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DESCRIÇÃO Regimes aduaneiros aplicados em áreas especiais e seu papel no desenvolvimento econômico. PROPÓSITO Apresentar as razões pelas quais produtos importados são beneficiados pela suspensão ou isenção dos tributos incidentes quando destinados ao processo industrial, ao comércio ou às atividades agropecuárias da Zona Franca de Manaus (ZFM), das Áreas de Livre Comércio (ALC) ou das Zonas de Processamento de Exportações (ZPE). PREPARAÇÃO Antes de iniciar o estudo, tenha à mão o Decreto-Lei nº 288 e o Decreto nº 6.759/2009. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar as características da ZFM MÓDULO 2 Distinguir os regimes aduaneiros especiais e os aplicados em áreas especiais INTRODUÇÃO Por muitos anos, o Brasil produziu e exportou matérias-primas ou produtos intermediários, e também importou produtos industrializados da Europa ou dos Estados Unidos, muitos deles produzidos a partir de bens exportados pelo nosso país. Recentemente, essa tradição foi quebrada, sendo os regimes aduaneiros especiais importantes para essa mudança de realidade. Hoje, aproximadamente, quase metade dos impostos devidos na importação é objeto de renúncia graças à aplicação desses regimes. A isenção e a suspensão de tributos, promovidas com o objetivo de desenvolver determinados locais, não afrontam um dos objetivos básicos do preâmbulo do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT), a liberação do comércio mediante a redução ou extinção das alíquotas do Imposto de Importação (II), assim como das barreiras não tarifárias. Por esse motivo, a concessão de benefícios deve ser analisada pelas autoridades com todo o rigor, a fim de evitar protestos de países concorrentes que se sintam afetados pela liberalidade representada pela renúncia fiscal no Brasil. O cuidado é maior devido à imensa lista de regimes aduaneiros especiais e daqueles aplicados em áreas especiais em quase todos os estados da Federação. Estudaremos os regimes aduaneiros aplicados em áreas especiais, que compreendem a Zona Franca de Manaus (ZFM), as Áreas de Livre Comércio (ALC) e as Zonas de Processamento de Exportações (ZPE), veremos o que representam para a economia nacional e, consequentemente, o desenvolvimento social, em virtude do crescimento da empregabilidade nessas regiões e da maior produção dos agentes. A ZFM, por exemplo, criada em 1967, vem gerando riquezas para toda a Região Norte do país, de maneira que não teria sido possível sem os incentivos concedidos às atividades produtivas. O polo industrial abriga inúmeras empresas nacionais e multinacionais, demonstrando a significativa mudança na economia da região. O acesso facilitado à aquisição de bens importados tem permitido o crescimento do consumo de bens duráveis como não se via antes. E não só a população daquela região se beneficia: a produção de bens por preços acessíveis tornou o país um grande mercado para os produtos da ZFM. O relacionamento comercial do Brasil com outros países, em função do incremento das importações, abriu mercados no exterior, onde são negociados nossos produtos. Como sabemos, o comércio internacional é uma via de mão dupla: nada é vendido se não comprarmos em contrapartida! Essa visão dinâmica do comércio produz riqueza, favorecendo ambos os lados dos negócios. Os regimes aduaneiros aplicados em áreas especiais, sem dúvida, são responsáveis pelo crescente volume de investimentos nas regiões beneficiadas pelos incentivos à produção e à comercialização. Por isso, nos próximos módulos, veremos como funcionam esses regimes e os seus benefícios para a população e para o país, considerando cada um deles em particular. MÓDULO 1 Identificar as características da Zona Franca de Manaus ZONA FRANCA DE MANAUS (ZFM): DEFINIÇÃO, CARACTERÍSTICAS E PROCEDIMENTOS Em sentido amplo, zona franca é entendida como uma extensão territorial pertencente a determinado país, na qual são dispensados os tributos normalmente exigidos nas importações de bens, como também não são aplicadas as medidas econômicas restritivas ao ingresso de bens, desde que as mercadorias importadas sejam consumidas ou empregadas nas finalidades previstas em lei. Essa é uma definição encontrada em todos os acordos internacionais que tratam do assunto, inclusive no âmbito do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Em certo sentido, consiste em uma região “desnacionalizada” para fins aduaneiros, embora sejam exigidos os controles administrativos. Um dos objetivos mais importantes consiste não apenas na necessidade de integração nacional, mas, principalmente, na integração local, visto que a Amazônia é um depositário de riquezas naturais, não somente de minerais como também de vegetação. É, sem dúvida, o maior espaço natural do mundo, congregando cerca de 2,5 mil espécies de árvores e 30 mil tipos de vegetais, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Imagem de satélite da NASA mostra a área territorial do estado do Amazonas. O número de rios de monumental volume de água torna a região amazônica uma das mais ricas em espécies de peixes em todo o mundo. Por isso, as medidas de ordem econômica e financeira empregadas na Amazônia têm um alcance bem maior, a preservação da segurança nacional. Em que pese o crescimento econômico na década de 1960, derivado, em grande parte, pela implantação da indústria automobilística no país, persistiu por bom tempo a necessidade de investimentos em infraestrutura que pudesse ligar toda a faixa territorial de norte a sul do Brasil. A realidade nesse período se agravava em