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ECONOMIA POLÍTICA APLICADA

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ECONOMIA POLÍTICA APLICADA
TEMA 3 – ECONOMIA MERCANTILISTA E COMÉRCIO INTERNACIONAL
Os mercantilistas, limitando sua análise ao âmbito da circulação de bens, aprofundaram o conhecimento de questões como as da balança comercial, das taxas de câmbio e dos movimentos de dinheiro. Entre os principais representantes da doutrina está o francês Antoine de Montchrestien e os ingleses Thomas Greshan e Thomas Mun. Conheça melhor cada um deles.
O economista francês Antoine de Montchrestien (1575-1621), preconizou o termo Economia Política no período mercantilista em sua obra Traité de l´Économie Politique de 1616 (Tratado de Economia Política), esse economista, propôs uma crescente intervenção do Estado em todas as atividades econômicas, obrigando as pessoas a trabalharem, criando manufaturas estatais e reservando o comércio aos nascidos na França. Considerava o comércio a mais importante atividade econômica e o lucro do comerciante elogiável. Para esse mercantilista, importantes para a riqueza de uma nação são os meios de atrair metais preciosos para o país, o incremento das exportações e o estabelecimento de colônias no exterior.
Como conselheiro da rainha Elizabeth I (1533– 1603) e atuando como chefe da casa da moeda inglesa, Thomas Greshan (1519-1579) promoveu a restauração do valor da libra, que tinha sido desvalorizada por Henrique VIII (1491-1547), e criou a Bolsa de Valores de Londres. Atribui-se a ele a formulação da Lei de Greshan. A Lei de Greshan é uma lei econômica quando duas moedas têm circulação legal em um país, em que “a moeda má expulsa a moeda boa” de circulação. Isso acontece porque a moeda considerada boa tende a valorizar-se cada vez mais e desaparece de circulação (ou porque é entesourada, ou porque é fundida e trocada por uma maior quantidade de moeda má, ou porque é reservada para a realização de pagamentos internacionais). O enunciado dessa lei econômica aparece em diversos escritos anônimos do Século XVI.
Um dos principais teóricos do mercantilismo foi o economista inglês Thomas Mun (1575-1641). Filho de um comerciante londrino dedicou-se com êxito à mesma carreira, viajando pela Itália e pelo Oriente Médio. De 1615 até o fim da vida foi Conselheiro da Companhia das Índias Orientais, cuja atuação defendeu na obra A Discourse of trade fron England unto the East Indies (Dissertação sobre o Comércio da Inglaterra com as Índias Orientais) de 1621. Esse mercantilista afirmou que por meio das reexportações a companhia devolvia ao país maior lastro em metais preciosos que o gasto por ela nas importações. Sua obra principal foi England’s Treasury by Forraign Trade (O Tesouro da Inglaterra obtido pelo Comércio Exterior), obra escrita em 1630, mas só publicada em 1664. Nela se encontra a primeira bem fundamentada defesa do capitalismo comercial. Mun mostra a importância da burguesia comercial no processo econômico visto como um todo e considera o comércio exterior o principal instrumento do enriquecimento de um país. Dá pouca importância à mera acumulação de metais preciosos (exceto como reserva de emergência), na medida em que ela depende da balança comercial.
Uma das mais claras exposições sobre a política mercantilista foi escrita por Phillip von Hornick (1638-1712). Ele escreveu em 1684, um tratado chamado “A Áustria acima das outras nações, se ela assim o desejar”, listando as “9 regras mais importantes da economia nacional”. Saiba quais são elas a seguir.
· Estudar o solo do país com o máximo cuidado de forma a considerar todas as possibilidades agrícolas de cada pedacinho de terra.
· Todos os produtos primários de um país que não puderem ser usados em sua forma natural devem ser manufaturados dentro do próprio país.
· A população tem de ser tão grande quanto a possibilidade de um país de suportá-la.
· Os habitantes devem fazer todos os esforços para se contentar com os produtos domésticos.
· Todo ouro e toda prata de um país não deve ser retirado sob nenhum pretexto.
· Produtos primários estrangeiros não devem ser trocados por ouro e prata, mas por outros artigos domésticos.
· Os produtos devem ser importados in natura e transformados dentro do país.
· Deve-se vender aos estrangeiros bens manufaturados.
· O país não deve importar produtos cuja oferta interna seja suficiente e na qualidade desejada.
A preocupação com a obtenção de um saldo positivo nas transações econômicas com outros países ou colônias, levou os mercantilistas a desenvolverem um sistema contábil, semelhante ao que chamamos modernamente de “balança de pagamentos”. Um dos precursores desse sistema foi Edward de Misselden (1608-1654).
