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Brasília-DF. Microbiologia na Prática clínica Elaboração Patricia Soares Flores Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO ....................................................... 9 CAPÍTULO 1 TRÍADE DAS DOENÇAS INFECCIOSAS ....................................................................................... 9 CAPÍTULO 2 CRESCIMENTO MICROBIANO E NUTRIÇÃO ............................................................................. 13 CAPÍTULO 3 PRINCÍPIOS DE ESTERILIZAÇÃO EM MICROBIOLOGIA............................................................... 20 UNIDADE II FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA ......................................................................................................... 25 CAPÍTULO 1 COLETA, TRANSPORTE E RECEBIMENTO DE AMOSTRA MICROBIOLÓGICA ................................ 25 CAPÍTULO 2 EXAME MICROSCÓPICO E PROCESSAMENTO DE AMOSTRAS NA FASE ANALÍTICA ................... 31 CAPÍTULO 3 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS INICIAIS............................................................................. 37 UNIDADE III DIAGNÓSTICO BACTERIOLÓGICO VETERINÁRIO E TESTE DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS .......... 42 CAPÍTULO 1 BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS, BACTÉRIAS GRAM-NEGATIVAS E OUTROS GRUPOS BACTERIANOS 42 CAPÍTULO 2 INTRODUÇÃO À TERAPIA ANTIMICROBIANA ANTIBIOGRAMA .................................................... 56 CAPÍTULO 3 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ......................................................................................... 62 UNIDADE IV DIAGNÓSTICO MICOLÓGICO, DIAGNÓSTICO VIROLÓGICO E SUBMISSÃO DE LAUDOS E DE PROGRAMA DE CONTROLE DE QUALIDADE ............................................................................................................ 68 CAPÍTULO 1 DIAGNÓSTICO MICOLÓGICO ................................................................................................ 68 CAPÍTULO 2 DIAGNÓSTICO VIROLÓGICO ................................................................................................. 75 CAPÍTULO 3 SUBMISSÃO DE LAUDOS ......................................................................................................... 84 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 86 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução A microbiologia é o estudo dos microrganismos, quais sejam, bactérias, fungos (leveduras e fungos filamentosos), protozoários e algas microscópicas, incluindo os vírus que são acelulares. São seres que não podem ser observados sem o auxílio da microscopia. Estão presentes no solo, no ar, na água, no homem e nos animais. São seres impactantes em toda a vida, porém tendemos a associar os microrganismos somente às doenças e à deterioração de alimentos. A maioria dos microrganismos, contudo, são necessários à manutenção do equilíbrio dos organismos vivos e elementos químicos no nosso ambiente. O contato desses seres com o homem ou com os animais pode ocorrer de forma positiva e indispensável à vida. Vejamos alguns exemplos: são essenciais na constituição física e química do nosso planeta, são responsáveis pelo transporte dos elementos químicos essenciais para a manutenção da vida (carbono, nitrogênio, enxofre, hidrogênio e oxigênio) etc. Microrganismos presentes em água salgada e em água doce constituem a base da cadeia alimentar em oceanos, lagos e rios. Outros são essenciais na fotossíntese, gerando oxigênio. Há, ainda, muitos desses microrganismos que se abrigam na microbiota intestinal de seres humanos e de animais, auxiliando na digestão e na síntese de vitaminas do complexo B e para o metabolismo de vitamina K. Porém, o foco do nosso estudo são os principais microrganismos patogênicos de interesse veterinário. O intuito é apresentar a microbiologia na prática clínica e sua rotina laboratorial. Objetivos » Entender a interação entre homem, hospedeiro e meio ambiente. » Compreender a diferença de cada microrganismo e seu crescimento. » Conhecer os principais métodos físicos e químicos de esterilização e como eles são aplicados. » Entender como a coleta e o acondicionamento das amostras podem influenciar no resultado final do exame. » Comparar os diferentes tipos de microscópios e suas funções. 9 » Conhecer os principais meios de cultura. » Aprender sobre as provas bioquímicas realizadas para identificação de microrganismos. » Conhecer os principais métodos de diagnóstico bacteriológico, micológico e virológico. » Associar as principais doenças provocadas por microrganismos ao meio de diagnósticomais adequado. » Entender o objetivo e a importância do controle de qualidade. 10 11 UNIDADE I INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO CAPÍTULO 1 Tríade das doenças infecciosas Para iniciar nosso estudo, precisamos compreender as doenças infeciosas que, por definição, são doenças causadas por um agente externo que se replica ou multiplica, existindo uma relação entre o hospedeiro, o agente infecioso e o ambiente. Em alguns casos pode-se até incluir um quarto elemento: o vetor. Vetores são insetos que transportam os agentes infecciosos para o hospedeiro. Figura 1. Tríade infeciosa HOSPEDEIRO AGENTE INFECCIOSO AMBIENTE Fonte: Junior et al. (2012). Hospedeiro – pode ser o animal ou o homem que estará exposto a microrganismos (bactérias, fungos, parasitas e vírus). O hospedeiro pode apresentar-se de forma assintomática, ou seja, sem sintomas aparente, ou sintomático. Ambos, no entanto, 12 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO são capazes de eliminar o patógeno no meio ambiente e para outros hospedeiros, contribuindo para a transmissão do agente infeccioso. Agente infeccioso – são denominados microrganismos, os quais podem ser: Bactéria São procariontes e diferenciam-se pelo seu tamanho e estrutura. Incluindo as cianobactérias, conhecidas anteriormente como algas azuis e verdes; riquétsias e clamídias, são dois grupos de pequenas bactérias que necessitam da célula do hospedeiro, ou seja, da célula viva para o seu crescimento. Geralmente apresentam sua parede celular rígida, e o que confere essa rigidez é uma camada denominada peptideoglicano, que tem como função impedir a lise osmótica. A maioria das suas espécies possue formato característico, tais como: cocos (p.ex. gênero Streptococcus; espécies S. equi ssp., S. canis, S. suis), bacilos (p.ex. gênero Bacillus, espécie Bacillus anthracis), espiroquetas (p.ex. os gêneros Leptospira e Helicobacter) e, eventualmente, filamentos ramificados (exemplo de gêneros filamentosos Actinomyces, Nocardia, Dermatophilus, Streptobacillus). Bastante diversificadas, podem ser móveis ou não, crescem em temperaturas extremas que variam de -20°C até 110°C e em ambientes alcalinos e ácidos. São divididas em dois grupos principais, denominados Gram- positivos e Gram-negativos e sua distinção baseia-se na reação de coloração de Gram, onde veremos com mais detalhes na Unidade III. A parede celular desses dois grupos de bactérias, quando observadas sob microscópio eletrônico, é marcantemente diferenciada. A parede celular Gram-positiva apresenta-se de forma muito mais espessa enquanto que a Gram-negativa é uma estrutura observada em multicamadas e complexa. Algumas bactérias podem produzir endósporos, que tem como função resistir à influência do meio ambiente como, por exemplo, carência nutricional e temperaturas extremas. Exemplo de bactéria que produz endósporo são os gêneros Bacillus e Clostridium. Em resumo, bactérias são compostas por cápsula, parede celular, membrana celular, citoplasma contendo material nuclear e estruturas acessórias como flagelo e pili (fimbrias) (QUINN, 2005). Fungo São leveduras, bolores e cogumelos, pertencentes ao grupo dos eucariontes não fotossintéticos. Possuem parede celular bem definida, composta por quitina e alguns apresentam celulose em sua composição. Sua estrutura 13 INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO │ UNIDADE I vegetativa pode ser unicelular, denominada de leveduras, as quais possuem formato esférico ou ovóide. Multiplicam-se por brotamento, enquanto os multicelulares são os fungos com estrutura filamentosa, conhecidos como hifa. Os bolores são ramificados, entrelaçam-se livremente em hifas formando um micélio aberto, enquanto os cogumelos formam-se por hifas firmemente entrelaçadas. Exceto as leveduras, os fungos crescem interconectados por filamentos ramificados. Para entendermos sua morfologia, vejamos algumas denominações: hifa são filamentos individuais e micélio são conjuntos interconectado de hifas; cenocíticos são micélios de fungos inferiores por não possuírem divisão; septos são micélios de fungos superiores e parecem ser divididos; talo (corpo), entre todos os fungos, pode ser visto como uma única célula. Alguns fungos apresentam-se como levedura e bolores, e são conhecidos como dimórficos. Sua reprodução dá-se por meio de esporos. Parasitas São eucariontes. Nesse grupo, encontramos protozoários (ex: Trypanossoma cruzi causa doença de chagas, Giardia lamblia, causa giardíase e Toxoplasma gondii é responsável pela toxoplasmose); helmintos, os quais incluem dois filos; os platelmintos também chamados de vermes chatos (ex: Taenia saginata, causador da cisticercose humana r Echinococcus granulosus, responsável pela cisticercose canina) e os nematelmintos, conhecidos como vermes cilíndricos ou nematoides (ex: Toxocara canis