face da migração de grande contingente de homens do campo para as cidades. A desigualdade no país constituía estímulo à busca de uma solução duradoura de melhoria das condições de vida dos cidadãos. PARA AMENIZAR A SITUAÇÃO, MEDIDAS PRECISAVAM SER TOMADAS, COMO A CONCESSÃO DE VANTAGENS QUE PERMITISSEM ESTABELECER CONDIÇÕES DE VIDA DIGNA ÀQUELA POPULAÇÃO. Em regra, uma política tributária bem planejada e executada pode ser considerada eficaz em se tratando de ocupação de território, seguida de programa de redistribuição de renda. E, assim, os tributos são dispensados ou suspensos, não se limitando, no entanto, aos impostos aduaneiros, isto é, ao imposto de importação e sobre produtos industrializados (IPI) e o imposto estadual sobre a circulação de mercadorias e serviços (ICMS), podendo, porém, ser incluídos entre as renúncias fiscais os tributos internos, aqueles que incidem sobre a renda ou a venda de mercadorias, dependendo do objetivo econômico e social que se quer alcançar. São exigidas, no entanto, as contribuições para a seguridade social, por não se enquadrarem entre as exações de natureza estritamente empresarial. Prontamente, os governos dos estados da Região Norte compreenderam a necessidade de colaborar com a iniciativa e concederam os incentivos fiscais que complementaram as vantagens oferecidas no plano federal. O ICM naquela época, atual ICMS, contribuiu grandemente com o sucesso da zona franca, que, reconhecidamente, se estenderá por um longo tempo. Atualmente, a ZFM é um exemplo de experiência bem-sucedida, a ponto de suas vantagens serem estendidas para toda a Amazônia Ocidental, sendo seguida pela criação das Áreas de Livre Comércio (ALC) em cidades fronteiriças. Não só a população do estado foi beneficiada, como também os governos estaduais, tendo em vista o aumento da arrecadação dos tributos proveniente das indústrias instaladas e da movimentação mais intensa de bens e serviços em toda a Região Norte. Constitui, também, importante objetivo das zonas francas, além de intensificar o intercâmbio de mercadorias com outros países do mundo e fixar a população da região, carente de meios financeiros, de investimentos internos e externos e de recursos tecnológicos que possam acelerar o seu desenvolvimento. Uma zona franca, conforme disposto no ordenamento jurídico do país concedente, pode ter basicamente duas finalidades: Desenvolvimento da economia no espaçodelimitado pela lei Ou Venda de produtos importados para pessoas físicas ou jurídicas residentes em outras partes fora da zona franca Inicialmente, falaremos sobre a ZFM, uma ALC de importação e de exportação e de incentivos fiscais especiais, instituída em 1967 pelo Decreto-Lei nº 288. Foi estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário, dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância que se encontra dos centros consumidores do país. Anteriormente, a Lei nº 3.173/1957 havia criado a ZFM, ainda como uma autarquia administrativa vinculada, naquela ocasião, ao Ministério da Fazenda. O propósito era criar um mecanismo que permitisse o desenvolvimento da grande região amazônica, constituída pelos estados do Amazonas e do Pará e dos então territórios de Rondônia e Roraima. O funcionamento e os benefícios concedidos à ZFM estão disciplinados pelo art. 504 do Regulamento Aduaneiro (RA) aprovado pelo Decreto nº 6.759/2009. Cabe acrescentar que a ZFM é administrada pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), autarquia vinculada ao Ministério da Economia, também responsável pelo controle das isenções concedidas nos estados do Acre, de Rondônia, de Roraima e do Amapá. O objetivo da criação da ZFM não foi diferente, pois visa desenvolver uma vasta área do país desprovida de infraestrutura capaz de garantir os meios indispensáveis à sobrevivência da população naquela região, incrustrada em plena e gigantesca floresta. A localização da cidade, distante dos grandes centros, torna os meios de transporte fluvial e aéreo insuficientes e precários, em razão da grande floresta que a rodeia, onerando o frete pago pela compra de bens provenientes de outros pontos do território nacional. Praia da Ponta Negra, em Manaus. Em paralelo ao desenvolvimento econômico e social da região, a ZFM passou a receber milhares de turistas, atraídos pelas belezas naturais e pela característica exótica da cidade de Manaus, principalmente. Na época de sua criação, as alíquotas do Imposto de Importação (II) atingiam níveis elevadíssimos, chegando em alguns casos a 205%, o que constituía grande atração para os brasileiros. O limite de isenção para os brasileiros que regressavam da cidade de Manaus era bem mais elevado do que o limite estabelecido no retorno de viagens ao exterior. Por sua vez, os estrangeiros eram atraídos a Manaus por suas construções históricas, vindas desde os tempos da era da borracha. A intensa circulação de moeda, que se seguiu à implantação da Zona Franca de Manaus, realimentava o processo, que, assim, se autossustentava pelo aumento do mercado interno, mais exigente em relação aos padrões de consumo. SAIBA MAIS A entrada de mercadorias estrangeiras na ZFM – destinadas a consumo interno, industrialização em qualquer grau, inclusive beneficiamento, agropecuária, pesca, instalação e operações industriais, além de serviços de qualquer natureza, exportação, bem como estocagem para reexportação – goza de suspensão do II e do IPI, que se converte em isenção quando as mercadorias são empregadas nos fins a que se destinam. BENEFÍCIOS CONCEDIDOS NA ZONA FRANCA As vantagens concedidas não se limitam a