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DESCRIÇÃO Apresentação das características farmacotécnicas das principais formas farmacêuticas parenterais e preparações estéreis. PROPÓSITO Compreender o conceito das formas farmacêuticas parenterais e das preparações estéreis e os principais métodos de fabricação e excipientes utilizados, assim como as propriedades com influência na liberação do fármaco. PREPARAÇÃO Antes de iniciar a leitura deste conteúdo, tenha em mãos papel, caneta e uma calculadora ou use a calculadora de seu smartphone ou de seu computador. OBJETIVOS MÓDULO 1 Definir os principais métodos de esterilização para as preparações farmacêuticas MÓDULO 2 Distinguir os medicamentos parenterais e suas vias de administração MÓDULO 3 Identificar as formas farmacêuticas para a via ocular INTRODUÇÃO As formas farmacêuticas parenterais e as farmacêuticas para administração pela via ocular, como os colírios e as pomadas oftálmicas, têm uma característica em comum: a necessidade de esterilização. Todas essas apresentações precisam se mostrar de forma estéril. Para fabricá-las, portanto, é preciso que o farmacêutico conheça e domine os métodos de esterilização, assim como os principais conceitos nessa área. A esterilização é conhecida como a destruição completa de todos os microrganismos vivos, incluindo as suas formas esporuladas. Uma vez que as preparações parenterais entram diretamente em contato com fluidos e tecidos dos organismos, é fundamental que elas sejam estéreis e evitem tanto a contaminação quanto o surgimento de infecções nos pacientes. Neste conteúdo, abordaremos as preparações parenterais e suas diferentes vias de administração, assim como os métodos de esterilização e as preparações oftálmicas, as quais, em função das características específicas do olho, também precisam ser estéreis. AVISO: Orientações sobre unidades de medida ORIENTAÇÕES SOBRE UNIDADES DE MEDIDA Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km). No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o número e a unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você devem seguir o padrão internacional de separação dos números e das unidades. MÓDULO 1 Definir os principais métodos de esterilização para as preparações farmacêuticas CONCEITOS GERAIS A contaminação microbiana é uma preocupação constante na manipulação de medicamentos. Algumas preparações farmacêuticas devem ser obrigatoriamente estéreis, como as infusões intravenosas, os fluidos de nutrição parenteral, as soluções de diálise e hemodiálise, os medicamentos injetáveis, os colírios e as pomadas oftálmicas. Para isso, é fundamental que o farmacêutico conheça os métodos de esterilização e suas aplicações, assim como os conceitos e os cuidados que envolvem a manipulação de produtos estéreis. Por isso, precisamos entender alguns conceitos importantes: javascript:void(0) DESINFECÇÃO Eliminação de microrganismos, exceto os esporulados, de materiais ou artigos inanimados por meio de um processo físico ou químico com o auxílio de desinfetantes. DESCONTAMINAÇÃO Operação de eliminação parcial ou total de microrganismos de materiais ou superfícies inanimadas. ASSEPSIA Operação que leva à ausência de germes – entre eles, bactérias, vírus e outros microrganismos que podem causar doenças. ANTISSEPSIA Operação que procura reduzir ou inibir o crescimento de microrganismos na pele ou nas mucosas. Os produtos usados para fazer a antissepsia são chamados de antissépticos. CONSERVAÇÃO Ela deve impedir o crescimento e a multiplicação dos microrganismos e suas consequências durante determinado período de tempo. ESTERILIZAÇÃO Operação realizada com o objetivo de destruir ou remover todas as formas de microrganismos, incluindo esporos e vírus, de determinado material ou preparação farmacêutica. Foto: Shutterstock.com Homem em vestimenta esterilizada. Antes do processo de esterilização, são necessárias algumas etapas a fim de garantir a melhor qualidade da operação. Não existe um padrão específico para todo processo; entretanto, para a maioria dos materiais, deve-se proceder às etapas de limpeza, desinfecção e esterilização. Para o início dos processos de esterilização, é importante que ocorra a centralização dos materiais em um único lugar. ATENÇÃO Nem todos os materiais precisam ser esterilizados, mas, antes da esterilização, é necessário haver a realização da limpeza e a desinfecção das áreas e dos materiais que serão utilizados para a fabricação das preparações farmacêuticas. A limpeza precisa ser realizada para se retirar resíduos orgânicos e inorgânicos presentes e que possam interferir nas etapas seguintes de desinfecção e esterilização. Durante a limpeza, é possível utilizar um processo de escovação, com água e sabão, utilizando escovas limpas de diferentes tamanhos e formatos. No caso da limpeza das áreas, o profissional tem de ser devidamente treinado e utilizar equipamentos apropriados, como luvas de borracha, botas grossas de cano longo, máscaras e óculos de proteção. Todo o material deverá ser devidamente seco após a limpeza, já que a água é fonte de proliferação microbiana. Foto: Shutterstock.com Limpeza de área industrial. O primeiro passo para o processo de desinfecção é a escolha do agente desinfetante, o qual, por sua vez, deve ter registro nos órgãos regulamentadores. Muitos fatores influenciam a escolha dos agentes desinfetantes, como efetividade, toxicidade, compatibilidade, efeito residual, solubilidade, estabilidade, odor, facilidade de uso e custos, entre outros. Outro ponto que requer atenção é quanto ao material ou ao local de desinfecção. Existem muitas formas de realizar a desinfecção de materiais e ambientes; entretanto, a mais comum é a utilização de agentes químicos. A escolha do tipo de desinfetante e de métodos adequados de desinfecção, bem como a organização de todo esse processo, não é uma tarefa fácil. Os agentes químicos desinfetantes comumente utilizados são: EFEITO RESIDUAL Período pelo qual a substância continua a ter efeito após sua aplicação. javascript:void(0) Álcoois Compostos clorados Formaldeído Iodóforos Peróxido de hidrogênio Ácido peracético Compostos fenólicos Sais quaternários O álcool e o hipoclorito de sódio são os desinfetantes mais recomendados para superfícies, enquanto o desinfetante mais comumente empregado para instrumentais e outros materiais é o ácido peracético. Foto: Shutterstock.com Desinfecção de superfícies. Depois de passarem pelas etapas de limpeza e desinfecção, os materiais estão prontos para a etapa de esterilização. Essas etapas prévias são fundamentais para garantir a qualidade do processo de esterilização, uma vez que reduzem a quantidade de material orgânico e inorgânico, além da contaminação microbiana. Com isso, facilita-se a eficiência do processo de esterilização. ATENÇÃO Uma falha no processo de esterilização pode afetar a qualidade das preparações farmacêuticas, causando degradação química ou física dos fármacos e gerando infecções ao paciente, que, nos casos mais graves, pode levar inclusive à morte. A contaminação microbiana de preparações farmacêuticas pode ser bastante grave. A eficiência no processo de esterilização, afinal, é fundamental para garantir a qualidade dos produtos. Infelizmente, nem sempre é possível garantir isso – e a história apresenta muitos casos para que possamos aprender com nossos próprios erros. Foto: Shutterstock.com Exemplo de laboratório de alta precisão estéril. É por todos esses motivos – e por sabermos que, em todo processo de esterilização, existe o fator humano associado – que se desenvolveu o treinamento, o controle de qualidade e a validação ao longo dos anos. E a melhor forma de se evitar problemas durante os processos de esterilização é por intermédio da associação de todos esses fatores. Por isso, precisamos destacar que: Todo processo de esterilização deve ser validado. MÉTODOSDE ESTERILIZAÇÃO Muitos fatores podem interferir na escolha do melhor método de esterilização para seu produto. Hoje em dia, dificilmente se usa um único método de forma isolada para um processo de fabricação de medicamentos. Em vez disso, emprega-se a associação de vários métodos. Isso aumenta as margens de segurança e eficácia, pois, de forma isolada, nenhum método é capaz de garantir uma esterilidade absoluta. Veja os principais fatores que influenciam na eficácia da esterilização: Grau de hidratação do meio: quanto mais hidratado estiver o meio a ser esterilizado, mais facilmente os microrganismos serão eliminados, pois a umidade presente facilita o processo de penetração de vapor de água, como, por exemplo, no microrganismo. Grau de contaminação: quanto maior for a quantidade de microrganismos em determinado meio ou produto, mais difícil será sua eliminação. É por esse motivo que se realiza a limpeza e a desinfecção prévias dos materiais e do ambiente antes de se iniciar o processo de esterilização. Controle microbiológico: ele deve ser realizado antes nas matérias-primas passíveis de apresentar um nível elevado de contaminação devido à sua natureza ou a seu processo de fabricação, como é o caso do amido, assim como no produto acabado. Sensibilidade da espécie de microrganismo: é preciso que o método de esterilização escolhido seja eficiente para a grande maioria dos microrganismos, como fungos, vírus e bactérias, e que os contaminantes sejam sensíveis ao método escolhido. ATENÇÃO Os principais produtos que precisam ser esterilizados no âmbito farmacêutico e hospitalar são as preparações injetáveis, os colírios, os curativos, os materiais cirúrgicos e os materiais para injeções. Os processos de esterilização podem ser classificados em: PROCESSOS FÍSICOS: Calor e radiação PROCESSOS QUÍMICOS: Desinfetantes, aldeídos e detergentes PROCESSOS MECÂNICOS: Filtração A partir de agora, vamos conhecer cada um deles de forma detalhada: MÉTODOS FÍSICOS - ESTERILIZAÇÃO POR CALOR O método de