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A RELIGIAO COMO PORTADORA DE SENTIDO

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CATÓLICA DE VITÓRIA CENTRO UNIVERSITÁRIO 
MARLON CORDEIRO GOMES SILVA
A RELIGIAO COMO PORTADORA DE SENTIDO NA VISÃO DE 
JÜRGEN HABERMAS
 
VITÓRIA 
2019
J. Habermas nasceu em 1929 na Alemanha. É um dos mais influentes filósofos do pós-guerra. Sua principal linha de pensamento é sobre a teoria da razão comunicativa. O filósofo e sociólogo defende que o agir comunicativo é capaz de conseguir um consenso, ou seja, através do diálogo racional podemos chegar a um comum acordo desde que esse diálogo siga algumas regras de não contradição, de clareza de argumentação e a “falta de constrangimentos de ordem social”. 
Agora entrando no tema do nosso trabalho para falarmos sobre a religião em Habermas ainda se faz necessário conhecer um pouco mais sobre o seu pensamento referente à religião. Segundo Portier (2013, p.60) seu pensamento “percorreu três grandes etapas, cada uma delas decorrente de um paradigma específico”.
O primeiro período citado polo autor vai até o início dos anos 1980 onde podemos notar um discurso totalmente contrario ao universo da fé marcado pela teoria Marxista herdada da escola de Frankfurt no texto o autor nos diz que: 
[...] ele apreende o religioso como uma “realidade alienante”: sustentando uma visão dualista do mundo, baseada na ideia de que a salvação extramundana é mais importante do que a felicidade intramundana, na realidade, a religião, ao longo da história, sempre teria estado a serviço dos poderosos (PORTIER, 2013, p. 60).
Podemos ver claramente a visão negativa que o primeiro Habermas tem sobre a religião dizendo que ela nunca esteve voltada para o coletivo e sim para os poderosos. Com esse discurso Habermas acredita no “desaparecimento do religioso”. E para que o mundo tenha liberdade, segundo o pensamento habermasiano, é necessário que as sociedades se desprendam do domínio da metafísica e se firmem nos recursos da racionalidade comunicativa.
A segunda etapa do pensamento de Habermas, segundo Portier, abrange os anos de 1985 a 2000 onde o filósofo substitui o seu pensamento anterior de desaparecimento pelo o da privatização. Habermas agora afirma que a religião é “indispensável na vida comum”, pois existem sofrimentos incapazes de serem respondidos somente pelo âmbito racional, mas sim pela fé. Embora ele não seja religioso, ele compreende que a religião possa exercer uma função terapêutica, uma função de consolação dentro da sociedade. Todavia, por mais que a religião esteja agora voltada para o povo, ela não deve nunca se envolver no campo político, pois a esse basta a razão secular, porque a religião está intrinsicamente ligada à particularidade não podendo assim buscar um projeto racional e universal. 
O terceiro pensamento de Habermas aponta para a instituição de uma “sociedade pós-secular”. Ele agora não acredita mais na superação e nem na privatização da religião, mas ela deve intervir na esfera social, no coletivo. Segundo Portier Habermas afirma que:
[...] a religião não é destinada a permanecer encerrada nos limites do espaço privado, mas deve intervir também na esfera social, infundindo-lhe as “intuições morais” de que são portadores os seus textos fundadores e a tradição que suscitaram (PORTIER, 2013, p. 61).
Segundo Luchi, Habermas ao falar de “sociedade pós-secular” está se referindo a uma sociedade capaz de se adaptar às comunidades religiosas racionais as quais não pretendem impor suas verdades, mas que aceitam o pensamento científico e as ideias do estado. Para melhor elucidação sobre o entendimento do que Habermas pensa sobre “sociedade pós-secular” cito José Pedro Luchi:
Ele pensa em comunidade religiosas racionais, que não pretendem impor suas verdades com violência, que aceitem a autoridade das ciências e as premissas do estado constitucional democrático, fundado numa moral profana. Esse por outro lado deve estar aberto às contribuições tanto da ciência como da religião (LUCHI, 2014, p.89).
Como podemos ver Habermas não defende mais a hipótese do desaparecimento da religião, mas sim que ela deve intervir nas questões sociais, pois como afirma Luchi “a religião é uma fonte não esgotada de recursos tanto morais como existenciais, numa sociedade em que a modernidade saiu “fora dos trilhos”.
Habermas defendeu por muito tempo que as questões relacionadas ao viver comunitário poderiam ser resolvidas unicamente pelo uso da razão instrumental. Porém, a razão nua não da mais conta de resolver todos os problemas sociais é necessário, segundo Portier (2013), “apoiar-se também nas “instituições morais”, nas “reservas de sentido” de que são portadores os sistemas religiosos.
José Pedro Luchi, Doutor em filosofia e professor da Universidade federal do Espírito Santo afirmar que:
