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Caderno - Projeto Ensino Participativo FGV

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início em 26 de abril de 2020, domingo, às 22:00, durante a pandemia da covid-19 
 
 
Profa. Adriana Ancona de Faria 
Projeto Ensino Participativo 
Teoria e Prática 
FGV Online 
 
 
PRELIMINARES 
A DIREITO GV foi concebida com a missão de formar profissionais capazes de resolver 
problemas complexos e com senso crítico apurado. Com esse objetivo, adotou, desde sua 
origem, técnicas de metodologia de ensino pouco utilizadas nas faculdades de Direito no Brasil. 
Para levar essa proposta adiante e para que o aprendizado fosse consistente com os objetivos 
traçados no plano pedagógico, foi necessário repensar todo o processo de formação do 
aluno. Um dos pilares desse novo modelo foi a adoção do ensino participativo. 
 
Nesse método, o aluno é agente na construção de seu próprio 
conhecimento. 
 
Além disso, o estudante pode desenvolver habilidades relevantes graças à participação ativa no 
processo de aprendizado – por exemplo, o raciocínio e a instrumentalização do conhecimento 
adquirido. Financiado pela Presidência da Fundação Getulio Vargas, o Projeto Ensino 
Participativo – Teoria e Prática tem como principal objetivo a difusão das melhores práticas 
de ensino utilizadas na DIREITO GV, orientadas pela diretriz do ensino participativo. As 
reflexões, as experiências e as dinâmicas aqui apresentadas constituem um importante material 
de análise para professores, acadêmicos e instituições de ensino que desejem dialogar e 
contribuir para o desenvolvimento do ensino jurídico no Brasil. 
 
Voltado à análise da metodologia participativa, o material é constituído por vídeos, entrevistas, 
papers, e-books e cursos multimídia. O material é de acesso amplo, irrestrito e gratuito, e conta 
com interface para comunicação com interessados na discussão do ensino jurídico. Sem 
dúvida, muitas são as experiências de inovação e renovação do ensino jurídico. No entanto, 
poucos relatos e materiais didáticos de boa qualidade compartilhados fogem ao formato de 
manuais jurídicos e apostilas esquematizadas. 
 
A proposta do Projeto Ensino Participativo – Teoria e Prática é, 
exatamente, sistematizar essas experiências conferindo-lhes publicidade, 
de modo a permitir sua visualização como efetivas alternativas ao ensino 
jurídico tradicional. 
 
A exemplo da formação de uma rede de compartilhamento de boas práticas de ensino e de 
materiais didáticos voltados ao ensino participativo, acredita-se que iniciativas fundamentais à 
reflexão sobre o ensino jurídico no Brasil possam resultar desse esforço. 
 
MÓDULO 01 – O MÉTODO DE LEITURA ESTRUTURAL 
OBJETIVOS DA LEITURA FILOSÓFICA 
Nesta disciplina, enfocaremos a orientação de alunos que se iniciam na prática 
da leitura de textos teóricos ou filosóficos que sejam conceitualmente 
complexos. 
 
Não se trata de trabalho e tampouco de um longo exercício prático sobre como ler 
um texto. Nosso objetivo é promover uma primeira abordagem sobre as técnicas 
intelectuais para a leitura e a análise de textos filosóficos. 
 
Esse método que propomos é denominado, usualmente, como método estrutural. 
Seu elemento essencial é a atenção privilegiada que devemos prestar à estrutura interna 
do texto filosófico, a seu aspecto sistemático e orgânico. 
 
Esse método exige que o texto seja lido com certa 
dose de humildade. 
 
A leitura feita de forma estrutural admite a premissa metodológica – ainda que 
provisória – de que um texto deve ser lido como parte de um sistema coerente de 
argumentos, conceitos e proposições. Dessa forma, diante de eventuais lacunas e 
aparentes contradições, o leitor deve, antes de tudo, procurar a interpretação que 
permita recuperar a coerência e a lógica interna dos argumentos. 
 
