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Pais gays e mães lésbicas de filhos e filhas por adoção cartografando experiências

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
Centro de Educação e Humanidades 
Instituto de Psicologia 
 
 
 
 
 
 
Lívia Lima Gurgel 
 
 
 
 
 
 
Pais gays e mães lésbicas de filhos e filhas por adoção: cartografando 
experiências 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2019 
Lívia Lima Gurgel 
 
 
 
 
 
Pais gays e mães lésbicas de filhos e filhas por adoção: cartografando experiências. 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada como requisito parcial 
para a obtenção do título de Mestra, ao 
programa de Pós-graduação em Psicologia 
Social, da Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro. Área de Concentração: Psicologia 
Social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Anna Paula Uziel 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CATALOGAÇÃO NA FONTE 
 UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A 
 
 
 
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta 
dissertação, desde que citada a fonte. 
 
___________________________________ _______________ 
 Assinatura Data 
 
 
G978 Gurgel, Lívia Lima. 
 Pais gays e mães lésbicas de filhos e filhas por adoção: cartografando 
experiências / Lívia Lima Gurgel. – 2019. 
 205 f. 
 
 
 Orientadora: Anna Paula Uziel. 
 Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto 
de Psicologia. 
 
 
 1. Psicologia Social – Teses. 2. Parentalidade – Teses. 3. Homossexualidade 
– Rio de Janeiro (Estado) – Teses. 4. Família – Rio de Janeiro (Estado) – Teses. 
5. Adoção – Teses. I. Uziel, Anna Paula. II. Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro. Instituto de Psicologia. III. Título. 
 
 es CDU 316.6 
 
Lívia Lima Gurgel 
 
 
 
Pais gays e mães lésbicas de filhos e filhas por adoção: cartografando experiências. 
 
 
 
Dissertação apresentada como requisito parcial 
para a obtenção do título de Mestra, ao 
programa de Pós-graduação em Psicologia 
Social, da Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro. Área de Concentração: Psicologia 
Social. 
 
 
 
Aprovada em: 
 
 
 
Banca Examinadora: 
 
 
 _________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Anna Paula Uziel (Orientadora) 
Instituto de Psicologia – UERJ 
 
 
 
 _________________________________________________ 
Prof. Dr. Marcos Antônio Ferreira do Nascimento 
Fundação Oswaldo Cruz 
 
 
 _________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Jimena de Garay Hernández 
Instituto de Psicologia – UERJ 
 
 
 _________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Alessandra de Andrade Rinaldi 
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2019 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha mãe, Fabiola, a quem sou grata por absolutamente tudo. 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao querido grupo de orientação, que me recebeu de maneira tão acolhedora quando 
cheguei ao Rio de Janeiro, um lugar que me era novo e estranho, enquanto nova morada. 
Vanessa Lima, Bárbara, Nany, Mônica, Jime, Pati, Luisa, Gizele, Dani, Vanessa Marvel, 
Bruna, Camilla, Eduardo: muita gratidão pelas discussões tão proveitosas em tantas manhãs 
de segundas-feiras, pela leveza de nossos encontros sempre tão potentes, pelas contribuições a 
esse trabalho. 
Às minhas queridas companheiras de mestrado, Vanessa, Bárbara e Nany: essa jornada 
se tornou mais leve por termos nos encontrado. Obrigada pelos momentos em que apoiamos 
umas às outras em meio aos processos de construção de nossas pesquisas. Obrigada por terem 
me ouvido quando o desespero se aproximava, por terem me acalmado quando foi preciso, 
por terem também depositado confiança em mim para compartilharem suas aflições e 
felicidades em diversos momentos dessa caminhada. Que a gente nunca esqueça nossa 
potência! 
A Anna, que caminhou comigo durante a construção dessa pesquisa, sempre disposta a 
ouvir minhas dúvidas e angústias, me incentivando a que eu me fizesse presente no trabalho. 
Obrigada pelas contribuições que potencializaram a escrita e as reflexões, obrigada pela 
compreensão dos processos que vivenciei ao longo desses dois anos de mestrado, por ter me 
mostrado novas possibilidades de relação entre orientadora e aluna, relação permeada de 
respeito, parceria e afeto. 
À Prof.ª Dr.ª Jimena de Garay Hernández, Prof. Dr. Marcos Nascimento e Prof. Dr. 
Eduardo Saraiva, que compuseram a banca de qualificação desse trabalho e que trouxeram 
valiosas contribuições, de maneira tão generosa e potente. 
À banca de defesa dessa dissertação, Prof.ª Dr.ª Jimena de Garay Hernández, Prof.ª 
Dr.ª Alessandra de Andrade Rinaldi e Prof. Dr. Marcos Nascimento, que se dispuseram a 
participar deste importante momento de conclusão/transição de ciclos, obrigada por se 
somaram a nós. 
À Tia Rosane e Lari, por terem me recebido em sua casa durante meses, de maneira 
tão generosa, compartilhando comigo um espaço tão precioso: o lar de vocês. Ter tido o apoio 
de vocês, chegando em uma cidade que (mesmo tendo visitado muitas vezes) era nova e 
estranha, estando longe de casa e da minha família, foi muito importante. Me faltam palavras 
para agradecer o cuidado que recebi morando com vocês. Lari, minha amiga, muita gratidão 
por sua amizade, por termos encontrado maneiras de preservar nossos laços e afetos, apesar 
de tantas diferenças. Se hoje esse mestrado está concluído é também por ter podido contar 
com vocês duas nessa jornada. 
À Juliana e Deivison: um bonito encontro no Rio de Janeiro. Muita gratidão pelos dias 
que morei com vocês no sobradinho. Ju, você se mostrou uma grande companheira e meus 
dias se tornaram menos solitários graças a sua presença constante, sua disponibilidade em 
estar comigo, tanto nas noites em que ficávamos ouvindo música naquela sala, como nos 
sambas e bares pela cidade. Deivison, a tua energia e bom humor me arrancaram muitos 
sorrisos e gargalhadas. Morei, pela primeira vez, com um homem e esse homem é incrível. 
Grata pela experiência maravilhosa que compartilhamos. 
A Larissa, Eveline, Bruna, Camila, Denise, Rafael, Allyson e Filipe: obrigada por 
esses anos de amizade, que se iniciou na Psicologia, mas que se mostrou um laço forte e 
verdadeiro, que se modificou ao longo desses anos, mas que continua sendo presença. Saber 
que reencontraria vocês quando voltasse à Fortaleza sempre foi um alento ao meu coração em 
meio aos dias de saudade. Especialmente a vocês, Laris, Veve, Bubbas, Camis e Denis, que 
tanto contribuíram para inúmeras desconstruções e reconstruções vivenciadas por mim ao 
longo desses anos, que me fortaleceram enquanto psicóloga e enquanto mulher, me mostrando 
diferentes formas de resistir e seguir adiante, segurando minhas mãos em momentos de 
insegurança e medo, brindando à vida em momentos de felicidade e vitórias. A admiração que 
sinto por vocês é imensa e sou extremamente grata por tê-las em minha vida. 
Demar, Nayara, Renato Viana, Renato Lopes, Érica, Michael, Hermerson, Christian, 
vocês foram um grande presente em minha vida. Sou muito grata pela forma que me 
acolheram e me fizeram ser parte desse grupo. A companhia de vocês, em diversos 
momentos, me trouxe a leveza que eu precisava, o recarrego de energia e, principalmente, a 
possibilidade de que eu sempre fosse sempre quem eu sou, o que é extremamente valioso nos 
dias em que estamos vivendo. Comvocês e ao lado de vocês me senti livre, potente e 
agradecida, a cada um de nossos encontros. Eu gostaria que existisse mais de vocês no 
mundo. 
A Maíra, Beatriz, Rogério, Lucas, Leandro, Érick, Felipe, Marcos, Tereza, Manuela, 
Rafaela, Joana, Jéssica, Carolina, Antônio e Elias, que se dispuseram a construir essa pesquisa 
comigo, falando sobre suas vidas, experiências, dores e felicidades; que me trouxeram tantas 
reflexões valiosas, que possibilitaram desconstruções e reconstruções antes não imaginadas 
por mim ao longo do caminho percorrido nesse trabalho: obrigada! 
À minha avó, Socorro, sempre, por tudo. Por todo o amor e cuidado que sempre 
dedicou a mim, por ter sido fortaleza e compaixão, pela generosidade e fé que sempre buscou 
transmitir a nós. A saudade é imensa e desconfio que sempre será. 
À minha mãe, Fabiola, que sempre segurou minha mão, em todos os momentos das 
minhas caminhadas, apostando e acreditando em mim, às vezes mais do que eu mesma. Que 
sempre tornou possível a realizações dos meus sonhos, mesmo quando eles incluíam ir morar 
longe por um tempo. Que sempre foi apoio e aconchego. Obrigada pela cumplicidade, pelo 
companheirismo, por ter me mostrado a existência de uma relação entre mãe e filha que tem 
como alicerce o amor e o respeito. Obrigada por me mostrar o mundo da arte, do teatro e da 
música. Obrigada por ser resistência, luta e coragem. 
Ao Universo, às forças divinas, aos seres de proteção e luz que me ajudaram ao longo 
desse processo, que me fortaleceram e me permitiram chegar até aqui. 
A todas que compuseram as tramas e redes desse caminho, a promessa de que não 
soltaremos as nossas mãos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Acreditar no mundo é o que mais nos falta; nós perdemos completamente o mundo, 
nos desapossaram dele. Acreditar no mundo significa principalmente suscitar acontecimentos, 
mesmo pequenos, que escapem ao controle, ou engendrar novos espaços-tempos, mesmo de 
superfície ou volumes reduzidos. (...) É ao nível de cada tentativa que se avalia a capacidade 
de resistência ou, ao contrário, a submissão a um controle. Necessita-se ao mesmo tempo de 
criação e povo. 
Deleuze 
RESUMO 
 
GURGEL, Lívia Lima. Pais gays e mães lésbicas de filhos e filhas por adoção: cartografando 
experiências. 2019. 205 f. Dissertação(Mestrado em Psicologia Social) – Instituto de 
Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. 
 
