Buscar

unid_2

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

52
Unidade II
Unidade II
Agora vamos retomar algumas informações sobre a organização do trabalho a partir da industrialização; 
tais conteúdos serão o nosso ponto de partida. Depois, passaremos às reflexões sobre o processo de 
reestruturação produtiva, com ênfase aos novos formatos de organização do trabalho que foram surgindo. 
Nesse aspecto, também é importante citar fenômenos decorrentes das mudanças processadas na forma de 
produção e na maneira como a sociedade capitalista passou a organizar a sua produção e o seu consumo.
5 O CONTEXTO DA INDUSTRIALIZAÇÃO CAPITALISTA E AS ALTERAÇÕES NA 
CONFIGURAÇÃO DO TRABALHO
Apesar de já termos discutido a questão da industrialização, vale retomar esse contexto de maneira 
mais aprofundada para que, de forma análoga, compreendamos as mutações na constituição do trabalho 
a partir das alterações realizadas no processo de produção.
O período da industrialização, que corresponde à fase nomeada como capitalismo industrial, 
caracteriza-se por profundas alterações no processo produtivo. Do que estamos falando? Referimo-nos 
à forma como a sociedade naquele período organizava a sua produção e o seu consumo. À época, 
grande parte do mundo já vivenciava o capitalismo de base comercial e mercantil e caminhava para a 
fase industrial. Em tese, o capitalismo comercial, também chamado de pré-capitalismo, perdurou entre 
os séculos XV e XVIII. Depois, foi substituído pelo capitalismo industrial, que, por sua vez, teve seu auge 
entre os séculos XVIII e XIX. O capitalismo industrial foi substituído pelo monopolista, que vigorou a 
partir do século XX.
Para Oliveira (2004), o capitalismo comercial originou-se da elevada expansão do comércio internacional 
na Europa. Essa expansão proveio do aumento das possibilidades de comércio, sobretudo por meio da 
circulação marítima. Outro fator importante no sentido da circulação foi a formação de colônias europeias, 
facilitando o comércio de diversos itens, sendo que tais colônias contemplaram as Américas e a África.
 Observação
O capitalismo comercial possuía a produção assentada na manufatura.
Essa fase de desenvolvimento capitalista também ficou conhecida com o termo “mercantilista”. 
Em tese, esse termo está ligado a um período em que o capitalismo produziu por meio da busca 
de matérias-primas específicas e metais preciosos. Essa busca não era planejada e tentava oferecer 
elementos para a produção em determinados locais. A produção, no entanto, era basicamente 
assentada na manufatura. Nesse formato de produção, os trabalhadores estavam inseridos em todo 
o processo de trabalho, e as trocas aconteciam nas pequenas cidades.
53
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Oliveira (2004) ainda diz que após a fase comercial, como sinalizamos, veio a industrial, a qual 
estudaremos. Quando discutirmos a reestruturação produtiva, serão apresentadas informações sobre o 
capitalismo monopolista. Por ora, tratemos do processo de industrialização.
A industrialização tomou um grande fôlego na Europa do século XVIII. A Inglaterra foi o cenário 
principal de expressão dessas alterações, porém a industrialização seguiu passos diferenciados nos mais 
variados locais. Essas mudanças começaram na Inglaterra porque nesse país havia um grande acúmulo 
de capitais (CAVALCANTE; SILVA, 2011; OLIVEIRA, 2004). Cavalcante e Silva (2011) ainda relatam que a 
industrialização na Inglaterra foi criada a partir de 1760. As autoras destacam tal aspecto porque desejam 
enfatizar que nesse sentido a Inglaterra esteve à frente do processo de Revolução Industrial se comparada 
com outros locais e, por isso, ficou conhecida como maior referência da industrialização no período.
Na Inglaterra, o liberalismo francês rapidamente se difundiu, destacando a importância do respeito 
ao individualismo, da liberdade e da democracia, por exemplo. Essa corrente filosófica, política e 
econômica teve em Tocqueville um dos seus principais expoentes. Compreendia-se que a sociedade 
antiga deveria ser deixada no passado e deveriam ser erigidas as bases para uma nova sociedade. Nessa 
nova sociedade, haveria uma predileção ao moderno, ao novo.
A ideia do novo, do progresso, se disseminava pela Europa, que buscava 
pôr em prática novas invenções que se adequassem ao ritmo do cotidiano 
alucinante imposto pela nova ordem do trabalho. O tempo tornou-se ainda 
mais valioso para aqueles que almejavam ganhar dinheiro, de modo que cada 
minuto deveria ser minuciosamente aproveitado (OLIVEIRA, 2004, p. 84).
O aproveitamento do tempo foi possível porque tivemos a inserção de muitas tecnologias no processo 
produtivo. Como exemplo, cita-se a popularização do uso de máquinas a vapor, criadas por Thomas 
Newcomen em 1711 na indústria têxtil. Aliás, Oliveira (2004) e Cavalcante e Silva (2011) relatam que a 
mecanização começou na área têxtil, resultando na substituição da lã por fibras de algodão. Naquela época, 
as pessoas estavam acostumadas a materiais mais simples como a lã e, de repente, poderiam desfrutar de 
fibras de algodão. É por isso que Oliveira (2014) indica que não foi apenas uma mudança na produção, mas 
também uma alteração subjetiva, modificando hábitos e costumes até então consolidados.
 Saiba mais
Recomendamos que você assista ao documentário indicado a seguir. Ele 
é mais curto do que os filmes acentuados neste livro-texto, mas apresenta 
informações importantes sobre a Revolução Industrial.
REVOLUÇÃO Industrial. Direção: Frederico Lobo e Tiago Hespanha. 
Portugal: Terratreme, 2014. 72 min.
54
Unidade II
Ressaltam-se ainda a energia a vapor, que fortaleceu o setor de transporte, a eletricidade a gás, 
a produção de carvão, de ferro e de aço. Tudo isso ajudava a compor um quadro novo em relação à 
produção. Afinal, naquele instante o maquinário permitia que a produção acontecesse de forma mais 
rápida, com menos erros. Foi por meio do carvão que surgiram os combustíveis, dando maior agilidade 
ao escoamento da produção, viabilizando também mudanças na organização do transporte da época. 
É em razão de tantas mudanças que o período em questão é descrito como Revolução Industrial.
Mecanização da produção, surgimento das primeiras máquinas, energia 
do carvão e do ferro, revolução na agricultura – adubação, novos tipos de 
plantação em oposição ao sistema rotativo de cultivo, utilizado desde a 
Idade Média, em que se interrompia a cultura em uma parte da terra durante 
algum tempo para a recuperação do solo – e formação da força de trabalho 
são algumas das principais características impostas pelas transformações 
técnicas e econômicas ocorridas no final do século XVIII na Inglaterra, as 
quais foram denominadas Revolução Industrial (OLIVEIRA, 2004, p. 85).
Afinal, foram muitas mudanças na produção. Uma verdadeira revolução. Já destacamos que a 
produção era assentada na manufatura. Ou seja, todo o processo de produção acontecia manualmente 
e com a ajuda de poucos instrumentos. Com as mudanças, a produção passou a contar com um amplo 
maquinário. Tudo isso era importante porque ajudaria a colaborar com a formação de um novo homem, 
um novo ser humano.
Nesse contexto, vem à tona a seguinte questão: com tais mudanças, como foi organizado o 
trabalho? Houve a consolidação do trabalho assalariado. Antes, no capitalismo mercantil, nem todos 
os trabalhadores recebiam salário. Agora, a remuneração não era das melhores, aliás, os salários 
eram baixos e as jornadas de trabalho eram extremamente extensivas. Martins (2008) indica que os 
operários chegavam a trabalhar até doze horas por dia. Os baixos salários provinham também do 
excedente de mão de obra no período, com o deslocamento de grandes contingentes populacionais 
para a zona urbana. Com a existência de um grande contingente de mão de obra, é natural que o 
valor dos salários decline. Afinal, quando há muitos desempregados, o capitalista paga o valor mais 
baixo de salário (OLIVEIRA, 2004).
O valor extremamente baixo do salário permitiu ao capitalismo nesse início de fase industrial a 
extração de elevadastaxas de mais-valia, sobretudo a mais-valia absoluta. Como vimos, a mais-valia 
absoluta é extraída pelo capitalista quando há ampliação da carga horária do trabalhador e a manutenção 
do seu salário, sem reajuste. Pensando nesse contexto, nota-se que os trabalhadores são uma peça 
fundamental para a extração da mais-valia absoluta, pois exercem suas funções produzindo e recebendo 
um baixo salário.
Além dos baixos salários, as condições de trabalho de grande parcela da população eram 
extremamente insalubres. As jornadas de trabalho eram excessivas, não havia descanso remunerado, 
férias ou qualquer outra garantia ou proteção ao trabalhador. Os segmentos que mais eram penalizados 
nesse sistema eram mulheres e crianças. Oliveira (2004) relata que crianças e mulheres já trabalhavam 
no campo e também nas manufaturas, mas foi na fase industrial que esses grupos passaram a ser 
55
TRABALHO E SOCIABILIDADE
ainda mais marginalizados. Aliás, a autora destaca que a ação da criança no campo, em algumas 
circunstâncias, estava ligada a desenvolver tarefas mais simples, como a entrega de recados. Nas 
indústrias, a criança trabalhava como os demais trabalhadores, porém tanto ela quanto a mulher 
recebiam salários bem mais baixos. Martins (2008) indica que a necessidade do trabalho da mulher e 
da criança em um momento que somente o homem trabalhava ocorreu porque o salário do homem 
não era suficiente para garantir a sobrevivência da família.
 Observação
As mulheres e as crianças foram segmentos extremamente espoliados 
pela produção capitalista no contexto da Revolução Industrial.
Fato é que as crianças adoeciam porque não tinham condições de alimentação e higiene mínimas 
para “trabalhar”. O mesmo processo acontecia com as mulheres, que agora estavam cada vez mais 
expostas a essas situações de alimentação indigna e à falta de higiene, sem contar que era comum serem 
assediadas por seus patrões. A dupla jornada de trabalho resultava em um cansaço excessivo por parte 
da mulher, que também não conseguia exercer plenamente o cuidado dos filhos que ficavam em casa. 
