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1 CBI of Miami 2 CBI of Miami DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre ele estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. 3 CBI of Miami Comportamento Verbal I Iara Carvalho Aula 1- Definição de Comportamento Verbal Em 1957, Skinner publicou o livro Verbal Behavior (Comportamento Verbal), no qual ele propõe uma análise operante para os fenômenos até então estudados através de conceitos como fala e linguagem, os quais já estavam comprometidos com diferentes epistemologias, como por exemplo, o estruturalismo. O termo fala, por exemplo, apresentava conotação de ser estritamente vocal e linguagem, conforme sugere Skinner, se refere muito mais às práticas de uma comunidade verbal específica do que ao comportamento do falante em si. Nesse sentido, a proposta de Skinner era inovadora, pois o foco de análise desses fenômenos passa a ser a função e não simplesmente a forma, ou seja, sua explicação se detinha em identificar as variáveis ambientais, antecedentes e consequentes, que tinham influência sobre a emissão dos operantes verbais e que mantinham sua ocorrência. Desse modo, ao propor uma concepção externalista, Skinner afasta sua explicação de processos que ocorreriam dentro do indivíduo como a causa do comportamento, bem como evita vínculos com outras propostas e concepções. Ele afirma que sua proposta, embora não testada experimentalmente, é uma interpretação que tem por base os achados experimentais do paradigma operante. Portanto, dado que o comportamento verbal é operante, ou seja, é um comportamento que produz uma mudança no mundo e é selecionado por essas consequências, os conceitos já aplicados ao estudo dos demais operantes, tais como: reforçamento, controle de estímulos (discriminação e generalização), extinção, esquemas de reforçamento, dentre outros, se aplicam também ao seu estudo. Todavia, ele possui características específicas que requerem atenção e uma terminologia própria. Uma das características definidoras do comportamento verbal e que o distingue do comportamento não verbal, é a mediação do reforço. Enquanto no comportamento não verbal a ação da pessoa sobre o ambiente é direta e mecânica, no comportamento verbal ela é indireta e mediada por outra pessoa, 4 CBI of Miami que foi treinada dentro daquela comunidade verbal para fornecer o reforço, o ouvinte. Por exemplo, se você está com fome e prepara um sanduíche para si, esse comportamento não é mediado, ele é uma ação direta sobre o ambiente. Por outro lado, se você está com fome, pede comida a um amigo e ele te traz um sanduiche, esse reforço foi mediado. Vale ressaltar que, é necessário a emissão de uma resposta verbal que funcione como estímulo discriminativo para o comportamento do ouvinte de mediar o reforço. Desse modo, nem todo comportamento mediado é verbal. A definição de comportamento verbal como comportamento cujo reforço é mediado por um ouvinte especialmente treinado por uma comunidade verbal teve como consequências: tornar o comportamento verbal objeto de estudo da Psicologia, mudar a concepção de significado, o qual agora deve ser buscado nas variáveis de controle da resposta verbal, bem como, e estabelecer como unidade de análise do comportamento verbal a contingência de reforçamento. Nesse sentido, comportamento verbal não necessariamente é vocal, mas abrange linguagem de sinais e outras formas alternativas. Aula 2 - Introdução aos Operantes Verbais Partindo da definição operante de comportamento verbal, dois de seus aspectos merecem ser destacados: (1) ele é adquirido e mantido por suas consequências, logo (2) ele pode ser analisado pela identificação de suas variáveis controladoras antecedentes e consequentes, ou seja, por uma análise funcional. Visto que, a definição é funcional, essa análise deve ocorrer considerando o comportamento do falante e do ouvinte, bem como, os aspectos do ambiente físico e social relacionados à emissão desse comportamento. Nesse sentido, a unidade de análise é a contingência de reforçamento, ou seja, engloba qualquer resposta controlada por estímulos antecedentes, podendo ser um fonema, uma palavra