O presente estudo trata do tema da adoção por casais homossexuais. O interesse pelo 
assunto surge a partir da observação de iniciativas de setores sociais que se opõem aos 
avanços relacionados aos direitos da população LGBT brasileira. Em 2011, o Supremo 
Tribunal Federal (STF) reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo e em 2013 o 
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu proibir que os cartórios se negassem à 
habilitação, celebração de casamento civil ou conversão de união estável em casamento entre 
pessoas de mesmo sexo. Compreende-se a existência de uma multiplicidade de possibilidades 
familiares, e entre as configurações familiares que podem ser encontradas atualmente estão as 
famílias formadas por casais de pessoas do mesmo sexo que buscam tornar-se pais e mães. 
Podemos encontrar, no Brasil, dois movimentos nos extremos. Aqueles em direção a um 
maior reconhecimento de famílias formadas por homossexuais e aqueles que visam negar a 
essas famílias o direito de existir. O interesse desse estudo se volta para a constituição de 
famílias por casais homossexuais em Fortaleza, principalmente após as decisões tomadas pelo 
STF e pelo CNJ. O olhar está direcionado para a questão da adoção por esses casais, 
entendendo que, existindo a impossibilidade de duas pessoas do mesmo sexo conceberem sem 
o auxílio de tecnologias reprodutivas, essas pessoas buscam outras formas de tornarem-se pais 
e mães, sendo a adoção uma dessas formas. Neste estudo buscou-se compreender como pais e 
mães homossexuais exercem a parentalidade, suas perspectivas sobre família e sobre o 
processo de adoção, as expectativas e angústias que perpassam esse processo. Para isso, foram 
realizadas entrevistas em uma pesquisa cartográfica, através da qual se buscou acompanhar os 
processos vivenciados pelas pessoas entrevistadas. A partir das entrevistas foi possível 
perceber que as visões de família se distanciam da necessidade de vinculação biológica e 
sanguínea e outros elementos se destacam, como o afeto e o cuidado. Com relação à 
construção da parentalidade, esta é vivenciada como um processo, sem que sejam percebidas 
especificidades que diferenciem a parentalidade exercida por casais homossexuais daquela 
exercida por heterossexuais. O processo de adoção foi apresentado como sendo marcado por 
inúmeros entraves, o que faz com que a espera para tornar-se pai ou mãe seja longa e o 
processo de adoção, burocrático. Além disso, foram relatados preconceitos e discriminações 
com relação à criança adotada, como inúmeros estigmas, além do racismo que atravessa suas 
experiências. Também encontramos, nos relatos, receios de que a criança adotada seja 
homossexual e que os pais e mães adotivas sejam culpabilizadas por isso. Diversos elementos 
indicam a complexidade do sistema de adoção no Brasil e a urgência para que os entraves 
burocráticos que atrasam o processo sejam resolvidos, com o objetivo de que os direitos das 
crianças e adolescentes sejam preservados. 
 
Palavras-chave: Homoparentalidade. Família. Adoção. Homossexualidade. 
 
ABSTRACT 
 
GURGEL, Lívia Lima. Gay parents and lesbian mothers of sons and daughters by adoption: 
mapping experiences. 2019. 205 f. Dissertação(Mestrado em Psicologia Social) – Instituto de 
Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. 
 
This study deals with the issue of adoption by homosexual couples. The interest in the 
subject arises from the observation of initiatives of social sectors that oppose the advances 
related to the rights of the Brazilian LGBT population. In 2011, the Federal Supreme Court 
(FSC) recognized the stable union between persons of the same sex, and in 2013 the National 
Council of Justice (NCJ) decreed the prohibition of denying the habilitation, celebration of 
civil marriage or conversion of stable marriage into same-sex marriage in the notary offices. It 
is understood that there is a multiplicity of family possibilities, and among the familiar 
configurations that can be found today are families formed by same-sex couples who seek to 
become fathers and mothers. We can find, in Brazil, two extreme movements: those towards a 
greater recognition of homosexual families and those who seek to deny these families the 
right to exist. The interest of this study turns to the constitution of families by homosexual 
couples in Fortaleza, mainly after the decisions taken by FSC and the NCJ. The gaze is 
directed at the issue of adoption by these couples, understanding that since it is impossible for 
two people of the same sex to conceive without the aid of reproductive technologies, these 
people seek other ways to become fathers and mothers, adoption being one of these forms. 
This study aimed to understand how homosexual parents exercise their parenting, their 
perspectives on family and the adoption process, the expectations and anxieties that permeate 
this process. For that, there were made interviews in a cartographic study, through which it 
was sought to follow the processes experienced by the interviewees. From the interviews it 
was possible to perceive that family visions distanced themselves from the need for biological 
and blood bonding and other elements stand out, such as affection and care. Regarding the 
construction of parenthood, this is experienced as a process, without perceiving specifics that 
differentiate the parentingexercised by homosexual couples from that exercised by 
heterosexuals. The adoption process was presented as being marked by innumerable 
obstacles, which means that the wait to become a parent is long and the process of adoption is 
bureaucratic. In addition, they reported prejudices and discriminations regarding the adopted 
child, as innumerable stigmas, as well as the racism that goes through their experiences. We 
also find, in the reports, fears that the adopted child is homosexual and that adoptive fathers 
and mothers are blamed for it. Several elements indicate the complexity of the adoption 
system in Brazil and the urgency for the bureaucratic obstacles that delay the process to be 
solved in order to preserve the rights of children and adolescents. 
 
Keywords: Homoparentality. Family. Adoption. Homosexuality. 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ABEH Associação Brasileira de Estudos da Homocultura 
ABGLT Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis 
ABRAFH Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas 
ANTRA Associação Nacional de Travestis e Transexuais 
APGL Association des parents et futurs parents gays et lesbiens 
CDH Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa 
CNA Cadastro Nacional de Adoção 
CNCA Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas 
CNCD Conselho Nacional de Combate à Discriminação 
CNJ Conselho Nacional de Justiça 
CONAE Conferência Nacional de Educação 
DDH Disque Defesa Homossexual 
DECECA Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente 
ENAPA Encontro Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção 
ENAPA Encontro Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção 
ENUDS Encontros Nacionais Universitários de Diversidade Sexual 
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente 
GAA Grupos de Apoio a Adoção 
GALF Grupo de Ação Lésbica Feminista 
GGB Grupo Gay da Bahia 
GLS Gays, lésbicas e simpatizantes 
IBDFAM Instituto Brasileiro de Direito da Família 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social 
INSS Instituto Nacional de Seguro Social 
LBL Liga Brasileira de Lésbicas 
LGBT Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgênero 
MPF Ministério Público Federal 
ONG Organização não governamental 
OAB Ordem dos Advogados do Brasil 
ONU Organização das Nações Unidas 
PNE Plano Nacional de Educação 
PNDH Programa Nacional de Direitos Humanos 
SENALE Seminários Nacionais de Lésbicas 
SENALESBI Seminário Nacional de Lésbicas e Mulheres Bissexuais 
SOMOS Grupo de Afirmação Homossexual 
STF Supremo Tribunal Federa 
SUS Sistema Único de Saúde 
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
TJCE Tribunal de Justiça do Estado do Ceará 
UFPA Universidade Federal do Pará 
 
 
SUMÁRIO 
 
 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13 
1 CAMINHOS LGBTs NO BRASIL: ALGUNS APONTAMENTOS 
HISTÓRICOS ............................................................................................................... 23 
1.1 O movimento LGBT no Brasil ..................................................................................... 23 
2 MARINHEIRA DE PRIMEIRA VIAGEM: O MAR DA CARTOGRAFIA ......... 55 
2.1 Os traçados iniciais da pesquisa .................................................................................. 55 
2.2 Cartógrafa-entrevistadora: o campo que tensiona e reinventa ................................ 70 
3 “DOIS DO MESMO PODEM SIM UMA FAMÍLIA FORMAR”: 
NARRATIVAS SOBRE FAMÍLIAS E PARENTALIDADES ................................. 82 
3.1 “Família é quando há afeto” ........................................................................................ 83 
3.2 “Vocês estão aprendendo o que é ser filho e a gente tá aprendendo a ser mãe” ..... 96 
3.3 “Eu brinco muito, eu sou o pai e ela é a mãe...” ....................................................... 104 
4 PERCURSOS E PERCALÇOS DA ADOÇÃO NO BRASIL: O QUE DIZEM 
AS FAMÍLIAS ADOTANTES ................................................................................... 127 
4.1 A adoção no contexto brasileiro ................................................................................. 127 
4.2 “O processo de adoção é burocrático” ...................................................................... 134 
4.3 “Essa criança já vai vir com defeito”: a desnaturalização dos vínculos 
sanguíneos .................................................................................................................... 150 
5 FILHAS NEGRAS DE PAIS GAYS E MÃES LÉSBICAS: RACISMO E 
HOMOFOBIA EM CENA ......................................................................................... 163 
5.1 “O que é insuportável é ser negro”: notas sobre o racismo .................................... 163 
5.2 “E se essa criança for gay?” ....................................................................................... 171 
 CONSIDERAÇÕES TRANSITÓRIAS .................................................................... 185 
 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 190 
 APÊNDICE – Perguntas disparadoras utilizadas nas entrevistas ................................ 205 
 
