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Fonte: Aula e Livro Vilar 6ª ed 1 DISLIPIDEMIA Gizelle Felinto INTRODUÇÃO ➢ Dislipidemia é qualquer alteração dos níveis lipídicos em relação aos valores referenciais para determinado grupo populacional ➢ Essa alteração dos níveis lipídicos tem uma forte relação com as doenças ateroscleróticas, especialmente a Doença Arterial Coronariana (DAC) → é devido a isso que uma das principais características do tratamento das dislipidemias é prevenir a morte por doença cardiovascular ➢ A Hipertrigliceridemia, isoladamente, é uma condição que não vai estar tão associada à doença cardiovascular. O objetivo de tratar essa hipertrigliceridemia grave é prevenir a pancreatite aguda, já que o alto nível de triglicerídeos causa um aumento substancial do risco de ter pancreatite LIPÍDIOS E LIPOPROTEÍNAS ➢ Principais lipídios plasmáticos → Colesterol e Triglicerídeos (TG) ➢ Triglicerídeos (TG) → transportam a energia dos alimentos e das reservas do organismo para as células corporais ➢ Colesterol → compõe as membranas celulares e participa da síntese de ácidos biliares e hormônios esteroides ➢ Como os lipídios são relativamente insolúveis em água, eles precisam ser transportados, no plasma, em associação a proteínas específicas, formando as Lipoproteínas, que são um complexo solúvel ➢ Lipoproteínas → responsáveis por transportar os lipídios no plasma • Apoproteínas → estão na superfície das lipoproteínas, podendo se ligar a receptores específicos das membranas das células responsáveis pelo metabolismo das lipoproteínas • As lipoproteínas são classificadas de acordo com: ▪ Quantidade de apoproteínas → quanto mais, maior a densidade ▪ Triglicerídeos → menor densidade ➢ O metabolismo dos lipídios e das lipoproteínas está subdividido em 2 ciclos: • EXÓGENO: ▪ Os lipídios provêm da alimentação ▪ Os QM são completamente metabolizados e, em condições normais, só devem ser encontrados no plasma no período pós-prandial • ENDÓGENO: ▪ Envolve o transporte dos lipídios para a periferia e depois de volta para o fígado INVESTIGAÇÃO – AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DAS DISLIPIDEMIAS ➢ O diagnóstico das dislipidemias tem como base → anamnese, exame físico e dosagem de lipídios séricos (perfil lipídico) ➢ ANAMNESE: • Procurar estabelecer a época do diagnóstico • Deve-se investigar a presença de familiares de 1º grau com dislipidemias, diabetes mellitus e DAC prematura • Uso de medicamentos ou patologias que possam levar à dislipidemia secundária: ➢ EXAME FÍSICO: • Alterações são incomuns, mas, quando presentes, podem ser úteis na identificação do tipo de dislipidemia ➢ PERFIL LIPÍDICO: • É composto pela análise bioquímica do (após 12 – 14h de jejum!): ▪ Colesterol Total (CT) ▪ Triglicerídeo (TG) ▪ Colesterol Ligado ao HDL (HDL-c) ▪ Colesterol Ligado ao LDL (LDL-c) → normalmente, o LDL não é obtido de forma direta (dosagem direta do plasma - mas é mais difícil e custoso), ele é obtido de forma indireta (por meio de uma equação): ✓ Equação de Friedewald: 𝐿𝐷𝐿𝑐 = 𝐶𝑇 − 𝐻𝐷𝐿𝑐 + 𝑇𝐺 5 o Quando o TG > 400 mg/dL, não se consegue aplicar essa equação o É uma equação imprecisa nos casos de hepatopatia colestática crônica ou síndrome nefrótica • A obrigatoriedade do jejum é especialmente importante para os triglicerídeos, pois os triglicerídeos são formados pelos quilimícrons, tendo total relação com o período pós-prandial. Porém, não é tão importante para o colesterol • Recomenda-se a repetição dos exames após 8 a 15 dias, com manutenção do estilo de vida, quando houver resultados anormais iniciais ou discordantes na sequência de acompanhamento clínico • Caso se observe uma diferença percentual superior aos limites, deve-se fazer uma terceira dosagem e considerar a média aritmética dos dois valores mais próximos • Perfil lipídico em infartados → pode ocorrer queda dos níveis de colesterol por até 3 meses após o evento. Há queda de cerca de 96 mg/dL após as primeiras 24h. Assim, o perfil lipídico em infartados deve ser avaliado antes desse período VALORES DE REFERÊNCIA Ótimo Desejável Limítrofe Alto Muito alto Colesterol total - < 200 mg/dL 200 a 239 ≥ 240 - Fonte: Aula e Livro Vilar 6ª ed 2 DISLIPIDEMIA Gizelle Felinto LDL-c < 100 100 a 129 130 a 159 160 a 189 ≥ 190 HDL-c (baixo: < 40) - > 60 - - - Triglicerídeos - < 150 150 a 199 200 a 499 ≥ 500 Colesterol não HDL < 130 130 a 159 - 160 a 190 ≥ 190 CLASSIFICAÇÃO ➢ As dislipidemias podem ser primárias ou secundárias ➢ PRIMÁRIAS: • Podem ser classificadas em: ▪ Genotipicamente: ✓ Monogênicas → são raras ✓ Poligênicas ▪ Fenotipicamente: ✓ Hipercolesterolemia isolada (LDL-c > 160 mg/dL) ✓ Hipertrigliceridemia isolada (TG > 150 mg/dL) ✓ Hiperlipidemia mista (LDL-c > 160 mg/dL e TG > 150 mg/dL) o Se TG > 400 mg/dL → considerar se CT > 200 mg/dL ✓ HDL-c baixo: isolado ou associado ➢ SECUNDÁRIAS: • Causas de dislipidemia secundária: ▪ Medicamentos → exemplos: ✓ Diuréticos ✓ Betabloqueadores ✓ Corticosteroides... ▪ Predominantemente Hipertrigliceridemia: ✓ Obesidade ✓ DM ✓ Alcoolismo ✓ Uremia ✓ Lipodistrofia ✓ Terapia estrogênica ✓ Uso de betabloqueadores ✓ Terapia com isotretinoína ✓ Acromegalia ✓ AIDS ✓ Doença de estocagem do glicogênio ✓ Disglobulinemias ✓ Uso de inibidores de protease ▪ Predominantemente Hipercolesterolemia: ✓ Hipotireoidismo ✓ Colestase ✓ Síndrome nefrótica ✓ Disglobulinemias ✓ Porfiria intermitente aguda ✓ Anorexia nervosa ✓ Hepatoma ✓ Esteroides anabolizantes ✓ Progestógenos ✓ Diuréticos ✓ Ciclosporina SCREENING ➢ Para quem pedir screening de dislipidemia (perfil lipídico): • Indivíduos com DAC ou Doença Cardiovascular (DCV) • Adultos maiores de 20 anos → depois da primeira vez faz- se a cada 5 anos, caso o indivíduo seja normal e tenha os hábitos de vida e as condições clínicas estáveis ▪ Exemplo → chega um individuo com mais de 20 anos, faz-se o screening inicial e ele apresenta os resultados sem alterações. Assim, só é necessário repetir esse screening depois de 5 anos. Porém, se depois de 1 ano esse paciente volta hipertenso deve-se fazer novamente o screening • Crianças e adolescentes (2 – 19 anos) → não é recomendável, exceto em alguns casos: ▪ Se tiverem parentes de 1º grau com dislipidemia (CT > 300 mg/dL ou TG > 400 mg/dL), DCV precoce ou doença aterosclerótica (DAC, AVC e/ou doença arterial periférica) ▪ É feita também quando há: ✓ Obesidade ✓ Pancreatite aguda → para estabelecer se a causa foi hipertrigliceridemia ✓ Fatores de risco para DAC → como diabetes e tabagismo ✓ Xantomatose • Pacientes de qualquer idade ou sexo com pancreatite recorrente → TG > 1000 mg/dL implicam risco muito aumentado • Mulheres que farão Terapia de Reposição Hormonal da Menopausa (TRHM) → se TG > 500 mg/dL deve-se optar por preparações transdérmicas ou implantes subcutâneos • Indivíduos que usarão Roacutam (pois esse medicamento pode causar uma dislipidemia secundária) → se TG > 500 mg/dL, deve ser evitado o uso DISLIPIDEMIAS PRIMÁRIAS TIPOS DE DISLIPIDEMIAS PRIMÁRIAS – DE ORIGEM GENÉTICA ➢ As dislipidemias primárias são classificadas em função de sua relação com o metabolismo dos TG, do LDL-c ou do HDL-c Fonte: Aula e Livro Vilar 6ª ed 3 DISLIPIDEMIA Gizelle Felinto DISLIPIDEMIAS RELACIONADAS COM TRIGLICERÍDEOS ➢ HIPERQUILOMICRONEMIA FAMILIAR: • É rara • Caráter autossômico recessivo → por isso que não tem uma frequência tão grande na população • Resulta da ausência da atividade da Lipoproteína Lipase (LPL) em todos os tecidos ou, menos comumente, da ausência da apo-CII (apoproteína), cofator e ativador obrigatório da LPL • Início na infância, geralmente • Há alguns sinais que nos permitem perceberque o indivíduo apresenta uma dislipidemia primária, como a imagem ao lado: ▪ Xantoma Eruptivo → são lesões cutâneas eruptivas, de coloração amarelada, geralmente com halo eritematoso e cerca de 2 a 5 mm de diâmetro ✓ São nodulações que funcionam como depósitos de triglicerídeos ✓ Encontram-se em superfícies extensoras (cotovelo e joelhos) e, sobretudo, nas nádegas • Sinais e Sintomas ▪ Crises recorrentes de dores abdominais ▪ Podem ter pancreatite ▪ Xantomas eruptivos ▪ Hepatomegalia e esplenomegalia (às vezes, com hiperesplenismo) → são achados frequentes • Geralmente, os pacientes não são obesos e podem, em poucos casos, só ser diagnosticados na idade adulta, com uma pancreatite aguda ou em virtude da detecção de lipemia retinalis em exame oftalmológico ou de soro lipêmico em avaliação bioquímica de rotina • Os pacientes afetados, em geral, apresentam hiperquilomicronemia (TG na faixa de 1500 a 5000 mg/dL) • “Teste da Geladeira”: na imagem ao lado, essa parte branca do tubo de ensaio consiste no soro de um paciente com hipertrigliceridemia severa (acontece quando os TG > 1500 ou 5000 mg/dL) → isso ocorre porque os quilomícrons tem uma densidade muito baixa e, ao ficarem por cerca de 18h na geladeira, vão para a superfície do tubo de ensaio ➢ HIPERTRIGLICERIDEMIA FAMILIAR (HTF): • Decorre de uma produção exagerada de VLDL • É transmitida como um defeito autossômico dominante • Geralmente, os níveis séricos de TG são > 500 mg/dL, enquanto o colesterol total está normal ou discretamente elevado • É uma dislipidemia frequente • Normalmente, é diagnosticada devido à associação a (geralmente o TG fica > 1000 mg/dL): ▪ Outras patologias → obesidade, DM, hipotireoidismo ▪ Ingestão excessiva de bebidas alcoólicas ▪ Uso de alguns fármacos → diuréticos tiazídicos, betabloqueadores, estrogênios, tamoxifeno • Sinais e sintomas: ▪ Geralmente não há manifestações clínicas como: ✓ Xantomas ✓ Arco corneano ✓ Xantelasmas ▪ Episódios de pancreatite → podem ocorrer em virtude dos níveis séricos dos triglicerídeos • Cerca de 70% dos pacientes com HTF preenchem os critérios diagnósticos de síndrome metabólica ➢ HIPERTRIGLICERIDEMIA ESPORÁDICA/ISOLADA: • É clinica e laboratorialmente