Os acidentes de trabalho também acometiam mulheres e crianças com maior incidência (CAVALCANTE; 
SILVA, 2011; OLIVEIRA, 2004).
Todos os trabalhadores padeciam com as condições precárias de trabalho, porém mulheres e crianças 
sofriam mais naquela sociedade essencialmente patriarcal. Além da condição de trabalho precária, o 
momento oferecia uma condição de vida ruim. Dessa forma, a industrialização trouxe benefícios no 
sentido da praticidade de algumas situações, a exemplo da energia. Contudo, não eram todas as pessoas 
que tinham acesso a isso em suas residências. Via de regra, quem mais se beneficiou do desenvolvimento 
tecnológico foi o capitalista. Oliveira (2004) enfatiza que nesse momento começou o processo de 
alienação do trabalhador. Isso porque o trabalhador, como vimos, deixou de participar do processo 
de trabalho como um todo. O produto e todo o trabalho passaram a ser alienados. A autora ainda diz que 
as relações entre trabalhadores e patrões eram mais duras e menos pessoais. Houve um distanciamento 
entre esses segmentos que não era comum na manufatura. O trabalhador moderno, criado a partir 
da Revolução Industrial, é o trabalhador fabril e, depois, industrial. Aquele trabalhador rural, com 
instrumentos próprios e simples, desapareceu do cenário e passou a ser associado a um passado que 
devia ser suprimido da realidade (MARTINS, 2008).
O trabalho passou a ser organizado com regras rígidas, tarefas rotineiras e monótonas. Havia agora 
a necessidade de controle excessivo dos horários a serem cumpridos; o foco era aproveitar o máximo 
do tempo. Muitos apresentavam dificuldade de adaptação a esse esquema extremamente rígido, porém 
trabalhavam para manter as suas necessidades. O novo estilo de vida da classe trabalhadora não agradava 
a todos, muito pelo contrário. Mas de que outra forma as pessoas conseguiriam sobreviver?
Com o objetivo de fazer com que os trabalhadores cumprissem as regras estabelecidas, dentre elas a 
questão do horário, Martins (2008) diz que era comum que os proprietários castigassem os trabalhadores. 
Além dos castigos físicos, os patrões prometiam demitir quem não se comportasse adequadamente. 
56
Unidade II
Os trabalhadores eram até ameaçados a pagar multas por conta de prováveis atrasos, e alguns acabavam 
pagando mesmo.
“Os castigos aplicados, em caso de não cumprimento das regras estabelecidas, costumavam ser 
rigorosos, pois os trabalhadores recebiam ameaças de despedimento, tinham de pagar multas [...] ou 
então sofriam agressões físicas” (MARTINS, 2008, p. 28).
O controle do empregador era tal, que este chegava até a definir que o trabalhador deveria adquirir 
alimentos em suas lojas. Ou seja, os empregadores vendiam gêneros alimentícios e obrigavam os 
trabalhadores a adquiri-los, e pior, a preços extremamente elevados. Em alguns casos, os trabalhadores 
acabavam comprando até mesmo alimentos que já estavam em condições precárias. Havia até patrões 
que substituíam o salário por vale-alimentação. Esses vales só podiam ser trocados nas lojas dos patrões, 
e isso “amarrava” o trabalhador ainda mais à empresa, tornando o trabalho “assalariado” quase um 
trabalho em regime de escravidão. Nesse momento, os trabalhadores “[...] viam os seus salários cada 
vez mais reduzidos, em forma de valores trocados apenas nas lojas do patrão. Nessas lojas, os preços 
praticados eram geralmente mais altos e tinham de comprar gêneros por vezes estragados” (MARTINS, 
2008, p. 28).
A falta de recursos resultava em uma alimentação precária, por isso grande parte dos trabalhadores 
era desnutrida. Esse seria um dos fatores que comprometeriam a saúde do trabalhador e de sua família. 
Os trabalhadores não tinham condições de custear roupas e as moradias eram extremamente precárias. 
As casas eram muito próximas umas das outras, os pátios onde eram alocadas eram imundos, com 
sistema de esgoto deficiente e extremamente insalubre. Isso também colaborava para que o trabalhador 
adoecesse com maior frequência. Ao descrever as moradias dos trabalhadores no período, Martins (2008, 
p. 29) acentua que eram:
[...] habitações impróprias, úmidas, doentias e pobres, de aspecto decadente, 
possuíam mobílias igualmente decadentes e conseguiam viver ao lado de 
outras famílias com os mesmos problemas, dispondo apenas do mínimo 
indispensável: camas, uma mesa, um armário e algumas cadeiras.
Por outro lado, os proprietários das empresas possuíam alimentação adequada, roupas e 
medicamentos, inclusive havia fartura. Eles gozavam de grande prestígio e reconhecimento social. Já a 
classe trabalhadora, além de vivenciar todas as condições precárias retratadas, era considerada como o 
segmento de menos importância na sociedade.
No entanto, a vida das classes mais favorecidas pelo desenvolvimento 
e pelo bem-estar não sofreu grandes alterações; a sua riqueza foi 
inclusivamente aumentada, devido aos lucros incalculáveis, obtidos pela 
venda de propriedades para possibilitar a construção do caminho de ferro, 
a exploração das minas e a ampliação das cidades (MARTINS, 2008, p. 27).
Cavalcante e Silva (2011) e Martins (2008) ressaltam que todas essas circunstâncias resultaram na 
consolidação de uma classe trabalhadora. Assim, o perfil do trabalhador ficou restrito ao trabalhador 
57
TRABALHO E SOCIABILIDADE
da indústria. As precárias condições de trabalho, os baixos salários e o desemprego em dados períodos 
são elementos que colaboraram para a insatisfação dos trabalhadores. Muitos eram dispensados sem 
salário em virtude de pausas que os capitalistas faziam na produção. Toda essa circunstância, todavia, 
foi despertando os trabalhadores, que começaram a se organizar por meio de sindicatos e passaram 
a exigir seus direitos. Nessa época, eles organizaram várias rebeliões para protestar contra a situação 
precária que vivenciavam.
A representação a seguir demonstra a revolta de trabalhadores, na Bélgica, aproximadamenteno 
ano de 1868.
Figura 1 
Como vimos, a industrialização não foi um fenômeno restrito à Inglaterra; esteve presente em outros 
países. Nesse sentido, também eram comuns revoltas e indisposições por parte da classe trabalhadora. 
A revolta belga de 1868 retratada na imagem demonstra a indignação dos trabalhadores pela condição 
laboral que vivenciavam.
 Saiba mais
Hoje em dia há vários vídeos educativos que abordam a Revolução 
Industrial. As duas indicações a seguir trazem informações interessantes:
REVOLUÇÃO Industrial: da indústria 1.0 à indústria 4.0. 2019. 
1 vídeo (90 min). Publicado por Desoutter. Disponível em: https://www.
desouttertools.com.br/industria-4-0/noticias/507/revolucao-industrial-da-
industria-1-0-a-industria-4-0. Acesso em: 8 abr. 2020. 
REVOLUÇÃO Industrial na Inglaterra. 2019. 1 vídeo (25:21 min). Publicado 
por Rede Escola Digital. Disponível em: https://www.escoladigital.pb.gov.br/
odas/revolucao-industrial-na-inglaterra. Acesso em: 8 abr. 2020.
58
Unidade II
Como já destacamos a Revolução Industrial e a vida da classe trabalhadora, agora vamos estudar o 
processo produtivo, em especial o fordismo e o taylorismo. Esses conceitos serão analisados porque a 
adoção desse formato produtivo conferiu novas dimensões ao trabalho no início do século XX.
Taylor, um engenheiro norte-americano, é considerado por muitos autores como o pai da 
administração de natureza científica. Em 1911, Taylor escreveu um livro: Princípios da administração 
científica, obra que ofereceu novos parâmetros para a organização do processo produtivo das empresas, 
os quais ficaram conhecidos por meio da expressão “taylorismo” (CHIAVENATTO, 1993).
Taylor (2010) destacou em seu livro que a administração de uma empresa deveria ser compreendida 
como uma ciência. Por isso, o processo de trabalho tinha de ser organizado de forma racional, 
planejada. O planejamento taylorista consistia em dividir as funções de trabalho, delimitando tarefas 
que deveriam ser desempenhadas por cada funcionário. No desempenho das tarefas, cada trabalhador 
deveria executar suas funções de maneira eficiente e de maneira inteligente, sem erros e, se possível, 
com economia de gastos.
Chiavenatto (1993) destaca ainda que o empregador não deveria recompensar os trabalhadores, 
que a recompensa do trabalhador poderia trazer prejuízos à produção. O que Taylor defendia, no 
entanto, é que o trabalhador deveria ter melhores salários, ou seja, ele exerceria suas funções com 
mais qualidade se o salário fosse melhor, assim, quem sairia ganhando seria o capitalista. Desse modo, 
era necessário selecionar muito bem o grupo de trabalhadores e treiná-lo para que não houvesse 
perdas no processo produtivo.
Tendo em vista a necessidade do lucro, Taylor compreendida que era basal a aceleração do processo 
produtivo. Essa aceleração seria possível por meio da incorporação dos aspectos elencados neste 
livro-texto e também através do gerente. Este seria uma espécie de chefe de cada setor, com maior 
autonomia de decisões. Nem sempre esse gerente era o proprietário da empresa, mas alguém de sua 
plena confiança; era o profissional que deveria controlar a produção.
De acordo com Taylor (2010), o gerente deveria até controlar as horas de descanso dos trabalhadores. 
Também deveria decidir tudo a respeito do processo de trabalho. Para exercer plenamente o controle 
da força de trabalho, era basal que o gerente conhecesse tudo relacionado às atividades desenvolvidas 
pelos trabalhadores em questão. Além do controle, competia ao gerente impor um ritmo ao processo 
de trabalho, tornando-o ágil. O trabalho moroso era totalmente desqualificado por Taylor, que buscava, 
como dissemos, rapidez. Por fim, caberia ainda ao gerente garantir que os trabalhadores não perdessem 
tempo com estudos ou análises. O trabalhador deveria apenas desempenhar as atividades que lhe eram 
atribuídas, sem qualquer questionamento.