 
13 
 
INTRODUÇÃO 
 
Pensar sobre famílias, hoje, implica que realizemos uma análise sobre as 
transformações que essa instituição vem passando ao longo do tempo, para que possamos 
acompanhar as atuais possibilidades de configurações familiares existentes em nossa 
sociedade e refletir sobre como essa sociedade vem se posicionando diante de tais 
configurações. Alguns debates giram em torno do questionamento: estaria a família chegando 
ao fim? Mudanças recentes no Brasil, como a decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal 
em 2011, que reconhece a união estável entre pessoas do mesmo sexo, trouxeram essa 
discussão novamente à tona. 
Segundo Araújo (2008), existem diferentes perspectivas a partir das quais as famílias 
podem ser pensadas, porém é imprescindível que nos voltemos para essa instituição 
compreendendo que ela é determinada historicamente. Silva, Uziel e de Garay Hernández 
(2013) se referem à família como instituição dinâmica e que sofre o impacto de 
transformações sociais, políticas e econômicas, ao mesmo tempo em que também produz tais 
transformações, ganhando novos contornos ao longo dos tempos. Antes do período moderno, 
por exemplo, a família e o casamento controlavam as práticas sexuais, mantinham laços entre 
linhagens e garantiam a integridade patrimonial. Entre os séculos XV e XVIII, afirmam as 
autoras, a socialização amorosa das crianças aparece como responsabilidade da família. 
Na Idade Moderna, com a ascensão da burguesia, a partir do século XVIII, por 
exemplo, surge uma configuração de família moderna marcada pelas transformações desse 
período histórico, sendo perpassada por valores e atitudes que regiam a relação íntima dos 
membros familiares. Esse modelo de família era fortemente influenciado pelo ideal judaico-
cristão, sendo marcado por questões morais e bons costumes, quando era considerado um 
lugar de proteção e cuidado, ao mesmo tempo em que era criticado pela opressão e violência 
que exercia sobre seus membros (ARAÚJO, 2008). A constituição familiar moderna traz a 
afirmação da individualidade dos sujeitos na escolha dos seus cônjuges, além de uma maior 
independência com relação às famílias de origem (SILVA; UZIEL; DE GARAY 
HERNÁNDEZ, 2013). 
A partir dos anos 60 esse modelo familiar marcado pela opressão passa a ser 
questionado por conta de movimentos sociais que foram ganhando destaque, como o 
feminismo e a revolução sexual (ARAÚJO, 2008). Desde então, segundo a autora, a família 
vem passando por transformações, muitas vezes sendo vista como uma instituição que está 
próxima à extinção. Por exemplo, as relações entre homense mulheres passaram a ser 
14 
 
modificadas, com a entrada cada vez mais intensiva e generalizada das mulheres no mercado 
de trabalho, o que as distanciou do trabalho unicamente doméstico e do cuidado às filhas
1
, 
trazendo uma mudança em configurações familiares marcadas pela organização em que o 
homem era o único provedor da casa, enquanto a mulher se tornava dependente 
financeiramente do companheiro. Os últimos dez anos foram marcados por inúmeras 
mudanças. Além das transformações relacionadas às questões de gênero, o mundo 
contemporâneo trouxe uma diversidade de valores que têm produzido mudanças nas relações 
e configurações familiares (ARAÚJO, 2008). Segundo Mello (2005 apud SILVA; UZIEL; DE 
GARAY HERNÁNDEZ, 2013), alguns elementos, como a generalização do divórcio, da 
monoparentalidade, da autonomização da sexualidade em relação à conjugalidade e à 
reprodução, a redefinição dos papéis de gênero e da secularização de papéis conjugais 
impulsionaram mudanças na forma pela qual a família era percebida pela sociedade, 
entretanto, o modelo heterocentrista ainda era considerado de maneira compulsória. Apenas 
na década de 1990 esse modelo passa a ser questionado, por conta da entrada de 
homossexuais na área política. 
Oliveira (2009) afirma que as transformações sociais que ocorreram a partir da 
segunda metade do século XX também trouxeram modificações nos laços familiares. Houve 
uma crescente individualidade, prevalecendo, na sociedade contemporânea, a busca pela 
estabilidade financeira e pela satisfação pessoal na conjugalidade. Há, então, uma mudança 
significativa na composição das famílias e nas relações de parentesco. É nesse contexto que 
encontramos o que muitas vezes é chamado de “nova família”. Aqui cabe ressaltar que as 
famílias às quais nos referimos nesse estudo não são consideradas, por nós, como novas. 
Essas famílias sempre existiram, entretanto, viviam sob o segredo de suas existências, pela 
intolerância e pelo preconceito existentes na sociedade, e pela falta de proteção com relação a 
elas. 
Apesar das mudanças da sociedade contemporânea, Oliveira (2009) aponta para a 
existência de opiniões diversas sobre as distintas formas de organização familiar, pontuando 
também que continuam existindo opressões relacionadas à figura feminina, pois o 
conservadorismo permanece atuando fortemente nas instituições familiares. Embora hoje 
 
1
Nesse trabalho, ao invés de utilizar o masculino para me referir a categorias mistas de pessoas, optei por utilizar 
o feminino. Essa opção se deu por estar tratando de uma temática que envolve questões de gênero e orientações 
sexuais que fogem à norma, e busco, com isso, chamar atenção para a utilização do masculino na generalização 
das categorias humanas. Objetivo trazer, também a partir da minha escrita, uma linguagem em que as marcas 
de gênero estejam menos presentes. Apenas quando estiver me referindo a participantes/autores homens 
utilizarei o masculino, ou no caso em que são apresentadas citações diretas em que o masculino é utilizado 
pelas autoras. Essa escolha não se deu sem certo estranhamento, inclusive da minha parte, mas considero uma 
tentativa importante diante do que me proponho a discutir ao longo do trabalho. 
15 
 
possamos encontrar um maior reconhecimento a inúmeros arranjos familiares e novas formas 
de constituir famílias, permanece muito forte um modelo de organização nuclear de família 
em que o casamento heterossexual monogâmico é predominante (OLIVEIRA, 2009). 
 
Tais arranjos diversificados podem variar em combinações de diversas naturezas, 
seja na composição ou também nas relações familiares estabelecidas. A composição 
pode variar em uniões consensuais de parceiros separados ou divorciados; uniões de 
pessoas do mesmo sexo; uniões de pessoas com filhos de outros casamentos; mães 
sozinhas com seus filhos, sendo cada um de um pai diferente; pais sozinhos com 
seus filhos; avós com os netos; e uma infinidade de formas a serem definidas, 
colocando-nos diante de uma nova família, diferenciada do clássico modelo de 
família nuclear (OLIVEIRA, 2009, p. 68). 
 
Como consequência das mudanças familiares, encontramos também mudanças nas 
relações de parentesco. Quando comparadas com famílias tradicionais, essas famílias com 
distintos arranjos apresentam o que Oliveira (2009) chama de “papeis confusos”, pois antes 
estes papeis eram rigidamente definidos. Uma vez que estão inseridos em composições 
familiares que se diferenciam das composições tradicionais, os membros dessas famílias 
também estão em transformação, pensando de maneira diferente, questionando e pensando 
novas maneiras de viver (OLIVEIRA, 2009). 
O fato de uma diversidade de famílias ter mais visibilidade em nossa sociedade e aos 
poucos ser mais possível falar delas, não significa, entretanto, que são socialmente aceitas. 
Além da chamada “família tradicional” - monogâmica e heterocentrista - são cada vez mais 
visíveis em nossa sociedade diferentes tipos de organizações familiares, como as famílias 
formadas por casais de pessoas do mesmo sexo com ou sem filhas (SILVA; UZIEL; DE 
GARAY HERNÁNDEZ, 2013). 
 Essas possibilidades familiares nos colocam diante da necessidade de desconstruir 
algumas certezas que parecem naturalizadas. Butler (2003, p. 224) refere que 
 
Variações no parentesco que se afastem de formas diádicas de família heterossexual 
garantidas pelo juramento do casamento, além de serem consideradas perigosas para 
as crianças, colocam em risco as leis consideradas naturais e culturais que 
supostamente amparam a inteligibilidade humana. 
 
Zambrano (2008) nos fala que essas configurações familiares rompem aspectos da 
filiação que eram considerados inseparáveis, pois nas famílias de pais/mães homossexuais não 
é possível manter a ilusão do aspecto biológico da filiação, uma vez que não pode haver 
concepção entre pessoas do mesmo sexo (pelas maneiras consideradas naturais, ou seja, 
através da relação sexual, ou sem a utilização das tecnologias reprodutivas). A partir disso a 
autora nos aponta um dos principais argumentos contrários às famílias formadas por casais de 
pessoas do mesmo sexo: como não podem procriar, são contrárias à natureza (ZAMBRANO, 
16 
 
