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CONCEPÇÕES ATUAIS DA EDUCAÇÃO 2 SUMÁRIO UM PASSADO SEMPRE PRESENTE ....................................................................... 5 EDUCAÇÃO TRADICIONAL ...................................................................................... 6 EDUCAÇÃO INTERNACIONALIZADA....................................................................... 7 NOVAS TECNOLOGIAS ............................................................................................ 7 PARADIGMAS HOLONÔMICOS ............................................................................... 8 EDUCAÇÃO POPULAR ........................................................................................... 10 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO ..................................................... 13 PERMANÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO .................................................................. 19 POR UMA NOVA LINGUAGEM ............................................................................... 25 DO NÃO-ESCRITO AO PARA-ALÉM-DA-ESCRITA ................................................ 32 A TEORIA EDUCACIONAL NO OCIDENTE ............................................................ 40 TEORIA EDUCACIONAL PÓS-MODERNA ............................................................. 46 AMERICANISMO E EDUCAÇÃO ............................................................................. 50 PARA ENTENDER A RELAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA ............................................... 65 ESCOLA E FAMÍLIA NA REVISTA DO ENSINO ..................................................... 68 EDUCAÇÃO, TRABALHO E CIDADANIA ................................................................ 91 A NOVA ORDEM MUNDIAL: A PROMESSA ........................................................... 93 DESORDEM E FRUSTRAÇÃO DA PROMESSA ..................................................... 96 EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DO HOMEM SOCIAL ................................................. 99 CONSERVAÇÃO E REPOSIÇÃO DA EXISTÊNCIA PELO TRABALHO ............... 100 EDUCAÇÃO E INSTAURAÇÃO DA CULTURA SIMBÓLICA ................................. 103 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 107 3 PERSPECTIVAS ATUAIS DA EDUCAÇÃO Nas últimas duas décadas do século XX assistiu-se a grandes mudanças tanto no campo socioeconômico e político quanto no da cultura, da ciência e da tecnologia. Ocorreram grandes movimentos sociais, como aqueles no leste europeu, no final dos anos 80, culminando com a queda do Muro de Berlim. Ainda não se tem ideia clara do que deverá representar, para todos nós, a globalização capitalista da economia, das comunicações e da cultura. As transformações tecnológicas tornaram possível o surgimento da era da informação. É um tempo de expectativas, de perplexidade e da crise de concepções e paradigmas não apenas porque inicia-se um novo milênio – época de balanço e de reflexão, época em que o imaginário parece ter um peso maior. O ano 2000 exerceu um fascínio muito grande em muitas pessoas. Paulo Freire dizia que queria chegar ao ano 2000 (acabou falecendo três anos antes). É um momento novo e rico de possibilidades. Por isso, não se pode falar do futuro da educação sem certa dose de cautela. 4 Paulo Freire, o mentor da educação para a consciência https://novaescola.org.br/conteudo/460/mentor-educacao-consciencia É com essa cautela que serão examinadas, algumas das perspectivas atuais da teoria e da prática da educação, apoiando-se naqueles educadores e filósofos que tentaram, em meio a essa perplexidade, apesar de tudo, apontar algum caminho para o futuro. A perplexidade e a crise de paradigmas não podem se constituir num álibi para o imobilismo. No início deste século, H. G. Wells dizia que “a História da Humanidade é cada vez mais a disputa de uma corrida entre a educação e a catástrofe”. A julgar pelas duas grandes guerras que marcaram a “História da Humanidade”, na primeira metade do século XX, a catástrofe venceu. No início dos anos 50, dizia-se que só havia uma alternativa: “socialismo ou barbárie” (Cornelius Castoriadis), mas chegou-se ao final do século com a derrocada do socialismo burocrático de tipo soviético e enfraquecimento da ética socialista. E mais: pela primeira vez na história da humanidade, não por efeito de armas nucleares, mas pelo descontrole da produção industrial, pode-se destruir toda a vida do planeta. Mais do que a solidariedade, estamos vendo crescer a competitividade. Venceu a barbárie, de novo? Qual o papel da educação neste novo contexto político? Qual é o papel da educação na era da informação? Que perspectivas podemos apontar para a educação nesse início do Terceiro Milênio? Para onde vamos? Para iniciar, verifica-se o significado da palavra “perspectiva”. A palavra “perspectiva” vem do latim tardio “perspectivus”, que deriva de dois verbos: perspecto, que significa “olhar até o fim, examinar atentamente”; e perspicio, que significa “olhar através, ver bem, olhar atentamente, examinar com cuidado, reconhecer claramente” (Dicionário Escolar Latino-Português, de Ernesto Faria). A palavra “perspectiva” é rica de significações. https://novaescola.org.br/conteudo/460/mentor-educacao-consciencia https://novaescola.org.br/conteudo/460/mentor-educacao-consciencia 5 Segundo o Dicionário de filosofia, do filósofo italiano Nicola Abbagnano, perspectiva seria “uma antecipação qualquer do futuro: projeto, esperança, ideal, ilusão, utopia. O termo exprime o mesmo conceito de possibilidade, mas de um ponto de vista mais genérico e que menos compromete, dado que podem aparecer como perspectivas coisas que não têm suficiente consistência para serem possibilidades autênticas”. Para o Dicionário Aurélio, muito conhecido entre nós, brasileiros, perspectiva é a “arte de representar os objetos sobre um plano tais como se apresentam à vista; pintura que representa paisagens e edifícios a distância; aspecto dos objetos vistos de uma certa distância; panorama; aparência, aspecto; aspecto sob o qual uma coisa se apresenta, ponto de vista; expectativa, esperança”. Perspectiva significa ao mesmo tempo enfoque, quando se fala, por exemplo, em perspectiva política, e possibilidade, crença em acontecimentos considerados prováveis e bons. Falar em perspectivas é falar de esperança no futuro. Hoje muitos educadores, perplexos diante das rápidas mudanças na sociedade, na tecnologia e na economia, perguntam-se sobre o futuro de sua profissão, alguns com medo de perdê-la sem saber o que devem fazer. Então, aparecem, no pensamento educacional, todas as palavras citadas por Abbagnano e Aurélio: “projeto” político-pedagógico, pedagogia da “esperança”, “ideal” pedagógico, “ilusão” e “utopia” pedagógica, o futuro como “possibilidade”. Fala-se muito hoje em “cenários” possíveis para a educação, portanto, em “panoramas”, representação de “paisagens”. Para se desenhar uma perspectiva é preciso “distanciamento”. É sempre um “ponto de vista”. Todas essas palavras entre aspas indicam uma certa direção ou, pelo menos, um horizonte em direção ao qual se caminha ou se pode caminhar. Elas designam “expectativas” e anseios que podem ser captados, capturados, sistematizados e colocados em evidência. UM PASSADO SEMPRE PRESENTE A virada do milênio é razão oportuna para um balanço sobre práticas e teorias que atravessaram os tempos. Falar de “perspectivas atuais da educação” é também falar, discutir, identificar o “espírito” presente no campo das ideias, dos valores e das 6 Conheça um pouco mais sobre a história e o pensamento de Freinet. https://novaescola.org.br/conteudo/1754/celestin-freinet-o-mestre-do-trabalho-e-do-bom-senso práticas educacionais que as perpassa, marcando o passado, caracterizando opresente e abrindo possibilidades para o futuro. Algumas perspectivas teóricas que orientaram muitas práticas poderão desaparecer, e outras permanecerão em sua essência. Quais teorias e práticas fixaram-se no ethos educacional, criaram raízes, atravessaram o milênio e estão presentes hoje? Para entender o futuro é preciso revisitar o passado. No cenário da educação atual, podem ser destacados alguns marcos, algumas pegadas, que persistem e poderão persistir na educação do futuro. Educação Tradicional Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade Antiga, destinada a uma pequena minoria, a educação tradicional iniciou seu declínio já no movimento renascentista, mas ela sobrevive até hoje, apesar da extensão média da escolaridade trazida pela educação burguesa. A educação nova, que surge de forma mais clara a partir da obra de Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois séculos e trouxe consigo numerosas conquistas, sobretudo no campo das ciências da educação e das metodologias de ensino. O conceito de “aprender fazendo” de John Dewey e as técnicas Freinet, por exemplo, são aquisições definitivas na história da pedagogia. Tanto a concepção tradicional de educação quanto a nova, amplamente consolidadas, terão um lugar garantido na educação do futuro. A educação tradicional e a nova têm em comum a concepção da educação como processo de desenvolvimento individual. Todavia, o traço mais original da educação desse século é o deslocamento de enfoque do individual para o social, para o político e para o ideológico. A pedagogia institucional é um exemplo disso. https://novaescola.org.br/conteudo/1754/celestin-freinet-o-mestre-do-trabalho-e-do-bom-senso https://novaescola.org.br/conteudo/1754/celestin-freinet-o-mestre-do-trabalho-e-do-bom-senso 