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Osteoartrite Tutoria 01 Definição Do universo das doenças articulares crônicas, a osteoartrite (OA) é a mais comum, e sua prevalência tem crescido em virtude do aumento da expectativa de vida da população. Embora a OA esteja ligada ao envelhecimento, ela não é considerada uma doença degenerativa, uma vez que existe um aumento considerável do metabolismo celular articular em resposta a uma agressão à cartilagem. O fator determinante do processo osteoartrítico é o desequilíbrio degradação-reparação. Nesse sentido, a OA pode ser entendida como uma insuficiência cartilaginosa decorrente de fatores mecânicos, genéticos, hormonais, ósseos e metabólicos, que acarretam uma degradação do tecido cartilaginoso com a consequente remodelação óssea e algum grau de inflamação sinovial. Epidemiologia A prevalência da OA aumenta com a idade; ela é pouco comum abaixo dos 40 anos e mais frequente após os 60 anos. Aos 75 anos, 85% das pessoas têm evidência radiográfica ou clínica dessa enfermidade. No Brasil, a prevalência da OA é de cerca de 16%. Em geral, é predominante no sexo feminino, mas há localizações preferenciais por sexo. OA já se tornou um problema de saúde pública, que atingirá cada vez mais indivíduos no Brasil, o que poderá complicar ainda mais o já sobrecarregado sistema previdenciário e de saúde. No Brasil, a prevalência da osteoartrite em uma população geral com idade média de 36 anos foi de 4,1%, chegando a 15,8% após os 55 anos. Nesse estudo, 5,5% das mulheres com osteoartrite manifestavam a doença versus 1,7% dos homens. A distribuição da osteoartrite entre os sexos é semelhante até os 40 anos. A partir de então, mulheres começam apresentar maior tendência ao aparecimento de osteoartrite de mãos, quadris e joelhos, ficando mais evidente essa diferença após os 50 anos de idade. Em mulheres verifica-se mais frequentemente a forma generalizada idiopática, com acometimento das mãos. Fatores de risco Fatores genéticos Por meio da dosagem de hidroxiprolina urinária, que há evidências de metabolismo anormal de colágeno em filhos de pacientes com osteoartrite de mãos. A concordância em gêmeos monozigóticos é maior do que em dizigóticos, e o componente hereditário do desenvolvimento da osteoartrite pode chegar à ordem de 50 a 65%. Verifica-se maior prevalência do antígeno de histocompatibilidade B8 na OA. Os genes candidatos podem relacionar-se com: ● Produção de componentes da matriz extracelular associados à osteoartrite precoce como os colágenos dos tipos II, V, VI e as COMP (proteínas oligoméricas de matriz cartilaginosa); ● Proteínas não estruturais como a asporina, a proteína friso-relacionada secretada 3 e genes do fator von Willebrand; ● Citocinas como TGF-β, interleucina-1 α e β além do antagonista do receptor de IL-1, e enzima COX-2. Os parentes de primeiro grau têm 2 a 3 vezes aumento de risco de desenvolver a doença. Idade O processo de envelhecimento da cartilagem interfere na capacidade dos condrócitos em sintetizar proteoglicanos diminuindo sua quantidade, além de propiciar alterações bioquímicas no colágeno e nos proteoglicanos, diminuindo sua qualidade. Isto torna a cartilagem mais propensa à fadiga. Além disso, diversos outros fatores associam-se ao desenvolvimento da osteoartrite com o avançar da idade como a perda de propriocepção, a redução da congruência articular e a insuficiência muscular, ligamentosa e tendínea, alterações do peso corporal levando a sobrecarga mecânica e instabilidade articular. Trauma Qualquer lesão que propicie uma perda do alinhamento osteoarticular ou instabilidade articular pode gerar ou agravar a osteoartrite. O risco relativo para o desenvolvimento da osteoartrite nos joelhos é 2,95 vezes maior nos indivíduos com história de trauma pregresso. Deformidades articulares A função articular depende fundamentalmente da congruência articular e da sua conformação espacial. A presença de uma deformidade pode gerar aumento de carga sobre um ponto específico da cartilagem contribuindo para o desenvolvimento da osteoartrite. A deformidade em valgo do joelho leva à sobrecarga lateral, e a deformidade emvaro, à sobrecargamedial. São exemplos de lesões que predispõem o aparecimento e o agravamento da osteoartrite a luxação congênita do quadril, a doença de Legg-Calvé-Perthes, a epifisiólise da cabeça femoral e as osteonecroses. Variações anatômicas podem correlacionar-se com risco aumentado de osteoartrite, como displasia acetabular e variação angular do colo femoral na OA do quadril. Obesidade Estudos comprovaram que a obesidade grau I, ou seja, indivíduos com índice de massa corpórea (IMC) entre 30 e 35 kg/m2 apresentam risco 4 a 4,8 vezes maior para osteoartrite de joelhos. O efeito da obesidade pode ser biomecânico, já que a maioria dos obesos apresenta deformidades dos joelhos em varo, causando maior sobrecarga medial e aceleração do processo. Por outro lado, existe o efeito biológico da obesidade, uma vez que adipócitos secretam mais IL-6 e proteína C-reativa, que tem atividade pró-catabólica e, portanto, potencial para causar dano a condrócitos. Vitamina D A relação entre a vitamina D e a OA recentemente tem sido objeto de muitos estudos. Em modelos animais de osteoartrite verificou-se uma ação protetora da vitamina D em fases iniciais, mas não na OA avançada. No ser humano existem controvérsias sobre a relação entre a vitamina D e a osteoartrite. Deficiência de estrógeno O estrogênio possui diversos efeitos na cartilagem, como aumento da produção de prostaglandinas por condrócitos, diminuição de NF-κB, iNOS, COX-2 e espécies reativas de oxigênio. Regula ainda o cálcio dentro do condrócito e no osso subcondral, modulando o crescimento e o remodelamento ósseos, a função e o desenvolvimento de osteoblastos, a mineralização e a produção de matriz, entre outros efeitos. No maior estudo a respeito, houve menos artroplastias, em especial de quadril no braço que recebeu apenas estrogênios, sugerindo efeito protetor. Atividade física Determinadas posturas, o uso excessivo de alguma articulação ou a sobrecarga articular decorrente de alguma atividade física, laborativa ou não, podem gerar ou agravar quadros de osteoartrite. São exemplos de profissões associadas à presença de osteoartrite de mãos (em especial de interfalangianas distais), como as relacionadas com a indústria têxtil e trabalhadores braçais em geral. Relacionam-se com a osteoartrite de joelhos profissões que exigem agachamento. Trabalhadores rurais são mais propensos a apresentar osteoartrite de quadril. Verifica-se maior previdência de