2008). É importante ressaltar, como aponta a autora, que esse argumento acaba se baseando 
em um raciocínio ligado à religiosidade, pois associa o que é natural ao que é feito por Deus, 
e nessa concepção o homem e a mulher foram feitos para procriar, de acordo com a vontade 
de Deus, e pela relação homossexual ser impossibilitada de procriar, é considerada não 
natural, logo sendo apontada como desviante e patológica (ZAMBRANO, 2008). 
Essa maneira de pensar a construção de famílias por pais/mães homossexuais é 
bastante presente no senso comum de nossa sociedade e essa narrativa é reinterada por figuras 
políticas importantes no Brasil, que trazem um discurso conservador quando se referem às 
constituições familiares que fogem ao considerado tradicional. Exemplo disso é que, em 2015, 
a Câmara dos Deputados realizou votação sobre o projeto conhecido como Estatuto da 
Família, que prevê a noção de família como formada pela união entre homem e mulher, por 
casamento ou união estável, ou por um dos pais e seus filhos (CÂMARA DOS 
DEPUTADOS, 2015). O projeto exclui a constituição familiar formada a partir de casais 
homossexuais e a votação foi concluída na Câmara dos Deputados, seguindo para análise do 
Senado. Como afirma Zambrano (2008), ações como estas excluem experiências que 
divergem dessa forma tradicional de família, desconsiderando as diversas configurações 
familiares que estão presentes em nossa sociedade, como as famílias formadas por pais/mães 
homossexuais. 
Ao lado de iniciativas de resistência às essas configurações familiares, como a citada 
acima, o Brasil também presencia avançoscom relações a essas questões. É importante 
destacar a decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em maio de 2011, que 
reconhece a união estável entre pessoas do mesmo sexo, e a decisão do Conselho Nacional de 
Justiça (CNJ) acerca do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Em 2013, o CNJ 
decidiu proibir que os cartórios se negassem à habilitação, celebração de casamento civil ou 
de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo (BRASIL, 2013). 
Podemos encontrar, portanto, movimentos nos extremos, como aqueles em direção a 
um maior reconhecimento de famílias formadas por homossexuais, aqueles que visam negar a 
essas famílias o direito de existir e outros que criticam as tentativas de aproximação a uma 
instituição heteronormativa. O interesse desse estudo se volta para a constituição de famílias 
por casais homossexuais, principalmente após as decisões tomadas pelo STF e pelo CNJ. O 
olhar está direcionado para a questão da adoção por esses casais, entendendo que, existindo a 
impossibilidade de duas pessoas do mesmo sexo conceberem sem o auxílio de tecnologias 
reprodutivas, essas pessoas buscam outras formas de tornarem-se pais e mães, sendo a adoção 
uma dessas formas. 
17 
 
A decisão do STF se apresenta como um importante marco a ser considerado no 
contexto nacional e também se relaciona à questão da adoção. Coitinho Filho e Rinaldi (2015, 
p. 291) explicam que a decisão do Supremo Tribunal Federal, que “reconheceu a união de 
homossexuais como entidade familiar e merecedora de proteção do regime jurídico de união 
estável”, trouxe o reconhecimento de um quarto modelo de família na sociedade brasileira. 
Anteriormente a isso, a Constituição Federal trazia três configurações familiares: a decorrente 
de casamento, da união estável ou a monoparental (onde há uma pessoa com filhas). Com a 
decisão, a família decorrente da união entre pessoas do mesmo sexo passa a ser reconhecida. 
Com relação à adoção, explicam que, anteriormente à decisão do STF, só poderiam pleitear 
conjuntamente uma filiação adotiva, pessoas casadas civilmente ou em união estável. Logo, 
pares homossexuais poderiam encontrar dificuldades para adotar conjuntamente uma criança 
ou adolescente, apesar de que algumas decisões favoráveis eram tomadas em âmbito jurídico. 
Entretanto, o posicionamento do STF trouxe maior segurança para esses casais, que antes 
dependiam do entendimento dos Juízes. 
Como exemplo, citaram um casal de homossexuais que iniciou um processo de adoção 
em 2005. O Promotor da Infância e da Juventude argumentou haver impossibilidade para que 
dois homens adotassem uma criança em conjunto, utilizando como argumento um artigo do 
Código Civil de 2002, em que se afirma que ninguém pode ser adotada por duas pessoas, 
apenas se essas pessoas forem marido e mulher ou estiverem em união estável. O Promotor 
também afirmou que, de acordo com a Constituição Federal, o casal não aparecia como 
nenhum modelo familiar previsto legalmente (COITINHO FILHO; RINALDI, 2015). 
Rinaldi (2017) também refere que, com a decisão do STF, casais de gays e lésbicas 
passaram a buscar a adoção unilateral, legalizando a dupla maternidade, e puderam “sair de 
uma condição simbolicamente violenta e insegura a fim de legalizar seus elos familiares” 
(RINALDI, 2017, p. 231). Custódio (2012) aponta que, apesar da decisão do STF, ainda 
existe um caminho a ser percorrido no sistema jurídico nacional e que a falta de legislação 
específica vem sendo suprida por jurisprudência, a partir da busca por elementos da 
Constituição Federal para fundamentar as decisões favoráveis aos casais homossexuais. Do 
Carmo e Lopes (2013) também refletem nessa direção, ao afirmarem que apesar da recente 
conquista de direitos por homossexuais, como o reconhecimento pelo STF acerca da união 
civil entre pessoas do mesmo sexo, a discriminação e o preconceito continuam se fazendo 
presentes na sociedade, o que também é afirmado Cecílio, Scorsolini-Comin e Santos (2013), 
a partir de uma revisão de literatura realizada pelas autoras sobre a adoção por casais 
homossexuais no Brasil. Ou seja, após a decisão do Supremo Tribunal Federal, famílias 
18 
 
constituídas por gays e lésbicas tornaram-se mais visíveis e reconhecíveis, apesar de ainda 
não haver legislação que ampare a decisão jurídica (COITINHO FILHO, 2017). 
De Garay Hernández, Silva e Uziel (2013) teceram reflexões no sentido de apontar 
para a valorização das relações que são mediadas pelo Estado, o que traz a percepção de 
conquista de direitos para a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Embora considerem 
que para o estabelecimento e permanência dessas relações conjugais não é necessário o 
reconhecimento legal, apontam para uma importância política do reconhecimento jurídico, 
pois a possibilidade de estabelecer um contrato regulado juridicamente parece afetar a 
percepção dessas pessoas envolvidas como cidadãs de direitos. As autoras participaram de 
uma cerimônia coletiva de união estável homoafetiva (sic) no Estado do Rio de Janeiro em 
2011 e apontam que, entre as presentes, o discurso de conquista política foi bastante forte, 
havendo uma satisfação pela decisão do STF. Segundo relataram, observaram que havia um 
impacto pessoal para aquelas pessoas que participavam da cerimônia, pois estava sendo 
firmado um contrato entre duas pessoas, que garantiria o acesso aos direitos conjugais, por 
exemplo, e também um impacto coletivo, pois, naquele espaço, também estava sendo 
representado um avanço nas lutas da comunidade LGBT
2
. 
O terreno da adoção para casais homossexuais que buscavam a filiação adotiva 
conjuntamente tornou-se mais seguro após a decisão do Supremo Tribunal Federal, mas 
precisamos estar atentas, pois nossa sociedade se organiza a partir de ideias e paradigmas 
heteronormativos, existindo diversos movimentos que se opõem aos direitos de pessoas que 
desafiam o modelo vigente. Nos dias atuais, alguns dos questionamentos que são feitos em 
torno da questão da adoção por homossexuais dizem respeito à possibilidade de suas 
conjugalidades e parentalidades poderem ser consideradas como famílias, como as crianças 
filhas de gays e lésbicas crescem, se vivenciarão problemas psicológicos e se irão se tornar 
homossexuais (COITINHO FILHO, 2017). Buscamos, nesse trabalho, acompanhar casais 
homossexuais que vivenciaram o processo de adoção sobre algumas dessas questões, como as 
expectativas e angústias que perpassam esse processo, possíveis dificuldades encontradas por 
essas pessoas, suas compreensões acerca da construção de laços familiares e parentais, 
 
2
 No Brasil, a sigla LGBT se refere a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. As diferenças entre tais 
identidades e o modo como se expressam politicamente fazem parte de um processo bastante complexo que 
não iremos abordar aqui. Basta ressaltar que as fronteiras entre elas não são nítidas e estão em constante 
processo de negociação” (CARRARA, 2010, p. 134). A sigla utilizada ao longo desse trabalho será “LGBT”, 
entendendo que ela ainda se apresenta como a mais utilizada no cenário nacional, apesar do surgimento de 
outras. Quando outras siglas forem empregadas, isso se dará por conta do uso feito pelas autoras consultadas 
para a construção desse trabalho. “Atualmente, é comum falarmos em movimento de lésbicas, gays, 
bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais (LGBTTI), ainda que a sigla mais usada continue sendo LGBT” 
(SARAIVA, 2017, p. 87). 
19 
 
considerando, como traz Coitinho Filho (2017), que a discussão sobre essa temática se dá em 
meio a uma busca por direitos civis, permeada por uma suspeita posta sobre esses sujeitos. 
 
Tal suspeita é resultado imediato dos diferentes dispositivos da sexualidade aos 
quais gays e lésbicas têm sido alvo na contemporaneidade sob formas de 
normatizaçãodas condutas sexuais. A própria produção do sujeito homossexual 
como indivíduo patológico, constituído em detrimento ao que depois veio a ser 
considerado como heterossexual, revela tanto o controle e a regulamentação 
daqueles considerados desviantes, quanto a produção de uma hierarquia social que 
vai corroborar o cerceamento do exercício da cidadania destes, como a questão da 
adoção – diferentemente de casais heterossexuais, cuja sexualidade nunca foi 
apontada em nenhum dos processos analisados como algo impeditivo. (COITINHO 
FILHO, 2017, p. 500) 
 