7 A experiência de mais de meio século de educação nos países socialistas também a testemunha. A educação, no século XX, tornou-se permanente e social. É verdade, existem ainda muitos desníveis entre regiões e países, entre o Norte e o Sul, entre países periféricos e hegemônicos, entre países globalizadores e globalizados. Entretanto, há ideias universalmente difundidas, entre elas a de que não há idade para se educar, de que a educação se estende pela vida e que ela não é neutra. Educação Internacionalizada No início da segunda metade deste século, educadores e políticos imaginaram uma educação internacionalizada, confiada a uma grande organização, a Unesco. Os países altamente desenvolvidos já haviam universalizado o ensino fundamental e eliminado o analfabetismo. Os sistemas nacionais de educação trouxeram um grande impulso, desde o século passado, possibilitando numerosos planos de educação, que diminuíram custos e elevaram os benefícios. A tese de uma educação internacional já existia deste 1899, quando foi fundado, em Bruxelas, o Bureau Internacional de Novas Escolas, por iniciativa do educador Adolphe Ferrière. Como resultado, tem-se hoje uma grande uniformidade nos sistemas de ensino. Pode-se dizer que hoje todos os sistemas educacionais contam com uma estrutura básica muito parecida. No final do século XX, o fenômeno da globalização deu novo impulso à ideia de uma educação igual para todos, agora não como princípio de justiça social, mas apenas como parâmetro curricular comum. Novas Tecnologias As consequências da evolução das novas tecnologias, centradas na comunicação de massa, na difusão do conhecimento, ainda não se fizeram sentir plenamente no ensino – como previra McLuhan já em 1969 –, pelo menos na maioria das nações, mas a aprendizagem a distância, sobretudo a baseada na Internet, parece ser a grande novidade educacional neste início de novo milênio. A educação 8 Vamos conhecer um pouco mais sobre as ideias de McLuhan? Vale a pena conferir. https://medium.com/das-teorias/marshall-mcluhan-o-profeta-da-era-digital-89be96dc4818 opera com a linguagem escrita e a nossa cultura atual dominante vive impregnada por uma nova linguagem, a da televisão e a da informática, particularmente a linguagem da Internet. A cultura do papel representa talvez o maior obstáculo ao uso intensivo da Internet, em particular da educação a distância com base na Internet. Por isso, os jovens que ainda não internalizaram inteiramente essa cultura adaptam-se com mais facilidade do que os adultos ao uso do computador. Eles já estão nascendo com essa nova cultura, a cultura digital. Os sistemas educacionais ainda não conseguiram avaliar suficientemente o impacto da comunicação audiovisual e da informática, seja para informar, seja para bitolar ou controlar as mentes. Ainda se trabalha muito com recursos tradicionais que não têm apelo para as crianças e jovens. Os que defendem a informatização da educação sustentam que é preciso mudar profundamente os métodos de ensino para reservar ao cérebro humano o que lhe é peculiar, a capacidade de pensar, em vez de desenvolver a memória. Para ele, a função da escola será, cada vez mais, a de ensinar a pensar criticamente. Para isso é preciso dominar mais metodologias e linguagens, inclusive a linguagem eletrônica. Paradigmas Holonômicos Entre as novas teorias surgidas nesses últimos anos, despertaram interesse dos educadores os chamados paradigmas holonômicos, ainda pouco consistentes. https://medium.com/das-teorias/marshall-mcluhan-o-profeta-da-era-digital-89be96dc4818 https://medium.com/das-teorias/marshall-mcluhan-o-profeta-da-era-digital-89be96dc4818 9 Complexidade e holismo são palavras cada vez mais ouvidas nos debates educacionais. Nesta perspectiva, pode-se incluir as reflexões de Edgar Morin, que critica a razão produtivista e a racionalização modernas, propondo uma lógica do vivente. Esses paradigmas sustentam um princípio unificador do saber, do conhecimento, em torno do ser humano, valorizando o seu cotidiano, o seu vivido, o pessoal, a singularidade, o entorno, o acaso e outras categorias como: decisão, projeto, ruído, ambiguidade, finitude, escolha, síntese, vínculo e totalidade. Essas seriam algumas das categorias dos paradigmas chamados holonômicos. Etimologicamente, holos, em grego, significa todo e os novos paradigmas procuram centrar-se na totalidade. Mais do que a ideologia, seria a utopia que teria essa força para resgatar a totalidade do real, totalidade perdida. Para os defensores desses novos paradigmas, os paradigmas clássicos – identificados no positivismo e no marxismo – seriam marcados pela ideologia e lidariam com categorias redutoras da totalidade. Ao contrário, os paradigmas holonômicos pretendem restaurar a totalidade do sujeito, valorizando a sua iniciativa e a sua criatividade, valorizando o micro, a complementaridade, a convergência e a complexidade. Para eles, os paradigmas clássicos sustentam o sonho milenarista de uma sociedade plena, sem arestas, em que nada perturbaria um consenso sem fricções. Ao aceitar como fundamento da educação uma antropologia que concebe o homem como um ser essencialmente contraditorial, os paradigmas holonômicos pretendem manter, sem pretender superar, todos os elementos da complexidade da vida. Os holistas sustentam que o imaginário e a utopia são os grandes fatores instituintes da sociedade e recusam uma ordem que aniquila o desejo, a paixão, o olhar e a escuta. Os enfoques clássicos, segundo eles, banalizam essas dimensões da vida porque sobrevalorizam o macro-estrutural, o sistema, em que tudo é função ou efeito das superestruturas socioeconômicas ou epistêmicas, linguísticas e psíquicas. Para os novos paradigmas, a história é essencialmente possibilidade, em que o que vale é o imaginário (Gilbert Durand, Cornelius Castoriadis), o projeto. 10 Existem tantos mundos quanto nossa capacidade de imaginar. Para eles, “a imaginação está no poder”, como queriamos estudantes em maio de 1968. Na verdade, essas categorias não são novas na teoria da educação, mas hoje são lidas e analisadas com mais simpatia do que no passado. Sob diversas formas e com diferentes significados, essas categorias são encontradas em muitos intelectuais, filósofos e educadores, de ontem e de hoje: o “sentido do outro”, a “curiosidade” (Paulo Freire), a “tolerância” (Karl Jaspers), a “estrutura de acolhida” (Paul Ricoeur), o “diálogo” (Martin Buber), a “autogestão” (Celestin Freinet, Michel Lobrot), a “desordem” (Edgar Morin), a “ação comunicativa”, o “mundo vivido” (Jurgen Habermas), a “radicalidade” (Agnes Heller), a “empatia” (Carl Rogers), a “questão de gênero” (Moema Viezzer, Nelly Stromquist), o “cuidado” (Leonardo Boff), a “esperança” (Ernest Bloch), a “alegria” (Georges Snyders), a unidade do homem contra as “unidimensionalizações” (Herbert Marcuse), etc. Evidentemente, nem todos esses autores aceitariam enquadrar-se nos paradigmas holonômicos. Todas as classificações e tipologias, no campo das ideias, são necessariamente reducionistas. Não se pode negar as divergências existentes entre eles. Contudo, as categorias apontadas anteriormente indicam uma certa tendência, ou melhor, uma perspectiva da educação. Os que sustentam os paradigmas holonômicos procuram buscar na unidade dos contrários e na cultura contemporânea um sinal dos tempos, uma direção do futuro, que eles chamam de pedagogia da unidade. Educação Popular O paradigma da educação popular, inspirado originalmente no trabalho de Paulo Freire nos anos 60, encontrava na conscientização sua categoria fundamental. 11 Vamos conhecer um pouco mais sobre o pensamento de Paulo Freire. http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=340 A prática e a reflexão sobre a prática levaram a incorporar outra categoria não menos importante: a da organização. Afinal, não basta estar consciente, é preciso organizar-se para poder transformar. Nos últimos anos, os educadores que permaneceram fiéis aos princípios da educação popular atuaram principalmente em duas direções: na educação pública popular – no espaço conquistado no interior do Estado –; e na educação popular comunitária e na educação ambiental ou sustentável, predominantemente não governamentais. Durante os regimes autoritários da América Latina, a educação popular manteve sua unidade, combatendo as ditaduras e apresentando projetos “alternativos”. Com as conquistas democráticas, ocorreu com a educação popular uma grande fragmentação em dois sentidos: de um lado ela ganhou uma nova vitalidade no interior do Estado, diluindo-se em suas políticas públicas; e, de outro, continuou como educação não-formal, dispersando-se em milhares de pequenas experiências. Perdeu em unidade, ganhou em diversidade e conseguiu atravessar numerosas fronteiras. Hoje ela incorporou-se ao pensamento pedagógico universal e orienta a atuação de muitos educadores espalhados pelo mundo, como a testemunha, o Fórum Paulo Freire, que se realiza de dois em dois anos, reunindo educadores de muitos países. As práticas de educação popular também se constituem em mecanismos de democratização, em que se refletem os valores de solidariedade e de reciprocidade e novas formas alternativas de produção e de consumo, sobretudo as práticas de educação popular comunitária, muitas delas voluntárias. O Terceiro Setor está crescendo não apenas como alternativa entre o Estado burocrático e o mercado insolidário, mas também como espaço de novas vivências sociais e políticas hoje consolidadas com as organizações não-governamentais (ONGs) e as organizações http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=340 