Quando falamos em humildade, podemos considerar, por exemplo, a atitude de um 
jovem interessado no jogo do xadrez. Durante uma partida, um grande mestre 
enxadrista executa um lance cuja lógica, à primeira vista, não é compreendida por esse 
jovem. 
 
Antes de censurar ou julgar essa jogada aparentemente sem lógica, o jovem, exercendo 
a humildade, suspende, provisoriamente, sua crítica e se esforça para compreender a 
intenção, a coerência e a inteligência do lance executado pelo mestre. 
 
[Eu] Faz todo sentido, e você, Paulo, vez ou outra comete esse erro. A soberba do 
conhecimento às vezes pode levar o sujeito a criticar um autor denso devido à própria 
ignorância. 
 
Ainda que provisoriamente, o leitor estrutural deve considerar, de antemão, que o 
texto que está sendo lido é um texto consistente. Ele deve suspender, provisoriamente, 
o juízo sobre a validade substantiva das proposições. 
 
Assumir uma postura humilde, evidentemente, não impede que o leitor encontre 
mudanças, rupturas ou incoerências dentro de um sistema de pensamento. Essa 
postura apenas o conduz a ser um pouco mais cauteloso antes de indicá-las ou divulgá-
las. 
 
Ainda segundo Goldschmidt, em Remarques sur la méthode structurale em histoire de la 
philosophie, esse processo integral – ou seja, o método em ato – constitui o movimento 
do texto. Nesse sentido, começar o estudo da filosofia abordando os textos dos 
filósofos significa começar aprendendo a ler um texto filosófico a partir de sua lógica 
interna, interpretando-o como um sistema estruturado e, dessa forma, partir do estudo 
da História da Filosofia para o aprendizado filosófico. 
 
Mas será que esse é um bom meio de acesso à filosofia? 
 
UMA FILOSOFIA DO MÉTODO – ESTRUTURAL – DE LEITURA? 
À primeira vista, o que apresentamos como princípio básico da leitura estrutural 
parece caminhar na contramão das ambições de estímulo ao filosofar. Pensando desse 
modo, a história da filosofia e a leitura rigorosa de textos filosóficos por meio do 
método estrutural não seriam interessantes para a educação filosófica? Pior que isso, 
não seriam uma forma de inibir a vocação filosófica? 
 
Em primeiro lugar, a habilidade de leitura e análise é uma técnica 
fundamental para o pensamento em geral. 
Esse é um dos motivos pelos quais estudar filosofia pode 
interessar a qualquer não filósofo. 
Em um contexto educacional como o brasileiro, no qual muitos 
alunos ingressam no ensino superior ainda carentes dessa 
importante habilidade, esse argumento é essencial. 
 
O passado da filosofia é muito importante para a compreensão da filosofia 
contemporânea. Nesse sentido, sua compreensão rigorosa, não deformada, é uma 
importante ferramenta para o pensamento. A reconstrução da ordem das razões 
internas a um pensamento – ou seja, sua dimensão sistemática – acabou por 
reencontrar, na ideia de estrutura, o ponto de vista que confere inteligibilidade a um 
pensamento. 
 
Na medida em que se apresenta como forma universal de todo pensamento filosófico, 
a estrutura é a expressão da própria racionalidade filosófica. Redescobri-la por meio 
do método filosófico estrutural é um exercício filosófico. 
 
COMO LER UM TEXTO 
O estudante que se inicia na leitura de textos que trazem conceitos complexos deve, 
antes de tudo, compreender que o estudo de filosofia exige um método. 
 
Seu objetivo é mostrar como as exigências de rigor e o cuidado na leitura decorrem 
da própria organização conceitual dos próprios textos filosóficos. Essa organização 
conceitual não tem um valor filosófico em si mesmo, mas é uma técnica exigida pelo 
próprio pensamento filosófico. 
 
Não existe um método padrão e uniforme para a leitura de textos 
filosóficos. Em outras palavras, não há um manual seguro para 
adquirir as técnicas de leitura. 
 