Misselden assinala como as transações do comércio internacional afetam a política monetária dos países. Para tanto ele concebe um balanço de pagamentos contendo as seguintes contas:
1. Balança Comercial: a. Mercadorias visíveis; b. Itens invisíveis;
2. Conta de Capital: a. Capital de Curto Prazo; b. Capital de longo prazo;
3. Transferências unilaterais;
4. Ouro e prata;
5. Erros e omissões.
Em seu livro, publicado em 1623, Misselden calcula pela primeira vez o Balanço de Pagamentos da Inglaterra.
No período em que predominou o mercantilismo, no interior da Europa o comércio quase não existia. As estradas eram poucas e suas condições de tráfegos eram péssimas. Os reinos cobravam altos pedágios daqueles que precisavam atravessar suas terras. Nesse período, cada região possuía uma moeda diferente, o que dificultava o comércio e prevalecia as relações econômicas entre os feudos.
Aos poucos, com o desenvolvimento do artesanato, as trocas entre os feudos foram se intensificando. Surgiram as feiras com o objetivo de proporcionar uma maior comercialização entre os feudos. Alguns servos abandonavam o trabalho agrícola e passavam a se dedicar cada vez mais ao artesanato, transformando-se em ferreiros, sapateiros, marceneiros, tecelões, etc. As feiras deram origem a pequenas cidades de comerciantes, que no interior da Europa, foram chamados de burgos. Nos burgos, começaram a surgir ricos comerciantes que eram chamados de burgueses.
Em quinhentos anos, nesse período chamado de Idade Média, aproximadamente mil cidades foram criadas interligadas por estradas rudimentares que funcionavam para impulsionar as transações comerciais. Dessa forma, o poder começou a gravitar nas mãos daqueles que mexiam com o dinheiro, os mercadores, também conhecidos como burgueses, e passou a distanciar-se da desdenhosa nobreza que não entendia de dinheiro. Por outro lado, alguns intelectuais passaram a fazer frente à cobrança de impostos e o controle dos reinos sobre a riqueza. Boa parte deles passou a defender o setor produtivo rural como o principal gerador de riqueza, como os Fisiocratas. Esse grupo de pensadores dá origem a uma escola de pensamento econômico que ficará conhecida como Escola Fisiocrata.
TEMA 4 – OS PENSADORES FISIOCRATAS E O PODER DA NATUREZA
Durante o século XVIII, um grupo de economistas franceses combateu as ideias mercantilistas e formulou, pela primeira vez, de maneira sistemática e lógica, uma Teoria do Liberalismo Econômico. Esse grupo ficou conhecido como fisiocratas, pois transferiram o centro da análise do âmbito do comércio para o da produção.
Os fisiocratas liderados por François Quesnay (1694-1774) criaram a noção do produto líquido: sustentaram que somente a terra, ou a natureza (physis, em grego), é capaz de realmente produzir algo novo (só a terra multiplica, por exemplo, um grão de trigo em muitos outros grãos de trigo). As demais atividades, como a indústria e o comércio, não fazem mais do que transformar ou transportar os produtos da terra (daí a condenação ao mercantilismo, que estimulava essas atividades em detrimento da agricultura).
Os fisiocratas dividiam a sociedade em três classes:
· A classe produtiva (colonos e agricultores);
· Os proprietários territoriais;
· A classe industrial (ou improdutiva).
Assim, os agricultores e proprietários compram produtos e serviços dos demais grupos, que retornam essa renda comprando produtos agrícolas (o que é exposto no Tableau Économique,de Quesnay). Os fisiocratas achavam que isso correspondia a uma ordem natural regida por leis imutáveis como as leis físicas. Para eles, toda intervenção do Estado era condenável quando não se limitava a garantir essa ordem natural. Por isso, defenderam a mais ampla liberdade econômica (contra as barreiras feudais, ainda imperantes na época, e o intervencionismo mercantilista). Também lançaram a célebre máxima do liberalismo: laissez-faire, laissez-passer (deixa fazer, deixa passar).
Também propuseram a supressão de todas as taxas, com sua substituição por um imposto único, que incidiria sobre a propriedade, já que esta seria a única fonte de riqueza e os proprietários apenas se apropriariam da renda da terra sem contribuir para o aumento do produto líquido, enquanto os agricultores, os comerciantes e os artesãos deveriam ficar aliviados da carga tributária para que se facilitasse a circulação da renda.