semelhante à Hipertrigliceridemia familiar, distinguindo-se pela ausência de elevação dos triglicerídeos em familiares ➢ DISBETALIPOPROTEINEMIA: • Ou hiperlipoproteinemia tipo III • É predominante em homens • Em mulheres só se manifesta após a menopausa • Decorre de uma mutação no gene que codifica a estrutura da apo-E, levando ao surgimento de isoformas da apo-E que não interagem normalmente com os seus receptores • Há acúmulo de remanescentes de: ▪ Colesterol total ▪ VLDL ▪ IDL Fonte: Aula e Livro Vilar 6ª ed 4 DISLIPIDEMIA Gizelle Felinto • Níveis de: ▪ LDL baixos ▪ CT alto ▪ TG alto • Tem uma prevalência muito baixa • Há a necessidade de outros fatores para a expressão da doença, como: ▪ Outras dislipidemias primárias ▪ Fatores ambientais → obesidade, ingestão excessiva de álcool, diabetes, hipotireoidismo • Manifestações clínicas → não costumam aparecer antes dos 20 anos ▪ Xantomas tuberosos ou tuberoeruptivos (80% dos pacientes) → em superfícies extensoras. São móveis e de cor alaranjada ou vermelha. Os tuberoeruptivos são amarelados ou róseos ▪ Xantomas palmares → nódulos de coloração amarelo-alaranjada nos sulcos e palma da mão. É praticamente patognomônica da doença ➢ DEFICIÂNCIA DA LIPASE HEPÁTICA (DLH): • A lipase hepática é uma glicoproteína sintetizada e secretada pelo fígado, sendo responsável por catalisar e hidrolisar triglicerídeos e fosfolipídeos em diferentes lipoproteínas, contribuindo para o remodelamento dos remanescentes de VLDL, bem como de IDL, HDL e LDL • É uma patologia rara • Risco aumentado de aterosclerose • Laboratório: ▪ TG elevado → 400 a 8200 mg/dL ▪ CT elevado → 250 a 1500 mg/dL ▪ HDL-c normais ou levemente aumentados • Exame físico: ▪ Xantomas tuberoeruptivos e palmares ▪ Arco corneano prematuro → é um depósito de colesterol na córnea DISLIPIDEMIAS RELACIONADAS COM LDL-c ➢ HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR (HF): • É uma doença monogênica, com transmissão autossômica dominante • Resulta da deficiência de receptores LDL, por mutações no gene desse receptor • A maioria dos pacientes afetados apresenta DAC já na primeira década e vida e geralmente morre até os 20 anos de idade • Forma heterozigota → tem prevalência de 1 entre 500 indivíduos, com: ▪ CT > 300mg/dl ▪ LDL-c > 250mg/dl ▪ TG normais • Homozigotos são raros e cursam com níveis de CT > 600mg/dl • 50% dos homens e 15% das mulheres morrerão por DAC antes dos 60 anos • Deve ser suspeitada em DAC prematura • Manifestações clínicas: ▪ Xantomas tendinosos → são um achado quase que patognomônico da doença (presentes em 75% dos casos) ✓ Tendem a aparecer a partir da adolescência ✓ São massas, geralmente fusiformes, que podem ser observadas em qualquer tendão do corpo, mas predominam no tendão de aquiles ▪ Xantelasma ▪ Arco corneano ▪ Xantomas tuberosos Fonte: Aula e Livro Vilar 6ª ed 5 DISLIPIDEMIA Gizelle Felinto DISLIPIDEMIAS RELACIONADAS COM HDL-c ➢ DOENÇA DE TANGIER: • Há uma alteração no transporte reverso do colesterol • Laboratório: ▪ HDL-c baixo ▪ LDL-c baixo • É uma condição bastante rara • Depósito de colesterol nas amígdalas: ▪ Amígdalas de cor alaranjada, devido ao depósito de colesterol DISLIPIDEMIAS SECUNDÁRIAS INTRODUÇÃO ➢ Determinadas patologias (como DM, obesidade, hipotireoidismo e alcoolismo) e medicações podem predispor à dislipidemia, pois interferem com o metabolismo de uma ou mais lipoproteínas, levando ao aumento do colesterol e/ou de TG plasmáticos ➢ Pacientes com dislipidemias secundárias estão sujeitos às mesmas consequências induzidas pelas hiperlipidemias primárias ou de causas genéticas: • Aterosclerose prematura • Pancreatites • Xantomatose • Aspectos da síndrome de quilomicronemia HIPOTIREOIDISMO ➢ Elevação do LDL-c → é o distúrbio lipídico mais característico, podendo ocorrer isolada ou associada à hipertrigliceridemia • Essa elevação do LDL-c resulta da diminuição da sua depuração, provavelmente devido à menor expressão do receptor hepático de LDL ➢ HDL-c → inalterado ou um pouco baixo ➢ Devido a essas alterações lipídicas, há um maior risco de DAC nos hipotireóideos DISLIPIDEMIA DIABÉTICA ➢ Caracteriza-se por: • Hipertrigliceridemia • Redução do HDL-c • Aumento do número de partículas de LDL pequenas e densas, as quais são mais aterogênicas MEDICAMENTOS E OUTRAS SUBSTÂNCIAS ➢ Fármacos que interferem no perfil lipídico: • Elevam o LDL-c → Ex: Diuréticos • Elevam os triglicerídeos → Ex: Betabloqueadores e isotretinoína • Elevam LDL-c e TG → Ex: ciclosporina, inibidores de proteases, glicocorticoides ➢ O efeito sobre o perfil lipídico exercido pelos tiazídicos em baixas doses e betabloqueadores cardiosseletivos é mínimo HIPERTRIGLICERIDEMIA – POR QUE, QUANDO E COMO TRATAR? INTRODUÇÃO ➢ A hipertrigliceridemia tem aumentado cada vez mais ao longo dos anos ➢ Além disso, aumenta o risco de desenvolvimento de pancreatite aguda ➢ O papel dos triglicerídeos no risco cardiovascular