esterilização por calor é o mais antigo e mais eficiente método conhecido por se tratar de uma técnica simples, econômica e segura. Você pode observar a utilização dele no seu dia a dia quando uma mãe ferve a mamadeira do filho ou quando a manicure coloca o alicate na estufa para esterilizá-lo. VOCÊ SABIA Apesar de ser muito eficiente e utilizado, o método por calor apresenta algumas desvantagens, já que muitos fármacos são termossensíveis. A esterilização por calor pode utilizar tanto o calor seco quanto o úmido. Vamos estudar cada um deles: Calor seco Embora existam outros métodos de esterilização por calor seco, a utilização de estufas de ar circulante é a mais utilizada. O ar tem uma condutibilidade térmica fraca, e a distribuição homogênea da temperatura só pode ser feita por convecção na qual o ar quente sobe e o frio desce. Esses modelos de estufas por convecção tendem a ser mais eficientes nos processos de esterilização que os modelos tradicionais, já que a circulação do ar quente ocorre de forma mais homogênea. Entretanto, é importante que você observe que a estufa não pode estar sobrecarregada, pois é necessário deixar espaços vazios para que justamente ocorra a circulação do ar quente. Nesses casos, a temperatura pode variar de 160°C a 250°C. Na maioria das vezes, a esterilização por calor seco ocorre entre 150°C e 170°C durante um período de, no mínimo, duas horas. É possível compreender que: Quanto maior for a temperatura utilizada, menor poderá ser o tempo de exposição. Quanto menor for a temperatura, maior deverá ser o tempo de exposição. A tabela a seguir apresenta uma combinação de temperatura e tempo para a esterilização por calor seco baseada nas literaturas específicas. Processo Temperatura (°C) Tempo de exposição (min) Calor seco 140 180 150 150 160 120 170 60 180 30 ⇋ Utilize a rolagem horizontal Tabela: Relação da temperatura e do tempo de exposição para esterilização por calor seco. Extraído de: ARAÚJO, 2018, p. 101. Foto: Shutterstock.com Miniestufa de esterilização para consultórios e laboratórios. Apesar de menos eficaz que a esterilização por calor úmido e, por conta disso, precisar de temperaturas mais altas e maiores tempos de exposição, a esterilização por calor seco pode ser uma excelente alternativa para materiais de aço inox, vidros, metais e instrumentos cirúrgicos. Ela também pode ser útil para óleos fixos, glicerina e derivados de petróleo, como, por exemplo, parafina, vaselina e vaselina líquida (óleo mineral), além de pós estáveis, como o óxido de zinco. VOCÊ SABIA Acredita-se que o mecanismo de ação pelo qual a esterilização por calor seco consegue eliminar os microrganismos e suas formas esporuladas funciona por conta da oxidação da membrana plasmática e da desnaturação de proteínas, resultando em coagulação do RNA e danos ao DNA dos microrganismos. Além disso, atualmente há estufas de esterilização nos mais diversos tamanhos e com preços cada vez mais acessíveis para todas as áreas. Elas variam desde um pequeno salão de beleza para a esterilização de alicates de unhas e pinças até as grandes indústrias para os processos de fabricação de equipamentos. Calor úmido ou esterilização por vapor A esterilização por vapor ou calor úmido é a técnica mais utilizada e mais eficiente para os processos de esterilização nas mais diversas áreas da saúde. Ela deverá ser sempre o método de escolha caso não haja nenhuma incompatibilidade com o processo. Utiliza-se um equipamento denominado autoclave no qual ocorre uma combinação de elementos, como vapor, temperatura e pressão, com o objetivo de eliminar todas as formas de microrganismos. Infelizmente, a maioria dos produtos farmacêuticos não é resistente à esterilização em altas temperaturas, como no caso do calor seco (150°C a 170°C). Entretanto, quando combinamos pressão e temperatura, podemos aumentar o ponto de ebulição da água (100°C) e conseguir vapor em temperaturas mais altas que as obtidas à pressão atmosférica, sendo elas o suficiente para eliminar de forma eficaz os microrganismos. Além disso, o vapor é capaz de distribuir o calor por toda a autoclave e por todos os produtos de forma homogênea. ATENÇÃO O que elimina os microrganismos é o calor – e não a pressão. Ela serve apenas para aumentar a temperatura do sistema. Outro fator importante é o tempo de exposição dos microrganismos ao calor. Conforme vimos na esterilização por calor seco, a relação temperatura/tempo interfere na eficácia do processo de esterilização. Como regra geral, as autoclaves nacionais operam sob as seguintes condições: Pressão (atm) Temperatura (°C) Tempo (min) 0,5 110 30 1,0 121 20 1,5 126 15 ⇋ Utilize a rolagem horizontal Tabela: Condições de operações de autoclaves. Elaborada por Patrícia de Castro Moreira Dias. Observe que: Quanto maior for a pressão. Maior será a temperatura. Consequentemente, menor será o tempo do processo. Entretanto, é preciso que o vapor úmido penetre nos produtos por tempo suficiente para que ele promova a eliminação dos microrganismos. E alguns fatores interferem nesse processo, como a natureza dos produtos e o tempo de latência. O tempo de latência é o período necessário para que se atinja e estabilize a temperatura de trabalho. Isso deve ser levado em consideração no tempo total do processo de esterilização. EXEMPLO Como a maioria dos processos de esterilização por calor utiliza 1,0atm e 121°C e o tempo de esterilização para esse processo é de, no mínimo, 20 minutos, o tempo de latência precisa ser acrescentado a esse período. Veja na figura a seguir o esquema de funcionamento e um gráfico que relaciona a variação de temperatura com os diferentes tempos de um ciclo completo da autoclave. Imagem: MADIGAN et al., 2016, p. 173. Esquema de funcionamento de uma autoclave. Outro fator importante é a quantidade de produtos a se esterilizar. Assim como no calor seco, a autoclavetambém não deve estar muito cheia ou sobrecarregada, já que o vapor d’água deve circular e penetrar de forma homogênea em todos os produtos. A presença de ar também não é desejada, pois o ar é um mau condutor térmico e tende a diminuir a temperatura final do processo. Para isso, deve-se expurgar todo o excesso de ar presente por meio da válvula ou do purgador de ar. Foto: Shutterstock.com Válvula expurgadora de ar da autoclave. Há muitos modelos de autoclaves diferentes. No entanto, elas geralmente podem ser verticais ou horizontais, de parede dupla ou simples. No Brasil, as mais comuns são as verticais para a escala de laboratório. Já para a escala industrial, as autoclaves costumam ser horizontais. Foto: Shutterstock.com Modelo de autoclave vertical de laboratório. Foto: Shutterstock.com Modelo de miniautoclave horizontal para laboratórios e consultórios. Foto: Shutterstock.com Modelo de autoclaves horizontais industriais. Muitos materiais diferentes podem ser esterilizados utilizando o calor úmido, como materiais cirúrgicos, vidros, curativos, roupas, metais, seringas e demais materiais hospitalares. Em relação às preparações farmacêuticas, as soluções aquosas acondicionadas em ampolas são as mais indicadas, pois a presença da água auxilia o processo, gerando umidade suficiente para a esterilização por vapor. ATENÇÃO Esse método deve ser evitado no caso de preparações oleosas, gorduras e pós suscetíveis à umidade, pois o vapor terá dificuldade em penetrá-los ou poderá deteriorá-los. Isso se reflete no próprio mecanismo de ação de eliminação dos microrganismos por calor úmido que ocorre por desnaturação e coagulação de proteínas essenciais para o microrganismo. Uma vez que os microrganismos possuem água dentro de suas células, é justamente a presença dessa umidade que favorece a penetração do vapor e a destruição deles mesmo em temperaturas consideradas mais baixas. Enquanto as células bacterianas com grande quantidade de água podem ser eliminadas de forma mais rápida, as formas esporuladas são mais difíceis de serem eliminadas justamente pela baixa quantidade de água presente. CONTROLADORES OU INDICADORES DE ESTERILIZAÇÃO O ponto crítico no processo de esterilização por calor úmido é a temperatura. É preciso garantir que a temperatura ideal para o processo seja adquirida de acordo com o método escolhido. Para isso, existem algumas técnicas que auxiliam a garantir a eficácia desse processo. EXEMPLO Entre elas, o principal controle do processo é a utilização de termopares ligados a um potenciômetro. Nessa técnica, são utilizados dois pequenos fios de metais diferentes denominados termopares. Eles são ligados a um potenciômetro na porta da autoclave em uma extremidade e ficam em contato com os materiais a serem esterilizados na outra. A temperatura é controlada diretamente no painel do potenciômetro, sendo realizada a leitura de suas variações em intervalos regulares de tempo. Em seguida, é possível realizar gráficos de controle de processo, temperatura e pressão para se determinar o grau de eficácia da esterilização. Infelizmente, nem todas as autoclaves são equipadas com o controle por termopares. Nesses casos, é necessário recorrer a outras técnicas que possam garantir a eficácia do processo chamadas de indicadores de esterilização. Vamos conhecer agora os principais indicadores do processo de esterilização que devem ser utilizados para a monitorização desse procedimento. Indicadores biológicos ou bioindicadores: No passado, eles eram constituídos por microrganismos vivos, geralmente esporos secos, colocados em um tubo de ensaio fechado com meio de cultura adequado e distribuídos dentro da autoclave. Ao final do processo, eram semeados e incubados em meios de cultura apropriados a fim de se avaliar a sua capacidade de proliferação. Tal técnica atualmente foi substituída por uma mistura de indicadores biológicos e químicos, já que era impossível utilizar esses indicadores para as verificações de rotina, pois demorava vários dias para eles serem incubados e para se determinar