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COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA NO TEA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Prof.ª Adriana Prado Santana Santos Prof. Marcelo Martins Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jairo Martins Jóice Gadotti Consatti Marcio Kisner Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. S237c Santos, Adriana Prado Santana Comunicação alternativa no TEA. / Adriana Prado Santana Santos; Marcelo Martins. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 134 p.; il. ISBN 978-65-5646-247-9 ISBN Digital 978-65-5646-242-4 1. Transtorno do espectro autista. - Brasil. I. Martins, Marcelo. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 618.928982 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Comunicação e Linguagem no Autismo ......................................7 CAPÍTULO 2 TEA: Materiais e Instrumentos da Intervenção em Comunicação Aumentativa Alternativa (CAA) ....................47 CAPÍTULO 3 Utilização de Tecnologias de Comunicação Alternativa e Aumentativa para Pessoas com TEA ......................................89 APRESENTAÇÃO Prezado pós-graduando. O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) como uma condição de distúrbio neurológico é bastante complexo. Uma das consequências dessa condição é que nenhum autista apresenta as mesmas características de outro. Observamos essas singularidades em suas características principais, como comportamento, interação social e linguagem/ comunicação. No que diz respeito à comunicação e linguagem, os autistas se expressam de maneiras distintas do ponto de vista da fala, da linguagem e da própria comunicação. Assim, é fundamental que intervenções na área da comunicação possa ser realizadas quanto antes, a fim de contribuir para uma resposta positiva ao tratamento (em termos de linguagem, desenvolvimento cognitivo). Desta forma, o livro didático inicia o Capítulo 1 destacando a Comunicação e Linguagem e sua importância para vida social e acadêmica do autista; os diferentes aspectos da comunicação da pessoa com TEA, que envolve os tipos de Comunicação Alternativa, conciliando a teoria e prática, explorando alguns distúrbios de fala principais na comunicação do autista. O Capítulo 2 enfatiza a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) e alguns sistemas para conversação e letramento para os autistas. Trará metodologias e ferramentas passadas e atuais usadas como intervenção no auxilio da comunicação e linguagem do sujeito com TEA. Na conclusão, o Capítulo 3 abordará a utilização das tecnologias da informação e comunicação (TIC), desenvolvidas como uma inovação na Comunicação Alternativa e Aumentativa. Nesse sentido, apontamos que as tecnologias têm sido usadas não só com a finalidade de auxiliar na linguagem e comunicação, mas, também, para atenuar os momentos de crises. Prof.ª Adriana Prado Santana Santos Prof. Marcelo Martins CAPÍTULO 1 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Abordar brevemente a importância da linguagem e comunicação para a pessoa com TEA. • Conheceros diferentes aspectos relacionados à comunicação do TEA. • Entender mecanismos cognitivos no uso da linguagem verbal e não verbal. • Explorar alguns distúrbios de fala relacionados à pessoa com TEA como: ecolalia e apraxia. • Relacionar terapias interventivas por profi ssionais habilitados na fala e linguagem. 8 Comunicação Alternativa no TEA 9 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Uma das áreas mais comprometidas na pessoa com TEA (Transtorno do Espectro Autista) é a comunicação social e o atraso no desenvolvimento da linguagem de forma compreensível. Conforme mostra Klin (2006, p. 8), “muitas áreas do funcionamento cognitivo estão frequentemente preservadas e, às vezes, os indivíduos com essas condições exibem habilidades surpreendentes e até prodigiosas”, sendo, muitas vezes, encarados como superdotados, porém não a utilizam de forma funcional, ou seja, sua comunicação não alcança um resultado desejado para uma compreensão com o outro. FIGURA 1 – ESTIMULAÇÃO DA LINGUAGEM NO AUTISTA FONTE: <https://bit.ly/3jSjgh1>. Acesso em: 26 jul. 2020. Podemos nos perguntar o que se confi gura a fala e a linguagem? Sobre a fala é importante trazer os estudos de Schirmer, Fontoura e Nunes (2004). Ele esclarece que, “muito antes de começar a falar, a criança está habilitada a usar o olhar, a expressão facial e o gesto para comunicar-se com os outros. Tem também capacidade para discriminar precocemente os sons da fala” [...] (SCHIRMER; FONTOURA; NUNES, 2004, p. 95). Sobre a linguagem, os mesmos autores continuam, ”também estão envolvidas na linguagem áreas de controle motor e as responsáveis pela memória” (SCHIRMER; FONTOURA; NUNES, 2004, p. 98. ). Assim, a fala e a linguagem estão diretamente ligadas a nossa memória e ao controle motor do nosso aparelho fonador. Conforme mostra a fi gura a seguir: 10 Comunicação Alternativa no TEA FIGURA 2 – FISIOLOGIA DA VOZ FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/2PjOwYt>. Acesso em: 26 jul. 2020. Entretanto, nem todos têm a capacidade de desenvolver uma linguagem adequada para comunicarcar-se, os autores Schirmer, Fontoura e Nunes (2004, p. 2) continuam dissertando que, as alterações da linguagem atingem “cerca de 3 a 15% das crianças e podem ser classifi cadas em atraso, dissociação e desvio”. Nesta porcentagem, encontram-se as crianças com TEA. Observe esses conceitos no quadro a seguir : QUADRO 1 – ETIOLOGIA DA LINGUAGEM Classifi cação das alterações da linguagem Atraso – a progressão na linguagem processa-se na sequência correta, mas em ritmo mais lento, sendo o desempenho semelhante aos de uma criança inferior. Dissociaçao – existe uma diferença signifi cativa entre a evolução da linguagem e das outras áreas do desenvolvimento. Desvio – o padrão de desenvolvimento é mais alterado: verifi ca-se uma aquisição quali- tativamente anômala da linguagem. É um achado comum nas perturbações da comuni- cação do espectro do autismo. FONTE: Adaptado de Schirmer, Fontoura e Nunes (2004, p. 2) Ainda sobre a defi nição da linguagem, destacamos Bechara (2004, p. 16), ele diz que a linguagem “é qualquer sistema de signos simbólicos empregados na intercomunicação social para expressar e comunicar ideias e sentimentos, isto é, conteúdos da consciência”. Corroborando com esse pensamento, Geraldi (1995), nos diz que a linguagem é fundamental ao desenvolvimento de toda e qualquer pessoa. Dada a importância da linguagem para o ser humano, Benveniste (1976, p. 285) afi rma que: Não atingimos nunca o homem separado da linguagem e não o vemos nunca inventando-a. Não atingimos jamais o homem reduzido a si mesmo e procurando conceber a existência do outro. É o homem falando que encontramos no mundo, um homem falando com outro homem, e a linguagem ensina a própria defi nição de homem. 11 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 FIGURA 3 – LINGUAGEM FONTE: <https://elo.pro.br/cloud/_src/ckfi nder/userfi les/images/B/ apresentac3a7c3a3o2(2).jpg>. Acesso em: 26 jul. 2020. Assim, a linguagem nos permite compreender o mundo a nossa volta e ser compreendido. SegundoVygotsky (1989), para nos comunicar são necessárias duas funções básicas: o intercâmbio social e o pensamento generalizante. O intercâmbio social pode ser visto quando, principalmente, bebês interagem por meio de gestos e balbucios, demostrando seus sentimentos. Sobre a função generalizante, observe a fi gura a seguir: FIGURA 4 – FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-0tW7njphK_c/T6bOY8Wy1LI/ AAAAAAAAARI/pydfL4xF3tc/s1600/imagem.bmp>. Acesso em: 26 jul. 2020. Desse modo “são os signifi cados que vão propiciar a mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo real” (VYGOTSKY, 1989, p. 104). Compreendemos 12 Comunicação Alternativa no TEA melhor na continuação do autor “uma palavra sem signifi cado é um som vazio” (VYGOTSKY, 1989, p. 104). Nesse sentido, a fala e a escrita dão signifi cados à palavra que auxilia na elaboração de orações mais simples à abstrata. Aprender a ler e a escrever não é um processo natural como o de aprender a falar. Trata-se de uma tarefa complexa, que envolve competências cognitivas, psicolinguísticas, perceptivas, espácio-temporais, grafomotoras e afectivo- emocionais. Um dos passos cruciais para facilitar a iniciação à leitura e à escrita consiste na promoção da refl exão sobre a oralidade e no treino da capacidade de segmentação da cadeia de fala em frases, das frases em palavras, das palavras em sílabas e destas nos sons que as compõem (FREITAS, 2004, p. 3). Dessa forma, idenpendente da comunidade linguistuica que a criança está inserida o estimulo social e mais tarde o acadêmico, irá fazer toda diferença no seu desenvolvimento intelectual e letramento em sua língua nativa. Conforme autores Schirmer, Foutoura e Nunes (2004). Apesar de não estar completamente esclarecido o grau de efi cácia com que a linguagem é adquirida, sabe-se que as crianças de diferentes culturas parecem seguir o mesmo percurso global de desenvolvimento da linguagem. Ainda, antes de nascer, elas iniciam a aprendizagem dos sons da sua língua nativa (SCHIRMER; FOUTOURA; NUNES, 2004, p. 2). As autoras Delfrate, Santana e Massi (2009 apud ALBANO, 1990), mostra que a criança depende de quatro condições básicas e imprescindíveis para o desenvolvimento da linguagem. A primeira seria a presença de um interesse subjetivo na criança, isto é, uma disposição de brincar. [...]