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TRABALHO DE PLATAFORMA

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TRABALHO DE PLATAFORMA 
Prof. Moyses da Fontoura Pinto Neto 
 
 
Nesta unidade temática, você vai aprender 
▪ A refletir sobre as transformações que passou o mundo do 
trabalho nos últimos 100 anos e como se localizar a partir delas; 
▪ A pensar criticamente acerca da flexibilidade no trabalho e 
como ela está diretamente conectada com transformações 
econômicas e sociais; 
▪ A entender como a cultura digital, em especial por meio das 
plataformas, interfere diretamente na forma como opera o mundo 
do trabalho; 
▪ A compreender o papel dos algoritmos no universo atual e 
como se posicionar diante deles. 
 
 
 
Introdução 
O sociólogo Richard Sennett narra, em A Corrosão do Caráter, a gradual 
transformação que o mundo do trabalho enfrentou na passagem entre o 
final da década de 1970 e início de 1980. Seus personagens são donos de 
pequenos bares, padarias e outros estabelecimentos que viviam sob um 
regime estritamente local e não raro tinham entre suas características 
peculiaridades que em partes do Brasil, por exemplo, são associados aos 
"sujinhos", ou ainda – brincando com o meme – "raiz, não nutella". 
Gradualmente, com o passar dos anos, os sujeitos viam-se desvinculados do 
universo original por meio de mudanças drásticas de rotina e hábitos de 
trabalho, como uma personagem deixa seu pequeno restaurante e vai 
trabalhar em uma agência de publicidade na zona central, ou a diferença 
entre pais localizados em pequenos estabelecimentos e filhos nômades que 
estão sempre viajando a negócios. A hipótese de Sennett é que a busca da 
autonomia (menor relação com empregador, mais flexibilidade no trabalho) 
acaba levando à perda do vínculo comunitário, tornando o sujeito 
excessivamente desenraizado e sem referências normativas. 
Hoje, a permanência a vida inteira no mesmo ponto de trabalho para as 
gerações mais jovens tornou-se quase impensável. 
Mas se a flexibilidade, ou precariedade – dependendo do ponto de vista –, já 
foi naturalizada, tornando-se o "feijão-com-arroz" do mundo do trabalho, 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.fmornl1d6q5r
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.fmornl1d6q5r
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.ko3sly9d4dis
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.ko3sly9d4dis
ainda estamos diante do abalroamento por um fenômeno que inicialmente 
foi chamado de uberização, isto é, um trabalho realizado por tarefa no qual 
as plataformas digitais ocupam o lugar de intermediário entre prestador e 
tomador de serviços. 
A emergência desse tipo de atividade, em que o vínculo entre trabalhador e 
empregador não existe mais, e basicamente o sujeito é uma espécie de 
"empresário de si", ainda está por ser mapeada em todos os seus impactos 
e características. Nascida sobretudo no universo das tecnologias da 
informação e seus programadores, propõe um outro regime em que o 
trabalho é descontínuo, descentralizado e por tarefa, atuando mediante uma 
organização comandada por algoritmos e disponível por meio de 
dispositivos eletrônicos como o smartphone ou o computador pessoal. 
Mais recentemente, com a consolidação dos estudos em torno da cultura 
digital, tem-se utilizado a expressão trabalho de plataforma para caracterizar 
esse tipo de atividade. É sobre ela que iremos discorrer neste capítulo. 
 
 
O mundo fordista 
Imagine um mundo em que as pessoas almejavam ingressar em alguma 
empresa, ou indústria, e "ter uma carreira" dentro dela. Você fazia uma 
seleção para ingressar em um banco, por exemplo, e ingressava em uma 
posição de auxiliar, servindo café para os superiores, organizando papéis e 
levando documentos até o destino determinado. Depois, saltava para o outro 
lado da mesa, em que dava destino à papelada e atendia os clientes. 
Finalmente, ia para a sala ao lado, onde as instruções são dadas inclusive 
para as mesas, e chefiava o setor todo. Depois de alguns anos, com idade 
algo entre 50 e 60 anos, você podia pedir aposentadoria, fazendo com que o 
seguro social público continue pagando seu salário, dando lugar a uma outra 
pessoa no lugar de chefia na origem. A narrativa podia ser igual em uma 
indústria, uma loja de departamentos, uma empresa de jornalismo ou 
mesmo um restaurante. 
Esse era o mundo chamado de "fordista", referência ao industrial Henry Ford, 
fabricante de automóveis, cujo modelo de administração dos negócios 
acabou se tornando o "espírito da época". Sua linha de produção e 
concepção de relação entre empregador e empregados marcou uma época 
que se estendeu por cerca de 30 anos inquestionada. 
 