 Lembrete
A fundamentação construída por Taylor a respeito do processo de 
produção ficou conhecida como taylorismo.
59
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Cipolla (2003) acentua que Taylor entendia que o trabalhador deveria apresentar a regularidade e 
a intensidade de uma máquina. Portanto, o empregado deveria racionalizar o tempo e os movimentos. 
Para tal, a tecnologia era um aliado, uma vez que poderia ajudar o trabalhador a otimizar tempo 
e movimentos em prol da produção. Nesse sentido, é importante sinalizar que para o taylorismo o 
trabalhador deveria desempenhar apenas a sua função, jamais deveria parar para desenvolver qualquer 
outra atividade. É como se o trabalhador fosse mesmo comparado a uma máquina, que só desempenha 
as atividades que foram programadas previamente.
Outro princípio taylorista é expresso em “one best way” (TENÓRIO, 2011, p. 1148), que significa 
“da melhor maneira” ou “a melhor maneira”. A frase, que estaria vinculada ao pensamento de Taylor, 
encontrou assento na sociedade industrial do período e adquiriu grande significado nas indústrias 
automobilísticas. Em tese, essa frase faz menção à melhor forma que o trabalhador deveria encontrar 
para desempenhar as atividades que lhe eram inerentes. Para conseguir contemplar as atividades 
propostas da melhor forma, caberia ao trabalhador a:
— definição exata dos movimentos elementares necessários para 
executar o trabalho e das ferramentas e dos materiais utilizados;
— determinação por cronometragem, ou outros métodos de medida, dos 
tempos necessários para executar cada um desses movimentos;
— análise dos movimentos para conseguir sua simplificação e a maior 
economia de gestos;
— reunião dos movimentos em uma sequência que constitui uma 
unidade de tarefa (TENÓRIO, 2011, p. 1148).
Além da repetição de tarefas e do controle dos movimentos do trabalhador, até mesmo por meio 
de cronômetros, as empresas que se adequassem ao taylorismo ainda apresentavam uma estrutura 
extremamente rígida, engessada e na qual não havia comunicação entre trabalhadores e patrões ou 
trabalhadores e gerentes. O trabalhador não podia manifestar seus interesses, seus pensamentos 
ou qualquer questão relacionada ao trabalho. Tenório (2011, p. 1154) nos diz até que os trabalhadores nessa 
época eram tão condicionados à repetição de movimentos que havia uma “economia de pensamento”, 
ou seja, eles eram moldados para apenas repetir atos dentro de um dado tempo de trabalho e a não 
refletir sobre isso. Esse era o perfil de bom trabalhador que foi criado na época. E hoje, será que isso 
ainda não permanece? É preciso pensar nisso quando reivindicamos nossos direitos e somos apontados 
como funcionários ruins.
Durante algum tempo, o taylorismo ficou circunscrito ao livro e a alguns pensadores que 
compreendiam o processo produtivo da mesma forma. No entanto, em 1914 o empresário americano 
Henry Ford colocou em prática as propostas de Taylor. Ford incorporou o taylorismo em sua indústria, 
mas fez algumas adaptações a sua área de atuação, a automobilística. Ford também escreveu um livro, 
esse intitulado Minha filosofia e indústria, em que explicitou parte dos postulados que considerava 
como necessários para a administração de uma empresa (CHIAVENATTO, 1993).
60
Unidade II
Ford entendia que a produção da empresa deveria ser em massa para um consumo também em massa. 
Sabe o que isso significa? Ford entendia que era necessária a produção em grande quantidade para um 
consumo também elevado. Para ele, todos deveriam ter um carro se desejassem. Para isso, alicerçado em 
Taylor, elaborou uma proposta de inovações técnicas e organizacionais voltadas à produção em massa 
e ao consumo em massa.
Entre os postulados de Taylor, acentua-se a constituição de gestores responsáveis por acompanhar 
e controlar todo o processo de trabalho com “mãos de ferro”. No entanto, a principal característica do 
fordismo e que foi adotada partindo do pensamento de Taylor foi a inserção de inovações tecnológicas 
que visavam garantir que o trabalhador desempenhasse apenas a sua função. E mais, que o desempenhodessa função acontecesse de modo a otimizar o tempo e seus movimentos.
Chiavenatto (1993) destaca que a produção fordista foi então assentada em uma inovação denominada 
linha de montagem automatizada. A linha de montagem consistia numa espécie de plataforma na qual 
o produto era manuseado pelos trabalhadores. Na fase industrial, elas eram comuns. Nesses formatos, 
geralmente cada trabalhador realizava uma atividade sem ter a dimensão do produto final. Todavia, 
você pode estar se perguntando: afinal, o que há de inovação nisso? De fato, Ford introduziu uma linha 
de montagem automatizada em que os itens do carro iam se movimentado pela plataforma. Caberia ao 
trabalhador ficar parado em sua posição e só desempenhar aquilo que fosse de sua função. A figura a 
seguir ilustra uma representação similar à linha de montagem de Ford:
Figura 2 – Linha de montagem de empresa automobilística
 Lembrete
Henry Ford foi responsável pela popularização do taylorismo, referência 
para a organização da produção.
61
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Assim, irrompe mais uma questão: em que medida a linha de montagem colaborava para a 
potencialização do processo de trabalho? Como o veículo transitava entre os trabalhadores, o trabalhador 
permanecia parado. Ele deveria ficar em seu lugar, apenas fazendo um movimento específico e repetitivo. 
O ritmo da esteira é que impunha um ritmo ao trabalho. A esteira controlava a movimentação do 
trabalhador, quase como se homem e máquina se fundissem.
Alguns parâmetros eram seguidos por Ford para a organização da linha de montagem, dentre os quais:
1. Trabalhadores e ferramentas devem ser dispostos na ordem natural da 
operação de modo que cada componente tenha a menor distância possível 
a percorrer da primeira à última fase.
2. Empregar planos inclinados ou aparelhos concebidos de modo que o 
operário sempre ponha no mesmo lugar a peça que terminou de trabalhar, 
indo ela ter à mão do operário imediato por força do seu próprio peso 
sempre que isso for possível.
3. Usar uma rede de deslizadeiras por meio das quais as peças a montar se 
distribuam a distâncias convenientes (TENÓRIO, 2011, p. 1154).
Ou seja, a distância era um quesito importante, uma vez que isso impediria a rapidez de movimentos. 
Da mesma maneira, o espaço físico era adaptado para delimitar a posição do trabalhador na esteira. 
A mobilidade da esteira, portanto, era essencial para fazer que os objetos fossem transportados no ritmo 
do processo de trabalho.
Assim, a esteira fazia que o trabalhador não desempenhasse nenhum movimento além do 
necessário, isto é, todos os movimentos do operário deveriam estar restritos apenas a sua atividade 
laboral. Cada operário deveria fazer tão somente a sua operação. Por conta disso, houve maior 
isolamento do trabalhador, permanecendo cada vez mais alienado do processo de trabalho; não 
possuía tempo para se relacionar com demais trabalhadores, pois eles deveriam focar essencialmente 
no trabalho (CIPOLLA, 2003).
De acordo com Moraes Neto (1986, p. 32), o fordismo:
[...] nada mais é do que a utilização de elementos objetivos do processo, 
de trabalho morto, para objetivar o elemento subjetivo, o trabalho vivo. 
O entendimento do fordismo como um desenvolvimento do taylorismo 
é uma coisa generalizada na literatura; observe-se o que dizem autores 
importantes: “é o fordismo que aprofunda o taylorismo!”, ”é o fordismo que 
leva o taylorismo a uma espécie de perfeição?”. O que faz o fordismo? Fixa o 
trabalhador em um determinado posto de trabalho, o objeto de trabalho é 
transportado sem a interveniência do trabalho vivo; este nunca perde tempo 
com o que Ford chama de “serviço do transporte”, e só faz, se possível, um 
único movimento. Então vejam: enquanto, com a introdução da maquinaria, 
62
Unidade II
o trabalho vivo se submete ao trabalho morto, e a qualidade e o ritmo do 
processo se deslocam do trabalho humano para a máquina, o que ocorre 
com a introdução da linha de montagem é bastante diferente.
Por meio desse formato de trabalho, Ford buscava a absorção máxima do trabalho. Ou seja, o trabalho 
conseguiria gerar o lucro desejado através do controle do movimento em prol da produção capitalista.
 Lembrete
O trabalho vivo é aquele realizado pela força de trabalho, pelo homem. 
O trabalho morto é desenvolvido pela tecnologia, sem a força humana.
Ford, no entanto, compreendia que os trabalhadores não precisariam de qualificação, porque apenas 
desempenhavam atividades simples e repetitivas. Nesse ponto, Ford se distanciava de Taylor, porque 
para Taylor o trabalhador deveria ser capacitado. O investimento proposto e realizado por Taylor era em 
equipamentos, em tecnologia. Ele acreditava que somente esse dispositivo poderia garantir o rendimento 
das indústrias. De fato, por um longo período, que se consolidou no segundo pós-guerra, a economia 
vivenciou os chamados “anos dourados”. Ford, aliás, chegou a produzir mais de 2 milhões de carros por 
ano durante os anos 1920 (CHIAVENATTO, 1993).
 Saiba mais
Dois filmes clássicos são vitais para você compreender e conhecer 
melhor esse período. O primeiro é apontado como uma grande referência, 
uma vez que teria influenciado Chaplin em seu célebre Tempos modernos, 
segundo filme indicado.
A NÓS a liberdade. Direção: René Clair. França: Films Sonoris Tobis, 1931. 
97 min.
TEMPOS modernos. Direção: Charlie Chaplin. EUA: United Artists, 1936. 
87 min.
