Anhembi Morumbi DL LITERATURA CONTEMPORÂNEA - LITERATURAS SEM FRONTEIRAS

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13/09/2023, 21:43 EDU_LITCON_19_E_4
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Introdução
Olá! Seja bem-vindo à última unidade da disciplina “Literatura Contemporânea”.
Nesta unidade, iremos nos aprofundar nas diversas culturas e localizações da
literatura. Você já parou pra pensar em como a literatura é abrangente? Já se
imaginou lendo um romance que foi passado em um país angolano, por exemplo?
Nesta unidade iremos viajar pelo mundo da literatura, aprenderemos mais sobre as
culturas japonesas, angolanas e moçambicanas, além de uma grande viagem ao
conhecimento da literatura, a arte e o cinema.
Bons estudos!
Unidade 4 - Literatura sem
Fronteiras
Leonora Gerardino
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1. A Narrativa Curta
Contemporânea: O conto de
Haruki Murakami: Homens
sem mulheres
Na unidade anterior, iniciamos o conteúdo sobre as narrativas curtas e nos
aprofundamos na obra de Júlio Cortázar, O Bestiário. Saíndo do universo misterioso e
intrigante do argentino, vamos rumo à solidão e à melancolia de Haruki Murakami,
com a sua obra Homens sem Mulheres.
Antes de falarmos um pouco sobre sua obra, quem seria Haruki Murakami?
Figura 1 – Haruki Murakami - Fonte: Revista Estante, ANO
Haruki Murakami nasceu na cidade de Quioto, no Japão, em 12 de Janeiro de 1949. É
um dos maiores escritores japoneses da atualidade, tendo seus livros traduzidos
para mais de 50 idiomas. Dentre as suas obras, merecem destaque: Norwegian
Wood, Kafka à Beira-Mar, Caçando Carneiros, Crônica do Pássaro de Corda, 1Q84 e
Homens sem Mulheres - cuja obra iremos nos aprofundar mais adiante. Recebeu
diversos prêmios como o Prêmio Yomiuri e o Prêmio Franz Kafka.
Murakami tem uma forte in�uência de Franz Kafka, como é possível observar em
“Kafka à Beira-Mar” e um conto de “Homens sem Mulheres”, Samsa Apaixonado -
cujo enredo é reverso à história de Kafka –  aqui, é a barata que se transforma em
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um ser humano. Além de ser um grande admirador de Kafka, Muramaki também
tem forte in�uência da música clássica e do jazz.
As obras dele são sempre bastante embasadas em melancolia, fatalidade e, claro, o
surrealismo de Kafka. Vamos conhecer um pouco a sua obra “Homens sem
Mulheres”.
1.1. Homens sem Mulheres
Homens e Mulheres é uma obra que reúne 7 contos - sendo o último deles com o
mesmo nome do livro - cuja temática em comum sempre envolve a temática do
isolamento e solidão. As histórias são sempre envolvendo um personagem
masculino e a sua lamentação sobre uma �gura feminina (nem sempre uma outra
personagem na história). São elas:
Drive My Car:
Yesterday :
Órgão Independente:
Sherazade:
Kino:
Samsa Apaixonado:
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Homens sem Mulheres:
Percebe-se que em todos os contos há um teor de melancolia e sofrimento, sempre
com a presença feminina, como a causa desses sentimentos. Ao compararmos
Murakami a Cortázar, percebemos que Murakami utiliza situações mais realísticas
em suas obras, com baixo teor de metáfora e fantasia - exceto pelo conto  Samsa
Apaixonado.
Cortázar faz com que o leitor �que intrigado e até mesmo enganado a respeito da
índole de seus personagens, além de usar muito da artimanha da fantasia e da
metáfora no ambiente de seus contos. Já em Murakami, preserva-se o ambiente
bucólico, a profundidade do sentimentalismo e a agonia de seus personagens.
2. O romance de Mia Couto:
Terra Sonâmbula
Antes de explorarmos a obra de Mia Couto, vamos descobrir quem é este autor.
Antônio Emílio Leite Couto, Mia Couto, é um escritor de Moçambique, na África,
nascido em 1955.