Os textos filosóficos – particularmente, os textos clássicos – compõem as principais 
vias de acesso à filosofia. Nesse sentido, um dos primeiros passos necessários para 
estudar filosofia é conhecer uma filosofia anterior. 
 
Às vezes, a leitura filosófica é muito lenta e trabalhosa. Esse é um dos motivos pelos 
quais, muitas vezes, os alunos recém-chegados do ensino médio não se adaptam com 
facilidadea esse tipo de leitura. 
 
Isso acontece porque estão acostumados ao esforço orientado 
para o vestibular, que exige absorver a maior quantidade possível 
de informação no menor tempo possível. 
 
Alguns tipos de textos, como os filosóficos, pedem leituras em ritmos distintos, por 
vezes mais lentos. Mesmo nesses casos, uma primeira leitura mais rápida pode ser 
muito útil. Por meio dessa primeira leitura, podemos ter uma visão de conjunto do 
texto a ser estudado. A partir da visão do todo, poderemos, em uma leitura posterior, 
realizar a busca das partes e seu encadeamento. 
 
Alguns autores chamam essa primeira leitura de leitura 
averiguativa. 
 
Tais autores escolheram esse nome porque não se trata de uma leitura absolutamente 
elementar, mas da busca das ideias e da estrutura de um texto. Muitas vezes, também 
é importante vencer a angústia e a pressão psicológica que uma leitura mais lenta e 
cuidadosa pode causar nos leitores menos experientes. 
 
A leitura rápida serve como preparação para uma leitura mais aprofundada e analítica, 
além de nos permitir avaliar se o texto a ser lido merece a atenção que estamos 
dispostos a lhe dedicar. 
 
1. Índice 
a. sempre consulte o índice do livro que você está lendo, mesmo que 
não pretenda ler todo seu conteúdo. Isso permite ter uma visão do 
conjunto da obra. 
2. Leitura atenta 
a. sempre leia com bastante atenção o início dos textos – os primeiros 
parágrafos –, em que são introduzidas as intenções do autor e, 
frequentemente, o projeto de ideias a ser seguido. os parágrafos finais 
do texto ou de suas subpartes também costumam sintetizar os 
argumentos centrais dos capítulos e podem servir como guia para a 
compreensão da estrutura do texto. tais sínteses não são indicadores 
absolutos de como o texto deve ser lido, pois os autores também 
podem, circunstancialmente, equivocar-se. Contudo, o esforço do 
próprio autor não deve ser negligenciado. 
3. Prefácios 
a. não pule os prefácios e as introduções mesmo quando esses não 
tiverem sido escolhidos pelo professor como leitura obrigatória. 
b. frequentemente, neles encontramos chaves preciosas para a melhor 
e mais fácil compreensão das intenções do autor e da estrutura do 
texto. 
4. Palavras-chave 
a. procure exercitar a busca de palavras-chave que possam orientá-lo 
no tipo de leitura rápida e seletiva. 
5. Marcador de Texto 
a. use marcador de texto ou lápis para destacar as ideias centrais de cada 
passagem. 
6. Preocupação 
a. concentre-se no que for capaz de compreender e procure delimitar o 
que não compreende. Dar atenção excessiva a pontos específicos que 
não foram compreendidos pode ser um verdadeiro obstáculo à boa 
fluência da leitura. 
7. Leitura completa 
a. leia o texto inteiro, programando-se para a releitura. Muitas vezes, é 
bastante difícil ler um texto filosófico pela primeira vez. Prossiga na 
leitura, ainda que não compreenda alguns dos pontos mencionados 
pelo autor. Podemos dizer que, após a leitura de todo o texto, o leitor 
tem uma visão da floresta como um todo antes de dedicar-se a 
decifrar cada uma de suas árvores. 
8. Perguntas 
a. não deixe de se perguntar e procure responder, com simplicidade e 
clareza, às seguintes questões: Do que trata o texto? O que está 
sendo, efetivamente, afirmado? Quais são as principais proposições 
do texto? Quais são os subargumentos? Procure identificar o tema 
central e os subtemas a ele conectados. 
 