. A segunda seria a existência de pelo menos um sistema sensório- motor íntegro (audiovisual ou visomanual). A terceira seria a inserção em um meio cuja linguagem faça parte de rotinas signifi cativas. [...]. A quarta e última seria a presença de uma língua minimamente autorreferenciada que contenha alguns mecanismos gramaticais, sinalizando a própria organização para que a descoberta da sua estrutura possa se proceder efi cientemente, seguindo uma direção mais ou menos determinada (DELFRATE; SANTANA; MASSI, 2009 apud ALBANO, 1990, p. 2). Nessa direção, tomando para discussão da pessoa com TEA, essas quatro condições teriam muitas incertezas alencadas como: interesse subjetivo, ou seja (difi culdade em socializar-se), é comum a criança com TEA tomar a mão ou o braço da outra criança ou mesmo do adulto de modo a facilitar que ela “pegue” um objeto ou um brinquedo, mas ele continua em sua subjetividade. 13 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Sobre o sistema sensório-motor estar preservado ou íntegro, como o segundo ponto destacado pelos autores, Delfrate, Santana e Massi (2009 apud ALBANO, 1990), entendemos que muitas pessoas com TEA que têm transtornos relacionados à motrocidade ampla e fi na, entre outros. Nesse sentido, existirão algumas difi culdades envolvendo a fala e uma linguagem expressiva e coerente, de forma que o outro o entenda. Do ponto de vista de manter uma rotina de linguagem signifi cativa, para o autista difi cilmente isso se concretiza. Um dos motivos é devido aos rituais repetitivos de movimentos esterioptipados que, em geral, acontece quando está feliz ou desorganizado, o que o impede de manter um raciocínio estruturado que faça sentido ao se comunicar, nesse contexto, deve-se considerar as diferenças entre um espectro de maior ou menor grau de complexidade. Assim, a fala deve ser o resultado de todo o processo do desenvolvimento da linguagem e do entendimento da criança, segundo a teoria de Vygotsky (1989), destacada anteriormente, entre o intercâmbio social e o pensamento generalizante. Essa relação entre o pensamento e a linguagem se torna um desafi o para o autista, haja visto a difi culdade social e comunicativa presente desde a infância, por isso, a partir de agora, observaremos os diferentes aspectos da comunicação na pessoa com TEA. Se emocione com o vídeo de uma mãe – fundadora da Ação Autismo – conhecer amar e educar. Ela conta sua experiência com o fi lho, Autismo – Como o Lucas falou em uma semana. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gcBLVSnNeH4>. Acesso em: 2 ago. 2020. 2 BREVE CONTEXTO – COMUNICAÇÃO DA PESSOA COM TEA Antes de abordamos os aspectos relacionados à comunicação da pessoa com TEA, vamos elencar, brevemente, conceitos da linguagem verbal e não verbal a fi m de entendemos melhor como fazer as intervenções necessárias a fi m de contribuir para a comunicação e linguagem do TEA. 14 Comunicação Alternativa no TEA A linguagem verbal, de acordo com Fiorin (2002), está relacionada com a matéria do pensamento e o veículo da comunicação social. Dessa forma, não podemos deixar de associar a sociedade com a linguagem. O livro Leitura sem palavras (BRASIL, 2011), traz mais informações sobre o signifi cado da linguagem verbal, note: A linguagem verbal é a forma de comunicação mais presente em nosso cotidiano. Mediante a palavra falada ou escrita, expomos aos outros as nossas ideias e pensamentos, comunicando-nos por meio desse código verbal imprescindível em nossas vidas. Ela está presente em textos, em propagandas, em reportagens (jornais, revistas etc.), em obras literárias e cientifi cas, na comunicação entre as pessoas, em discursos (políticos, representantes de classe, candidatos a cargos públicos etc.); e em várias outras situações (BRASIL, 2011, p. 5). Quanto à linguagem não verbal, o documento continua dizendo que ela se constitui no: Uso de imagens, fi guras, desenhos, símbolos, dança, pintura, música, mímica, escultura e gestos como meio de comunicação. Dentro do contexto temos a simbologia que é uma forma de comunicação não verbal. Exemplos: sinalização de trânsito, semáforo, logotipos, bandeiras, uso de cores para chamar a atenção ou exprimir uma mensagem. É muito interessante observar que para manter uma comunicação não é preciso usar a fala e sim utilizar uma linguagem, seja verbal ou não verbal (BRASIL, 2011, p. 5). Notamos que a linguagem verbal ou não envolve qualquer sistema de comunicação baseados em diversos signo. O livro do MEC continua explicando sobre a Linguagem Mista, que “é o uso simultâneo da linguagem verbal e da linguagem não verbal, usando palavras escritas e fi guras ao mesmo tempo” (BRASIL, 2011, p. 5). A fi gura a seguir demonstra os três tipos de linguagem que acabamos de destacar e que, de forma direta ou indireta, faz parte da pessoa com TEA, pois irá se utilizar de algumas dessas linguagens para se comunicar. 15 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 FIGURA 5 – TIPOS DE LINGUAGEM FONTE: <https://cursoenemgratuito.com.br/wp-content/uploads/2019/08/ Linguagem-verbal-n%C3%A3o-verbal-e-mista.jpg>. Acesso em: 26 jul. 2020. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é a língua materna da comunidade surda brasileira. Ela se apresenta na modalidade espaço – visual, pois a informação linguística é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos. Os surdos, assim como os ouvintes também ampliam seu vocabulário, por meio da criação de novos sinais/palavras. Você sabia que muitas pessoas com TEA não verbal aprendem língua de sinais para desenvolver umacomunicação? Dessa forma, é por meio da comunicação que o ser humano se expressa e interage com os demais. E como já bem referido, a comunicação e linguagem é uma das áreas mais afetadas em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), fi cando a interação social muito prejudicada. Assim, familiares e profi ssionais da área devem observar alguns indícios desde muito cedo nas crianças com TEA, para antecipar terapias de auxílio na comunicação e linguagem do TEA. Observe: • ausência ou atraso na fala; • fala rebuscada ou “robotizada”; • difi culdade na compreensão verbal; • presença de ecolalias (repetição da fala de outras pessoas); 16 Comunicação Alternativa no TEA • ausência de entendimento de piadas, sarcasmo, duplo sentido; • ausência de simbolismo (imaginação) (RHEMA EDUCAÇÃO, 2018, s.p). Assista ao vídeo Autismo e fonoaudiologia – dicas práticas para desenvolver fala e linguagem, de Maria Claudia Brito. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ADm-X5yTHhc. Acesso em: 2 ago. 2020. 2.1 CONVERSANDO COM O TEA Notamos que as crianças com TEA dão indicações se sua comunicação será verbal ou não. Isso porque o autismo pode trazer difi culdades sérias na linguagem, causando grandes prejuízos no desenvolvimento de sua comunicação e socialização. Nesse sentido, podem usar formas inadequadas para se expressar, tais como: gritar, apontações, entre outras. Afi nal, qual a melhor forma de se comunicar com a criança com TEA. FIGURA 6 – COMO CONVERSAR COM CRIANÇA COM TEA FONTE: <https://bit.ly/2Dcaiud>. Acesso em: 26 jul. 2020. . etc.). 