 
 
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.a3l02uwdpkg0
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.a3l02uwdpkg0
https://drive.google.com/file/d/1jtbG4s8uIio4r4Q51pTc3c13HidJlQMr/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1jtbG4s8uIio4r4Q51pTc3c13HidJlQMr/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1jtbG4s8uIio4r4Q51pTc3c13HidJlQMr/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1jtbG4s8uIio4r4Q51pTc3c13HidJlQMr/view?usp=sharing
 
 
Figura 1: Henry Ford. 
Fonte: Wikimedia. 
Se você é jovem e resolve conversar a respeito com uma pessoa mais velha, 
na faixa superior a 60 anos, a narrativa poderá soar familiar. Ou, caso tenha 
idade mais avançada, lembrará do que viveu. Muitos falarão ou irão recordar 
do parente ou vizinho que "fez carreira" no Banco do Brasil ou na indústria 
calçadista, e dos benefícios que na época era possível acumular até a 
aposentadoria (hoje também considerada precoce em termos etários). 
Para quem nasceu no século XXI, por outro lado, a história é completamente 
surreal. O mundo mudou completamente. É praticamente impossível 
imaginar hoje em dia alguém que comece e termine sua experiência 
profissional no mesmo local de trabalho. 
O fordismo era presente no mundo após a Segunda Guerra Mundial, sob um 
grande acordo social de pacificação, mas tensionado pela Guerra Fria. 
 
 
 
Fique de olho! 
Na época, sobretudo no hemisfério Norte, havia uma conciliação entre 
sindicatos e outras associações de trabalhadores com as lideranças da 
indústria, então ponta-de-lança da economia nacional, produzindo 
crescimento econômico e ampliando direitos segundo o modelo do Estado 
de bem-estar social. Esse modelo possibilitou a emergência de uma grande 
"classe média" de valores tradicionais e voltada para o consumo – ao mesmo 
tempo em que cresciam a indústria da televisão e do cinema e as 
possibilidades abertas pela publicidade (HOBSBAWN, 1995). 
O período – sobretudo nas décadas de 50, 60 e 70 – foi marcado por uma 
significativa prosperidade, tanto que apelidado de "Anos Dourados" ou 
"Trinta Gloriosos" pelos historiadores e sociólogos que o analisam. O modelo 
de Henry Ford envolvia o reconhecimento de diversos benefícios para os 
empregados que possibilitaram mão de obra qualificada e estável para as 
empresas e, ao mesmo tempo, um mercado consumidor forte dos seus 
próprios produtos. 
 
 
 
 
https://drive.google.com/file/d/1jtbG4s8uIio4r4Q51pTc3c13HidJlQMr/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1jtbG4s8uIio4r4Q51pTc3c13HidJlQMr/view?usp=sharing
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fcommons.wikimedia.org%2Fwiki%2FFile%3AHenry_ford_1919.jpg&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw22S_1h2xA0_J3r3GR751i5
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fcommons.wikimedia.org%2Fwiki%2FFile%3AHenry_ford_1919.jpg&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw22S_1h2xA0_J3r3GR751i5
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.99lyqo1jppk1
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https://drive.google.com/file/d/1FNCITrBNHhTWNHCKzbtIfq1zNL2xd8fi/view?usp=sharing
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https://drive.google.com/file/d/1FNCITrBNHhTWNHCKzbtIfq1zNL2xd8fi/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1jtbG4s8uIio4r4Q51pTc3c13HidJlQMr/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1FNCITrBNHhTWNHCKzbtIfq1zNL2xd8fi/view?usp=sharingFigura 2: Mad Men é uma das séries que refletem o universo dos "Anos 
Dourados" nos Estados Unidos. 
Fonte: IMDb. 
A partir da metade da década de 60, no entanto, o modelo começa a ser 
contestado pela juventude, que compreendia a vida dos seus antecessores 
como excessivamente previsível, monótona e marcada pela busca de 
enriquecimento. A família nuclear tradicional, habitante dos subúrbios e 
marcada pelas convenções sociais vigentes, era criticada como repressora e 
puritana. Além disso, contrastavam com o onipresente risco de uma guerra 
nuclear entre as potências da Guerra Fria e a defesa do pacifismo. A arte, 
sobretudo as grandes estrelas do cinema e do rock, apresenta modelos do 
"rebelde sem causa", como Elvis Presley, James Dean, Marilyn Monroe, 
Brigitte Bardot, e depois The Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix e Janis 
Joplin, assim como diretores como Jean-Luc Godard, Michelangelo Antonioni 
e Ingmar Bergman. No Brasil, sob o período ditatorial, foram os tropicalistas 
como Caetano Veloso, Gal Costa, Jorge Ben, Gilberto Gil, Glauber Rocha, Lygia 
Clark e Maria Bethânia que encarnaram esses ideais. 
 