LEITURA APROFUNDADA 
Muitas vezes, a leitura aprofundada é a única que, realmente, serve de meio para uma leitura 
filosófica de textos clássicos. A leitura rápida deve ser vista como uma etapa para esse tipo de 
leitura. Prepare-se! A leitura aprofundada demanda bastante trabalho! 
 
Não há como realizá-la sem uma boa dose de disciplina, esforço 
e perseverança. 
 
O importante, nesse momento, é aceitar – psicologicamente, inclusive – que não é possível 
ultrapassar certa velocidade de leitura e compreensão sem algum treino. É preciso ter paciência 
e disciplina para colher os dividendos do esforço após algumas semanas. Para esse tipo de 
exercício, é necessário não ter pressa. 
 
O primeiro passo é começá-lo com antecedência. 
 
A leitura aprofundada pede que o leitor se fixe em cada passagem. Por conta disso, não se 
assuste se demorar meia hora para ler uma página ou dez minutos para concluir um parágrafo 
após várias releituras. Isso tudo é normal! Não deixe sua autoestima se abalar por causa disso! 
 
Um dos exercícios da leitura aprofundada é identificar todos os movimentos do texto. Dessa 
forma, é possível reconstruir toda a estrutura do texto lido. 
 
1) Formulação e Justificação 
Formule a si mesmo as seguintes perguntas – Em quantas partes o texto está 
dividido? Três, quatro, cinco, mais? Procure pensar nos critérios utilizados 
para fazer tal divisão. Alguns textos já vêm divididos pelo próprio autor, e 
outros não. Nesses casos, a divisão cabe ao leitor. 
 
Imagine que você precisa justificar a escolha do número de partes que 
encontrou. A escolha deve obedecer a um critério relacionado à lógica interna 
do texto, ou seja, não pode ser arbitrária. 
 
2) Numeração 
Numere os argumentos do texto. Isso permite manter um controle mais claro 
sobre, por exemplo, quais são as partes, quantos são os argumentos ou o que 
é um subargumento, o que permite visualizar a estrutura do texto. 
 
Nesse sentido, se o autor apresentar cinco argumentos sobre determinada 
questão, por exemplo, numere-os à margem do texto. Você pode fazer o 
mesmo a cada subargumento. Dessa forma, você pode identificar, 
rapidamente, quais e quantos são os argumentos centrais no texto, bem como 
seus subargumentos. 
 
3) Definição 
Defina o argumento desenvolvido em cada parte do texto com clareza e em 
uma só proposição. A identificação dos argumentos centrais deve 
corresponder à estrutura geral do texto a ser analisada. 
 
Cada parte pode estar subdivida em outras unidades menos complexas. 
Procure identificá-las, dividindo-as em blocos argumentativos, como se 
fossem uma estrutura arborizante – ou seja, com troncos e galhos 
secundários. Identificar o lugar das ideias é uma etapa importante para o 
sucesso da leitura estrutural do texto. 
 
4) Velocidade e Objetivos 
Leia, com atenção e velocidade diferenciadas, os capítulos que parecem conter 
as ideias centrais e estruturantes do argumento principal defendido no texto. 
Leia os textos conforme seus objetivos de leitura. Ler um texto de forma 
muito minuciosa e lenta pode ser um desperdício se ele não for merecedor de 
tal atenção. 
 
Por outro lado, outros textos, praticamente, não admitem uma leitura que não 
seja minimamente rigorosa, sob pena de que a leitura se torne um esforço 
completamente inútil. Nesses casos, a leitura torna-se, de certa forma, uma 
espécie de tudo ou nada – isto é, ou se lê o texto com atenção ou talvez seja 
melhor escolher outra atividade para fazer. 
 
