Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CERIMONIAL, PROTOCOLO E ETIQUETA CAPI�TULO 1 - IMPORTA� NCIA DO CONHECIMENTO NA FORMAÇA� O DO PROFISSIONAL Licia Egger / Silvia Barreto Valente / Paula Aparecida Luccato Introdução Falar em civilidade é falar de um conjunto de formalidades que devem ser observadas pelos cidadãos que convivem num determinado agrupamento social, quando se relacionam entre si. Diz respeito a educação, boas maneiras, delicadeza, atenção, cortesia, etiqueta, polidez. A palavra urbanidade não é menos abrangente e signi�icativa e diz respeito ao que é urbano, da cidade, ao que é delicado, civilizado e polido. E etiqueta, por sua vez, diz respeito a regras de bom comportamento. O casamento de civilidade, urbanidade, etiqueta e ética pode traduzir o que chamamos de um modelo ideal de comportamento social para o mundo que estamos tratando para o futuro. E sugere que este talvez venha a ser um caminho melhor para o convı́vio humano nas grandes e pequenas cidades. Conviver em grupo demanda atitudes que demonstram receptividade, boas intenções e valores morais bem de�inidos. Hoje, pode-se dizer que qualquer uma dessas palavras aplicadas ao cotidiano das nossas relações sociais se traduz naquilo que é contemporâneo ou que está na moda. Pensar no Outro e no que é compartilhado com o Outro, é pensar em tudo que faz parte do ecossistema global, inclusive o homem. Pensar em civilidade, urbanidade, etiqueta e ética é pensar também em como criar um ecossistema em que a convivência humana seja preservada, é pensar em rede no futuro da humanidade. Signi�ica ainda respeitar normas de comportamento impostas pela sociedade e que levam a uma convivência melhor entre as pessoas. Um ambiente em que todos respeitam as regras de convivência social, como: a lei do silêncio, a lei antitabagismo ou da boa educação. Todos do grupo seguramente vão se sentir bem e ter qualidade de vida. O entendimento de que existem outros indivı́duos interagindo no mesmo espaço permite também maximizar o desempenho pessoal. Se o grupo respeita e entende as diferenças entre os indivı́duos, todas as interações �icam mais fáceis. Num paı́s cheio de notı́cias sobre corrupção, roubos, atentados contra a vida e desrespeito, pode parecer estranho hastear a bandeira da civilidade, urbanidade, etiqueta e ética como fatores de estrutura ao do bom convı́vio social. Mas é cada vez mais claro, pelo menos no convı́vio urbano, que o respeito às normas sociais e aos Outros é a única saı́da para uma sociedade melhor. 1.1 Agir localmente, mas pensar globalmente Saber agir diante das di�iculdades que se impõem no dia a dia pro�issional nunca foi um desa�io pequeno. Mas agora, num mundo em que as trocas entre os paı́ses se acentuam, a exposição e o choque de culturas representam um risco ainda maior para as empresas e carreiras dos pro�issionais que querem ser globalizados. Para as relações pro�issionais de caráter internacional é bom ter claro que a globalização nos tornou a todos transnacionais e planetários, entretanto, apesar da aparente massi�icação de boa parte dos gostos e preferências das pessoas no mundo, continuamos, cada um a seu modo, sendo regionais em muitas coisas. Por exemplo, para o parisiense comum comprar seus alimentos em pequenas vendas ainda é um hábito, apesar de existirem os grandes supermercados de cadeias internacionais. Para os brasileiros, domingo à noite é dia de pizza, e por aı́ vão as diferenças. Para boa parte dos pro�issionais que viajam a negócios, é prática do dia a dia aceitar as diferenças que existem entre os paı́ses, entre elas as que dizem respeito à gastronomia. De certa forma, todos aceitam com facilidade o fato de que uns nascem comendo macarrão enquanto outros, perdoem a rima, arroz com feijão. Essas e outras diferenças de percepção e comportamento, se não forem levadas a sério pelos viajantes, podem ser tomadas como profundo desrespeito pelas pessoas do local e uma ameaça às relações comerciais entre empresas. Os pro�issionais que ainda acreditam que, ao viajarem, podem impor aos an�itriões seus hábitos e costumes, podem enfrentar di�iculdades nas empresas que representam ou terão muita di�iculdade para fazer bons negócios. Para conviver bem com as diferenças, é preciso manter-se atento aos detalhes, respeitar os costumes mesmo que estes pareçam estranhos e ter muita cautela para não menosprezar o que possa de alguma forma parecer estranho. Figura 1 - Hábitos alimentares. Fonte: shutterstock, 2019. 