osteoartrite em atletas de elite, até mesmo em articulações não envolvidas diretamente à prática esportiva específica, trazendo atenção para o aparecimento da doença em esportes demasiado competitivos. Traumas tanto micro quanto macroscópicos têm relação com o aparecimento e progressão da doença nestes casos. Fisiopatologia A osteoartrite desenvolve-se de um modo geral por um desacoplamento entre síntese e degradação do tecido cartilaginoso, que compromete as propriedades físico-químicas do tecido. A cartilagem constitui-se de uma matriz extracelular que responde por cerca de 95% de seu volume total, e de condrócitos e condroblastos, que ocupam os outros 5%. A matriz cartilaginosa é formada por uma rede de proteoglicanos capaz de atuar como uma mola biológica. Os proteoglicanos são formados por grupamentos denominados agrecanos, que se ligam ao ácido hialurônico. A rede de colágeno da cartilagem responde pela resistência e compactação, permitindo a interação célula-matriz. Cerca de 90% do colágeno total é composto pelo colágeno tipo II, sendo o restante formado pelos colágenos dos tipos XI, IX e VI. Na cartilagem em crescimento há também colágeno tipo X. Verifica-se um constante turnover dos elementos da matriz que, apesar de ser um processo lento, permite a reciclagem permanente do tecido. No processo de regeneração da cartilagem lesionada há a substituição por uma fibrocartilagem rica em colágenos dos tipos I, III e V, o que comprometeas propriedades ideais necessárias de resistência e elasticidade do tecido. O condrócito exerce o papel principal no processo de renovação da cartilagem. Esta célula é dotada da capacidade de elaborar moléculas de acordo com a demanda biomecânica por meio da ação de mediadores anabólicos e catabólicos. A atividade catabólica da cartilagem é dependente da ação de citocinas, em especial da interleucina-1 (IL-1) e do fator de necrose tumoral a (TNF-α), sintetizados pelos condrócitos e pela membrana sinovial. Outras interleucinas, como a IL6 e a IL8, também participam do processo. Elas induzem a produção e a ativação de metaloproteases (em especial a MMP-13 que degrada o colágeno tipo II), através da elevação do plasminogênio e de seus ativadores e pela diminuição dos inibidores teciduais das metaloproteases (TIMP) e do inibidor do plasminogênio, ambas proporcionam uma diminuição da síntese de elementos da matriz ou modificam o padrão normal de sua produção. A IL-1, em sua ação nos condrócitos, inibe a produção dos colágenos dos tipos II e IX e aumenta a dos tipos I e III, reparando a matriz de maneira inapropriada. O comprometimento da cartilagem manifesta-se pela formação de ondulações e soluções de continuidade na superfície (fibrilações e erosões). Ocorre progressivamente a perda da espessura da cartilagem e a exposição do osso subcondral, que, em resposta a sobrecargas, hipertrofia-se e gera metaplasia óssea encondral, formando os osteófitos. Na sequência, ocorre o desprendimento de microfragmentos da cartilagem que são fagocitados e geram inflamação sinovial, liberando mais citocinas e enzimas proteolíticas que agravarão o processo de degradação da cartilagem. Microscopicamente a alteração inicial é o aumento do conteúdo de água na matriz, causado por roturas na rede colágena que predispõem a uma maior retenção de líquidos pelos proteoglicanos, que são altamente hidrofílicos. Há, então, uma ativação metabólica condrocitária em especial junto às regiões de fibrilação, onde há hiperplasia e hipertrofia celular, formando-se grupamentos de condrócitos. Em uma fase subsequente, ocorre uma depleção de proteoglicanos que provoca uma redução do grau de hidratação da matriz. No final do processo há depressão de condrócitos e aparecem áreas acelulares na cartilagem. Etiopatogenia (Classificação) OA pode ser considerada uma via final comum de uma série de agravos articulares, configurando verdadeira constelação etiológica. Na OA primária, sua causa ou é desconhecida (idiopática) ou indivíduo manifesta essa patologia por conta de uma alteração genética que justifica o quadro, como, por exemplo, a alteração do gene para o Col-2A1 (da cadeia alfa-1 do colágeno tipo 2). Tal mutação provoca um desbalanço no metabolismo do colágeno, manifestando o quadro de OA. As OA secundárias podem se iniciar a partir da própria cartilagem (alterações estruturais do tecido de origem genética), da membrana sinovial ou sinóvia (artrite reumatoide e doenças similares) ou do osso subcondral (doença de Paget e osteopetrose). Sinovites podem atuar sobre a cartilagem, erodindo-a por meio de mecanismo enzimático direto ou da ação de mediadores, como citocinas capazes de modular a ação do condrócito. Como o osso subcondral participa também da absorção de impactos, seu enrijecimento pode fazê-lo perder sua competência funcional e, assim, reduzir sua proteção à cartilagem, facilitando sua degradação. Quadro clínico As OA secundárias são geralmente mono ou oligoarticulares, sendo menos comuns os quadros poliarticulares; as formas idiopáticas são habitualmente poliarticulares e comportam alguns subgrupos: OA generalizada, OA nodal, OA nodal erosiva e condromalácia de patela. Certas localizações são preferencialmente femininas (mãos); outras são mais comuns nos homens (coxofemorais). Coluna cervical e lombar, joelhos, mãos, coxofemorais e pés são frequentemente comprometidos; mais raramente e, em geral, de forma secundária a trauma e outras causas, são acometidos punhos, cotovelos, ombros e tornozelos. As OA, como regra, não apresentam manifestações sistêmicas, nem mesmo quando os quadros são poliarticulares. A dor é o principal motivo que leva o paciente a procurar ajuda médica. Dor A dor da OA se associa a sono deficiente, fadiga, mudanças de humor e deterioração da qualidade de vida. Os pacientes com frequência atribuem a dor crescente e a rigidez a mudanças climáticas, particularmente mudança na pressão barométrica e na temperatura ambiente. As três escalas de dor mais comumente usadas são a escala de Likert de cinco pontos (0 5 nenhuma, 1 5 branda, 2 5 moderada, 3 5 grave, 4 5 muito grave), a escala analógica visual de 100 mm (de 0 mm 5 nenhuma dor a 100 mm 5 a máxima dor possível) e a escala de graduação numérica de 11 pontos (de 0 5 nenhuma dor a 10 5 o máximo de dor possível). Ela tende a ser mais grave pela manhã, nos fins de semana e no início da semana de trabalho. A dor é complicada pela presença de sofrimento psicológico coexistente ou induzido, como depressão. A dor é também influenciada por ansiedade e ganhos secundários. Existe processamento alterado da dor central na