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COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA NO TEA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Prof.ª Adriana Prado Santana Santos Prof. Marcelo Martins Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jairo Martins Jóice Gadotti Consatti Marcio Kisner Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. S237c Santos, Adriana Prado Santana Comunicação alternativa no TEA. / Adriana Prado Santana Santos; Marcelo Martins. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 134 p.; il. ISBN 978-65-5646-247-9 ISBN Digital 978-65-5646-242-4 1. Transtorno do espectro autista. - Brasil. I. Martins, Marcelo. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 618.928982 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Comunicação e Linguagem no Autismo ......................................7 CAPÍTULO 2 TEA: Materiais e Instrumentos da Intervenção em Comunicação Aumentativa Alternativa (CAA) ....................47 CAPÍTULO 3 Utilização de Tecnologias de Comunicação Alternativa e Aumentativa para Pessoas com TEA ......................................89 APRESENTAÇÃO Prezado pós-graduando. O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) como uma condição de distúrbio neurológico é bastante complexo. Uma das consequências dessa condição é que nenhum autista apresenta as mesmas características de outro. Observamos essas singularidades em suas características principais, como comportamento, interação social e linguagem/ comunicação. No que diz respeito à comunicação e linguagem, os autistas se expressam de maneiras distintas do ponto de vista da fala, da linguagem e da própria comunicação. Assim, é fundamental que intervenções na área da comunicação possa ser realizadas quanto antes, a fim de contribuir para uma resposta positiva ao tratamento (em termos de linguagem, desenvolvimento cognitivo). Desta forma, o livro didático inicia o Capítulo 1 destacando a Comunicação e Linguagem e sua importância para vida social e acadêmica do autista; os diferentes aspectos da comunicação da pessoa com TEA, que envolve os tipos de Comunicação Alternativa, conciliando a teoria e prática, explorando alguns distúrbios de fala principais na comunicação do autista. O Capítulo 2 enfatiza a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) e alguns sistemas para conversação e letramento para os autistas. Trará metodologias e ferramentas passadas e atuais usadas como intervenção no auxilio da comunicação e linguagem do sujeito com TEA. Na conclusão, o Capítulo 3 abordará a utilização das tecnologias da informação e comunicação (TIC), desenvolvidas como uma inovação na Comunicação Alternativa e Aumentativa. Nesse sentido, apontamos que as tecnologias têm sido usadas não só com a finalidade de auxiliar na linguagem e comunicação, mas, também, para atenuar os momentos de crises. Prof.ª Adriana Prado Santana Santos Prof. Marcelo Martins CAPÍTULO 1 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Abordar brevemente a importância da linguagem e comunicação para a pessoa com TEA. • Conheceros diferentes aspectos relacionados à comunicação do TEA. • Entender mecanismos cognitivos no uso da linguagem verbal e não verbal. • Explorar alguns distúrbios de fala relacionados à pessoa com TEA como: ecolalia e apraxia. • Relacionar terapias interventivas por profi ssionais habilitados na fala e linguagem. 8 Comunicação Alternativa no TEA 9 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Uma das áreas mais comprometidas na pessoa com TEA (Transtorno do Espectro Autista) é a comunicação social e o atraso no desenvolvimento da linguagem de forma compreensível. Conforme mostra Klin (2006, p. 8), “muitas áreas do funcionamento cognitivo estão frequentemente preservadas e, às vezes, os indivíduos com essas condições exibem habilidades surpreendentes e até prodigiosas”, sendo, muitas vezes, encarados como superdotados, porém não a utilizam de forma funcional, ou seja, sua comunicação não alcança um resultado desejado para uma compreensão com o outro. FIGURA 1 – ESTIMULAÇÃO DA LINGUAGEM NO AUTISTA FONTE: <https://bit.ly/3jSjgh1>. Acesso em: 26 jul. 2020. Podemos nos perguntar o que se confi gura a fala e a linguagem? Sobre a fala é importante trazer os estudos de Schirmer, Fontoura e Nunes (2004). Ele esclarece que, “muito antes de começar a falar, a criança está habilitada a usar o olhar, a expressão facial e o gesto para comunicar-se com os outros. Tem também capacidade para discriminar precocemente os sons da fala” [...] (SCHIRMER; FONTOURA; NUNES, 2004, p. 95). Sobre a linguagem, os mesmos autores continuam, ”também estão envolvidas na linguagem áreas de controle motor e as responsáveis pela memória” (SCHIRMER; FONTOURA; NUNES, 2004, p. 98. ). Assim, a fala e a linguagem estão diretamente ligadas a nossa memória e ao controle motor do nosso aparelho fonador. Conforme mostra a fi gura a seguir: 10 Comunicação Alternativa no TEA FIGURA 2 – FISIOLOGIA DA VOZ FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/2PjOwYt>. Acesso em: 26 jul. 2020. Entretanto, nem todos têm a capacidade de desenvolver uma linguagem adequada para comunicarcar-se, os autores Schirmer, Fontoura e Nunes (2004, p. 2) continuam dissertando que, as alterações da linguagem atingem “cerca de 3 a 15% das crianças e podem ser classifi cadas em atraso, dissociação e desvio”. Nesta porcentagem, encontram-se as crianças com TEA. Observe esses conceitos no quadro a seguir : QUADRO 1 – ETIOLOGIA DA LINGUAGEM Classifi cação das alterações da linguagem Atraso – a progressão na linguagem processa-se na sequência correta, mas em ritmo mais lento, sendo o desempenho semelhante aos de uma criança inferior. Dissociaçao – existe uma diferença signifi cativa entre a evolução da linguagem e das outras áreas do desenvolvimento. Desvio – o padrão de desenvolvimento é mais alterado: verifi ca-se uma aquisição quali- tativamente anômala da linguagem. É um achado comum nas perturbações da comuni- cação do espectro do autismo. FONTE: Adaptado de Schirmer, Fontoura e Nunes (2004, p. 2) Ainda sobre a defi nição da linguagem, destacamos Bechara (2004, p. 16), ele diz que a linguagem “é qualquer sistema de signos simbólicos empregados na intercomunicação social para expressar e comunicar ideias e sentimentos, isto é, conteúdos da consciência”. Corroborando com esse pensamento, Geraldi (1995), nos diz que a linguagem é fundamental ao desenvolvimento de toda e qualquer pessoa. Dada a importância da linguagem para o ser humano, Benveniste (1976, p. 285) afi rma que: Não atingimos nunca o homem separado da linguagem e não o vemos nunca inventando-a. Não atingimos jamais o homem reduzido a si mesmo e procurando conceber a existência do outro. É o homem falando que encontramos no mundo, um homem falando com outro homem, e a linguagem ensina a própria defi nição de homem. 11 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 FIGURA 3 – LINGUAGEM FONTE: <https://elo.pro.br/cloud/_src/ckfi nder/userfi les/images/B/ apresentac3a7c3a3o2(2).jpg>. Acesso em: 26 jul. 2020. Assim, a linguagem nos permite compreender o mundo a nossa volta e ser compreendido. SegundoVygotsky (1989), para nos comunicar são necessárias duas funções básicas: o intercâmbio social e o pensamento generalizante. O intercâmbio social pode ser visto quando, principalmente, bebês interagem por meio de gestos e balbucios, demostrando seus sentimentos. Sobre a função generalizante, observe a fi gura a seguir: FIGURA 4 – FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-0tW7njphK_c/T6bOY8Wy1LI/ AAAAAAAAARI/pydfL4xF3tc/s1600/imagem.bmp>. Acesso em: 26 jul. 2020. Desse modo “são os signifi cados que vão propiciar a mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo real” (VYGOTSKY, 1989, p. 104). Compreendemos 12 Comunicação Alternativa no TEA melhor na continuação do autor “uma palavra sem signifi cado é um som vazio” (VYGOTSKY, 1989, p. 104). Nesse sentido, a fala e a escrita dão signifi cados à palavra que auxilia na elaboração de orações mais simples à abstrata. Aprender a ler e a escrever não é um processo natural como o de aprender a falar. Trata-se de uma tarefa complexa, que envolve competências cognitivas, psicolinguísticas, perceptivas, espácio-temporais, grafomotoras e afectivo- emocionais. Um dos passos cruciais para facilitar a iniciação à leitura e à escrita consiste na promoção da refl exão sobre a oralidade e no treino da capacidade de segmentação da cadeia de fala em frases, das frases em palavras, das palavras em sílabas e destas nos sons que as compõem (FREITAS, 2004, p. 3). Dessa forma, idenpendente da comunidade linguistuica que a criança está inserida o estimulo social e mais tarde o acadêmico, irá fazer toda diferença no seu desenvolvimento intelectual e letramento em sua língua nativa. Conforme autores Schirmer, Foutoura e Nunes (2004). Apesar de não estar completamente esclarecido o grau de efi cácia com que a linguagem é adquirida, sabe-se que as crianças de diferentes culturas parecem seguir o mesmo percurso global de desenvolvimento da linguagem. Ainda, antes de nascer, elas iniciam a aprendizagem dos sons da sua língua nativa (SCHIRMER; FOUTOURA; NUNES, 2004, p. 2). As autoras Delfrate, Santana e Massi (2009 apud ALBANO, 1990), mostra que a criança depende de quatro condições básicas e imprescindíveis para o desenvolvimento da linguagem. A primeira seria a presença de um interesse subjetivo na criança, isto é, uma disposição de brincar. [...]. A segunda seria a existência de pelo menos um sistema sensório- motor íntegro (audiovisual ou visomanual). A terceira seria a inserção em um meio cuja linguagem faça parte de rotinas signifi cativas. [...]. A quarta e última seria a presença de uma língua minimamente autorreferenciada que contenha alguns mecanismos gramaticais, sinalizando a própria organização para que a descoberta da sua estrutura possa se proceder efi cientemente, seguindo uma direção mais ou menos determinada (DELFRATE; SANTANA; MASSI, 2009 apud ALBANO, 1990, p. 2). Nessa direção, tomando para discussão da pessoa com TEA, essas quatro condições teriam muitas incertezas alencadas como: interesse subjetivo, ou seja (difi culdade em socializar-se), é comum a criança com TEA tomar a mão ou o braço da outra criança ou mesmo do adulto de modo a facilitar que ela “pegue” um objeto ou um brinquedo, mas ele continua em sua subjetividade. 13 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Sobre o sistema sensório-motor estar preservado ou íntegro, como o segundo ponto destacado pelos autores, Delfrate, Santana e Massi (2009 apud ALBANO, 1990), entendemos que muitas pessoas com TEA que têm transtornos relacionados à motrocidade ampla e fi na, entre outros. Nesse sentido, existirão algumas difi culdades envolvendo a fala e uma linguagem expressiva e coerente, de forma que o outro o entenda. Do ponto de vista de manter uma rotina de linguagem signifi cativa, para o autista difi cilmente isso se concretiza. Um dos motivos é devido aos rituais repetitivos de movimentos esterioptipados que, em geral, acontece quando está feliz ou desorganizado, o que o impede de manter um raciocínio estruturado que faça sentido ao se comunicar, nesse contexto, deve-se considerar as diferenças entre um espectro de maior ou menor grau de complexidade. Assim, a fala deve ser o resultado de todo o processo do desenvolvimento da linguagem e do entendimento da criança, segundo a teoria de Vygotsky (1989), destacada anteriormente, entre o intercâmbio social e o pensamento generalizante. Essa relação entre o pensamento e a linguagem se torna um desafi o para o autista, haja visto a difi culdade social e comunicativa presente desde a infância, por isso, a partir de agora, observaremos os diferentes aspectos da comunicação na pessoa com TEA. Se emocione com o vídeo de uma mãe – fundadora da Ação Autismo – conhecer amar e educar. Ela conta sua experiência com o fi lho, Autismo – Como o Lucas falou em uma semana. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gcBLVSnNeH4>. Acesso em: 2 ago. 2020. 2 BREVE CONTEXTO – COMUNICAÇÃO DA PESSOA COM TEA Antes de abordamos os aspectos relacionados à comunicação da pessoa com TEA, vamos elencar, brevemente, conceitos da linguagem verbal e não verbal a fi m de entendemos melhor como fazer as intervenções necessárias a fi m de contribuir para a comunicação e linguagem do TEA. 14 Comunicação Alternativa no TEA A linguagem verbal, de acordo com Fiorin (2002), está relacionada com a matéria do pensamento e o veículo da comunicação social. Dessa forma, não podemos deixar de associar a sociedade com a linguagem. O livro Leitura sem palavras (BRASIL, 2011), traz mais informações sobre o signifi cado da linguagem verbal, note: A linguagem verbal é a forma de comunicação mais presente em nosso cotidiano. Mediante a palavra falada ou escrita, expomos aos outros as nossas ideias e pensamentos, comunicando-nos por meio desse código verbal imprescindível em nossas vidas. Ela está presente em textos, em propagandas, em reportagens (jornais, revistas etc.), em obras literárias e cientifi cas, na comunicação entre as pessoas, em discursos (políticos, representantes de classe, candidatos a cargos públicos etc.); e em várias outras situações (BRASIL, 2011, p. 5). Quanto à linguagem não verbal, o documento continua dizendo que ela se constitui no: Uso de imagens, fi guras, desenhos, símbolos, dança, pintura, música, mímica, escultura e gestos como meio de comunicação. Dentro do contexto temos a simbologia que é uma forma de comunicação não verbal. Exemplos: sinalização de trânsito, semáforo, logotipos, bandeiras, uso de cores para chamar a atenção ou exprimir uma mensagem. É muito interessante observar que para manter uma comunicação não é preciso usar a fala e sim utilizar uma linguagem, seja verbal ou não verbal (BRASIL, 2011, p. 5). Notamos que a linguagem verbal ou não envolve qualquer sistema de comunicação baseados em diversos signo. O livro do MEC continua explicando sobre a Linguagem Mista, que “é o uso simultâneo da linguagem verbal e da linguagem não verbal, usando palavras escritas e fi guras ao mesmo tempo” (BRASIL, 2011, p. 5). A fi gura a seguir demonstra os três tipos de linguagem que acabamos de destacar e que, de forma direta ou indireta, faz parte da pessoa com TEA, pois irá se utilizar de algumas dessas linguagens para se comunicar. 15 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 FIGURA 5 – TIPOS DE LINGUAGEM FONTE: <https://cursoenemgratuito.com.br/wp-content/uploads/2019/08/ Linguagem-verbal-n%C3%A3o-verbal-e-mista.jpg>. Acesso em: 26 jul. 2020. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é a língua materna da comunidade surda brasileira. Ela se apresenta na modalidade espaço – visual, pois a informação linguística é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos. Os surdos, assim como os ouvintes também ampliam seu vocabulário, por meio da criação de novos sinais/palavras. Você sabia que muitas pessoas com TEA não verbal aprendem língua de sinais para desenvolver umacomunicação? Dessa forma, é por meio da comunicação que o ser humano se expressa e interage com os demais. E como já bem referido, a comunicação e linguagem é uma das áreas mais afetadas em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), fi cando a interação social muito prejudicada. Assim, familiares e profi ssionais da área devem observar alguns indícios desde muito cedo nas crianças com TEA, para antecipar terapias de auxílio na comunicação e linguagem do TEA. Observe: • ausência ou atraso na fala; • fala rebuscada ou “robotizada”; • difi culdade na compreensão verbal; • presença de ecolalias (repetição da fala de outras pessoas); 16 Comunicação Alternativa no TEA • ausência de entendimento de piadas, sarcasmo, duplo sentido; • ausência de simbolismo (imaginação) (RHEMA EDUCAÇÃO, 2018, s.p). Assista ao vídeo Autismo e fonoaudiologia – dicas práticas para desenvolver fala e linguagem, de Maria Claudia Brito. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ADm-X5yTHhc. Acesso em: 2 ago. 2020. 2.1 CONVERSANDO COM O TEA Notamos que as crianças com TEA dão indicações se sua comunicação será verbal ou não. Isso porque o autismo pode trazer difi culdades sérias na linguagem, causando grandes prejuízos no desenvolvimento de sua comunicação e socialização. Nesse sentido, podem usar formas inadequadas para se expressar, tais como: gritar, apontações, entre outras. Afi nal, qual a melhor forma de se comunicar com a criança com TEA. FIGURA 6 – COMO CONVERSAR COM CRIANÇA COM TEA FONTE: <https://bit.ly/2Dcaiud>. Acesso em: 26 jul. 2020. . etc.). 17 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Os estímulos de linguagem durante a infância são muito importantes para qualquer criança, pois acontece um processo emocional e social. Vamos dar um exemplo clássico: a criança escuta os sons emitidos ao seu redor, passa a repetir, no início parece não ter signifi cados, mas a partir do momento que ela percebe que ao emitir os sons vai gerar algum efeito, passa a interagir e também entender para que serve a linguagem. Acerca da percepção da criança sobre o sons e o desenvolvimento da fala, é pertinente trazer a contribuição do Referencial curricular nacional para a Educação Infantil, que mostra: Aprender a falar, portanto, não consiste apenas em memorizar sons e palavras. A aprendizagem da fala pelas crianças não se dá de forma desarticulada com a refl exão, o pensamento, a explicitação de seus atos, sentimentos, sensações e desejos (BRASIL, 1998, p. 116). Atenção! Todo essse processo acontecerá dentro das particularidades únicas de cada criança com TEA, que, neste caso, supõe-se que a criança tem a capacidade de desenvolver uma linguagem verbal. Sobre a importância do estímulos desde a infância, note o que Silva, Gaiato e Reveles (2012, p. 14) diz: Algumas crianças com autismo podem ter um excelente desenvolvimento da linguagem falada e, por vezes, emitem palavras "perfeitinhas". Em outros casos, os pais percebem que, com um ano de idade, sobrinhos ou coleguinhas já articulam as primeiras palavras, mas seus fi lhos ainda não. As preocupações crescem (e muito) a partir dos dois anos, fase em que outras crianças já conseguem formar frases completas, enquanto seus "pequenos" nem parecem ouvir quando são chamados. Pensar que não adianta se comunicar com a criança com TEA, porque ela não produz a fala, e, por isso, não irá entender e dar o retorno esperado, é um erro, mesmo que a criança tenha autismo de nível severo. Por outro lado, vimos que a fala (oral) não é sinônimo de comunicação, pois há várias formas de se comunicar. Com relação à comunicação e à linguagem, D’ Antino, Brunoni e Schwartzman (2015, p. 16) refere que os alunos com transtorno do espectro autista: • Em alguns casos há completa ausência da fala. • Em geral, os pacientes não chegam a desenvolver linguagem oral funcional, não compensada por formas alternativas de comunicação. • Nos indivíduos que têm fala, há evidentes difi culdades em iniciar e manter uma conversação. • A fala pode ser repetitiva e estereotipada. • No meio de uma frase, pode surgir parte de um anúncio ouvido na TV ou a simples repetição de frases inteiras e de 18 Comunicação Alternativa no TEA palavras isoladas fora do contexto daquele momento. • Há, frequentemente, a tendência para a repetição de frases ou palavras na forma de ecolalias imediatas, tardias ou mitigadas. • A maneira de falar também se mostra anormal no ritmo, na acentuação e na infl exão. • Alguns autistas terminam todas as frases com uma infl exão interrogativa. Outros, pela alteração da prosódia, dão a impressão de falar com sotaque estrangeiro. • Nos pacientes com bom rendimento intelectual, a fala se mostra pedante pelo uso de termos e construções que não são esperados para a idade. • A compreensão da fala está quase sempre comprometida, até mesmo nos casos em que o intelecto está mais preservado. • Tendem a ter um entendimento literal do que lhes é dito, havendo grande difi culdade para a compreensão de metáforas. • Há grande difi culdade, também, para contextualizar o discurso, não conseguem entender o sentido fi gurado de alguns termos. • Certas ambiguidades que fazem parte da nossa língua não são compreendidas, o que pode difi cultar sobremaneira a comunicação. Por causa destas difi culdades, a orientação é buscar ajuda de especialistas como: neurologistas, fonoaudiólogos e psicólogos, para fazer as intervenções e terapias com o objetivo de ensinar competências de comunicação para a pessoa com TEA. Todos nós podemos contribuir de forma individual com o mesmo objetivo, que é o de efetivar uma comunicação com a pessoa com TEA, mas como? É Importante fazer com que a pessoa com TEA sinta-se bem ao nosso lado. Isso, porque, em geral, eles têm mais facilidade em comunicar-se quando se sentem à vontade com outro. Escolher, também, um momento em que estejam tranquilo para iniciar uma comunicação, longe de um ambiente cheio de estímulos sonoros ou luminosos, qualquer coisa que desestabilize a não efetivação da comunicação. Assista ao vídeo com as dicas da psicóloga Mayra Gaiato, Autismo: 8 passos para ensinar a falar – como fazemos. Disponivel em: https://www.youtube.com/watch?v=NzlntFS0Gn8. Acesso em: 2 ago. 2020. 19 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 É preciso entender que algumas crianças diagnosticadas com autismo nunca desenvolverão a fala como forma de comunicação de fato, mas irão se utilizar de outros meios. Assim, encorajar qualquer intenção da criança em querer comunicar- se, trará grandes benefícios social, além de substituir alguns comportamentos considerados inadequados para a família e a sociedade, conforme mostra Posar e Visconti (2018, p. 2). As alterações sensoriais das crianças com TEA também podem afetar seu comportamento em atividades diárias familiares, inclusive comer, dormir e rotinas de dormir; e fora de casa essas alterações podem criar problemas, por exemplo, ao viajar e participar de eventos na comunidade. Por exemplo, ela aponta para um copo de água, mas não sabe falar a palavra (preciso de um copo de água) e outra pessoa atendeu seu pedido, será que ela não se comunicou? Sim, pois o mais importante foi feito, que é a comunicação funcional e social, seu objetivo foi alcançado quando seu desejo foi socializado e atendido prontamente. Dessa forma, aproveitar toda e qualquer oportunidade de expressão da criança com TEA, é valorizar suas particularidades de linguagem, seja ela verbal ou não. Apartir desse momento, vamos diferenciar uma linguagem da outra, além de contextualizar a comunicação mista. FIGURA 7 – DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NO AUTISTA FONTE: <https://bit.ly/312ih5p>. Acesso em: 26 jul. 2020. 20 Comunicação Alternativa no TEA Devido, principalmente, à característica da difi culdade social e cognitiva, as pessoas que se enquadram no espectro do autismoapresentam difi culdade em compreender seu próprio estado mental, bem como o de outras pessoas, Mercadante e Rosário (2009, p. 18), nos dizem que “existe uma tendência atual em conceber essa categoria como aquela que apresenta alterações no modo do funcionamento do cérebro social”, e o resultado é uma linguagem sem contexto ou entendimento com o outro, visto que as habilidades expressivas e receptivas fi cam comprometidas. Uma vez que a linguagem receptiva pode se mostrar mais atrasada do que o desenvolvimento da linguagem expressiva, no transtorno do espectro autista as habilidades de linguagem receptiva e expressiva devem ser consideradas em separado (APA, 2014, p. 53). Portanto, é clara a alteração na capacidade de metarrepresentação, ou seja, apresentam grande difi culdade em se colocar no lugar do outro nos indivíduos com TEA. Conforme Hobson (1991), pressupõe que as crianças adquirem um conhecimento das pessoas com a mente e que isso acontece através da experiência das relações interpessoais. O que se torna um desafi o para a pessoa com TEA devido à difi culdade de interação social. Nesse momento, julgamos importante trazer para seu conhecimento os códigos e defi nição dos transtornos relacionados à comunicação e linguagem, pelo APA (2014), que mais se encontram nos autistas ao receberem os laudos por especialistas, conforme o quadro a seguir: QUADRO 2 – CÓDIGOS – APA (2014) 315.32 (F80.2) Transtorno da Linguagem. 