1.2 Diferenças culturais A cultura tem tudo a ver com o modo como as pessoas dão e recebem informação e com o modo como aprendem as coisas sobre o mundo. Nisso, a comunicação vai além da tradução das palavras de uma lı́ngua para outra. Muitas vezes, os gestos, as atitudes e os costumes servem para substituir o que a linguagem não é capaz de dar conta. Para conviver com uma cultura estrangeira, é preciso, como foi dito anteriormente, muito mais do que saber bem a lı́ngua do paı́s, porque, quando a cultura e insu�icientemente compreendida, não é possı́vel apreciar e compreender as mensagens que estão subjacentes às palavras. Já o contrário é bem mais simples. Quando parceiros de negócios partilham de culturas similares, por exemplo, pessoas nascidas e criadas na América Latina ou povos de origem asiática, ou anglo saxões, dispõem de um contexto comum para a comunicação. Isso porque a comunicação é mais ampla que a linguagem; ela envolve a transmissão e a compreensão de ideias, hábitos e costumes. 1.3 Inteligência cultural Num mundo em que se tornou rotineiro atravessar fronteiras, a inteligência cultural se torna uma aptidão e uma competência essencial. O nosso etnocentrismo nos leva a julgar sempre pessoas estrangeiras que nos pareçam estranhas ou esquisitas e a julgar hábitos diferentes dos nossos. Mas a internacionalização das empresas e a convivência cada vez maior com pessoas de vários paı́ses diferentes do nosso têm obrigado a uma postura de sensibilidade e compreensão multiculturais. A cultura tem tudo a ver com o modo como as pessoas passam e recebem informação e com o modo como aprendem. Vamos clicar a seguir e conhecer melhor o conceito de cultura. VOCÊ SABIA? Etnocentrismo pode ser compreendido como uma tendência do homem em menosprezar sociedades ou povos cujos costumes divergem dos da sua própria sociedade ou povo. Cultura única De�inição de cultura Atores sociais Não existe o conceito de uma única cultura, entendendo-se que cada agrupamento humano do planeta tem a sua visão de mundo, de tempo e do que é certo ou errado. Pode-se dizer que cultura é a maneira como cada sociedade escolhe para organizar, classi�icar e praticar as suas experiências e visões do mundo. Deve-se entender que cada um dos seres humanos é um ator social que cria signi�icados e os vive no seu agrupamento humano. A área da hospitalidade é sabidamente internacional: um pro�issional brasileiro, como tantos outros, tem oportunidades de trabalho em qualquer lugar do planeta. Em São Paulo ou outra grande cidade, do Ocidente ao Oriente, as possibilidades de trabalho são muitas e exigem competência para entender e conviver com as diferenças culturais encontradas não só nos diferentes paı́ses mas também nas pessoas com diferentes visões de mundo. Nisso, o que se percebe é a necessidade para a �lexibilidade do que se pode chamar de vivência intercultural. Entendendo- se que, num mesmo espaço, podem-se encontrar trabalhando lado a lado pessoas de diferentes paı́ses e continentes, numa mistura simultânea de culturas e hábitos jamais pensada. Para conviver em ambientes interculturais sem di�iculdades, é preciso lançar mão de uma forma de relacionamento que ultrapasse as barreiras impostas pelas meras diferenças e deixar-se guiar também pela percepção das sutilezas e delicadezas que precisam envolver os relacionamentos e os comportamentos internacionais. A formação de caráter transcultural e as competências paradar conta das exigências para os relacionamentos de caráter global não são relevantes apenas para quem pretende exercer funções pro�issionais em outros paı́ses; constituem, cada vez mais, uma aptidão para a convivência no mundo contemporâneo. Dessa forma, é preciso ter em mente que aquilo que pode ser considerado apropriado numa cultura pode ser interpretado como inaceitável noutra - e vice-versa. Eis alguns exemplos ilustrativos que você conhecerá clicando a seguir. Ser e estar no mundo As culturas são formas de ver a vida, imposições, escolhas dos signi�icados que constroem e orientam nossa forma de ser e de estar no mundo. O arroto durante e após as refeições é inaceitável em numerosas culturas, como a portuguesa. Mas na Arábia Saudita, é bem aceito. Na China, não é má educação sorver a sopa, cuspir comida para cima da mesa ou para o chão, palitar-se com os dedos, arrotar, etc. Na Arábia Saudita, a concordância é veiculada através do aceno da cabeça de um lado para o outro. A discordância é transmitida inclinando a cabeça para trás e dando um estalo com a lı́ngua. Os dinamarqueses desconfiam de pessoas que gesticulam muito e também encaram o gesto de fazer um círculo com o indicador e o polegar como sendo insultuoso. Consequentemente, "mais vale não usar linguagem gestual." • • • • Numerosas culturas China Arábia Saudita Dinamarca Conheça, a seguir, um exemplo da ideia do tempo e como esta ideia diferenciou culturas. Na Bélgica, também é recomendável evitar gesticular muito. Não se deve apontar para ninguém. O gesto de estalar os