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Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual Organização do trabalho pedagógico na área de surdo- cegueira e deficiência intelectual Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual BELO HORIZONTE - MG Sumário 1. Sobre a Surdocegueira ........................................................................... 3 2. Conceito de deficiência na ótica surdocegueira ...................................... 3 2.1 Principaia causas da surdocegueira ....................................................... 5 2.2 Classificação da surdocegueira ................................................................. 6 3. A comunicação com a pessoa surdocega ............................................. 10 3.1 Libras tátil ............................................................................................. 12 3.2 Método Tadoma ................................................................................... 13 3.3 Alfabeto datilológico.............................................................................. 14 3.4 Sistema Braile Tátil ............................................................................... 15 3.5 A comunicação com a pessoa surdocega congênita ............................ 16 3.5.1 Comunicação receptiva ..................................................................... 18 3.5.2 Comunicação expressiva .................................................................. 18 4. A educação dos surdocegos ................................................................. 19 4.1 Atendimento Educacional Especializado ao aluno surdocego .............. 23 4.2 Profissionais da educação especial que apoiam o aluno surdocego..... 24 4.2.1 O Profissional Guia-Interprete ........................................................... 25 4.2.2 Instrutor Mediador ............................................................................. 25 5. Sobre a deficiência intelectual .............................................................. 26 5.1 O diagnóstico de deficiência intelectual ................................................ 27 6. O trabalho com o aluno portador de deficiência intelectual ................... 30 6.1 Currículo e planejamento de ensino para alunos com deficiência intelectual 33 6.2 Estratégias de ensino para alunos com deficiência intelectual ................. 37 6.2 Considerações sobre o ensino especializado do aluno com deficiência intelectual 39 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 42 Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual 1. Sobre a Surdocegueira No cenário atual brasileiro podemos encontrar diversos artigos que apontam estudos sobre a surdocegueira, são muitas reflexões sobre esse assunto desafiador. Muitas foram as discussões que nortearam a terminologia “Surdocegueira”. Em 1991, Lagati (1995) sugeriu a grafia “surdocego” em substituição do termo hifenizado “surdocego”, indicando que a surdocegueira é uma condição que apresenta necessidades diferentes daquelas causadas pela “cegueira” e pela “surdez”. Maia (2004) relata que, ao longo da história, desde os primeiros atendimentos educacionais, as pessoas que possuíam perdas auditivas e visuais concomitantes, receberam várias nomenclaturas para designar a deficiência: Dificuldade de Aprendizagem Profunda e Múltipla (DAPM); Múltipla deficiência Severa; Surdo com Múltipla deficiência; Cego com deficiência adicional; Múltipla privação sensorial (MPS); Dupla Deficiência Sensorial; Sudo-cegueira.(FARIAS, 2015, p. 21) Podemos perceber que não havia uma compreensão, de fato, sobre a surdocegueira, em virtude disto não havia nenhum tratamento especializado, diferenciado que atendesse a pessoa surdocega. Percebe-se que as dificuldades visuais e auditivas eram trabalhadas individualmente sem estratégias específicas para favorecer situações de aprendizagem, nas quais os canais sensoriais remanescentes (tato, olfato, propriocepção, cinestesia, vestibular e háptico), em conjunto com os canais sensoriais de visão e audição (residual ou não), promovessem as informações necessárias para que as pessoas com surdocegueira interagissem e se comunicassem com mais eficiência. (FARIAS, 2015, p. 21) A surdocegueira, nos dias atuais, é considerada uma deficiência singular, sendo assim, a pessoa surdocega não é considerada múltiplo deficiente. 2. Conceito de deficiência na ótica surdocegueira Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual Existem muitos questionamentos acerca da surdocegueira, isso acontece por parte dos profissionais de áreas diversas e também pelos responsáveis por programas educacionais dos setores público e privado. Podemos encontrar diversas definições de surdocegueira com enfoques variados. A surdocegueira pode ser caracterizada por aspectos de perda sensorial de audição e visão. Sobre as definições de surdocegueira, Farias diz: No Brasil, a primeira definição de surdocegueira foi divulgada no censo escolar do Brasil pelo Ministério da Educação, este considera surdocegueira. Uma deficiência singular que apresenta perdas auditivas e visuais concomitantemente em diferentes graus e que demanda o desenvolvimento de diferentes formas de comunicação para que a pessoa surdocega possa interagir no meio social. (BRASIL, 2005a, p. 62) A definição de surdocegueira como uma deficiência singular é entendida, também, pelo Grupo Brasil de Apoio ao surdocego e ao Multiplo deficiente Sensorial. Para esse grupo: Surdocegueira é uma deficiência singular que apresenta perdas auditivas e visuais concomitantemente em diferentes graus, levando a pessoa com surdocegueira a desenvolver diferentes formas de comunicação para entender e interagir com as pessoas e o meio ambiente, para ter acesso a informações, uma vida social com qualidade, orientação, mobilidade, educação e trabalho. (GRUPO BRASIL, 2007 apud MAIA, 2011, p. 51) Os conceitos discutidos até o momento por pesquisadores, grupos, instituições referem que a surdocegueira é uma deficiência única, causada pela perda da visão e audição, concomitantemente. Geralmente, as definições se assemelham quando enfatizam que a pessoa com surdocegueira necessita aprender diferentes sistemas de comunicação, para poder interagir e participar ativamente no ambiente em que participa. Entretanto, a depender da extensão e do comprometimento das perdas (auditiva e visual) poderá afetar a comunicação, a mobilidade, as relações interpessoais o acesso às informações, educação e trabalho. (FARIAS, 2015, p. 25) Para entender o que é surdocegueira abordaremos também os princípios levantados por Bosco, Mesquita e Maia, que dizem: Para McInnes (1999), a premissa básica é que a surdocegueira é uma deficiência única que requer uma abordagem específica para favorecer a pessoa com surdocegueira e um sistema para dar este suporte. O referido autor subdivide as pessoas com surdocegueira em quatro categorias: l Indivíduos que eram cegos e se tornaram surdos; l Indivíduos que eram surdos e se tornaram cegos; l Indivíduos que se tornaram surdocegos; Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual l Indivíduos que nasceram ou adquiriram surdocegueira precocemente, ou seja, não tiveram a oportunidade de desenvolver linguagem, habilidades comunicativas ou cognitivas nem base conceitual sobre a qual possam construir uma compreensão de mundo. O mesmo autor (1999) relata que muitos indivíduos com surdocegueira congênita ou que a adquiram precocemente têm deficiências associadas como:físicas e intelectuais. Estas quatro categorias podem ser agrupadas em Surdocegos Congênitos ou Surdocegos Adquiridos. E dependendo da idade em que a surdocegueira se estabeleceu pode-se classificá-la em Surdocegos Pré-lingüísticos ou Surdocegos Pós- lingüísticos. (BOSCO, MAIA, MESQUITA, 2010, p. 10) De acordo com o Instituto Benjamin Constant o conceito de surdocegueira: é uma deficiência singular que apresenta perdas auditivas e visuais concomitantemente em diferentes graus, levando a pessoa com surdocegueira a desenvolver diferentes formas de comunicação para entender e interagir com a sociedade. O indivíduo surdocego necessita de um atendimento educacional especializado diferente daquele destinado ao cego ou ao surdo, por se tratar de uma deficiência única com características específicas principalmente no que se refere à comunicação, à informação e à mobilidade. A principal característica da população surdocega é a heterogeneidade. Esses sujeitos podem ser totalmente surdos e cegos, enquanto que outros podem ter resíduo auditivo e/ou visual. A surdocegueira é classificada em dois grupos: congênita, quando o indivíduo nasce com a deficiência; e adquirida, quando a pessoa nasce com perda visual ou auditiva, adquirindo outra no decorrer da vida. Em ambos os casos, há o desafio de comunicação resultando em isolamento do sujeito surdocego. Para que isso não ocorra, é importante que haja intervenção adequada levando em consideração as especificidades da surdocegueira. (IBC, 2020) 2.1 Principaia causas da surdocegueira As causas da surdocegueira são diversas, e podem ocorrer no período pré-natal, perinatal e pós-nata, Farias aposta as causas da seguinte maneira: Descrevo no quadro 1 as causas mais frequentes da surdocegueira baseados em Reys (2004). Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual Além das causas descritas, o autor também aponta algumas síndromes que tem como consequência a surdocegueira: Síndrome de Charge, Síndrome de Usher, Síndrome de Wolfram ou Diamoad. Cambruzzi (2007) vai mais além e apontas outras síndromes que podem ter como consequência a surdocegueira: Síndrome de Dawn, quando está é associada a uma perda auditiva e alta miopia; Síndrome de Refsum; Síndrome de Kears-Sayres; Síndrome de Bardet-Biedel; Síndrome de Pierre Robin; Síndrome de Flynn-Aird; Sídrome de Goldenhar; Síndrome de Cokayne; Síndrome de Halgreen; Síndrome de West; e Síndrome da Osteogênese Imperfeita. De acordo com Maia (2004), em uma pesquisa realizada com uma população de 583 casos de surdocegueira, a etiologia que tem maior prevalência no Brasil é a Rubéola Congênita, com cerca de 60% dos casos, seguida da Síndrome de Usher com cerca de 25% dos casos. (FARIAS, 2015, p. 28) 2.2 Classificação da surdocegueira Existem dois períodos distintos da surdocegueira, Farias destaca que são: a) Congênita – aquela que adquire a surdocegueira antes da aquisição de uma língua (português ou língua de sinais). b) Adquirida – aquela que por algum motivo adquire a surdocegueira após aquisição da língua. Nessa classificação, estão as pessoas que nascem surdas e adquirem posteriormente a deficiência visual como também as pessoas que nascem com deficiência visual e, posteriormente, adquirem a perda auditiva, ou adquirem a cegueira e a surdez posteriormente a aquisição da língua. (FARIAS, 2015, p. 26) A também pode ser classificada de acordo com o nível de comunicação, pode ser nível baixo, nível médio, nível alto de funcionamento. Para definir melhor estes níveis partiremos da abordagem de Farias: ...pessoas com baixo nível de comunicação são: Quando crianças, jovens e adultos têm sua comunicação limitada aos aspectos básicos da vida cotidiana, utilizando-se de sistemas de comunicação concretos, ora de comunicação Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual expressiva como: apontar, movimentos corporais, sinais isolados de libras, expressões faciais e corporais. Geralmente são pessoas que apresentam comprometimentos severos das vias perceptuais dos sentidos de distância (visão e audição), sendo necessário a mediação constante de um parceiro de comunicação para poder aprender sobre o que ocorre em seu entorno. Seu aprendizado não ocorre de maneira espontânea (imitação). A intervenção deve ser centrada em atividades 26 funcionais, ou seja, que tenha significado no dia a dia da pessoa [...] (MAIA, 2004, p. 9) Para conceituar o nível médio de comunicação, Maia (2004, p. 9) discorre que: Quando crianças, jovens e adultos, tem sua comunicação mais eficiente no seu dia a dia, utilizam geralmente mais que um sistema de comunicação, suas vias perceptuais de distância (visão e audição) permitem a aprendizagem espontânea (imitação). Realizam resolução de problemas de ordem simples, sua independência e autonomia permitem participar de atividades vocacionais e profissionalizantes com apoio e mediação de um parceiro de comunicação. Na vida acadêmica, sua alfabetização geralmente é funcional, permitindo-lhes a independência para realização de atividades mais complexas com apoio da comunicação alternativa e recursos de tecnologia assistiva. A intervenção deverá ser centrada também em atividades funcionais e com a utilização de diferentes sistemas de comunicação para promover oportunidade de escolha e aprendizagem e uma profissão qualificada. Ao discorrer sobre o alto nível de funcionamento, a autora diz que: Quando pessoas, jovens e adultos, tem sua comunicação altamente eficiente, utilizam diferentes sistemas de comunicação, como [...] Sua vida acadêmica ocorre com apoio de guia-intérprete ou de instrutor mediador e recursos de tecnologia assistiva. A intervenção deve ocorrer em parceria escola especial e regular para desenvolvimento dos sistemas de comunicação e técnicas de orientação e mobilidade na qual o objetivo do processo de aprendizagem e favorecer sua vida e o exercício de uma profissão superior ou técnico. (MAIA, 2004, p. 10) É importante salientar que a autora, ao apresentar a classificação da surdocegueira por nível de funcionamento, deixa claro que não pretende nesta classificação criar rótulos, mas chamar a atenção para as diferentes intervenções destinadas a essas pessoas. O que coaduna com a proposição desse trabalho, pois acredita que, independentemente dos níveis de funcionamento e das possibilidades cognitivas das pessoas surdocegas, são as intervenções adequadas e de qualidade realizadas o mais precocemente possível que podem garantir a pessoa com surdocegueira conquistar autonomia, seja para atividades básicas ou para uma vida com independência e avanços acadêmicos. (FARIAS, 2015, p. 26-27) A classificação da surdocegueira é um processo desenvolvido para que sejam definidos os programas, procedimentos e métodos a serem adaptados ao portador. Sobre a classificação, Cambruzzi diz Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual A surdocegueira pode ser classificada adotando como critério a perda assim como o nível de funcionamento. Tomando como referência a perda, segundo ANCILLOTTO et (2005) é classificada como: *Surdocegueira total *Surdez profunda associada com baixa visão *Surdez severa associada com baixa visão *Surdez moderada associada com baixa visão *Pessoas com vários comprometimentos parciais. Conforme Pascual, Polti & Zambom (2003, p.1) a surdocegueira é categorizada em doze diferentes grupos tomando como referência o momento em que a mesma surgiu. Podemos observar que os grupos acima são heterogêneos, mas todos participam dos mesmos desafios em relação à aprendizagem e as implicações acarretam pela a falta de canais tão importantes como visão e audição. (CAMBRUZZI, 2007, p. 40-41) A classificaçãotambém pode ser feita de acordo com o grau de funcionamento, sendo assim, segundo Cambruzzi, ela acontece da seguinte maneira: *Baixo nível de funcionamento: É caracterizado por uma comunicação limitada em função de que as vias perceptivas estão comprometidas o que proporciona uma “falta de motivação” para interagir com o ambiente e aprender (MAIA, 2004). Nestes casos, a intervenção deve proporcionar ao surdocego, de acordo com ASOCIDE (2006 p.1): [...] “o desenvolvimento de uma comunicação [...] que lhe ajude a conseguir uma autonomia pessoal de acordo com suas características”. *Nível médio de funcionamento: Neste nível as crianças, jovens e adultos já começam a interessar-se pelo mundo utilizando os resíduos das vias perceptuais dos sentidos de distância, isto é, a visão e audição. Outro aspecto importante é que já começam a ser semi-independente na resolução de pequenas situações diárias (MAIA, 2004). Segundo o documento da ASOCIDE (2006), a intervenção deve contemplar objetivos encaminhados a desenvolver um sistema de comunicação, habilidades úteis ns vida diária, habilidades sociais e estratégias que lhe permitam desenvolver uma atividade laboral protegida. *Alto funcionamento: As pessoas surdocegas deste grupo apresentam estratégias de resolução de problemas e interesses e, revelam Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual uma capacidade de aprendizagem normal, visto que não apresentam comprometimento cognitivo, desde que recebam ajudas adequadas para seguir o seu processo de aprendizagem (MAIA, 2004).Para os surdocegos com alto funcionamento, a intervenção deve introduzir “conteúdos acadêmicos e ou culturais. É fundamental levar em consideração a inclusão de ajudas técnicas apropriadas em função das características da pessoa surdocega e as necessidades de cada nível de programa” (ASOCIDE, 2006).(CAMBRUZZI, 2007, p. 25) A surdocegueira pode ser classificada em dois tipos, partindo de abordagens diferenciadas, são seles: surdocegos pré-linguísticos e surdocegos pós- linguísticos. A partir desta classificação, os surdocegos pré-linguísticos são os que nasceram ou adquiririam a surdocegueira antes mesmo da aquisição da linguagem, Cambruzzi os divide em dois grupos: Crianças com comportamentos hipoativos se caracterizam por: Distanciar-se do ambiente, através de movimentos ritualísticos, movimentos corporais; Não manter contato com o ambiente e com as pessoas e não se comunicar; muitas vezes apresentam-se desinteressados a ponto de não explorar e manipular objetos. Além destes comportamentos na presença de sons ou a vibrações manifestam indiferença; Não buscar a comunicação com as outras pessoas e; Manifestar rejeição a alimentos sólidos. Entretanto, há crianças pré-lingüísticas que expressam comportamentos hiperativos com: São atraídas por claridade intensa, como por exemplo, dias ensolarados, janela, lâmpada, etc; Apresentam dificuldades de locomoção, pois esbarram em móveis, nas pessoas, se arrastando no chão continuamente; Estabelecem uma relação visual com objetos à medida que os aproxima dos olhos, mas evita contato visual com as pessoas; Rejeitam o toque no seu próprio corpo, fenômeno é reconhecido como defesa tátil. No caso da surdocegueira congênita todo o desenvolvimento da criança fica, em grande parte, dependente de uma educação que lhe dê acesso ao mundo, conhecer pessoas e ambientes que lhe são próximos, desenvolver meio de comunicação que lhe permitam evoluir na capacidade de atuação e desempenhar funções mais elaboradas (CAMBRUZZI & COSTA, 2006).(CAMBRUZZI, 2007, p. 25) Outra classificação é o surdocego pós- linguístico, ou seja, aquele que ficou surdocego após a aquisição de uma língua. Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual O surdocego pós-lingüístico, por definição, “é a pessoa que ficou surdocega após a aquisição de uma língua, seja oral ou gestual” (GRUPO BRASIL, 2001) e, que por ser adquirida, pode ser decorrente de síndromes ou doenças em que a visão e a audição se deterioram gradativamente. As pessoas são consideradas surdocegas pós-lingüístico quando: nascem com audição normal e visão normal; apresentam perda auditiva ou são surdas congênitas com problemas visuais adquiridos; e, apresentam perda visual ou cegueira congênita com problemas auditivos adquiridos. Além deste aspecto, a necessidade do surdocego pós-lingüístico está relacionada com a independência através de apoio e reabilitação. Vale ressaltar a necessidade de um apoio emocional para processar o ajuste e, dependendo de suas particularidades, buscar estratégias cognitivas que lhes auxiliem a dar respostas mais adequadas (SAMANIEGO, 2003 e 2004). Portanto, o maior desafio é a manutenção de oportunidades de comunicação que exigem recursos de intérpretes qualificados com conhecimento de várias formas de comunicação. Em contrapartida, as crianças que tenham aprendido a falar antes de ocorrer a surdocegueira, ou a tenham adquirido na juventude ou na fase adulta, freqüentemente conservam a língua oral no transcorrer da vida, se não ocorrerem circunstâncias especiais (SAMANIEGO, 2003; 2004). 3. A comunicação com a pessoa surdocega Sabemos que a comunicação é uma necessidade essencial para a humanidade. Para uma comunicação eficiente com a pessoa surdocega é preciso levar em consideração o desenvolvimento da comunicação no aspecto linguístico, no âmbito da linguagem e da fala. Samaniego (2004) salienta que a comunicação é uma característica humana essencial e uma necessidade social fundamental para a vida de qualquer ser humano, pois permite a interação, a troca de informações, desenvolvimento da linguagem, estabelecimento de relações, aquisição de autonomia e formação na identidade. Iniciamos nossa comunicação apoiados nas nossas interações e nas interpretações que as pessoas fazem dos nossos atos 30 interativos. A autora complementa que “a comunicação é, portanto, a base sobre o que se estabelece o desenvolvimento da pessoa como parte integrante de uma sociedade.” (SAMANIEGO, 2004, p. 259) Nesse contexto, a comunicação é o ponto de partida para o desenvolvimento e aprendizagem da pessoa com surdocegueira. A comunicação é a chave da inserção social das pessoas surdocegas no ambiente social e cultural no qual vivem. Por esta razão, tudo o que estiver relacionado com a comunicação é objeto do maior interesse, tanto por parte dos profissionais, como das próprias pessoas surdocegas, na busca de sistemas de comunicação mais rápidos e eficazes. (FARIAS, 2015, p. 36) Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual Farias destaca que Van Dijk. (1986, p. 2) diz: A comunicação é a principal barreira da surdocegueira, no entanto é preciso vencê-la para despertar na criança o interesse pelo ambiente e por outras pessoas, e este é um desafio que deve ser assumido por todos envolvidos no processo principalmente pelos familiares.(FARIAS, 2015, p. 30) É certo que pessoas surdocegas tem limitações na comunicação, entretanto, Cambruzzi afirma que: As crianças surdocegas têm dificuldade em se comunicar e, para elas, o mundo apresenta-se como caótico, desorganizado, e potencialmente perigoso, tornando-as incapazes de se aventurar em descobertas. Isso porque não apresentam habilidades para responder visualmente e auditivamente, utilizando-se dos outros sentidos como o tato, o olfato, o movimento e o sistema vestibular para se comunicar (CAMBRUZZI, 2005, p. 54) A perda visual e auditiva torna restrito o acesso às informações sensoriais, sendo assim, a pessoa com surdocegueira precisa que as informações sejam passadas de forma concreta, Farias, 2005, “O mundo é aquilo que a pessoa com surdocegueirapode tocar com as mãos.” As formas de comunicação ocorrem de acordo com as possibilidades da pessoa surdocega, ou seja, se a surdocegueira é congênita ou adquirida. Os surdocegos pré- lingüísticos são aqueles que adquiriram a surdocegueira antes da aquisição de uma língua, enquanto os pós-lingüísticos adquiriram a deficiência auditiva após a aquisição de uma língua. Diante destes aspectos a forma de comunicação vai depender das possibilidades do surdocego. Sendo assim não podemos descartar nenhum método de comunicação - cada usuário tem um feito sob medida e que vai depender de suas necessidades específicas. Para que efetivamente um método tenha sucesso é primordial a presença de um parceiro de comunicação que seja sensível e receptível aos indícios que os surdocegos demonstram para que as interações possam ser estabelecidas. O processo da comunicação inicial com os surdocegos ocorre através de um processo diferenciado. À medida que, a criança responde os toques mais complexos ou gestos convencionais, devemos introduzir sistematicamente formas receptivas abstratas - simbólicas, dentro de rotinas funcionais. (CAMBRUZZI, 2005, p. 71) São inúmeros os meios de comunicação que podem ser utilizados com a pessoa surdocega, aqui destacaremos alguns deles. Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual 3.1 Libras tátil É um sistema não alfabético correspondente à língua de sinais utilizadas tradicionalmente pelas pessoas surdas, a comunicação é adaptadas ao tato, através do contato das mãos da pessoa surdocega com as mão do interlocutor. Libras Tátil – Refere-se à Língua Brasileira de Sinais – Libras, utilizada pela comunidade surda adaptada às condições específicas da pessoa com surdocegueira. Para realização da comunicação por meio da Libras Tátil, mantém-se a mão da pessoa com surdocegueira em cima das mãos do interlocutor, assim ele poderá perceber a configuração da mão, o ponto articulação, o movimento e a orientação da mão no espaço e no tempo. Entretanto, para que essa comunicação seja fluida é importante que a Libras seja dominada tanto pelo emissor como pelo receptor da mensagem. Essa forma de comunicação, normalmente, é utilizada por pessoas com surdocegueira que já eram surdas e ficaram cegas e utilizavam a Libras como forma de comunicação. As pessoas com surdocegueira congênita também podem utilizar essa forma de comunicação desde que lhe seja ensinada. Os sinais são organizados de acordo com a função que o objeto apresenta, podem ser realizadas expressões faciais e movimentos corporais que representem uma ideia ou ação com o propósito de se estabelecer uma situação comunicativa com o interlocutor, e, para isso, necessita fazer parte do repertório comunicacional também do interlocutor. (FARIAS, 2015, p. 31) Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual 3.2 Método Tadoma Consiste na percepção da língua oral emitida, mediante uso de uma ou das duas mãos da pessoa surdocega utilizando geralmente o dedo polegar, colocado suavemente sobre os lábios e os outros dedos mantidos sobre a bochecha, a mandíbula e a garganta do interlocutor. (https://bityli.com/1OAHn) Para Cambruzzi: No TADOMA, por outro lado, o surdocego, pode aprender a comunicar-se por meio do tato, mediante um método que consiste para quem se dirige à criança, em colocar a mão deste sobre o seu próprio rosto de modo que possa, com o polegar na boca e os dedos no maxilar, perceber as vibrações do órgão fonoarticulatórios e os movimentos produzidos. (CAMBRUZZI, 2005, p. 71) https://bityli.com/1OAHn Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual Esse sistema de comunicação consiste no treino de identificação tátil da vibração e da posição fonoarticulatória dos sons. A pessoa com surdocegueira posiciona sua mão no rosto do interlocutor de forma que com a posição dos dedos percebam a vibração das pregas vocais e o movimento labial. Geralmente, o Tadoma é utilizado com pessoas surdocegas que tem memória auditiva, ou seja, pessoas com surdez oralizadas e que perderam a visão ou cegos que se tornaram surdos após a aquisição da língua oral. Entretanto, existem algumas pessoas surdocegas congênitas que foram treinados desde muito cedo e aprenderam a utilizar o Tadoma como apoio na comunicação. (FARIAS, 2015, p. 36) 3.3 Alfabeto datilológico Neste método as letras do alfabeto são formadas a partir das diferentes posições dos dedos das mãos. A dactilologia é outra maneira de estabelecer comunicação, correspondendo a cada uma das letras do alfabeto uma posição dos dedos. Para perceber o movimento dos dedos, o surdocego pode circundar com sua mão a mão do interlocutor. Este sistema tem como vantagem a transmissão da ortografia, mas exige muita atenção. É interessante usá-lo quando está se deslocando de um lugar para outro, pois permanece com as mãos livres. A desvantagem é a limitação do círculo de interlocutores a um meio muito especializado. (CAMBRUZZI, 2005, p. 72) Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual 3.4 Sistema Braile Tátil Consiste em um sistema alfabético baseado no método Braille tradicional de leitura e escrita adaptado de maneira que possa ser percebido pela pessoa surdocega através do tato. ...sistema de comunicação que utiliza o próprio corpo da pessoa com surdocegueira, especificamente, pontos dos dedos indicador e médio da mão ou dedos indicador, médio e anelar. Os pontos utilizados possuem a mesma estrutura e signo gerador do Sistema Braille. Esse sistema pode ser feito de duas formas: a) a utilização dos dedos indicador e médio da pessoa com surdocegueira distendidos e paralelos, cada falange dos