 
 
Fatos e dados 
O ciclo ficou conhecido sobretudo pelos acontecimentos de Maio de 68, que 
atravessaram o mundo em revoltas nos dois lados da Guerra Fria, por 
exemplo com a Primavera de Praga no lado soviético e com os protestos 
contra a Guerra do Vietnã nos Estados Unidos. 
Ao mesmo tempo, o "Choque do Petróleo" – resultante das guerras no 
Oriente Médio e a delicada geopolítica envolvida – começa o processo de 
depressão econômica, colocando em xeque o arranjo social próspero que 
vigorou nas décadas de ouro. As próprias possibilidades do modelo 
pareciam em vias de esgotamento, resultando em crescimento da violência, 
tensão social, desemprego e burocratização excessiva (HOBSBAWN, 1995). A 
partir do final da década de 70, ele vai dar lugar a outro modelo. 
 
 
Pós-fordismo 
Toda vez que alguém usa o prefixo "pós-" para designar algo, ele está, na 
verdade, confessando a dificuldade de mapear o que está acontecendo. Na 
falta de um nome como "fordismo", coloca-se simplesmente o prefixo para 
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https://drive.google.com/file/d/1FNCITrBNHhTWNHCKzbtIfq1zNL2xd8fi/view?usp=sharing
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https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.vqno0jgl9mk3
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https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.7idnbrw38yql
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.7idnbrw38yql
https://drive.google.com/file/d/1FNCITrBNHhTWNHCKzbtIfq1zNL2xd8fi/view?usp=sharing
caracterizar um tempo complexo em que o novo ainda não se fixou, mas o 
velho está em declínio. 
A combinação entre a queda econômica do fordismo e revoltas 
contraculturais levou a uma reinvenção do modo de produção, escapando 
da rigidez do fordismo sob todos os aspectos. 
 
 
 
Reflita 
Assim, para alguns foi a vitória da autonomia – entendida como flexibilidade, 
dinamismo, agilidade –, enquanto para outros foi vencedora a precarização, 
com a perda dos direitos trabalhistas e da proteção social que garantia 
qualidade de vida. O sociólogo Zygmunt Bauman expressa esse conflito 
como uma disputa entre liberdade e segurança (BAUMAN, 1998, p. 10). 
Viveríamos na era do "líquido", em que o que era sólido – por exemplo, um 
emprego em uma empresa determinada – se torna fluido, e portanto 
estamos em uma espécie de movimento permanente. 
Luc Boltanski e Eve Chiapello (2009), ao longo de uma extensa investigação 
sobre os manuais de administração e outros documentos do mundo dos 
negócios no período, propuseram chamar o fenômeno de "novo espírito do 
capitalismo". A expressão vem de Max Weber (2004), no livro clássico em que 
relaciona a emergência do capitalismo ao surgimento da ética protestante. 
Segundo Weber, o indivíduo protestante, austero, disciplinado e valorizador 
do trabalho como meio de salvação foi condição para que um sistema 
econômico baseado na produção de dinheiro pudesse vingar. Até então, a 
acumulação e a poupança eram vistos como pecaminosas, avarentas. O 
protestantismo teria sido a forma religiosa capaz de liberar essas forças 
econômicas. Boltanski e Chiapello, no entanto, consideram que a ética do 
trabalho e da disciplina, diante das revoltas contraculturais dos anos 60, teria 
caído em descrédito – e no seu lugar teria assumido uma ideologia de 
autenticidade em que o trabalho é associado à autoexpressão e à 
flexibilidade. Assim, o "empreendedor de si" dinâmico, criativo e nômade 
teria tomado o lugar do industrial austero e disciplinador dos seus 
empregados. 
 