17 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Os estímulos de linguagem durante a infância são muito importantes para qualquer criança, pois acontece um processo emocional e social. Vamos dar um exemplo clássico: a criança escuta os sons emitidos ao seu redor, passa a repetir, no início parece não ter signifi cados, mas a partir do momento que ela percebe que ao emitir os sons vai gerar algum efeito, passa a interagir e também entender para que serve a linguagem. Acerca da percepção da criança sobre o sons e o desenvolvimento da fala, é pertinente trazer a contribuição do Referencial curricular nacional para a Educação Infantil, que mostra: Aprender a falar, portanto, não consiste apenas em memorizar sons e palavras. A aprendizagem da fala pelas crianças não se dá de forma desarticulada com a refl exão, o pensamento, a explicitação de seus atos, sentimentos, sensações e desejos (BRASIL, 1998, p. 116). Atenção! Todo essse processo acontecerá dentro das particularidades únicas de cada criança com TEA, que, neste caso, supõe-se que a criança tem a capacidade de desenvolver uma linguagem verbal. Sobre a importância do estímulos desde a infância, note o que Silva, Gaiato e Reveles (2012, p. 14) diz: Algumas crianças com autismo podem ter um excelente desenvolvimento da linguagem falada e, por vezes, emitem palavras "perfeitinhas". Em outros casos, os pais percebem que, com um ano de idade, sobrinhos ou coleguinhas já articulam as primeiras palavras, mas seus fi lhos ainda não. As preocupações crescem (e muito) a partir dos dois anos, fase em que outras crianças já conseguem formar frases completas, enquanto seus "pequenos" nem parecem ouvir quando são chamados. Pensar que não adianta se comunicar com a criança com TEA, porque ela não produz a fala, e, por isso, não irá entender e dar o retorno esperado, é um erro, mesmo que a criança tenha autismo de nível severo. Por outro lado, vimos que a fala (oral) não é sinônimo de comunicação, pois há várias formas de se comunicar. Com relação à comunicação e à linguagem, D’ Antino, Brunoni e Schwartzman (2015, p. 16) refere que os alunos com transtorno do espectro autista: • Em alguns casos há completa ausência da fala. • Em geral, os pacientes não chegam a desenvolver linguagem oral funcional, não compensada por formas alternativas de comunicação. • Nos indivíduos que têm fala, há evidentes difi culdades em iniciar e manter uma conversação. • A fala pode ser repetitiva e estereotipada. • No meio de uma frase, pode surgir parte de um anúncio ouvido na TV ou a simples repetição de frases inteiras e de 18 Comunicação Alternativa no TEA palavras isoladas fora do contexto daquele momento. • Há, frequentemente, a tendência para a repetição de frases ou palavras na forma de ecolalias imediatas, tardias ou mitigadas. • A maneira de falar também se mostra anormal no ritmo, na acentuação e na infl exão. • Alguns autistas terminam todas as frases com uma infl exão interrogativa. Outros, pela alteração da prosódia, dão a impressão de falar com sotaque estrangeiro. • Nos pacientes com bom rendimento intelectual, a fala se mostra pedante pelo uso de termos e construções que não são esperados para a idade. • A compreensão da fala está quase sempre comprometida, até mesmo nos casos em que o intelecto está mais preservado. • Tendem a ter um entendimento literal do que lhes é dito, havendo grande difi culdade para a compreensão de metáforas. • Há grande difi culdade, também, para contextualizar o discurso, não conseguem entender o sentido fi gurado de alguns termos. • Certas ambiguidades que fazem parte da nossa língua não são compreendidas, o que pode difi cultar sobremaneira a comunicação. Por causa destas difi culdades, a orientação é buscar ajuda de especialistas como: neurologistas, fonoaudiólogos e psicólogos, para fazer as intervenções e terapias com o objetivo de ensinar competências de comunicação para a pessoa com TEA. Todos nós podemos contribuir de forma individual com o mesmo objetivo, que é o de efetivar uma comunicação com a pessoa com TEA, mas como? É Importante fazer com que a pessoa com TEA sinta-se bem ao nosso lado. Isso, porque, em geral, eles têm mais facilidade em comunicar-se quando se sentem à vontade com outro. Escolher, também, um momento em que estejam tranquilo para iniciar uma comunicação, longe de um ambiente cheio de estímulos sonoros ou luminosos, qualquer coisa que desestabilize a não efetivação da comunicação. Assista ao vídeo com as dicas da psicóloga Mayra Gaiato, Autismo: 8 passos para ensinar a falar – como fazemos. Disponivel em: https://www.youtube.com/watch?v=NzlntFS0Gn8. Acesso em: 2 ago. 2020. 19 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 É preciso entender que algumas crianças diagnosticadas com autismo nunca desenvolverão a fala como forma de comunicação de fato, mas irão se utilizar de outros meios. Assim, encorajar qualquer intenção da criança em querer comunicar- se, trará grandes benefícios social, além de substituir alguns comportamentos considerados inadequados para a família e a sociedade, conforme mostra Posar e Visconti (2018, p. 2). As alterações sensoriais das crianças com TEA também podem afetar seu comportamento em atividades diárias familiares, inclusive comer, dormir e rotinas de dormir; e fora de casa essas alterações podem criar problemas, por exemplo, ao viajar e participar de eventos na comunidade. Por exemplo, ela aponta para um copo de água, mas não sabe falar a palavra (preciso de um copo de água) e outra pessoa atendeu seu pedido, será que ela não se comunicou? Sim, pois o mais importante foi feito, que é a comunicação funcional e social, seu objetivo foi alcançado quando seu desejo foi socializado e atendido prontamente. Dessa forma, aproveitar toda e qualquer oportunidade de expressão da criança com TEA, é valorizar suas particularidades de linguagem, seja ela verbal ou não. Apartir desse momento, vamos diferenciar uma linguagem da outra, além de contextualizar a comunicação mista. FIGURA 7 – DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NO AUTISTA FONTE: <https://bit.ly/312ih5p>. Acesso em: 26 jul. 2020. 20 Comunicação Alternativa no TEA Devido, principalmente, à característica da difi culdade social e cognitiva, as pessoas que se enquadram no espectro do autismoapresentam difi culdade em compreender seu próprio estado mental, bem como o de outras pessoas, Mercadante e Rosário (2009, p. 18), nos dizem que “existe uma tendência atual em conceber essa categoria como aquela que apresenta alterações no modo do funcionamento do cérebro social”, e o resultado é uma linguagem sem contexto ou entendimento com o outro, visto que as habilidades expressivas e receptivas fi cam comprometidas. Uma vez que a linguagem receptiva pode se mostrar mais atrasada do que o desenvolvimento da linguagem expressiva, no transtorno do espectro autista as habilidades de linguagem receptiva e expressiva devem ser consideradas em separado (APA, 2014, p. 53). Portanto, é clara a alteração na capacidade de metarrepresentação, ou seja, apresentam grande difi culdade em se colocar no lugar do outro nos indivíduos com TEA. Conforme Hobson (1991), pressupõe que as crianças adquirem um conhecimento das pessoas com a mente e que isso acontece através da experiência das relações interpessoais. O que se torna um desafi o para a pessoa com TEA devido à difi culdade de interação social. Nesse momento, julgamos importante trazer para seu conhecimento os códigos e defi nição dos transtornos relacionados à comunicação e linguagem, pelo APA (2014), que mais se encontram nos autistas ao receberem os laudos por especialistas, conforme o quadro a seguir: QUADRO 2 – CÓDIGOS – APA (2014) 315.32 (F80.2) Transtorno da Linguagem. 315.39 (F80.0) Transtorno da Fala. 315.39 (F80.89) Transtorno da Comunicação Social (Pragmática). 307.9 (F80.9) Transtorno da Comunicação Não Especifi cado Nota: Casos com início tardio são diagnosticados como 307.0. FONTE: APA (2014, p. 13) Nesse contexto, apresentamos critérios que a Receita Federal usa para laudar a pessoa com TEA em sua fi cha avaliativa: INSTRUÇÕES DO ANEXO IV AUTISMO (Transtorno Autista e Autismo Atípico); Utiliza-se os mesmos critérios Diagnósticos (baseado no DSM – IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e na Classifi cação Internacional de Doenças (CID 10). Entre estes critérios consta o da comunicação e linguagem: 21 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Comprometimento qualitativo da comunicação, manifestado por pelo menos um dos seguintes aspectos: atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem falada (não acompanhamento por uma tentativa de compensar por meio de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímica); em indivíduos com fala adequada, acentuado comprometimento da capacidade de iniciar ou manter uma conversa; uso estereotipado e repetitivo da linguagem idiossincrática; ausência de jogos ou brincadeiras de imitação social variados e espontâneos próprios do nível de desenvolvimento. [...] (APA, 2014, p. 50). Acerca do desenvolvimento da linguagem nas crianças com TEA, de grau leve, observa-se que, até certo ponto, há um bom desenvolvimento da linguagem em seus aspectos formais (elementos fonológicos e sintáticos). Assim, apresentamos recortes da pesquisa de site – Rhema Educação (2018, s.p.), cujo objetivo é capacitar profi ssionais para atender crianças e adultos com TEA na questão da comunicação e linguagem: O TEA verbal: a criança ou (jovem) adulto que fala, pode ter ainda algum comportamento diferenciado em relação à Comunicação. Imagine pedir ao autista que fale como foi seu dia na escola. Boa chance de ele não responder ou responder com “bom” ou “ruim”.