Buscar

PAPANEK_Arquitectura e Design - ecologia e etica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 143 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 143 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 143 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Titulo original: The Green Imperative- Ecologyand Ethics
in Design and Architecture
© 1995 Victor Papanek
ectrcao em lingua portuguesa negociada arraves
de Thames & Hudson, Londres
Traducao. Departamento Editorial de Edlcoes 70
Revisao de provas- Luis Guimaraes
Capa. Departamento Graffeo de Ecltcoes 70
Na capa. Exterior cia capela de Thomcrown,
Eureka Springs, Arkansas, 1980, crtada por Fay Jones
Deposito legal nYI 179600/02
ISBN 972-44-0968-6
Direitos reservados para a lingua portuguese
por Bdicoes 70, Lela.
Victor Papanek
Arquitectura
e
Design
Ecologia e Etica
\
com 162 ilustracoes, 36 a cores
•
EDI<;:OES 70, Lda.
Run Luciano Cordeiro, 123 - 2.ll Esq.Q-I069-157 Lisboa / Portugal
Telefs.: 213190240 - Fa" 213190249
E-mail: edi.70@m..iil.telepac.pr
I www.edicoes70.pt I
obra esta protegida pela lei. Nao pode ser reproduztda,
no todo au em parte, qualquer que seja 0 modo utilizado,
Incluindo fotoc6pia e xeroccpla, scm previa autorizacao do Editor.
Qualquer transgressao a Lei dos Direitos de Autor sera passive!
de procedimenro judicial
edlcoes 70
Arquitectura
e
Design
Ecologia\e Etica
:/..
:'---~~t:'""/'<.¥6{C'l
o Ie fIJ£jJ C/YlOO;[ 90426"-2
NOTA DO AuTOR
AGRADECIMENTOS
•
Este livro e dedicado a quatro mulheres:
Deborah, "Kuniang" de Harbin, e as minhas duas filhas,
Nicolette e Jennifer. Houve muitas ocasioes em que a sua presenca foi
extremamente importante e me fez continuar.
:E ir6nico que a uso crescente do sistema metrico me tenha obrigado a
incluir medidas metricas. As medidas antigas, que se baseiam na experiencia
humana de cornprimento, altura, peso, e outras, sao indicadas primeiro,
seguidas das equivalentes metricas entre parentesis, Todavia, as milhas nao
foram convertidas em quil6metros, os acres em hectares, as toneladas em
tonelagern, parque os termos antigos ainda sao muito usados e
compreeodidos. A escala Fahrenheit e iodicada antes da escala Celsius, que
figura igualmente entre parentesis, Todas as referencias a d6lares sao a
dolares americanos. Um biliao no sentido usado na presente obra
corresponde a um milhao de milhoes, e nao, no sentido americano, a mil
milhoes. 0 capitulo 10 deste livro baseia-se em material dos capitulos 4 e 7
da minha obra Design for Human Scale, publicada em 1983.
N o MEU primeiro livre surge a Frase: "Este volume e dedicado aos meusalunos, pelo que me ensinaram." Nos vinte e cinco anos que entao
passaram, del-me conta de que ha ainda muito que precise de compreender e
aprender. Felizmente, continuo a tel' alunos que ainda me ensinam e me
proporcionam novos conhecimentos, bern como os diversos pontos de vista de
diferentes culturas e diferentes grupos etarios.
Expresso a minha gratidao a Jim Hennessey, que foi meu aluno em
Konstfackskola, em Estocolmo, e no California Institute of the Arts, em Valencia.
Mais tarde, Jim tornou-se meu assistente e fomos co-autores em tres Iivros.
Agora, Jim e urn conhecido designer industrial e professor, e foi nomeado para
um leitorado em design industrial na Universidade de Delft. A minha amizade
com ele e com a sua esposa Sara continua tao forte quanto hi urn quarto de
seculo.
Smit Vajaranant, antigo Iicenciado pela Universidade do Kansas, trabalha
agora como chefe de design da maior firma de arquitectura na sua Banguecoque
natal, onde participa tambem activamente na preservacao da tradicao vernacula
das casas tailandesas e na reintroducao de alguns motives natives nos edificios
conten::poraneos. A sua esposa, Julie, trabalha em design industrial e lecciona
no King Mongkut Institute of Tecknology.
Virginia Diaz de Cisco trabalhou comigo numa baia deserta na costa do
Mexico, integrando 0 projecto da sua tese. Concebeu uma "comunidade
intencional" para algumas famflias de pescadores, que incluia filtracao de agua
e sistema de reciclagem, e fontes de energia alternativa. Regressou aVenezuela,
onde exerce a profissao e e professora de arquitectura.
Imam ("Zainuddin") Buchori estudou comigo na Academia Real de
Arquitectura, em Copenhaga. Regressou a sua Indonesia natal, trabalha como
designer industrial e e director de um institute de design, em Bandung.
Takeshi Shigenari afirma que aprendeu comigo apenas atraves dos meus
livros. Especializou-se na criacao de material de ensino e na construcao de
mobiliario para criancas corn deficiencias rnultiplas, numa clinica em Kiyushu.
Publicou um livro sobre 0 seu extraordinario trabalho.
8
INTRODU\;.il.o
o poder do design
Dar tada a assistencia aos arquitectas eum imperatioo moral.
Fay Jones
o design 56 triunfara se guiado par uma perspectiua etica.
John Vassos
TODO 0 DESIGN esta vocacionado para urn objective, Somente as nossasperguntas mudam. Ja nao inquirimos: "Como e que fica?" ou "Como
funciona?". Agora estamos mais interessados na resposta a: "Como se relaciona?"
Ha no design uma sensacao de maravilha, urn sentimento de conclusao que
falta em muitos outros campos. Os designers tern oportunidade de criar alga
de novo> au de refazer algo para que fique melhor, 0 design permite a satisfacao
profunda que provern apenas de levar uma ideia a born terrno e ao seu
desempenho efectivo. Pode ser cornparado as emocoes despertadas pela
construcao de um papagaio de papel e por faze-lo voar: uma sensacao de
conclusao, prazer e realizacao. Isso enriquece-nos como profissionats e como
seres humanos, e da-nos prazer por aquilo que fazernos.
De onde vem este elemento de prazer? Chamaram-nos Homo ludens, 0 ser
que brinca; entre os aspectos humanos mais profundos encontrarn-se, sem
duvida, a curiosidade e a diversao, e na sequencia destas 0 prazer em aprender
com a experiencia e 0 erro, com a experimentacao. Encontra-se associado a uma
profunda necessidade de retirar a ordem do caos ou - no final do seculo XX
- de descobrir 0 sistema subjacente ao proprio caos. Parece que temos
tendencia para trazer significado e padrao a urn mundo que parece arbitrario
e confuso. Somos 0 unico animal "preso ao tempo" >que cornunica tecnicas,
idelas e conhecimentos adquiridos atraves de geracoes, e assim antecipamos
muitos futuros possiveis, a tarefa dos designers e arquitectos inclui, por
conseguinte, urn certo grau de profecia,
Em design - este proeesso experimental, virado para 0 futuro, de criar uma
ordem com sentido - tanto trabalhamos intelectualrnente como a partir de
nfveis profundos da intuicao e da sensacao. Em todos os seres humanos existem
necessidades fundamentals a cornpreensao da ordern, da beleza, da convenien-
cia, da simplicidade, da antecipacao e da inovacao. Os designers procurarn
satisfazer estes anseios atraves do seu trabalho. No sentido mais lato, urn
designer e um ser humano que tenta atravessar a ponte estreita entre a ordem
'(
Maria Benktzon foi minha aluna
Fundou a organizacao RFSU Rehab,
objectos para 0 quotidiano de deficientes
Fhilip White estudou comigo, tanto no KanSas City AJ't:rrlstii:tllte
mais tarde, na Universidade do Kansas. Po'·'" .,~,.cC
dos meus antigos alunos, sernpre ororuno»
relacao entre ecologia, meio ambiente e
massa. Passou varies anos a trabalhar em in'{e';tig:a~ao
Corporate Industrial Design Centre, em Eindhoven
enorme talento e alegria no seu trabalho, e aprendf
Devo referir que todo 0 trabalho deles e rnesmo
seus contributos fico maravilhado e satisfeito.
me visitaram, e fui por diversas vezes aos seus
sabre a variedade de processos criativos e diversidadecultural.
-lhes muito agradecido.
Devo tambem outros agradecimentos, Aos 1UCJUe:e,
Templo de Tanah Lot, na costa ocidental de
trabalhar, Satish Kumar, Brian Nicholson, Karen Thomas,
Helen e outros do Schumacher College, em Darrington, ueVUJl1; merecern
minha gratidao por me ajudarem a encontrar
design. A sabedoria e a amizade de Satish Kumar roram-me
em mementos diffceis,
Atraves da generosidade do falecido Paul Beckett, de Coperihaga,
Fundaci6n Valparaiso, foi-me disponibilizada uma maravilhosa
durante os dois meses que passei em Mojacar, Espanha;
pensar. Ian e Barbara Forrest ajudaram imenso a
agradavel e valiosa para0 meu trabalho, e os meus agradecimentos vao tarnbem
para eles.
o US National Endowment for the Arts atribuiu-me 0 "Premia
como Designer", com uma bolsa permanente, e esta, juntamente 0
inesperado "Premia de Designer Notavel", da lKEA Foundation, de Arnesterdao,
perrnitiram que me dedicasse a escrever este livro.
Tenho de mencionar Keith Critchlow, Christopher Day e David Pearson,
todos do ReinoUnido. 0 seu trabalho, os seus textos e sables conselhos
influenciaram-me profundamente. Mas nem a eles nem a qualquer dos outros
mencionados nestes agradecirnentos sao imputaveis quaisquer dos rneus erros
ou as conclusoes a que cheguei, que sao exclusivamente minhas,
10 o poder do design 11
e 0 caos, a liberdade e 0 niilismo, entre realizacoes passadas e possibilidades
futuras.
No repertorio das capacidades e talentos de um designer incluem-se:
1. a aptidao para investigar, organizar e movar.
2. 0 dorn para descobrir as respostas adequadas aos problemas novos ou
recem-surgidos,
3. a habllidade para testar estas respostas atraves da experimentacao, de
modelos computorizados, funcionamento de prot6tipos au series de
testes reais:
4. a pratica para transmitir esses desenvolvimentos atraves de desenhos,
modelos, sirnulacoes e estudos de viabilidade, em video ou filme, bern
como atraves de relat6rios verbais ou escritos,
5. 0 talento para cornbinar as rigorosas consideracoes tecnicas cia forma
criada com a preocupacao dos factores socials e humanos e cia harmonia
estetica;
6. a sabedoria para prever as consequencias arnbientais, eco16gicas,
econ6micas e politicas provocadas pelo design;
7. a capacidade para trabalhar com pessoas de muitas culturas e areas
diferentes.