Mia Couto iniciou a faculdade de medicina, mas a abandonou no meio do curso para
virar jornalista. Atuou na área até 1985, para depois se dedicar à área de biologia.
É o escritor mais importante de Moçambique, com diversos prêmios e homenagens.
Das suas obras mais importantes, destacamos Terra Sonâmbula – a qual iremos nos
aprofundar logo a seguir.
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Figura 2 – Mia Couto - Fonte: Diário de Pernambuco, Ano
2.1. Terra Sombria
A história de Terra Sonâmbula começa com a presença de apenas dois personagens,
são eles: Tuahir e Muidinga. Ambos não têm nenhum laço familiar, são apenas dois
sobreviventes do cenário apocalíptico pós-guerra: Tuahir é um velho com uma
imensa bagagem de sabedoria, e Muidinga, um jovem menino que acabara de perder
a sua memória e sonha em reencontrar seus pais.
Os dois estão sozinhos no mundo, pois todos aqueles que conheciam foram
destruídos pela guerra. Eles estão fugindo do caos da guerra e, então, avistam um
ônibus, que no livro é nomeado como "machimbombo". Dentro deste ônibus só viam
o horror, os passageiros eram pessoas carbonizadas que, consequentemente,
sofreram um atentado. Durante a estadia da dupla no ônibus, encontram um diário
cujas histórias têm como personagem principal Kindzu, o escritor deste diário.
A partir daí a história passa a ter um enredo paralelo, das quais Muidinga as lê,
contando todos os seus detalhes. Kindzu é um garoto que sofreu muito durante toda
a sua vida, desde o sofrimento de seu pai (Taímo) com o alcoolismo, e o
sonambulismo e a perda de todos os seus irmãos. Dos seus irmãos, destacamos
Junhito (25 de Junho), que tem esse nome como referência ao dia da Independência
de Moçambique, na mesma data. Junhito é um garoto que, para se proteger, vestiu-
se de galinha, o que fez com que ele virasse, de fato, uma galinha. Então Kindzu
acreditou que seu irmão foi levado junto com as outras galinhas.
Kindzu conta em seu diário que, após perder todos os seus irmãos, é expulso de casa
pela sua mãe, sofrendo rejeição dela por ser o �lho que sua mãe menos gostava.
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Com isso, Kindzu passa a viver em um navio naufragado junto à Farida, com quem
passa a ter um relacionamento amoroso.
A história então retorna ao ambiente de Muidinga e Tuahir. Eles decidem sair do
ônibus, mas são capturados por Siqueleto. Muidinga tem uma ideia genial e tenta
convencer Siqueleto de que não era necessário mantê-los como refém e que haveria
uma esperança para sairem daquela situação. Assim, são liberados, e Siqueleto
comete suicídio.
A história de Muidinga e Tuahir �naliza com eles em uma canoa em alto mar, com
Tuahir doente. A canoa deles tinha o mesmo nome do pai de Kindzu, Taímo.
Então o foco volta para Kindzu, quando ele vai em busca de Gaspar, o �lho de Farida,
dizendo que encontrou o menino no ônibus queimado e que este havia perdido a
memória. O que é interessante aqui é que possivelmente haja uma ligação entre
Gaspar e Muidinga, ou seja, eles podem ser a mesma pessoa.
A obra faz uma forte re�exão sobre a temática do sonho e da guerra. Lembrando
que a África é o continente no qual seus países conseguiram conquistar a
Independência um pouco tarde, por meio de muitas guerras - guerras que persistem
com muita frequência até os dias de hoje.
Moçambique, por exemplo, só conseguiu atingir a sua independência em 1975, e
após esta data viveu uma guerra civil por longos 15 anos, �nalizando-se apenas em
1992. Essa guerra foi marcada por um período de intensos con�itos entre a colônia
de Moçambique e os colonizadores portugueses, que não queriam que Moçambique
conquistasse a Independência.
A obra éum retrato do último período dessas guerras e as consequências deste caos.
Dessa forma, o título da obra - Terra Sonâmbula - faz uma referência aos sonhos e,
consequentemente, aos pesadelos que a guerra gera.
