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Dislipidemia

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Laísa Dinelli Schiaveto 
 
Dislipidemia 
INTRODUÇÃO 
A dislipidemia é um distúrbio metabólico 
caracterizado por concentrações anormais de 
lipídeos ou lipoproteínas no sangue, sendo 
determinada por fatores genéticos e 
ambientais. 
Obs.: A história natural da arteriosclerose 
inicia-se na gestação. 
Obs.: O aleitamento materno exclusivo parece 
ter importante papel protetor no 
desenvolvimento de doenças cardiovasculares. 
O maior problema da dislipidemia é a doença 
arterosclerótica cardiovascular (DAC), na qual 
há a formação de placas de ateroma nas 
artérias de médio e grande calibre, que, 
conforme o passar do tempo, leva a formação 
da estria gordurosa, da placa fibrosa e, por fim, 
o trombo. Destaca-se que, o deslocamento de 
trombos advindos de uma placa de ateroma é o 
principal fator para IAM, AVC e isquemias 
precoces. 
ETIOLOGIA 
A dislipidemia pode ser primária ou secundária. 
• Dislipidemia Primária: advém das 
modificações genéticas do metabolismo 
lipídico, que podem sofrer influência do fator 
ambiental, como consumo inadequado de 
gordura na dieta. 
• Dislipidemia Secundária: advém, 
principalmente, da obesidade, hábitos de 
vida inadequados, doenças, síndromes e 
uso contínuo ou prolongado de certos 
medicamentos. 
FATORES DE RISCO 
• Pais ou avós com histórico de DCV precoce; 
• Diabetes melito; 
• Infecção pelo HIV; 
• Síndrome nefrótica; 
• Lúpus eritematoso sistêmico; 
• História de pancreatite aguda; 
• Presença de xantomas ou xantelasma ao 
exame físico; 
• Hipertensão arterial sistêmica; 
• Obesidade; 
• Tabagismo; 
• Dieta rica em gorduras saturadas e/ou trans. 
DISLIPIDEMIA PRIMÁRIA 
(HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR) 
A hipercolesterolemia familiar é a causa mais 
comum de dislipidemia primária na criança. 
Esta apresenta mutações genéticas que afetam 
o processo de síntese do receptor de LDL-c, 
levando ao prejuízo da endocitose do LDL e da 
produção de colesterol endógeno. 
É uma herança autossômica codominante, ou 
seja, nos casos de homozigotos, há 
comprometimento de 100% dos receptores e, 
nos casos de heterozigotos (mais comum), há 
comprometimento de 50%. 
Em relação ao exame físico, existem algumas 
manifestação clínicas dermatológicas, como os 
xantomas plantares e tuberosos na superfície 
extensora das mãos, dos joelhos e dos 
cotovelos e os xantelasmas do arco corneano. 
Além disso, os pacientes podem apresentar 
doença coronariana precoce e sintomatologia 
de angina pectoris, bem como a deposição de 
colesterol nos tendões e nos tecidos frouxos. 
Sendo assim, o diagnóstico dessa doença é 
realizado por meio do histórico familiar de 
eventos cardiovasculares, exame físico e perfil 
lipídico. Portanto, suspeita-se quando: 
- Colesterol total > 270mg/dL ou LDL-c > 
200mg/dL; 
- Parentes de primeiro grau com colesterol 
total > 220mg/dL ou LDL-c > 155mg/dL. 
DISLIPIDEMIA SECUNDÁRIA 
As causas de dislipidemia secundária, incluem: 
• Estilo de Vida: dieta, inatividade física, 
tabagismo, obesidade e anorexia. 
• Uso Rotineiro de Medicamentos: 
corticosteroides, ácido retinóico, estrogênios 
exógenos, drogas imunossupressoras, 
inibidores de protease antiviral HIV, 
betabloqueadores, testosterona, 
contraceptivo oral e esteroides anabólicos. 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
• Doenças: 
- Metabólicas: diabetes melito tipos 1 e 2, e 
lipodistrofias. 
- Distúrbios hormonais: hipotireoidismo e 
síndrome de Cushing. 
- Depósito: Gaucher, Juvenile-Sachs e 
Niemann-Pick; 
- Inflamações crônicas: lúpus sistêmico e 
artrite reumatoide. 
- Cardiopatia congênita: coartação de 
aorta. 
- Hepáticas: cirrose e atresia biliar 
congênita. 
- Renais: insuficiência renal crônica. 
- Tratamento de neoplasias. 
- Síndrome de Kawasaki. 
DIAGNÓSTICO 
O diagnóstico deve ser feito após constatação 
de mais de uma mensuração de perfil lipídico 
alterado, coletado adequadamente após 12 
horas de jejum, no mesmo laboratório de 
análises. 
Considera-se perfil lipídico alterado quando um 
ou mais valores séricos de triglicerídeos (TG), 
colesterol total (CT) e frações estiverem 
inadequados. 
 