A sagrada escritura e as tradições religiosas guardam uma especial sensibilidade para o resgate de vidas malogradas, nos seus símbolos e instituições passadas através das gerações. Oferecem possibilidades de chaves de leitura para a auto-interpretação iluminadora e resgatadora da vida pessoal e dos laços sociais feridos. Volta então o conceito de sociedade pós-secular, como uma nova consciência de que a religião não somente sobreviverá, mas manterá um papel importante na promoção do sentido e na orientação moral (LUCHI, 2014, p.90).
Habermas com o seu atual pensamento sobre o “religioso”, está querendo nos dizer que a razão nua já chegou no seu limite, não dá mais conta de justificar os acontecimentos do mundo através do discurso racional e que convém superá-lo apoiando-se no campo religioso, pois a religião é capaz de manter um discurso moral universal voltado para o coletivo independentemente de qual seja o credo religioso de cada um. A religião como afirma Luchi (2014, p. 91) é uma instância que poderia ajudar a colocar limites nas tendências destrutivas da modernidade.
“A modernização saiu dos trilhos, a tal ponto que tirou toda realidade do tipo de solidariedade que ela ambicionava promover” (HABERMAS, 2004, p. 12), ou seja, a sociedade atual não se preocupa mais com a solidariedade, penso que posso fazer uma comparação com o pensamento do segundo Habermas apresentado acima, não é mais uma privatização do religioso, mas sim do indivíduo e de seus interesses pessoais e vale lembrar que o que Habermas defende (a ação comunicativa, o diálogo racional, esse capaz de solucionar problemas através do consenso) não está dando conta justamente pela falta de solidariedade e pelos interesses pessoais de cada um.
Afirma Portier (2013 p. 65) que dentro desse discurso da modernidade, “geralmente os mais pobres não participa da discussão, o pobre é excluído do campo social”. Por esses motivos, como interesses pessoais e atentados, em especial o de 11 de setembro de 2001, fez com que Habermas mais uma vez reformulasse seu pensamento sobre a religião, a religião não mais como uma fonte a ser superada ou uma instituição privada, mas sim a religião como portadora de sentido para a sociedade que clama por igualdade. 
A religião seria essa agora capaz de reformular a ideia de solidariedade, pois “encontra-se nela todos os recursos para denunciar a alienação e reconstruir uma “ordem de vida” em que cada um recebesse o que lhe fosse devido”. (PORTIER, 2013, p. 68). Segundo Habermas “Ela apreende os sintomas de uma vida fracassada” e “constitui uma fonte de cultura da qual podem nutrir-se a consciência das normas e a solidariedade dos cidadãos” (HABERMAS, 2004, p. 18). 
Mas para Habermas a fé poderia englobar a razão? Mais uma vez cito Portier (2013, p.69). “Ele admite a que a religião deva desempenhar um papel na história, entretanto não é à maneira de Karol Wojtyla [...], ele toma a fé como um complemento da razão comunicacional, não como seu fundamento”. A fé (o religioso), está aí como um complemento da razão, essa capaz de contribuir com seu discurso moral no campo social visando sempre o universal. 
A religião como portadora de sentido seria para Habermas essa com função terapêutica para uma sociedade machucada pela desigualdade social, sendo capaz de dizer que todosnós temos os mesmos direitos, lutando por um mundo igualitário e mais humano. Luchi em sua tese de mestrado vai dizer que:
A religião [...] critica e estimula à realização terrena de ideais universalistas de que todos são iguais [...]. Religiões com horizonte universalista são promotoras de abertura e de racionalidade, fazem surgir e canalizam energias de resistência a repressões (LUCHI 1999, p. 501).
Sendo assim, podemos ver claramente a importância da religião dentro da sociedade, não como um fenômeno isolado, mas como uma instituição capaz de promover o diálogo e de lutar pelos direitos de cada cidadão independentemente do seu credo religioso, justamente pelo fato do seu discurso moral ser universal e não particular. Concluo reafirmando o pensamento de Habermas, que a religião deve sim se preocupar com o campo social e não somente com o privado enquanto instituição, favorecendo os já favorecidos pela sociedade. Ela, enquanto portadora de sentido para a vida das pessoas, deve ter sempre o seu discurso racional/moral voltado para o coletivo e nunca para o particular. 
Referências:
HABERMAS, Jürgen. Pluralisme et morale. Esprit, julho 2004.
LUCHI, José Pedro. A superação da Filosofia da Consciência em J. Habermas. A questão do sujeito na formação da teoria comunicativa da sociedade. 536 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Editrice Pontificia Universitá Gregoriana, Roma, 1999. 
______. O Lugar das religiões numa sociedade pós-secular. Discussão da perspectiva de J. Habermas. In: Wanderley Pereira da Rosa; Osvaldo Luiz Ribeiro. (Org.). Religião e Sociedade (pós) secular. 1ed.Santo André: Academia cristã, 2014, v. 1, p. 89-109.
PORTIER, Philippe. Democracia e religião no pensamento de Jürgen Habermas. Numen: Revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora, v. 16, n.1, p. 59-77, 2013. Disponível em: <https://periodicos.ufjf.br/index.php/numen/article/view/21908>. Acesso em: 13 set. 2019.

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