Ao final de suas leituras, faça a si mesmo as seguintes perguntas: Do que fala 
o texto? Qual é o tema principal do texto e como o autor o desenvolve de 
maneira ordenada? Como ele está dividido e subdividido? Se não for capaz de 
respondê-las de maneira direta, retorne ao texto e busque uma resposta 
objetiva e satisfatória. 
 
5) Detalhes e Contestação 
O que está sendo dito detalhadamente? E como? O que está sendo dito 
detalhadamente e a forma como está sendo dito são diferenças fundamentais 
entre ler, diretamente, um texto clássico e ler um texto de apoio. 
 
O texto de apoio, frequentemente, faz um resumo das ideias gerais de um 
autor. Por melhor que seja estruturado, sempre sacrifica, em benefício da 
síntese e do esforço de sistematização, o caminho perseguido pelo autor para 
apresentar uma ideia, bem como suas razões e seus fundamentos. A pergunta 
fundamental aqui seria a seguinte – por que o autor está construindo sua 
argumentação dessa forma?Contra quem o texto está sendo escrito? Boa parte dos textos filosóficos são 
esforços de contestação de ideias defendidas por outros autores. Muitas vezes, 
isso se faz de maneira clara e explícita, mas, muitas vezes, o inimigo intelectual 
do autor é apenas referido de forma indireta. 
 
6) Familiaridade 
Familiarize-se com o repertório conceitual do autor. Constantemente, afirma-
se que o pensamento crítico se antagoniza com métodos tradicionais de 
memorização e repetição. Apesar disso, é importante ter em mente que algum 
domínio dos conceitos utilizados por um autor e a familiaridade com a 
construção argumentativa são elementos necessários para o bom domínio de 
um texto filosófico. 
 
7) Humildade 
A leitura de um texto clássico recomenda certa humildade. O estimulo à 
reflexão pessoal e criativa é muito relevante em um curso de filosofia. No 
entanto, diante de um texto filosófico, é fundamental conjugar esse estímulo 
com uma dose de humildade. Devemos evitar julgar, por exemplo, se suas 
ideias são aceitáveis ou não. Também devemos pressupor que um argumento 
foi construído com certa inteligência e, por conta disso, devemos buscar 
compreendê-lo antes de refutá-lo. 
 
8) Significado 
Procure o significado das palavras em seu próprio contexto de utilização. 
Uma leitura estrutural recomenda tomar muito cuidado ao buscar encontrar 
o significado das palavras em dicionários ou livros gerais de filosofia. De 
maneira geral, os filósofos constroem significados específicos para os 
conceitos que utilizam, diferentes do sentido usual. 
 
9) Método estrutural 
Tenha em mente que o método estrutural de leitura não é hostil a outros métodos de 
interpretação filosófica, como o histórico, o sociológico ou o econômico. É evidente 
que todas essas dimensões afetam o sentido de um texto filosófico. Contudo, seria um 
equívoco reduzir o sentido de um texto a tais dimensões, como se fosse um 
epifenômeno do contexto que o produziu, um reflexo das condições econômicas e 
históricas ou um espelho das motivações psicológicas do autor. 
 
O método estrutural não busca negar a importância das influências históricas, 
econômicas e sociais. Pelo contrário, o que se supõe é que tais influências não são 
suficientes para explicar o sentido filosófico do texto, que pressupõe a ordem das 
razões nele inscritas e se constitui a partir dela. 
 
EXERCÍCIO DE LEITURA ESTRUTURAL DE UM TEXTO 
Os objetivos fundamentais de uma leitura estrutural podem ser alcançados por meio 
da reconstrução da ordem das ideias de um texto. 
 
Uma forma prática de realizar essa tarefa é descrever a estrutura arborizante de um 
texto. Esse exercício busca recuperar a estrutura lógica do texto, isto é, sua ordem das 
razões, que, muitas vezes, não corresponde à ordem de apresentação das ideias. 
 