dedos representará os pontos da cela braille (1, 2, 3, 4, 5, 6). O interlocutor marcará os pontos e formará as palavras com a ponta seu dedo indicador ou polegar, indicador e médio; b) a utilização dos dedos indicador, médio e anelar das duas mãos da pessoa com surdocegueira distendidos e paralelos, mãos paralelas, com dorso para cima, cada dedo representará uma tecla da máquina braille. O interlocutor digitará a palavra com a ponta dos dedos como se estivesse digitando na máquina braille. (FARIAS, 2015, p. 37) Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual Este método pode ser utilizado em duas formas, abordaremos de acordo com a colocação de Farias, 2015. a) a utilização dos dedos indicador e médio da pessoa com surdocegueira distendidos e paralelos, cada falange dos dedos representará os pontos da cela braille (1, 2, 3, 4, 5, 6). O interlocutor marcará os pontos e formará as palavras com a ponta seu dedo indicador ou polegar, indicador e médio; b) a utilização dos dedos indicador, médio e anelar das duas mãos da pessoa com surdocegueira distendidos e paralelos, mãos paralelas, com dorso para cima, cada dedo representará uma tecla da máquina braille. O interlocutor digitará a palavra com a ponta dos dedos como se estivesse digitando na máquina braille. (FARIAS, 2015, p. 37) Existem pessoas surdocegas que dominam sistemas de comunicação variados, outros utilizam apenas um deles, e muitos não utilizam sistema comunicativo algum. Diante do exposto até o momento, verificamos que há necessidade de um mediador que proporcione situações estimuladoras, respeitando o interesse do surdocego na busca de seu desenvolvimento, pois quando os surdocegos ao compreenderem o que lhes é proposto, ficam motivados a usar os seus recursos intelectuais e afetivos. (CAMBRUZZI, 2005, p. 73) 3.5 A comunicação com a pessoa surdocega congênita Ao trabalhar com crianças surdocegas é preciso lhes ensinar a linguagema fim de que possam ser sujeitos participantes do contexto social e cultural em que estão inseridos. A pessoa com surdocegueira congênita também tem a possibilidade de comunicação para com o mundo que a rodeia. As pessoas surdocegas congênitas tem dificuldade extrema em comunicar-se, para Farias, 2015: As pessoas surdocegas congênitas têm grande dificuldade para iniciar um processo de comunicação. Vinãs (2004) sugere que para o processo de desenvolvimento da comunicação em pessoas surdocegas congênitas tenha êxito é necessário contar com interlocutores competentes, capazes de dar significados a ação comunicativa da criança surdocega e oferecer-lhe respostas coerentes com o que a pessoa com surdocegueira Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual espera. Essa sentirá que sua ação teve um significado e foi compartilhado com seu interlocutor. Isso provocará na pessoa com surdocegueira a necessidade de repetir a mesma ação em situações futuras, quando o desejo for o mesmo. A pessoa com surdocegueira congênita, portanto, necessita de parceiros de comunicação significativos para poderem desenvolver uma interação mútua, ampliar seu conhecimento de mundo e desenvolver a língua. Maia (2011) relata que a necessidade de uma criança com surdocegueira congênita é a aquisição de um sistema de comunicação mais formal (língua de sinais, língua oral, alfabeto manual e a escrita para desenvolver uma linguagem mais ampla). Geralmente, a criança tem uma comunicação não simbólica como chorar, sorrir, movimentos corporais, que expressem inicialmente suas necessidades. (FARIAS, 2005, p. 44) Quanto mais cedo a criança surdocega for incentivada, melhor será o processo de desenvolvimento da linguagem para sua comunicação. A família deve ser a parceria mais significativa do professor nesse processo, o fato de estar mais próximo da criança faz com que seja primordial sua participação; cabe à família promover ambiente e contexto que sejam favoráveis para o desenvolvimento e aprendizagem da criança surdocega. Segundo Farias, 2015 o desenvolvimento do processo comunicativo com pessoas surdocegas congênitas tem algumas necessidades: O processo de desenvolvimento da comunicação e da aquisição da linguagem deve estar em primeiro lugar para a pessoa com surdocegueira na interação com as demais pessoas, por meio de múltiplas experiências de intervenção social em diferentes contextos e com diferentes interlocutores comunicativos, com grande conhecimento linguístico, no sistema de comunicação mais acessível a ela. As pessoas com surdocegueira congênita necessitam de interlocutores especiais, capazes de adaptar as situações de interação a suas possibilidades perceptivas, utilizar formas comunicativas e linguísticas tatilmente acessíveis e também de captar e interpretar as expressões particulares que a pessoa com surdocegueira pode fazer referente a experiências proprioceptivas. O adequado desenvolvimento da comunicação, e especialmente a aquisição da linguagem da pessoa com surdocegueira congênita é impossível se desenvolver sem intervenção. (FARIAS, 2015, p. 44) A autora ainda completa dizendo que: para o desenvolvimento de uma comunicação em pessoas surdocegas congênita, deve-se pressupor a interação e a mediação em uma ação intencional que envolve a interlocução, o diálogo, contexto e a mediação eficaz. Sendo assim, não basta que se ensine a pessoa com surdocegueira congênita um sistema de comunicação, é mais importante que, por meio das trocas interativas bidirecionais, seja incentivado o desenvolvimento da linguagem efetiva e eficaz.(FARIAS, 2015, p. 45) A comunicação com as crianças surdocegas congênitas pode ser receptiva ou expressiva: Para crianças com surdocegueira congênita, Nunes (2001) afirma que o processo comunicativo envolve recepção da informação e receptiva Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual compreensão da mensagem, assim para a autora a comunicação deve ser Receptiva e Expressiva, para favorecer a eficiência da transmissão e interpretação. Muitas crianças surdocegas não desenvolvem a fala, no entanto podem expressar-se e receber mensagens por outras vias sensoriais.(FARIAS, 2015, p. 46) 3.5.1 Comunicação receptiva Sobre a comunicação receptiva, Farias, 2015, aponta que: A comunicação receptiva é o processo de recepção e compreensão da mensagem. Ocorre quando alguém recebe e processa a informação dada por meio de uma fonte e forma. No entanto, a comunicação receptiva requer que a pessoa que está recebendo a informação forme uma interpretação que seja equivalente à mensagem de quem a enviou. CaderNascimento e Maia (2006) aponta que no caso de crianças surdocegas congênitas a comunicação receptiva mais frequente é: Pistas de contextos naturais – são as pistas que fazem parte do contexto natural da criança. São pistas concretas que ocorrem durante as atividades e permitem-lhes saber o que vai acontecer (antecipação). A utilização da rotina auxilia a criança a compreender o que acontece a sua volta, utilizando as pistas que se repetem em contextos significativos. Pistas táteis – são estímulos táteis específicos, executados no corpo da criança, para dar-lhes mensagens específicas. A criança pode responder a essas pistas fazendo a ação esperada ou recusando-a. É essencial que os toques sejam suficientemente diferentes uns dos outros para serem mais facilmente identificados pela criança surdocega. Objetos de referência – são objetos utilizados diariamente em diferentes atividades, os quais são apresentados às crianças como antecipação, indicando o que vai acontecer ou o que a criança vai fazer. Podem representar pessoas, atividades, lugares. (FARIAS, 2015, p. 46) 3.5.2 Comunicação expressiva Assim como o nome já diz, comunicação expressiva refere-se à expressão dos desejos e necessidades da pessoa surdocega A Comunicação expressiva é utilizada por pessoas com surdocegueira para expressar suas necessidades desejos e sentimentos. Frequentemente, a criança surdocega usa formas de comunicação não verbal (sorriso, movimento, mudança de posição), pais ou responsáveis são as primeiras pessoas a dar significado a certas vocalizações e movimentos corporais de bebês ou crianças pequenas. Nesse processo, o mediador deverá observar e esperar o tempo necessário que a criança surdocega necessita para entender o enunciado e para elaborar uma resposta. O processo de desenvolvimento da comunicação expressiva em crianças surdocegas começa pelas formas mais simples e evolui para as formas mais complexas, segundo as suas condições e capacidades sociais, culturais e individuais. É importante considerar o nível de comunicação em que a criança se encontra para que a comunicação seja viabilizada. (FARIAS, 2015, p. 47) Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual 4. A educação dos surdocegos A escola é o lugar onde o indivíduo tem suas vivências e experiências, é um lugar de constituição de identidades é o espaço de descobertas. As escolas tradicionais sempre foram voltadas para o atendimento de um público idealizado, que atuava a partir de um projeto educacional homogeneizador. A educação especial e inclusiva foi instituída com ênfase nas políticas públicas educacionais publicadas a partir da Constituição Brasileira de 1988, acerca disto, Farias ressalta: No Brasil, o processo de discussão sobre o direito à educação das pessoas com necessidades educacionais específicas tem maior ênfase a partir da segunda metade do século XX. Essas discussões provocaram a implementação de políticas públicas que ampliaram