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AGRAVO INTERNO Chama-se agravo interno ao recurso cabível contra decisão monocrática proferida no tribunal pelo relator (art. 1.021) ou pelo Presidente (que, em alguns casos, é chamado a proferir decisões monocráticas, como se dá no caso do pedido de suspensão de segurança previsto no art. 15 da Lei nº 12.016/2009) ou Vice- Presidente do Tribunal (como no caso previsto no art. 1.030, § 2º). É recurso cabível no prazo de quinze dias (art. 1.003, § 5º), mesmo naqueles casos em que houvesse disposição legal ou regimental estabelecendo prazo distinto, já que o art. 1.070 estabelece que “é de 15 (quinze) dias o prazo para a interposição de qualquer agravo, previsto em lei ou em regimento interno de tribunal, contra decisão de relator ou outra decisão unipessoal proferida em tribunal”. Todas as decisões monocráticas proferidas nos tribunais são impugnáveis por agravo interno, inclusive as que proveem sobre a atribuição de efeito suspensivo a recursos ou que decidem sobre tutela provisória nos processos de competência originária do tribunal (FPPC, Enunciado nº 142). Só não será impugnável por agravo interno uma decisão monocrática quando a lei expressamente a declare irrecorrível, como se dá, por exemplo, com a decisão do relator de recurso especial que, reputando prejudicial o recurso extraordinário também interposto, determina a remessa dos autos ao STF (art. 1.031, § 2º), ou a decisão do relator que admite a intervenção de amicus curiae (art. 138). Na petição de interposição do agravo interno incumbe ao agravante impugnar, de forma específica, os fundamentos da decisão agravada (art. 1.021, § 1º). Será, portanto, reputado inadmissível o agravo interno se ali se limitar o recorrente a reproduzir os fundamentos do recurso anteriormente interposto (e monocraticamente julgado). O agravo interno é interposto por petição dirigida ao relator (ou ao Presidente ou Vice-Presidente, se for este o prolator da decisão agravada, passando a atuar então como relator do agravo interno). A este incumbe determinar a intimação do agravado para manifestar-se em contrarrazões no prazo de quinze dias (art. 1.021, § 2º). Decorrido esse prazo, tenham as contrarrazões sido oferecidas ou não, o relator (ou o Presidente ou Vice-Presidente, quando for de um deles a decisão monocrática impugnada) poderá retratar-se, reconsiderando a decisão monocrática. Não havendo retratação, o agravo interno será incluído na pauta de julgamento, para apreciação pelo órgão colegiado em sessão (art. 1.021, § 3º). Sendo o agravo interno declarado manifestamente inadmissível ou improcedente, por decisão unânime (FPPC, Enunciado nº 359: “A aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, exige que a manifesta inadmissibilidade seja declarada por unanimidade”), o tribunal, fundamentadamente, imporá ao agravante multa, em favor do agravado, que será fixada entre o mínimo de um por cento e o máximo de cinco por cento sobre o valor atualizado da causa (art. 1.021, § 4º). RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL Os arts. 102, II, e 105, II, da Constituição da República estabelecem a competência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça para conhecer de recurso ordinário. Sendo esse o nome dado a um gênero de recursos (aqueles em que podem ser suscitadas tanto questões de fato como questões de direito), e tendo sido essa espécie recursal de que aqui se trata regulada diretamente na Constituição da República, tornou-se tradicional dar a esse recurso o nome de recurso ordinário constitucional (o que permite, também, distinguir essa espécie de recurso de outro recurso ordinário, o trabalhista, que corresponde, naquele sistema processual, à apelação). Incumbe ao Supremo Tribunal Federal julgar, nos termos do art. 1.027, I, mediante recurso ordinário, os mandados de segurança, habeas data e mandados de injunção de competência originária dos tribunais superiores (STJ, TST, TSE e STM), quando a decisão tiver sido denegatória (o que engloba tanto os casos de extinção do processo sem resolução do mérito quanto os de improcedência do pedido). Também se admite recurso ordinário para o STF em habeas corpus de competência originária dos tribunais superiores, e também aqui apenas se denegatória a decisão (art. 102, II, da Constituição da República). Sendo, pois, instaurado