OA, caracterizado por uma sensibilidade maior generalizada à dor em resposta a estímulos experimentais. Rigidez Rigidez pode ser definida como a sensação de inchaço e lentificação da articulação envolvida que geralmente ocorre após inatividade, como pela manhã ou ao se levantar após se sentar por um período prolongado. Em geral, a rigidez dura apenas alguns minutos e quase sempre menos de 30 na OA. A rigidez na OA geralmente se restringe às articulações sintomáticas. Outros sintomas O paciente pode ter uma sensação de plenitude e inchaço na articulação. Pode existir sensação de calor associada. A inflamação das articulações de sustentação de peso se associa a distúrbio da marcha, espasmo muscular aumentado. Não é incomum para o paciente com função do joelho direito deteriorada (talvez com dor) ter dificuldade com o quadril esquerdo e vice-versa. A inatividade secundária à dor pode ocasionar fraqueza significativa e pode ser composta por atrofia de músculo periarticular. Os pacientes podem se queixar de aumento das articulações da mão e do joelho. Podem se queixar também de deformidade crescente dos joelhos, como joelho valgo ou varo. Pode existir uma sensação de estalido ou de crepitação com o movimento da articulação, e essa crepitação pode se associar à dor. Marcha A OA das articulações de sustentação de peso causa padrões de marcha alterados, principalmente em decorrência de uma tentativa consciente ou inconsciente de proteger a articulação. O índice de massa corporal crescente altera a adução, flexão e os momentos de rotação do joelho durante a marcha, com mudanças adicionais no momento de flexão do joelho e no ângulo de flexão. Inchação articular Pode existir aumento da articulação por sinovite, derrame sinovial ou aumento ósseo. Em geral, os derrames são frios ou ligeiramente quentes à palpação. O derrame da articulação interfalângica distal (IFD) pode apresentar-se como uma herniação cística; a aspiração com frequência revela um material tipo geleia reminiscente de um cisto ganglionar. O aumento de volume articular por um derrame frequentemente ocasiona redução de sua amplitude de extensão. Osteoartrite interfalângica da mão, com herniação cística da quinta articulação interfalângica proximal. Crepitação Pode ser ouvido rangido, crepitação ou estalido na articulação com OA. A crepitação é causada pelo movimento de superfícies irregulares umas sobre as outras e é mais bem demonstrada com movimento ativo da articulação. Isso contrasta com o “estalido” benigno das articulações interfalângicas proximais (IFP) que ocorre quando superfícies de cartilagem lisas são separadas, o que cria um som de vácuo com a liberação de gás nitrogênio. Limitação domovimento Pode existir perda de função com movimento reduzido como resultado de dor, sinovite/derrame, ou contraturas do tecido mole periarticular. Deformidade Pode existirdeformidade em qualquer das articulações periféricas com OA. Entretanto, ela é mais notável nas articulações interfalângicas das mãos com aumento e subluxação, na primeira articulação CMC, nos joelhos (deformidade de varo/valgo) ou nos quadris (membro encurtado). Instabilidade O exame da amplitude de movimento pode revelar instabilidade em vários planos de movimento. Características específicas de cada região Ombro A dor no ombro algumas vezes é relacionada com OA glenoumeral. A dor é tipicamente contínua e localizada e se associa a extremos de movimento ou ocorre após atividade do ombro. Em geral, a OA do ombro coexiste e é difícil diferenciá-la de outras anormalidades (p. ex., anormalidades do manguito rotador, capsulite adesiva, labrum e bursite). Uma artropatia destrutiva peculiar (ombro de Milwaukee) se associa à dor persistente no ombro, grandes derrames sinoviais e demonstração de uma variedade de cristais de cálcio do líquido sinovial. A OA da articulação acromioclavicular pode produzir dor, a qual pode agravar-se com sustentação de peso ou outras atividades estressantes. O aumento indolor das articulações acromioclavicular e esternoclavicular comumente se associa a movimento reduzido do ombro. Mãos Os pacientes com frequência têm alargamento dos dedos que podem ou não ser dolorosos. O exame demonstra aumento de tecido duro (ósseo) e deformidades das articulações interfalângicas. Pode existir sensibilidade e ocasionalmente outros sinais de inflamação. Com frequência existe perda parcial de amplitude de movimento e subluxação. As articulações IFD são tipicamente envolvidas, com aumento ósseo lento em um período de anos (nódulos de Heberden). Os nódulos de Heberden são mais comumente sintomáticos em mulheres do que em homens. Em mulheres eles costumam aparecer em torno da menopausa. O envolvimento da segunda e terceira IFD é particularmente comum. Os aumentos costumam ser mais graves na mão dominante. Frequentemente existe deformidade associada, com desvios radial, ulnar, ou palmar. Uma subluxação predominantemente palmar pode dar a aparência de dedo em marreta. Pode existir inchaço agudo da articulação IFD, com herniação cística da cápsula. Com frequência existem mudanças associadas de tecido duro e/ou mole nas articulações IFP (nódulos de Bouchard) e mudanças erosivas ósseas centrais ao raio X. As deformidades das articulações IFP são particularmente comuns. A segunda e a terceira articulações IFP são mais comumente envolvidas. A OA da primeira articulação CMC (trapeziometacárpica e trapezioescafoide) é comum. Existe uma tendência para o desenvolvimento de osteófitos na superfície ulnar distal do trapezoide, associada à subluxação radial da cabeça proximal do primeiro metacarpo. Isso dá à base do polegar uma aparência clínica “quadrada” ou “nodosa”. A gravidade da OA da mão se associa a força de preensão e pinçamento reduzidas. Quadris Os pacientes com OA do quadril com mais frequência têm dor na virilha ou na região anterior do quadril que se irradia para a coxa. A dor ocorre no início da deambulação e sustentação do peso e é reduzida ou aliviada com repouso. Com frequência, o exame revela dificuldade em se levantar da posição sentada, marcha alterada de modo antálgico e amplitude de movimento reduzida no exame, com dor ao movimento, particularmente rotação interna. A OA do quadril é mais comumente associada a início insidioso de dor (malum coxae senilis, coxartropatia). A OA do quadril se associa à marcha antálgica, em que o paciente desloca o peso ao caminhar para reduzir a dor. Existe perda de extensão que com frequência não é percebida. A perda da flexão e rotação do quadril é observada pelo paciente devido à dificuldade de calçar meias ou sapatos. Quando