dedos das duas mãos é considerado ordinário. Fazer um círculo juntando as pontas dos dedos polegar e indicador pode representar um "zero" em Portugal, mas significar O.K nos Estados Unidos. No Brasil, na Rússia, na Espanha, na Guatemala, na Argentina e no Paraguai é considerado um gesto ordinário. No Japão significa "cinco", podendo ser usado para informar preços e fazer pedidos. O ato de assoar o nariz em público pode ser considerado grosseiro no Reino Unido. No México, falar com as mãos nas ancas é considerado um ato de desa�io. Tal como noutros paı́ses, falar com as mãos nos bolsos corresponde a malcriação. • • • • Bélgica Vários países Reino Unido México CASO A ideia do tempo como gramática cultural foi explorada pelo antropólogo Edward Hall, que diferenciou culturas monocrônicas versus policrônicas. Nas monocrômicas (paıśes do Norte da Europa, Japão, Estados Unidos), prevalece uma visão �ixada do tempo. E� suposto, por exemplo, que uma reunião marcada para determinada hora seja iniciada pontualmente. A reunião tende a seguir uma agenda pela qual os participantes se guiam. Além de hora para começar há também hora para terminar - para que a reunião não implique a di�iculdade para cumprir outros compromissos assumidos pelos participantes. Nas culturas policrônicas, o tempo assume uma natureza mais "elástica". E� mais �lexıv́el, maleável e ajustável, menos ditado por agendas e mais sujeito ao sabor dos acontecimentos. A reunião não começa na hora, mas "por volta" dela. Não existe uma agenda, não é de�inida uma hora de termino, o que signi�ica que é prudente, quando negociando ou trabalhando nesses paıśes, não assumir outros compromissos em outros horários. Os assuntos vão �luindo durante a reunião e, com frequência, acontecem varias sub-reuniões que tomam lugar dentro da mesma reunião. Esse modo de funcionamento tende a parecer desorganizado e ine�iciente para uma pessoa proveniente de uma cultura monocrônica. 1.4 Competência social A falta de recursos sociais durante a formação de um pro�issional não justi�ica, nos dias de hoje, o desconhecimento de regras e comportamentos que venham a colaborar para a construção de uma imagem positiva para tudo o que se relacione ao nome da organização para a qual trabalha. Cada vez mais, a exposição a novas experiências de caráter sociopro�issional habilita os pro�issionais para as necessidades globais de atuação. Competência Social é a reunião de todos os conhecimentos, não técnicos ou de aplicação prática, para o desempenho de uma pro�issão e que são adquiridos nas interações entre as pessoas nas diversas situações ao longo da vida social e pro�issional. (MOELLWALD, 2011, p. 15). Saber comportar-se adequadamente e ter atitudes de respeito e consideração com as pessoas que interagem conosco no ambiente de trabalho é tão importante na construção de uma carreira que universidades de porte estrangeiras e algumas nacionais se adiantaram em levar para os bancos de suas escolas o que é avaliado a peso de ouro pelas empresas globalizadas: o conhecimento de Competência Social. Isso porque, mais do que nunca, as transações cada vez mais complexas exigem pessoas com referências sociais globalizadas e aptas a assumir e a acessar toda uma rede de pessoas, comportamentos e valores tão complexos quanto os negócios nos quais estarão envolvidas. Na hospitalidade vemos essa exigência quando se imagina, por exemplo, um formando brasileiro que segue para qualquer parte do mundo em busca de experiência pro�issional. A vivência fora do paı́s de origem, de modo geral, possibilita à pessoa o convı́vio com colegas de trabalho de outras partes do globo, bem como clientes com hábitos e culturas (sociais, polı́ticas, econômicas) diferentes dos nossos. A exigência de capacitação social maior do que em outros tempos é uma necessidade própria da globalização e nos permite dizer que cada pro�issional trabalha como embaixador de si mesmo, de sua empresa e do seu paı́s de origem, em diferentes situações, tanto do cotidiano quanto da vida pessoal. E, como tal, os conhecimentos sociais também devem, necessariamente, ser maiores e mais complexos que os do passado. Hoje, quem atua no mercado de trabalho ou está em viagem de lazer pelo mundo deve conhecer as práticas sociais que permitam ampliar a possibilidade de resultados positivos para a organização para a sua carreira e, em caso de viagens particulares, para si próprio. Figura 2 - Formandos em busca de experiência pro�issional. Fonte: shutterstock, 2019. 