e Ancylostoma caninum). No grupo estão incluídos, também, os vetores artrópodes de importância veterinária, como os carrapatos, o barbeiro e a pulga, por exemplo. Vírus Sua estrutura é menor e mais simples que os eucariotos e procariotos. Nesse sentido, Flores (2007) argumenta: Não possuem a maquinaria necessária para a produção de energia metabólica e para a síntese de proteínas e, por isso, necessitam das funções e do metabolismo celular para se multiplicar. A sua atividade biológica só é adquirida no interior de células vivas, por isso são parasitas intracelulares obrigatórios. Ou seja, não se replicam sozinhos, fora de uma célula animal ou vegetal viva são incapazes de realizar sua replicação. Apresentam um tipo de ácido nucleico (DNA ou RNA) e o restante de sua composição é proteína ou glicoproteína. Ferreira (2015) 14 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO definiu vírus de uma forma simples e objetiva. Segundo ele, “é um arranjo molecular, constituído por proteínas e ácido nucleico, eventualmente com um envelope lipídico; a função deste aparato é levar a informação genética a salvo para dentro da próxima célula a ser infectada”. Ambiente - “A ligação entre o agente infeccioso e o hospedeiro final é o ambiente. A maioria dos agentes infecciosos apresentam uma fase que vivem livres no ambiente e infectam hospedeiros, as vezes sendo necessário passar por um vetor. A manutenção de tais microrganismos requer acesso a um novo hospedeiro sensível e sua capacidade de sobreviver durante essa transferência” (JUNIOR et al., 2012). A transmissão de uma doença infecciosa dá-se por diversas maneiras, podendo ser através de gotículas respiratórias ou fômites (vasilhas de água e/ou comida, por exemplo). Destaca-se, contudo, que fômites não são considerados reservatórios, porque o microrganismo não sobrevive por muito tempo nesse ambiente. Outros meios de transmissão podem ser: contato corporal direto, via fecal-oral, vetores artrópodes que podem ser vetores biológicos e mecânicos e transmissão pelo ar e vertical, que ocorre quando a mãe passa para o feto. O microrganismo deve ser capaz de realizar as seguintes etapas (INGRAHAM, 2011): 1. Manter reservatório; 2. Sair desse reservatório e entrar no hospedeiro; 3. Aderir à superfície do hospedeiro; 4. Invadir o corpo do hospedeiro; 5. Escapar das suas defesas; 6. Multiplicar-se; e 7. Sair do hospedeiro e entrar em um novo hospedeiro ou retornar ao reservatório. 15 CAPÍTULO 2 Crescimento microbiano e nutrição Quando falamos em crescimento microbiano, estamos nos referindo ao número de células e não ao tamanho delas. Os microrganismos que crescem estão aumentando em número e acumulam-se em colônias ou em grupos de células que podem ser visualizados sem a utilização de um microscópio (TORTORA, 2012). Para o crescimento microbiano ser bem sucedido são necessários fatores físicos e químicos. » Fatores Físicos: 1. Temperatura: os microrganismos são identificados em três grupos principais que estão relacionados com a faixade temperatura ideal que necessitam para o seu crescimento. São elas os psicrófilos (-5°C e 15°C), mesófilos (crescem entre 28°C e 37°C), termófilos (57°C e 87°C) e hipertermófilos (crescem em temperatura em ponto de ebulição). Caso essa temperatura ultrapasse seu limite superior, consequentemente ocorrerá desaceleração das reações metabólicas levando à morte celular. 2. pH: geralmente os microrganismos crescem em pH neutro (6,0 a 8,0). São os neutralófilos, porém existem aqueles denominados acidófilos, os quais crescem em pH ácido (3,0), e os alcalófilos crescem em meio alcalino (10,5). Os fungos crescem em um meio cujo pH é ligeiramente ácido e protozoários e algas, em meio com pH neutro. As bactérias regulam seu pH intracelular de acordo com o pH externo através de diversos mecanismo, como exemplo “Os microrganismos acidófilos mantêm um pH interno de 6,5 com relação a uma faixa externa de 1,0 a 5,0” (TORTORA, 2012). 3. Pressão osmótica: as bactérias são normalmente mais exigentes quanto à disponibilidade de água livre, seguidas pelas leveduras e bolores. Alguns microrganismos destacam-se por necessitarem de altas concentrações de sal: são os halofílicos. “Células bacterianas do meio ambiente geralmente estão presentes em soluções hipotônicas desde que sua parede celular esteja intacta, e permanecem túrgidas sem ocorrer lise. Porém algumas bactérias estão adaptadas a ambientes hipertônicos 16 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO podendo crescer em soluções em altas concentrações salinas, exemplo Staphylococcus aureus” (QUINN, 2005). Fatores químicos Além dos fatores físicos, os microrganismos necessitam de nutrientes essências para seu crescimento. Esses são os seguintes macronutrientes: » Carbono: algumas bactérias adquirem as necessárias moléculas de carbono por meio do dióxido de carbono (autotróficos). Outras adquirem esse elemento por meio de compostos orgânicos (heterotróficos). » Nitrogênio: encontrado na natureza na forma de gás (N2) ou na forma combinada, como matéria inorgânica (amônia) ou orgânica (aminoácidos e purinas). Os microrganismos variam quanto à sua capacidade de assimilar esse composto. Algumas bactérias obtêm o nitrogênio da decomposição de material proteico, outras, na forma de íons de amônio (NH4 +) encontrada em material celular orgânico. Muitas das cianobactérias fotossintéticas utilizam o N2 diretamente da atmosfera, no processo conhecido como fixação de nitrogênio. » Enxofre: compõe 1% da célula. É encontrado no ambiente na forma elementar, oxidada e reduzida, as quais são utilizadas pela bactéria. Porém, a fonte mais comum de enxofre em meios de laboratórios é o íon sulfato (SO4 2-) inorgânico, que é o preferencial das bactérias. » Fósforo: essencial para síntese de ácido nucleico e fosfolipídios presentes na membrana celular. Tal elemento entra na célula na forma de íons fosfatos (PO4 3-), necessário como componente do ATP. Muitos microrganismos utilizam compostos orgânicos, contendo fosfato, como fonte de fósforo. » Oxigênio: microrganismos que utilizam o oxigênio atmosférico fazem respiração aeróbia. Aqueles que necessitam de oxigênio para sobreviver são chamados de aeróbios obrigatórios e os anaeróbios, contudo, não o utilizam. Como o oxigênio é pouco solúvel na água no ambiente desses microrganismos, alguns aeróbios obrigatórios desenvolveram a capacidade de continuar a crescer mesmo na ausência desse elemento, e são chamados de anaeróbicos facultativos. Na ausência de oxigênio, eles utilizam a fermentação ou a respiração anaeróbica. Exemplo de anaeróbico facultativo: Escherichia coli. Muitas leveduras também são 17 INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO │ UNIDADE I anaeróbicos facultativos. Os anaeróbicos obrigatórios são bactérias sensíveis ao oxigênio e crescem em ambiente anaeróbio como, por exemplo, o gênero Clostridium, que contém espécies que causam o tétano e o botulismo. Outros micronutrientes, como magnésio, cálcio, potássio etc., são utilizados como cofatores de reações enzimáticas. Curva de crescimento microbiano Quando uma bactéria ou fungo são semeados em meio líquido, é possível representá-lo graficamente pela curva de crescimento microbiano. Ela mostra-nos o crescimento das células em função do tempo, sendo frequentemente utilizada para demonstrar o quão rápido está sendo o crescimento de uma cultura: Figura 2. Curva de crescimento microbiano - Log da concentração celular x Tempo Fase de latência (fase lag) Fase log ou de crescimento exponencial Fase estacionária Fase de morte ou logarítmica de declínio Fonte: Brooks et al. (2014). São quatro fases distintas: 1. Latência (fase lag): taxa de crescimento zero. Considerada fase de ajuste, ocorre quando um microrganismo foi transferido de um meio para o outro ou de um ambiente para outro. Passa por uma intensa atividade metabólica, mas sem aumento populacional. Sua duração varia de uma hora até dias. 2. Exponencial, Log ou logarítmica: taxa de crescimento constante. As células iniciam seu processo de divisão entrando no período de crescimento. Fase com maior atividade metabólica. Chega ao final, 18 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO geralmente, por esgotamento de nutrientes essenciais, diminuição de oxigênio em cultura aeróbia ou acúmulo de produtos tóxicos que inibem o crescimento. 3. Estacionária: taxa de crescimento zero. Ocorre declínio na taxa de divisão celular. No momento que ocorre um equilíbrio, o número de células em divisão será semelhante ao número de células mortas. 4. Declínio: taxa de crescimento negativa (morte). Os nutrientes no meio estão escassos e ricos em toxinas produzidas pelo próprio microrganismo. Fungos e bactérias diferem-se em determinadas necessidades ambientais e nutricionais, como é possível ver na sequência: » Fungos crescem melhor em ambientes ácidos. » Quase todos os fungos são aeróbicos, enquanto a maioria das leveduras são anaeróbicas facultativas. » A maioria dos fungos são mais resistente à pressão osmótica e, consequentemente, podem crescer em concentrações relativamente altas de açúcar ou sal. » Fungos não toleram altas temperaturas como algumas bactérias. » Fungos podem crescer em substâncias com baixo grau de umidade, algumas vezes podendo impedir o crescimento bacteriano. » Para o seu crescimento, fungos necessitam de menos nitrogênio que as bactérias. » Os fungos, frequentemente, são capazes de metabolizar carboidratos complexos como, por exemplo, a lignina (componente escuro da madeira). Quadro 1. Comparação entre fungos e bactérias Fungos Bactérias Membrana celular Esteróis presentes Esteróis ausentes, com exceção do Mycoplasma Parede celular Glicanas; mananas; quitina (sem peptideoglicana) Peptideoglicana Esporos Esporos reprodutivos sexuais e assexuais Endosporos (não para reprodução); alguns esporos assexuais reprodutivos Metabolismo Limitado a heterotrófico; aeróbico, anaeróbico facultativo Heterotrófico, autotrófico, fotoautotrófico; aeróbico, anaeróbico facultativo, anaeróbico Fonte: Adaptação de Tortora (2012). 