esses dois impostos incidentes sobre as importações. A Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP), assim como a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), do mesmo modo, não incidem sobre as operações de importação de bens com destino à ZFM, contribuindo, juntamente como os demais impostos, para o desenvolvimento da região. É interessante notar que a isenção do IPI alcança, também, a internação das mercadorias, ou seja, a saída dos produtos industrializados na zona franca para outras partes do país. Desse modo, nenhuma operação de industrialização está sujeita ao imposto, uma vez que o IPI não incide, igualmente, nas exportações. A medida é das mais salutares, uma vez que a distância dos grandes centros consumidores consome significativos recursos, considerando o transporte e o seguro das mercadorias que circulam pelo território nacional. Complementarmente, a saída de produtos fabricados na ZFM com destino a qualquer ponto do território nacional goza da redução de 88% do II aplicado a matérias-primas, produtos intermediários, materiais secundários e de embalagem de procedência estrangeira empregados na industrialização. O benefício, porém, é condicionado à aprovação prévia de projeto pelo Conselho de Administração da Suframa e deve observar as normas do chamado Processo Produtivo Básico (PPB), conjunto mínimo de operações realizadas no estabelecimento fabril localizado na ZFM. A falta de cumprimento desse requisito implica a obrigatoriedade de pagamento do imposto dispensado. Passemos a entender melhor o que se conhece como PPB. Instituído e definido pela Lei nº 8.387/1991, consiste no conjunto mínimo de operações realizadas no estabelecimento industrial destinado à produção de determinado produto. A exigência funciona como uma espécie de compensação pelos benefícios fiscais concedidos por lei, em face da localização do estabelecimento produtor na ZFM, assim como pela legislação que dispõe sobre o incentivo à fabricação de bens de informática, telecomunicações e automação, a conhecida Lei de Informática. A instalação da ZFM, abrangendo todo o restante da região, ou seja, a Amazônia Ocidental, não é mecanismo de incentivo vedado pelo Acordo GATT, uma vez que constitui uma das exceções à concessão de subsídios o apoio governamental, direto ou indireto, que tenha por finalidade desenvolver certa região do território carente de recursos e desprovida de condições próprias de se autossustentar, como é o caso da Região Norte do país. No âmbito do Mercosul, após longas discussões entre as autoridades dos quatro países, ficou decidido que os bens industrializados procedentes da ZFM estariam sujeitos ao II quando fossem importados nos demais países. Essa medida pôs fim a sucessivos protestos dos membros parceiros contra o privilégio concedido pelo Brasil. AS MERCADORIAS INGRESSADAS NA ZFM NÃO ESTÃO SUJEITAS ÀS MESMAS EXIGÊNCIAS E AOS MESMOS CONTROLES PRATICADOS EM OUTROS PONTOS DO NOSSO TERRITÓRIO. O controle aduaneiro, entendido como o conjunto de procedimentos oficiais, ou seja, a cargo das alfândegas, tem por finalidade constatar a regularidade e a legalidade das operações de carga e descarga de mercadorias que entram ou saem do país, a entrada e a saída de veículos, a inspeção de bagagens e de remessas postais. Complementarmente, é sua responsabilidade comprovar a certeza do recolhimento dos tributos devidos ou a fiel observância das normas que concedem imunidade ou isenção dos tributos. Todavia, as mercadorias que ingressam na ZFM não estão à margem desse controle, isto é, deve ser verificado pelas autoridades aduaneiras o cumprimento dos dispositivos que impõem o licenciamento e o registro no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) para as importações e exportações, a expedição de documentos e certificados de origem, além de outros previstos na legislação pertinente. Esse controle tem em vista certificar-se de que foram cumpridas todas as exigências para permanência dos bens importados através da zona franca até que lhes seja dado o destino legalmente previsto – neste caso, a utilização em atividades industriais, comerciais, agropecuárias ou relativas à piscicultura. Píer em Rio Negro, Manaus. A ZFM, situada à esquerda dos rios Negro e Amazonas, abrange uma área de 10.000 quilômetros quadrados em torno da cidade de Manaus e se caracteriza por constituir uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um polo de desenvolvimento econômico, a partir do fomento ao comércio de produtosimportados, prosseguindo com a implantação de um parque industrial destinado a atender não só à região, como aos demais centros consumidores do país. Convém assinalar que a ZFM tem em vista, ainda, promover o desenvolvimento econômico de toda a Amazônia, com base no incentivo às atividades agropecuárias em todo o interior da região abrangida, sem contar os benefícios obtidos com a implantação no que tange à proteção do meio ambiente e ao controle de fronteiras. A fim de obter a aprovação de projetos e gozar dos benefícios especiais concedidos à zona franca, o interessado deve, inicialmente, cumprir o PPB autorizado pelo Conselho Administrativo da Suframa. Além disso, é necessário: Prever e garantir a criação de empregos na região. Conceder benefícios sociais aos empregados. Cuidar da incorporação de tecnologia de produtos e de processos produtivos compatíveis com o programa da ZFM. Programar o crescimento paulatino dos lucros em nível de competitividade com indústrias nacionais e estrangeiras. Realocar os lucros em atividades na região. Investir na formação e