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Saúde, segurança e qualidade de vida no trabalho Aula 1: Visão geral da disciplina, introdução aos conteúdos e noções gerais da segurança. Apresentação Nesta aula, enfocaremos um dos assuntos mais discutidos no meio da administração de pessoas e no setor da gestão empresarial: a qualidade de vida no trabalho (QVT). Abordaremos sua origem histórica e sua trajetória, bem como as grandes mudanças na saúde, segurança e qualidade de vida das pessoas. Nesse contexto, perceberemos que o tema sempre se renova e se molda aos novos cenários econômicos, tecnológicos e sociais, pois os processos de trabalho, qualidade, produtividade e lucro daquilo que é fabricado, muitas das vezes, impõem consequências de morte ou adoecimento de pessoas desde a primeira revolução industrial. Debateremos ainda outra questão: a importância de cuidar das pessoas em seu ambiente de trabalho, uma vez que a maior parte de seu tempo de vida é dedicado às organizações – e, por isso, as empresas devem cumprir os requisitos legais de saúde e segurança, que foram conquistados com muito sacrifício e muita luta pelos trabalhadores. Objetivo Explicar a evolução das questões de segurança, saúde e qualidade de vida no trabalho em cada uma das revoluções industriais; Enunciar a situação do trabalho e o desa�o atual de segurança, saúde e qualidade vida no trabalho em um novo ambiente tecnológico que in�uencia as funções e competências a serem desenvolvidas nas empresas da nova revolução industrial; Debater a importância das regulamentações para evitar a precariedade e exigir o cumprimento dos requisitos legais de saúde e segurança determinados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelas Normas Regulamentadoras da Secretaria Especial de Trabalho e Previdência Social do Ministério da Economia. (Fonte: Shutterstock) A história do trabalho humano e as revoluções industriais Na história humana, o trabalho sempre foi uma necessidade para garantir a sobrevivência, permitindo a geração de uma renda para �nanciar alimentação e habitação, saúde, educação e o que mais cada um desejasse possuir. No entanto, assim como as faces de uma moeda, o trabalho também apresentava o seu outro lado sob a forma de lesões, adoecimento e até mesmo morte. Se pudéssemos resumir o trabalho para o homem em cada uma das revoluções industriais, o seu maior signi�cado seria ainda o de luta pela sobrevivência do emprego e no emprego, mas com parâmetros diferentes de pressão na adaptação à realidade das novas tecnologias sobre o tipo e o número de vaga nas empresas, bem como a busca da felicidade humana com a proteção de sua integridade física e de sua saúde ocupacional. As revoluções industriais podem ser imaginadas como as ondas de um oceano que nunca mais serão navegáveis em um regime de calmaria. Sua agitação se manifesta pelo surgimento das novas tecnologias, que transformam o modo da navegação das empresas rumo a suas metas de trabalho. Essa agitação ou mudança tecnológica in�uencia a organização em sua segurança, em sua saúde e no tamanho do efetivo necessário da equipe, que deve ser participativa, integrada e motivada com protocolos de convivência que valorizem o pessoal. Além disso, também in�uencia promovendo alterações na maneira de treinar seu pessoal para o enfrentamento das situações de crise econômica ou de imagem. (Fonte: Shutterstock) (Fonte: Shutterstock) O impacto das revoluções industriais em saúde, segurança e QVT A primeira onda ou revolução industrial A primeira onda ou revolução industrial ocorreu na Inglaterra, no século XVIII, por fatores de disponibilidade de capitais acumulados por conta do domínio do comércio colonial marítimo e da mão de obra disponível por conta da migração de um enorme contingente de pessoas para as cidades. Esses migrantes eram pessoas que �caram sujeitas a leis de cercamentos de propriedade no campo e, nas metrópoles, a leis de combate à vadiagem, que impunham castigos físicos ou até mesmo a morte. Esses fatores constrangeram esses indivíduos a baratear seus serviços como forma de