ainda não está totalmente estabelecido ➢ CONCENTO DE HIPERTRIGLICERIDEMIA E METABOLISMO LIPÍDICO: • A hipertrigliceridemia é definida como elevações acida do 95° percentil dos TG para sexo e idade CLASSIFICAÇÃO DOS TRIGLICERÍDEOS (TG) NÍVEIS DE TG (em mg/dL) CATEGORIA < 150 Desejáveis 150 a 199 Limítrofes 200 a 499 Altos ≥ 500 Muitos altos • Fontes dos TG: ▪ Exógenas (provenientes da gordura da dieta) → os TG são transportados por quilomícrons ▪ Endógenas(oriundos da síntese hepática) → os TG são transportados pelas lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) • Nos capilares do tecido adiposo e músculos esqueléticos, VLDL e QM são hidrolisados pela lipase lipoproteica (LPL) em ácidos graxos livres (AGL). Após uma refeição, 90% dos TG são de origem intestinal (QM), ao passo que no jejum predominam os TG de origem endógena (VLDL). O aumento de lipoproteínas ricas em TG na circulação decorre de síntese aumentada no fígado, aumento da absorção intestinal ou diminuição do catabolismo periférico. Os remanescentes de QM e VLDL são removidos pelo fígado por meio de receptores específicos que também modulam a velocidade de depuração dessas partículas SINAIS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICO ➢ Apenas as formas graves de hipertrigliceridemia podem ser acompanhadas de sinais clínicos característicos, como: Fonte: Aula e Livro Vilar 6ª ed 6 DISLIPIDEMIA Gizelle Felinto • Xantomas eruptivos • Lipemia retinalis • Xantomas tuberosos e xantomas palmares → nos casos de disbetalipoproteinemia ➢ Xantomas tendíneos, arco corneano e xantelasmas → não são vistos na hipertrigliceridemia, sendo vistos apenas na hipercolesterolemia grave ➢ Diagnóstico: • É feito com dosagens laboratoriais dos níveis de TG em jejum HIPERTRIGLICERIDEMIA ➢ EM DIABÉTICOS: • Diabéticos são indivíduos de alto risco cardiovascular • Caracteriza-se por: ▪ Hipertrigliceridemia ▪ HDL-c baixo ▪ LDL-c com níveis comparáveis à população não diabética • DM descompensado → é causa de elevação secundária de TG • Quando se trata o DM, geralmente, se consegue alcançar adequado controle da hipertrigliceridemia ➢ E PANCREATITE: • TG > 500 mg/dL (e principalmente > 1000 mg/dL) → aumentam o risco de pancreatite aguda ➢ E DOENÇA CARDIOVASCULAR: • Lipoproteínas ricas em TG e seus remanescentes são trombogênicos e têm um papel na aterogênese e formação da placa ateromatosa no vaso, contribuindo para placa instável e evento coronariano agudo ➢ EM PORTADORES DE HIV: • Indivíduos em tratamento antirretroviral apresentam alto risco cardiovascular e elevada prevalência de alterações metabólicas • Associa-se a: ▪ HDL-c baixo ▪ LDL-c elevado • Embora a mudança da estratégia terapêutica antirretroviral e a mudança de estilo de vida possam reduzir de maneira significativa a hipertrigliceridemia, frequentemente a instituição de tratamento medicamentoso se faz necessária ➢ NA INFÂNCIA: • Diante de uma criança com níveis elevados de TG, deve-se tentar corrigir ou eliminar o fator desencadeante (obesidade, sedentarismo ou diabetes descontrolado), e deve-se orientar mudança no estilo de vida • Medicamentos hipolipemiantes → são reservados para os casos graves, a partir dos 10 anos de idade • Medicamentos → FIBRATOS ou CIPROFIBRATO, em baixas doses e com cautela ➢ NA GESTAÇÃO: • Hipertrigliceridemia grave pode ocorrer na gestação, inclusive associada à pancreatite aguda • As opções terapêuticas são limitadas pela menor experiência ou contraindicação ao uso de hipolipemiantes durante a gravidez: ▪ FIBRATOS → indicados nos casos mais graves de hipertrigliceridemia não responsivos à dietoterapia e com risco de evolução para pancreatite aguda ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO INTRODUÇÃO ➢ Como saber se o indivíduo pode se beneficiar de alguma maneira com algum tratamento para dislipidemia → fazendo uso de ESCORES DE RISCO ➢ Benefício = prevenção de morte por doença cardiovascular ➢ Não existe nenhum escore validado para a população brasileira. Assim, faz-se uso de escores de outros países ESCORE DE FRAMINGHAM ➢ Não é mais tão utilizado, pois existem escores melhores e com menos inconsistências ➢ Hoje em dia, ele só é falado mesmo porque foi o primeiro escore ➢ Tinha-se um escore para mulher e outro para homem ESCORE DE RISCO GLOBAL ➢ É uma forma de identificar esses pacientes em risco de uma maneira mais completa que o escore de Framingham ➢ COMO FAZER: 1. Primeira Etapa: ▪ O paciente, de cara, já tem uma condição de alto risco para o desenvolvimento de uma doença cardiovascular: ✓ DAC ✓ Que já teve um IAM ou um AVC, documentadamente ✓ Paciente que fez cateterismo e angioressonância de coronárias ou doppler de carótidas e tem uma doença subclínica – ele ainda não teve o evento, mas já tem uma aterosclerose comprovada ✓ Paciente que já fez uma revascularização ou angioplastia ✓ Diabetes Mellitus tipo 1 e 2 ✓ Doença Renal Crônica (DRC) ✓ Hipercolesterolemia