grave, a contratura de flexão se associa a claudicação proeminente. A OA grave do quadril se associa a perda da rotação interna (menos de 15 graus) no exame. O sinal de Tredelenburg pode estar presente: ficar de pé sobre a extremidade envolvida provoca uma queda no quadril contralateral por fraqueza dos abdutores do quadril ipsilaterais. A dor no quadril precisa ser distinguida de dor da coluna lombar referida, bursite trocantérica, meralgia parestética, necrose avascular, osteoporose transitória do quadril, impacto femoro/acetabular, laceração do labrum e fraturas do quadril não deslocadas, que podem ser difíceis de detectar na radiografia rotineira. Joelho Os pacientes com frequência experimentam um início insidioso de dor na área do joelho, particularmente durante a sustentação de peso e ao subir escada (gonartrite). O paciente pode referir inchaço do joelho e/ou deformidade de varo/valgo. Quando presentes, os derrames são geralmente frios à palpação. Pode existir aumento de temperatura e sensibilidade, mas é incomum a vermelhidão. A função reduzida pode dever-se a uma contratura em flexão (também conhecida como hiato de extensão, a incapacidade de estender para 0 grau) e algumas vezes uma contratura em extensão (perda de flexão com incapacidade de flexionar para 115 graus). A contratura de flexão é observável devido à claudicação proeminente. A crepitação ao movimento é detectada melhor no movimento articular ativo. Ocasionalmente pode existir distensão da bolsa semitendinosa poplítea (cisto poplíteo ou de Baker). Também pode existir herniação ou ruptura da bolsa para a coxa ou perna (cisto herniado ou poplíteo rompido). Osteófitos marginais, corpos livres intrasinoviais (joint mice) ou corpos móveis (osteocondromas), podem ser palpáveis. A redução medial do espaço articular (distância radiográfica interossos) pode ocasionar ou agravar a deformidade em varo, enquanto o estreitamento lateral do espaço articular pode ocasionar uma deformidade de valgo. Com frequência existe fraqueza e atrofia do quadríceps associadas. A OA do joelho pode associar-se à dor na margem articular medial distal (bursite anserina na inserção do tendão da pata de ganso na tíbia). Isso é particularmente comum no idoso com deformidade em varo significativa. Tanto o mau alinhamento varo quanto o equilíbrio ao ficar de pé se correlacionam com a gravidade da OA do joelho. Pode ocorrer redução da propriocepção no joelho contralateral. Pode ser difícil determinar as lacerações meniscais no exame físico dos pacientes com OA do joelho. O teste de McMurray positivo é o único preditor verdadeiro da laceração meniscal instável. A deficiência do ligamento cruzado pode ser detectada pelo sinal da gaveta anterior ou posterior. Nas apresentações com hemartrose aguda, deve-se suspeitar de lesão do ligamento cruzado. A OA femoropatelar adulta não é comumente sintomática. A dor anterior no joelho é agravada ao sentar-se em cadeiras baixas (p. ex., em cinemas). Existe uma variante de OA femoropatelar em mulheres jovens (condromalacia da patela) que produz dor anterior no joelho. Em geral, os sintomas da OA femoropatelar são autolimitados, curando-se em um período de vários meses; alguns pacientes experimentam melhora após um curso de fisioterapia patelar. A OA do joelho pode associar-se a vários graus de osteonecrose espontânea subcondral do joelho. Suspeita-se disso nos pacientes com início abrupto de dor particularmente grave refratária à terapia usual. Tornozelo Em geral, a OA talonavicular e subtalar é secundária a traumatismo com ou sem lesão ligamentosa ou a uma fratura antiga do tornozelo. Os pacientes se queixam de dor no tornozelo ao sustentar peso. O exame revela inchaço do tornozelo. Pés Os pacientes com OA dos pés com mais frequência apresentam dor na primeira articulação metatarsofalângica (MTF), em particular ao caminhar. O exame comumente revela uma articulação aumentada, com subluxação medial e desvio lateral do grande artelho (deformidade do joanete). Às vezes existem sinais de inflamação na articulação envolvida, com sensibilidade e perda de dorsiflexão. Pode existir perda de função da primeira MTF (hálux rígido), geralmente ocorrendo sem inclinação do grande artelho, mas limitando o artelho durante a deambulação.Nessa condição, o aumento articular geralmente é dorsal. Com frequência existe inchaço doloroso e sensível das articulações do pé. O pé plano, com relaxamento do ligamento transtarsal e uma deformidade do pronador do antepé, agrava os sintomas. O paciente pode ter dificuldade para calçar determinados tipos de sapatos, particularmente de saltos altos. Diagnóstico Exames laboratoriais Não existem testes laboratoriais que sejam diagnósticos de OA. Na prática clínica, solicitamos: hemograma; testes imunológicos (ex.:exame FAN, fator reumatoide) para eliminar diagnósticos de outras causas de dor articular reumatológica); pesquisa marcadores inflamatórios (VHS e PCR). A inflamação de baixo grau na OA pode ser detectada por medida de reagentes séricos de fase aguda, como proteína C reativa. Além disso, podemos pesquisar, através de uma artrocentese, se há ou não presença de leucocitose no líquido sinovial. O líquido sinovial dos pacientes com OA é, em geral, claro e incolor ou com uma ligeira cor amarela. O conteúdo de leucócitos polimorfonucleares é geralmente menor que 2.000 células/mm3. Podem ocorrer derrames sinoviais inflamatórios na presença de cristais de cálcio. O líquido sinovial de um cisto da IFD com frequência é do tipo gelatinoso e contém grandes leucócitos polimorfonucleares com vários cistos de inclusão. Deve-se destacar que o líquido sinovial normal contém menos de 100 células/mm3; assim, o aumento modesto nos leucócitos do líquido sinovial na OA reflete baixo grau de inflamação. Os cristais podem estar presentes em até 70% das amostras de líquido sinovial dos pacientes com OA. A artrocentese consiste num procedimento clínico em que é feito a punção do líquido sinovial dentro da cápsula articular. Os locais em que são mais feitos são no joelho e na articulação temporomandibular. Exames de imagem Radiografia A radiografia simples é o exame complementar mais utilizado. As alterações características de osteoartrite são a redução do espaço articular, que reflete a perda da cartilagem articular, a esclerose óssea subcondral e o desenvolvimento de osteófitos, que indicam remodelação óssea. Esclerose subcondral e osteofitose geralmente são as primeiras características radiográficas em OA. Tais características aumentam ao longo do tempo, tanto em extensão quanto de volume e antecedem a redução