315.39 (F80.0) Transtorno da Fala. 315.39 (F80.89) Transtorno da Comunicação Social (Pragmática). 307.9 (F80.9) Transtorno da Comunicação Não Especifi cado Nota: Casos com início tardio são diagnosticados como 307.0. FONTE: APA (2014, p. 13) Nesse contexto, apresentamos critérios que a Receita Federal usa para laudar a pessoa com TEA em sua fi cha avaliativa: INSTRUÇÕES DO ANEXO IV AUTISMO (Transtorno Autista e Autismo Atípico); Utiliza-se os mesmos critérios Diagnósticos (baseado no DSM – IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e na Classifi cação Internacional de Doenças (CID 10). Entre estes critérios consta o da comunicação e linguagem: 21 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Comprometimento qualitativo da comunicação, manifestado por pelo menos um dos seguintes aspectos: atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem falada (não acompanhamento por uma tentativa de compensar por meio de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímica); em indivíduos com fala adequada, acentuado comprometimento da capacidade de iniciar ou manter uma conversa; uso estereotipado e repetitivo da linguagem idiossincrática; ausência de jogos ou brincadeiras de imitação social variados e espontâneos próprios do nível de desenvolvimento. [...] (APA, 2014, p. 50). Acerca do desenvolvimento da linguagem nas crianças com TEA, de grau leve, observa-se que, até certo ponto, há um bom desenvolvimento da linguagem em seus aspectos formais (elementos fonológicos e sintáticos). Assim, apresentamos recortes da pesquisa de site – Rhema Educação (2018, s.p.), cujo objetivo é capacitar profi ssionais para atender crianças e adultos com TEA na questão da comunicação e linguagem: O TEA verbal: a criança ou (jovem) adulto que fala, pode ter ainda algum comportamento diferenciado em relação à Comunicação. Imagine pedir ao autista que fale como foi seu dia na escola. Boa chance de ele não responder ou responder com “bom” ou “ruim”.[...] Isso signifi ca que devem evitar fazer muitas perguntas de uma só vez: “Como foi na escola? Foi legal? Comeu a merenda? Brincou com o amiguinho?[...].Troque por: “Como foi na escola? ” Espere a resposta. Se não vier a resposta após esperar entre 30 segundos a um minuto, refaça a pergunta dando ao autista duas ou três opções de respostas: “Foi bom na escola, hoje? Ou não foi bom?” Dê tempo a ele de responder “sim” ou “não”. [...]. Assim, vai-se estimulando o autista a falar/comunicar-se cada vez mais. O TEA não verbal: em primeiro lugar não parte do princípio de que deve “consertá-lo”, mas procure encontrar a maneira de agir com o autista como indivíduo. Que personalidade o autista tem? Do que ele gosta? Que tipo de atividade prefere executar? Ele tem problemas de ordem sensorial? Quais? Anote tudo o que faz com que o autista em questão se sinta bem [...] (grifo nosso). Assista ao vídeo da psicóloga especialista em autismo Mayara Bonifacio Gaiato, ela explica o conceito de alcance dirigido, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2HY0S2qg6vU. 22 Comunicação Alternativa no TEA Nesse interim, Silva, Gaiato e Reveles (2012, p. 43) explica algumas características presentes na linguagem e comunicação do sujeito com TEA: • Têm difi culdades no desenvolvimento da linguagem falada, sem que haja tentativas de compensar essa comunicação por meios alternativos, tais como gestos ou mímicas. Já as crianças que não apresentam prejuízos signifi cativos na fala têm difi culdade em iniciar, manter ou terminar uma conversa adequada e com reciprocidade. • Uso estereotipado e repetitivo da linguagem. Por exemplo, decoram frases de desenhos animados e as falam em momentos completamente fora do contexto ou repetem aquilo que lhes é perguntado (ecolalia). • Difi culdade de se engajar em brincadeiras de faz de conta. As crianças não conseguem brincar de escolinha ou casinha, por exemplo, pois têm difi culdade de imaginar os papéis a serem representados. • Inversão de pronomes. Elas podem falar na terceira pessoa, por exemplo, "você é linda", referindo-se a si própria. Ou, ainda, construírem a frase com excesso de pronomes: "Me dá meu pra mim a bola. É do Rodrigo", referindo-se a sua própria bola. • Ingenuidade. Não conseguem avaliar segundas intenções e podem ser enganadas por pessoas maldosas. • Difi culdade no entendimento de ironias. Muitas vezes não entendem piadas ou frases com duplo sentido. • Crianças e até muitos adultos com autismo não são hábeis para mentir, dissimular, enganar ou falar palavras que não expressam a verdade. São extremamente sinceras e apresentam sérias difi culdades ou até mesmo impossibilidade de utilizar pequenas mentiras diplomáticas. • Aprendem a ler e escrever sozinhas antes da fase de alfabetização (hiperlexia). Que tal baixar Mundo singular: entenda o autismo? O livro é da autora Ana Beatriz Barbosa Silva com a colaboração da psicóloga Mayra Bonifacio Gaiato e de Leandro Thadeu Reveles. Disponível em: https://drive.google.com/fi le/d/1zFIAv_ DjcT7JDjjeaf5qwsCW7gMvDYFi/view. Acesso em: 5 mar. 2020. 23 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 FIGURA – LIVRO MUNDO SINGULAR: ENTENDA O AUTISMO FONTE: <http://draanabeatriz.com.br/wp-content/uploads/2017/10/ singular2.png>. Acesso em: 2 ago. 2020. A questão da linguagem e comunicação na pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) possui muitas variáveis a ser discutidas, a fi m de fazer as intervenções necessárias. Assim, vamos seguir explorando esse cenário. 3 UM CENÁRIO EXPLORATÓRIO SOBRE DISTÚRBIOS DE FALA E A PESSOA COM TEA Ao nascermos temos pouco conhecimento acerca do mundo que nos rodeia, mas, depois de sermos diariamente bombardeados por inúmeras informações, principalmente visuais, conforme estudos psicológicos. Para Bosi (1988), “os psicólogos da percepção são unânimes em afi rmar que a maioria absoluta das informações que o homem moderno recebe lhe vem por imagens” (BOSI, 1988, p. 65). Com o tempo fazemos relação de tudo que vamos observando e ouvindo e, consequentemente, ampliando nosso aprendizado sobre o mundo. Cada área do nosso cérebro se encarrega em trabalhar um tipo de informação. Isso acontece, segundo Fonseca (2016, p. 1), “porque os seres humanos são animais sociais e dispõem de cognição social e de inteligência emocional (valor das expressões faciais e da comunicação não verbal) [...]. Através da linguagem demonstramos se dominamos ou não ovocabulário que fomos adquirindo ao longo do tempo, é como se fosse uma representação 24 Comunicação Alternativa no TEA mental que vai sendo armazenada no nosso cérebro, e aos poucos vai sendo externada por meio das nossas emoções e linguagem. Por isso, Piaget (1977, p. 17) considera: A inteligência um sistema de operações vivas e atuantes de natureza adaptativa e afi rma que o essencial do pensamento lógico é ser operativo com o fi m da constituição de sistemas, não descarta a interferência da afetividade no processo do conhecimento. Reafi rma a existência de um paralelo constante entre a vida afetiva e a vida intelectual, considerando-as como dois fatores indissociáveis e complementares em toda a conduta humana.passamos a criar uma imagem mental e acontece a fala e aquisição de conhecimentos. O signifi cado das palavras envolve diversas áreas cerebrais dependendo dos fenômenos aos quais a palavra pode estar relacionada. A fi gura a seguir nos mostra didaticamente a nossa capacidade de expressão. FIGURA 8 – FUNÇÃO FALA/LEITURA/ESCRITA FONTE: <http://www.enscer.com.br/neuroeducacao/capacitacao/ linguagem.html> Acesso em: 26 jul.. 2020. Dessa forma, cada área do nosso cérebro se encarrega em conhecer determinados aspectos do mundo em nossa volta. Assim, aprender bem uma palavra implica no nosso cérebro conectar o maior número possível de áreas relacionadas com seu signifi cado. Isso pode ocorrer durante toda nossa vida, porque o signifi cado ou a semântica de uma palavra deve envolver todas as características que somos capazes de atribuir a ela. Quer dizer que a pessoa com TEA não conseguirá obter conhecimento igualmente como os outros, devido à difi culdade em dominar vocabulário e conseguir relacionar os signifi cados das palavras ouvidas ou objetos vistos? Isso dependerá muito dos estímulos que cada um terá nas intervenções terapêuticas. Isso porque, segundo o APA (2014) alguns indivíduos autista também possuem, oTranstorno da Comunicação Social (Pragmática), o que envolve: 25 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Difi culdades persistentes no uso social da comunicação verbal e não verbal como manifestado por todos os elementos a seguir: 1. Défi cits no uso da comunicação com fi ns sociais, como em saudações e compartilhamento de informações, de forma adequada ao contexto social. 2. Prejuízo da capacidade de adaptar a comunicação para se adequar ao contexto ou às necessidades do ouvinte, tal como falar de forma diferente em uma sala de aula do que em uma pracinha, falar de forma diferente a uma criança do que a um adulto e evitar o uso de linguagem excessivamente formal. 3. Difi culdades de seguir regras para conversar e contar histórias, tais como aguardar a vez, reconstituir o que foi dito quando não entendido e saber como usar sinais verbais e não verbais para regular a interação. Transtornos do Neurodesenvolvimento 4. Difi culdades para compreender o que não é dito de forma explícita (por exemplo, fazer inferências) e sentidos não literais ou ambíguos da linguagem (por exemplo, expressões idiomáticas, humor, metáforas, múltiplos signifi cados que dependem do contexto para interpretação) [...] (APA, 2014, p. 91). Assim, segundo a explicação do APA (2014), para a pessoa com TEA, os enunciados não são contínuos e ela tem difi culdade em engajar uma conversa, em fornecer informações e, principalmente, em expressar suas ideias. Na maioria dos casos, ela parece não saber o que são e para que servem as palavras, ou seja, uma linguagem descontextualizada. Sobre esse aspecto, Wing (1985) nos fala que a difi culdade na abstração da comunicação e linguagem causa difi culdades em entender perguntas, orientações ou piadas simples. As estruturas gramaticais são, geralmente, imaturas, o uso de estereotipias e repetições constitui, muitas vezes, uma linguagem metafórica. Ao mesmo tempo que o bebê humano aprende a produzir os sons da fala que identifi ca a sua volta, deve também começar a perceber que os sons produzidos pelos adultos possuem alguma relação com os objetos que veem. Assim, as áreas de percepção e de produção verbal, além de se relacionarem entre si, devem se relacionar com a área visual de reconhecimento dos objetos. Dessa forma, estamos fi nalmente aptos para visualizar mentalmente uma palavra falada e capazes de reproduzi-la a partir da nossa imaginação. FONTE: <http://www.enscer.com.br/material/artigos/eina/linguagem/ geral/leituraescrita.php>. Acesso em: 7 mar. 2020. O aspecto sintático, segundo Rapin (2005), é o mais afetado em crianças com autismo. Essas crianças, conforme o autor, geralmente apresentam uma fala com vocabulário sem elementos coesivos, característicos de uma fala telegráfi ca. Tal alteração, na maioria das vezes, causa a ininteligibilidade para o interlocutor, uma vez que os enunciados da criança tornam-se curtos e sem estrutura sintática. 26 Comunicação Alternativa no TEA A fala telegráfi ca, segundo Goodglass e Menn (1985, p. 2), foi descrita por Deleuze, em 1819, como “uma característica marcante na fala de certos pacientes afásicos”, em geral aqueles acometidos por episódios neurológicos em áreas anteriores do cérebro (que envolvem regiões motoras, mais especifi camente a área de Broca), resultando em uma produção laboriosa da fala“. Assim, de modo geral, o domínio de estruturas linguísticas fl exíveis essenciais para a compreensão da linguagem falada, como pronomes, verbos, adjetivos e conjunções, geralmente está prejudicado na criança com autismo. Entenda melhor seu cérebro. Assista ao vídeo Setores do cérebro, responsáveis pela linguagem e a fala. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=bQvYZ0TkHjk. Acesso em: 2 ago. 2020. 3.1 ECOLALIA Até aqui notamos que o processo de aquisição de linguagem para a criança com TEA, diferencia-se em muitos sentidos, devido aos défi cits relacionados, entre eles, está incluso a ecolalia, neste sentido, para Delfrate, Santana e Massi (2009, p. 3): A ecolalia pode ser considerada não apenas como repetição, mas como indício da entrada da criança na língua, ou seja, de que ela não tem domínio sobre o que está dizendo e ainda não é consciente de seu trabalhou. Lier-de-Vitto (1995) comenta que a criança em fase de aquisição fala sozinha sem o intuito de interação. Assim, para qualquer criança repetir palavras que ouvem dos adultos ou mesmo falar sozinha é algo bem natural. Porém, parece que, em algumas crianças autistas essas características de repetição de palavras ou seja “ecolalia” persistem. Nesse contexto, Gauderer (1980), nos diz que, existem algumas crianças com autismo que falam com volubilidade ou com 27 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 facilidade, porém com atraso linguístico signifi cativo. Nesse contexto, Delfrate, Santana e Massi (2009, p. 3) fala sobre a “ecolalia dita normal diferencia-se no contexto patológico pela sua continuidade e por ser, muitas vezes, a única fala de crianças com autismo”. Porém ele também traz um alerta ao dizer que, “a ecolalia, [...], não pode ser analisada apenas como sintoma patológico, como se não fosse também encontrada no discurso dito normal” (SANTANA; MASSI 2009, p. 3). Dessa forma, qualquer um pode em algum momento ter uma fala ecolalica. A APA (2014, p. 126) classifi ca a ecolalia como: “ repetição da última palavra ou frase ouvida”. Mello (2007) nos diz que existem dois tipos de ecolalia: [...] ecolalia imediata, (acontece no momento). Outras crianças repetem frases ouvidas há horas ou até mesmo dias antes; é a chamada ecolalia tardia (MELLO, 2007, p. 3). Nesse sentido, as Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (2014), do Ministério da Saúde, traz algumas considerações sobre a precisão do diagnóstico da criança com TEA, destacando a questão da fala e comunicação, como sendo um dosfatores essenciais para o diagnostico, além disso faz referência à ecolalia, veja: Algumas crianças com TEA repetem palavras que acabaram de ouvir (ecolalia imediata). Outras podem emitir falas ou slogans e vinhetas que ouviram na televisão sem sentido contextual (ecolalia tardia). Pela repetição da fala do outro, não operam a modifi cação no uso de pronomes. Podem apresentar características peculiares na entonação e no volume da voz. A perda de habilidades previamente adquiridas deve ser sempre encarada como sinal de importância. Algumas crianças com TEA deixam de falar e perdem certas habilidades sociais já adquiridas por volta dos 12 aos 24 meses. A perda pode ser gradual ou aparentemente súbita. Caso isso seja observado em uma criança, ao lado de outros possíveis sinais, a hipótese de um TEA deve ser aventada, sem, no entanto, excluir outras possibilidades diagnósticas (por exemplo: doenças progressivas) (BRASIL, 2014, p. 34-35). Para Oliveira (2001), a ecolalia tem grande valor na aquisição da linguagem, seria como uma "tentativa primitiva" de manter o contato social. Segundo Saad e Goldfeld (2009), especialistas fonoaudiólogas mostram que pesquisas sobre a ecolalia foram iniciada por volta de 1969 e se refere a qualquer modifi cação da emissão ecoada, podendo ser imediata ou tardia para fi ns comunicativos. Sobre ecolalias tardia, elas expressam: 28 Comunicação Alternativa no TEA • Ecolalias tardias não interativas: o não focada; o associação situacional; o ensaio; o autodiretiva; o rotulação não interativa. • Ecolalias tardias-interativas: o troca de turno; o conclusão verbal; o otulação interativa; o prover informação; o chamado; o afi rmação; o pedido; o protesto; o diretiva (SAAD; GOLDFELD, 2009, p. 3). Algumas famílias ao ter o diagnóstico de TEA dos seus fi lhos, buscam informações sobre a linguagem e a fala, acabam tendo uma percepção errônea com relação à linguagem da criança, ou seja, que está se desenvolvendo normalmente como qualquer criança, mas, aos poucos, a família vai percebendo que sua fala não é dirigida ao outro. Corroborando com esse pensamento, Jerusalinsky (1993, p. 66), esclarece que: A ecolalia implica numa mera repetição fônica de signifi cante, sem produção e circulação de signifi cação, por a criança “estar completamente hipotecada à decisão do outro, por estar numa colagem absoluta ao outro”. Destacamos, aqui, que a intervenção do fonoaudiólogo é imprescindível para o tratamento precoce da ecolalia da criança com TEA. O que é ecolalia patológica? É a repetição tipo papagaio e, aparentemente, sem sentido (“fazer eco”) de uma palavra ou frase recém-falada por outra pessoa (APA, 2014, p. 866). 29 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Onomatopeia é uma fi gura de linguagem da língua portuguesa, pertencente ao grupo das “fi guras de palavras” e que indica a reprodução de sons ou ruídos naturais. A onomatopeia é o processo de formação de palavras ou fonemas com o objetivo de tentar imitar o barulho de um som quando são pronunciadas. FONTE: <https://www.signifi cados.com.br/onomatopeia/>. Acesso em: 2 ago. 2020. FIGURA 9 – ECOLALIA <https://static.wixstatic.com/media/5fa721_7ffe2226b4334045a082d9adbb5d75ff~mv2. jpeg/v1/fi ll/w_385,h_250,al_c,lg_1,q_80/Unknown-1.webp>. Acesso em: 26 jul. 2020. Os efeitos da ecolalia podem ser reduzidos por meio de tratamento fonoaudiológico individualizado e familiar. Assim, a terapia fonoaudiológica deve contar com o envolvimento de toda a família para a melhora da criança, isso porque o maior convívio social que essa criança terá, será sua família, eles serão os primeiros a observar falas que pareçam impertinentes, descontextualizadas ou falas com onomatopeias , mas que, para a criança, poderão ter signifi cados. Assim, destacamos que exige atenção conjunta dos familiares para seguir de forma positiva com a terapia. Para tanto, é preciso que o profi ssional seja procurado já na fase infantil, para que os resultados sejam positivos e efi cazes. O objetivo é fazer com que a criança seja entendida no momento em que se comunica durante seu desenvolvimento. Ressaltamos que cada profi ssional traçará o plano que melhor se adeque para cada sujeito com TEA. Há casos em que será preciso que sejam realizadas avaliações periódicas, enquanto que outros semanais. 30 Comunicação Alternativa no TEA Estudamos que a ecolalia não é apenas característica da criança com TEA, mas pode acontecer durante o desenvolvimento da fala de qualquer criança, porém, tende a desaparecer com o passar dos anos. Para Oliveira (2001), a ecolalia tem grande valor na aquisição da linguagem, seria como uma “tentativa primitiva” de manter o contato social. Sobre o exposto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- Em crianças com TEA a ecolalia tende a persistir. PORQUE II- A ecolalia, diferencia-se no contexto patológico pela sua continuidade e por ser, muitas vezes, a única fala de crianças com autismo. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justifi cativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justifi cativa da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 3.2 APRAXIA NA PESSOA COM TEA A apraxia está relacionada com a nossa motrocidade, conforme APA (2014, p. 683), “apraxia leve (i.e., difi culdade com movimentos com um propósito)”. Assim, a apraxia envolve a difi culdade em fazer movimentos fi nos e precisos, apesar da pessoa sentir o desejo de fazer esses pequenos movimentos. Gubiani, Pagliarin e Soares (2015), defi ne a apraxia de fala infantil, em inglês (Childhood Apraxia of Speech – CAS), como: A CAS é um dos subtipos de distúrbio de fala infantil de origem desconhecida, o qual é defi nido como uma desordem motora 31 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 dos sons, que interfere especifi camente o planejamento ou a execução do movimento orofacial durante a produção dos fonemas (GUBIANI; PAGLIARIN; SOARES, 2015, p. 2). Dentro desse mesmo conceito, Kent e Read (2002) dizem que a apraxia se manifesta pela alteração na sequência dos movimentos da fala, embora a musculatura não pareça estar fraca, lenta ou descoordenada. Nesse sentido, a apraxia que conhecemos, em geral, acontecem devido a patologias relacionadas com: AVC, infarto cerebral, tumor ou uma degeneração, nas conexões por causa de Alzheimer, demências, entre outras. Nessas patologias mencionadas, a apraxia retém memórias de movimentos motores fi nos familiares, como: iniciar caminhada, pentear o cabelo, abrir ou fechar portas, utilizar chave de fenda ou tesoura, inspirar profundamente e segurar a respiração, usar corretamente talheres, escova de dentes, escrever. Oberserve a fi gura a seguir sobre a área do cérebro lesionado por infarto cerebral. FIGURA 10 – INFARTO CEREBRAL FONTE: <https://www.mdsaude.com/wp-content/uploads/ AVC-isquemico.jpg>. Acesso em: 26 jul. 2020. Segundo a APA (2014), apraxia, de forma geral, está dentro dos transtornos do desenvolvimento da coordenação motora integrado. Assim, a apraxia envolve não só o corpo, mas também a fala, além disso, o transtorno de fala é visto como uma comorbidade dentro de algumas patologias ou transtornos do desenvolvimento da coordenação (dispraxia verbal), conforme delinea a APA (2014, p. 88): encontrado comórbido com transtorno da fala. [...]