12 de base comunitária (OBCs). Este está sendo hoje o campo mais fértil da educação popular. Diante desse quadro, a educação popular, como modelo teórico reconceituado, tem oferecido grandes alternativas. Dentre elas, está a reforma dos sistemas de escolarização pública. A vinculação da educação popular com o poder local e a economia popular abre, também, novas e inéditas possibilidades para a prática da educação. O modelo teórico da educação popular, elaborado na reflexão sobre a prática da educação durante várias décadas, tornou-se, sem dúvida, uma das grandes contribuições da América Latina à teoria e à prática educativa em âmbito internacional. A noção de aprender a partir do conhecimento do sujeito, a noção de ensinar a partir de palavras e temas geradores, a educação como ato de conhecimento e de transformação social e a politicidade da educação são apenas alguns dos legados da educação popular à pedagogia crítica universal. Universalização da Educação Básica e Novas Matrizes Teóricas Neste começo de um novo milênio, a educação apresenta-se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do sistema escolar não tem dado conta da universalização da educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes teóricas não apresentam ainda a consistência global necessária para indicar caminhos realmente seguros numa época de profundas e rápidas transformações. Essa é uma das preocupações do Instituto Paulo Freire, buscando, a partir do legado de Paulo Freire, consolidar o seu “Projeto da Escola Cidadã”, como resposta à crise de paradigmas. 13 A concepção teórica e as práticas desenvolvidas a partir do conceito de Escola Cidadã podem constituir-se numa alternativa viável, de um lado, ao projeto neoliberal de educação, amplamente hegemônico, baseado na ética do mercado, e, de outro lado, à teoria e à prática de uma educação burocrática, sustentada na “estadolatria” (Antonio Gramsci). É uma escola que busca fortalecer autonomamente o seu projeto político-pedagógico, relacionando-se dialeticamente – não mecânica e subordinadamente – com o mercado, o Estado e a sociedade. Ela visa formar o cidadão para controlar o mercado e o Estado, sendo, ao mesmo tempo, pública quanto ao seu destino – isto é, para todos – estatal quanto ao financiamento e democrática e comunitária quanto à sua gestão. Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea tomar, uma educação voltada para o futuro será sempre uma educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo Estado e pelo mercado, portanto, uma educação muito mais voltada para a transformação social do que para a transmissão cultural. Por isso, acredita-se que a pedagogia da práxis, como uma pedagogia transformadora, em suas várias manifestações, pode oferecer um referencial geral mais seguro do que as pedagogias centradas na transmissão cultural, neste momento de perplexidade. SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO Costuma-se definir nossa era como a era do conhecimento. Se for pela importância dada hoje ao conhecimento, em todos os setores, pode-se dizer que se vive mesmo na era do conhecimento, na sociedade do conhecimento, sobretudo em consequência da informatização e do processo de globalização das telecomunicações a ela associado. Pode ser que, de fato, já se tenha ingressado na era do conhecimento, mesmo admitindo que grandes massas da população estejam excluídas dele. Todavia, o que se constata é a predominância da difusão de dados e informações e não de conhecimentos. Isso está sendo possível graças às novas tecnologias que estocam o conhecimento, de forma prática e acessível, em 14 gigantescos volumes de informações, que são armazenadas inteligentemente, permitindo a pesquisa e o acesso de maneira muito simples, amigável e flexível. É o que já acontece com a Internet: para ser “usuário”, basta dispor de uma linha telefônica e um computador. “Usuário” não significa aqui apenas receptor de informações, mas também emissor de informações. Pela Internet, a partir de qualquersala de aula do planeta, pode-se acessar inúmeras bibliotecas em muitas partes do mundo. As novas tecnologias permitem acessar conhecimentos transmitidos não apenas por palavras, mas também por imagens, sons, fotos, vídeos (hipermídia), etc. Nos últimos anos, a informação deixou de ser uma área ou especialidade para se tornar uma dimensão de tudo, transformando profundamente a forma como a sociedade se organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma Revolução da Informação, como ocorreram no passado a Revolução Agrícola e a Revolução Industrial. Ladislau Dowbor (1998), após descrever as facilidades que as novas tecnologias oferecem ao professor, se pergunta: o que eu tenho a ver com tudo isso, se na minha escola não tem nem biblioteca e com o meu salário eu não posso comprar um computador? Ele mesmo responde que será preciso trabalhar em dois tempos: o tempo do passado e o tempo do futuro. Fazer tudo hoje para superar as condições do atraso e, ao mesmo tempo, criar as condições para aproveitar amanhã as possibilidades das novas tecnologias. 15 As novas tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o espaço domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos. Cada dia mais pessoas estudam em casa, pois podem, de casa, acessar o ciberespaço da formação e da aprendizagem a distância, buscar “fora” – a informação disponível nas redes de computadores interligados – serviços que respondem às suas demandas de conhecimento. Por outro lado, a sociedade civil (ONGs, associações, sindicatos, igrejas, etc.) está se fortalecendo não apenas como espaço de trabalho, em muitos casos, voluntário, mas também como espaço de difusão de conhecimentos e de formação continuada. É um espaço potencializado pelas novas tecnologias, inovando constantemente nas metodologias. Novas oportunidades parecem abrir-se para os educadores. Esses espaços de formação têm tudo para permitir maior democratização da informação e do conhecimento, portanto, menos distorção e menos manipulação, menos controle e mais liberdade. É uma questão de tempo, de políticas públicas adequadas e de iniciativa da sociedade. A tecnologia não basta. É preciso a participação mais intensa e organizada da sociedade. O acesso à informação não é apenas um direito. É um direito fundamental, um direito primário, o primeiro de todos os direitos, pois sem ele não se tem acesso aos outros direitos. Na formação continuada necessita-se de maior integração entre os espaços sociais (domiciliar, escolar, empresarial, etc.), visando equipar o aluno para viver melhor na sociedade do conhecimento. Como previa Herbert McLuhan, o planeta tornou-se a nossa sala de aula e o nosso endereço. O ciberespaço não está em lugar nenhum, pois está em todo o lugar o tempo todo. Estar num lugar significaria estar determinado pelo tempo (hoje, ontem, amanhã). No ciberespaço, a informação está sempre e permanentemente presente e em renovação constante. O ciberespaço rompeu com a ideia de tempo próprio para a aprendizagem. Não há tempo e espaço próprios para a aprendizagem. Como ele está todo o tempo em todo lugar, o espaço da aprendizagem é aqui – em qualquer lugar – e o tempo de aprender é hoje e sempre. 16 A sociedade do conhecimento se traduz por redes, “teias” (Ivan Illich), “árvores do conhecimento” (Humberto Maturana), sem hierarquias, em unidades dinâmicas e criativas, favorecendo a conectividade, o intercâmbio, consultas entre instituições e pessoas, articulação, contatos e vínculos, interatividade. A conectividade é a principal característica da Internet. O conhecimento é o grande capital da humanidade. Não é apenas o capital da transnacional que precisa dele para a inovação tecnológica. Ele é básico para a sobrevivência de todos e, por isso, não deve ser vendido ou comprado, mas sim disponibilizado a todos. Esta é a função de instituições que se dedicam ao conhecimento apoiado nos avanços tecnológicos. Espera-se que a educação do futuro seja mais democrática, menos excludente. Essa é ao mesmo tempo nossa causa e nosso desafio. Infelizmente, diante da falta de políticas públicas no setor, acabaram surgindo “indústrias do conhecimento”, prejudicando uma possível visão humanista, tornando-o instrumento de lucro e de poder econômico. A educação, em particular a educação a distância, é um bem coletivo e, por isso, não deve ser regulada pelo jogo do mercado, nem pelos interesses políticos ou pelo furor legiferante de regulamentar, credenciar, autorizar, reconhecer, avaliar, etc. de muitos tecnoburocratas. Quem deve decidir sobre a qualidade dos seus certificados não é nem o Estado e nem o mercado, mas sim a sociedade e o sujeito 17 Veja um artigo interessante que discute a sociedade da informação e os seus desafios. http://www.scielo.br/pdf/ci/v29n2/a09v29n2.pdf aprendente. Na era da informação generalizada, existirá ainda necessidade de diplomas? O que cabe à escola na sociedade informacional? Cabe a ela organizar um movimento global de renovação cultural, aproveitando-se de toda essa riqueza de informações. Hoje é a empresa que está assumindo esse papel inovador. A escola não pode ficar a reboque das inovações tecnológicas. Ela precisa ser um centro de inovação. Temos uma tradição de dar pouca importância à educação tecnológica, a qual deveria começar já na educação infantil. Na sociedade da informação, a escola deve servir de bússola para navegar nesse mar do conhecimento, superando a visão utilitarista de só oferecer informações “úteis” para a competitividade, para obter resultados. Deve oferecer uma formação geral na direção de uma