a inclusão da educação especial em todos os níveis de ensino e respectivas modalidades, visando minimizaro processo de exclusão e segregação escolar. A garantia do direito à educação instituída na Constituição de 1988 provocou mudanças nas políticas públicas educacional, os quais se fundamentaram em pressupostos filosóficos das políticas externas à educação brasileira. Nesse contexto de implantação de políticas educacionais, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, Lei nº 9394\96, entende a educação especial como modalidade de educação escolar a ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino a partir da educação infantil. Essa lei da educação nacional, por sua vez, provoca a criação de vários outros documentos normativos visando organizar a educação básica no Brasil... A partir desse documento, na educação especial, do ponto de vista normativo, também foram implantadas políticas publicas educacionais mais contundentes. No que se refere à conceituação da educação especial, o art. 3º define esta modalidade de educação escolar como uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar ou suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos alunos da educação especial. (FARIAS, 2015, p. 60-62) Ainda sobre a instituição da Educação Especial, Farias diz que: Em 2008, MEC, por meio da Secretaria de Educação Especial- SEESP9 , publica a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, cujo objetivo é o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais, garantindo: a) Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior; b) Atendimento educacional especializado; c) Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; d) Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão escolar; e)Participação dafamília e da comunidade; f) Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual nos transportes, na comunicação e informação; e f) Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. (BRASIL, 2008) (FARIAS, 2015, p. 66) A partir deste momento aconteceram muitas mudanças em relação à política de educação especial anterior. Ficou especificado o público ao qual se destina cada modalidade da educação especial. No âmbito das práticas pedagógicas, a discussão sobre a surdocegueira ainda é bastante complexa no que diz respeito à formação dos professores para atuação com esses alunos. O trabalho com surdocegos é de alta complexidade, mas não é impossível, é preciso que o professor tenha compromisso e seriedade ao aplicar as intervenções necessárias para uma ação educativa eficiente. As escolas que atendem alunos surdocegos precisam de um desenvolvimento além do formal, é preciso que o currículo seja funcional e esteja adequado às necessidades específicas destes alunos. Segundo Frederico, (2006, p.12-13) com relação à surdocegueira: Os métodos e técnicas para o aprendizado do surdocego são específicos, pois essa é uma deficiência única, que requer práticas próprias, metodologias e técnicas diferenciadas que atendam suas especificidades, diferentes das utilizadas para a cegueira e para a surdez. Assim, é indispensável que se utilize uma abordagem curricular apropriada para atender a criança com surdocegueira. O currículo funcional ou ecológico vem ao encontro do atendimento de suas demandas diferenciadas de aprendizagem e das necessidades de cada individuo no tocante à saúde, educação e comunicação, pois sua abordagem contempla, de forma abrangente, as prerrogativas mínimas indispensáveis à sobrevivência social do indivíduo surdocego. A estrutura física da escola precisa estar adequada à diversidade dos alunos, os ambientes devem estar adaptados e sinalizados, para isto, é necessária a utilização de materiais diversos com cores e texturas diferenciadas que facilitem a identificação dos locais pelos alunos. a proposta do trabalho é organizar a educação de maneira sistemática, utilizando técnicas e recursos que ajudem o surdocego a formar a imagem mental do mundo, simbolizar conceitos e estabelecer a comunicação. O currículo modificado de acordo com suas necessidades específicas nem sempre deverá seguir normas acadêmicas do currículo tradicional, mas sim adequar atividades funcionais de acordo com o desenvolvimento do aluno. ...cabe aos profissionais que interagem com o aluno surdocego proporcionar contato com os diferentes ambientes e pessoas, respeitando sua individualidade, seu tempo de elaboração, contribuindo para a construção de sua identidade e capacidade em exprimir escolhas e decisões. (GODOY e VITALIANO, p. 5-6) Cambruzzi salienta dois grandes princípios fundamentais na educação do aluno surdocego, são eles: Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual Sendo assim, há dois princípios importantes que profissionais devem ter em mente: o ensino direto e as rotinas estruturadas. O ensino direto é importante porque os surdocegos, diferentemente de outras deficiências não aprendem de forma incidental e, por terem uma limitação de informações através dos sentidos da audição e visão, têm a necessidade do ensino direto à informação. (HALLAHAN & KAUFMAN, 2003). As rotinas estruturadas por sua vez são imprescindíveis para a criação de um ambiente de aprendizagem que leve o surdocego ao sucesso e a um ambiente seguro (MILES 1998; CHEN, ALSOP & MINOR, 2000). Pesquisas, conforme Chen et al. (2000, p.6), nos indicam a importância de estabelecer rotinas estruturadas se focam no estabelecimento de rotinas previsíveis, principalmente para bebês surdocegos. Recomendam os seguintes objetivos: Criar uma rotina identificando pelo menos cinco atividades diárias que possam ser agendadas na mesma seqüência a cada dia; Identificar as seqüências dentro das atividades específicas (sub-rotinas); Identificar e usar dicas auditivas, visuais, táteis, olfativas e cinestésicas para ajudar o bebê a antecipar atividades familiares... Vale ressaltar que, a comunicação é uma parceria e não podemos dispensar nenhum método de comunicação, pois cada caso requer um método concreto importante para estabelecer uma via rápida de comunicação (REUNIÓN NACIONAL DE SORDOCIEGOS, 1987).Sendo assim, temos que ter em mente que a seleção e o desenvolvimento do sistema de comunicação constituem uma parceria e implica o sucesso das interações sensíveis e receptivas, desde que se esteja alerta ao estilo único de comunicação de cada pessoa. (CAMBRUZZI, 2005, p. 79) As princíoio da rotina é essencial na educação das crianças surdocegas, porque elas tem alta capacidade de adaptarem-se. para colocarmos em prática uma rotina, se faz necessário ter conhecimentos informais do aluno, observando o que gosta e o que não gosta. Estas informações devem ser buscadas com a família que é quem conhece mais a criança. O segredo para o sucesso é iniciar com atividades em que a criança mais goste (RASH & TOELLE, 2002). Outro aspecto a ser observado, conforme as autoras, diz respeito aos estados de comportamentos porque a aprendizagem não acontece se uma criança estiver com sono, com fome ou estressada. Ao pensar numa rotina a ser seguida pelo aluno, devemos levar em consideração alguns pontos como: posicionamento, linguagem falada ou de sinais que se utilizará, lugares e materiais.Além destes, a rotina deve ser prevista tomando como referência as informações da família. É preciso conhecer quais são as atividades simples e prazerosas que estão de acordo com as suas habilidades. Além disso, é necessário considerar Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual um período para que tenha oportunidade para observar o funcionamento e, fazer as correções devidas (RASH & TOELLE, 2002). Outro aspecto a ser observado é a consistência configurando-se como um alicerce importante no estabelecimento de rotinas úteis visto que, é através dela que, osurdocego começará entender, antecipar e cooperar a ponto de ter iniciativa para executar as atividades (BRADLEY & SNOW, 2002). Para Rash & Toelle (2002, p.2): a rotina deverá ser feita pelo menos uma vez ao dia (ou tão freqüentemente como a criança esteja na escola) no momento em que se habituar ao calendário; pode fazer exatamente como está no roteiro, sempre no mesmo lugar e com os mesmos materiais. Lembre-se que a meta é desenvolver a memória e antecipação! O envolvimento é imprescindível para o surdocego nas diferentes etapas das atividades. Este poderá antecipar o que esperamos que faça, mas ao contrário de uma situação sem regras em que o surdocego fica passivo, é preciso sinalizar o que irá realizar para que a previsibilidade seja maior e o surdocego se envolva. (CAMBRUZZI, 2005, p. 82) Além disso, atividades escolares realistas facilitam na aprendizagem dos alunos surdocegos. Cembruzzi refere-se a isto como o currículo funcional, dizendo: Um currículo funcional ensina atividades que são de suma importância para a sobrevivência e a participação do indivíduo em sua família e vida comunitária, no ambiente em que o surdocego irá usar suas habilidades (JONG & ZAMBORE, 2001). Vale ressaltar que, o currículo funcional é individualizado, baseado nos próprios interesses particulares e preferências; incluindo adaptação do ambiente, materiais ou equipamento, tipo e quantidade de assistência; diferentes maneiras de realizar uma tarefa; ou diferentes requisitos para realizá-la (JONG & ZAMBORE, 2001). Para tal é necessário consideramos alguns aspectos como: funcionalidade, adequação à idade cronológica, ambientes naturais, participação dos pais no processo educacional, interações com