radiográfica do espaço articular que ocorre em um estágio mais tardio da doença. O estreitamento de espaço articular é focal e não uniforme, refletindo perda assimétrica de cartilagem em toda a superfície articular. A redução acentuada do espaço articular é mais típica de estágios mais tardios da doença. O método mais confiável e reprodutível para obtenção de imagem do compartimento femorotibial é a incidência com o paciente em pé e o joelho em semiflexão. Radiografias do quadril são obtidas convencionalmente com o quadril em 15 a 20 graus de rotação interna. Ao contrário do exame do joelho, não é vantajoso fazer a radiografia com o paciente em pé. Uma projeção lateral oblíqua pode ser usada para detectar perda anterior ou posterior de espaço articular. Ultrassonografia Embora permita identificar cartilagem articular, a US é deficiente por sua incapacidade de “enxergar” através de estruturas ósseas. A área de cartilagem mais difícil de examinar é a das regiões centrais de suporte de carga de uma articulação, onde a cartilagem é especialmente acometida no processo de OA. A US pode detectar alterações ósseas iniciais em OA como um sinal hiperecóico na área de ligação da cápsula articular com a margem óssea cartilaginosa. A US demonstra facilmente derrame articular e sinovite, embora seja mais fácil em algumas articulações do que em outras. Tomografia computadorizada e artrografia tomográfica computadorizada É particularmente eficaz para representação de osso cortical e pode ser útil quando for necessário um planejamento pré-cirúrgico detalhado. A TC tem uma função estabelecida na avaliação da OA de faceta articular da coluna vertebral. A artrografia por TC utilizando um meio de contraste é capaz de obter com clareza a imagem da superfície articular de uma articulação, sendo esta técnica comparável à RM para avaliação qualitativa de cartilagem do joelho. Isso pode ser particularmente útil quando não se dispõe de RM ou esta é contraindicada. Ressonânciamagnética Ela permite visualização de cartilagem articular, fibrocartilagem (como os meniscos), sinóvia, contornos ósseos, medula óssea e ligamentos. RM é capaz de detectar alterações patológicas em uma fase muito mais precoce da doença do que a RC, geralmente quando achados radiográficos são normais. A anormalidade óssea subcondral mais comum detectada por RM manifesta-se como uma área de hipersinal observada em sequências ponderadas em T2 com supressão de gordura ou STIR (short time inversion recovery) e têm sido referidas como uma lesão de medula óssea (LMO). Os osteófitos centrais são mais facilmente detectados com RM. A RM contrastada continua sendo o padrão-ouro para avaliação de hipertrofia sinovial. Diagnóstico diferencial Artrite reumatóide ● Doença autoimune inflamatória multissistêmica crônica que afeta diversos órgãos, principalmente os tecidos e articulações sinoviais; ● Mais comum em mulheres, na 4ª ou 5ª décadas de vida; ● Por ser autoimune, há a participação imunológica com a produção de anticorpos com Fator Reumatoide (FR), um tipo de IgM, Anticorpo contra peptídeo citrulinado cítrico (Anti-CCP), que tem alta especificidade, e a presença de citocinas como TNF-alfa. ● AR é insidiosa, aditiva e bilateral. ● Afeta principalmente as articulações de mãos, pé e punho. ● As manifestações podem ser em pele (nódulos subcutâneos, vasculite), coração (pericardite, vasculite, aterosclerose). Pulmão (derrame pleural, nódulo, vasculite) e olhos (Síndrome de Sjögren, uveíte, episclerite). As manifestações mais comuns são: ● Edema dos tecidos moles; ● Diminuição do espaço articular: simétrico ou concêntrico; ● Erosões marginais: devido à erosão por pannus; ● As articulações interfalangianas distais são poupadas; ● Desvio ulnar das articulações metacarpofalangeanas (MCP); ● Deformidades em “pescoço de cisne”: hiperextensão da articulação interfalangeana (IF) proximal e flexão da IF distal; ● Deformidades em “abotoadura”: flexão da IF proximal e extensão da IF distal; ● Subluxação da articulação atlanto-axial: é raro, porém pode levar a parada cardiorrespiratória pela compressão medular alta. Artrite gotosa ● Ocorre devido à deposição de cristais de urato monossódico (ácido úrico) intra e periarticular.; ● Ocorre mais comumente em homens (20:1), acima dos 40 anos; ● Apresenta artrite de característica monoarticular, inflamada, edemaciada, geralmente membro inferior; ● Em pacientes com hiperuricemia crônica não controlada pode apresentar gota tofosa. Coleções de sólidos de cristais de urato monossódico (tofos) associado a alterações inflamatórias e destrutivas crônicas no tecido conjuntivo circundantes. ● Alterações radiológicas características ocorrem no estágio crônico. ● Erosões excênctricas, erosões justa-articulares, edema periarticular. ● Podraga. Artrite psoriásica ● Uma artrite inflamatória associada à psoríase; ● Na maioria das vezes, a psoríase precede a artrite; ● Normalmente se apresenta como oligoartrite assimétrica com espondilite que pode evoluir para poliartrite; ● Manifestações extra-articulares como oculares (uveíte), gastrointestinal (DII), cardíaca (bloqueio de ramo), urogenital (uretrite, prostatite, balanite, cervicite e vaginite); ● A característica marcante é a combinação de alteração erosiva com proliferação óssea predominantemente em articulações interfalangeanas; Os achados das imagens incluem: ● Entesite; ● Erosões ósseas marginais; ● Deformidades em “lápis no copo” (erosões periarticulares e reabsorção óssea, dando a aparência de um lápis em um copo); ● Subluxação articular; ● Periostite; ● Dactilite; ● Sacroileíte; ● Acro-osteólise. Artrite séptica ● Toda infecção por bactériapiogênica na articulação. Geralmente é de origem bacteriana, mas também pode ser causada por vírus, fungos e outros microorganismos; ● Mais comumente, a artrite séptica surge por meio de semeadura hematogênica; ● Staphylococcus aureus é a causa mais comum de artrite séptica em adultos. ● Por bacilos gram-negativos geralmente ocorre em adultos mais velhos, em pacientes com imunossupressão subjacente ou usuários de drogas intravenosas; ● Geralmente se apresentam de forma aguda como uma monoartrite, com quadro febril de instalação súbita, calafrios quando há bacteremia e queda do estado geral; ● Em pacientes com líquido sinovial purulento com contagem de leucócitos de 50.000 a 150.000 células / microL, principalmente neutrófilos, mas culturas de líquido sinovial negativas, um diagnóstico presuntivo de artrite séptica pode ser feito. Tratamentos Farmacológico O tratamento farmacológico divide-se em medicações de ação rápida e de ação