Outra forma de analisar um texto é reduzi-lo a um esquema topológico das 
proposições. Nesse esquema, o leitor identifica quais são as proposições do texto e a 
forma como elas se encontram nele estruturadas. O esforço agora deve ser orientado 
na busca do lugar das proposições e suas relações entre si. A preocupação aqui não é 
tanto com a ordem lógica, mas com a ordem de apresentação das ideias no texto – ou 
seja, a ordem topológica. 
 
Reconstruir a estrutura de um texto não é a mesma coisa 
que produzir resumos. 
 
Nos resumos, as ideias centrais de um texto são sintetizadas com o objetivo de 
transmitir seus pontos principais. Nesse caso, a forma como as ideias aparecem e a 
construção argumentativa, geralmente, são sacrificadas em benefício da síntese e 
redução do tamanho do original. No resumo, geralmente, é mantida alguma 
similaridade estrutural entre o original e o resumo. Desse modo, o resumo, 
normalmente, mantém as mesmas unidades de capítulos. 
 
A reconstrução da estrutura de um texto é um exercício de outra natureza. Podemos 
chamá-lo de esquema. Segundo Huhne, seu objetivo é, primordialmente, a 
identificação dos argumentos do texto e sua estrutura, e concatenação por meio de 
um registro gráfico de fácil visualização. Nesse sentido, ele deve ser exaustivo na 
identificação das partes e dos argumentos do texto. O esquema deve fazer um mapa 
topológico dos argumentos. 
 
Nesse sentido, ao criar um esquema, devemos pensar qual substância do texto poderia 
ser suprimida. O esquema deve guardar apenas os argumentos em seu enunciado mais 
sintético. Da mesma forma, os contra-argumentos e subargumentos. A explicação das 
ideias depende da leitura integral do texto. Esse exercício permite reconstruir a 
estrutura arborizante de um texto. 
 
A recuperação da ordem das razões – isto é, da ordem lógica das ideias – pode parecer 
um exercício extremamente difícil e trabalhoso para o aluno iniciante. A verdadeira 
leitura estrutural de um texto exige que sua formalização, tal como posta no exercício, 
possa ser dispensada por um leitor mais experiente. 
 
A elaboração de um esquema auxilia o reconhecimento e a visualização da estrutura 
interna de um texto em sua arquitetônica conceitual e em seus movimentos. Essa 
técnica pode demonstrar-se bastante eficaz para a leitura e a discussão coletiva de um 
texto na estrutura de um seminário. Sua utilidade aumenta se for acompanhada pela 
entrega, por parte do aluno, de uma cópia desse trabalho para toda a classe. Essa cópia 
é chamada de esquema topológico ou hand-out. 
 
Já a intenção do fichamento não é, propriamente, captar o encadeamento lógico ou 
topológico das ideias do autor estudado. Sua intenção é captar suas ideias centrais e a 
elas relacionar outros comentários externos, históricos, críticos, comparativo, entre 
outros. Nesse sentido, o fichamento não atende às exigências de exaustividade e 
completude que a leitura estrutural e a produção de um esquema estrutural procuram 
atingir. 
 
Um método estrutural de leitura não impede que se aceite ou se rejeite a verdade 
dogmática de uma filosofia. O método de leitura não exige aceitação ou repulsa das 
ideias do autor estudado por parte do leitor. 
 
 
O que interessa é reconstruir as razões pelas quais as 
verdades eram aceitas pelo autor. 
 
As estruturas constitutivas de uma doutrina não são inteligíveis sem a sua ambição de 
promover a verdade. 
 
VÍDEOS 01 E 02 
“O texto não é o pretexto, mas um pressuposto”. Começa com o texto na aula do 
sujeito. Pede para que os alunos preparem um handout, uma análise estrutural dos 
argumentos do texto que será discutido. Aí ele pede uma apresentação (vixe). 
 