19 INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO │ UNIDADE I Medição do crescimento microbiano 1. Medição da massa celular: a. Determinação direta de peso seco: devem ser separadas do meio por filtração ou centrifugação. Depois, devem ser secas em um forno, a 105°C, por mais ou menos 24h, com posterior resfriamento para pesagem das células. b. Turbidez: é medida com um espectrofotômetro, o qual verifica quanta luz uma cultura líquida de células transmite. Isso significa que, quanto maior a massa de células em uma cultura líquida, maior é a turbidez. Menos luz é transmitida pela cultura e a leitura no espectrofotômetro é mais alta. Figura 3. Turbidimetria Luz Filtro Filtra a luz de comprimento de comprimento de onda especifico Amostras contendo células Luz nãodispersa Foto célula (mede a luz não dispersa) Espectrofotômetro Fonte: Madigan et al. (2010). 2. Contagem do número em uma população: a. Contagem total de células. 20 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO Esse método avalia células vivas e mortas. Realizado por intermédio da microscopia direta, é utilizada uma lâmina especial, chamada câmara de contagem Petroff-Hausser, comumente utilizada em laboratório de microbiologia. Essa técnica pode ser realizada eletronicamente, utilizando-se o contador de Coulter. Figura 4. Contagem total de células através da câmara Petroff-Hausser No/mm2 No/mm3 No/cm3 (ml) Lamínula A amostra é aplicada neste ponto e deve-se ter o cuidado para que ela não transborde Observação microscópica; todas as células do quadrado grande são contadas (16 quadrados pequenos) Fonte: Madigan et al. (2010). b. Contagem de células viáveis: determina o número de células vivas capazes de formar colônias num meio de cultura com composição adequada ao crescimento do microrganismo. › Contagem em placas – utilizada para obter-se a contagem de unidades formadoras de colônias (UFC) presente na amostra sob análise. Uma amostra de cultura é diluída em série (normalmente dez vezes) e uma quantidade pequena é espalhada em uma placa de Petri e incubada. › Contagem por filtração – procedimento valioso e sensível, capaz de detectar e contar pequenos microrganismos em grandes volumes de líquido ou gás. › Número mais provável (NMP) - método estatístico que estima o número de células viáveis em uma amostra. Envolve uma série de diluições em meio líquido apropriado para o crescimento de um determinado organismo, no qual são incubados, ficando por um período suficiente para seu crescimento, e posteriormente são examinados. “Técnica que consiste em quanto maior o número de bactérias em uma amostra, maior será o número de diluições necessárias para reduzir a densidade até um ponto no qual mais 21 INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO │ UNIDADE I nenhuma bactéria esteja presente nos tubos de diluição seriada” (TORTORA, 2012). Biofilmes São definidos como um grupo organizado de microrganismos que vivem dentro de uma matriz de substâncias poliméricas e que se aderem a várias superfícies, com a função de proteger-se das adversidades do ambiente em que estão. São encontrados em quase todos os ambientes, inclusive em superfícies bióticas e abióticas. Os biofilmes formam-se nos alimentos, na água, nos dentes, nas lentes de contato, no cateter urinário, entre outros. Exemplos de bactérias formadoras de biolfimes: Staphylococcus aureus, Streptococcus sp. e Escherichia coli, importantes bactérias causadoras de mastite bovina (GUPTA et al., 2015). 22 CAPÍTULO 3 Princípios de esterilização em microbiologia “A esterilização consiste na eliminação ou remoção de toda e qualquer forma de vida existente em determinado material ou ambiente, enquanto assepsia é um conjunto de medidas que impede a entrada de microrganismos onde esses não são desejados” (VERMELHO et al., 2011). Podemos utilizar diversos tipos de equipamento para esterilização, embora os mais comuns sejam: » Autoclave. » Forno Pauster (estufa). » Filtros esterilizantes. Figura 5. Autoclave Fonte: https://www.boekelsci.com/cement-autoclave-116.html. Acesso em: 19/03/2019. Podemos controlar o crescimento de microrganismos por meio de agentes químicos e físicos cuja função é eliminar totalmente ou impedir seu crescimento. O controle do crescimento de microrganismo é importante em todas as esferas, seja na área de saúde (ex: prevenção das infecções hospitalares, que vai desde a lavagem corretamente da mão até o procedimento indicado), no campo industrial (ex: garantir a qualidade de alimentos, medicamentos, cosméticos e água), laboratórios de pesquisa e de análises clínicas (ex: preparo do meio de cultura, esterilização de vidrarias como placa de petri e pipetas). 23 INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO │ UNIDADE I Vejamos abaixo alguns exemplos de métodos físicos e químicos utilizados na esterilização e na desinfecção. A escolha de cada um deles vai depender do seu objetivo, o tipo de material a ser esterilizado e o nível de controle desejado. Métodos físicos Temperatura O calor é um método simples, seguro, econômico e não forma produtos tóxicos. Atua desnaturando proteínas e enzimas e rompendo a membrana celular. O calor seco tem como objetivo esterilizar materiais a alta temperatura, por esse motivo o material deve ser resistente. Para eliminar esporos, por exemplo o gênero Clostridium, a temperatura utilizada deve ser de 121°C durante 15 minutos, sendo que 100°C é o suficiente para destruir todas as formas bacterianas. Para utilizar esse método, dispõe-se de estufas elétricas com ar quente circulante. Calor úmido é utilizado na forma de vapor que penetra e distribui o calor de maneira uniforme em todas as partes do recipiente, eliminando formas vegetativas de bactérias, vírus, fungos e seus esporos. Tem como objetivo esterilizar líquidos e materiais que se queimam facilmente, e é usado em alimentos enlatados. Para essa finalidade, utilizam-se as autoclaves. A pasteurização elimina determinados microrganismos, desacelerando a deterioração do leite e derivados, por exemplo. O processo consiste no aumento da temperatura, por um determinado período de tempo, seguido de baixa temperatura inferior à de antes. O frio não elimina o microrganismo, mas interrompe o crescimento e desacelera as reações químicas com o objetivo de preservar materiais perecíveis. Esse método inclui refrigeração e congelamento. Radiação Considerado um método eficaz para eliminar ou reduzir microrganismos, são ondas eletromagnéticas ou partículas que se propagam com alta velocidade e, portando, com energia. » Radiação ionizante: são utilizados o raio-X (comprimento de onda de 0,1 a 40nm) e raio gama (comprimento de onda de 0,001nm a 1 nm). São radiações ionizantes, pois seu mecanismo de ação é retirar os elétrons dos átomos que compõem macromoléculas essenciais à célula. O poder de penetração é alto. É aplicado, por exemplo, em materiais como placas de Petri e pinças, e sobre a superfície de vegetais e de frutas frescas, 24 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO visando a preservação desses alimentos. Não é permitido seu uso em alguns países. » Radiação ultravioleta: tem efeito microbicida, ou seja, elimina o microrganismo, danificando seu DNA, mas tem baixo poder de penetração e, por esse motivo, recomenda-se ser aplicado somente em superfícies. É eficaz na inativação de vírus. Fontes com comprimentos de onda na faixa de 210nm e 330nm são mais eficientes e atuam como germicidas. Lâmpadas germicidas são lâmpadas que emitem descargas elétricas por meio de vapor de mercúrio. Estão disponíveis comercialmente e são simples de serem usadas, não deixando resíduos tóxicos. É utilizada em laboratório clínico e sala de cirurgia. Deve-se ter cuidado com a exposição da luz UV, diretamente ou por reflexão, sobre os olhos, pois isso pode danificar a córnea. Filtração Utilizada para remoção de microrganismos, incluindo os vírus, sendo aplicada para esterilizar gases e líquidos. Técnica utilizada em soro e meios de cultura. Dessecação Consiste na remoção da água por duas técnicas: método por evaporação ou por calor. Age distorcendo a membrana, e é aplicada para preservação de alimentos e por liofilização. Sua ação é interromper o crescimento microbiano, sendo aplicada na indústria de alimentos, por exemplo, para fazer café instantâneo e na preservação de culturas. Outros métodos de esterilização, por método físico, são a remoção do oxigênio, vibração ultrassônica, flambagem e incineração a 1.000°C. Métodos químicos São substâncias utilizadas para eliminar ou inibir o crescimento de microrganismos. Substâncias com efeito estático são chamadasde germistáticas. Substâncias que inibem o crescimento são conhecidas como bacteriostáticas, fungistáticas e virustáticas. Substâncias com efeito microbicida são aquelas que provocam a morte do microrganismo e são chamadas de germicidas (bactericidas, fungicidas, e viricidas). 