Ate que ponto e importante esta mescla de sete capacidades, esta mistura
sinergetica de talentos e tecnicas? Suponhamos que colocamos este designer
imaginario em periodos cliferentes da hist6ria, ou em diferentes lugares do
mundo, apenas com uma ligeira adaptacao das suas capacidades de acordo com
o lugar e a epoca. Quer esteja, ha cerca de tres milhoes de anos, a transformar
uma pedra em ponta de lanca para cacar, quer a trabalhar como oleiro na China
durante a dinastia Sung, quer ainda a construir a proa de um barco viking, ou
a desenhar cartas celestes para nave gar no longinquo Pacffico, a construir uma
igreja barroca na Austria ou a conceber urn programa informatico de diagn6stico
medico, 0 nosso designer adapta-se magnificamente.
Se passarmos da historia a geografia e a antropologia, poderemos ver que
a inovacao, 0 funcionarnento e 0 prazer sao tidos em grande conta em rnuitos
meios diferentes, desde a simples aldeia de pescadores na Nova Guine ate ao
ambiente de alto risco tecno16gico de uma estacao orbital, de uma linha de mon-
tagem em Osaca asociedade cacadora-recolectora dos bosquimanos do Calaari.
Independentemente dos sistemas polIticos ou cren~as religiosas, 0 designer e
aceite em todo 0 lado como um contribuidor essencial para a sociedade.
Tanto a epoca como 0 lugar dao aos designers a certeza de que as tecnicas
e os talentos que colocam no trabalho permanecerao validos no futuro. No
entanto, deveremos ser extremamente cuidadosos com aquilo que criamos e
porque. As mudan~as ambientais no nosso fragi! planeta sao uma consequencia
daquilo que fazemos e dos instrumentos que utilizamos. Agora que as mudancas
que provocamos sao tao grandes e tao ameacadoras, e imperative que os desig-
ners e arquitectos deem 0 seu contributo para ajudarern a encontrar solucoes.
A orientacao da presente obra pode ser apresentada em termos simples.
.E vital que todos n6s - profissionais e utilizadores de services - reconhecamos
as nossas responsabilidades eco16gicas. A nossa sobrevivencia depende de uma
imediata atencao as questoes ambientais, contudo, actualmente, parece registar-
-se ainda uma falta de motivacao, uma paralisia da vontade, no sentido de
proceder as mudancas radicais necessarias. Gostaria de dernonstrar que e precise
um suporte espiritual para a nossa consciencia ecologica. A minha conviccao
muito forte e que a actual preocupacao com 0 arnbiente, a nivel mundial, nao
deve ser encarada como uma moda, a sernelhanca do que sucedeu no inicio
dos anos 70, nem a manutencao da vida na Terra encarada com panico. Estou
convicto de que sera, antes, urn grande renascer ou redespertar espintual, urn
desejo de restabelecer laces mais estreitos entre a Natureza e a Humanidade.
Profundamente arraigada no nosso inconsciente colectivo esta a consciencia
intuitiva da nossa relacao com 0 rneio ambiente. Esta consciencia passou por
amplas oscilacoes pendulares ao longo da hist6ria humana. Em certas epocas,
a nossa proximidade com a Natureza serviu de padrao a todas as nossas accoes,
a nossa arte e as nossas vidas. Noutras, as diferencas imaginadas entre as
humanos e os outros animals, entre a vida humana e a Natureza foram
sonoramente proclamadas por seitas religiosas fundamentalistas, par grupos
politicos totalitarios e por tecnocratas.
No seu livro, The Voice ofthe Earth, Theodore Roszak escreve: "Se a psicose
e a tentativa de viver uma mentira, entao a psicose epidernica da nossa epoca
e a mentira de acreditar que nao temos qualquer obrigacao etica para com 0
nosso lar planetaria." Recorda uma altura em que 0 alimento, 0 abrigo e 0
vestuario eram considerados as necessidades absolutas da vida. Isso deixou de
ser verdade. Recuamos e estamos agora longe da certeza de podermos contar
com ar puro, agua potavel para beber, alimentos que possamos comer com
seguranca e urn ambiente que nao esteja poluido por niveis de ruido
devastadores. Levanta-se, assim, a questao de os designers, os arquitectos e os
engenheiros poderem ser considerados pessoalmente responsaveis e legalmente
imputaveis par criarem utensilios, objectos, acess6rios e edificios que causam
a deteriora~ao ambiental.
Em Fevereiro de 1994, fui orador numa conferencia em Vancouver com
James Wines, fundador da SITE (Sculpture in the Environment - Escultura no
Meio Ambiente), que tecell 0 seguinte comentario: "Basta olharmos para a
configurac;;ao hostil e triste da maior parte das cidades, para vermos como as
ideais de arquitectura, necessidade de objectivo, significado e verdade se
12 Arquitectura e design o poder do design 13
dcterioraram. 0 que cornecou como uma visao abrangente socialista e capitalists
transforrnou-se num sfrnbolo de opressao e num afastamento da Natureza."
Sucedeu 0 mesmo com 0 design. Na maier parte dos pafses industrializados,
muitas pessoas comecaram a esperar uma solucao tecno16gica para cada
disfuncao ecol6gica. Scm duvida, 0 meu amigo e colega Buckminster Fuller
achava que as invencoes futuras remediariam tudo 0 que havia de errado na
Terra, e cingia uma boa parte da sua filosofia a esta crenca. A experiencia diz-
-me que em design, arquitcctura au planeamento, as novas solucoes
tecnol6gicas fazern-se, por norma, acompanhar de duzias de efeitos secundarios
imprevistos, Alguns destes efeitos secundarios podem ir do merarriente
desastroso ao catastrofico, e rnuitos destes cenarios propostos Ignoram
intencionalmente a escala humana. Ha uma outra perspectiva, defendida
principalmente por pessoas que interpretam mal a Hipotese de Gaia (agora a
Teoria de Gaia), de James Lovelock, presumindo que 0 nosso planeta se
adaptara a todas as devastacoes, absorvendo e filtrando de algum modo os
poluentes na atmosfera, regulando os niveis de ozono e purificando as toxinas.
Alern disso, acreditam que a destruicao gradual ou a eliminacao cornpleta das
florestas tropicais sed tarnbem determinada pela propria natureza, e que nao
tern importancia a perda de muitas especies de plantas e animals. A teoria de
Lovelock afirrna inequivocamente que Gaia, a Terra, possui capacidadede
autornanutencao e auto-reparacao, Convinha salientar, no entanto, que esta
teoria nao preve a existencia da nossa especie num planeta que se modificou
em consequencia dos ataques humanos asua biodiversidade e ao seu equilibrio.
Ambosos grupos desconhecern a ecologia, As suas nocoes erradas resultarn
com frequencia de propaganda da industria ou do Estado. Durante este seculo,
ocorreram pela primeira vez duas grandes mudancas no longo curso da hist6ria
humana. Em primeiro lugar, quase todos n6s - pelo menos na metade norte
do globo - passamos para interiores. Existem ainda trabalhos ao ar livre, mas
ate os agricultores que lavrarn os campos tendern a sentar-se numa cabina
climatizada, e a maior parte de nos passa grande parte do tempo em casas,
carros, locais de trabalho, cinemas ou ediffcios publicos, quando nao estamos
a fazer compms em centros comerciais, supermercados ou galerias.
A segunda mudanc;a, terrfvel de cpntemplar, e que atingimos realmente
agora a capacidade de mudar a ordem natural da Terra e tid-la da harmonia.
Fabricamos instrumentos triviais (fHas metricas electr6nicas, secadores de unhas
electricos, ou enormes pistolas de agua feitas com plasticos coloridos, para as
crianc;as), gastando recursos insubstitufveis, envenenando a atmosfera durante
o processo de fabrico e poluindo 0 solo quando nos fartamos deles. Derrubamos
florestas e criamos desertos. Envenenamos os lagos e os rios com produtos
qufmicos industriais au farmaeeuticos, matamos os peixes, e depois bebemos
a agua. Despejarnos detritos e toxinas nos oeeanos e pescamos em excesso, Nao
s6 ameacarnos de extincao outras especies, mas tambem tribos da nossa propria
especie, que dependern de uma relacao antiga e complexa com 0 seu ambiente.
Revestimos edificios com paineis reflectores e, depois, construimos duas
estruturas dessas tao proximas uma da outra que a temperatura entre elas pode
subir a mais de 1600 F (710 C) durante () Verao. Edesperdicada uma quantidade
incrivel de energia no aquecimento e refrigeracao dos edificios.
o que esta a suceder a paisagern, outrora bela, e uma enorme catastrofe
pela qual 0 futuro nos ira amaldicoar, Se houver futuro. A maior parte da
arquitectura contemporanea esqueceu as antigas licoes do design que tomavam
em consideracao a Natureza, 0 clima e os elementos. Frank Lloyd Wright afirmou
uma vez: "f: importante trabalhar com a Natureza, mas alguns arquitectos dirac
a sua cliente: 'Minha senhora, nao posse trabalhar com a Natureza, 0 que me
diz a urn born contraste?». Sugeriu que grande parte da teoria modernista se
baseou numa confrontacao com a Natureza, e defendeu uma atencao mais
profunda aos principles eeol6gicos da COnSt1U~aO natural.
o pos-modernismo sueedeu ao modernisrno, e foi por sua vez substituido
pelo desconstrutivismo. Este movimento cornecou como uma moda literaria que
desconstr6i 0 significado e aparentemente reeonstr6i a realidade historica, 0 seu
mau uso como justificacao para a colaboracao com a ocupacao nazi em Franca,
durante a II Guerra Mundial, envolveu-o em controversia. Deforma a realidade
historica, pretendendo relacionar-se com condicoes actuais na sociedade -
cidades, familias, instituicoes politicas fracturadas. Quando aplicado a
arquitectura e ao design, continua a desumanizar os uteusilios que usamos, as
salas onde trabalhamos e as casas e cidades em que vivemos. Vira-nos contra
o nosso proprio passado e contra a Natureza. Segundo 0 ecologista David Orr,
o desconstrutivismo e uma perspcctiva antimundo, chega inclusivarnente a
afirrnar: "Desconstroi au elimina as ingredientes necessaries a uma perspectiva
do mundo, como se Deus, 0 eu, a mtencao, 0 significado, 0 muncIo real e a
verdade tivessem relaC;ao.. Este tipo de ideia pos.,.moderna, desconstrutiva l
resulta no relativismo, mesmo no niilismo".
Em muitas partes do mundo, as nossas instituic;oes sao disfuncionais.