na capacitação de mão de obra voltada para a pesquisa científica e tecnológica. Solicitar a aprovação de projeto industrial que preveja limites anuais de importação de insumos. Os benefícios sociais aos trabalhadores incluem o acesso à educação, a facilitação para o uso do transporte e a assistência no que se refere à alimentação, à assistência médica e odontológica, à disponibilização de creche para os filhos dos trabalhadores, ao lazer e à previdência social. Esses compromissos, de caráter obrigatório, são submetidos junto do projeto industrial apresentado ao Conselho de Administração da Suframa, órgão composto por representantes de diversos ministérios do governo federal e responsável pela deliberação sobre investimentos na área da ZFM. Os produtos importados ingressam na ZFM com suspensão dos impostos de importação e sobre produtos industrializados. Excluem-se dos benefícios fiscais armas e munições, perfumes, fumo e seus derivados, bebidas alcoólicas e automóveis. O art. 40 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, da Carta de 1988, mantém em funcionamento a ZFM, com suas características de ALC, de exportação e importação, e de incentivos fiscais, pelo prazo de 25 anos, a partir da promulgação da Constituição. O Supremo Tribunal Federal (STF), em sessão datada de 7 de dezembro de 2000, examinou a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 2.348-DF, reconhecendo a validade e a eficácia do citado dispositivo. Ulysses Guimarães segurando uma cópia da Constituição de 1988. Com a aprovação da Emenda Constitucional (EC) nº 83, o prazo de funcionamento da ZFM foi estendido até 2073, o que assegura o gozo dos benefícios fiscais para toda a Amazônia por mais cinquenta anos a partir de 2023, prazo que havia sido estabelecido pela Constituição da República de 1988. A saída de produto importado com benefícios fiscais da zona franca para outros pontos do território nacional é objeto de tratamento tributário especial no caso de bagagem ou internação. Neste último caso, está compreendida a saída de produto industrializado na ZFM com o emprego de matéria-prima, produto intermediário ou material para embalagem, importados, ou quando o bem se destine à Amazônia Ocidental, que compreende o restante dos estados do Amazonas, do Acre, de Rondônia e de Roraima. Na internação, o imposto de importação é calculado com base em um coeficiente de redução da alíquota ad valorem, obtido mediante a aplicação de fórmula que leva em conta a participação de componentes nacionais e estrangeiros, bem como de mão de obra nacional, empregada na sua produção. Para fins de cálculo do II, aplica-se a Tarifa Externa Comum (TEC), em vigor no país desde a implantação do Mercosul, devendo a mercadoria ser considerada, neste caso, procedente do exterior. Os bens produzidos na Terra do Fogo (Argentina) e em Manaus (Brasil) gozam, no comércio recíproco, de isenção do II, bem como dos impostos internos devidos na importação, conforme acordo firmado pelos dois países e aceito pelos demais países integrantes do Mercosul – desde que cumpridos os requisitos de origem e a apresentação do selo específico de identificação da sua procedência. Importa observar que a legislação argentina se desborda em pormenores para descrever os benefícios concedidos à zona franca lá existente, entre os quais, a título de exemplo, podem ser citados o armazenamento, a comercialização, o consumo, a transformação, a elaboração, a combinação, a mistura, a reparação ou qualquer outro modo de aperfeiçoamento ou benefício. Contudo, não se pode ignorar a incompatibilidade da instalação de zonas francas com os princípios gerais que regem os organismos regionais de comércio, que, em sua primeira fase de implantação, ou seja, de criação de ALC entre os países, prevê a liberação total de impostos incidentes sobre a entrada de mercadorias no âmbito do território de cada membro integrante do bloco – por isso a exceção admitida por Paraguai e Uruguai. Internamente, porém, não há limitação. Assim, os benefícios fiscais concedidos à ZFM estendem-se às áreas pioneiras, às zonas de fronteira e outras localidades da Amazônia Ocidental, com vistas a estimular atividades econômicas, sociais e de consumo da região. Os benefícios concedidos à ZFM não se estendem a armas e munições, fumo e seus derivados, bebidas alcoólicas e automóveis de passageiros, além de produtos de perfumaria ou toucador, se destinados a consumo exclusivamente na ZFM ou produzidos com matérias- primas da fauna e da flora regionais, em conformidade com processo produtivo básico. A REMESSA DE MERCADORIA NACIONAL PARA CONSUMO OU INDUSTRIALIZAÇÃO NA ZFM É CONSIDERADA EXPORTAÇÃO BRASILEIRA PARA O EXTERIOR. A criação da ZFM constituiu uma das mais importantes medidas com vistas à integração econômica e social em âmbito nacional. Inúmeras empresas, do Brasil e do exterior, lá se instalaram gerando riqueza, abrindo frentes de trabalho e contribuindo para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB), efeito mais positivo, pode-se dizer, melhorando as condições de vida da população da região. Isso demonstra a correta aplicação dos benefícios fiscais nas finalidades para as quais foram concebidos os incentivos: promover o desenvolvimento econômico, incentivar a integração do território nacional e prover meios de subsistência digna a uma vasta camada da população brasileira. ZONA FRANCA DE MANAUS No vídeo a seguir, o professor Adilson Pires sintetiza os pontos que vimos sobre a Zona Franca de Manaus: VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Distinguir os regimes