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1@professorferretto @prof_ferretto Modernismo - Segunda Fase - Prosa L0202 - (Unesp) Para responder à questão a seguir, leia o fragmento de um romance de Érico Veríssimo (1905-1975). O defunto dominava a casa com a sua presença enorme. Anoitecia, e os homens que cercavam o morto ali na sala ainda não se haviam habituado ao seu silêncio espesso. Fazia um calor opressivo. Do quarto con�guo vinham soluços sem choro. Pareciam pedaços arrancados dum grito de dor único e descomunal, davam uma impressão de dilaceramento, de agonia sincopada. As velas ardiam e o cheiro da cera derre�da se casava com o perfume adocicado das flores que cobriam o caixão. A mistura enjoa�va inundava o ar como uma emanação mesma do defunto, entrava pelas narinas dos vivos e lhes dava a sensação desconfortante duma comunhão com a morte. O velho calvo que estava a um canto da sala, voltou a cabeça para o militar a seu lado e cochichou: — Está fazendo falta aqui é o Tico, capitão. O oficial ainda não conhecia o Tico. Era novo na cidade. Então o velho explicou. O Tico era um sujeito que sabia animar os velórios, contava histórias, �nha um jeito especial de levar a conversa, deixando todo o mundo à vontade. Sem o Tico era o diabo... Por onde andaria aquela alma? Entrou um homem magro, alto, de preto. Cumprimentou com um aceno discreto de cabeça, caminhou devagarinho até o cadáver e ergueu o lenço branco que lhe cobria o rosto. Por alguns segundos fitou na cara morta os olhos tristes. Depois deixou cair o lenço, afastou-se enxugando as lágrimas com as costas das mãos e entrou no quarto vizinho. O velho calvo suspirou. — Pouca gente... O militar passou o lenço pela testa suada. — Muito pouca. E o calor está brabo. — E ainda é cedo. O capitão �rou o relógio: faltava um quarto para as oito. (Um lugar ao sol, 1978.) A capacidade de animar os velórios é atribuída ao Tico pelo velho calvo, porque este a considera a) um meio inadequado de ganhar a vida. b) conveniente para aliviar as tensões naquela situação. c) inapropriada naquela situação social. d) desrespeitosa em face da tristeza geral. e) um modo de enfa�zar as virtudes do morto. L0197 - (Fuvest) Leia o texto abaixo para responder à questão Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos �nham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos la�fundiários do sertão. Eles �nham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam: Ele é mesmo nosso pai e é quem pode nos ajudar... Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cân�co de despedida: Ora, adeus, ó meus filhinhos, Qu’eu vou e torno a vortá... E numa noite que os atabaques ba�am nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele. Jorge Amado, Capitães da Areia. 2@professorferretto @prof_ferretto 1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas a�ngidas por determinadas doenças. Considere as seguintes afirmações referentes ao texto de Jorge Amado: I. Do ponto de vista do excerto, considerado no contexto da obra a que pertence, a religião de origem africana comporta um aspecto de resistência cultural e polí�ca. II. Fica pressuposta no texto a ideia de que, na época em que se passa a história nele narrada, o Brasil ainda conservava formas de privação de direitos e de exclusão social advindas do período colonial. III. Os contrastes de natureza social, cultural e regional que o texto registra permitem concluir corretamente que o Brasil passou por processos de modernização descompassados e desiguais. Está correto o que se afirma em a) I, somente. b) II, somente. c) I e II, somente. d) II e III, somente. e) I, II e III. L0200 - (Unicamp) Que dizer das personagens? Creio que têm a força e ao mesmo tempo a fraqueza da caricatura. Mas, pensando melhor, não poderemos também alegar em defesa do romancista que a caricatura é uma tendência reconhecida e aceita da arte moderna, principalmente da pintura? Não haverá muito de deformação na obra de grandes pintores como Por�nari, Di Cavalcante e Segall – todos eles inconformados com a sociedade em que vivem? (Adaptado de Erico Verissimo, Prefácio, em Caminhos Cruzados. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 20- 21.) A ideia de deformação aplica-se ao quadro de Tarsila e ao romance Caminhos cruzados, de Érico Veríssimo, porque tal procedimento ar�s�co acentua a) a crí�ca do modernismo à violência da escravidão e às desigualdades sociais, presentes no quadro e nas personagens do romance, respec�vamente. b) o imaginário da burguesia nacional, pois tanto as protagonistas do romance quanto a imagem da mulher negra retratam os traços caracterís�cos das reformas sociais do Estado Novo. c) os princípios esté�cos do movimento modernista, pois as duas expressões ar�s�cas apresentam-se como reflexo dos valores da elite cafeeira paulista. d) a moral implícita da modernidade, pois o narrador do livro e a representação do corpo negro cri�cam o comportamento social das personagens femininas no século XX. L0199 - (Enem) Érico Veríssimo relata, em suas memórias, um episódio da adolescência que teve influência significa�va em sua carreira de escritor. "Lembro-me de que certa noite - eu teria uns quatorze anos, quando muito - encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros cura�vos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam "carneado". (...) Apesar do horror e da náusea, con�nuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? (...) 3@professorferretto @prof_ferretto Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem- me animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injus�ças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos �ranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não �vermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em úl�mo caso, risquemos fósforos repe�damente, como um sinal de que não desertamos nosso posto." (VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta.Tomo I. Porto Alegre: Editora Globo, 1978.) Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Érico Veríssimo define como uma das funções do escritor e, por extensão, da literatura, a) criar a fantasia. b) permi�r o sonho. c) denunciar o real. d) criar o belo. e) fugir da náusea. L0194 - (Enem) No decênio de 1870, Franklin Távora defendeu a tese de que no Brasil havia duas literaturas independentes dentro da mesma língua: uma do Norte e outra do Sul, regiões segundo ele muito diferentes por formação histórica, composição étnica, costumes, modismos linguís�cos etc. Por isso, deu aos romances regionais que publicou o �tulo geral de Literatura do Norte. Em nossos dias, um escritor gaúcho, Viana Moog, procurou mostrar com bastante engenho que no Brasil há, em verdade, literaturas setoriais diversas, refle�ndo as caracterís�cas locais. CANDIDO, A. A nova narra�va. A educação pela noitee outros ensaios. São Paulo: Á�ca, 2003. Com relação à valorização, no romance regionalista brasileiro, do homem e da paisagem de determinadas regiões nacionais, sabe-se que a) o romance do Sul do Brasil se caracteriza pela temá�ca essencialmente urbana, colocando em relevo a formação do homem por meio da mescla de caracterís�cas locais e dos aspectos culturais trazidos de fora pela imigração europeia. b) José de Alencar, representante, sobretudo, do romance urbano, retrata a temá�ca da urbanização das cidades brasileiras e das relações conflituosas entre as raças. c) o romance do Nordeste caracteriza-se pelo acentuado realismo no uso do vocabulário, pelo temário local, expressando a vida do homem em face da natureza agreste, e assume frequentemente o ponto de vista dos menos favorecidos. d) a literatura urbana brasileira, da qual um dos expoentes é Machado de Assis, põe em relevo a formação do homem brasileiro, o sincre�smo religioso, as raízes africanas e indígenas que caracterizam o nosso povo. e) Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Simões Lopes Neto e Jorge Amado são romancistas das décadas de 30 e 40 do século XX, cuja obra retrata a problemá�ca do homem urbano em confronto com a modernização do país promovida pelo Estado Novo. L0203 - (Unifesp) Para responder à questão a seguir, leia o trecho do livro Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre. Mas a casa-grande patriarcal não foi apenas fortaleza, capela, escola, oficina, santa casa, harém, convento de moças, hospedaria. Desempenhou outra função importante na economia brasileira: foi também banco. Dentro das suas grossas paredes, debaixo dos �jolos ou mosaicos, no chão, enterrava-se dinheiro, guardavam-se joias, ouro, valores. Às vezes guardavam-se joias nas capelas, enfeitando os santos. Daí Nossas Senhoras sobrecarregadas à baiana de teteias, balangandãs, corações, cavalinhos, cachorrinhos e correntes de ouro. Os ladrões, naqueles tempos piedosos, raramente ousavam entrar nas capelas e roubar os santos. É verdade que um roubou o esplendor e outras joias de São Benedito; mas sob o pretexto, ponderável para a época, de que “negro não devia ter luxo”. Com efeito, chegou a proibir-se, nos tempos coloniais, o uso de “ornatos de algum luxo” pelos negros. Por segurança e precaução contra