Cidades da America do Norte, outrora movimentadas, transformaram-se em
baldios de desespero; 0 numero de familias sem lar, e especialmente de crian,as
sem abrigo, aumenta cada vez mais. A poluiC;ao urbana e a pobreza que se
encontra na America Central e do SuI e extrema, As sociedades que passam por
semelhantes transforma<;oes caoticas necessitam desesperadamente de novas e
radicais abordagens do design.·
o design e a arquitequra estao profundamente implicados, nao porque
os designers e os arquitectos ou os engenheiros sejam mas pessoas,
14 Arquitectura e design o pcder do design 15
Trabalhamos para pessoas, empresas OU governos. Comoiafirmou Lewis
Mumford: "Manifestacoes de criminalidade e irracionalidade outrora locais
ameacarn agora todo 0 nosso planeta, bem disfarcadas como empresas s6lidas,
progresso tecno16gico, eficiencia comunista au governacao dernocratica.' Somas
culpados au cumplices de nao alertarmos com frequencia os nossos clientes,
sejam eles governos, empresas privadas au individuos. Urn designer tem sido
sempre e tambern urn professor, estando em posicao de informar e it1fluenciar
o cliente. Com a actual confusao ambientai e ainda mais importante que ajude-
mas a orienrar a intervencao do design, de modo a que seja natural e humana.
Temos de alargar as nossas pr6prias areas de conhecimento, e simultaneamente
reorientar os nossos modos de trabalhar. Este livro tern essa tarefa.
Wes Jackson, fundador do Land Institute em Salinas, Kansas, refere que a
nossa sociedade e a primeira a ter criado 0 "faca-voce-mesmo a extincao".
Propoe aigo a que ehama de visao nao instruida do mundo no sentido de por
termo adeterioracao ambiental, em vez do actual sistema com base em supostos
conhecimentos. Defende veementemente que e possivel mudar a situacao,
bastando para tal adrnitir que ja nao podemos continuar com os pressupostos
de que "arranjaremos alguma solucao" ou que "sabernos 0 que estamos a fazer".
Insiste mesmo que devemos partir cia premissa de que nada sabemos quanto
as consequencias futuras do que sabemos. A pubiicidade aos cigarros
proclamava que tinham sido aprovados pelos medicos como saudaveis e uteis
para a respiracao - agora veriflcam-se cerca de quarenta mil mortes provocadas
pelo tabaco so nos Estados Unidos. Os governos, os propagandistas e os "eco-
-peritos'' industriais dizern que "nao foi estabelecida uma ligacao nftida entre
as emanacoes de enxofre das chamines das fabricas e a ehuva acida", e que,
par conseguinte, por enquanto nao e precise fazer nada. Os cientistas
acreditavam que os CFC (clorofluorocarbonetos) nao eram t6xicos e nao
polufarn - somente depois de destruirem extensas areas da eamada de ozono
e que nos comecamos a aperceber desse profundo erro.
Uma perspectiva mundiai baseada no reconhecimento do pouco que
sabernos poderia nao so proteger-nos de futures erros devastadores, mas
requerer tambem urn abandonar da arrogancia, que se afigura uma caracteristica
tao forte na personaiidade dos designers e arquitecros. Poderiamos,
inclusivamente, tentar encontrar urn poueo da tao necessaria humildade. Pode
ser este 0 ponto cardeal onde a pratica do design encontra 0 iado espirituai.
o budismo ensina a humildade e a futiiidade das posses materiais e, na verdade,
sao estes os principios de muitas filosofias e religioes.
Talvez nao devesse existir a categoria especial chamada "design sustentavel".
Talvez Fosse mais simples presun1ir que os designers tentassem reformular os
seus vaiores e 0 seu trabaiho, de modo a que rodo 0 design se baseasse na
humildade, combinasse os aspectos objectivos do clima e 0 uso ecoi6gico dos
materials com processos intuitivos subjectivos, e assentasse em factores culturais
e bio-regionais.
Os "consumidores" (ou utilizadores, como serao ehamados ao longo da
presente obra) estao tambem impiicados nesta crise ecoi6gica. Na corrida
gananciosa por cada vez mais bens materials (no Ocidente e, mais recentemente,
nos paises da antiga Uniao Sovietica e do Leste da Europa), negligenciamos
gravemente as nossas Iigacoes com a Natureza e a nossa responsabiiidade para
com 0 meio ambiente; estamos a perder amor, afecto e respeito uns pelos
outros; estamos a esquecer a alegria do efernero e a liberdade de possuir pouco
em termos de bens materials.
A minha lembranca mais viva dos dois anos que vivi nailha de Bali, na
Indonesia, trabaihando em design para a UNESCO, e a instabilidade das coisas,
que pode muito bem ser 0 resuitado da arneaca sempre presente da erupcao
vulcanica (anualmente, em Bali, verificam-se cerca de oitocentos pequenos
sismos e doze grandes), Uma vida que se baseia na mudanca e no efernero e
subtilmente condimentada. Em Bali, este aspecto encontra-se igualmente
associado a rica teia das relacoes pessoais e ao facto de todos participarem
activamente em muitas artes diferentes. Existe sabedoria e conhecimento no seu
proverbio: "Nao temos arte, apenas fazemos 0 meihor que podernos."
Pensem na ultima vez que tiveram uma experiencia efernera, fugaz. Pode
ter side urn espectaculo em directo na televisao, que foi divertido apenas porque
o inesperado podia acontecer e aconteceu, ou urn concerto que nao foi gravado
e nunca mais podera ser repetido, A bela paisagem que nao fotografaram talvez
tenha ficado mais fortemente retida na vossa mente do que aquelas que tentam
parar no tempo. 0 sabor picante e unico do irrepetivel pode ser a razao de os
Balienenses, com frequencia, passarem muito tempo a construir complicados
arranjos de oferendas com fruta, flares e alimentos. que levam para as templos
e que durarao ~scassas horas au dias, em vez de esculpirem urna estatua de
pedra que resistiria seculos. Quando tudo e transitorio, e a vida que se torna
duradoura. Taivez por esse motivo 0 meu amigo I Gusti Nyoman Lempad, de
Ubud, que foi um notavel pintor, escultor, dancarino (desde os oito anos de
idade), compositor, rnusico, professor, poeta, arquitecto, contador de historias
e cozinheiro famoso pelo tempero subtil dos seus pratos, morreu feiiz e
realizado com 118 anos. Parece que, ao concentrarmo-nos em bens que nao
duram tanto quanta esperamos e que se estragam, perdemos 0 nosso sentido
de qualidade e do transit6rio. Ao tentarmos tornar a arte lucrativa e util,
perdemos tambem a nossa sensa~ao de alegria, Ao promovermos as produ~oes
triviais do p6s-modernismo e do desconstrutivismo, e ao considera-las dignas
de serios debates, abandonamos a feiicidade.
16 Arquitectura e design
A presente obra tenta desenvolver estas ideias de uma forma rnais
sistematica. Examina a relacao entre as disciplinas do design e cia arquitectura,
por urn lado, e a ecologia e a preocupacao com 0 arnbiente, por Dutro. Eeste
o tema principal dos capitulos "Hoje existe, amanha ja nao?" e "Criar para urn
futuro mais seguro".
Sao necessarios responsabilidade etica e valores espirituais no design e na
arquitectura que nos ajudem a encontrar urn modo de vida sustentavel e
harmonioso, este aspecto e abordado no capitulo "0 lade espiritual do design".
A nossa cornpreensao e apreciacao do design ou cia construcao foi gravemente
afectada pela concentracao quase exclusiva nos aspectos visuals: "Sentir uma
habitacao" mostra-nos como e possivel readquirirmos a alegria de ler a estrutura
de urn edificio atraves dos nossos sentidos, e a razao de alguns edificios nos
fazerem sentir bern. "Comunidades para seres humanos" continua esta analise
da construcao a escala humana em relacao ao planeamento da cidade e da
cornunidade. "As licoes da arquitectura vernacula", 0 capitulo seguinte, destina-
-se a todos n6s, nao apenas aos arquitectos, todos podemos beneficial' se
olharmos e aprendermos com as praticas das construcoes passadas.
Os capitulos seguintes sugerern-nos como cada um de n6s, na qualidade
de utilizador, pode contribuir para as mudancas radicals dos valores necessaries
a criacao de urn estilo de vida sustentavel, e apontam para tacticas e estrategias
especfficas a que os utilizadores, ou "consumidores", podem recorrer. "A forma
segue a diversao" explora a estreita divisao entre estilo e moda, e sugere
maneiras de podermos voltar a apreciar as alegrias fugazes. As perguntas e as
referencias no capitulo intitulado "A conveniencia e 0 inimigo?" ajudarao os
utilizadores a tornar decisoes sobre 0 que devem ou nao comprar, e "Partilhar
e nao comprar" apresenta algumas alternativas praticas aaquisicao continua de
aparelhos, utensflios, acess6rios e roupas.
"Geracoes vindouras" analisa a forma como 0 ensino do design poderia
ajudar os nossos mhos e os designers do chamado Terceiro Mundo a aprender
com as nossos erros.Os povos consideraclos "primitivos'' tern multo a ensinar-
-nos, e abordo esse aspecto no capitulo "Os melhores designers do mundo?"
o ultimo capitulo, "A nova cstetica. a pensar no futuro", faz 0 inventario
dos pontos genericos tratados na presente obra, e evidencia as imensas
possibilidades da arquitectura e do design se se tornassern mais responsaveis
em termos sociais e ambientais, e se cada um de n6s tentasse viver uma vez
mais em harmonia com a Natureza.
Templo de Tanah Lot, Bali
Schumacher College, Darrington, Devon
Fundaci6n Valparaiso Mojacar, Espanha
1991-95
CAPjTULO 1
Hoje existe, amanha ;a nao?
Agora, todo 0 pensamento digno desse nome deve ser eco/6gico.
Lewis Mumford
EXlSTEM POUCAS duvidas de que 0 ambiente e 0 equilibrio ecol6gico doplaneta se tornaram insustentaveis, A menos que aprendamos a preservar
e conservar os recursos da Terra, e a mudar os nossos padroes basicos de
consumo, fabrico e reciclagem, podemos nao tel' futuro.