[...] Isso signifi ca que devem evitar fazer muitas perguntas de uma só vez: “Como foi na escola? Foi legal? Comeu a merenda? Brincou com o amiguinho?[...].Troque por: “Como foi na escola? ” Espere a resposta. Se não vier a resposta após esperar entre 30 segundos a um minuto, refaça a pergunta dando ao autista duas ou três opções de respostas: “Foi bom na escola, hoje? Ou não foi bom?” Dê tempo a ele de responder “sim” ou “não”. [...]. Assim, vai-se estimulando o autista a falar/comunicar-se cada vez mais. O TEA não verbal: em primeiro lugar não parte do princípio de que deve “consertá-lo”, mas procure encontrar a maneira de agir com o autista como indivíduo. Que personalidade o autista tem? Do que ele gosta? Que tipo de atividade prefere executar? Ele tem problemas de ordem sensorial? Quais? Anote tudo o que faz com que o autista em questão se sinta bem [...] (grifo nosso). Assista ao vídeo da psicóloga especialista em autismo Mayara Bonifacio Gaiato, ela explica o conceito de alcance dirigido, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2HY0S2qg6vU. 22 Comunicação Alternativa no TEA Nesse interim, Silva, Gaiato e Reveles (2012, p. 43) explica algumas características presentes na linguagem e comunicação do sujeito com TEA: • Têm difi culdades no desenvolvimento da linguagem falada, sem que haja tentativas de compensar essa comunicação por meios alternativos, tais como gestos ou mímicas. Já as crianças que não apresentam prejuízos signifi cativos na fala têm difi culdade em iniciar, manter ou terminar uma conversa adequada e com reciprocidade. • Uso estereotipado e repetitivo da linguagem. Por exemplo, decoram frases de desenhos animados e as falam em momentos completamente fora do contexto ou repetem aquilo que lhes é perguntado (ecolalia). • Difi culdade de se engajar em brincadeiras de faz de conta. As crianças não conseguem brincar de escolinha ou casinha, por exemplo, pois têm difi culdade de imaginar os papéis a serem representados. • Inversão de pronomes. Elas podem falar na terceira pessoa, por exemplo, "você é linda", referindo-se a si própria. Ou, ainda, construírem a frase com excesso de pronomes: "Me dá meu pra mim a bola. É do Rodrigo", referindo-se a sua própria bola. • Ingenuidade. Não conseguem avaliar segundas intenções e podem ser enganadas por pessoas maldosas. • Difi culdade no entendimento de ironias. Muitas vezes não entendem piadas ou frases com duplo sentido. • Crianças e até muitos adultos com autismo não são hábeis para mentir, dissimular, enganar ou falar palavras que não expressam a verdade. São extremamente sinceras e apresentam sérias difi culdades ou até mesmo impossibilidade de utilizar pequenas mentiras diplomáticas. • Aprendem a ler e escrever sozinhas antes da fase de alfabetização (hiperlexia). Que tal baixar Mundo singular: entenda o autismo? O livro é da autora Ana Beatriz Barbosa Silva com a colaboração da psicóloga Mayra Bonifacio Gaiato e de Leandro Thadeu Reveles. Disponível em: https://drive.google.com/fi le/d/1zFIAv_ DjcT7JDjjeaf5qwsCW7gMvDYFi/view. Acesso em: 5 mar. 2020. 23 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 FIGURA – LIVRO MUNDO SINGULAR: ENTENDA O AUTISMO FONTE: <http://draanabeatriz.com.br/wp-content/uploads/2017/10/ singular2.png>. Acesso em: 2 ago. 2020. A questão da linguagem e comunicação na pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) possui muitas variáveis a ser discutidas, a fi m de fazer as intervenções necessárias. Assim, vamos seguir explorando esse cenário. 3 UM CENÁRIO EXPLORATÓRIO SOBRE DISTÚRBIOS DE FALA E A PESSOA COM TEA Ao nascermos temos pouco conhecimento acerca do mundo que nos rodeia, mas, depois de sermos diariamente bombardeados por inúmeras informações, principalmente visuais, conforme estudos psicológicos. Para Bosi (1988), “os psicólogos da percepção são unânimes em afi rmar que a maioria absoluta das informações que o homem moderno recebe lhe vem por imagens” (BOSI, 1988, p. 65). Com o tempo fazemos relação de tudo que vamos observando e ouvindo e, consequentemente, ampliando nosso aprendizado sobre o mundo. Cada área do nosso cérebro se encarrega em trabalhar um tipo de informação. Isso acontece, segundo Fonseca (2016, p. 1), “porque os seres humanos são animais sociais e dispõem de cognição social e de inteligência emocional (valor das expressões faciais e da comunicação não verbal) [...]. Através da linguagem demonstramos se dominamos ou não ovocabulário que fomos adquirindo ao longo do tempo, é como se fosse uma representação 24 Comunicação Alternativa no TEA mental que vai sendo armazenada no nosso cérebro, e aos poucos vai sendo externada por meio das nossas emoções e linguagem. Por isso, Piaget (1977, p. 17) considera: A inteligência um sistema de operações vivas e atuantes de natureza adaptativa e afi rma que o essencial do pensamento lógico é ser operativo com o fi m da constituição de sistemas, não descarta a interferência da afetividade no processo do conhecimento. Reafi rma a existência de um paralelo constante entre a vida afetiva e a vida intelectual, considerando-as como dois fatores indissociáveis e complementares em toda a conduta humana.passamos a criar uma imagem mental e acontece a fala e aquisição de conhecimentos. O signifi cado das palavras envolve diversas áreas cerebrais dependendo dos fenômenos aos quais a palavra pode estar relacionada. A fi gura a seguir nos mostra didaticamente a nossa capacidade de expressão. FIGURA 8 – FUNÇÃO FALA/LEITURA/ESCRITA FONTE: <http://www.enscer.com.br/neuroeducacao/capacitacao/ linguagem.html> Acesso em: 26 jul.. 2020. Dessa forma, cada área do nosso cérebro se encarrega em conhecer determinados aspectos do mundo em nossa volta. Assim, aprender bem uma palavra implica no nosso cérebro conectar o maior número possível de áreas relacionadas com seu signifi cado. Isso pode ocorrer durante toda nossa vida, porque o signifi cado ou a semântica de uma palavra deve envolver todas as características que somos capazes de atribuir a ela. Quer dizer que a pessoa com TEA não conseguirá obter conhecimento igualmente como os outros, devido à difi culdade em dominar vocabulário e conseguir relacionar os signifi cados das palavras ouvidas ou objetos vistos? Isso dependerá muito dos estímulos que cada um terá nas intervenções terapêuticas. Isso porque, segundo o APA (2014) alguns indivíduos autista também possuem, oTranstorno da Comunicação Social (Pragmática), o que envolve: 25 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Difi culdades persistentes no uso social da comunicação verbal e não verbal como manifestado por todos os elementos a seguir: 1. Défi cits no uso da comunicação com fi ns sociais, como em saudações e compartilhamento de informações, de forma adequada ao contexto social. 2. Prejuízo da capacidade de adaptar a comunicação para se adequar ao contexto ou às necessidades do ouvinte, tal como falar de forma diferente em uma sala de aula do que em uma pracinha, falar de forma diferente a uma criança do que a um adulto e evitar o uso de linguagem excessivamente formal. 3. Difi culdades de seguir regras para conversar e contar histórias, tais como aguardar a vez, reconstituir o que foi dito quando não entendido e saber como usar sinais verbais e não verbais para regular a interação. Transtornos do Neurodesenvolvimento 4. Difi culdades para compreender o que não é dito de forma explícita (por exemplo, fazer inferências) e sentidos não literais ou ambíguos da linguagem (por exemplo, expressões idiomáticas, humor, metáforas, múltiplos signifi cados que dependem do contexto para interpretação) [...] (APA, 2014, p. 91). Assim, segundo a explicação do APA (2014), para a pessoa com TEA, os enunciados não são contínuos e ela tem difi culdade em engajar uma conversa, em fornecer informações e, principalmente, em expressar suas ideias. Na maioria dos casos, ela parece não saber o que são e para que servem as palavras, ou seja, uma linguagem descontextualizada. Sobre esse aspecto, Wing (1985) nos fala que a difi culdade na abstração da comunicação e linguagem causa difi culdades em entender perguntas, orientações ou piadas simples. As estruturas gramaticais são, geralmente, imaturas, o uso de estereotipias e repetições constitui, muitas vezes, uma linguagem metafórica. Ao mesmo tempo que o bebê humano aprende a produzir os sons da fala que identifi ca a sua volta, deve também começar a perceber que os sons produzidos pelos adultos possuem alguma relação com os objetos que veem. Assim, as áreas de percepção e de produção verbal, além de se relacionarem entre si, devem se relacionar com a área visual de reconhecimento dos objetos. Dessa forma, estamos fi nalmente aptos para visualizar mentalmente uma palavra falada e capazes de reproduzi-la a partir da nossa imaginação. FONTE: <http://www.enscer.com.br/material/artigos/eina/linguagem/ geral/leituraescrita.php>. Acesso em: 7 mar. 2020. O aspecto sintático, segundo Rapin (2005), é o mais afetado em crianças com autismo. Essas crianças, conforme o autor, geralmente apresentam uma fala com vocabulário sem elementos coesivos, característicos de uma fala telegráfi ca. Tal alteração, na maioria das vezes, causa a ininteligibilidade para o interlocutor, uma vez que os enunciados da criança tornam-se curtos e sem estrutura sintática. 