 
Uberização 
É impossível compreender o passo seguinte no universo pós-fordista sem 
introduzir a grande revolução tecnológica produzida pela introdução do 
computador pessoal e da Internet. Houve uma confluência entre as 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.3danuxkathnt
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.3danuxkathnt
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.t19w3q6zegrm
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.t19w3q6zegrm
contraculturas e o Vale do Silício, formando-se uma espécie de via 
tecnológica das demandas da década de 60. 
Para esses libertários, a tecnologia seria a propulsora de grandes 
transformações capazes de aliar liberdade e progresso (LOVELUCK, 2018; 
MOROZOV, 2018). 
O movimento desaguou na cultura hacker dos anos 90, reverberada pela 
revista Wired, e criou experiências que não cabiam exatamente nos 
quadrantes clássicos da propriedade intelectual. Uma das características era 
exatamente o compartilhamento, presente em redes P2P como o Napster ou 
comunidades virtuais que se criam com o intuito de dar caronas, receber 
hóspedes de outros países, compartilhar comida excedente, entre outras 
iniciativas. 
 
 
 
Fique de olho! 
A economia do compartilhamento (sharing economy) foi a base sobre a qual 
se construíram as plataformas que vieram a se tornar as Big Techs na 
segunda década do século XX (SLEE, 2017). Da gratuidade compartilhada dos 
mp3 nasceu o Spotify, do compartilhamento de filmes e séries em formato 
torrent nasceu a Netflix, assim como dos aplicativos de compartilhamento 
de caronas e intermediação de transações nasceu a Uber. 
Pelo seu altíssimo impacto imediato, reunindo legiões de motoristas 
dispostos a ganhar um excedente ou trabalhar diretamente – depois 
do crash na Bolsa de Valores de 2008, que levou a um efeito dominó no 
mercado mundial, causando desemprego –, a Uber acabou se tornando o 
caso exemplar de um novo arranjo em que os serviços são oferecidos por 
uma plataforma digital, sem que esta funcione como uma empresa de 
aluguel de veículos ou táxis. A Uber apenas oferece a face digital e um enxuto 
apoio material aos motoristas, dividindo o pagamento da transação digital 
com a utilização de instrumentos contemporâneos como GPS e smartphones. 
Assim, convencionou-se, em um primeiro momento, chamar de "uberização" 
um tipo de serviço altamente flexível ou precário no qual o indivíduo tem 
uma ligação muito tênue com a plataforma, obtendo pagamento de acordo 
com a quantidade de serviço que desempenha (SLEE, 2017, p. 9). Entre outras 
coisas, a conectividade 24 por dia, 7 dias por semana, típica do novo universo 
aberto pela Internet portável dos smartphones (CRARY, 2014), foi condição 
para que se pudesse desenhar um novo modelo de negócios entre as BigTechs capaz de avançar sobre mercados locais de forma avassaladora, 
causando – entre outras coisas – inúmeros protestos entre os profissionais 
habituais das áreas ao redor do mundo, sobretudo os taxistas. 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.f7rb3ttmkips
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.f7rb3ttmkips
Depois da Uber, muitas outras plataformas surgiram com o mesmo modelo 
de negócios de intermediação, em que a empresa de tecnologia fornece o 
aplicativo e a tecnologia correspondente, o consumidor recebe o produto a 
preços em geral mais baixos que o mercado anterior e o prestador de 
serviços fica na condição flexível de escolher quando vai trabalhar, pois 
ausente chefia imediata. Rapidamente, introduziu-se um grande dinamismo 
no mercado, sacudindo setores que pareciam estagnados e indiferentes à 
satisfação dos consumidores. Além disso, o registro digital muitas vezes 
deixa uma sensação de maior segurança, uma vez que a informação está 
toda registrada na nuvem (cloud), de modo que o anonimato que poderia ser 
perigoso acaba se desfazendo. 
 
 
 
Reflita 
Por outro lado, uma série de direitos que eram inerentes ao mundo do 
trabalho, como décimo-terceiro salário e férias, perdem-se diante da relação 
meramente contratual e temporária. O que é denominado 
como precarização, típico de atividades em que o trabalhador não tem 
segurança sobre seu futuro e suas garantias de base, aqui se radicaliza. O 
trabalho flexível e dinâmico que vinha se tornando praxe passa a perder 
qualquer espécie de vínculo, situando-se como uma mera atividade 
contingente que alguém pode realizar sem qualquer constância e, ao mesmo 
tempo, sem proteção social. 
Por essa razão, recentemente entregadores de aplicativos, por exemplo, 
fizeram reivindicações de proteção da saúde para empresas como iFood 
durante a pandemia do COVID-19. No hemisfério Norte, também por 
exemplo, são frequentes os protestos e paralisações de trabalhadores da 
plataforma Amazon. 
 