os corsários, contra os excessos demagógicos, contra as tendências comunistas dos indígenas e dos africanos, os grandes proprietários, nos seus zelos exagerados de priva�vismo, enterraram dentro de casa as joias e o ouro do mesmo modo que os mortos queridos. Os dois fortes mo�vos das casas- grandes acabarem sempre mal-assombradas com cadeiras de balanço se balançando sozinhas sobre �jolos 4@professorferretto @prof_ferretto soltos que de manhã ninguém encontra; com barulho de pratos e copos batendo de noite nos aparadores; com almas de senhores de engenho aparecendo aos parentes ou mesmo estranhos pedindo padres-nossos, ave-marias, gemendo lamentações, indicando lugares com bo�jas de dinheiro. Às vezes dinheiro dos outros, de que os senhores ilicitamente se haviam apoderado. Dinheiro que compadres, viúvas e até escravos lhes �nham entregue para guardar. Sucedeu muita dessa gente ficar sem os seus valores e acabar na miséria devido à esperteza ou à morte súbita do depositário. Houve senhores sem escrúpulos que, aceitando valores para guardar, fingiram-se depois de estranhos e desentendidos: “Você está maluco? Deu-me lá alguma cousa para guardar?” Muito dinheiro enterrado sumiu-se misteriosamente. Joaquim Nabuco, criado por sua madrinha na casa- grande de Maçangana, morreu sem saber que des�no tomara a ourama para ele reunida pela boa senhora; e provavelmente enterrada em algum desvão de parede. […] Em várias casas-grandes da Bahia, de Olinda, de Pernambuco se têm encontrado, em demolições ou escavações, bo�jas de dinheiro. Na que foi dos Pires d’Ávila ou Pires de Carvalho, na Bahia, achou-se, num recanto de parede, “verdadeira fortuna em moedas de ouro”. Noutras casas-grandes só se têm desencavado do chão ossos de escravos, jus�çados pelos senhores e mandados enterrar no quintal, ou dentro de casa, à revelia das autoridades. Conta-se que o visconde de Suaçuna, na sua casa-grande de Pombal, mandou enterrar no jardim mais de um negro supliciado por ordem de sua jus�ça patriarcal. Não é de admirar. Eram senhores, os das casas-grandes, que mandavam matar os próprios filhos. Um desses patriarcas, Pedro Vieira, já avô, por descobrir que o filho man�nha relações com a mucama de sua predileção, mandou matá-lo pelo irmão mais velho. (In: Silviano San�ago (coord.).Intérpretes do Brasil, 2000.) Guardadas as proporções, o ambiente retratado no texto de Gilberto Freyre aparece com destaque na produção literária de a) Euclides da Cunha. b) Machado de Assis. c) Aluísio Azevedo. d) José Lins do Rego. e) Lima Barreto. L0196 - (Upe-ssa) A literatura de 1930 é demarcada por uma temá�ca social, em que o urbano e o rural se intercruzam, haja vista os romances de José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Jorge Amado. Os dois primeiros autores dão prioridade às histórias que transcorrem em espaço rural; a mesma coisa já não se pode afirmar em relação à obra de Jorge Amado, pois grande parte dela tem como ambiente a cidade da Bahia, atual Salvador. Com base no exposto, observe as imagens a seguir: Analise as seguintes afirma�vas: I. As três imagens referem-se, de modo simultâneo, às obras dos romancistas de trinta, José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Jorge Amado, pois a produção ar�s�ca desses autores relata acontecimentos que ocorrem nos três espaços representados nas imagens expostas. II. Dos três autores mencionados, dois deles têm textos memorialistas, Graciliano Ramos, por relatar as memórias dos anos que passou na prisão, e Jorge Amado, quando narra a história dos amores de Gabriela com Nacib e de Dona Flor com os seus dois maridos. III. Há antagonismo entre as imagens 1, 2 e 3, respec�vamente, com os romances de José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Jorge Amado os quais, pelo fato de fazerem parte da geração denominada regionalista, mime�zam, de modo crí�co, aspectos da realidade que têm por cenários o campo e a cidade. IV. A imagem 2 representa o espaço onde transcorrem os acontecimentos relatados nos romances do ciclo do açúcar, de José Lins do Rego, enquanto a 3 relaciona-se com o cenário da seca, tema central de Vidas Secas. Trata-se de uma narra�va de Graciliano Ramos, na qual o animal e o homem se equivalem, pois, enquanto Fabiano se considera “bicho”, Baleia nutre sen�mentos humanos. 