. Pode existir história de atraso ou descoordenação na aquisição das habilidades que também utilizam os articuladores e a musculatura facial relacionada; essas habilidades incluem, entre outras, mastigação, manutenção do fechamento da 32 Comunicação Alternativano TEA boca e ato de assoar o nariz. Outras áreas da coordenação motora podem estar prejudicadas, como no transtorno do desenvolvimento da coordenação. Dispraxia verbal é um termo também usado para problemas de produção da fala. Muitas vezes, doenças como AVC, demência etc., não vêm com tanta intensidade e a apraxia passa despercebida, por isso, qualquer sintoma que indique uma apraxia tem de ser levado em consideração. Neste contexto, fazer testes ou exames neuropsicológicos realizados por neurogistas, fi sioterapeutas ou terapeuta ocupacional podem ajudar a identifi car apraxias mais sutis. Para um diagnótisco preciso é necessário: • Avaliação de um médico especialista. • Testes das funções cerebrais. • Exames por imagem, como tomografi a computadorizada ou imagem por ressonância magnética. Destacamos a importância para não confundirmos apraxia com dispraxia – que relaciona a problemas motores verbais e espaciais. Alguns especialistas usam o termo “síndrome da criança desajeitada” (APA, 2014, p. 119), para dispraxia. Já a apraxia está relacionada, em específi co, com movimentos fi nos, conforme já descrito pelo APA (2014). Assim, no geral, a apraxia e dispraxia são condições médicas que afetam o sistema nervoso do corpo, levando a difi culdades nos movimentos que também podem envolver a articulação da fala e linguagem. Ambas são condições neurológicas incuráveis que precisam de terapia física e psicológica para trazer autonomia ao paciente. Entenda melhor a diferença entre a dispraxia e apraxia por meio do vídeo a seguir: https://www.youtube.com/ watch?v=KJVvuxLMuwQ>. A fi sioterapia e a terapia ocupacional são de suma impotância para melhorar moderadamente a vida funcional e tornar o ambiente mais seguro para os sujeitos com essas condições de apraxia e dispraxia. Vaz, Fontes e Fukujima (1999) dizem que as apraxias podem ser identifi cadas por testes específi cos, mas trazem o seguinte alerta sobre a aplicabilidade: 33 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Por profi ssionais da saúde envolvidos na recuperação neuromotora desses pacientes, quando devidamente treinados. [...] Para a aplicação dos testes, deve-se manter uma observação objetiva do comportamento motor do paciente [...] (VAZ; FONTES; FUKUJIMA, 1999, p. 2). Vaz, Fontes e Fukujima (1999) nos dizem que as apraxias são classifi cadas segundo suas características, assim, poderíamos citar as várias apraxias explicando cada uma delas, certos que não esgotaríamos os estudos referentes a esta temática, mas esse não é nosso principal objetivo, por enquanto, dialogamos que, A apraxia pode ser pura quando é específi ca e não está associada a uma outra condição; ou pode ocorrer associada a outras condições, tais como autismo e síndromes genéticas, por exemplo, Síndrome de Down, Síndrome de Prader-Willi, entre outras (TISMOO, 2017, s.p., grifo do autor). Note a seguir as apraxias mais divulgadas e discultidas nas literaturas, segundo Vaz, Fontes e Fukujima (1999, p. 2-4): • Apraxia ideomotora: é um distúrbio na realização dos gestos simples ou simbólicos, sem a utilização de objetos. Embora o paciente saiba o que fazer, ele é incapaz de fazê-lo com intenção, mas pode executá-los automaticamente (ex.: ordena- se que o paciente faça o sinal da cruz, ele não o faz, mas realiza-o automaticamente ao entrar em uma igreja. • Apraxia construtiva: é a incapacidade ou a difi culdade de reproduzir ou desenhar espontaneamente o que fazia anteriormente à lesão neurológica, sem difi culdade (ex.: ele é incapaz de fazer um desenho com molde). • Apraxia mielocinética: é a incapacidade de executar movimentos adquiridos delicados; a rapidez e a habilidade estão afetadas, independentemente da complexidade do gesto; pode ser identifi cada na mímica, sendo mais evidente quando se testam os movimentos distais independentes, principalmente os mais rápidos (ex.: o paciente é incapaz de imitar o ato de passar a ferro). • Apraxia da marcha: corresponde a um défi cit da marcha, que não pode ser explicado por fraqueza, perda sensorial ou incoordenação motora. A marcha é lenta, com passos pequenos, arrastados e hesitantes, às vezes com pausa; o início da marcha é difícil e a piora é progressiva, sendo que nos casos mais graves os pacientes são incapazes de dar um passo, como se seus pés estivessem colados ao chão. • Apraxia bucofacial: o paciente é incapaz de realizar os movimentos voluntários da deglutição, movimentos voluntários da língua, movimentos faciais ao comando (ex.: lamber os lábios, soprar um fósforo), mas automaticamente fumam e recolhem migalhas nos lábios com a língua. • Apraxia agnóstica: é comum alguns autores associarem as apraxias com as agnosias, sendo por defi nição: apraxia – 34 Comunicação Alternativa no TEA Ao contrário da apraxia existe a praxia. Segundo o dicionário on-line em português [...] Na [Medicina] Função responsável pela realização de gestos ordenados e funcionais. Ação de participar ativamente numa atividade de ordem prática. Etimologia (origem da palavra praxia). Do grego práxis, “ação” + ia. FONTE: <https://www.dicio.com.br/praxia/>. Acesso em: 2 ago. 2020. alteração das funções gestuais, e agnosias – alteração das funções cognitivas, ou seja, o paciente não realiza os gestos por não reconhecer o objeto e qual a sua utilização. • Apraxia diagonística: consiste em má cooperação entre as mãos na execução de tarefas bimanuais. Nas atividades espontâneas, [...] As difi culdades que o paciente encontra para a execução dessas tarefas bimanuais devem-se ao fato de que o conjunto cérebro esquerdo/mão direita responde às solicitações verbais ou aos projetos conceituais, enquanto o conjunto cérebro direito/mão esquerda responde às estimulações visuais concretas. Os dois hemisférios separados não podem coordenar sua respectiva atividade e atrapalham- se mutuamente (grifo do autor). Falamos de apraxia de uma forma geral, sejam por motivos patológicos ou por algum transtorno. Relacionado à pessoa com TEA e dependendo do grau de comprometimentos do espectro, a maioria das apraxias citadas anterioemente por Vaz, Fontes e Fukujima (1999), enquadram-se na pessoa com TEA, principalmente a apraxia bucofacial relacionada a fala, porque enquanto desenvolvemos nossa linguagem, ocorrem os chamados refi namentos nos movimentos nas estruturas fonológicas articulatórias responsáveis pela fala, transformando-os em movimentos cada vez mais precisos. Refi namentos estes importantes para a efetividade da comunicação oral. Em algumas crianças com TEA, esse refi namento dos movimentos que vão ser usados durante a fala pode não acorrer, gerando uma fala desconxa e gestos articulatórios, caracterizando uma difi culdade práxica. Neste contexto, a apraxia de fala na infância pode ser defi nida por Souza e Payão (2008, p. 1) como: 35 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 A Associação Americana de Fonoaudiologia recomenda o termo Apraxia de Fala na Infância para “Distúrbio neurológico motor da fala na infância, resultante de um défi cit na consistência e precisão dos movimentos necessários a fala, na ausência de défi cits neuromusculares (por exemplo, re-exos normais, tônus alterado). FONTE: <https://apraxiabrasil.org/informacoes-sobre-afi />. Acesso em: 06 de Mar. 2020. [...] um transtorno da articulação no qual há comprometimento da capacidade de programar voluntariamente a posição da musculatura dos órgãos fonoarticulatórios e a sequência dos movimentos musculares para a produção de fonemas e palavras. Essas difi culdades de programação de posição e seqüência dos movimentos ocorrem, apesar de sistemas motores, sensoriais, das habilidades de compreensão, atenção e cooperação encontrarem-se preservados (1-4) a difi culdade em programar voluntariamente o gesto articulatório na ausência de défi cits neurológicos ou musculares. FIGURA 11 – APRAXIA NA INFÂNCIA FONTE:<https://expliqi.com.br/wp-content/uploads/2019/08/ maxresdefault.jpg>. Acesso em: 26 jul. 2020. ^ Assim, crianças com a Apraxia de Fala na Infância (AFI) normalmente possuem muitos erros durante a articulação. Shriberg et al. (1997) nos dizem que a AFI é defi nida como uma categoria diagnóstica atribuída a crianças cujos erros de fala diferem daqueles encontrados em crianças com atraso no desenvolvimento da fala e se assemelham aos erros de adultos com apraxia adquirida, os erros 36 Comunicação Alternativa no TEA cometidos por essas crianças assemelham-se aos erros cometidos por adultos, após algum dano cerebral. De acordo com a ABRAPRAXIA (Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância), no Brasil, as principais características encontradas na fala de crianças acometidas por essa difi culdade são: • Pobre repertório de vogais, erros na produção das vogais na fala. • Pobre repertório de consoantes durante a fala, incluindo as consideradas mais visíveis e fáceis de serem adquiridas, como P e M. • Variabilidade de erros e presença de erros incomuns na fala. • Os erros e a difi culdade aumentam com o aumento da quantidade de sílabas das palavras. • Dependendo do grau de severidade, a criança pode produzir o som, sílaba ou palavra-alvo em um contexto, mas é incapaz de produzi-lo com precisão em um contexto diferente. • Possuem mais di fi culdade nas tarefas que precisam de controle voluntário, em comparação com as realizadas de forma automática. • Di fi culdade nas tarefas de diadococinesia, ou seja, para alternar com precisão a repetição das mesmas sequências, como pa/pa/pa ou de sequências múltiplas, como pa/ta/ka. • Presença de alterações prosódicas, fala acelerada ou monótona, erros de ritmo e entonação, défi cit na duração dos sons e pausas entre as sílabas. • Pode ser observado durante a fala “procura” ou “esforço” para realizar as posições articulatórias. • A criança demonstra que fi ca “perdida”, não sabe como movimentar a boca, possui intenção comunicativa, tenta falar mas não consegue. • Presença de uma grande discrepância entre a compreensão e a produção de fala (exemplo, entende o que lhe é falado, porém não consegue verbalizar sua resposta etc.) (ABRAPRAXIA, 2018, s.p). Agora, pare e refl ita! Já parou e percebeu o processo neurológico que está envolvido quando você fala? Quantos passos seus cérebro dá para acontecer a fala? Quantos músculos do seu corpo é preciso? É algo tão automático e natural que, provavelmente, nunca paramos para pensar nisso, não é mesmo? Bem, para a pessoa que possui apraxia de fala, não é nada natural produzir e soltar as palavras, exige um esforço muito grande, é um processo bem diferente, conforme descreve a fi gura a seguir. 37 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 FIGURA 12 – COMO ACONTECE A APRAXIA FONTE: <https://apraxiabrasil.org/site/wp-content/uploads/2020/06/CARTILHA- APRAXIA-DE-FALA-NA-INF%C3%82NCIA_ISBN.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2020. Dessa forma, trazemos um exemplo da ABRAPRAXIA, com a experiência de uma mãe que possue uma fi lha diagnosticada com apraxia de fala logo na infância, e que hoje já sabe ler. É um exemplo prático para pais e profi ssionais que atendem às crianças que possuem apraxia, independente de ter o diagnóstico com TEA. Acompanhe como ela estimula sua fi lha na leitura, na escrita e na noção do espaço temporal por meio de um quadro de rotina. Essa foto mostra um exercício diário que tem realizado com a fi lha. FIGURA 13 – QUADRO ROTINA FONTE: <https://apraxiabrasil.org/textos-sobre-afi /criando-uma-rotina- para-a-crianca-com-apraxia-de-fala/>. Acesso em: 26 jul. 2020. 38 Comunicação Alternativa no TEA Para seu conhecimento, acadêmico, elencamos indicações de estudos e sites, relacionados à apraxia com um dos caminhos para se buscar e se aprofundar. Entre eles, destacamos a Associação Norte Americana de Fonoaudiólogos (ASHA), ela publicou três importantes documentos no ano de 2007 sobre a Apraxia de Fala na Infância (AFI). Eles se encontram na língua inglesa, mas com os recursos tecnológicos existentes hoje, pode-se fazer a tradução em pouco tempo. Então que tal pesquisar! Note como a mãe faz isso: “— Todos os dias pergunto: 1) Que dia é hoje? Daí escrevo o dia, exemplo, 2. 2) Que dia foi ontem? Que dia veio antes de hoje? Daí escrevo o dia, exemplo, 1. 3) Que dia vai ser amanhã? Que dia vem depois de hoje? Daí escrevo o dia, exemplo, 3. Faço as mesmas perguntas para o dia da semana, exemplo, quinta, quarta e sexta. Depois escrevemos a data completa e fi nalizo perguntando como está o tempo lá fora e desenho” (COLLAVINI, 2020, s.p.). Esse é apenas um exemplo que parece simples, mas que tem dado certo em muitos lares e escolas. Assim, se há dúvidas quanto ao desenvolvimento da fala do fi lho ou do educando, se está adequado ou não para sua idade, não espere para procurar ajuda. A orientação é que busque o quanto antes um especialista fonoaudiólogo que tenha experiência com crianças, desenvolvimento da fala e linguagem e que conheça a Apraxia de Fala na Infância (AFI), para dar um diagnóstico correto. Procure, também, apoio em grupos de pais e profi ssionais na área, para que possam trocar informações importantes e de fontes seguras. Estudos têm indicado que a música tem contribuído muito nas terapias para apraxia. Leia o artigo: Musicoterapia na fala da apraxia infantil. Disponível em: https://www.researchgate.net/ publication/334230784_Musicoterapia_na_Apraxia_da_Fala_Infantil. 39 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Para sse aprofundar neste assunto, acadêmico, indicamos alguns material a seguir: • ABC da Apraxia de Fala na Infância: https://apraxiabrasil.org/ textos-sobre-afi/%EF%BB%BFabc-da-apraxia-de-fala-na- infancia/. • Baixe alguns materiais informativo: https://apraxiabrasil.org/ baixar-materiais/. • Videos de profi ssionais e pais: https://apraxiabrasil.org/videos/. • Declaração sobre AFI – www.asha.org/policy/PS2007-00277/. • Reporte Técnico sobre AFI – www.asha.org/policy/TR2007- 00278/. • Descrição da AFI como distúrbio de fala – www.asha.org/public/ speech/disorders/ChildhoodApraxia/. Nesse sentido, nota-se a impotância de terem mais estudos relacionados à apraxia também aqui no Brasil. Assim, apresentamos alguns estudos e dicas da Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância (ABRAPRAXIA), fundada em 2016, que tem como principal objetivo a divulgação e terapias sobre apraxia no Brasil. Fique atendo a esta data, 14 de maio, ela foi escolhida como o Dia da Conscientização da Apraxia na Fala na Infância nos Estados Unidos. Aqui, no Brasil, a ABRAPRAXIA vem utilizando a mesma data, com atividades educativas e informativas em vários pontos do país. Assim, é necessário muita atenção para disgnosticar qualquer tipo de apraxia na criança ou pessoa com TEA, visto que, em pessoas com algum tipo de lesão cerebral se torna fácil esse diagnóstico após alguns testes. O diagnóstico de apraxia, por vezes, acaba sendo tardio e confundido com outros transtornos de atraso de linguagem ou alguma comorbidade. Desta forma, destacamos que não tendo o diagnóstico correto, desde a infância, não terá também as terapias e nem suportes necessários para lidar com a apraxia quando se tornar um adulto com TEA. Fique atendo a esta data, 14 de maio, ela foi escolhida como o Dia da Conscientização da Apraxia na Fala na Infância nos Estados Unidos. Aqui, no Brasil, a ABRAPRAXIA vem utilizando a mesma data, com atividades educativas e informativas em vários pontos do país. 40 Comunicação Alternativa no TEA Após imergir no mundo da Apraxia de Fala na Infância (AFI), disserte brevemente sobre as principais características encontradas na fala das crianças acometidas por essa difi culdade, segundo a ABRAPRAXIA: R.:_______________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________ Conheça o livro Estimulação da linguagem no transtorno do espectro autista – TEA. Elaboração e adequação de exercícios e atividades estruturadas, com base no método multissensorial para crianças com TEA em fase de alfabetização. Esta obra é o resultado das experiências, refl exões sobre a prática fonoaudiológica de autoria de Mariana Paes Leme Hypólito. FIGURA – ESTIMULAÇÃO DA LINGUAGEM NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA – TEA FONTE: <https://images-americanas.b2w.io/produtos/01/00/ oferta/50289/5/50289510_1SZ.jpg>. Acesso em: 2 ago. 2020. 41 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Ao refl etir sobre o processo de aquisição de linguagem e da fala da criança com TEA, encontramos muitas questões pragmáticas que, aos poucos, com o conhecimento adquirido, vão se dissolvendo em resposta a muitos questionamentos por parte dos pais e profi ssionais que atuam diretamente com crianças com TEA. Essas questões vão desde défi cits simples de atraso de linguagem até aos mais complexos, incluindo os sintomas relacionados aos movimentos corporais de marcha, entre outros. Fica evidente que a ecolalia é uma característica que pode ser considerada como indício da entrada de qualquer criança no mundo da linguagem, o que muitas vezes difi culta o disgnóstico em crianças com TEA, sendo confundida como um desenvolvimento de linguagem normal na infância, até que se mostrem, de fato, que existe um problema de fala para se comunicar e precisa de intervenção. Logo, a interação social se torna uma peça-chave na construção da linguagem, com qualquer pessoa que possue qualquer ditúrbio de linguagem, pois é nela que ocorrem as práticas dialógicas. Entende-se também que nem todas as crianças com TEA desenvolverão transtornos do desenvolvimento motor fi no ou grosso, relacionado à dispraxia com seu seus subgrupos: ecolalia, apraxia, entre outros. Muitos possuem movimentos práxicos sem nenhuma difi culdade motora fi na ou global, ou seja, aqueles movimentos que seguem uma sequência familiar que já foi desenvolvida e aprendida ao longo do tempo. Outro aspecto considerado foi a importância de valorizarmos as demonstrações de tentativas do autista diagnosticado com apraxia de fala em expressar o seu desejo, entende-se que, em sua mente, está claro o que ele quer, talvez imagem mental da fi gura do objeto, mas não é capaz de realizar a programação cerebral específi cas dos órgãos fonoarticulatórios (OFA) para produzir os sons desejados, na ordem e sequência adequadas, e, por fi m, produzir a fala e se comunicar. Enfatizamos que crianças com TEA que possuem mais comorbidades associadas que outras, além da ecololaia e apraxia, fazer intervenções comunicacionais, torna-se um desafi o ainda maior, isso devido a questões comportamentais ou sensoriais, que não permitem um tempo de foco/ atenção, bem como outras caracteristicas para tal intervenção. A partir destas considerações, entendemos que a intervenção fonoaudiológica por especialistas na área de apraxia e TEA que direciona as terapias essencialmente para os 42 Comunicação Alternativa no TEA aspectos da comunicação social/funcional e para as habilidades de linguagem, são de fundamental importância. Destaca-se, nesse processo, a importância do respeito na construção da subjetividade de cada criança ou adulto com TEA, considerando a singularidade de cada um. Essa singularidade é própria ao processo de aquisição de linguagem e faz parte da relação particular que se estabelece entre o sujeito, a linguagem e suas interações sociais. Acima de tudo, devemos lembrar que cada pessoa com TEA terá suas especifi cidades. Por isso, é extremamente importante pensar em terapias para ecolalia e apraxia de forma personalizadas/customizadas, bem como buscar contemplar todos os componentes que fazem parte da intervenção. Nesse contexto, a participação da família, especialmente dos pais, da escola e dos demais profi ssionais que o atende será, sem dúvida, um caminho do êxito, comunicativo e social da pessoa com TEA. REFERÊNCIAS ABRAPRAXIA. Apraxia de fala na infância: o que é e quais suas principais características? 2018. Disponível em: http://www.proaudi.com.br/319_apraxia_ de_fala_na_infancia_o_que_e_e_quais_suas_principais_caracteristicas_.fi re . Acesso em: 2 ago. 2020. ALBANO, E. C. Da fala a linguagem tocando de ouvido. São Paulo: Martins Fontes, 1990. APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. 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CAPÍTULO 2 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Compreender a importância de ferramentas interventivas para complementar ou suplementar a comunicação da pessoa com TEA. • Conceituar a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) e seus instrumentos no uso da comunicação de pessoas com défi cit de fala. • Entender o desenvolvimento e utilização do sistema SCALA na promoção e letramento do autista. • Analisar os sistemas PECS, CARDS como instrumentos para potencializar a comunicação das pessoas com TEA. • Propor a Língua de Sinais como uma alternativa de expressão e sinalização para a pessoa com TEA. 48 Comunicação Alternativa no TEA 49 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A comunicação é um dos meios responsáveis pela construção da sociedade humana, por meio dela, realizamos trocas de informações, compartilhamos momentos, defendemos, avaliamos, enfi m, construímos uma rede em nossa volta. De fato, o homem é um ser social! Nesse sentido, o movimento de ir e vir do ser humano foi construindo processos de comunicação que produzem e transmitem informações e opiniões sobre pessoas, instituições, produtos, acontecimentos, conhecimentos do mundo inteiro. Tudo é transformado em mensagem, em informação. Isso só é possível através de meios que possibilitam que qualquer pessoa possa saber o que está acontecendo “agora” em qualquer lugar do mundo. Desde o nascimento, a efetivação da comunicação acontece e envolve o emissor (quem transmite) e o receptor (quem recebe). É uma troca que de alguma forma há a obtenção e a transmissão de conhecimentos e signifi cados daquele sinal utilizado por ambos que o utilizam. Conforme já foi visto, a pessoa com TEA apresenta um défi cit considerável na comunicação, interação social e comportamento, por ser um transtorno global do desenvolvimento, o que implica em défi cits nos aspectos neurológicos. Neste capítulo, veremos alguns instrumentos relacionados à comunicação, que podem ajudar e contribuir para o desenvolvimento da linguagem da pessoa com TEA, principalmente aqueles conhecidos como “não verbais”. No contexto da comunicação não verbal, trazemos um recorte sobre a comunicação proxêmica, esse tipo de comunicação estuda o signifi cado social do espaço, a proximidade, ou seja, estuda como o homem estrutura inconscientemente o próprio espaço por meio da comunicação, Conforme Galvão et al. (2006), para entendermos sobre análise proxêmica temos que compreender oito fatores compostos pelas seguintes dimensões: 1. Postura-sexo: analisa o sexo dos participantes e a posição básica dos interlocutores, como as posições: de pé, sentado e deitado; 2. eixo sociofugo-sociopeto: o eixo sociofugo demonstra o desencorajamento da interação, enquanto o sociopeto trata do inverso. Essa dimensão analisa o ângulo dos interlocutores, a saber: face a face, de costas um para os outros, entre outras angulações; 3. cinestésicos: cabe- lhes provocar a proximidade entre os interlocutores. Analisa o contato físico a curta distância, como o toque ou o roçar da pele e o posicionamento das partes do corpo; 4. comportamento de contato: esse fator refere-se às formas de relações táteis como acariciar, agarrar, apalpar, segurar demoradamente, apertar, tocar localizado, roçar acidental ou nenhum contato físico; 5. código visual; verifi ca o modo de contato visual ocorrido 50 Comunicação Alternativa no TEA nas interações como o olho no olho ou ausência de contato; 6. código térmico: diz respeito ao calor percebido pelos interlocutores; 7. código olfativo: analisa as características e o grau de odor percebidopelos interlocutores; e, fi nalmente, 8. volume de voz: avalia a percepção dos interlocutores em relação ao espaço interpessoal (GALVÃO et al., 2006, p. 2). A partir de Galvão et al. (2006), entendemos que existem vários eixos incorporados à comunicação não verbal, e que envolvem a análise proxêmica, ou seja, que podem nos aproximar ao outro, entre eles podemos relacionar a pessoa com TEA com o eixo 3, que fala do contato sinestésico, esse tipo de contato, às vezes, não são bem recebidos por algumas pessoas com TEA, esse contato, corpo a corpo por meio de abraços, aperto de mão ou mesmo um “tapinha nas costas”, são formas poderosas de comunicação e que podem, de alguma maneira, criar vínculos entre as pessoas. Além disso, Galvão et al. (2006) fala de código ou contato visual (olho a olho) ou mesmo a ausência desse contato visual, nesse sentido, essa ausência de contato pode ser uma das características de algumas pessoas com TEA, difi cultando a comunicação em sociedade. E tudo isso acontece no que chamamos de sua zona proximal entre o emissor e receptor, e, sem perceber, muitas pessoas com TEA utilizam-se dessa zona proximal. FIGURA 1 – ZONA DE CONTATO FONTE: Adaptada de <https://clue-lab.com.br/wp-content/uploads/2018/02/ prox%C3%A9mica.png>. Acesso em: 17 ago. 2020. A distância pessoal pode ser imaginada como uma bolha que cerca o indivíduo, protegendo-o. Na fase próxima, as extremidades podem tocar o corpo do outro, mas já não há distorção visual. A qualidade tridimensional de objetos 51 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 pode ser percebida com detalhes, assim como as texturas. Na fase afastada, caso o braço seja estendido, pode tocar a outra pessoa, representando o domínio físico concreto. Os detalhes do outro ainda são bastante perceptíveis e o nível da voz é moderado. Esta é a distância em que assuntos pessoais podem ser discutidos (VENDRAMINI, 2016, p. 62 apud HALL, 1977). A Comunicação é um assunto extremamente vasto, apresenta muitas formas, tipos e conceitos em diferentes situações, neste capítulo, o intuito é abordar aqueles que são relevantes para pessoas com TEA. Desse modo, será feito um breve apanhado da história da comunicação e de que forma ela evoluiu na sociedade. Isso envolve compreender como funcionam os sistemas de comunicação alternativa que foram desenvolvidos, por meio de muitos estudos e pesquisas para pessoa com difi culdade na comunicação. São sistemas de comunicação como: SCALA, PECS, CARDS, FLASH CARDS. Além disso, contextualizaremos contribuições das Língua de sinais, como uma possível metodologia para possibilitar uma comunicação alternativa para a pessoa com TEA. É uma área que ainda necessita de mais estudos científi cos para comprovar sua efi cácia. Se você fi cou curioso como ocorre a comunicação proxêmica e quiser se aprofundar mais um pouco no assunto, acesse o site A mente é maravilhosa (https://amenteemaravilhosa.com.br/ proxemica/). 2 EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO – BREVE CONTEXTO Muitos povos antigos se comunicavam por meio de desenhos esculpidos nas paredes das cavernas. Assim, graças aos nossos antepassados, a escrita por representações de imagens foi se desenvolvendo para escrita de texto, ampliando a base para a comunicação que conhecemos hoje, e, ao mesmo tempo, muitas línguas foram surgindo. Sobre o desenvolvimento das línguas, Steiner (2005, p. 72), dialoga que “[...] o fato de que milhares e milhares de línguas diferentes e 52 Comunicação Alternativa no TEA mutuamente incompreensíveis foram e são faladas em nosso pequeno Planeta, é uma expressão clara do enigma profundo da individualidade humana, [...]”