Com relação à adoção, que também aparece no centro desse trabalho, Maux e Dutra 
(2010) referem, a partir de trabalhos de Weber, que essa prática vem recebendo significados 
distintos ao longo da história. Por exemplo, em alguns contextos sócio-históricos pode ser 
valorizada ou não, pode receber significados políticos ou religiosos, entre outras 
transformações. De acordo com a experiência das autoras, a adoção se apresenta como uma 
experiência singular para cada família. Entretanto, elas identificam alguns aspectos que se 
repetem, como a adoção ser, muitas vezes, vista como ato de caridade; a relação entre adoção 
e infertilidade, assim como os inúmeros mitos que existem com relação à adoção. Enfatizam 
que existem, na prática, muitas opiniões de senso comum que têm como base o preconceito e 
o desconhecimento sobre a adoção (MAUX; DUTRA, 2010). 
Mais especificamente com relação à adoção por gays ou lésbicas, Santos et al. (2018) 
referem que, apesar de falarmos sobre a parentalidade desses casais há mais de duas décadas, 
é possível observar resistência de certa parte da população com relação à legitimidade de 
casais homossexuais e suas filhas como uma forma de constituir família. Em estudo 
desenvolvido por Pereira et al. (2013), as autoras identificaram que representações sobre a 
homossexualidade baseadas em conceitos religiosos, ético-morais e psicológicos estão 
relacionadas ao apoio à políticas discriminatórias, assim como também se relacionam com a 
oposição à adoção por casais homossexuais. Alguns desses elementos serão discutidos ao 
longo do presente trabalho. 
Esta pesquisa cartográfica, que se caracteriza como uma pesquisa-intervenção, foi 
realizada em Fortaleza – Ceará, com oito casais (quatro de gays e quatro de lésbicas) que 
moram na capital e em cidades da região metropolitana. Esses casais encontravam-se em 
momentos distintos do processo de adoção: alguns haviam adotado há anos, outros ainda 
estavam realizando o processo de avaliação e aguardando a entrada no Cadastro Nacional de 
Adoção, por exemplo. O contato com esses casais foi feito de diferentes formas, que serão 
20 
 
melhor explicitadas no capítulo 2, onde trago um relato mais detalhado de como a pesquisa 
foi construída e reconstruída, como foram os encontros com as entrevistadas e como o campo 
me possibilitou diversas afetações ao longo do caminhar. 
Caminhando na direção da finalização dessa breve introdução sobre o trabalho que 
será aqui apresentado, cabe, nesse momento, que sejam feitas considerações acerca do 
momento político vivenciado pelo Brasil. Essa dissertação foi construída ao longo de dois 
anos marcados por inúmeras mudanças políticas no cenário nacional. Anteriormente ao início 
da pesquisa, em 2016, vivenciamos um processo de impeachment de uma Presidenta 
legalmente eleita pela maioria das brasileiras, Dilma Rousseff, que foi afastada do Governo 
sob acusações de desrespeito à lei orçamentária e à lei de improbidade administrativa. Esse 
processo se deu, principalmente, por meio da articulação entre figuras políticas contrárias ao 
governo da Presidenta, que justificaram seus votos pelo afastamento através de argumentos 
como a defesa da família
3
 e em nome de Deus, apesar de o Brasil ser (teoricamente) um país 
laico. Não cabe, aqui, realizar toda uma reconstituição dos elementos e das articulações 
políticas que culminaram no impedimento de Dilma Rousseff, entretanto, é importante 
afirmar que, a partir de tal fato, ao longo do ano de 2017 e 2018, quando esse estudo já estava 
sendo desenvolvido, deu-se a crescente valorização de determinadas figuras políticas 
brasileiras, entre elas algumas que se posicionam publicamente a favor de torturadores que 
cometeram graves crimes durante o período ditatorial no Brasil, além de se posicionarem 
contra a comunidade LGBT e contra as configurações familiares
4
 que se distanciam dos 
modelos heteronormativos impostos socialmente, sendo uma clara ameaça à recente 
democracia brasileira, ainda em construção. Também durante a construção da pesquisa, 
ocorreu o período eleitoral para eleger o próximo presidente do Brasil, momento em que foi 
eleito o candidato supracitado, defensor da ditadura e opressor de minorias (mulheres, negras, 
comunidade LGBT, indígenas). 
Diante disso, a construção desse trabalho se dá, também, como forma de 
posicionamento político diante de tais posturas discriminatórias e disseminadoras de ódio. 
Conversar com essas famílias, ouvi-las, acompanhá-las e pesquisarCOM
5
 (MORAES, 2010) 
elas se apresenta como possibilidade de resistência em meio a um contexto de intolerâncias. 
 
3
 Quando essas figuras políticas afirmam que buscam a “defesa da família”, estão se referindo à defesa de um 
modelo familiar caracterizado por um homem, uma mulher e suas filhas, o que é considerado como a família 
tradicional, modelo que deve ser preservado pela sociedade. 
4
 Em alguns trechos utilizarei expressões como “configurações familiares” para me referir às famílias, tanto com 
relação às famílias hegemônicas como às não hegemônicas, apenas por uma questão de variação na escrita. 
5
 Considerações sobre pesquisarCOM serão apresentadas no capítulo 2. 
21 
 
Não busco
6
 apresentar tais famílias como normais ou iguais àquelas formadas por casais 
heterossexuais, que também não são homogêneas, mas sim falar sobre essas famílias que 
existem, apesar dos movimentos contrários a elas. Elas existem, nós existimos. Esse trabalho 
fala das experiências, dores e amores de pessoas que constroem suas vidas e famílias, apesar 
da ameaça antidemocrática que paira sobre nossas cabeças. 
Aqui, considero a dimensão ética, estética e política dessa pesquisa. O paradigma 
ético/estético/político, formulado por Guattari em contraposição ao paradigma científico, 
associa estas três dimensões, objetivando, em vez de generalizar as experiências humanas, 
singularizá-las, em um compromisso social e político com a realidade que opera (VERDI; 
FINKLER; MATIAS, 2015) 
 
Ético porque não se trata do rigor de um conjunto de regras tomadas como um valor 
em si (um método), nem de um sistema de verdades tomadas como valor em si (um 
campo de saber): ambos são de ordem moral. O que estou definindo como ético é o 
rigor com que escutamos as diferenças que se fazem em nós e afirmamos o devir a 
partir dessas diferenças. As verdades que se criam com este tipo de rigor, assim 
como as regras que se adotou para criá-las, só tem valor enquanto conduzidas e 
exigidas pelas marcas. Estético porque este não é o rigor do domínio de um campo 
já dado (campo de saber), mas sim o da criação de um campo, criação que encarna 
as marcas no corpo do pensamento, como numa obra de arte. Político porque este 
rigor é o de uma luta contra as forças em nós que obstruem as nascentes do devir 
[Grifos da autora] (ROLNIK, 1993, p. 6-7). 
 
Assim, as linhas aqui escritas, que narram a pesquisa desenvolvida COM famílias, 
foram escritas em uma tentativa de manter este rigor ético/estético/político. Segundo Rolnik 
(1993), a escrita é conduzida pelas marcas, são elas que escrevem, que fazem um texto com 
algum interesse. 
 
(...) Geram em nós estados inéditos, inteiramente estranhos em relação àquilo de que 
é feita a consistência subjetiva de nossa atual figura. Rompe-se assimo equilíbrio 
desta nossa atual figura, tremem seus contornos. Podemos dizer que a cada vez que 
isto acontece, é uma violência vivida por nosso corpo em sua forma atual, pois nos 
desestabiliza e nos coloca a exigência de criarmos um novo corpo - em nossa 
existência, em nosso modo de sentir, de pensar, de agir etc. - que venha encarnar 
este estado inédito que se fez em nós. E a cada vez que respondemos à exigência 
imposta por um destes estados, nos tornamos outros. Ora, o que estou chamando de 
marca são exatamente estes estados inéditos que se produzem em nosso corpo, a 
partir das composições que vamos vivendo. Cada um destes estados constitui uma 
diferença que instaura uma abertura para a criação de um novo corpo, o que significa 
que as marcas são sempre gênese de um devir (ROLNIK, 1993, p. 2). 
 
6
 Em alguns momentos, ao longo do texto, utilizarei a primeira pessoa do singular, entendendo que, trabalhando 
com a cartografia, posso me aproximar da construção do trabalho sem a prescrição de neutralidade científica 
ou distanciamento entre pesquisador e campo pesquisado. Entretanto, essa forma de escrita ainda me é, de certa 
forma, estranha. Logo, ao longo do texto, também utilizarei a primeira pessoa do plural, momento em que 
trago considerações em diálogo com outras autoras, por ser uma forma de escrita com a qual me sinto mais 
confortável, e considerando que esse trabalho também foi construído a partir de discussões e reflexões com a 
orientadora da pesquisa e com o grupo de pesquisa GEPSID (Grupo de Estudos e Pesquisas Subjetividades e 
Instituições em Dobras). 
22 
 
A experiência de pesquisarCOM as famílias que fizeram parte desse estudo será 
descrita a partir das marcas, dos estados inéditos. Partindo do objetivo de nossa pesquisa, de 
compreender as vivências de casais de pessoas do mesmo sexo em processos de adoção, 
fomos em busca de conhecer o que outras pesquisadoras vêm produzindo sobre o tema, quais 
produções se aproximam de nosso estudo e quais se distanciam, quais questionamentos estão 
sendo feitos, como esse campo vem sendo estudado. Uma breve apresentação do material 
encontrado será feita no capítulo 2. 
No primeiro capítulo será apresentado um breve histórico sobre o caminho percorrido 
no Brasil pelo movimento LGBT, até a chegada aos fatos recentes que atravessam o cenário 
nacional, contextualizando as decisões do STF e do CNJ acerca da união entre pessoas do 
mesmo sexo. No segundo capítulo será exposto como a pesquisa começou a ganhar corpo, as 
angústias e alterações da construção inicial do estudo, o método utilizado e como a pesquisa 
se construiu. No terceiro capítulo, as temáticas de famílias e parentalidades ganham destaque, 
a partir das narrativas das participantes dessa pesquisa. No quarto capítulo faremos uma 
discussão sobre o processo de adoção, o percurso jurídico das leis sobre adoção no Brasil e o 
que as entrevistadas trazem sobre essa vivência. No último capítulo são explorados elementos 
trazidos pelas entrevistadas com relação ao preconceito racial vivenciado pelas crianças 
adotadas e ao receio que pais e mães homossexuais apresentam ou não com relação à 
possibilidade da filha ser homossexual. 
Esperamos que esse trabalho possa contribuir para a luta incansável contra a 
homofobia que atravessa a existência de inúmeros sujeitos, acarretando sofrimento e 
violências físicas e psicológicas, marcando suas vidas e de suas companheiras e familiares. 
Caminharemos na direção de um entrelaçamento de histórias de vidas que se mostram 
potentes, que impõem suas vozes e exigem o direito de existir, nos encorajando a continuar na 
luta constante contra as discriminações. 
 