Estamos todos, cada um de nos, envolvidos nas questoes da ecologia, e
parecemos adoptar uma das duas formas de encarar os problemas levantados
por um meio ambiente a deteriorar-se. A primeira e tentar fazer algo ao nivel
individual ou familiar; usarmos menos agua nos autodismos, separarmos e
reciclarmos ° lixo, comprarmos carros de consumo mais econ6mico, instalarmos
a energia solar em nossas casas e, de um modo geral, praticarmos a conservacao
e a preservacao sempre que possivel, Aderimos a iniciativas de consumidores
em campanhas contra 0 usa de produtos quimicos t6xicos na agricultura, contra
o corte de arvores ou contra a matanca das baleias. A segunda e encolhermos
os ombros e decidir "deixar isso para os peritos". 0 que equivale a nao assumir
a nossa responsabilidade relegando as responsabilidades eticas para um grupo
indefinidode cientistas e activistas,
Sugiro que se acrescente uma terceira forma. Ternos de examinar qual 0
contributo que cada um de n6s pode dar em funcdo da sua actiuidade na
sociedade. Ternos de perguntar: '10 que posso fazer como professor universitario,
operario da construcao, taxista, professor primario, prostituta, advogado, pianista,
dona de casa, estudante, empresario, politico ou agricultor? Qual 0 impacte do
meu trabalho sobre 0 ambiente?"
Existe uma dimensao ecol6gica e ambiental em todas as actividades
humanas. Qualquer que seja a disciplina leccionada, um professor pode dar 0
seu contributo pessoal reduzindo 0 imenso desperdicio de papel, usando os
computaclores para arrnazenar dados e dirninuindo a quantidade de fotoc6pias
para as aulas. 0 operario da construcao au 0 taxista tern de vel' como e que 0
seu trabalho afecta 0 arnbiente: desliganclo 0 motor do taxi ou das maquinas
de construcao, em vez de os deixarem a trabalhar, estacionar em vez de circular
a procura de clientes, sao intervencoes aparenternente pequenas mas que
podem ajudar. Os actos simples podem fortalecer 0 individuo, proporcionando
uma sensacao de estar a fazer algo para ajudar. Os gestores, os polfticos e os
18 Hoje e.xiste, amanhii ja ndo? 19
Concentracoes de ozona sabre a Antarcuda (a oermelbo e amarelo) registadaspar sa/elite durante
os anos 80.
advogados encontram-se em posicoes de poder: devem apurar a sua
cornpreensao do exacto equilibria entre ecologia e economia - uma relacao
que, por norma, e falsamente apontada como de confrontacao, quando estudos
recentes mostram que a consciencia eco16gica pode ter consequencias
econ6micas positivas, A questao cia intervencao eco16gica sera desenvolvida ao
longo de todo este livro.
o NOSSO DANll'ICADO PLANETA
Entre 1981 e finals de 1994 registaram-se grandes mudancas climaticas em todo
o mundo. Os Vetoes de 1990 a 1996 foram dos mais quentes registados na
Europasetentrional, e a Outono de 1994, na Suecia, dos mais amenos dos
ultimos duzentos e cinquenta anos. Durante este mesrno periodo de treze anos,
as Invernos na America do Norte e na Europa foram, regra geral, muito mais
quentes, no entanto interrompidos por breves vagas de frio em que a
temperatura desceu aos -379 F C-3Q C). A Australia foi assolada por enormes
incendios provocados pelas secas prolongadas. Os Veroes no Norte da Argen-
tina e no Nordeste do Brasil registaram temperaturas muito mais elevadas do
que 0 normal, e os Veroes desde 1987foram mais quentes do que os anteriores,
Em Maio de 1994, soubemos que 0 aquecimento da Terra e os buracos na
camada de ozono aurnentaram quase ao dobro do ritmo previsto em 1987.
Durante 0 Verao de 1993, enormes cheias nos Estados Unidos causaram
destruicao em nove estados, e durante quase tres meses 0 rio Mississipi atingiu
um caudal seis vezes mais largo do que 0 normal. A zona subsariana de Africa,
a partir de finals dos anos 70, tem visto 0 clima de tipo desertico avancarpara
suI e estas secas continuas devastaram 0 NIger, 0 Chade, 0 Senegal e a Costa
do Marfim. A incidencia de grandes tufoes no Sueste Asiatico duplicou entre
1990 e 1994. 0 Bangladesh sofreu as duas piores inundacoes na sua historia
em 1982 e 1983; durante a segund" por incrivel que pareca, 810/0 da sua
superficie ficaram varios dias submersos par agua com 2 m de altura.
o furacao mais devastador que varreu a Florida registou-se em 1992, e
grandes furacoes continuam a flagelar a costa leste dos EUA. El Nino, a
aquecimento peri6dico das correntes oceanicas ocidentais que se deslocam na
direccao da America do SuI, provocou fortes chuvas que resultaram em
desabamentos na Colombia, Equador e Venezuela.
Os padroes terrnicos e meteoro16gicos absolutamente imprevisiveis dos
ultimos anos sugerem estarmos a viver uma epoca de grande mudanca
ambiental. Em ]unho de 1993, altura em que este capitulo foi escrito no SuI de
Espanha, que norrnalmente tinha um clima de tipo desertico, a temperatura
ambiente era nitidarnente fresca e cafam chuvas fortes. Simultaneamente, urn
colega que chegou de Helsinquia referiu que nas semanas anteriores se verificara
ali uma vaga de calor que teria sido considerada tropical em Agosto.
A PERSPECTIVA HISTORICA
No entanto, a Humanidade ja antes passou pOI' crises ecologicas, ambientais e
energeticas, Tenho estado a trabalhar com uma historiadora, ajudando-a a
transferir os seus interesses academicos para estudos ecol6gicos e arnbientais,
e aprendi muito sabre os efeitos das mudancas climaticas no passado.
A primeira grande crise energetica deu-se muito antes da crise petrolifera
de 1973. Ha doze mil anos, a agricultura (a transformacao anual das gramineas
silvestres em cereals cultivados) iniciou-se no Levante suI sob a simultanea
pressao da seca, ternperaturas elevadas, sobrepovoamento e exploracao
excessiva dos recursos naturals. Esta razia forcada na genetica botanica provocou
grandes alteracoes nos esquemas da nutricao, do cornercio e da colonizacao.
A Pequena Era Glaciar da Europa ocidental durou mais ou menos de 1550
a 1700 e ajudou a criar modos de vida) de agricultura e, como consequencia,
de expressao artistica. 0 maior tempo passado dentro de casa durante as longas
invernias levou ao florescimento de artefactos para tornar a vida mais
20 Arquitectura e design Hoje existe, amanhii ja nao? 21
confortavel, como 0 fabrico de colchas, a tecelagem de mantas carpetes e
artigos de ceramica. Foram usados espelhos e cristais em experiencias para
expandir a luz das velas, aumentou 0 interesse pelo canto coral e pela decoracao
dos lares e das igrejas. As condicoes durante a Pequena Era Glaciar devem ter
sido muito parecidas com as das quintas isoladas, sem Iuz e rodeadasde neve
durante os seculos XVIIl e XIX, na Finlandia. Este modo de vida centrado no
lar alimentou todos as tipos de expressao artistica, especialmente na rrnisica e
na literatura, que substituiu a tradicao oral das hist6rias e cia poesia. Urn dos
resultados mais evidente do clima frio em Inglaterra foi a extincao do sistema,
das terras comunais (devido ao aumento das quintas de criacao de carneiros),
que provocou grandes mudancas na posse da terra, no trabalho e na estrutura
de classes.
o debastamento de florestas nao ocorreu uma vez mas muitas e em
diferentes locals. Verificou-se uma crise energetica em Inglaterra no seculo XVI,
obrigando as pessoas a queimar carvao ou turfa - mal-cheirosos, inconve-
nientes e sujos - para afastar 0 frio nos meses de Inverno. Contudo, numa
paisagem drasticamente deflorestada e transforrnada em pastagens para carneiros
nas terras interiores do Norte da Inglaterra e na Esc6cia, ja nao era usada a
fogueira crepitante de toros. A extraccao de carvao nao s6 alterou a estrutura
do povoamento, atraves da construcao de cidades mineiras e mas de cabanas
para a classe operaria, mas introduziu tambem as "negras fabricas satanicas" e
o comeco da poluicao atraves do uso dos combustivcis fosseis, A precipitacao
de fuligem e p6 de carvao nao tardaria a poder ser avaliada pelas mudancas
no aspecto ,da borboleta geornetridea, em cujas asas mudaram as manchas
branco-prateadas com pintas escuras para camuflagem na casca do vidoeiro,
passando para urn castanho-escuro uniforrne, para condizer com os vidoeiros,
agora enegrecidos pela fuligem.
Na China, 0 abate excessivo de arvores causou a falta desse combustivel
que durou de 1400 a 1800, um nitido ensaio-geral para os embargos petrolfferos
do seculo xx. Os Chineses viram-se obrigados a queimar palha e - tendo
aprendido a construir com bambu - desenvolveram uma tecnologia de
estruturas com base no bambu somente igualada pela da America Latina antes
da conquista. Os historiadores ecologistas dispoem agora de muitos dados sobre
a China e estao a preparar um estudo sabre a possivel relacao entre os ciclos
de precipitacao e de seca no desenvolvimento das estepes e a subsequente
expansao da populacao da Asia Central. Os habitantes da India, Paquistao, Sri
Lanka e Bangladesh, terras onde foram destruidas florestas, secam e queimam
estrume de vaca, a falta de outro corubustivel.
Convem lembrar que quase todos os desertos do mundo - exceptuando
o do interior australiano - sao criados pelo homem, Estudos recentes sugerem
a influencia do clima e das ecocatastrofes na mudanca do destino da civilizacao
maia na America Central.
A perspectiva hist6rica poe em evidencia a alarmante rapidez da mudanca
verificada nas ultimas decadas, Vivo agora no Kansas e fiquei a saber que, na
parte ocidental do Estado, um dia, em Junho de 1860, ficou escuro como a noite
- a luz do Sol foi tapada pelo voo de entre tres a cinco mil milhoes de pombos
migrat6rios, que partiram as arvores quando pousaram. Agora, passados pouco
mais de cern anos, s6 resta urn pombo migrador - foi embalsamado e encon-
tra-se no museu de hist6ria natural da minha universidade.
A coloracao escura da borboleta geometridea, c. 1850-1970, indica 0 periodo deptorpoluicdo,
A ACELERAC;:AO DA CATAsTROFE
A nossa actual preocupacao com a biosfera I' 0 resultado de uma serie de
catastrofes recentes. Uma das primeiras indicacoes dos potenciais perigos para
a existencia humana que a industrializacao provoea comecou no japao em 1932
e durou ate final dos anos 50. Atraves dos esgotos foram bornbeados
excedentes de mercuric na baia de Minamata, intoxicando milhares de
pescadores loeais e suas famflias da regiao de Chizo, no japao, Somente em
1953 foi possivel obter provas cientifieas de que tal accao continuara a causar
grande~ danos geneticos e levara ao nascimento de muitas criancas com
deficiencias profundas.