aduaneiros especiais e os aplicados em áreas especiais ÁREAS DE LIVRE COMÉRCIO (ALC): DEFINIÇÃO, CARACTERÍSTICAS E PROCEDIMENTOS Para fins de desenvolvimento das regiões fronteiriças, tem sido autorizada a instalação de ALC, beneficiadas por incentivos fiscais nos âmbitos federal e estadual. As ALC são criadas por lei, sob regime jurídico tributário semelhante ao da Zona Franca de Manaus (ZFM), com o objetivo de promover o desenvolvimento das regiões fronteiriças e incrementar as relações bilaterais com os países vizinhos, bem como, devido à distância e à dificuldade de comunicação e transporte com centros mais desenvolvidos, integrá-las ao restante do território nacional. Complementarmente, são objetivos das ALC a melhoria na fiscalização de entrada e saída de mercadorias, o fortalecimento do setor comercial local e regional, a abertura de novas empresas e a consequente geração de empregos. Nas ALC são bastante convidativas as possibilidades de negócios mediante o aproveitamento da matéria-prima disponível e a utilização de incentivos fiscais, à semelhança dos concedidos à ZFM, sem contar a opção pela instalação de estabelecimentos comerciais atacadistas de produtos importados a fim de atender às necessidades locais e de cidades vizinhas. RESUMINDO São diversas as vantagens da instalaçãode ALC nas cidades fronteiriças, no Amapá, em Santana, por exemplo, o que varia de acordo com as características locais. Entre elas, podemos citar o desenvolvimento de atividades voltadas à compra de bens no mercado interno e à importação de produtos estrangeiros para o consumo interno no município e nas cidades próximas. Vale citar, ainda, a promoção do desenvolvimento econômico, gerado pela criação de empregos em regiões que não contam com os mesmos recursos tecnológicos e de espacialização de mão de obra que outros locais. É digno de menção, ainda, que algumas dessas cidades, dadas as suas peculiares condições e localização, têm se caracterizado pelo incremento do extrativismo de recursos minerais, da agricultura e mesmo do turismo interno e externo. Constituem ALC de importação e de exportação as que, sob regime fiscal especial, são estabelecidas com a finalidade de promover o desenvolvimento de áreas fronteiriças da Região Norte do país e de incrementar as relações bilaterais com os países vizinhos, segundo a política de integração latino-americana. As ALC são configuradas por limites que envolvem, inclusive, os perímetros urbanos dos municípios de Tabatinga (AM), Guajará-Mirim (RO), Pacaraima e Bonfim (RR), Macapá e Santana (AP) e Brasileia, com extensão para o município de Epitaciolândia e Cruzeiro do Sul, no estado do Acre. Subsidiariamente, aplica-se às ALC a legislação pertinente à ZFM. Contando as ALC com características próprias e meios de subsistência típicos da localidade ou da região, pode-se alinhar as principais atividades desenvolvidas em cada uma delas: 1 A ALC de Tabatinga, no estado do Amazonas, sobrevive da importação de mercadorias nacionais e estrangeiras para consumo no município e em localidades vizinhas. É a sua principal forma de sustentação econômica e geração de empregos na cidade. 2 A ALC de Macapá e Santana, no Amapá, ocupa uma área de 220 quilômetros quadrados e baseia sua economia na agricultura, mineração, extração de madeiras, pecuária e piscicultura. 3 A ALC de Guajará-Mirim, no estado de Rondônia, faz fronteira com a cidade de Guayaramirim, na Bolívia. Baseia sua economia na agricultura, no extrativismo mineral e na pecuária, principais meios de subsistência. Boa Vista e Bonfim, no estado de Roraima, são outras duas cidades contempladas pela lei com a instalação, em 2008, de ALC. Fazendo fronteira com a Venezuela e a Guiana, atendem à política de integração em toda a América Latina. As cidades contam com incentivos fiscais com vistas à implantação de indústrias fornecidas por empresas estabelecidas na Amazônia Ocidental, embora tenham grande tendência a desenvolver o turismo de negócios no estado e na região. SAIBA MAIS Valem ser citadas, ainda, tendo em vista a sua importância e extensão, as ALC de Brasileia, Epitaciolândia e Cruzeiro do Sul, no estado do Acre. Criadas em 1994, mas ainda em fase de implantação, usufruem de benefícios relativos ao Imposto sobre os Produtos Industrializados (IPI) concedidos às empresas cadastradas na Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), sendo as mercadorias destinadas às ALC obrigatoriamente desembaraçadas nas coordenações regionais das cidades de Cruzeiro do Sul e Rio Branco. Encontra-se em tramitação na Câmara de Deputados o Projeto de Lei (PL) nº 2.264/2019, que transforma os 22 municípios do estado do Acre em ALC de exportação e importação, contemplando, assim, todo o estado com o regime fiscal especial próprio das ALC, visando promover o desenvolvimento econômico daquela extensa área. Segundo a Agência Câmara de Notícias, os benefícios a serem concedidos reduzirão o custo de vida da população, principalmente nas cidades situadas perto das fronteiras com o Peru e a Bolívia, onde acreanos deslocam-se para comprar produtos mais baratos nesses países. As mercadorias estrangeiras ou nacionais, remetidas às ALC com suspensão – se transforma em isenção quando utilizadas nas finalidades previstas em lei –, são destinadas a empresas autorizadas pela Suframa. A saída de mercadorias da ALC para qualquer outro ponto do território nacional é sujeita ao tratamento administrativo e fiscal dispensado às mercadorias importadas do exterior. Também as lojas francas, que não serão objeto de estudo neste tema, constituem