26 Comunicação Alternativa no TEA A fala telegráfi ca, segundo Goodglass e Menn (1985, p. 2), foi descrita por Deleuze, em 1819, como “uma característica marcante na fala de certos pacientes afásicos”, em geral aqueles acometidos por episódios neurológicos em áreas anteriores do cérebro (que envolvem regiões motoras, mais especifi camente a área de Broca), resultando em uma produção laboriosa da fala“. Assim, de modo geral, o domínio de estruturas linguísticas fl exíveis essenciais para a compreensão da linguagem falada, como pronomes, verbos, adjetivos e conjunções, geralmente está prejudicado na criança com autismo. Entenda melhor seu cérebro. Assista ao vídeo Setores do cérebro, responsáveis pela linguagem e a fala. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=bQvYZ0TkHjk. Acesso em: 2 ago. 2020. 3.1 ECOLALIA Até aqui notamos que o processo de aquisição de linguagem para a criança com TEA, diferencia-se em muitos sentidos, devido aos défi cits relacionados, entre eles, está incluso a ecolalia, neste sentido, para Delfrate, Santana e Massi (2009, p. 3): A ecolalia pode ser considerada não apenas como repetição, mas como indício da entrada da criança na língua, ou seja, de que ela não tem domínio sobre o que está dizendo e ainda não é consciente de seu trabalhou. Lier-de-Vitto (1995) comenta que a criança em fase de aquisição fala sozinha sem o intuito de interação. Assim, para qualquer criança repetir palavras que ouvem dos adultos ou mesmo falar sozinha é algo bem natural. Porém, parece que, em algumas crianças autistas essas características de repetição de palavras ou seja “ecolalia” persistem. Nesse contexto, Gauderer (1980), nos diz que, existem algumas crianças com autismo que falam com volubilidade ou com 27 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 facilidade, porém com atraso linguístico signifi cativo. Nesse contexto, Delfrate, Santana e Massi (2009, p. 3) fala sobre a “ecolalia dita normal diferencia-se no contexto patológico pela sua continuidade e por ser, muitas vezes, a única fala de crianças com autismo”. Porém ele também traz um alerta ao dizer que, “a ecolalia, [...], não pode ser analisada apenas como sintoma patológico, como se não fosse também encontrada no discurso dito normal” (SANTANA; MASSI 2009, p. 3). Dessa forma, qualquer um pode em algum momento ter uma fala ecolalica. A APA (2014, p. 126) classifi ca a ecolalia como: “ repetição da última palavra ou frase ouvida”. Mello (2007) nos diz que existem dois tipos de ecolalia: [...] ecolalia imediata, (acontece no momento). Outras crianças repetem frases ouvidas há horas ou até mesmo dias antes; é a chamada ecolalia tardia (MELLO, 2007, p. 3). Nesse sentido, as Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (2014), do Ministério da Saúde, traz algumas considerações sobre a precisão do diagnóstico da criança com TEA, destacando a questão da fala e comunicação, como sendo um dosfatores essenciais para o diagnostico, além disso faz referência à ecolalia, veja: Algumas crianças com TEA repetem palavras que acabaram de ouvir (ecolalia imediata). Outras podem emitir falas ou slogans e vinhetas que ouviram na televisão sem sentido contextual (ecolalia tardia). Pela repetição da fala do outro, não operam a modifi cação no uso de pronomes. Podem apresentar características peculiares na entonação e no volume da voz. A perda de habilidades previamente adquiridas deve ser sempre encarada como sinal de importância. Algumas crianças com TEA deixam de falar e perdem certas habilidades sociais já adquiridas por volta dos 12 aos 24 meses. A perda pode ser gradual ou aparentemente súbita. Caso isso seja observado em uma criança, ao lado de outros possíveis sinais, a hipótese de um TEA deve ser aventada, sem, no entanto, excluir outras possibilidades diagnósticas (por exemplo: doenças progressivas) (BRASIL, 2014, p. 34-35). Para Oliveira (2001), a ecolalia tem grande valor na aquisição da linguagem, seria como uma "tentativa primitiva" de manter o contato social. Segundo Saad e Goldfeld (2009), especialistas fonoaudiólogas mostram que pesquisas sobre a ecolalia foram iniciada por volta de 1969 e se refere a qualquer modifi cação da emissão ecoada, podendo ser imediata ou tardia para fi ns comunicativos. Sobre ecolalias tardia, elas expressam: 28 Comunicação Alternativa no TEA • Ecolalias tardias não interativas: o não focada; o associação situacional; o ensaio; o autodiretiva; o rotulação não interativa. • Ecolalias tardias-interativas: o troca de turno; o conclusão verbal; o otulação interativa; o prover informação; o chamado; o afi rmação; o pedido; o protesto; o diretiva (SAAD; GOLDFELD, 2009, p. 3). Algumas famílias ao ter o diagnóstico de TEA dos seus fi lhos, buscam informações sobre a linguagem e a fala, acabam tendo uma percepção errônea com relação à linguagem da criança, ou seja, que está se desenvolvendo normalmente como qualquer criança, mas, aos poucos, a família vai percebendo que sua fala não é dirigida ao outro. Corroborando com esse pensamento, Jerusalinsky (1993, p. 66), esclarece que: A ecolalia implica numa mera repetição fônica de signifi cante, sem produção e circulação de signifi cação, por a criança “estar completamente hipotecada à decisão do outro, por estar numa colagem absoluta ao outro”. Destacamos, aqui, que a intervenção do fonoaudiólogo é imprescindível para o tratamento precoce da ecolalia da criança com TEA. O que é ecolalia patológica? É a repetição tipo papagaio e, aparentemente, sem sentido (“fazer eco”) de uma palavra ou frase recém-falada por outra pessoa (APA, 2014, p. 866). 29 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Onomatopeia é uma fi gura de linguagem da língua portuguesa, pertencente ao grupo das “fi guras de palavras” e que indica a reprodução de sons ou ruídos naturais. A onomatopeia é o processo de formação de palavras ou fonemas com o objetivo de tentar imitar o barulho de um som quando são pronunciadas. FONTE: <https://www.signifi cados.com.br/onomatopeia/>. Acesso em: 2 ago. 2020. FIGURA 9 – ECOLALIA <https://static.wixstatic.com/media/5fa721_7ffe2226b4334045a082d9adbb5d75ff~mv2. jpeg/v1/fi ll/w_385,h_250,al_c,lg_1,q_80/Unknown-1.webp>. Acesso em: 26 jul. 2020. Os efeitos da ecolalia podem ser reduzidos por meio de tratamento fonoaudiológico individualizado e familiar. Assim, a terapia fonoaudiológica deve contar com o envolvimento de toda a família para a melhora da criança, isso porque o maior convívio social que essa criança terá, será sua família, eles serão os primeiros a observar falas que pareçam impertinentes, descontextualizadas ou falas com onomatopeias , mas que, para a criança, poderão ter signifi cados. Assim, destacamos que exige atenção conjunta dos familiares para seguir de forma positiva com a terapia. Para tanto, é preciso que o profi ssional seja procurado já na fase infantil, para que os resultados sejam positivos e efi cazes. O objetivo é fazer com que a criança seja entendida no momento em que se comunica durante seu desenvolvimento. Ressaltamos que cada profi ssional traçará o plano que melhor se adeque para cada sujeito com TEA. Há casos em que será preciso que sejam realizadas avaliações periódicas, enquanto que outros semanais. 30 Comunicação Alternativa no TEA Estudamos que a ecolalia não é apenas característica da criança com TEA, mas pode acontecer durante o desenvolvimento da fala de qualquer criança, porém, tende a desaparecer com o passar dos anos. Para Oliveira (2001), a ecolalia tem grande valor na aquisição da linguagem, seria como uma “tentativa primitiva” de manter o contato social. Sobre o exposto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- Em crianças com TEA a ecolalia tende a persistir. PORQUE II- A ecolalia, diferencia-se no contexto patológico pela sua continuidade e por ser, muitas vezes, a única fala de crianças com autismo. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justifi cativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justifi cativa da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 3.2 APRAXIA NA PESSOA COM TEA A apraxia está relacionada com a nossa motrocidade, conforme APA (2014, p. 683), “apraxia leve (i.e., difi culdade com movimentos com um propósito)”. Assim, a apraxia envolve a difi culdade em fazer movimentos fi nos e precisos, apesar da pessoa sentir o desejo de fazer esses pequenos movimentos. Gubiani, Pagliarin e Soares (2015), defi ne a apraxia de fala infantil, em inglês (Childhood Apraxia of Speech – CAS), como: A CAS é um dos subtipos de distúrbio de fala infantil de origem desconhecida, o qual é defi nido como uma desordem motora 31 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 dos sons, que interfere especifi camente o planejamento ou a execução do movimento orofacial durante a produção dos fonemas (GUBIANI; PAGLIARIN; SOARES, 2015, p. 2). Dentro desse mesmo conceito, Kent e Read (2002) dizem que a apraxia se manifesta pela alteração na sequência dos movimentos da fala, embora a musculatura não pareça estar fraca, lenta ou descoordenada. Nesse sentido, a apraxia que conhecemos, em geral, acontecem devido a patologias relacionadas com: AVC, infarto cerebral, tumor ou uma degeneração, nas conexões por causa de Alzheimer, demências, entre outras. Nessas patologias mencionadas, a apraxia retém memórias de movimentos motores fi nos familiares, como: iniciar caminhada, pentear o cabelo, abrir ou fechar portas, utilizar chave de fenda ou tesoura, inspirar profundamente e segurar a respiração, usar corretamente talheres, escova de dentes, escrever. Oberserve a fi gura a seguir sobre a área do cérebro lesionado por infarto cerebral. FIGURA 10 – INFARTO CEREBRAL FONTE: <https://www.mdsaude.com/wp-content/uploads/ AVC-isquemico.jpg>. Acesso em: 26 jul. 2020. Segundo a APA (2014), apraxia, de forma geral, está dentro dos transtornos do desenvolvimento da coordenação motora integrado. Assim, a apraxia envolve não só o corpo, mas também a fala, além disso, o transtorno de fala é visto como uma comorbidade dentro de algumas patologias ou transtornos do desenvolvimento da coordenação (dispraxia verbal), conforme delinea a APA (2014, p. 88): encontrado comórbido com transtorno da fala. [...]. Pode existir história de atraso ou descoordenação na aquisição das habilidades que também utilizam os articuladores e a musculatura facial relacionada; essas habilidades incluem, entre outras, mastigação, manutenção do fechamento da 32 Comunicação Alternativano TEA boca e ato de assoar o nariz. Outras áreas da coordenação motora podem estar prejudicadas, como no transtorno do desenvolvimento da coordenação. Dispraxia verbal é um termo também usado para problemas de produção da fala. Muitas vezes, doenças como AVC, demência etc., não vêm com tanta intensidade e a apraxia passa despercebida, por isso, qualquer sintoma que indique uma apraxia tem de ser levado em consideração. Neste contexto, fazer testes ou exames neuropsicológicos realizados por neurogistas, fi sioterapeutas ou terapeuta ocupacional podem ajudar a identifi car apraxias mais sutis. Para um diagnótisco preciso é necessário: • Avaliação de um médico especialista. • Testes das funções cerebrais. • Exames por imagem, como tomografi a computadorizada ou imagem por ressonância magnética. Destacamos a importância para não confundirmos apraxia com dispraxia – que relaciona a problemas motores verbais e espaciais. Alguns especialistas usam o termo “síndrome da criança desajeitada” (APA, 2014, p. 119), para dispraxia. Já a apraxia está relacionada, em específi co, com movimentos fi nos, conforme já descrito pelo APA (2014). Assim, no geral, a apraxia e dispraxia são condições médicas que afetam o sistema nervoso do corpo, levando a difi culdades nos movimentos que também podem envolver a articulação da fala e linguagem. Ambas são condições neurológicas incuráveis que precisam de terapia física e psicológica para trazer autonomia ao paciente. Entenda melhor a diferença entre a dispraxia e apraxia por meio do vídeo a seguir: https://www.youtube.com/ watch?v=KJVvuxLMuwQ>. A fi sioterapia e a terapia ocupacional são de suma impotância para melhorar moderadamente a vida funcional e tornar o ambiente mais seguro para os sujeitos com essas condições de apraxia e dispraxia. Vaz, Fontes e Fukujima (1999) dizem que as apraxias podem ser identifi cadas por testes específi cos, mas trazem o seguinte alerta sobre a aplicabilidade: 33 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Por profi ssionais da saúde envolvidos na recuperação neuromotora desses pacientes, quando devidamente treinados. [...] Para a aplicação dos testes, deve-se manter uma observação objetiva do comportamento motor do paciente [...] (VAZ; FONTES; FUKUJIMA, 1999, p. 2). Vaz, Fontes e Fukujima (1999) nos dizem que as apraxias são classifi cadas segundo suas características, assim, poderíamos citar as várias apraxias explicando cada uma delas, certos que não esgotaríamos os estudos referentes a esta temática, mas esse não é nosso principal objetivo, por enquanto, dialogamos que, A apraxia pode ser pura quando é específi ca e não está associada a uma outra condição; ou pode ocorrer associada a outras condições, tais como autismo e síndromes genéticas, por exemplo, Síndrome de Down, Síndrome de Prader-Willi, entre outras (TISMOO, 2017, s.p., grifo do autor). Note a seguir as apraxias mais divulgadas e discultidas nas literaturas, segundo Vaz, Fontes e Fukujima (1999, p. 2-4): • Apraxia ideomotora: é um distúrbio na realização dos gestos simples ou simbólicos, sem a utilização de objetos. Embora o paciente saiba o que fazer, ele é incapaz de fazê-lo com intenção, mas pode executá-los automaticamente (ex.: ordena- se que o paciente faça o sinal da cruz, ele não o faz, mas realiza-o automaticamente ao entrar em uma igreja. • Apraxia construtiva: é a incapacidade ou a difi culdade de reproduzir ou desenhar espontaneamente o que fazia anteriormente à lesão neurológica, sem difi culdade (ex.: ele é incapaz de fazer um desenho com molde). • Apraxia mielocinética: é a incapacidade de executar movimentos adquiridos delicados; a rapidez e a habilidade estão afetadas, independentemente da complexidade do gesto; pode ser identifi cada na mímica, sendo mais evidente quando se testam os movimentos distais independentes, principalmente os mais rápidos (ex.: o paciente é incapaz de imitar o ato de passar a ferro). • Apraxia da marcha: corresponde a um défi cit da marcha, que não pode ser explicado por fraqueza, perda sensorial ou incoordenação motora. A marcha é lenta, com passos pequenos, arrastados e hesitantes, às vezes com pausa; o início da marcha é difícil e a piora é progressiva, sendo que nos casos mais graves os pacientes são incapazes de dar um passo, como se seus pés estivessem colados ao chão. • Apraxia bucofacial: o paciente é incapaz de realizar os movimentos voluntários da deglutição, movimentos voluntários da língua, movimentos faciais ao comando (ex.: lamber os lábios, soprar um fósforo), mas automaticamente fumam e recolhem migalhas nos lábios com a língua. • Apraxia agnóstica: é comum alguns autores associarem as apraxias com as agnosias, sendo por defi nição: apraxia – 34 Comunicação Alternativa no TEA Ao contrário da apraxia existe a praxia. Segundo o dicionário on-line em português [...] Na [Medicina] Função responsável pela realização de gestos ordenados e funcionais. Ação de participar ativamente numa atividade de ordem prática. Etimologia (origem da palavra praxia). Do grego práxis, “ação” + ia. FONTE: <https://www.dicio.com.br/praxia/>. Acesso em: 2 ago. 2020. alteração das funções gestuais, e agnosias – alteração das funções cognitivas, ou seja, o paciente não realiza os gestos por não reconhecer o objeto e qual a sua utilização. • Apraxia diagonística: consiste em má cooperação entre as mãos na execução de tarefas bimanuais. Nas atividades espontâneas, [...] As difi culdades que o paciente encontra para a execução dessas tarefas bimanuais devem-se ao fato de que o conjunto cérebro esquerdo/mão direita responde às solicitações verbais ou aos projetos conceituais, enquanto o conjunto cérebro direito/mão esquerda responde às estimulações visuais concretas. Os dois hemisférios separados não podem coordenar sua respectiva atividade e atrapalham- se mutuamente (grifo do autor). Falamos de apraxia de uma forma geral, sejam por motivos patológicos ou por algum transtorno. Relacionado à pessoa com TEA e dependendo do grau de comprometimentos do espectro, a maioria das apraxias citadas anterioemente por Vaz, Fontes e Fukujima (1999), enquadram-se na pessoa com TEA, principalmente a apraxia bucofacial relacionada a fala, porque enquanto desenvolvemos nossa linguagem, ocorrem os chamados refi namentos nos movimentos nas estruturas fonológicas articulatórias responsáveis pela fala, transformando-os em movimentos cada vez mais precisos. Refi namentos estes importantes para a efetividade da comunicação oral. Em algumas crianças com TEA, esse refi namento dos