Chiavenatto (1993) ainda acentua que o modelo clássico de Ford que foi extremamente vendido foi 
o Ford T. Esse modelo era o desejo de todos os americanos da época. Ford, por seu lado, sempre buscou 
estimular a compra e a venda do modelo preto. Isso porque a tinta preta secava mais rapidamente 
e o carro ficava pronto mais rápido, podendo ser comercializado mais facilmente. A frase: “Seu Ford 
modelo T pode ter qualquer cor, desde que seja preto” (CHIAVENATO, 1993, p. 75) ficou conhecida por 
todo mundo, tornando-se um bordão do fordismo.
63
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Ford possuía várias fábricas e usava as mais variadas matérias-primas para construir os carros, como 
as fábricas de seringueiras para a produção de pneus. Aliás, no Brasil foi instituída uma fábrica para 
extração de borracha da seringueira, sendo que a fábrica estava localizada em Aveiro, no Pará. A fábrica 
estava às margens do rio Tapajós e funcionou entre 1927 e 1945. Ela foi destituída em 1945, após a 
morte de Henry Ford, e os negócios passaram a ser gerenciados por seu neto. O local ficou conhecido 
como “Fordlândia” e hoje ainda é uma área abandonada, até chamada de cidade fantasma.
 Saiba mais
Assista ao vídeo educativo sobre a “Fordlândia”:
O ELDORADO que enferrujou. 2019. 1 vídeo (13:01). Publicado por Estado 
de Minas. Disponível em: https://www.em.com.br/especiais/fordlandia/. 
Acesso em: 8 abr. 2020.
Outro aspecto importante a ser considerado nesse período refere-se ao formato adotado por grande 
parte dos Estados no que diz respeito à regulação econômica e também quanto à forma de administrar 
os problemas sociais. Vejamos por que tais aspectos estão ligados ao desenvolvimento capitalista na 
fase industrial. Behring e Boschetti (2007) revelam que em meados dos anos 1920 o mundo vivenciou 
uma grande crise capitalista. No contexto de profunda recessão, houve a produção em larga escala e a 
ausência de consumo.
A busca para identificar possíveis fatores que justificariam a ocorrência da crise despertou o interesse de 
muitos economistas, dentre os quais John Maynard Keynes. Ele buscou e “encontrou” uma alternativa muito 
peculiar para a crise econômica e que ficou conhecida como Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social. 
Para esse economista inglês, caberia ao Estado constituir um rol de dispositivos que permitissem regular a 
economia e também intervir nos problemas sociais. Ou seja, para Keynes, o problema do desenvolvimento 
capitalista deveria ser sanado pela ação estatal (BEHRING; BOSCHETTI, 2007).
Em 1936, Keynes publicou o livro Teoria geral do emprego, dojuro e da moeda, e explicitou grande 
parte dos conceitos que defendia. Keynes acentuava que o Estado deveria regular a economia oferecendo 
às empresas capitalistas a infraestrutura necessária para produzir. Além disso, pregava que o Estado 
deveria fixar juros de transações econômicas e desenvolver todas as ações necessárias para garantir que 
o capitalismo conseguisse superar a crise vivenciada.
 Lembrete
O Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social foi uma corrente de 
pensamento que pressupunha a intervenção estatal visando à regulação 
econômica e à superação da crise capitalista.
64
Unidade II
Além das intervenções orientadas mais especificamente para a regulação do processo produtivo, 
Keynes propunha que o Estado consolidasse serviços sociais públicos para atender às necessidades da 
população mais vulnerável. Behring e Boschetti (2007) destacam que Keynes defendia a consolidação 
de serviços públicos na área de educação e assistência médica e um sistema de assistência social que 
permitisse suprir as situações emergentes dos mais pobres.
No entanto, o que esse economista britânico idealizava, de fato, era que o Estado oferecesse serviços 
públicos para promover o poder de compra de alguns segmentos das classes mais vulneráveis. É claro 
que muitos que eram atendidos pelo regime proposto por Keynes apenas iriam sobreviver, ou seja, nem 
todos teriam poder de compra alterado. Behring e Boschetti (2007) ainda indicam que nesse contexto os 
serviços públicos eram usados como meios para garantir a sobrevivência dos segmentos mais vulneráveis, 
o que gerou uma situação de extremo empobrecimento da população como um todo.
Keynes ainda defendia a constituição de pensões e aposentadorias. Esses dispositivos de transferência 
de renda deveriam garantir recursos financeiros para segmentos como idosos. Isso porque esse 
público-alvo não podia trabalhar mais. Dessa maneira, caberia ao Estado custear a sobrevivência deles, 
uma vez que idosos nem sempre conseguiriam se inserir no mercado de trabalho. A transferência de 
renda permitiria que o consumo fosse reaquecido, uma vez que esses beneficiários poderiam voltar a 
comprar, mesmo que itens básicos de subsistência (BEHRING; BOSCHETTI, 2007).
Além desses meios de transferência de renda, Keynes enfatizava que caberia ao Estado a constituição 
do pleno emprego. Talvez esse seja um dos termos mais recorrentes quando estudamos o Welfare 
State. O pleno emprego consistia no entendimento de que todos aqueles que possuíssem condições 
para o trabalho deveriam ser alocados em postos laborais. Por conseguinte, Keynes compreendia que 
qualquer pessoa deveria procurar atender às suas necessidades por meio do trabalho. Dessa maneira, 
com grande parcela da população trabalhando e com renda, o consumo seria reativado e a crise 
capitalista seria superada.
Entretanto, não é possível afirmar que Keynes tivesse como enfoque a garantia de direitos sociais, 
de serviços públicos. O economista buscava uma alternativa à crise. De fato, foi naquele momento que 
muitos direitos foram sendo consolidados para garantir qualidade de vida a uma parcela significativa 
da população. Todavia, o padrão intervencionista por parte do Estado não foi adotado de forma 
hegemônica em todos os países. Houve variações no formato de consolidação dos direitos sociais 
e também em relação à regulação econômica. Além disso, não podemos considerar que todos os 
trabalhadores da época eram contemplados com serviços sociais, mas foi a partir de então que eles 
começaram a ser desenvolvidos.
Teóricos como Marshall e Beveridge também defendiam a organização do Estado sob os pilares do 
Welfare State. O britânico Marshall ficou conhecido por seu conceito de cidadania. Sua obra aparece 
em meados dos 1950. Marshall entendia que cidadania comportava o exercício pleno de direitos civis, 
políticos e sociais. Para ele, o exercício pleno de cidadania só seria possível quando o homem conseguisse 
se realizar plenamente nesses três aspectos. Aliás, Marshall defendia que caberia ao Estado garantir os 
direitos sociais ligados à sobrevivência dos seres humanos.
65
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Por sua vez, Beveridge foi um economista britânico e político que propôs uma reforma dos seguros 
sociais na Inglaterra. Essa reforma foi apresentada por meio do Relatório Beveridge, que partiu de um 
estudo aprofundado dos seguros sociais realizado por um rol amplo de especialistas sob a coordenação 
de Beveridge. Esse relatório é reconhecido como a base inicial da seguridade social como conhecemos 
hoje. Como ocupou cargos políticos, Beveridge conseguiu realizar muitas reformas no regime de pensões 
inglês (BEHRING; BOSCHETTI, 2007).
Beveridge destacava que os seguros sociais deveriam cobrir toda a população, e não apenas alguns 
segmentos de trabalhadores, como vinha acontecendo até então. A proposta do relatório era de que 
as aposentadorias e pensões fossem unificadas em um regime geral único. As propostas de Beveridge 
foram aprovadas pelo Parlamento inglês em 1946 e a partir de então foi dado início ao processo de 
reforma das pensões e aposentadorias inglesas.
Esses pensadores são importantes porque fortaleceram o padrão intervencionista do Estado, 
sobretudo no que diz respeito à economia, buscando garantir a sobrevivência do sistema capitalista.
Entretanto, o modelo de produção capitalista na fase industrial demonstrou sinais de esgotamento 
em meados dos anos 1970. Nesse contexto, foi instituído outro formato de produção, denominado 
reestruturação produtiva, o qual estudaremos mais adiante. É preciso destacar algumas informações: 
no sistema capitalista comercial, a produção acontecia, em grande medida, com base na manufatura; 
já o capitalismo industrial assentou a produção na inserção de novas tecnologias. Taylor e Ford foram 
“incorporados” como referência na organização do processo produtivo no capitalismo industrial. 
É importante frisar que o fordismo-taylorismo não foi usado apenas nas indústrias de automóvel de 
Ford, mas acabaram ganhando outros espaços, em outras indústrias (CIPOLLA, 2003).
6 O CAPITALISMO MONOPOLISTA, A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS 
MUTAÇÕES NO TRABALHO
O capitalismo monopolista surgiu no mundo no final do século XIX e se caracterizou por uma fase do 
desenvolvimento capitalista na qual temos a junção do capital industrial ao capital financeiro, motivo 
pelo qual muitos autores o descrevem pelo termo capitalismo financeiro. Netto (2001) nos apresenta 
uma série de especificidades desse estágio de desenvolvimento capitalista, que também é descrito pelo 
termo “imperialismo” por outros pensadores. Vamos agora conhecer as características desse estágio de 
desenvolvimento e compreender como o trabalho passou a ser organizado.
Em tese, o termo monopólio faz menção ao controle dos mercados. Na idade do monopólio, o grande 
capital desejava exercer o controle do mercado e assim conseguir alcançar a máxima extração do lucro. 
Nos termos de Netto (2001, p. 20), buscou-se “[...] o acréscimo dos lucros capitalistas através do controle dos 
mercados”. Ou melhor, uma empresa de grande porte comprava outra que produzia o mesmo bem e com 
isso alcançava o controle dos mercados. Vamos pensar em um exemplo. Há alguns anos, a Coca-Cola 
possuía hegemonia no mercado de bebidas. Para manter esse padrão, a empresa comprou em 2007 a 
marca de sucos Del Valle, criada no México em 1947. Essa aquisição da Coca-Cola almejou o controle 
do mercado do suco. Dessa forma, a empresa buscou garantir o monopólio na área de bebidas, diminuindo 
seus concorrentes. Observemos a seguir outro exemplo:
66
Unidade II
Natura diz que Cade aprovou compra da Avon sem restrições 
A Natura afirmou que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão 
de defesa da concorrência, aprovou a compra da Avon sem restrições, pouco mais de cinco 
meses após o negócio ter sido anunciado. A conclusão da operação é esperada para o 
começo de 2020. A decisão foi comunicada em fato relevante aomercado (leia a íntegra 
mais abaixo) e deve ser publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira (7). Em 
seguida, há um prazo de 15 dias para eventuais recursos.