lenta. São fármacos de ação rápida os analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais (AINE). Os fármacos de ação lenta ainda são divididos em sintomáticos e modificadores de doença. Tratamento sintomático de ação rápida e curta duração Paracetamol ou acetaminofeno Escolha inicial para o alívio da dor leve a moderada da osteoartrite. Acredita-se que o fármaco atue principalmente mediando efeitos do óxido nítrico, da substância P e das β-endorfinas ou, de menor relevância, inibindo uma variante da enzima da COX, a COX-3, que possui propriedades de ambas as COX-1 e 2. O limite de uso diário é de 4 gramas e especial atenção deve ser dada aos riscos de hepatotoxicidade. É considerada uma medicação de baixo custo, boas tolerabilidade e eficácia. Pode interagir com anticoagulantes orais, aumentando sua potência de ação. Álcool e anticonvulsivantes podem exacerbar os efeitos tóxicos do paracetamol. POSOLOGIA: 1g, via oral, de 6 em 6 horas. Dipirona No primeiro consenso brasileiro de osteoartrite incluiu-se seu uso para o tratamento da OA. Sua dose máxima também é de 4 gramas ao dia, e o grande risco relacionado com o seu uso é o de agranulocitose, reação de caráter imunológico e muito rara. Dentre as interações possíveis estão a ciclosporina (diminuição do nível sérico) e o alopurinol (aumento do nível sérico). Analgésicos de ação central A duloxetina, um inibidor de dupla ação da recaptação de serotonina e de noradrenalina, mostrou-se eficaz no alívio da dor crônica no joelho nos pacientes com OA. Ela pode ser usada isoladamente ou em combinação com os AINEs nos pacientes com dor persistente. O tramadol (um antagonista m-opioide fraco e inibidor da recaptação de serotonina) é também eficiente nos pacientes com OA isoladamente ou em combinação com acetaminofeno ou AINEs. O fármaco deve ser iniciado em uma dose baixa (50 mg uma vez por dia) e aumentado lentamente para minimizar eventos adversos potenciais, especialmente nos idosos. Os analgésicos opioides têm vários efeitos colaterais potenciais graves, incluindo quedas e fraturas, o que é de especial relevância clínica nos pacientes idosos. Analgésicos opioides são orientados a pacientes com dor intensa e seus efeitos adversos em idosos sob uso prolongado incluem alterações cognitivas, de humor, alucinações, depressão respiratória, aumento do risco de quedas, obstipação, retenção urinária entre outros. Deve-se notar também que podem ocorrer tolerância e sintomas de abstinência depois de retirada em usuários crônicos. Há formulações de codeína e tramadol isoladas ou em associação com paracetamol ou diclofenaco que são mais comumente utilizadas. Anti-inflamatórios não esteroidais Recomenda-se que quaisquer que sejam os AINEs, eles devem ser utilizados sempre na menor dose e pelo menor tempo possível. São os principais medicamentos usados para OA, para paciente quem dores de intensidade leve a moderada. Eles atuam inibindo a COX (enzima que participa na formação de prostaglandina e tromboxano), tendo as formas COX1 (enzima constitutiva, que inibe a secreção gástrica do estômago e participa da filtração do plasma no rim) e COX2 (participa da inflamação). Os AINES não seletivos inibem tanto a via do COX1 como do COX2. Em casos de dor refratária ao paracetamol ou nos casos de osteoartrite inflamatória⇒ edema articular, dor noturna, rigidez matinal por mais de 30 minutos. Pacientes sem história de doença péptica: ★ Ibuprofeno 800 mg de 8 em 8 horas; ★ Naproxeno: 500mg de 12 em 12 horas; ★ Diclofenaco: 75 mg de 12 em 12 horas. ★ Ou você usa algum desses + drogas gastroprotetoras, como: famotidina ou omeprazol. ★ Modo de tomar: após as refeições. Pacientes com intolerância gastrointestinal: ★ É um AINE seletivo para a cox-2 → Celecoxibe ⇒ possui menos efeito gastrointestinal, mas tem mais risco de eventos adversos cardiovasculares. O uso de anti-inflamatórios tópicos na forma de gel, como o diclofenaco, o cetoprofeno, o piroxicam, a nimesulida e outras associações com salicilato representam uma opção adicional de tratamento da osteoartrite. Sua eficácia é maior em articulações superficiais como a das mãos. É uma via de administração mais segura que a sistêmica, deve-se, entretanto, ter em mente que há relatos de interação com varfarina, sangramento digestivo e reações locais. Capsaicina tópica É eficaz no controle de dor, porém apresenta um efeito irritativo inicial que prejudica a continuidade do tratamento, necessária para que haja efetividade e redução da dor. Ele depleta as terminações nervosas da substância P (é um neuropeptídeo mediador da dor). Corticosteróides O uso oral de corticosteróides para tratamento da osteoartrite não é respaldado pela literatura. Entretanto as infiltrações intra-articulares de hexacetonido de triancinolona promovem respostas rápidas e eficazes em casos selecionados, na qual há inflamação exuberante. Não se recomenda a utilização repetida (mais de 3 a 4/articulação por ano) em virtude do potencial atrofiante do fármaco. Pelo mesmo motivo, deve-se ter um especial cuidado para que a infiltração não seja fora do espaço articular. Para o quadril recomendam-se infiltrações guiadas por radioscopia ou ultrassom. Devem ser evitadas infiltrações com corticosteróides em pacientes que serão submetidos a artroplastias nos 2 meses que antecedem a cirurgia. Tratamento sintomático e/oumodificador de doença de ação lenta As medicações sintomáticas de ação lenta têm como característica melhorar os sintomas de dor. Apresentam-se como alternativa ao uso isolado de analgésicos e/ou AINE, podendo exercer um efeito poupador de droga ou até mesmo substituí-los. Esta classificação compreende principalmente o ácido hialurônico, a cloroquina e a hidroxicloroquina, os sulfatos de glicosamina e de condroitina, os extratos insaponificáveis de abacate e soja e a diacereína. Cloroquina A cloroquina tem sua eficácia analgésica indicada em princípio para a forma erosiva da osteoartrite de mãos. É imprescindível a avaliação oftalmológica periódica dos pacientes submetidos a este tratamento. EFEITOS COLATERAIS: Bloqueio AV, Arritmias, Cardiomiopatia, Alterações ECG, Hipotensão, Fibrilação ventricular, Agitação, Ansiedade, Confusão, Depressão, Disfunção motora, Alopecia, Prurido, Miopatia, Retinopatia, Perda auditiva, Maculopatia, Diarreia, Anorexia, Visão borrada. OBS: Aumento das enzimas hepáticas, POSOLOGIA: Doses diárias preconizadas são de 125 a 250 mg de difosfato de cloroquina e de 200 a 400 mg de sulfato de hidroxicloroquina. Diacereína Derivada da antraquinona, é um fármaco que inibe diretamente a interleucina 1β e suas