a eficácia do processo. Todavia, era uma ótima maneira de se realizar um controle periódico do funcionamento da autoclave. Atualmente, vários produtos comerciais contendo bioindicadores podem ser adquiridos para o acompanhamento do método de esterilização por calor úmido. Os microrganismos mais utilizados para a realização desses métodos são: Bacillus stearothermophilus ATCC 7953 Bacillus subtilis ATCC 9372 Associados a eles, agentes químicos são utilizados com outros componentes que mudam de coloração, garantindo, assim, a eficácia do processo de esterilização. Tais métodos são conhecidos como métodos por colorimetria. Foto: Shutterstock.com Exemplo de indicadores biológicos. Indicadores químicos: São os mais utilizados e geralmente constituídos de substâncias químicas que sofrem uma alteração de cor após seu aquecimento às temperaturas de esterilização. Esses indicadores podem ser classificados em quatro classes de acordo com a ISO 11140; entretanto, os mais utilizados são os indicadores classe 1. Foto: Shutterstock.com Modelo de fita zebrada utilizada como indicador químico para a monitorização de processo de esterilização em autoclave. Os indicadores de classe 1 são normalmente conhecidos como fitas zebradas. Eles indicam se determinado pacote passou pelo processo, não garantindo, porém, sua esterilidade. Devem ser utilizados em todos os pacotes externamente; após o processo de esterilização, a fita muda para a cor preta. ATENÇÃO A autoclavação é o processo mais eficiente de esterilização, devendo ser sempre o escolhido se não houver nenhum outro impedimento. MÉTODOS FÍSICOS - ESTERILIZAÇÃO POR RADIAÇÃO As radiações podem ser classificadas de duas maneiras diferentes e, em geral, em dois grandes grupos: RADIAÇÕES ELETROMAGNÉTICAS Constituem os raios γ, X, ultravioleta (UV) e infravermelhos (IV), além de micro-ondas e luz visível. Elas podem ser classificadas como ionizantes e não ionizantes de acordo com seu poder de penetração. As radiações UV e IV são radiações não ionizantes e apresentam baixo poder de penetração e maior comprimento de onda; em geral, promovem sua ação esterilizante por meio do calor. Já as ionizantes apresentam menor comprimento de onda, embora tenham maior poder de penetração nos microrganismos e nos materiais diversos. RADIAÇÕES DE PARTÍCULAS OU CORPUSCULARES São também ionizantes e apresentam feixes de elétrons de alta velocidade conhecidos como raios , raios , nêutrons e prótons. Esses feixes têm a capacidade de penetrar diretamente na célula microbiana provocando a ionização dos constituintes da célula e induzindo a morte celular. Esse é o princípio básico do mecanismo de ação para o processo de esterilização por radiação no qual o principal alvo é o DNA dos microrganismos, assim como de outros componentes celulares, como RNA, enzimas e proteínas. Uma simples alteração na fita dupla de DNA é suficiente para danificar a síntese de RNA e de outras proteínas do microrganismo. Imagem: Shutterstock.com Grau de penetração das radiações ionizantes. A grande vantagem da utilização das radiações ionizantes, como os raios γ e , no processo de esterilização de preparações farmacêuticas é o fato de ela não gerar calor e servir como alternativa para a esterilização de materiais termossensíveis. Por conta disso, tal método é conhecido como esterilização a frio. Entretanto, a grande desvantagem da utilização das radiações ionizantes é a necessidade de equipamentos extremamente complexos que envolvam um alto custo e uma série de cuidados em biossegurança que garanta a saúde do operador e do meio ambiente. Os principais materiais que podem ser esterilizados por radiação ionizante são medicamentos termossensíveis, como, por exemplo, antibióticos, hormônios, corticoides, soros e vacinas, além de materiais cirúrgicos e hospitalares. α β β COMENTÁRIO Apesarde bem menos eficaz que as radiações γ, a radiação UV vem sendo muito utilizada ao longo dos anos para a esterilização de água e de superfícies e ambientes. Na realidade, ela não deve ser utilizada de forma isolada, e sim associada a outros métodos de esterilização. É muito comum encontrar a lâmpada de UV em cabines de segurança biológica ou fluxos laminares, assim como ao longo do processo de esterilização de água por osmose reversa, por exemplo. As lâmpadas UV mais utilizadas são as de comprimento de onda de 254nm que correspondem aos raios UVC e que, conforme estudamos, danificam o DNA do microrganismo. Foto: Shutterstock.com Imagem de uma esterilização de ambiente por lâmpada UV. Embora a esterilização de preparações farmacêuticas por radiação UV de forma isolada não seja recomendada, ela auxilia os demais processos de esterilização reduzindo consideravelmente a presença de microrganismos e facilitando sua eliminação pelo processo oficial. MÉTODOS QUÍMICOS - ESTERILIZAÇÃO POR AGENTES BACTERICIDAS Os processos químicos de esterilização utilizam agentes bactericidas, ou seja, substâncias químicas com propriedades bactericidas, geralmente na forma gasosa. Tal procedimento também é conhecido por esterilização a gás. COMENTÁRIO Infelizmente, tal método apresenta algumas desvantagens para a esterilização de preparações farmacêuticas, já que a grande maioria dos medicamentos pode sofrer interação com agentes bactericidas. Entretanto, é possível utilizar a esterilização química para tubulações e reservatórios, ambientes e superfícies, equipamentos e materiais, principalmente na indústria farmacêutica. Uma das substâncias químicas mais utilizadas como agente bactericida na forma gasosa é o óxido de etileno. Esse gás tem alto poder de penetração e apresenta atividade bactericida, fungicida, viricida, esporicida e protozocida. Entretanto, ele é extremamente perigoso, pois é altamente explosivo e deve ser utilizado de forma diluída. Atualmente, já existem autoclaves associadas a esterilizadores com óxido de etileno. Tal técnica pode ser bem utilizada para a esterilização de materiais cirúrgicos, seringas e agulhas descartáveis, material hospitalar, embalagens plásticas e alguns poucos medicamentos. Outra substância química muito conhecida como agente bactericida é o formaldeído. Esse produto apresenta-se na forma líquida ou em pastilhas sólidas. Quando aquecido a 56°C, ele libera vapores como o formol ou aldeído fórmico. Tais vapores são muito irritantes e tóxicos e têm pouco poder de penetração. Dessa forma, eles devem ser utilizados apenas em ambientes e superfícies na concentração final de 1 a 3g/m3 em atmosfera úmida. O ácido peracético também pode ser empregado como agente bactericida para a limpeza, por exemplo, das tubulações de um sistema de abastecimento de água purificada API (água purificada para injetáveis) de uma indústria farmacêutica. Geralmente, utiliza-se uma solução a 3,5% de ácido peracético aquecida a 45°C, a qual circulará por todo o sistema de tubulação. O ácido peracético é um potente agente oxidante, tendo ação na parede celular e sobre os constituintes citoplasmáticos dos microrganismos. Deve-se tomar cuidado, pois ele é muito corrosivo e com baixo poder de penetração. Existem outros agentes bactericidas utilizados para o processo de desinfecção, porém não para o de esterilização. Ainda assim, poderão auxiliar quando estiverem associados a outras técnicas, como o álcool 70%, os quaternários de amônio e o hipoclorito de sódio. Todavia, a maioria desses agentes somente é recomendada para ambientes e superfícies, assim como para a desinfecção de alguns materiais específicos. MÉTODOS MECÂNICOS - ESTERILIZAÇÃO POR FILTRAÇÃO A técnica de filtração é um método bem conhecido; afinal, todos os dias, nos deparamos com ela – seja na preparação do café, seja bebendo um copo de água filtrada. A filtração consiste em uma técnica mecânica de separação por meio da remoção física de particulados utilizando um elemento filtrante por adsorção ou peneiramento. O ponto crítico desse processo está justamente no elemento filtrante, que, na realidade, é o nosso filtro. Além disso, para ser considerada uma filtração esterilizante, é necessária a utilização de filtros muito específicos e com tamanho de poro ou orifício bastante reduzidos (na faixa de 0,22µm). Os filtros podem ser classificados de duas formas: os de membrana ou os de profundidade (de acordo com seus respectivos métodos de filtração). Conforme já falamos, a técnica de esterilização por filtração para preparações farmacêuticas só deverá ser escolhida caso alguma outra técnica, como a esterilização por calor, não possa ser utilizada. A exceção é a filtração esterilizante do ar. Sim, você leu corretamente: o ar precisa ser esterilizado a fim de que se possa criar um ambiente estéril para a manipulação de preparações farmacêuticas. Voltaremos a falar sobre isso mais adiante. Muitos fatores interferem no processo de filtração: A temperatura. A pressão ou o vácuo aplicado ao sistema. O pH da solução. Entretanto, o mais importante é o tamanho do poro do elemento filtrante, principalmente no caso de microrganismos. A diferença de um processo de filtração comum para um de filtração esterilizante é justamente esta: o tamanho do poro do filtro necessário para eliminar os microrganismos de uma preparação ou de um ambiente. Foto: MADIGAN et al., 2016, p. 173 Micrografia eletrônica de varredura de Leptospira interrogans em membrana filtrante com poro de 0,2µm. COMENTÁRIO O método de filtração esterilizante pode ser utilizado para preparações injetáveis, colírios, soluções termolábeis, produtos biológicos e o ar. Ele tem um custo relativamente baixo e remove microrganismos e particulados da solução. Contudo, geralmente só deverá ser utilizado para pequenos volumes, não sendo indicado para a filtração daqueles que sejam grandes nem para materiais viscosos, que tendem a entupir os filtros, principalmente se houver uma grande quantidade de partículas a serem removidas. Muitos tipos de filtros comerciais podem ser