1.5 Competência social e a vida prática Na vida prática, os pro�issionais precisam usar a mesma polidez e bons modos esperados para as relações sociais. Para tanto, saber se comportar, comer corretamente, começar uma conversa ou simplesmente vestir-se de forma adequada dentro e fora do ambiente de trabalho é fator relevante. Da mesma forma, exige-se de quem busca a aventura de conhecer novos lugares do mundo a compreensão para as diferenças culturais que se impõem para quem deseja desfrutar plenamente de novas experiências. Torna-se importante lembrar que, mesmo nas situações de viagens, de trabalho ou de lazer, estamos constantemente compartilhando momentos, ainda que só de passagem, com pessoas que têm potencial para se tornar parceiros de trabalho, clientes ou simplesmente conhecidos. Assim, apresentar-se de forma adequada (trajes, jeito de falar e etiqueta) é sinal de equilı́brio, boa percepção da realidade e competência. Isso, nas mais diferentes situações sociopro�issionais ou de lazer em qualquer lugar do mundo em que em qualquer do mundo em que nos encontremos. O mesmo se pode dizer sobre a importância da erudição, que com certeza colabora para encantar e cativar pessoas em qualquer lugar. Figura 3 - Comportamento envolve diferentes fatores. Fonte: shutterstock, 2019. 1.6 Paradoxos da vida profissional (competir X trabalhar em equipe) No caso do ambiente pro�issional, quando um jovem começa a trabalhar, é preciso estar preparado para três desa�ios que invariavelmente se apresentam: trabalho árduo, expedientes longos numa rotina operacional cansativa que não aceita pequenos erros e a exigência de saber trabalhar em equipe. Vamos conhecer melhor esse desa�ios clicando a seguir. Trabalho árduo A pressão e o tempo O trabalho árduo e expedientes longos sãoconhecidos e esperados até mesmo para os iniciantes, mas o trabalho em equipe é a peça fundamental para o bom desempenho em todos os setores de hospitalidade. Porém, é preciso que se compreenda que sem ele é impossı́vel qualquer tipo de atividade realizada plenamente e com qualidade. A pressão e o tempo fazem parte das exigências globais e do cotidiano de todos os pro�issionais da área de hospitalidade e seria impossı́vel eles serem bem-sucedidos sem o comprometimento de cada um envolvido no trabalho. E� ilusão acreditar que uma pessoa sozinha tem competência para atender a todas as necessidades de uma empresa. Mas, nas relações de trabalho, apesar de se apresentarem muitas vezes como um verdadeiro quebra-cabeças, as situações podem ser resolvidas, geralmente, com Competência Social. O reconhecimento de que, se usarmos de ética e de civilidade, será possı́vel obtermos resultados positivos de ambos os lados, colabora para alcançarmos o sucesso. Atritos Crescimento pro�issional No entanto, na prática, percebemos através de varias histórias corporativas a di�iculdade de se colocar pessoas trabalhando juntas sem haver algum tipo de atrito. Mas um fato torna a questão ainda mais complexa, quando pensamos em como as pessoas podem se destacar do grupo mostrando que são especiais e ao mesmo tempo mantendo o bom relacionamento com a equipe. A ideia de crescer pro�issionalmente e ser visto aos olhos dos superiores e pares como o melhor, mais rápido, mais concentrado e mais cuidadoso, mostrando o talento individual sem ferir as regras de etiqueta e ética é, sem sombra de duvidas, o maior desa�io de se trabalhar em equipe. 1.7 Percepção e comportamento Percepção é o que nos permite entender o que está acontecendo a nosso redor e serve para nos posicionar a respeito das pessoas que interagem conosco nas mais diversas situações dos lugares e coisas que de alguma forma experimentamos. Sem a capacidade de perceber, seria impossı́vel entender para que servem as coisas, quem é bom ou ruim, con�iável ou não e, o mais importante, se há risco no que vamos fazer, cheirar, comer ou colocar a mão. A percepção é responsável pela primeira impressão que temos de uma pessoa ou lugar, mas em determinadas circunstâncias ela também pode ser cruel e até nos enganar. Embora seja importantı́ssima a percepção para que possamos entender o mundo em que vivemos, ela foge constantemente do nosso controle e, o pior, acaba comandando e até contaminando as nossas sensações e o entendimento da realidade. Muitas vezes somos levados erroneamente a determinar o que gostamos ou não, achamos certo ou não baseados unicamente na percepção que nem sempre condiz com a realidade dos fatos. Por exemplo, se uma pessoa teve uma experiência negativa num restaurante japonês, é provável que tenha restrições a esse tipo de restaurante, ainda que os outros sejam excelentes. O mesmo acontece com relação a outras pessoas, lugares, acontecimentos, etc. Uma experiência ruim com uma pessoa vestida com roupas azuis, inconscientemente, pode determinar, por incrı́vel que pareça, se vamos ou não gostar de pessoas com roupas azuis por toda a vida. Exagero? Pois é assim que funciona a percepção humana. Esse processo se