 
23 
 
1 CAMINHOS LGBTs NO BRASIL: ALGUNS APONTAMENTOS HISTÓRICOS 
 
Um novo tempo há de vencer 
Pra que a gente possa florescer 
E, baby, amar, amar, sem temer 
Eles não vão vencer 
Baby, nada há de ser em vão 
Antes dessa noite acabar 
Baby, escute, é a nossa canção 
E flutua, flutua 
Ninguém vai poder, querer nos dizer como amar 
Johnny Hooker e Liniker 
 
Presenciamos, nos últimos anos, um crescente debate sobre os direitos da população 
LGBT no Brasil e em diversas partes do mundo, porém isso não significa que esses direitos 
estejam assegurados indefinidamente, uma vez que presenciamos grupos que se opõem a 
esses avanços. Na medida em que crescem os movimentos a favor dos direitos da população 
LGBT, também crescem os movimentos conservadores. Portanto, apesar da maior visibilidade 
que esse grupo vem conquistando e com direitos efetivos, e também em função disso, a 
discriminação e a intolerância também se fazem presentes no cenário dessas lutas. 
 
1.1 O movimento LGBT no Brasil 
 
Nesse tópico será feita uma breve explicitação acerca do caminho percorrido no Brasil 
com relação à organização do movimento LGBT no país, à luta por direitos dessa população 
até a chegada em conquistas mais recentes que se relacionam à parentalidade gay e lésbica. 
Pensando no contexto histórico brasileiro, Facchini (2011) nos traz que, no início do século 
XX, aquelas pessoas que estudavam o comportamento humano voltaram sua atenção para 
indivíduos que possuíam práticas homoeróticas, em busca de conhecer e explicar esse 
comportamento. Além disso, passou a ser feita uma relação entre essas sexualidades, 
consideradas desviantes, e delitos criminosos, o que gerava perseguição por parte da polícia 
com relação a homossexuais e à internação desses sujeitos em instituições psiquiátricas. Esse 
contexto fez com que homossexuais passassem a criar laços entre si e, antes do surgimento do 
movimento homossexual propriamente dito, passou a haver a criação de redes de 
24 
 
sociabilidade, a partir das quais começou a ser delineado o que veio a ser chamado de 
“identidade gay” (FACCHINI, 2011, p. 11). Sobre o movimento LGBT brasileiro 
propriamente dito, a autora refere que este só surge no final dos anos 1970 e que, quando 
surge, os homens homossexuais eram predominantes no movimento. 
Nessa época, entre as décadas de 1960 e 1970, há o endurecimento da ditadura civil-
militar no Brasil, período em que o movimento estudantil começa a ganhar visibilidade, 
mesmo com a forte repressão do momento. Durante a década de 1970 grupos clandestinos de 
esquerda se voltam para o combate da ditadura e é também nesse momento que surge o 
Somos – Grupo de Afirmação Homossexual, em São Paulo. O surgimento do movimento 
homossexual brasileiro está relacionado a uma tentativa de politização da questão da 
homossexualidade, diferente das associações anteriores ao movimento, que possuíam ações 
voltadas para a sociabilidade, ações essas não politizadas. O movimento reivindicava direitos 
universais e civis plenos e suas ações políticas eram voltadas para a sociedade de maneira 
ampla (FACCHINI, 2011). 
Seguindo Facchini (2011), o movimento pode ser dividido em três períodos: de 1978 a 
1983, como a primeira onda do movimento homossexual no Brasil; de 1984 a 1992; e a última 
de 1992 aos dias atuais. A primeira onda apresentou propostas de transformação para a 
sociedade, na direção de desfazer inúmeras hierarquias sociais, principalmente aquelas 
relacionadas a gênero e sexualidade. O grupo Somos, citado anteriormente, faz parte dessa 
fase do movimento e, além dele, o jornal Lampião da Esquina, do Rio de Janeiro. MacRae 
(1990 apud FACCHINI, 2011) afirma que existiram 22 grupos homossexuais que atuavam no 
cenário nacional durante esse período do movimento, sendo o eixo Rio de Janeiro – São Paulo 
os locais de maiores atuações. É importante ressaltar que faziam parte do Grupo Somos 
algumas mulheres lésbicas, porém estas tiveram que encarar, dentro do grupo, atitudes 
machistas e discriminatórias, como relata Fernandes (2018). Segundo a autora, por conta 
disso, essas mulheres lésbicas, influenciadas pelo feminismo, decidiram criar um subgrupodentro do Somos, chamado Grupo de Ação Lésbico-Feminista, ou LF. Essas mulheres, ainda 
que em minoria no Somos, apresentaram suas decisões: que fossem encaminhadas discussões 
sobre machismo e feminismo no Somos, a criação de um grupo de acolhimento e afirmação 
da identidade apenas para lésbicas, entre outras. O LF integrou as Coordenações 
Organizadoras do II e III Congresso da Mulher Paulista e, segundo relato de Fernandes 
(2018), até para as feministas, a primeira aparição em público do LF foi um escândalo, pois 
essas mulheres lésbicas defendiam que as mulheres lutassem pelo direito ao prazer e à 
sexualidade, que os círculos de opressão masculina fossem rompidos, e falavam sobre a 
25 
 
heterossexualidade ser imposta a todas as mulheres como a única sexualidade “normal”. Essas 
ideias causavam espanto e não eram em aceitas por grande parte do movimento de mulheres. 
Uma das características desse momento diz respeito à polarização entre setores da 
esquerda, que defendiam uma luta principal mais relevante do que lutas específicas do 
movimento, e a luta das minorias. Outro ponto diz respeito ao caráter anti autoritário do 
período, uma vez que o Brasil estava imerso em uma ditadura e os movimentos tentavam se 
opor a isso. Por essa razão, a constituição dos movimentos trazia coordenações rotativas, para 
evitar a concentração de poder, por exemplo, além de não serem grupos institucionalizados 
(FACCHINI, 2011). 
Nesse momento da organização do movimento homossexual, o grupo Somos tinha 
como uma de suas propostas a luta contra o caráter pejorativo das palavras “bicha” e 
“lésbica”. A construção da identidade coletiva que se dava na época se opunha ao machismo e 
a algumas vivências homossexuais, como a ideia de que o “bofe” era aquele “masculino” e 
“ativo”, enquanto a “bicha” era “passiva” (FACCHINI, 2011). 
A autora refere que, em 1979, houve o primeiro encontro de homossexuais, ocorrido 
no Rio de Janeiro. Abaixo, as resoluções do encontro: 
 
A reivindicação da inclusão do respeito à "opção sexual" - o próprio movimento 
ainda falava em "opção sexual" nesse momento - na Constituição Federal; uma 
campanha para retirar a homossexualidade da lista de doenças, ou seja, a luta contra 
a patologização; e a convocação de um primeiro encontro de um grupo de 
homossexuais organizados, o que aconteceu em abril de 1980, em São Paulo 
(FACCHINI, 2011, p. 14). 
 
Em 1980, após a participação de algumas lésbicas e gays do Somos na passeata de 1º 
de maio (ato em que mais de 100 mil trabalhadores saíram às ruas em São Bernardo do 
Campo, em confronto com o regime militar) ocorreu uma cisão no grupo. O LF decidiu, 
então, se retirar, fundando o Grupo de Ação Lésbica Feminista (GALF). Esse novo grupo 
atuava vendendo boletins e fazendo panfletagens sobre conscientização acerca da 
discriminação e da violência contra lésbicas, por exemplo (FERNANDES, 2018). Facchini 
(2011) refere que, ainda em 1980, ocorre a primeira passeata organizada pelo grupo, um ato 
contra a violência policial e contra uma operação de limpeza realizada pelo delegado Richetti 
em São Paulo. Porém, isso não impediu que em 15 de novembro fosse realizada uma operação 
de prisão de lésbicas que foram levadas sob a “acusação” de serem “sapatão”. Além desse 
episódio, é importante ressaltar o surgimento do primeiro boletim de lésbicas do Brasil, 
chamado Chanacomchana, lançado pelo GALF em 1981. Em 1983, entretanto, mais um 
episódio de violência. Integrantes do grupo vendiam o boletim no Ferro’s Bar, em São Paulo, 
26 
 