espécies de ALC. Muito comuns em aeroportos e portos do mundo inteiro, destinam-se a incentivar as exportações, visto que as vendas de mercadorias por lojas francas com destino ao exterior estão fora do campo de incidência dos tributos internos, sendo, por isso mesmo, consideradas equivalentes à exportação. Em muitos aeroportos de países de menor desenvolvimento econômico, inclusive no Brasil, é comum vermos lojas francas de entrada, onde é permitida a venda de mercadorias importadas isentas do pagamento dos tributos devidos na importação. Isso se deve à necessidade de carrear para o balanço de pagamentos o total de moeda estrangeira no território nacional. Como conclusão do estudo sobre as ALC, é de se afirmar que em alguns setores, como os de fornecimento e ampliação dos serviços de energia elétrica, saúde e saneamento básico para a população, o resultado não tem sido animador. O descuido se deve, principalmente, à conhecida falta de vontade política, entendida neste caso como disputas partidárias e outros interesses em jogo, mal aparentemente sem cura, que aflige boa parte das cidades e dos estados brasileiros. Contudo, é animador constatar que grande parte dos objetivos pensados está sendo concretizada. No que respeita, por exemplo, ao desenvolvimento urbano, a saber, a melhoria das condições de locomoção dentro do município, o embelezamento das cidades, o incremento ao turismo e o acesso ao ensino público pelas crianças carentes, os objetivos foram alcançados. RESUMINDO Embora muito ainda se possa esperar da implantação das ALC, o ganho econômico e social nas cidades e regiões beneficiadas é considerável e estimulante para a adoção de novas iniciativas dessa natureza. ÁREAS DE LIVRE COMÉRCIO No vídeo a seguir, o professor Adilson Pires faz algumas observações sobre as áreas de livre comércio: ZONAS DE PROCESSAMENTO DE EXPORTAÇÕES (ZPE): DEFINIÇÃO, CARACTERÍSTICAS E PROCEDIMENTOS As ZPE, criadas pelo Decreto-Lei nº 2.452/1988, são áreas delimitadas, dentro do território nacional, que contam com menor desenvolvimento, nas quais empresas dedicadas à exportação gozam de benefícios tributários nas importações e facilidades nas vendas ao exterior, além da simplificação de procedimentos relativos ao controle aduaneiro. As ZPE constituem área situada no âmbito jurídico da extraterritorialidade para fins tributários, razão pela qual é delimitada por barreira física, o que as mantêm isoladas, geograficamente, do restante do território brasileiro. É considerada, por isso, um enclave situado no território aduaneiro. Quase todos os estados do Brasil contam atualmente com pelo menos uma ZPE instalada, que visa a objetivos específicos, como a atração de investimentos estrangeiros, a redução de desequilíbrios regionais, a difusão de avanços tecnológicos e o aumento da competitividade dos produtos nacionais destinados ao exterior, mediante a oferta de bens a preços convidativos para os compradores. As ZPE contam, ainda, com o aporte de instituições financeiras nacionais e estrangeiras, com vistas a aumentar a competitividade dos produtos nacionais no mercado externo. As normas que disciplinavam as ZPE continham inúmeras restrições que desencorajavam os investimentos. Algumas delas impediam, por exemplo, a venda de mercadorias no mercado interno e o acesso ao financiamento por instituições financeiras nacionais. Contudo, restringiam a aquisição no mercado interno de bens até determinado limite de valor. Essas medidas provocaram reações de empresas estabelecidas no país, o que motivou a sua flexibilização, advinda com a edição da Lei nº 11.508/2007. A regulamentação das regras relativas às ZPE surgiucom o Decreto nº 6.814/2009. Em certo sentido, as regras estabelecidas na citada lei não divergem substancialmente do Decreto-Lei nº 288/1967. Com efeito, a Lei nº 11.508/2007 autoriza o Poder Executivo a criar, nas regiões menos desenvolvidas, ZPE que ficarão sujeitas a regime jurídico especial, com a finalidade de reduzir desequilíbrios regionais, bem como fortalecer o balanço de pagamentos e promover a difusão tecnológica e o desenvolvimento econômico e social do país. Diz ainda a lei que as ZPE se caracterizam como ALC com o exterior e se destinam à instalação de empresas voltadas para a produção de bens a serem comercializados no exterior. Pela forma de atuação e pelo controle exercido, as ZPE são consideradas recintos de zona primária para fins administrativos e consistem em uma espécie das chamadas zonas de livre comércio, que se caracterizam pela não incidência de tributos na comercialização de mercadorias ali produzidas com o exterior. Cabe assinalar que a União, os estados e os municípios reconhecem as vantagens econômicas, fiscais e sociais das ZPE, o que leva os três níveis de governo a conceder incentivos à sua instalação. Uma vez que os bens produzidos se destinam ao exterior, o ingresso de divisas daí resultante compensa plenamente a renúncia de receitas num primeiro momento. Por esse motivo, as ZPE representam relevante mecanismo de fortalecimento da balança de pagamentos. Para isso, gozam de tratamento preferencial nos âmbitos tributário, cambial e administrativo semelhante ao do regime das exportações. A LEGISLAÇÃO CONCEDE SUSPENSÃO DA COBRANÇA DO IPI, DAS CONTRIBUIÇÕES PARA O PIS/PASEP E PARA A CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL (COFINS) DO ADICIONAL DE FRETE PARA RENOVAÇÃO DA MARINHA MERCANTE (AFRMM) NA AQUISIÇÃO DE BENS NO MERCADO INTERNO, ALÉM DA NÃO INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO (II). Da mesma maneira, os produtos exportados