funções, como expressão de óxido nítrico sintase indutível, a liberação de prostaglandina E2, IL-6 e IL-8 e as metaloproteases degradadoras de matriz por condrócitos. Ela também aumenta a expressão do TGF-β1 e β2, favorecendo a produção de colágeno e proteoglicanos. Além disso, inibe a formação de superóxido, a quimiotaxia e a atividade fagocitária de neutrófilos, a migração e a fagocitose de macrófagos. A diferença entre os fármacos é o efeito residual da diacereína, que podedurar até 3 meses após a suspensão do fármaco. Os principais efeitos adversos são diarreia, flatulência e dispepsia. Glicosamina O sulfato de glicosamina, derivado do exoesqueleto de crustáceos, apresenta boa tolerabilidade e eficácia no controle dos sintomas álgicos da osteoartrite. POSOLOGIA: sulfato de glicosamina na dose de 1.500 mg ao dia. A aspirina, ou o corante amarelo tartrazina, deve ser evitada em pacientes alérgicos, porque pode ocasionar náuseas, dor abdominal, dispepsia, diarreia além de interagir com a varfarina. Condroitina O sulfato de condroitina, um glicosaminoglicano, age inibindo a síntese de IL-1β e o fator NF-κB. POSOLOGIA: sulfato de condroitina 1.200 mg/ dia. Extratos insaponificáveis de soja e abacate Os extratos insaponificáveis de soja (2/3) e abacate (1/3) inibem a destruição de proteoglicanos aguda e cronicamente estimulam síntese e secreção por condrócitos, além de inibirem a colagenase, uma das enzimas degradadoras de matriz. Observa-se efeito no quesito dor em médio prazo na osteoartrite de joelhos e coxofemorais, mas não se confirmam os mesmos efeitos em prazos mais longos. Harpagophytumprocumbens O harpagosídeo, principal composto da garra do diabo, é o responsável pelos efeitos analgésicos desse fármaco e acredita- -se que possam reduzir a produção de MMP-1, 3 e 5 por condrócitos via inibição do estímulo IL-1β. Os efeitos adversos são dispepsia, dor abdominal, diarreia e possibilidade de interagir com varfarina. Hialuronato intra-articular Conhecido como viscossuplementação, possui efeito estimulador da síntese de ácido hialurônico de novo. O efeito é mais demorado do que o de corticosteróides intra-articulares, todavia tende a ser mais duradouro. Para doença acometendo o joelho foi demonstrado efeito positivo na dor, funcionalidade e avaliação global pelo paciente, além de reduzir o consumo de AINE. Seu efeito analgésico pode alcançar 6 meses de duração. POSOLOGIA: Há apresentações de alto e de baixo peso molecular, variando de 500 mil DA a 6 milhões DA. Contudo não há diferenças entre as apresentações quanto à eficácia. Podem ser utilizadas a qualquer época da evolução da doença, porém estudos indicam que o uso precoce pode retardar a progressão da osteoartrite de joelhos. Os efeitos colaterais encontrados são dor local, que pode durar até 72 horas, e algumas reações alérgicas, especialmente em alérgicos a ovo. Analgésicos de ação central A duloxetina, um inibidor de dupla ação da recaptação de serotonina e de noradrenalina, mostrou-se eficaz no alívio da dor crônica no joelho nos pacientes com OA. Ela pode ser usada isoladamente ou em combinação com os AINEs nos pacientes com dor persistente. O tramadol (um antagonista m-opioide fraco e inibidor da recaptação de serotonina) é também eficiente nos pacientes com OA isoladamente ou em combinação com acetaminofeno ou AINEs. O fármaco deve ser iniciado em uma dose baixa (50 mg uma vez por dia) e aumentado lentamente para minimizar eventos adversos potenciais, especialmente nos idosos. Os analgésicos opioides têm vários efeitos colaterais potenciais graves, incluindo quedas e fraturas, o que é de especial relevância clínica nos pacientes idosos. Outras terapêuticas Os bisfosfonatos (particularmente o risedronato), a doxiciclina, os hidrolisados de colágeno, a hidroxiprolina e o ranelato de estrôncio entre outros. Em um estudo controlado, a doxiciclina demonstrou a redução na velocidade de perda do espaço articular na osteoartrite do joelho. A dose preconizada é de 100 a 200 mg por dia. Um dos principais aminoácidos do colágeno, a hidroxiprolina tem sido utilizada para o controle sintomático da doença, em um preparado denominado oxaceprol. A dose recomendada é de 600 a 1.200 mg por dia. O ranelato de estrôncio teve recentemente sua eficácia demonstrada no controle dos sintomas e na redução da velocidade de perda de cartilagem articular em um estudo randomizado e controlado. A dose utilizada foi de 2 g por dia. Não Farmacológico A avaliação inicial compreende a identificação de prováveis fatores de risco em cada paciente. A boa anamnese identifica riscos ocupacionais e recreativos que possam gerar sobrecarga articular, sequelas de traumatismos anteriores ou de deformidades congênitas e/ou adquiridas, a presença de instabilidade articular e fatores adicionais como sarcopenia ou obesidade. As medidas não farmacológicas incluem a educação do paciente a respeito da doença e a possibilidade de evolução, o encaminhamento a grupos de ajuda, a realização de alongamentos, exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular para promover estabilização articular. O controle do peso é fundamental para o tratamento de osteoartrite de joelhos. Educação do paciente A despeito de as recomendações de educação do paciente serem parte do programa básico de tratamento dos pacientes com OA sintomática e sejam amplamente divulgadas, as evidências que as apoiam sugerem apenas um fraco efeito dessa modalidade, incluindo-se aqui o tratamento cognitivo-comportamental, na dor e na limitação funcional. Exercício Os exercícios têm como objetivo aumentar o tônus muscular e condicionar a musculatura de modo que haja maior estabilidade das estruturas envolvidas. Orientam-se a realização de caminhadas, natação, bicicleta e hidroginástica, que são, em geral, bem tolerados. Pode-se evidenciar redução da dor, ganho de amplitude de movimento e de força muscular além de maior independência na realização de atividades. É importante enfatizar que os exercícios não devem causar mais dor. A supervisão e a orientação iniciais devem ser frequentemente revistas para que a técnica, a frequência, a duração e a dificuldade dos movimentos não tragam risco de piora ou dano articular. Exercícios competitivos e de alto impacto sob risco de aceleração da doença não são recomendados. Também se contraindica a prática de exercícios em casos graves de osteoartrite ou com dor persistente. Orienta-se repouso apenas emperíodos de crises agudas da doença. Seja qual for o tipo de exercício prescrito, eles devem ser realizados pelos menos de três a cinco vezes por semana. A eficácia