educação integral. O que significa servir de bússola? Significa orientar criticamente, sobretudo as crianças e jovens, na busca de uma informação que os faça crescer e não embrutecer. Hoje vale tudo para aprender. Isso vai além da “reciclagem” e da atualização de conhecimentos e muito mais além da “assimilação” de conhecimentos. A sociedade do conhecimento possui múltiplas oportunidades de aprendizagem: parcerias entre o público e o privado (família, empresa, associações, etc.); avaliações permanentes; debate público; autonomia da escola; generalização da inovação. As consequências para a escola e para a educação em geral são enormes: ensinar a pensar; saber comunicar-se; saber pesquisar; ter raciocínio lógico; fazer sínteses e elaborações teóricas; saber organizar o seu próprio trabalho; ter disciplina para o trabalho; ser independente e autônomo; saber articular o conhecimento com a prática; ser aprendiz autônomo e a distância. http://www.scielo.br/pdf/ci/v29n2/a09v29n2.pdf http://www.scielo.br/pdf/ci/v29n2/a09v29n2.pdf 18 Neste contexto de impregnação do conhecimento, cabe à escola: amar o conhecimento como espaço de realização humana, de alegria e de contentamento cultural; selecionar e rever criticamente a informação; formular hipóteses; ser criativa e inventiva (inovar); ser provocadora de mensagens e não pura receptora; produzir, construir e reconstruir conhecimento elaborado. E mais: numa perspectiva emancipadora da educação, a escola tem que fazer tudo isso em favor dos excluídos, não discriminando o pobre. Ela não pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir conhecimentos, saber, que é poder. Numa perspectiva emancipadora da educação, a tecnologia contribui muito pouco para a emancipação dos excluídos se não for associada ao exercício da cidadania. Como diz Ladislau Dowbor (1998:259), a escola deixará de ser “lecionadora” para ser “gestora do conhecimento”. Segundo o autor, “pela primeira vez a educação tem a possibilidade de ser determinante sobre o desenvolvimento”. A educação tornou-se estratégica para o desenvolvimento, mas, para isso, não basta “modernizá- la”, como querem alguns.Será preciso transformá-la profundamente. A escola precisa ter projeto, precisa de dados, precisa fazer sua própria inovação, planejar-se a médio e a longo prazos, fazer sua própria reestruturação curricular, elaborar seus parâmetros curriculares, enfim, ser cidadã. As mudanças que vêm de dentro das escolas são mais duradouras. Da sua capacidade de inovar, registrar, sistematizar a sua prática/experiência, dependerá o seu futuro. Nesse contexto, o educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos. Em geral, temos a tendência de desvalorizar o que fazemos na escola e de buscar receitas fora dela quando é ela mesma que deveria governar-se. É dever dela ser cidadã e desenvolver na sociedade a capacidade de governar e controlar o desenvolvimento econômico e o mercado. 19 A cidadania precisa controlar o Estado e o mercado, verdadeira alternativa ao capitalismo neoliberal e ao socialismo burocrático e autoritário. A escola precisa dar o exemplo, ousar construir o futuro. Inovar é mais importante do que reproduzir com qualidade o que existe. A matéria-prima da escola é sua visão do futuro. A escola está desafiada a mudar a lógica da construção do conhecimento, pois a aprendizagem agora ocupa toda a nossa vida. E porque passamos todo o tempo de nossas vidas na escola – não só nós, professores – devemos ser felizes nela. A felicidade na escola não é uma questão de opção metodológica ou ideológica, mas sim uma obrigação essencial dela. Como diz Georges Snyders (1998) no livro A alegria na escola, precisamos de uma nova “cultura da satisfação”, precisamos da “alegria cultural”. O mundo de hoje é “favorável à satisfação” e a escola também pode sê-lo. O que é ser professor hoje? Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores, assim como não se pode pensar num futuro sem poetas e filósofos. Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marketeiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”, os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber (não o dado, a informação e o puro conhecimento), porque constroem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis. PERMANÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO A antropóloga Betty Mindlin desenvolve há tempos um trabalho de extrema relevância. Trata-se da coleta de histórias, diretamente na fonte que são os narradores indígenas de diversas etnias, notadamente do norte do Brasil, fazendo, a seguir, a 20 Para conhecer um pouco sobre o trabalho de Betty Mindlin, veja essa entrevista. http://www.record.com.br/autor_entrevista.asp?id_autor=4888&id_entrevista=83 transposição da narrativa em linguagem oral, na maior parte das vezes nas línguas de origem, para a escrita, em Português. Trabalho árduo, que somente tem sido possível em razão da experiência, competência acadêmica, dedicação e compromisso da pesquisadora com os indígenas. Trabalhando com diferentes grupos, vivendo o dia-a-dia das aldeias, colaborando na organização de sua defesa quando em contato com as novas levas de conquistadores da Amazônia, Betty Mindlin desenvolveu pesquisas, tanto a partir do Iamá – Instituto de Antropologia e Meio Ambiente, contando com a cooperação de outros antropólogos, como Carmen Junqueira e Mauro Leonel, quanto junto ao Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Além disso, a antropóloga mantém processo de interlocução permanente com pesquisadores de outros países, marcando sua atuação por vivência e abordagem cosmopolita, assim como por valorização plena da diversidade cultural (Mindlin, 1998), em suas múltiplas, complexas e desafiantes faces. Formada originalmente em Economia, curso no qual lecionou por algum tempo na USP e na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, Betty Mindlin soube tirar proveito dessa origem em sua ida para a Antropologia. De fato, o olhar acurado para a temática da exploração e a visão crítica das singularidades do processo de desenvolvimento do Brasil1 foram aspectos que colaboraram em muito para que a pesquisadora tivesse certo tipo de posicionamento em relação à temática indígena. A marca notável desse posicionamento é o respeito pelo ser de cada indígena, pelo ser de cada grupo, ao mesmo tempo em que convivem, evidentemente justapostas em seus trabalhos, a afirmação da capacidade indígena para a autodeterminação e a certeza de que todo o apoio à identidade cultural de cada grupo http://www.record.com.br/autor_entrevista.asp?id_autor=4888&id_entrevista=83 http://www.record.com.br/autor_entrevista.asp?id_autor=4888&id_entrevista=83 21 é indispensável nos duros processos que o contato com a sociedade não-indígena impõe (Mindlin, 1997b). É por isso que sua presença em prol da causa indígena tem se feito, sobretudo, com os resultados de seu trabalho. Em suas pesquisas, sempre respeitando e fortalecendo as identidades culturais dos diversos grupos indígenas com os quais trabalha, Betty Mindlin tem desenvolvido um vasto levantamento das histórias de cada um desses povos, agrupando-as, posteriormente, por temas. Ressalta-se que esses agrupamentos são apenas uma forma de sistematização, que outros critérios poderiam ser adotados para classificá- los, tal sua riqueza e diversidade. Com isso, a pesquisadora vem compondo um material precioso que permite aos indígenas, a um só tempo, o registro da memória e a possibilidade de compartilhar, cada qual, sua cosmologia com os demais, indígenas e não-indígenas. Como lembra Marcos Terena (1998:892): “O desenvolvimento, reivindicado em nome dos direitos humanos, tornar-se-á capenga, cremos, caso não esteja acompanhado do desenvolvimento cultural, da autoestima e de uma identidade étnica, compreensível inclusive ao mundo que nos cerca, como um código oral, legado pelos velhos aos mais jovens.” Na sequência de um trabalho que já inclui Vozes da origem, Tuparis e tarupás, Moqueca de maridos, vem se juntar o magnífico Terra grávida, que será tratado aqui de maneira particular. Seguindo, primordialmente, a tradição de Lévi-Strauss e Franz Caspar, as narrativas míticas recolhidas são parte da história desta Terra que há 500 anos é chamada Brasil, e que graças a essa pesquisa podem ser afinal conhecidas em português, em linguagem atraente mesmo para o leitor menos acostumado às leituras antropológicas. 