são isentos do Imposto de Exportação (IE), quando incidentes. Importante instrumento de desenvolvimento econômico nas décadas de 70 e 80 do século passado, as ZPE perderam o seu glamour durante certo período em face da reação de empresários que temiam a concorrência dentro do próprio território da nação. Apesar da resistência, prevaleceu o interesse econômico nacional, visto que o desenvolvimento da região onde estivessem instaladas repercutiria sobre a economia do país como um todo. Some-se a isso o incentivo às inovações tecnológicas, a criação de infraestrutura compatível com o movimento esperado e a geração de empregos, dados já comprovados nas ZPE em funcionamento em grande número de países do mundo. O órgão máximo de deliberação e fiscalização do funcionamento das ZPE é Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportações (CZPE), que conta com uma secretaria executiva para auxílio e apoio às suas atividades, o que inclui estudos sobre a criação e a relocalização das ZPE existentes. Vale dizer, as ZPE são criadas por decreto, que delimita a área territorial de atuação, após considerar propostas dos estados e dos municípios. Outra exigência fundamental para o estabelecimento de empresas consiste na vedação de instalação de empresas que revelem simples transferência de plantas industriais para a ZPE. A concessão do regime obedece a prazo de vinte anos, prorrogáveis por igual período. As ZPE em operação contemplam quase vinte estados da Federação, como as de: Araguaína (TO) Barcarena (PA) Boa Vista (RR) Cáceres (MT) Ilhéus (BA) Parnaíba (PI) Suape (PE) Açu (RJ) Fernandópolis (SP) Teófilo Otoni (MG) Imbituba (SC) De acordo com a legislação vigente, 80% da receita bruta anual obtida com a produção da empresa sediada na ZPE deve ser exportada, percentual compatível com os propósitos da sua criação. Admite-se a venda do restante no mercado interno após o pagamento dos tributos devidos e dispensados na importação. Essa regra compensa os benefícios concedidos pela lei. Mesmo as empresas estrangeiras gozam desse incentivo. Por todas essas razões, é fácil imaginar a grande contribuição dessa iniciativa para o desenvolvimento local e regional em todos os planos, a começar pela transferência de tecnologia que chega com os produtos fabricados e os investidores. É importante também ressaltar a importância econômica, tendo em vista o volume de divisas que ingressam com as exportações e o consequente reforço em busca do equilíbrio do balanço de pagamentos. Prioritariamente, os bens produzidos se destinam ao exterior. Também merece menção o desenvolvimento no campo social, em razão das oportunidades de colocação de trabalhadores especializados no mercado de trabalho e das melhorias nas condições de vida dos cidadãos. Isso significa maior demanda para a satisfação das necessidades familiares, maior produção e maior renda, tanto dos investidores quanto dos trabalhadores. Operando como zona primária, em seu interior a ZPE é controlada pela Receita Federal do Brasil (RFB) e seus auditores fiscais. Nesse local, encontram-se as indústrias e os bens produzidos e circulam pessoas e veículos sem a necessidade de comprovação da entrada regular da mercadoria no país, uma vez que o controle aduaneiro é permanente na zona primária. Ressalvadas as licenças relativas à segurança nacional, à proteção do meio ambiente e à proteção da preservação do povo brasileiro, as demais, quando consideradas de mero interesse administrativo, são dispensadas, como forma de desburocratizar e agilizar o processo de implantação e funcionamento das ZPE. Os estados e municípios, com base em convênio firmado no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), se associaram na iniciativa do governo federal e igualmente concedem incentivos fiscais destinados a estimular os projetos industriais ZPE. Assim, as mercadorias originárias de empresas estabelecidas no mesmo estado de localização da ZPE, bem como as importações, estão isentas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Com a finalidade de reduzir o preço dos produtos industrializados nas ZPE estão, também, contemplados com a isenção do ICMS o transporte de mercadorias entre a ZPE e os locais de embarque ou de desembarque de bens, e a aquisição de bens que se destinem a compor o ativo imobilizado da empresa. Entre as inúmeras vantagens outorgadas pela Lei nº 11.508/2017 consta a extensão dos incentivos fiscais às empresas localizadas na ZPE fornecedoras de bens intermediários e outros diretamente ligados às operações de produção. A medida permite às empresas uma conjugação de interesses com o fim de conferir maior condição de competitividade aos bens produzidos. Vale assinalar que outro grande estímulo que recebem as ZPE consiste no enquadramento fiscal das receitas da empresa como decorrente da exportação. Contudo, os benefícios previstos alcançam tão somente a aquisição de bens de capital, matérias-primas e produtos intermediários, além de material de embalagem relacionados ao processo produtivo. Compete ao presidente da República autorizar a criação de ZPE, após análise da conveniência e oportunidade de instalação consubstanciada em parecer exarado pelo Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportações (CNZPE) pela aprovação do projeto industrial apresentado. São condições essenciais para a autorização: A orientação do empreendimento para o mercado externo. A contribuição do projeto para o desenvolvimento regional e para a difusão tecnológica no país. A adequação do empreendimento aos serviços e à infraestrutura locais disponíveis. A