estende para todas as áreas que envolvem a vida e tem importância vital na atuação pessoal e pro�issional de todos nós. Não somos apenas nós que percebemos as pessoas, elas também fazem uso dos mesmos processos cerebrais para nos perceber e perceber o que fazemos. Por isso é que muitas vezes podemos nos sentir vı́timas de incompreensão ou de menosprezo sem que nada tenha sido feito para isso. ATENÇA� O: o mais desa�iador, além de compreender e aceitar o que acontece com os processos perceptivos em cada um de nós, é entender e aceitar o fato de que os controles sobre a percepção do Outro são mı́nimos. Ou seja, temos praticamente nenhuma possibilidade de atuar para modi�icar o que as pessoas podem ou não pensar a nosso respeito num primeiro momento. A percepção atua em duas medidas. Clique a seguir para conhecê-las e também conheça um exemplo delas. Figura 4 - Percepção. Fonte: shutterstock, 2019. Percepção ativa Aquela sobre a qual não é possı́vel ter nenhum controle, uma vez que é determinada pelas experiências passadas. Considera-se que todos os acontecimentos que marcaram positiva ou negativamente uma pessoa podem acabar in�luenciando sua visão e sua versão da realidade. Na vida pro�issional a atenção para o olhar do Outro deve ser uma constante, pois todo trabalho ligado a área da hospitalidade é baseado nos registros sensoriais, bem como no atendimento das necessidades de cada uma das pessoas que nos procuram, como: gostos, vontades, conhecimento, informação, religião, cultura, história, entre outras possibilidades que ajudam a compor um contexto ideal para a boa percepção. Percepção de contexto Já a Percepção de Contexto é a nossa única chance de atuar para conter os processos perceptivos que podem depor contra nós. Diz respeito ao lugar em que a pessoa está inserida é à adequação dela ao cenário. Exemplo de contexto Num casamento religioso não se espera a noiva vestida de preto ou o noivo de fantasia de carnaval sem um motivo muito especial. O contexto exige, se o casamento for tradicional e no Brasil, que a noiva esteja vestida de branco e o noivo vestido com terno escuro ou fraque. Dessa forma, se todos os envolvidos neste casamento forem brasileiros, terão a percepção correta de um casal feliz casando-se. 1.8 Os 5 sentidos humanos A percepção tem como referência para buscar dados os cinco sentidos - visão, audição, tato, paladar e olfato -, que são os únicos meios de que dispomos para entrar em contato com o mundo que nos cerca e de o mundo entrar em contato conosco. Por isso, não podemos deixar de levar em consideração a importância dos sentidos quando interagimos com pessoas nas mais diferentes situações. Clique a seguir para conhecer melhor os sentidos. O sentido da visão é responsável por 75% do que percebemos do meio ambiente no qual atuamos, e a capacidade do nosso campo visual é perto de 180 graus. Conseguimos mudar o foco de visão em milésimos de segundos, o que permite uma grande capacidade de defesa, de qualquer tipo de agressão que se apresente. Quando recebemos uma imagem, qualquer que seja, o cérebro vai buscar no repertório de memórias. Caso não haja nenhuma referência anterior sobre essa imagem, o cérebro busca uma explicação lógica, mesmo que ela não seja a certa. Seria muito difícil para qualquer um de nós não interpretar o que está sendo visto. Isso acontece quando a pessoa, por um motivo qualquer, perde a memória, ou seja, perde as referências anteriores sobre uma determinada coisa ou fato. Daí a importância de todos os aspectos visuais em qualquer setor da área da hospitalidade. Entende-se com isso que estamos nos referindo às questões ligadas não a organização física de um evento ou de uma hospedagem, como também a tudo que está relacionado às experiências com o local e com as pessoas que estão envolvidas naquela determinada situação. Passando a valer absolutamente tudo: sons, posturas, comportamentos, imagens e sensações para compor uma imagem positiva ou não. Pessoas que não acreditam o quanto a visão e determinante na credibilidade de um profissional ou de um contexto perdem grandes oportunidades de alcançar o sucesso desejado. Você já pensou quanto ruído interfere na percepção que temos a cerca de um local, como, por exemplo, num restaurante, ou o quanto podemos interpretar mal um pedido quando não conseguimos ouvir claramente o desejo de outra pessoa? A audição corresponde a 20% da nossa capacidade de perceber se estamos ou não num lugar agradável, ou que pode nos fazer mal. No cotidiano, a audição tem um papel fundamental nas relações que se estabelecem: 60% das reclamações em restaurantes ou eventos são focadas no barulho - do pessoal do serviço, da música escolhidapelo DJ ou da altura do som. O olfato é desenvolvido através