garantir sua sobrevivência. O ramo característico da primeira revolução industrial foi o têxtil de algodão, que teve uma crescente mecanização movida pelo vapor originado da combustão do carvão, fonte de energia empregada no funcionamento de fábricas e no transporte por ferrovias e navegação marítima. O período marcou uma mudança nas relações de trabalho, como se, atualmente, um jogo de futebol estivesse acontecendo sem regras, valendo qualquer coisa para a vitória: Aumento da jornada de trabalho sem qualquer restrição de horário e turno. Péssimas condições dos ambientes fabris. Agrupamento elevado de pessoas – inclusive crianças – em espaços con�nados, provocando inúmeras situações de acidentes do trabalho. Primeira onda Clique no botão acima. Primeira onda Existem, nessa época, registros do aparecimento de doenças ocupacionais provocadas pelas condições especiais em que o trabalho era executado, sem quaisquer equipamentos de segurança. Por causa da ausência de proteção, invariavelmente, ocorriam acidentes com mutilações ou mortes, e os trabalhadores não recebiam nenhuma assistência médica e nem seguridade social. Esses pro�ssionais começaram a perceber que o trabalho desenvolvido dessa forma, empregando métodos sistematizados de produção, era uma fonte de exploração econômica e social que podia levar a danos à saúde, ao adoecimento e à morte. A partir disso, os temas relativos à saúde e à segurança no trabalho começam a surgir com maior força nas discussões do ambiente ocupacional (SANTOS, 1997). No primeiro momento, as organizações que tinham como objetivo aumentar os limites da produção com lucro a qualquer custo notaram que a perseguição dessa meta custava a vida dos seus trabalhadores – e, por conseguinte, o surgimento dos con�itos entre empresários e trabalhadores, com depredação de máquinas e instalações fabris. Isso levou à formação das organizações de trabalhadores denominadas sindicato. Seu objetivo era obter melhores condições de trabalho e vida por meio de mecanismos como a paralisação do expediente de trabalho das empresas, que �cou conhecida como greve. Nesse contexto, surgiram protestos por mudanças nas condições do trabalho, foram promulgadas as primeiras leis trabalhistas na Inglaterra e, posteriormente, na Alemanha, um conjunto de legislações voltadas à segurança e seguridade do trabalhador, bem como à responsabilização social do Estado nas relações de trabalho. A partir da �gura do médico nas fábricas, surge a promoção à saúde dos trabalhadores. Esse recurso foi considerado um meio de possibilitar a recuperação do trabalhador e seu retorno a seu posto de trabalho o mais rapidamente possível. Além disso, em um momento em que a força de trabalho era necessária à industrialização, sua outra responsabilidade na fábrica era eliminar as doenças. Esse serviço centrado na atenção básica ao diagnóstico e tratamento do indivíduo teve pouco a contribuir na eliminação dos problemas de saúde causados pelos processos da produção industrial, pois não havia autonomia para entender onde intervir na organização do trabalho. A QVT estava direcionada para designar os limites mínimos da regulamentação de qualquer trabalho. Isso incluía sua jornada em horas, as questões da carga e das condições do trabalho, o valor dos salários e um mínimo de assistência de seguridade aos casos de doenças ou incapacitações por parte das empresas. Uma das melhoras conquistadas foi a redução da jornada de 16 h diárias com 30 min de pausa de almoço para 10 h diárias. O trabalhador passava a maior parte de seu tempo e de sua vida nos locais de trabalho, dedicando sua força, sua energia e seus esforços mais às organizações que a suas famílias. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online A segunda onda ou revolução industrial A segunda onda ou segunda revolução industrial foi um novo ciclo que se iniciou, de fato, nas primeirasdécadas do século XX, nos Estados Unidos, e teve suas bases nos ramos metalúrgico e químico. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Isso se deveu ao fato de que, no período, o aço produzido na siderurgia substituía o ferro, tornando-se um material básico de construção na infraestrutura de prédios, pontes, armamentos, entre outros. Seu processo produtivo empregava um sistema de técnicas e trabalho conhecido como fordista, termo que se refere ao empresário Henry Ford, fabricante e inventor do sistema inovador de produção em série em linhas de montagem de automóveis à época, em Detroit, nos Estados Unidos, e que veio a se tornar um paradigma técnico no mundo industrial. Atenção Essa segunda revolução representou uma fase de avanços tecnológicos maiores que a primeira, e teve um papel relevante em todo desenvolvimento técnico, cientí�co e de trabalho que ocorreu nos anos da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais, o que signi�cou um aumento da produtividade e dos lucros das empresas. As principais invenções dessa fase estão associadas ao uso energético do petróleo em motores a combustão e da energia elétrica em motores elétricos e a explosão. Além disso, nesse período, a ciência da administração foi desenvolvida por Frederik Taylor, que elaborou técnicas de racionalização do trabalho que controlavam o tempo e o movimento do homem e da máquina em cada uma de suas tarefas, aperfeiçoando gradativamente o processo de trabalho industrial. Taylor concluiu que o aumento da e�ciência de um processo de trabalho é alcançado mediante sua divisão e a execução de uma única tarefa desempenhada e limitada de cada trabalhador de uma maneira contínua e repetitiva. Frederick Taylor (Fonte: wikipedia) Segunda onda Clique no botão acima. Segunda onda A saúde ocupacional começou a ser delineada pelo contexto econômico e político da Segunda Guerra Mundial e do Pós-Guerra, quando as pesadas indenizações por acidentes ou doenças do trabalho começaram a impactar tanto as empresas quanto as companhias de seguro, levando a uma mudança da intervenção, antes centrada no indivíduo, a outra questão de riscos existentes no ambiente de trabalho. Dessa maneira, a saúde ocupacional passou a se utilizar de conhecimentos da higiene industrial, buscando uma atuação multipro�ssional por meio de médicos, engenheiros, toxicologistas e outros, que passaram a intervir nos locais de trabalho para o controle dos riscos ambientais (MENDES e DIAS, 1991). No período das décadas de 1950 e 1960, houve um crescente interesse na pesquisa em QVT no meio acadêmico (BOSQUETTI, FRANÇA e VELOSO, 2005), principalmente nos Estados Unidos. Historicamente, coincidiu com o auge do fordismo e uma maior força dos movimentos de trabalhadores organizados, que reivindicavam melhores condições de trabalho. Essas pesquisas bene�ciaram trabalhadores e contribuíram para diminuir ou cessar qualquer forma de pressão das organizações sindicais à rotina das empresas. No período da segunda onda, muitos pesquisadores desenvolveram estudos sobre a satisfação dos indivíduos no trabalho na obtenção das metas organizacionais e da QVT. Esses estudos partiram do entendimento de seu comportamento, e se destacaram pesquisas como, por exemplo: Helton Mayo: realizadas na cidade de Chicago, nos anos 1920, na Western Eletric Company, culminaram com a Escola de Relações Humanas; javascript:void(0); Abrahan H. Maslow: Teoria da Hierarquia das Cinco Necessidades Fundamentais (�siológicas, segurança, amor, estima e autorrealização); Douglas MacGregor: Teoria X, que fala sobre os compromissos com objetivos de trabalho dependerem de recompensas à sua consecução; Frederick Herzberg: levantamento de fatores higiênicos que seriam geradores da insatisfação no ambiente de trabalho se não observados, e os fatores motivadores que surgem da satisfação no trabalho. No período da segunda onda, é como se os pesquisadores tivessem levado o trabalho humano como uma amostra ao laboratório para analisá-lo a �m de obter uma mecânica de seu exercício com maior satisfação e sua consecução – em outras palavras, um novo modelo de gestão de valorização dos trabalhadores. A industrialização em um primeiro momento, tinha como característica a produção da maior quantidade de produto padronizado – a chamada produção