é melhor nos pacientes aderentes. Perda de peso A perda de peso está recomendada para todos os pacientes com OA sintomática nos membros inferiores que estejam com sobrepeso. De maneira geral, há fortes evidências de que a perda de pelo menos 5% do peso corporal esteja associada a uma pequena, porém significativa, melhora tanto na dor quanto na função física. Órteses As órteses são usadas principalmente para melhorar os sintomas, porém podem ajudar a corrigir forças biomecânicas anormais operando através da articulação. O tipo de órtese usada é obviamente específico de cada articulação. Escolha de calçado As características gerais preconizadas na escolha de calçados são solados com boa capacidade de absorção de impacto, de borracha ou com amortecedores, que possuam adequada estabilidade, tendo fixação nas regiões do antepé e calcanhar e que possuam uma elevação posterior de até 3 cm. Saltos de tamanho maior modificam o centro de gravidade levando ao aumento da lordose lombar, encurtamento da cadeia posterior e causam sobrecarga do antepé. Essa orientação básica sobre calçados está indicada para OA de joelhos e quadris. Palmilhas de silicone Podem ser utilizadas para promover maior absorção de impacto. Palmilhas com cunha lateral, de altura entre 6 e 8 mm, reduzem significativamente a carga no compartimento medial femorotibial do joelho varo, além de diminuir o estiramento dos seus ligamentos colaterais laterais. Da mesma maneira podem ser prescritas palmilhas em cunha medial para o joelho valgo. O uso de tornozeleiras associado à palmilha em cunha permite maior estabilização. Uso de dispositivos de ajuda O uso de uma bengala contralateral à articulação mais acometida pela osteoartrite pode reduzir em até 60% a carga do quadril lesado. Seu comprimento durante a empunhadura deve ser suficiente para permitir um ângulo entre 20 e 30 graus entre o braço e o antebraço.Uso de fita O uso de fita adesiva para promover o realinhamento medial da patela com desvio laterolateral é indicado nos casos de osteoartrite da faceta lateral patelofemoral ou de osteoartrite patelofemoral em que haja aumento do ângulo Q. Como opção pode ser utilizada a joelheira fenestrada. Aplicação do calor A aplicação do calor, de formas superficial ou profunda, exerce sua ação em terminações nervosas e melhora a distensibilidade das fibras colágenas e musculares. Como medidas de calor profundo podem ser utilizados o ultrassom, as ondas curtas e as micro-ondas. O calor superficial é aplicado através de meios de condução (p. ex., bolsa térmica), convenção (p. ex., banhos quentes) e por radiação (p. ex., raios infravermelhos). Em contrapartida, o frio diminui o espasmo muscular e aumenta o limiar de dor. Pode ser utilizado por meio de bolsas térmicas ou compressas de gelo por períodos de até 30 minutos. Neuroestimulação elétrica transcutânea Tem como preceito a utilização da teoria das comportas e é considerado como adjuvante no tratamento analgésico. A aplicação de pulsos eletromagnéticos, consiste no envio à articulação afetada de campos eletromagnéticos pulsáteis de baixa intensidade e de frequência variável. Acupuntura Pode ser indicada com intuito analgésico e como tratamento de contraturas musculares. É eficaz no controle da dor crônica em joelhos em curto prazo. Terapia cirúrgica Indica-se o tratamento cirúrgico habitualmente após a falha do tratamento clínico. Artroscopia O tratamento artroscópico apresenta maiores benefícios em casos de possibilidade de remoção de corpos livres intra-articulares, que podem causar dor ou na presença de outras restrições mecânicas como lesões meniscais ou ligamentares passíveis de correção. As vantagens do procedimento artroscópico são o mínimo trauma operatório e a baixa taxa de infecção intra-articular. Enxertos e transplantes de células O transplante autólogo osteocondral (cartilagem íntegra e osso subcondral adjacente) já foi realizado de maneira bem-sucedida em pacientes com osteoartrite. A técnica utilizada é a mosaicoplastia, em que são realizados pequenos implantes de cilindros de cartilagem normal e osso adjacente oriundos de áreas doadoras não sujeitas à sobrecarga de peso pode corrigir defeitos de até 2 cm2 e não podem ser utilizados em osteoartrite difusa. Entretanto, esse procedimento não elimina a progressão das lesões preexistentes. O maior benefício é esperado com transplante autólogo de condrócitos (TAC), cujo objetivo seria evitar a formação da fibrocartilagem e promover cartilagem de melhor qualidade com maior durabilidade. O transplante de periósteo e pericôndrio autólogos como fonte de células mesenquimais para tratamento de defeitos na cartilagem de pacientes com osteoartrite auxilia na reparação das lesões, porém a técnica tem sido abandonada. Plasma rico emplaquetas A aplicação intra-articular de plasma rico em plaquetas, ou PRP, tem sido utilizada para o tratamento da osteoartrite, principalmente dos joelhos. As plaquetas são ricas em fatores de crescimento, que sendo liberados nos tecidos articulares lesados poderia estimular sua melhora. Osteotomia Indicam-se osteotomias para correções de desalinhamentos que predisponham ao desenvolvimento de osteoartrite que sejam secundários à progressão da doença já instalada. Tende-se a sua opção como tratamento de eleição nos pacientes mais jovens, visto que a vida útil das próteses articulares é menor nesses pacientes. Artroplastia Apesar da durabilidade das próteses ainda não ser a ideal, a artroplastia total ou parcial tem por objetivo restaurar a integridade e a funcionalidade articular e obtém seus melhores resultados em curto prazo. A indicação deste procedimento deve ser realizada não só analisando-se fatores como idade do paciente e expectativa de vida, mas também presença de comorbidades, grau de mobilidade e nível prévio de atividades e expectativas do paciente. Um estudo a respeito da influência das características no prognóstico dos pacientes mostrou uma tendência de maior necessidade de revisão cirúrgica em mais jovens e homens; e de maior mortalidade em mais idosos e homens. Maior idade relaciona-se com pior funcionalidade, em especial em mulheres. A substituição articular é considerada o “padrão-ouro”, porque é muito efetiva em oferecer alívio da dor e restauração da função em muitos pacientes com OA do quadril e do joelho. Artrodese O papel da artrodese é mantido no tratamento da osteoartrite de mãos, coluna, tornozelo e pés. Seu uso em quadris e joelhos é bastante restrito. Ganha-se em controle da dor, porém perde-se em mobilidade articular.
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