familiar (HF) ▪ Então, se o paciente já tem alguma dessas condições, que já o identificam como um paciente de alto risco, esse indivíduo precisa de um tratamento para a prevenção da doença cardiovascular Fonte: Aula e Livro Vilar 6ª ed 7 DISLIPIDEMIA Gizelle Felinto 2. Segunda Etapa: (pacientes que tem um risco baixo e que se beneficiam do tratamento) ▪ Coloca-se o paciente nos seguintes critérios e se obtém um somatório de pontos, tanto para mulher como para homens ▪ A partir dessa soma, deve-se ver se o paciente tem risco aumentado para um evento cardiovascular nos próximos 10 anos: ▪ O indivíduo pode passar de ser baixo risco para ser risco intermediário ou ele pode ser risco intermediário e passar a ser alto risco, caso ele tenha as condições agravantes de risco → RECLASSIFICAÇÃO DE RISCO: ✓ História familiar de DAC prematura → quando se tem um parente de 1º grau que está tendo ou já teve um infarto ou um AVC precocemente (homens < 55 anos e mulheres < 65 anos) ✓ Síndrome metabólica → conjunto de fatores metabólicos que aumentam o risco cardiovascular do paciente. Se o indivíduo tiver 3 dos seguintes critérios, ele tem síndrome metabólica: o Circunferência abdominal → ≥ 90 cm nos homens e ≥ 80 cm nas mulheres (obesidade abdominal) o HDL-c baixo o Pressão arterial aumentada ou tratamento para hipertensão o Elevação dos Triglicerídeos o Glicemia de jejum aumentada ou diabetes ✓ Microalbuminúria → perda insipiente de proteínas a partir da urina. Ou até mesmo a macroalbuminúria ✓ Hipertrofia ventricular esquerda comprovada pelo ECO ✓ Proteína C reativa de alta sensibilidade > 2 mg/l (marcador de inflamação) → na ausência de inflamações crônicas (como a doença reumatológica) e na ausência de infecções ✓ Espessura aumentada no doppler de carótidas → distância entre a camada íntima e a camada média da carótida (aumento - > 1) ✓ Escore de cálcio coronário (é obtido através da tomografia) → é uma aferição do grau de calcificação dentro de uma coronária ✓ Índice tornozelo-braquial (ITB) < 0,9 Fonte: Aula e Livro Vilar 6ª ed 8 DISLIPIDEMIA Gizelle Felinto ESCORE DE RISCO – ASCVD Risk ➢ Vantegem → Além de mostrar o risco de se desenvolver um evento cardiovascular nos próximos 10 anos, ele ainda dá o Lifetime Risk (é a chance de se ter um evento cardiovascular ao longo de sua vida) ➢ Esse escore ainda mostra as condições ideias (as “condições ótimas”) → se ocorrer melhoria/tratamento correto da doença, como isso influencia positivamente na redução do risco de ter um evento cardiovascular ➢ Pode-se baixar o aplicativo no celular → é uma calculadora de risco ➢ Informações do paciente que o aplicativo pede: • Gênero • Idade • Colesterol total • Se faz tratamento para hipertensão → sim ou não • HDL-c • Se é diabético → sim ou não • Raça • Pressão sistólica • Se é fumante → sim ou não RESUMINDO 1. Paciente já teve algum evento cardiovascular? Sim → alto risco (medicação!) Não → ver os níveis de LDL-c 2. LDL-c > 190 mg/dL? Sim → medicação Não → ver se tem diabetes 3. Paciente é diabético? Sim → medicação Não → calcular escore de risco 4. Cálculo do escore de risco: • > 7,5 → medicação TRATAMENTO COMO TRATAR ➢ MUDANÇA DE ESTILO DE VIDA (MEV): • Sempre instituiresse tratamento não medicamentoso • Atividade física + Dieta: ▪ Dieta: ✓ Baixo-moderado teor de carboidratos (de baixo índice glicêmico) ✓ Alto teor de fibras ✓ Alto consumo de gorduras monoinsaturadas ▪ Atividade física → aeróbica por, pelo menos, 30 min em 5 dias da semana • Redução do consumo de álcool e abandono do tabagismo • Meta → redução de 5 a 10% do peso corporal em indivíduos obesos, principalmente naqueles com síndrome metabólica ➢ TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: • Meta → reduzir o risco cardiovascular • Hipertrigliceridemia Isolada: ▪ 1ª escolha: Fibratos ▪ 2ª escolha: Ácido Nicotínico e os ácidos graxos ômega- 3 ▪ Pode ser necessária a combinação de medicamentos • Hipertrigliceridemia Mista: ▪ Os níveis de TG orientam o como deve ser feito o tratamento: ✓ TG > 500mg/dL → iniciar com Fibratos, adicionando-se, se preciso, o ácido nicotínico e/ou os ácidos graxos ômega-3 ✓ Após a redução dos níveis de TG, deve-se avaliar a necessidade de redução dos níveis de LDL-c ✓ Quando TG < 500mg/dL → iniciar tratamento com Estatina, de modo isolado ou em combinação com a Ezentimiba ✓ A meta é reduzir os riscos de pancreatite aguda! METAS LIPÍDICAS A SEREM ALCANÇADAS COM O TRATAMENTO FIBRATOS BEZAFIBRATO (400 a 600mg/dia) CIPROFIBRATO (100 mg/dia) FENOFIBRATO (160 a 250 mg/dia) → após uso prolongado na DM2, reduziu microalbuminúria e progressão de retinopatia diabética (está sendo avaliado como terapia futura para tratamento da retinopatia diabética) GENFIBROZILA (600 a 1200 mg/dia) ➢ Seu objetivo é mais tratar a hipertrigliceridemia do que a dislipidemia ➢ Seu benefício é mais em relação à prevenção da pancreatite ➢ Não são usados com a finalidade de