em massa (MARANALDO, 1989), que ignorava a saúde e a segurança das pessoas e, por isso, ocorriam muitas doenças e muitos acidentes. Em seguida, transitou para uma outra caraterística, que buscava o controle interno de suas operações a partir de experimentações na busca do que se denominou e�ciência. Nessa busca, há predomínio na criação de manuais com procedimentos, rotinas, normas, etc. Em alguns casos, havia o entendimento de que a QVT deveria ser alcançada no atingimento das metas de produtividade, por meio de recompensas e promoções, sem um reconhecimento claro de suas relações com as doenças e os acidentes dos trabalhadores. (Fonte: Shutterstock) A terceira onda ou revolução industrial A terceira onda ou terceira revolução industrial teve início nos anos 1970, com base na alta tecnologia, o que possibilitou uma integração entre ciência, tecnologia e produção que permitiu avanços no campo da medicina e da genética, bem como a invenção de robôs para a realização de trabalhos extremamente minuciosos, precisos, e daqueles que exigiam trabalhos pesados pelos trabalhadores. A máquina que realizou esses avanços na terceira revolução industrial foi o computador, com suas características de �exibilidade e composição em máquina (hardware) e programa (software), o que o transformou em uma ferramenta de trabalho imprescindível para comunicação e administração. Além disso, surgiram novas técnicas que melhoraram a qualidade de vida das pessoas e que, em alguns casos, possibilitaram a redução de distâncias entre os povos com uma maior difusão de notícias e informações por novos meios de comunicação. Houve ainda a consolidação do capitalismo �nanceiro, com o aumento do número de empresas multinacionais. Atenção Dessa maneira, as atividades tornaram-se mais criativas, com exigência elevada quali�cação da mão de obra e de horário �exível. Terceira onda Clique no botão acima. Terceira onda Essa revolução técnico-cientí�ca baseou-se no que convencionou-se chamar toyotismo – ou sistema Toyota de produção – devido ao método desenvolvido por engenheiros da indústria automobilística japonesa. Esse método aboliu a função de trabalhadores pro�ssionais especializados para transformá-los em especialistas multifuncionais, treinados para atuar em várias etapas diferentes do processo de produção. Em outras palavras, a organização do trabalho sofreu uma profunda reestruturação com um sistema de trabalho polivalente, �exível, integrado em equipe, menos hierárquico e capaz de possibilitar a ação criativa dos trabalhadores. A verticalização fordista cedeu lugar a uma horizontalização. Toda essa �exibilização técnica e do trabalho tornou-se mais adaptável às mudanças na economia, pois essa relação de produção pode atender aos clientes no tempo em que necessitam adquirir suas mercadorias: just in time. As exigências de quali�cação especial, ainda que apenas para apertar um botão, eram intensas. Nesse cenário, uma ameaça de desemprego gerava problemas de saúde (de ordem física e psíquica) em milhares de pessoas. Tais problemas surgiam, muitas vezes, durante a execução da atividade, motivados pela falta de adaptação biopsicossocial às máquinas – posturas, gestos repetitivos, velocidade – e às tarefas cada vez mais parceladas e fragmentadas. Esse foi um tempo de muitos riscos desconhecidos – principalmente químicos – e de acidentes industriais maiores. Os países aumentaram o custo �scal para as empresas que agravaram a saúde dos trabalhadores como uma tentativa de contrabalançar as consequências sociais dos riscos nos impostos. Na situação de sobrecarga dos trabalhadores, isso pode afetar sua saúde e sua segurança,uma vez que a exigência de esforços físicos e psíquicos podem causar, futuramente, doenças ocupacionais ou mesmo acidentes de trabalho devido ao cansaço. As doenças mais diagnosticadas no período foram depressão, ansiedade e síndrome de burnout, um distúrbio psíquico que tem consequência um quadro de depressão por esgotamento mental e físico. Além disso, foram relatadas dores em geral (musculares, costas e cabeça), relacionadas ao excesso