 
 
 
 
Amplie 
Clique aqui para ler uma matéria sobre a Greve dos Entregadores. 
Essa nova modalidade de trabalho, espécie de modelo superconcentrado do 
"novo espírito do capitalismo", chamamos trabalho de plataforma. 
 
 
Trabalho de plataforma 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.ykm8ls2bzlpx
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.ykm8ls2bzlpx
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.uol.com.br%2Ftilt%2Fnoticias%2Fredacao%2F2020%2F07%2F01%2Fgreve-nao-para-apps-mas-afeta-sistema-e-mostra-forca-de-entregadores.htm&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2tksLWPWb4Coz5eH6uOtAI
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.uol.com.br%2Ftilt%2Fnoticias%2Fredacao%2F2020%2F07%2F01%2Fgreve-nao-para-apps-mas-afeta-sistema-e-mostra-forca-de-entregadores.htm&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2tksLWPWb4Coz5eH6uOtAI
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.hxo7kjshe8g8
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.hxo7kjshe8g8
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.uol.com.br%2Ftilt%2Fnoticias%2Fredacao%2F2020%2F07%2F01%2Fgreve-nao-para-apps-mas-afeta-sistema-e-mostra-forca-de-entregadores.htm&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2tksLWPWb4Coz5eH6uOtAI
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.uol.com.br%2Ftilt%2Fnoticias%2Fredacao%2F2020%2F07%2F01%2Fgreve-nao-para-apps-mas-afeta-sistema-e-mostra-forca-de-entregadores.htm&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2tksLWPWb4Coz5eH6uOtAI
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.ugnrq84nojyw
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t004#h.ugnrq84nojyw
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.uol.com.br%2Ftilt%2Fnoticias%2Fredacao%2F2020%2F07%2F01%2Fgreve-nao-para-apps-mas-afeta-sistema-e-mostra-forca-de-entregadores.htm&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2tksLWPWb4Coz5eH6uOtAI
O trabalho de plataforma, portanto, é uma aceleração da tendência de 
flexibilização iniciada nos anos 80 do século passado que implica a 
dissolução do emprego e transformação em uma atividade na forma de 
serviço mediada por uma plataforma digital (como Uber, iFood, Magazine 
Luiza, Amazon, Airbnb). 
Como tudo que passa a ser mediado pelas plataformas, o trabalho passa a 
ser sujeito a um controle algorítmico. Um algoritmo é simplesmente um 
conjunto de instruções que busca alcançar determinado resultado. 
No caso, programa-se o algoritmo para que, mediante obtenção de certos 
dados dos usuários (a partir de cliques, dados de outras plataformas, etc.), 
possam fazer a respectiva mineração e, com os resultados, ofereça as 
alternativas que mais estão de acordo com as preferências dos 
consumidores. Os algoritmos, assim, funcionam como filtros que 
possibilitam, por exemplo, separar os prestadores de serviços bem 
avaliados daqueles que são mal avaliados, ou dar mais visibilidade àquele 
que coloca uma determinada hashtag, ou um termo específico, que 
corresponda a termos pesquisados em um mecanismo de busca (ex.: 
Google, Facebook, Instagram), desde que mais clicado que os demais. E 
assim por diante. 
Diante disso, ainda há muitas questões em aberto. 
A proteção social, por exemplo, não surgiu do nada. Foi resultado de uma 
longa luta dos trabalhadores diante de jornadas extenuantes de trabalho, 
com trabalho infantil, insalubre ou da possibilidade de acidentes que 
inviabilizam a continuidade. Que tipo de mínima segurança as Big Techs 
podem possibilitar aos seus prestadores de serviço diante de tais tipos de 
infortúnios? E a interrupção habitual do trabalho por meio das férias, por 
exemplo, simplesmente deixará de existir? Os trabalhadores têm direito a 
conhecer as instruções que coordenam a atuação dos algoritmos ou estes 
estão protegidos pela propriedade intelectual, sendo por isso intangíveis 
para aqueles que são por eles coordenados? Deve haver limites para a 
jornada de trabalho e que tipo de controle pode existir para evitar que o 
sujeito permaneça 24/7 conectado? 
São algumas, entre tantas, das questões que o trabalho de plataforma 
passará a colocar de agora em diante.

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