, 2001, p.30). 
 
Fenomenologia 
• A Fenomenologia busca resgatar o método Filosófico de investigação, mas com base na ciência rigorosa, referindo-se a investigação de 
acordo com a forma como as coisas são apresentadas na experiência da consciência, livre de teorias, de imprevistos do mundo real e do 
empirismo. Assim, poderia deixar de lado uma Filosofia do raciocínio lógico e analisar as particularidades. 
 
 
Fenomenologia: Conceitos Fundamentais 
Objetivos 
• Identificar, explicar e contextualizar os principais conceitos da fenomenologia de Edmund Husserl. 
• Compreender o pensamento fenomenológico do retorno-às-coisas-mesmas; da intencionalidade; da descrição dos fenômenos; da 
experiência das essências e compreender a importância de tais conceitos para a psicologia contemporânea. 
• Explicitar ao final da aula porque não existe consciência pura e de que não há objeto em si mesmo do ponto de vista fenomenológico. 
 
Husserl (1859 – 1938) 
• Nasceu em Prosnitz, na Morávia, em 1859, formado em família judaica sem educação religiosa. 
• Aos 23 anos se converteu ao protestantismo pela influência de um amigo, mas foi perseguido pelos nazistas, devido suas origens serem 
judaicas. 
• Transferiu-se para a Universidade de Viena em 1884 e passou a assistir os cursos de Brentano e lá aderiu a Psicologia Descritiva e ao 
Psicologismo que mais tarde veio a criticar. 
• Aluno de Stumpf. Propôs a corrente filosófica da fenomenologia. 
• Censura as ciências humanas – especialmente a psicologia – por terem tomado os seus métodos das ciências da natureza e aplicá-los sem 
discernir que seu objetivo é diferente. 
• Husserl combate a presunção de as ciências empíricas de se estabelecerem como único fundamento de todo conhecimento: há uma 
região do conhecimento na qual as ciências empíricas não têm capacidade de operar. Tal região carece de uma nova postura e de um 
novo método: a fenomenologia. 
• Preocupa-se muito mais com o rigor radical do conhecimento, do que com a exatidão característica das ciências empíricas. 
• A fenomenologia husserliana, aponta para a correta distinção entre as ciências naturais e as ciências filosóficas, colocando fora de circuito 
a tese da orientação natural e lançando a pergunta sobre a possibilidade. 
• Sobre a origem do conhecimento, traz à luz a essência do conhecimento, não como única Verdade absoluta, mas como uma manifestação 
possível desta. 
 
Introdução 
• Crise das ciências humanas, em busca de um método próprio que mantivesse o rigor científico. 
• A fenomenologia adota uma postura crítica ao objetivismo da ciência e a proposta de uma verdade única absoluta, quase dogmática por 
parte da ciência. 
• Tem enquanto objeto de estudo o fenômeno, isto é, o fruto da interação da consciência com o objeto. 
• Husserl demonstrou que a preocupação da filosofia deve ser com o rigor, e não com a exatidão. Com isso, estabeleceu a diferençaentre 
ciências empíricas, que trabalham com fatos, das ciências eidéticas ou ciências puras, que se ocupam com idealidades. A exatidão é 
própria das ciências empíricas e busca a abstração do tipo matemático, que possibilita chegar sem equívoco ao resultado pretendido. É 
um resultado calculado, comprovado, exato. O rigor é próprio das ciências descritivas ou eidéticas. A fenomenologia como ciência 
eidética que se ocupa da descrição das vivências, dos atos e correlatos da consciência é, por natureza, inexata. A sua preocupação é com 
o rigor, com a fidelidade ao real, superando os preconceitos, as aparências, o imediatismo. Essa inexatidão é em função da própria 
natureza do objeto da filosofia, o mundo humano, que é complexo, plural e inconcluso. Por isso, não pode ser tratado em termos de 
causa e efeito. Nesse sentido, para Husserl, a autêntica filosofia é a fenomenologia. 
 