de estresse laboral e à privação do sono. Em algumas empresas, a inovação leva a uma mudança para cenários tecnológicos, como, por exemplo, as salas de controle que contam com diversos monitores em indústrias, similares aos controles existentes em jatos comerciais, que impõem decisões rápidas no processo de fabricação e exigem elevado esforço cognitivo, representando cargas de trabalho até então inimagináveis. (Fonte: Sigga) A quarta onda ou revolução industrial javascript:void(0); A quarta onda ou quarta revolução industrial surgiu no ano de 2011, em uma feira na cidade de Hannover, na Alemanha, a partir de uma parceria entre indústrias e governo como forma de designar um novo projeto de automação e informatização de manufatura em que seriam desenvolvidas fábricas inteligentes e conectadas. Essas organizações prometeram transformar completamente o trabalho e o estilo de vida das pessoas nas próximas décadas. Essa indústria inovadora se baseia em um sólido conhecimento cientí�co e interdisciplinar, que emprega recursos avançados de Internet das Coisas (IoT) no padrão 5G e sua conectividade entre bens, máquinas, eletrodomésticos, robôs, realidade aumentada, inteligência arti�cial. Além disso, também se baseia na evolução de redes de comunicação com o propósito de tornar os processos produtivos cada vez mais e�cientes e �exíveis. Quarta onda Clique no botão acima. Quarta onda O impacto dessa tecnologia é imenso e positivo, mas levará a uma exclusão de trabalhadores no mercado de trabalho e a um contínuo esforço de capacitação para manutenção de sua condição de empregabilidade. Assim como, no século XVIII, a invenção da máquina a vapor representou uma mudança radical, os robôs, em velocidade e em larga escala, passarão, com seus sistemas ciberfísicos, a ser os responsáveis por uma transformação profunda do que conhecemos como trabalho. Esses sistemas ciberfísicos combinam máquinas com processos digitais que são capazes de determinar decisões descentralizadas e de cooperação entre equipamentos ou na relação com humanos mediante a IoT e a computação na nuvem. As possibilidades desse encontro entre tecnologias digitais, físicas e biológicas impactarão a identidade dos seres humanos, os relacionamentos, a desigualdade de renda, o mercado e o futuro do trabalho, a segurança geopolítica e uma re�exão profunda sobre o que é considerado ético. A quarta onda não deve ser tratada como um desdobramento simples do desenvolvimento tecnológico de diversas áreas de maneira isolada da terceira, mas como uma transição a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital anterior (SCHWAB, 2016). Diferentemente de uma substituição da mecanização de postos de trabalho menos quali�cados por máquinas, como aconteceu na terceira onda, a associação de inteligência arti�cial e robôs passa a ser dotada de competência para criar e desenvolver tarefas cognitivas simpli�cadas, o que alguns autores designaram como eletronização (STREECK, 2016). Isso afetará a maior parte das atividades pro�ssionais. Podemos citar como exemplo o caso da Zuma Pizza, no Vale do Silício, nos Estados Unidos, cujo processo de elaboração é robotizado. A empresa da Califórnia emprega inteligência arti�cial para disponibilizar petições para que seus clientes recorram de multas de trânsito. Tais práticas se reproduzem em todos os setores da economia mundial. Até então, o trabalho e o homem vivenciavam extremos opostos, como em uma balança que, até então, estava em contínua tentativa de equilíbrio da saúde, segurança e qualidade de vida do lado humano. Contudo, o trabalho na quarta onda se desvinculou da balança e deixou o homem sozinho, sem saber em que ou como vai trabalhar. O relatório elaborado pelo Fórum Econômico Mundial em 2016 mostra que 65% das crianças atualmente no primário terão tipos completamente novos de emprego quando começarem a trabalhar. Mais que isso: trabalharão de um jeito diferente, podendo ser de forma remota, �exível ou sob demanda em espaços de coworking, em equipes virtuais ou plataformas de talento online, ou em esquema de projetos. Em outras