25 INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO │ UNIDADE I Desinfetantes “Utilizados para reduzir o número de microrganismos viáveis, ou a carga biológica, em um produto ou superfície a um nível previamente especificado, como apropriado para seu manuseio ou sua posterior utilização.” (BROOKS, 2014). Anti-sépticos São utilizados para inibir ou destruir microrganismos na superfície da pele e não podem ser ingeridos. Alguns exemplos de agentes químicos e seus usos: » Glutaraldeído: ação desinfetante (ex: equipamentos de anestesia) e esterilizante (ex: cateteres e drenos). » Formaldeído: ação desinfetante e esterilizante. » Óxido de etileno: ação esterilizante (ex: próteses e materiais de borracha, como luvas cirúrgicas). » Fenol: ação desinfetante a 5% (ex. desinfecção de superfícies, artigos metálicos e vidro) e a 0,5-1% ação anti-séptica. » Clorexidina: anti-séptico, aplicado em pele e mucosa (ex: lavagem das mãos). Micobactérias são resistentes à sua ação. » Cloro e hipoclorito de sódio: ação desinfetante (ex: desinfecção hospitalar e da água). O Calicivirus felino e o gênero Parvovirus são facilmente eliminados por essa solução, sendo o desinfetante de escolha. » Iodo: ação desinfetante (ex: termômetro, ampolas de vidro e estetoscópio) e ação anti-séptica (tecidos e feridas). Exerce ação sobre células vegetativas, endósporo, vários fungos e alguns vírus. » Cloreto de benzalcônio: ação desinfetante (ex: superfícies e equipamentos na área de alimentação). Pseudomonas, Mycobacterium e Trichophyton (fungo), além de muitos vírus e todos os esporos bacterianos, são resistentes a esse método. » Peróxido de hidrogênio: ação desinfetante, esterilizante e anti-séptico (ex: usado em feridas profundas para inibir o crescimento de anaeróbios). Atua contra vírus, bactérias e fungos. 26 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO VETERINÁRIO » Álcoois etílico e isopropílico: ação desinfetante e anti-séptica. Agem contra bactérias vegetativas, alguns vírus e fungos, mas não são esporicidas. » Nitrato de prata e sulfito de cobre: anti-séptico (ex: usado em mucosas). » Violeta de genciana: ação germicida. Práticas de microbiologia. Alane Beatriz Vermelho (2011). Editora Guanabara, capítulo 3. Métodos físicos e químicos de controle do crescimento microbiano. 27 UNIDADE II FASE PRÉ- ANALÍTICA E ANALÍTICA CAPÍTULO 1 Coleta, transporte e recebimento de amostra microbiológica Dentro de um laboratório de microbiologia o controle da qualidade é imprescindível para a realização dos procedimentos laboratoriais. Isso tem o objetivo de garantir a precisão dos resultados na realização da técnica de análise. Nesse contexto, é necessário que algumas etapas sejam padronizadas, a fim de assegurar maior confiabilidade ao laboratório escolhido e melhor resultado dos exames solicitados. Cabe lembrar que os exames laboratoriais são de grande importância para alcançar um diagnóstico definitivo, devendo auxiliar o médico veterinário solicitante na tomada de decisões. Um resultado equivocado pode acarretar em falhas terapêuticas. Portanto, o diagnóstico de uma doença infecciosa envolve três fases: a pré-analítica (coleta, transporte e recebimento de amostra biológica), a analítica (exame microscópio, processamento de amostras e interpretação dos resultados finais) e a pós-analítica (formulação de laudo, comunicação ao médico veterinário e interpretação do laudo pelo médico veterinário solicitante). A fase pré-analítica antecede a análise do material biológico. Essa etapa envolve a coleta, o transporte e o recebimento do material e inicia-se com o preenchimento correto da requisição de exame, geralmente disponibilizado pelo laboratório, a qual deve ser encaminhada juntamente com a amostra (BRAZ; GARCIA, 2018). Na requisição, além de informar sexo, idade, e raça do animal, deve-se informar o tipo e a quantidade das amostras, a data da coleta e um breve histórico do animal (tratamento realizado, vacinação, vermifugação, descrição das lesões, alimentação recebida, febre, vômito, diarreia e outros dados relevantes). “Em caso de surtos, incluir o número de animais doentes, o número de mortos e o tempo decorrido entre a morte e a coleta das amostras” (CENCI et al., 2011). Todos os frascos e embalagens 28 UNIDADE II │ FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA devem ser identificados com etiquetas resistentes, coladas sobre o recipiente, contudo, nunca sobre a tampa ou sobre os rótulos (FOGAÇA et al., 2016). “O formulário para Solicitação de Exames, ou outro formulário específico (ex: raiva, certificação de granjas), deverá ser protegido por uma embalagem plástica e afixado, obrigatoriamente, no lado externo da caixa (embalagem terciária), evitando contato com as amostras” (CENCI et al., 2011). Durante a coleta do material biológico, existe o risco do profissional de saúde (veterinário ou auxiliar de enfermagem veterinário) contaminar-se com agentes potencialmente causadores de doenças. Por esse motivo, é de extrema importância o uso de equipamentos de proteção individual (EPI’s), como jaleco, luva, óculos de proteção, máscara e botas de borracha. Para evitar contaminação do material coletado com outros microrganismos presentes no ambiente e/ou no próprio animal, os frascos, os tubos, as seringas, as agulhas, entre outros materiais, devem ser estéreis. O transporte do material biológico deve ser realizado o mais rápido possível, assegurando a sobrevivência e o isolamento do microrganismo. Para tal, a conservação e o acondicionamento vão depender do tipo de amostra e dos exames solicitados. As amostras deverão ser enviadas em condições de biossegurança, garantindo a chegada do material ao laboratório. Devemos ter alguns cuidados no envio como, por exemplo: para manter a temperatura, quando for necessário usar gelo reciclável; as amostras não devem ser encaminhadas soltas dentro da caixa térmica, e sim dentro de saco plástico acondicionadas em embalagem impermeáveis e vedadas para garantir a estabilidade do material no trajeto até ao laboratório. A caixa térmica deve portar a identificação de “Infectante” ou “Risco Biológico”. Figura 6. Exemplo de tipo de embalagens Fonte: Cenci et al. (2011). 29 FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA │ UNIDADE II Figura 7. Frasco para coleta de amostras biológicas, como fezes e urina Fonte: http://www.prolab.com.br/produtos/materiais-de-plastico/frasco-para-coleta-de-urina-e-fezes/. Acesso em: 20/08/2019 Figura 8. Frasco para transporte de lâminas Fonte: http://lacen.saude.sc.gov.br/arquivos/MCT01.pdf. Acesso em: 30/08/2019. Figura 9. Alguns tipos de gelo reciclável Fonte: Cenci et al. (2011). Alguns exemplos de fatores que levam a cometer erros na fase pré-analítica: escrita ilegível, interpretação errônea do exame, erro na identificação do paciente, falta de orientação para determinados exames por parte do médico veterinário ou do laboratório, troca de amostras, transporte e armazenamento da amostra incorretos, contaminação de tubos, frascos e tampas. http://www.prolab.com.br/produtos/materiais-de-plastico/frasco-para-coleta-de-urina-e-fezes/ http://lacen.saude.sc.gov.br/arquivos/MCT01.pdf 30 UNIDADE II │ FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA Coleta de amostras para exame bacteriológico Coletar material do local com maior probabilidade de isolar o microrganismo em quantidade suficiente para uma análise completa, utilizar frascos adequados para cada tipo de material e anotar o horário de coleta. Essas práticas permitem o controle de qualidade. » Sangue: para hemocultura, realizar tricotomia e antissepsia do local, coletar por punção venosa 1 a 5 mL de sangue, utilizar seringas e agulhasestéreis. Acondicionar em frasco específico para hemocultura, homogeneizar a amostra com caldo, manter em temperatura ambiente e enviar sob refrigeração, em até 24 horas após a coleta. A hemocultura é indicada para o diagnóstico de processos infecciosos sistêmicos, por exemplo nos casos de Escherichia coli, Pseudomonas sp., Staphylococcus aureus, Proteus sp. e Klebsiella sp. Hemoculturas de animais comprometidos confirma a presença de bacteremia, enquanto que a presença de Staphylococcus epidermidis, Corynebacterium sp. e Bacillus sp. podem ser um achado decorrente da contaminação cutânea no momento da venopunção. » Secreções (Exsudato): para coleta, pode-se utilizar seringa e agulha estéreis ou swabs, dependendo do tipo da lesão e da região. Exsudato: puncionar o abscesso com seringa e agulha estéril e acondicionar o material coletado em tubos ou frascos também estéreis. A superfície e a região ao redor da lesão devem ser descontaminadas. Quando tratarem-se de secreções ocular, nasal ou genital, é necessário utilizar swabs estéreis e acondiciona-los, individualmente, em frascos estéreis. O envio do material em meio de transporte (meio Stuart) deve ser feito, preferencialmente, em até 24 horas após a coleta. » Secreção auricular: fazer assepsia na parte externa do ouvido antes da coleta, usar swab na parte mais profunda da orelha, evitar tocar as partes externas e enviar o material em meio de transporte (meio Stuart). » Urina: a coleta deve ser realizada por cistocentese, preferencialmente, ou sonda, acondicionando o material coletado em frasco estéril sob refrigeração por até 6 horas. » Líquor: realizar assepsia do local antes da coleta, transferir o material coletado para um tubo estéril. Não enviar a amostra em seringa. 