22 Vamos ver uma matéria que fala um pouco sobre a vida de Lévi-Strauss. https://educacao.uol.com.br/biografias/claude-levi-strauss.htm Preocupada em analisar o rico material coletado, a autora de Terra grávida oferece uma introdução elucidativa para aqueles que já tenham familiaridade com esse tipo de produção. Aqui se insere, por exemplo, a análise que Mindlin faz do mito do Gavião, retomando e complementando a análise feita por Lévi-Strauss em O cru e o cozido (Mindlin, 1999:27-30). Da mesma forma, esse ensaio introdutório terá, sem dúvida, função motivadora para aqueles que pouco tenham se dedicado a essa verdadeira aventura, de mergulhar em mundos de mitos e personagens tão pouco conhecidos como presentes na construção de referências da diversidade constituinte do Brasil. É possível avaliar a complexidade do trabalho realizado por Betty Mindlin, ao serem observados os distintosprocedimentos metodológicos desenvolvidos em cada um dos trabalhos citados. Em Vozes da origem, as narrativas dos Suruí foram gravadas, transcritas na língua original, mediante uma escrita fonética própria da língua Suruí desenvolvida pela pesquisadora, para serem então traduzidas para o português, com o auxílio de intérpretes complementando os próprios conhecimentos de Mindlin. Lembra a autora: “É claro que o estilo reflete minha própria maneira de escrever e com frequência há uma espécie de tradução cultural, necessária para familiarizar o leitor com aspectos da vida indígena” (Mindlin, 1999:261). Já o livro Tuparis e tarupás foi marcado por uma peculiaridade: os narradores Tupari falavam bem o português, sendo o trabalho da pesquisadora mais o de respeitar seu estilo e sabor, conforme suas próprias palavras. https://educacao.uol.com.br/biografias/claude-levi-strauss.htm https://educacao.uol.com.br/biografias/claude-levi-strauss.htm 23 Descrevendo o processo de pesquisa que resultou em Moqueca de maridos e Terra grávida, o qual envolveu os Suruí, Kampé, Gavião, Kanoé, Zoró, Arara, Macurap, Jabuti, Aruá, Arikapu, Ajuru e Tupari, Betty Mindlin assim registra o trabalho realizado: “Gravei, talvez, duas centenas de horas, quase sempre em língua indígena. As traduções foram feitas, não palavra por palavra, seguindo transcrições na língua, como no caso Suruí, mas por intérpretes que ouviam as narrativas ao mesmo tempo que eu (também por outros, uma segunda ou terceira vez, ao ouvirem as fitas), em geral pessoas com dons expressivos e criativos. Ao escrever as histórias, levei em conta o seu português e seu estilo e a minha própria imaginação, para transmitir o clima dos mitos. Algumas histórias, assim, têm uma certa recriação, na forma de escrever, fiel, porém, ao conteúdo, sem invenções novas” (Mindlin, 1999:262). Confrontando o árduo trabalho de pesquisa, com seu resultado, Betty Mindlin declara sua respeitosa forma de recriação ou, talvez mais apropriadamente, de transcriação: “Procurei usar todos meus conhecimentos, em vez de ficar ao pé de uma letra que ainda não há. Isso não quer dizer que eu não tenha sido fiel tanto aos conteúdos quanto às formas – não inventei, segui um clima” (Mindlin, 1999:262). Colocando o direito de voz como princípio e o reconhecimento dos direitos dos narradores, reafirma a autora: “Trata-se de um trabalho conjunto, feito por muitos contadores” (Mindlin, 1999:263). Por isso, a pesquisadora tem um cuidado notável ao traçar os perfis dos narradores indígenas, exalando carinho e afeto pela história de cada um, em uma junção preciosa de atitude científica com o mais indispensável humanismo que a construção do conhecimento está a requerer. Do ponto de vista de contribuição à formação de educadores, torna-se subsídio singular conhecer esses narradores-pessoas, indígenas cujos nomes e sagas passam a ser conhecidos – e então as narrativas ganham vida própria, porque se sabe de onde vêm. 24 Sem dúvida, verá despertar em si sentimentos de respeito e solidariedade aquele que ler os perfis dos narradores, como Galib Pororoca Gurib Ajuru, Awuru Odete Aruá, Armando Moero Jabuti, Pacoré Marina Jabuti, Akukã Francisco Kanoé (o último de seu povo), Amamoekub Aningui Basílio Macurap, Amonãi Manuel Tupari. Dentre todos, foi selecionado um dos perfis, que haverá de falar sobre o caráter vívido dos perfis traçados por Mindlin (1999:250): “Aratori Teresa Macurap – É a viúva inconsolável de Dorodoim, mãe de Sawerô Basílio Macurap e madastra de Menkaiká Juraci Macurap. Vive na Baía das Onças, na A. I. Guaporé. Chorando de saudade, contou histórias em Macurap, traduzidas por Sawerô.” Constituem-se, ainda, em informações relevantes os dados que a autora traz sobre os povos de onde provêm as histórias e suas línguas, assim como o glossário que oferece, material riquíssimo a ser explorado tanto na formação de professores para Pluralidade Cultural, quanto na aplicação em sala de aula, nos diferentes níveis de ensino. Observe-se que esse trabalho de Betty Mindlin, como os anteriores, complementa trabalhos de outros autores, já antes dirigidos especificamente a educadores, como os elaborados a partir do Mari/USP, que já se tornaram clássicos (Silva, 1987; Silva e Grupioni, 1995), alguns em cooperação com o MEC, além de pesquisas de mestrado e doutorado que têm trazido contribuição específica para a compreensão da temática de professores indígenas (por exemplo, Silva, 1997). Enquanto esses trabalhos trazem informações indispensáveis para a formação dos professores que atuam no sistema de ensino brasileiro, a complementação propiciada pelas obras de Betty Mindlin tem a ver com a possibilidade de imersão dos professores, assim como de qualquer pessoa interessada, em mundos ricos e desconhecidos, que o preconceito e os interesses econômicos têm feito calar. Para finalizar esta parte da reflexão, ressaltando ainda mais a relevância e o caráter indispensável da leitura de Terra grávida por professores e educadores em geral, é com grande honra que é aqui apresentada a carta dirigida por Lévi-Strauss a Betty Mindlin: 25 “Paris, 10 de março de 2000 Cara Senhora, Terra grávida, que a senhora houve por bem me enviar, é um complemento muito precioso de suas obras precedentes. Nessa, como nas outras, a senhora reuniu uma rica mitologia proveniente de povos sobre os quais não se possui quase nada. O conjunto forma um corpus impressionante que guarda relação com as grandes coletâneas clássicas da mitologia ameríndia. Foi muito proveitoso para mim. Com meus agradecimentos, solicito, cara Senhora, que aceite a expressão de minha respeitosa homenagem. POR UMA NOVA LINGUAGEM O apelo da simplicidade que há no acesso a informações via Internet tem se constituído em um caminho perverso de simplificação das potencialidades presentes nas novas tecnologias digitais. Em particular no campo da educação, tal simplificação tem trazido perspectivas de “ensino a distância”, que são saudadas como “o” potencial por excelência dessas tecnologias no campo da educação. Ainda que valorizando as potencialidades comunicativas presentes na Internet como mídia interativa, é necessário superar essa visão, quando se trata de ampliar o horizonte de reflexão e, portanto, de compreensão do alcance, dos limites e das possibilidades das tecnologias digitais como campo de construção de conhecimento, portanto com reflexos diretos na educação. Daí o caminho é buscar o que se tem produzido de pesquisa nesse campo. Contudo, não-pesquisas escritas, que só fazem repetir a lógica argumentativa da linguagem verbal racional, mas sim aquelas que tragam a possibilidade de vivenciar seus caminhos, provar as marcas que sofreram, partilhar o sentido e a prática da autoria. 26 Quem é Certeau? Quer conhecer um pouco mais sobre esse intelectual? Veja o link. http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/567886-quem-e-michel-de-certeau-para-mim-o-maior-teologo-para-os-dias-de-hoje Mesmo correndo o risco de reduzir o alcance dessa obra – já que é aprisionada, aqui, regredida aos moldes convencionais – é importante o exercício de diálogo, mais que um comentário ou síntese (a qual seria mesmo impossível). Vale lembrar, em primeiro lugar, que essa obra exige uma imersão em sua proposta, não se entregando a um olhar. Trata-se de um contato passivo e ativo ao mesmo tempo. Passivo, porque, se se pretende conhecê-la, não haverá como não vivenciá-la, será necessário haver uma entrega à proposta, fruto, provavelmente, da formação psicanalítica dos autores. Ativo, porque serão os sentidos do leitor (denominação insuficiente para a relação que se estabelece nessa proposta) que guiarão o percurso. Porém, de que caminho se trata? A referência a “método” é presente o tempotodo, na própria metáfora do labirinto. O desvelar das intenções dos autores, contudo, surge apenas quando se têm em mente suas referências filosófico-teóricas: Heiddeger, Wittgenstein, Gadamer, Lacan, Certeau (este, historiador e psicanalista lacaniano, como o coordenador). De fato, da Hermenêutica, a obra traz soberano o conceito de jogo, conforme já trabalhado pelo coordenador em trabalho anterior: “Os jogos de linguagem apresentam a ideia de que todo encontro com ela é sempre movediço e de que faz parte do seu próprio acontecer a busca da verdade. No alemão, por exemplo, o termo Spiel (jogo, interpretação, risco, brincadeira) pretende acolher grande parte deste acontecer. Como técnica, a multimídia radicaliza e ratifica o princípio de que a linguagem tem seu verdadeiro sentido em toda ação que se converte numa modificação daquele que a experimenta. http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/567886-quem-e-michel-de-certeau-para-mim-o-maior-teologo-para-os-dias-de-hoje 27 A linguagem multimidiática se apresenta como um jogo, exatamente porque, tal como este, é o ‘sujeito’ de si mesma. (…) Brilhantemente explorado por Johan Huizinga em Homo Ludens, a concepção de jogo assume maior responsabilidade no encontro entre a cultura e a linguagem. O autor apresenta o jogo como elemento fundador das funções culturais, do Direito, da Poesia, da Guerra, etc., sobretudo no sentido de impulsionar o jogador (een spelltje doen, em holandês), independentemente de ser o resultado da ação de uma consciência lógica. Esta seria, tanto em Huizinga, quanto nas propostas hermenêuticas, o principal fascínio no Spiel: jogar é, sobretudo, ser jogado. O jogo é dono dos jogadores” (Bairon, 1995:83-84). De fato é de Gadamer (1991:149), autor que perpassa toda a reflexão e proposta metodológica do trabalho, a afirmação recorrente ao longo de Hipermídia: “todo jogar é um ser jogado”.7 Essa proposta fundamenta a relação que Gadamer estabelece entre jogo e obra de arte, também fundamental para se compreender a proposta, feita por Bairon, da adoção da estética como via de compreensão: “O que teria que ser objeto de nossa reflexão não seria a