utilizados para a esterilização; entretanto, todos eles deverão apresentar o tamanho de poro de 0,22µm para serem considerados esterilizantes. Foto: Shutterstock.com Filtro esterilizante de membrana acoplada à seringa para filtração esterilizante. No preparo de formas farmacêuticas estéreis, como soluções injetáveis e colírios, não basta apenas a esterilização dos produtos finais: todo o processo deve ser considerado estéril. Para isso, é necessário garantir também a esterilização do ar do ambiente onde ocorrerá a fabricação. Quando se trata de pequenas quantidades ou pequenos volumes, é possível utilizar as cabines de segurança biológica ou os fluxos laminares. Já para a fabricação de produtos estéreis em escala industrial, exige-se um processo mais complexo, pois ele precisa garantir a esterilidade das salas e dos locais de fabricação também conhecidos como salas limpas. O ar transporta uma série de partículas e microrganismos, incluindo os patogênicos. O teor de microrganismos presentes no ar é muito variável: eles podem ser transportados por partículas de poeira e gotículas de água ou perdigotos. As partículas de poeira podem ter dimensões que variam de 10 a 100µm, enquanto as gotículas de água e os perdigotos podem variar de 10µm a 1-2mm. VOCÊ SABIA É muito difícil eliminar todas as partículas presentes do ar, mas é necessário reduzi-las ao máximo a fim de eliminar qualquer risco de contaminação ao longo do processo de fabricação de preparações farmacêuticas estéreis. Para isso, utilizamos um sistema de filtração por meio de pré-filtros e filtros esterilizantes absolutos conhecidos como filtros HEPA (sigla para high efficiency particulate air). Esses tipos de filtros têm alta capacidade de retenção e eficácia de cerca de 99,70% para partículas ≥ 0,3µm. É muito importante a associação de mais de um tipo de filtro a fimde não sobrecarregar o filtro absoluto, reduzindo, assim, o acesso de poeiras e particulados a ele. Imagem: Shutterstock.com Técnicas de filtração do ar utilizando filtro HEPA. Os fluxos laminares e as cabines de segurança biológica são utilizados para a manipulação de agentes biológicos, meios de cultura e diluentes que necessitem de um ambiente estéril. Em muitos casos, é difícil diferenciar uma capela simples de um fluxo laminar ou de uma cabine de segurança biológica olhando rapidamente ou de maneira distante. Mas a grande diferença entre elas é justamente a capacidade que os fluxos laminares possuem de produzir um ambiente estéril protegendo tanto o operador quanto o produto manipulado da contaminação biológica. Essas cabines de fluxo laminar também utilizam filtros absolutos ou do tipo HEPA. Existem basicamente dois tipos de cabines de fluxo laminar: FLUXO VERTICAL Esse tipo de cabine tende a apresentar maior eficiência de proteção tanto ao operador quanto ao produto manipulado. Geralmente, ocorre 100% de recirculação do ar. FLUXO HORIZONTAL javascript:void(0) javascript:void(0) Nesse tipo de cabine, ocorre apenas a proteção do produto manipulado. Ele só deve ser utilizado com materiais que não tragam risco de contaminação para o operador. Geralmente, ocorre 100% de renovação do ar. As câmaras de segurança biológica ou cabines de segurança biológica são equipamentos mais completos e garantem tanto a proteção do operador como do produto e do meio ambiente. Isso ocorre porque esse tipo de equipamento funciona com pressão negativa, evitando a saída do ar para o meio ambiente. É preciso observar que tal sistema não pode ser utilizado para produtos tóxicos ou voláteis, uma vez que o ar contaminado não é eliminado para o ambiente. Observe a seguir o conceito de fluxo de ar unidirecional para salas limpas: Imagem: Shutterstock.com Conceito do fluxo de ar unidirecional para salas limpas. Foto: Shutterstock.com Limpeza e desinfecção de capela de fluxo laminar. Foto: Shutterstock.com Contagem de partículas em sala limpa. Foto: Shutterstock.com Operação em ambiente estéril em fluxo laminar. NORMATIZAÇÕES IMPORTANTES PARA SALAS LIMPAS Assista a este vídeo sobre a contagem de partículas. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE OS PROCESSOS DE ESTERILIZAÇÃO, ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR: I - O VAPOR QUENTE SOB PRESSÃO É O MÉTODO MAIS USADO PARA ESTERILIZAÇÃO DE MATERIAIS CIRÚRGICOS. II – O CALOR ÚMIDO DESTRÓI OS MICRORGANISMOS POR COAGULAÇÃO E DESNATURAÇÃO IRREVERSÍVEIS DE SUAS ENZIMAS E PROTEÍNAS ESTRUTURAIS, SENDO ESSE TIPO DE PROCESSO REALIZADO EM AUTOCLAVES. III – O ÓXIDO DE ETILENO É QUASE EXCLUSIVAMENTE UTILIZADO PARA A ESTERILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS QUE NÃO PODEM SER AUTOCLAVADOS. IV – A ESTERILIZAÇÃO POR CALOR SECO É RESERVADA SOMENTE AOS MATERIAIS SENSÍVEIS AO CALOR ÚMIDO. É CORRETO O QUE SE AFIRMA EM: A) I e III B) II e IV C) I, II, III e IV D) II e III E) II, III e IV 2. DE ACORDO COM OS CONCEITOS ESTABELECIDOS A RESPEITO DOS PROCEDIMENTOS DE ELIMINAÇÃO DE MICRORGANISMOS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Esterilização é a destruição de parte dos microrganismos, inclusive dos esporulados, por meio de um processo químico ou físico. B) Desinfecção é a eliminação de microrganismos, inclusive dos esporulados, por meio de um processo químico ou físico. C) Esterilização é a eliminação de microrganismos, exceto dos esporulados, de materiais ou artigos inanimados com o auxílio de desinfetantes. D) Descontaminação é a eliminação de microrganismos da pele, mucosa ou tecidos vivos com o auxílio de antissépticos, substâncias microbiocidas ou microbiostáticas. E) Limpeza é a remoção mecânica e/ou química de sujidades em geral (oleosidade, umidade, matéria orgânica e poeira, entre outros) de determinado local. GABARITO 1. Sobre os processos de esterilização, analise as afirmativas a seguir: I - O vapor quente sob pressão é o método mais usado para esterilização de materiais cirúrgicos. II – O calor úmido destrói os microrganismos por coagulação e desnaturação irreversíveis de suas enzimas e proteínas estruturais, sendo esse tipo de processo realizado em autoclaves. III – O óxido de etileno é quase exclusivamente utilizado para a esterilização de equipamentos que não podem ser autoclavados. IV – A esterilização por calor seco é reservada somente aos materiais sensíveis ao calor úmido. É correto o que se afirma em: A alternativa "D " está correta. Os materiais cirúrgicos são preferencialmente esterilizados em estufas de esterilização por calor seco. Apesar de o calor úmido ser o principal método de escolha para a esterilização, o seco pode ser usado para esterilizar diversos produtos, e não apenas para aqueles sensíveis ao calor úmido, uma vez que esses produtos sensíveis também o serão ao calor seco, já que ele utiliza temperaturas mais altas. 2. De acordo com os conceitos estabelecidos a respeito dos procedimentos de eliminação de microrganismos, assinale a alternativa correta: A alternativa "E " está correta. A limpeza é um procedimento essencial e muito comum tanto no âmbito industrial como no dia a dia das pessoas. Ela consiste na remoção mecânica ou química de diferentes tipos de sujidades de determinada superfície, porém não é eficiente na eliminação completa de microrganismos. MÓDULO 2 Distinguir os medicamentos parenterais e suas vias de administração CONCEITOS GERAIS Os medicamentos parenterais, também chamados de medicamentos injetáveis, foram desenvolvidos para a administração pelas diversas vias parenterais. Eles têm como principal característica a necessidade de serem estéreis ou livres de microrganismos. Na maioria das vezes, encontram-se na forma de soluções, suspensões e pós extemporâneos – e, em alguns casos, de emulsões. As vias de administração parenterais, apesar de invasivas, apresentam algumas vantagens frente às demais vias de administração, como a rápida liberação do fármaco diretamente na corrente sanguínea, apresentando 100% de biodisponibilidade e evitando o efeito de primeira passagem. Além disso, é possível administrar fármacos inativados pelo TGI (trato gastrointestinal), como os antibióticos aminoglicosídeos, sendo permitida ainda a administração de medicamentos em pacientes inconscientes ou em coma. ATENÇÃO Em contrapartida, por serem vias invasivas, são necessários mais cuidados na hora da aplicação a fim de se evitar infecções, lesões locais, dor ou mal-estar aos pacientes. Observaremos a seguir as principais vias de administração parenterais para a administração de medicamentos: Imagem: ALLEN JR.; POPOVICH; ANSEL, 2013, p. 436. Adaptado por Roseane Bahiense. Vias de administração parenteral. VIA INTRAVENOSA (IV) Os fármacos são administrados nas veias e caem diretamente na corrente sanguínea, apresentando rápido efeito terapêutico e sendo mais indicados para casos de emergência. Podem ser administrados em pequenos volumes ou em grandes nos casos de administração por infusão. Jamais devem ser administrados medicamentos com veículo oleoso por essa via: a melhor forma de administração é em soluções. VIA INTRAMUSCULAR (IM) Os fármacos são administrados diretamente nos músculos, geralmente o músculo glúteo ou o deltoide, de acordo com o volume a ser administrado. Tal via apresenta absorção relativamente mais lenta que a intravenosa, porém com um efeito mais duradouro. É comum administrar fármacos em solução ou suspensão, sendo que os fármacos em solução tendem a apresentar um efeito mais rápido, enquanto aqueles em suspensão têm um efeito mais duradouro, como os hormônios de depósito. VIA SUBCUTÂNEA (SC) São administrados fármacos em pequenos volumes, geralmente com 1,3mL, não devendo ser superiores a 2mL. O local mais indicado para esse tipo de administração é o abdômen inferior, podendo também ser aplicado na coxa superior ou no dorso superior do braço. Para facilitar a aplicação, atualmente existem agulhas específicas com comprimentosmáximos entre 0,8 e 1,5cm. A administração de insulina em pacientes