movimentos que vão ser usados durante a fala pode não acorrer, gerando uma fala desconxa e gestos articulatórios, caracterizando uma difi culdade práxica. Neste contexto, a apraxia de fala na infância pode ser defi nida por Souza e Payão (2008, p. 1) como: 35 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 A Associação Americana de Fonoaudiologia recomenda o termo Apraxia de Fala na Infância para “Distúrbio neurológico motor da fala na infância, resultante de um défi cit na consistência e precisão dos movimentos necessários a fala, na ausência de défi cits neuromusculares (por exemplo, re-exos normais, tônus alterado). FONTE: <https://apraxiabrasil.org/informacoes-sobre-afi />. Acesso em: 06 de Mar. 2020. [...] um transtorno da articulação no qual há comprometimento da capacidade de programar voluntariamente a posição da musculatura dos órgãos fonoarticulatórios e a sequência dos movimentos musculares para a produção de fonemas e palavras. Essas difi culdades de programação de posição e seqüência dos movimentos ocorrem, apesar de sistemas motores, sensoriais, das habilidades de compreensão, atenção e cooperação encontrarem-se preservados (1-4) a difi culdade em programar voluntariamente o gesto articulatório na ausência de défi cits neurológicos ou musculares. FIGURA 11 – APRAXIA NA INFÂNCIA FONTE:<https://expliqi.com.br/wp-content/uploads/2019/08/ maxresdefault.jpg>. Acesso em: 26 jul. 2020. ^ Assim, crianças com a Apraxia de Fala na Infância (AFI) normalmente possuem muitos erros durante a articulação. Shriberg et al. (1997) nos dizem que a AFI é defi nida como uma categoria diagnóstica atribuída a crianças cujos erros de fala diferem daqueles encontrados em crianças com atraso no desenvolvimento da fala e se assemelham aos erros de adultos com apraxia adquirida, os erros 36 Comunicação Alternativa no TEA cometidos por essas crianças assemelham-se aos erros cometidos por adultos, após algum dano cerebral. De acordo com a ABRAPRAXIA (Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância), no Brasil, as principais características encontradas na fala de crianças acometidas por essa difi culdade são: • Pobre repertório de vogais, erros na produção das vogais na fala. • Pobre repertório de consoantes durante a fala, incluindo as consideradas mais visíveis e fáceis de serem adquiridas, como P e M. • Variabilidade de erros e presença de erros incomuns na fala. • Os erros e a difi culdade aumentam com o aumento da quantidade de sílabas das palavras. • Dependendo do grau de severidade, a criança pode produzir o som, sílaba ou palavra-alvo em um contexto, mas é incapaz de produzi-lo com precisão em um contexto diferente. • Possuem mais di fi culdade nas tarefas que precisam de controle voluntário, em comparação com as realizadas de forma automática. • Di fi culdade nas tarefas de diadococinesia, ou seja, para alternar com precisão a repetição das mesmas sequências, como pa/pa/pa ou de sequências múltiplas, como pa/ta/ka. • Presença de alterações prosódicas, fala acelerada ou monótona, erros de ritmo e entonação, défi cit na duração dos sons e pausas entre as sílabas. • Pode ser observado durante a fala “procura” ou “esforço” para realizar as posições articulatórias. • A criança demonstra que fi ca “perdida”, não sabe como movimentar a boca, possui intenção comunicativa, tenta falar mas não consegue. • Presença de uma grande discrepância entre a compreensão e a produção de fala (exemplo, entende o que lhe é falado, porém não consegue verbalizar sua resposta etc.) (ABRAPRAXIA, 2018, s.p). Agora, pare e refl ita! Já parou e percebeu o processo neurológico que está envolvido quando você fala? Quantos passos seus cérebro dá para acontecer a fala? Quantos músculos do seu corpo é preciso? É algo tão automático e natural que, provavelmente, nunca paramos para pensar nisso, não é mesmo? Bem, para a pessoa que possui apraxia de fala, não é nada natural produzir e soltar as palavras, exige um esforço muito grande, é um processo bem diferente, conforme descreve a fi gura a seguir. 37 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 FIGURA 12 – COMO ACONTECE A APRAXIA FONTE: <https://apraxiabrasil.org/site/wp-content/uploads/2020/06/CARTILHA- APRAXIA-DE-FALA-NA-INF%C3%82NCIA_ISBN.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2020. Dessa forma, trazemos um exemplo da ABRAPRAXIA, com a experiência de uma mãe que possue uma fi lha diagnosticada com apraxia de fala logo na infância, e que hoje já sabe ler. É um exemplo prático para pais e profi ssionais que atendem às crianças que possuem apraxia, independente de ter o diagnóstico com TEA. Acompanhe como ela estimula sua fi lha na leitura, na escrita e na noção do espaço temporal por meio de um quadro de rotina. Essa foto mostra um exercício diário que tem realizado com a fi lha. FIGURA 13 – QUADRO ROTINA FONTE: <https://apraxiabrasil.org/textos-sobre-afi /criando-uma-rotina- para-a-crianca-com-apraxia-de-fala/>. Acesso em: 26 jul. 2020. 38 Comunicação Alternativa no TEA Para seu conhecimento, acadêmico, elencamos indicações de estudos e sites, relacionados à apraxia com um dos caminhos para se buscar e se aprofundar. Entre eles, destacamos a Associação Norte Americana de Fonoaudiólogos (ASHA), ela publicou três importantes documentos no ano de 2007 sobre a Apraxia de Fala na Infância (AFI). Eles se encontram na língua inglesa, mas com os recursos tecnológicos existentes hoje, pode-se fazer a tradução em pouco tempo. Então que tal pesquisar! Note como a mãe faz isso: “— Todos os dias pergunto: 1) Que dia é hoje? Daí escrevo o dia, exemplo, 2. 2) Que dia foi ontem? Que dia veio antes de hoje? Daí escrevo o dia, exemplo, 1. 3) Que dia vai ser amanhã? Que dia vem depois de hoje? Daí escrevo o dia, exemplo, 3. Faço as mesmas perguntas para o dia da semana, exemplo, quinta, quarta e sexta. Depois escrevemos a data completa e fi nalizo perguntando como está o tempo lá fora e desenho” (COLLAVINI, 2020, s.p.). Esse é apenas um exemplo que parece simples, mas que tem dado certo em muitos lares e escolas. Assim, se há dúvidas quanto ao desenvolvimento da fala do fi lho ou do educando, se está adequado ou não para sua idade, não espere para procurar ajuda. A orientação é que busque o quanto antes um especialista fonoaudiólogo que tenha experiência com crianças, desenvolvimento da fala e linguagem e que conheça a Apraxia de Fala na Infância (AFI), para dar um diagnóstico correto. Procure, também, apoio em grupos de pais e profi ssionais na área, para que possam trocar informações importantes e de fontes seguras. Estudos têm indicado que a música tem contribuído muito nas terapias para apraxia. Leia o artigo: Musicoterapia na fala da apraxia infantil. Disponível em: https://www.researchgate.net/ publication/334230784_Musicoterapia_na_Apraxia_da_Fala_Infantil. 39 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 Para sse aprofundar neste assunto, acadêmico, indicamos alguns material a seguir: • ABC da Apraxia de Fala na Infância: https://apraxiabrasil.org/ textos-sobre-afi/%EF%BB%BFabc-da-apraxia-de-fala-na- infancia/. • Baixe alguns materiais informativo: https://apraxiabrasil.org/ baixar-materiais/. • Videos de profi ssionais e pais: https://apraxiabrasil.org/videos/. • Declaração sobre AFI – www.asha.org/policy/PS2007-00277/. • Reporte Técnico sobre AFI – www.asha.org/policy/TR2007- 00278/. • Descrição da AFI como distúrbio de fala – www.asha.org/public/ speech/disorders/ChildhoodApraxia/. Nesse sentido, nota-se a impotância de terem mais estudos relacionados à apraxia também aqui no Brasil. Assim, apresentamos alguns estudos e dicas da Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância (ABRAPRAXIA), fundada em 2016, que tem como principal objetivo a divulgação e terapias sobre apraxia no Brasil. Fique atendo a esta data, 14 de maio, ela foi escolhida como o Dia da Conscientização da Apraxia na Fala na Infância nos Estados Unidos. Aqui, no Brasil, a ABRAPRAXIA vem utilizando a mesma data, com atividades educativas e informativas em vários pontos do país. Assim, é necessário muita atenção para disgnosticar qualquer tipo de apraxia na criança ou pessoa com TEA, visto que, em pessoas com algum tipo de lesão cerebral se torna fácil esse diagnóstico após alguns testes. O diagnóstico de apraxia, por vezes, acaba sendo tardio e confundido com outros transtornos de atraso de linguagem ou alguma comorbidade. Desta forma, destacamos que não tendo o diagnóstico correto, desde a infância, não terá também as terapias e nem suportes necessários para lidar com a apraxia quando se tornar um adulto com TEA. Fique atendo a esta data, 14 de maio, ela foi escolhida como o Dia da Conscientização da Apraxia na Fala na Infância nos Estados Unidos. Aqui, no Brasil, a ABRAPRAXIA vem utilizando a mesma data, com atividades educativas e informativas em vários pontos do país. 40 Comunicação Alternativa no TEA Após imergir no mundo da Apraxia de Fala na Infância (AFI), disserte brevemente sobre as principais características encontradas na fala das crianças acometidas por essa difi culdade, segundo a ABRAPRAXIA: R.:_______________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________ Conheça o livro Estimulação da linguagem no transtorno do espectro autista – TEA. Elaboração e adequação de exercícios e atividades estruturadas, com base no método multissensorial para crianças com TEA em fase de alfabetização. Esta obra é o resultado das experiências, refl exões sobre a prática fonoaudiológica de autoria de Mariana Paes Leme Hypólito. FIGURA – ESTIMULAÇÃO DA LINGUAGEM NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA – TEA FONTE: <https://images-americanas.b2w.io/produtos/01/00/ oferta/50289/5/50289510_1SZ.jpg>. Acesso em: 2 ago. 2020. 