prevenção de eventos cardiovasculares ➢ Mecanismo de ação: • São agonistas de receptores nucleares denominados “alfa ativados de proliferação dos peroxissomos”, responsáveis pela expressão de genes relacionados ao metabolismo lipídico • Causam: ▪ Aumento da produção e ação da LPL ▪ Redução da apo-CIII ▪ Maior síntese de apo AI • O que resulta em: ▪ Redução dos TG ▪ Aumento do HDL-c • Aumentam a excreção biliar do colesterol e a afinidade das LDL pelos receptores específicos, o que contribui para a redução de LDL-c Fonte: Aula e Livro Vilar 6ª ed 9 DISLIPIDEMIA Gizelle Felinto ➢ Efeitos pleiotrópicos dos Fibratos: • Redução dos níveis de proteína C reativa de alta sensibilidade • Melhora da sensibilidade insulínica e da hiperuricemia • Aumento da expressão de óxido nítrico sintetase no endotélio vascular • Promovendo → ação anti-inflamatória, antiaterogênica, antitrombogênica e vasodilatadora ➢ São fármacos seguros e bem tolerados ➢ São eliminados por via renal ➢ Efeitos colaterais (transitórios ou de leve intensidade): • Náuseas • Diarreia • Redução da libido • Dores musculares • Astenia • Prurido • Cefaleia • Insônia • Colestase e elevação discreta das enzimas hepáticas → podem ocorrer, mas são raros os casos de hepatite tóxica ou rabdomiólise ▪ Rabdomiólise → mais comum quando: Genfibrozila + Estatinas ➢ Associação de Fibratos + Estatinas → em doses baixas • Indicação → dislipidemia mista refratária ao uso isolado desses fármacos • Fenofibrato + doses moderadas ou baixas de estatinas (observar se os riscos de efeitos adversos são menores que os benefícios): ▪ Se houver benefícios cardiovasculares ou ▪ Se TG > 500mg/dl • Tem boa tolerabilidade, tendo como escolha o FENOFIBRATO ➢ Uso de Fibratos na Disfunção Renal: • Por serem eliminados por via renal, devem ser usados com cautela e em doses menores em pacientes com disfunção renal • Contraindica-se em pacientes submetidos à diálise! • Podem ser usados na Insuficiência Renal Crônica (IRC) quando: ▪ TG ≥ 500 mg/dL ▪ Pacientes intolerantes a estatinas que tenham TG ≥ 200 mg/dL e colesterol não HDL ≥ 130 mg/dL ▪ GENFIBROZILA é o fármaco de escolha, sem necessidade de redução da dose • Cuidados (segundo a National Lipid Association Safety Task Force (NLA)): ▪ IRC com Taxa de Filtração Glomerular (TFG) baixa (de 15 a 50 ml/min/1,73m2 → reduzir a dose da Genfibrozila em 50% ▪ IRC com TFG < 15 ml/min/1,73m2 → suspensão da Genfibrozila • Avaliar função renal (TFG, creatinina e creatinina sérica) ao usar fenofibrato 3 meses após o início e a cada 6 meses. Não usar se: ▪ TFG < 30ml/min/1,73m2 no início ou durante o tratamento ▪ TFG entre 30 e 59ml/min/1,73m2 → não exceder a dose de 54 mg/dia ÁCIDO NICOTÍNICO (AN) ou NIACINA ➢ Promove a redução da síntese de TG, VLDL e Apo B, além de diminuição do LDL-c ➢ Aumenta a glicemia de jejum e a hemoglobina glicada, aumentando os riscos de diabetes ➢ Mecanismo de ação (ainda não está bem definido): • Reduz a mobilização intracelular de AGL nos hepatócitos e promove inibição direta e seletiva da diacilglicerol aciltransferase-2 (DGAT-2), diminuindo a síntese de TG • Aumenta a produção de Apo AI e diminui seu catabolismo, favorecendo aumento do transporte reverso de colesterol e incremento dos níveis de HDL-c • Ou seja: ▪ Diminui TG ▪ Aumenta o transporte reverso de Colesterol ▪ Aumenta o HDL-c ➢ Efeitos colaterais: • Rubor facial → pode ser diminuído por: ▪ Uso do ácido nicotínico à noite ▪ Uso de ácido acetilsalicílico (AAS) ou outros inflamatórios não esteroidais → 30 a 60 min antes do uso do NA ▪ Hiperglicemia e hiperuricemia → podem ocorrer • Prurido • Toxicidade hepática ➢ Dosagens → recomenda-se o início com 500 mg com aumento gradativo a cada 4 semanas (sempre de 250 mg), até alcançar a dose máxima de 2000 mg/dia (2g/dia), se necessário • Essa forma de introdução da medicação reduz os riscos de ter efeitos colaterais ÔMEGA-3 ➢ São ácidos graxos derivados do óleo de peixes ➢ Ingeridos por meio de dieta e suplementação alimentar ➢ Reduzem a síntese hepática de VLDL e, consequentemente, de TG ➢ Os principais são: ÁCIDO EICOSAPENTAENOICO (EPA) ÁCIDO DOCOSA-HEXAENOICO (DHA) ➢ Em altas doses → reduzem os níveis de TG e podem aumentar o HDL-c ➢ Efeitos pleiotrópicos: • Ação anti-inflamatória, antitrombótica, antiagregante plaquetária, antiarrítmica • Podem melhorar disfunção endotelial ➢ Nos estudos, não foi visto benefício na redução de desfechos cardiovasculares Fonte: Aula e Livro Vilar 6ª ed 10 DISLIPIDEMIA Gizelle Felinto ➢ Indicações: • Como adjuvante na hipertrigliceridemia grave • Na intolerância ou contraindicações aos fibratos → com dose de pelo menos 3000 mg/dia para obtenção do efeito redutor dos TG ➢ Doses: • Deve-se iniciar com 1000 mg/dia • Para ter efeito, deve-se fazer uso de 4 a 10g por dia ➢ Reações adversas: • Náuseas • Eructação • Distensão abdominal • Flatulência • Diarreia • Hálito com odor de peixe • Discreta