. Quando Steiner (2005) disserta que milhares de línguas diferentes foram e são faladas, entende-se que ele chama a atenção para alguns fatores, como sexo dos falantes, idade, classe social, região geográfi ca e registro (culto ou informal). O ser humano foi desenvolvendo-se na faculdade da linguagem e, como consequência, línguas novas foram sendo criadas. FIGURA 2 – A COMUNICAÇÃO E O TEMPO FONTE: <https://miro.medium.com/max/1575/1*7- MDA79sxAVk34EcFSCY1A.jpeg>. Acesso em: 17 ago. 2020 Nota-se que a comunicação sempre esteve presente na sociedade e que trouxe suas variações linguísticas e culturais, bem como tipos de comunicação, entre elas, a mais comum, a comunicação direta e imediata, conforme Bessa (2016, p. 20): A comunicação direta e imediata acontece quando as pessoas estão cara a cara. Elas se relacionam principalmente por meio da fala e da gesticulação. Exemplo típico de comunicação direta entre as pessoas é quando conversam em algum ambiente informal (em uma festa ou no intervalo do trabalho, por exemplo) em que contam histórias; relatam acontecimentos; descrevem pessoas; dizem o que leram no jornal; avisam da chegada de alguém, contam piadas. Observamos que a comunicação direta acontece interativamente, com trocas e partilhamentos de informações entre as pessoas. Sobre a comunicação indireta e mediada, comumente feita a distância, note: Já a comunicação indireta e mediada acontece quando as pessoas estão distantes e não podem se enxergar nem escutar 53 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 uma a outra. Nessa situação, elas precisam usar algum meio que lhes possibilite a troca de informações, transportando a voz ou os gestos que uma faz até a outra. Os meios utilizados podem ser variados (telefone, carta, computador), mas uma vez usado um meio, ele estará mediando (intermediando) a comunicação entre as pessoas (BESSA, 2016, p. 21). FIGURA 3 – COMUNICAÇÃO DIRETA E INDIRETA FONTE: <https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fslideplayer. com.br%2Fslide%2F3398471%2F&psig=AOvVaw2zWXPj4iM6N2zmesMuuxd- m&ust=1598842423672000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCLiSwrr- 2wesCFQAAAAAdAAAAABAZ>. Acesso em: 17 abr. 2020. Como vimos, a comunicação indireta e mediada é muito utilizada entre as pessoas que estão distantes, podemos dizer que a tecnologia é uma das ferramentas para efetivação da comunicação indireta. Assim, esses dois tipos de comunicação referido por Bessa (2016) – direta e indireta –, acontece todo o tempo entre os seres humanos. Nestas circunstâncias, encontra-se a pessoa com TEA e o meio que vive, presenciando os tipos de comunicação, seja direta ou indireta, e compartilhando seus pensamentos por meio de uma comunicação verbal e não verbal, conforme a concepção de Mesquita (1997, p. 159): Estes dois níveis de comunicação, o verbal e o não verbal, podem se apresentar e atuar concomitantemente nas interações entre indivíduos, complementando-se ou contrapondo-se no discurso. Em determinadas situações socioculturais poderá ocorrer uma justaposição de um nível sobre o outro [...]. Nas condições da comunicação verbal e não verbal, para as pessoas com défi cits na comunicação, há muitos obstáculos ou barreiras que podem surgir de forma intensa ou sutis. Para entendermos melhor sobre essas barreiras, trazemos o pensamento crítico de Chiavenato (2010, p. 97): No processo e na comunicação humana podem ocorrer aquilo que designa por chuvas e tempestades. Estas correspondem a “barreiras que servem como obstáculos ou resistências à comunicação entre os interlocutores”. são variáveis que 54 Comunicação Alternativa no TEA intervêm no processo de comunicação e que o afetam profundamente, fazendo com que a mensagem tal como é enviada se torne diferente da mensagem tal como é recebida. Veja que Chiavenato (2010) cita a expressão chuvas de tempestades para se referir a barreiras de comunicação. Quando relacionamos essa barreira – chuvas de tempestade – à pessoa com (TEA), podemos lembrar de características como hostilidade, estereotipias,comportamento considerados incomuns ou defensivo, distrações, entre outros que os impedem de compreender e serem compreendidas, como falamos anteriormente. Diante do exposto, Weiss, Tafner e Lorenzi (2013, p. 22) mostram que: [...] a comunicação é um processo de interação no qual compartilhamos mensagens, ideias, sentimentos e emoções, podem infl uenciar o comportamento das pessoas que, por sua vez, reagirão a partir de suas vivências, crenças, valores, história de vida e cultura. Assim, Weiss, Tafner e Lorenzi (2013) destacam que, durante a comunicação compartilhamos, esclarecemos ideias, emoções suas histórias de vida, e é o que todos nós queremos, não é mesmo? independentes de termos ou não alguma difi culdade na comunicação. Portanto, a partir de agora, consideraremos algumas características e tipologias dentro dos conceitos que envolve a comunicação, a fi m de ampliarmos a temática sobre a comunicação da pessoa com (TEA), além de ferramentas de Comunicação Alternativas. Vamos conhecer alguns meios de Comunicação Alternativa Aumentativa (CAA) mais utilizados até o momento pelos profi ssionais na área de comunicação e linguagem para pessoa com TEA. A comunicação é frequentemente um ato imperfeito, pois durante o processo de comunicação há sempre condicionamentos, seja porque o emissor está condicionado pelo que sabe e o que pode dizer, seja porque o receptor pode não interpretar a mensagem da forma como o emissor quis transmitir, chegando aos seus ouvidos interpretações diferentes e a mensagem ser aceita apenas parcialmente (DEVESA, 2016, p. 26). Leia na íntegra alguns tipos de comunicação como ferramenta na sociedade, disponível em: https://comum.rcaap.pt/ bitstream/10400.26/17915/1/Laura%20Devesa_140327005%20 Ci%C3%AAncias%20Empresariais.pdf. 55 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 3 CONCEITUANDO A COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA AUMENTATIVA/ AMPLIADA (CAA) – TEORIA E PRÁTICA FIGURA 4 – EU ME COMUNICO, E VOCÊ? FONTE: <https://miro.medium.com/max/2800/0*F1F9HXicx9zoykzU. jpg>. Acesso em: 17 ago. 2020. Até aqui compreendemos como a linguagem e comunicação é imprescindível para construção da sociedade, fazendo parte da constituição do ser humano, conforme Telles (1998, p. 7) afi rma, "a formação do pensamento representacional é assegurada pelo desenvolvimento processual harmônico da função simbólica, sendo a linguagem uma das mais satisfatórias". Dessa forma, a criança que interage por meio da linguagem possui também uma facilidade de interação com o meio social, e esse convívio contribui para o desenvolvimento, deixando claro que a comunicação é universal. De acordo com Castro e Gomes (2000): A comunicação entre membros, [...] é uma constante. Na medida em que as mais variadas espécies, desde a formiga ao Homo Sapiens, usam formas de comunicar entre os seus membros, podemos afi rmar que a comunicação é universal (CASTRO; GOMES, 2000, p. 19, grifo do autor). Lima (2015, p. 29) afi rma que: Quando, entre indivíduos, ocorre a redução de comunicação oral face a face devido ao repertório verbal ser limitado, ininteligível ou mesmo quando não se manifesta, (apesar da linguagem oral não ser a única forma de comunicação), esta redução na comunicação afetará outras áreas do indivíduo como as relações sociais (interpessoais e intrapessoais), [...]. 56 Comunicação Alternativa no TEA Desse modo, para não ocorrer o que Lima (2015) discorre como redução de comunicação entre as pessoas, é necessário mediações interventivas para que as relações sociais não sejam afetadas. Para as pessoas com difi culdades em se comunicar, surge a Comunicação Alternativa Aumentativa (CAA). Conforme Lima (2015, p. 29), “para esta população, são necessários dispositivos como sistemas de Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA), oportunizando uma comunicação mais funcional e mais signifi cativa no contexto socioafetivo”. Pereira (2016, p. 15) afi rma que: [...] uma criança com perturbações de linguagem e com graves problemas de comunicação, verá a sua aprendizagem limitada pelo fato de quase não existirem meios que proporcionem a sua interação com o mundo e, consequentemente, o seu processo de socialização natural. [...], as perturbações da fala incluem as difi culdades da voz, da articulação e da fl uência, enquanto as perturbações da linguagem envolvem as difi culdades da compreensão ou produção da linguagem, independentemente do sistema simbólico utilizado. Em suma, uma perturbação de linguagem poderá envolver a forma da linguagem (perturbações fonológicas, morfológicas e de sintaxe), o conteúdo da linguagem (o aspeto semântico da linguagem) e a função da linguagem (o aspeto pragmático). Esses défi cits na linguagem ou perturbações advindas por heranças sociais ou biológicas, interferem de forma signifi cativa no sujeito quando adulto. Assim, Pereira (2016, p. 27) nos dá um alerta: “os indivíduos que não conseguem se comunicar podem sentir-se subestimados e desenvolverem um sentimento de inferioridade em relação aos outros que, em situações mais graves, pode-se traduzir numa atitude de passividade e dependência dos outros”. Diante disso podemos nos perguntar: o que signifi ca Comunicação Alternativa Aumentativa (CAA) e como ela pode contribuir ou mesmo modifi car a vida da pessoa com (TEA)? Você pode iniciar seu aprendizado sobre CAA assistindo à videoaula da USP, Comunicação alternativa, disponível em: http:// eaulas.usp.br/portal/video.action?idItem=8486. 57 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 Nesse viés, é importante considerar a ampliação da defi nição de comunicação alternativa e adequação do termo Comunicação Alternativa, sem trazer a ideia de que a fala será substituída. Seria melhor adotar o termo “comunicação suplementar” ou, ainda, “comunicação ampliada”. Esse termo designaria uma comunicação de suporte, ou seja, um apoio suplementar à fala. “[...] A comunicação suplementar ou ampliada enfatiza formas alternativas de comunicação visando dois objetivos: promover e suplementar a fala, e garantir uma forma alternativa de comunicação para um indivíduo que não começou a falar” (BRASIL, 2006, s.p.). Talvez, quando se fala de sistemas de comunicação alternativa, vem logo a nossa mente a substituição da fala do sujeito ou apenas o uso de tecnologias, além disso, ela está muito associada à prática clínica, por profi ssionais habilitados para fazer tais intervenções. Ao trazer a etiologia sobre a CAA, conforme Brasil (2006, s.p.), questões relacionadas à CAA e sujeitos com alguma defi ciência de fala: Têm sido debatidas em vários países, tais como Dinamarca, EUA, Canadá e Brasil, que têm desenvolvido sistemas alternativos para comunicação.[...], a expressão comunicação alternativa e/ ou suplementar vem sendo utilizada para designar um conjunto de procedimentos técnicos e metodológicos direcionado a pessoas acometidas por alguma doença, defi ciência ou alguma outra situação momentânea que impede a comunicação com as demais pessoas por meio dos recursos usualmente utilizados, mais especifi camente a fala. Passerino e Bez (2015) trazem o conceito de CAA segundo a American Speech-Language-Hearing Association, que defi ne Comunicação Alternativa como, “o uso integrado de componentes, incluindo símbolos, recursos, estratégias e técnicas utilizados pelos indivíduos a fi m de complementar a comunicação” (PASSERINO; BEZ, 2015, p. 121). Sobre a concepção da CAA, Lima (2015, p. 29) disserta que: [...] ela propõe compensar desordens na comunicação expressiva (temporárias ou não) devido aos prejuízos na linguagem (oral e escrita). Diferentes meios de comunicação derivados do uso de gestos, linguagem de sinais e expressões faciais, fi guras,símbolos, além de sofi sticados sistemas computadorizados podem ser utilizados de forma complementar ou alternativa à linguagem oral, quando possível. 58 Comunicação Alternativa no TEA No escopo anteriormente citado, a CAA se torna um instrumento desenvolvido com o objetivo de proporcionar diferentes meios de comunicação, seja por gestos, símbolos, sinais, tecnologias, entre outras, de forma a complementar a comunicação dos indivíduos que apresentam algum défi cit na comunicação, facilitando sua vida diária. Assim, a CAA não envolve apenas ferramentas tecnológicas, mas muitas outras. Cortes (2015, p. 22) relata como surgiu o interesse pela CCA: A Comunicação Alternativa e Ampliada, como conhecemos hoje, teve seu início nos anos 1950. Os pioneiros no campo foram profi ssionais e pessoas com difi culdades de comunicação severa que desenvolveram pranchas utilizando sua intuição. Inicialmente, o uso da Comunicação Alternativa e Ampliada era considerado apenas para as pessoas com problemas de laringe e era utilizada como alternativa à comunicação escrita. No decorrer da década de 1950, com o avanço da medicina, mais crianças prematuras passaram a sobreviver, assim como adultos com sequelas de acidentes, doenças ou traumas. Os profi ssionais passaram a utilizar a Comunicação Alternativa e Ampliada em indivíduos com difi culdades severas de comunicação. Nota-se, então, que foi a partir dos anos 1950, com avanços da medicina, que a CAA começou a ser intencionada como uma intervenção positiva, inicialmente, pelos próprios sujeitos acometidos pela difi culdade na comunicação, e depois ampliando-se gradualmente para pessoas com sequelas por algum trauma, ou doença durante ou após o nascimento que necessitassem de terapias para aprender a falar ou como alternativa para ampliar a comunicação. Cortes (2015, p. 23 apud PELOSI, 2000, p. 36) explica que: Foi nos anos 1960/1970 que se iniciou o desenvolvimento da fi losofi a da comunicação total que é a perspectiva que vai defender o uso simultâneo da fala e dos gestos. Nesse período, algumas crianças com defi ciências múltiplas [...]. Indivíduos com paralisia cerebral e outras disfunções neuromotoras iniciaram a utilização de pranchas de comunicação e do código Morse quando as pesquisas começaram a mostrar que esses indivíduos com disartria corriam o risco de não adquirirem a linguagem oral. Dessa forma, os autores Cortes (2015) e Pelosi (2000) afi rmam que a CAA surge como uma fi losofi a da comunicação total, que se utiliza de gestos, escrita, imagens etc., ou seja, toda forma de comunicação, com o objetivo para auxiliar ou dar voz às pessoas com defi ciências, com disfunções motoras na fala. Dessa forma, observa-se que a CAA começa a tomar forma por meio da literatura científi ca, evidenciando resultados promissores obtidos com o uso de vários recursos para uma fala funcional. 59 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 FIGURA 5 – COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR/ALTERNATIVA FONTE: <https://3.bp.blogspot.com/-F9_tpmrms-g/V3EqUEJCTtI/ AAAAAAAAAFE/07AkmUoNXHou_nktJzxri3_564SzKE0gwCLcB/ s320/BoardMaker.gif>. Acesso em: 17 ago. 2020. Brasil (2006, p. 5) salienta que: Podemos encontrar duas subdivisões: comunicação apoiada e comunicação não apoiada. A comunicação apoiada englobaria todas as formas de comunicação que possuem expressão linguística na forma física e fora do corpo do usuário, como objetos reais, miniaturas de objetos, pranchas de comunicação com fotografi as, fotos e outros símbolos gráfi cos e, ainda, os sistemas computadorizados (grifo nosso). Assim, segundo Brasil (2006), a comunicação apoiada por envolver todas as formas de comunicação, ou seja, a fala, expressões (facial e corporal) etc., mostra-se mais adequada para pessoas com difi culdade de comunicação, pois envolve o uso de pranchas, imagens, entre outros, estando dentro do sistema de CAA. São muitas as nomenclaturas usadas para se referir a esse tipo de comunicação. Assim, destacamos a explicação para acessibilidade comunicativa por Grosko (2016, p. 27, grifo nosso): Comunicação Alternativa [porque há somente uma forma de se comunicar] Ampliada [quando há uma comunicação por parte do sujeito, porém, esta não sustenta suas expectativas no convívio social] (CAA), Comunicação Aumentativa [signifi ca um apoio ou um complemento à comunicação alternativa] e Alternativa (CAA), Comunicação Alternativa e Suplementar (CAS), Sistemas Suplementares e/ou Alternativos de Comunicação (SSAC) e Comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA). 60 Comunicação Alternativa no TEA É importante entendermos bem esses conceitos ao realizar a escolha de um Sistema de Comunicação Alternativa e pensar como um todo, na perspectiva do sujeito e suas particularidades, conhecer suas competências e suas necessidades. Pereira (2016, p. 28) ainda reforça que alguns autores defendem que: A participação da família como sendo primordial e imprescindível no processo de avaliação e nos trabalhos desenvolvidos, isso porque os pais, melhor do que qualquer um tem conhecimento das competências, necessidades e desejo dos seus fi lhos, sua conexão lhe permite identifi car expressões gestuais, expressão facial, o olhar e até mesmo movimentos corporais. Cortes (2015, p. 26 apud NUNES, 2003, p. 10) também diz: Diferentes meios de comunicação derivados do uso de gestos, [...] e expressões faciais, fi guras, símbolos, além de sofi sticados sistemas computadorizados podem ser empregados de forma substitutiva ou suplementar de apoio à fala, ajudando a desenvolver, quando possível, a linguagem oral (grifo nosso). A CAA vem como auxílio para as pessoas com TEA com seus vários sistemas de comunicação, com ou sem o uso de recursos tecnológicos, propiciando a comunicação de indivíduos que apresentam limitação de fala, oportunizando a aprendizagem e a interação social. Até aqui foi possível perceber o quão importante e funcional são os sistemas de Comunicação Alternativa, bem como seu nível de abrangência é surpreendente, tornando possível o aumento das competências do sujeito, o desenvolvimento da linguagem e comunicação, resultando em uma melhora na qualidade de vida. Além disso, destacou-se que o principal objetivo da CAA não é substituir a fala, mas o de garantir que o indivíduo venha se comunicar, não importando a defi ciência ou transtorno. Aprofunde-se nos estudos por meio da dissertação A comunicação aumentativa e alternativa enquanto fator de inclusão de alunos com necessidades educativas especiais, disponível em: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/14218/1/Jacinta%20 Pereira.pdf. 61 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 Embora haja várias nomenclaturas nas muitas literaturas sobre o conceito relacionado à Comunicação Aumentativa Alternativa (CAA), destacamos a concepção por Brasil (2006). Com base no exposto, analise as sentenças a seguir: I- Afi rmam que a CAA surge como uma fi losofi a da comunicação total, que se utiliza gestos, escrita, imagens etc. [...]. II- [...], têm sido debatidas em vários países, tais como Dinamarca, EUA, Canadá e Brasil, que têm desenvolvido sistemas alternativos para comunicação. III- [...] vem sendo utilizada para designar um conjunto de procedimentos técnicos e metodológicos direcionado a pessoas cometidas por alguma doença, defi ciência. III- “Diferentes meios de comunicação derivados do uso de gestos, _ [...] e expressões faciais, fi guras, símbolos, além de sofi sticados sistemas podem ser empregados de forma substitutiva ou suplementar de apoio à fala. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças II e III estão corretas. b) ( ) As sentenças I e II estão corretas. c) ( ) Assentenças I, III e IV estão corretas. d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas. Assim, antes de adentrar nos estudos sobre o Scala – Sistema de Comunicação Alternativa, vamos descrever, brevemente, alguns modelos de sistemas de CAA para ampliar seu conhecimento. Antes, vamos para nossa primeira atividade de estudo! 4 ALGUNS MODELOS DE SISTEMAS DE CAA Anteriormente, conversamos sobre um olhar atento, as características do sujeito com défi cits na comunicação, para a escolha do melhor sistema de CAA. Nesse sentido, Pereira (2016, p. 30 apud TETZCHNER; MARTINSEN, 2000, p. 62 Comunicação Alternativa no TEA 22) distinguem comunicação alternativa de comunicação aumentativa da seguinte forma: Comunicação alternativa é qualquer forma de comunicação diferente da fala e usada por um indivíduo em contextos de comunicação frente a frente. Os signos gestuais e gráfi cos, o código Morse, a escrita etc., são formas alternativas de comunicação para indivíduos que carecem de capacidade de falar. Comunicação aumentativa signifi ca comunicação complementar ou de apoio. A palavra “aumentativa” sublinha o fato de o ensino das formas alternativas de comunicação ter um duplo objetivo: promover e apoiar a fala e garantir uma forma de comunicação alternativa se a pessoa não aprender a falar. Haja visto a diferença entre Comunicação alternativa, que signifi ca qualquer forma de comunicação para alcançar o sujeito, com difi culdade da linguagem e comunicação, e a Comunicação alternativa, que também usa o termo comunicação complementar/suplementar, como os autores supracitados bem colocaram, é como se esse tipo de comunicação tivesse um duplo signifi cado. Ainda, Pereira (2016 apud TETZCHNER; MARTINSEN, 2000, p. 23), dizem que existem alguns elementos que constituem os Sistemas Alternativos e Aumentativos de Comunicação (SAAC) são: [...] signos realizados com as mãos. gráfi cos – incluem todos os signos produzidos grafi camente (Bliss, SPC, PIC, Rebus etc.). tangíveis – são geralmente feitos em madeira ou plástico. Podem apresentar formas e texturas diferentes (PEREIRA, 2016, p. 30 apud TETZCHNER; MARTINSEN, 2000, p. 23). Assim, visto que estes sistemas por serem de características diferentes, envolve usar vários tipos de materiais. Vamos nos ater, agora, aos sistemas de comunicação que vêm por meios digitais. 4.1 SISTEMA DE COMUNICAÇÃO BLIS OU BLISSYMBOLICS É baseado na escrita pictográfi ca chinesa. A autora Pereira (2016, p. 33) compartilha esse sistema como “o mais completo sistema de comunicação alternativo [...]. Foi criado e estudado por Charles Bliss, desenvolvido com o objetivo de ser utilizado como sistema de comunicação internacional”. Cortes (2015) coloca esse sistema como o primeiro sistema gráfi co de símbolos criados para CAA, note: 63 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 Os Símbolos Bliss foi o primeiro sistema gráfi co de símbolos a ser adotado na Comunicação Alternativa e Ampliada. Através do esforço de Shirley McNaughton, o Blissymbolics Communication Institute foi formado em Toronto, para promover treinamento profi ssional no uso da Comunicação Alternativa e Ampliada (CORTES, 2015, p. 24). FIGURA 6 – SISTEMA GRÁFICO BLISS FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-wUg8tBjAJ7o/VU-LlGllRxI/AAAAAAAAAAQ/ aQ_U4LfxQDc/s1600/bliss.jpg>. Acesso em: 17 ago. 2020. O sistema Bliss faz parte dos sistemas de comunicação aumentativa e alternativa, é composto, em específi co, por três sistemas de símbolos, afi rma Pereira (2016, p. 34): Pictográfi cos – baseados no valor denotativo da imagem (semelhantes fi sicamente aos objetos que representam). Ideográfi cos – baseados no valor conotativo da imagem, sugerem conceitos, mas não os representam diretamente. Arbitrários – não têm relação pictográfi ca ou ideográfi ca no seu signifi cado (reconhecidos por convenção internacional). Quer saber como o sistema Bliss mudou a vida da jornalista Samara Andresa Del Monte, cadeirante e PC? Visite o site https:// samarandresa.wixsite.com/delmonte/bliss. 64 Comunicação Alternativa no TEA 4.2 SISTEMA PIC (PICTOGRAMIDEOGRAM COMMUNICATION) É outro sistema que se tornou muito popular, entre os usuários de CAA. De acordo com Pereira (2016), é originário do Canadá. “É composto por cerca de 1300 símbolos, sendo 400 existentes em Portugal. Representado por silhuetas brancas sobre um fundo preto. A palavra está sempre escrita em branco sobre o desenho” (PEREIRA, 2016, p. 35). FIGURA 7 – SISTEMA GRÁFICO PIC FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/36/4d/48/364d4833f81cfe39c8413ef03a9b66b7. png>. Acesso em: 17 ago. 2020. O sistema PIC consiste em uma comunicação mais restringida se comparado ao sistema Bliss, que tem seus três sistemas dentro de só um sistema. “O sistema PIC foi desenvolvido no Canadá na década de 1980 pelo terapeuta da fala Subhas Maraj, para um vocabulário funcional” (PEREIRA, 2016, p. 33). 