consciência estética, mas a experiência da arte (…). (…) a experiência da arte não é nenhum objeto frente ao qual se encontre um sujeito que o é para si mesmo. Pelo contrário, a obra de arte tem seu verdadeiro ser no fato de que se converte em uma experiência que modifica a quem a experimenta” (Gadamer, 1991:144-145). Na proposta de Bairon, encontram-se obras de arte trazendo o uso de diferentes linguagens como busca de compreensão universal. Lá estão fotografias amalgamadas em colagens digitais, ou então compondo telas, firmamento iluminado como no laboratório de topologia, ou trazendo a escuridão permanente por sobre o labirinto (seria o mergulho no inconsciente? No desconhecido? No que está a ser conhecido?). Jogando (vivendo-se o “ser jogado”) no labirinto, a seta do “mouse” desliza por sobre uma parede do labirinto sensibilizada, surgem imagens de Magritte, referência constante, que conduzem a outras experiências, nas quais é dada a possibilidade de sair, nas alternativas iconográficas que vão sendo desvendadas, ou ficar, e suportar a expectativa do que está por vir. O usuário/leitor/jogador encontrará animações que 28 Veja uma análise crítica do filme Tempos Modernos. https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/analise-critica-do- filme-tempos-modernos-com-charles-chaplin/55215 raptarão sua atenção, envolvendo-o em um clima impossível de controlar. Um exemplo é a sarça ardente futurista do desejo, dançando inapreensível ao som de um mantra oriental. Ou qualquer outra coisa que seja a mesma representação visual e sonora, que o leitor/jogador venha a perceber: assim será. As citações cinematográficas, de clássicos como Tempos Modernos, Metrópolis, 2001 Uma Odisseia no Espaço, entre outros, são um exercício de pesquisa de filmes que têm profundo significado neste século que se encerra, vinculando-os a conceitos explorados pela Psicologia, pela História, pela Linguística e pela Antropologia. Assim, ora a História da Cultura fornece os elos da interdisciplinaridade,8 ora é a arte que o faz. Já afirmara anteriormente o autor: “A livre criação daquele que produz uma obra de arte tem o potencial de abertura ao mundo, que nenhuma metodologia científica de tradição iluminista garante. A liberdade de ação imagética na arte pressupõe, em essência, uma igual liberdade de interpretação e expressão. Longe do domínio técnico ‘conteudístico’, a compreensão pode possibilitar um estar-no-mundo que promova o encontro daquele que interpreta com o que é interpretado, ao ponto desta promoção revelar os horizontes envolvidos” (Bairon, 1995:199). Vale ressaltar que as tecnologias digitais propiciam facilidades no uso dos diversos recursos propiciados pela arte, em suas diversas manifestações. Antecipando a riqueza com que exploraria esse potencial, Bairon (1995:209) afirmava em trabalho anterior: “(…) A linguagem da arte é a linguagem do não-sentido, do desapropriar-se de qualquer significado, da valorização da subjetividade, não a kantiana, mas a da polifonia bakhtiniana. https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/analise-critica-do-filme-tempos-modernos-com-charles-chaplin/55215 https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/analise-critica-do-filme-tempos-modernos-com-charles-chaplin/55215 29 No mundo contemporâneo, vídeo, animação, colagem, efeitos, cinema, artes plásticas, etc., brigam para manterem a própria identidade institucional; mas, como vimos tudo indica que haverá uma grande hibridação dos meios de manifestação artística, a ponto de não conseguirmos mais diferenciar o espaço da arte, já que esta está cada vez mais tornando-se cotidiano. ” É importante destacar que o uso de trabalhos como Hipermídia, na formação de professores, traz vantagens de várias ordens. Primeiramente, como experiência de compreensão, incorporando o cognitivo e o sensitivo, oportunidades de ampliação de horizontes. Talvez alguém indagasse – como é frequente – de que serviria esse tipo de vivência, se for posteriormente “condenado” a trabalhar em escolas que não dispõem de facilidades da informática. Trata-se, contudo, de um modo de abordar o conhecimento, de lidar com a riqueza das produções culturais humanas, não se aprisionando nos limites do impresso em tinta e papel. Uma vez vivenciada essa formação, o professor terá condições de buscar e oferecer recursos variados a seus alunos. Isto porque, como já foi tratado, os conceitos de jogo e estética são estruturadores da proposta analítica de Hipermídia. Há três verbos que expressam os objetivos buscados por esse trabalho em hipermídia e que estão voltados para o usuário/leitor/jogador: imergir, perguntar, projetar. Enquanto jogo, Hipermídia convida a uma imersão, após a qual não se tem como voltar atrás. O vivido já terá alterado algo naquele que o vive, pela percepção, pelo conhecimento, ainda que inapreensível e por vezes indizível. A profusão e riqueza de informações oferecidas anunciam, por um lado, o volume e a duração das pesquisas prévias realizadas, dentro e a partir de diferentes regionalidades científicas e artísticas. Tais pesquisas propiciaram levantamento conceitual e iconográfico ao longo de muitos anos, permitindo exploração de 30 conceitos, apresentados e compostos em 64 locais de interação que podem ser percorridos em diferentes níveis.9 30 Uma vez imerso, o leitor/usuário/jogador vê-se frente ao inesperado, ao incompreensível, instigado então a perguntar. Atividade essencialmente hermenêutica, perguntar é inevitável quando se percorre o labirinto, o qual se mostra e se esconde; oferece, porém, não o fazde forma simplista: provoca e, gentil, permite que se prossiga, ou não, até o limite de cada nível sucessivo de imersão. Pelo sistema de busca de palavras, pode-se pular de um conceito para outro, de uma região para outra do labirinto, assim como se tem a possibilidade de consultar, a qualquer momento, o registro dos próprios passos, pelo navegador. O uso de técnicas atualíssimas, envolvendo cálculos e minucioso trabalho de criação digital, traz a possibilidade de girar 360º em torno de diferentes objetos, ao que parece buscando operar visualmente a noção de “giro ontológico”,10 propiciado pelo perguntar. Imergir e perguntar complementam-se, como possibilidade de compreensão, no projetar. Bairon (1995:199) advertia em trabalho anterior: “(…) a compreensão deve ter presente que, tanto o comum, o peculiar, como o científico e o poético, devem ser o resultado tanto do comparativo, quanto da adivinhação. A adivinhação é imprescindível na arte como na ciência, pois jamais pode ser resultado somente da aplicação de regras.” Se é verdade que tal ação independe de suporte material, é, contudo, extremamente facilitada pela exploração hermenêutica feita pela via da linguagem da hipermídia, enquanto conjunção de diferentes linguagens e mídias, propiciada pela compatibilização operada pela digitalização. A incompletude que se manifesta a cada interação, a impotência a cada vai-e-vem, resultado do “ser jogado” (quando tudo o que se queria era jogar), levam à busca de outros conceitos, de outras experiências estéticas que projetarão o sujeito/leitor/usuário/jogador, que pouco a pouco se percebe autor. Nesse ponto ficam evidentes os dois princípios norteadores da proposta, elaboração e produção de Hipermídia: a não-linearidade e a reticularidade. 31 Vale a pena conhecer um pouco sobre a história do intelectual Fernand Braudel. https://www.infoescola.com/biografias/fernand-braudel/ Ao propor o não-linear como elemento de compreensão do estar-no-mundo e do permanente recolocar-se, o trabalho desafia as fronteiras das regionalidades científicas. Contudo, isto é feito com rigor e destreza, dentro da tradição proposta há tanto por Fernand Braudel – e aí fica evidente o papel da História da Cultura como elo interdisciplinar. Ao mesmo tempo, na hipermídia está sendo analisada, a escolha a cada momento coloca-se tão atraente quanto difícil, como criança em frente a vitrine de doces, pois é feita uma oferta generosa de conceitos, referências estéticas, textos teóricos, notas de rodapé reflexivas, imagens pouco frequentes de autores (seria, aí, um eco da abordagem enciclopédica do Il Seiscentos, de Umberto Eco, um dos autores/obra de referência do coordenador?). Com base nessa oferta generosa se constrói, na prática, a possibilidade de uma produtiva reticularidade que desafia o institucional na ciência e na arte. Todo aquele que se interessar poderá ter o CD-ROM à mão, para a qualquer momento navegar, experimentar novos caminhos, descobrir novas nuances das criações estéticas belíssimas, apresentadas em cores e sons, a fornecer-lhe conteúdo para ser, também, autor. O que mais poderia buscar a própria educação? Imagens cujas texturas são revestidas de conceitos, jogos de criança, como o “jogo da velha”, aplicados a conceitos extremamente complexos, trilhas musicais sensíveis, com um quê de épico por vezes, locuções instigantes que exploram as possibilidades sonoras da língua portuguesa. É a estimulação do campo perceptivo, jogando com os sentidos de uma nova e distinta maneira, que permite apenas concluir com a própria obra: “aqui está uma nova série infinita”. https://www.infoescola.com/biografias/fernand-braudel/ https://www.infoescola.com/biografias/fernand-braudel/ 32 DO NÃO-ESCRITO AO PARA-ALÉM-DA-ESCRITA Ler Terra grávida e outros trabalhos semelhantes de Betty Mindlin é descobrir o Brasil para além da informação que é útil, porém insuficiente como proposta de encontro de alteridade – indispensável, no caso. É encontrar o vigor e beleza da diversidade, constituinte do universal. Trata-se de contribuição para transformar mentalidades construídas a partir de ensinamentos nas escolas, a tantos, por tanto tempo, que criaram um imaginário do “índio brasileiro”, que, por desinteresse cultural e interesses de dominação, disseminaram a ignorância com relação à riqueza da diversidade brasileira. Mentalidade na qual os grupos indígenas, apesar do desaparecimento de muitos pelas políticas históricas de conquista e exploração, ainda permanecem como mais de duas centenas de grupos, falando quase o mesmo tanto de línguas. Vale também o desafio de jogar o jogo proposto por Bairon. Estudar jogando, jogar estudando. Descobrir as trilhas das próprias possibilidades de criação, nas múltiplas formas de percorrer o labirinto e nas idas e voltas por entre os níveis. Nos caminhos do labirinto, “dar com a cara na parede” pode ser produtivo, porque permite atravessar o limite, por meio da compreensão de novos planos, com novas experiências estéticas. 