Principais conceitos 
• Retorno às Coisas Mesmas: 
➢ Fenômeno como a unidade indissociável “consciência-de-alguma coisa”. 
➢ A “coisa mesma” é entendida não como realidade existindo em si, mas como fenômeno, e, portanto, como a única coisa à qual 
temos acesso imediato e intuição originária; o fenômeno integra a consciência e o objeto, unidos do próprio ato de significação. 
• Consciência e Intencionalidade: 
➢ A intencionalidade é o que une objeto a consciência tornando consciência e objeto em uma unidade indissociável e estabelecendo a 
existência de ambas na/em relação. 
➢ A intencionalidade então é o ato de atribuir sentido atuando com isso, na composição do mundo psicológico. Consciência é sempre 
intencional. 
➢ A junção da consciência com o objeto forma uma unidade indissociável que é o fenômeno. 
➢ A intencionalidade é, essencialmente, o ato de atribuir um sentido; é ela que unifica a consciência e o objeto, o sujeito e o mundo. 
Com a intencionalidade há o reconhecimento de que o mundo não é pura exterioridade e o sujeito não é pura interioridade, mas a 
saída de si para o mundo que tem uma significação para ele. (2001, p. 15). 
➢ O conceito de intencionalidade procura superar a dicotomia sujeito/objeto, consciência/mundo, instituída pelo racionalismo e pelo 
empirismo, assim como também busca superar a ideia de neutralidade, naturalização das ciências humanas e crença no 
cientificismo, introduzida pelo positivismo. 
➢ A todo conteúdo visado, a todo objeto (noema), há a correspondência de uma certa modalidade de consciência (noesis). A 
intencionalidade institui uma interação entre sujeito e objeto, o homem e o mundo, o pensamento e o ser, mostrando que todos os 
atos psíquicos, tudo o que acontece na mente, visam a um objeto, e nada ocorre no vazio. 
➢ O ato de perceber é conhecido como Noesis. Mas aquilo que é percebido ou o objeto da percepção é conhecido como Noema. 
➢ Nóese a atividade da consciência. ➢ Nóema o objeto constituído por essa atividade. 
➢ Dessa forma, intencionalidade “não significa nada mais que essa particularidade fundamental e geral que a consciência tem de ser 
consciência de alguma coisa, de conter, em sua qualidade de cogito, seu cogitatum em si mesma” (Husserl, 1929/2001, p. 51). O 
objeto, por sua vez, só pode ser definido em sua interação com a consciência, por ser sempre objeto-para-um-sujeito. 
Contrariamente ao que afirma o empirismo, a fenomenologia diz que o objeto só possui sentido para uma consciência. “Assim as 
essências não existem fora do ato de consciência. Nesse sentido a fenomenologia husserliana busca a descrição dos atos intencionais 
da consciência e dos objetos por ela visados, ou seja, pela análise noético-noemático” (Zilles, 2003, p. 173). 
➢ Para a fenomenologia, a consciência que o homem tem do mundo é mais ampla que o simples conhecimento racional ou empírico, 
porque ela é fonte de intencionalidades, tanto cognitivas quanto afetivas e práticas. O olhar do homem sobre o mundo é um ato 
pelo qual ele o experiencia, imaginando-o, percebendo-o, interpretando-o, compreendendo-o e transformando-o. 
➢ Em oposição ao positivismo, a fenomenologia afirma que não há fatos com a objetividade advogada, já que não percebemos o 
mundo como um dado bruto, destituído de significados. O mundo que percebo é um mundo para mim. Daí a importância que a 
fenomenologia dá ao sentido, à rede de significações que envolvem os objetos percebidos. É neste sentido que a consciência é 
doadora de sentido. 
• Redução Fenomenológica: 
➢ Conhecida também como epoché. 
➢ Husserl propôs então que, no estudo das nossas vivências não devemos nos preocupar se ele corresponde ou não a objetos do 
mundo externo à nossa mente. 
➢ As informações recebidas pelos órgãos dos sentidos, mas são transformadas pela consciência. 
➢ Para que haja a redução fenomenológica é preciso separar todos os julgamentos, as crenças, os estereótipos e as impressões que 
temos do mundo (colocar entre parênteses ou parentesamento). 
➢ Devemos nos concentrar apenas na experiência e levar em consideração a sua pureza. Entendendo-se que se trata do mesmo campo 
de análise no qual a consciência aparece como se projetando para fora de si própria em direção a seu objeto e o objeto como se 
referindo sempre aos atos da consciência. 
• Redução Eidética 
➢ Após olhar para um objeto e dar o significado subjetivo a ele é preciso compreender o motivo desta interpretação e isto é conhecido 
como redução da ideia. 
➢ Para Cobra (2005): “dar-se conta dos objetos ideais, uma realidade criada na consciência, não é suficiente - ao contrário: os vários 
atos da consciência precisam ser conhecidos nas suas essências, aquelas essências que a experiência de consciência de um indivíduo 
deverá ter em comum com experiências semelhantes nos outros”. 
➢ Redução eidética é o ato da consciência de voltar-se para o próprio fenômeno, e não para as suas interpretações. O que se propõe é 
descrever a essência ou a estrutura do fenômeno. Para isso, o procedimento é “ir-à-coisa-mesma”. 
➢ A redução eidética tem como objetivo chegar às características que estarão presentes em toda a experiência de “ver uma árvore” e 
que as caracterizarão como tal, independentemente da cor, do local, do tamanho e outras informações. 
➢ Mas por que a redução eidética é importante para a ciência? Ela ajuda a dar rigor aos objetos da ciência, fazendo com que as pessoas 
os percebam como atemporais e isto é que garante suas características imutáveis. 
➢ A redução eidética representa a ruptura entre a consciência e o pensamento, e impede que a consciência se enclausure no mundo 
do pensamento, possibilitando que ela seja abertura para o mundo. O ponto de partida passa a ser o mundo, e não o pensamento. 
 