palavras, teve início um novo processo de construção de novas fronteiras de trabalho que impactam a vida humana. Esse relatório recomenda que as empresas incentivem seus trabalhadores a atualizar continuamente suas habilidades (reskilling) e a manter seu aprimoramento contínuo (upskilling) para evitar o crescimento do desemprego e da desigualdade. Isso não signi�cará que todos perderão empregos, mas que serão impactados em algum grau que vai do desemprego até um colega cobot, um robô com quem dividirá suas funções de trabalho. O cobot é uma versão que emprega pequenos robôs que realizam tarefas manuais de forma conjunta com as pessoas. Isso demanda um investimento muito menor que aquele que é necessário para o uso de robôs industriais. Podemos citar como exemplo as vestimentas (wearable technology) denominadas exoesqueleto, que transformam o braço humano em uma versão pneumática que conta com seu movimento sensitivo e �exível e, ao mesmo tempo, com a precisão de um robô. A tecnologia das vestimentas também está sendo desenvolvida com o uso de sensores aplicados ao corpo humano por meio de objetos em roupas, calçados e acessórios. Seu objetivo é monitorar o desempenho de máquinas, melhorar a segurança e obter as reais condições emocionais do funcionário no trabalho, detectando, por exemplo, os sinais de fadiga e estresse. As transformações do mercado de trabalho são abordadas em recente estudo da consultoria McKinsey (MCKINSEY GLOBAL INSTITUTE, 2017), que avaliou o número e os tipos de empregos que poderão ser criados em diferentes cenários até 2030. Essa pesquisa concluiu que pelos menos um terço dos 60% de postos de trabalho ocupados no mundo atualmente pode ser automatizado. Outros fatores importantes são apontados como in�uenciadores em decisões de automação, tais como a dinâmica do mercado onde a solução será realizada, em que se destacam: Qualidade e quantidade da mão de obra empregada; Salários; Benefícios da medida; Aceitação regulatória e social. Uma das conclusões é considerar que o potencial impacto da automação sobre o emprego vai variar conforme a ocupação e o setor de trabalho, e principalmente será desenvolvida à medida em que aquelas atividades físicas sejam realizadas em ambientes previsíveis, como em casos de operação de máquinas e de preparo de refeições. Isso mostra um cenário de grande extinção de trabalhos que exigem pouca quali�cação e apresentam uma despesa representativa em salários, bem como a criação de uma menor quantidade daqueles que exigem muita quali�cação em habilidades matemáticas, analíticas e digitais, e também a redução salarial nos empregos de pouca quali�cação que por acaso ainda existam. A exigência da carga de trabalho deverá echeck relacionada aos aspectos cognitivos relacionados ao trabalho e sua repercussão na saúde humana, e, potencialmente, aos esforços físicos na complementação de sua renda com o acúmulo de mais trabalho com menos emprego formalizado. Nesse sentido, é importante nos lembrarmos de que o cansaço físico costuma representar acidentes, e, em alguns casos, mudanças no processo de trabalho – como é o caso da automação – implicam uma fase de ajustes, o que pode signi�car um momento bem similar à primeira onda de industrialização, em que as máquinas a vapor levaram a acidentes e mutilações. A qualidade da vida no trabalho echecká entre as oportunidades ilimitadas ou o desempregoem massa, que são os dois extremos da balança. Se a atual transição for bem administrada, pode ser a oportunidade que faltava para transformar de vez o trabalho em um meio por meio do qual os indivíduos poderão se realizar e usar seus potenciais ao máximo. Regulamentação do trabalho e sua obrigatoriedade de aplicação Um dos marcos da legislação internacional relativa à proteção do trabalho foi a aprovação, em 1802, pelo parlamento britânico, de um conjunto de leis que �cou conhecido como Leis das Fábricas (do inglês Factory Law ou Factory Acts). Seu objetivo era garantir a proteção do trabalho de mulheres e crianças – tanto no que se refere a ambiente quanto às jornadas excessivas, comumente