Seguiu-se 0 intoxicamento em grande escala com bioxina, na Sardenha e
noutras partes de Halla, que teve inicio em 1949. De entao para ca, entre
centenas de acidentes nucleares rnais pequenos, tivemos a quase fusao do
reactor termonuclear de Three Mile Island, na Pensilvania, em 1982; 0 desastre
de Chernobyl, na Ucrania, em 1986; 0 envenenamentode milhares de pessoas
por uma empresa qufrnica americana em Bhopal, na India, em 1984; em 1986,
uma fabrica suica de produtos farrnaceuticos Iibertou acidentalmente grandes
quantidades de substancias qufrnicas toxicas no Reno, envenenando 0 rio desde
as nascentes, na Suica, ao longo do seu curso pela Alemanha, Franca, Belgica
e Holanda, eliminando a vida piscfcola durante mais de cinco anos.
Tivernos, em media, cada dois dias, durante os ultimos dezoito anos, um
grande derramamento ocednico de petr6leo. 0 derrarnamento do petroleiro
Leoes marinhos em rocbas cobertas de peiroteo apos asderramamentos do Exxon Valdez em 1990.
23Hoje existe, amanhd ja nao?
o incendio dos POfOS de petroleono Kuwait, em 1991, emitiu 200 milh6es de toneladas de di6xido
de carbono.
fabricas, que se transformam em chuva acida, os gases libertados pelas fabricas
no Midwest americana provocam estragos no Canada devido a chuva acida, as
fabricas no distrito do Rur na Alemanha e Republica Checa estao a afectar a
Suecia e a Dinarnarca.
Paira a terrivel ameaca do aumento do efeito de estufa. Parte do calor do
Sol e irradiada novamente da superficie da Terra e grande parte fica retida pelos
varies gases naturais que se formam na atmosfera) como 0 dioxide de carbone,
o oxide nitroso e 0 metana) que actuam como 0 vidro numa estufa. As nuvens
tern tambern urn efeito ampliador: os cirros deixam passar a luz do Sol, mas
retem 0 calor. Este efeito e necessario a existencia da vida tal como a
conhecemos, pois sem ela 0 nosso planeta seria consideravelmente rnals frio.
Par outro lado, a actividade humana, combinada com 0 crescimento explosivo
da populacao, aumentou a producao de gases de estufa a urn ponto tao
alarmante que os cientistas preveem 0 aquecimento global que pode estar ja a
verificar-se nas recentes mudancas climaticas.
Arraves da recolha de amostras por perfuracao da rocha, do gelo arctico e
do solo deterrninou-se que 0 conteudo de di6xido de carbone na atmosfera
nunca excedeu 280partes por milbdo durante as ultimos doze milboes de anos.
Em 1958 subira para 315partes; para 340 em 1988, epara 350 em 1993. Este
e 0 resultado da queima de combustiveis f6sseis (carvao, petr6leo e gas) e da
diminuicao das florestas tropicais que absorvem grandes quantidades de.di6xido
de carbona assim como produzem oxigenio,
Arquueaura e design22
Exxon Valdez, em 1990, afectou a vida selvagem, os bancos de pesca e a costa
do Alasca, e continuara a faze-to durante 0 proximo seculo; pondo em pengo
a vida cultural e a propria existencia dos povos nativos do Alasca, que vivem
da caca e da pesca. Em Agosto de 1984, os tribunais consideraram a Exxon
Corporation culpada de negligencia criminal e teve de pagar cinco mil milhoes
de d6lares aos povos e pescadores nativos do Alasca, alern de quase dois mil
milhoes de d6lares por danos directos.
A explosao do oleoduto siberiano em 5 de junho de 1989, na Russia, fez
tambem descarrilar dais comboios, matando centenas de pessoas. Numa media
de ires vezes par dia, cidades au aldeias tiveram de ser evacuadas algures no
mundo em virtude do derramamento de produtos quimicos toxicos devido a
acidentes de comboio ou choques de camioes.
Muitas vezes, as pessoas parecem demasiado alheias aos seus governos em
materia de preocupacao com a ecoiogla. A segunda maior tragedia ecol6gica
provocada pelo homem no seculo XX foi 0 incendio de mais de quinhentos
po,os de petr6leo no Kuwait, no firn da Guerra do Golfo. A primeira e a pior
catastrofe ecol6gica do nosso tempo foi a destruicao e desfolhamento sistematico
das florestas no Vietname, Laos e Camboja de 1968 a 1971, atraves do uso do
"agente laranja" e outros produtos quimicos e biol6gicos.
Ha outros desastres, nao menos devastadores pela sua evolucao 'mats
insidiosa. A morte lenta das florestas e lagos do Norte da Europa e do Norte
da America e causada em grande parte pelas ernanacoes das chamines das
24 Arquitectura e design Hoje existe, amanhit ja nito? 25
o oxide nitroso e tambem produzido pela queima dos combustfveis f6sseis,
e multo mais provem do aumento do usa dos adubosqufmicos na agricultura,
Sao produzidas enormes quantidades de metano pelo gado (agora criado em
cada vez maior numero, para dar resposta a uma dieta de tipo ocldental; que
se baseia em particular na carne enos lacticfnios), pelos solos alagados como
as dos arrozais; pela producao de petr61eo e gas, e pelosaterros sanitarios.
Os CFC (os dorofluorocarbonetos, vulgarmente utilizados nos aerossois),
que s6 foram inventados a partir de 1930, sao responsaveis pelos buracos na
camada de ozono, aumentando 0 risco de cancro cia pele, leucemia e
anormalidades de nascenca em todo 0 mundo, em consequencia cia diminuicao
cia proteccao contra as raios solares ultravioletas, e - rnais horrfvel -
contribuindo para 0 elevado aquecimento do dima da Terra. Os CFC estao a
ser retirados em virtude cia arneaca que causarn acarnada de ozono, mas estao
a ser substitufdos nos refrigerantes, solventes, agentes cornpressores para 0
plastico esponjoso, por gases afins, os HCFC e HFC que, conquanto menos
fortes como destruidores do ozono, sao gases de estufa de longa duracao,
Os nossos melhores mode1os simulados em computador indicam-nos uma
previsao de subida da temperatura de 1° aI,S" F (0,6 a 0,8" C) por alturas do
ano 2000, e uma consequente subida do nivel do mar de cerca de tres pes
(1 metro). Nao se afigura muito arneacador ate pararrnos para calcular que,
numa praia inclinada, tal subida traria 0 oceano ate 295 pes (90 m) acima da
sua actual linha da mare.
A destruicao das florestas tropicais tem de parar agora. Infelizmente, alguns
destes pulmoes verdes naturals da Terra foram ja elirninados nos ultimos anos.
A destruicao de enormes areas de floresta humida em Sarawak, que se iniciou
em 1991, eliminou toda a floresta tropical do NOlte de Borneu em meados de
Setembro desse mesmo ano. A floresta amaz6nica e outras florestas troplcais
estao ainda connosco; alern da sua enorme importancia para a atmosfera
terrestre, contern milhoes de especies, muitas ainda desconhecidas, algumas das
quais se encontrarn em perigo de serern eliminadas definitivamente. A congossa
cor-de-rosa, natural da cada vez mais reduzida floresta tropical de Madagascar,
produz dois cornpostos eficazes no tratamento de dois tipos de cancro a
leucemia linfocitica e a doenca de Hodgkin.
Ate nos Estados Unidos hi exernplos de plantas beneficas anteriormente
desconhecidas, como 0 teixo do Pacifico, cuja casca e agulhas se revelararn
muito uteis no tratarnento do cancro dos ovaries e de alguns. cancros da mama.
Na esperan<;a de cura ou, pelo menos, de controla da SIDA, as empresas
farmaceuticas continuam a estudar plantas) Hquenes) esporos, fungos e outros
especimes botanicos, bem como diversos solos raros. Entre as muitas drogas
experimentais criadas para estudo laboratorial em 1993, uma continha
constituintes de urn cogumelo de arvore da floresta tropical brasileira.
Mesmo mudancas aparentemente triviais no meio ambiente, como 0 enorme
aumento das moscas tse-tse e dos mosquitos portadores da malaria, podem ser
directamente imputadas a actividade humana. S6 nas lixeiras dos Estados Unidos,
ha aproximadamente tres mil milhoes de pneus de autornoveis e camioes. Os
pneus conservam agua estagnada e constituem um habitat perfeito para estes
insectos.
Tais catastrofes, provocadas cada vez em maior numero, fazem com que
seja vital para a sobrevivencia do mundo, tal como 0 conhecemos, que os
designers industriais, os designers graficos e os arquitectos - contribuindo a
partir das suas areas especificas de conhecimento e influencia, e associan-
do-se a outras disciplinas - se envolvam na prOCUl"a de solucoes ambientais.
CURAR A ESCALA HUMANA
Existe aqui um problema secundario. Trata-se do problema da escala humana,
a arneaca da grandeza. A minha principal conviccao como ser humane, designer
e ecolcgista e: Nada do que egrande resulta - Nunca! Basta olhar para a
General Motors, a Ge'neral Dynamics, a General Electric ou a GeneralWestmoreland e todos os seus "exercitos", para vermos a verdade desta
proposicao, 0 mesmo sucede naqueles paises grandes que se tornaram fracos
devido ao seu tamanho ingovemavel, como a antiga Uniao Sovietica, os Estados
Unidos, a China, a India e - em menor grau - 0 Brasil, a Indonesia e a
Nigeria. Esta maldicao da grandeza e verdadeira em relacao a grandes empresas,
enormes sistemas escolares, burocracias galopantes e outras mega-estruturas.
Nada do que egrande resulta - Nunca! e um simples facto natural, afirmado
com elegancia pelo biologo D'Arcy Thompson: "0 elefante e 0 hipopotamo
crescerarn tao desajeitados quanto grandes; 0 alee e forcosarnente menos
gracioso do que a gazela."
A esperanca em relacao ao futuro provem de se testemunharem pequenas
reparacoes dos danos que causarnos. Atraves dos boris esforcos de algumas
pessoas, algumas especies animals foram salvas da quase extincao. 0 carneiro
do Lincolnshire fornece um leite quase isento de colesterol e uma la
extremarnente fina. A vaca de Devon e, tanto quanto sei, a unica que da carne
com muito pouca gordura. Os coleccionadores de tapetes navajos tern
consciencia de que os melhores artigos foram produzidos antes de 1870 ou
depois de 1960. A razao deve-se ao facto de antes de 1870 os cobeltores para
sela e os tapetes serem feitos com la de carneiros churro - uma ras;:a de
carneiros que fornece simultaneamente quatro tipos de la, uns extremamente
finos e sedosos) outros asperos e resistentes. Quase um seculo depois, os
carneiros chuno voltaram 4 sel' criados, depois de quase extintos, e a sua la e
novamente tecida pelos fndios americanos.