das cavidades nasais, ligadas diretamente ao sistema nervoso do cérebro, que cria nossa percepção quanto aos cheiros. É tão sensível que poucas moléculas são o suficiente para estimulá-lo, produzindo a sensação de odor. É o veículo para a percepção de todos os odores do mundo. Este sentido é, apesar de não ser muito desenvolvido nos humanos como em outros mamíferos, muito importante para tudo o que diz respeito à alimentação e à afetividade. É através do olfato que discriminamos a qualidade ou não de um determinado vinho, o que uma pessoa fez recentemente, a combinação harmoniosa ou não para um determinado prato - tudo sentido pelo olfato. Nos eventos, e na área da hospitalidade de modo geral, é fácil pensar na importância do olfato. Muitas vezes, nos esquecemos do quanto o olfato pode impressionar bem ou mal os envolvidos num determinado ou os relacionamentos. Ficar atento ao potencial desse sentido nos ambientes e lembrar o quanto essa competência humana impacta na percepção positiva dos ambientes e pessoas. • • • Visão Audição Olfato Num salão em que acontece um determinado evento, é preciso pensar o olfato estrategicamente, por exemplo, evitando que o cheiro da cozinha, dos cozidos e frituras invada o espaço em que está sendo servida a comida. A mesma preocupação deve valer para o vestuário dos que estão prestando serviços nos eventos ou em qualquer área da hospitalidade. Não existe nada mais desconfortável e que desabone um espaço do que um cheiro desagradável em algum funcionário. É pelo toque que temos as sensações de frio, quente, seco, molhado; que percebemos texturas, formas, volumes e até testamos se o coração está batendo forte. O toque nos faz sentir o tato, um dos cinco sentidos humanos, que tem como responsável o maior órgão do corpo: a pele. O tato tem um caráter de proximidade, por isso desperta tanto sensações físicas como emocionais. É o único sentido sem o qual o ser humano não vive. Além disso, 19% do nosso peso corporal vem da pele, que serve para envolver nossos órgãos internos. Podemos ser privados de enxergar, de ouvir, de sentir cheiros ou do paladar, mas não conseguimos sobreviver sem a pele. A pele, além de nos colocar em contato com o mundo que nos cerca e ter a função de proteger nossos órgãos internos, manter a temperatura e a defesa imunológica, atua intimamente no nosso sistema psíquico (sentimentos e emoções). Para os eventos e a hospitalidade em geral, o tato deve ser estrategicamente pensado. Imagine a cena: "uma bela moça está passeando na praia vestindo biquíni e decide tomar um suco em um quiosque. Ao chegar, senta-se em um dos bancos vagos. Após 5 minutos, ela desabafa o desconforto que sente pelo fato de os bancos terem o assento de corda trançada". A atenção ao tato deve ser dada a tudo o que pode ser percebido por esse sentido, como os tecidos dos guardanapos e das toalhas de mesa, o peso dos talheres e das taças, os tapetes, as cadeiras, etc. Não podemos deixar de lado o paladar. Um dos cinco sentidos fundamentais em toda a confraternização que tenha Alimentos & Bebidas. Todo trabalho de harmonização entre pratos e bebidas busca, através desse sentido, a adequação das expectativas dos envolvidos sobre o que está sendo consumido. Por isso, as escolhas sobre o que servir devem levar em consideração não só o gosto de cada um, como também o aroma do ambiente em que acontece o serviço. • • 1.9 Conflitos de gerações Começar uma carreira é buscar, através de vários aspectos, maiores chances de sucesso é cada vez mais um objetivo a ser traçado. Para muitos estudantes, além da insegurança natural de começar qualquer atividade pro�issional, o convı́vio entre os pares no ambiente de trabalho nem sempre é fácil. Temperamentos diferentes, visões de mundo que nem sempre combinam e diferenças de idades podem atrapalhar em muito o convı́vio. Para muitos, a experiência pode ser traumatizante se a pessoa não entender que o convı́vio exige que se tenha em vista que as diferenças entre as pessoas devem ser sempre levadas em consideração, principalmente em ambiente em que interagem pessoas de gerações diferentes. A geração Y é formada por jovens pro�issionais nascidos a partir da década de 80. Considerada impaciente, in�iel e menos afeita a padrões rı́gidos de hierarquia representa um grande desa�io pro�issional, tanto para os gestores de outras gerações como para ela mesma. Tato Paladar E� formada por jovens que gostam de se vestir confortavelmente, mesmo que isso signi�ique ir de chinelo para o trabalho, usar iPod enquanto está na empresa e trabalhar sem permitir que a vida seja de�inida como trabalho. Além disso, usa a internet como o principal meio para conseguir informação e conhecimento. São os jovens que cresceram envolvidos em