O romance, portanto, descreve o horror da guerra e traz essas referências a partir do
uso da metáfora. Essa metáfora é sempre retratada com a ideia do sonho e do
pesadelo, ou seja, que Moçambique está preso num sonambulismo ou preso em um
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sonho ruim. Os personagens do romance são as ilustrações do sentimento de um
povo durante um período de guerras.
A narração da obra não é linear, pois o enredo faz uma mistura entre o presente
(momentos de Muidinga e Tuahir) e o passado (histórias escritas no diário de Kindzu).
As histórias de Kindzu são divididas em onze cadernos de Kindzu, sendo elas:
1. O Tempo em que o Mundo Tinha a Nossa Idade;
2. Uma Cova no Teto do Mundo;
3. Matimati, A Terra da Água;
4. A Filha do Céu;
5. Juras, Promessas, Enganos;
6. O Regresso a Matimati;
7. Um Guia Embriagado;
8. Lembranças de Quintino;
9. Apresentação de Virgínia;
10. No Campo da Morte;
11. As Páginas da Terra.
Ainda, Couto faz uma mistura entre a fantasia e a realidade, sendo a fantasia os
contos de Kindzu, e a realidade, o meio de Muidinga e Tuahir. Essa mistura de
realismo mágico, surrealismo, fantasia e realismo é o que traz toda a peculiaridade à
obra de Mia Couto.
Por �m, Mia Couto utiliza uma linguagem fácil, porém bastante diferenciada em Terra
Sonâmbula., Para quem já leu A Laranja Mecânica, de Anthony Burgess, lembra que
havia um glossário com o dialeto Nadsat, falado pela gangue de Alex Delarge. Aqui,
Couto utiliza da mesma técnica, misturando dialetos originários de Moçambique com
a Língua Portuguesa e também apresenta um glossário para a compreensão do
leitor.
Saiba Mais
Quer conhecer um pouco mais sobre este incrível escritor, então assista ao
vídeo “O poeta que visita histórias - Mia Couto”, do Café Filosófico CPFL,
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acessando ao link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=LhM0RwRUxl0
3. A literatura, cinema e TV:
Marçal Aquino, Fernando
Bonassi e Drauzio Varella
Antes de iniciarmos este tópico, �ca uma pergunta:
-Você já assistiu a uma série ou a um �lme baseado em algum livro que tenha
gostado bastante? Qual foi a sua crítica sobre o resultado �nal do �lme perante o
livro?
Todo mundo, em algum momento da vida, assistiu a um �lme ou a uma série
baseados na história de um livro que tenha lido. Temos uma variedade de opiniões
sobre essas versões, às vezes as críticas são bastante positivas, às vezes nem tanto.
Para exempli�carmos essas produções, traremos aqui três personagens que têm
algo em comum: Marçal Aquino, Fernando Bonassi e Drauzio Varela. Esses três
homens foram responsáveis por Carcereiros, livro de Drauzio Varela, que relata
histórias reais de carcereiros em presídios brasileiros. E, não menos importantes,
Marçal Aquino e Fernando Bonassi, criadores da série televisiva com o mesmo nome.
Figura 3: O ator Rodrigo Lombardi na série “Carcereiros” da Globo - Fonte: Jornal o Tempo, ano
Começamos explicando um pouco sobre o autor do livro Carcereiros:
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O paulistano Antônio Drauzio Varella - Drauzio Varella - é médico e escritor. Publicou
obras de �cção e não �cção, merecendo destaque para Carcereiros, Carandiru e
Prisioneiras. O foco narrativo de Varella é sempre voltado para a área da saúde e a
vida dentro de penitenciárias brasileiras. Todas essas informações e inspirações
como escritor, vieram após anos de trabalho em penitenciárias brasileiras,
in�uenciando-o a relatar os fatos destes lugares. Varella também atua como escritor
para o público infantil, vale destacar a sua obra Florestas do Rio Negro.
Além da atuação como escritor e médico, Varella atua como comunicador para
veículos de comunicação, como o Fantástico e seu canal do Youtube, vale a pena
conferir.