Estes tempos perigosos para a Terra requerem nao 56 paixao, imaginacao,
inteligencia e trabalho arduo, mas - essencialmente - urn sentido de opti-
mismo disposto a agir sem plena compreensao, mas com fe no efeito de
pequenos actos individuals sabre a cenario global. As accoes do municipio de
Irvine, na Calif6rnia, relatadas no New Yorker, ilustram perfeitamente este ponto.
Em 1989, foi aprovada legislacao que restringia a venda e a usa de aerossois
dentro dos limites cia cidade. Isto afectou 0 cornercio local e aumentou as
precos, alem disso, quaisquer melhoramentos na atmosfera seriam tao infimos
que nao se notariam; quaisquer beneffcios deverao ser globais e nao locais, para
as geracoes futuras e .nao para agora:
"E idealista, mesmo quixotesco, a pequena Irvine assurnlr a responsabilidade pelo
ccu. E, no entanto, ao nivel emocional, a accao parece correcta. A medida que os
problemas do globo se VaG tornando avassaladores, a ideia de localidade assume
uma nova importancia politica... Pode ser que a autoridade - 0 poder de assumir
a responsabilidade - constga ser recuperada apenas ao njvel local, e por isso a
politica local adquiriu urn novo significado... 0 exemplo de Irvine nao se aproxima
sequer da solucao do problema da destruicao do ozono, mas a Camara Municipal
de Irvine tambern nao afirmou que 0 faria: 0 ceu e tao grande e Irvine tao pequena
que a relacao da cidade com 0 problema e Identificada automaticamente como a
de pequenos seres com algo que ultrapassa 0 seu controlo. Neste reconheclmenro,
recupera-se a verdadeira escala e, com ela, a eficacia. Nao esta ao alcance de Irvine
resolver os problemas ambientais, mas porque a cidade chamou a si a responsa-
bilidade de fazer 0 que lhe for possivel, 0 problema deixou de estar esquecido. Ao
analisar a seu proprio contribute para a destruicao do ozono, as edis de Irvine
perguntaram: "Se nao fizermos alga contra isso, quem fara?" e ouviram a resposta.
"Ninguem."
27Hoje existe, amanbd ja ndo?Arquitectura e design26
As florestas hiimidas dos tropicos ajudam a manter a atmosfera do planeta. A congossa cor-de-rosa, uma plansa da floresta bumtda, e valiosa no tratamento de certos upos de
cancro.
28 Arquitectura e design Hoje existe, amanba ja nao? 29
Os problemas podem situar-se a nivel mundial, no entanto s6 cedem com
uma intervencao descentralizada, local e a escala humana, Em parte, devido ao
facto de ainda nao conseguirmos avaliar 0 impacte do que fazemos como
designers e como consumidores, as nossas accoes devem ser de pequena escala
para que as hipoteses de cometer grandes erros de calculo sejam tranquiliza-
doramente remoras.
A malaria dos arquitectos e designers - em especial os jovens designers
industria is - serite que a alta tecnologia e susceptivel de perturbar profunda-
mente 0 equilibrio eco16gico. Manifestam esta preocupacao atraves do anseio
nostalgico pelo passado, pela tentativa de retorno a urn estilo de vida aparente-
mente simples e primitive. No entanto, DaD se pode fazer retroceder 0 tempo,
por muito boa que a razao se afigure. Outros - igualmente preocupados com
o ambiente - estao convencidos de que os problemas da alta tecnologia
requerem uma "solucao tecno", ou seja 0 usa de ainda mais tecnologia para
resolver os problemas de base tecnol6gica que enfrentamos no planeta.
Todavia, ambos os pontos de vista estao errados. Muitas respostas uteis a
alguns destes problemas vern com frequencia de areas que normalmente
associamos aalta tecnologia, como a electr6nica, os computadores e os circuitos
integrados. Nao e de mais salientar a importancia da informatica na analise do
aumento da destruicao da camada de ozono. Os dados obtidos atraves de
satelites especiais permitern-nos compreender com profundidade ate que ponto
a poluicao, a desertificacao e as secas mudaram os solos. os oceanos e 0 clima
da Terra. Mas tambern, tanto atraves das ciencias naturais como da antropologia,
da geografia cultural e da geologia chegar-nos-ao indicios informatlvos sobre
a verdadeira natureza das dificuldades que enfrentarnos. Conhecimentos ainda
mais profundos provirao de fontes biologicas, botanicas e biom6rficas, assim
como do estudo da historia, da etnografia e da chamada "tecnologia antiga",
Estamos todos no mesmo barco e necessitarnos de toda a informacao que
conseguirmos obter.
o TEMPO ESTA DO NOSSO IADO?
A maioria das pessoas concorda que as catastrofes ecologicas acarretam enormes
perigos, mas damos-lhes pouca importancia, convencidos de que as rnudancas
decorrem Ientamente na Natureza durante penodos que vao ate milhoes de anos
- 0 Cambriano, 0 Triassico, 0 Cretaceo, e assim sucessivamente, Durante cerca
de duzentos anos, as autores que estudavam a Natureza tentaram compreender
a quase incompreensfvel dura,ao do que 0 antropologo Loren Eisley chamou
"a imensa viagem". A era dos trilobitas comes;ou ha seiscentos milhoes de anos.
Os dinossauros prosperaram durante cerca de cento e cinquenta milhoes de
anos. Dado ser-nos dificil imaginar sequer um milhao de anos, achamos que
nada acontece rapidamente, qualquer mudanca leva um tempo "geologico"
incornensuravel.
No entanto, este conceito de tempo e ilusorio. 0 tempo do mundo que
conhecemos, em que as seres humanos se constituiram numa especie de
civilizacao, pode ser facilmente compreensfvel. Os povos cornecaram a
estabelecer-se em grupos sociais prototipicos no Norte da Mesopotamia hi!
aproxirnadamente doze mil anos. Se presumirmos que vinte e cinco anos e a
duracao de uma geracao, isso significa que a civilizacao cornecou ha 480
geracoes. Ao escrever estas palavras, posse recuar 0 meu pensamento umas
cinco geracoes, e atraves dos meus professores forma-se urn elo comum, que
vai de Frank Lloyd Wright a Louis Sullivan, a George G. Elmslie e ao escultor-
-teorizador Horatio Greenough, em 1789.
Possuo retratos de familia de cinco geracoes, desde finais da decada de 1840
ate ao presente, 0 que significa que posso recuar noventa e seis avos do
caminho ate ao comeco dos primeiros estabelecirnentos populacionais. Alem
disso, os registos da minha familia podem ser detectados ate ao ano de 1280,
por isso tenho uma concepcao da minha propria familia que rernonta a trinta
e tres avos do caminho ate aos primordios da civilizacao, Pecas de teatro, livros,
narrativas historicas, e as obras de arqueologos dao-me algum sentido do
quotidiano pelo menos numa epocatao recuada como ados fara6s, no Egipto,
que e quase metade do caminho, Hi cerca de trezentas e vinte geracoes, Jerico
era uma cidade murada com tres mil habitantes, Claro que trezentos e vinte e
um numero grande, .mas nao tao incompreensfvel quanto seiscentos milhoes.
No entanto, nos ultimos doze mil anos, da Mesopotamia ate ao presente, a nosso
sentido do tempo nao e particularrnente uniforme. 0 mundo que
compreendemos vai apenas ate ao Renascimento. 0 mundo tal como 0
conhecemos realmente remonta a Revolucao Industrial, e 0 mundo onde nos
sentimos avontade comecou provavelmente - dependendo da nossa idade e
sentido da historia - algures entre 1945 e 1973.
Assim, a nossa visao de urn futuro ilimitado nao passa de uma quimera.
Durante uma vida, uma decada, urn ano, ou mesmo um dia, ocorrern mudancas
dramaticas profundas e impessoais. Acabamos por cornpreender 0 conceito de
que os continentes se podem deslocar ao longo de uma eternidade e que, em
termos nucleares, podem morrer rapidamente. Todavia, sentimos que 0 "tempo
normal" esta isolado dessas grandes mudancas. No entanto, a maior parte dos
danos eco16gicos e possivelmente irreversiveis ocorreu apenas durante os
ultimos trinta anos. 0 tempo esta a esgotar-se.
CAPITULO 2
Criar para um futuro mais seguro
A psicose epidemica da nossa epoca e0 erro de acreditarmos que ndo
temos qualquer obrigacdo etica para eom 0 planeta que habitamos.
Theodore Roszak
A ECOLOGIA e 0 equilibrio ambiental sao os esteios basicos de toda a vidahumana na Terra; nao pode haver vida nem cultura humanas sem ela.
o design preocupa-se com 0 desenvolvimento de produtos, utensflios, maqui-
nas, artefactos e outros dispositivos, e esta actividade exerce uma influencia pro-
funda e directa sobre a ecologia. A resposta do design deve ser positiva e uni-
ficadora, deve ser a ponte entre as necessidades humanas, a cultura e a ecologia.
E facil demonstra-lo. A criacao e 0 fabrico de qualquer produto - tanto
durante 0 seu periodo de usa activo como na sua posterior existencia -
inserem-se em pelo menos seis ciclos distintos, cada urn dos quais com 0
potencial de causar danos a ecologia.
Quando falamos de poluicao relacionada com produtos, pensamos
. normalmente nos resultados finais: as fumos dos escapes dos automoveis, 0
fumo das chamines das fabricas, os adubos quimicos ou pneus nas lixeiras
poluindo a agua subterranea. Mas a poluicao tem diversas fases.
PRODU<:AO E POLUI<:AO
1. A escolha dos materiais
A escolha de materials, tanto pelo designer como pelo fabricante, e crucial.
A poluicao atrnosferica e a destruicao da camada de ozono processa-se desde
a extraccao mineira, para os mais variados fins - consumindo combustiveis e
gastando recursos naturals que nao podern ser renovados -, ate ao designer
que decide utilizar plasticos esponjosos para fabricar embalagens descartaveis
para alimentos. Ndo se trata de uma indicacao para que nao se faca nada, mas
de uma tentativa de consciencializar as designers de que as opcoes e as decisoes
no seu trabalho podem ter consequencias ecologicas de longo alcance e a longo
prazo.
2. Os processos de fabrico
As questoes que se deparamao designer sao: Existe algo no processo de fabrico
que possa por em perigo 0 local de trabalho OU os operarios, como fumos
4. 0 produto acabado
Em rnuitos casas, sao demasiadas as diferentes versoes do mesrno artigo
existente. Como 0 fabrico da maier parte dos produtos industriais e de consumo
33Crearpara um futuro mais seguroArquitectura e design
3. Embalar 0 produto
o designer tern pela frente diversas opcoes ecol6gicas quando cria a embalagem
em que 0 produto e transportado. comercializado e distribuido. Os plasticos
esponjosos, que causam problemas graves ao equilibrio ecologico, sao usados
pelos designers para proteccao dos produtos frageis. Sabe-se agora que os gases
propulsores (como os CFC) usados em aerossois e outros produtos estao
directamente implicados na destruicao da carnada de 020no. E, por conseguinte,
crucial que 0 designer tenha em conta a ecologia ao considerar as materials e
os metodos na fase cia embalagem.