muita ação, estimulados por muita atividade e que acreditam ter múltiplas tarefas ou ser multitarefas. Mesmo no inı́cio da vida pro�issional, não aceitam se submeter por um longo perı́odo a trabalhos como subalternos e lutam por salários mais altos. Caso tenha se identi�icado com a descrição acima e tenha nascido a partir da década de 80, imagine só, você faz parte dessa geração de jovens. E� importante que os jovens dessa geração percebam as diferenças não somente como um dado positivo. A convivência pro�issional em qualquer setor da vida pro�issional exige harmonia e respeito, independentemente do tempo de permanência num ou outro emprego. Figura 5 - Jovens da geração Y. Fonte: shutterstock, 2019. VOCÊ SABIA? Um dado interessante: o resultado imediato dessa impaciência, segundo um estudo recente, é que os pro�issionais tendem a trocar cada vez mais de emprego. O estudo prevê que os integrantes da geração Y terão passado em media por 14 empregos quando chegarem aos 38 anos de idade. 1.10 Um pouco sobre o conceito de gerações A classi�icação das gerações é material muito usado pelo Marketing, pela Sociologia, pelo setor de Recursos Humanos e de Administração, bem como por outras áreas do conhecimento, como ferramenta para entender como as pessoas de diferentes idades percebem o mundo e atuam nele. Clique a seguir para conhecer os aspectos históricos do conceito de gerações. O conceito de gerações nasceu com Karl Mannheim, quando percebeu que a cada 15/20 anos as atitudes os comportamentos das pessoas mudavam. Ao mesmo tempo, percebeu-se que as expectativas sobre o futuro, os valores de vida, a forma de comunicarem e a forma de interagir entre as pessoas também mudavam. Esta classi�icação era comum em todo o mundo e dependia do momento histórico em que as pesso estavam vivendo e da educação que receberam da geração anterior. A classi�icação das gerações obriga-nos a pensar nos baby boomers, nome dado às pessoas nascid depois da II Guerra Mundial, entre 1945 e 1960. Esse grupo recebeu esse nome pelo "boom" (explosão) nascimentos de bebês no pós-guerra. Os baby boomers viveram a cultura dos anos 60 quando eram jovens e impregnaram o mundo mudanças de comportamentos e atitudes. Foram responsáveis por dar um basta na discriminação raci nos Estados Unidos, pela maior liberdade das mulheres e pelo melhor atendimento ao consumidor. Depois deles, vieram as pessoas da geração X, nascidas entre os anos de 60 e 75. Para alguns sociólogo como Janelle Wilson, esta geração foi considerada mais única, comparada a dos baby boomers, po cresceu com uma nova realidade social. Muitos dessa geração X são �ilhos de pais separados, viviam em casa em que homem e mulher trabalhavam fora. Assistiram ao inı́cio da decadência dos antigos padrões sociais e não tiveram medo de jogá-los para o alto. Além disso, tiveram contato com as novas tecnologias. A maioria nasceu depois da chegada do homem a Lua (1969), viu surgir o videocassete e o computador pessoal. Para as pessoas da geração X, trabalho em equipe é mais importante do que o organograma. Não são leais às empresas como eram os babyboomers, que faziam carreiras de 20 anos numa mesma empresa. Se precisassem mudar de corporação, ou abrir um negócio como um plano "B", faziam sem grandes dúvidas. Os da geração X são os executivos que estão na faixa dos 45 anos de hoje. Já os jovens nascidos na década de 80 até inı́cio de 90, os da geração Y, como apontado anteriormente, acreditam que a vida não deve ser de�inida como trabalho, apesar de se interessarem muito pela vida pro�issional. Buscam um estilo de vida e acreditam na diversidade. Recebem muita informação ao mesmo tempo e têm objetivos de curto prazo, por isso não necessariamente crescem e desenvolvem a vida pro�issional na mesma empresa. A geração Y, que exigiu mudanças na forma de as empresas atuarem junto a seus funcionários, já vem seguida pela geração Z (termo oriundo da palavra zapear). Esta geração é considerada altamente tecnológica e com caracterı́sticas que, segundo dizem os especialistas, podem novamente in�luenciar mudanças no ambiente de trabalho. • • • • • • 1.11 Convívio profissional e a diferença entre gerações Embora cada geração tenha seu modo próprio de ver e viver a vida, todas são in�luenciadas fortemente pela visão de seus pais e avós. Mesmo assim, nada é su�iciente para minimizar a estranheza que as novas gerações sentem ou causam com seus comportamentos e atitudes perante as que já estavam no mundo. De modo geral, as pessoas de outras gerações não entendem muito bem os jovens e repudiam atitudes que consideram chocantes, comportamento conhecido como choque entre gerações. Foi assim quando nasceu o Rock in Roll, os Beatles e com os cantores das gerações mais