33 Roberto Gambini, fazendo o prefácio de Tuparis e tarupás, pode ser aqui invocado para auxiliar a compreensão de quão próximas são as abordagens de Betty Mindlin e Sérgio Bairon: “Os mitos revelam o fundo da alma. O fundo da alma – não da mente – é repleto de imagens incomuns, bizarras, inesperadas, que chocam e exasperam a mente consciente porque a desafiam, como a provar-lhe que aquilo que chama de realidade é apenas um arranjo temporário e artificial das coisas, que tudo é se assim parece, mas que o ser é abismal e inesgotável. A linguagem mítica – especialmente esta, brasileira, cheirando a mato, inusitada e nova, ainda que milenar – subverte a ordem das coisas, provocando releituras do mundo. Um mito contém tanta verdade sobre a natureza do real quanto a mais profunda intuição da psicologia do inconsciente. Aí reside seu valor, que ultrapassa os códigos estéticos da literatura e da arte. Um mito vale não apenas por ser belo, mas porque contém uma centelha de conhecimento roubado aos céus como o fogo de Prometeu ou da arara” (Gambini, 1993:12). Embora o cheiro de mato possa aqui ser trocado por criação digital impactante, Lúcia Santaella, ao fazer a apresentação de Hipermídia, também explora a temática da profusão e da quebra da linearidade como fator de subversão e de compreensão: “Assim como a hipermídia como técnica permite a integração sem suturas das diferentes mídias e linguagens, isomorficamente nesta hipermídia integram-se, em cruzamentos e sobreposições, em vizinhanças e coabitações, o conceitual e o criador, o intelectual e o estético, as superfícies e palimpsestos de textos, imagens, falas e sons, estradas e sinalizações, ícones e pistas de navegação que intermitentemente lançam ao leitor piscadelas secretas para fisgá-lo nessa aventura intelectual em que pensamento e êxtase sinestésico se enlaçam” (Santaella, 2000). Assim também se encontra o uso deliberado da própria imaginação, em que a criatividade transbordada é disciplinada pelos objetivos buscados: a temática do autor/ produtor (Williams, 1992) e o convite ao leitor/autor. Em Bairon (1995), eis o que propõe, como já foi visto: “A liberdade de ação imagética na arte pressupõe, em essência, uma igual liberdade de interpretação e expressão.” Em Mindlin (1999:263), essa proposta também se afirma como convite: “Espero, como no caso de meus 34 Uma forma de aprender sobre o pensamento de um filósofo é aprender um pouco sobre a sua vida e formação. Veja mais. https://www.estudopratico.com.br/epistemologia-de-bachelard/ trabalhos anteriores, que as traduções sejam refeitas, com base no registro gravado que tenho nas várias línguas ou utilizando novas gravações. Conservo as gravações e as traduções de cada narrativae de cada Narrador; minha documentação é uma espécie de museu ou arquivo para os índios ou outros pesquisadores e todo o livro pode ser reescrito por escritores índios ou outras pessoas.” A escola, como nossa civilização, tem valorizado demais o verbal e o racional. A formação de professores se afirma nessa mesma atitude, fechando um ciclo vicioso, a transmissão de certo tipo de conhecimento que se pretende linear, que se multiplica e reproduz como se fosse linear, instaurando facilmente a falta de motivação para o estudo. Acomoda-se, como analisa Bachelard (1984:167): “Chega uma altura em que o espírito gosta mais daquilo que confirma o seu saber do que daquilo que o contradiz, prefere as respostas às perguntas. Passa então a dominar o instinto conservativo e o crescimento espiritual cessa.” O conhecimento veiculado então pela escola parece esgotar-se em si, “sem utilidade”, o que de certa forma é verdade, se o que se oferece arrefece qualquer vontade de conhecer mais. Como cessar a capacidade de indagar? Como romper o fluxo de interesse? Vale lembrar uma vez mais Bachelard (1984:166): “O espírito científico proíbe-nos de ter uma opinião sobre questões que não compreendemos, sobre questões que não sabemos formular claramente. É preciso, antes de tudo, saber formular problemas.” A oferta de vivências estéticas polissêmicas, muitas vezes trazendo o recurso à palinódia como desafio, a possibilidade de aprofundamento por níveis, a ausência https://www.estudopratico.com.br/epistemologia-de-bachelard/ https://www.estudopratico.com.br/epistemologia-de-bachelard/ 35 de uma estrutura que se bastaria a si, a abertura para a ação – coautoria, portanto – do leitor/jogador/navegador ao escolher, tudo isso significa, para os padrões até aqui vividos, uma mudança substancial nas possibilidades educacionais. Do ponto de vista do desenvolvimento curricular na escola, em seus diferentes níveis, essa abordagem facilita a própria compreensão da ideia de transversalidade e da elaboração de projetos desenvolvidos em torno de temas com tal característica. Assim, a formação de professores pode incorporar esse tipo de leitura/jogo/aventura/autoria com grandes vantagens, comparativamente ao uso de meios convencionais. O que aí se observa é a mesma escolha da possibilidade de viver mais a busca da compreensão que do conhecimento, mediante a mesma liberdade de criação, a mesma imersão na sensível para além do racional, que há na narrativa indígena, e que nesta é marcada pela simplicidade dos recursos estéticos usados. Assim, o corpo torna-se instrumento, pela voz, pelo gesto, pela expressão, com o que se garante a permanência e, ao mesmo tempo, a transformação da mensagem, a cada vez. Em Hipermídia, em meio ao percurso, reverbera-se a mesma afirmação: “Corpo é ferramenta”. O trabalho de Bairon também se assemelha à pesquisa de Betty Mindlin na preocupação da permanência do tradicional no novo. Em suas pesquisas, Mindlin colhe mitos de narrativas orais e faz seu registro, como forma de garantir sua permanência entre os indígenas e de busca-la na sociedade brasileira, divulgando-a. A passagem do oral ao escrito se faz, assim, pelo bem de ambos. Bairon faz dialogar entre si conceitos de regionalidades científicas distintas, explorando ao longo da pesquisa o conceito de cultura, fazendo inúmeros exercícios hermenêuticos no percurso do labirinto, fundindo linguagens hoje tradicionais – escrita, fotografia, cinema, vídeo, som –, mediante as possibilidades da linguagem da hipermídia. Com isso enriquece o já existente – como as precisas citações de cinema – e explora as possibilidades heurísticas da realização da investigação conceitual com a nova ferramenta, a hipermídia. 36 Vale lembrar que Bachelard (1984:171), comentando características do “livro do ensino científico moderno”, afirma: “Mal se leem as primeiras páginas, vê-se que o senso comum deixa de poder falar; deixam igualmente de se ouvir as perguntas do leitor. A frase Amigo leitor seria de bom grado substituída por um aviso severo: Aluno, toma atenção! O livro põe as suas próprias questões. O livro comanda. ” Esse ponto oferece possibilidades de se apresentar um dos aspectos que mais diferencia o tipo de ensino a distância que vem se fazendo e as estruturas hipermidiáticas. Com frequência, o uso da Internet como suporte tem sido apontado como veículo preferencial dessa modalidade de ensino, beirando frequentemente um ufanismo tecnológico, de resto já vivenciado na década de 60 com a ideia de educação pelo rádio e pela tevê e nos anos 80 com a disseminação do vídeo. Todas essas propostas puderam ser incorporadas aos processos de ensino, cooperando na difusão de conhecimento. Contudo, recomenda a cautela histórica que se evite a empolgação de cunho substitutivo (“nada que não seja isso”). De fato, o que se tem visto em sua grande maioria ainda apresenta limites, seja de ordem técnica, seja de ordem conceitual. Do ponto de vista de estruturas, essa condução, que talvez poderia ser chamada de “heterocondução”, frequentemente apresenta uma lógica pronta, em que mesmo as alternativas são evidentemente limitadas. Do ponto de vista conceitual, muitas vezes repete-se, disfarçada, a estrutura linear dos livros tradicionais, pouco havendo, então, de exploração efetiva da capacidade analítica que o meio digital propicia. Além disso, a restrição imediata de permanência na Internet, pelo acesso por assinaturas de tempo limitado, significa a submissão à lógica de mercado; mesmo nos portais gratuitos, essa lógica está presente pela exposição a mensagens de patrocinadores, os quais, por sua vez, determinam o que é, ou não, relevante. 