65 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 Entenda mais sobre o sistema de CAA, o PIC, acessando o link http://www.itad.pt/tratamento-de-psicologia/sistema-comunicacao- pic/. 4.3 O SISTEMA SPC (SÍMBOLOS PICTOGRÁFICOS PARA A COMUNICAÇÃO – PICTURE COMMUNICATION SYMBOLS) Assim como o sistema Bliss e PIC, este sistema se utiliza de muitas fi guras. Segundo Pereira (2016), é de origem americana (PCS, Picture Communication Symbols), concebido pela terapeuta da fala, Roxana Mayer Johnson, em 1951. Foi divulgado e amplamente produzido em “1981 nos EUA. Dispõe de cerca de 3000 signos. Os desenhos são de linhas simples e preto sobre fundo branco e as palavras escrita sobre o desenho, havendo uma relação com o objeto em referência. Incluindo o alfabeto, números e o uso de fotos” (PEREIRA, 2016, p. 35). Usado por muitos profi ssionais, este é um sistema, não é só fi guras, mas estas fi guras permitem comunicar conceitos, note o que diz Pereira (2016, p. 35) “devido a sua confi guração formada por desenhos que indicam substantivos, pronomes, verbos e adjetivos, o nível de difi culdade de abstração é menor sendo, por isso, indicado para crianças”. 66 Comunicação Alternativa no TEA FIGURA 8 – SISTEMA GRÁFICO SPC FONTE: <https://2.bp.blogspot.com/-ip4DzUbBOA0/UR1lNO_PfxI/AAAAAAAAAI0/ A23bY5_FnRw/s1600/simbolos+spc.gif>. Acesso em: 17 ago. 2020. As cores são outro destaque do sistema SPC, colocadas de forma a contribuir para abstração do conhecimento de quem a usa, por isso, ao ler a citação, atente para a Figura 8 para entender melhor. Veja: Figuras sociais – cor rosa (contorno ou fundo); Figuras de verbos – cor verde (contorno ou fundo); Figuras de pessoas – cor amarela (contorno ou fundo); Figuras descritivas – (adjetivos ou advérbios) – cor azul (contorno ou fundo); Figuras miscelâneas – cor branca; Figuras de substantivos – cor laranja (PEREIRA, 2016, p. 34). Após essa discussão sobre alguns sistemas de CAA, mais conhecidos e utilizados como ferramentas para qualquer sujeito com défi cits na comunicação, muito utilizados também para pessoas com TEA não verbais, vamos conhecer e nos aprofundar no sistema de software Scala, pois este é um dos mais utilizados para auxiliar na comunicação de autistas não verbais. Sobre os sistemas de CAA citados, lembramos que, mesmo antes de surgirem de forma digitalizada, tendo em vista que estamos cercado por tecnologias, essas ferramentas como conhecemos hoje, digitalmente, em geral, surgem inicialmente de forma física, ou seja, como cartões de comunicação com fotos e imagens, pranchas de comunicação física muito utilizados hoje em dia ainda etc. 67 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)Capítulo 2 Acesse o site Bengala Legal e leia o artigo Bliss e PCS: Sistemas Alternativos de Comunicação de Luciana Della Nina Verzoni. Conheça um pouco mais todos os sistemas citados até o momento. Disponível em: http://www.bengalalegal.com/bliss-e-pcs. 5 SCALA: SISTEMA DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA PARA O LETRAMENTO DA PESSOA COM TEA FIGURA 9 – LOGO SISTEMA SCALA FONTE: <http://scala.ufrgs.br/Scalaweb/INICIO/index.php>. Acesso em: 17 ago. 2020. Considerando o que já foi estudado sobre o processo de apropriação da linguagem até aqui, entendemos que esse processo é extremamente relevante para o desenvolvimento do ser humano, principalmente quando foi dialogado sobre a tríade das pessoas com TEA, detalhando as características principais, ou os défi cits combinados como: (comunicação, interação social, comportamento), percebeu-se a importância do alcance de metodologias e ferramentas que venham de fato auxiliar na comunicação para ter uma vida mais participativa e produtiva em sociedade. O software Scala vem com essa proposta, ele é uma ferramenta que auxilia no processo de oralidade, letramento e comunicação, como um Sistema de 68 Comunicação Alternativa no TEA Comunicação Alternativa para Letramento de Pessoas com Autismo. As autoras Passerino e Bez (2015), que contribuíram para a criação do Scala, afi rmam que: [...] as habilidades de comunicação são fundamentais no desenvolvimento da interação social, além de outros elementos, como relação de reciprocidade entre os participantes, existência de contexto cultural comum e uso de instrumentos e signos que permitam sustentar a construção e o compartilhamento intersubjetivo de signifi cados (PASSERINO; BEZ, 2015, p. 251). Segundo Passerino e Bez (2013, p. 6), “o Sistema Scala tem como início de sua trajetória o ano de 2009, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de crianças com TEA com défi cits de comunicação, no seu letramento, autonomia e interação social”. Assim, o sistema foi desenvolvido a partir das características presentes em pessoas com TEA, ele é gratuito, qualquer pessoa pode ter acesso, por isso, ele é amplamente utilizado pelos familiares e instituições escolares, bem como profi ssionais de fala. Como de fato surgiu essa proposta? No período de 2009/2010, Bez (2010) realizou uma pesquisa com duas crianças com Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) [...] que demonstrou que estratégias de mediação, através de baixa e alta tecnologia, poderiam apoiar o desenvolvimento da comunicação dos sujeitos com TGD. Com este embasamento e de Passerino (2005), o protótipo do Scala é desenvolvido por Ávila (2011). O protótipo teve versão desktop (PC), a principal linguagem utilizada foi Java por sua portabilidade, legibilidade do código, grande quantidade de bibliotecas e códigos reutilizáveis com sintaxe similar a C/C++ (PASSERINO; BEZ, 2013, p. 7). Foi preciso um embasamento teórico, as autoras supracitadas continuam: Foi embasado numa visão sócio-histórica, [...] para tal, seguiu- se a metodologia do Desenvolvimento Centrado em Contextos (DCC) para a construção da tecnologia assistiva almejada. Já o desenvolvimento técnico, envolveu o foco no autismo, gratuidade, objetividade e simplicidade, ambos (metodologia e tecnologia (PASSERIN; BEZ, 2013, p. 2, grifo nosso). Dessa forma, a partir da teoria sócio-histórica que destaca a cognição e linguagem como processos imbricados na constituição do sujeito (VYGOTSKY, 2001) e auxilio da tecnologia assistiva, o sistema Scala propõe suprir tanto a questão da interação social quanto a alfabetização e ainda um letramento, ou seja, o usuário do Scala vai além de aprender a ler e escrever de forma digital ou escrita, ele propõe um entendimento mais amplo das fi guras de comunicação, passando para um estágio de funcionalidade e autonomia. Segundo Soares (2004, p. 7), o conceito de letramento é: 69 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 O indivíduo terá não só aprendido a ler e escrever, mas também a fazer uso da leitura e da escrita, verifi ca-se uma progressiva, embora cautelosa, extensão do conceito de alfabetização em direção ao conceito de letramento: do saber ler e escrever em direção ao ser capaz de fazer uso da leitura e da escrita. Na visão de Soares (2004), o sujeito letrado passou por um contexto formal de educação e será capaz de usar a escrita e leitura em sociedade de forma funcional. Nesse contexto, um dos objetivos do Scala, é “uma ação mediada que vise à comunicação e ao letramento de sujeitos com TGD será elaborada com CAA” (PASSERINO; BEZ, 2015, p. 54, grifo nosso). Sendo o sistema Scala desenvolvido para alfabetização e letramento, é importante saber também sua aplicação, por se tratar de uma tecnologia que exigiu muitas variáveis. O Scala é mais do que uma aplicação, é um sistema que engloba estratégias, metodologias e investigações que apoiam os processos inclusivos na nossa sociedade, resultado dos estudos e das pesquisas do Grupo Teias, que vem se dedicando sistematicamente ao ensino, à extensão e à pesquisa sobre a tecnologia, a linguagem e a comunicação” (PASSERINO; BEZ, 2015, p. 18). Para entender o funcionamento do Scala, vamos nos aprofundar como se deu seu desenvolvimento desde sua criação. 5.1 O DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO SCALA Como todos os sistemas de software, no Scala também foi preciso fazer ajustes e melhorias ao longo do tempo. Segundo Passerino e Bez (2015, p. 15): Em 2010, iniciou-se a segunda fase do Scala, denominada Scala 2.0, com apoio e fi nanciamento de agências como CNPq, Capes e Fapergs, o que nos permitiu desenvolver duas versões, uma para funcionamento pela Internet e outra em dispositivos móveis no sistema Android. A versão do Scala 2.0 incorporou, além do módulo Prancha, já existente, um novo módulo, denominado Narrativas Visuais, idealizado para apoiar os processos de letramento de crianças com autismo a partir da contação e da construção de histórias. Bez e Passerino (2013) atestam que o método idealizado que supriria as expectativas de interação e comunicação do sujeito autista, seria denominado como Desenvolvimento Centrado em Contextos de Uso (DCC), conforme mencionado anteriormente. Passerino e Bez (2013, p. 9) complementam: 70 Comunicação Alternativa no TEA Desta forma, procurou-se não ter apenas uma visão funcional do usuário de forma a atender somente as características e necessidades do indivíduo, como acontece comumente no desenvolvimento de uma tecnologia assistiva, mas, agregar estas características individuais às interações dos contextos culturais onde o sujeito se insere. Assim, o foco de análise está no sujeito em relação aos mais diversos contextos culturais que participa, pois cada ser humano está integrado a diversos contextos, com participação mais ou menos ativa em variadas práticas culturais. Quando estas acontecem num processo mediático ou através de uma ação mediadora, efetiva-se a aprendizagem e o desenvolvimento. Desde o surgimento do sistema Scala ocorreram vários estudos metodológicos sobre seu desenvolvimento. De acordo com os resultados, o grupo TEIAS (Tecnologia na Educação para Inclusão e Aprendizagem em Sociedade) da UFRGS, entre 2013 e 2014, logo iniciou a ampliação de mais projetos de pesquisa sobre os resultados do projeto Scala original. Passerino e Bez (2015) compartilham as três fases por quais o sistema Scala passou no seu desenvolvimento: Fase II: multiplataforma e usabilidade que direciona seu foco para o desenvolvimento de versões do Scala para dispositivos móveis e o uso por diferentes usuários com base em critérios de usabilidade e acessibilidade. Como resultado do Scala II, desenvolve-se um sistema de varredura que permite a utilização do sistema por usuários com limitações motoras com base em um sistema de varreduraincorporado ao próprio Scala. Sistema de Comunicação Aumentativa e Alternativa – Scala Fase III: visa analisar o uso dos protótipos desenvolvidos nos projetos anteriores com sujeitos com autismo não oralizados na educação infantil, com ênfase aos processos de Narrativas Visuais no apoio ao letramento e à alfabetização. [...]. Sistema de comunicação alternativa para letramento de pessoas com autismo – Scala Fase IV: Multiplataforma, Gerenciamento Semântico e Internacionalização, [...] (PASSERINO; BEZ, 2015, p. 16). O Scala foi tão bem aceito entre os familiares e profi ssionais que, de acordo com Passerino e Bez (2015, p.18): O Scala continua em desenvolvimento e aperfeiçoamento, com mais de 500 usuários em todo o Brasil e no exterior (Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia, Portugal, Itália, Espanha, entre outros) graças a sua disponibilidade também em Inglês e em Espanhol, além do Português, que foi a base original. 71 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 Quer saber como se benefi ciar do projeto Scala e quais estratégias o sistema possibilita ao sujeito com TEA a aumentar seu repertório de atividades? Acesse o site Escola Digital de Suelen Fernanda Machado e leia o artigo Scala – Comunicação Alternativa. Disponível em: https://escoladigital.org.br/odas/scala-comunicacao- alternativa. Passerino e Bez (2013, p. 13) explicam: O SCALA possui dois módulos: prancha, narrativas virtuais. No módulo prancha é possível construir pranchas de comunicação, no módulo narrativas visuais pode-se construir histórias. Além de funcionalidades comuns entre os aplicativos, como importar imagens, editar sons, salvar, exportar e gerenciar os diferentes arquivos gerados pelo sistema, cada módulo possui funcionalidades específi cas [...]. Assim, descreveremos brevemente algumas funções do sistema Scala, acompanhe. Após o login e senha aparecerá essa tela inicial, ou seja, tela prancha. FIGURA 10 – PRANCHA COM SEUS DIVERSOS MODULOS FONTE: Adaptada de <https://www.researchgate.net/publication/319381186/ fi gure/fi g1/AS:533344037203968@1504170535141/Figura-3-SCALA-Modulos- Prancha-e-Narrativas-Visuais_Q640.jpg>. Acesso em: 17 ago. 2020. 72 Comunicação Alternativa no TEA Que tal assistir ao vídeo a seguir com o tutorial de como funciona o sistema Scala. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=s8qgDlYa8TY&feature=youtu.be. A partir do módulo prancha, em sua parte superior, você encontrará a alternativa para utilizar dentro da prancha: construir narrativas visuais, histórias sociais ou mesmo manter comunicação livre. Feito a escolha, ao lado esquerdo tem uma aba para editar as imagens a serem usadas. Sobre a aba ou menu lado esquerdo, Passerino, Bez, (2013, p. 13) informa: O menu à esquerda apresenta ao usuário as categorias de imagens que podem ser utilizadas em todos os módulos enquanto a barra horizontal de menu apresenta suas funcionalidades. Através da escolha de um layout predefi nido, a pessoa pode preencher cada quadro clicando nas categorias de imagens. Na parte inferior há vários ícones, como abrir, salvar a qualquer momento fazendo download, desfazer, importar, exportar, imprimir, visualizar, entre outros. Nota-se a funcionalidade do sistema, e o quanto ele é amplo com suas várias opções. Por isso, desde sua criação passou por diversas fases para chegar ao que conhecemos hoje. FIGURA 11 – MÓDULO PRANCHA-COMUNICAÇÃO FONTE: Adaptada de <https://1.bp.blogspot.com/-Bj1SNoMY2Qw/U5TTsSrmNSI/ AAAAAAAAAJU/wdxG72uTndA/s1600/2.png>. Acesso em: 17 ago. 2020. 73 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 Agora chegou sua vez de praticar a comunicação por meio do sistema Scala, Projeto desenvolvido UFRGS, PPGIE e CNPQ traz muitas funcionalidades para o sujeito com TEA. Por ser gratuito, qualquer pessoa interessada pode se utilizar em muitas partes do mundo. Então, que tal iniciar por meio de um pequeno editorial? I) Acesse o link: http://scala.ufrgs.br/Scalaweb/INICIO/index.php. II) Faça um login e senha. III) Você receberá em seu e-mail um link para ter seu primeiro Para conhecer algumas funcionalidades do método Scala, atente-se ao artigo Comunicação Alternativa: Mediação para uma inclusão social a partir do Scala, da página 71 a 99. FONTE: <https://www.ufrgs.br/faced/parasemprelilianapasserino/>. Acesso em: 17 ago. 2020. Por tudo que foi mencionado, nota-se como o Scala respeita as especifi cidades dos seus usuários. Além disso, como ele é muito utilizado nas escolas, é importante destacar a fi gura do profi ssional que atende como mediador na aplicação do método SCALA. Estes precisam de uma formação prévia, para resultados mais positivos. Vá em frente, cadastre-se pelo portal da UFGRS, você receberá uma mensagem automática via e-mail, por parte da equipe responsável pelo projeto para utilizar o sistema disponível em: http:// scala.ufrgs.br/Scalaweb/INICIO/index.php. Agora, vamos ver o quanto você entendeu sobre o sistema Scala, respondendo a atividade a seguir: 74 Comunicação Alternativa no TEA acesso. Nessa etapa, poderá escolher um layout com um modelo diferente de prancha, e poderá iniciar uma conversa, ou mesmo construir uma história. IV) Na aba ao lado esquerdo, clique nas imagens e arraste para a prancha, forme frases ou crie histórias por meio do ícone narrativas visuais. FIGURA A – PRANCHA DO SCALA FONTE: <http://scala.ufrgs.br/Scalaweb/MODULO_PRANCHA/ index.php>. Acesso em: 17 ago. 2020. FIGURA B – CRIAÇÃO DE HISTÓRIA FONTE: <http://scala.ufrgs.br/Scalaweb/MODULO_HISTORIA/ index.php>. Acesso em: 17 ago. 2020. 75 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 FIGURA C – COMUNICAÇÃO LIVRE FONTE: <http://scala.ufrgs.br/Scalaweb/MODULO_ PRANCHA/index.php>. Acesso em: 17 ago. 2020. Se você conhece um sujeito com TEA, ou familiares ou quem sabe é um profi ssional da área, que tal apresentar como funciona esse sistema? vá em frente, é gratuito. R.: ____________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ 6 SISTEMA DE COMUNICAÇÃO BASEADO EM IMAGENS As pessoas são diferentes e, por isso, cada um aprende e se expressar de formas diferentes. Alguns se expressam e entendem melhor por meio visual, outros por meio auditivo, outros por meio cinestésico e, ainda, há aqueles que se identifi cam com uma comunicação digital. É fato que vivemos em um mundo imagético, em que uma imagem pode signifi car muitas palavras. A imagem é capaz de expressar e despertar nossos sentidos, por exemplo, uma cena, fotografi a, ilustração, entre outros. Conforme Bosi (1988, p. 65), “o homem de hoje é um ser predominantemente visual”. 76 Comunicação Alternativa no TEA Considera-se, portanto, que a imagem se confi gura um dos meios mais utilizados de informação, muitas vezes uma representação gráfi ca, na maioria das vezes fi ca melhor gravado, pois dá muito mais signifi cado que muitas palavras. Agora, imagine quando essa imagem ou fi gura é bem elaborada e ainda com função, ou seja, com um objetivo a atingir para assimilar conceitos. É neste sentido, que os sistemas Scala, PECS e Cards foram desenvolvidos para atingir o objetivo que é o de auxiliar as pessoas com défi cits de comunicação. FIGURA 12 – VISUAL, AUDITIVO E CINESTÉSICO OU DIGITAL? FONTE: <https://static.wixstatic.com/media/db450f_ c4c90631a04d40fc84330dcc8624570c~mv2.gif>. Acesso em: 17 ago. 2020. 6.1 SISTEMA PECS Pesquisas sobre a comunicação funcionalpara a pessoa com TEA não é algo novo. Passerino e Bez (2015, p. 27) diz que, “o trabalho de Bondy e Frost (1994), que em princípios da década de 1990, propôs um sistema denominado Picture Exchange Communication System (PECS)”. Passerino e Bez (2015) continua discorrendo sobre o (PECS). Ela encontra características favoráveis e desvantagens: O objetivo do PECS é incentivar a comunicação espontânea a partir do uso de reforçadores potenciais com imagens e trocas físicas. O sistema é organizado em seis níveis hierárquicos de passos, e também foca num método de análise de conduta e de ensino de comportamentos no PECS. A crítica que estabelecemos ao PECS é seu forte controle comportamental, todavia, destacamos seus aspectos positivos, como o pequeno número de habilidades necessárias como pré-requisitos para uso de PECS, tais como atenção conjunta, imitação ou contato visual (PASSERINO; BEZ, 2015, p. 27). O sistema PECS é um Sistema de comunicação através da troca de fi guras, pode ser usado por meio de blocos de imagens físicas, muitos programas de 77 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 softwares passaram a usar o PECS para potencializar suas características, fi car mais dinâmico e atraente. A seguir fi guras (PECS) que podem ser confeccionadas por familiares e profi ssionais. Mello (2007, p. 39) indica que: Tem sido bem aceito em vários lugares do mundo, pois não demanda materiais complexos ou caros, é relativamente fácil de aprender, pode ser aplicado em qualquer lugar e quando bem aplicado apresenta resultados inquestionáveis na comunicação através de cartões em crianças que não falam, e na organização da linguagem verbal em crianças que falam, mas que precisam organizar esta linguagem. FIGURA 13 – SISTEMA PECS – TROCA DE FIGURA FONTE: <http://tismoo.us/wp-content/uploads/2018/05/1dF8iIm_ qR4xK3Gdv6Jvw-w.jpeg>. Acesso em: 17 ago. 2020. FIGURA 14 – BLOCO DE PECS FONTE: <https://neuroconecta.com.br/wp-content/uploads/2018/04/Uso-de-PECS-para- ajudar-na-comunica%C3%A7%C3%A3o-funcional.png>. Acesso em: 17 ago. 2020. 78 Comunicação Alternativa no TEA Sobre esse sistema ser utilizado por meios digitais, Cortes (2015, p. 34) nos conta que “o programa de computador mais utilizado é o Boardmaker, que é um banco de dados que contém mais de 3.500 símbolos de comunicação. O sistema atua na classifi cação de símbolos, no manejo e utilização com função comunicativa”. Como exemplo, temos a fi gura a seguir. FIGURA 15 – BOARDMAKER FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/a5/62/52/ a562524b693065b9a10ad0073c97ad2a.jpg>. Acesso em: 17 ago. 2020. Quer saber mais sobre software Boardmaker? Em inglês Board signifi ca “prancha” e maker signifi ca “produtor”. Acesse o site: http:// visaoautista.blogspot.com/p/software-boardmaker.html. Crianças utilizando PECS podem aprender a se comunicar primeiro com fi guras isoladas, mais tarde, porém, aprendem a combinar imagens para assimilar diversas estruturas gramaticais, relações semânticas e funções comunicativas. O PECS trabalha com atividades e materiais funcionais e pode ser utilizado com o aluno que tenha fala suplementando-a como comunicação aumentativa e/ou como método de comunicação alternativa, quando a fala não se desenvolveu ou foi perdida. Visa espontaneidade e generalização. Quanto mais fatores de generalização forem considerados, melhor comunicador o aluno será. Essa 79 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 ferramenta é muito importante pois possibilita não apenas a comunicação independente, como também ensina a esperar, a pedir ajuda, a aceitar o não e, em alguns casos, a comentar o que vê e o que escuta. FONTE: RAMOS, C. Comunicação e PECS (Picture Exchange Communication System). Revista autismo: informação gerando ação, ano 1, n. 1, p. 36, abr. 2011. Disponível em: https://www.revistaautismo.com.br/numero/001/revista- autismo-numero-1/. Acesso: em 20 abr. 2020. Vale ressaltar que só acontece a comunicação quando ocorre a troca em uma relação, ou seja, quando o sujeito troca a fi gura e espera uma resposta ou um retorno. “Essa ‘ponte’ não se ampara meramente só na tecnologia. Ao se referir a sistemas de CA, estamos nos referindo a todos os sistemas tecnológicos, humanos e sociais” (PASSERINO; BEZ, 2015 p. 32). Além disso, existem muitos outros sistemas físicos e digitais que favorecem a comunicação e melhora do comportamento, favorecendo a vida social do autista, entre eles, os mais conhecidos são: TEACHH, ABA, Denver e Sonrise. O sistema Scala, PECS e Cards são os desenvolvidos em específi cos para estimular, complementar e/ou suplementar a linguagem e comunicação da pessoa com TEA ou qualquer outro sujeito que tenha défi cits na comunicação. Acesse o link https://www.youtube.com/watch?v=9J4o52gVxKge e assista ao vídeo PECS Comunicação, este vídeo mostra de forma dinâmica e bem simples sobre o PECS. 6.2 SISTEMA CARDS Até aqui fi cou muito mais que comprovado, pela teoria e pela prática, o poder de fi xação que as fi guras têm no aprendizado, desde a fase infantil até a adulta da pessoa com défi cit de fala ou comunicação. Também observamos que nem sempre aparatos tecnológicos estão disponíveis para uso, é nesse contexto que entram os Flashcards que diferem um pouco do sistema PECS. 80 Comunicação Alternativa no TEA Flashcard é uma palavra em inglês que conota a ideia de representação gráfi ca prática (fl ash=rápido/card=cartão). São nada mais nada menos que pequenos cartões que auxiliam no resumo e memorização da matéria. É um método que funciona através da repetição, associação e memorização, proporcionando uma aprendizagem rápida e fl uida. Podem ser facilmente elaborados. FONTE: <https://silabe.com.br/blog/fl ashcards-o-que-sao-e-como- usar-em-sala/#Flashcards_o_que_sao>. Acesso em: 17 ago. 2020. O sistema Cards está pautado e é utilizado em formato de cartões fi chas físicas, isso não quer dizer que as fi guras dos cartões não possam ser criadas também por meio de programas tecnológicos, podem sim, mas sua essência sempre será o material em cartões fi chas. FIGURA 16 – FLASH CARDS FÍSICOS FONTE: <https://silabe.com.br/blog/fl ashcards-o-que-sao-e- como-usar-em-sala/>. Acesso em: 17 ago. 2020. 