diabéticos é um ótimo exemplo para essa via de administração parenteral. VIA INTRADÉRMICA (ID) Via mais utilizada para a administração de vacinas e tratamentos imunizantes. O melhor local de aplicação é, entre a derme e a epiderme, na face anterior do antebraço. Em geral, os volumes são bem pequenos, tendo, no máximo, 0,1mL, e existem agulhas específicas para essa aplicação. COMENTÁRIO Há outras vias de administração parenteral, como a via intratecal, intrarticular e intrassinovial, porém tais vias, por serem muito específicas e de administração somente hospitalar, não serão contempladas em nosso estudo. PREPARAÇÕES PARENTERAIS Por definição, as formas farmacêuticas parenterais são soluções, suspensões e raramente emulsões, além de pós estéreis de substâncias medicamentosas em veículos aquosos, oleosos ou outros apropriados que são aplicadas nas diversas vias parenterais. A partir de agora, dividiremos as preparações parenterais em três grandes grupos: Foto: Shutterstock.com Exemplo de ampolas de medicamento injetável na forma de solução. INJEÇÕES Tais preparações geralmente se apresentam na forma de soluções ou suspensões. As soluções devem ser límpidas, transparentes e livres de partículas visíveis. Elas podem apresentar sedimentos, mas devem ressuspendê-los rapidamente após breve agitação a fim de garantir a homogeneidade da dose no momento da administração. Foto: Shutterstock.com Imagem de uma bolsa de soro fisiológico para infusão parenteral. INFUSÕES São preparações parenterais de grande volume, podendo variar de 100 a 1.000mL. Elas podem se apresentar na forma de soluções aquosas estéreis isotônicas em relação ao meio fisiológico. Também podem ter a forma de emulsões O/A (óleo/água), como no caso da nutrição parenteral; entretanto, não devem apresentar nenhum sinal de separação de fases. Foto: Shutterstock.com Frasco ampola contendo pó para reconstituição para administração parenteral com o diluente. PÓS PARA RECONSTITUIÇÃO EXTEMPORÂNEA São preparações sólidas na forma de pós, estéreis e secas, as quais deverão ser diluídas na hora da aplicação por determinado diluente específico também estéril (geralmente, a água). É importante que você entenda que, ao final da reconstituição, poderá obter tanto uma solução quanto uma suspensão dependendo das características físico-químicas do fármaco e da preparação farmacêutica. Entretanto, a preparação final deverá atender aos mesmos requisitos técnicos das demais preparações injetáveis. A técnica mais comum para a obtenção desses pós é a liofilização, que consiste em uma secagem por congelamento, sendo muito utilizada para fármacos sensíveis à degradação por hidrólise. PRINCIPAIS VEÍCULOS E SOLVENTES O veículo mais utilizado para a preparação de injetáveis é a água. Todavia, é preciso que essa água apresente alto grau de pureza e seja classificada como API (água para injetáveis) conforme preconiza a 6ª edição da Farmacopeia brasileira. No caso dos pós para reconstituição extemporânea, geralmente o diluente acompanha o medicamento em pequenos frascos e ampolas descartáveis com a quantidade necessária de solvente para a aplicação da dose. Além da água, é possível utilizar uma combinação de solventes aquosos a fim de se garantir uma maior solubilidade dos fármacos e uma melhor administração para o paciente. VOCÊ SABIA No passado, era comum solventes aquosos utilizarem o álcool benzílico, como bacteriostático e anestésico local, para minimizar os riscos de contaminação no caso de frascos de doses múltiplas e melhorar a dor local da aplicação. Entretanto, devido aos altos relatos de toxicidade do álcool benzílico, principalmente em pacientes recém-nascidos, tal uso atualmente é muito restrito. Uma alternativa é a utilização do soro fisiológico como veículo para a preparação dos medicamentos injetáveis. Essa solução precisa ser estéril e isotônica ao meio fisiológico e não deve conter nenhum agente antimicrobiano. Além da reconstituição de medicamentos, o soro fisiológico também pode ser utilizado para diversas outras finalidades, como na limpeza e na desobstrução de cateteres, por exemplo. No caso de fármacos pouco solúveis em água, é possível se preparar como veículo uma mistura de cossolventes miscíveis com a água à base de glicerina ou propilenoglicol. Isso geralmente diminui a constante dielétrica do veículo, melhorando a solubilidade dos fármacos no solvente. Já nos casos de fármacos insolúveis em água ou suscetíveis à degradação por hidrólise, é necessário haver a utilização de veículos não aquosos mais conhecidos como veículos oleosos. As características para esses tipos de veículo são as mesmas dos aquosos: eles não podem ser irritantes, devendo ser atóxicos, inertes e inócuos, além de apresentarem baixa viscosidade. Os principais veículos oleosos utilizados na preparação de injetáveis são: Os óleos vegetais. Os ésteres de sorbitano de ácidos graxos, como o miristato de isopropila. A lecitina. Naturalmente, a utilização de veículos não aquosos para a preparação de medicamentos parenterais apresenta maiores restrições que os aquosos. Dessa forma, é necessário que tais solventes atendam às exigências estabelecidas pelos órgãos reguladores e pelas farmacopeias. EXCIPIENTES UTILIZADOS PARA A PREPARAÇÃO DE MEDICAMENTOS INJETÁVEIS AGENTES CONSERVANTES Os agentes conservantes são utilizados nas preparações injetáveis para evitar a contaminação microbiana, principalmente nas administrações de múltiplas doses. Os frascos ampolas são constituídos de vidro com tampa de borracha sintética, o que permite várias aplicações de um mesmo frasco. Isso configura as chamadas múltiplas doses. Desse modo, a adição de um agente conservante à formulação se faz necessária a fim de inibir o crescimento microbiano durante a manipulação das várias aplicações. Os conservantes mais utilizados são apresentados na tabela a seguir: Conservantes Concentração usual Cloreto de benzalcônio 0,01% Ácido benzoico 0,17% Clorobutanol 0,1 a 0,5% Álcool benzílico 1 a 2% Clorocresol 0,1% Cresol 0,15 a 0,3% Nipagin 0,18% Nipazol 0,02% ⇋ Utilize a rolagem horizontal Tabela: Conservantes utilizados em preparações injetáveis. Elaborada por Patrícia de Castro Moreira Dias. ATENÇÃO O uso de conservantes em preparações parenterais é mais indicado para as multidoses. Além disso, a escolha dos melhores agentes conservantes deve observar os cuidados e as características físico-químicas dos fármacos. É preciso evitar a adição de conservantes em infusões de grandes volumes e nunca utilizar preparações que contenham álcool benzílico em crianças recém-nascidas. AGENTES ANTIOXIDANTES Os agentes antioxidantes são substâncias químicas utilizadas para evitar a degradação do fármaco pela oxidação, melhorar a estabilidade da formulação e aumentar a validade do produto final. Os antioxidantes podem agir por diferentes mecanismos. Eles geralmente apresentam um potencial de oxidação maior que o do fármaco, reagindo mais rapidamente com a molécula de oxigênio e protegendo o fármaco. POTENCIAL DE OXIDAÇÃO Capacidade de sofrer oxidação. Já os chamados agentes quelantes ou sequestrantes, como o EDTA, atuam em sinergia com os agentes antioxidantes, aumentando seu efeito. Tais substâncias funcionam sequestrando os metais presentes no meio e evitando que eles catalisem reações de oxidação. javascript:void(0) javascript:void(0) Outra forma bastante comum de minimizar o processo de oxidação do fármaco em preparações injetáveis é a retirada do oxigênio presente no meio. Para isso, utiliza-se o nitrogênio na forma de gás, que é borbulhado no meio antes do envase do produto. Isso faz com que as moléculas de oxigênio dissolvidas na solução sejam deslocadas para a superfície e, em seguida, eliminadas. Os principais agente antioxidantes estão listados a seguir: EDTA Do inglês Ethylenediamine tetraacetic acid ouácido etilenodiamino tetra-acético. Antioxidantes Concentração usual Aplicação Metabissulfito de sódio 0,01 a 0,1% Também pode ser usado como conservante. Butilhidroxianusol (BHA) e Butilhidroxitolueno (BHT) 0,03% (IM) 0,0002 a 0,002% (IV) Podem ser utilizados de forma isolada ou associados. São mais indicados para veículos oleosos. Vitamina C (ácido ascórbico) 0,01 a 0,1% É hidrossolúvel e utilizado para preparações aquosas. Age também como agente sequestrante ou quelante (0,3 a 2%). Vitamina E (tocoferol) 0,001 a 0,05% É lipofílico e mais indicado para preparações oleosas. EDTA 0,0005 a 0,01% Potente agente quelante, ele deve ser utilizado com outros antioxidantes Antioxidantes Concentração usual Aplicação para aumentar o efeito antioxidante. ⇋ Utilize a rolagem horizontal Tabela: Antioxidantes utilizados em preparações injetáveis. Elaborada por Patrícia de Castro Moreira Dias. AJUSTE DE PH E TAMPÕES Quando um fármaco se encontra na forma de solução aquosa, muitas vezes ele vai se ionizar parcial ou totalmente de acordo com o seu pKa. Entretanto, na maioria das vezes, os fármacos, para serem mais bem absorvidos, devem estar em sua forma não ionizada. Justifica-se, assim, a importância do pH e dos sistemas tampões nas preparações farmacêuticas a fim de se favorecer a forma não ionizada do fármaco no produto final. No caso das preparações parenterais, isso também é possível de se realizar; no entanto, alguns fatores precisam ser avaliados com o pH. EXEMPLO O valor do pH do plasma e dos fluidos extracelulares é de 7,4. Espera-se, portanto, que os medicamentos sejam preparados para esse valor. Todavia, dificilmente o fármaco será estável nesse valor de pH. Dessa maneira, outros fatores também estão relacionados com o pH, como a compatibilidade fisiológica, a solubilidade e a estabilidade do fármaco. ATENÇÃO De forma geral, os medicamentos injetáveis podem apresentar um valor de pH entre 3,0 e 9,0 de acordo com a formulação. Acima ou abaixo desses valores, a preparação pode tornar-se corrosiva e lesionar os tecidos no local da administração. Para ajustar