ou frase, cujo reforço seja mediado (BARROS, 2003). É com base nessas descrições funcionais do comportamento verbal, suas fontes de controle e seus efeitos sobre o comportamento do ouvinte, que Skinner elencou alguns tipos de operantes verbais primários: ecoico, tato, mando, intraverbal, ditado, cópia e textual. Todavia, antes de partirmos para as 5 CBI of Miami definições dessas categorias, precisamos retomar alguns conceitos introdutórios que auxiliam na definição desses operantes verbais. Embora Skinner tenha dado uma definição funcional, ele também se baseou na identificação de características formais das variáveis controladoras antecedentes da reposta verbal (estímulos verbais, estímulos não verbais e operações estabelecedoras ou motivadoras) e em como elas se relacionam com os produtos das respostas, se mantém similaridade formal e correspondência ponto-a-ponto. Similaridade formal ocorre quando tanto o evento antecedente quanto a resposta são da mesma modalidade formal, por exemplo, auditiva, motora. Já a correspondência ponto-a-ponto se refere à quando o primeiro componente do estímulo deve controlar o primeiro componente da resposta, mas eles não têm necessariamente similaridade formal, por exemplo, a palavra escrita GATO e a palavra falada “gato”. Dados esses conceitos preliminares, passemos as definições dos operantes. Mando (mandar): são respostas verbais sob controle de uma operação motivadora (estados motivacionais ou afetivos), nas quais o falante determina especificamente qual o reforçador desejado e a obtenção desse reforço específico é a consequência que altera a ocorrência futura de respostas da mesma classe. No mando não há correspondência ponto-a-ponto e nem similaridade formal. Pedidos, ordens e conselhos são formas de mandos. Tato (tatear): corresponde a respostas verbais cujos antecedentes são estímulos discriminativos não-verbais (objetos, eventos ou propriedades desses, externos e internos à nossa pele) e que tem como consequência reforço social, quando identificado haver correspondência entre o que o falante diz e os estímulos discriminativos. Nomear, descrever e categorizar são formas de tato. Ecoico (ecoar): é um comportamento verbal sob controle de um estímulo discriminativo verbal auditivo ou motor (por exemplo, gestos) produzido por outra pessoa e mantido por reforço social generalizado. Apresenta similaridade formal e correspondência ponto-a-ponto. Por exemplo: Ao ouvir alguém dizer a palavra “gato “o falante repete “gato”. Desse modo, ecoar consiste em repetir uma resposta verbal modelada por outra pessoa, seja vocal ou motora, de maneira idêntica. 6 CBI of Miami Intraverbal (intraverbalizar): são respostas verbais, vocais ou escritas, controladas por estímulos verbais produzidos pelo próprio falante ou pelo comportamento verbal de outra pessoa, cujo fluxo o falante está acompanhando e que tem como consequência o reforço social generalizado. São exemplos de respostas intraverbais, responder perguntas, completar frases ditas por outras pessoas e até mesmo montar uma linha de raciocínio, em casos onde o falante e o ouvinte são a mesma pessoa. Por exemplo, quando você diz para a si mesmo as coisas que precisa fazer no dia. Textual: Consiste em respostas vocais que tem como antecedentesestímulos verbais escritos ou impressos e cujo reforço para a sua emissão é social. Cabe ressaltar que deve haver correspondência formal arbitrária (estabelecida pelas práticas culturais) entre o estímulo escrito e a resposta vocal. Por exemplo, ao ver a palavra escrita GATO, a resposta reforçada será vocalizar a palavra “gato”. O comportamento textual não implica em leitura com compreensão, mas um estágio anterior. Transcrição ou ditado: Consiste em respostas escritas controladas por estímulos discriminativos verbais vocais, com correspondência ponto-a-ponto. Por exemplo, quando o professor dita a palavra “gato” e o aluno escreve. Além dos operantes verbais primários citados acima, Skinner também propôs um operante verbal de segunda ordem, o autoclítico. Esse operante verbal, diferente dos outros já citados, é controlado por aspectos do comportamento verbal do falante, de modo