quando foram expulsas e proibidas de entrar novamente no local, que era um espaço de 
sociabilidade bastante frequentado por lésbicas na cidade. Em resposta ao ocorrido, no dia 19 
de agosto as lésbicas promoveram uma invasão ao bar, em articulação com a imprensa, gays, 
feministas, defensoras dos direitos humanos e políticos, resultado na liberação da venda do 
Chanacomchana no bar outra vez (FERNANDES, 2018). 
Outro fato importante diz respeito ao início da atuação do Grupo Gay da Bahia 
(GGB), que também se dá em 1980, fortalecendo o ativismo no Nordeste. Esse grupo 
coordenou uma campanha nacional, entre os anos de 1981 e 1985, pela retirada da 
homossexualidade do código de doenças do Instituto Nacional de Assistência Médica da 
Previdência Social (INAMPS). Além disso, o GGB buscava uma militância voltada para a 
conquista de direitos e denúncia de violências (FACCHINI, 2005). Segundo o fundador do 
GGB, Luiz Mott, o grupo arquivava informações sobre violência contra homossexuais desde 
sua fundação (MOTT et al. 2002, apud RAMOS; CARRARA, 2006). Esses registros eram 
divulgados por meio de dossiês que permitiam o conhecimento e a divulgação de crimes de 
violência contra homossexuais, principalmente durante os anos de 1990. Essa preocupação 
com a elaboração e divulgação de relatórios contendo dados sobre assassinatos de 
homossexuais contribuiu para que a denúncia da violência contra homossexuais e da 
homofobia se tornassem uma das principais pautas do movimento LGBT (RAMOS; 
CARRARA, 2006). Foi também nesse período que foram encerradas as atividades do Jornal 
Lampião, no ano de 1981 (FACCHINI, 2011). 
Em 1983, começando o que a autora chama de segunda onda do movimento 
homossexual, o grupo Somos deixa de existir e a epidemia do HIV/AIDS aparece. O 
surgimento da epidemia faz com que o número de grupos homossexuais diminua bastante, 
pois grande número de ativistas se volta para a busca de respostas coletivas à doença. “Os 
militantes homossexuais foram os responsáveis pelas primeiras mobilizações contra a 
epidemia, tanto no âmbito da assistência solidária à comunidade, quanto na formulação de 
demandas para o poder público” (FACCHINI, 2011, p. 14). O surgimento da AIDS dizimou 
homossexuais pelo mundo, ficando as parceiras sobreviventes sem direitos básicos, 
diferentemente de casais heterossexuais em união estável, quando uma das pessoas falecia. 
Roudinesco (2003) se questiona sobre os motivos que levam homossexuais, tanto homens 
como mulheres, a reivindicarem o direito ao casamento, à adoção e à procriação medicamente 
assistida. Para a autora, o surgimento da AIDS seria um dos motivos impulsionadores da luta 
de homossexuais pelos direitos à constituição familiar e ao casamento, com a adoção de 
crianças entre as reivindicações. 
27 
 
Segundo Facchini (2011), nesse período também ocorre a expansão do mercado de 
bens e serviços para o público homossexual e começam a atuar outros grupos, como o 
Triângulo Rosa e o Atobá, no Rio de Janeiro, além do Grupo Gay da Bahia, já citado. Há um 
deslocamento do movimento para o eixo Rio de Janeiro – Nordeste. Isso se deu diante do 
envolvimento da maioria das ativistas de São Paulo na luta contra o HIV/AIDS, o que fez com 
que o Rio de Janeiro e o Nordeste apresentassem uma maior organização de grupos nesse 
período, principalmente através da atuação do Triângulo Rosa (Rio de Janeiro) e Grupo Gay 
da Bahia. 
 
As características mais marcantes desse período incluem: um menor envolvimento 
com projetos de transformação social como um todo; e uma ação mais pragmática e 
voltada para a garantia dos direitos civis e ações contra discriminações e violência. 
A tendência é ter organizações mais formais, não há mais rotatividade de direções, 
mas diretorias com cargo e funções definidas. O GGB e o Grupo Triângulo Rosa são 
os primeiros a se formalizarem legalmente como associações voltadas para os 
direitos de homossexuais, evocando o direito à associação. A valorização de relações 
com o movimento internacional é bastante forte nesse momento e há desvalorização 
dos aspectos marginais da homossexualidade. A abordagem inicial da Aids como 
"peste gay" ou "câncer gay" levou à necessidade de construção de uma boa imagem 
pública da homossexualidade que permitisse a luta pela garantia de direitos civis 
(FACCHINI, 2011, p. 15). 
 
Saraiva (2017) relataque, nessa época, também havia uma disputa entre ativistas que 
defendiam uma aliança do movimento de homossexuais com o movimento operário e aquelas 
que desejavam a autonomia política do movimento. Tais discordâncias ocasionaram muitos 
rachas nos grupos de gays e de lésbicas nesse período. 
Facchini (2011) aponta que também durante a segunda onda do movimento, passa a 
ser utilizada a expressão “orientação sexual” no lugar de “opção sexual”, representando o fato 
de não haver uma escolha individual, racional e simples com relação à sexualidade. O Grupo 
Triângulo Rosa tentou incluir a expressão na Constituição Federal, durante a Constituinte de 
1988, porém não obteve sucesso. Segundo Dias (2010), a Constituição Federal, chamada de 
Constituição Cidadã, traz como princípio fundamental o respeito à dignidade humana, proíbe 
qualquer tipo de discriminação e outorga especial proteção à família. Além disso, passou a 
considerar como entidades familiares aquelas famílias constituídas fora do casamento, 
chamando-as de união estável, e nomeou como família pai ou mãe e suas descendentes. 
Carrara (2010) chama a atenção para a importância que a Constituição de 1988 tem para o 
cenário das políticas sexuais no Brasil contemporâneo. Afirma que, no momento em que a 
Constituição foi criada, havia forças existentes entre diferentes movimentos sociais, alguns 
deles pautando questões de gênero e sexualidade. Por exemplo, o reconhecimento de diversas 
formas de famílias é apontado pelo autor como reflexo de pressões exercidas por grupos 
28 
 
feministas e de mulheres. Entretanto, o autor aponta que a nova Carta constitucional não 
incluiu “orientação sexual” e “identidade de gênero” entre as discriminações a serem 
combatidas, considerando que este fato evidencia o contexto desfavorável que vinha sendo 
vivenciado pelo movimento LGBT. Apesar disso, a Constituição se apresentou comprometida 
com os direitos humanos e, até hoje, permite que juízas e tribunais se baseiem em seus 
princípios fundamentais para garantir certos direitos às minorias sexuais, sendo considerada 
pelo autor como “marco fundamental a partir do qual a sexualidade e a reprodução se 
instituem como campo legítimo de exercício de direitos no Brasil.” (CARRARA, 2010, p. 
134). 
Em 1984 ocorreu um encontro nacional de ativistas na Bahia, onde se pautaram as 
lutas pela despatologização da homossexualidade, por legislações antidiscriminatórias, pela 
legalização do “casamento gay”
7
, entre outras questões. Wendt (2015, p. 7) aponta que 
 
Um marco nas conquistas dos direitos almejados pelo movimento homossexual foi a 
exclusão definitiva da homossexualidade da classificação internacional de doenças, 
fato que aconteceu nos anos de 1985 e 1994 quando, respectivamente, o Conselho 
Federal de Medicina e a Organização Mundial de Saúde excluíram definitivamente 
da classificação internacional de doenças a homossexualidade, que até aquele 
momento era considerada um ‘desvio e transtorno sexual’. 
 
Em 1985 aconteceu o III Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, em São 
Paulo, quando, pela primeira vez, o movimento feminista brasileiro pautou o tema 
“lesbianismo”. Entretanto, nesse mesmo encontro, o GALF decidiu se retirar do movimento 
feminista, uma vez que não recebiam apoio efetivo para as lésbicas. Mesmo existindo havia 
quase 17 anos, o movimento de lésbicas feministas continuava encontrando problemas 
semelhantes aos do passado, pois não encontravam apoio real junto a outros movimentos, 
como o feminista e o homossexual (FERNANDES, 2018). Em 1989 o GALF deixou de 
existir, tendo tido uma duração de 10 anos, período em que atuou ativamente. A existência do 
grupo nos indica que as lésbicas começaram sua luta junto com os gays e mulheres 
heterossexuais e feministas, mas posteriormente caminharam de forma autônoma, como 
sujeitos políticos, na luta por seus direitos (FERNANDES, 2018). Em 1990 e 1991 a ênfase 
era com relação ao fortalecimento do movimento e a luta contra a AIDS (FACCHINI, 2011). 
Segundo Facchini (2011) a terceira onda do movimento tem início com grupos de 
homossexuais coordenando projetos de prevenção ao HIV/AIDS, financiados por programas 
estatais e, por isso, alguns grupos passaram a se organizar em formato de ONG. O Brasil se 
 
7
 Parece ser importante que haja cautela com o uso do termo “casamento gay”, uma vez que pode induzir à 
crença de que existem diferenças entre o casamento de pessoas homossexuais e de pessoas heterossexuais, que 
seria o tipo de casamento considerado normal. 
29 
 