comprovada viabilidade econômico-financeira do projeto. Predominantemente em países em desenvolvimento, o número de ZPE cresceu de maneira considerável a partir das últimas décadas do século passado, inclusive nas Américas do Sul e Central, cujo fim consistia no incremento das exportações. Contribuiu grandemente para esse crescimento o processo de globalização da economia, que promoveu a difusão do processo de produção em váriaspartes do mundo em busca de novos mercados consumidores. Ásia, Estados Unidos da América e região do Caribe, do mesmo modo, são exemplos bastante representativos dessa forma de incentivo à produção e à exportação. É de se observar a necessidade de estreita colaboração entre os setores privado e público, condição fundamental para a sobrevivência das ZPE. Sem essa confluência de interesses, a iniciativa tende a perder força, e o estímulo passa a não mais encorajar empreendedores nacionais e estrangeiros. É importante assinalar que as ZPE dependem de infraestrutura eficiente, que demonstre facilidade de acesso aos meios produtivos, aos centros de consumo, e à proximidade de portos e aeroportos de fronteira por onde sejam desembarcados bens importados e embarcadas as mercadorias destinadas ao exterior. Some-se a isso a organização alfandegária, de modo que o esforço de construção de infraestrutura adequada não encontre barreiras nos entraves burocráticos de um serviço público ineficiente. Tendo em vista as peculiaridades de sua atuação e o gozo pleno de incentivos fiscais, pode-se admitir que a criação das ZPEs viola normas constantes do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade – GATT) administrado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que veda a concessão de incentivo a empresas diretamente voltadas para as exportações. Todavia, não se tem conhecimento, até os dias atuais, de êxito em qualquer provocação do Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) com esse propósito. RELEMBRANDO A exigência de exportação mínima de 80% do faturamento bruto da empresa colide com o preâmbulo do acordo multilateral de comércio, segundo o qual deve ser eliminada, na medida do possível, toda e qualquer limitação, seja de ordem tarifária ou não tarifária, ao livre comércio entre os países signatários do acordo. ZONAS DE PROCESSAMENTOS DE EXPORTAÇÕES Para concluir este módulo, o professor Adilson Pires faz algumas observações sobre as zonas de processamento de exportações: VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS O Brasil enfrenta uma infinidade de problemas de difícil solução – reduzida margem de poupança para fins de investimento; desigualdade de renda; falta de mão de obra qualificada; baixa produção industrial; infraestrutura precária ou mesmo inexistente em muitas localidades; área territorial em dimensões continentais; baixa densidade populacional em grandes áreas; dificuldade de acesso à tecnologia; índice de escolaridade inferior à média mundial – além de outros fatores internos que dificultam o seu crescimento econômico. Um país com essas características requer a adoção de políticas públicas desenvolvimentistas e eficazes, que permitam corrigir esse deficit de crescimento e assegurar melhores condições de vida para o povo. Os incentivos fiscais, mal utilizados pela maioria dos governos eleitos, constitui, no plano interno, um importante instrumento de correção das desigualdades sociais e de promoção do nivelamento entre as várias regiões. No plano externo, quando concedidos na medida exata para a correção das desigualdades apontadas e em conformidade com o estabelecido nos acordos internacionais, são reconhecidos pela comunidade externa, o que denota o respeito que temos a outras nações. Os benefícios fiscais especiais concedidos por lei às regiões mais carentes de recursos vêm cumprindo à risca o seu papel equalizador do desenvolvimento entre as regiões do país, assim como têm proporcionado ganhos significativos, no que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), apesar de algumas falhas naturais apuradas na execução dos diversos programas lançados. A decisão de prorrogar o prazo de existência da ZFM, assim como as propostas de ampliação das áreas abrangidas pelas ALC e pelas ZPE, portanto, merece aplausos de todos os brasileiros que desejam um país desenvolvido e respeitado para si e para seus filhos. PODCAST AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS PIRES, Adilson Rodrigues. O imposto de importação e a Zona Franca de Manaus. In: MARTINS, Ives Gandra Silva; RAMOS FILHO, Carlos Alberto de Moraes; PEIXOTO, Marcelo Magalhães (coord.). Tributação na Zona Franca de Manaus. São Paulo: MP, 2008. VIEIRA, Marcos Túlio Ferreira Santos. O regulamento aduaneiro e a legislação aduaneira. In: ARAUJO, Renata Alcione de Faria Villela de (org.). Coletânea de direito aduaneiro. São Paulo: IOB/Sage, 2016. SIMONETTI FILHO, Alberto Lúcio de Souza. Os incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus e sua importância para a região amazônica. Consultado eletronicamente em: set. 2018. NASCIMENTO, Cleydiane Barroncas; SILVA, Rubens Alves da Silva. A Zona Franca de Manaus e seus aspectos tributários. Consultado eletronicamente em: 8 nov. 2019. EXPLORE+ Para aprofundar seu conhecimento, leia: Zona franca de Manaus: impactos, efetividade e oportunidades, coordenado por Márcio Holland. Zona franca de Manaus: desafios e vulnerabilidades, de Ricardo Nunes de Miranda. CONTEUDISTA Adilson Rodrigues Pires CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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