perante tribunal superior um processo de habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção ou habeas data de competência originária, e sendo o resultado desfavorável ao impetrante (extinção sem resolução do mérito ou improcedência do pedido), dessa decisão será cabível a interposição de recurso ordinário constitucional para o STF. As decisões concessivas da tutela processual pretendida pelo demandante (ou, em outras palavras, as decisões que julguem procedente o pedido do demandante) não podem ser atacadas através do recurso ordinário constitucional. Esses pronunciamentos não ficam, porém, afastados de qualquer possibilidade de reexame, uma vez que pode ser cabível a interposição de recurso extraordinário, toda vez que estiver presente alguma das hipóteses previstas no art. 102, III, da Constituição da República. De outro lado, compete ao Superior Tribunal de Justiça julgar, mediante recurso ordinário constitucional, os processos de mandado de segurança de competência originária de Tribunal Regional Federal ou Tribunal de Justiça, quando denegatória a decisão (e, evidentemente, também aqui se incluem as decisões meramente terminativas, que não resolvem o mérito da causa, e as de improcedência do pedido), nos termos do art. 1.027, II, a. Trata-se, como se vê, de situação análoga à de cabimento do recurso ordinário constitucional para o STF. É também este um recurso secundum eventum litis, já que cabível apenas contra decisões denegatórias. Da decisão de procedência do pedido, nesse caso, pode caber recurso extraordinário ou especial, caso presente alguma das hipóteses previstas no art. 102, III, ou no art. 105, III, da Constituição da República. Tanto nesse caso, de recurso ordinário constitucional para o STJ, como naqueles de recurso ordinário para o STF, tem-se um processo de competência originária de tribunal (de segunda instância ou superior, conforme o caso), e da decisão desfavorável ao demandante se admite um recurso ordinário (isto é, um recurso que permite sejam suscitadas questões de fato e questões de direito), o qual exercerá função equivalente à da apelação, já que será capaz de permitir o reexame integral da causa, viabilizando, nesses processos de competência originária de tribunais, a plena realização do princípio do duplo grau de jurisdição. Mais evidente ainda é a aproximação entre o recurso ordinário constitucional e a apelação quando se verifica ser também de competência do STJ conhecer de recurso ordinário constitucional nos processos em que são partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, de outro, Município ou pessoa, natural ou jurídica, residente ou domiciliada no Brasil (art. 1.027, II, b). Esses processos são de competência originária dos juízos federais de primeira instância (art. 109, II, da Constituição da República), e contra a sentença (ou contra as decisões interlocutórias não agraváveis) será admitido recurso ordinário constitucional para o STJ. A admissibilidade do recurso ordinário constitucional depende do preenchimento dos mesmos requisitos exigidos para a admissibilidade da apelação (art. 1.028, que, não obstante sua literalidade, não se aplica apenas ao caso previsto na alínea b do art. 1.027, II, mas a todos os casos de cabimento do recurso ordinário constitucional), o que é mero corolário da já afirmada natureza de apelação que esse recurso ostenta. O recurso ordinário constitucional é interposto perante o órgão jurisdicional prolator da decisão recorrida. Colhidas as contrarrazões (ou decorrido o prazo sem que estas tenham sido apresentadas), será ele remetidoao STF ou ao STJ, independentemente de juízo de admissibilidade (art. 1.028, §§ 2º e 3º). RECURSO EXTRAORDINÁRIO E RECURSO ESPECIAL O recurso extraordinário e o recurso especial são, por excelência, recursos excepcionais, isto é, recursos em que apenas questões de direito podem ser suscitadas. Neles não se admite qualquer discussão sobre matéria fática (o que explica o conteúdo do Enunciado nº 279 da súmula do STF e do Enunciado nº 7 da súmula do STJ, ambos a afirmar o não cabimento desses recursos para simples reexame de prova). O RE e o REsp (abreviaturas tradicionalmente empregadas para fazer alusão a essas duas espécies recursais) são cabíveis nos casos previstos na Constituição Federal (art. 1.029; arts. 102, III, e 105, III, da Constituição da República), e têm