31 FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA │ UNIDADE II » Fezes – o material deve ser coletado in natura, de preferência com muco, sangue ou pus, em meio de transporte Cary-Blair. Devem permanecer refrigeradas entre -2° e -8°C. Materiais in natura, sem meio de transporte, devem ser enviados em até 2 horas após a coleta (FOGAÇA et al., 2016). Coleta de amostras para exame micológico O material coletado deve ser armazenado em frasco estéril em temperatura ambiente. Para obter-se um resultado fidedigno, o paciente não pode estar fazendo uso de antifúngico oral por 30 dias, e pelo menos 10 dias de uso tópico, precedentes à coleta. Não realizar a coleta de material após o banho do paciente. A coleta de material para exame micológico é diferente da realizada para exame parasitológico de pele. A amostra deve ser obtida de raspados limpos de escamas dérmicas, pelos ou segmentos de pelos quebradiços, e não de tufos emaranhados e cheios de crostas, colhidos sem limpeza prévia. Higienizar o local da coleta com água e sabão neutro, desinfetar com álcool 70% e eliminar o excesso de pelos. Na requisição deve constar um breve histórico, como os sinais ou sintomas, indicar se ocorreu perda de pelos localizada ou disseminada, descamações, crostas, e uso ou não de medicações antifúngicas locais ou sistêmicas. » Pelos: coletar com a raiz da borda da lesão, preferencialmente, e armazenar entre duas lâminas de vidro. Lacrar as extremidades da lâmina com esparadrapo ou enrolando-as em filme de PVC, ou acondicionar os pelos e crostas em um envelope de papel novo ou frasco estéril. Manter em temperatura ambiente. » Raspado de pele: incluir crostas e escarificação da pele. Não é necessário raspado profundo, pois os fungos encontram-se na camada superficial da pele. Utilizar lâmina de bisturi estéril e colocar o material entre duas lâminas de vidro. Lacrar as extremidades da lâmina com esparadrapo ou enrolando-as em filme de PVC. A lâmina poderá ser envolvida com papel seco e limpo para diminuir a umidade. Não utilizar óleo mineral no raspado de pele. Manter em temperatura ambiente. » Secreções: usar swab e colocar no meio de transporte Stuart. » Fragmentos de tecido: manter em temperatura refrigerada (2ºC a 8ºC). 32 UNIDADE II │ FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA Coleta de amostras para exame virológico “Em geral, coleta-se material dos sistemas e órgãos afetados pela patologia, nos quais há maior probabilidade de detectar-se o agente ou seus produtos. A coleta de material de animais doentes deve ser realizada tão logo os sinais clínicos sejam observados, quando os níveis de replicação viral geralmente atingem os valores mais altos” (FLORES, 2007). » Secreções nasais, oculares ou genitais: uso de swab. » Tecidos e fragmentos de órgãos: coletar individualmente e assepticamente. » Fetos abortados: enviar inteiro. » Fezes: coletar direto da ampola retal. » Sangue para exames sorológicos: o soro deve ser separado, não pode estar hemolisado, e pode ser conservado a 4-6ºC por vários meses. O sangue total destinado ao isolamento viral nunca deve ser congelado. Para o isolamento viral, as amostras devem ser imediatamente armazenadas em tubos, sacos plásticos ou placas estéreis e conservadas sob temperaturas baixas. Se o tempo de envio desse material coletado for inferior a 3 dias, poderá ser mantido refrigerado (4°C). Caso contrário, é aconselhável o seu congelamento. Quanto menor o tempo entre a coleta e a inoculação do material, maior é a probabilidade de isolar-se o vírus. Ao receber amostras biológicas no laboratório, deve-se remover o material da embalagem de transporte, fazer o seu registro, gerando um protocolo interno (livro ou arquivo) e, em seguida, encaminhá-lo para realização do teste pertinente. Deve-se ter o cuidado em observar se o material está identificado, se o volume é adequado para a realização dos exames solicitados, se a amostra foi coletada em meios de transportes e frascos apropriados e se o material enviado é apropriado para realizar o exame solicitado. Nessa etapa, o breve histórico que acompanha a amostra é de extrema importância. No primeiro link, você encontrará manuais de coleta e de envio de materiais biológicos, vigilância ambiental e vigilância sanitária. Manuais - http://www.lacen.saude.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo. php?conteudo=74. Manual Veterinário de colheita e envio de amostras - http://www.fiepr.org.br/ observatorios/biotecnologia-animal/uploadAddress/Manual_Veterinario_de_ Colheita_e_Envio_de_Amostras[66209].pdf. 33 CAPÍTULO 2 Exame microscópico e processamento de amostras na fase analítica O diagnóstico laboratorial das doenças infecciosas consiste em microscopia, cultura, exames imunológicos e métodos de identificação baseados e não baseados em ácido nucleico. O profissional responsável pela coleta e pelo processamento das amostras deve ser treinado e, constantemente, passar por reciclagem. Deve saber o destino, acondicionamento e transporte corretamente de cada material. O exame microscópico possui duas funções: detecção inicial e identificação preliminar ou definitiva do microrganismo. Para observar e confirmar a presença de um microrganismo, utiliza-se esfregaços corados preparados com parte da amostra clínica que foi enviada. Na microscopia observam-se células bacterianas, elementos fúngicos, parasitos e inclusões virais. Métodos microscópicos » Microscopia de campo de claro: bastante utilizada nos exames de rotina para visualização de células e microrganismos em laboratórios de análises clínicas. » Microscopia de campo escuro: sua indicação é para amostras com pouco contraste. Na prática clínica, o microscópio de campo escuro serve para examinar a existência de cristais na urina, como os de ácido úrico e oxalato, e comumente utilizado para identificar Treponema pallidum, agente etiológico da sífilis e Leptospira spp. (leptospirose). Figura 10. Exemplo de microscopia de campo escuro Fonte: https://kasvi.com.br/microscopio-tecnicas-microscopia/. Acesso em: 30/08/2019. https://kasvi.com.br/microscopio-tecnicas-microscopia/ 34 UNIDADE II │ FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA » Microscopia de contraste de fase: indicada paraexames de células e de tecidos não corados, análise de células vivas (geralmente em cultura), microrganismos, seções de tecidos finos, fibras, dispersões de látex, partículas subcelulares (incluindo o núcleo e outras organelas), diagnóstico de células tumorais, hematologia, virologia, bacteriologia, parasitologia e biologia marinha. Figura 11. Exemplo de microscopia de contraste de fase Fonte: https://kasvi.com.br/microscopio-tecnicas-microscopia/. Acesso em: 30/08/2019. » Microscopia de fluorescência: indicada para detectar antígenos ou anticorpos nos procedimentos de coloração imunocitoquímicos. Moléculas fluorescentes específicas também podem ser injetadas em um animal ou diretamente em células, e usadas como rastreadores. Figura 12. Exemplo de microscopia de fluorescência Fonte: https://kasvi.com.br/microscopio-tecnicas-microscopia/. Acesso em: 30/08/209. Métodos de análise Exame direto Utiliza-se o hidróxido de potássio (KOH) para pesquisa de fungos (leveduriformes e particularmente filamentosos) em material biológico na presença de muco, restos celulares, pelos e unhas. Essa substância dissolve a queratina e o muco, destacando as estruturas fúngicas, quando presentes. A técnica consiste em colocar uma pequena https://kasvi.com.br/microscopio-tecnicas-microscopia/ https://kasvi.com.br/microscopio-tecnicas-microscopia/ 35 FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA │ UNIDADE II amostra do material a ser pesquisado no centro da lâmina; colocar uma ou duas gotas de KOH; cobrir com lamínula e aguardar 30 minutos, ou aquecer ligeiramente a lâmina para acelerar o clareamento. Então, examinar com objetiva de 10x ou 40x, fechando o diafragma. Colorações diferenciais Coloração de Gram Método tintorial mais utilizado no laboratório de microbiologia médica. A bacterioscopia é uma técnica presuntiva, de triagem, ou até mesmo confirmatória em alguns casos. Os custos com investimento e manutenção são relativamente baixos. Os corantes devem ser preparados pelo próprio laboratório ou por um laboratório habituado que assegure a qualidade do produto. A coloração de Gram recebeu este nome em homenagem a seu descobridor, o médico dinamarquês Hans Cristian Joaquim Gram, em 1884. Gram observou que as bactérias adquiriam cores diferentes quando tratadas com diferentes corantes, permitindo-lhe classificá-las em dois grupos: Gram-positivas e Gram-negativas. Quando as estruturas celulares são cobertas pelo cristal violeta, todas coram-se em roxo (púrpura ou violeta), tanto as Gram-positivas quanto as Gram-negativas. Logo após, adiciona-se o lugol, cuja função é fixar o corante primário nas estruturas coradas, não modificando a aparência da célula. Em seguida, adiciona-se um descorante, geralmente o etanol, e assim algumas estruturas perdem a cor violeta rapidamente, enquanto outras perdem sua cor mais lentamente ou não perdem a cor. A safranina é uma contracoloração que, quando adicionada, cora as estruturas que foram descoradas e torna-se vermelha. As bactérias que têm a parede celular composta por mureína (peptideoglicano - peptídeo de ácido n-acetil murâmico), durante o processo de descoloração com álcool etílico, retêm o corante. Já as bactérias com parede celular composta, predominantemente, por ácidos graxos (lipopolissacarídeos e lipoproteínas) perdem o complexo iodo-pararosanilina e assume a cor do corante de fundo. 