81 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 FIGURA 17 – FLASH CARDS DO ABC FONTE: <https://bit.ly/2E8rNN1>. Acesso em: 17 ago. 2020. FIGURA 18 – FLASH CARDS VERBOS/OPOSTOS FONTE: <https://ae01.alicdn.com/kf/Hab0eababf4a34f0882ab0fcc04f da90dF/46-grupos-conjunto-de-verbos-irregulares-montessori-ingl-s- palavra-bolso-cart-o-de-jogo-fl ash.jpg>. Acesso em: 17 ago. 2020. 82 Comunicação Alternativa no TEA Acesse o material do MEC, Portal de ajudas técnicas. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ajudas_tec.pdf. 6.3 LÍNGUA DE SINAIS COMO ALTERNATIVA NA COMUNICAÇÃO DA PESSOA COM TEA Como vimos, todo esse capítulo ressaltou a comunicação como sempre presente na humanidade. Nesse sentido, Von Tetzchner (1997) cita o uso da Língua de sinais como um recurso importante quando o aluno não tem a possibilidade de falar, pois ela consegue estabelecer uma comunicação face a face. O aprendizado da língua de sinais requer habilidades motoras para aprendizagem e realização dos sinais, nesse caso, a pessoa com defi ciência intelectual associada à questão motora, poderão ter difi culdades em aprender língua de sinais. Ela se confi gura uma alternativa quando outros sistemas de comunicação falham. FIGURA 19 – PECS E LÍNGUA DE SINAIS FONTE: <https://librasatividadesnovas.blogspot.com/2013/10/lingua- portuguesa-para-surdos.html>. Acessoem: 21 abril 2020. Atualmente, além da comunidade Surda, outras comunidades também têm adotado as línguas de sinais como meio para comunicar-se. Aqui, no Brasil, a nossa língua de sinais é a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), reconhecida 83 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 como meio legal de comunicação e expressão da comunidade Surda, conforme a Lei nº 10.436/2002. Assim, muitos profi ssionais terapeutas têm indicado e até utilizado a Libras como uma comunicação alternativa para autistas não verbais, crianças ou adultos. Nesse contexto, mesmo que a pessoa com TEA não a utilize de forma gramaticalmente correta, pois ela é uma língua cientifi camente reconhecida, o objetivo é terem um meio de alternativa comunicacional funcional no meio social que vivem. É conveniente que familiares e os profi ssionais que atendem a pessoa com TEA na escola também participem desse novo aprendizado, em língua de sinais, isso facilitará sua comunicação, sociabilidade e sua aprendizagem ao seu entorno, eles terão pessoas para compartilhar o que estão aprendendo, em outras palavras, falaram a mesma língua ou o mesmo sistema alternativo de comunicação, mesmo que sejam apenas os sinais básicos utilizados no nosso cotidiano. Destacamos que a escolha do método mais adequado de comunicação para qualquer pessoa com défi cit na comunicação e linguagem, deve ser unânime entre as partes que envolvem a pessoa, a família e o grupo multidisciplinar que o atende, principalmente o terapeuta ou profi ssional especialista na fala. De fato, as crises causadas por alguma desorganização no autista, que já é tão exposto na sociedade como tendo comportamento difícil de entender, poderão ser amenizadas, a partir do uso das ferramentas de CAA, aqui citadas, contribuirão signifi cativamente na articulação do seu convívio social e sua aprendizagem em todos campos da vida da pessoa com TEA. Sem dúvida concordamos com Cavaco (2014, p. 46) “compreender o autismo é abrir as portas para o entendimento do nosso próprio desenvolvimento [...]”. Assim, respeitar as singularidades de cada pessoa autista, seja ele verbal ou não, vai ao encontro de tudo que foi exposto. Quer saber um pouco mais sobre a inserção da Língua de sinais como apoio e alternativa de comunicação para autista? Assista ao vídeo Autismo – LIBRAS no auxílio dos não verbais. A psicóloga especialista em LIBRAS, Letícia Segrete, explica como a língua de 84 Comunicação Alternativa no TEA Por meio de fi guras físicas ou digitais, o sistema PECS é um dos sistemas mais conhecido e utilizado entre as instituições e família para auxiliar na comunicação da pessoa com TEA não verbal. Sobre o exposto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- Incentiva a comunicação espontânea a partir do uso de reforçadores potenciais com imagens e trocas físicas. PORQUE II- Como possibilidade comunicativa, requer habilidades motoras para aprendizagem e realização dos sinais. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justifi cativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justifi cativa da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. sinais pode auxiliar na comunicação e desmistifi ca o assunto para que entendam como os sinais são importantes para atingir a fala. FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=Q6zuoFQfLDw>. Acesso em: 17 ago. 2020. Finalizamos por aqui esse capítulo. Vamos para atividade fi nal? 85 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Conforme mencionado, comunicamo-nos a todo o tempo, seja através de sentimentos, sensações, fala, gestos, imagens, desenhos, proporcionando a troca de dados entre pessoas de diferente tradições e localidades. E, na era da tecnologia, essa comunicação se torna ainda mais ativa. Para algumas pessoas com a defi ciência na linguagem, comunicar-se torna-se um desafi o. No caso da pessoa com TEA, esse défi cit encontra-se mais prejudicado em autistas não verbais, trazendo grandes prejuízos desde a infância, gerando desorganizações, angústias e até sofrimento para a pessoa autista e sua família. Esse défi cit na comunicação da pessoa com TEA tem impulsionado profi ssionais de áreas interdisciplinares a desenvolver metodologias e ferramentas com o objetivo de auxiliar e suavizar as tensões comunicacionais e interativas entre a sociedade e o autista. Dessa forma, Pereira (2016, p. 29) diz que se torna necessário: Recorrer a recursos, ferramentas, metodologias e procedimentos que possam ajudar a ultrapassar a barreira da ausência da comunicação oral, sendo o recurso a sistemas aumentativos e alternativos de comunicação uma possibilidade para aquisição da linguagem. Nesse sentido, instrumentos como PECS, PIC, Cards e ferramentas tecnológicas como Scala, são alternativas não só como meio de alfabetizar, comunicar-se e socializar-se, mas com a proposta de letramento, ou seja, saber usar a escrita e leitura com funcionalidade em vários contextos sociais e não só em família. O sistema Bliss e SPC têm sido utilizados com muito sucesso na promoção da comunicação e interatividade, reforçando a importância para que o processo de trocas de informações e elementos sociais e cognitivos seja mediado por outro ou de forma autônoma. Destacamos que, de acordo com o conceito de CAA, o objetivo desses sistemas não é substituir a fala do sujeito autista, mas complementar ou potencializar a capacidade de linguagem e comunicação do autista. Além disso, durante os estudos apresentamos a possibilidade da pessoa com TEA, em específi co não verbal, aprender língua de sinais, no caso do Brasil, a Libras, como uma alternativa de comunicação aliada ou não com os outros sistemas. 86 Comunicação Alternativa no TEA REFERÊNCIAS BESSA, D. D. Teorias da comunicação. Brasília: Universidade de Brasília, 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/profunc/10_2_ teor_com.pdf. Acesso em: 22 ago. 2020. BONDY, A. S.; FROST, L. A. The Picture exchange communication system. 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Dissertação (Mestrado em Ciências Empresariais) – Instituto Politécnico de Setúbal, Setúbal, 2016. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/17915/1/Laura%20 Devesa_140327005%20Ci%C3%AAncias%20Empresariais.pdf. Acesso em: 22 ago. 2020. GALVÃO, M. T. G. et al. Análise da comunicação proxêmica com portadores de HIV/AIDS. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 14, n. 4, p. 491-496, ago. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-11692006000400004&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 22 ago. 2020. GROSKO, D. C. Comunicação alternativa no contexto escolar. 2016. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/ pdebusca/producoes_pde/2016/2016_pdp_edespecial_unicentro_ deboracristinagrosko.pdf. Acesso em: 22 ago. 2020. HALL, S. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Educação & Realidade, v. 22, n. 2, p. 15-46,1997. LIMA, M. do S. C. B. M. 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Acesso em: 22 ago. 2020. 88 Comunicação Alternativa no TEA PASSERINO, L. M.; BEZ, M. R. Scala: tecnologia assistiva de comunicação alternativa. 2013. Disponível em: https://www.feevale.br/Comum/midias/ eb56fa2f-339b-4896-b55e-0c658b1a0c35/Scala%20-%20Tecnologia%20 Assistiva%20de%20Comunica%C3%A7%C3%A3o%20Alternativa.pdf. Acesso em: 22 ago. 2020. PELOSI, M. B. A comunicação alternativa e ampliada nas escolas do Rio de Janeiro: formação de professores e caracterização dos alunos com necessidades educacionais especiais. 2000. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000. PEREIRA, J. M. M. M. A Comunicação aumentativa e alternativa enquanto fator de inclusão de alunos com necessidades educativas especiais. 2016. Dissertação (Mestre em Ciências da Educação) – Escola Superior de Educação João de Deus, Lisboa, 2016. 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CAPÍTULO 3 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Indicar possibilidades de comunicações alternativas para pessoas com défi cits de comunicação. • Refl etir a infl uência do ambiente tecnológico para mediação na comunicação com a pessoa com TEA. • Compreender a importância dos dispositivos eletrônicos e digitais para potencializar a comunicação entre a sociedade e as pessoas com TEA. • Conhecer Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e suas subáreas na garantia de acesso à informação. • Analisar como o uso da comunicação suplementar ou alternativa pode minimizar as crises em pessoas com TEA. 90 Comunicação Alternativa no TEA 91 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Sabemos que o ser humano não nasce dominando o mecanismo da fala, leva-se algum tempo para isso acontecer. Alguns dominam mais depressa que outros. O fato é que não existe data precisa para determinar a normalidade. Relacionando a linguagem e a comunicação, Vygotsky (2001) deixa claro a importância da linguagem no desenvolvimento humano, pois ela permite a apropriação de sistemas de referência para desenvolver sua relação com o mundo, quando nos diz que, “a palavra é o signo que serve tanto para indicar o objeto como para representá-lo como conceito, sendo, nesse último caso, um instrumento do pensamento” (VYGOTSKY , 2001, p. 145). Sendo a palavra o signo, ela é parte da nossa linguagem expressada verbalmente ou não. Assim, esse signo se torna uma produção sociocultural produzidos pelos sujeitos, que implica na conversão dos saberes produzidos no ambiente social que vive. Com a internalização dos signos linguísticos, sejam eles verbais ou não, confi guramos que, para uma comunicação ser produtiva, ela precisa atingir seu objetivo, que é o de transmitir uma mensagem com clareza, utilizando os mais diversos tipos de canais de comunicação. Conforme Pasqualini (2012, p. 3), “o pressuposto dessa concepção prioriza a relação do sujeito com a língua e suas condições de uso, considerando-a não só como instrumento de informação, mas constitutiva do homem, como resultado das interações sociais”. Ainda, de acordo com Bordenave (1986), a comunicação se confunde com a vida, comunicamo-nos tanto quanto respiramos ou andamos, “somente percebemos a sua importância quando, por acidente ou uma doença, perdemos a capacidade de nos comunicar” (BORDENAVE, 1986, p. 17). Para isso acontecer, há muitos fatores envolvidos, e quando esses fatores falham, é preciso buscar outras estratégias ou outros meios de comunicação alternativa. 92 Comunicação Alternativa no TEA FIGURA 1 – NINGUÉM ME ENTENDE FONTE: <https://im-h-a-c-k-e-d.tumblr.com/post/41489478872>. Acesso em: 27 ago. 2020. ´ Antes de apresentarmos os fatores envolvidos para efetivar a comunicação, é relevante entendermos o conceito da teoria da comunicação. Apresentamos a teoria tradicional da comunicação, segundo Telles (2009 apud VANOYE, 2007, p. 3), que estabelece que a comunicação basicamente se processa a partir de sete elementos: O responsável pela transmissão da informação proveniente desta fonte, seja pela linguagem verbal (oral ou escrita) ou por qualquer outro sistema de códigos, é entendido como sendo o emissor; a informaçãoa ser transmitida, que é veiculada pelo sistema de códigos manipulado pelo emissor, é denominada de mensagem; o elemento a que se destina a mensagem (um indivíduo, grupo ou auditório) é denominado genericamente como sendo o receptor; o campo de circulação da mensagem deve ser entendido como sendo o canal de comunicação, este é o responsável pelo deslocamento espacial e/ou temporal da mensagem; aquilo que veicula a mensagem e que é trabalhado pelo emissor, o sistema de signos, é compreendido como sendo um código, o qual pode ser verbal ou não verbal, o primeiro utiliza-se da palavra falada e/ou escrita e o segundo pode ser constituído pelos mais variados meios e técnicas; [...] (grifo nosso). Nesse contexto, Telles (2009 apud VANOYE, 2007) cita a relação entre os elementos ou objetos existentes para compor uma comunicação, estes elementos, são chamados de referente, entenda melhor, na continuação da citação: 93 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 O sistema de comunicação se completa com o elemento ao qual a mensagem se refere, que pode corresponder a objetos materiais ou a aspectos abstratos que compõem a situação ou o contexto da comunicação, a esse elemento dá-se o nome de referente (TELLES, 2009 apud VANOYE, 2007, p. 3). Assim, o texto ou a conversa realizada durante a comunicação recebe o nome de referente, ou seja, não há como fazer uma comunicação efetiva, somente com o emissor e o receptor e o sistemas de signo, sem haver uma articulação da mensagem com o elemento contexto, ou seja, seu referente contendo: objetos, materiais e vários aspectos. Nesse sentido, Pasqualini (2012, p. 14) explica os referentes: Há dois tipos de referentes: o situacional e o textual. O primeiro é constituído pelos elementos da situação do emissor e do receptor e pelas circunstâncias de transmissão da mensagem. Ocorre em situações nas quais emissor e receptor estão em contato direto com os referentes. [...]. O segundo referente, denominado textual, é constituído pelos elementos do contexto linguístico que estabelecem a conectividade e a retomada de ideias, construindo uma cadeia signifi cativa e garantindo a unidade do texto. Comunicação é uma palavra derivada do termo latino communicare, que signifi ca "partilhar, participar algo, tornar comum". Através da comunicação, os seres humanos e os animais partilham diferentes informações entre si, tornando o ato de comunicar uma atividade essencial para a vida em sociedade. FONTE: <https://www.signifi cados.com.br/comunicacao/>. Acesso em: 29 ago. 2020. FIGURA 2 – ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO FONTE: Adaptada de <https://www.portuguesdigital.com.br/wp-content/uploads/ Elementos-da-Comunica%C3%A7%C3%A3o-3.png>. Acesso em: 27 ago. 2020. A recepção da mensagem não signifi ca necessariamente a sua compreensão, porque pode haver falhas de comunicação em qualquer um dos níveis anteriormente mencionados. Assim, Pasqualini (2012, p. 5) conclui que: 94 Comunicação Alternativa no TEA A comunicação efetiva-se quando a mensagem incide de alguma maneira sobre o receptor. Entendida não necessariamente como compreensão, mas recepção. Para tanto, o homem utiliza sinais devidamente organizados de acordo com o espaço físico, o assunto tratado e os meios utilizados para a comunicação. A mensagem pode ser recebida, mas não compreendida, isso acontece principalmente quando o emissor e o receptor não possuem os mesmos signos linguísticos ou quando a comunicação é restrita por poucos signos, isto é, um vocabulário escasso. Contudo, não basta que apenas o código/signo seja comum para ambos ou que um desses elementos, ou seja, o emissor ou o receptor tenham um bom vocabulário para que se realize uma comunicação satisfatória, podem existir outras variáveis que incidam sobre a comunicação, principalmente acerca do contexto da comunicação da pessoa com TEA, que tem difi culdade em expressar uma linguagem que seja dialógica e entender os signifi cados das palavras do outro, o que pode resultar uma falha ou ruído na comunicação. FIGURA 3 – RUÍDO NA MENSAGEM FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-vG-c264MuLA/Vhkl7_Kb8lI/AAAAAAAAAfY/ ET44bBPgEAc/s1600/Capturar.JPG>. Acesso em: 27 ago. 2020. Quando falamos da importância de uma comunicação dialógica que cumpre sua função, lembramos de Freire (2011, p. 108) que diz: “existir humanamente é pronunciar o mundo, é modifi cá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, volta-se problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar”. Assim, para a pessoa com TEA manter uma mensagem dialógica com trocas de pronunciamentos com o mundo em sua volta, apresenta-se um desafi o devido à tríade de défi cits (comunicação, interação social, comportamento), 95 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 comprometendo fortemente suas relações. Acerca dessa temática, compartilhamos a fala de Passerino et al. (2013, p. 624): No caso do autismo, pesquisas, tanto sobre as competências linguísticas, quanto as sociocognitivas, existiria um défi cit na leitura da mente em pessoas com autismo que afetaria a capacidade de atribuir estados mentais, compreender intenções, crenças e emoções de outras pessoas. Por outro lado, outras pesquisas parecem apontar a que os problemas de comunicação poderiam estar associados à atenção conjunta ou imitação mutua. Essa difi culdade do autista em ter a competência linguística de entender o pensamento do outro, segundo Passerino (2013), afeta diretamente a capacidade na abstração de emoções pessoais e alheias, difi cultando a recepção e emissão da mensagem. Klin (2006) explica o que acontece, em geral, na pessoa com TEA, há o que ele chama de: “a não supressão ou anulação da produção vocal que acompanha os pensamentos introspectivos” (KLIN, 2006, p. 8). Assim, o processo na interação como um dos envolvidos apresentará falhas na construção e na compreensão dos signifi cados, bem como na forma da linguagem expressada. Conforme bem representado fi gurativamente por Tramonte (2015) em seu livro Humor Azul: o lado engraçado do autismo (grifo nosso). FIGURA 4 – COMO O PENSAMENTO DO AUTISTA SE MOVE FONTE: Tramonte (2015, p. 75) Se essa comunicação não se dá por meio verbal (escrita, falada), esses processos dialógicos sociais podem ocorrer por outros meios, outros objetos, conforme relacionou Vygotsky (2001), anteriormente. Meios que consigam estabelecer esse processo o mais realista possível na interação social (sujeito com sujeito). Nesse sentido, podemos enxergar a tecnologia também como uma 96 Comunicação Alternativa no TEA Nos subtópicos anteriores, apresentamos os fatores envolvidos para efetivar uma comunicação funcional, seja ela verbal ou não verbal, a qualquer indivíduo. Nesse sentido, apresentamos o conceito da teoria tradicional da comunicação, segundo Telles (2009 apud VANOYE, 2007). Sobre o conceito da teoria tradicional da comunicação, associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Emissor. II- Receptor. III- Mensagem. IV- Canal de comunicação. V- Código. ( ) O sistema de signos. ( ) A informação a ser transmitida. ( ) O responsável pela transmissão da informação. ( ) A que se destina a mensagem. ( ) O campo de circulação da mensagem. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I – III – II – IV – V. b) ( ) V – III – I – II – IV. c) ( ) III – II – I – IV – V. d) ( ) II – IV – III – V – I. e) ( ) III – I – II – IV – V. linguagem, possuidorade um signo sócio-histórico, quando se permite a utilização dessa ferramenta como representações mentais da linguagem. É o que veremos a partir de agora. Aprofunde-se nos elementos necessários para efetivar a comunicação, assistindo ao vídeo Português: elementos básicos da comunicação. FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=eXJq2i3EnCs>. Acesso em: 29 ago. 2020. 97 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 2 O PARADIGMA DO AMBIENTE TECNOLÓGICO FIGURA 5 – TECNOLOGIAS NAS MÃOS FONTE: <https://www.aconteceempetropolis.com.br/wp-content/ uploads/2018/08/tecnologia-1.jpg>. Acesso em: 27 ago. 2020. Para entender melhor a utilização de Tecnologias de Comunicação Alternativa para as pessoas com TEA, inicialmente, é importante dialogar sobre o conceito do termo de tecnologia. Pinto (2005) aponta para a existência de várias acepções do termo tecnologia, porém denota quatro signifi cados centrais, os quais incorporam as diversas concepções: a) tecnologia como logos da técnica ou epistemologia da técnica; b) tecnologia como sinônimo de técnica; c) tecnologia no sentido de conjunto de todas as técnicas de que dispõe determinada sociedade; d) tecnologia como ideologização da tecnologia. O primeiro signifi cado é aquele que, conforme se observará, carrega o sentido primordial do termo tecnologia; já o último, o que trata das ideologizações da tecnologia, é aquele que, na sociedade moderna, tem fundamental relevância e, por isso mesmo, será objeto de análise especial por parte do autor (PINTO, 2005, p. 5). Iremos nos ater ao que Pinto (2005. p. 5) chama de tecnologia no sentido de “conjunto de todas as técnicas de que dispõe determinada sociedade”, visto que é a interpretação que mais se aproxima para compreendermos o comportamento da pessoa com TEA em sociedade. Ao conceituar a tecnologia como “conjuntos de todas as técnicas”, ele se refere a um tipo de tecnologia de forma global, histórica e social, contudo, sem deixar de estar atrelado aos outros termos. 98 Comunicação Alternativa no TEA Outra concepção de tecnologia que trazemos é, segundo Oliveira (2001, p. 10), “refere-se a arranjos materiais e sociais que envolvem processos físicos e organizacionais, referidos ao conhecimento científi co aplicável”. Assim como Pinto (2005), percebe-se o conceito de tecnologia como produto do fazer do homem para a sociedade, em constante mudança. Com isso, concordam Jacaúna e Rizzatti (2018, p. 2), “[...] estamos na era da tecnologia e da informação, convivemos em uma grande evolução de recursos tecnológicos, especialmente aqueles oriundos da microinformática [...]”. É fácil entendermos o porquê vivemos na era da tecnologia, conforme Meirelles (1994, p. 1): Para receber informação de alguma fonte, realizar algo com essa informação e transmiti-la para outra pessoa ou sistema. Cada vez mais a maioria das pessoas estará envolvida na manipulação e transmissão de informação. Uma nova sociedade na qual as pessoas transformam a informática em ferramenta que lhes permite amplifi car a inteligência humana e adquirir a informação necessária para explorar novos sistemas de educação, saúde, manufatura, governo, entre outros. Todavia, para que se respeitem e se reconheçam as inúmeras diferenças, é preciso ação de políticas públicas. Neste seguimento, brevemente, contextualizamos sobre as leis que amparam as pessoas com Defi ciência Comunicativa. Aqui no Brasil, foi em meados nos anos 1990 que iniciaram investimentos crescentes em políticas de inovação e tecnologia. Para início, podemos citar a Declaração de Salamanca, de junho de 1994, sobre o uso da tecnologia nas escolas com o fi m de auxiliar na aprendizagem item: C. Recrutamento e treinamento de educadores, encontra-se a seguinte afi rmação: 31. Tecnologia apropriada e viável deveria ser usada quando necessário para aprimorar a taxa de sucesso no currículo da escola e para ajudar na comunicação, mobilidade e aprendizagem [...]. Preparação para a vida adulta. 53. [...] Escolas deveriam auxiliá-los a se tornarem economicamente ativos e provê-los com as habilidades necessárias ao cotidiano da vida, oferecendo treinamento em habilidades que correspondam às demandas sociais e de comunicação e às expectativas da vida adulta. Isto implica em tecnologias adequadas de treinamento, incluindo experiências diretas em situações da vida real, fora da escola (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p. 9). Sobre os itens citados, é visível que, inicialmente, o incentivo para promoção do uso de tecnologia no âmbito escolar deve partir do poder público, melhorando o currículo da escola, inserindo a tecnologia como forma a prover habilidades tecnológicas para professores e alunos, com objetivos além de pedagógicos, para utilizar em todos os ambientes da sociedade. 