5@professorferretto @prof_ferretto V. Dos três autores, o único que apresenta, na maioria de seus romances, um cenário urbano tal qual se encontra representado na imagem 3 é Jorge Amado, cuja crí�ca social se volta para acontecimentos na cidade da Bahia, atual Salvador. Está(ão) CORRETA(S) apenas a) I, II e III. b) I e II. c) IV. d) I e V. e) I, III e IV. L0198 - (Unisc) Leia atentamente o trecho do romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, e, depois, analise as afirma�vas a seguir. “Novamente a cavalo no pedrês, Vicente marchava através da estrada vermelha e pedregosa, orlada pela galharia negra da caa�nga morta. Os cascos do animal pareciam �rar fogo nos seixos do caminho. Lagar�xas davam carreirinhas intermitentes por cima das folhas secas no chão que estalavam como papel queimado. O céu, transparente que doía, vibrava, tremendo feito uma gaze repuxada. Vicente sen�a por toda parte uma impressão ressequida de calor e aspereza. Verde, na monotonia cinzenta da paisagem, só algum juazeiro ainda escapo à devastação da rama; mas em geral as pobres árvores apareciam lamentáveis, mostrando os cotos dos galhos como membros amputados e a casca toda raspada em grandes zonas brancas. E o chão, que em outro tempo a sombra cobria, era uma confusão desolada de galhos secos, cuja agressividade ainda mais se acentuava pelos espinhos. (...) Quando Vicente se despediu, e montou ligeiro no cavalo que arrancou de galope, Conceiçãoes�rou-se na rede e ficou olhando o vulto branco que a poeira ruiva envolvia, até o ver se sumir atrás de um grupo de umarizeiras da várzea. Todo o dia a cavalo, trabalhando, alegre e dedicado, Vicente sempre fora assim, amigo do mato, do sertão, de tudo o que era inculto e rude. Sempre o conhecera querendo ser vaqueiro como um caboclo desambicioso, apesar do desgosto que com isso sen�a a gente dele. E a moça lembrou-se de certa vez, em casa do Major, no dia em que se inaugurou o gramofone, e as meninas, e ela própria, que também estava lá, puseram-se a dançar. Os pares eram o filho mais velho da casa – hoje casado e promotor no Cariri – e dois outros rapazes, colegas dele, que �nham vindo passar as férias no sertão.” QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. São Paulo: Siciliano, 1993, p. 13-17. I. O trecho apresenta um narrador em primeira pessoa. II. Os personagens não apresentam um grande aprofundamento psicológico. III. Nos parágrafos citados, observa-se uma iden�ficação entre o espaço e o personagem masculino. Assinale a alterna�va correta. a) Somente as afirma�vas I e II estão corretas. b) Somente as afirma�vas II e III estão corretas. c) Somente as afirma�vas I e III estão corretas. d) Nenhuma afirma�va está correta. e) Todas as afirma�vas estão corretas. L0205 - (Enem) A velha Totonha de quando em vez ba�a no engenho. E era um acontecimento para a meninada... Que talento ela possuía para contar as suas histórias, com um jeito admirável de falar em nome de todos os personagens, sem nenhum dente na boca, e com uma voz que dava todos os tons às palavras! Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. E muito da vida, com as suas maldades e as suas grandezas, a gente encontrava naqueles heróis e naqueles intrigantes, que eram sempre cas�gados com mortes horríveis! O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descri�vos. Quando ela queria pintar um reino era como se es�vesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com a Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco. José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações). Na construção da personagem "velha Totonha", é possível iden�ficar traços que revelam marcas do processo de colonização e de civilização do país. Considerando o texto acima, infere-se que a velha Totonha 6@professorferretto @prof_ferretto a) �ra o seu sustento da produção da literatura, apesar de suas condições de vida e de trabalho, que denotam que ela enfrenta situação econômica muito adversa. b) compõe, em suas histórias, narra�vas épicas e realistas da história do país colonizado, livres da influência de temas e modelos não representa�vos da realidade nacional. c) retrata, na cons�tuição do espaço dos contos, a civilização urbana europeia em concomitância com a representação literária de engenhos, rios e florestas do Brasil. d) aproxima-se, ao incluir elementos fabulosos nos contos, do próprio romancista, o qual pretende retratar a realidade brasileira de forma tão grandiosa quanto a europeia. e) imprime marcas da realidade local a suas narra�vas, que têm como modelo e origem as fontes da literatura e da cultura europeia universalizada. L0192 - (Ufrgs) No bloco superior abaixo, estão listados os �tulos de alguns romances, representantes do Romance de 30 no Brasil; no inferior, o enredo central desses romances. Associe adequadamente o bloco inferior ao superior. 