por objetivo permitir que o STF e o STJ profiram decisões em causas que envolvem, respectivamente, questões constitucionais ou questões federais. Tanto para o STF como para o STJ, porém, só se abre o acesso por via desses recursos para causas decididas em única ou última instância (art. 102, III, e art. 105, III, da Constituição da República). Daí se extraem algumas informações extremamente importantes acerca da admissibilidade do RE e do REsp. Em primeiro lugar, é preciso ter claro que o RE e o REsp só são admissíveis depois de esgotados os recursos admissíveis nas instâncias ordinárias (o que resulta da exigência de que a causa já tenha sido decidida em única ou última instância). Assim, por exemplo, se é proferida por juízo de primeira instância uma sentença que contraria dispositivo da Constituição Federal, não se poderá admitir a interposição de recurso extraordinário, já que cabível a apelação. Impõe-se, assim, o esgotamento das instâncias ordinárias para que se abram as portas das instâncias excepcionais. Há, porém, uma diferença fundamental entre o cabimento do RE e o do REsp. É que, ao tratar do cabimento do recurso especial, o texto constitucional expressamente estabelece que é preciso ter sido a decisão recorrida proferida em única ou última instância “pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios” (art. 105, III, da Constituição da República), limitação esta que não aparece no dispositivo que trata do cabimento do recurso extraordinário (art. 102 da Constituição da República). Assim, só é admissível a interposição de recurso especial contra decisões proferidas pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais de Justiça. É por essa razão que não se admite recurso especial contra decisões proferidas pelas Turmas Recursais dos Juizados Especiais (Enunciado nº 203 da súmula do STJ). De outro lado, porém, o recurso extraordinário pode ser interposto contra decisões proferidas por quaisquer órgãos jurisdicionais (inclusive contra decisões dos tribunais superiores, como o próprio STJ, e as Turmas Recursais dos Juizados Especiais). Admite-se até mesmo recurso extraordinário contra decisão proferida por juízo singular de primeira instância nos casos em que estes atuam como instância ordinária única (o que se dá, por exemplo, nas execuções fiscais de pequeno valor, nos termos do art. 34 da Lei de Execuções Fiscais) e contra acórdãos proferidos pelas Turmas Recursais no sistema processual dos Juizados Especiais. O requisito do prequestionamento. Esse é requisito específico de admissibilidade do recurso extraordinário e do recurso especial, e, pois, se não estiver presente ficará inviável a apreciação do mérito do recurso, o qual não poderá ser admitido. Prequestionamento é a exigência de que o recurso especial ou extraordinário verse sobre matéria que tenha sido expressamente enfrentada na decisão recorrida. É que só se admite o recurso extraordinário (ou o recurso especial) a respeito de causas decididas (para usar aqui a terminologia empregada no texto constitucional). Significa isso dizer que o RE e o REsp só podem versar sobre o que tenha sido decidido, não sendo possível, nessas duas espécies recursais, inovar suscitando-se matéria (ou fundamento) que não tenha sido suscitado e apreciado na decisão recorrida. Pense-se, por exemplo, em um processo em que não tenha sido suscitada, nas instâncias ordinárias, a prescrição. Não obstante a existência de dispositivo legal a estabelecer que a prescrição pode ser deduzida em qualquer grau de jurisdição (art. 193 do CC), deve-se compreender tal disposição no sentido de que essa matéria pode ser deduzida originariamente a qualquer tempo nas instâncias ordinárias. Não tendo sido a matéria submetida ao debate em contraditório nas instâncias ordinárias, porém, não será possível deduzi-la originariamente em grau de recurso extraordinário ou especial, por não se tratar de matéria “decidida”, ou seja, por faltar prequestionamento. Pode ocorrer, porém, de a matéria ter sido suscitada e, por isso, dever ser apreciada (na única ou na última instância), tendo, contudo, o órgão jurisdicional se omitido quanto ao ponto. Nesse caso, faz-se necessária a oposição de embargos de declaração com fins de prequestionamento, isto é, embargos de declaração cujo objeto é o suprimento da omissão, provocando-se um pronunciamento expresso acerca