A escassez de materials em muitos paises do Terceiro Mundo tornou. a recictagem uma necesstdaae
e uma forma de vida durante geracoes. Quando a vida e dificil, nada se desperdica. Recolbem-se
garrafas e cartao na China, para reciclagem (acima), e as pneus velhas sao adaptados para 0
transporte de agua na Nigeria (na ptigina seguirue).
t6xicos au mareriais radioactivos? Saem poluentes atrnosfericos das chamines
das fabricas, como os gases que provocam a chuva acida? Os residues lfquidos
cia fabrica estao a infiltrar-se no solo e a destruir as terras araveis au - pior
ainda - a penetrar no sistema de abastecimento de agua?
32
5. Transportar 0 produto
o transporte de materials e produtos contribui tarnbem para a poluicao,
pois consome combustiveis fosseis e cria a necessidade de urn grande conjunto
de estradas, vias ferreas, aeroportos e armazens. Como exemplo: ha que
transportar 0 trigo para 0 moleiro, do moinho para a panificadora, desta para
o centro de dlstribuicao, daqui para as lojas ou, eventualmente l para 0
consumidor.
35
AVALIA(:AO DO PRODUTO
Criar para urnfuturo mais seguro
A relacao entre design e ecologia e muito estreita e cria algumas complexidades
inesperadas. 0 produto criado passa, como vimos, pelo menos por sets fases
potencialmente perigosas em termos ecol6gicos. A "avaliacao do cido de vida
do produto" abarca todas elas, desde a aquisicao original das materias-primas,
passando pelo processo de transforrnacao e montagern, a compra do produto
acabado (que indui tambern expedicao, ernbalagem, publicidade e a publicacao
de manuals com as instrucoes), 0 usc, a recolha do produto ap6s 0 uso e,
finalmente, a reutilizacao ou recidagem e tratamento final. Este cido pode ser
rnelhor cornpreendido pela observacao da "rnatriz hexagonal da funcao" da
pagina 36. De mornento, a "avaliacao do cicIo de vida" e ainda muito recente
e pode ser profundamente complicada, exigindo muito estudo, testagem e
experimentacao,
o cimo do vasto monte de lixo, Smokey Mountain, em Manila, nas
Filipinas, proporcionaabrigoe meto de subsistencia aos mutto pobres.
Arquitectura e design
6.Lixo
Muitos produtos podem ter consequencias negativas depots de terminada a sua
utilidade. Em muitos paises, basta olhar para os enormes cemiterios de
automoveis, para compreendermos que estas imensas quantidades de metal a
enferrujar, tintas e vernizes a cair, artigos de plastico a deteriorar-se, oleo e
combustlvel que vertem directamente para 0 solo, envenenando este, 0
abastecimento de agua e a vida animal, alem de destruir a paisagem em termos
visuals. Calcula-se que uma familia media nos paises tecnologicamente
desenvolvidos deite fora anualmente varias toneladas de lixo e desperdfcios. Nao
constitui s6 uma ameaca para 0 ambiente, e tambern urn enorme esbanjamento
de rnateriais que poderiam ser perfeitamente reciclados. E uma area em que
os paises do Terceiro Mundo tomaram a dianteira, em virtude da escassez de
materials: a reciclagem e urn modo de vida aceite ali e ha geras;:oes que assirn
sucede.
gasta materias-primas insubstituiveis, a profusao de objectos existentes no
rnercado constitui uma profunda ameaca ecol6gica. Urn exemplo tipico: na
Europa ocidental, Canada, japao e EUA, existern no mercadornals de 250
camaras de video diferentes: as diferens;as sao minimas- em alguns casos sao
identicas, a excepcao do nome da marca. A escolha de bens de consumo e
altamente artificial no Ocidente.
Outros produtos ameacam 0 equilibria eco16gico de uma forma ainda mais
directa. Os veiculos da neve, muito vendidos como equipamento de desportos
de inverno e recreio, sao tao turbulentos que, quando saem dos caminhos com
neve, destroem as zonas onde se reproduzem as plantas e os habitats. No
entanto, simultaneamente, assumiram um papel Importante nos ciclos de caca
e de pastoricia e sao agora significativos tnsrrumentos para a sobrevivencia dos
Inuit do Canadae Alasca. Os veiculos "todo 0 terreno" e as "blcicletas de
montanha" afectam a preciosa camada de solo e humus onde se fazem as
planta,oes. Os "buggies das dunas" danificam as camadas das dunas de areia
na extremidade crltica entre 0 oceano e a terra.
34
36 Arquitectura e design
Criar para um futuro mais seguro 37
A maior parte dos produtos tern de ser embalada. A embalagem protege 0
conteudo em transite e armazenado de deterioras;:ao, insectos, humidade e
danifica,ao. Pode servir de poderoso instrumento de cornercializacao atraves
do design, da cor e da textura. Alem disso, como veremos no capitulo 7,
especificara com frequencia nao s6 0 conteudo mas conferira tambem identidade
a linha do produto. Em termos de artigos praticamente identicos - detergentes
para maqutnas de lavar, cereais para 0 pequeno-almos;:o au cigarros -
poderemos aflrmar que a embalagem Ii 0 produto.
Enitido que, por retina, embalamos excessivamente os produtos, Nalguns
casos, destina-se a conferir urn carisma visual a artigos de luxo, como os per-
fumes, que sao vendidos a precos altamente inflacionados, Mas a embalagem
luxuosa pode ser igualmente destruidora do ambiente. Nil America do Norte,
hi decadas que os fornecedores de alimentos pre-cozinhados usam pequenas
caixas de esferovite em que servem os hamburgers. Ha alguns anos, as lojas
f McDonald anunciavam orgulhosamente, num letreiro de neon que mudava
autornaticamente: "Setenta milbi5esde milbi5esvendidos ate ao memento." Mais
recenternente, a sociedade McDonald deixou-se convencer pela sensatez
ecologica de mudar para recipientes de papel,
o plastico esponjoso e urn material muito util para ernbalagens, estas, no
entanto, sao profundamente prejudiciais ao ambiente, pois nao e possfvel
reconverte-las depois de usadas, e sao t6xicas e perigosas para 0 ambiente,
apesar das garantias optimistas dos fabricantes, transmitidas ao publico pelos
seus services de relacoes publicas, As vantagens do plastico esponjoso residern
no facto de constituir uma proteccao extremamente leve para as pe,as de
precisao, se adaptar facilmente a instrumentos 6pticos delicados ou montagens
electronicas, e ser relativamente barato. Mas existem formas alternativas e
organicas de fazer embalagens.
It urn conceito valido 0 de que nao existe realmente nada de novo no
mundo que precise de ser embalado e expedido. A objeccao imediata sera que
se trata de urn absurdo puro, pois nao existiarn no passado computadores,
leitores de CD ou camaras de video. Todavia, Van Leuwenhoek teve de enviar
os seus microscopies da Holanda para Padua no seculo XVI, Galileu precisou
de mandar telesc6pios para 0 astr6nomo dinarnarques Tycho Brahe, na ilha de
Hven, no SuI da Suecia, e "instrumentos filosoficos" e 6pticos para varias outras
partes da Europa. Mais recenternente, durante a guerra civil americana, era
preciso enviar para a frente de batalha, no Sui, delicados instrumentos cinirgicos
das fabricas no Norte. Os materiais usados para embalar alguns destes instru-
mentos de precisao eram 0 musgo seco, areia, serradura, folhas secas e esma-
gadas ou palha, finos sacos de algodao cheios de penas, fitas de madeira, e
outras coisas mais. Todos estes materiais tinham em comum 0 facto de poderem
ser reciclados; todos eles erarn organicos e voltariam ao meio ambiente natural.
o meu primeiro contacro com este tipo de embalagem foi no meu primeiro
emprego, ainda jovern, em Nova Iorque. Trabalhei na cave do Museu de Arte
Moderna a embalar pequenas esculturas e ceramicas, para enviar a membros
do museu que alugavam objectos de arte pOl' alguns meses. Lembro-me de que,
alern das caixas de expedicao (que eram feitas de madeira au cartao), tinhamos
duas maquinas gigantes de pipocas e faziamos pipocas - sem sal, esclareca-se -
com que embalavamos as pecas de escultura; nao existiam entao as "lombrigas"
ESTETICA
Forma
Perceplflio
"uadcs" etceuccs
e etc-secrets
ASSOCIACAO
Famflia e amblente JnJclal
Educayao
Cultura
NECESSIDADE
Sobreviv~ncia
Identidade
Formar;ao de objectivos
EMBALAR E ENVOLVER
MATRIZ HEXAGONAL DA FUN<;:Ji.O
METODO
lnstrumento$
Materials
Processes
USC
Como tnstrumentc
Como comunicayao
Como ermboic
CONSEQUENCIAS
Ecologico-amblentals
seetars-scctetertee
Usc de material e de
energia
38 Arquitectura e design Criar para um futuro mais segura 39
de esferovite. Era uma forma inteligente e razoavel de embalar que, em 1992,
para meu encanto, foi recuperada por algumas empresas de services postais
como meio ecologicamente seguro de transportar objectos frageis..
Em 1989, fui contratado por uma sociedade japonesa especializada em
computadores, maquinas fotograficas e outros produtos de alta tecnologia,e
passel tres aDOS a realizar investigacoes e estudos de viabilidade sabre o usa
de mareriais organicos em ernbalagens. A investigacao centrou-se nas plantas
que, na fase adulta, rodeiam as sernentes com urn enorme involucra protector
de material fofo. A sernente que investigamos aumenta mais de quarenta vezes
o seu volume original.