Grupo avaliado em US$ 11 bi
Em 22 de maio, a fabricante brasileira de cosméticos confirmou a compra da concorrente 
norte-americana por aproximadamente US$ 3,7 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões), criando 
um grupo avaliado em US$ 11 bilhões (cerca de R$ 44,5 bilhões). A operação seria feita por 
meio da troca de ações entre as duas companhias. A Natura deve controlar cerca de 76% do 
grupo, e o restante será detido pelos acionistas da Avon. Segundo comunicado à época, este 
será “o quarto maior grupo exclusivo de beleza no mundo”, com faturamento bruto anual 
superior a US$ 10 bilhões, mais de 6,3 milhões de representantes e consultoras, 3.200 lojas, 
mais de 40 mil colaboradores e presença em cem países.
Setor teve alta em 2018
Segundo dados da empresa de pesquisas Euromonitor International, as vendas do setor 
de produtos de beleza e cuidados pessoais alcançaram R$ 109,7 bilhões em 2018, uma alta 
real (descontada a inflação) de 1,53%. A Natura manteve a liderança. O grupo O Boticário 
deixou para trás a Unilever e assumiu o segundo lugar no ranking [...]
Fonte: Abe (2019).
A situação apresentada no texto anterior é um exemplo de uma fusão. No caso, a Natura comprou a 
Avon, e o objetivo da compra foi obter o controle do mercado dos cosméticos. Então, podemos dizer que 
a Natura passou a ter o controle total dos mercados? Não. Contudo, com certeza um grande concorrente 
foi incorporado à Natura, diminuindo os concorrentes na área.
Enfim, o monopólio consiste em ter esse controle. No entanto, você pode pensar que nem todas as 
marcas são hegemônicas. Exatamente. Mas destacamos produtos para padrões de renda diferenciados. 
Por exemplo, a Coca-Cola tem um determinado público já incorporado. Podemos citar a Conti, que se 
destina a outro público. De tal forma, podemos compreender que cada uma dessas empresas, em sua 
área de comércio, possui certa hegemonia.
Nota-se que as compras de empresas tão valiosas carecem do apoio de um elemento basal, o sistema 
bancário. Netto (2001) nos indica que o sistema bancário e creditício tem um papel fundamental nesse 
sentido, uma vez que permite essas transações econômicas e ainda a valorização do capital financeiro, 
que estudaremos depois.
67
TRABALHO E SOCIABILIDADE
O monopólio se efetiva por três tipos de fusão: pool, cartel e truste, conforme destaca Netto 
(2001). O pool é um acordo temporário entre duas ou mais empresas para casos específicos. No pool, as 
empresas eventualmente estruturam um caixa único e dividem custos e lucros. Já o cartel é um acordo 
que pode ser firmado entre empresas concorrentes para delimitar aspectos comuns ao mercado, como 
preço de venda dos produtos, divisão de clientes ou áreas de atuação. No cartel, o objetivo é fazer com 
que nenhuma empresa saia perdendo e delimitar “regras” para que a concorrência do mercado não 
prejudique nenhuma delas. O cartel pode ser firmado com ou sem a presença de um documento. Já o 
truste é uma fusão de uma ou mais empresas visando ao monopólio. O cartel figura entre os exemplos 
que citamos – Coca-Cola e Natura. Ambos são, no dizer de Netto (2001), dispositivos por meio dos quais 
se busca o monopólio.
 Lembrete
Pool, cartel e truste são possibilidades de fusão das empresas a partir do 
capitalismo de base monopolista.
No monopólio, no entanto, as mercadorias e os serviços são bem mais caros. As taxas de lucro são mais 
altas e, por essa razão, a taxa de acumulação se eleva substancialmente. Os custos da produção e da venda 
aumentam, por isso temos a economia do trabalho vivo, que, cada vez mais, é substituído pelo trabalho 
morto. “O monopólio faz aumentar a taxa de afluência de trabalhadores ao exército industrial de reserva” 
(SWEZY, 1977, p. 304 apud NETTO, 2001, p. 21). Os investimentos visando à consolidação de fusões são 
presentes em áreas de maior concorrência e, por conseguinte, de maior possibilidade de lucro.
Netto (2001) ainda diz que no monopólio observamos dois fenômenos básicos, a saber: a 
supercapitalização e o parasitismo. A supercapitalização faz menção à dificuldade de valorização e 
de extração do lucro. Cada vez mais se torna dificultoso às empresas obterem lucro, e é por isso que 
elas lançam mão da constituição de monopólios. Já o parasitismo é apresentado pelo autor como um 
fenômeno tipicamente burguês, ou seja, o burguês se beneficia de recursos, bens ou serviços sem que 
pague totalmente esse custo.
O parasitismo é, digamos assim, contemplado por meio da ação estatal. Netto (2001) acentua 
que o Estado oferece ao monopólio a sustentação de que necessita por meio de funções econômicas 
diretas e funções econômicas indiretas. Como funções econômicas diretas, o autor cita a privatização 
de empresas públicas ou serviços públicos apresentados como não rentáveis. Como exemplo, podemos 
citar a privatização de estradas. As vias foram construídas pelo poder público, que assumiu os custos 
mais pesados da produção, inclusive observou uma série de questões relacionadas à autorização para 
construção, mapeamento das áreas etc. Então, de repente, o Estado vende essa estrada à iniciativa 
privada. Esta, por sua vez, faz algumas melhorias e consegue lucrar substancialmente por meio da 
instituição de pedágios, por exemplo. O mesmo acontece com bancos, universidades e outros serviços de 
tal natureza. Dessa maneira, a empresa privada é beneficiada e tem o controle de determinados ramos.
Essas seriam as funções diretas. Mas Netto (2001) nos fala também de funções indiretas. Estas seriam 
aquelas que buscam garantir infraestrutura e demais elementos para tornar o processo de produção mais 
68
Unidade II
barato. Exemplo: uma empresa tem interesse em se instalar em um município X. É comum que o Estado 
isente o pagamento de impostos, ceda o espaço físico por vinte anos para a produção, asfalte vias de 
acesso e outras ações afins. A empresa, por outro lado, promete empregos, e o Estado garante condições 
de sobrevivência para os monopólios. Assim, podem ser compreendidas como ações estatais indiretas 
ligadas ao monopólio as seguintes: “[...] investimentos públicos em meios de transporte e infraestrutura, 
a preparação institucional da força de trabalho requerida pelos monopólios e, com saliência peculiar, os 
gastos com investigação e pesquisa” (NETTO, 2001, p. 25).
Netto (2001) acentua que o Estado ainda possui funções políticas a desempenhar. As funções 
políticas fazem menção a atividades que o Estado executa, como a preservação e o controle de mão de 
obra, tanto garantindo a sobrevivência dos desempregados quanto oferecendo elementos necessários 
à sobrevivência daqueles que estão trabalhando. Assim, o exército industrial de reserva, que são as 
pessoas que estão desempregadas, recebe auxílios estatais para sobreviver e talvez futuramente possa 
ser incorporado ao mercado de trabalho. Por outro lado, a mão de obra incorporada ao mercado de 
trabalho é beneficiada com ações voltadas à capacitação, pelos serviços públicos, e outras ações afins. 
Portanto, “[...] a preservação e o controle contínuos da força de trabalho, ocupada e excedente, são uma 
função estatal de primeira ordem” (NETTO, 2001, p. 26).
Bresser-Pereira (2018) compreende que o capitalismo monopolista ou capitalismo financeiro só 
pode ser consolidado por meio da ação estatal. Tanto que o autor destaca que no monopólio o Estado 
praticamente coordena o processo produtivo. Porém, assim como Netto (2001), Bresser-Pereira (2018) 
considera que os bancos são extremamente importantes no sentido de financiar as ações empresariais, 
juntamente com o Estado. Na verdade, não só os bancos, mas todo um sistema relacionado ao mercado 
de ações, juros e créditos colabora para esse processo de acumulação.
Há uma compreensão extremamente válida quando buscamos compreender o capitalismo financeiro 
e ela se refere ao pensamento doeconomista francês François Chesnais. Ele compreende o capitalismo 
financeirizado como o resultante da fusão do capital bancário com o capital internacional, o que 
revela um “[...] novo poder dos financistas e das instituições financeiras” (CHESNAIS, 1998, p. 21) na 
organização capitalista, algo que se ampliou em meados dos anos 1990 no mundo, mas que, segundo 
o autor, estava em curso a partir de meados dos anos 1970. O capitalismo financeirizado ou o próprio 
processo de financeirização não é a simples circulação financeira, mas sim o fato de que essa circulação 
passa a estruturar as relações comerciais.
 Lembrete
Chesnais (1998) buscou realizar uma discussão enfatizando a importância 
da financeirização da economia no contexto do capitalismo monopolista.
Para Chesnais (1998, p. 28), a financeirização só se efetiva quando vivenciamos a internacionalização 
de capitais, a partir do fenômeno que ele denomina mundialização do capital. Por mundialização do 
capital, o autor indica o estágio de desenvolvimento capitalista em que tanto a produção quanto o 
consumo perdem as suas fronteiras.
69
TRABALHO E SOCIABILIDADE
A mundialização opera a internacionalização dos capitais de natureza produtiva, comercial e 
financeira. O capital produtivo é aquele que resulta da ação do homem. É expresso em um elemento que 
foi transformado para produzir valor. O capital comercial, por outro lado, é aquele que é gerado a partir 
de trocas comerciais, está ligado à produção e vendas para ter lucros. Já o capital financeiro é aquele que 
gera valor sem ser necessária a mercadoria. Produtos como seguros e pensões são exemplos de capital 
financeiro. Assim, a financeirização da economia e a internacionalização dos capitais são processos 
típicos da sociedade capitalista na idade dos monopólios.