da matéria que se pretende submeter à apreciação do STF ou do STJ através de recurso extraordinário ou de recurso especial (e que tinha, mesmo, sido suscitada). Pois nesse caso, opostos os embargos de declaração com fins de prequestionamento, considera-se preenchido o requisito do prequestionamento ainda que o órgão jurisdicional não supra a omissão, não admitindo ou rejeitando os embargos. Além do prequestionamento, que é requisito específico de admissibilidade tanto do recurso extraordinário como do recurso especial, existe outro requisito específico de admissibilidade (do recurso extraordinário, apenas) que resulta de norma constitucional: a repercussão geral da questão constitucional (art. 102, § 3º, da Constituição da República). Consiste a repercussão geral na existência de relevância da questão constitucional discutida do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico “que [ultrapasse] os interesses subjetivos do processo” (art. 1.035, § 1º). Em outros termos, só se admite o recurso extraordinário se a questão constitucional nele discutida tiver transcendência do ponto de vista subjetivo, interessando sua solução não só às partes do processo em que a matéria tenha sido suscitada, mas sendo capaz de alcançar a sociedade como um todo (ou parcela relevante e significativa dela). O Supremo Tribunal Federal só pode deixar de conhecer do recurso extraordinário por ausência de repercussão geral da questão constitucional se nesse sentido se manifestarem pelo menos dois terços de seus membros. Negada a existência de repercussão geral, eventuais recursos extraordinários que estejam pendentes ainda no tribunal de origem (isto é, que ainda não tenham sido encaminhados ao STF) e que versem sobre a mesma questão constitucional terão seguimento negado (art. 1.035, § 8º). Reconhecida a repercussão geral da questão constitucional, o ministro relator determinará a suspensão de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a mesma questão constitucional, e que estejam em trâmite no território nacional (art. 1.035, § 5º). Outra hipótese de cabimento do recurso extraordinário (art. 102, III, b, da Constituição da República) é o da decisão que declara a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal. Assim, sempre que a decisão proferida em única ou última instância afirmar a inconstitucionalidade de um tratado internacional ou de uma lei federal, será admissível o recurso extraordinário, mecanismo que permitirá ao STF dar a palavra final acerca da constitucionalidade (ou não) daqueles atos normativos. Também se admite recurso extraordinário contra decisão que “julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face [da]Constituição [Federal]” (art. 102, III, c, da Constituição da República). Pode acontecer de em um processo ter-se suscitado o controle de constitucionalidade de algum ato de governo (como, por exemplo, um decreto) local ou de uma lei local (ou seja, ato de governo ou lei que emane de Estado, do Distrito Federal ou de algum Município). Pois, nesse caso, se a decisão proferida na única ou última instância ordinária reputar o ato local inconstitucional não será admissível o recurso extraordinário. Será, porém, cabível o recurso se a decisão que esgota as instâncias ordinárias tiver afirmado a validade do ato (de modo que se permitirá ao STF dar a palavra final sobre a compatibilidade de tal ato com a Constituição da República, exercendo desse modo sua função de guardião da Constituição da República). Por fim, é admissível o recurso extraordinário contra decisão que “julgar válida lei local contestada em face de lei federal” (art. 102, III, d). É que pode acontecer de em algum processo se verificar a existência de um conflito entre lei federal e lei estadual, distrital ou municipal, o que é, sempre, uma questão constitucional. Isso se dá porque no caso de conflito entre lei federal e lei local sempre haverá a necessidade de saber qual das duas terá sido elaborada com invasão da área de atuação da outra. Pode, então, surgir dúvida sobre se a lei local invadiu a área de atuação da lei federal, ou vice-versa. Pois, se a decisão proferida em única ou última instância tiver afirmado a validade da lei local (e, por conseguinte, tiver reputado inválida a lei federal), será admissível o recurso extraordinário. A recíproca, porém, não é verdadeira, e não se admite o recurso