36 UNIDADE II │ FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA Figura 13. Coloração de Gram: A – Gram-positivo; B – Gram-negativo A B Fonte: https://kasvi.com.br/bacteria-gram-positiva-gram-negativa/2018. Acesso em: 30/08/2019. Coloração de Wright-Giemsa Bastante utilizada para detectar parasitas intracelulares, como inclusões virais, Toxoplasma e Rickettsia spp. » Outras: coloração de hematoxilina férrica, metenamina de prata, coloração de azul de toluidina O, coloração tricrômica. Coloração acidorresistentes » Coloração de Ziehl-Neelsen: utilizada para corar micobactérias, como Mycobacterium tuberculosis. » Outras: coloração de Kinyoun, Auramina-rodamina, coloração acidorresitente modificada. Meios de cultura Encontramos disponíveis no mercado diversos meios de cultura, cada um com sua finalidade. O meio de cultura é considerado uma cultura pura quando apenas um tipo de organismo está presente e cultura mista quando mais de um tipo de organismo está presente. O meio de cultura pode ser classificado com base no conhecimento da sua constituição: meio quimicamente definido, onde todos os constituintes são conhecidos e meio complexo, onde a exata constituição não é conhecida e podem conter extratos moídos ou digeridos de animais, leveduras e vegetais, os quais fornecem os nutrientes (vitaminas e minerais) necessários. Os meios de cultura também podem ser classificados quanto ao seu estado. Encontramos meios líquidos (conhecidos também como caldos), meio sólido https://kasvi.com.br/bacteria-gram-positiva-gram-negativa/ 37 FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA │ UNIDADE II ou semi-sólido. Meios líquidos e semi-sólidos são acondicionados em tubos de ensaio. Os meios sólidos são preparados adicionando-se ágar ao meio líquido e, posteriormente, colocando-os em tubos de ensaio ou placas de Petri, em que se solidificará. Vejamos abaixo alguns exemplos de meio de cultura utilizado: » Meios de cultura para transporte e conservação: meio Stuart, salina tamponada, cary-blair, ágar nutriente. » Meios para crescimento e isolamento: ágar chocolate, ágar Mac Conkey, ágar sangue, ágar CLED, caldo BHI, ágar Sabouraud, meio bifásico. Processamento de algumas amostras para o diagnóstico bacteriano: » Urina: realizado semeadura de rotina e coloração de Gram. » Fezes: o material deve ser inoculado o mais rápido possível. Caso não seja possível, passar o swab na amostra e inocular no meio de transporte adequado, mantendo-o em temperatura ambiente até o momento da semeadura em meio sólido. Utilizada para detecção de Shigella e Campylobacter. » Sangue: não utilizar EDTA. Recomenda-se citrato, heparina ou polianetol-sulfonato de sódio (SPS). » Líquor: o sedimento é inoculado em placas de ágar sangue e/ou chocolate. Utilizado quando há influência de Haemophilus influenzae e M. tuberculosis. Processamento de algumas amostras para o diagnóstico micótico: » Pelos: nas alíquotas para exame microscópico e cultura, o material será clarificado com solução aquosa de KOH a 20%, para cultura, não podendo sofrer nenhum tratamento prévio. São inoculadas diretamente na superfície do meio de cultura. » Líquor, secreções e fluídos corporais: o material deve ser concentrado por centrifugação (1500 a 2000 rpm por 10 minutos). Os materiais coletados com swabs devem ser eluídos em solução salina e centrifugados. Utilizar o sedimento para o exame microscópico e semeadura em meios de cultura. Na suspeita de Cryptococcus neoformans (criptococose) utiliza-se o meio ágar Sabouraud-glicose. 38 UNIDADE II │ FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA » Urina: utilizar uma alíquota (alça calibrada), esta precisa ser semeada por esgotamento sobre o meio de cultura distribuído em placa de Petri, para exame quantitativo, pela contagem de unidades formadoras de colônias (UFC). A outra alíquota deve ser centrifugada (1500 a 2000 rpm por 10 minutos), utilizando-se o sedimento para exame microscópico, e realizar nova semeadura em tubo. » Sangue e aspirado de medula óssea: não necessitam de preparação, pois o exame microscópico tem baixa sensibilidade. A cultura é importante para identificação do agente. Recomenda-se a semeadura imediata das amostras para cultura. O meio pode ser bifásico (15mL de ágar inclinado sob 50mL de caldo), composto de infusão de cérebro-coração (meio BHI) ou Sabouraud. Meios, contendo saponina para lise e a posterior centrifugação da amostra são indicados. Não se utiliza EDTA na coleta, pois essa substância combina-se com elementos da parede dos fungos e diminuem a sensibilidade do exame. Processamento de algumas amostraspara o diagnóstico viral: » Isolamento do vírus em cultivo celular: fragmentos de tecidos ou órgãos devem ser macerados com areia estéril, homogeneizados e centrifugados à baixa rotação. Deve-se inocular o sobrenadante. » Secreções nasais, oculares e genitais: o material deve ser centrifugado para a retirada de debris celulares e sujidade. Deve-se inocular o sobrenadante. » Fezes: filtrar o material fecal em filtros acopláveis a seringas para remover fungos e bactérias. Esses são considerados contaminantes e podem interferir com o isolamento. As fezes devem ser previamente diluídas em meio de cultivo ou PBS para reduzir a toxicidade. » Sangue integral: deve ser centrifugado à baixa rotação. Logo após, remover a capa leucocitária cuidadosamente e ressuspender a papa de hemácia que ficará concentrada no tubo em um meio de cultivo e inocular. Alguns exemplos de erros que podem acontecer na fase analítica são: troca de amostras, erros de pipetagem (pipetas não aferidas, molhadas, volume incorreto), vidrarias e recipientes mal lavados, reagentes e padrões (contaminados, mal conservados, com validade vencida) e erros no preparo dos reagentes (concentração errada, erros nos cálculos de concentração e unidades). 39 CAPÍTULO 3 Interpretação dos resultados iniciais Não se deve analisar os resultados dos testes laboratoriais isoladamente mas, sim, proceder uma análise do conjunto, associando as informações que acompanham a amostra e interpretando-as com o conhecimento da patogenia, clínica e epidemiologia, do agente que se está pesquisando. Ao analisar isoladamente, pode-se obter interpretações incompletas e conclusões equivocadas. Pode-se, às vezes, obter um resultado falso - negativo, uma vez que algumas técnicas apresentam limite de sensibilidade e, ocasionalmente, podem falhar na detecção do agente e no isolamento viral, não descartando o agente suspeito. Além disso, más condições de coleta e de conservação do material podem inviabilizar o exame, levando a um resultado falso - negativo. No momento da interpretação de um exame, é importante saber identificar e diferenciar microrganismos que são considerados clinicamente significantes daqueles que fazem parte da microbiota normal da pele e da mucosa ou comuns ao meio ambiente, e se esses podem ou não ser clinicamente significantes. Os resultados devem ser avaliados como uma parte de um conjunto de informações necessárias à elaboração do diagnóstico e não como o diagnóstico em si. Os resultados e a sua interpretação devem ser emitidos o mais breve possível ao veterinário solicitante, para que as medidas adequadas sejam tomadas rapidamente. Muitas vezes o veterinário solicitante depende dessas informações para direcionar o seu diagnóstico e, consequentemente, o tratamento apropriado. Por exemplo, na microscopia direta identifica-se e diferencia-se a presença de hifas (nos pelos, escamas e unhas) e artroconídios (somente nos pelos) de artefato. Uma vez observadas essas estruturas, pode-se informar que se trata de um caso de dermatofitose. O diagnóstico definitivo é a cultura fúngica, a qual nos possibilita a identificação do gênero e da espécie do fungo. Em relação ao resultado da cultura acerca da dermatofitose nos cães, é importante saber que esta é causada, principalmente, por fungos dos gêneros Microsporum e Trichophyton. É comum o isolamento de fungos sapróbios (contaminantes) nas culturas, como os gêneros Aspergillus, Alternaria, Penicillium, Mucor, entre outros (que não causam normalmente micoses cutâneas). A obtenção dessas informações orienta- nos no momento da interpretação. Algumas provas bioquímicas utilizadas para identificação, sua indicação e sua interpretação (ANVISA - Interpretação de dados microbiológicos – Acesso em 2019): 40 UNIDADE II │ FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA As provas bioquímicas possuem diferentes cores, cada um com uma função para a identificação presuntiva. Alguns nutrientes agem como indicadores de pH, que na presença de bactéria vai modificar a cor original do meio. 1. Prova de catalase: A catalase é uma enzima que decompõe o peróxido de hidrogênio (H2O2) em água e oxigênio. › Indicação – Staphylococcus, Streptococcus, Enterococcus, Listeria, Corynebacterium, Micrococcus, Bacillus, Moraxella catarrhalis. › Interpretação – Positivo: Presença imediata de bolhas (a produção de efervescência indica a conversão do H2O2 em água e oxigênio gasoso). Negativo: Ausência de bolhas ou efervescência. 