A mundialização conceituada por Chesnais (1998) incorpora não apenas a perda das fronteiras 
para a produção e o consumo, mas também para a circulação do capital financeiro. Aliás, é o capital 
financeiro que garante a acumulação capitalista nesse novo estágio de desenvolvimento: “[...] o estilo da 
acumulação é dado pelas novas formas de centralização de gigantescos capitais financeiros” (CHESNAIS, 
1998, p. 14). Ou seja, é a financeirização que garante a acumulação nessa nova fase vivenciada. Aqui não 
estamos falando de valores insignificantes, mas de elevados volumes de fundos de investimento que se 
reproduzem no interior da esfera financeira.
Operacionalmente, a financeirização só é efetivada em decorrência do desenvolvimento 
tecnológico. Chesnais (1998) destaca que a partir da mundialização tivemos a consolidação das 
empresas multinacionais ou transnacionais. Essas empresas de grande porte buscam expansão 
internacional por meio das aquisições e da fusão de capitais. Esses processos são potencializados 
de forma plena em virtude do desenvolvimento tecnológico. O autor nos diz que a globalização 
como meio de comércio entre os povos já existia desde as grandes navegações, mas para ele 
a mundialização só se opera a partir da vinculação do capital financeiro e com o apoio do 
desenvolvimento tecnológico.
É a partir da financeirização da economia que temos a instituição do que Chesnais (1998) chama de 
sistema internacional de câmbio, que é um dispositivo basal para a regulação do mercado internacional e 
das operações financeiras. Para esse economista francês, o sistema internacional de câmbio é estruturado 
a partir de três aspectos, a saber: a concentração e a centralização do capital nas economias centrais 
do capitalismo internacional; as mudanças tecnológicas e científicas na produção e na circulação de 
mercadorias; e os papéis assumidos pelo Estado para organizar blocos econômicos regionais e para 
regulamentar as dívidas das nações. O sistema internacional de câmbio é apontado por Chesnais (1998) 
como um dispositivo basal para a financeirização da economia.
Chesnais (1998) indica que a mundialização da economia financeirizada exige um alto grau de 
mobilidade em virtude da liberalização e da desregulamentação das inovações financeiras. Isso torna o 
processo de produção mais flexível e o trabalho mais flexível ainda; é essa flexibilidade que permite 
o comércio internacional.
Netto (2001) traz questões relacionadas ao monopólio destacando que há dispositivos de fusão que 
são adotados visando ao controle dos mercados e à extração da mais-valia. Já Chesnais (1998) nos confere 
informações sobre a financeirização da economia acentuando aspectos a respeito da mundialização 
da economia. Além desses estudiosos, destaca-se outro pensador extremamente importante no 
entendimento do desenvolvimento capitalista monopolista: Manuel Castells. Esse pensador espanhol teve 
70
Unidade II
inúmeros livros publicados sobre o fenômeno capitalista. Assim como Chesnais (1998), foi influenciado 
pelo pensamento marxista, desenvolvendo o conceito de capitalismo informacional.
 Saiba mais
Os filmes a seguir abordam o contexto da crise capitalista:
O DIA antes do fim. Direção: J. C. Chandor. EUA: Paris Filmes, 2011. 107 min.
GRANDE demais para quebrar. Direção: Curtis Hanson. EUA: HBO, 2011. 
98 min.
Castells (1999) compreendia que o sistema financeiro global se ampliava pelo planeta por meio 
da integração da bolsa de valores e do sistema internacional de câmbio. Para ele, esse dispositivo, 
que tem no dólar a principal moeda de troca, é o que garante a globalização da economia capitalista. 
O autor observa que os processos de inovação tecnológica tiveram início na Revolução Industrial, porém 
somente a partir dos anos 1990 eles foram potencializados, por meio da internet e da robótica. O sistema 
informacional é o que confere maior facilidade de deslocamento e também de reprodução do capital.
 Observação
A perspectiva de Castells consiste em compreender que o capitalismo só 
consegue ampliar seu desenvolvimento em virtude do aporte da tecnologia.
Castells (1999) destaca ainda o paradigma da tecnologia da informação, ou seja, as referências que 
norteiam a vida a partir da ampliação da economia tendo como aporte o desenvolvimento tecnológico. 
Castells (1999) nos diz que a informação é a matéria-prima que age sobre a tecnologia – afinal, 
a tecnologia sem a informação é morta. Não há como gerar produto de qualquer natureza sem a 
informação. A tecnologia é ainda apresentada pelo autor como algo que não é apenas influente no 
processo produtivo, mas exerce influência substancial no cotidiano dos seres humanos e estrutura a 
sociedade em redes. Então, temos outro conceito vital do autor: a sociedade em redes.
A noção de sociedade em redes faz analogia a redes de pesca. As redes são constituídas por nós. 
A analogia do pensador espanhol com a realidade é de que cada pessoa seria um nó, e esses 
nós, estando entrelaçados, comporiam uma dada sociedade. Com o desenvolvimento da tecnologia, não 
há mais limitação para a constituição de redes, as quais se ampliam substancialmente. Hoje podemos 
ter uma rede de comércio, de amigos e de estudos que estão muito além das fronteiras territoriais. 
Todas as informações em uma rede são rápidas, partilhadas a partir de outras redes que são construídas, 
incluindo as redes sociais. Vinculado a esse entendimento temos ainda o conceito de cidades globais, 
as quais fazem menção à ausência de fronteiras, que são perdidas a partir da inserção da tecnologia no 
cotidiano das sociedades.
71
TRABALHO E SOCIABILIDADE
No aspecto do desenvolvimento capitalista monopolista, vemos que o capitalismo informacional 
permitiu a difusão do capitalismo financeiro para o mundo, garantindo, ainda, flexibilidade na produção 
e na circulação de mercadorias. Assim, houve a difusão das multinacionais, dos mercados globalizados. 
Nessa organização capitalista, os países mais pobres mantêm uma industrialização assentada em uma 
tecnologia regular, ao passo que os países mais ricos têm acesso à tecnologia de ponta.
Nesse processo, o que ocorreu em grande parte do mundo foi a adesão ao neoliberalismo.Trata-se de 
uma corrente de pensamento que pressupõe a ausência de regulação estatal nas questões econômicas e 
nos problemas sociais. Na verdade, esse padrão de regulação surgiu em meados de 1970 para substituir 
o Estado intervencionista proposto por Keynes no contexto da crise de 1929. Nesse novo formato, o 
Estado deixou os investimentos na área social e passou a concentrar recursos para a manutenção do 
sistema capitalista, realizando investimentos para subsidiar a acumulação capitalista (CASTELLS, 1999).
Mas como fica o trabalho nesse contexto? Ou seja, como o trabalho se organiza na fase monopolista 
financeira ou na fase do capitalismo informacional? Para compreender os dispositivos de organização 
do trabalho, é importante analisar o formato de produção que foi adotado pelo sistema capitalista a 
partir de meados dos anos 1970. Já estudamos as características do capitalismo e como ele passou 
a organizar a circulação de bens, a questão da financeirização e outros aspectos correlatos. Agora, 
vamos orientar a nossa discussão para a questão da reestruturação produtiva, um método de 
produção que foi transplantado do Japão e que trouxe muitas implicações para a organização 
do trabalho.
Na década de 1970, o sistema de produção assentado no fordismo e no taylorismo começou a dar 
sinais de falência. O modo de produção capitalista passou a extrair menos lucro e o sistema entrou 
em colapso. Barbara (1999) diz que, frente à crise vivenciada, as empresas capitalistas começaram a 
repensar a forma como organizavam a sua produção. Uma dessas empresas que reformulou o seu 
sistema de produção foi a Toyota.
Assim, podemos dizer que a reorganização do processo produtivo começou nos anos 1970 no Japão, 
quando houve a implantação de inovações da área têxtil na indústria automobilística. Dentre essas 
inovações adotadas pela área têxtil, cita-se o atrelamento de um operário para gerenciar mais de uma 
máquina. Essa alteração trouxe novos dispositivos organizacionais do espaço físico das empresas têxteis 
e também colaborou para explorar a força de trabalho. Afinal, um trabalhador acabava realizando 
atividades que deveriam ser feitas por duas pessoas ou mais. Esse dispositivo, usado nas indústrias 
têxteis, foi incorporado na área automobilística, incluindo a Toyota.
A Toyota vivenciava uma crise que havia se iniciado nos anos 1950 e que resultou na demissão de 
1.600 trabalhadores após uma greve. Nesse contexto, além da alocação de mais de um trabalhador para 
administrar uma máquina, foram instituídos outros dispositivos para superar a crise e também para recuperar 
a extração do lucro.
A empresa passou a utilizar o sistema de gestão norte-americano de controle de estoques que ficou 
conhecido como Kanban. Este consiste em trabalhar com um estoque mínimo para produzir, evitando 
aquisições desnecessárias e que não poderiam colaborar para o processo de produção. Associado ao 
72
Unidade II
método em questão, emergiu o conceito do Just in Time (JIT), que, por sua vez, relaciona-se a produzir 
no menor tempo possível.
De tal forma, o Kanban e o JIT são conceitos relacionados, que buscam conferir maior ritmo ao 
processo de produção e ainda viabilizar que ele aconteça sem qualquer desperdício de material. Tais 
abordagens pressupõem que para a empresa é necessário “[...] trabalhar com estoque mínimo e produzir 
no menor tempo possível” (BARBARA, 1999, p. 32). Essa forma de produção não ficou restrita à empresa, 
alcançando fornecedores e outras empresas prestadoras de serviço da empresa maior.
A produção também passou a ser estruturada a partir da demanda: “[...] só se produz o que já 
foi vendido” (BARBARA, 1999, p. 32). Assim, no toyotismo, a produção não é mais em massa, para 
um consumo em massa, mas parte essencialmente da demanda. No fordismo, tínhamos a produção 
em massa, em grande quantidade, e agora a produção não seguiria mais esses parâmetros. Buscou-se 
economizar no processo produtivo, evitando qualquer tipo de desperdício.
Todavia, em ambos os modelos, a tecnologia foi importante para potencializar o processo produtivo. 