extraordinário contra decisão que tenha considerado válida a lei federal e inválida a lei local. Será admissível recurso especial contra decisões proferidas em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais de Justiça em três casos, o primeiro dos quais é o da decisão que “contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência” (art. 105, III, a, da Constituição Federal). O cabimento do recurso especial depende, tão somente, de uma alegação de contrariedade ou negativa de vigência a tratado ou lei federal. Saber se a lei federal ou o tratado internacional foi mesmo contrariado, ou se teve sua vigência negada, constitui questão de mérito (e, assim, no caso de a decisão recorrida ter mesmo contrariado tratado lei federal, ou lhes negado vigência, o recurso especial deverá ser provido; e no caso contrário deve-se negar provimento ao recurso). O segundo caso de cabimento de recurso especial é o da decisão que julga válido ato de governo local (como é o caso de um decreto do Governador do Estado, ou do Prefeito Municipal), contestado em face de lei federal (art. 105, III, b). Perceba-se que aqui se enfrenta um problema de legalidade (afinal, atos administrativos não podem contrariar a lei, que lhes é hierarquicamente superior). Pois, no caso de a decisão que esgota as instâncias ordinárias (no âmbito da Justiça Federal ou da Justiça Estadual) ter considerado o ato de governo local válido, caberá ao STJ rever tal decisão por meio de recurso especial (mas a recíproca não é verdadeira, e não se admitirá recurso especial se a decisão de segunda instância tiver afirmado a invalidade do ato de governo local contestado em face da lei federal). Por fim, admite-se recurso especial fundado em dissídio jurisprudencial (art. 105, III, c, da Constituição da República). Tem-se, aí, a norma constitucional por força da qual se pode afirmar ser o Superior Tribunal de Justiça responsável por uniformizar a interpretação da lei federal, estabelecendo qual deve ser a interpretação que se repute correta. Assim, sempre que uma decisão de TRF ou de TJ esgotar as instâncias ordinárias e der a lei federal interpretação divergente da que lhe tenha dado qualquer outro tribunal, será possível impugná-la por meio de recurso especial. O recurso especial, pois, versará sempre sobre uma questão federal, enquanto o recurso extraordinário versa sobre questão constitucional. Pode, todavia, ocorrer de ser interposto recurso especial e o relator, no STJ, entender que a matéria nele versada constitui, na verdade, questão constitucional. Pois nesse caso deverá haver a conversão do recurso especial em recurso extraordinário (art. 1.032). Para isso, deverá o relator do recurso especial determinar a intimação do recorrente para, no prazo de quinze dias, demonstrar a existência de repercussão geral da questão constitucional, manifestando-se sobre esta. Cumprida a diligência, serão os autos remetidos ao STF para exame do recurso extraordinário. Admite-se, porém, que o STF divirja da posição do STJ quanto ao ponto, considerando não ter natureza constitucional a questão suscitada no recurso (ou se tratar de mera questão de violação reflexa à Constituição), caso em que os autos serão devolvidos ao STJ para julgamento do recurso especial (art. 1.032, parágrafo único). O recurso extraordinário e o recurso especial devem ser interpostos perante o tribunal que tenha proferido a decisão recorrida, devendo a petição ser dirigida ao Presidente ou Vice-Presidente do tribunal (conforme disponha seu próprio regimento interno). Incumbe ao Presidente ou Vice-Presidente do tribunal recorrido, então, proceder a um primeiro exame da admissibilidade do recurso excepcional. O que se verifica é que o recurso extraordinário ou especial não deverá ser admitido se versar sobre matéria a cujo respeito já haja pronunciamento do STF ou do STJ, exarado pelo regime da repercussão geral ou resultante de julgamento proferido pela técnica adequada para a apreciação de recursos repetitivos, evitando-se assim que os Tribunais de Superposição se manifestem várias vezes sobre a mesma matéria. Nesses dois casos, nos termos do § 2º do art. 1.030, a decisão que não admite o recurso excepcional só poderá ser impugnada por meio de agravo interno. Isso, evidentemente, não exclui o cabimento de embargos de declaração (cabíveis contra qualquer decisão, como