praticadas a época. Essa lei abrangia, inicialmente, a principal atividade econômica da época que era a indústria textil, e somente em 1878 passou a valer para todas as indústrias. Apesar de ser considerado um avanço sobre a proteção do trabalho, esse ato não regulamentou a inspeção no interior das fábricas para veri�cação do cumprimento de suas disposições. Isso aconteceu somente no ano de 1833, na aprovação do chamado Labour of Children, etc., in Factories Act, que também aprovou: Concessão obrigatória de uma hora de almoço para crianças, com jornada máxima de 12 h para crianças entre 14 e 18 anos, e oito horas para crianças entre 9 e 13 anos; Obrigatoriedade de oferta de duas horas diárias de aulas para crianças entre 9 e 13 anos; Proibição do trabalho noturno para menores de 18 anos. No ano de 1844, houve novamente um grande avanço na legislação britânica com a publicação de outras Factories Law, que determinavam requisitos expressos de proteção do trabalho para as mulheres, a obrigatoriedade de comunicação e investigação dos acidentes fatais, e da utilização de proteções em máquinas. Nessa mesma época, também surgiram, na Alemanha, as primeiras leis de acidente do trabalho, e levaram a processos semelhantes nos outros países da Europa. O Tratado de Paz de Versalhes, promulgado após a Primeira Guerra Mundial, em 1919, estabeleceu a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que fundamentou a formação de um direito do trabalho mundial baseando-se no princípio de que a paz universal somente poderia ser permanente mediante a justiça social. Isso se deu porque houve o entendimento de que o con�ito tinha a relação entre o capital e o trabalho como uma das principais causas dos desajustes sociais e econômicos. Saiba mais A OIT é a única das agências do sistema das Nações Unidas que tem estrutura tripartite, na qual os representantes dos empregadores e dos trabalhadores têm os mesmos direitos que o governo. Entre as funções fundamentais da OIT, podemos citar a elaboração, a adoção, a aplicação e a promoção das Normas Internacionais do Trabalho sob a forma de convenções, protocolos, recomendações, resoluções e declarações que são discutidos e adotados pela Conferência Internacional do Trabalho (CIT), órgão máximo de decisão da OIT, que se reúne uma vez por ano. As convenções coletivas são tratados internacionais que de�nem padrões e pisos mínimos a serem observados e cumpridos por todos os países que os rati�cam. A rati�cação de uma convenção ou de um protocolo da OIT por qualquer um de seus 187 Estados-Membros é um ato soberano e implica sua incorporação total ao sistema jurídico, legislativo, executivo e administrativo do país em questão – ou seja, tem um caráter vinculante. As convenções coletivas podem ser de três tipos: Fundamentais: integram a Declaração de Princípios Fundamentais e Direitos no Trabalho da OIT (1998), e devem ser rati�cadas e aplicadas por todos os Estados-Membros da OIT; Prioritárias: envolvem quatro convenções de assuntos de especial importância; Outras: as demais convenções que, por sua vez, foram classi�cadas em 12 categorias agrupadas por temas. Após sua publicação, as convenções coletivas de princípios passam a ter vigência no ordenamento dos países integrantes da OIT, passando por um prazo em que estabelecem medidas legais para dar cumprimento a seu conteúdo. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online A evolução da regulamentação do trabalho no Brasil No Brasil, a regulamentação do trabalho evoluiu de maneira tardia, uma vez que nossa revolução industrial começou por volta de 1930. À época, em 1943, o presidente brasileiro Getúlio Vargas estabeleceu direitos trabalhistas individuais e coletivos na criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Medidas adicionais na promulgação da Lei Federal n. 8.213 garantiram os planos de benefícios da Previdência Social aos trabalhadores, inclusive benefícios aos pro�ssionais vítimas de acidentes do trabalho. Vejamos, na linha do tempo a seguir, os principais regulamentos que marcaram o desenvolvimento de saúde e segurança do trabalho no Brasil. 