A embalagem destinava-se a maquinas fotograficas proflsslonais de 35 mm
e respectivas lentes. Normalmente, as pequenas e caras maquinas fotograficas
eram introduzidas numa almofada de plastico esponjoso moldada, que se cobria
com urn tecido igualmente plastificado a imitar belbutina. Por sua vez, este
levava por cima uma outra cobertura de plastico esponjoso tipo veludo, e ambas
eram introduzidas Duma caixa a imitar urn sarcofago, feita de polistereno
reslstente. A caixa era reforcada ainda por dois separadores de plastico
esponjoso e uma nova caixa (novamente de plastico). As objectivas eram
normalrnente colocadas em tubes de plastico almofadados por dentro com
espuma, e cobertos com uma imitacao de couro chamada leatherette (0 pr6prio
nome causa arrepios), ou um plastico chamado naughahide no exterior. Um
exemplo horrivel de excesso de embalagem e de evidente imitacao,
Acabamos par criar um pequeno acolehoado, quadrado, com cerca de 15
polegadas (37 ern). 0 acolehoado era feito com papel-arroz, enchido com fibras
vegetais macias e depois cosldo em quadrados com linha derivada do canhamo.
o acolchoado envolvia 0 corpo da maquina fotografica e era inserido Duma
manga de cartao. As bolsas acolchoadas, feitas com edredao, protegem as
objectivas. No japao, este metodo de aconchegar suavemente as pecas de
precisao esta ja a ser usado a titulo experimental, e provavelrnente nao tardara
a ser utilizado no material de exportacao, Sao obvias as grandes vantagens desta
embalagem. Assim, elimina-se totalmente a dependencia dos plasticos derivados
do petr6leo e os perigos do seu fabrico, A nova embalagem e completamente
organica e regressara ao solo. Exagerando urn poueo, teoricamente, talvez seja
possfvel dentro de um ana ou dois alguem comprar uma maquina fotografica
ou um leltor de CD e literalmente deitar fora 0 inv6lucro na horta, onde as
componentes organicas e recicbiveis da embalagem - enriquecidas por
pequenas quantidades de nitrato - ajudarao inclusivamente as plantas a creseer.
Actuaimente, a embalagem implica por norma 0 uso de pl:isticos (discutido
em pormenor no presente capitulo), metal, madeira, cartao e pape!. 0 uso do
papel tem dois grandes efeitos sobre a ecologia. Um deles e 0 derrube de
A embalagem organica (abaixo)
fot cnada em 1989-92 para
substituir a embalagem de
plasucode uma mdquina
fotografica japonesa de 35 mm
(a esquerda). A cobertura de
papel-arroz eencbtda com
fibras oegetats macias de
semerues de dentes-de-leac, e
cosidas com fio de cdnbamo,
A botsapara a objeetiva efeua
com edredda (algodiio epenas),
arvores e florestas, a ourro a poluicao que se verifica na pr6pria producao de
papel, Nove decimos dos derivados do papel provern das florestas das zonas
temperadas do Norte - Canada, EUA e Norte da Europa. E agora sobejamente
conhecido a processo de gerir estas florestas de modo a que possam continuar
a funcionar com recursos renovaveis, mas a industria da madeira recusa-se
normalmente a empreender a abate selectivoem florestas adultas com especies
multiplas, continua a praticar a monocultura e a recorrer a devastacao das
florestas.
Os eloros usados na producao de papel para branquear as fibras de celulose
causam igualmente perigos eco16gicos. 0 claro cria dioxinas, quer dizer, origina
rnudancas geneticas quando se Jiga a estrutura do ADN das celulas vivas. Alern
disso, 0 escoarnento da agua impregnada de dioxina e cloro prejudica a vida
aquatica, alern de poluir a agua subterranea,
Existern materiais de embalagem que sao lmpossiveis de reddar. Os
fabricantes podem facilmente evitar usar papeis lustrosos, papeis altamente
revestidos ou cobertos de plastico, colas que nao se dissolvem na agua e janelas
de plastico em subscritos. Tambem os designers poderiam utilizar papds nao
branqueados au as branqueados por novos metodos isentos de branqueador.
Mais de tres quartos de todos os tipos de papel podem ser recielados, embora
normalmente seja adicionada uma percentagem de fibras novas. Recielar papel
usado pode ser 50% mais eficaz em termos energeticos do que usar pasta
40 Arquitectura e design Crtar para um futuro mats segura 41
Apar elhos electricos au electr6nicos, tanto electr odomesticos como apar elhos
electronicos de diversao ou equtpamento de escritorio, tecnologias da infer macae
e da comunicacao, maquinas de obras publicae, instrumentos electricos, tecnologia
de medicao, conducao e iluminacao, brinquedos, relcgios que contem componentes
elecrricosou electronicos... categorias de componentes como r evestlmenros, ecras,
teclados ou pIacas.
Alem disso, estas leis decretam que as ernbalagens sao rneramente para
proteccao do conteudo e nao devern servir para divulgar publicidade ou
qualquer propaganda impressa.
As embalagens chegarn-nos de diversas maneiras. Com mecanisrnos
complexes e pe9as electronicas que formam uma maquina ou dispositivo, a
embalagem, em termos de design industrial, transforma-se numa "mortalha", isto
e uma cobertura ou proteccao exterior que afasta 0 po das pecas que funcio-
nam, protegendo-as e reduzindo a confusao visual de urn complicado processo
de funcionarnento que nao seria compreendido pelo utilizador final.
Existem muitas outras substancias, como os pigrnentos abase de cadmio, muitos
retardadores de chama e solventes dorados, ainda sem restricoes nos Estados
Unidos e Reino Unido, que causam ainda maiores danos a saude. Foi adoptada
e aceite internacionalmente uma serie de rotulos e simbolos, e existern
igualmente indicadores especfficos nacionais e regionais.
Em Janeiro de 1993, foi introduzido na Alernanha um conjunto de leis
visando a reducao do lixo das embalagens. Contern normas para os produtores
e fornecedores recolherem todas as embalagens usadas na venda e no trans-
porte. Os fabricantes foram tambern obrigados a retirar os involucres quando
vendiam aos consumidores, e a informa-los sobre 0 local e a forma de devolve-
rem 0 resto da embalagem. Alern disso, a lei refere especificamente que os
fabricantes tern de retirar, seleccionar e reciclar 0 seguinte:
Asfabricas de reciclagem nao necessuam ser uma mancha na paisagem: Estafabrica de reciclagem
de lixo, proximo de Lund, na Suecia, nao choca nem tern um aspecto compacta.
virgern. A Simpson Paper Company, de Sao Francisco, surgiu como urn dos
primefros lideres neste campo.
o chumbo, 0 mercurio, 0 cr6mia, 0 cadmio, 0 berilio e 0 vanadio sao todos
eles cancerigenos e neurot6xicos. Sao frequentemente usados na composicao
das tintas de impressao nas embalagens, e causam uma grave ameaca quando,
vindos de aterros sanitarios, passam para 0 abastecimento de agua. E dificil e
dispendioso filtrar a tinta. As tintas abase de vegetais, feitas, por exernplo, com
soja, podem ser usadas com eficacia, e mais lima vez a Simpson Paper Com-
pany tomou a dianteira.
Existem outras rnaterias que sao extremamente venenosas para os seres
humanos e para 0 meio arnbiente. Alguns paises restringiram ja 0 cloreto de
polivinilo (PVC) pois, a menos que seja queimado em fornos especiais, liberta
dioxinas e acidos hidroclortdricos na atmosfera. Apurou-se tambern que 0 fabrico
de PVC se encontra directamente associado a cancros renais nos operarios.
Tres sfmbolos de materials nocioos, mfiamaueis €I toxicos, respectioamente, e (a direita) 0 sfmbolo
do Anjo Azul, para os materiais seguros, truroduaido na Alemanha Ociderual em .1977.
42 Arquitectura e design Criar para urn futuro mats seguro 43
o PROBLEMA DOS PWTICOS
Quase todos os plasticos usados hoje em dia tern por base cornbustiveis fosseis.
Por conseguinte, 0 sell fabrico contribui para 0 efeito de estufa, ao mesmo
tempo que utiliza recursos insubstituiveis. Conquanto, de uma forma ou de
Dutra, muitos plasticos possam ser reciclados, deve ser impasto urn limite
maximo para 0 nurnero de resinas termo-reslstentes que podem serusadas. Os
plasticos que contem semelhantes estruturas moleculares podem ser recic1ados
em conjunto, mas 0 melhor e mante-los separados,
Verifica-se uma necessidade constante de plasticos em medicina, optica,
criacao de anirnais, investigacao sabre 0 armazenamento de alimentos e
produtos quimicos, em cases em que nada mais realiza a funcao com eficacia,
o plastico e, de momento, 0 melhor material que temos para valvulas do
coracao, pacemakers e articulacoes artificiais, filtragem e armazenamento de
liquidos. Mas quando imensas quantidades de plastico nao degradavel sao
arrastadas para 0 litoral 01.1 Hearn inteiras nas nossas lixeiras, temos de analisar
toda a questao do modo como 0 usamos ou de como nos libertamos dele.
A iniciativa de reciclagem "amiga do arnbiente" J desencadeada pelas
industrias de plasticos, deveria ser acolhida com enormes reservas. As familias
americanas sao encorajadas a separar 0$ plasticos do resto do lixo dornestico,
mas parece que milhares de toneladas de plastico, tanto de detritos domesticos
como industrials, em vez de serern recicladas nos Estados Unidos estao a ser
enviadas para paises menos industrializados, parttcularmente na Asia, onde 0
lixo e reprocessado segundo regras multo rnenos rfgidas de seguranca sanitaria
e ambiental, ou entao e despejado em aterros sanitarios locals. Conquanto a
importacao de lixo seja proibida por lei nas Filipinas, em 1991, mais de 7500
toneladas de detritos de plastico foram recebidos dos EUA. A Indonesia recebeu
milhares de toneladas ate 1992, altura em que 0 governo proibiu as importacoes
de detritos plasticos; de entao para Cal porern, tem-se acumulado nos portos
indonesios as cargas de contentores ilegais vindos da Holanda, japao e EUA.
De longe, 0 maior importador de detritos plasticos provenientes dos Estados
Unidos e Hong-Kong, de onde uma grande parte segue para a China.
Uma das principais dificuldades reside, justamente, no facto de os plasticos
naG se desfazerem. Calcula-se que uma garrafa de pHistico deitada fora se con-
selve por ca entre duzentos a quatrocentos anos. Aproximadamente 25% de todo
o lixo dos Estados Unidos consiste em plastico - cerca de dez milh6es de
tone1adas/ano. Os atenas sanitarios ja nao conseguem absorver quantidades tao
grandes.
A California, 0 Minnesota, 0 Wisconsin e grande numero de diversas cidades
maiores au menores estao a pensar proibir as pHisticos nao degradaveis, e
defendem as embalagens de papel. A priori, esta ahordagem afigura-se razoavel,
ate se compreender que para tal seriam necessaries cento e setenta rnilhoes de
acres de terras de floresta extra para producao de papel, uma area do tamanho
do Reino Unido. S6 esta originaria cinquenta e cinco mil rnilhoes de libras (vinte
e cinco mil milhoes de quilos) de lixo/ano a nfvel mundial, e aumentaria
tarnbern 0 consume anual de energia em mais de 25%. Por conseguinte, os
investigadores estao actualrnente a tentar desenvolver materias plasticas que
sejarn biodegradaveis,
Nao so os designers, mas tarnbem os recicladores e os utilizadores de produ-
tos, precisam de saber COm que tipo de plastico qu "elastomero" (urna materia
plastica semelhante a borracha) estao a lidar. Os termoplasticos

Continue navegando