pares não-deficientes, oportunidade de escolha, cooperação entre educandos. Outro aspecto relevante do currículo funcional é que facilita a generalização das habilidades adquiridas. O ensino de habilidades funcionais requer ambiente natural. Além disso, é necessário constante acompanhamento para verificar se as habilidades desenvolvidas na escola serão, de fato, desempenhadas nestes ambientes. Os ambientes Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual naturais, portanto, possibilitam o desenvolvimento de habilidades para que os educandos participem mesmo que de maneira parcial (JESUS, 1998). (CAMBRUZZI, 2005, p. 81-82) 4.1 Atendimento Educacional Especializado ao aluno surdocego Destacaremos alguns aspectos importantes acerda do AEE ao aluno surdocego, sobre isto, Farias diz: Para o atendimento educacional especializado (AEE) ao aluno com surdocegueria, McInnes (1999) coloca que a premissa básica nesse trabalho, é levar em consideração que a surdocegueira é uma deficiência única e que requer uma abordagem específica para favorecêla na aprendizagem e de um sistema de comunicação para dar este suporte. Esse atendimento, entretanto, dependerá da categoria da surdocegueira, ou seja, do tipo de surdocegueira se adquirida ou congênita. Independentemente do tipo de surdocegueira, ao aluno com surdocegueira, é assegurado o atendimento educacional especializado de forma transversal e em todas as etapas e modalidades de ensino, principalmente, na faixa etária de 0 a 3 anos de idade, com ênfase na estimulação precoce. Nas demais faixas etárias, deve o AEE se constituir como uma obrigatoriedade a ser assegurada pelo sistema de ensino. , para o AEE do aluno com surdocegueira, nas salas de recursos multifuncionais, o professor da educação especial na perspectiva inclusiva deve ter como base a formação inicial para exercício da docência e possuir conhecimentos específicos da área conforme orienta a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). Espera-se com essa formação esse profissionais especialistas, desenvolvam competências para lidar com os mais diferentes sujeitos com surdocegueira, como também para trabalhar em equipe, já que terão que trabalhar de modo colaborativo e articulado com os professores do ensino comum, que serão os responsáveis mais diretos pelo acesso do aluno aos conteúdos curriculares. Sem essa parceria e articulação, provavelmente, a aprendizagem ficará compartimentada e não se concretizará. (FARIAS, 2015, p. 85) No AEE ao aluno surdocego as atividades devem ser complementares ao ensino comum, com um currículo enriquecido e o ensino da linguagem deve estar voltada para a comunicação, orientação e mobilidade; e o uso da tecnologia assistiva, bem como orientação para atividades de vida autônoma. O professor, da sala de aula comum, por sua vez, deve mudar sua forma de ensinar e com a articulação com o AEE, adequar o seu conteúdo de ensino para atender às necessidades de todos os alunos, inclusive dos alunos com surdocegueira. Noguer e Rey (2004) salientam que para o grupo de pessoas com surdocegueira congênitas o acesso à informação tecnológica, ainda se encontra seriamente limitado. Entretanto, para o grupo de pessoas surdocegas adquirida, mesmo na tenra idade esses recursos estão mais disponíveis, contribuindo para superação a barreiras colaborando para sua inclusão social. No AEE com alunos com surdocegueira, um dos primeiros passos para o trabalho é entender como Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual se dá a sua comunicação. As características específicas apresentadas pelas pessoas surdocegas lançam desafios aos profissionais que com ela trabalham no AEE, no que diz respeito à comunicação, particularizando para o aluno com surdocegueira congênito o processo de aprendizagem da comunicação inicial certamente será desafiador, uma vez que o acesso à informação ocorre por vias sensoriais táteis. Todas as interações e atividades de aprendizagem devem respeitar a individualidade de cada aluno com surdocegueira. No caso do aluno já possuir um sistema formal de comunicação, o papel do professor deverá ser de incentivá-lo a ampliar o conhecimento de mundo. Caso o aluno seja usuário da língua de sinais, a educação bilíngue deve ser oferecida, garantindo-lhe o direito de ter acesso libras, a libras tátil e a escrita braille, Língua Portuguesa como segunda língua. É salutar também oportunizar a convivência com surdos na escola regular e no AEE para sistematizar e ampliar a aprendizagem língua de sinais,bem como a garantia do guia-interprete, instrutor mediador, tradutor/intérprete de libras, do monitor ou cuidador de alunos com necessidades de apoio nas atividades de vida autônoma. (FARIAS, 2015, p. 86) O ambiente em que será desenvolvido o trabalho com o aluno surdocego precisa ser adequado e adaptado para que haja aproveitamento escolar. Não obstante, o ambiente para o AEE deve ser planejado e organizado adequadamente para inserção da pessoa com surdocegueira, favorecendo a interação com pessoas e objetos. Isso a auxilia a realizar antecipações, obter pistas e escolher com quem quer estar e quais as atividades que deseja fazer. (BOSCO; MESQUITA ; MAIA, 2010). “É importante que o aluno com surdocegueira reconheça atividades, trabalhe com outras pessoas e aprenda a partir das experiências.” (FARRELL, 2008, p. 74) De acordo com Galvão (2010),as rotinas escolares podem ser excelentes oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento da pessoa com surdocegueira, e, por isso, precisam ser pensadas em conjunto com os profissionais especializados que acompanham o aluno: no caso da educação infantil e séries iniciais, o instrutor mediador; e, no ensino fundamental e médio, o guia-interprete. No primeiro caso, supondo-se tratar de surdocegueira congênita ou adquirida na tenra idade, o aluno está construindo a sua forma de comunicação; no segundo caso, espera-se que já existam formas de comunicação definidas, por meio das quais o aluno possa expressiva e receptivamente interagir com as pessoas. (FARIAS, 2005, p. 89) 4.2 Profissionais da educação especial que apoiam o aluno surdocego O ensino ao aluno surdocego é realizado por um profissional específico e qualificado para tal atividade. Sobre isto, Farias, 2005, diz que: Geralmente, os alunos com surdocegueira para receberem informações dos ambientes escolares, para compreenderem a comunicação e participar efetivamente das aulas, necessitam dos serviços do guia- interprete e\ou do instrutor mediador, para guiar, interpretar e mediar a comunicação. O instrutor mediador e o guia-interprete, apesar de apontados na literatura especializada como profissionais indispensáveis ao processo educativo do aluno com surdocegueira, somente são citados pela legislação Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual brasileira no ano de 2004, no Decreto 5296 de 2 de dezembro de 2004 e 2008, na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. O trabalho realizado pelos dois profissionais diferencia-se na medida em que o trabalho com pessoas com surdocegueira congênitas envolve a atuação de um instrutor mediador, e com a pessoa com surdocegueira adquirida o trabalho envolve o Guia-interprete. Entretanto, isso não se constitui uma regra. (FARIAS, 2005, p. 90) 4.2.1 O Profissional Guia-Interprete O Profissional guia-interprete é aquele que serve de canal de comunicação e visão entre a pessoa com surdocegueira e o meio no qual ela está interagindo. Ele deve apresentar algumas habilidades essenciais para que consiga transmitir todas as informações de modo fidedigno e compreensível à pessoa com surdocegueira. Seu trabalho basicamente consiste na transliteração ou interpretação, descrição visual e as funções de guia vidente. (PETRONI, 2010) O guia-interprete tem formação específica que lhe permite compreender a mensagem em uma língua, extrair o sentido por meio da informação linguística e extralinguística, contextualizar o sentido da língua de destino – interpretação – ou na mesma língua em outro sistema de comunicação utilizado pela pessoa com surdocegueira. Descrever o que ocorre em torno da situação de comunicação, a qual inclui tanto o espaço físico em que esta se apresenta como as características e atividades das pessoas nela envolvidas. Esse profissional trabalha nos mais diversos ambientes em o que a pessoa com surdocegueira solicite os seus serviços. No ambiente educacional, no entanto, proporciona informação a pessoa com surdocegueira com o proposito de que haja aprendizagens significativas. (FARIAS, 2015, p. 92) 4.2.2 Instrutor Mediador O profissional que atua para que a pessoa surdocega seja capaz de fazer escolhas e tomar decisões de acordo com o seu nível de independência é o Instrutor mediador. Dentre as funções do instrutor mediador, esse tem a responsabilidade de trazer a informação à pessoa com surdocegueira, adaptando-se às suas características pessoais; tem função de companheiro que educa e guia, de acordo com as necessidades da pessoa; manejar com fluência diferentes sistemas de comunicação e, em especial, os da pessoa a qual acompanha; deve ser formado em aspectos gerais da surdocegueira, além de saber as técnicas de guia-vidente; atua sempre dentro de um programa voltado ao trabalho das pessos surdocegas, buscando a cooperação de outras pessoas, o que exige trabalho em equipe; presta apoio a todos os tipos de pessoas com surdocegueira, de acordo com a mediação que precisam. É de primordial