hiperglicemia em diabéticos PLASMAFÉRESE ➢ Indicação → Hipertrigliceridemia grave, em geral de base genética, com muito alto risco de pancreatite e doença cardiovascular, em casos de incapacidade de controle dos níveis de TG, apesar de tratamento adequado com dieta, atividade física e medicamentos, inclusive com associação dos fármacos disponíveis ➢ Tem alto custo ➢ Reservada para casos excepcionais, em centros especializados ESTATINAS – são as melhores e mais utilizadas! ROSUVASTATINA ATORVASTATINA PITAVASTATINA SINVASTATINA PRAVASTATINA LOVASTATINA FLUVASTATINA ➢ Potência para a diminuição do LDL-c: • Rosuvastatina > Atorvastatina > Pitavastatina > Sinvastatina > Pravastatina = Lovastatina > Fluvastatina ➢ Indicação das estatinas para reduzir o risco cardiovascular: ➢ Mecanismo de ação: • Reduzem uma etapa importante na síntese endógena de colesterol, levando a uma maior expressão dos receptores de captação de LDL na membrana celular e, consequentemente, à reduçãonas LDL aterogênicas • Reduzem LDL → têm-se estatinas de alta, moderada e baixa intensidade pelos níveis de redução do LDL • Reduzem TG • Aumentam HDL-c ➢ São os fármacos de escolha para o tratamento da hipercolesterolemia, além de: • Reduzir TG (maior eficácia com Rosuvastatina e Atorvastatina) • Aumentar HDL-c ➢ Farmacologia: • Tomadas 1x/dia • Preferencialmente à noite (para os de meia-vida curta) → pois o pico de colesterol é entre meia-noite de 6h da manhã • Estatinas de meia-vida longa (Atorvastatina e Rosuvastatina) → podem ser tomadas em qualquer horário • A dose depende do grau de redução que se quer alcançar nos níveis lipídicos • Quando FIBRATOS + ESTATINAS → tomar em horários diferentes para reduzir interações e toxicidade ➢ Há pacientes em que não é nem necessário fazer o escore de risco, pois logo de cara já se sabe que ele precisa fazer o tratamento medicamentoso. Como: • Não há dúvidas de que um paciente que teve um IAM ou um AVC deve fazer um tratamento para prevenção secundária, fazendo uso de ESTATINAS ➢ INDICAÇÕES – benefícios das estatinas: • Segunda a American Heart Association (AHA): ▪ Doença cardiovascular aterosclerótica estabelecida ▪ Elevações primárias de LDL-c ≥ 190 mg/dL ▪ Diabéticos com idade entre 40 e 75 anos, com LDL- c entre 70 e 189 mg/dL sem DAC ▪ Sem DAC ou DM, com LDL-c entre 70 e 189 mg/dL e risco de evento cardiovascular nos próximos 10 anos maior ou igual a 7,5% • Segundo a Diretriz Brasileira: ▪ Via de regra, não se deve tratar medicamentosamente ▪ Em indivíduos nos quais não é possível se obter o valor do LDL (não é possível aplicar a equação de Friedewald) → usar como parâmetro o colesterol não-HDL (aumenta 30 em relação ao LDL) ➢ O que fazer quando se vai começar o tratamento com a estatina: • Pedir o perfil lipídico do paciente Fonte: Aula e Livro Vilar 6ª ed 11 DISLIPIDEMIA Gizelle Felinto • Pedir um ALT → pois as estatinas podem elevar as transaminases • Indivíduos < 75 anos → estatina em dose otimizada • Indivíduos > 75 anos → avaliar de forma individualizada ➢ ESTATINAS DE ALTA, MODERADA E BAIXA INTENSIDADE: Intensidade das Estatinas ALTA MODERADA BAIXA Baixa o LDL-c em aproximadamente ≥ 50% Baixa 30 a 50% do LDL-c Baixa < 30% do LDL-c ATORVASTATINA (40 – 80mg) ROSUVASTATINA (20 – 40mg) ATORVASTATINA (10 – 20mg) ROSUVASTATINA (5 – 10 mg) SINVASTATINA (20 – 40 mg) PRAVASTATINA (40 – 80 mg) LOVASTATINA (40 mg) FLUVASTATINA XL (80 mg) FLUVASTATINA (40 mg) PITAVASTATINA (2 – 4 mg) SINVASTATINA (10 mg) PRAVASTATINA (10 – 20 mg) LOVASTATINA (20 mg) FLUVASTATINA (20 – 40 mg) PITAVASTATINA (1 mg) ➢ RECOMENDAÇÕES: • PREVENÇÃO SECUNDÁRIA → sempre utilizar a terapia de alta intensidade com ESTATINAS ▪ Para aqueles pacientes que já tiveram ou tem doença/evento cardiovascular ▪ Contraindicações (em situações muito excepcionais): ✓ Paciente muito idoso → pois o benefício dos 10 anos não irá compensar • PREVENÇÃO PRIMÁRIA: ▪ Paciente > 21 anos com LDL-c > 190 mg/dL: ✓ Deve-se considerar a possibilidade dessa dislipidemia ser secundária a: o Hipotireoidismo não tratado o Gravidez o Obstrução biliar o Síndrome nefrótica o Corticoide... ✓ Ou ser uma dislipidemia primária ✓ Assim, quando o paciente tem um LDL muito alto, deve-se pensar nessas causas ▪ Diabéticos e LDL entre 70 e 189 mg/dL: ✓ Sempre se deve considerar o paciente diabético como sendo de alto risco cardiovascular, por isso deve-se preferir um tratamento de moderada a alta intensidade ✓ Calculadora de risco: risco > 7,5 → tratamento de alta intensidade ➢ MONITORAMENTO DO TRATAMENTO: • Após o início do tratamento deve-se avaliar se a terapia está tendo efeito • Pede-se o Perfil Lipídico após 4 – 12 semanas do início do tratamento e novamente após 3 meses: ▪ Paciente com boa resposta → continuar o tratamento inicial ▪ Paciente sem resposta ao tratamento: ✓ Avaliar se ele: o Não seguiu/aderiu ao tratamento → reforçar aderência e repetir o tratamento por mais 12 semanas o