MÓDULO 02 – TRABALHANDO COM JURISPRUDÊNCIA 
DEBATE SOBRE DECISÕES JUDICIAIS 
O debate sobre decisões judiciais é um método de aula bem diverso da tradicional aula 
expositiva. Na exposição, o aluno conhece um conceito pela transmissão feita pelo 
professor. O contato com alguma situação concreta em que esse conceito pode ser 
aplicado acontece somente depois. Acontece o contrário na análise de jurisprudência. 
 
A jurisprudência é uma fonte de boa qualidade para apresentar o mundo jurídico real 
aos alunos, pois envolve: casos concretos; questões jurídicas; perdas e ganhos; 
interesses; argumentação. A jurisprudência também permite trabalhar as principais 
competências e habilidades exigidas dos profissionais de direito. 
 
ANÁLISE DE JULGADOS 
A análise de julgados permite que o aluno visualize as diferentes formas de 
fundamentação das decisões e os mais variados estilos de argumentação. A divisão 
mais básica dos tipos de argumentos que os estudos jurisprudenciais apontam é aquela 
que os qualificam em razão de decidir (ratio decidendi), argumentos retóricos ou, 
meramente, acessórios à tese principal (obter dictum). 
 
O debate se coloca na identificação da razão de decidir. 
 
Na prática, isso pode tornar-se uma tarefa árdua por conta da qualidade dos 
argumentos retóricos e acessórios. De qualquer forma, esse exercício é útil porque 
permite que o aluno se posicione sobre a qualidadeda fundamentação – inclusive 
quanto à formulação de seus próprios posicionamentos. 
 
No estudo de casos concretos, o aluno deve-se ater à situação fática apresentada e 
considerar os elementos que a informam, mas sem perder de vista o escopo da análise. 
É preciso resolver o problema concreto! É um trabalho focado. Elucubrações 
cerebrinas têm pouca utilidade nesse tipo de trabalho, muito embora as decisões por 
vezes esbarrem nesse problema. 
 
Estamos diante de um paradoxo – decisões judiciais podem ser cheias de argumentos 
meramente acessórios, mas sua análise exige foco. Cabe ao professor incentivar um 
debate focado no caso concreto. O debate deve considerar, principalmente, o 
problema objeto de discussão, chamando ao cerne da questão o aluno que, por acaso, 
sair pela tangente. 
 
O aluno deve-se posicionar sobre a qualidade e as consequências da decisão tomada 
diante das especificidades do caso. O julgador acertou? A decisão conseguiu, 
efetivamente, resolver o caso? A decisão pode incentivar - ou evitar - uma 
judicialização em massa? O aluno decidiria de forma melhor? 
 
Ao se colocar no lugar do julgador, o aluno avalia o problema por outra perspectiva. 
Não basta apreciar a qualidade da fundamentação do julgador ou relatar o caso 
concreto em detalhes. O aluno deve refletir sobre as formas mais adequadas de 
resolvê-lo. 
 
HABILIDADES 
Importantes habilidades são aprimoradas com esse simples exercício de se colocar no 
lugar do julgador: análise consequencialista dos conflitos jurídicos – análise de custo-
benefício; capacidade de lidar com situações conflituosas, em que um direito exclui 
outro – trade off; capacidade de lidar com situações conflituosas, em que um direito 
exclui outro – trade off. 
 
Talvez o mais instigante da técnica de debate de casos jurisprudenciais seja a riqueza 
de informações fornecidas pelo julgado. Isso permite que o professor trabalhe infinitas 
perspectivas de análise da decisão, atentando para um ou outro aspecto conforme o 
conteúdo e as habilidades que pretenda desenvolver com os alunos. Por outro lado, 
existe a real possibilidade de o aluno apresentar considerações que não foram 
antecipadas pelo professor na estruturação da aula. 
 
AULA SOBRE JURISPRUDÊNCIA 
A chamada aula sobre jurisprudência não visa a apenas conhecer e refletir sobre casos 
levados ao Judiciário. A aula de jurisprudência é a que se vale do próprio texto dos 
julgados com o material de trabalho. Essa aula é muito rica. Além de trazer casos 
interessantes à sala de aula, cujo debate e cuja solução exigem esforço e envolvem 
polêmica também faz com que os alunos analisem e critiquem documentos 
importantes, em que são apresentados os argumentos de todos os envolvidos em um 
processo judicial. 
 