Principais Conceitos: Senso Comum ou Atitude Natural 
• Oposição sujeito x objeto; interno-externo. 
• Árvore real 
• Árvore representada 
 
Principais Conceitos: Essência 
• Todo fenômeno tem uma essência, o que se traduzirá pela possibilidade de designá-lo, nomeá-lo, isso significa que não se pode reduzi-lo 
à sua única dimensão de fato, ao simples fato que ele tenha se produzido. Através de um fato é sempre visado um sentido. 
• Husserl gosta de evocar a esse respeito o exemplo da "IX Sinfonia". Esta pode se traduzir pelas impressões que experimento ao escutar 
este ou aquele concerto, pela escritura desta ou daquela partitura, pela atividade do regente de orquestra ou dos músicos etc. Em cada 
caso poderei dizer que se trata da "IX Sinfonia" e, contudo, está não se reduz a nenhum desses casos, se bem que ela possa a cada vez se 
dar neles inteiramente. A essência da "IX Sinfonia" persistiria mesmo se as partituras, orquestras e ouvintes viessem a desaparecer para 
sempre. Ela persistiria, não como uma realidade, como um fato, mas como uma pura possibilidade. Não obstante, é essa pura 
possibilidade que me permite distingui-la de imediato de toda outra sinfonia, mesmo se o disco no qual eu a escuto está riscado ou se a 
orquestra é ruim. 
• Vemos em que a intuição da essência se distingueda percepção do fato: ela é a visão do sentido ideal que atribuímos ao fato 
materialmente percebido e que nos permite identificá-lo. 
• A essência permite identificar o fenômeno porque ela é sempre idêntica, não importando nem os fatos nem as circunstâncias de sua 
realização. 
Principais Conceitos: Análise Intencional 
• Pela análise intencional, deixamos de lado tanto a árvore real quanto a árvore representada e partimos das coisas mesmas, ou seja, da 
árvore percebida. 
• O ato de percepção é a vivência original a partir da qual chegamos a conceber uma árvore. 
• A fenomenologia propõe que o sentido de ser e o do fenômeno não podem ser dissociados. Daí a sua proposta de retornar “às coisas 
mesmas”. 
• E para se manter fiel a essa proposta, não podemos conceber um local onde as ideias pudessem ter residência. 
• Consciência é sempre consciência de algo; torna-se consciência ao estar dirigida para um objeto – esse é o princípio da intencionalidade. 
• Dito de outra forma, o objeto só pode ser definido a partir de sua relação com a consciência. Torna-se assim objeto para um sujeito. 
• O objeto não está contido na consciência como se essa fosse uma cápsula: ele adquire sentido enquanto objeto para uma dada 
consciência e a partir desta. 
• Consciência e objeto não são duas entidades separadas na natureza. Consciência e objeto se definem respectivamente a partir de sua 
correlação que lhes é, de certo modo, co-original. Se a consciência é sempre ‘consciência-de-alguma-coisa’ e se o objeto é sempre 
‘objeto-para-a-consciência’ é impossível sair dessa correlação, já que fora dela não haveria nem consciência nem objeto. 
• A análise intencional busca elucidar a essência dessa correlação. 
• A análise intencional conduz à redução fenomenológica, ou a colocação entre parênteses da realidade tal como a concebe o senso 
comum. 
• Se, com efeito, a correlação sujeito-objeto só se dá na intuição originária da vivência da consciência, o estudo dessa correlação consistirá 
numa análise descritiva do campo da consciência. 
• É isso que faz Husserl a definir a fenomenologia como "a ciência descritiva das essências da consciência e de seus atos" 
• Para Husserl “a consciência não é uma substância (alma), mas uma atividade constituída por atos (percepção, imaginação, volição, paixão 
etc.) com os quais visa algo (Zilles, 2003, p. 172). 
 