Você acredita que isso também existia no fordismo? Sim, existia. Porém, em meados dos anos 1970, 
houve a introdução da robótica e da informática no processo produtivo. De fato, nessa época houve um 
desenvolvimento tecnológico muito maior do que nos anos em que a produção capitalista era industrial. 
Dito de outra forma, a inserção da tecnologia nos anos 1970, pelo seu estágio de desenvolvimento, 
colaborou muito mais com a produção capitalista.
Inaugurou-se, assim, um sistema de produção que é flexível. Antes, o padrão de acumulação era 
rígido, centrado nas fábricas e no modo de produção fordista/taylorista. O novo regime central na 
forma de produção social na sociedade capitalista foi incorporado em várias empresas, sobretudo nas 
globalizadas, além das automobilísticas. No entanto, ficou conhecido como toyotismo por ter surgido 
na Toyota. Autores como Abramides e Cabral (2003) tratam o toyotismo e a acumulação flexível como 
se fossem a mesma coisa. Já Antunes (2006) diz que a acumulação flexível deriva do toyotismo.
 Lembrete
No toyotismo a produção tornou-se flexível, sendo reconhecida como 
acumulação flexível.
A questão é que a produção se tornou flexível, sendo uma forma para conseguir extrair o lucro. Uma 
das expressões dessa flexibilidade está na produção combinada. A produção passou a ser combinada 
quando vários trabalhadores, de diversas partes do mundo, foram acionados para compor um produto: 
“[...] trabalhadores de diversas partes do mundo participam do processo de trabalho e de serviços” 
(ANTUNES, 2006, p. 170). Então, não haveria mais a necessidade de que um bem fosse todo produzido 
em uma fábrica, como acontecia no fordismo/taylorismo. Por exemplo, o tênis poderia ser produzido nos 
EUA, mas complementado pelo solado produzido aqui no Brasil e o cadarço feito na Guatemala.
73
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Outra expressão da flexibilização das produções manifesta-se por meio da ampliação da prestação 
de serviços. Há novas formas de ofertar serviços. Aliás, o setor de serviço se amplia substancialmente, 
sobretudo aqueles de natureza home care ou serviços prestados nas residências, que ressurgem com 
grande força. Ou seja, a prestação de serviços também é uma forma flexível de produção; ela sempre 
existiu, mas na época aumentou de forma considerável. Antunes (2006) destaca que isso também 
aconteceu em virtude do desemprego em massa, ocasionado pela utilização do método Kanban e da 
tecnologia nos processos produtivos. Assim, o desempregado, em muitos casos, acabava prestando 
serviços a domicílio para tentar sobreviver.
Antunes (2006) relata que o fato de a produção estar sempre vinculada à demanda também 
caracterizaria a acumulação; essa foi uma forma de compreender a produção a partir das mudanças 
realizadas pela Toyota em seu processo de produção. Além disso, a produção passou a ser variada 
(heterogênea), pois as empresas não se concentravam mais em um único produto. Como exemplo, 
podemos citar a perfumaria O Boticário, que inicialmente esteve orientada a perfumes. Hoje produz um 
rol amplo de maquiagens, desodorantes e hidratantes; tem uma produção variada. Aliás, O Boticário 
possui uma empresa que se chama Quem Disse, Berenice?, que também comercializa perfumaria e 
maquiagens. No entanto, essa segunda marca possui valor mais baixo de produtos. Por que destacamos 
esses exemplos? Para você entender que são produtos diversificados e que partem da análise prévia da 
demanda apresentada.
 Lembrete
Kanban pressupunha que deveriam ser adquiridos somente os recursos 
necessários para a produção.
Just in Time refere-se ao melhor aproveitamento do tempo no 
processo produtivo.
Houve um estímulo para que a produção acontecesse em equipe, ou seja, o trabalho em equipe 
foi supervalorizado. Nesse sentido, diversas funções passaram a ser partilhadas entre os trabalhadores. 
A existência do trabalho em equipe é uma das característicasque, segundo Antunes (2006), 
confere flexibilização ao trabalho. Cabe aqui mais uma comparação com o fordismo/taylorismo. 
No fordismo/taylorismo, cada trabalhador desempenhava o seu trabalho. Por outro lado, sob as bases da 
acumulação flexível, não teríamos mais a separação das tarefas de cada trabalhador. O autor ainda salienta 
que a flexibilidade da produção só poderia ser contemplada de forma plena por meio do método Kanban 
e dos princípios a ele vinculados, bem como com base no postulado do JIT.
Toda essa reorganização da produção é nomeada por autores como Antunes (2006) como 
reestruturação produtiva. Você sabe o que isso significa? Nada mais é do que uma reorganização engendrada 
pelo capital para sair da crise e conseguir retomar o crescimento e o lucro. A acumulação flexível faz 
menção à inserção, pelo capitalista, de padrões não tão rígidos no processo de produção. E o toyotismo? 
Trata-se de uma perspectiva de produção que surgiu na Toyota e que se valeu dos parâmetros postos pela 
acumulação flexível visando à acumulação.
74
Unidade II
Essas mudanças também provocaram alterações na organização do trabalho. Antunes (2006) sumaria 
um rol amplo de aspectos que definem o trabalho a partir de tais parâmetros. O primeiro deles é que 
a partir da acumulação flexível os postos de trabalho estáveis declinaram; o trabalho tornou-se cada 
vez mais instável e houve a ampliação dos contratos de trabalho por tempo determinado, retirando-se 
uma série de direitos laborais que foram conquistados ao longo dos anos. O autor indica que a falta de 
estabilidade no emprego foi apresentada como algo positivo, algo a ser copiado. O trabalhador, sobretudo, 
deveria aderir a essas mutações processadas no trabalho, concordando com toda a situação de perda de 
postos estáveis e perda dos direitos de trabalho. A “[...] produção flexibilizada busca a adesão de fundo, por 
parte dos trabalhadores, que devem aceitar integralmente o projeto do capital” (ANTUNES, 2006, p. 181). 
De fato, essa adesão ocorreu por meio de um envolvimento assentado na manipulação.
Pensemos um pouco no assunto. Certamente, você já escutou a premissa: “precisamos vestir a camisa da 
empresa”. É óbvio que precisamos colaborar com o seu desenvolvimento. Mas o que esse vestir a camisa pode 
significar? Há situações em que os trabalhadores precisam cumprir uma meta, ou seja, produzir uma quantidade 
ou vender uma dada quantidade em um período. Mas há uma analogia entre venda e “vestir a camisa” que é 
preocupante. E aquele trabalhador dedicado, que cumpre os horários, mas que não consegue alcançar a meta? 
Esse funcionário não vestiu a camisa da empresa? Muitas vezes nós aderimos a esses paradigmas e o usamos 
como referência para nossas ações, sofrendo, inclusive, por não conseguir cumprir plenamente nossas “funções”. 
Trata-se de um exemplo do que Antunes (2006) chama de adesão do trabalhador.
O lado ruim de “vestir a camisa” da empresa
Enxergar limites para o envolvimento com o trabalho é uma capacidade rara entre 
executivos. Que riscos está correndo quem exagera na dose?
São Paulo – No mundo fascinado por trabalho em que vivemos, é recorrente a ideia 
de que bons profissionais são aqueles que “vestem a camisa” da empresa e se dedicam 
integralmente à carreira.
De fato, é difícil negar que esforço e dedicação contribuem para o sucesso profissional.
Porém, um envolvimento desmedido com o trabalho pode ter o seu lado perverso, 
segundo Silvana Mello, master coach para América Latina da LHH/DBM.
A partir de sua experiência com profissionais de altos cargos executivos, ela atesta que muitos 
são os que confundem a fronteira entre o saudável e o doentio nessa relação. “Vejo um excesso 
de autocobrança em absolutamente todos os executivos com que trabalho”, diz Silvana.
Segundo ela, “só 1% cuida da qualidade de vida” e muitos se arrependem mais tarde 
por terem negligenciado a vida familiar. “Alguns me confessam que só foram conhecer seus 
filhos quando eles já eram adultos’”, diz a coach.
Além dos prejuízos para a vida pessoal, dedicar-se exclusivamente à carreira é algo que 
boicota a própria carreira, segundo Silvana.
75
TRABALHO E SOCIABILIDADE
“Executivos que passam tempo demais debruçados sobre o trabalho não conseguem 
acessar todos os seus recursos intelectuais”, diz ela. No fim das contas, em busca de eficiência 
máxima, acabam vendo seu próprio desempenho naufragar.
Porém, no rol de efeitos negativos dessa atitude, a perda de criatividade e de produtividade 
talvez seja dos menos graves. “O profissional que exagera pode sofrer um esgotamento físico 
e mental, e até desenvolver doenças sérias como a depressão”, afirma Silvana.
Por isso, Silvana acredita que o ideal de “vestir a camisa” precisa ser relativizado. 
“Entregar-se totalmente a uma empresa pode ser um erro grave, sobretudo se você não 
compartilha nenhum propósito com ela”, afirma Silvana.
Se não existe essa conexão íntima, explica ela, o risco de sentir um grande vazio, no caso 
de uma demissão ou outro revés profissional, é muito maior.
“O seu emprego é como um casamento: mesmo que um dia acabe, só vai ter valido a 
pena se algum dia existiu um vínculo genuíno”, compara.
Vale a pena se entregar?
Comer, beber e respirar trabalho pode compensar menos do que se imagina, segundo 
sugere um recente estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Chicago e da 
Universidade da Califórnia, em San Diego.
O estudo avaliou as reações das pessoas a promessas de entregas no trabalho que são 
quebradas, mantidas ou excedidas por profissionais.
A conclusão é que dispender mais esforços para “superar expectativas” não leva a uma 
avaliação proporcionalmente mais positiva de uma tarefa. Em outras palavras, pessoas que 
entregam apenas o prometido são tão valorizadas quando as que vão além dele.
Por isso, observa a coach Silvana Mello, é fundamental ter uma visão realista sobre as 
expectativas da empresa quanto ao seu trabalho.