99 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 Pode-se citar também o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Defi ciência – Plano Viver sem Limites, criado em 2011, que garante um sistema educacional inclusivo, por meio do Decreto nº 7.612, de 17 de novembro de 2011, Art. 3º “[...]. VIII- promoção do acesso, do desenvolvimento e da inovação em Tecnologia Assistiva” (BRASIL, 2011, s.p.). A lém disso, o Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Defi ciência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Neste documento em específi co, estabelece no artigo 9 em seu primeiro parágrafo: Com vista a permitir que as pessoas com defi ciência vivam com independência e participem plenamente em todos os aspectos da vida, […] o acesso, [...], aos transportes, à informação e comunicações, incluindo os sistemas e as tecnologias da informação e de comunicação, e a outros equipamentos e serviços abertos ou prestados ao público, tanto nas zonas urbanas como nas rurais. Estas medidas [...] incluem a identifi cação e a eliminação de obstáculos e de barreiras à acessibilidade (BRASIL, 2009, s.p.). No escopo da citação fi ca destacada a importância do uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), na garantia de acesso à informação e à comunicação para pessoas com defi ciência. Assim, a tecnologia surge como uma ferramenta considerada funcional na promoção para inclusão. As TIC podem interferir e mediar os processos do conhecimento e comunicação envolvendo a pessoa com TEA, isso porque ela abrange um conjunto de tecnologias, entre elas a de Tecnologia Assistiva (TA), conforme Bersch (2007, p. 31): A tecnologia assistiva é uma expressão utilizada para identifi car todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com defi ciência e, consequentemente, promover vida independente e inclusão. Note que, fala-se de um arsenal de recursos e serviços, mas será que se refere apenas na área da tecnologia por meio de programas de computadores, tablets, celular etc.? Não, esse arsenal, também conforme Bersche (2017. p. 5), podem ser de baixo recurso, ou seja: Materiais e produtos que favorecem desempenho autônomo e independente em tarefas rotineiras ou facilitam o cuidado de pessoas em situação de dependência de auxílio, nas atividades, como se alimentar, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades pessoais. 100 Comunicação Alternativa no TEA FIGURA 6 – EXEMPLOS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA NÃO DIGITAL FONTE <https://bit.ly/32zzPGU>. Acesso em: 27 ago. 2020. Quer se aprofundar nessa temática? Acesse o link http:// tecassistiva.blogspot.com/2011/06/categorias-de-tecnologias- assistivas.html e leia o artigo Categorias de Tecnologias Assistivas. Como subárea de Tecnologia Assistiva (TA), oucomo também é conhecida – Tecnologia Adaptativa –, temos a Comunicação Alternativa (CA), conforme já abordado seus conceitos no Capítulo 2, ela aborda as ajudas técnicas para comunicação. Como bem expressa Bersch (2017, p. 5): É destinada a atender pessoas sem fala ou escrita funcional ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade em falar, escrever e/ou compreender. Recursos como as pranchas de comunicação, construídas com simbologia gráfi ca [...] letras ou palavras escritas, [...] para expressar suas questões, desejos, sentimentos, entendimentos. A alta tecnologia dos vocalizadores (pranchas com produção de voz) ou o computador com softwares específi cos e pranchas dinâmicas em computadores tipo tablets, garantem grande efi ciência à função comunicativa. Assim, na condição de CA, existem variados sistemas e suportes de baixa e alta tecnologia, para favorecer a autonomia e interação comunicativa entre as pessoas com défi cit de fala e a sociedade, destacamos novamente que, dentro da área da Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e da CA, há uma grande diversidade de terminologias e que necessitam ser melhor estudadas e entendidas para não confundir o leitor, mas o objetivo fi nal de todas elas é facilitar a comunicação e socialização do sujeito. 101 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 Por meio do desenvolvimento de recursos de acessibilidade, as ferramentas TIC abrem uma possibilidade de combate aos preconceitos, impostos pelas limitações, oferecendo uma oportunidade de condições para interagir e aprender, explicitando com mais facilidade e sendo tratado como um “diferente-igual” ou seja, “diferente” por sua condição de pessoa com defi ciência, mas ao mesmo tempo “igual” por interagir, relacionar-se e competir em seu meio com recursos mais poderosos, proporcionados pelas adaptações de acessibilidade de que dispõe. FONTE: <https://www.infojovem.org.br/infopedia/descubra-e-aprenda/TIC/as-TIC- e-as-pessoas-com-defi ciencia/>. Acesso em: 27 ago. 2020. Salientamos que a CA e todos outros sistemas de linguagem não devem substituir a fala se o sujeito a usa para se comunicar, pois são recursos para auxiliar e/ou ampliar a comunicação de pessoas com TEA. Assim, de forma gradativa, seja direta ou indireta, a tecnologia está adentrando na vida do sujeito autista, seja a partir de políticas públicas ou por iniciativas educacionais, familiares ou pessoais. Assista a um vídeo do Grupo Conduzir, referência no tratamento de crianças autistas, com o tema: Métodos de comunicação alternativa e aumentativa da fala. FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=rgTPerLzqrk>. Acesso em: 29 ago. 2020. Na sequência, brevemente, interpretaremos a tecnologia e a pessoas com TEA em todos os âmbitos da sociedade. 102 Comunicação Alternativa no TEA 3 TECNOLOGIAS COMO CONTRIBUIÇÃO PARA MINIMIZAR AS CRISES DA PESSOA COM TEA Já vimos que o desenvolvimento das tecnologias da comunicação e informação (TIC) favorecem o surgimento de novos caminhos para a construção do conhecimento e de inovações de qualquer sujeito. Sobre a importância da informação, Wiener (2003, p. 17) indica que “[...] informação é o termo que designa o conteúdo daquilo que permutamos com o mundo exterior ao nos ajustar a ele, e que faz com que nosso ajustamento seja nele percebido. Viver de fato é viver com informação”. Por esse ângulo conseguimos enxergar a dinamicidade da tecnologia e a comunicação por meio de suas diversas ferramentas. Assim, ela pode apresentar-se como importante aliada no processo de inclusão das pessoas com TEA em toda sociedade, tornando-se um instrumento importante na produção de conhecimento, comunicação e como uma alternativa para reduzir crises de ansiedades e comportamentais. Essa mediação, por meios tecnológicos, tem o interesse de oportunizar ou potencializar a comunicação entre os sujeitos com TEA e o seu meio, podendo ser de forma individual ou compartilhada. Dessa forma, será que dentro do amplo contexto da tecnologia podemos encontrar estratégias de comunicação para pessoa com TEA? Que abordagens e metodologias comunicativas e alternativas são mais adequadas para cada nível? Existem muitos dispositivos para fazer tal mediação? Vamos abordar tais questões de forma breve, entendendo que a revolução tecnológica trouxe profundas transformações para a humanidade, em que a informação e comunicação têm sido repensadas em face de tantos novos recursos tecnológicos. 103 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 FIGURA 7 – TEA E A TECNOLOGIA FONTE: <https://www.larassegna.it/wp-content/uploads/2015/08/2042012103910- inclusionedigitale.jpg>. Acesso em: 27 ago. 2020. Na concepção epistemológica da Teoria Sócio-Histórica fala-se da importância da ação entre sujeitos ou “ação conjunta e interdependente de dois ou mais participantes e que produz mudanças tanto nos sujeitos como no contexto no qual a interação se desenvolve” (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 1967, p. 108). Essa interação que os autores se referem é uma ação conjunta gerada por fatores biológicos, porém, Facci (2004) ressalta que essa mediação entre seres humanos acontece também por meio dos instrumentos utilizados ao seu redor, por objetos construídos pela humanidade, note: São produtos da atividade cerebral, têm uma base biológica, mas, fundamentalmente, são resultados da interação do indivíduo com o mundo, interação mediada pelos objetos construídos pelos seres humanos” [...] (FACCI, 2004, p. 64). Conforme Facci (2004), a interação em pessoas com atrasos de linguagem pode ter resultados positivos por meio de vários instrumentos, e não necessariamente por outro ser humano. Os dispositivos eletrônicos e digitais estão crescendo em um ritmo acelerado, ganhando popularidade à medida que se tornam mais acessível. Nesse sentido, Aragão, Bottentuit Junior e Zaqueu (2019, p. 3) continua que: É importante aproveitar as habilidades que as crianças desta geração apresentam, como predileção por máquinas fotográfi cas, celulares, computadores, tablets, jogos, entre outros dispositivos a favor da sua interação, para realizar atividades que promovam o avanço do desenvolvimento infantil. 104 Comunicação Alternativa no TEA Como exemplo, pensemos em uma pessoa com TEA não verbal, hoje já e possível a captura ou reconhecimento por comando de voz nos dispositivos androides, entre outros, além disso, o contrário também acontece, ao clicar na imagem escolhida, o dispositivo vocaliza a voz, ou seja, essas novas tecnologias praticamente já fazem parte da vida diária desses sujeitos desde o seu nascimento. Sobre esse acontecimento, Costa, Duqueviz e Pedroza (2015, p. 2 apud FRANCO, 2013, p. 7; PRENSKY, 2001, s.p.) mostram que, “os usuários que nasceram a partir de 1990, em um mundo circundado pelas novas tecnologias e que usam as mídias digitais como parte integrante de suas vidas são chamados de nativos digitais”. Assim, segundo os autores supracitados, em nossos dias essa geração de nativos digitais independentemente de terem alguma defi ciência ou não tem inúmeras possibilidades de acesso às mídias digitais e eletrônicas, bem diferentes de gerações anteriores. Nesse sentido, favorece também meios novos para desenvolver habilidades de autoajuda, como interação social, comunicação, atenção, motivação, organização de hábitos diários, bem como conhecimento acadêmico. O desenvolvimento dessas novas habilidades tem impacto diretamente no comportamento amenizando as supostas crises de desorganização, que a pessoa com TEA venham a ter. A questão do comportamento relacionado a crises sempre foi uma preocupação dos genitores e profi ssionais que trabalham com pessoascom TEA. Conforme Bosa (2006, p. 4): Ainda que o estabelecimento de regras claras para lidar com essas difi culdades seja útil, saber como fazer amigos, entender os sentimentos e pensamentos das demais pessoas não são habilidades baseadas em regras que são aprendidas por meio do ensino. Parece que o treinamento de habilidades sociais é mais efi caz quando realizado em uma situação específi ca, pois cada situação exige uma resposta social diferente. O resultado das intervenções em grupos de habilidades sociais tende a ter efeito mais limitado, devido às difi culdades da criança em generalizar as habilidades adquiridas. Dessa forma, para a pessoa com TEA e a comunidade em que ela convive, observamos que as tecnologias quando bem utilizadas irá estimular e/ ou desenvolver habilidades necessárias a vida da pessoa, trazendo mudanças signifi cativas. 105 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 No ponto de vista tecnológico, existe uma diferença entre os termos “eletrônico” e “digital”. Um documento eletrônico é acessível e interpretável por meio de um equipamento eletrônico, podendo ser registrado e codifi cado em forma analógica ou em dígitos binários. Já um documento digital é um documento eletrônico caracterizado pela codifi cação em dígitos binários e acessado por meio de sistema computacional. Assim, todo documento digital é eletrônico, mas nem todo documento eletrônico é digital. FONTE: <https://www.estadovirtual.com.br/documento-digital-e- eletronico>. Acesso em: 29 ago. 2020. Diante de todo esse contexto, o universo de profi ssionais para desenvolver aplicativos e mídias para crianças com difi culdades de linguagem e comunicação, tem-se expandido acerca dos dispositivos desenvolvidos especifi camente para pessoas com TEA. Em geral, os profi ssionais envolvidos além de especialistas em tecnologias, são fonoaudiólogos e pedagogos que lidam diariamente no atendimento de crianças com TEA. Cesa e Mota (2017) nos dão uma informação que serve como alerta sobre o Comitê de Comunicação Suplementar e Alternativa (CSA) do Departamento de Linguagem da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa) quando diz que esse comitê visa: Organizar ações que ampliem a inserção da atuação do fonoaudiólogo na área, com discussões científi cas a respeito dos referenciais teóricos e práticos. A atuação fonoaudiológica nas práticas com CSA precisa ser ainda mais investigada e difundida, através de estudos baseados em evidências clínicas e científi cas (CESA; MOTA, 2017, p. 2). Assim, têm surgido vários estudos promissores baseados em muitas experiências, principalmente no que diz respeito a se trabalhar o comportamento, comunicação e aprendizado desses sujeitos. Um exemplo muito utilizado na CSA, por meio da tecnologia, estão as pranchas digitais, que é um modelo das pranchas físicas, conforme fi gura a seguir. 106 Comunicação Alternativa no TEA FIGURA 8 – PRANCHA CAA DIGITAL FONTE: <https://www.assistiva.com.br/CA01b.gif>. Acesso em: 27 ago. 2020. Nesse sentido, compartilhamos, a título de exemplo, um estudo interessante feito por Lima (2018) sobre o uso de Plataforma Educacional Assistiva com Fantoche Eletrônico, a fi m de contribuir para a afetividade e a comunicação das pessoas com Transtorno de Espectro Autista (TEA), por meio de contação de história usando um fantoche eletrônico. Lima (2018) baseou seus estudos na concepção de Tomasello (2003, p. 136) sobre a aquisição da linguagem da criança autista “compreender o signifi cado dos objetos; compreender a existência de si próprio; compreender as outras pessoas; compreender que faz parte de um meio e ater-se a ele”. FIGURA 9 – FANTOCHE ELETRÔNICO FONTE: <https://i.ytimg.com/vi/NR0E2LnHkAw/ maxresdefault.jpg>. Acesso em: 27 ago. 2020. Estudos e pesquisas como a de Lima (2018) surge da necessidade de entender e auxiliar a interação, comunicação e comportamento das crianças e adultos com TEA, com préstimos da (Comunicação Alternativa – CA e Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC). Sobre as tecnologias relacionadas ao uso de aplicativos Benedetti, (2015), disserta que: 107 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 [...] No entanto, o surgimento de novas tecnologias como os tablets e smartphones trouxe à tona uma nova área para exploração e difusão destes sistemas. Assim como ocorre no caso dos computadores já podemos encontrar opções para estas novas áreas. Existem opções tanto para a plataforma Android como para iOS, as mais relevantes no momento (BENEDETTI, 2015, p. 25). A citação deixa claro como a CA e seus recursos dentro dos sistemas de aplicativos, entre outros, fomenta alternativas comunicacionais. Mello e Sganzerla (2013) nos informam os sistemas ou plataformas operacionais utilizados para manipular os programas e aplicativos criados, observe: Comumente encontrados em computadores, estão presentes, também, nos dispositivos móveis, principalmente nos celulares e tablets. Dentre eles, destaca-se o sistema operacional Android. Este é um sistema operacional baseado em Linux e conta com a assinatura de criação da empresa Google (MELLO; SGANZERLA, 2013, p. 3). FIGURA 10 – LOGOMARCA GOOGLE/ANDROID FONTE: Mello e Sganzerla (2013, p. 3) Assim, a seguir listamos alguns aplicativos para seu conhecimento, que podem ser utilizados tanto na área da educação como socialmente, para qualquer pessoa com défi cit de comunicação, e, muito embora alguns foram criados especifi camente para os autistas não verbais, não signifi ca que não podem ser utilizados por quaisquer usuários. Acompanhem. 108 Comunicação Alternativa no TEA Observamos que o interesse de profi ssionais que trabalham com terapias de fala junto à tecnologia tem aumentado para desenvolver aplicativos, mídias para pessoas com difi culdades de linguagem e comunicação. Acerca dos dispositivos desenvolvidos, especifi camente para pessoas com TEA, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- Os profi ssionais envolvidos são especialistas em tecnologias, além de fonoaudiólogos e pedagogos, que lidam diariamente no atendimento de crianças com TEA. PORQUE II- A necessidade de entender e auxiliar a interação, comunicação e comportamento das crianças e adultos com TEA em sociedade, não necessariamente precisa da tecnologia. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justifi cativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justifi cativa da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II uma proposição verdadeira. Quer entender mais sobre o projeto Promoção do Interesse em Criança com Autismo a partir de uma Plataforma Educacional Assistiva com Fantoche Eletrônico? Acesse o site http://www.ufrgs.br/ppgie/defesas-1/teses/promocao-do-interesse- em-crianca-com-autismo-a-partir-de-uma-plataforma-educacional- assistiva-com-fantoche-eletronico. 109 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 3.1 ESTUDOS DE APLICATIVOS O ato de brincar é visto pelos especialistas na área como facilitador na aprendizagem de qualquer criança. Com respeito à criança autista, Cipriano e Almeida (2016, p. 1) nos diz que: O brincar também é feito como intervenção terapêutica, correlacionando sua relevância dentro do neurodesenvolvimento e assumindo o poder transformador e terapêutico que o lúdico tem na intervenção direta junto à criança com Autismo. Por isso iniciamos nossa pesquisa sobre os aplicativosque auxiliam na comunicação e vida de pessoas autistas, com uma plataforma que é muito difundida entre a comunidade de profi ssionais e familiares de autista por ser muito lúdica, é a plataforma Jade Autism. Conhece ou já ouviu falar? 3.1.1 Jade Autism FIGURA 11 – PLATAFORMA JADE FONTE: <https://jadeautism.com/wp-content/uploads/2019/07/ logo-jade-500.png>. Acesso em: 27 ago. 2020. É certo que hoje a tecnologia fez com que o brincar ganhasse novos signifi cados, sendo capaz de contribuir para o desenvolvimento cognitivo de qualquer criança e adolescente, especialmente quando bem utilizados em crianças e adolescentes que tem difi culdades de aprendizagem e atrasos no desenvolvimento cognitivo, como por exemplo, crianças e adolescentes com TEA. Dessa forma, o App Jade Autism vem com a proposta de brincar e aprender, como uma plataforma para crianças e adolescentes com autismo, com atraso no desenvolvimento ou difi culdade de aprendizado. Criado em 2018, já é considerado um dos melhores App na área de comunicação para autista, inclui tarefas interativas e inteligentes, elaboradas para 110 Comunicação Alternativa no TEA O site do aplicativo traz as principais características do Jade Autism: • O mecanismo simples de toque em cima (resposta de observação) e toque embaixo para seleção, o que facilita a compreensão da criança. • A diversidade de campos temáticos separados por categorias: alimentos, animais, cores, formas, letras e números, permitindo que a criança aprenda enquanto se diverte. • A simplicidade e objetividade das interfaces que têm, também, um toque lúdico para encantar a criança. • A ausência de anúncios. O Jade Autism é um ambiente completamente seguro para crianças, pois não há meios de um grupo externo entrar em contato com o pequeno. • O Jade Autism é desenvolvido com auxílio e acompanhamento de terapeutas e profi ssionais especializados. FONTE: JADE. Conheça a nova versão do Jade Autism. c2020. Disponível em: https://jadeautism.com/conheca-a-nova-versao-do- jade-autism/. Acesso em: 29 ago. 2020. estimular o desempenho visual, a atenção e o raciocínio lógico matemático das crianças que interagem por meio de mais de 732 atividades. Seguindo o fl uxo natural de aprendizagem, vai aumentando o nível de difi culdade respeitando o ritmo e a individualidade de cada um. Atualizado em 2020, passou a ter correção de erros. Segundo um dos desenvolvedores do App, Ronaldo Cohin, e sua equipe, o App faz parte da tecnologia Serious Games por causa da possibilidade da jogabilidade, aliado a Ferramentas Terapêuticas com a Facilidade e Inovação. O site do aplicativo explica qual o objetivo do App, note: O Jade desenvolve soluções terapêuticas gamifi cadas para crianças e adolescentes com defi ciências cognitivas. À medida que o paciente usa o aplicativo, métricas de prognóstico são geradas automaticamente para o terapeuta, garantindo um tratamento mais efi caz. [...] Com o auxílio de terapeutas e profi ssionais especialistas no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) da APAE-ES, parceira desde o início, desenvolveu um App baseado em jogos de associação de cores, números, letras, bichos e objetos (JADE, c2020, s.p.). 111 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 Neste App, os dados gerados a partir da interação dos participantes na plataforma fazem parte de relatórios de prognóstico e desempenho das crianças para que seus terapeutas possam acompanhar com mais exatidão o seu desenvolvimento e saber onde estão seus maiores desafi os. FONTE: <https://mwpt.com.br/aplicativo-inclui-criancas-e-jovens- com-autismo-no-mundo-digital/?utm_source=linkedin&utm_ medium=timeline&utm_campaign=liposts>. Acesso em: 30 ago. 2020. O App pode ser baixado em três línguas: português, inglês e espanhol. Está disponível gratuitamente para usuários de Android e IOS. Para fazer uso no PC, entre no site a seguir (http://jadeautism.com/), faça seu cadastro e comece a utilizar. Conforme as fi guras a seguir. FIGURA 12 – TELAS DO APP JADE AUTISM EM PC FONTE: <https://apps.apple.com/us/app/jade-autism/ id1473169233>. Acesso em: 15 mar. 2020. Conheça como funciona a plataforma Jade Autism em menos de um minuto, acessando o link https://www.youtube.com/ watch?v=1miPtJLzYIc. 112 Comunicação Alternativa no TEA 3.1.2 Terapia da linguagem e cognição com Mita FIGURA 13 – APLICATIVO MITA FONTE: <https://bit.ly/3banGvF>. Acesso em: 28 ago. 2020. O Mita é um aplicativo muito conhecido aqui no Brasil, muito embora não foi desenvolvido por profi ssionais brasileiros, pois, segundo informações do próprio site do MITA, ele foi criado pelo Dr. A. Vyshedskiy – neurocientista da Universidade de Boston, R. Dunn – especialista em desenvolvimento precoce infantil da Universidade de Harvard. Está fi cando muito popular nas clínicas brasileiras que fazem terapias de linguagem e cognição. Sobre as projeções ao utilizar esse aplicativo em pessoas com difi culdade na comunicação, note o que o próprio site do MITA explica: A habilidade da criança em perceber e responder a múltiplas pequenas variações visuais apresentadas simultaneamente, é a mais crítica. Esta habilidade é tipicamente afetada em indivíduos com autismo, levando àquilo que é comumente descrito como "super seletividade de estímulos" ou "visão de túnel". Melhorando a capacidade de responder a múltiplas pequenas variações tem mostrado conseguir reduzir essa super seletividade, que por sua vez leva a melhoramentos enormes na aprendizagem em geral (GOOGLE PLAY, 2020a, s.p.). O site continua dissertando algumas de suas características: • Cada jogo é adaptativo e entrega exercícios que estão no nível exato de difi culdade apropriado para sua criança naquele momento do desenvolvimento. • A seleção de jogos é adaptativa. Novos jogos serão automaticamente selecionados baseados no desempenho de sua criança. • O mecanismo simples de arraste-e-solte faz com que seja 113 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 fácil para que crianças toquem e movam objetos. Abordagem estruturada para exercícios cognitivos, com 6 jogos que as crianças podem concluir todos os dias antes de ganhar uma recompensa divertida no fi nal dos seus exercícios diários (GOOGLE PLAY, 2015, s.p.). Assista como funciona esse aplicativo a seguir, disponível em: https://play.google.com/store/apps/details?id=com.imagiration. mita&hl=pt_BR. 3.1.3 Matraquinha O Matraquinha é um aplicativo de comunicação alternativa para ajudar crianças e adolescentes com autismo a transmitirem seus desejos, sentimentos e necessidades mais básicas. Segundo o site do aplicativo (https://www. matraquinha.com.br/), ele foi criado em 2018 pelos empresários Grazyelle, Wagner e Adriano Yamuto. O projeto foi inspirado em Gabriel, de 9 anos, fi lho de Grazyelle e Wagner e sobrinho de Adriano, que foi diagnosticado com este transtorno de desenvolvimento quando ainda era bebê. O site continua: O usuário poderá se comunicar através de cartões digitais que utilizam o sistema PECS (Picture Exchange Communication System, ou Sistema de Comunicação por Troca de Figuras). Os cartões estão dentro de categorias, quando clicamos nas imagens, uma voz reproduz o que a imagem signifi ca, reproduzindo o que a pessoa deseja transmitir. É importante que no início a criança ou o adulto se familiarize clicando nos cartões para entender o signifi cado de cada um deles (MATRAQUINHA, 2018, s.p.). 