o pH das formulações injetáveis, pode-se usar agentes acidificantes, como o ácido cítrico e o tartárico, ou agentes alcalinizantes, como o bicarbonato de sódio e o citrato de sódio. Para a manutenção do pH dentro de determinada faixa, é possível empregar sistemas tampões. Isso evita variações de pH que possam causar interações químicas entre os componentes da formulação e reduzir a estabilidade do fármaco. Os principais tampões utilizados nesses casos são três: fosfato, citrato e carbonatos. A tabela a seguir apresenta alguns tampões utilizados nas formulações parenterais a fim de garantir a manutenção do pH: Tampão Componentes Faixa de pH Fosfato Fosfato monobásico de sódio e fosfato dibásico de sódio 5,4 a 8,0 Citrato Ácido cítrico e citrato de sódio 3 a 6 Acetato Ácido acético e acetato de sódio 3,6 a 5,6 Carbonato Carbonato monossódico e carbonato dissódico 9,2 a 10,7 ⇋ Utilize a rolagem horizontal Tabela: Sistemas tampão utilizados em preparações parenterais. Elaborada por Patrícia de Castro Moreira Dias. AGENTES SUSPENSORES No caso dos medicamentos injetáveis que se apresentem na forma de suspensões, é necessário ocorrer a utilização de agentes suspensores para garantir a redispersibilidade uniforme do fármaco e a homogeneidade da dose antes da aplicação. Os agentes suspensores mais utilizados são os mesmos usados para as suspensões orais e com a mesma finalidade, como, por exemplo, os derivados de celulose, metilcelulose (MC) e carboximetilcelulose (CMC) e o polissorbato, um tensoativo não iônico muito utilizado nessas preparações. AGENTES DE AJUSTE DE TONICIDADE As preparações parenterais que entram diretamente em contato com as mucosas ou os tecidos precisam apresentar, além da esterilidade, uma característica diferente das demais preparações: a isotonicidade. Para compreender melhor esse conceito, é necessário recorrer a outras definições. Apontaremos algumas delas a seguir: OSMOSE É a passagem espontânea de um solvente através de uma membrana semipermeável de um meio de baixa concentração de soluto (hipotônico) para um de maior concentração dele (hipertônico). PRESSÃO OSMÓTICA É a pressão externa exercida sobre um sistema para evitar a passagem de solvente através do processo de osmose. OSMOLALIDADE É a medida da quantidade de partículas osmoticamente ativas por quilo de solução (mmol/kg). Imagem: Shutterstock.com Difusão do solvente do meio hipotônico para o meio hipertônico – osmose. O plasma humano apresenta uma osmolalidade entre 280 e 295mmol/kg. Uma solução de soro fisiológico a 0,9% possui uma osmolalidade de 286mmol/kg e pode ser considerada isotônica ao plasma sanguíneo. Tal característica é fundamental para as preparações injetáveis ou que entrem em contato direto com as mucosas, pois as soluções hipertônicas possuem pressão osmótica maior que a do plasma e podem causar a perda da água pelas células sanguíneas ou dos tecidos adjacentes, fazendo com que elas murchem, fenômeno conhecido como plasmólise. Já soluções hipotônicas possuem pressão osmótica menor que a do plasma, levando à absorção de água pelas células e fazendo com que elas inchem, fenômeno conhecido por turgescência. Imagem: Shutterstock.com Apresentação do efeito das soluções hipertônicas e hipotônicas nas células sanguíneas. Dessa forma, tais preparações deverão encontrar-se isotônicas aos fluidos orgânicos, principalmente ao plasma. Para isso, é muito comum utilizar um método denominado equivalentes em cloreto de sódio (conhecido também como cálculo de isotonia pela diminuição do ponto de congelamento) a fim de ajustar a tonicidade das preparações parenterais. Por meio desse método, é possível calcular a quantidade de cloreto de sódio necessária para isotonizar o produto final. ISOTONIZAR No módulo 3, você aprenderá a realizar os cálculos necessários para a isotonização das preparações injetáveis e oftálmicas. PROCESSO DE FABRICAÇÃO Para a fabricação das preparações parenterais, o primeiro passo é garantir a esterilidade do processo. No caso da fabricação em grande escala, as indústrias devem possuir uma área específica para a fabricação de injetáveis conhecida como salas limpas ou áreas limpas (módulo 1). Esses ambientes devem apresentar o certificado de boas práticas de fabricação (BPF) específico para a fabricação de injetáveis e todos os cuidados necessários com o vestuário, os filtros de ar, os equipamentos, os operadores e as embalagens dos produtos fabricados. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é o órgão regulamentador dessas atividades. Graças à RDC nº 301/2019, a Anvisa regulamenta as áreas de fabricação de injetáveis. A fabricação é relativamente simples quando se trata de soluções parenterais. javascript:void(0) 1 Os maiores cuidados estão relacionados à garantia do processo estéril. Os fármacos e excipientes são dissolvidos no veículo em um reator ou tanque com agitação de aço inox. 2 3 Em seguida, ocorre a filtração da solução e o envasamento em ampolas, frascos ampolas ou demais embalagens específicas. O produto já envazado segue então para a esterilização final, que geralmente acontece em autoclaves industriais. 4 5 Algumas amostras são retiradas para a realização dos ensaios de controle de qualidade e teste de pirogênio. O produto segue então para a embalagem final. 6 No caso da fabricação de preparações injetáveis na forma de suspensões, o procedimento é muito parecido com a preparação das suspensões orais, enquanto o fármaco pode ser reduzido a um pó fino para dispersão em um veículo final. É preciso verificar o processo de esterilização, pois, para tais preparações, a viscosidade é importante para garantir a redispersibilidade do fármaco antes da aplicação, e a esterilização por calor pode interferir na viscosidade final do produto. ATENÇÃO Nessescasos, a esterilização por calor úmido ou seco deve ser substituída por outro método de esterilização. Os pós para a reconstituição de injetáveis podem ser fabricados por um processo de liofilização ou obtidos a partir de uma mistura simples de pós. Eles são acondicionados em frasco ampola e esterilizados por calor seco ou úmido para serem reconstituídos somente no momento da aplicação. COMENTÁRIO Esse tipo de processo é muito utilizado para fármacos de baixa estabilidade em solução, como os antibióticos, por exemplo. Geralmente, o veículo estéril é embalado separadamente para ser utilizado no momento da aplicação. CONTROLE DE QUALIDADE - TESTE DE PIROGÊNIO O teste de controle de qualidade mais importante para as preparações estéreis é conhecido como teste de pirogênio, sendo utilizado a fim de garantir a esterilidade final do produto. Os pirogênios são substâncias provenientes de bactérias vivas ou mortas, sendo geralmente gram-negativas a originar endotoxinas que, quando injetadas por via parenteral, provocam febre independentemente do agente terapêutico utilizado. A contaminação por pirogênio é considerada bastante grave, sendo uma falha no processo de esterilização que pode ocorrer desde a matéria-prima e passar pelo local de fabricação, pelas embalagens e pelo veículo. Entretanto, a água é a principal fonte de contaminação dessas endotoxinas, que são muito resistentes aos processos de esterilização. As técnicas mais utilizadas para a despirogenização são a esterilização por calor, a filtração esterilizante em membranas de 0,22µm e a utilização de um agente antioxidante, como o permanganato de potássio, ou um de forte agente alcalinizante, como o hidróxido de bário. Atualmente, com o avanço tecnológico, existem muitas possibilidades para a destruição dessas substâncias – e a osmose reversa é uma delas. Uma alternativa é a utilização de membranas eletrostáticas carregadas positivamente que tendem atrair as endotoxinas. Independentemente do processo de esterilização ou dos produtos fabricados, sempre que se trabalha com medicamentos estéreis é necessário haver a realização do teste de pirogênio. O teste de pirogênio mais antigo e utilizado em coelhos é conhecido como hipertermia. Trata-se de um método farmacopeico no qual coelhos sadios são inoculados com o produto estéril e suas temperaturas medidas em períodos determinados. A variação da temperatura não pode ser maior que 0,5°C. Felizmente, tal método vem sendo substituído ao longo dos anos pela testagem conhecida como teste de LAL (Limulus amebocyte lysate) ou endotoxina bacteriana, que também já é um teste reconhecido pelas farmacopeias. Neste teste, utiliza-se o extrato aquoso dos amebócitos circulantes do Limulus polyphemus ou do Tachypleus tridentatus preparado e caracterizado como reagente LAL. Pode-se usar duas técnicas distintas para detectar ou quantificar endotoxinas de bactérias gram-negativas presentes em amostras para qual o teste é preconizado: a coagulação em gel ou os métodos fotométricos. PREPARAÇÕES INJETÁVEIS DE GRANDES VOLUMES Saiba neste vídeo como fazer preparações injetáveis de grandes volumes. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. INJEÇÕES SÃO PREPARAÇÕES ESTÉREIS DE SOLUÇÕES, EMULSÕES OU SUSPENSÕES DESTINADAS À ADMINISTRAÇÃO PARENTERAL. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE REPRESENTA A VIA CUJO LOCAL DE ADMINISTRAÇÃO SE LOCALIZA ENTRE A DERME E A EPIDERME DA FACE ANTERIOR DO ANTEBRAÇO OU REGIÃO SUBESCAPULAR, HAVENDO UMA ABSORÇÃO LENTA DO MEDICAMENTO. A) Intramuscular B) Subcutânea C) Intradérmica D) Intraespinhal E) Intravenosa 2. OS NÍVEIS DE PIROGÊNIO SÃO CRUCIAIS NA LIBERAÇÃO DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS. SOB O PONTO DE VISTA DO CONTROLE DE QUALIDADE, TODOS OS INJETÁVEIS EMPREGADOS EM TERAPIA PARENTERAL DEVEM OFERECER SEGURANÇA AO PACIENTE. PRODUTOS INJETÁVEIS DE GRANDE OU PEQUENO VOLUME PRECISAM SER ANALISADOS QUANTO À PRESENÇA DOS PIROGÊNIOS. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA SOBRE OS TESTES DE AVALIAÇÃO DE PIROGÊNIOS E OS PROCESSOS DE DESPIROGENIZAÇÃO UTILIZADOS NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA. A) Um dos testes farmacopeicos empregados na avaliação de pirogênios é o teste da hipotermia em camundongos. B) O teste de endotoxinas bacterianas é utilizado para detectar ou quantificar endotoxinas de bactérias gram-negativas presentes em amostras para os quais ele seja preconizado. C) Nos ensaios colorimétricos, quanto maior a concentração da endotoxina na amostra, menor a turbidez observada nos tubos. D) Quando uma solução é estéril, não é necessário realizar os testes de pirogenicidade. E) O processo de despirogenização pode ocorrer por inativação ou remoção de endotoxinas e por meio de limpeza, desinfecção e utilização de agentes químicos. GABARITO 1. Injeções são preparações estéreis de soluções, emulsões ou suspensões destinadas à administração parenteral. Assinale a alternativa que representa a via cujo local de administração se localiza entre a derme e a epiderme da face anterior do antebraço ou região subescapular, havendo uma absorção lenta do medicamento. A alternativa "C " está correta. A via intradérmica é muito utilizada para a administração de vacinas e outros tratamentos imunizantes. O local mais adequado e de melhor aplicação fica entre a derme e a epiderme. Por essa via são administrados volumes bem pequenos (no máximo, de 0,1mL). 2. Os níveis de pirogênio são cruciais na liberação de produtos farmacêuticos. Sob o ponto de vista do controle de qualidade, todos os injetáveis empregados em terapia parenteral devem oferecer segurança ao paciente. Produtos injetáveis de grande ou pequeno volume precisam ser analisados quanto à presença dos pirogênios. Assinale a alternativa correta sobre os testes de avaliação de pirogênios e os processos de despirogenização utilizados na indústria farmacêutica. A alternativa "B " está correta. O teste de avaliação de pirogênios é realizado por meio da verificação da hipertermia em coelhos e busca analisar qualitativa e/ou quantitativamente as endotoxinas produzidas por bactérias gram-negativas. MÓDULO 3 Identificar as formas farmacêuticas para a via ocular ANATOMIA E FISIOLOGIA DO OLHO O olho humano é constituído por três camadas conhecidas por: 1. Túnica fibrosa ou camada externa: camada mais externa constituída de tecido conjuntivo fibroso que dá origem à esclera, cuja parte frontal é conhecida como o “branco dos olhos”. Na parte anterior dessa camada, está presente a córnea, que é constituída por fibras colágenas e mucoproteicas dispostas de forma longitudinal, o que lhe confere um aspecto transparente. A córnea é avascular. Já a esclera, mais especificamente a episclera, camada mais externa da esclera, é altamente vascularizada. A conjuntiva, por sua vez, se trata de uma membrana fina e transparente que cobre a parte externa da esclera e se estende para dentro das pálpebras. A córnea e a esclera são recobertas por uma fina película de lágrima produzida pelas glândulas lacrimais. Essa película tem a finalidade de lubrificação e de proteção contra a entrada de corpos estranhos. A lágrima é constituída de 95% de água e de outros componentes, como eletrólitos, sais minerais, enzimas e proteínas. Suas principais funções são a limpeza, a proteção e a nutrição para os olhos. O volume de água nos olhos, em condições normais, é entre 8 e 10µL, enquanto seu pH é igual ao do plasma: 7,4. 2. Túnica vascular ou camada média: ela também pode ser conhecida como úvea, sendo rica em vasos sanguíneos e pigmentos. Fazem parte da úvea a coroide, o corpo ciliar e a íris. A coroide constitui a maior parte da úvea e está localizada entre a esclera e a retina. Ela é altamente vascularizada e responsável por fornecer nutrientes e oxigênio através dos vasos sanguíneos para as camadas mais externas da retina. O corpo ciliar é um anel situado entre a coroide e a íris e possui o músculo ciliar responsável pela curvatura do cristalino. Trata-se também do local de produção do humor aquoso. Já a íris é um diafragmacircular pigmentado situado atrás da córnea e à frente do cristalino. Possui uma abertura central denominada pupila, sendo capaz de controlar, graças aos músculos constritor circular e dilatador radial, a contratação e a dilação da pupila por meio do sistema nervoso autônomo. A íris também é responsável pela coloração dos olhos de acordo com a quantidade de melanina ali presente. Logo, atrás dela encontra-se o cristalino, lente biconvexa, gelatinosa e elástica responsável pela acomodação da visão e pela focalização das imagens. COMENTÁRIO Ao longo dos anos, o cristalino vai perdendo sua elasticidade e transparência, tornando-se opaco. Trata-se da doença conhecida como catarata. É possível realizar uma intervenção cirúrgica para tratá-la, colocando uma lente artificial. 3. Túnica interna ou nervosa ou camada interna: camada mais interna dos olhos constituída pela retina, que é uma rede complexa de células nervosas responsáveis pela formação da visão. A retina é constituída por 10 camadas diferentes e funcionais. Além da formação da visão por meio da transdução da luz em uma resposta química, ela ainda é responsável tanto pelo armazenamento e metabolismo de vitamina A quanto pela produção de alguns fatores de crescimento necessários ao processo de cicatrização. A retina é inervada a partir do nervo óptico que corresponde ao II par de nervos cranianos. Trata-se de um nervo sensitivo que, por meio de fibras aferentes, faz a comunicação entre a retina e o encéfalo. Imagem: Shutterstock.com, adaptador por Roseane Bahiense Anatomia do olho humano. Além das três camadas que constituem o olho humano, também é possível dividi-los por meio de câmaras de acordo com o espaço de cada estrutura. Assim, o olho também possui três câmaras: A câmara anterior. A câmara posterior. A cavidade vítrea ou câmara vítrea. A câmara anterior é separada pela íris da câmara posterior. Eles se comunicam por meio da pupila. Já o humor aquoso é um fluido hipertônico incolor rico em uma série de componentes, como proteínas, eletrólitos e fatores de crescimento. Produzido no corpo ciliar, o humor aquoso flui para dentro da câmara anterior e posterior, precisando ser drenado para fora da câmara anterior, num fluxo contínuo de entrada e saída. Caso contrário, o acúmulo dele na anterior provoca um aumento da pressão intraocular, causando uma doença chamada de glaucoma. A cavidade vítrea corresponde a 80% do volume de todo o olho, sendo constituída de humor vítreo. A cavidade vítrea pode até se confundir com a câmara posterior e se inicia logo a partir do cristalino. O humor vítreo é um hidrogel constituído de água, colágeno e ácido hialurônico, sendo responsável pela forma globular do olho e por levar nutrientes até seu interior. Apesar de não ser vascularizado, sua nutrição se dá a partir dos vasos da retina e do corpo ciliar. CARACTERÍSTICAS DAS PREPARAÇÕES OCULARES A administração de medicamentos pela via ocular pode, em um primeiro momento, parecer uma tarefa fácil; entretanto, é preciso lembrar que o olho possui uma estrutura física que funciona como uma barreira à entrada de substâncias. E o fármaco, nesse momento, funciona como um corpo estranho para os olhos. Para isso, é muito importante observar alguns fatores que influenciam na administração dos fármacos pela via ocular. As principais formas farmacêuticas para a administração ocular são os colírios (também conhecidos como gotas oftálmicas). Todavia, há ainda as pomadas e os géis oftálmicos, menos utilizados, além de medicamentos injetáveis para a administração pela via periocular ou intravítrea. Os colírios, as pomadas e os géis oftálmicos são preparações destinadas à aplicação tópica e ao tratamento de doenças que acometam somente a câmara anterior, como inflamações, infecções, alergias, glaucoma e olho seco, entre outras. Para o tratamento das doenças da câmara posterior, é necessário usar as administrações periocular ou intravítrea – ou, em alguns casos, até a administração intravenosa. ATENÇÃO Em nosso estudo, abordaremos apenas as preparações oftálmicas de aplicação tópica. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS OCULARES A administração de colírios é bastante simples e não invasiva; contudo, ela apresenta grande desvantagem devido à baixa biodisponibilidade, já que apenas de 1 a 5% da dose atinge o humor aquoso. Os medicamentos administrados por via ocular tópica podem ser absorvidos e distribuídos por duas vias principais: a via transcorneana e a transescleral. A principal via de administração ocular é a via transcorneana, sendo a mais utilizada para a administração de colírios e o tratamento das inflamações e infecções oculares. Na via transescleral, por sua vez, a absorção ocorre por meio dos vasos conjuntivais, que drenam o fármaco para o corpo ciliar e o eliminam através do canal de Schlemm. A via transcorneana apresenta quatro vantagens frente às demais vias de administração ocular: Evita o metabolismo hepático. Baixa concentração para alcançar a circulação sistêmica. Ação localizada dos fármacos. Facilita a incorporação do fármaco no humor aquoso, o que dificilmente se alcança com medicamentos de uso sistêmico. ATENÇÃO Apesar de tantos benefícios, essa via sofre a desvantagem de apresentar uma baixa biodisponibilidade de fármacos, necessitando de aplicações contínuas para garantir o efeito desejado em função das barreiras oculares. A córnea funciona como uma barreira à entrada de substâncias estranhas ao organismo e como um sistema de proteção ao olho. As células epiteliais da córnea dificultam a absorção de fármacos do fluido lacrimal no interior dos olhos. Os fármacos lipofílicos apresentam uma maior permeabilidade intercelular que os hidrofílicos. Ainda assim, a via transcorneana consiste na principal forma de permeação de fármacos do líquido lacrimal para o humor aquoso. Além da barreira corneana, outras duas barreiras (conhecidas como barreiras hematoculares) merecem destaque na proteção dos olhos: Barreira