Figura 4: Drauzio Varella - Fonte: O Globo, ano
Saiba Mais
Conheça o canal do Youtube de Drauzio Varella. Neste canal, você irá
conhecer várias dicas de utilidade pública, no meio da saúde. Basta clicar no
link a seguir:
https://www.youtube.com/channel/UC9zqTTVeClpqMQ5CLuJdWtw
Agora, falaremos um pouco sobre Marçal Aquino. Aquino é um roteirista, jornalista e
escritor, natural de Amparo, interior de São Paulo. Escreveu a sua primeira obra, o
poema intitulado como A Depilação da Noiva no Dia do Casamento. Atuou em
diversas rádios de grande porte como A Gazeta Esportiva e O Estado de São Paulo.
Junto de Fernando Bonassi, escreveu a série Força Tarefa para a Rede Globo. Ainda
com Bonassi, Marçal é o diretor da série Carcereiros, da Rede Globo. Assim como
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Bonassi, Marçal é bastante entusiasta do realismo urbano, trazendo um cotidiano
mais denso e, ao mesmo tempo, mais real de todo cotidiano urbano das grandes
cidades.
As características dos personagens de Aquino são sempre voltadas para um público
suburbano, de classe baixa, se opondo às classes médias e altas da sociedade. Em
paralelo ao jornalismo, suas obras apresentam uma forte relação à violência urbana -
uma vez que é bastante comum recebermos noticiários de casos de violências
hediondas em noticiários de televisão.
Figura 5: Marçal Aquino - Fonte: Companhia das Letras, ano
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3.1. O Amor em Chamas - Fernando
Bonassi
Bonassi, como bem apresentam suas obras, traz um contexto mais real e mais
voltado ao subúrbio das grandes cidades, o realismo suburbano ou o realismo feroz.
Seus personagens apresentam características das minorias, bem como seus
comportamentos.
O enredo de Bonassi é bastante voltado para duas vertentes: a violência e o amor. O
segundo é totalmente diferente daquele amor platônico, romântico e puro que vimos
nas principais obras da literatura; aqui, o amor é mais voltado para o ato sexual em
si, apresentado até mesmo de maneira bastante obscena e grotesca.
Na questão do amor, Fernando Bonassi caracteriza seus personagens como sádicos,
obcecados e, até mesmo, violentos. Como citamos, há uma riqueza nos detalhes de
atos sexuais, e o enredo é bastante grotesco.
Falando agora da violência, Bonassi é bastante realista e apresenta a violência mais
comum durante o cotidiano de uma grande metrópole. O autor emprega uma
riqueza de detalhes e contrastes das grandes periferias urbanas, mostra o caos
interior e no ambiente de seus personagens.
Bonassi é bastante denso ao relatar suas obras. Mesmo com uma atmosfera
bastante trivial, essas são as que apresentam uma maior re�exão e comparação ao
leitor.
4. O romance de Valter Hugo
Mãe: A Máquina de Fazer
Espanhóis
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Valter Hugo Mãe é um angolano da Vila Henrique de Carvalho (atual Saurimo),
nascido no dia 25 de setembro de 1971. Aos 2 anos de idade, mudou para Portugal.
Além de escritor, Valter Hugo Mãe é também cantor, apresentador de televisão,
artista plástico e editor. Atualmente, o autor vive na cidade do Porto, em Portugal.
Figura 6: Valter Hugo Mãe - Fonte: Flickr - © Porto Editora, ano
O escritor tem várias publicações literárias, destacando seus primeiros romances,a
tetralogia das minúsculas, são elas:
●     o nosso reino;
Fonte: Goodreads
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● o remorso de baltazar serapião;
Fonte: Livraria Cultura
● o apocalipse dos trabalhadores;
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Fonte: Goodreads
● a máquina de fazer espanhóis.
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Fonte: Saraiva
Nota-se que os nomes dos romances, bem como o nome do autor, são todos escritos
em caixa baixa. Isso deve-se ao fato do autor querer chamar atenção à oralidade do
texto e também para dar sentido de igualdade às palavras.