2. Prova de coagulase - Verifica-se a capacidade do microrganismo de reagir com o plasma e formar um coágulo, esse sendo visível. Pode ser encontrada de duas formas com propriedades diferentes, quais sejam, a coagulase conjugada e a coagulase livre. A coagulase conjugada (prova em lâmina), também chamada de fator de aglutinação, ocorre quando as células bacterianas são suspensas em plasma (fibrinogênio) e formam-se cordões de fibrina entre elas, o que causa agrupamento sob a forma de grumos visíveis. A coagulase livre (prova em tubo) é uma substância similar à trombina que está presente em filtrados de cultivos. É secretada extracelularmente e reage com uma substância presente no plasma denominado Fator de Reação com a Coagulase – CRF, para formar um complexo que, por sua vez, reage com fibrinogênio, formando fibrina (coágulos). Forma-se um coágulo visível após o período de incubação, quando uma suspensão em plasma do microrganismo produtor de coagulase é preparada em tubo de ensaio. › Indicação: Separa as espécies de Staphylococcus de importância clínica como o S. aureus (coagulase positiva), das demais espécies (coagulase negativa). › Interpretação: Positiva: formação de precipitado branco e aglutinação dos microrganismos da suspensão, após 15 segundos, no círculo que contém o plasma. Negativa: ausência de aglutinação no círculo que contém o plasma. 41 FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA │ UNIDADE II 3. Prova de gelatinase*: Determina a habilidade do microrganismo de produzir enzimas proteolíticas (gelatinases) que liquefaz/hidrolisa a gelatina. › Indicação: auxilia na identificação e classificação de bactérias fermentadoras, não fermentadoras e bacilos Gram-positivos esporulados. › Interpretação: Positivo: a emulsão de gelatina (cor verde) na porção submersa do filme torna-se transparente (clara). Negativo: a fita permanece verde e a emulsão esverdeada permanece na porção submersa do filme. 4. Prova de lecitinase*: Cepas produtoras de lecitinase produzem zona opaca ao redor do inóculo. › Indicação: útil para auxiliar a diferenciar espécies de Bacillus e Clostridium. › Interpretação: Cor original do meio: amarelo. Positivo: formação de halo branco ao redor das colônias. Negativo: ausência de halo e o meio fica inalterado. 5. Prova de oxidase* - O teste de oxidase é baseado na produção intracelular da enzima oxidase pela bactéria. › Indicação: útil para auxiliar a caracterizar espécies de Neisseria e distingue bactérias não fermentadores (oxidase positiva) de enterobactérias (oxidase negativa). Diferencia algumas bactérias fermentadoras oxidase positiva, entre elas a Plesiomonas shigelloides, a.Aeromonas spp. e a Vibrio spp. › Interpretação: Cor original: branca ou levemente azulada. Oxidase positiva: produção de cor roxa imediatamente no local da inoculação da bactéria. Oxidase negativa: não há mudança da cor do papel no local da inoculação da bactéria. Não considerar alteração de cor tardia. 6. Fermentação de carboidratos*: amplamente utilizada para a diferenciação de gêneros e a identificação de espécies bacterianas. A prova consiste em verificar a capacidade do microrganismo de fermentar ou não um determinado carboidrato, permitindo, assim, verificar as suas características que auxiliaram na identificação. 42 UNIDADE II │ FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA › Indicação: auxilia na identificação e separação de espécies de Enterococcus spp., Streptococcus spp. e Staphylococcus coagulase negativa.› Interpretação: Cor original do meio: púrpura. Positivo: Crescimento bacteriano (turvação do meio) com viragem do indicador para amarelo. Negativo: Ausência de crescimento, o meio permanece com a cor original, púrpura e sem turvação. 7. Prova de hidrólise*: A prova de hidrólise PYR é um teste enzimático que consiste na hidrólise do substrato Lpyrrolidonyl-α-naftylamide pela enzima bacteriana L-pyroglutamyl-aminopeptidase. A hidrólise do substrato libera β-naphtylamide, que é detectada com a adição do reagente e o N-dimetilaminocinamaldeído, que forma uma base de Schiff, de coloração vermelha. › Indicação: Teste presuntivo para identificar Streptococcus beta hemolítico presumível do grupo A de Lancefield (S. pyogenes) e Enterococcus spp. Identificação de algumas espécies de Staphylococcus coagulase negativa. Identificação de bacilos Gram-negativos não fermentadores. › Interpretação: Positivo: desenvolvimento de cor vermelho cereja em 1 minuto (após adicionar o reagente de PYR). Negativo: sem alteração de cor (permanece amarela ou alaranjada). 8. Tubo TSI: é um meio vermelho que contém lactose, glicose e sacarose e ferro na sua composição. Útil para diferenciar os bastonetes Gram- negativos. Na presença de bactéria, ocorre fermentação e o meio muda da cor vermelha para amarelo. O sulfato ferroso de amônio, utilizado para identificar a produção de sulfato de hidrogênio, é um gás tóxico. Quando positivo para esse gás, o meio é empurrado para cima e seu ápice fica com coloração preta. 9. Ágar citrato: é utilizado para verificar se a bactéria é capaz de utilizar o citrato de sódio como uma única fonte de carbono em seu metabolismo. Quando positivo para essa prova, o meio original é verde e muda para a cor azul. 43 FASE PRÉ-ANALÍTICA E ANALÍTICA │ UNIDADE II 10. Meio de uréia: utilizada para saber se a bactéria degrada a ureia através da ação da urease. A cor original do meio é amarelo palha, e no teste positivo o meio torna-se rosa. 11. Fenilalanina: útil para saber se a bactéria produz ácido fenilpirúvico. A cor original do meio é translúcida, após inocular a bactéria. É necessário incubar esse material por 24 horas. Após esse período, adiciona-se o reagente cloreto férrico e no teste positivo, esse meio torna-se esverdeado. 12. Meio SIM – a finalidade desse teste é verificar se a bactéria é móvel, produtora de INDOL e de H2S. O meio original é semi-sólido. Quando a reação for positiva para INDOL, o ápice do meio vai ficar no tom vermelho. Quando positivo para motilidade, a base fica turva. Por fim, quando a reação for positiva para H2S o centro do meio de cultura fica no tom preto. 44 UNIDADE III DIAGNÓSTICO BACTERIOLÓGICO VETERINÁRIO E TESTE DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS CAPÍTULO 1 Bactérias Gram-positivas, bactérias Gram-negativas e outros grupos bacterianos Cocos Gram-positivos Gênero staphylococcus O critério para identificação de novas espécies é baseado em características fenotípicas e genotípicas. Embora utilize-se essas características, segundo Smeltzer e Beenken (2016), a referência é a diferenciação que ocorre pela verificação da divergência da sequência de DNA. Exemplo de diferenciação de espécies associados aos hospedeiros: Staphylococcus caprae (caprino), S. delphini (golfinhos), S. equorum (equino), S. felis (gatos), S. gallinarum (aves domésticas), S. pseudintermedius (cães), entre outros. Porém nenhuma dessas associações é absoluta, uma vez que S. caprae já foi identificado no homem. Outro exemplo, o S. hyicus, geralmente associado à dermatite exsudativa em suínos, também causa mastite bovina e já foi descrita em um agricultor como causa bacteriana. Dentro da mesma espécie de estafilococos também foram identificadas linhagens clonais, em especial para S. aureus. Para identificar as diferentes linhagens clonais dentro da mesma espécie, utiliza-se os métodos de eletroforese em gel de campo pulsado e tipagem, que codificam a sequência de proteína A e a tipagem de sequência de multilócus. 45 DIAGNÓSTICO BACTERIOLÓGICO VETERINÁRIO E TESTE DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE III Os estafilococos são imóveis, não formadores de poros e todos são catalase positivos. A maioria das espécies são anaeróbios facultativos. O principal meio de diferenciação dos estafilococos para os estreptococos é pela produção de coagulase. Crescem em ágar sangue, são incubados em atmosfera aeróbia ou anaeróbia, são visualizados em 24 horas, sua colônia é arredondada e relativamente grande. Algumas provas utilizadas para classificar as espécies têm sido substituídas por técnicas moleculares, exceto as provas de coagulase e atividade hemolítica, as quais continuam sendo os principais testes de diagnóstico. As provas catalase positiva e coagulase positiva frequentemente identificam S. aureus, porém outras espécies exibem as mesmas características e possuem a mesma capacidade de causar infecção no homem e no animal, como por exemplo o S. intermedius, S. pseudintermedius e S. delphini, que foram isoladas de cão, gato, equino e ave, dificultando a diferenciação sem o uso de técnicas moleculares. Exemplos de espécies coagulase negativa são S. Lugdunensis, S. Haemolyticus, S. Epidermidis, as quais já foram isolados causando infecções em pequenos animais, porém, raramente são encontradas neles. A espécie Staphylococcus aureus é o patógeno com maior relevância em pessoas e animais. O Staphylococcus intermedius é um importante patógeno em piodermatite em cães, podendo causar infecções cutâneas, urinária, ósseas e do sistema nervoso central em várias espécies animais. É importante destacar que a maioria das espécies de Staphylococcus coagulase negativa são capazes de causar infecção em pessoas e em animais, tendo como exemplo a mastite bovina. Diferente do que ocorre com os estafilococos coagulase negativos, a maioria das cepas de S. aureus e outras espécies de estafilococos coagulase positiva são toxigênicas, causam hemólise em ágar sangue, são detectadas as toxinas alfa (alfatoxina), beta (betatoxina), e a toxina delta (deltatoxina). São formadoras de poros e causam lise eritrocitária, É importante diferenciar essas reações hemolíticas das originadas pelos estreptococos, uma vez que causam infecções semelhantes em pessoas e animais. A alfatoxina provoca lise total dos eritrócitos nos estafilococos, enquanto a lise incompleta é característica pela betatoxina, e ambas são utilizadas para auxiliar no diagnóstico. A maioria dos isolados de S. aureus em bovinos produz betatoxina. Streptococcus e enterococcus São cocos Gram-postivos, catalase negativos, apresentam-se em pares e em cadeias, são imóveis, não esporulados e, geralmente, necessitam de meios de cultura complexo para seu crescimento. Vários estreptococos habitam a microbiota normal de animais e humanos, enquanto outros podem causar doenças subagudas, agudas ou crônicas. 