tornou pioneiro na resposta à AIDS. Portanto, pode-se perceber que a entrada do movimento 
LGBT nas políticas públicas se deu pela política de saúde, no caso a política de combate à 
AIDS, e não pelo reconhecimento das demandas dessa população (FACCHINI, 2011). 
A autora aponta que houve uma multiplicidade de grupos nesse momento, como 
grupos comunitários, ONGs, grupos religiosos, acadêmicos, partidários, entre outros. Outro 
ponto diz respeito à multiplicidade de sujeitos políticos, com o início da organização de 
travestis, que ocorreu na década de 1990. As lésbicas são incluídas na sigla do movimento em 
1993, enquanto as travestis em 1995. No movimento passam a existir, portanto, lésbicas, gays, 
bissexuais, travestis e transexuais. 
Em 1995, segundo Saraiva (2017), acontece um marco na luta pelo reconhecimento 
das uniões entre pessoas do mesmo sexo: a então deputada Marta Suplicy, que era do Partido 
dos Trabalhadores (PT) de São Paulo, apresentou o projeto de Lei nº 1.151 na Câmara dos 
Deputados, que pretendia instituir a união civil entre pessoas do mesmo sexo. No entanto, 
acreditando que seria mais fácil sua aprovação se o foco fosse apenas direitos patrimoniais 
advindos das uniões entre pessoas do mesmo sexo, o projeto acaba por vetar a parentalidade, 
foco do presente trabalho. O projeto foi arquivado em 2007. Ainda nesse período, começam a 
ocorrer encontros nacionais de travestis e em 1996 ocorrem os Seminários Nacionais de 
Lésbicas (SENALE). O SENALE surge diante da necessidade urgente sentida pelas lésbicas 
da criação de um espaço para pensar as questões próprias do movimento, uma vez que não 
encontravam o apoio necessário em outros grupos. Necessitavam a criação de estratégias para 
combater o patriarcado, a heterossexualidade compulsória, a lesbofobia etc. Nesse encontro, o 
dia 29 de agosto foi decidido como o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. Vale ressaltar que 
os SENALE continuam acontecendo até os dias atuais, com o nome alterado para Seminário 
Nacional de Lésbicas e Mulheres Bissexuais - SENALESBI, para garantir a visibilidade de 
mulheres bissexuais (FERNANDES, 2018). Travestis e transexuais começam a se organizar 
durante a segunda metade da década de 1990, com pautas como a luta pelas cirurgias 
experimentais de transgenitalização. Ramos e Carrara (2006) apontam que nesse período 
existe uma diversificação crescente das categorias identitárias no movimento, o que seria 
denominado por Facchini como “segregacionista”, de acordo com as autoras. 
Em 1992 o Brasil se tornou signatário do Pacto dos Direitos Civis e Políticos da 
Organização das Nações Unidas (ONU), que tem a proibição por discriminação por motivo de 
sexo em dois de seus artigos. Em 1994 a Comissão dos Direitos Humanos da ONU afirmou 
que quando se fala em sexo, no tratado, também se está referindo à orientação sexual (DIAS, 
30 
 
2010). Portanto, o Brasil se comprometeu internacionalmente com o respeito às pessoas 
homossexuais. 
Como retrata Facchini (2011), em 1995 é fundada a primeira rede de organizações 
LGBT brasileira, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT), que vem 
promover inúmeras ações no âmbito legislativo e judicial, buscando acabar com as 
discriminações e violências contra a população LGBT. Alguns projetos defendidospor essa 
associação foram o projeto de Lei 1151/95, de reconhecimento da parceria civil, e o 122/2006, 
de criminalização da homofobia. Porém, como afirma Dias (2010), a existência de forças 
conservadoras no Senado Federal, ligadas (em sua maioria, mas não apenas) a um grande 
fundamentalismo religioso, impediram a aprovação de tais projetos. Passa a haver, então, uma 
multiplicação de redes locais e nacionais após a fundação da ABGLT, assim como redes que 
se contrapõem a ela, e um aumento da visibilidade da mídia e na sociedade. 
Facchini (2011) afirma que, com o projeto de lei da união civil entre pessoas do 
mesmo sexo, começou a haver um grande debate sobre os direitos de LGBTs, pois se 
alcançou um espaço nos meios de comunicação e houve uma reação conservadora de parte da 
sociedade. Com esse debate e essa abertura de caminho, começam a haver as Paradas de 
Orgulho em diversas cidades no Brasil. Ramos e Carrara (2006) trazem que as paradas 
integraram esforços da militância organizada e de ativistas independentes. Ainda hoje as 
paradas acontecem em diversas cidades brasileiras, reunindo milhares de pessoas e muitas 
contam com apoio do Ministério da Saúde e Ministério da Cultura, assim como de empresas 
privadas. Em 2018, por exemplo, a parada realizada em Fortaleza apresentou um trio elétrico 
de uma empresa de transporte privado. Já no Rio de Janeiro, em 2017, a prefeitura não deu 
qualquer apoio, logístico ou financeiro, para a organização da parada
8
. Além disso, segundo 
traz Fernandes (2018), as Paradas do Orgulho LGBT também não trouxeram visibilidade 
política para lésbicas. Esses eventos, até 2003, eram chamados Parada do Orgulho Gay. Desde 
1997 eram feitos pedidos para que o nome fosse alterado, já que invisibilizava os grupos de 
lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais. As lésbicas criaram, então, a I Caminhada de 
Lésbicas e Simpatizantes, em 2003, e o nome foi alterado em 2013 para Caminhada de 
Mulheres Lésbicas e Bissexuais. Em 2018 o evento teve a sua XVI edição, em São Paulo. 
Em 1999 ocorre a primeira experiência de política pública na esfera da segurança, o 
Disque Defesa Homossexual (DDH), criado na Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, 
que foi pensado como programa de defesa, não apenas de denúncia. O projeto possibilitou 
 
8
https://oglobo.globo.com/rio/organizador-de-parada-lgbt-desmente-ajuda-da-prefeitura-para-captacao-de-
recursos-21986139 
31 
 
uma parceria direta entre grupos de ativistas e polícia, fazendo com que dispositivos de 
prevenção agissem mais rapidamente, assim como o atendimento às vítimas. Antes do DDH, 
os dados sobre violência contra homossexuais eram gerados por meio de notícias em jornais, 
mas com o DDH os dados partiram de relatos de vítimas, o que permitiu a problematização de 
diversas situações de agressão e discriminação associadas à homofobia, indo além dos 
assassinatos (RAMOS; CARRARA, 2006). Os relatórios da Associação Nacional de Travestis 
e Transexuais (ANTRA), assim como o Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil de 2014 a 2017, de 
Milena Cristina Carneiro Peres, Suane Felippe Soares e Maria Clara Dias, que traz dados 
sobre o assassinato e suicídio de lésbicas entre 2014 e 2017, também são importantes nesse 
cenário. 
A comunicação entre os grupos LGBT e o Estado, e entre esses grupos e organizações 
internacionais passou a ser ampliada, não só pelo apoio que as organizações estavam 
recebendo do Estado e de movimentos internacionais, mas por uma abertura de canais 
políticos. Em 2000, segundo Saraiva (2017), o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou 
uma ação civil pública pra que o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) reconhecesse o 
direito a previdência de companheiras homossexuais e o pedido foi deferido pela juíza 
responsável pelo caso, tendo sido o INSS obrigado a conceder o benefício. Essa decisão teve 
abrangência nacional. 
Também em 2000, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso participou da 
Conferência das Américas, em Santiago do Chile, para a qual levou o tema da discriminação e 
preconceito por orientação sexual e identidade de gênero. Essa conferência era preparativa 
para a Conferência de Durban, na África do Sul, que ocorreu em 2001, e para a qual o 
governo brasileiro levou o tema novamente, desejando que tal discriminação constasse nos 
documentos da Conferência. Entretanto, houve pressão de países contrários, como países 
islâmicos, México, China e Vaticano e a proposta não foi aprovada. No mesmo ano, porém, 
nasceu o Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD). Em 2002 foi lançado o 
Programa Nacional de Direitos Humanos – 2 (PNDH – 2), o que foi considerado por Saraiva 
(2017) como o primeiro marco na formulação de uma política pública LGBT que não teve 
relação com a epidemia de HIV/AIDS. Cinco ações propostas no documento se referiam à 
orientação sexual. Outras 10 propostas mencionavam a garantia de direito a igualdade para 
gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais. No prefácio do documento o então 
presidente Fernando Henrique Cardoso afirmava que o direito de homossexuais estava na 
pauta das políticas públicas do Governo. Em 2003, durante o governo de Luiz Inácio Lula da 
Silva, a CNCD criou uma “comissão parlamentar para receber denúncias de violação dos 
32 
 
direitos humanos de pessoas LGBT e para preparar, por meio de um grupo de trabalho, um 
Programa Nacional sobre o tema” (SARAIVA, 2017, p. 88). Esse programa serviu de base 
para o Programa Brasil sem Homofobia. 
Segundo Selem (2007), em 2003 surge a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), em um 
contexto em que grupos de lésbicas encontravam-se espalhados pelo Brasil, com ações 
pontuais em diferentes estados. As integrantes da LBL buscavam uma articulação nacional, 
vislumbrando o fortalecimento de mulheres auto identificadas como lésbicas. Em 2004, sob a 
presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, foi criado o programa “Brasil Sem Homofobia: 
Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra LGBT e de Promoção da 
Cidadania Homossexual”. Participaram da elaboração do programa uma comissão do 
Conselho Nacional de Combate à Discriminação, o Ministério da Saúde, ativistas e militantes. 
O programa apresentou um conjunto de ações em que se destacam aquelas voltadas para a 
política para mulheres lésbicas e a articulação do combate ao racismo e à homofobia 
(CARRARA, 2010). Esse programa é 
 
o marco brasileiro da inclusão da perspectiva da não discriminação por orientação 
sexual e identidade de gênero e de promoção dos direitos humanos de pessoas 
LGBT como pauta das políticas públicas e estratégias do Governo a serem 
implantadas transversalmente (parcial ou integralmente) por seus diferentes 
Ministérios e Secretarias (SARAIVA, 2017, p. 89). 
 
O autor refere que algumas das diretrizes do programa começaram a ser executadas, 
como o fato de, a partir de 2005, o Ministério da Educação ter começado a lançar editais 
púbicos para a seleção de projetos com o objetivo de capacitar profissionais de educação com 
relação à orientação sexual e identidade de gênero. Além disso, a Secretaria Especial de 
Direitos Humanos ofereceu apoio à criação de centros de referência em direitos humanos, 
para prevenir e combater a violência e a discriminação a pessoas LGBT. 
Além disso, Saraiva (2017, p. 94) enumera 6 iniciativas importantes do Governo de 
Lula para a ampliação de políticas públicas LGBT: 
 
1. Criação do Brasil Sem Homofobia (BSH) – Programa de Combate à Violência e 
à Discriminação contra GLBT e de Promoção da Cidadania Homossexual, em 2004. 
2. Realização da I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e 
Transexuais, com o tema Direitos humanos e políticas públicas: o caminho para 
garantir a cidadania de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, em 2008; 
3. Lançamento do Plano nacional de Promoção da

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