Uma aula assim exige preparo prévio do aluno – de preferência, com base em um 
estudo dirigido feito pelo professor. A leitura prévia do julgado é sempre 
indispensável, mas é interessante pedir mais. 
 
Uma estratégia de incentivo da participação dos alunos em sala de aula é exigir a 
realização prévia, individual ou coletiva, de trabalhos escritos sobre determinada 
decisão judicial mediante orientação de estudo dirigido. Isso leva os alunos a 
manusearem o material de forma mais detida para poder preparar um texto ou uma 
resposta escrita. A combinação de trabalho escrito prévio com a posterior discussão 
de julgados funciona muito bem. É notável o aumento da qualidade do debate em sala 
de aula em razão do maior preparo. 
 
Um julgado mal escolhido mina qualquer possibilidade de êxito da aula, pois não 
estimula a preparação prévia, não incentiva os debates e não desperta a emoção que 
anima qualquer aula participativa. Decisões meramente ilustrativas de um ponto de 
vista não funcionam. O julgado bom para esse tipo de aula é o que estimula a 
participação ativa dos alunos, que gera polêmica, que envolve dificuldades passíveis 
de solução de maneiras diversas. 
 
 
DINÂMICA DA AULA 
Decisões judiciais admitem, com expressiva margem de flexibilidade, os mais variados 
formatos de uso que o professor desejar. Tanto o julgado quanto o estudo dirigido 
são indicados aos alunos como objeto de leitura prévia obrigatória. O professor instiga 
a discussão, e os alunos se posicionam de modo fundamentado. A dinâmica, em sala 
de aula, deve ser relativamente livre, admitindo variados ajustes para melhor 
aproveitamento do material. 
 
Uma boa preparação prévia serve para que o professor saiba onde começar a aula e 
qual rumo, em princípio, ela deve tomar. No entanto, não se sabe ao certo onde cada 
aula termina. Isso pode ser angustiante para muitos, mas delicioso para outros. Cada 
aula é única! 
 
O professor pode até mesmo não fazer recorte algum. Isso é bom para os alunos 
perceberem todas as potencialidades na análise de jurisprudência. 
 
 
DESAFIOS DO PROFESSOR 
Durante o processo de preparação prévia, é recomendável que o professor reconheça, 
de acordo com a abordagem do caso, as principais informações que devem ser 
extraídas do julgado. Com base nelas, as questões de direcionamento dos debates são 
formuladas e organizadas em um roteiro de aula. 
 
O principal desafio do professor é sofisticar a leitura do julgado pelos alunos. 
 
As sucessivas indagações do professor em sala de aula servem para conduzir o debate 
a um nível de profundidade que viabilize o desenvolvimento de habilidades e a 
solidificação de conteúdos estudados previamente pelos alunos. As perguntas são a 
grande arma do professor. Ele não precisa – e nem deve – ficar explicando as coisas 
para que o aluno as veja. 
 
Com perguntas, o professor pode chamar a atenção do aluno para pontos importantes 
e depois mudar a perspectiva de análise, provocar reflexão mais profunda. Ele também 
pode propor analogias e se utilizar de muitos outros recursos. 
 
ESTILO E INTERVENÇÃO DO PROFESSOR 
O professor é o responsável pelo sucesso da aula. Ele precisa ser charmoso, 
estimulando com jeito a participação dos alunos nas discussões, especialmente em 
suas intervenções. Vejamos como o professor pode atuar: para quebrar o gelo; 
recusando o papel de autoridade; para provocar; para chacoalhar; para problematizar; 
para colocar ordem; como advogado do diabo. 
 
Além de qualificar os debates, o professor orienta a ordem de discussão dos julgados 
para que os alunos saibam como se posicionar nas aulas seguintes.

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