Nesta unidade, iremos nos aprofundar bastante no romance a máquina de fazer
espanhóis, veja logo a seguir.
4.1. a máquina de fazer espanhóis
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A obra a máquina de fazer espanhóis, como já citada antes, faz parte da tetralogia de
obras do autor Valter Hugo Mãe, que são escritas com caixa baixa - para dar a ideia
de oralidade e democracia textual. Durante todo o texto, o autor utiliza este formato,
inclusive nos nomes próprios das pessoas.
Ainda sobre a estética do texto, Mãe economiza na variação da pontuação, utilizando
apenas pontos �nais e vírgulas. É narrada em primeira pessoa, com um narrador-
personagem e, portanto, utiliza bastante o discurso indireto livre.
O enredo de a máquina de fazer espanhóis gira em torno de Antônio Jorge da Silva,
um senhor de 84 anos que perde a sua esposa Laura. Antônio da Silva é um senhor
extremamente apaixonado por sua esposa e �ca desolado com a morte de sua
amada. Depois, sua �lha o internou no asilo “A Feliz Idade” - que o personagem
denomina como “matadouro”.
Diante a perda de sua amada e o sentimento de rejeição, por ter sido abandonado
neste asilo, o Sr. Antônio da Silva vira uma pessoa amarga e revoltada. Dentro do
asilo, ele passa por grandes momentos de readaptação e de re�exão sobre a vida,
lembrando de situações do passado e fazendo uma busca do sentido da sua vida no
presente.
O cenário apresenta personagens com características em comum: são pessoas que
foram "descartadas" pelas suas famílias e, consequentemente, pela sociedade -
portanto, vemos uma ironia no nome do asilo, como "Feliz Idade". Neste asilo, os
asilados não têm liberdade e não têm direito de manter muitos objetos pessoais
consigo, o que os impossibilita de recordar suas memórias. Por ter essa conduta
opressora, os internos precisam manter uma relação de cooperação para
transformar o local em um lar.
Essa união entre os idosos traz uma re�exão sobre a morte, a perda, a dor, o luto, os
arrependimentos e às re�exões sobre a vida. Uma das lembranças em comum é o
retorno ao passado junto à ditadura Salazarista.
Tal evento é bastante importante para entender uma série de simbologias no
romance, portanto, é necessário explicar um pouco sobre “O Fascismo dos Homens
Bons”, de Portugal. Essa ditadura aconteceu de 1926 até 1974 e tinha como lema:
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“Deus, Pátria e Família”. Cada uma dessas palavras apresenta uma referência a
elementos do romance, são elas:
Deus → Imagem da Santa que recebe Antônio da Silva, assim que ele chega ao
asilo;
Pátria → Portugal (assunto que é frequentemente discutido entre os velhinhos),
também usamos vários personagens importantes de Portugal como
personagens do romance, inclusive a PIDE;
Família → Quem Antônio sempre zelou em cuidar, no caso, Laura e seus dois
�lhos.
Essas lembranças geram uma recordação do passado, que re�ete no futuro. Dessas
lembranças, os personagens tornam-se saudosistas, por isso, temos uma grande
absorção do povo lusitano de antigamente, comparado a Portugal de hoje.
Mais um ponto marcante na obra é a presença do existencialismo. Silva - diante às
memórias dos idosos referentes a uma Portugal ditatorial - novamente recorda sobre
a sua amada e como era a sua vida naquela época. Lembrou de situações sobre a
sua vida, sua pro�ssão como barbeiro e, claro, de Laura.
Outro aspecto importante em a máquina de fazer espanhóis é o questionamento da
identidade. Por isso, mais uma vez, o romance mergulha no passado para poder
entender a identidade do presente.
Esse presente é bastante deprimente, uma vez que o narrador já não tem mais fé e
ironiza aquilo que ele acreditava antes sobre o seu país.
esperar por deus é como esperar pelo peter pan e querer que traga a fada sininho com a
sua minissaia erótica tão desadequada à ingenuidade das crianças. ( MÃE, p. 83, 2011 ).