que ele edita o seu comportamento verbal para produzir diferentes efeitos no ouvinte. Por isso que o autoclítico é chamado de operante verbal de segunda ordem, pois ele age sobre o comportamento verbal do próprio falante e, portanto, sempre é emitido juntamente com outro operante verbal. Aula 3 - O Papel do Ouvinte. Qual o papel do ouvinte na concepção de Skinner? Skinner definiu comportamento verbal como aquele cujo reforço é mediado por um ouvinte especialmente treinado por uma comunidade verbal. Nesse sentido, temos que o primeiro papel do ouvinte é o de mediador do reforço. Mas para poder exercê-lo, ele passa por uma história de 7 CBI of Miami condicionamento. Esse processo evolve tanto pareamento de estímulos verbais com estímulos não verbais, quanto reforçamento diferencial e discriminação de estímulos. No primeiro caso temos que, desde muito cedo, a criança é exposta continuamente ao pareamento de palavras a objetos, situações ou eventos etc., por exemplo, quando alguém mostra uma banana (estímulo não-verbal) para uma criança e simultaneamente fala a palavra “banana”. Como, geralmente, o comportamento de ouvinte é adquirido primeiro, é possível que a criança comece a apontar uma banana quando solicitado como resposta a esse pareamento (responder de ouvinte) e, posteriormente, passe a imitar o comportamento de nomear o estímulo não-verbal “banana” (tato) emitido pelo adulto. Essas respostas passam a ser reforçadas de modo generalizado, por exemplo, com a atenção dos pais e outras pessoas. Partindo do conceito de discriminação de estímulos, quando uma resposta é reforçada em um dado contexto, este passa a ser discriminado como a ocasião na qual é mais provável que respostas da mesma classe sejam reforçadas se forem emitidas. Desse modo, diante do estímulo verbal “Mostre a banana”, a resposta de escolher corretamente a banana será reforçada e outras não. Isso faz com que essa solicitação se torne o estímulo discriminativo que controla a ocorrência da resposta. Assim, por meio dessa história prévia de aprendizado que vai se complexificando, o ouvinte é capaz de compreender o que falante diz e se comportar mediando reforçadores. O segundo papel do ouvinte também se constitui por meio da discriminação de estímulos. Como o ouvinte é o mediador do reforço, ele está presente em todas as ocasiões em que o comportamento verbal do falante foi reforçado e se torna estímulo discriminativo para a emissão de novas respostas verbais. Nesse caso o termo utilizado para definir a função do ouvinte é audiência. Cabe ressaltar que o ouvinte só é audiência quando ele estimula o falante antes da emissão da resposta. Além de servir como estímulo discriminativo que evoca respostas verbais, uma audiência também modula o tipo de resposta a ser emitida, um exemplo é a linguagem técnica de grupos profissionais ou mesmo como as pessoas adequam o discurso para tratar com amigos. 8 CBI of Miami Todos os operantes verbais, exceto o mando, beneficiam principalmente o ouvinte na medida em que entra em contato com aspectos do ambiente através do comportamento verbal do falante, também pelo fato de ter acesso a regras que descrevem formas de agir de modo imediato e sem a necessidade de passar pelas contingências. Além disso, o falante reforça a reação do ouvinte com novas verbalizações. Desse modo, o ouvinte é uma variável muito importante no episódio verbal, pois ele faz parte do contexto antecedente e fornece a consequência ao comportamento do falante contribuindo na instalação e manutenção dos repertórios verbais dele. Cabe salientar que, durante uma troca verbal, uma mesma pessoa alterna os papéis de ouvinte e falante. Esse processo faz com que uma ela aprenda a ser ouvinte de si mesma, por exemplo, quando é capaz de elencar para si uma série de tarefas que vai fazer no dia. Para Skinner, os papéis de ouvinte e falante não são duas faces da mesma moeda, ou seja, duas formas de linguagem. Para ele, o comportamento do ouvinte, embora esteja sob controle de estímulos verbais, é um comportamento operante não-verbal pois atua direto sobre o ambiente, visto que sua ação de fornecer o reforço é direta e mecânica. Essa posição