Tem intolerância ao uso da estatina o Paciente seguiu o tratamento, não teve intolerância e, mesmo assim, os níveis não melhoraram (Ex: não se conseguiu a redução do LDL em 50%) → aumentar para terapia de maior intensidade ➢ RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA PARA AS ESTATINAS: • Deve-se triar muito bem o paciente para evitar que ele tenha alguma intolerância a estatina, buscando saber: ▪ Insuficiência Renal Crônica (IRC) ▪ Insuficiência Hepática ▪ Se já fez uso de alguma estatina e não teve uma boa tolerância ▪ Risco de DAC ▪ Risco de potenciais efeitos adversos ▪ Faz uso de alguma medicação que altere o metabolismo das estatinas → Ex: Fibratos ▪ Aumento prévio de ALT ▪ Idoso > 75 anos → avalia-se se o benefício compensa em relação à adição de mais uma medicação na rotina do paciente • Optar por doses moderadas de estatina, mesmo que indicada alta intensidade no tratamento, se: ▪ Múltiplas e graves comorbidades, incluindo insuficiência renal ou hepática ▪ História prévia de intolerância às estatinas ou desordens musculares ▪ ↑ de ALT > 3x LSN, inexplicadas ▪ Uso de drogas que possam afetar o metabolismo das estatinas ▪ Indivíduo > 75 anos • Dosagem de CK: ▪ Avalia se o paciente tem/terá intolerância muscular à estatina ▪ Não é exame de rotina ▪ Indicação → se sintomas musculares • Dosagem de ALT → antes de iniciar o tratamento ▪ Dosar novamente se surgirem sintomas de hepatotoxicidade • SINTOMAS MUSCULARES: ▪ Dor, fraqueza → em membros inferiores e até mesmo no seguimento superior do corpo ▪ Antes de iniciar o tratamento, deve-se avaliar a preexistência de sintomas, para evitar a descontinuação desnecessária do tratamento Fonte: Aula e Livro Vilar 6ª ed 12 DISLIPIDEMIA Gizelle Felinto ▪ Sintomas severos e inexplicados durante o tratamento: ✓ Descontinuar o uso da estatina por 3 meses ✓ Avaliar a possibilidade de rabdomiólise ✓ Se a dor sumiu → provavelmente era da estatina. Assim, tenta-se reintroduzir a dose original ou menor da mesma estatina ✓ Se a dor não sumiu → reintroduzir o tratamento. Pois não é devido a estatina. Assim, deve-se pesquisar outras causas, como: o Neuropatia diabética o Fibromialgia o Hipotireoidismo não tratado ▪ Sintomas leves/moderados → suspender a droga até avaliação e aferir a possibilidade de outras condições que justifiquem os sintomas ➢ Além de todos esses efeitos, as estatinas apresentam efeito anti- inflamatório local e estabiliza a placa aterosclerótica RESINAS ➢ Mecanismo de ação → Sequestradoras de ácidos biliares ➢ São difíceis de se aderir, pois são sachês, devendo-se dissolver em água e tomar, pelo menos, 3x/dia para ter algum benefício ➢ Efeitos indesejáveis: • Intolerância gastrointestinal ➢ Doses: • Sachês com 4g • Dose máxima → 24 g/dia EZENTIMIBA ➢ Depois das estatinas, são as medicações menos ruins em relação as demais ➢ Mecanismo de ação → inibem a absorção de colesterol no intestino delgado ➢ Pode ser utilizada, muitas vezes, como adjuvante ao tratamento com estatinas: • Exemplo → paciente em que é preciso otimizar o tratamento para dislipidemia para que se obtenha a meta de redução do LDL, mas não se consegue reduzir com o uso da estatina em dose otimizada ➢ Antes do início do tratamento → dosar transaminases • Se transaminases > 3x LSN → descontinuar o Ezentimibe ➢ Usar em pacientes > 10 anos ➢ Dose → única diária de 10 mg INIBIDORES DA PCSK9 EVOLOCUMABE (Repatha®) ALIROCUMABE (Praluent®) ➢ São um agente biológico ➢ Mecanismo de ação → o PCSK9 controla a manutenção do receptor de LDL na membrana hepática. Assim, se esse PCSK9 está funcionando normalmente ele faz com que o fígado capte menos LDL da corrente sanguínea.Assim, quando se inibem a ação da PCSK9, o receptor de LDL dura mais e capta mais LDL ➢ Consegue reduzir o LDL em até 60 – 70% ➢ São medicações muito caras ➢ Indicação → indivíduo com dislipidemia muito severa ou um risco cardiovascular muito grave (Ex: que teve muitos Infartos, AVCs...) TRIGLICERÍDEOS INDICAÇÕES DE TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ➢ Não há um consenso entre as diferentes escolas em relação ao tratamento ➢ DIRETRIZ BRASILEIRA, AHA e ADA: • Tratar sempre que TG > 500 mg/dL ▪ Terapia com FIBRATOS, podendo ou não associar ao ÁCIDO NICOTÍNICO ou ÔMEGA-3, independente do risco cardiovascular ▪ Objetivo → prevenir pancreatite • TG < 500 mg/dL: ▪ Priorizar o tratamento com as ESTATINAS para as dislipidemias ➢ DIRETRIZ ESC/EAS: • Se beneficiam do tratamento → Paciente com DM1 ou DM2 + complicações macrovasculares, prevenção secundária, indivíduos de alto risco cardiovascular: se TG > 200 mg/dL ou colesterol não-HDL elevado (30 mg/dL amais da meta do LDL) ➢ DIRETRIZ ENDOCRINE SOCIETY: • A indicação de tratamento é quando os TG > 1000 mg/dL ➢ Em uma prova de residência ou concurso, para saber qual diretriz utilizar, deve-se consultar a bibliografia utilizada
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