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Papéis e responsabilidades dos administradores



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Papéis e responsabilidades dos administradores
Atribuições e deveres
As relações entre o mundo corporativo e a sociedade vêm passando por mudanças profundas desde a década de 1980, resultando em crescentes pressões que se voltaram para a responsabilidade corporativa (ROSSETTI; ANDRADE, 2014).
Os atores que estudaremos são chamados de administradores, sendo que eles ocupam cargos nos seguintes órgãos (ROSSETTI; ANDRADE, 2014):
· Conselho de Administração;
· Direção Executiva;
· Comitê de Auditoria;
· Auditoria Independente;
· Auditoria Interna.
Cada um desses órgãos possui uma atribuição específica, intimamente relacionadas com a gestão da governança dentro das empresas. Cada órgão administrador possui características e atribuições principais na busca pela excelência em suas ações de governança. O esquema encontrado a seguir permite uma visualização da interação entre os stakeholders e sua localização hierárquica na estrutura empresarial.
Figura 1: Stakeholders e posição hierárquica. Fonte: IBGC, 2020
Os sócios figuram no mais alto escalão, sendo responsáveis por enviar diretrizes sobre a organização para os órgãos administradores que estão abaixo, tais como o conselho de administração e o conselho fiscal. O conselho de administração, por meio de sua secretaria de governança, é responsável pela comunicação com o diretor-presidente da empresa.
Conforme pode-se observar na figura, existem órgãos de apoio, tais como os conselhos de auditoria, incluindo a auditoria interna e a independente, bem como os comitês. Logo abaixo do diretor-presidente, estão os diretores, que recebem as ordens a serem executadas.
De forma a circundar essas hierarquias, encontram-se a regulamentação, os stakeholders (ou partes interessadas) e o ambiente externo (meio ambiente), que exercem influência sob cada uma das partes descritas.
O Conselho de Administração, segundo a Lei n. 6.404/1076, é o órgão competente para administrar a empresa. São responsabilidades do Conselho de Administração (ROSSETTI; ANDRADE, 2014):
 
· Órgão guardião dos interesses dos proprietários;
· Eleger e avaliar o desempenho da Diretoria Executiva;
· Homologar e monitorar a estratégia de negócios;
· Homologar e acompanhar políticas nas áreas funcionais;
· Definir expectativas de resultados e acompanhar sua efetivação;
· Definir a criação e a constituição de comitês;
· Escolher e contratar a Auditoria Independente;
· Definir a constituição do Comitê de Auditoria.
 
Na hierarquia, o Conselho de Administração está localizado no mais alto posto, também chamado de alto escalão, sendo seguido pela Direção Executiva (BARROSO, 2005, p. 45). Cabe à direção executiva, conforme Rossetti e Andrade (2014), às seguintes ações (ROSSETTI; ANDRADE, 2014):
 
· Interagir com o Conselho de Administração e executar as diretrizes dele emanadas;
· Exercer a gestão dos negócios e das áreas funcionais da companhia. Definir a estratégia e os planos operacionais, submetendo-os à homologação do Conselho de Administração;
· Prestar amplas informações ao Conselho de Administração: resultados, riscos e oportunidades;
· Produzir demonstrações patrimoniais e de resultados, responsabilizando-se pela sua auditagem interna e pela sua integridade.
 
Relacionado ao Comitê de Auditoria, suas atribuições são (ROSSETTI; ANDRADE, 2014):
· Acompanhar e avaliar o ambiente de controle: auditoria externa e interna;
· Identificar, avaliar e analisar os riscos relevantes da companhia;
· Supervisionar a elaboração dos relatórios financeiros.
 
A Auditoria Independente possui as responsabilidades de (ROSSETTI; ANDRADE, 2014):
· Verificar a conformidade no cumprimento de disposições legais;
· Auditar as demonstrações econômico-financeiras;
· Verificar se as demonstrações de resultado refletem adequadamente a realidade da sociedade.
 