expressamente consta do art. 1.022, e com as ressalvas que foram feitas quando do estudo dessa outra espécie recursal). Tendo o recurso – especial ou extraordinário – chegado ao tribunal competente para sua apreciação, será examinado tanto em relação à sua admissibilidade quanto, se positivo o juízo de admissibilidade, em seu mérito. Vale aqui registrar um detalhe importante: o fato de se atribuir competência ao tribunal recorrido para, através de seu Presidente ou Vice-Presidente, exercer juízo de admissibilidade de recurso especial ou extraordinário não retira do STJ e do STF o poder de proceder a um novo exame da admissibilidade dos recursos cujo mérito lhes incumbe julgar. Além disso, o STF e o STJ não ficam vinculados ao juízo positivo de admissibilidade emitido pelo tribunal inferior, sendo perfeitamente possível que aqueles Tribunais de Superposição decidam no sentido de não conhecer do recurso que havia sido admitido no tribunal de origem. AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO OU EM RECURSO ESPECIAL Como já se pôde ver, o CPC estabelece um sistema por força do qual compete ao Presidente ou ao Vice- Presidente do tribunal recorrido (conforme o estabelecido no respectivo Regimento Interno) exercer o juízo de admissibilidade dos recursos extraordinários e especiais ali interpostos. Pois contra algumas decisões de inadmissibilidade (algumas, mas não todas, frise-se) há um recurso que pode ser utilizado, o agravo em recurso especial e em recurso extraordinário. Não é, porém, admissível esse agravo em recurso especial e em recurso extraordinário quando a decisão de inadmissibilidade do recurso excepcional fundar-se na aplicação de entendimento fixado em decisão proferida sob o regime da repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos (art. 1.042, caput). Cabe agravo em recursoespecial ou em recurso extraordinário, portanto, contra decisão do Presidente ou Vice-Presidente de tribunal que declarar inadmissível o recurso especial ou extraordinário com base em qualquer outro fundamento que não seja o fato de estar a decisão recorrida em conformidade com precedente fixado sob o regime da repercussão geral da questão constitucional ou dos recursos repetitivos (sendo certo que para julgar o mérito de recursos extraordinários repetitivos o STF precisa reconhecer a presença da repercussão geral da questão constitucional, requisito de admissibilidade dessa espécie recursal). A petição de interposição do agravo em recurso especial ou extraordinário deve ser dirigida ao próprio Presidente ou Vice-Presidente do tribunal de origem que tenha prolatado a decisão agravada, não estando sujeita a qualquer tipo de preparo (art. 1.042, § 2º). EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA Os embargos de divergência são um importantíssimo mecanismo de preservação da estabilidade, integridade e coerência da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, estando em perfeita sintonia com o disposto no art. 926. Afinal, trata-se de recurso destinado a eliminar divergências jurisprudenciais internas ao STF ou ao STJ, harmonizando entendimentos e estabelecendo quais as teses que deverão prevalecer quando houver algum dissídio jurisprudencial. O recurso é cabível contra decisões proferidas pelos órgãos fracionários do STF (as duas Turmas) ou do STJ (as três Seções e as seis Turmas). Não se cogita de embargos de divergência contra decisões proferidas pela Corte Especial do STJ ou pelo Plenário do STF por razões evidentes, já que tais órgãos representam a composição total dessas Cortes e, por isso, já indicam o entendimento prevalecente em tais tribunais. Os embargos de divergência, como quase todos os outros recursos, são admissíveis no prazo de quinze dias (art. 1.003, § 5º). É embargável o acórdão de órgão fracionário que, em recurso extraordinário ou em recurso especial (ou em agravo interno ou agravo em recurso especial ou extraordinário: FPPC, Enunciado nº 230), divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal. Pouco importa se são ambos os acórdãos – o embargado e o invocado como paradigma – de mérito (art. 1.043, I), ou se um acórdão é de mérito e o outro relativo ao juízo de admissibilidade (art. 1.043, III), desde que a mesma matéria tenha sido em ambas enfrentada e resolvida de maneiras divergentes.
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