41 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM NO AUTISMO Capítulo 1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Ao refl etir sobre o processo de aquisição de linguagem e da fala da criança com TEA, encontramos muitas questões pragmáticas que, aos poucos, com o conhecimento adquirido, vão se dissolvendo em resposta a muitos questionamentos por parte dos pais e profi ssionais que atuam diretamente com crianças com TEA. Essas questões vão desde défi cits simples de atraso de linguagem até aos mais complexos, incluindo os sintomas relacionados aos movimentos corporais de marcha, entre outros. Fica evidente que a ecolalia é uma característica que pode ser considerada como indício da entrada de qualquer criança no mundo da linguagem, o que muitas vezes difi culta o disgnóstico em crianças com TEA, sendo confundida como um desenvolvimento de linguagem normal na infância, até que se mostrem, de fato, que existe um problema de fala para se comunicar e precisa de intervenção. Logo, a interação social se torna uma peça-chave na construção da linguagem, com qualquer pessoa que possue qualquer ditúrbio de linguagem, pois é nela que ocorrem as práticas dialógicas. Entende-se também que nem todas as crianças com TEA desenvolverão transtornos do desenvolvimento motor fi no ou grosso, relacionado à dispraxia com seu seus subgrupos: ecolalia, apraxia, entre outros. Muitos possuem movimentos práxicos sem nenhuma difi culdade motora fi na ou global, ou seja, aqueles movimentos que seguem uma sequência familiar que já foi desenvolvida e aprendida ao longo do tempo. Outro aspecto considerado foi a importância de valorizarmos as demonstrações de tentativas do autista diagnosticado com apraxia de fala em expressar o seu desejo, entende-se que, em sua mente, está claro o que ele quer, talvez imagem mental da fi gura do objeto, mas não é capaz de realizar a programação cerebral específi cas dos órgãos fonoarticulatórios (OFA) para produzir os sons desejados, na ordem e sequência adequadas, e, por fi m, produzir a fala e se comunicar. Enfatizamos que crianças com TEA que possuem mais comorbidades associadas que outras, além da ecololaia e apraxia, fazer intervenções comunicacionais, torna-se um desafi o ainda maior, isso devido a questões comportamentais ou sensoriais, que não permitem um tempo de foco/ atenção, bem como outras caracteristicas para tal intervenção. A partir destas considerações, entendemos que a intervenção fonoaudiológica por especialistas na área de apraxia e TEA que direciona as terapias essencialmente para os 42 Comunicação Alternativa no TEA aspectos da comunicação social/funcional e para as habilidades de linguagem, são de fundamental importância. Destaca-se, nesse processo, a importância do respeito na construção da subjetividade de cada criança ou adulto com TEA, considerando a singularidade de cada um. Essa singularidade é própria ao processo de aquisição de linguagem e faz parte da relação particular que se estabelece entre o sujeito, a linguagem e suas interações sociais. Acima de tudo, devemos lembrar que cada pessoa com TEA terá suas especifi cidades. Por isso, é extremamente importante pensar em terapias para ecolalia e apraxia de forma personalizadas/customizadas, bem como buscar contemplar todos os componentes que fazem parte da intervenção. Nesse contexto, a participação da família, especialmente dos pais, da escola e dos demais profi ssionais que o atende será, sem dúvida, um caminho do êxito, comunicativo e social da pessoa com TEA. REFERÊNCIAS ABRAPRAXIA. Apraxia de fala na infância: o que é e quais suas principais características? 2018. Disponível em: http://www.proaudi.com.br/319_apraxia_ de_fala_na_infancia_o_que_e_e_quais_suas_principais_caracteristicas_.fi re . Acesso em: 2 ago. 2020. ALBANO, E. C. Da fala a linguagem tocando de ouvido. São Paulo: Martins Fontes, 1990. APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. 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CAPÍTULO 2 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Compreender a importância de ferramentas interventivas para complementar ou suplementar a comunicação da pessoa com TEA. • Conceituar a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) e seus instrumentos no uso da comunicação de pessoas com défi cit de fala. • Entender o desenvolvimento e utilização do sistema SCALA na promoção e letramento do autista. • Analisar os sistemas PECS, CARDS como instrumentos para potencializar a comunicação das pessoas com TEA. • Propor a Língua de Sinais como uma alternativa de expressão e sinalização para a pessoa com TEA. 48 Comunicação Alternativa no TEA 49 TEA: MATERIAIS E INSTRUMENTOS DA INTERVENÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA)EM COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA ALTERNATIVA (CAA) Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A comunicação é um dos meios responsáveis pela construção da sociedade humana, por meio dela, realizamos trocas de informações, compartilhamos momentos, defendemos, avaliamos, enfi m, construímos uma rede em nossa volta. De fato, o homem é um ser social! Nesse sentido, o movimento de ir e vir do ser humano foi construindo processos de comunicação que produzem e transmitem informações e opiniões sobre pessoas, instituições, produtos, acontecimentos, conhecimentos do mundo inteiro. Tudo é transformado em mensagem, em informação. Isso só é possível através de meios que possibilitam que qualquer pessoa possa saber o que está acontecendo “agora” em qualquer lugar do mundo. Desde o nascimento, a efetivação da comunicação acontece e envolve o emissor (quem transmite) e o receptor (quem recebe). É uma troca que de alguma forma há a obtenção e a transmissão de conhecimentos e signifi cados daquele sinal utilizado por ambos que o utilizam. Conforme já foi visto, a pessoa com TEA apresenta um défi cit considerável na comunicação, interação social e comportamento, por ser um transtorno global do desenvolvimento, o que implica em défi cits nos aspectos neurológicos. Neste capítulo, veremos alguns instrumentos relacionados à comunicação, que podem ajudar e contribuir para o desenvolvimento da linguagem da pessoa com TEA, principalmente aqueles conhecidos como “não verbais”. No contexto da comunicação não verbal, trazemos um recorte sobre a comunicação proxêmica, esse tipo de comunicação estuda o signifi cado social do espaço, a proximidade, ou seja, estuda como o homem estrutura inconscientemente o próprio espaço por meio da comunicação, Conforme Galvão et al. (2006), para entendermos sobre análise proxêmica temos que compreender oito fatores compostos pelas seguintes dimensões: 1. Postura-sexo: analisa o sexo dos participantes e a posição básica dos interlocutores, como as posições: de pé, sentado e deitado; 2. eixo sociofugo-sociopeto: o eixo sociofugo demonstra o desencorajamento da interação, enquanto o sociopeto trata do inverso. Essa dimensão analisa o ângulo dos interlocutores, a saber: face a face, de costas um para os outros, entre outras angulações; 3. cinestésicos: cabe- lhes provocar a proximidade entre os interlocutores. Analisa o contato físico a curta distância, como o toque ou o roçar da pele e o posicionamento das partes do corpo; 4. comportamento de contato: esse fator refere-se às formas de relações táteis como acariciar, agarrar, apalpar, segurar demoradamente, apertar, tocar localizado, roçar acidental ou nenhum contato físico; 5. código visual; verifi ca o modo de contato visual ocorrido 50 Comunicação Alternativa no TEA nas interações como o olho no olho ou ausência de contato; 6. código térmico: diz respeito ao calor percebido pelos interlocutores; 7. código olfativo: analisa as características e o grau de odor percebido
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