De acordo com os fisiocratas, para manter essa ordem natural, o Estado deveria assumir o papel exclusivo de guardião da liberdade econômica. O principal representante dos fisiocratas foi François Quesnay (1694-1774), ao qual se juntaram outros nomes importantes na defesa da fisiocracia como Anne Robert Jacques Turgot (1727-1781), Conde de Mirabeau (1749-1791) e Pierre Samuel Du Pont de Nemour (1739-1817). Outro economista de especial destaque foi William Petty (1623-1687), que é considerado o precursor da Escola Clássica. Fundador do método estatístico na análise dos fatos econômicos, enfatizou a divisão do trabalho e introduziu os fatores de produção (terra, capital e trabalho) como estrutura básica do funcionamento da economia.
O laissez faire, laissez passer, termo atribuído a Jacques Vincent de Gournay (1712-1759), um comerciante ligado aos fisiocratas, influenciou as ideias de Quesnay e Turgot, por defender a não restrição ao livre comércio e, ao contrário de Quesnay, que destacava a importância da agricultura, atribuiu importância à indústria. As contribuições de Gournay foram fundamentais para o fortalecimento dos ideais da burguesia.
TROCANDO IDEIAS
Você já percebeu quais são as ideias que as pessoas têm sobre a economia política? Pergunte aos seus amigos, familiares o que eles entendem sobre economia? E sobre Economia Política? E você, o que pensa sobre isso?
NA PRÁTICA
Vamos a alguns exercícios práticos? Clique nas opções corretas.
1. Entende-se por Economia Política:
a. O ramo da ciência econômica que estuda os índices e as aplicações financeiras na Bolsa de Valores.
b. A parte da economia que analisa a política partidária.
c. O estudo científico dos cálculos das atividades comerciais e produtivas.
d. É o ramo de conhecimento que estuda como o ser humano se organiza para obter renda, produzir, distribuir e adquirir os bens e serviços de que necessita.
2. Segundo Karl Marx, os defensores da exploração capitalista escondem a verdadeira origem do sistema de alienação do trabalho porque não analisam a relação entre os trabalhadores e o que, o quanto, o como e para quem produzem. Isso significa dizer que:
a. Esses economistas defendem que os agricultores, os comerciantes e os artesãos deveriam ficar aliviados da carga tributária para que se facilitasse a circulação da renda.
b. Esses economistas escondem que o trabalhador produz bens diversos para os ricos aos quais ele jamais terá acesso, o que acentua ainda mais as diferenças sociais.
c. Esses intelectuais passaram a fazer frente à cobrança de impostos e o controle dos reinos sobre a riqueza.
d. Esses economistas franceses combatiam as ideias mercantilistas e formularam uma teoria do liberalismo econômico.
3. O laissez faire, laissez passer, termo atribuído a Jacques Vincent de Gournay, influenciou as ideias de Quesnay e Turgot, por defender a não restrição ao livre comércio e atribuir importância à indústria. As contribuições de Gournay foram fundamentais para:
III. O fortalecimento dos ideais da burguesia.
III. O surgimento do termo Economia Política.
III. A principal tese de defesa do mercantilismo.
Está(ão) correto(s) o(s) item(ns):
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. II e III.
d. III, apenas.
SÍNTESE
O conteúdo discutido nesta rota tem como objetivo proporcionar a você o acesso aos fundamentos básicos da economia política de tal forma que possa entender como ocorre o posicionamento dos indivíduos ou grupos sociais diante de fatos ou acontecimentos que envolvem a economia, a sociedade e a política. E que a partir de teorias desenvolvidas por diversos economistas durante vários séculos é possível perceber, que os mercantilistas vão buscar argumentos para justificar a defesa de interesses dentro da sociedade em que vivem, enquanto do outro lado, os fisiocratas vão firmar posição na economia política defendendo o poder político e econômico da classe capitalista rural.
REFERÊNCIAS
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GALBRAITH, John Kenneth. O Pensamento Econômico em Perspectiva. São Paulo: Edusp, 1989.
HUNT, E. K. e SHERMAN, HOWARD, J. Sherman. História do Pensamento Econômico. Petrópolis: Vozes, 1977.
HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
MAGALHÃES FILHO, Francisco de B. B. História Econômica. São Paulo: Saraiva, 1987.
MARX, Karl. Manuscritos Econômicos-Filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004.
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SANDRONI, Paulo. Dicionário de Economia do Século XXI. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2007.
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. Coleção: Os economistas. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
VASCONCELLOS, Marco A. S. e GARCIA, Manuel E. Fundamentos de Economia. São Paulo: Saraiva, 2014.
GABARITO
1. D
2. B
3. A

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