Principais Conceitos: Redução Fenomenológica 
• Colocação entre parênteses da realidade tal como a concebe o senso comum. 
• Para Husserl, assim como para Descartes, o eu penso é a primeira certeza a partir da qual devem ser obtidas as outras certezas. Mas o 
erro de Descartes é ter concebido o eu do cogito como uma alma-substância, por conseguinte como uma coisa independente, da qual 
restava saber como poderia entrar em relação às outras coisas, colocadas por definição como exteriores. Mas isso era recair então na 
atitude natural que descrevemos. 
• Graças à intencionalidade, o resultado da redução fenomenológica difere totalmente do resultado da dúvida cartesiana: o que resta ao 
termo da redução, seu "resíduo", não é só o eu penso, mas a conexão ou correlação entre o eu penso e seu objeto de pensamento. 
• O sentido de existência é "fenomenalizado", isto é, desembaraçado da atitude ingênua que nos levava a colocá-lo como sendo "em si" e 
assim acarretava essas especulações metafísicas que constituem um obstáculo para um conhecimento rigoroso. 
• A tarefa efetiva da fenomenologia será, pois, analisar as vivências intencionais da consciência para perceber como aí se produz o sentido 
dos fenômenos, o sentido desse fenômeno global que se chama mundo. 
 
Pontos-chave 
• Fenomenologia – o caminho “de volta às coisas mesmas”, ao mundo da experiência vivida. Todas as coisas são percebidas do ponto de 
vista subjetivo. 
• A proposta da fenomenologia é, então, reaprender a ver o mundo, desenvolvendo o que Husserl chamou de atitude fenomenológica. 
• Husserl critica a atitude natural, ou seja, a tendência a tomar como verdade somente aquilo que pode ser comprovado empiricamente. 
• Husserl propõe a substituição da atitude natural pela atitude antinatural, isto é, é preciso que se dê um passo atrás diante do fenômeno, 
abandonando qualquer interpretação apriorística, pré-concebida. 
• Os dois componentes do método fenomenológico: 
➢ O movimento negativo consiste em suspender o juízo 
sobre qualquer coisa que possa nos impedir de atentar 
às “coisas em si mesmas” (a famosa epochē, ou 
suspensão da “atitude natural”, que assume, por 
exemplo, que existe um mundo exterior). 
➢ O movimento positivo supõe um “retorno” ao modo 
específico de aparição do fenômeno e requer algum tipo 
de busca pelas essências (tecnicamente chamado uma 
redução eidética). 
 
“O que a fenomenologia propõe, quando clama por voltar ao mundo-da-vida, não é que se vire as costas e abandone displicentemente as 
descobertas científicas, ou ainda que nos contentemos em viver num mundo inocente e irracional. A ideia é despir o mundo das vestimentas 
teórico-científicas, para que não tomemos a roupa pelo próprio corpo.” (Struchiner, 2007)

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