é alvo de algumas críticas e reformulações dentro da própria Análise do Comportamento e muito tem se discutido a respeito. (Para mais detalhes consultar DAHÁS, GOULART e SOUZA, 2008). Aula 4: A Análise Funcional do Comportamento Verbal Skinner (1957), sintetizou o que posteriormente viria a ser conhecido como o estudo do comportamento verbal. Ao categorizar os tipos de comportamento verbal, ele priorizou a relação funcional entre seus diferentes componentes como forma de diferenciá-los. Assim, para classificarmos um operante verbal é necessário atentar para eventos ambientais (estímulos antecedentes e consequência) e comportamentais (resposta), o que permite que se verifique suas relações funcionais (PASSOS, 2003; CHIESA, 2006) e a manipulação destas. Os estímulos antecedentes são variáveis que estão presentes no ambiente antes da emissão da resposta. Em circunstâncias passadas onde 9 CBI of Miami estas variáveis estavam presentes, o organismo emitiu uma resposta e obteve uma alteração no ambiente, ou seja, uma consequência. Quando ele se depara novamente com condições ambientais semelhantes é extremamente provável que ele emita a mesma resposta, caso estas consequências de exposições anteriores tenham sido reforçadoras. Dizemos então que os estímulos antecedentes evocam uma determinada resposta, ou seja, aumentam a probabilidade de ela acontecer. A resposta é a ação que o organismo executa, normalmente com a capacidade de produzir alguma alteração no ambiente ao seu redor. Para um observador realizar uma análise funcional é essencial que ele tome alguns cuidados ao selecionar a resposta que deseja analisar: 1) ela precisa ser observável; 2) ela não pode ser uma “não-ação”, pois desta forma ela não vai acontecer e não poderá ser adequadamente medida para avaliar se está aumentando ou diminuindo de frequência. A resposta do organismo produzirá alterações no ambiente, as consequências. Dizemos que as consequências são reforçadoras quando elas aumentam a probabilidade do comportamento acontecer no futuro na presença das mesmas variáveis antecedentes. Dizemos que as consequências são punidoras quando elas diminuem a probabilidade do comportamento acontecer no futuro na presença das mesmas variáveis antecedentes. Atente então que para sabermos se determinada consequência é reforçadora ou punidora precisamos medir sua ocorrência (frequência) em diferentes intervalos de tempo, visando comparar se está ocorrendo um aumento ou diminuição. Em um contexto de ensino, estamos na maior parte do tempo, tentando aumentar a frequência de comportamentos adaptativos, então daremos mais ênfase a planejar e produzir consequências reforçadoras. A seguir, discutiremos cada umdos operantes verbais básicos e aprenderemos como classificar um episódio verbal dentro destas diferentes categorias a partir das relações funcionais entre os componentes do comportamento. De acordo com sua definição, o Mando é uma resposta verbal emitida em um contexto em que o falante está sob efeito de uma operação motivadora, seja 10 CBI of Miami ela aversiva ou de privação, e específica em sua resposta qual o reforçador necessário para cessar a operação motivadora. Observe que nesta definição nós temos os elementos característicos do mando definidos de acordo com suas relações funcionais: 1. Estimulação antecedente (contexto): operações motivadoras de privação ou aversivas; 2. Resposta: vocal, gestual ou de outra forma em que se especifica uma consequência reforçadora. Normalmente possui formato de solicitação, pedido, ordem, comando; 3. Consequência: acesso ao reforçador ou condição reforçadora especificada pela resposta. Quando Ed vai em uma pizzaria e pede ao garçom “uma pizza grande de calabresa, por favor”. Ele está emitindo uma resposta verbal que especifica um reforçador. Esta resposta está acontecendo em um contexto específico, no qual Ed está com fome ou com vontade de comer pizza. Estar em uma pizzaria e não em uma hamburgueria, bem como, a presença do garçom são contexto para o mando. Provavelmente, ao ir em pizzarias e emitir esta resposta verbal anteriormente, ele foi atendido e recebeu uma pizza deste sabor. Desse modo, a