E, por fim, a Auditoria Interna possui as seguintes atribuições:
· Organizar o ambiente interno de controle;
· Interagir e contribuir com o sistema de auditoria estabelecido pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Administração;
· Realizar a Auditoria Interna;
· Implantar sistemas de controle e de auditoria, abrangendo todos os processos, práticas e rotinas internas;
· Exigir que os relatórios contábil-financeiros sejam aderentes às leis e regulamentos aplicáveis às operações da companhia;
· Apresentar dados confiáveis, abrangentes e oportunos.
 
Destaca-se, então, que as companhias devem ter esses atores bem definidos e que cada um deles conheça seus limites de atuação, evitando sobreposição de autoridade entre eles.
Ademais, é importante destacar que os administradores devem praticar atos que competem às suas funções e atribuições, conforme descrito anteriormente. Devem estar atentos e serem responsabilizados pelas consequências de seus atos.
Destaca-se, ainda, mais um dever dos administradores, visto que eles devem defender os interesses dos sócios (BARROSO, 2005). De acordo com a Lei n. 6.404/1976, são deveres dos administradores:
· Dever de diligência, atuando com cuidado e probidade;
· Dever de lealdade, servindo com lealdade à companhia;
· Vedação do conflito de interesses;
· Dever de informar, ao assinar termo de posse, número de ações, bônus de subscrição e debêntures.
 
Nesse momento, cabe uma explicação de maior amplitude a respeito da diligência, que, segundo o IBGC (2020), corresponde à atuação de forma íntegra, honesta e justa ao exercer suas funções. Ademais, é necessário que o administrador tenha uma gestão atuante, com liderança, cuidado, cautela e zelo. Dessa forma, o administrador será entendido como um profissional competente.
 
Responsabilidade civil, normas e aplicações
Responsabilidade civil
Ao se considerar uma obrigação legal ou contratual realizada de forma expressa, os administradores passam a ser responsabilizados. Segundo Alencastro (2017, p. 51), “o gerenciamento responsável é condição essencial para a boa governança e dependente de normas éticas”. Segundo Barroso (2005), os administradores devem ser responsabilizados por culpa ou dolo, quando ferem de alguma forma a Lei ou o Estatuto Social da empresa a qual pertencem.
Sendo assim, segundo a Lei n. 6.404/76 (BRASIL, 1976, Art. 158):
O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder:
 
I - Dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo;
II - Com violação da lei ou do estatuto.
 
Aqui destaca-se uma diferença importante com relação ao que a lei diz aos administradores: ao administrador cabe o chamado ônus da prova. No primeiro caso, de atuação dentro de suas atribuições com culpa e dolo, compete à parte prejudicada a comprovação de que houve atuação incorreta. Já no segundo caso, violação de lei ou estatuto, cabe ao administrador provar que não ocorreu ilicitude de sua parte (BARROSO, 2005).
Uma conduta dolosa é percebida de maneira mais fácil, visto que o administrador terá cometido algo ilícito de forma deliberada. Com relação à forma culposa, a identificação é mais complicada, pois o próprio administrador deve identificar sua atuação incorreta e comprovar que agiu com as seguintes características (BARROSO, 2005):
 
· Imprudência, deixando de adotar as cautelas necessárias;
· Negligência, deixando de agir com diligência;
· Imperícia, agindo com inaptidão técnica.
 
Destaca-se ainda a ideia de que muitas vezes, por desconhecimento das leis e demais regras, o administrador acaba atuando da forma que acredita ser a correta. Sendo assim, é muito importante que se busque o devido conhecimento e compreensão dos deveres a serem seguidos.
Normas
Para os administradores de sociedade anônima, a Lei n. 6.404/1976 deve ser seguida conforme o Artigo 153:
O administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios. (BRASIL, 1976)
 
No Artigo 158 da mesma lei, são explicitadas as principais normas que os administradoresdevem fazer uso durante sua atuação nas companhias:
 
Os administradores são solidariamente responsáveis pelos prejuízos causados em virtude do não cumprimento dos deveres impostos por lei para assegurar o funcionamento normal da companhia, ainda que, pelo estatuto, tais deveres não caibam a todos eles. (BRASIL, 1976).
 