Essa falta de fé e a ironia é referente ao declínio de Portugal. Esse declínio gera um
desconforto na população lusitana, causando a eles um sentimento de inferioridade
perante os outros países desenvolvidos. Na atualidade, o único conforto de Portugal
é saber que o país pertence à União Europeia. Portanto, a origem do nome do livro
deve-se a essa vontade de serem espanhóis.
Antônio da Silva encontra outros personagens no asilo, que são eles:
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Laura - esposa falecida de Antônio da Silva, a representação do amor no
romance;
Elisa - a �lha de Antônio da Silva, que o interna no asilo, representa o desgosto
dele;
Outro Filho de Antônio da Silva - não atribui um nome a ele, só se sabe que o
�lho nem esteve no velório da mãe e está na Grécia;
Pereira - amigo que Antônio faz desde o começo do romance;
Jaime Ramos - inspetor de polícia que vai averiguar os problemas do asilo;
Enrique - um personagem espanhol que tem cidadania portuguesa e teme que a
tomem, devido a esta fábrica de fazer espanhóis;
Dona Marta - uma senhora abandonada pelo marido mais jovem e deixada no
asilo;
Américo - doutor do asilo que vira um grande acolhedor de Antônio da Silva;
Dr. Bernardo - médico que tem uma grande �gura de autoridade;
Cristiano “Silva da Europa” – ex-funcionário do hospital que resolve �car no asilo;
Esteves - personagem inspirado em “Esteves sem Metafísica”, do poema
Tabacaria, de Álvaro de Campos - heterônimo de Fernando Pessoa.
Destacamos o personagem “Esteves” como um elemento primordial do romance,
pois ele quem traz a metafísica à obra, ou seja, ele quem emprega o pensamento
positivo à obra.
Portanto, o funcionamento da obra depende dos seguintes fatores:
A morte da Laura - representando o desespero do personagem diante a morte
de sua esposa, a morte de um �lho que morreu logo após o parto, o
distanciamento de seu outro �lho e o descaso de sua �lha;
Cartas para Marta - representando a culpa, uma vez que Antônio da Silva já
chegou a agredi-la;
Câncer de Pereira - câncer de próstata, como uma doença que vem de dentro e
uma referência ao fascismo de Salazar;
Assassinato de Marta - Antônio mata Marta após uma discussão e não lembra
do caso, remetendo à alienação do personagem;
Sonhos com Abutres - pássaros da morte que fazem referências ao medo do
futuro e às sombras do passado;
Denúncia - ato de covardia quando ele denunciou um rapaz na ditadura.
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Por �m, temos que a obra é uma grande representação das consequências de um
passado sangrento de Portugal, que deveriam ser apagadas da memória.
Síntese
Nesta nossa última unidade,descobrimos novos horizontes literários e viajamos para
terras nunca antes navegadas. Descobrimos que a literatura e a história estão lado a
lado e que com essa junção, podemos entender como um enredo é explorado.
Descobrimos, com autores como Haruki Murakami, Mia Couto e Valter Hugo Mãe,
um pouco sobre a história do Japão, de Angola e dev Moçambique. Além dessa
viagem para além do in�nito, aprofundamos mais sobre a literatura no cinema, com
autores consagrados da literatura contemporânea. Portanto, vimos sobre:
A metáfora e a melancolia na obra Homens sem Mulheres, de Haruki Murakami;
A história de Moçambique num paralelo entre o passado e o presente em Terras
Sonâmbulas, de Mia Couto;
A história de uma Portugal pós ditadura de Salazar, com a obra a máquina de fazer
espanhóis, de Valter Hugo Mãe.
Download do PDF da unidade
Bibliografia
LIMA, Cleane. Terra Sonâmbula; Guia Estudo. Disponível em <
 https://www.guiaestudo.com.br/terra-sonambula  >. Acesso em 04 de julho de 2019
às 13:12.
FORLI, Cristina Arena. Resenha: 'A máquina de fazer espanhóis', de Valter Hugo Mãe.
Revista Conexão Letras, [S.l.], v. 11, n. 15, jun. 2016. ISSN 2594-8962. Disponível em:
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