1. A bagaceira, de José Américo de Almeida. 2. O quinze, de Rachel de Queiroz. 3. Menino de engenho, de José Lins do Rego. 4. Os ratos, de Dyonélio Machado. 5. Vidas secas, de Graciliano Ramos. (__) Os re�rantes sertanejos Valen�m Pereira, Soledade, sua filha, e Pirunga, um agregado, buscam, durante uma terrível seca, abrigo no engenho de Dagoberto Marcão. (__) Carlos de Melo narra suas memórias de infância na fazenda Santa Rosa, apresentando o avô, as �as e os “moleques da bagaceira”. (__) Família de re�rantes foge da seca em direção ao sul do Brasil, rumo a uma cidade grande, onde há trabalho para o pai e escola para os filhos. (__) Funcionário público, endividado com o leiteiro, perambula pela cidade em busca do dinheiro para saldar sua dívida. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) 4 – 1 – 5 – 2. b) 2 – 4 – 1 – 3. c) 1 – 3 – 5 – 4. d) 5 – 2 – 3 – 1. e) 3 – 1 – 4 – 2. L0206 - (Ufrgs) Leia os trechos abaixo, re�rados do capítulo Ana Terra, de O con�nente, da trilogia O tempo e o vento, de Erico Verissimo. Maneco Terra era um homem que falava pouco e trabalhava demais. Severo e sério, exigia dos outros muito respeito e obediência, e não admi�a que ninguém em casa discu�sse com ele. (...) D. Henriqueta respeitava o marido, nunca ousava contrariá-lo. A verdade era que, afora aquela coisa de terem vindo para o Rio Grande e umas certas casmurrices, não �nha queixa dele. Maneco era um homem direito, um homem de bem, e nunca a tratara com brutalidade. (...) Mas havia épocas em que não aparecia ninguém. E Ana só via a seu redor quatro pessoas: o pai, a mãe e os irmãos. Quanto ao resto, eram sempre aqueles coxilhões a perder de vista, a solidão e o vento. Não havia outro remédio — achava ela — senão trabalhar para esquecer o medo, a tristeza, a aflição... Acordava e pulava da cama, mal raiava o dia. Ia aquentar a água para o chimarrão dos homens, depois começava a faina diária: ajudar a mãe na cozinha, fazer pão, cuidar dos bichos do quintal, lavar a roupa. Por ocasião das colheitas ia com o resto da família para a lavoura e lá ficava mourejando de sol a sol. Comparando os trechos acima com o conto Dois guaxos, de Sergio Faraco, considere as seguintes afirmações. I. Há confluências entre os dois textos, como as condições precárias de vida em um rancho isolado no interior do Rio Grande do Sul, o nome da irmã de Maninho e seu envolvimento com um agregado da família. II. Há semelhanças nas considerações sobre os maridos, feitas pela mãe de Maninho e por D. Henriqueta, mãe de Ana Terra. III. Há o contraste em relação à estrutura familiar: no romance, pai, mãe e filhos; no conto, uma família marcada pela ausência da mãe e pela figura paterna degradada. Quais estão corretas? 7@professorferretto @prof_ferretto a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e III. e) I, II e III. L0193 - (Enem) Texto I Agora Fabiano conseguia arranjar as ideias. O que o segurava era a família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não. (...) Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria con�nuar a arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo. Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Mar�ns, 23ª ed., 1969, p. 75. Texto II Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmá�co, impermeável. Não há solução fácil para uma tenta�va de incorporação dessa figura no campo da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, que Graciliano vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma estrutura romanesca, uma cons�tuição de narrador em que narrador e criaturas se tocam, mas não se iden�ficam. Em grande medida, o debate acontece porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a despeito de aparecer idealizado em certos aspectos, ainda é visto como um ser humano de segunda categoria, simples demais, incapaz de ter pensamentos demasiadamente complexos. O que "Vidas Secas" faz é, com pretenso não envolvimento da voz que controla a narra�va, dar conta de uma riqueza humana de que essas pessoas seriam plenamente capazes. Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes.In: Teresa. São Paulo: USP, nº 2,2001, p. 254. No texto II, verifica-se que o autor u�liza a) linguagem predominantemente formal, para problema�zar, na composição de "Vidas Secas", a relação entre o escritor e o personagem popular. b) linguagem inovadora, visto que, sem abandonar a linguagem formal, dirige-se diretamente ao leitor. c) linguagem coloquial, para narrar coerentemente uma história que apresenta o roceiro pobre de forma pitoresca. d) linguagem formal com recursos retóricos próprios do texto literário em prosa, para analisar determinado momento da literatura brasileira. e) linguagem regionalista, para transmi�r informações sobre literatura, valendo-se de coloquialismo, para facilitar o entendimento do texto. L0195 - (Ufrgs) Leia os segmentos abaixo do ensaio A nova narra�va, de Antonio Candido, sobre a ficção brasileira a par�r da década de 1960. O esforço do escritor atual é inverso. Ele deseja apagar as distâncias sociais, iden�ficando-se com a matéria popular. Por isso usa a primeira pessoa como recurso para confundir autor e personagem, adotando uma espécie de discurso direto permanente e desconvencionalizado, que permite fusão maior que a do indireto livre. Esta abdicação es�lís�ca é um traço da maior importância na atual ficção brasileira. [...] Este ânimo de experimentar e renovar talvez enfraqueça a ambição criadora, porque se concentra no pequeno fazer de cada texto. Daí o abandono dos grandes projetos de antanho. [...] O ímpeto narra�vo se atomiza e a unidade ideal acaba sendo o conto, a crônica, o sketch, que permitem manter a tensão di�cil da violência, do insólito ou da visão fulgurante. Considere as seguintes afirmações. I. O autor procura jus�ficar a tendência crescente de romances brasileiros narrados em primeira pessoa, que se verifica até hoje. II. Os “grandes projetos” podem ser exemplificados em obras como o Ciclo da cana-de-açúcar, de José Lins do Rego, como os Romances da Bahia, de Jorge Amado, como O tempo e o vento , de Erico Verissimo. III. O autor procura jus�ficar a emergência de narra�vas curtas no Brasil, como o conto e a crônica. Quais estão corretas? 8@professorferretto @prof_ferretto a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III. L0257 - (Fuvest) (...) procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás. (...) Carta de Graciliano Ramos a sua esposa. (...) Uma angús�a apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinhá Vitória guardava o cachimbo. (...) Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pá�o enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes. Graciliano Ramos, Vidas secas. A comparação entre os fragmentos, respec�vamente, da Carta e de Vidas secas, permite afirmar que a) “será que há mesmo” e “acordaria feliz” sugerem dúvida. b) “procurei adivinhar” e “precisava vigiar” significam necessidade. c) “no fundo todos somos” e “andar pelas ribanceiras” indicam lugar. d) “padre Zé Leite pretende” e “Baleia queria dormir” indicam intencionalidade. e) “todos nós desejamos” e “dormiam na esteira” indicam possibilidade. L0258 - (Fuvest) (...) procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás. (...) Carta de Graciliano Ramos a sua esposa. (...) Uma angús�a apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinhá Vitória guardava o cachimbo. (...) Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pá�o enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes. Graciliano Ramos, Vidas secas. As declarações de Graciliano Ramos na Carta e o excerto do romance permitem afirmar que a personagem Baleia, em Vidas secas, representa a) o conformismo dos sertanejos. b) os anseios comunitários de jus�ça social. c) os desejos incompa�veis com os de Fabiano. d) a crença em uma vida sobrenatural. e) o desdém por um mundo melhor. L0301 - (Unesp) Sem dúvida, o capital não tem pátria, e é esta uma das suas vantagens universais que o fazem tão a�vo e irradiante. Mas o trabalho que ele explora tem mãe, tem pai, tem mulher e filhos, tem língua e costumes, tem música e religião. Tem uma fisionomia humana que dura enquanto pode. E como pode, já que a sua situação de raiz é sempre a de falta e dependência. Narrar a necessidade é perfazer a forma do ciclo. Entre a consciência narradora, que sustém a história, e a matéria narrável, sertaneja, opera um pensamento desencantado, que figura o co�diano do pobre em um ritmo pendular: da chuva à seca, da folga à carência, do bem-estar à depressão, voltando sempre do úl�mo estado ao primeiro. É a narração, que se quer obje�va, da modés�a dos meios de vida registrada na modés�a da vida simbólica. (Alfredo Bosi. Céu, inferno: ensaios de crí�ca literária e ideológica, 2003. Adaptado.) O comentário aplica-se com precisão à obra 9@professorferretto @prof_ferretto a) Vidas secas, de Graciliano Ramos. b) Macunaíma, de Mário de Andrade. c) Os sertões, de Euclides da Cunha. d) Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. e) A hora da estrela, de Clarice Lispector.
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