Aplicações
Para que seja possível aplicar essas sanções previstas em Lei, a organização deverá recorrer à atuação da Assembleia Geral, que criará uma ação de responsabilidade civil contra aquele administrador que violar alguma regra. Sendo assim, os próprios sócios podem aplicar as regras, caso percebam que existe algum desvio em sua atuação. Na figura a seguir você pode visualizar de forma esquemática os tipos de responsabilidade civil que o administrador pode cometer.
Figura 2: A responsabilidade civil aplicada aos administradores. Fonte: Elaborado pela autora (2020).
Como você pode perceber, o administrador está sujeito a sanções e penalidades em caso de conduta incorreta no processo de governança corporativa. Para tanto, os administradores devem ter total ciência do que pode ocorrer com eles em caso de infração a alguma Lei ou Estatuto previamente entendido por ele.
 
Habilidades necessárias
Nas últimas décadas, as organizações têm percebido a importância do desenvolvimento das habilidades interpessoais e técnicas, tema que tem conquistado maior relevância. Diante das imposições dos negócios atuais, nós devemos estar preparados para os desafios cotidianos impostos pela competição organizacional.
Para que os administradores exerçam suas atividades da melhor forma possível, é necessário dispor de algumas características, como:
· Integridade;
· Capacidade de comunicação;
· Liderança;
· Competência.
A liderança, tema muito em voga nas discussões atuais, é um dos papéis mais importantes dentro de uma empresa no mundo atual. No entanto, mesmo com todas as técnicas e teorias disponíveis, muitas pessoas não conseguem obter bons resultados com sua equipe. A liderança pode ser entendida como o processo de dirigir e influenciar o comportamento de outras pessoas da equipe, levando-os a realizar determinados objetivos.
Muito em voga atualmente, a palavra competência vem sendo muito utilizada dentro e fora do ambiente empresarial. Desde o século XV, o verbo competir esteve relacionado à rivalidade, e gerou substantivos como competição, competidor e competência.
O termo é usado em contextos variados e com significados específicos. Nas últimas décadas, o entendimento das competências necessárias para determinada função ajuda a traçar o perfil esperado de alguém para desempenhá-la. Seu conceito inclui conhecimentos técnicos e gerais, além de habilidades, ou seja, conhecimento na prática e alguns comportamentos. O domínio de determinadas competências leva profissionais e organizações a fazerem a diferença no mercado.
 
Capacitação e sensibilização
A área de gestão de pessoas vem sofrendo muitas mudanças nos últimos tempos. A substituição da força de trabalho humana pelas máquinas passa por uma reformulação e nunca se precisou tanto do elemento humano dentro das organizações.
A partir do entendimento da importância de dispor de pessoas com alto valor em termos de capital humano, as empresas precisam pensar em ações sistêmicas focadas na educação corporativa e na gestão do conhecimento corporativo para transformar as pessoas em talentos.
É essencial ressaltar neste ponto que todas as pessoas são importantes e o seu conjunto forma capital humano. O capital humano “é conceituado como o somatório dos conhecimentos, das habilidades e capacidades das pessoas que geram valor econômico para a empresa” (PONTES; SERRANO, 2005, p. 13).
Quanto melhor o capital humano da empresa, maior será o seu diferencial competitivo no mercado. É essencial que os gestores entendam que o somatório de boas estratégias e de capital intelectual resultará no sucesso da organização.
 
 
Atividade extra
Agora que você já aprendeu sobre o Conselho de Administração, que tal entender como ele pode auxiliar na inovação das organizações? Assista a esse vídeo para saber mais: https://www.youtube.com/watch?v=5a4T496kyvk
 
Referência Bibliográfica
ALVARES, E.; GIACOMETTI, C.; GUSSO, E. Governança Corporativa: um modelo brasileiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
ANDRADE, A; ROSSETI, J. P. Governança corporativa. 4a Ed. São Paulo: Atlas, 2009.
IBGC. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br>. Acesso em: 02 set. 2021.
OLIVEIRA, D. P. R. Governança Corporativa na prática. 1a Ed. São Paulo: Atlas, 2006.
SILVA, E.C. Governança Corporativa nas Empresas. São Paulo: Atlas, 2006.