hematoaquosa Barreira hematorretinal Ambas impedem a troca de líquidos no segmento anterior (humor aquoso) e no posterior (humor vítreo) do olho. Desse modo, essas barreiras também interferem na passagem dos fármacos para a corrente sanguínea e dificultam muito a chegada deles à retina e à coroide. A outra via de administração tópica de fármacos é a via transescleral ou via conjuntival. Geralmente, a conjuntiva é mais permeável que a córnea, além de ser mais vascularizada e possuir uma área superficial cerca de 20 vezes maior que a córnea. Isso facilitaria a penetração de fármacos hidrofílicos e de massa molecular maiores do que pela via transcorneana. FATORES QUE INTERFEREM NA PREPARAÇÃO DE COLÍRIOS Uma das principais características das preparações oftálmicas é que todas elas devem ser estéreis, pois o olho é um órgão extremamente sensível, e infecções oculares podem ser muito perigosas e causar rapidamente problemas na visão. Os olhos possuem mecanismos fisiológicos e mecânicos que funcionam como uma barreira à entrada de substâncias. Antes da formulação de um medicamento oftálmico, é preciso observar de perto esses mecanismos e os principais fatores que interferem na sua formulação. OSMOLALIDADE Conforme vimos no módulo 2, a osmolalidade é a medida da quantidade de partículas osmoticamente ativas por quilo de solução (mmol/Kg); assim, os sais presentes nos fluidos lacrimais determinam a osmolalidade da lágrima. Apesar de a lágrima apresentar um pH 7,4, assim como o pH do plasma, a osmolalidade em olhos saudáveis é de cerca de 302mmol/kg, um pouco acima da osmolalidade do plasma. Todavia, assim como no caso das preparações injetáveis, os colírios também precisam apresentar-se isotônicos aos olhos. Quando o olho entra em contato com uma solução hipotônica, o epitélio córneo fica mais permeável e a água flui para dentro da córnea, causando um edema. Já quando ele é exposto às soluções hipertônicas, ocorre um efeito contrário,causando desidratação ao epitélio córneo e gerando desconforto e dor na hora da aplicação. Naturalmente, essas soluções tornam-se irritantes para o olho e promovem um aumento na produção de lágrimas, o que é um efeito indesejável no momento da administração do colírio, pois isso pode expelir o fármaco e dificultar sua absorção. Por isso, as preparações para uso oftálmico devem ser isotônicas aos olhos. Para garantir a isotonicidade dessas formulações, são utilizados agentes isotonizantes, como cloreto de sódio, dextrose e manitol. Entre eles, o mais utilizado é o cloreto de sódio, sendo sua quantidade calculada na forma de equivalentes em cloreto de sódio ou pelo cálculo de isotonia pelo ponto de congelamento. Cálculos na preparação de soluções isosmóticas Os cálculos envolvidos na preparação de soluções isosmóticas podem ser feitos em termos de dados referentes às propriedades coligativas das soluções: pressão osmótica, pressão de vapor, ponto de ebulição e ponto de congelamento. Todas dependem do número de partículas em solução e estão relacionadas entre si. Uma alteração em qualquer uma delas é acompanhada por mudanças nas outras. Adotou-se o ponto de congelamento como referencial, que deve ser comparado ao ponto do soro sanguíneo/líquido lacrimal = (- 0,52oC). Veremos isso a seguir. 1) Para substâncias com pouca ou nenhuma dissociação (não eletrólitos), solução com moléculas não ionizáveis. EXEMPLO Ácido bórico (fator de dissociação= 1) O ácido bórico a 1,9% tem a mesma pressão osmótica que uma solução de NaCl a 0,9%. Dessa forma, para uma substância com massa igual a seu PM (peso molecular) dissolvida em 1.000g de água, teremos: PM ácido bórico = 61,8g Ponto de congelamento = (- 1,86°C para 1.000g de água) 61,8g _____________ 1,86 (-) X ______________ 0,52 (-) X = 17,3g de ácido bórico em 1.000g de água teoricamente devem produzir uma solução isosmótica com a lágrima e o sangue. 2) Para substâncias que têm maior poder de dissociação (eletrólitos), solução com moléculas ionizáveis. EXEMPLO Fator de dissociação de um eletrólito (i). O fator de dissociação é a medida do número de partículas efetivamente resultantes quando uma substância é colocada em solução aquosa. O NaCl em solução diluída apresenta dissociação de 80%. Então, para cada 100 moléculas, são geradas 180 partículas ou 1,8 vezes mais partículas por 100 moléculas de um não eletrólito. Assim, o fator de dissociação (i) deve ser considerado no cálculo a seguir: PM NaCl = 58,5g 58,5g________ (-1,86ºC) ponto de congelamento do ácido bórico × 1,8 (i do NaCl) = -3,348. X___________ (- 0,52ºC) ponto de congelamento de uma solução isotônica. X = 9,09g de NaCl para 1.000g de água (solução isosmótica em relação ao sangue e à lágrima). Curiosidade: observe que 9,09g de NaCl em 1.000g de água são a mesma coisa que 0,9%, pois: 9,09g _________ 1.000g X _____________ 100g X= = 0,9 % Agora você já sabe por que uma solução de soro fisiológico deverá ser de 0,9% para que ela possa ser isotônica ao meio fisiológico. Equivalentes em cloreto de sódio A quantidade relativa de uma substância de igual efeito tônico que o cloreto de sódio é chamada de seu equivalente em cloreto de sódio. Com base no fato de que a solução de NaCl a 0,9% é isosmótica em relação ao líquido lacrimal, outros fármacos são comparados no tocante à sua equivalência ao cloreto de sódio: Quantidades de duas substâncias equivalentes em tonicidade são proporcionais aos pesos moleculares de cada uma multiplicados pelo valor de i da outra (PRISTA, 1995). EXEMPLO Sulfato de atropina. PM NaCl = 58,5 (i = 1,8) PM sulfato de atropina = 695 (i = 2,6) 1g sulfato de atropina_______________ 695 × 1,8 = 1251 X ________________________________ 58,5 × 2,6 = 152,1 X = 0,12g Ou seja, 1g de sulfato de atropina tem efeito “tônico” igual a 0,12g de cloreto de sódio. 0,9g 100g Quando uma combinação de fármacos é utilizada em uma prescrição, a contribuição de cada componente deve ser considerada para a tonicidade. Vejamos um exemplo: Sulfato de atropina_________________1% Cloreto de sódio qsp para isotonicidade Água purificada estéril___qsp______30mL NaCl para 30mL 0,9% ou 0,9g ____________ 100mL X ______________________ 30mL X = 0,27g ou 270mg de NaCl Sulfato de atropina: 1% ou 1g ___________ 100mL X ____________ 30mL X = 0,3g ou 300mg Sua contribuição para a isotonicidade tem de ser considerada. Uma vez que o equivalente de NaCl para o sulfato de atropina é 0,12, sua contribuição pode ser calculada da seguinte forma: 0,12 × 300mg = 36mg 270mg (NaCl) – 36mg (sulfato de atropina) = 234mg NaCl são realmente necessários para isotonizar essa preparação. A maioria dos fármacos já possui seu equivalente em NaCl calculado e tabelado nos livros específicos de práticas para injetáveis. PH O pH da lágrima é 7,4 e pode ser considerado praticamente neutro; entretanto, a capacidade de tamponamento dos fluidos lacrimais é baixa. A maioria dos fármacos se apresenta em solução (na forma ionizada, em soluções ácidas ou alcalinas), e isso pode gerar algum desconforto ao paciente na hora da aplicação e uma lacrimação excessiva. De forma geral, o olho consegue tolerar preparações oftálmicas com pH entre 3,5 e 9,0; contudo, para evitar possíveis transtornos, é preferível formular colírios com o pH o mais ∴ próximo possível da lágrima. O ajuste de pH ou o tamponamento das soluções pode ser realizado para as preparações oftálmicas da mesma forma que para as injetáveis com o objetivo de manter a estabilidade química do fármaco, aumentar a resposta clínica e reduzir o desconforto do paciente. TENSÃO SUPERFICIAL Os agentes tensoativos são muito utilizados nas preparações oftálmicas devido às suas propriedades detergentes e à sua capacidade de redução da tensão superficial. Caso os colírios apresentem tensão superficial muito abaixo que da do filme lacrimal, isso pode desestabilizar a estrutura físico-química da lágrima. Para evitar esse tipo de situação, geralmente são utilizados tensoativos não iônicos com menor poder irritante e auxiliadores na dispersão dos fármacos nas preparações oftálmicas. Além disso, graças à sua capacidade de detergência, os tensoativos são muito utilizados para soluções de limpeza de lentes de contato. VISCOSIDADE As preparações oftálmicas devem apresentar uma viscosidade levemente acima do filme lacrimal para aumentar a retenção do fármaco no epitélio córneo com o propósito de melhorar a absorção e a eficácia terapêutica. Entretanto, é preciso cuidado, pois preparações muito viscosas podem turvar a visão e bloquear os orifícios oculares. Os polímeros são as substâncias mais utilizadas para o ajuste da viscosidade. Entre elas, destacam-se os derivados de celulose, como metilcelulose (MC) e hidroxipropilcelulose (HPC). TAMANHO DE PARTÍCULA As preparações oftálmicas geralmente se apresentam na forma de soluções ou suspensões. No caso das soluções, o fármaco deve encontrar-se totalmente dissolvido no veículo; além disso, elas precisam se apresentar límpidas, transparentes e isentas de partículas. É possível proceder à filtração esterilizante com filtros de 0,22µm para a eliminação de contaminantes e partículas estranhas. No caso das suspensões, os cuidados deverão ser maiores em relação às partículas. Já os fármacos terão de ser micronizados, garantindo que 90% das partículas sejam menores que 5µm. Isso é importante, já que o olho inflamado é muito sensível a partículas, pois elas causam desconforto e podem abrasar o epitélio córneo, facilitando a contaminação. Conservantes Embora as preparações oftálmicas sejam formulações estéreis, existe a necessidade da utilização de agentes conservantes por se tratar de preparações multidose. O paciente abre e fecha o frasco de colírio para aplicações diversas, e é preciso que a formulação garanta sua conservação durante todo o período de uso. Desse modo, é necessário usar agentes conservantes para evitar a contaminação
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