resposta foi reforçada. No Tato, o falante emite uma resposta verbal sob controle de uma propriedade física do ambiente e tem como consequência reforçadores generalizados. Pormenorizadamente, temos: 1. Estimulação antecedente: propriedades físicas do ambiente; 2. Resposta: verbal, consistindo em descrições do ambiente que o falante acessou através de seu sistema perceptivo; 3. Consequência: reforçadores generalizados, por exemplo, a concordância do ouvinte. Ainda na rua, Ed estava passeando com sua esposa e passa em frente de a um estabelecimento em que vê um garçom servindo pizza e outros estímulos que indicam que aquele lugar é uma pizzaria. Ele diz: “Olha, uma pizzaria”. Neste exemplo, a pizzaria serve como contexto ambiental, um estímulo 11 CBI of Miami não verbal. Ed realiza então uma resposta verbal no formato de uma descrição que é reforçada pela audiência de sua esposa. O Ecóico é uma resposta verbal evocada por estímulos discriminativos verbais que tem como consequência reforçadores generalizados. Um detalhe importante neste operante verbal é que a resposta emitida e o estímulo antecedente correspondem ao mesmo padrão físico, o que chamamos de correspondência formal, (PASSOS, 2003). Vamos analisar esta definição: 1. Estímulo antecedente: verbal que pode ser vocal ou motor (língua de sinais, por exemplo); 2. Resposta: vocal ou motora que possui uma correspondência de suas características físicas com o estímulo antecedente; 3. Consequência: reforços generalizados providos pela comunidade verbal. Imagine a seguinte situação: A mãe fala para a criança “mama” e ela repete a palavra da mesma forma dita pela mãe. A mãe então sorri e faz carinho no filho. Neste exemplo, o estímulo antecedente para o comportamento ecoico da criança é a fala de sua mãe e a resposta emitida por ela também é vocal. Já a consequência é a atenção social da mãe. O comportamento Textual é uma resposta vocal sob controle de um estímulo escrito que é mantida por reforçadores generalizados. Neste tipo de operante, dizemos que há uma correspondência ponto a ponto, visto que cada elemento do estímulo antecedente corresponde a outro elemento na resposta emitida. No entanto, eles não possuem características físicas entre si. Afinal, um corresponde a uma palavra escrita e o outro a sons emitidos por uma pessoa. Resumindo, no comportamento textual temos: 1. Estímulos antecedentes: texto escrito; 2. Resposta: de natureza vocal com correspondência ponto a ponto com o estímulo antecedente; 3. Consequência: reforço generalizado da comunidade verbal. 12 CBI of Miami Uma criança pega um gibi e olha para seu título “Turma da Mônica”. Ele então diz em voz alta: “Turma da Mônica”. Seus pais o elogiam por ter acertado sua leitura e talvez o comprem o gibi. Neste exemplo, o título escrito na capa é o estímulo antecedente verbal. A leitura que a criança faz “Turma da Mônica” é a resposta textual. Embora ambos sejam estímulos de natureza física diferentes: um deles é uma grafia em um papel e o outro é um som emitido pela criança, dizemos que há correspondência ponto a ponto pois cada sílaba escrita corresponde a um determinado som de acordo com as convenções da comunidade verbal. Por fim, a interação com os pais garante o reforço generalizado, assegurando que esta criança, provavelmente, voltará a realizar comportamento textual no futuro quando ver outras palavras escritas. A Transcrição corresponde a uma resposta escrita evocada por um estímulo antecedente auditivo ou escrito, sob controle de reforçadores generalizados. Quando a pessoa vê a palavra escrita e então a repete escrevendo-a em outro local temos uma transição do tipo cópia. Já quando a pessoa escreve a forma gráfica o estímulo auditivo que ouviu, temos uma transcrição do tipo ditado. Podemos dizer que há correspondência ponto a ponto em ambos os tipos, conforme explicamos anteriormente no tópico de comportamento textual. Porém, no ditado não uma correspondência formal, pois são estímulos de natureza física diferentes (auditivo e escrito). Já no caso da cópia, o estímulo antecedente é escrito e a resposta escrita, porém, mesmo com modalidades de estímulos físicos