importância, nas etapas iniciais de escolarização da criança Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual surdocega congênita, a presença do instrutor mediador para a construção e estabelecimento da comunicação. (FARIAS, 2005, p. 93) Galvão (2010, p. 87) chama a atenção que a escola deve ter em mente que o instrutor mediador: Não é substituto do professor e, na sua ausência, não há outro profissional que possa fazer o que seja tarefa dele, porque, além de ter “[...] conhecimento de um sistema alternativo de comunicação e formas individuais de comunicação do aluno que abrangem a recepção e a expressão” (MAIA et al., 2008a, p. 42), ele precisa instruir o aluno sobre aquilo que está acontecendo ao seu redor. Em outras palavras, a sua função não se restringe à tradução da língua oral ou escrita para a língua que o aluno optou para expressar-se (enviar e receber mensagens), envolve também ajudar na construção de conceitos sobre o mundo, informar sobre o ambiente afetivo, atitudinal, em que se encontra (mais formal, menos formal, por exemplo). Caso seja necessário, esse mediador pode inclusive se encarregar de elaborar material que facilite o entendimento e o acesso do aluno ao ambiente escolar. O trabalho do instrutor mediador é de suma importância para a pessoa surdocega, eles são facilitadores importantes para a comunicação e fundamentais para a permanência do aluno surdocego no ambiente escolar. 5. Sobre a deficiência intelectual O autor Ricardo Ampudia, 2011, diz que “Em geral, a criança tem mais dificuldade para interpretar conteúdos abstratos, o que exige estratégias diferenciadas por parte do professor”, sobre portadores da deficiência intelectual ele afirma: Pessoas com deficiência intelectual ou cognitiva costumam apresentar dificuldades para resolver problemas, compreender ideias abstratas (como as metáforas, a noção de tempo e os valores monetários), estabelecer relações sociais, compreender e obedecer a regras, e realizar atividades cotidianas - como, por exemplo, as ações de autocuidado. A capacidade de argumentação desses alunos também pode ser afetada e precisa ser devidamente estimulada para facilitar o processo de inclusão e fazer com que a pessoa adquira independência em suas relações com o mundo. As causas são variadas e complexas, sendo a genética a mais comum, assim como as complicações perinatais, a má-formação fetal ou problemas durante a gravidez. A desnutrição severa e o envenenamento por metais pesados durante a infância também podem acarretar problemas graves para o desenvolvimento intelectual. O Instituto Inclusão Brasil estima que 87% das crianças brasileiras com algum tipo de deficiência intelectual têm mais dificuldades na aprendizagem escolar e na aquisição de novas competências, se Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual comparadas a crianças sem deficiência. Mesmo assim, é possível que a grande maioria alcance certa independência ao longo do seu desenvolvimento. Apenas os 13% restantes, com comprometimentos mais severos, vão depender de atendimento especial por toda a vida.( AMPUDIA, 2011.) Abordaremos sobre a deficiência intelectual a partir da proposta de Samantha Tédde, 2012 que diz: O primeiro empasse que encontramos para relatar sobre a deficiência intelectual (D.I.) é a maneira correta de como classificá-la. A D.I. já foi tida com várias outras nomeações como retardo mental, excepcional, retardado, deficiente, entre outros. Nos dias atuais a maior dúvida para classificar essa deficiência encontra-se entre deficiência mental(D.M.) e deficiência intelectual (D.I.). Mas através de modificações de documentos (Declaração de Salamanca) e nomes de associações influentes (American Association of Mental Retardation (AAMR) para American Asoociation on Intellectual and Developmental Disabilities (AAIDD), percebe-se que hoje o termo correto a ser utilizado é “pessoa com deficiência”, para qualquer deficiência, e no caso da deficiência cognitiva o termo correto a ser utilizado é “pessoa com deficiência intelectual”. Conforme Pan (2008), é notável, contudo, a evolução do conceito de D.I., constatada, especialmente, pela consideração dos modelos da AAIDD e da CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde) , o que permite conceber a pessoa com esse diagnóstico como alguém que apresenta uma forma particular e dinâmica de pensamento e com possibilidades sempre abertas para seu desenvolvimento. Dentro de sua condição específica, dada pelo seu diagnóstico, merece ser levada ao mais alto nível de progresso possível no contexto de suas interações. A D.I. é uma das deficiências mais encontrada em crianças e adolescentes, atingindo 1% da população jovem (VANCONCELOS, 2004). Caracterizada pela redução no desenvolvimento cognitivo, ou seja, no QI, normalmente abaixo do esperado para a idade cronológica da criança ou adulto, acarretando muitas vezes um desenvolvimento mais lento na fala, no desenvolvimento neuropsicomotor e em outras habilidades.(TÉDDE, 2012, p. 22) 5.1 O diagnóstico de deficiência intelectual Nem todos os diagnósticos de DI tem suas causas definidas, estas podem ser genéticas, congênitas ou adquiridas, os tipos mais conhecidos são: Síndrome de Down, Síndrome alcoólica fetal, Intoxicação por chumbo, Síndromes neurocutâneas, Síndrome de Rett, Síndrome do X-frágil, Malformações cerebrais e Desnutrição proteico-calórica. Tédde afirma que as causas da DI, segundo a ONU, são classificadas da seguinte maneira: Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual Encontramos várias classificações específicas para a D.I., mas citarei as mais utilizadas, a AAIDD ( American Association on Intellectual and Developmental Disabilities) e a DSM-IV tr (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 4º Edição, texto revisado), (terminologia mais utilizada para American Psychiatric Association). Segundo DSM-IV tr, 2003, a definição de Deficiência Mental: a. Funcionamento intelectual inferior à média: QI de aproximadamente 70 ou abaixo; b. Déficits ou prejuízos concomitantes no funcionamento adaptativo atual, em pelo menos duas das seguintes áreas: comunicação, cuidados pessoais, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, independência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança; c. Início anterior aos 18 anos Segundo a AAIDD, 2002, a deficiência intelectual está relacionada à articulação entre a patologia diagnostica, os impedimentos decorrentes dessa patologia e os contextos ambientais dos quais a pessoa faz parte. Os fatores pessoais e ambientais são focalizados, de modo a enfatizar os seguintes aspectos em relação à deficiência intelectual. a. reflete a expressão das limitações no funcionamento individual dentro do contexto social; b. não é fixa, mas transformacional, dependendo das limitações funcionais da pessoa e dos apoios disponíveis no ambiente; c. Pode ser minimizada quando se pode contar com o provimento de intervenções, serviços ou apoios que focalizam a prevenção, a aquisição de habilidades adaptativas e o estabelecimento de papéis socialmente valorizados para a pessoa. (Tédde, 2012, p. 24-25) Tédde também aborda as cinco dimensões para o diagnóstico da DI, apresentados pela A AIDD em 2002: Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual *Dimensão I: habilidades intelectuais – A dimensão intelectual passa a constituir apenas um dos indicadores de déficit intelectual, considerando em relação às outras dimensões. Não é o suficiente para o diagnóstico da deficiência. Os critérios objetivos, próprios das medidas psicométricas e das escalas de mensuração, são recomendados com indicação dos seguintes instrumentos: Wechsler Intelligence Scale for Children (WISC-III), Wechsler Adult Intelligence Scale (WAIS-III), Stanford-Biner-IV e Kaufman Assessment Battery for Children. *Dimensão II: comportamento adaptativo – O comportamento adaptativo relaciona-se a aspectos acadêmicos, conceituais e de comunicação, necessários à competência social e ao exercício da autonomia, e pode ser entendido como um “conjunto de habilidades conceituais, sociais e práticas adquiridas pela pessoa para corresponder às demandas da vida cotidiana.” Limitações nessas habilidades podem prejudicar a pessoa nas relações com o ambiente e dificultar o convívio no dia-a-dia. Indica-se a avaliação objetiva do comportamento adaptativo por meio da utilização de instrumentos objetivos de mensuração. Esses instrumentos não estão disponíveis com padronização brasileira. Segundo Carvalho e Maciel, cabe um questionamento sobre o uso de instrumentos objetivos na avaliação das habilidades adaptativas, tendo em vista os componentes subjetivos, interativos e contextuais que constituem o comportamento adaptativo. Essa é uma questão aberta a ser discutida. *Dimensão III: participação, interações e papéis sociais – Essa dimensão ressalta a importância na vida comunitária. Refere-se às interações sociais e aos papéis vivenciados pela pessoa, bem como à sua participação na comunidade. *Dimensão IV: saúde – A avaliação diagnóstica de retardo mental deve contemplar elementos mais amplos, de modo a incluir fatores etiológicos e de saúde física e mental. A definição e o acompanhamento dos quadros patológicos e das síndromes são fundamentais na definição do diagnóstico e dos apoios necessários, realizados por profissionais especializados na área da saúde. *Dimensão V: contexto – A avaliação do contexto refere-se a uma perspectiva ecológica do desenvolvimento – que remete à abordagem ecológica do desenvolvimento, de Bronfenbrenner - , a qual privilegia os aspectos saudáveis do desenvolvimento, que devem ser estudados em ambientes naturais. A análise deve estender-se ao maior número possível de ambientes dos quais o indivíduo participa e às relações que ele mantém. As condições em que a pessoa vive, as quais estão relacionadas com qualidade de vida, devem compor esta dimensão do diagnóstico. São as práticas e os valores culturais que devem ser considerados, bem como as oportunidades educacionais, de trabalho e lazer, as condições contextuais de desenvolvimento e às condições ambientais relacionadas ao seu bem estar, à saúde, à segurança pessoal, ao conforto material, ao estímulo ao desenvolvimento e às condições de estabilidade no momento presente. Por meio desta dimensão são avaliados os níveis de atuação da pessoa no contexto e são traçados os apoios a serem implementados, os quais devem facilitar sua integração na família, no trabalho, no grupo de amigos, na vizinhança e nos padrões culturais, econômicos e sociopolíticos. (Pan, 2008, p.62) (TÉDDE, 2012, p. 26-27) Não podemos considerar as dificuldades isoladamente, o diagnóstico da D.I. pode ser considerado se houver falhas tanto na questão cognitiva da criança/ Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual adulto e na questão adaptativa, pois havendo incapacidades em apenas em uma das questões podemos considerar como DI. A partir disto, Tédde aborda as variações de capacidades e necessidades dos portadores de DI, segundo ela: ... existe uma grande variação de capacidades e necessidades dos indivíduos com deficiência intelectual, podendo apresentar diferençasem quatro áreas: 1. Área motora: algumas crianças com deficiência intelectual leve não apresentam diferenças significativas em relação às crianças consideradas “normais”, porém podem apresentar alterações na motricidade fina. Nos casos mais severos, pode-se perceber incapacidades motoras mais acentuadas, tais como dificuldades de coordenação e manipulação. Podem também começar a andar mais tardiamente. 2. Área cognitiva: alguns alunos com deficiência intelectual podem apresentar dificuldades na aprendizagem de conceitos abstratos, em focar a atenção, na capacidade de memorização e resolução de problemas, na generalização. Podem atingir os mesmos objetivos escolares que alunos considerados “normais”, porém, em alguns casos, com um ritmo mais lento. 3. Área da comunicação: em alguns alunos com deficiência intelectual, é encontrada dificuldade de comunicação, acarretando uma maior dificuldade em suas relações. 4. Área socioeducacional: em alguns casos de deficiência intelectual, ocorre uma discrepância entre a idade mental e a idade cronológica, porém temos de ter claro que a melhor forma de promover a interação social é colocando os alunos em contato com seus pares da mesma idade cronológica, para participar das mesmas atividades, aprendendo os comportamentos, valores e atitudes apropriados da sua faixa etária. O fato de o aluno ser inserido numa turma que tenha sua “idade mental”, ao invés de contribuir para seu desenvolvimento, irá infantiliza-lo, o que dificulta seu desenvolvimento psíquico-social. (TÉDDE, 2012, p. 28) Podemos afirmar que há potencialidade e capacidade nas pessoas com deficiência, porém, para que possam ser desenvolvidas é preciso que haja condições que favoreçam tal desenvolvimento. Estas pessoas precisam de uma educação que lhes oportunize melhores possibilidades de desenvolvimento. Sabemos que cada criança é única, e as que possuem DI precisam de um olhar individualizado que considere suas limitações e necessidades. Elas precisam de apoio e de atenção especializadas e muitas vezes de intervenções. 6. O trabalho com o aluno portador de deficiência intelectual A educação de qualidade é um direito de todos os alunos, o principal objetivo dela é desenvolver o potencial e as habilidades de todos. É necessário que sejam trabalhados fatores cognitivos relacionados ao currículo pedagógico. Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual Sabemos que a escola deve atender a todos, mesmo que haja necessidade de adaptação da estrutura escolar e das práticas de ensino para atender cada criança. A partir deste princípio surgiu a educação inclusiva para que as instituições escolares se voltassem ao atendimento de alunos com necessidades educacionais singulares de modo que estes alunos desenvolvam suas capacidades cognitivas e sociais. A perspectiva da inclusão escolar não se restringe à superação das dificuldades do aluno ou à socialização, mas tem como proposta favorecer a emancipação intelectual por meio da incorporação de novos conhecimentos, de acordo com a possibilidade de ampliar o que já se conhece e de favorecer o desenvolvimento geral. (SANTOS, 2012, p. 5) Ainda que a inclusão seja de extrema importância no cenário atual da educação brasileira, sabemos que a mesma encontra grandes desafios para sua execução. Ainda que a teoria da inclusão seja essencial, na prática os professores enfrentam desafios diários para garantir o aprendizado das crianças com DI. É muito importante desenvolver um plano de aula que considere as características do aluno. As crianças, tenham elas necessidades especiais ou não, aprendem melhor quando encontram significado do que está sendo ensinado. Ainda que seja um desafio considerar cada aluno em seu plano de aula, tente fazer isso, o máximo que conseguir, nem que seja uma vez por semana. O professor precisa acreditar na capacidade do aluno com deficiência intelectual de superar seus limites. Conhecer seu aluno, saber quem ele é, do que gosta e do que não gosta, suas habilidades e dificuldades, é a forma mais fácil de dar sentido ao seu aprendizado. Outra ponto importante da inclusão de alunos com deficiência intelectual, é a importância de criar formas de ensino que envolvam as emoções. Ou seja, agora que você já sabe o que o seu aluno gosta e o que ele não gosta, use esse conhecimento para propiciar experiências de ensino agradáveis para ele. Por exemplo, se ele adora um determinado local do pátio da escola, que tal planejar uma aula da semana nesse local? Como dissemos, as crianças prestam mais atenção naquilo que faz sentido para elas, com o aluno com DI isso não é diferente. Dessa forma, quanto mais o professor der significado a aprendizagem, mas o seu aluno vai aprender. Uma última orientação, mas não menos importante, é usar o reforço positivo com o seu aluno com deficiência intelectual. Elogie cada acerto e premie seus avanços, sempre que puder, nem que seja com um abraço. As crianças gostam de ver que aprovamos seu comportamento e o reforço positivo aumenta a possibilidade de que Organização do trabalho pedagógico na área de surdo-cegueira e deficiência intelectual sigam agindo dessa forma. Além disso, os alunos se sentem muito mais motivados e confiantes. Considere essas orientações ao elaborar o plano de aula para alunos com deficiência intelectual. Acredite, essas pequenas ações trazem benefícios para todas as crianças em sala de aula. (NEURO SABER, Instituto, 2020) O profissional da educação tem muitos obstáculos a serem desbravados, muitas escolas contam com profissionais de educação especial, porém, muitas ainda tem carência de profissionais com conhecimento e prática no ensino ao aluno com deficiência. As pessoas com deficiência intelectual passaram a ser consideradas passíveis de serem educadas somente no século XIX... Recordando a história a respeito da deficiência intelectual, observamos que ela tem sido entendida, para efeitos educacionais, como aquela deficiência em que o desenvolvimento dos indivíduos que a apresentam é mais lento e mais comprometido do que os que não a manifestam. Não podemos negar a existência de dificuldades individuais geradas por limitações de ordem neurológica e intelectual, inerentes ao próprio indivíduo, que exigem mediações especiais para sua constituição como na condição de aprendizes. Essa limitação afeta de maneira acentuada a sua capacidade para resolver problemas frente às exigências a que são submetidos no seu dia-a- dia. À escola cabe, porém, dispor de recursos e procedimentos não uniformes para que os alunos tenham possibilidades de caminhar além de seus limites. Essas dificuldades que o deficiente mental apresenta têm levado os educadores a proporem atividades curriculares de menor complexidade, mais pragmáticas etc. Assim, os alunos que apresentam deficiência mental sentem-se mais incapazes, porque essas práticas não propiciam seu desenvolvimento cognitivo, o que faz com que eles desenvolvam baixas expectativas quanto a sua aprendizagem. Deste modo, podemos afirmar que a criança se sente excluída de seu contexto social e escolar. (REIS e ROSS, 2008, p. 7) As pessoas portadoras da deficiência intelectual não devem ser chamadas de deficientes, pois elas apresentam um comportamento adaptativo prejudicado o que os leva a uma dificuldade no processo escolar. Tendo em vista que o comportamento do indivíduo está intimamente ligado ao processo de aprendizagem, é fundamental que o ensino escolar não privilegie a mera aquisição formal de informações, na qual se adota a estratégia de transmissão ou explicação de conteúdos. O professor deve criar condições para que o aluno não aceite depressa demais as informações sem que estas sejam consistentemente recebidas, assimiladas e aplicadas
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