Destaca-se que, para menores de 2 anos, a 
triagem é realizada apenas se há cardiopatia 
congênita e, para maiores de 2 anos até 8 anos, 
a triagem é feita e quem tem risco 
cardiovascular de acordo com os antecedentes 
familiares. 
O primeiro parâmetro que é pedido é o 
colesterol total (CT) + fração não HDL-c. 
Destaca-se que, o HDL-c mostra a fração 
aterogênica do colesterol (VLDL-c + LDL-c), 
permitindo a detecção precoce de dislipidemia 
primária e secundária. 
- Não HDL-c ≤ 123 mg/dL: normal; 
- Não HDL-c entre 123 e 143 mg/dL: limítrofe; 
- Não HDL-c ≥ 144 mg/dL: alterado. 
Por fim, os valores de referência lipídica 
propostos para faixa etária de 2 a 19 anos pela 
Sociedade Brasileira de Cardiologia são: 
 
TRATAMENTO 
Tratamento Não Medicamentoso (Etapa 1) 
1. Tratamento Nutrológico: alteração dos 
hábitos alimentares 
• Evitar o consumo de produtos embutidos e 
de alimentos que contenham gordura trans, 
além de doces e bebidas açucaradas; 
• Restringir o consumo de alimentos 
ultraprocessados, pré-prontos e congelados; 
• Desencorajar fortemente o consumo de 
álcool; 
• Quantidade de fibras a ser consumida = 
idade (anos) + 5, não devendo ultrapassar 
25 g/dia; 
• Consumir até 2 g/dia de fitoesteroides 
(óleos). 
DIETA TIPO I: Até 30% de calorias de gorduras, 
até 10% de gorduras saturadas, até 100mg/ 
1000cal de colesterol, no máximo 300 mg/dia. 
DIETA TIPO II: Até 20% de calorias de 
gorduras, até 7% de gorduras saturadas, até 
600mg/1000cal de colesterol, no máximo 200 
mg/dia. 
No entanto, devemos sempre lembrar que o 
cardápio deve ser montado de acordo com as 
condições socioeconômicas da família, 
diminuindo gradativamente a alimentação ruim, 
sendo que, no início, o acompanhamento deve 
ser feito semanalmente. Além disso, no caso de 
lactente obeso, os horários das mamadas 
devem ser estabelecidos. 
2. Estimular atividades físicas. 
Tratamento Medicamentoso (Etapa 2) 
Laísa Dinelli Schiaveto 
 
A terapia medicamentosa deve ser usada em 
crianças maiores de 10 anos de idade, que não 
responderam adequadamente após 6 meses a 
1 ano ao tratamento dietético com mudança do 
estilo de vida, sugerindo alto risco de doença 
cardiovascular precoce. 
Os medicamentos vão atuar no aumento da 
excreção ou no metabolismo da fração LDL-c, 
reduzindo sua produção. 
As drogas de primeira escolha são as estatinas, 
que são inibidores da HMG-CoA redutase, 
bloqueando a síntese de colesterol. Sendo 
assim, reduzem 15-25% do TG, 21-32% do CT, 
25-39% do LDL-c e aumenta 5-10% do HDL-c. 
No entanto, possuem efeitos colaterais, como 
hepatotoxicidade, miotoxicidade com mialgia, 
rabdomiólise e teratogenicidade. 
 
Obs.: A Sibutramina causa lesão cardíaca e o 
paciente pode evoluir para morte cardíaca 
súbita. 
SEGUIMENTO: 
ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO 
Perfil Lipídico Desejado: orientação de dieta 
saudável + repetição de perfil lipídico em 5 
anos. 
Perfil Lipídico Limítrofe: repetição dos 
exames laboratoriais em 2 a 12 semanas. 
- Novo perfil é desejado: orientação de dieta e 
estilo de vida saudável + repetição de perfil 
lipídico em 5 anos. 
- Novo perfil é limítrofe: etapa 1 do tratamento 
+ reavaliação em 1 ano. 
- Novo perfil é elevado: etapas 1 e 2 do 
tratamento. 
Perfil Lipídico Elevado: repetição dos exames 
laboratoriais em 2 a 12 semanas. 
- Novo perfil é elevado: etapas 1 e 2 do 
tratamento. 
- Se LDL > 160 + história familiar prematura 
de DAC ou > 2 fatores de risco: etapa 2 do 
tratamento. 
- Se LDL > 190: etapa 2 do tratamento + 
avaliação da possibilidade de causas 
genéticas. 
PREVENÇÃO 
Levando em consideração que o processo 
arterosclerótico começa muito precocemente, 
isto é, ainda na gestação, é necessário intervir 
o quanto antes possível, modificando a dieta e 
o comportamento da criança e da família, 
incentivando a atividadefísica diária com 
redução do tempo gasto com atividades 
sedentárias (até 2 horas/dia).

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