37 Embora pedindo estudo específico, é interessante lembrar, por exemplo, que a divulgação massiva da Internet no Brasil como meio de comunicação, popularizando o computador como instrumento, deu-se em uma novela – Explode coração (Rede Globo, 1995)12 – onde a cigana Dara trava contato, com aquele por quem se apaixonaria, em um chat. Vale observar a estratégia de marketing embutida na novela, em particular por associar a nova tecnologia ao esoterismo, pela presença cigana, com leitura do futuro através de mãos, de cartas de baralho, acentuando o estereótipo, com relação aos ciganos, e, quiçá, a ilusão de que a Internet seria algo mágico. Não se trata, aqui, de minimizar as facilidades e possibilidades presentes na Rede. Mesmo a simples disseminação de “mensagens” em “correntes”, uso entre internautas atualmente tão corriqueiro quanto envergonhado,13 pode ter um papel a cumprir, por exemplo, na descoberta maravilhada que idosos fazem da Internet como meio de comunicação, assim como solitários em geral. Ou ainda, vale lembrar as listas de discussão, originariamente praticadas em meios acadêmicos, nos primórdios da Internet, e hoje quase obrigatórias entre organizações não-governamentais e movimentos sociais (Castells, 1999). Sem dúvida há grandes vantagens no uso e na consulta à Internet, para fins educacionais, mas ela, em si, ainda não propicia possibilidades de exploração conceitual como se observa em outros produtos digitais, como no exemplo de hipermídia aqui analisado – e aí o suporte do CDROM é mais adequado, por permitir 38 sua exploração com maior liberdade, sem as pressões presentes quando se marca, como se faz no Brasil, a duração da consulta pelo “tempo conectado”. Os autores aqui estudados também têm em comum abordar o presente como duradouro, porque mutável, o ser humano que vive da tradição ao futuro como um único tempo. Lembram, aí, Grahame Clark, arqueólogo que ressalta a importância de salvar a tradição, não permitindo que se fossilize. Reverbera essa atitude, sem dúvida, na preocupação ética de Betty Mindlin, ao recolher as narrativas, assimcomo em Bairon, ao se deter na construção digital de objetos tridimensionais, permitindo ao usuário/ jogador conhecer, por exemplo, a sala de Freud em Viena, sua cadeira (a girar, em uma das brincadeiras de criação), o famoso divã, sua vitrine de objetos. Vale lembrar que a noção de aventura – e aí se inclui a viagem/navegação pelo tempo e pelo espaço, pelo diverso e pelo idêntico – encontra-se tanto em Terra grávida quanto em Hipermídia. São explorações dos conceitos de cultura e de linguagem, que permitem pronunciar vivencialmente a pluralidade presente em ambos. O trabalho de Mindlin é evidentemente vinculado à pluralidade cultural brasileira, cooperando, assim, na construção/transformação da identidade cultural/identidade nacional. Contudo, vai além, trata do universal, como lembra Gambini (1993:13): “(…) esses contos brasileiros recolhidos no mato mereceriam a atenção de exegetas do nível de Antônio Candido, Joseph Campbell ou Marie Louise von Franz. Quem sabe assim nós brasileiros começaríamos a valorizar aquilo que diz a alma ancestral de nossa terra e teríamos algo que nos enaltecesse para mostrar ao mundo.” Da mesma forma, o trabalho de Bairon é também um produto tipicamente brasileiro, a configurar novas percepções/criações que o Brasil propicia, mas se abre também para o mundo, de onde igualmente tira inspiração. Como afirma Santaela (2000): “Não tenho dúvidas de que este magnífico trabalho será um marco na história da hipermídia não só no Brasil mas também em um contexto internacional, pelo hibridismo denso cuja germinação só a sopa biótica do sincretismo próprio à cultura brasileira poderia propiciar.” 39 Trazem ambos, Mindlin e Bairon, os desafios de uma realidade complexa, da qual muitas vezes a escola e a formação de professores têm estado distantes – a compreensão de como se faz cotidianamente a constituição da identidade cultural e da identidade nacional no Brasil. Terra grávida, como quer seu nome, traz dessa complexidade a permanência e o novo, o milenar desconhecido. É, em si, um convite para que o educador repense suas práticas mediante subsídios efetivos, sendo tocado pelas histórias e pelos mitos que trazem a vida de grupos indígenas. Indígenas que, ao serem tratados na escola como têm sido – ou seja, como se fossem, independentemente de seus grupos, homogêneos restos de um passado –, são invisibilizada como parte constituinte deste presente plural e diversos que de fato o Brasil é. Para Bairon, a complexidade referida significa avançar nas possibilidades tecnológicas sem cair num determinismo maquínico aparentemente aberto, mas sem perspectivas, porque aprisionado na tecnologia como valor em si. Ao invés disso, o que faz é, avançando nas possibilidades hipermidiáticas, repercutir as construções culturais e científicas, reconstruir e ampliar as possibilidades de criação estética e conceitual, de capacidade de perguntar e buscar, capacidades especificamente humanas. Hipermídia é, pois, um convite para a aproximação a um meio que, pela mitificação indevida, é visto por muitos educadores, pelas condições de nosso país, como futuro inacessível, com o que se perde de vista este presente no qual está entre nós, por toda parte, determinando nossa existência, à espera de que tomemos as rédeas desse processo. A reiteração hermenêutica de que “o ser se define pelo entorno”, soberano no mapa do labirinto, é o convite à reflexão e o alerta que os educadores não podem deixar de perceber. 40 A TEORIA EDUCACIONAL NO OCIDENTE Nos séculos XIX e XX, no Ocidente, ocorreram três grandes revoluções em teoria educacional. Na transição do século XX para o XXI, está-se assistindo uma quarta revolução. As três primeiras, segundo historiadores da filosofia da educação, têm seus melhores representantes nos nomes de Herbart, Dewey e Paulo Freire. Já a quarta revolução, da maneira como está ocorrendo, pode encontrar justificativas em Richard Rorty e Donald Davidson. As três primeiras foram revoluções modernas em teoria educacional, enquanto a quarta é pós-moderna. Cada uma dessas revoluções girou em torno da emergência de um elemento- chave na discussão entre os filósofos da educação: em Herbart, a emergência da mente; em Dewey, a emergência da democracia; em Paulo Freire, a emergência do oprimido. A quarta revolução, por sua vez, segue em torno da emergência da metáfora – entendida segundo as novas visões de Davidson estudado por Rorty. As revoluções anteriores não perderam a importância diante daquela que está ocorrendo agora, pois pertencem ao passado em um sentido cronológico e não valorativo, pelo qual teriam visto a perda de relevância de seus elementos-chave. Afinal, hoje em dia, avançou-se muito em filosofia da mente e não seria possível fazer teoria educacional sem considerá-la. Assim, a herança de Herbart está viva. No caso de Dewey, mais ainda se tem a sensação de algo vivo: não passaria pela intenção da maioria dos filósofos da educação no Ocidente preferirem a educação autoritária no lugar da educação democrática, e talvez poucos ainda acreditem que poderia haver verdadeira educação em uma situação social não dinâmica e não livre. Fora alguns ressentidos da direita e da velha guarda marxista, a maioria dos filósofos da educação considera a democracia um chão necessário para toda e qualquer educação. 41 Paulo Freire, por sua vez, está presente quando se considera que os países ricos se tornaram mais ricos e os pobres mais pobres e que o fenômeno do aparecimento do “desenraizado”, seja ele o pobre ou o pertencente a grupos minoritários, é agora também visível mesmo onde estava prometido que desapareceria ou não surgiria: nas democracias ricas da América do Norte e Europa. As três primeiras revoluções, portanto, não se distinguem da revolução pós- moderna em teoria da educação por um pretenso fato de que esta última teria superado tudo o que foi pensado em educação anteriormente. O que ocorre é que a revolução pós-moderna em teoria educacional está acoplada a uma maneira de conversar, em termos técnicos de filosofia e filosofia da educação, que desloca as filosofias da educação que justificavam as teorias educacionais modernas, nomeadas aqui por Herbart, Dewey e Freire. A TEORIA EDUCACIONAL NO OCIDENTE: ENTRE MODERNIDADE E ... Fonte: Elaboração do autor. O que se pretende dizer com isto é que as teorias educacionais modernas estiveram articuladas à filosofia da educação pré-linguistic turn. Por sua vez, a teoria da educação que melhor se insere no campo pós-moderno, e talvez possa vir a manter o nosso apreço pela democracia, está articulada às formas de conversação adquiridas, em filosofia, após a virada linguística e neopragmática. Porém, as teorias educacionais diferem não apenas em suas justificativas filosóficas, mas também em seus aconselhamentos e procedimentos didáticos. Segundo o pensamento rortyano, a filosofia da educação não é o fundamento da teoria educacional, mas apenas uma forma de discurso ad hoc que permite 42 melhorar nossa coerência prática e, talvez, potencializar o que se está fazendo. Sendo assim, não serão expostas aqui as filosofias para depois derivar delas as teorias educacionais. Ao contrário, serão apresentadas as diferenças entre elas e, só então, demonstrado, de modo breve, que é possível encontrar diferentes filosofias da educação para cada uma dessas teorias educacionais. O Quadro 1 apresenta as quatro teorias educacionais aqui citadas, em seus passos didáticos, em comparação. Antes de qualquer comentário explicativo dos passos citados no Quadro 1, vale fazer um alerta: nenhuma dessas formulações deve ser entendida através da dualidade “diretividade versus não-diretividade”. O grande erro dos livros em teoria da educação e didática é o de apelarem
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