114 Comunicação Alternativa no TEA FIGURA 14 – APLICATIVO MATRAQUINHA FONTE: <https://www.revistaversar.com.br/wp-content/uploads/2018/08/ matraquinha-696x392.jpg>. Acesso em: 28 ago. 2020. Observamos como o uso de PECS tem se tornado uma opção importante para reconhecimentode símbolos, objetos e ações, de forma a permitir que o usuário comunique seus desejos e necessidades. Conforme Aragão, Bottentuit Junior e Zaqueu (2019, p. 2). Tendo em vista a necessidade de encontrar novas metodologias para desenvolver a criança com TEA e utilizando a tecnologia como aliada desse processo, pois entendemos que estas crianças estão intimamente ligadas ao desenvolvimento tecnológico. O Matraquinha pode ser utilizado por qualquer pessoa com problema de linguagem. Está disponível gratuitamente para usuários de Android e IOS. Conheça como funciona o Matraquinha. Disponível em: https:// www.matraquinha.com.br/. 115 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 3.1.4 Picto TEA FIGURA 15 – PICTO TEA FONTE: https://lh3.googleusercontent.com/zhM4F03tCvrbo0DLFil5VmU8qI4MQ 2hggX1HaX17w-hLavIyv4PNOAEZ1wil9OrpoIE>. Acesso em: 38 ago. 2020. Lembra daquelas placas de trânsito ou símbolos espalhados por muitos lugares para representar o local ou informar vagas para defi cientes, placas de banheiros? O aplicativo Picto TEA utiliza esse tipo de fi guras ou pictogramas em um ambiente digital. Criado em 2018, o Picto TEA permite que você personalize o aplicativo de acordo com seis estágios com diferentes graus de difi culdade. À medida que a pessoa avança no aprendizado, ele pode personalizar inserindo mais pictogramas, formando categorias e ir construindo frases cada vez mais complexas, tudo por meio dos pictogramas (GOOGLE PLAY, 2020b, s.p.). Nesse sentido, lembramos da capacidade da pessoa com TEA entender por pistas visuais. Segundo estudos, Finkel, Williams (2001), Krantz, McClannahan (1998) e Shabani et al. (2002) comprovam que quanto mais concreta (com mais características físicas), estruturada e específi ca for o tipo de dica, melhor e mais rápido é o aprendizado de habilidades verbais, motoras e sociais de pessoas com TEA, se comparado com as dicas auditivas. O site do App Picto TEA (https://play.google.com/store/apps/details?id=ar. com.velociteam.pictoTEA&hl=pt_BR) nos informa que ele é gratuito e na versão mais atualizada foi incorporado novos idiomas: alemão, italiano e francês. 116 Comunicação Alternativa no TEA Acadêmico, você se interessou em conhecer e saber como funciona o aplicativo Picto TEA? Acesse o tutorial, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ISiiFN5tj3M. 3.1.5 Tradução de comandos em voz: Livox FIGURA 16 – LIVOX FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-BttH_RNUsyU/WZS_DOSFADI/ AAAAAAAAABY/MTmiof_xRLQErxTfC8AME0baWvEgxSyggCLcBGAs/ s1600/2.jpg>. Acesso em: 28 ago. 2020. O Livox, ou como denominado pelo seu projetista, Carlos Pereira, “Liberdade em Voz Alta”, foi lançado no ano de 2015. De acordo com o site do App Livox: Foi vencedor do prêmio da ONU de melhor aplicativo de empoderamento na inclusão, já foi traduzido até o momento para 25 idiomas. O principal objetivo é viabilizar uma comunicação alternativa para crianças, adolescentes e adultos que ainda não tenham total domínio da comunicação verbal. Possui cerca de 12 mil símbolos para produzir frases vocalizadas, comuns do cotidiano. O aplicativo oferece uma plataforma com sistema touch inteligente (LIVOX, 2015, s.p). Segundo Mello e Sganzerla (2013), trata-se de uma espécie de comunicação alternativa, destinada a pessoas sem fala, ou sem escrita funcional, ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade de falar e/ou escrever. Através do uso de imagens e sonorização de palavras, o site garante que este aplicativo permite ao usuário: 117 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 • falar sobre emoções e necessidades; • participar ativamente de tudo, fazendo perguntas e dando respostas; • comer exatamente aquilo que mais gosta de comer; • autonomia para se divertir sozinho, escolhendo o DVD que preferir assistir; • aumentar ou diminuir informações na tela; • interagir rapidamente com respostas Sim ou Não; • verifi car favoritos e estatísticas em tempo real; • escolher entre milhares de desenhos ou usar as próprias fotos do usuário (MELLO; SGANZERLA, 2013, p. 9). Mello e Sganzerla (2013) continuam descrevendo os principais motivos para o uso do Livox, de acordo com o fabricante: • é intuitivo: não requer um longo aprendizado; • permite escutar o ente querido “falar”; • é portátil: pode ser levado a qualquer lugar; • permite tocar vídeos e músicas; • totalmente personalizável (MELLO; SGANZERLA, 2013, p. 5). Está disponível para iPad, iPhone e tablets com sistema operacional Android, RA ou com realidade aumentada. É disponibilizado para o setor educacional, governamental, hospitalar e para usuário fi nal. Não é gratuito. Acesse o site a seguir e conheça a história por trás do Livox. Ele conta com informações específi cas para usar o aplicativo de acordo com o tipo de defi ciência da criança. FONTE: <www.livox.com.br>. acesso em: 30 ago. 2020. 118 Comunicação Alternativa no TEA 3.1.6 Indi – tablet para comunicação alternativa Tobii FIGURA 17 – TELA TOBII FONTE: <https://tecnologiaassistiva.civiam.com.br/wp-content/uploads/ sites/2/2020/01/indi-capa.jpg>. Acesso em: 28 ago. 2020. O Indi foi lançado em 2019, você pode fazer um teste gratuito antes de comprar o tablet que já vem com o App instalado para usar onde for, isso quer dizer que não é preciso baixar nenhum programa. Está na categoria AAC, estimula as crianças a construir frases específi cas a partir de símbolos bastante objetivos para comunicar necessidades básicas. Ao contrário de outros tablets, [...] o Indi é uma solução de comunicação completa, você não precisa se preocupar em confi gurar diferentes componentes ou acessar vários sites e softwares para obter os recursos – está tudo integrado e já confi gurado para você utilizar. O sistema de áudio acompanha caixas de som embutidas de alta qualidade, projetando o som de forma clara, e com um conjunto de vozes sintetizadas femininas e masculinas. O design ergonômico torna o tablet Indi fácil de segurar e ultra portátil. [...]. Além disso, o Indi oferece muito mais que a comunicação através da fala, podendo ser utilizado como uma unidade de automação residencial (UCEs) sendo possível ter acesso a equipamentos IR (controle remoto), acessar as mídias sociais, e-mail e mensagens de texto (CIVAM, 2019, s.p.). 119 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 Entenda como funciona a comunicação por meio do Tobii no vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=XcHLRlLN4t0. 3.1.7 Tobii Sono Flex FIGURA 18 – TOBII SONO FLEX FONTE: <https://bit.ly/2QJKY21>. Acesso em: 28 ago. 2020. O Tobii Sono Flex faz parte da mesma tecnologia de recursos assistivos que permitem acessibilidade e inclusão para autonomia e comunicação alternativa, igualmente o aplicativo anterior Indi – tablet para comunicação alternativa Tobii. Segundo o site do aplicativo, o Tobii Sono Flex: É um aplicativo de vocabulário de comunicação assistiva e alternativa, fácil de utilizar, e que transforma símbolos em fala com clareza. Contêm 11 mil símbolos, além de 50 frases e expressões de contexto já estruturadas. O aplicativo oferece o recurso da linguagem aos usuários sem capacidade verbal e ainda sem total controle da alfabetização. O objetivo é viabilizar uma comunicação alternativa para crianças, adolescentes e adultos que ainda não têm total domínio da comunicação verbal (APP STORE PREVIEW, 2020, s.p.). Algo diferencial dos outros, é que esse aplicativo possui cinco tipos diferentes de vozes que podem ser utilizados de acordo com o gênero: (um menino, uma menina, duas mulheres e um homem). No caso doadulto, poderá usar também a câmera e os álbuns do aparelho para selecionar e criar os seus próprios símbolos personalizados. 120 Comunicação Alternativa no TEA O aplicativo possui uma versão gratuita para experimentação chamada Tobii Sono Flex Lite (esta versão é limitada e mais simplifi cada, mas pode ser usada para testar o aplicativo). Disponível para iPad, iPhone e tablets com sistema operacional Android. Para mais informações sobre o Tobii Sono Flex, acesse o link https://itunes.apple.com/us/app/sono-fl ex-bp/id562578933?mt=8. Orientação para pais e educadores: antes dos dois anos, nada de telas. A Academia Americana de Pediatria (AAP), um dos órgãos referência mundial no campo da saúde infantil, orienta que o contato com qualquer tipo de tela não é recomendável para crianças menores de 18 meses. A partir dos 18 meses, até os 24, a AAP recomenda que a criança assista a programações de qualidade acompanhada de um adulto, que poderá ajudá-la a entender o conteúdo e a relacioná-lo com o mundo. No caso de crianças de dois a cinco anos, a recomendação é que a exposição às telas, também acompanhada por um adulto, seja de até uma hora por dia. FONTE: <https://revistacrescer.globo.com/Voce-precisa-saber/ noticia/2016/10/academia-americana-de-pediatria-atualiza-recomendacao- de-tempo-de-telas-para-criancas.html>. Acesso em: 30 ago. 2020. Até aqui contextualizamos aplicativos relacionados à comunicação para a pessoa com TEA, a partir de agora, citaremos alguns aplicativos que podem ser usados como auxílio na rotina como um instrumento que demanda uma sequência de ações, cuja função é antecipar os acontecimentos do dia a dia de maneira organizada, possibilitando autonomia e segurança. Sobre organização e rotina, com certeza quando temos a situação sob controle nos sentimos melhor, não mesmo? E para a pessoa com TEA, a importância da rotina se torna ainda mais relevante, conforme características identifi cadas por Mello (2007, p. 72), que destaca: “a criança autista usa as pessoas como ferramenta, resiste à mudança de rotina, não se mistura com outras crianças, [...]”. Se assim for, a tecnologia será uma ferramenta a mais para ajudá-los a organizar sua rotina, que deve ser elaborada de acordo com as suas necessidades /e ou interesses. 121 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 Nesse sentido, alguns aplicativos foram criados em específi co para auxiliar na rotina da pessoa com défi cits de fala. Assim, vamos citar alguns brevemente. 4 APLICATIVOS QUE AUXILIAM NA ROTINA DO AUTISTA A organização é importante para qualquer pessoa, quando temos tudo em ordem, nossa vida se torna mais leve, temos mais tempo para realizar outras atividades. Agora pense nisso! você tem tudo organizado para o dia seguinte em sua rotina, faz o mesmo ritual todos os dias, vai para a escola ou trabalho, volta para casa, e, no outro dia, tudo igual. De repente acontece algo e você que precisa modifi car seu planejamento do dia seguinte. Bem, para grande maioria de nós é uma situação considerada normal, porém para algumas pessoas autistas, essa mudança repentina em sua rotina diária é algo bem difícil de fazer, podendo causar desorganização em sua mente. Com esta preocupação, alguns estudiosos desenvolveram aplicativos que auxiliam pessoas que tem difi culdades em organizar sua rotina, o que incluem os autistas. Acompanhe a seguir. 4.1 MINHA ROTINA ESPECIAL Em geral a pessoa com TEA que já tem uma rotina programada em sua mente, consegue cumprir as etapas, pois já lhe anteciparam os acontecimentos, mas quando há uma mudança no planejamento por uma emergência, como explicar de forma objetiva sem causar uma crise ou desorganização? É o que a ferramenta rotina especial permite criar em um planejamento detalhado passo a passo de toda e qualquer tarefa do dia em qualquer momento, ele é oferecido pela App Store e disponível para iPad. É um aplicativo cuidadosamente planejado para estimular o desenvolvimento, integrando informações diárias que deixam a rotina mais clara e organizada para as crianças e adultos com TEA, diminuindo, assim, sua ansiedade, caso surja uma atividade diferente. 122 Comunicação Alternativa no TEA FIGURA 19 – TELA APLICATIVO, TELA MINHA ROTINA ESPECIAL FONTE: <http://revistadmais.com.br/conheca-os-aplicativos-que- auxiliam-criancas-com-defi ciencia>. Acesso em: 23 mar. 2020. Segundo o site Inspirados pelo Autismo, a rotina especial tem muitas características diferentes de outros aplicativos de rotina para pessoas com TEA, acompanhe: É possível personalizar o aplicativo para cada criança com a inclusão de fotos e áudios. Estas ferramentas permitem que a criança se reconheça, identifi que as atividades de seu dia a dia e acompanhe os passos necessários para a execução de cada atividade. Ainda é possível inserir na rotina o planejamento de viagens e a antecipação de possíveis imprevistos. Por exemplo, fotos e informações sobre visitas e fatos novos na rotina podem ser antecipados, para que a criança não se desorganize com esses eventos. [...] poderá narrar as etapas do dia a dia da pessoa com autismo usando uma voz familiar a ela, o que é útil para crianças com defi ciência visual ou para aquelas que ainda não sabem ler. Após a montagem das atividades cotidianas, também é possível imprimir a agenda completa da criança e utilizá-la como um quadro de rotina ou um mural de fotos, que poderão ser afi xados em algum local da residência, como o quarto da criança (INSPIRADOS PELO AUTISMO, 2015, s.p.). 123 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 Que tal conhecer uma síntese de alguns aplicativos que acabamos de mencionar, inclusive a rotina especial e ainda acessível em Libras? Vá em frente e acesse o vídeo da revista D+. Disponível em: http://revistadmais.com.br/conheca-os-aplicativos-que-auxiliam- criancas-com-defi ciencia/. 4.2 ROTINA DIVERTIDA FIGURA 20 – ROTINA DIVERTIDA FONTE: <//www.rotinadivertida.com.br/wp-content/uploads/2019/09/ AndroidRotinaFeelings.png>. Acesso em: 28 ago. 2020. Esse aplicativo vem no mesmo seguimento da Rotina Especial, foi pensado exclusivamente no relacionamento entre pais e fi lhos com TEA, a fi m de melhorar a comunicação e compreensão de atividades diárias. Muito simples e de acesso fácil, têm a opção da pergunta: “Como estou me sentindo?” para que a criança informe seu sentimento ao iniciar e fi nalizar uma tarefa. Além disso, é disponibilizado um histórico com as tarefas executadas. Segundo os criadores do aplicativo: Muitas crianças acabam sendo silenciosas, por isso criamos a possibilidade de a criança dizer, ao aplicativo, como está se sentindo toda vez que terminar cada tarefa. Através disso, os 124 Comunicação Alternativa no TEA pais já têm um histórico de como está a criança e conseguem saber se teve algum desconforto ou se estava bem (PIETRO, 2018, s.p.). Após concluir a atividade, uma mensagem de incentivo é reproduzida para estimular a pessoa continuar realizando as tarefas, interessante não?! Lançado em 2019, ainda está em fase de desenvolvimento. Pode ser baixado gratuitamente para Android na loja Google Play. Assista um vídeo explicativo sobre o aplicativo Rotina divertida. Disponível em: https://www.rotinadivertida.com.br/. 4.3 PROJETO INTEGRAR Criado em 2016, veio com objetivo de auxiliar pessoas com Transtorno do Espectro Autista na organização de suas atividades da vida diárias, principalmente de nível mais severo. Segundo o site sobre aplicativos voltados para pessoas com TEA (https://www.maicokrause.com/transtorno-do-espectro-autista/aplicativos- voltados-para-pessoas-com-tea), isso é feito através do apoio audiovisual dos desenhos roteirizadossobre comportamento e higiene. Ele permite também o cadastro do mural “Meus compromissos” com até 18 atividades, passo a passo de como será a rotina da pessoa com TEA, além disso, exibe uma agenda com as atividades do dia. FIGURA 21 – PROJETO INTEGRAR – TELA INICIAL FONTE: <https://maicokrause.com/images/imagens/AAPI-tela-inicial.png>. Acesso em: 28 ago. 2020. 125 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 Krause et al. (2017) fez uma pesquisa sobre o site Autismo Projeto Integrar, ele diz: “o projeto foi idealizado pelo casal Adriana Godoy e Neimer Gianvechio que percebeu que a técnica de Desenhos Roteirizados com o uso continuado, era capaz de ajudar não só seu fi lho, mas também outras pessoas com TEA a compreender melhor os contextos sociais e desenvolver autonomia” (KRAUSE et al., 2017. p. 4). Essa tecnologia utilizada no projeto integrar passou por algumas etapas metodológicas tanto para criação como validação, para que o produto fi nal atinja seu objetivo. Conforme destacam os autores Krause et al. (2017, p. 5): A pesquisa foi dividida em três etapas, na primeira etapa foi realizada uma campanha nas redes sociais, divulgando a pesquisa, angariando voluntários a participar do teste com o aplicativo e obtendo informações iniciais sobre o perfi l das famílias voluntárias; após essa etapa, foram realizadas visitas em que os voluntários foram orientados como utilizar o aplicativo e como coletar os dados através dos formulários fornecidos. Após o período de 30 dias de utilização do aplicativo, na terceira etapa da pesquisa, foram feitas entrevistas com os voluntários e os dados dos formulários de pesquisa recolhidos para avaliação e discussão (grifo nosso). Para utilizar o aplicativo Autismo Projeto Integrar, basta fazer a instalação através da loja Play Store gratuitamente. Então, vá em frente, obtenha mais informações acessando por meio do Play Store. Para conhecer sobre todo o Projeto Integrar e sua relação com a construção do aplicativo, acesse o site: http://autismoprojetointegrar. com.br/de-pais-para-pais/. Que tal baixar um desses aplicativos por meio do seu celular e fazer um teste? Vamos lá! O aplicativo escolhido é o “Matraquinha”. Vá até a ferramenta Google Play ou App Store e procure-o. Depois de baixado, aparecerá a imagem a seguir: 126 Comunicação Alternativa no TEA FIGURA –MATRAQUINHA FONTE: <https://bit.ly/2Dd5hlz>. Acesso em: 28 ago. 2020. Pronto, agora é só clicar na categoria que deseja e iniciar: FIGURA – OPÇÕES DO MATRAQUINHA FONTE: <https://bit.ly/34MlU2P>. Acesso em: 28 ago. 2020. Por exemplo, se clicou em “emoções”, aparecerá essa tela com a imagem e a palavra, ao clicar em cima, o aplicativo vocalizará a voz da respectiva emoção. FIGURA – CATEGORIA EMOÇÕES FONTE: <https://bit.ly/3lAfLwq>. Acesso em: 28 ago. 2020. 127 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEA Capítulo 3 Gostou? Continue passeando por outras categorias do aplicativo Matraquinha. Após conhecer e pesquisar vários tipos de tecnologias para auxiliar a vida acadêmica e social da pessoa com TEA, no que diz respeito à comunicação alternativa, disserte sobre a importância de escolher a tecnologia assistiva correta para a pessoa com TEA. R.: ______________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Visto que a linguagem e comunicação é uma das áreas mais afetadas no sujeito com TEA, é importante pensar em formas de comunicação alternativa, que possibilitem melhor compreensão pelos autistas e por todos que vivem em sua volta. É nesse contexto que foram abordadas muitas tecnologias dentro da área de TIC, com o objetivo de complementar, suplementar, suprir de fato a falta de estruturas mentais que o cérebro da pessoa com défi cit de linguagem não foi capaz de criar. Assim, a difi culdade imposta pela difi culdade em comunicar-se da pessoa com TEA tem gerado muitos desafi os para a família e educadores, e os recursos tecnológicos têm se tornado um grande aliado em trazer transformações signifi cativas em suas vidas. Conforme Campbell (2009, p. 123): Quanto mais signifi cativo for o aprendizado para a criança, mais aumentará a oportunidade de promover o seu desenvolvimento e, para tanto, o facilitador deverá ter uma base teórica acerca do TEA de forma que não exiba ideias preconcebidas ou concepções equivocadas. Desse modo, observamos que a inclusão associada ao uso da tecnologia apresenta grandes possibilidades para pessoas com TEA desenvolver muitas habilidades, que vai além da comunicação. Tratamos, aqui, algumas ferramentas inseridas no sistema de aplicativos. Por exemplo, O PECS (Picture Exchange Communication System), como um sistema digital que cabe no bolso, diferente das fi chas físicas que também são muito utilizadas. O fato é que a tecnologia permite digitalizar essas fi chas, mas isso não signifi ca que não irá ser criado o relacionamento interpessoal, além de interação 128 Comunicação Alternativa no TEA entre face a face e individual entre o sujeito e máquina. São tecnologias capazes de favorecer a autonomia, ampliar o repertório de interesses, desenvolvendo a sua funcionalidade, para obter avanços no processo de aprendizagem de forma global se bem utilizados. Isso porque, em geral, antes de desenvolver uma determinada tecnologia, segue-se um protocolo baseado em investigação teórica. No caso específi co em desenvolver tecnologias para auxiliar a pessoa com TEA a se comunicar por meio de PECS, a maioria dos aplicativos criados foram baseados em estudos a partir de técnicas específi cas da Psicologia Behaviorista por meio da metodologia ABA (sigla em inglês para Análise Comportamental Aplicada). Nesse contexto, Mello e Sganzerla (2013, p. 4-5) dialoga que: A Psicologia Behaviorista dedica-se ao estudo das interações entre o ambiente (os estímulos) e o indivíduo (suas respostas), uma vez que “certos estímulos levam o organismo a dar determinadas respostas, isso ocorre porque os organismos se ajustam aos seus ambientes por meio de equipamentos hereditários e pela formação de hábitos [...]. Pesquisas indicam que quando o PECS é implementado, a fala pode emergir em muitas pessoas. A Análise Comportamental Aplicada (ABA), citada anteriormente como base do PECS, [...] analisa e explica a associação entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem. Assim, entendemos que essas tecnologias vêm como uma possibilidade viável e acessível para famílias e profi ssionais que atendem pessoas com TEA em qualquer idade, auxiliando com base na psicologia, pedagogia e tecnologia. As telas de computadores e os aplicativos que tanto entretêm os adultos, encanta também as crianças que, muitas vezes, manejam os dispositivos melhor do que os adultos. Poderíamos fi car aqui citando muitas outras TIC para ampliar a capacidade de interação social e criar estratégias de comunicação, ajuda para modular o comportamento e desenvolver a autorregulação, para aperfeiçoar a habilidade de organização no ambiente, ufa! realmente a tecnologia não para, e veio para transformar nossas vidas, agora mesmo, neste momento, muitos estão desenvolvendo vários tipos de tecnologias. Assim, fi nalizamos este capítulo com a sensação de que há muito a se falar da gama de tecnologias existentes para inclusão e a pessoa com TEA, mas que oportunamente trouxemos muito conhecimento a respeito de recursos tecnológicos e a comunicação relacionada à pessoa com TEA. 129 UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEAALTERNATIVA E AUMENTATIVA PARA PESSOAS COM TEACapítulo 3 REFERÊNCIAS APP STORE PREVIEW. Sono Flex BP: Tobii Dynavox LLC. 2020. Disponível em: https://apps.apple.com/us/app/sono-fl ex-bp/id562578933. Acesso em: 28 ago. 2020. ARAGÃO, M. C. M.; BOTTENTUIT JUNIOR, J. B.; ZAQUEU, L. da. C. C. O uso de aplicativos para auxiliar no desenvolvimento de crianças com transtorno do espectro autista. Olhares & Trilhas, Uberlândia, v. 21, n. 1, p. 43-57, jan./abr. 2019. BENEDETTI G. R. Aplicativo android como alternativa na comunicação de autistas: um estudo de caso. 2015. 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