semelhantes, nem sempre há correspondência formal, visto que as grafias podem variar, como quando vemos um texto impresso e escrevemos com letra cursiva. Sendo assim a transcrição se constitui por: 1. Estímulo antecedente: verbal, escrito (cópia) ou auditivo (ditado); 2. Resposta: escrita e com correspondência ponto a ponto com o estímulo antecedente. Pode haver correspondência formal no caso de uma cópia, mas não necessariamente; 3. Consequência: reforçadores generalizados. A professora solicita que todos copiem a rotina da sala de aula para a agenda. Ana abre sua agenda, olha para o quadro onde está escrita a rotina e 13 CBI of Miami começa a escrever precisamente o que vê escrito no quadro. Este é um exemplo de cópia. O estímulo antecedente é a própria anotação de sua professora. Em um momento posterior, a professora se dá conta que esqueceu de pôr a tarefa no quadro. Ela então pede para que os alunos abram sua agenda e então diz a eles o que eles precisam escrever: “Livro de Matemática, página 45”. Ana abre sua agenda e anota o que a professora lhe diz. A anotação de Ana é um exemplo de ditado. O estímulo antecedente é a fala de sua professora. O Intraverbal corresponde a uma resposta sob controle de um estímulo verbal auditivo ou visual, sem correspondência ponto a ponto e nem correspondência formal, mantido por reforço generalizado. Assim, os componentes do intraverbal são: 1. Estímulo antecedente: verbal, auditivo ou visual; 2. Resposta: verbal, sem correspondência formal ou ponto a ponto; 3. Consequência: reforço generalizado. Em parquinho, estão brincando Gael e Pedro. Gael se aproxima de Pedro e pergunta “Você assistiu Patrulha Canina?” Pedro então responde: “Eu assisti ontem!”. A resposta verbal de Pedro tem como estímulo antecedente o comportamento verbal vocal de Gael e é reforçada pela audiência de Gael. Como pudemos ver neste texto, é preciso analisar a função e as características de cada episódio verbal para conseguirmos classificá-lo nos operantes verbais de Skinner. É sempre importante definir claramente qual resposta estamos tentando analisar, vistoque a os papéis de falante e ouvinte podem ser alternar em diálogos e as funções variam de acordo com o comportamento analisado. OPERANTE VERBAL ANTECEDENTE RESPOSTA CONSEQUENTE Mando Operação Motivadora afetando o falante; Resposta verbal que especifica seu reforçador Elemento especificado na resposta verbal, mediado pelo ouvinte 14 CBI of Miami Tato Característica física do ambiente; Resposta verbal descritiva da propriedade física do ambiente; Reforço generalizado. Intraverbal verbal (auditivo ou visual) Resposta verbal sem correspondência ponto a ponto Reforço generalizado. Ecóico Resposta verbal (vocal ou motora) de outra pessoa Resposta verbal com similaridade formal e correspondência ponto a ponto) com o estímulo antecedente. Reforço generalizado. Textual Texto Escrito Resposta verbal com correspondência ponto a ponto com o estímulo antecedente. Reforço generalizado. Transcrição Estímulo verbal escrito (cópia) ou auditivo (ditado); Resposta verbal com correspondência ponto a ponto com o estímulo antecedente. É possível haver correspondência formal, no caso de cópia. Reforço generalizado. Tabela 1: Resumo das relações funcionais nos operantes verbais 15 CBI of Miami Referências Bibliográficas BARROS, Romariz da Silva. Uma introdução ao comportamento verbal. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 5(1), 73-82. (2003). CHIESA, M. Behaviorismo radical: a filosofia e a ciência. Brasília: Editora Celeiro. (2006). DAHÁS, L. J. S.; GOULART, P. R. K.; SOUZA, C. B. A. Pode o Comportamento do Ouvinte ser Considerado Verbal? Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. Belo Horizonte, v. X, n. 2, pp. 281-291. (2008). PASSOS, M. D. L. R F. A análise funcional do comportamento verbal em Verbal Behavior (1957) de BF Skinner. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 5(2), 195-213. (2003). PETERSON, N. An introduction to verbal behavior. Grand Rapids, MI: Behavior Associates. (1978). SKINNER, B. F. Verbal behavior. New York: Appleton-Century-Crofts. (1957).
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