1919 Promulgação da Lei de Acidentes do Trabalho, tornando compulsório o seguro contra o risco pro�ssional. 1923 Criação da Caixa de Aposentadorias e Pensões (CAP) para os empregados das empresas ferroviárias – marco de Previdência Social. 1930 Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, atual Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. 1933 Surgimento dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP), entidades de grande porte que abrangia os trabalhadores agrupados por ramos de atividades: IAPTEC: trabalhadores em transporte e cargas; IAPC: comerciários; IAPI: industriários; IAPB: bancários; IAPM: marítimos e portuários; IPASE: servidores públicos. 1934 Criação, no antigo Ministério do Trabalho, de uma Inspetoria de Higiene e Segurança do Trabalho que, ao longo dos anos, passou a Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho (DSST) em nível federal, e Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) em nível estadual. 1943 Estabelecimento, por Decreto Presidencial, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que tratou de segurança e saúde do trabalho em seu Capítulo V, que engloba os artigos de 154 a 201. 1966 Criação da Fundação Jorge do Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), que tem como objetivo fomentar a pesquisa cientí�ca e tecnológica relacionada à segurança e saúde dos trabalhadores, bem como a Uni�cação dos Institutos na criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), atual Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). 1978 Criação das Normas Regulamentadoras do Trabalho, marco legal do estabelecimento técnico da realização do trabalho que serve de parâmetro para a determinação do que, minimamente, deve existir de segurança nas atividades laborais. A autoridade �scal do trabalho pode interromper, multar e interditar uma empresa que não cumpra suas disposições. 1988 Promulgação da Constituição Federal (art. 7º, inciso XXII) e criação das Normas Regulamentadoras Rurais (NRR). Atividade 1 - Analise o material apresentado e responda como evoluiu o tema segurança, saúde e QVT em cada uma das revoluções industriais. 2 - A partir do conteúdo deste capítulo, analise o grá�co publicado no jornal O Estado de São Paulo, disponível a seguir, e responda por que as pro�ssões nele informadas apresentam maior probabilidade de extinção. Justi�que sua resposta. 3 - De um modo geral, há o entendimento de que, atualmente, vivenciamos um período de transição das transformações tecnológicas em países como o Brasil. Levando isso em conta, analise a importância da regulamentação do trabalho para a manutenção de empregos na quarta onda industrial. Referências COOPER, Richard N. et al. , 2017. MARANALDO, D. Estratégia para a competitividade. São Paulo: Produtivismo, 1989. MENDES, R.; DIAS, E. C. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Revisão Saúde Pública, São Paulo, 25: p. 341-349, 1991. SCHAWB, Klaus. A quarta revolução industrial. São Paulo: Editora Edipro. 2016. SILVA, M. A. Dias da; DE MARCHI, Ricardo. Saúde e qualidade de vida no trabalho. São Paulo:Editora Best Seller, 1997. STREECK, Wolfgang. : essays on a failing system. Londres: Verso, 2016. VASCONCELLOS, Angelo Ferreira. Qualidade de vida no trabalho: origem, evolução e perspectivas. Caderno de Pesquisas em Administração. São Paulo, v. 08, n. 01, jan./mar. 2001. VELOSO, H. M.; BOSQUETTI, M. A.; FRANÇA, A. C. L. A concepção gerencial dos programas de qualidade de vida no trabalho (QVT) no setor no setor elétrico brasileira. In: Seminários em Administração (SemeA), 2005, São Paulo. Anais… São Paulo: USP, 2005. World Economic Forum, Accelerating Workforce Reskilling for the Fourth Industrial Revolution: An Agenda for Leaders to shape the future of education, gender and work, July 2017 Próxima aula Os conceitos de saúde, segurança e de qualidade de vida; A relação da regulamentação internacional do trabalho com a legislação interna brasileira. Explore mais Quarta Revolução Industrial javascript:void(0);
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