“Será que o seu empregador precisa mesmo de tanto?”, diz Silvana. “Se você não souber 
o que é realmente valorizado por ele, pode perder tempo e energia com entregas que talvez 
nem sejam percebidas como tão valiosas”.
Limites sempre existem – e não apenas para as expectativas dos seus empregadores. 
“Você também tem os seus, e precisa saber negociá-los com seu chefe, sua família e com 
você mesmo”, afirma ela. [...]
Fonte: Gasparini (2014).
76
Unidade II
O excerto anterior aborda uma perspectiva diferenciada sobre o “vestir a camisa”, destacando a 
potencialidade que há de adoecimento nessa situação. Podemos dizer que esse tipo de construto afeta 
a subjetividade da classe trabalhadora. Antunes (2006) revela que, a partir da reestruturação produtiva e 
da acumulação flexível, a nova configuração do trabalho colaborou para alterar a própria subjetividade 
do trabalhador. Além disso, o autor acentua que houve muitas mudanças na materialidade da força de 
trabalho. A materialidade relaciona-se à forma de ser do trabalhador.
Mas quais seriam os resultados dessa nova forma de configuração do trabalho para o trabalho em 
si? Antunes (2006) nos aponta que, a partir de então, houve uma redução considerável do proletariado 
fabril. Que proletariado seria esse? Ao usar esse conceito, o autor busca designar os trabalhadores 
vinculados diretamente à fábrica. Ora, se hoje o trabalho pode ser desempenhado em qualquer local 
e não acontecer essencialmente na fábrica, há uma diminuição da quantidade de trabalhadores que 
circula e produz nesse espaço.
O autor ainda destaca que aumenta, substancialmente, o chamado “subproletariado fabril” (ANTUNES, 
2006, p. 169). O subproletariado envolve os trabalhadores terceirizados. Por exemplo, uma grande 
empresa constata que seria mais barato contratar uma terceira para realizar o serviço de limpeza. Os 
trabalhadores contratados por essa empresa terceirizada são os subproletários. O prefixo “sub” faz menção 
à subalternidade dessa categoria de trabalho, e isso ocorre porque esses trabalhadorescontratados 
por empresas terceirizadas nunca possuem os mesmos direitos trabalhistas do que aqueles que são 
vinculados à empresa contratante. O mesmo se aplica aos prestadores de serviços e aos autônomos que 
passam a prestar serviços nas empresas capitalistas. Segundo Antunes (2006), esse número aumenta 
vertiginosamente, e esses trabalhadores estão ainda mais expostos do que os trabalhadores vinculados 
às empresas terceirizadas, uma vez que o autônomo acaba sendo o único responsável por si mesmo.
Em meio a tantas mudanças, nota-se que o trabalho feminino aumenta. Antunes (2006) indica que, 
no contexto da economia flexibilizada toyotista, houve uma elevação de 40% da inserção de mulheres no 
mercado de trabalho, porém, via de regra, esse trabalho era precário e desregulamentado. O que significa, 
em tese, o trabalho ser precário e desregulamentado? Referimo-nos àquela atividade em que há extensivas 
jornadas de trabalho ou exposição do indivíduo a situações de risco ou salários baixos ou então quando há 
uma rotatividade muito grande de trabalhadores, fazendo com que o indivíduo não tenha garantia alguma 
que irá permanecer na função. O trabalho precário pode englobar um desses aspectos ou todos. Ainda 
possui uma característica importante: a desregulamentação. Como o termo sugere, é aquele trabalho que 
não observa as leis como um todo.
Esse trabalho precarizado e desregulamentado atinge mais as mulheres, porém não apenas elas. No mesmo 
período, houve uma inclusão de crianças no mercado de trabalho, sobretudo nos países de economia periférica. 
Essa inserção é criminosa e contraria a maioria das legislações dos países e de organismos internacionais, a 
exemplo da Organização das Nações Unidas (ONU). Por que o capitalista lança mão desse tipo de subterfúgio? 
Porque a inserção de crianças no mercado de trabalho de forma irregular lhe dá lucro. Ora, se o capitalista não 
arcará com custos trabalhistas e a criança irá produzir como um adulto, por que não realizar essa inserção? 
É comum ver em mercados adolescentes empacotando alimentos ou repondo produtos em prateleiras. Será 
que todos eles têm 14 anos e são registrados na modalidade de aprendiz? Infelizmente, não. Por que as 
pessoas se expõem a tais condições? Porque não têm opção, dependem dessa renda para sobreviver.
77
TRABALHO E SOCIABILIDADE
 Saiba mais
O documentário a seguir retrata a exploração do trabalho infantil, 
situação que afeta muitas crianças pelo mundo.
O LADO negro do chocolate. Direção: Miki Mistrati; Robin Romano. 
Dinamarca. 2010. 46 min.
Infelizmente, o trabalho infantil ainda não é algo que pertence ao nosso passado. Antunes (2006) 
revela que, além da inserção prematura de crianças no trabalho, temos a exclusão de jovens e idosos do 
mercado de trabalho: o jovem, por não ter a experiência necessária para garantir a acumulação capitalista; 
o idoso, por não produzir no mesmo ritmo dos demais trabalhadores. A substituição dos idosos nos postos 
de trabalho por trabalhadores com experiência e menos idade é uma realidade, até porque o trabalhador 
com mais tempo de serviço nas empresas tende a custar mais para essas organizações.
Nesse cenário, também se destaca o surgimento dos chamados assalariados médios. Esses são os 
trabalhadores que pertenciam à classe média e que agora precisam ainda mais vender a sua força 
de trabalho. Antunes (2006) acentua que houve uma elevação do que ele chama de “desemprego 
tecnológico”. O desemprego tecnológico corresponde ao desemprego gerado pela utilização, em 
excesso, de tecnologia associada a novas formas gerenciais, visando ao aumento da produtividade. 
Como apontamos neste livro-texto, o emprego da tecnologia em excesso no processo produtivo faz com 
que persista uma tendência de economizar trabalho vivo em detrimento do trabalho morto, resultando 
no desemprego de grande parcela populacional. O autor ainda salienta que se intensifica o trabalho 
social combinado, o qual faz menção à possibilidade de trabalhadores, localizados em diversas partes do 
mundo, participarem de um mesmo processo de trabalho ou de prestação de serviços.
Antunes (2006) inicia seu livro com a pergunta: Adeus ao trabalho? Partiu da argumentação de 
que muitos teóricos defenderiam o fim do trabalho na sociedade contemporânea. O autor responde a 
tais colocações destacando que o trabalho não acabou. Porém, as mudanças provocadas no processo 
produtivo a partir da introdução de meios assentados no padrão de acumulação flexível e toyotismo 
reduziram substancialmente os postos de trabalho estáveis. Assim, criou-se um novo tipo de perfil de 
trabalhador, que aos poucos vai perdendo os direitos trabalhistas, tem a ampliação de sua jornada 
de trabalho e que cada vez mais tem que produzir no ritmo da tecnologia.
Outros fatores interessantes são apontados por Antunes (2006) em relação a esse novo trabalhador. 
Dentre eles podemos citar a ausência de reconhecimento enquanto classe-que-vive-do-trabalho ou 
classe trabalhadora e, por conseguinte, uma total desarticulação dessa categoria em exigir seus direitos. 
O autor chega até a salientar que temos um esvaziamento dos sindicatos por conta disso e assevera, 
ainda, que esses órgãos, que deveriam constituir-se como um meio de defesa do trabalhador, acabam 
sendo cooptados pela ótica burguesa e pelo Estado. Essa é a adesão subjetiva que o capital opera nos 
trabalhadores. O trabalhador não se percebe enquanto tal, perdendo a sua consciência de classe e busca 
atender apenas a suas necessidades individuais, sem pensar em uma união grupal.
78
Unidade II
 Lembrete
De acordo com Antunes (2006), a classe-que-vive-do-trabalho é a 
classe trabalhadora.
Para Antunes (2006), essa construção subjetiva é realizada de uma forma tão subliminar que o 
trabalhador não percebe o processo vivenciado. Conceitos como a qualidade total, por exemplo, 
conferem ao trabalhador a maior responsabilidade com a qualidade do produto. A qualidade total vem 
ancorada em outros conceitos de reengenharia empresarial, de empresa enxuta na qual todos aqueles 
que não colaboram com os objetivos empresariais devem ser dispensados. A noção de empresa enxuta 
incorpora o entendimento de que somente o necessário deve estar presente na organização empresarial.
Por fim, Antunes (2006) indica que é a partir de então que o perfil do trabalhador polivalente e 
multifuncional ganhou notoriedade. Afinal, no processo de subjetivação, o perfil idealizado de trabalhador 
passou a ser aquele que desempenha várias funções para além das que foi contratado. Na verdade, isso 
nos lembra das mudanças no processo de trabalho promovidas pela Toyota, nas quais um trabalhador foi 
inserido no controle de mais de uma máquina. A polivalência ou a multifuncionalidade nada mais é do que 
isso. Ao que parece, o trabalhador é estimulado a considerar isso positivo, e, se não concorda com isso, é 
até julgado como incompetente. No entanto, o que precisamos considerar é que, por meio do discurso da 
polivalência e da multifuncionalidade, o trabalhador é ainda mais explorado (ANTUNES, 2006).
Netto (2001) revela que, a partir do monopólio e da inserção da tecnologia nos processos produtivos, 
houve precarização da vida da classe trabalhadora. Antunes (2006) também possui a mesma perspectiva 
e chega a destacar que nessa reestruturação produtiva, a partir de meados dos anos 1970, a classe 
trabalhadora teve sua realidade ainda mais precarizada. Ambos concordam que cada vez mais o capital 
concentra no exército industrial de reserva um contingente de mão de obra que não consegue sua 
inserção laboral, fortalecendo ainda mais os antagonismos sociais presentes na sociedade. Mas e no 
Brasil? Estudaremos melhor esse processo mais adiante. Antes disso, no entanto, apresentamos um 
quadro elaborado para relembrar os temas que discutimos.
Quadro 2 – Os diferentes formatos de trabalho frente 
às mudanças no processo produtivo
Modo de produção Características do modo de produção Características do trabalho
Fordista/Taylorista

Outros materiais