recentes. A estranheza, que muitas vezes é fonte geradora de con�litos e desentendimentos nos relacionamentos entre pessoas de idades diferentes, precisa ser atenuada principalmente pela nova geração, quando o assunto é a vida pro�issional. Apesar das diferenças no ambiente de trabalho, não importa a geração em que a pessoa nasceu, deve prevalecer um convı́vio de harmonia. Mas é preciso estar atento para o fato de que, no ambiente pro�issional, a visão, no que diz respeito ao vestuário e ao comportamento, é mais tradicional do que a vida social. Muitas atitudes e comportamentos tidos como aceitáveis e até engraçados na vida particular são repudiados no mercado de trabalho, a despeito da visão globalizada e contemporânea dos pro�issionais. As roupas pro�issionais são um exemplo clássico do quanto as diferenças entre as gerações não são fator relevante para mudança. Na área da gastronomia, por exemplo, o padrão de vestuário admitido nas cozinhas e salões é praticamente o de muitos anos atrás. O mesmo pode-se dizer para todas as pro�issões nas quais os pro�issionais precisam trabalhar uniformizados. Se nada mudou com relação ao desenho das roupas, a mesma coisa não pode ser dita das relações entre os colaboradores. Hoje, com os avanços da psicologia do comportamento e das teorias de Recursos Humanos, o relacionamento entre chefes e subalternos tornou-se mais amistoso e, de modo geral, mais saudável. Ainda assim prevalecem, com certa rigidez, as questões relacionadas com a hierarquia da equipe e o respeito profundo às demandas das funções superiores. O ditado "Manda quem pode e obedece quem tem juı́zo" continua verdadeiro. Nisso, as caracterı́sticas de cada geração devem servir como fonte de aprendizado. Aprender com os pro�issionais mais velhos e extrair-lhes os ensinamentos de anos de vida no mercado pode ser útil se olhado e adaptado aos contornos contemporâneos. Isso não signi�ica o abandono às tradições nem uma revolução dos hábitos e costumes, mas uma re�lexão sobre o que é relevante e interessante para ser adotado ou não. Figura 6 - Relações sociais no trabalho. Fonte: shutterstock, 2019. Por exemplo, muitas das regras de relacionamento entre clientes e pessoal de serviço nos restaurantes foram atualizadas. Hoje, dependendo da área de atuação, a equipe tem uma atuação mais ou menos �lexı́vel. Mas, independentemente do estilo, todos os pro�issionais devem buscar um alto padrão de desempenho e objetivar qualidade em todas as suas ações. Um evento qualquer pode receber como convidados pessoas de 60, 50 ou de 20 anos, sem que isso signi�ique uma alteração na forma de atuar da equipe organizadora ou da equipe de serviço. O comprometimento com a qualidade, apesar das diferenças de percepção de mundo, acabam por exigir também comportamentos e atitudes considerados como padrão e bem vistas pelo mercado. E é para isso que as regras de Etiqueta, Protocolo e Cerimonial são de grande valia. Sem certas regras de conduta social, que conduzem a uma percepção de serviço considerado de bom ou excelente padrão, seria impossı́vel atender às novas demandas do mercado. Hoje, o que se busca são pessoas que tenham gabarito para atuar com competência e educação exemplar. E� praticamente impossı́vel que qualquer evento ou serviço na área de hospitalidade que seja excelente, mesmo simplesinho, possa seguir com sucesso sem uma equipe quali�icada para dar um bom atendimento. Nisso, é preciso não só espaços competentes �isicamente para receber as pessoas como também pessoas que entendam a importância de sua participação na organização dos eventos ou quando estão em qualquer situação face a face com os clientes. Mais do que nunca, a delicadeza do pessoal de serviço, a atenção à linguagem e as atitudes valem ouro na composição de um panorama de sucesso. Síntese Essa unidade de estudos apresentou a importância do correto comportamento, que é atualmente exigido pelos pro�issionais na atualidade, de forma a obterem sucesso e reconhecimento. Destacou-se que ninguém vive isolado e, assim, prestar atenção às diferenças culturais e respeitá-las é crucial para o bom relacionamento. Conceitos como Competência Social e Inteligência Cultural foram apresentados. Além disso, uma abordagem sobre diferenças entre gerações �inalizou a análise sobre comportamento no âmbito pro�issional. Bibliografia DEMARAIS, Ann. A primeira impressão é a que �ica. Rio de Janeiro: Sextante, 2005. MOELLWALD, Licia. MOELLWALD, Hugo. Competência social: mais que etiqueta, uma questão de atitude. São Paulo: Cengage Learning. 2011. ROCHA, Everaldo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense. 1984. PINHA e CUNHA, Miguel; REGO, Armênia. Manual de gestão transcultural de Recursos Humanos. Portugal: RH, 2009
Compartilhar