46 UNIDADE III │ DIAGNÓSTICO BACTERIOLÓGICO VETERINÁRIO E TESTE DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS Estreptococos de interesse veterinário vivem de forma comensal, sendo encontrados no trato respiratório superior, alimentar e genital inferior. Sua transmissão ocorre por inalação, ingestão, via sexual, de modo congênito ou indiretamente pelas mãos e fômites contaminados. Esquema de agrupamento de Lancefield São subdivididos em tipos de acordo com antígeno proteico (M, R e T) Quadro 2. Espécies de Streptococcus de importância clínica Grupo de Lancefield Espécie Tipo de hemólise Hospedeiros Patologia A S. pyogene Β Humanos Infecções respiratórias, febre reumática, glomerulonefrite B S. agalactiae α, β, γ Humanos e bovinos Sepse neonatal, mastite Nenhum S. pneumoniae Α Humanos, equinos, primatas NH, animais de laboratório Pneumonia C S. equi ssp. Equi Β Equinos Garrotilho C S. equi ssp. Zooepidemicus Β Equinos, suínos, bovinos e humano Infecções piogênicas C S. dysgalactiae ssp. Equisimilis Β Equinos, suínos, bovinos e humanos Infecções piogênicasC S. dysgalactiae ssp. Dysgalactiae α, β, γ Equinos, suínos, bovinos e humanos Infecções piogênicas e mastite. E S.porcinus Β Suínos Linfadenite cervical G S. canis Β Cães Metrite, mastite, infecção neonatal L S. grupo L Β Cães Infecção urogenital D, R, S, T S. suis Α Suínos Meningite, pneumonia e septicemia ? S. uberis α, γ Bovinos Mastite ? S. parauberis α, γ Bovinos Mastite Fonte: Smeltzer; Beenken (2016). As bactérias do gênero Streptococus causam infecções piogênicas na pele, no trato respiratório, no trato reprodutor, no coto umbilical e na glândula mamária. A septicemia pode ocorrer pela disseminação via hematógena a partir do local da infecção. Em geral, os sintomas clínicos podem ser acompanhados de febre ou associados aos sinais de septicemia. Observa-se secreção purulenta no local da infecção quando drenados pela lesão. Em caso contrário, formam-se abscessos. Os materiais coletados como, por exemplo, exsudato, leite, tecido, urina, aspirado transtraqueal e fluido cerebroespinal, devem ser cultivados em ágar sangue de ovino ou bovino e incubados a 37°C com 3% a 5% de CO2. 47 DIAGNÓSTICO BACTERIOLÓGICO VETERINÁRIO E TESTE DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE III Garrotilho é uma doença contagiosa que acomete equinos. Seu agente etiológico é a espécie S. equi ssp. equi, na qual o animal apresenta secreção nasal serosa ou purulenta, dor local, tosse e anorexia. Em suínos, a linfadenite cervical é causada pela espécie Streptococcus porcinus, que é semelhante ao garrotilho, porém, menos grave. As espécies Streptococcus suis, S. dysgalactiae ssp. equisimilis e S dysgalactiae spp. equisimilis estão associadas à pneumonia secundária nesse animais. Em cães, a espécie Streptococcus canis está, esporadicamente, associada à pneumonia secundária, podendo provocar septicemia em filhotes. Os gatos costumam ser mais resistentes às infecções estreptocócicas, mas podem atingir gatos filhotes ou adultos imunossuprimidos. Os Enterococcus são cocos entéricos. Foram classificados, inicialmente, como estreptococos do grupo D. Diferem do Streptococcus por apresentarem resistência ao sal, à bile, ao azul de metileno e multiplicam-se em temperaturas elevadas. Há mais de 40 espécies de Enterococcus, e a maioria habita o trato intestinal de mamíferos e aves. São microrganismos oportunistas. As espécies de interesse veterinário são E.durans, E. hirae e E. villorum, as quais causam doença intestinal em leitões, potros, bezerros neonatos e em adultos e filhotes de cães e gatos. Os E. faecalis e E. faecium, clinicamente são espécies de maior importância no homem e, portanto, são as mais estudadas. E. faecium é associado à resistência antimicrobiana. No que diz respeito às espécies E.durans, E. hirae e E. villorum, fixam-se às vilosidades do intestino delgado de animais infectados, diferente dos outros enterecocos que se beneficiam de um local já infectado, como a bexiga. Bastonetes Gram-positivos Gênero corynebacterium São bacilos Gram-positivos, imóveis e não esporulados. Microscopicamente são irregulares, possuem formato de clava agregados ou cadeias curtas. O gênero Corynebacterium pode ser isolado no solo, água, plantas e superfícies de animais. No homem, a espécie mais conhecida é o Corynebacterium diphtheria, sendo o microrganismo causador da difteria. Espécies importantes na veterinária são Corynebacterium pseudotuberculosis e Corynebacterium renale (responsáveis pela infecção urinária em ruminantes) e Corynebacterium auriscanis (relacionada à otite externa e dermatite em cães). 48 UNIDADE III │ DIAGNÓSTICO BACTERIOLÓGICO VETERINÁRIO E TESTE DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS » Corynebacterium pseudotuberculosis – agente etiológico da linfadenite caseosa em ovino e caprinos. A transmissão em ovinos, equinos e caprinos ocorre através da contaminação de feridas superficiais, como ocorre na tosquia ou qualquer outro evento que provoque trauma cutâneo. No boi, há evidências de transmissão mecânica por meio de moscas domésticas. O patógeno sobrevive semanas no ambiente, o que contribui para a sua disseminação dentro de um rebanho. É um patógeno intracelular facultativo e a presença de lipídios na sua superfície proporciona proteção dentro dos fagócitos. O microrganismo alcança os linfonodos regionais e produz a lesão característica de formação de abscessos localizados quando a exotoxina está ausente. É uma doença característica de caprinos e ovinos, porém já foi observada em equinos, em que se apresenta na forma de linfangite ulcerativa, abscessos peitorais, inguinais e abdominais (Dorella et al., 2006). Diagnóstico laboratorial » Cultura bacteriológica: a presença de abscesso em ovinos e em caprinos sempre é associado à linfadenite caseosa, porém deve-se realizar a cultura para confirmar ou excluir a presença da bactéria Arcanobacterium pyogenes, que também é responsável por causar abscessos. Semear o material (abscesso) em placas com ágar-sangue, incubar durante 24 a 48 horas/35°C a 37°C. Observam-se colônias pequenas, de coloração branco pérola fracamente hemolítica. » Exame microscópico. » Reação em cadeia da polimerase (PCR) – técnica molecular utilizada para amplificar uma região específica do DNA. Utilizam-se iniciadores (primers) específicos para identificar a espécie. Gênero Bacillus São bastonetes anaeróbios facultativos, Gram-positivos, produtores de endósporos que normalmente habitam solo e água. Quando são privados de nutrientes, a célula passa por um processo de esporulação e produz endósporos, que são estruturas resistentes ao calor, à dessecação, à radiação UV e a desinfetante. Essas características permitem que ele seja viável no solo e na água por muito tempo, podendo levar anos esperando por nutrientes ou pela chegada do hospedeiro. 49 DIAGNÓSTICO BACTERIOLÓGICO VETERINÁRIO E TESTE DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE III O B. anthracis é o patógeno zoonótico responsável pelo antraz ou carbúnculo hemático. Outra espécie importante é o Bacillus cereus, responsável por causar intoxicação alimentar. O B. anthracis, muito conhecido também por ser utilizado como arma biológica, é o microrganismo mais temido em ações de bioterrorismo. Podem acometer homem, bovinos, ovinos, caprinos e cervos. A transmissão ocorre pela ingestão de água, planta ou solo contaminados pelo esporo. A transmissão ocorre no homem pela ingestão, por penetração dos esporos na pele através de corte ou arranhão. Após a entrada do esporo no organismo, este será fagocitado, contudo, pode ocorrer resistentência à ação fagocítica. Multiplica-se no interior da célula caso não seja eliminado pelo sistema imune e a bactéria instala-se nos linfonodos regionais, ganhando sistema linfático e ocorrendo, então, a sua disseminação. Nos tecidos, os esporos germinam e a forma vegetativa prolifera-se, provocando edema. Não se observam lesões patognomônicas, são lesões semelhantes com outras causas tóxicas e infecciosas de morte aguda. Em ruminantes, alguns animais vão à óbito sem apresentar sinais clínicos evidentes. Observa-se congestão da mucosa, hematúria, diarreia hemorrágica e edema regional, quais são manifestações fatais. Alguns animais podem apresentar edema localizado ou lesão ulcerativa. Diagnóstico laboratorial O carbúnculo hemático/antraz é de notificação obrigatória e requer notificação imediata em qualquer caso suspeito. » Exame direto: utilizam-se secreções sanguinolentas presentes nos orifícios naturais do organismo. Os esfregaços são corados com Gram e com corante de cápsula (azul de metileno de McFadyean). Os esporos não são observados. » Isolamento e identificação: cresce em ágar sangue, as colônias não são pigmentadas e podem apresentar superfície seca e rugosa. » Imunodiagnóstico. » PCR. 50 UNIDADE III │ DIAGNÓSTICO BACTERIOLÓGICO VETERINÁRIO E TESTE DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS Bastonetes Gram-positivos anaeróbicos Gênero clostridium São bastonetes anaeróbicos,
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